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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA 37ª VARA CIVEL DA COMARCA DA CAPITAL


DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Proc.: 0450669-67.2012.8.19.0001

CHARLES DA SILVA MIRANDA, já qualificado nos autos


da AÇÃO DE COBRANÇA DE COMPLEMENTO DE SEGURO DPVAT, que move em face
de SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DE SEGURO DPVAT, vem respeitosamente
perante Vossa Excelência, através de seus advogados abaixo assinados, tempestivamente, com
fulcro no artigo 1009 e seguintes do Novo Código de Processo Civil, interpor o presente:

RECURSO DE APELAÇÃO

Contra a retro sentença que julgou parcialmente procedente o pedido


do Recorrente, requerendo desde já a desconsideração do Recurso apresentado às fls. 273 e ss.,
uma vez que perdeu o objeto após o julgamento dos Embargos de Declaração retro, bem como
requerendo o recebimento em seu duplo efeito e sua ulterior remessa ao E.TJ/RJ, ante o
preenchimento de seus requisitos de admissibilidade, conforme razões na peça apartada:

Termos em que,

Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2021.

MARCELO CRUZ EVANGELISTA LEVI SIMÕES DE FREITAS


OAB/RJ 58.404 OAB/RJ 196.585

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA,

Autos do processo nº: 0450669-67.2012.8.19.0001


Apelante: CHARLES DA SILVA MIRANDA

Apelado: Seguradora Líder dos Consórcios do Seguro DPVAT S/A

Origem: MM. Juízo da 37ª Vara Cível da Comarca da Capital do Estado do Rio Janeiro

RAZÕES DE APELAÇÃO

Colenda Câmara,

Trata-se de recurso de apelação interposto contra sentença que julgou


procedente em parte o pedido formulado pelo Autor, ora Apelante, contra a qual se insurge pelos
motivos que passará a expor adiante.

PRELIMINARMENTE

DA TEMPESTIVIDADE

O presente recurso é tempestivo, uma vez que tendo sido intimado da


r. sentença nesta data, em consonância com o artigo 219, caput do Novo Código de Processo Civil,
bem como a suspensão de prazos e feriados até a presente data, sendo assim, incontestavelmente foi
respeitada a quinzena legal.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Conforme se verifica dos autos, o Apelante por ser juridicamente


pobre e não dispor de recursos para arcar com as custas processuais que lhe foi concedido o
benefício da gratuidade de justiça deferida em decisão proferida pelo juízo a quo.

Nestas condições, aproveita a oportunidade para asseverar que em


face disso deixa de recolher as custas processuais.

SÍNTESE DA DEMANDA
Trata-se de Ação de cobrança de Seguro DPVAT, objetivando a
condenação da Ré ao pagamento da complementação de indenização em virtude de acidente
automobilístico ocorrido em 11/02/2012, onde acarretou sequelas permanentes no Autor.

Após a apresentação de contestação pela parte Ré fora realizada


perícia médica por Perito nomeado pelo Juízo, onde restou comprovado o nexo causal entre o
acidente e os danos sofridos pelo Autor, sendo atestada sequela em razão de retirada do baço.

Ao exarar sua sentença, o nobre Magistrado a quo decidiu no


julgamento parcialmente procedente da demanda, nos seguintes termos:

Cuida-se de ação de conhecimento, com pedido de gratuidade de justiça, proposta


por CHARLES DA SILVA MIRANDA em face de SEGURADORA LIDER DOS
CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A. Alega o autor, em síntese, que foi
vítima de acidente de trânsito em 11/02/2012, sofrendo graves lesões, que lhe
acarretaram sequelas. Todavia, até hoje, não recebeu o seguro DPVAT devido.
Assim, requer: i) indenização pelo seguro DPVAT no valor de R$ 13.500,00; e ii)
condenação da ré nas verbas da sucumbência. A petição inicial de fls. 03/05 veio
instruída com documentos. Deferida a gratuidade pelo despacho de fl.34. Despacho
liminar positivo à fl. 39. Foi apresentada contestação com documentos às fls. 42/54.
Na referida peça de defesa, a ré arguiu preliminar de falta de interesse e, no mérito,
impugnou os fatos e fundamentos da pretensão deduzida na inicial, expondo, em
apertada síntese, que a pretensão autoral é muito superior à tabela de pagamento de
seguros. Com isto requereu a improcedência dos pedidos. Audiência de conciliação
à fl.67. Decisão saneadora à fl.69, com rejeição da preliminar e deferimento da
prova pericial. Laudo pericial às fls. 213/218. É o relatório. DECIDO. Verifica-se
que o autor postula recebimento do valor do seguro DPVAT, em função do acidente
de trânsito ocorrido em 12/02/2012, o que lhe acarretou a retirada do baço. Dessa
forma, comprovada, pelos documentos juntados aos autos, a existência de nexo
causal entre as lesões sofridas pelo autor e o acidente de trânsito aludido na inicial,
impõe-se o acolhimento do pedido para pagamento da indenização do seguro
DPVAT, nos termos do laudo pericial médico de fls. 213/218, que, com fulcro no
art. 3º, da Lei nº 6.194/74, com as alterações da Lei nº 11.482/2007 e da Lei nº
11.945/2009, apresentou a seguinte conclusão: ´O autor apresenta como sequelas
funcionais derivada do acidente a retirada integral do Baço (esplenectomia). Desta
forma, a IPP (Incapacidade Parcial Permanente) é de 10% (Perda Integral - Retirada
Cirúrgica - do Baço), segundo a tabela da Lei 11.945/09.´ Assim, como o valor
máximo previsto legalmente é de R$ 13.500,00, tem o autor o direto ao recebimento
de R$ 1.350,00. Por fim, o valor da indenização (R$ 1.350,00) deve ser acrescido de
juros e correção monetária na forma estabelecida no parágrafo 7º, do art. 5º, da Lei
nº 6.194/1974 (com redação dada pela Lei nº 11.482/2007). Ante o exposto, julgo
PROCEDENTE EM PARTE a pretensão deduzida na inicial a fim de condenar a ré
a pagar ao autor, a título de seguro DPVAT, a importância de R$ 1.350,00, com de
juros e correção monetária nos termos do parágrafo 7º, do art. 5º, da Lei nº
6.194/1974 (com redação dada pela Lei nº 11.482/2007). Condeno a ré ao
pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios que fixo em 10%
sobre o valor da condenação. P.R.I. Com o trânsito em julgado, dê-se baixa e
arquivem-se os autos.
Logo após, em sede de Embargos de declaração, sentenciou o
seguinte:

Conheço dos Embargos de fls.284/294 e os provejo parcialmente. Inicialmente, no


tocante ao termo de incidência dos juros e da correção, assiste razão à embargante.
Os juros deverão ser contados a partir da citação, nos termos da Súmula 426 so STJ.
Já a correção monetária deverá incidir à partir da data do evento danoso, como
disposto na súmula 380 do STJ. De fato, houve sucumbência recíproca, impondo
o rateio das despesas processuais e honorários de advogado, observada a
gratuidade deferida ao autor. PRI.

Excelências, apesar de comumente exarar decisões acertadas, o


Magistrado a quo equivoca-se em relação à ocorrência de sucumbência recíproca, conforme se
demonstrará a seguir.

DA ERRÔNEA CONDENAÇÃO EM SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA

As custas processuais e os honorários sucumbenciais em razão de


condenação em montante inferior ao pleiteado na inicial não são recíprocos, considerando que os
valores apontados na inicial têm natureza meramente estimativa, o qual se define somente
com a realização da perícia cabível – a qual ocorreu devidamente nos autos.

Consequentemente, não se pode considerar que o Apelante e Apelada


foram sucumbentes em parte, vez que apenas o interesse da parte Autora foi satisfeito, mesmo que
em valor inferior ao solicitado.

Senão vejamos decisão recente sobre o tema:

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. SANEAMENTO DO VÍCIO.


SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA AFASTADA. EFEITOS INFRINGENTES. No caso em
análise, o Acórdão atacado julgou procedente em parte o recurso da ré-embargada para
determinar o rateio das custas processuais e condenar o autor-embargante ao pagamento de
honorários advocatícios de 10% (dez por cento) sobre a diferença entre o valor pleiteado e o
proveito econômico efetivamente obtido e o réu ao pagamento de honorários advocatícios de
10% (dez por cento). Embargos de declaração opostos pelo autor. De fato, o acidente
automobilístico suportado pelo autor-embargado provocou incapacidade cuja extensão
dependia de prova pericial. Por certo, não poderia o demandante-recorrente prever, antes
da diligência judicial, o grau de lesão decorrente do sinistro, a justificar a sucumbência
reciproca, pelo recebimento de indenização inferior ao valor pleiteado. Dessa forma,
impõe-se a reforma da parte do Acórdão que reconheceu a sucumbência recíproca, mantido
nesse ponto os termos da sentença recorrida. Precedentes desta Câmara Cível.
PROVIMENTO DO RECURSO COM EFEITO MODIFICATIVO. (TJ-RJ - APL:
02401795720188190001, Relator: Des(a). ALCIDES DA FONSECA NETO, Data de
Julgamento: 07/10/2020, VIGÉSIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
20/08/2020)

APELAÇÃO. SEGURO DPVAT. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. PLEITO DE


AFASTAMENTO DA SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. RECONHECIMENTO DA
INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA EM PATAMAR INFERIOR QUE NÃO IMPLICA
NA SUCUMBÊNCIA DA PARTE. REFORMA DA SENTENÇA. Trata-se de ação
objetivando o pagamento do seguro obrigatório DPVAT, em razão de acidente sofrido pelo
autor, do qual teria resultado incapacidade permanente. O sentenciante julgou parcialmente
procedente a pretensão autoral, condenando a parte ré a pagar R$2362,50, acrescido de juros
legais desde a citação e correção monetária a contar do sinistro, quantia inferior à pleiteada
pela parte. Por fim, reconheceu a sucumbência recíproca das partes. (doc. 254) Por sua vez, a
parte apelante persegue a reforma da sentença sob o fundamento de que a fixação do
percentual reparatório em valor inferior ao pleiteado pela parte não configura sucumbência
recíproca, como sedimentado pelo C. STJ na Súmula 326. Pelo exposto, requer a reforma da
sentença, impondo à apelada, de forma integral, o ônus sucumbencial. Merece prosperar a
irresignação autoral. A apuração das consequências danosas do evento e da intensidade das
sequelas deixadas pelo acidente perfazem o próprio objeto da demanda, exigindo a produção
de prova técnica, de modo que que a conclusão aquém do narrado pela parte autora não
implica no reconhecimento da sucumbência parcial da parte autora. Portanto, tal como no
caso das ações ressarcitórias por danos morais, a fixação de quantum inferior ao pleiteado na
exordial não importa na sucumbência da parte demandante. Nessa esteira, o entendimento do
C. STJ mencionado pelo recorrente. Na ação de indenização por dano moral, a condenação
em montante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca. Merece
prosperar, portanto, o recurso autoral. Considerando a procedência total da pretensão autoral,
compete à parte ré suportar os ônus sucumbenciais, ou seja, arcar com as despesas processuais
e honorários advocatícios. Diante da singeleza da causa, fixo os honorários advocatícios no
mínimo legal – 10% sobre o valor da condenação, ex vi do art. 85, § 2 do NCPC.
(APELAÇÃO CÍVEL Nº 126454-32.2014.8.19.0001, DECISÃO 04/08/2017)

Sendo assim, frise-se, não houve sucumbência recíproca. Houve


sucumbência total da seguradora.

Assim, os honorários e custas devem ser redimensionados e imputados


exclusivamente à Seguradora, livrando-se a parte Autora de sua condenação.

Por isso, é de se destacar, igualmente, que não procede tal


determinação, devendo a sentença ser reformada nesse parte além do já exposto acima.
Ademais, salienta ainda que a Autora, ora Apelante, é beneficiária da
gratuidade de justiça, não havendo que se falar em cobrança de custas, honorários periciais e afins
em relação a este, razão pela qual reitera os argumentos supra.

DO PEDIDO

Posto isso, e somados os doutos suplementos que certamente este


Juízo irá dispensar ao fato concreto, espera confiantemente a Apelante, que V.Exas. analisem
com cautela e concluam ao final que o Douto Julgador a quo se equivocou ao julgar
parcialmente procedente a ação, devendo a sentença ser reformada de modo que seja afastada
a sucumbência recíproca, condenando-se o Réu ao pagamento de honorários em sua
integralidade e afastando quaisquer ônus de custas e afins da parte Autora, ante a gratuidade
de justiça deferida, por ser medida de lídima Justiça.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Rio de Janeiro, 26 de janeiro de 2021.

MARCELO CRUZ EVANGELISTA


OAB/RJ 58.404

LEVI SIMÕES DE FREITAS


OAB/RJ 196.585

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