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ORGANIZAÇÃO
Ana Cláudia Pavão Siluk
ISBN 978-85-61128-21-0
CDU 376.1/.5.134
SUMÁRIO
Apresentação .................................................................................................................................................9
Módulo IV - Atendimento Educacional Especializado para Alunos com Deficiência Física ................101
Unidade A - Deficiência Física ......................................................................................................................103
Unidade B - Práticas Educacionais Inclusivas e o Cotidiano Escolar de Alunos com Deficiência Física ..........114
Unidade C - O Impacto da Disfunção Física no Brincar ................................................................................124
Módulo VI - Atendimento Educacional Especializado para Alunos Cegos e com Baixa Visão ............177
Unidade A - A Visão e a Falta da Visão .........................................................................................................179
Unidade B - Baixa Visão ...............................................................................................................................186
Unidade C - O Sistema Braille ......................................................................................................................194
Unidade D - Orientação E Mobilidade ..........................................................................................................201
Unidade E - Recursos Tecnológicos ..............................................................................................................203
Unidade F - Adaptação de Material..............................................................................................................205
Módulo IX - Atendimento Educacional Especializado para Alunos com Altas Habilidades /Superdotação ......307
Unidade A - Conceitos e Terminologias Acerca de Inteligências e de Altas Habilidades/Superdotação .......309
Unidade B - Procedimentos para o Desenvolvimento das Habilidades e Talentos:
Adequação, Complementação e/ou Suplementação Curricular ................................................317
Unidade C - Técnicas de Enriquecimento, Relacionadas à Pesquisa Científica e Desenvolvimento
de Produtos e Procedimentos de Compactação ou Aceleração Curricular .................................327
Unidade D - Elaboração de Materiais e Técnicas de Trabalho Específicos ao Desenvolvimento
das Habilidades e Talentos Conforme a Necessidade dos Alunos .............................................341
UNIDADE A COMPREENDENDO
O ATENDIMENTO
EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO (AEE)
O fragmento do texto acima evidencia alguns pontos que devem ser destacados.
O primeiro deles é que a Educação Especial consiste em uma modalidade de ensino e
não em um sistema substitutivo de ensino. Portanto, não deve ser substitutiva ao en-
sino regular e, sim, complementar e/ou suplementar. Sendo oferecida de forma substi-
tutiva, torna-se incompatível com o princípio de igualdade, porém, sendo ofertada de
forma complementar e/ou suplementar, não impede que o aluno frequente o ensino
regular. Em termos mais simples, não deve haver sistemas paralelos de ensino especial,
como, por exemplo, escolas especiais com séries ou anos funcionando conforme o en-
sino regular, mas se destinando exclusivamente ao ensino de alunos com necessidades
educacionais especiais.
Outro ponto que merece destaque é a transversalidade da Educação Especial,
pois quando o texto nos esclarece que essa modalidade de ensino perpassa os demais
níveis, evidencia a transversalidade. Dessa forma, a educação especial atua de forma
complementar ou suplementar ao sistema regular de ensino, tanto na Educação Básica
(Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio) quanto no Ensino Superior.
Essa transversalidade pode ser representada pela figura a seguir:
Por fim, podemos destacar como ponto relevante do fragmento anterior que a
Educação Especial é a modalidade de ensino que realiza o Atendimento Educacional
Especializado (AEE). Antes de tratarmos especificamente do AEE, pensamos ser impor-
tante saber quais alunos são público da Educação Especial e, portanto, têm o direito de
receber atendimento complementar e/ou suplementar.
Com base nessa definição, percebemos que o AEE é o atendimento oferecido aos
alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/
superdotação, de forma complementar e/ou suplementar ao ensino regular, conside-
rando as necessidades desses alunos. Então, o professor do AEE, dependendo da neces-
sidade de seu aluno, organizará atividades e recursos pedagógicos e de acessibilidade,
a fim de facilitar o processo de construção de aprendizagem do sujeito. É importante
salientar, ainda, que as atividades oferecidas pelo AEE não se configuram como reforço
escolar, uma vez que se diferenciam daquelas realizadas na sala de aula do ensino co-
mum, como refere a citação anterior. O professor deverá, de forma criativa e inovadora
buscar atividades e recursos que estimulem o aprendizado do aluno nas áreas em que
ele encontra maiores dificuldades.
Para evidenciarmos o que são as atividades e recursos do AEE, apresentaremos
alguns exemplos:
t Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS: “é uma língua visual-espacial articulada
através das mãos, das expressões faciais e do corpo. É uma língua natural usada
pela comunidade surda brasileira” (QUADROS, 2007, p. 19);
t Código Braille: “código ou meio de leitura e escrita das pessoas cegas. Baseia-
se na combinação de 63 pontos que representam as letras do alfabeto, os núme-
ros e outros símbolos gráficos” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 22);
t Comunicação aumentativa/alternativa: consiste em “um conjunto de pro-
cedimentos técnicos e metodológicos direcionado a pessoas acometidas por al-
guma doença, deficiência ou alguma outra situação momentânea que impede a
comunicação com as demais pessoas por meio dos recursos usualmente utiliza-
dos, mais especificamente a fala”. É bom lembrar que a comunicação aumen-
tativa/alternativa não substitui a fala, mas contribui para que a comunicação
ocorra (MANZINI; DELIBERATO, 2006, p. 4);
t Ensino da língua portuguesa para surdos: a língua portuguesa (leitura e
escrita) é a segunda língua para os surdos, sendo que a Língua Brasileira de Si-
nais é a primeira língua;
t Uso do sorobã: “instrumento utilizado para trabalhar cálculos e operações ma-
temáticas; espécie de ábaco que contém cinco contas em cada eixo e borracha
compressora para deixar as contas fixas” (SÁ; CAMPOS; SILVA, 2007, p. 22);
t Enriquecimento curricular;
t Produção e adaptação de materiais didáticos e pedagógicos;
t Atividades da vida autônoma.
professor do AEE trabalhará com alunos com deficiência, transtornos globais do desen-
volvimento e altas habilidades/superdotação. Esses alunos devem estar matriculados no
ensino regular da escola ou de outra escola regular, frequentando o AEE em turno inverso.
A escola deverá ter um plano de AEE para a identificação das necessidades edu-
cacionais especiais dos alunos e para a definição dos recursos e atividades que serão
desenvolvidas tendo em vista as especificidades dos alunos. Além do professor do AEE,
a escola também poderá contar com outros profissionais da educação, como, por exem-
plo, um tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais para alunos com surdez ou
um profissional que auxilie os alunos que necessitam de ajuda na alimentação, higiene
e locomoção.
Por fim, podemos enfatizar, em relação à organização do AEE, a importância das
redes de apoio:
t a importância da articulação entre o professor do ensino regular e do Atendi-
mento Educacional Especializado, uma vez que o professor do AEE, além de tra-
balhar com o aluno na sala de recursos, dará o apoio necessário ao professor do
ensino regular que possui em sua sala um aluno incluído.
t a escola pode buscar para a realização do AEE parcerias com a Secretaria de Edu-
cação e Secretaria da Saúde, a fim de que elas apoiem o trabalho da escola. Esse
apoio poderá ocorrer por meio de palestras, assessorias ou cursos para formação
docente, considerando as demandas da escola. Com relação às parcerias, enfati-
zamos que o professor é parte atuante da equipe interdisciplinar, de forma que,
além de receber apoio, esse profissional deve oferecer subsídios acerca da prática
pedagógica com base em seus saberes a respeito da aprendizagem e da realida-
de escolar.
t buscar recursos e serviços necessários para garantir a qualidade de ensino para
os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habi-
lidades/superdotação.
alização das atividades era acompanhada de profundos suspiros. Na sala de aula, ele
sentava na última classe e lá permanecia sem participar de praticamente nenhuma
atividade, exceto as que envolviam desenho. Seu nome não aparecia sequer na lista
de orações que os alunos realizavam, um a cada dia, para dar início à aula. Os nomes
constavam em ordem alfabética e Fernando, com sua dificuldade na fala e na apren-
dizagem, foi excluído da lista.
O que fazia com que Fernando ainda fosse para a escola? Supomos que não há
outra explicação, senão o desejo de aprender.
Frequentando a Sala de Recursos Multifuncionais, um olhar diferente e uma apos-
ta foram endereçados a Fernando pelo professor do AEE. Dizia o professor: “Fernando
gosta mesmo é de matemática! Então, porque não valorizar sua facilidade com os nú-
meros?”. Desse modo, trabalharam histórias matemáticas e atividades com cálculos. O
trabalho com a multiplicação teve início e a calculadora foi introduzida. Os progressos
foram visíveis e Fernando foi aprovado para a 3ª série. Atualmente, ele frequenta o en-
sino regular, tem uma aparência feliz e se expressa de forma mais compreensível, pas-
sando a se interessar pela leitura e descoberta dos enigmas das histórias matemáticas.
Nesse breve relato de caso, foi possível visualizar melhor a dimensão e a relevân-
cia do trabalho do professor do AEE, principalmente, quando ele consegue dar um lugar
de sujeito para o aluno, independentemente
das suas dificuldades. Para isso, é necessário OBSERVAÇÃO
um investimento, a fim de que o aluno, per- Todos os nomes utilizados são fictícios, mas
cebendo o desejo do professor com relação às suas histórias pelo campo do saber são re-
suas questões, possa voltar a se interessar pelo ais. É importante lembrarmos que por trás
de toda teoria e legislação existem sujeitos
aprendizado e pelo universo da escola. reais, com seu estilo de aprender.
RESUMINDO...
educativo de que TODOS são capazes de aprender, embora com ritmos e estilos
de aprendizagem diferentes.
Esta Unidade tem como objetivo delinear a forma como as políticas públicas fo-
ram pensadas e construídas em direção à educação inclusiva. Para tanto, trataremos de
marcos legais nacionais e, também, internacionais que asseguram o direito de igual-
dade, garantindo que todos os alunos devem frequentar o sistema regular de ensino.
É importante conhecermos esses marcos para compreendermos melhor a atual
Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva, a qual
afirma ser a Educação Especial a responsável pela oferta do Atendimento Educacional
Especializado, tema deste módulo.
Iniciaremos pela Constituição Federal de 1988, que assegura o princípio de igual-
dade. Em seguida, discorreremos acerca dos seguintes documentos internacionais:
Declaração Mundial de Educação para Todos e a Declaração de Salamanca. Após, tra-
taremos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 (LDBEN). Também
analisaremos a Convenção de Guatemala e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência. Para concluir, abordaremos a Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva, de janeiro de 2008, o Decreto nº 186 de Julho de
2008, o Decreto nº 6.571 de 17 de Setembro de 2008 e as Diretrizes Operacionais da Edu-
cação Especial para o Atendimento Educacional Especializado – AEE na Educação Básica.
Além disso, a CF garante, em seu Artigo 205, que a educação é direito de todos e dever
do Estado e da família. Em seguida, no Artigo 206, estabelece a igualdade de condições para
o acesso e permanência na escola. O Atendimento Educacional Especializado, oferecido pre-
ferencialmente na rede regular de ensino, também é garantido na CF (Artigo 208, Inciso III).
Sendo assim, por meio do fragmento acima, salientamos o direito de toda crian-
ça à educação no ensino regular e pontuamos uma questão que consideramos funda-
mental na perspectiva da educação inclusiva: todo aluno “possui características, inte-
resses, habilidades e necessidades de aprendizagem que são únicas”. Trata-se do estilo
de aprendizagem que é singular, é particular. A escola, com uma pedagogia centrada
A LDBEN garante, ainda, a “possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
diante verificação do aprendizado” (Artigo 24, Inciso V, “c”). Essa é mais uma premissa
do documento ao reafirmar o direito de todos à educação, levando em conta a diversi-
dade, uma vez que pontua questões relativas às necessidades educacionais especiais.
Por meio desse relato notamos que foi dado a Vagner um lugar onde sua subjeti-
vidade e seu estilo de aprender puderam aparecer. Uma vez oportunizado esse encon-
tro, o trabalho direcionou-se para produções que oportunizaram uma aprendizagem
significativa ao aluno. Outras atividades foram sugeridas, inclusive um trabalho em
conjunto com o pai de Vagner, para que ambos pesquisassem na internet as partes
principais de um carro de Fórmula 1.
Diante disso, é tarefa do professor, face à diversidade de estilos em sala de aula,
ajudar o aluno com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento ou altas ha-
bilidades/superdotação a descobrir o seu jeito de lidar com o conhecimento, tendo
sempre em mente que cada sujeito aprende de uma forma única em um tempo que é
peculiar a cada estilo.
É importante ressaltar que o aluno aprende quando consegue captar o brilho no
olho do mestre ao notar nele um sujeito desejante e capaz de aprender. O entusias-
mo do aluno será resultante dos “aspectos subjetivos do ensinante, ou seja, como ele
mesmo, sujeito que ensina, mas que também aprende, lida com o saber e o conhecer”
(RUBINSTEIN, 2003, p. 136).
A busca pelo conhecimento é um processo que está o tempo todo sendo rein-
ventado e ressignificado. É uma busca traduzida por algo que sempre escapa, por um
conhecimento que é fugaz. É importante pensarmos que é na ausência deixada pelo
que falta que o novo se evidencia, dando lugar à descoberta e à aprendizagem. É nesse
universo de descobertas que reconhecemos o aluno com necessidades educacionais
especiais como sujeito que está em constantes mudanças, formando-se na troca de
conhecimentos com o professor, quando este permite que ele apareça nas suas espe-
cificidades, na sua diferença. Pensando por esse viés, MRECH (1999, p. 28) é pontual ao
se referir ao aluno com necessidades educacionais especiais, bem como à proposta da
Educação Inclusiva:
é uma maneira nova da gente se ver , ver os outros e a Educação. De se
aprender a conviver com as diferenças, as mudanças, com aquilo que está
além das imagens. Uma maneira da gente apostar no outro.
BERSCH, R. de C. R.; PELOSI, M. B. Portal de ajudas técnicas para a educação: equipamento e ma-
terial pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física:
tecnologia assistiva: recursos de acessibilidade ao computador. Brasília: ABPEE - MEC/SEESP, 2007.
____. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: plano de ação para satisfazer as neces-
sidades básicas de aprendizagem. UNESCO, Jomtiem/Tailândia, 1990.
____. Decreto Nº 186, de 09 de julho de 2008. Aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março
de 2007. Brasília: Diário Oficial da União, 2008.
FÁVERO, A. G. Educação Especial: tratamento diferenciado que leva à inclusão ou à exclusão de direitos?
In: FÁVERO, A. G.; PANTOJA, L. de M. P.; MANTOAN, M. T. E. Atendimento Educacional Especiali-
zado: aspectos legais e orientação pedagógica. Brasília: MEC/SEESP, 2007, p.13-22.
KUPFER, M. C. M. Duas notas sobre a inclusão escolar. In: Escritos da criança. Porto Alegre: Centro
Lydia Coriat, 2001, nº 6, p.71-81.
MANTOAN, M.T.E. Colóquio Política Nacional de Educação na Perspectiva da Educação Inclusiva. In: In-
clusão: Revista da Educação Especial/Secretaria de Educação Especial. v. 4, n. 1. Brasília: Secretaria
de Educação Especial, 2008, p.18-32.
MANZINI, E.J.; DELIBERATO, D. Portal de ajudas técnicas para a educação: equipamento e material
pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física: re-
cursos para comunicação alternativa. 2. ed. Brasília: MEC/SEESP, 2006.
MRECH, L. M. Psicanálise e Educação: novos operadores de leitura. São Paulo: Pioneira, 1999.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, 2006.
RUBINSTEIN, E.R. O estilo de aprendizagem e a queixa escolar: entre o saber e o conhecer. São
Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.