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Preliminares
1. O fenómeno político e o estado
⦁ O fenómeno político, como qualquer outra manifestação de socialidade humana, apresenta uma dupla
face: a de facto (que acontece na vida das pessoas em relação ou como aspeto desta) e a de realidade
(impregnada de valores);
⦁ Até há algumas décadas, este fenómeno referia-se ao Estado, societas perfecta com diferenciação de
governantes e governados. Hoje, tende a situar-se também, de diferentes maneiras, frente a diversas
instâncias – as da comunidade internacional crescentemente institucionalizado, através das Nações
Unidas e das organizações especializadas e as de formações de integração (supra ou transnacionais);
⦁ Apesar de se falar, com ou sem razão, em crise do Estado, ainda continua a ser este que se encontra
no centro de toda a problemática política, porque continua a ser a sua autoridade a que se exerce
diretamente sobre as pessoas, assim como é só nele que as pessoas têm alcançado plenos direitos de
participação política; e porque, apesar da dinâmica que têm adquirido as organizações internacionais e a
EU, as grandes decisões assentam na conjugação das vontades dos Estados-Membros.
3. O Direito constitucional
⦁ O Direito constitucional é a parcela da ordem jurídica que rege o próprio Estado enquanto
comunidade e enquanto poder. É o conjunto de normas (regras e princípios) que recortam o contexto
jurídico correspondente à comunidade política como um todo e que, ao mesmo tempo, definem a
titularidade do poder, os modos de formação e manifestação da vontade política, os órgãos de que esta
carece e os atos em que se concretiza;
⦁ Chama-se também Direito Político, por essas serem normas que se reportam direta e indiretamente ao
Estado;
⦁ Falando em Direito Constitucional, pensa-se mais na regulamentação jurídica, no estatuto, na forma de
Direito que é a Constituição. Falando em Direito político pensa-se mais no objeto da regulamentação;
⦁ As revoluções dos séculos XVIII e XIX puseram termo ao Estado absoluto e abriram caminho a um novo
modelo de organização política, o Estado constitucional, representativo ou de Direito;
⦁ O Direito constitucional provém do constitucionalismo moderno, e, mesmo quando se distancia
muitíssimo das linhas ideológicas iniciais deste, está associado a noções de Constituição material, formal
e instrumental;
⦁ A Constituição é tanto Constituição poíitica como Constituição social; não se cinge à ordenação da vida
estatal. As constituições atuais contemplam larguíssimos aspetos e áreas da dinâmica económica, social
e cultural em interação com o Estado;
⦁ Constituição é ato fundacional de ordenamento jurídico e pressupõe um poder originário, o poder
constituinte.
ou matérias, devido à sua relevância no plano dos valores da comunidade política que se ancoram na
Constituição; participam de pleno da Constituição material;
⦁ São frequentes hoje estudos de Direito Constitucional Penal, de Direito constitucional do trabalho, de
Direito constitucional do ambiente, da economia, financeiro (…). Por esse motivo, alguns autores falam
em constitucionalização do Direito, a que outros respondem, também com algum exagero, invocando a
primariedade do Direito Civil ou a do Direito Penal. A posição de equilíbrio consiste em, por um lado,
reconhecer a primariedade logica de Constituição dentro da ordem jurídica de cada Estado e em, por
outro lado, respeitar a autonomia de cada ramo de Direito, tudo na reciprocidade de contributos e na
afirmação da unidade da Ciência Jurídica.
7. Ciência do Direito constitucional, Teoria Geral do Direito público e Teoria Geral do Estado
⦁ Estas três disciplinas distinguem-se bem da ciência do Direito constitucional, pois não intentam
reconstruir sistematicamente nenhum Direito constitucional positivo, nem perscrutar o sentido das suas
normas para a aplicação aos casos concretos ou para que delas tomarem consciência os destinatários.
Parte I
Estado e constitucionalismo
Título I – Do Estado antigo ao constitucionalismo moderno
⦁ A Teoria canónica manteve a ideia de um império universal, mas a Cúria agiu sempre de modo a
contrariar as ambições do Imperador;
⦁ Desde os séculos 13 e 14 ocorre a crise do sistema; Dois factos com papel importantíssimo: despontar
das nações europeia e a receção do Direito Romano; As nações, comunidades de laços novos e
especiais, assentes em afinidades de espirito e interesses e num sentimento comum, transformam a
geografia da Europa; O Direito Romano, estudado e divulgado pelos legistas preparados nas
Universidades, irá pôr em causa as conceções jurídico-políticas de origem germânica;
⦁ As nações vão-se formando durante séculos; O primeiro sinal da tomada de consciência de uma
comunidade de si mesma é dar-se um nome. Os nomes dos países são agora nomes de povos, e não de
terras;
⦁ O renascimento do Direito romano, a partir de fins do século 11 e sobretudo do século 13, é um dos
mais importantes eventos da história cultural europeia porque as categorias jurídicas romanas vão
largamente enformar as novas construções políticas.
⦁ Estado de Direito é o Estado em que, para garantia dos direitos dos cidadãos, se estabelece
juridicamente a divisão do poder e em que o respeito pela legalidade se eleva a critério de ação dos
governantes.
⦁ As Constituições têm por fontes Constituições estrangeiras. A história constitucional portuguesa é feita
de ruturas. As Constituições emergem em rutura com as anteriores, sofrem alterações nem sempre em
harmonia com as formas que prescrevem e acabam com novas ruturas ou revoluções.
⦁ Se o movimento republicano brasileiro viria a exercer largo impacto em Portugal, não menor viria a ser
a influência da primeira Constituição republicana brasileira sobre a primeira Constituição republicana
portuguesa;
⦁ As tendências autoritárias imperantes em Portugal tiveram paralelo no Brasil por duas vezes. Não
admira que a nossa Constituição de 1933 tenha inspirado, na Constituição brasileira de 1937, a criação
de um Conselho de Economia Nacional.
Parte II
Constituição
Título I – A Constituição como fenómeno jurídico
⦁ A estes elementos importa acrescentar a supremacia que a Constituição obtém em face de todos os
atos e de todas as normas que surjam nesse ordenamento. Disso tem-se logo consciência aquando das
Revoluções americana e francesa.
⦁ Verifica-se, porém, uma diferença sensível entre a conceção e a experiência norte-americana e as
francesas. Nos Estados Unidos, a Constituição é o pacto constitutivo da União. Na França, é a Nação que,
assumindo o poder constituinte, cria a Constituição.
50. Da Constituição liberal às Constituições atuais
⦁ O constitucionalismo moderno desponta, como se sabe, estreitamente ligado a certa ideia de Direito.
⦁ O Estado só é Estado constitucional, só é Estado racionalmente constituído, para os doutrinários e
políticos do constitucionalismo liberal, desde que os indivíduos usufruam de liberdade, segurança e
propriedade e desde que o poder esteja distribuído por diversos órgãos.
⦁ Em vez de os indivíduos estarem à mercê do soberano, eles agora possuem direitos contra ele,
imprescindíveis e invioláveis. Em vez de um órgão único, o Rei, passa a haver outros órgãos, tais como
Assembleia ou Parlamento, Ministros e Tribunais. Daí a necessidade duma Constituição desenvolvida e
complexa.
⦁ A ideia de Constituição é de uma garantia e, ainda mais, de uma direção da garantia. Para o
constitucionalismo, o fim está na proteção que se conquista em favor dos indivíduos, dos homens e
cidadãos, e a Constituição não passa de um meio para o atingir.
⦁ O constitucionalismo liberal tem ainda de buscar uma legitimidade que se contraponha à antiga
monárquica; e ela só pode ser democrática. A Constituição é então a auto-organização de um povo, o
ato pelo qual um povo se obriga e obriga os seus representantes, o ato mais elevado de exercício da
soberania.
⦁ No séc. XX o fenómeno constitucional iria sofrer duas vicissitudes decisivas: generalizar-se-ia,
universalizar-se-ia; e, simultaneamente perderia a sua referência a um conteúdo liberal.
⦁ Por outro lado, todos os regimes adotam uma Constituição. E, do mesmo modo, todos os Estados que
vão acedendo à comunidade internacional se dotam de Constituições como verdadeiros símbolos de
soberania.
⦁ O contraste de projetos e de conteúdos, sobretudo ideológicos das Constituições, permite, e
recomenda mesmo, algumas classificações.
⦁ Seguindo este critério, há Constituições normativas, nominais e semânticas. A normativas limitam
efetivamente o poder político, as nominais, embora não o limitem, ainda têm essa finalidade e as
semânticas apenas servem para estabilizar e eternizar a intervenção dos dominadores de facto na
comunidade.
⦁ Dicotomia muito corrente e que visa abarcar um ciclo longo ou diversos ciclos de conteúdos
constitucionais é a contraposição Constituições estatuárias-Constituições doutrinais.
⦁ Constituições estatuárias dizem-se as que se ocupam do estatuto do poder, dos seus órgãos e da
participação política dos cidadãos. Constituições doutrinais, são aos que, mais do que da organização
política, cuidam da vida económica social e cultural.
⦁ Próxima desta distinção é a que contrapõe conceções meramente processuais da Constituição e
conceções substantivas.
⦁ Classificação ainda relativa ao conteúdo é a das Constituições em simples e complexas ou
compromissórias.
⦁ Em inteiro rigor, todavia, nenhuma Constituição é absolutamente simples. O caráter simples ou
compromissório de uma Constituição depende de circunstancialismo da sua formação, da sua aplicação
e das duas vicissitudes.
⦁ Nenhuma Constituição compromissória consiste num aglomerado de princípios sem virtualidade de
harmonização prática. As Constituições compromissórias permitem a coexistência de ideias e correntes
antagónicas.
51. Da Constituição em sentido material à pluralidade de Constituições materiais
⦁ De tudo quanto acaba de se expor resulta que o conteúdo da Constituição se relativiza e acusa
variações consoante os regimes políticos. E a cada regime vai corresponder um determinado
entendimento da Constituição em sentido material.
⦁ Não é só a respeito do regime político que esta pluralidade de Constituições se apresenta. É também
no tocante à forma de Estado e no tocante à forma de governo, ao sistema de governo e à forma
institucional.
⦁ Revolução é uma rutura da ordem constitucional, a rutura não revolucionária uma rutura na ordem
constitucional.
⦁ Quanto à rutura parcial ou rutura não revolucionária, esta não põe em causa a validade em geral da
Constituição, somente a sua validade circunstancial. Continua a reconhecer o princípio da legitimidade
no qual assenta a Constituição; apenas lhe introduz um limite ou aplica de novo, por forma originária.
⦁ A transição constitucional é a passagem de uma Constituição material a outra com observância das
formas constitucionais, sem rutura. Muda a Constituição material, mas permanece a Constituição
instrumental e, eventualmente, a Constituição formal.
⦁ Da transição deve aproximar-se o desenvolvimento constitucional, fenómeno complexo que envolve
interpretação evolutiva da Constituição, revisão constitucional e costume.
⦁A suspensão da Constituição em sentido próprio é somente a não vigência durante um certo tempo,
decretada por causa de certas circunstâncias, de algumas normas constitucionais.
⦁O princípio é de proibição da suspensão. Só excecionalmente em caso de necessidade ela é consentida.
∾ O costume constitucional
∾ A revisão constitucional
distinta da forma seguida para a elaboração das leis ordinárias. Diz-se flexível aquela em que a forma
é a mesma para a lei ordinária e para a lei de revisão constitucional.
⦁ As Constituições dos regimes marxistas-leninistas são todas ou quase todas rígidas, as das democracias
pluralistas são rígidas ou flexíveis.
⦁ Uma Constituição legal tanto pode ser rígida como flexível. Todas as Constituições portuguesas e as da
grande maioria dos países são rígidas.
⦁ A rigidez constitucional revela-se um corolário natural, histórica decorrente da adoção de uma
Constituição em sentido formal. A rigidez nunca deverá ser tal que impossibilite a adaptação a novas
exigências políticas e sociais.
axiológico-social realização;
⦁ Não se pode ficar pelas "decisões de conflitos" e de valores singulares, antes se deve avançar até aos
valores fundamentais mais profundos, portanto até aos princípios gerais de uma ordem jurídica;
⦁ Os princípios não se colocam além ou acima do Direito, também eles fazem parte do complexo
ornamental. Não se contrapõem às normas, contrapõem-se tão-somente às regras; as normas jurídicas
é que se dividem normas-princípios e normas-regras;
⦁ Se assim se afigura em geral, muito mais tem de ser no âmbito do Direito Constitucional, tronco de
ordem jurídica estatal, todo ele envolvido e penetrado pelos valores jurídicos fundamentais dominantes
na comunidade; sobretudo, tem de ser assim na consideração da Constituição material como núcleo de
princípios e não me regras, preceitos ou disposições;
⦁ As regras são aplicáveis no estilo de tudo ou nada dos fatos que preveem; os princípios, ao invés, não
comportam consequências jurídicas que decorre automaticamente; um princípio não indica tanto a
necessidade de uma determinada decisão quanto uma razão para ir num certo sentido;
⦁ Os princípios são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível, dentro das
possibilidades jurídicas e reais existentes; são mandados de otimização que podem ser cumpridos em
diferentes graus. As regras são normas que só podem ser cumpridas ou não. Se uma regra é válida,
então tem de fazer-se exatamente o que ela exige. As regras contêm determinações no âmbito fáctico e
juridicamente possível. A diferença entre princípios e regras é qualitativa, e não de grau.
⦁ A função ordenadora dos princípios revela-se particularmente significativa e forte em momentos
revolucionário.
⦁ O alcance político e literário do preâmbulo evidente em qualquer Constituição. Ele reflete a opinião
pública ou o projeto de que a constituição retira a sua força.
⦁ O preâmbulo é parte integrante da Constituição, com todas as suas consequências. Distingue-se
apenas pela sua eficácia ou pelo papel que desempenha.
⦁ O preâmbulo dimana do órgão constituinte, tal como as disposições ou preceitos; É aprovado nas
mesmas condições e o ato de aprovação possui a mesma estrutura e mesmo sentido jurídico. Tudo
quando resulte do exercício do poder constituinte e conste da Constituição em sentido instrumental,
tudo é constituição em sentido formal.
⦁ Os preâmbulos não podem assimilar-se às declarações de direitos. - Ele não incorpora preceitos, mas
sim princípios.
84. Normas precetivas exequíveis, normas precetivas não exequíveis e normas programáticas
⦁ Todas as normas exequíveis por si mesmas podem considerar-se precetivas, mas nem todas as normas
precetivas são exequíveis por si mesmas. Em contrapartida, as normas programáticas são todas normas
não exequíveis por si mesmas.
tendam a impedir a produção de atos por ela impostos e enquanto, depois de concretizadas através de
normas legais, estas não podem ser pura e simplesmente revogadas, retornando-se ao vazio ou à
completa inexequibilidade.
⦁ No que toca aos funcionários e agentes do Estado, não deixam eles de, no estrangeiro, estar adstritos
aos seus deveres e responsabilidades constitucionais. É o caso em especial dos agentes diplomáticos e
dos militares.
Parte III
Direitos fundamentais
Título I – A problemática dos direitos fundamentais
pelos danos sofridos por condenação criminal injusta; e o dever de esclarecer objetivamente os
cidadãos sobre os atos do Estado e das demais entidades públicas.