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A HISTÉRICA EM SEU JOGO


SEDUTOR E INSATISFEITO: ENTRE
O FALO E A FALTA
Carolina Almeida

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Rodrigo Mart ins Araújo

Um dos novos rost os da hist eria: os sint omas anoréxicos como respost a ao discurso do capit alismo
Ernest o Anzalone

CAMPO FREUDIANO NO BRASIL


Amanda Maia
1

A HISTÉRICA EM SEU JOGO SEDUTOR E INSATISFEITO:


ENTRE O FALO E A FALTA

Carolina Almeida Alves Ferreira


Faculdade Alves Faria

Ana Carolina Silva Moreira Nogueira


Faculdade Alves Faria

Resumo

A origem da Psicanálise está estreitamente ligada ao encontro de Freud com


a histeria. O estudo psicanalítico teve como marco a busca de tratamentos para a
histérica e foi a partir dessa busca que Freud começou a se perguntar o porquê
uma pessoa consiste este adoecimento psíquico e como este toma proporções tão
visíveis a partir dos sintomas apresentados, tais como: acessos dramáticos,
desmaios, vômitos, incapacidades repentinas de falar, perda da audição,
esquecimento da língua materna, paralisia dos membros, sensação de perda da
respiração, tosse, e incapacidade de comer.
O objetivo deste trabalho é entender a presença do desejo insatisfeito na
histérica, de forma que esse desejo transparece repetidamente durante a sua
vida. Esse estudo foi feito a partir do caso de uma paciente da clinica-escola de
psicologia da Faculdade ALFA. Para o desenvolvimento deste artigo foram
utilizados aportes teóricos da psicanálise que teorizam sobre H i s t e r i a , a
relação desta neurose com o desejo insatisfeito da histérica, o complexo de
castração, identificação, sexualidade, fetiche e outros teóricos e teorias que
veremos adiante.

Palavras – Chave: Histeria, Desejo Insatisfeito, Sintoma, Psicanálise.

Abstract

Key – words: Hysteria; Unsatisfied Desire; Symptom; Psychoanalysis.


2

Dentro da fêmea Deus,


Pôs lagos e grutas, canais,
Carnes e curva e cós,
Seduções e pecados enfermos.

Em nome dela, depois,


Criou perfumes, cristais,
O campo de girassóis,
“E as noites de paz...”

Chico Buarque de Holanda em, Tororó


3

1. Introdução

“O que é a mulher em mim senão o Túmulo


O branco marco da minha rota peregrina
Aquela em cujos braços vou caminhando para a morte
Mas em cujos braços somente tenho vida?”
(Vinícius de Moraes. A vida vivida, 1938 )

Há muito tempo se fala em histeria e para que se possa desenvolver com


clareza sobre ela iremos aos primórdios históricos - Hipócrates - até Freud e
caminharemos de Freud até os dias atuais. Assim poderemos observar que a
Histeria, se manifesta de diferentes modos e deve ser reconhecida de acordo com
cada momento e cada cultura.
Alonso (2004) nos mostra o conceito da palavra histeria, que vem do grego,
tem sua origem na medicina e significa útero, no qual se refere à matriz.
Hipócrates não utilizava o termo histeria, falava de “sufocação da matriz”. Para
ele, o útero leve e vazio quando carente, seria a própria causa da histeria, onde
este teria uma característica animal se deslocaria pelos órgãos do corpo da
mulher, podendo assim parar em um determinado local causando diferentes
doenças, como por exemplo, o útero jogando-se contra o fígado dificultando as
vias respiratórias localizadas no ventre ou o funcionamento do coração
provocando tonturas, contra os hipocôndrios, poderia provocar vômitos, dor de
cabeça, ou no pescoço, onde provocaria a falta de ar e/ou perda da palavra. Para
que as doenças não fossem instauradas, utilizava-se na época perfumes mal
cheirosos próximos as narinas e fumigador na proximidade da vulva para que o
útero pudesse voltar ao seu lugar. Estes fatos poderiam acontecer em mulheres
inférteis, que estavam sem ter relação sexual estando assim insatisfeitas.
Hipócrates dizia que o tratamento preventivo para esses casos, seria casamento
para as moças e relação sexual para as mulheres casadas.
Após Hipócrates, Platão retomou a ideia de útero migrador, e fala de uma
nova estrutura do corpo. A alma tinha para ele duas partes: alma imortal,
localizada na cabeça (denominada aqui como alma viril) e outra no ventre. A
mulher é caracterizada por ter em seu ventre um animal sem alma, pois quanto
mais nos afastamos da alma imortal, ou seja, quanto mais se desce para o
ventre, mais nos aproximamos da animalidade (ALONSO 2004).
Na mulher, o que se chama de matriz ou útero seria como um ser vivo,
possuído do desejo de fazer crianças. Quando, durante muito tempo, e
apesar da estação favorável a matriz permanece estéril, ela se irrita
perigosamente; ela se agita em todos os sentidos pelo corpo, obstrui as
passagens do ar, impede a inspiração, mete o corpo, assim, nas piores
angústias e lhe ocasiona outras doenças de todas as espécies (Platão, “O
Timeu”, 1976).

(TRILLAT, apud SORANOS, 1986), apresenta o “Tratado das doenças das


mulheres”. Faz uma relação entre menstruação, gravidez, parto e amamentação,
alegando que é necessário o desejo da mulher para que ela possa engravidar,
tentando acabar com o conceito de que o útero seria um animal. Porém, este
conceito ainda o permaneceu por muito tempo na história.
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Somente na era cristã, no século II, Galeno negou a ideia de matriz vazia
pelo corpo, questionou que se o útero não era o motivo da histeria, a mulher
encontra-se nivelada ao homem, assim ele também poderia desenvolver sintoma
histérico. Dessa forma, foi posto em questão que a histeria não teria ligação ao
sexo feminino (Alonso, 2004). Mil anos depois de Galeno, não se ouve mais em
histeria, uma vez que a Europa foi invadida por Bárbaros, onde a medicina se
reduz a receitas caseiras. O misticismo se sobrepõe a religiosidade e a histeria é
vista como punição divina, possessão demoníaca. Nesta fase, apenas o homem
é visto como filho de Deus e a mulher considerada a tentação, dando assim a
impossibilidade da mulher de assumir os seus desejos.
No período da Renascença, os médicos voltaram a falar de histeria, se a
sua causa era médica ou religiosa. Médicos e teólogos entram em confronto para
descobrir se o caso se tratava de simulação ou possessão. Aos poucos as ideias
dos pensadores anteriores voltaram a ser revistas. A mulher passou a ser
valorizada devido a sua maternidade.

Na Idade Média a Virgem Maria era venerada fundamentalmente por


virgem, dado que naquela época propunha-se a castidade, para tanto, o
culto à virgem é a equivalência da rejeição da sexualidade. Para os
cristãos do século XVII, com clara influência dos discursos religiosos, o
culto mariano é a veneração da maternidade, e toda mulher adquire valor
como indivíduo enquanto possível mãe (FERNÁNDEZ, Ana Maria, 1994, p.
79).

Alonso (2004), conta que em paralelo às teorias uterinas, as teorias


vaporosas também ganharam destaque. Trata-se de vapores que surgiam da
fermentação do sêmen ou do sangue menstrual que subiam do útero até o
cérebro transitando assim pelos nervos. Isso ocorria devido às abstinências
sexuais. Os fermentos seminais liberam vapores histéricos e o seu efeito
dependerá de como esses vapores são distribuídos no organismo. As pessoas as
quais os vapores são distribuídos de forma constante, seriam doces, amorosas e
sem problemas relacionados a vida sexual.
Nas mulheres esses fermentos seriam voláteis e fixos, tendo abstinência
sexual não encontrariam saídas e os fermentos subiriam para o cérebro e
apareceriam “a convulsão histérica, a confusão, o delírio, a inchação do ventre, a
mania ou a possessão demoníaca” (LANGE apud TRILLAT, p. 64)”. “Os nervos
são os únicos canais que podem transmitir movimentos dos vapores” (Trillat, 19 p.
63).
Deparamo-nos com diferentes autores defensores da teoria uterina e da
teoria cerebral. A “teoria uterina” (TRILLAT, p.61) envolve os ginecologistas e
parteiros. Nesta concepção, os vapores circulam de baixo para cima no corpo. Na
“teoria cerebral” (TRILLAT, p.61), localizam-se os neurologistas, para os quais os
vapores circulariam de cima para baixo.
Na teoria cerebral, na qual nos referimos anteriormente, a histeria passa a ser
situada no cérebro, os vapores circulam de baixo para cima e o lado animal pode
ser controlado adquirindo bons comportamentos. Por sua localização não ser mais
no útero e sim no cérebro, a histeria passa a pertencer também no homem, e
incluída na neurologia.
Ainda seguindo seu movimento histórico de localização e definição da
histeria, Alonso (2004), aponta que por volta do final do século XVII a histeria se
apresenta de diversas formas e que as emoções despertam os espíritos animais
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provocando os vapores e os sintomas e não na fermentação da semente e do


sangue menstrual. Os violentos movimentos do corpo, as fortes agitações da
alma, o temor de alguma paixão, poderiam ser as causas da histeria naquela
época. Com o surgimento da neurologia, que nos diz que os nervos não são ocos
e assim nada pode transitar por eles, assim a teoria dos vapores foi deixada de
lado.
Briquet (1796 – 1881) foi o primeiro a tratar com maestria sobre a histeria.
Para ele as causas da histeria estariam ligadas a conflitos familiares, amores
frustrados e emoções violentas, e foi ele o primeiro a afirmar cientificamente a
existência da histeria masculina.
Alonso (2004) prossegue e relata que após Briquet, surge o magnetismo
animal no século XIX trazido por Mesmer. Ele entendia que as doenças nervosas
seriam como um desequilíbrio do “fluido universal”, no qual circularia pelo
organismo dos homens e dos animais e reequilibra-se por meio do magnetismo e
produz convulsões nos pacientes. Esse conceito foi um importante passo, pois foi
a partir dele que se constituíram os primeiros caminhos para a descoberta da
hipnose. Paralelo a esse estudo das histéricas, a igreja praticava exorcismo. Em
seguida, porém, com o avanço na medicina, os médicos passaram a tratar as
histéricas de acordo com que o corpo apresentada: sintoma, e as diagnosticavam
com “histero-demonopatia epidêmica”.
“Esses especialistas das doenças das mulheres são também, como o era
Galeno, sexólogos. Eles se interessam pelo exercício da sexualidade e lhe
reconhecem um lugar importante na vida das mulheres” (TRILLAT, p. 66). Assim
se reafirma a posição de que a histeria é uma patologia da sexualidade, e sua
sede é o útero.
Coube a Charcot (médico e cientista francês), inserir a histeria no meio
científico. Em sua ala de neurologia em Salpetriére entre 1885 e 1886, dava
cursos de hipnose para médicos da Europa. Provocava os sintomas e o extinguia
rapidamente para provar a forma psíquica da doença. A ideia de que os sintomas
histéricos são causados por lesões orgânicas é descartado por ele, ele distinguiu
histeria de epilepsia, e afirma que a histérica apresenta sinais e sintomas para
escapar da ideia de simulação, assim teoriza a neurose e porta de instrumentos
no intuito de dar de volta a dignidade das histéricas. Em suas palavras, a
hipnose, “é uma neurose artificial de essência histérica e as histéricas são os
sujeitos nos quais suas manifestações são mais nítidas” (CHARCOT apud
QUINET, p.9). Em 1885, Freud foi até Paris, aprender com o mestre Charcot
sobre as doenças nervosas, mas diferente de Charcot, Freud escutou as
pacientes histéricas no seu sofrimento.
De volta a Viena, Freud adquiriu maiores conhecimentos sobre a histeria e
focou em seus atendimentos particulares dessas pacientes. Freud e Breuer
demostraram uma característica fundamental, a qual nos diz que os sintomas são
consequência de um possível trauma ocorrido em algum momento da vida que
pudesse desencadear a doença. Percebeu-se também que a histeria teria ligação
com os impulsos libidinais que poderiam ter sido recalcados. Neste momento,
com a catarse da lembrança desse suposto trauma seria possível a sua cura.
Assim que a emoção da paciente era escoada através da expressão verbal, o
sintoma desaparecia. Esse processo de reviver a emoção durante o relato foi
denominado de catarse, processo que culminava com a ab-reação (FREUD,
1996b, p. 25) da carga emocional, ou liberação do afeto ligado à lembrança trazida
à consciência.
6

O objetivo seria reviver o trauma da paciente trazendo assim toda emoção


que era transformada em sintomas corporais, este método, foi descrito por Breuer
como a forma de eliminar os sintomas através das lembranças trazidas no
momento da hipnose. Deste modo, ouviam-se frases soltas de lembranças e
fatos do passado, e esses relatados carregados de emoção eram revividos e
eliminados no momento presente.
Pelo fato de algumas pacientes resistirem a hipnose, pelos sintomas
retornarem após serem acordadas do sono induzido e por acreditar que o sintoma
histérico é definido como uma forma anormal de escoar a excitação, uma tentativa
fora da consciência de reestabelecer um equilíbrio da tensão emocional, Freud
abandona o método catártico e o substitui pelo de associação livre, gerando assim
o distanciamento entre os dois médicos (TRILLAT, 1991, p. 232-233).
A partir de então, Freud passa a perceber as histéricas por outra óptica,
ouvindo os seus relatos de vida sem o uso da hipnose, pois após o despertar o
sintoma poderia desaparecer, porém as representações continuariam
inconscientes e seria possível o deslocamento dos sintomas. Assim se dá inicio a
teoria psicanalítica tendo como principal ferramenta a associação livre.
A hipnose encobre a resistência, deixando livre e acessível um determinado
setor psíquico, em cujas fronteiras, porém, acumula as resistências, criando para o
resto uma barreira intransponível (FREUD, 1996b, p. 27).
Riemenschneider (2004) chama atenção para o aspecto camaleônico
presente na histérica, no qual ele se reconfigura de acordo com as
possibilidades, de acordo com cada cultura, cada momento, cada situação nela
envolvida. As histéricas já foram condenadas, apontadas como simuladoras e
envergonhadas pelas suas formas exageradas e o erotismo escancarado em seu
corpo.
O sintoma da histérica se identifica na situação de desejo, no qual alguém é
colocado nessa identificação. Uma das características importantes neste caso é o
desejo insatisfeito, no qual condiz com a necessidade da histérica em manter
este desejo ou essa insatisfação ao longo da vida. Ela corre do enigma do desejo
entre homens e mulheres. Para Freud (1900), o desejo insatisfeito conduz à
frustração pela falta do pênis, ato que ocorre no complexo de castração,
insatisfação que é colocada à prova a própria Mãe, por não ter cedido a histérica
um pênis.

1.1. A Histeria na Psicanálise

“Não me venha falar da malícia de toda mulher, cada um sabe a delícia de ser o que se é”.
(GAL COSTA. Dom de Iludir, 1982)

Freud (1888) relata que a histeria pode se confundir com muitas doenças,
nervosas, neuróticas ou orgânicas, por isso seu diagnóstico muitas vezes se
torna mais difícil.
Laplanche e Pontalis (2001) classificam a histeria como uma neurose que
apresenta sintomas clínicos muito variados. As duas formas sintomáticas mais
bem identificadas são a histeria de conversão, e a histeria de angústia. Essas
duas formas tem como a seguinte definição: Histeria de conversão o afeto é
transformado em expressão física, e a histeria de angústia o afeto é transformado
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em angústia. Assim, podemos dizer que a histeria tem algo claro com a falta, a
histérica demanda do outro e se faz vítima em seu próprio discurso. Configura-se
como objetos de amores e rivalidades, de sedução, tentação e perigo.
É a partir do texto “Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (1905), que
Freud salta em relação a sexualidade, na compreensão mais fecunda das neuroses,
e busca decifrar o enigma feminino.
Como para todo homem, para Freud a mulher também foi considerada um
enigma. Surgia para ele a pergunta: como decifrar a mulher? O que era a mulher?
As mulheres sempre foram parte essencial do percurso profissional de Freud e
perguntas como essas, ele deixou para que os poetas a respondessem, talvez de
uma melhor e mais bonita forma, uma pergunta que talvez não tenha fim.
Freud (1856 – 1939) escutou suas pacientes histéricas, e não mais o fez
como forma de confirmação do saber neurológico. Ele se deparou com duas
correntes de pensamentos médicos, a escola de Salptrière que focava nas
pesquisas teóricas e valorizavam a medicina, e a escola de Nancy, que teria como
foco a terapia para causar bem-estar nos doentes pobres. Essas duas escolas
utilizavam de um mesmo instrumento de investigação – a hipnose.

O método catártico já havia renunciado à sugestão, e Freud deu o


passo seguinte, abandonando também a hipnose. Atualmente, trata
seus enfermos da seguinte maneira: sem exercer nenhum outro tipo
de influência, convida-os a se deitarem de costas num sofá,
comodamente, enquanto ele próprio senta-se numa cadeira por trás
deles, fora de seu campo visual. Tampouco exige que fechem os
olhos e evita qualquer contato, bem como qualquer outro
procedimento que possa fazer lembrar a hipnose. Assim a sessão
prossegue como uma conversa entre duas pessoas igualmente
despertas (...) (FREUD, 1904 [1903]/1987, p.234).

Freud percebia nas histéricas uma manifestação psíquica que dava lugar a
representações no próprio corpo e chamava a atenção do outro. Entre 1888 – 1893,
na “Teoria da Sedução” concordou com Breuer o conceito de que a ordem da
histérica seria de origem traumática relacionada com a sexualidade na infância. Em
1893 – 1895 alegava que em todos os casos analisados no consultório, havia uma
ligação íntima entre as falas de sofrimento das pacientes e os sintomas
apresentados. Entre 1893 – 1895, descreveu outras possibilidades da causa
histérica, no texto Estudo sobre Histeria, os casos estudados por Freud tem como
ponto fundamental a ”teoria de defesa”. Freud definiu defesa no começo de seus
estudos sobre as neuroses, e nos diz que seria a impossibilidade de conciliar o eu e
a sexualidade, neste caso a defesa seria uma ferramenta para esquecer/separar a
realidade sexual traumática. Em 1926, Freud a chamou de recalcamento e o define
como uma forma de defesa, que no caso de histeria, afasta as representações do
consciente.
Gostaria, por fim, de me deter por um momento na hipótese de
trabalho que utilizei nesta exposição das neuroses de defesa. Refiro-
me ao conceito de que, nas funções mentais, deve-se distinguir algo
– uma carga de afeto ou soma de excitação – que possui todas as
características de uma quantidade (embora não tenhamos meios de
medi-la) passível de aumento, diminuição, deslocamento e descarga,
e que se espalha sobre os traços mnêmicos das representações
como uma carga elétrica espalhada pela superfície de um corpo.
(FREUD, 1894/1987, pg.65).
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Freud (1926) diz que “o motor do recalque é a angústia frente á castração


iminente”. Para ele as neuroses tem sua origem no complexo de Édipo, e por isso o
que dá lugar ao recalque é a angústia da castração, que no caso da mulher diz
respeito a angústia da ausência da mãe enquanto objeto.

O perigo que, na fase de imaturidade do eu, aparecia como medo da


perda do objeto, vai aparecer, na fase fálica, como medo da
castração, e no período da latência, como a angústia frente ao
supereu. Nas mulheres, a perda do amor de objeto é mais presente;
por isso a histeria tem mais afinidade com a feminilidade (FREUD,
1926, p. 136).

Freud (1926), fala de inibição, sintoma e angústia, fatores que marcam


a teorização freudiana. A teoria de angustia e sua relação com a formação de
sintomas, a luta do eu contra o sintoma, e o complexo de castração como causador
central dos sintomas. A angústia, é uma reação direta e automática frente ao
trauma, se trata de um sinal de perigo, que dá uma alerta do mesmo, esse sinal
permite que se coloque em prática os mecanismos de defesa e caso necessário
forme algum sintoma.
Um conceito presente na formação dos sintomas histéricos é a identificação,
pois está presente na personalidade da histérica, com alguém que está inserido na
mesma situação de desejo. Freud, diz que a histérica permite a expressão dos
sintomas não só nas próprias experiências, mas também nas dos outros, se trata de
uma identificação que oscila com as figuras da constelação edipiana. Por isso a
histérica sofre em nome de várias pessoas.
Freud (1898) diz que a histeria se trata de uma neurose, cuja patologia pode
ser classificada como Histeria de Conversão e Histeria de Angústia.
Segundo Ramadam (1985), seus sintomas clássicos se apresentam em
ataques convulsivos, como ‘escolha’ presença de zonas histerógenas que são
denominadas como áreas sensíveis, dolorosas e com representação sexual, nas
quais um leve estímulo desencadeia um ataque: distúrbios de sensibilidade (surdez,
anestesia, hiperestesia da pele, cegueira, perda do paladar), distúrbios motores
(tremores, paralisias, contração muscular) e distúrbios psíquicos (perda da
consciência).
Ainda com o mesmo autor, alguns sintomas descritos em geral, são
exagerados, assim, se o braço dói, a histérica considera que o braço está doendo
exaustivamente e nesses casos podem acorrer paralisia no membro. Portanto, as
manifestações de paralisias não são consideradas fisiológicas, ou seja, apenas o
braço fica paralisado e os membros podem mexer normalmente. Demonstra uma
sedução também exagerada, exibicionismos que provoca hostilidade em outras
mulheres e se faz de vítima indefesa. Normalmente demonstram interesse sexual
por homens disputados, de bom nível social, autoritários e até com personalidade
patológica, sintomas nos quais, podem ser classificados como histeria de conversão.
Já a denominada histeria de angústia, a libido é libertada sob forma de
angústia e a formação dos sintomas fóbicos tem sua origem num trabalho psíquico
que tem como objetivo ligar a angústia que se tornou livre outra vez, ao psiquismo,
este sintoma fóbico é o sintoma central da histeria de angústia.
Foi a partir dos trabalhos sobre a histeria elaborados por Freud e Charcot,
que a histeria era vista de forma esplêndida naquela época.
9

1.2. O Desejo Insatisfeito da Histérica

“O primeiro foi seu pai, o segundo seu irmão, o terceiro foi aquele que a Tereza deu a mão.”
(CANÇÃO INFANTIL)

“Para curar a histérica de todos os seus sintomas a melhor maneira é


satisfazer o seu desejo de histérica – que é para ela o de colocar ao
nossos olhos seu desejo como desejo insatisfeito (LACAN, 1998 a, p.
18).

Iniciando este tópico com a fala de Lacan, podemos considerar que a histérica
quer mostrar ao analista o seu desejo insatisfeito. O caso da Bela Açougueira é um
tema importante no desenvolvimento contemporâneo da histeria – o desejo
insatisfeito. Neste sonho a histérica se ocupa da situação transferencial, a partir do
sonho questiona a própria teoria e recusa que o analista a confirme, ou seja, impedi
que o desejo do analista seja realizado.
Freud (1900 - 1987), diz que “a não realização de um desejo significa a
realização de outro”, que quer dizer desmascarar o desejo manifestante não
realizado e evidenciar a satisfação latente em manter o desejo insatisfeito. Freud
então analisou o sonho da Bela Açougueira e tenta explicar a paciente que o sonho
é uma realização de desejo e desvendou o desejo manifestamente não realizado,
nos mostrando assim o desejo insatisfeito mantido.
Vamos nos relembrar rapidamente do caso: sua paciente era uma jovem
mulher que tinha um vida sexualmente satisfeita com o marido, que trabalhava como
açougueiro e era considerado um homem honesto e competente. Antes do sonho, a
jovem mulher ouviu do marido que estava se sentindo gordo e que tinha a pretensão
de começar um regime e atividades físicas, assim não iria aceitar convites para
jantar. Ele havia conhecido um pintor que queria retratar o seu rosto, porém, por se
sentir gordo, não aceitou a proposta comentando em seguida que o pintor preferiria
pintar o traseiro de uma moça bonita. A jovem pediu ao marido que a privasse de
caviar, o seu prato predileto.
A jovem relatou também que visitou uma amiga um dia antes, na qual sentia
ciúmes, pois o seu marido a elogiava, com alívio cita que essa amiga é magra, e o
marido prefere as mulheres mais cheinhas. Freud a perguntou o que conversou com
sua amiga e ela o respondeu dizendo que a amiga desejava engordar um pouco e a
mesma gostaria de saber que dia iria convidá-la para jantar. Sua amiga teria como
prato predileto o salmão defumado. No sonho, a jovem paciente de Freud queria dar
um jantar, porém não tinha salmão defumado o suficiente para este, então pensou
em sair para comprar algo diferente ou ligar para algum fornecedor, mas era
domingo, o telefone não funcionava. Neste caso, desistiu de dar o jantar.
Segue algumas interpretações feitas por Freud (1900): é como se a paciente
não quisesse convidar a amiga pra jantar em sua casa para evitar que ela pudesse
engordar e atrair o marido que sempre a elogiava. O fato de comidas de festas
engordarem, o marido diz em não aceitar convites para jantar em benefício de seu
regime. Assim o sonho expressa o desejo de não realizar o desejo de sua amiga. E
é o desejo da sonhadora de negar um desejo á amiga.
Outro exemplo, agora mais simples sobre o desejo insatisfeito foi citado por L.
Israel (1994), é da mulher que adora comer carne, mas quando vai a uma
churrascaria pede peixe.
10

Na teoria freudiana, o desejo insatisfeito da mulher nos diz que ao admitir a


castração como fato consumado motivado pela inveja do pênis, própria do complexo
de castração, a mulher abandona a ligação materna ela, e ingressa no Édipo como
única alternativa para ter o que deseja – um pênis. “... ela o viu, sabe que não o tem
e quer tê-lo” (FREUD, 1925, p. 314).
No percurso da feminilidade a menina ama a sua mãe e a si mesma para
aprender a amar o pai e ser desejada por um homem em sua vida adulta. É assim
que a menina se torna mulher.
Kehl (1996), diz que a menina ama sua mãe, pois foi nos braços dela que um
dia foi passiva seduzida, introduzida no circuito sem fim que começa na satisfação
das necessidades vitais e desemboca nas tentativas de realização de desejos. O
discurso histérico revela a Freud que essa ligação foi construída através de um
vínculo entre a criança e a mãe durante a infância.
Já na teoria de Lacan, é pontuado o desejo insatisfeito presente no sintoma
que protege o sujeito contra os perigos do gozo absoluto e enlouquecedor. “Para
curar a histérica de todos os seus sintomas, a melhor maneira é satisfazer seu
desejo de histérica – que é para ela o de colocar aos nossos olhos seu desejo como
desejo insatisfeito” (LACAN, 1998, p. 19), portanto, é da ordem da histérica mostrar
ao analista esse desejo. Esse pode ser o seu gozo: ela goza de manter-se
insatisfeita, protegendo-se paradoxalmente do desejo.
A manobra da histérica, com seu jogo sedutor, consiste em nos fazer
acreditar que o objeto está ao alcance da mão, que aquele impalpável a mais existe,
é representável e está em algum lugar sob o decote (MILLER, 1997). O jogo erótico
da histérica se dá entre o que se mostra e o que se esconde, porém, Freud nos diz
que a causa do desejo está fora dele, em algum lugar obscuro no qual a ilusão da
existência de um prazer extremo é sustentada pelo próprio jogo, ora coloca o
espectador ora o tira de cena. A histérica se apresenta cheia de atributos, de
erotização fazendo um jogo de frustração do sedutor/seduzido, frigidez, evitação,
interrompendo a sua cena sedutora e bloqueando o contato com o próprio desejo
pela ação do recalque. Quando é impossibilitada de erotizar, ela apresenta seus
sintomas. Ela instiga, seduz, provoca, mas na hora de concretizar o ato sexual ela
deixa pra depois.

1.3. A Histeria e o fetichismo

“Um forte olhar mantém unido o mundo e não deixa cairse.


Meus olhos buscam isso, isso que nos faz tirar-mos
os sapatos para ver se tem algo mais sustentando-nos embaixo."
Roberto Juarroz (Poesia e Vertical)

Freud (1927) nos diz de uma sexualidade sempre traumática, marcada por
angústia e desamparo. No texto “O fetichismo” ele diz que ao se utilizar de um
fetiche, o sujeito se protege e mantém um triunfo sobre a castração, pois o fetiche
transforma a mulher em um objeto sexual. O fetichismo é um exemplo da dinâmica
do desejo.
Freud realta que o fetiche é o que substitui do pênis, que teve extrema
importância nos primeiros anos da infância, mas que logo se perdeu. Freud explica:
11

Isso equivale a dizer que normalmente deveria ter sido abandonado;


o fetiche, porém, se destina exatamente a preservá-lo da extinção.
Para expressá-lo de modo mais simples: o fetiche é um substituto do
pênis da mulher (da mãe) em que o menininho outrora acreditou e
que — por razões que nos são familiares — não deseja abandonar.
(FREUD, 1927)

Para Freud (1927), o fetichismo é um objeto ligado ao descobrimento da falta


do pênis na mulher. Se caracteriza por uma estrutura semiótica propriamente
metonímica: a parte pelo todo. Assim, o fetiche é o resultado de uma operação
metonímica que tende a restabelecer a plenitude imaginária do objeto primordial. O
fetichista não tolera o desaparecimento desse pênis imaginário, alucinado, porque
nunca o viu, nem o pôde ver, não tolera sua ausência e insiste em encontrá-lo. Em
outras palavras, o fetichista alucina um pênis, que nunca existiu, em forma de
substituto. O objeto fetiche não tampa algo que existe, mas o que não existe.
Lacan (1958) distinguirá o objeto, tanto de sua apresentação
imaginária, como de seu contraditório modelo como suposto existente ou apenas
oculto (que não deixa de ser uma representação, só que sempre vazia) e que Lacan
denomina falo.
É para ser o falo, isto é, o significante do desejo do Outro, que a
mulher vai rejeitar uma parcela essencial da feminilidade,
nomeadamente, todos os seus atributos na mascarada. É pelo que
ela não é que ela pretende ser desejada, ao mesmo tempo que
amada.” (LACAN, 1958, p. 701)

As relações do tipo “ser ou não ser”, resquício da dúvida de cada sujeito, são
logicamente anteriores às relações da ordem do ‘ter’. Ao retomar a proposição de
Lacan (1958), segundo a qual a função fálica enuncia que ou um sujeito tem o falo
ou ele o é.
André (1987), afirma que um dos principais significados que podem tomar os
sintomas histéricos é a representação da realização de uma fantasia sexual, de um
ato sexual. A realização de um ato sexual, portanto, para a histérica, só pode se dar
pelo sintoma, pois na realidade ela nunca será capaz de significar o seu sexo a
ponto de sentir-se satisfeita completamente com um outro. A vagina nunca será,
nem para a mulher nem para o homem, o outro do falo, e sim a sua ausência, ou
seja, o nada.
Lacan (1995), em seu texto A função do véu, nos traz uma colocação
importante onde ele caracteriza o fetiche como “a mulher se dá, na medida em que
deve ser assim simbolicamente, a saber, que ela deve dar alguma coisa em troca
daquilo que recebe, isto é, o falo simbólico”. O véu, por sua vez, tem duas funções,
velar e desvelar, ao mesmo tempo em que vela aponta para um objeto causa de
desejo, entra com a função de tornar a falta mais especial, mais poderosa. O véu
vem como recurso imaginário para tapar a falta, assim permite o sujeito a gozar, um
gozo que só poderá ser alcançado com o fetiche.
A mulher, por sua vez, com dificuldade de lidar com a castração, se vê no
lugar do nada e busca formas de entrar na cadeia simbólica para ser assim
reconhecida como mulher, ou seja, o falo é algo que ela não o tem, porém precisa o
tê-lo simbolicamente, o que sendo ausência ela pode ser algo, assim, o falo
simbólico se presentifica através do véu.
A angústia será articulada por Lacan no levantar-se do véu, assim como o
mesmo situa o fato que algo costuma impedir que, por uma circunstância
inesperada, o véu seja levantado (LACAN, 1962-1963/2004, p.32). Toma-se, como
12

exemplo sintomático, a dor de cabeça, como afastamento entre afeto e


representação, levando a falas como: "adoro você, mas hoje estou com dor de
cabeça" ou, "só não foi perfeito por causa da dor de cabeça". Outras variantes
histéricas do fracasso do encontro, como, por exemplo, culpar o Outro pela falha.
Pode-se dizer como metáfora que se imaginasse a lua-de-mel da histérica, seria
preciso contentar-se apenas com as preliminares.
Ainda em Lacan (1999), o fetiche é o símbolo de uma ausência, daquilo que é
um nada para o sujeito. Aquilo que está mais além como falta tende a realizar como
imagem. Sobre o véu aponta-se a ausência, assume seu valor a se projetar e o que
se imagina como ausência, é o ídolo da ausência. Sobre o véu pode pintar algo que
o diz: o objeto está para além. O véu está ligado a tudo que dá um sentimento ao
sujeito que adquiri uma ilusão fundamental em todas as relações tecidas por seu
desejo. É nisto que o homem encarna, idolatra seu sentimento deste nada que está
para além do objeto do amor.

1.4. A Histeria na Contemporaneidade

“Se nós, nas travessuras das noites eternas,


Já confundimos tanto as nossas pernas,
Diz com que pernas eu devo seguir.
Se entornaste a nossa sorte pelo chão,
Se na bagunça do teu coração,
Meu sangue errou de veia e se perdeu.
Como, se na desordem do armário embutido,
Meu paletó enlaça o teu vestido,
E o meu sapato inda pisa no teu.”
(Chico Buarque. Eu te amo, 1983)

Freud em seu texto Histeria (1888), afirma que os sintomas das histéricas não
haviam passado por alteração até aquela época, ou seja, os sintomas caminhavam
da mesma forma dos primórdios da história. Mas e hoje, será que os sintomas
histéricos não sofreram nenhuma mudança? Será que as nossas histéricas de hoje
em dia tem os mesmos comportamentos das histéricas estudas por Freud no século
XIX? Como se fica histérico na contemporaneidade?
Freud (1909) disse que “os histéricos sofrem de reminiscências”. Talvez os
quadros de histeria de conversão não sejam hoje tão frequentes como no final do
século XIX. O lugar social da mulher da época de Freud, e a falta vivenciada pelo
sujeito de hoje no discurso sociocultural, levanta uma questão de que os sujeitos ao
ordenar-se do gozo e de uma cultura narcísica, depara-se com a anorexia,
toxicomania, depressão e síndrome do pânico onde esses sintomas podem se
relacionar com a histeria contemporânea, e pode-se considerar também efeitos do
contexto social atual como ainda existem, com manifestações diferentes, outras
máscaras, outros gestos.
Rangel (2003) alegou que a toxicomania poderia ser pensada como um novo
revestimento para os sintomas. Relacionando o discurso da histérica com a
toxicomania, esta seria uma forma de fazer questão ao mestre atual, deixando de
estar sob o jugo do gozo do Outro e fazendo assim da droga o seu sintoma.
13

Santiago (1996), fala da histérica possivelmente desenvolvida uma astúcia no


uso do medicamento, podendo assim ter condições de questionar o médico, a
respeito de suas queixas sem solução, e que na verdade mascaram uma outra
demanda que não pode ser escutada por ele.
Pode-se dizer que as figuras histéricas são grandes imitadoras, observando-
se por suas vias sintomáticas. A capacidade de encenação que o histérico tem de
apresentar os seus sintomas o impossibilita de usar a sua capacidade intelectual e
sua afetividade.
Nasio (2001), fala que as histéricas do século XIX caíram de moda, e hoje
seus sofrimentos apresentam outra face e formas clínicas mais discretas.

A face clínica da histeria moderna nos surge de duas maneiras


distintas, conforme o tipo de olhar que lhe dirigimos. Podemos
contemplá-la de um ponto de vista descritivo – a partir dos sintomas
observáveis, caso em que a histeria se apresenta como uma
entidade clínica definida; ou encará-la de um ponto de vista
relacional, e assim conceber a histeria como um vínculo doentio do
neurótico com outrem e, particularmente no caso da análise, com
esse outro que é o psicanalista. (NASIO, 2001, p. 13).

Freud fala do desamparo, que é um estado constitutivo do sujeito “O


desamparo é sina de todos” (FREUD apud GAY,P, 2007, p. 481), porém, atualmente
é reforçado pelo tipo de prazer que está sendo oferecido, o sujeito está se bastando,
ele pode alcançar tudo sem o Outro, onde esse outro serve apenas como um para
ser usado, ato que o sujeito histérico nos demonstra muito bem.
O sujeito contemporâneo parece não abrir mão de se encontrar em um estado
de completa satisfação, mesmo que frustrado. O próprio sujeito desconhece o seu
desejo, a identificação aparece no lugar da escolha do seu objeto. Nessa “sociedade
do espetáculo”, (DEBORD, [1967], 2006, p. 45), a histeria se esbarra contra a
posição do sujeito, questionando e marcando a falta generalizada, pois a
contemporaneidade vem na contra mão dessa proposta, ou seja, sujeitos sem faltas,
sem angústias. Percebe-se uma sociedade regida pelo consumo, na qual a
mercadoria, como centro da vida social, cria a passagem do ser para o ter: os
objetos são substituídos por valores éticos, onde ocorre uma excesso de falsas
necessidades.
Afinal, hoje a nossa sociedade não é do ser e sim do ter. Tudo pode ser visto
como solução e nada como problema, e as soluções devem ser sempre imediatas.
Tudo pode ser deletado, a vida é um visor, redes sociais, aplicativos, sites de
relacionamentos, a sociedade é da imagem, dos selfs, da procura pelo melhor
ângulo. Dessa forma, não há espaço para o sujeito pensar no seu próprio desejo,
não há tempo para se esperar, só o agora importa.
Freud nos diz de um sujeito que se desespera se o objeto falha, ou se ele não
pode tê-lo:
“(...) Graças a todos esses instrumentos – o telescópio, o
microscópio, o telefone – o homem aperfeiçoa seus órgãos, tornando-
se assim um Deus de prótese – sem dúvida admirável- de posse de
todos seus órgãos auxiliares. Mas o que fazer quando não
funcionam? (FREUD, 1930 [1929], p. 111).”

Para Khel (2009, p.8) “A antiga donzela angustiada com as manifestações


involuntárias de sua sexualidade reprimida [...] hoje se sente culpada por não
usufruir tanto do sexo, das drogas e do “rock and funk” quanto deveria”. A histeria
14

conta a história da sexualidade e nos dias atuais diferente dos primórdios de


repressão, a falta histérica leva a mulher a sofrer por não conseguir se sentir
completa na relação sexual como a moral vigente lhe exige que seja, ou seja, se não
a repressão para fazê-la sofrê-la por outra via ela sofre por não tê-la, e isso de trata
de um jogo insatisfeito.
Lacan (apud Braunstein, 2007) já dizia que hoje quem sofre depois do
orgasmo não é mais o homem, e sim a mulher, que não sabe se gozou
adequadamente.
As patologias de hoje continuam-se manifestando no corpo. O sujeito cada
vez mais procura em seu próprio corpo, fetichizado, aquilo que pode ser o próprio
símbolo do desejável. Corpo que se traduz pelo excesso de ações, caracterizado
pela voracidade e pelos comportamentos compulsivos, e pela ausência de ações,
impedido de agir pela angústia, ou paralisado, podem ser os histéricos de hoje. O
Outro deixa suas marcas no corpo do sujeito, os sintomas se apresentam com novas
facetas, não são os das histéricas de Charcot, mas as causas e os sofrimentos são
os mesmos.
“Tal como nos tem sido imposta, a vida nos resulta demasiado
pesada, nos apresenta excessivos sofrimentos, decepções,
empreendimentos impossíveis. Para suportá-la, não podemos passar
sem lenitivos. Existem provavelmente três espécies: distrações
poderosas que nos fazem parecer pequena nossa miséria;
satisfações substitutivas que a reduzem; narcóticos que nos tornam
insensíveis a elas (FREUD, 1930, p. 9).”

Se antes o fetiche da mulher se encontrava exatamente naquilo que cobria


suas partes íntimas, e o uso da roupa e dos acessórios eram alguns dos
instrumentos que ajudavam a mulher na construção da máscara feminina, hoje é
quase exclusivamente com o próprio corpo que esta máscara precisa ser forjada.
Assim, vemos mulheres cada vez mais preocupadas com a aparência do corpo, por
vezes a ponto de produzir em si mesmas nas academias um corpo com
características muito masculinas, ou deixá-lo definhar pela magreza. Assim podemos
pensar na histeria que pode ser entendida como uma nova roupagem para a
histérica.
“A esse gozo alheio e fugidio trata ela de mimar, fazendo semblante
dele [...] oferecendo ao Outro um corpo anestesiado ou morto, que é
observado desde fora por um olhar ansioso de captar o que esse
Outro faz ante seu corpo deixado no abandono e na anestesia.
(BRAUNSTEIN, 2007).”

Assim como na histeria, a anorexia também é vista uma tentativa de fazer


fracassar o saber médico, que faz com que o desejo da mulher seja posto ao
controle através do corpo.
Diferentemente da toxicomania e da anorexia, as depressões e as síndromes
do pânico são características dos sujeitos contemporâneos, frequentemente
histéricos, nos quais expressarem sua eterna inadaptação aos ideais que lhe são
impostos, e que neste caso procuram saberes médicos. Birman (2000), afirma que
a depressão e a síndrome do pânico não permite aos histérico realizar sua
performance e promover a glorificação do eu pelo olhar do outro, não é capaz pois
encontra-se num processo de interiorização que não permite que isso se realize,
15

sendo então necessário que se medique o sujeito para que ele retome sua
capacidade de exercer sobre o outro o fascínio da estetização da sua existência.
Soler (apud Csillag, 2010) em seu livro O que Lacan dizia das mulheres? traz
a histérica constituída em novas modalidades de sofrimento. As conquistas fálicas
são podem ser demonstradas de forma ambivalente, tudo se mistura e surgem com
isso novas fantasias e sintomas até então inéditos para as configurações histéricas.
O divã atual recebe mulheres com outras queixas, relacionadas muitas vezes com o
conflito inconsciente entre ser uma mulher tradicional ou uma mulher moderna,
enquanto na época de Freud o conflito era entre ser uma prostituta ou uma mulher
de moral.
As histéricas de Freud e Charcot primavam pelas cenas teatrais que
causavam excitação naquele tempo. Agora a sociedade atual já é um espetáculo.
Podemos considerar que a histérica deprimida de hoje busca incomodar a ordem
válida colocando os estudiosos do assunto a trabalhar e produzir novos
medicamentos.
Alonso (2011) diz que para se pensar em histeria, é necessário sempre que a
reconhecer, referi-la a epidemias, ou ondas de determinados adoecimentos. Estas
epidemias, segundo a autora, surgem junto com o espaço que alguns temas
ganham na mídia, influenciando assim o sistema simbólico de uma época.

2. Metodologia

A realização deste estudo se fez possível a partir de pesquisas bibliográficas


que dizem respeito à área de estudo da psicanálise, e de observações clínicas
relativas à determinada paciente que se submeteu ao processo psicoterapêutico
dentro da clínica-escola situada no Núcleo de Estágio e Pesquisa em Psicologia
(NEPP), na Faculdade ALFA.
A clínica oferece atendimento gratuito à comunidade. Tais atendimentos são
realizados por estudantes de psicologia dos 9ª e 10ª períodos que cursam as
matérias de estágio supervisionado I e II, sob a supervisão de um professor
orientador, que norteia o aluno de acordo com a evolução do caso em questão.
Os atendimentos aconteceram dentro de um setting analítico da clínica-
escola. O setting é constituído por um consultório devidamente climatizado e
iluminado, contém duas poltronas – uma para o paciente e outra para o analista –,
mesa, um divã – a disposição do paciente e para melhor funcionamento da técnica
de associação livre.
A paciente se submeteu ao processo psicoterapêutico durante o período
do mês de outubro de 2014 a abril de 2015 – totalizando vinte e nove sessões –,
seus atendimentos aconteciam duas vezes por semana, com duração de 50
minutos cada sessão.
Como se trata de uma clínica-escola a paciente assinou um termo de
consentimento, para que ficasse ciente de que o conteúdo de seus atendimentos
poderia ser utilizado para fins de pesquisa ou produção científica, tornando
possível, a utilização de seu caso no presente artigo.

2.1. Participante
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Em outubro de 2014, a paciente, na qual trataremos a partir do nome fictício


de Lívia, procurou a clinica escola com uma queixa específica. Como
procedimento da clínica, num primeiro momento, ela foi submetida a uma triagem,
em que foi relatada sua queixa, e, posteriormente foi encaminhada para o
processo psicoterapêutico.
Lívia é, casou-se aos 16 anos, iniciou-se a psicoterapia com 27 anos, tem
uma filha de 2, e frequenta a igreja do véu (religião que esteve muito presente nas
sessões de psicoterapia) . Em decorrência de sua história de vida – casamento,
religião, mudança de cidade - ela passou por tratamento psiquiátrico e iniciou as
sessões de psicoterapia com os seguintes diagnósticos: Depressão pós parto,
Bipolaridade e TDAH. Por decorrência desses transtornos, ela se queixa de
não conseguir se organizar tanto emocionalmente, afetivamente, e como dona
de casa e aluna.

2.2. Instrumentos:

Durante os primeiros atendimentos, o contrato f o i constituído verbalmente


á partir do modelo da clínica psicanalítica, na qual o paciente deve utilizar da
associação livre, falando sem restrições o que lhe vier à mente.
Além da associação livre, o modelo psicanalítico se faz possível através de
elementos como: escuta flutuante, interpretações, resistência, transferência etc.

2.3. Procedimento

Os procedimentos utilizados para o presente trabalho foram pesquisas


bibliográficas relacionadas à psicanálise de forma geral, e pesquisas específicas
relacionadas ao tema histeria, sexualidade, desejo, sintoma e etc.
Outro procedimento utilizado foi o estudo de caso que está situado na seção
“Resultados e Discussão”. Nesta, teoria e estudo de caso foram
correlacionados para que se possa ter maior entendimento e esclarecimento do
caso apresentado e do objetivo aqui proposto.
Os dados apresentados nos resultados foram coletados das transcrições das
sessões, essas transcrições foram realizadas após o término de cada atendimento
e submetidas à orientação da professora orientadora.
Alguns trechos das sessões foram escolhidos para serem transcritos para
este artigo, em forma de citação e diálogos. Eles serão utilizados como elemento
ilustrativo, com o intuito de colaborar com a discussão aqui proposta e
correlacionar estudo de caso e teoria. As falas da paciente estão entre aspas, ou
em itálico precedidas pela inicial “P”, enquanto as falas ou impressões da
estagiária estão na mesma fonte do trabalho e sem aspas, e por vezes precedidas
pela inicial “E”.
17

3. Resultados e discussão

“(...) O que será que será, que andam suspirando pelas alcovas,
que andam sussurrando em versos e trovas.
(...) o que não tem censura nem nunca terá,
o que não tem decência nem nunca terá,
o que não tem sentido. (...).
O que será que será,
que vive nas ideias desses amantes,
que cantam os poetas mais delirantes...”
(CHICO BUARQUE. O que será, 1983)

Lívia iniciou o atendimento em agosto de 2014. Quando mantido o primeiro


contato (por telefone), ela encontrava-se chorando muito, estava muito nervosa e
perguntou se eu não poderia atendê-la naquele mesmo dia. Eu disse que o horário
que poderíamos seria na sexta-feira (dois dias depois) e ela aceitou.
Na primeira sessão Lívia já foi para o divã. Assim iniciamos, e ela disse que o
que a levou até a clínica seriam os as patologias já citadas e o relacionamento com
o marido que não ia muito bem.
(P): “Eu sinto um fogo enorme, o procuro sempre, mas ele foge. A gente faz
amor muito pouco, pra mim teria que ser pelo menos duas vezes por semana. Ele
se senti culpado por causa da igreja, não quer se entregar ao prazer carnal.”
Característica da histérica em tentar seduzir de qualquer forma o outro. Podemos
relacionar aqui, com a fala de Lacan, onde ele diz da mulher receber o falo
simbólico no ato sexual.
Casou-se aos 16 anos, conheceu o marido na igreja da qual ela faz parte
desde que nasceu - igreja do véu.
Lívia não trabalha, é estudante de Direito e frequenta a igreja do véu, onde
obteve a sua educação religiosa. Seu Pai tem cargo de extrema importância na
igreja e seu Esposo também.
Podemos observar que o fato de ela fazer o curso de Direito, a vontade de
transar, a traição, a indiferença com a filha, são fatores que contrapõe com os
princípios religiosos nos quais ela cresceu. Um sintoma histérico de desafiar o outro
a entrar no seu jogo.
Namorou pouco mais de 5 meses, o marido é 10 anos mais velho, segundo
ela a decisão de se casar foi motivada pelos familiares. Logo após o casamento
mudou-se para São Paulo, onde seu esposo tinha empresa de eletrodomésticos e
também situava a família dele. Lá teve a sua filha e afirma que também foi onde
iniciou a sua “enfermidade”.
(P): “Depois que virei mãe, meu marido me vê como a mulher que cuida do lar. Não
me vê como mulher mesmo, sedutora.”
(E): “Como era antes da sua filha e depois dela nascer?”
(P): “Antes era bem melhor, mais fácil... agora pra gente sair ou namorar ela sempre
esta por perto, não tenho com quem deixar. Minha mãe sempre fala ‘quem pariu
mateus que o balança’.
(E): “E como vocês fazem?”
(P): “Mesmo quando vamos pra algum hotel nós levamos ela... ai ele fica
preocupado. Lembra na sessão anterior que te falei que me apaixonei por outro
cara? Foi antes de engravidar e a paixão durou durante a gravidez. Eu fui muito
paparicada pelo meu marido, e durante a gravidez só transamos 2 vezes porque ele
18

tinha medo de machucar a bebê. Então eu fiquei muito carente. Eu me sinto muito
culpada por ter me envolvido com esse cara. Quando ela nasceu piorou... além de
ficarmos 3 meses sem namorar, eu tenho que ficar cuidando dela.. e não tenho
muito paciência. Não tenho uma simpatia, um elo com ela... “
(E): “E como você se senti por não ter essa simpatia com ela? ”
(P): “Normal. Acho que isso é normal pois não existe um manual de como ser mãe.
O amor constrói.. eu sou uma boa mãe, cuido, dou carinho, dou comida.. mas acho
que essa falta de empatia é por causa da minha enfermidade.”
Ficou em SP por volta de dois anos e voltou para Goiânia, o esposo teve um
problema financeiro e fechou a empresa que tinha.

Segundo ela, foi um erro se casar antes de conhecer a família do marido, pois
eles são de SP, e sentiu um choque muito grande com toda a mudança. A família do
marido não a aceitava, pois diz não ser “a altura deles” – eles são ricos e ela pobre.
Ninguém nunca disse isso a ela, mas ela se sentiu assim, dessa forma a posição de
vítima descrita por Freud, parece se apresentar na paciente.
Ela relata que pertence a uma família muito conservadora e pobre (o Pai
vende gravata para os irmãos da igreja e a Mãe não trabalha). Seu Pai é líder da
igreja e vive por conta disso, a Mãe o acompanha. O marido é líder dos jovens da
igreja e Lívia, assim como a Mãe faz com o marido, o companha. Vemos aí a
identificação, que Freud considera uma característica importante na histérica.
Tem 1 irmã e 1 irmão onde ela alega que não respeitam os pais como ela os
respeitava (ela é a mais velha). A irmã sai pra balada, bebe, chega tarde em casa,
namora com um homem muito mais velho e veste roupas transparentes.
Como já dito, Lívia teve sua filha que hoje tem 2 anos. Diz ter sido uma
gravidez muito difícil, pois ficava muito sozinha. Lá estudou para fazer medicina,
porém não deu certo e acabou desistindo por ser muito difícil e também gostar de
direito. Diz que foi humilhada pela sogra e as cunhadas, por ter ficado feia
(emagreceu muito, pois antes era muito bonita:
(P) “Não é por nada não Carol, mas eu tinha um corpão, agora to assim, magrela”.).
Lá vivia um em quarto escuro e ás vezes ouvia os hinos da igreja para se
alegrar. Com o passar dos tempos o casamento foi esfriando. Ela procurava o
marido e ele não a correspondia. (Disse que suspeitava que ele teria um caso com a
secretaria da empresa dele em SP, mas nunca teve certeza disso. Segundo ela,
essa secretaria sabia muito da vida dele e ela desconfiava, talvez por ser muito
jovem e imatura). Com essa falta do marido, ela pedia conselhos para a cunhada
que a levava para comprar lingeries, e roupas bonitas para seduzir o marido, mas
ele olhava, virava para o lado e dormia. Podemos considerar nesse relato a
utilização do fetiche presente nela. Freud no diz que ao se utilizar de um fetiche, o
sujeito se protege e mantém um triunfo sobre a castração, pois o fetiche transforma
a mulher em um objeto sexual, e talvez fosse esse o desejo dela naquele momento.
Com isso, ela pedia conselhos até para a sogra, a sogra falava que é normal,
que os homens da igreja são assim mesmo e viveu a mesma coisa com o marido (já
falecido). Nessa hora Lívia disse que a sogra viveu a mesma coisa com o marido,
porém todos sabiam que ele a traia com a vizinha. Disse que a Mãe dela vive a
mesma coisa com o Pai, porém o Pai dela não trai, mas a Mãe aceita a falta de
sexo, por ser da igreja e se dedicar a Deus.
A frequência de eles terem relações sexuais era a cada 3 meses, e mesmo
assim muito rápido e as vezes ficava irritada.
19

(P): “Fazia tudo que o marido queria... ótima dona de casa... roupas
comportadas, nem depilava. E meu sogro vivia chifrando ela com as vizinhas. Agora,
eu... não vou ficar ai como ela, sem fazer as minhas vontades pra depois ser
chifrada.”
(E): “Que vontade você tem?”
(P): “De namorar, aproveitar, passear... por mais que minha religião oprima
esse tipo de coisa, tem muitos pastores que pregam para o homem olhar mais pra
mulher. Esses dias mesmo na igreja, o pastor disse pra os irmãos cuidarem da
mulher, namorar, dar carinho.
(E): “E o que o seu marido achou disso?”
(P): “Ele não disse nada, tadinho. Acho que ele fica com vergonha e que é
doente, ele não quer nada. Quando namoramos ele não consegue segurar muito
tempo ou pára ou goza e pára.”
Lívia afirmou estar muito carente e sozinha, (ela havia iniciado faculdade em
SP – de Direito mesmo) e começou a se envolver com um rapaz, não houve sexo,
mas houve um envolvimento afetivo muito forte e ela acabou se apaixonando. Logo
descobriu que esse rapaz era amigo do marido e assim resolveu contar pra ele.
Nessa relação extra conjugal, o suposto amante dizia saber que ela não tinha
relação sexual com o marido, pois sempre a via muito triste e carente, mas não
falava que era amigo do marido. Ela descobriu pois um dia o marido foi buscá-la e
os dois conversaram na sua frente. Quando ela contou ao marido da traição, ele não
acreditou, e disse que mesmo se fosse verdade não teria problema desde que não
fizesse mais. Lívia teve sua filha, e entrou em depressão, pois não sabia o que fazer
com aquele bebê. Foi ao médico e lá foi diagnosticada depressão pós-parto. Ela não
esqueceu o amante, e nesse tempo, eles voltaram para GO, e o rapaz continuou
procurando-a e perseguindo-a. Voltou a contar para o marido e ele disse pra ela
deixar as redes sociais que isso iria parar de acontecer.
Quando chegou em GO, sentiu outro choque. Segundo ela o fato de ter
novamente a família por perto acreditou ter mais apoio, e quando via que isso não
aconteceu, voltou a ter depressão. Foi ai que ela ficou muito mal. Não consegue
cuidar da filha, afirma que ela grita muito, porém ela grita com a filha também. Deixa
a filha em “chiqueirinhos” o dia todo para ter paz, segundo ela.
Quando Lívia fala sobre a sua infância, diz ter sido tranquila, porém muito
sozinha. A Mãe nunca tinha tempo devido os afazeres da igreja. Aqui temos mais
uma identificação com os pais. Eles não cuidavam dela, agora ela também não
“consegue” cuidar da filha.
Existe uma pressão por parte do pai e do marido para ser o exemplo de
mulher perante os fiéis e faz um jogo de palavras que podem ser sucessíveis a
algumas interpretações:
Lívia não podia dirigir a palavra ao pai a não ser quando perguntasse algo,
pois na sua crença, as mulheres não podem falar. Segundo ela, era muito custosa, e
o pai muito bravo assim como o Avô, porém o Avô bebia muito, e o Pai nem bebe.
Nesse ponto notamos um repetição do que o Avô fazia, o Pai fez e ela está fazendo
com a filha. Em uma das sessões, Lívia disse que uma vez o seu pai quebrou uma
cadeira de madeira nela, por ela ter teimado com ele.
(P): “O meu Pai me batia muito, nossa quase todos os dias (rsrs). Já quebrou
uma cadeiras nas minhas costas. Mas são essas cadeiras que tem a madeira mais
fraca, nem doía. Ele era muito rigoroso mas era devido a imaturidade, casou aos 18
anos e logo me teve. E eu era muito desobediente. Meu avô também era assim,
bravo. Você é próxima do seu pai Carol?”
20

Aqui notamos que a dor de Lívia não era física quando o seu pai quebrara
uma cadeira em suas costas, mas se trata de uma dor emocional. Vemos também a
relação transferencial e a necessidade que Lívia tem em ser reafirmada, em mostrar
para o Analista (nesse caso estudante estagiário), o seu desejo insatisfeito.
(P): “Quando eu estou nervosa e minha filha grita, eu vou lá e bato nela...
tadinha. Não bato como o meu pai me batia, bato para ensinar. Meu pai é muito
corrido com a igreja, sempre precisa ajudar alguém, mas as pessoas nunca o
ajudam. Ele está muito estressado, até o meu marido. Me dá uma dica Carol, como
faço para mostrar ao meu marido que ele tem que se tranquilizar para não adoecer
como eu?
(E): “Alguém te avisou que você adoeceria?”
(P): “Avisou!”
(E): “Então porque você adoeceu?”
(P): “Eu melhorei muito já, depois que comecei a conversar com você. Só que
crescer dói! Estou sentindo na pele. Tenho medo da minha mente sumir.”
A paciente, quando deprimida diz que fica avoada, não consegue se
concentrar e tem medo de sua mente sumir. Depois dessa sessão descrita a cima,
Lívia descreve uma profunda crise de angustia na qual conta a seguinte história:
(P): “Eu tive uma forte dor de estômago e acabei indo pro hospital. Chegando
lá, o médico me aplicou uma medicação que eu sou alérgica. Quando percebi eu
disse pra ele, mas ele disse que se caso tivesse algum efeito era pra voltar pro
hospital. Cheguei em casa e começou a me dar uma coisa muito ruin, coração
disparado, suor frio, falta de ar, uma sensação de morte... arranquei a roupa e deitei
no chão. Meu marido me levou novamente para o hospital.”
Nesse trecho, Lívia nos mostra uma crise de angústia, na qual ela fica nua
para o marido e se deita no chão. Podemos dizer de um sintoma conversivo
presente na histérica.
Logo após, quando questionei mais sobre a crise ela me responde:
(P): “É como se meu cérebro estivesse saído da minha cabeça?”
(E): “Agora a sua mente realmente sumiu, como você tinha medo?”
Pode-se considerar nesse diálogo algo que está descrito no texto “O que quer
uma mulher?” de Serge André, onde ele aponta que a mulher não foi mais
descoberta além de um buraco negro, no qual não dá pra decifrar. Assim, pode ser
que Lívia se via esburacada, despida, sem o véu lançado sobre o furo inominável.
“(...) a falta de simbolização que está na origem do medo, até mesmo no horror, que
a feminilidade pode causar bem mais do que a castração.”
(P): “Naquele momento sim. Agora eu fico com medo de sair de casa, de ir
pra faculdade, por exemplo, e arrancar a roupa novamente.”
Aqui notamos mais um possível desejo de Lívia – de tirar o véu, se livrar dele.
De se mostrar castrada. Aqui, podemos usar a teoria de Lacan onde ele diz que a
função do véu é assumir o lugar da falta, e o que falta em Lívia é o pênis. E aqui
podemos ir além e falar de seu distanciamento da mãe, seu objeto de fetiche por
uma potência fálica. Sobre o véu, podemos dizer que o objeto está além, no caso a
sua nudez. Ela se contradiz quando fala da roupa transparente que a irmã usou em
um jantar na casa de um irmão da igreja e senti vontade de ficar pelada e medo ao
mesmo tempo.
Lívia se queixa sempre do marido não entendê-la, não ajudá-la... Em
contrapartida afirma que o marido entende a sua “enfermidade”, age perante suas
crises e entende até quando ela deixa os afazeres de mulher de lado. Então será
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esse um dos motivos de Lívia apresentar os sintomas?! Para seduzir o marido?!


Quando questiono sobre quais os afazeres ela me responde:
(P): “Arrumar a casa, cuidar da minha filha, acompanhá-lo na igreja. Essas
coisas de mulher”.
Sua criação sempre foi pelos primórdios da religião, porém vive em uma
constante confusão pois não aceita as suas leis. Tanto a questão do sexo, de ficar
calada, de ter que ser dona de casa e etc. “Aquele que tem ciência e arte, tem
também religião: o que não tem nenhuma delas, que tenha religião” (FREUD,
1930[1929], p.93). Freud nos mostra que a religião tem o papel de aliviar o
sofrimento do sujeito, e Lívia pode usar a religião para se esquivar de seus desejos,
ou, mascarar o que nela representa.
Na igreja, afirma que as irmãs sentem inveja dela, por ter uma vida
estabilizada, ter vestidos bonitos e onde passa as pessoas olham para ela. Lá o Pai
e o Marido têm os maiores cargos então ela é como se fosse “a primeira dama”. O
fato das irmãs a olharem, e sentir inveja pode ser uma forma de realização de
desejo, porém quando este é realizado ela tem em contra partida o não realizado,
que seria a atenção sexual do marido, a ausência do pai e a falta da mãe.
Lívia detesta arrumar a casa, mas diz que precisa fazer isso para ver o marido
feliz. Reclama das pessoas não a ajudarem (Mãe, Marido, Pai...). Ajuda no sentido
de ficar com a filha, tanto para estudar, para ir a faculdade e para ir as sessões de
psicoterapia.
Lívia, em uma das sessões relata a fúria (denominada por ela como fase
maníaca) quando o marido não a ajuda. Em um episódio disse que jogou um prato
no marido tentando acertar a sua cabeça. Dessa forma, podemos observar o prato
como algo figurado. Ela tenta acertar o prato de várias formas: na sedução perante o
marido, ou o amante, nas irmãs da igreja tentando assim chamar a atenção delas,
na analista que tenta algum tipo de afirmação, quando pergunta, quando diz que
está precisando muito das sessões de psicoterapia mas não comparece.
Em vários momentos, quando fala da filha, ela não fala em sentimento de
amor e sim de gratidão, e quando eu pergunto dessa gratidão ela fala que por ter se
sentido mulher após o nascimento dela.
A paciente conta que teve o seguinte sonho:
(P): “Eu, meu marido e minha mãe estávamos viajando de carro. Sofremos
um acidente e caímos dentro de um rio. Lá, o meu marido conseguiu se soltar porém
ele salvava a minha mãe, a puxava pelo cabelo para fora da água.”
Será que não se pode entender este sonho como uma reedição edípica? No
qual o marido entra como figura do pai e o desejo insatisfeito relacionado à
frustração pela falta do pênis?
Lívia faltava muito as sessões, sempre com o pretexto de não ter com quem
deixar a filha, de ter que estudar ou algum problema particular. Em contrapartida,
sempre diz da necessidade em fazer terapia. No retorno do semestre (Feveiro/2015)
quando mantido contato para agendar as sessões, Lívia diz estar aliviada em voltar
pois estava precisando muito. Mas não comparecia. Esse é um jogo histérico no
qual ela precisa mas não vai. Ela quer, mas não quer deixar a filha com a Mãe. É o
jogo do desejo histérico.
Sempre quando faltava enviava uma mensagem perguntando se teria algum
prejuízo. Neste caso o prejuízo seria da parte dela, e ela sempre jogava por parte do
analista, o deixando também, na falta.
Em uma das sessões ela enviou um mensagem ao analista afirmando não ir a
sessão, pois havia surgido um problema no fies no qual teria que resolver naquele
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momento. Nessa mesma semana, ela estava passando por um problema na igreja,
no qual ela havia discutido com a pessoa responsável pelos instrumentos (ela toca
órgão na igreja) e alegava não suportar mais aquelas pessoas, segundo ela
hipócritas. Seria os Fiéis, o que ela não é. Além de ter tido um problema com o
FIEIS (financiamento estudantil), ela também teve um problema com um fiel da igreja
além de ser infiel com o marido. Há presente aqui uma repetição do significante
FIEL, onde ela também não é fiel ao próprio desejo.
Ela diz chateada em não poder mais tocar na igreja, e ao mesmo tempo ela
diz estar bem em não ter relação sexual com o marido. Podemos relacionar o fato de
tocar um órgão ao ato sexual, que falta. Ela não realiza o desejo de tocar um
instrumento na igreja, e também já não deseja ter relação sexual com o marido,
dizendo se sentir bem. Ela tem possibilidade de realizar os dois desejos, porém ela
os mantém insatisfeitos.
Nas últimas sessões, ela diz que o marido a procura, mas agora ela o
entende e é ela que não senti vontade, por causa dos princípios religiosos. Ou seja,
ela quer manter o desejo insatisfeito, quer transar quando o marido não quer, mas
quando ele a procura ela já não tem mais o fogo que ela tinha antes.
(P): “Eu não me preocupo mais com isso. Não me faz falta. E agora eu sei
que amo ele, eu amo meu marido. Às vezes ele me leva pra passear, pra namorar...”
(E): “Você se senti melhor assim?”
(P): “Sim, to bem!. (rsrs).”
Lívia deixou os atendimentos em meados de março, onde alegou não ter
como comparecer por incompatibilidade de horário. Para encerrar ela enviou apenas
uma mensagem por telefone que dizia:
(P): ”Olá Carol. Tudo bem com você? A secretária da faculdade me informou
que o horário de terça será inviável e me propôs a sexta que também fica inviável
para mim. Eu sinto que achei o meu caminho. Ultrapassar as barreiras psicológicas
e não admitir viver refém de mim mesma. Viver além do transtorno bipolar e dos
meus medos. Obrigada por tudo. Acho que é hora de interromper as sessões. Meus
compromissos aumentaram. E preciso colocar em prática o que aprendi com você.
Beijos e obrigada por tudo.”

4. Considerações finais

“... a vida só se dá pra quem se deu,


Pra quem amou, pra quem chorou,
Pra quem sofreu... Ai!

Quem nunca curtiu uma paixão,


Nunca vai ter nada, não”.
(Vinicius de Moraes)

Os estudos sobre a histeria foram um importantíssimo passo para a


psicanálise. Foi a partir dele que se elaborou conceitos como inconsciente, hipnose,
transferência, sexualidade, Édipo, recalque, associação livre, entre outros.
A histérica, com o seu corpo erotizado é um divisor entre a psicanalise e a
psiquiatria, no qual se instaura o conhecimento do inconsciente, e vai além do saber
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corpo-mente. Apesar de a histeria ser algo muito antigo, podemos percebê-la


presente até nos dias atuais. Se as cenas eram teatrais na antiguidade, hoje em dia
a mídia estimula a mulher pela cultura atual, a seguir uma forma dita como a correta
e padronizada, e em investir sua libido em seu próprio corpo, exibi-lo e erotizá-lo.
Pude perceber que um dos desejos da histérica é colocar o analista no lugar
de seu mestre que lhe responde a sua questão: O que é ser mulher? É por ela
acreditar que o analista possui essa resposta, que a histérica entra em análise.
Ela convoca o analista a dizer quem ela é. Assim me percebi inclusa no jogo
histérico da minha paciente, nos momentos onde ela queria buscar uma
identificação quando me fazia perguntas relacionadas à minha vida pessoal, quando
ela buscava respostas e soluções vindas de mim. Era como se ela me acertasse o
prato, assim como fazia com o marido. Fatos como esses formularam uma
contratransferência negativa, deixando-me às vezes sem respostas ou até eufórica
com seus questionamentos. E quando ela me percebe como quem “topou” estar no
seu jogo, ela me tira do lugar de mestre e deixa a psicoterapia. Essa desistência
também me colocou no lugar de desejo insatisfeito da paciente, pois quando ela me
ganhou como participante, eu já não serviria mais. E porque, manter o desejo
insatisfeito dela? Será que a histérica se esquiva e negligencia o outro mantendo
também o desejo desse outro insatisfeito?
Acredito que a histérica precisa de alguém que a coloque num lugar fálico e
que neste lugar a deseje. Para estar neste lugar, ela poderá se transformar no que
seu companheiro quiser para ela. Porém ela pode se enganar, ou se iludir. Observar
à plasticidade, o jogo sedutor, a falta vinda da histérica, fez com que a teoria ficasse
clara e me proporcionasse uma formação de conceito onde a histérica depende do
olhar do outro, sobretudo do objeto de amor, o histérico age em nome do amor, ele
quer ser o centro do desejo. Ela goza de manter-se insatisfeita, protegendo-se
paradoxalmente do desejo.
Através deste trabalho pude fazer um estudo profundo sobre essa neurose,
além de experimentar a vivência psicanalítica juntamente com o perfil histérico. Vejo
que não é o comportamento em si que define uma estrutura, o que está nas nuances
é o que pode definir melhor, para isto tem-se que usar da sensibilidade, experiência
e conhecimentos teóricos para valer as contratransferências. A histérica pode tentar
erotizar seu sofrimento ao tentar, por exemplo, fazer um uso dele para se auto-
vitimizar e causar pena no outro. Ela se fetichiza para satisfazer ao desejo daquele
que se recusa a aceitar sua falta. Ilude-se.

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