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Instituto monsenhor Hipólito

LITERATURA – IONARA HIPÓLITO


Geração de 22:
Fase da destruição
Conhecida também como fase heroica, a primeira fase do Modernismo
estendeu-se de 1922 a 1930. Influenciados pelas vanguardas europeias, os
artistas desse movimento buscavam, tanto pela agressividade como pelo
experimentalismo, uma renovação estética, levando em consideração os
aspectos culturais da realidade brasileira, visando criar uma arte
essencialmente nacional. Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel
Bandeira, Antônio de Alcântara Machado, Menotti del Picchia, Cassiano
Ricardo, Guilherme de Almeida, Plínio Salgado, Pagu, Anita Malfatti, Tarsila do
Amaral e Di Cavalcanti são alguns dos principais nomes dessa geração.
A inauguração do evento contou também com uma
conferência de Graça Aranha, intitulada “A emoção estética
na arte moderna”. Com um discurso de ataque ao
academicismo, o escritor evidenciou o espírito da “nova
arte”. Nessa perspectiva, Graça Aranha afirmava que “os que
assimilam a arte ao Belo são retardatários: a arte é a
realização de nossa integração no cosmos pelas emoções
derivadas de nossos sentidos”. Suas palavras foram
recebidas com vaias do público, que não poupou ou
considerou sua reputação como membro da Academia
Brasileira de Letras.
2º DIA DA SEMANA DE ARTE MODERNA

Apesar de seu protesto público, Guiomar Novaes compareceu ao


segundo dia da Semana de Arte Moderna e, em detrimento da clara
oposição dos demais participantes do evento, tocou obras consagradas,
realizando uma apresentação aplaudidíssima pelo público. O momento
mais significativo, entretanto, foi a conferência de Menotti del Picchia
sobre estética e arte.

[...] Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações abreiras, idealismos,


motores, chaminés de fábricas, sangue, velocidade, sonho na nossa Arte. E que o rufo de
um automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da poesia o último deus homérico, que
ficou, anacronicamente, a dormir e a sonhar, na era do jazz-band e do cinema, com a frauta
dos pastores da Arcádia e os seios divinos de Helena!
Nesse mesmo dia, Ronald Carvalho leu o poema de Manuel
Bandeira: “Os sapos”. Nos versos do poeta modernista, há um
ataque aos parnasianos e sua busca pelo rigor formal, em uma
defesa de uma produção poética livre das correntes da tradição.
O poema “Os sapos” faz referência direta a
uma série de procedimentos muito utilizados
Enfunando os papos,
pelo Parnasianismo, como as rimas, a métrica, Saem da penumbra,
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
a escolha de palavras específicas, tendo como Aos pulos, os sapos. Faço rimas com
critério a forma e a mensagem do poema A luz os deslumbra. Consoantes de apoio.
voltadas para o que seria considerado uma arte Em ronco que aterra,
Vai por cinquenta anos
Berra o sapo-boi:
poética “pura”. - "Meu pai foi à guerra!" Que lhes dei a norma:
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
O sapo-tanoeiro,
Ainda aparece no poema a metáfora, muito Parnasiano aguado, Clame a saparia
difundida na época pelos parnasianos, de que Diz: - "Meu cancioneiro Em críticas céticas:
É bem martelado. Não há mais poesia,
o poeta seria um ourives, mas a menção é Mas há artes poéticas...“
Vede como primo
trabalhada com ironia. Em comer os hiatos! [...]
Que arte! E nunca rimo Manuel Bandeira
Os termos cognatos.
O terceiro dia contou com um público menor, por causa da má repercussão das
apresentações anteriores. Após a conferência inflamada de Menotti del Picchia e o
estardalhaço criado pela apresentação do poema de Manuel Bandeira, o jornal Folha
da noite publicou, no dia 16 de fevereiro, a seguinte crítica:
Foi, como se esperava, um notável fracasso a récita de ontem da pomposa Semana de Arte
Moderna, que melhor e mais acertadamente deveria chamar-se Semana de Mal – às artes. O
futurismo tão decantado não é positivamente de futuro. [...] A sonolenta sociedade paulista foi
sacudida duas vezes do seu torpor de atraso: uma, para vibrar com Guiomar Novaes, e outra, com
mais intensidade ainda, quando soube repelir o cabotinismo. De tudo quanto vimos e observamos
do tal futurismo, metidos sempre no nosso atraso mental, deduzimos que os modernistas possuem
uma coisa: topete, muito topete, e tanto assim que já se anuncia pra amanhã uma exibição
teratologista.
Folha da Noite, São Paulo, 1922.
Apesar de um público expressivamente
menor, Villa-Lobos teve de lidar com protestos e
vaias. A manifestação negativa, dessa vez, deu-
se pela vestimenta do maestro, que se
apresentou de casaca, mas com um pé calçado
com sapato e outro com chinelo, devido a um
calo inflamado. A elite paulista entendeu a
atitude do músico como uma ofensa e, além das
vaias, um dos expectadores abriu um guarda-
chuva na primeira fila como forma de protesto.
MANIFESTOS E REVISTAS PÓS-1922
Nessa perspectiva, o cenário intelectual do Brasil, após 1922,
encontrou-se refletido na vasta e diversificada gama de publicações
do período.
 REVISTA KLAXON
 POESIA PAU-BRASIL

 VERDE-AMARELISMO
 ANTROPOFAGISMO
A revista Klaxon: mensário de arte moderna – cujo nome,
em inglês, significa buzina, fazendo alusão a um dos símbolos da
vida moderna e urbana – foi o primeiro periódico modernista em
circulação no Brasil. Grandes nomes do Modernismo brasileiro
colaboraram com a Klaxon, entre eles, Mário de Andrade,
Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di
Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila
do Amaral e Graça Aranha. Foram, ao todo, nove edições. Logo
na primeira edição, o compromisso da revista com a
modernização literária – por meio da reavaliação crítica do
passado e do patrimônio cultural do país – foi declarada ao
público.
A linguagem do Modernismo
Uma das características mais marcantes da literatura do
Modernismo é a despreocupação com os padrões formais da língua
portuguesa. A linguagem modernista é coloquial e espontânea, e,
por isso, não obedece às prescrições da norma-padrão. O
Modernismo reduziu, no Brasil, a distância entre as línguas falada e
escrita, renegando, desse modo, o preciosismo vocabular e a sintaxe
de momentos anteriores.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Leia o texto abaixo e responda à(s) questão(ões).

PRA MIM BRINCAR


Não há nada mais gostoso do que o mim sujeito de verbo no
infinitivo. Pra mim brincar. As cariocas que não sabem gramática
falam assim. Todos os brasileiros deviam de querer falar como as
cariocas que não sabem gramática.
– As palavras mais feias da língua portuguesa são quiçá, alhures e
miúde.
BANDEIRA, Manuel. Seleta em prosa e verso. Org: Emanuel de Moraes. 4ª ed.
Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. p. 19.
1. (G1 - ifal 2017) No texto, o poeta modernista Manuel Bandeira faz
uma recomendação em relação ao emprego do pronome oblíquo tônico
mim, como se verifica no trecho “[...]Todos os brasileiros deviam de
querer falar como as cariocas que não sabem gramática.”.
Diante disso, pode-se inferir que a sua crítica se centra em
a) combater a imposição gramatical proveniente dos poetas
parnasianos.
b) desrespeitar as normas gramaticais do português padrão.
c) desconsiderar as variantes linguísticas presentes no Brasil.
d) deslegitimar a norma padrão da língua portuguesa brasileira.
e) ironizar as cariocas que não sabem gramática.
2. (Enem 2ª aplicação 2016) Descobrimento
Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De sopetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.
Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim,
Na escuridão ativa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelos escorrendo nos olhos
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu...
ANDRADE, M. Poesias completas. São Paulo: Edusp, 1987.
O poema “Descobrimento”, de Mário de Andrade, marca a postura
nacionalista manifestada pelos escritores modernistas. Recuperando o
fato histórico do “descobrimento”, a construção poética problematiza a
representação nacional a fim de
a) resgatar o passado indígena brasileiro.
b) criticar a colonização portuguesa no Brasil.
c) defender a diversidade social e cultural brasileira.
d) promover a integração das diferentes regiões do país.
e) valorizar a Região Norte, pouco conhecida pelos brasileiros.
4. (Upe 2015) As Vanguardas europeias são movimentos artísticos e
culturais, com repercussão em muitas escolas literárias brasileiras. Pode-se,
inclusive, afirmar que elementos constitutivos das Vanguardas estão
presentes em autores e obras da estética literária modernista. Sendo assim,
diante dessa afirmativa, assinale a alternativa CORRETA.
a) As chamadas Vanguardas europeias foram importantes para os
movimentos culturais do início do século XX. No entanto, no Brasil, há um
consenso entre os estudiosos da literatura que essas Vanguardas em nada
nos influenciaram.
b) O Dadaísmo, uma das chamadas Vanguardas europeias, defendia que
somente a associação entre todas as tendências vanguardistas poderia
resultar em avanços importantes para as artes e para a cultura de um
modo geral.
c) Temáticas oriundas dos estudos freudianos como fantasia, sonho, ilusão,
loucura estão presentes em obras surrealistas. Nas artes plásticas, Salvador
Dali (1904/1989) é um dos principais representantes dessa Vanguarda.
d) Mário de Andrade e Oswald de Andrade, participantes da Semana de
Arte Moderna, em muitas ocasiões, negaram a relação existente entre as
Vanguardas europeias e os valores e as motivações das obras modernistas
brasileiras.
e) Há uma relação intensa entre Futurismo e Cubismo. Tanto uma quanto a
outra têm os mesmos interesses e objetivos e em nada se diferenciam,
exceto quando se relacionam com a arte literária.
Obrigada, turma!

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