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RGSA – Revista de Gestão Social e Ambiental

Jan. - Abr. 2008, V. 2, Nº. 1, pp. 73-88


www.rgsa.com.br

AVANÇOS E PERCALÇOS NO CÁLCULO DA PEGADA ECOLÓGICA


MUNICIPAL: UM ESTUDO DE CASO∗

João Salvador Furtado1


Flávio Hourneaux Júnior2
Hermann Hrdlicka3

Resumo
A aplicação da metodologia e a de conformidade aos padrões (Standards)
internacionais para o cálculo da Pegada Ecológica foi feita no Município de Pardinho, Estado
de São Paulo, Brasil. O estudo de caso mostra as dificuldades para acesso a dados nacionais e
locais e os ajustes dos Padrões para a medição final da Pegada Ecológica de Pardinho, em
progresso, bem como para a replicação da metodologia em outras municipalidades, como
áreas geográficas subnacionais.

Palavras-chave: sustentabilidade; desenvolvimento sustentável; pegada ecológica;


diagnóstico ambiental.

Abstract
The application of the methodology and the Standards for Ecological Footprint
calculation was done in the Municipality of Pardinho, State of São Paulo, Brazil. The case
study shows the difficulties for accessing both national and local data and the adjustments of
the Standards for final Pardinho´s Ecological Footprint, in progress, as well as for replication
of the methodology in other municipalities as sub-national geographic areas.

Palavras-chave: sustainability; sustainable development; ecological footprint; environmental


diagnostic.

Introdução
Ainda que, hoje em dia, a sustentabilidade seja um tema de importância e premência
inquestionáveis, ainda há muito o que se fazer quanto ao desenvolvimento de ferramentas e à
adoção de práticas que contribuam para garantir uma perspectiva mais efetiva, dos pontos de
vista econômico, social e ambiental.


O estudo foi patrocinado pelo Instituto Jatobás, São Paulo, para ser empregado como uma das ferramentas do
modelo Ecopolo de Desenvolvimento Sustentável Municipal, concebido pelo Instituto EcoAnima, São Paulo.
1
Biólogo, doutor em ciências pela USP, prof. livre docente EPM-UFSP. Tel.: (11)8536-3999. E-mail: <
jsfurtado2@gmail.com>.
2
Doutorando PPGA-FEA-USP. Av. Luciano Gualberto, 908 – sala E-115/117 – São Paulo, SP – CEP. 05008-
000. Tel.: (11)3818-4034. E-mail: <flaviohjr@usp.br>.
3
Doutorando PPGA-FEA-USP. Rua Joaquim de Almeida, 210-apto. 94 – S.Paulo, SP – CEP. 04050-010. Tel.:
(11)8133-2555. E-mail: <hermann@usp.br>.
Avanços e Percalços Furtado / Hourneaux / Hermann

Este artigo tem por objetivo discutir uma dessas ferramentas, a chamada pegada
ecológica, que pretende mensurar a utilização dos recursos naturais por parte de uma dada
população versus a sua capacidade de reprodução desses recursos. A metodologia de pegada
ecológica foi proposta por Rees e Wackernagel em meados da década de 1990. Trata-se de
uma conceituação original para o tema da sustentabilidade que está disseminada na literatura
internacional. A pegada ecológica vem sendo aplicada em estudos por todo o mundo e conta
com uma rede de especialistas, os quais dispõem, via Internet, de elementos facilitadores do
processo (documentos, manuais, planilhas etc.).
Duas principais categorias de indagações estão diretamente relacionadas à população-
alvo:
• Como aquela comunidade está se comportando em relação à sustentabilidade do
planeta Terra? e
• Que medidas são recomendadas para a mudança de conduta em relação ao
consumo de bens e serviços, visando melhorar o indicador de pegada ecológica?

Ao final do seu processo, a metodologia proporciona uma medida (o superávit ou o


déficit ecológico) que possibilita aos administradores públicos, às organizações privadas e às
organizações não-governamentais empregarem os resultados obtidos pela metodologia,
especialmente, para a formulação das respectivas políticas de atuação e de procedimentos de
gestão estratégica que combinem aspectos econômicos, ambientais e sociais. A análise dessa
medida oferece um indicador relevante para o estágio em que a área geográfica − no caso em
discussão, um município − encontra-se, de uma perspectiva ambiental. Além disso, sugere um
ponto de partida para a tomada de decisão quanto às políticas locais, visando, além do próprio
aspecto ambiental, à melhoria de elementos sociais e econômicos, que devem ser
considerados simultaneamente.
Neste artigo pretende-se, a partir das experiências observadas na utilização da
metodologia de pegada ecológica aplicada ao município de Pardinho, no interior de São
Paulo, discutir os benefícios e fatores facilitadores nesse processo, bem como as barreiras e
dificuldades encontradas na realização do trabalho original. Além disso, são colocadas as
naturais restrições e limitações do estudo e feitas uma série de considerações acerca da
utilização da metodologia, com o propósito de se alavancar o aprendizado para estudos a
serem realizados no futuro.

Aspectos metodológicos
Este artigo é resultado de uma pesquisa exploratória. Triviños (1987, p.109) aponta
que os estudos exploratórios permitem ao investigador “aumentar sua experiência em torno de
determinado problema”, a partir de uma hipótese e do aprofundamento dos estudos nos
limites de uma realidade específica, buscando antecedentes e maior conhecimentos para, em
seguida, planejar uma pesquisa descritiva ou de tipo experimental. Sampieri, Collado e Lucio
(1994, p.59) justificam o uso do estudo exploratório quando o objetivo é examinar um
determinado tema que tenha sido pouco ou nada estudado anteriormente, permitindo que se
obtenha um maior grau e familiaridade com os fenômenos envolvidos no estudo.
O método de pesquisa utilizado neste artigo foi o estudo de caso único. Tanto Mattar
(1996) quanto Triviños (1987) defendem o estudo de casos como importante ferramenta
metodológica. Yin (2001) define esse método como “uma investigação empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente, quando os
limites entre o fenômeno e o contexto não são claramente definidos...” (YIN, 2001, p.32-33).
Ademais, o estudo de caso parece ser a melhor estratégia a ser adotada porque os objetivos
desta pesquisa vão ao encontro da essência de um estudo de caso, que é a de tentar “esclarecer
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uma decisão ou um conjunto de decisões: o motivo pelo qual foram tomadas, como foram
implementadas e com quais resultados” (SCHRAMM apud YIN, 2001, p.31).

Revisão da literatura
O que é o conceito de pegada ecológica
A pegada ecológica é expressa por um indicador métrico, caracterizado pelo número
de hectares de terra/área bioprodutiva necessários para que sejam providos os recursos
naturais renováveis que sustentem, por prazo indeterminado, o padrão de consumo de bens e
serviços da população considerada. Trata-se, portanto, de ferramenta ou instrumento
importante para demonstrar, com bastante clareza e objetividade, aspectos relevantes para
diferentes níveis ou esferas de interesse. A importância desse tipo de ferramenta se evidencia
a partir do momento em que pode ajudar a reabrir o controverso tema “capacidade de carga”
(REES, 2003, p.8), uma visão que pode contribuir para um uso mais eficiente dos recursos
naturais.
Assim, a pegada ecológica não expressa medições energéticas, econômicas ou
monetárias, mas a área ou superfície ecoprodutiva (geralmente, em hectares) necessária para
prover bens bióticos que garantam o padrão de consumo da população local (FURTADO,
2005, p.182). Em outras palavras, a pegada ecológica é

um instrumento que permite estimar os requerimentos de recursos naturais


necessários para sustentar uma dada população, ou seja, o quanto de área
produtiva natural é necessário para sustentar o consumo de recursos e a
assimilação de determinada população humana. (DIAS, 2002, p.185)

O método apresenta uma proposta de melhoria contínua de seu processo, obtida depois
de 15 anos de desenvolvimento metodológico (WACKERNAGEL et al, 2005, p.5), e foi
agraciado com o prêmio Skol Award for Social Entrepreneurship, em 2006, oferecido pela
Fundação Skol como reconhecimento pela abordagem inovadora e eficiente de resolução de
problemas sociais críticos.
A metodologia de cálculo da pegada ecológica leva em conta seis premissas principais
(WACKERNAGEL et al, 2005, p.6):
a) os montantes anuais de recursos consumidos e gastos gerados pelas comunidades são
monitorados por organizações nacionais e internacionais;
b) a quantidade de recursos biológicos apropriados para uso humano é diretamente
relacionada à quantidade de terra bioprodutiva necessária para a regeneração e assimilação
dos resíduos;
c) ponderando-se cada área em proporção a sua produtividade de biomassa utilizável
(potencial anual de produção de biomassa utilizável), diferentes áreas podem ser expressas
em termos de um hectare produtivo médio padrão;
d) a demanda total em hectares globais pode ser agregada, adicionando-se todas as áreas
provedoras de recursos e assimiladoras de resíduos requeridas para suportar a demanda;
e) a demanda humana agregada (pegada ecológica) e a capacidade natural (biocapacidade)
podem ser diretamente comparadas uma com a outra.
f) a área de demanda pode exceder a área de fornecimento.

Principais componentes do método


A metodologia de cálculo da pegada ecológica considera alguns elementos principais
que ainda serão descritos aqui e que seguem os preceitos dos vários documentos e relatórios

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criados pela Global Footprint Network, órgão que fomenta o uso da metodologia em todo o
mundo.

Áreas bioprodutivas
O planeta Terra apresenta uma superfície da ordem de 51 bilhões de hectares (a
unidade usada neste estudo). Destes, somente 11,1 bilhões são aproveitáveis e estão
distribuídos de acordo com a classificação apresentada na tabela 1:

Tabela 1
Área aproveitável do planeta
Áreas mundiais (bilhões de hectares)
Culturas 1,5
Pastagens 3,5
Florestas 3,6
Área construída 0,2
Subtotal 8,8
Peixes 2,3
Total 11,1
Fonte: Bruisma (2003).

Unidade padrão: hectare global


Os resultados dos cálculos deste estudo devem ser expressos em hectares globais.
Todas as medidas, tanto de consumo (pegada ecológica), como de capacidade
(biocapacidade), devem estar expressas nessa unidade (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK,
2006a, p.4).

Fatores de equivalência
A metodologia de cálculo da pegada ecológica pressupõe a utilização dos chamados
fatores de equivalência, que representam a produtividade potencial média mundial de uma
dada área bioprodutiva em relação à média de todas as áreas disponíveis. O fator de
equivalência dependerá do tipo de produção, conforme apresentado na tabela 2.

Tabela 2
Fatores de equivalência
Tipo Fator de equivalência
Primária 2,19
Culturas
Secundária 1,80
Pastagens Permanente 0,48
Florestas 1,37
Florestas Florestas AWS 1,37
Florestas NAWS 1,37
Área construída Área construída 2,19
Marinhas 0,36
Peixes
Água doce 0,36
Fonte: Wackernagel et al (2005).

Fatores de rendimento
Os fatores de rendimento descrevem a extensão na qual uma determinada área é mais
ou menos produtiva que a média global para a mesma categoria de uso; por exemplo,
plantação de cereais, pasto, florestas, etc. Os fatores de rendimento locais devem ser
comparados aos nacionais, e estes, aos globais, disponibilizados pela Organização para a
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Agricultura e a Alimentação da ONU (Food and Agriculture Organization of the United


Nations−FAO/STAT), para que se possa desenvolver políticas eficazes de uso do solo e de
desenvolvimento econômico local.

Fluxo: consumo, produção e trocas


Para o cálculo da pegada ecológica, no que se refere ao consumo, é necessário
considerar o fluxo de consumo, produção e trocas ocorrido no local que é objeto de estudo.
Dessa forma, considera-se a seguinte equação:

Consumo aparente local (=) produção (+) importação (-) exportação

Estabelecido esse procedimento, é possível obter-se o que realmente ocorre em termos


de utilização dos recursos naturais, inclusive, com a participação da localidade em termos dos
recursos que “importa” de outros locais e dos recursos que “exporta” para outros locais, que
devem fazer parte do cálculo de consumo.

Áreas bioprodutivas
Áreas bioprodutivas referem-se ao espaço biologicamente produtivo e que protege a
biodiversidade. Consistem em florestas nativas, áreas de proteção ambiental, pastos, cerrados,
savanas etc.

Forma de cálculo e procedimentos do método


Forma de cálculo da pegada ecológica
A metodologia de cálculo da pegada ecológica prevê uma série de fórmulas para os
diversos cálculos necessários. Assim, o consumo é calculado para os seis fatores distintos, de
acordo com as fórmulas que estão no quadro 1.

Quadro 1
Fórmulas para cálculo da pegada ecológica
Resultado
Fator Unidade fator Rendimento global Fator de equivalência
final
Cultura Hectare global (=) ton./ano (/) ton./hectare/ano (x) Hectare global/hectare
Pastagem Hectare global (=) ton./ano (/) ton./hectare/ano (x) Hectare global/hectare
Pesca Hectare global (=) ton./ano (/) ton./hectare/ano (x) Hectare global/hectare
Floresta Hectare global (=) M3madeira/ano (/) m3madeira/hectare/ano (x) Hectare global/hectare
Áreas
Hectare global (x) hectares (/) - (x) Hectare global/hectare
construídas
Emissões Hectare global (=) Gjoules (/) Gjoules/hectare/ano (x) Hectare global/hectare
Fonte: adaptado de Wackernagel et al (2005).

Forma de cálculo da capacidade biológica (biocapacidade)


Da mesma forma que para o consumo, a capacidade biológica é calculada para seis
fatores distintos. As fórmulas para o cálculo estão no quadro 2.

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Quadro 2
Fórmulas para cálculo da capacidade biológica
Resultado Rendimento Fator de
Fator Unidade Fator
Final Global Equivalência
Cultura Hectare global (=) hectares - - (x) Hectare global/hectare
Pastagem Hectare global (=) hectares - - (x) Hectare global/hectare
Pesca Hectare global (=) hectares - - (x) Hectare global/hectare
Floresta Hectare global (=) hectares - - (x) Hectare global/hectare
Áreas
Hectare global (=) Hectares - - (x) Hectare global/hectare
construídas
Emissões Hectare global (=) Hectares - - (x) Hectare global/hectare
Fonte: adaptado de Wackernagel et al (2005).

Forma de cálculo do resultado ecológico


Os resultados obtidos pelo cálculo da pegada ecológica e da capacidade biológica
permitem que se avalie a diferença entre eles, ou seja, que se faça o balanço entre o consumo
e a capacidade de um determinado local, chegando-se ao resultado ecológico, também
chamado de capital natural líquido ou balanço ecológico. A idéia é semelhante a um balanço
entre o que é produzido e o que é consumido. A fórmula de cálculo é:

(–) Pegada ecológica (hectare global)


(+) Capacidade biológica (hectare global)
(=) Balanço ecológico (hectare global)

Caso o resultado seja positivo (maior que 1,0), há um superávit. Caso contrário, um
déficit, sendo o consumo maior que a biocapacidade.

Fontes de dados para a matriz de cálculo da pegada ecológica


A metodologia aponta para o uso de fontes de dados agregados, publicados por
agências científicas e estatísticas internacionais. Os dados não encontrados nessas fontes
podem ser preenchidos com pesquisas feitas pelo governo, organizações do terceiro setor,
instituições acadêmicas ou mesmo privadas (WACKERNAGEL et al, 2005, p.7).

Críticas ao método e suas delimitações


Já foram feitas muitas críticas à utilização da metodologia de cálculo da pegada
ecológica, com relação a alguns pontos considerados incompletos na abordagem proposta por
Wackernagel e Rees em 1996, e “as opiniões contra a Pegada Ecológica são variadas e geram
discussões acaloradas na comunidade acadêmica” (DIAS, 2002, p.190).
A primeira delas é a respeito da disponibilidade de dados referentes às demandas
ecológicas, o que pode levar a uma estimativa subestimada e distorcida dos resultados
(WACKERNAGEL et al, 2005, p.5). De uma forma mais ampla, Wackernagel et al (2005,
p.24) apontam seis tipos de erros que podem ocorrer no uso da metodologia:
a) erros conceituais e metodológicos:
• erros sistemáticos no acesso aos dados na natureza;
• erros de alocação.
b) erros estruturais e de entrada de dados nas planilhas de cálculo;
c) premissas errôneas para estimativa de dados incompletos;
d) erros de dados de fontes estatísticas em um ano particular;
e) falta de representatividade de estatísticas agregadas;
f) falta de sistemática de dados estatísticos.

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Além disso, os fluxos de informações necessárias para o cálculo da pegada ecológica


encontram-se disponíveis somente num nível nacional, e unidades menores (regiões ou
municípios) não disporiam de um conjunto completo de dados (GLOBAL FOOTPRINT
NETWORK, 2006b, p.1). A literatura aponta para o uso de comparações entre os níveis
nacionais e os subnacionais para o cálculo da pegada ecológica, na medida em que algumas
informações estariam disponíveis nos dois níveis e poderiam ser facilmente comparáveis,
gerando índices que relacionariam a pegada ecológica nacional e a subnacional (GLOBAL
FOOTPRINT NETWORK, 2006b, p.2).

O caso Pardinho
As páginas seguintes referem-se especificamente aos resultados obtidos na aplicação
da metodologia descrita para o município de Pardinho.

O município de Pardinho
O município de Pardinho está localizado a noroeste do estado de São Paulo, com uma
população estimada, neste estudo, em 5.129 habitantes (IBGE, dados de 2003). A tabela 3
apresenta a evolução do PIB do município.

Tabela 3
PIB de Pardinho
1999 2000 2001 2002 2003
PIB
33,5 37,26 45,78 54,87 56,09
(em R$ milhões)
PIB per capita
7.169 7.738,46 9.232,98 10.753,92 10.689,66
(em R$)
Fonte: Antuniassi; Bueno; Pimentel (2007).

Pela associação da tabela 3 com a tabela 4 pode-se categorizar o município de


Pardinho como um município agrícola de baixa renda.

Tabela 4
Distribuição da área do município de Pardinho
ÁREAS DE PARDINHO (EM HECTARES)
Cultura perene 593,70
Cultura semiperene 46,50
Culturas
Cultura anual 1.534,50
Total 2.174,70
CONSUMO Área com pastagens 13.702,80
Pastagens
Total 13.702,80
Área com reflorestamento 763,00
Florestas
Total 763,00
Total 16.640,50
Área com vegetação natural 1.538,80
Florestas Área inaproveitada 93,10
BIOCAPACIDADE
Área complementar 590,70
Total 2.222,60
OUTROS Outros Área inaproveitável 164,30
TOTAL Área total 19.027,40
Fonte: Cati (2006).

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O processo de cálculo da pegada ecológica no município de Pardinho


A proposta de trabalho realizada visava identificar a pegada ecológica de área
geográfica subnacional, representada, nesse caso, pelo município de Pardinho. Segundo a
metodologia proposta, a pegada ecológica de uma área subnacional deve ser compatível com
a pegada ecológica nacional (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2006b, p.4); no caso, a
definida para o Brasil, já calculada anteriormente.
De acordo com a metodologia adotada, existem grandes grupos de uma série de
variáveis que determinam a pegada ecológica, que devem ser analisadas, e em várias
dimensões, como consumo, importação, exportação; devendo, ainda, serem convertidas a um
nível de utilização compatível com o local estudado (fator de equivalência). As atividades
realizadas levaram em conta a necessidade de identificação dos indicadores, a partir dos
principais componentes do método (conforme descrito no manual de cálculo da pegada
ecológica – em construção).
Deve ser ressaltada a dificuldade de obtenção dos dados, normalmente, vindo de
fontes secundárias e de difícil acesso, o que vem, sistematicamente, aumentando a dificuldade
de realização do trabalho. Vários contatos têm sido feitos, com várias fontes, e percebe-se que
esse fator pode ser um obstáculo sistêmico para a realização de projetos dessa natureza.
Assim, a necessidade de várias fontes de informação para o cálculo da pegada ecológica tem
sido uma barreira para os trabalhos a serem realizados.

Dificuldades e limitações do trabalho


Como já enfatizado anteriormente, a metodologia da pegada ecológica apresenta
algumas restrições que são tratadas na literatura e que farão parte de qualquer tentativa de
utilização da metodologia. Especificamente no caso em estudo, do município de Pardinho,
outros problemas foram enfrentados, como segue.
a) a questão da adaptação de uma aplicação nacional para uma área subnacional. É
evidente a dificuldade de se fazer essa passagem, uma vez que os dados consolidados
tornam-se, naturalmente, mais escassos ou divergentes, quando encontrados. Percebe-
se que ainda não há uma infra-estrutura apropriada para que se possa desenvolver esse
tipo de trabalho numa escala maior;

b) a inexistência (no Brasil) ou a raridade (no mundo) de outras aplicações para o mesmo
objeto de estudo (municípios), o que impossibilita, primeiro de tudo, uma abordagem
teórica mais consistente. Além disso, faltam aplicações específicas para comparação
em termos, tanto da metodologia, quanto dos resultados obtidos, se são consistentes ou
não. E por não se tratar de um estudo longitudinal (ao menos, por enquanto), restringe-
se a possibilidade de comparação ou de análise da evolução dos dados;

c) esse estudo se limita a tratar do cálculo da pegada ecológica do município de


Pardinho; portanto, uma área subnacional, cujos critérios metodológicos serão
respeitados. Da mesma forma, em função de sua natureza, há inerentes limitações
metodológicas; além do que, tradicionalmente, são feitos mais estudos nacionais que
subnacionais. Não foi localizado, na literatura disponível, nenhum estudo que focasse
um local de dimensões demográficas tão reduzidas quanto o tratado nesse trabalho;

d) deve-se ressaltar a dificuldade de obtenção dos dados, normalmente, vindo de fontes


secundárias e de difícil acesso, o que vem, sistematicamente, aumentando a
dificuldade de realização do trabalho. Vários contatos têm sido feitos, com várias
fontes, e percebe-se que esse fator pode ser um obstáculo sistêmico para a realização

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de projetos dessa natureza. “[...] quanto mais dados locais disponíveis, mais
detalhados os resultados” (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2006b, p.2);

e) as premissas assumidas e os critérios identificados são permitidos, e, inclusive,


recomendados pela própria metodologia, em função de sua complexidade natural. Tais
premissas são indicadas a seguir:
• não foram considerados os valores referentes aos bens industrializados de origem
não-animal, nem todos os bens definidos como produtos industrializados. Tal
medida se deve à inexistência de dados, em termos municipais para que sejam
realizados os cálculos;

• neste estudo não foi incluída a participação da chamada energia embutida na


formação da pegada ecológica. Tal decisão deveu-se a dois motivos principais: em
primeiro lugar, pela dificuldade de obtenção de estudos que apresentassem dados
compatíveis com a realidade brasileira, diferente da realidade de países que
apresentam estudos do tipo; e em segundo lugar, numa rápida simulação, com
dados de um estudo sueco, verificou-se que o peso da energia embutida no valor
da pegada ecológica seria mínimo, o que ratificou a decisão tomada;

• um elemento fundamental na metodologia é o global yield, que permite a


padronização dos dados em todo o mundo. No entanto, houve uma grande
dificuldade para obtenção desses números, somente sendo de relativamente fácil
acesso os relativos à agricultura e à pecuária, via FAO. Para o restante dos
números foram usadas próxis, sem as quais não seria possível o cálculo para as
variáveis próprias da metodologia.

Comparação dos resultados com os padrões da metodologia


De acordo com a metodologia adotada, há uma série de parâmetros a serem
considerados quando da realização do cálculo da pegada ecológica, segundo uma proposta de
normalização para a execução desta (ECOLOGICAL FOOTPRINTS STANDARDS, 2006).
Assim, os principais pontos de cada um dos parâmetros estão colocados no quadro 3, bem
como uma avaliação do que foi realizado no caso do município de Pardinho, para cada um
desses pontos. Espera-se que, com isso, possa se ter uma visão não apenas do que foi feito
nesse projeto, mas também de suas delimitações e pontos a serem melhorados e
desenvolvidos.

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Quadro 3
Parâmetros para cálculo da PE para o caso Pardinho
Padrão Objetivo Adesão ao caso Pardinho
Consistência com Assegurar que a avaliação é Foi feita uma adequação no
contas de pegada consistente com as contas de pegada cálculo da PE, considerando-
1 nacionais nacionais da rede de pegada global se os fatores de rendimento
(NFA) para o país no qual a nacionais
avaliação é feita
Definição de limites Assegurar que os limites de estudo
2 De acordo
de estudo estão claramente definidos
Cálculos para Assegurar que resultados de pegadas Existem duas versões para o
população subnacionais possam ser comparados cálculo, possibilitando as
3
subnacional quando avaliados sob as mesmas comparações
limitações e pelas mesmas definições
Pegada em Não é aplicável ao caso em
empresas e estudo
4 Ainda não estabelecido
organizações - não
aplicável
Assegurar que todos os fatores de
Fatores de conversão usados no estudo
APLICAÇÃO

5 Idem ao item 1
conversão derivados subnacional estejam consoantes com
as contas de pegadas nacionais
A fim de criar relatórios que possam Não é aplicável ao caso em
ser comparados mundialmente, estudo, por não se tratar de
assegurando que os componentes de um estudo nacional e sim,
Consistência dos
6 consumo e subcomponentes são subnacional
componentes
consistentes com as contas de
pegadas nacionais e não mutuamente
sobrepostas
Uso de elementos Assegurar que se o estudo de pegada Nenhuma ocorrência relatada
não padronizados se basear em novos elementos (ou no projeto
em estudos de omitir outros) àqueles elementos de
7
pegada ecológica pegada ecológica padronizados, essas
diferenças serão identificadas e
explicadas
Métodos de pegada Não é aplicável ao caso em
8 para proprietários Não disponível estudo
do lugar
Dar um senso da precisão de pegada Considerado quando do
ecológica em termos de seus cálculo das médias e
9 Estimativas de erro
resultados e fazer comparações com utilização de próxis,
resultados mais significantes conforme relatado no projeto

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Avanços e Percalços Furtado / Hourneaux / Hermann

Quadro 3 – parâmetros para cálculo da PE para o caso Pardinho (continuação)


Padrão Objetivo Adesão ao caso Pardinho
Resultados e Assegurar que o relatório identifica De acordo, apesar da
métricas claramente se o relatório é ou não dificuldade de acesso aos
10 comparáveis com consistente com as mais recentes valores nacionais
as contas de contas de pegada nacional desagregados
pegada nacional.
Glossário, Assegurar que o estudo oferece
definições e informações de referência tanto para
versões comparações quanto para auditorias
11 De acordo
de resultados, e para entender a
linguagem técnica específica usada
nos estudos de pegada ecológica
Distinção entre Assegurar que os resultados Foram seguidas as
resultados de analíticos e baseados em metodologia recomendações para o
pegada analíticos, científica da pegada sejam cálculo, conforme a
normativos ou reconhecidos e aceitos como válidos. metodologia e as respectivas
baseados em O relatório de pegada distingue fórmulas
12 interpretações de claramente os resultados analíticos a
valor partir das mensurações de pegada e
qualquer outra conclusão,
interpretações ou recomendações
relativos a política, planejamento ou
práticas
Cenários de A pegada ecológica é uma ferramenta
pegada ecológica de contabilidade ecológica, e não se
COMUNICAÇÃO

apresenta como um modelo preditivo.


Não obstante, pode ser aplicada em
13 Não realizado
modelagens preditivas ao serem
traduzidos os resultados de um
determinado cenário em equivalentes
de PE
Limitações de Assegurar que as análises de pegada Delimitações e limitações do
estudo de pegada claramente identificam a pergunta de estudo colocadas no projeto,
pesquisa, as limitações do estudo, o explicitando-se as possíveis
14
método usado e suas limitações, de divergências de interpretação
forma a evitar más interpretações dos
resultados obtidos
Explicações entre Assegurar que a pegada seja
as relações entre compreendida como apenas um
15 sustentabilidade e critério necessário de Considerado no relatório
pegada ecológica sustentabilidade, e não um indicador
absoluto de sustentabilidade
Citação de fontes Para assegurar a transparência e
e descrição de credibilidade do relatório, as fontes
16 metodologias pertinentes e consultadas deverão ser De acordo
citadas e descrita a metodologia do
estudo
Referência a Assegurar que os padrões e processo Todos os cálculos, incluindo
17 padrões e processo de certificação sejam transparentes fórmulas e fontes de dados,
de certificações estão apresentadas no projeto
Estilo de Fortalecer a influência, a probidade e De acordo, incluindo-se a
comunicação a efetividade de avaliações de elaboração de um manual de
18 adequado pegada, a partir da consistência na cálculo, com todas as
redação, no tom adequado e nas explicações do projeto
mensagens específicas
Fonte: criado pelos autores.

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Sugestões para estudos futuros e melhorias


As subseções seguintes são sugestões para novos estudos de pegada ecológica e
resultam das várias lições aprendidas nesse processo de estudo do caso Pardinho. Espera-se
que possam ser consideradas por outros pesquisadores e que tenham se transformado num
produto marginal deste estudo. Espera-se que possam ser consideradas por outros
pesquisadores e que se transformem num produto marginal deste estudo.

Utilização da classificação SIC para padronização dos dados


Uma sugestão, inclusive, com o propósito de viabilizar e facilitar a construção de um
“plano de contas” para a pegada ecológica, é que seja utilizado um sistema de codificação
para padronizar os dados. O sistema que parece mais adequado é o SIC (Standard Industrial
Classification), que surgiu no Reino Unido, em 1948, para ser utilizado na classificação de
estabelecimentos de negócios e em estatísticas por tipo de atividade econômica. A
classificação fornece um modelo para a coleta, tabulação, apresentação e análise dos dados,
promovendo sua uniformidade, e é adotada globalmente pela FAO. Dessa forma, seria
possível, inclusive, comparar os resultados apurados localmente com os de outras iniciativas,
pois se teria uma padronização dos dados. Além disso, tal medida também contribui
significativamente para estudos locais longitudinais.

Procedimentos para armazenamento e disponibilização dos dados


A seleção da metodologia para construir a matriz de cálculo da pegada ecológica
englobaria também a seleção e tomada de decisões para:
• a conceituação preliminar de mecanismo de registro e armazenamento dos dados; e
• as discussões para convergência e consenso.

O que se pretende estabelecer é que o conceito a ser adotado resulte no registro de


valores das diferentes variáveis, de forma a permitir um rápido cálculo da pegada ecológica
pretendida segundo a lógica contábil, estruturada em um “plano de contas”. Nesse conceito,
serão considerados diferentes “títulos contábeis”, em razão das dimensões apresentadas na
metodologia de pegada ecológica escolhida. Os desdobramentos seguem a mesma lógica e
pretende-se armazenar em cada variável a ser utilizada:
• o nome da variável;
• a unidade usual de medição;
• o fator de equivalência;
• a data original da publicação do dado/informação;
• a fonte da informação;
• a data do lançamento;
• o usuário; e
• o valor da variável.

Os dados das diferentes variáveis seriam, assim, exaustivamente estudados, visando à


adequação para atender aos requisitos funcionais que envolvem edição, cálculo da pegada
ecológica, geração de relatório e armazenamento dos lançamentos efetuados. Posteriormente,
o desenho conceitual original da aplicação seria melhorado nos períodos subseqüentes e um
novo sistema, mais consistente e robusto, integraria o cálculo de pegada ecológica para outros
municípios. Os próximos passos nesse sentido incluem: o desenho da base de dados e o
diagrama hierárquico de funções e telas, além de outros diagramas e especificações para

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desenvolvimento do sistema, que envolve a relação deste com os diferentes stakeholders


identificados durante o processo.

Inclusão de emissões entéricas e respiratórias nos cálculos


Com o propósito de refinar o cálculo da pegada ecológica, seria necessário considerar
as emissões entéricas e respiratórias da produção animal local, bem como de seres humanos,
incluindo tratamento de esgotos e destinação da lama residual. Como há grandes divergências
entre estudiosos envolvendo a realização, atualmente em curso pela Embrapa, do primeiro
levantamento de emissões entéricas, as emissões foram excluídas do cálculo da pegada
ecológica neste estudo.

Adaptação da metodologia para estudos subnacionais


A metodologia de cálculo da pegada ecológica já observa os casos envolvendo estudos
subnacionais. A metodologia, “um caminho indireto” (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK,
2006b, p.1), prescreve quatro passos a serem seguidos:
• começar com a pegada ecológica nacional;
• analisar, pela média nacional, que atividades e itens de consumo se referem a cada
parte da pegada nacional total;
• identificar as diferenças de padrão de consumo locais quando comparadas às médias
nacionais; e
• usar essa informação para ajustar a pegada ecológica nacional às especificidades
locais (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2006b, p.1).

Qualquer cidade pode ter sua pegada ecológica calculada dessa forma (GLOBAL
FOOTPRINT NETWORK, 2006b, p.2). Informações detalhadas, geralmente, são disponíveis
apenas em nível nacional, e raramente cidades ou regiões apresentam um fluxo de dados
completo para o cálculo da pegada ecológica (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2006b,
p.1), o que explica a dificuldade de realização de estudos desse tipo.
Como a realidade nacional não é necessariamente refletida num determinado cenário
subnacional, principalmente, se considerarmos um país de extremas diferenças como o Brasil,
com sua extensão continental e com discrepantes realidades sociais, econômicas, políticas e
culturais, sugere-se que seja feita uma adaptação dos procedimentos sugeridos pela
metodologia tradicional, como apontados anteriormente.
Postas todas essas dificuldades e problemas, sugere-se que seja feita uma adaptação do
que é proposto pela metodologia. Neste estudo, apresenta-se outra alternativa de cálculo para
a pegada ecológica, em que os valores reflitam a realidade local com mais ênfase.
Para tanto, os valores não ajustados foram calculados, utilizando-se a fórmula prescrita
pela metodologia já consagrada.

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Consumo
Resultado antes do
aparente Global yield Fator de equivalência
ajuste
região
Ton./ano (/) Ton./hectare/ano (x) Hectare global/hectare (=) Hectare global

A diferença entre os valores não ajustados é a inclusão de um fator de adaptação às


características locais, ou seja:

Coeficiente ajuste
Resultado antes do
fator de rendimento Resultado após ajuste
ajuste
local/global yield
Hectare global (/) (número absoluto) (=) Hectare global

O coeficiente ajuste é o fator de rendimento local dividido pelo global yield. Assim,
espera-se um resultado que tenha maior proximidade com as realidades locais. Pelos
resultados obtidos, percebeu-se que há uma diferença considerável quando se utilizam os
índices de produtividade adaptados à realidade local, como foi feito na metodologia adaptada.
Essa abordagem privilegia locais com produtividade mais alta que a média, como é o caso do
município estudado.

Considerações finais
Espera-se que este trabalho tenha contribuído para o diagnóstico ambiental do
município de Pardinho e, conseqüentemente para a definição de políticas que busquem a
sustentabilidade na região. Além disso, o estudo pôde contribuir para as discussões sobre o
cálculo da pegada ecológica, pela assimilação e disseminação do conhecimento, além de uma
análise da aplicabilidade dos conceitos e novas sugestões para estudos futuros.
É oportuno mencionar que a diversidade de abordagem do projeto será importante para
identificar, de um lado, os pontos fortes e fracos, ameaças e oportunidades relacionadas à
Pegada Ecológica da população alvo e, de outro, as medidas que serão propostas para redução
de déficits ecológicos ou aprimoramento de superávit. Assim, os indicadores selecionados
estariam alinhados às características econômicas, ambientais e sociais prevalentes no
município de Pardinho e nas demais áreas de influência política, de um lado, e aos elementos
que comporão a matriz da pegada ecológica, representados por categorias de consumo e
tipologias de terra/área.
As metodologias disponíveis dão importância especial aos indicadores referentes ao
capital natural constituído de bens renováveis dos quais a sociedade humana depende e que
são considerados essenciais para garantir os serviços ecológicos ou ambientais, dos quais a
sociedade humana também necessita. Entretanto, são levados em consideração indicadores
sociais e institucionais, uma vez que o Brasil é marcado por problemas sociais graves,
envolvendo inserção socioeconômica e justiça social. Além disso, e para contribuir para a
melhor visão de sustentabilidade, os indicadores eleitos serão agregados nas dimensões
econômica, ambiental e social e nas interfaces socioeconômica, socioambiental e econômico-
ambiental. Inclusive, espera-se que a discussão de um objetivo de crescimento econômico nos
países emergentes, como o Brasil, acompanhado de um declínio dos recursos naturais nos
países desenvolvidos, torne premente a adoção de práticas de maior produtividade e mudanças
nos hábitos da população, possibilitando “vantagens ecológicas” de cidades que assim se

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disponham a fazê-lo (REES, 2003). Nessa perspectiva, um esforço global para a


sustentabilidade dependeria fortemente das cidades, devido a sua influência quanto às
políticas de uso dos recursos no longo prazo. Considera-se que o modo como os sistemas
urbanos são estruturados influencia em mais de 70% no cálculo da pegada ecológica
específica (GLOBAL FOOTPRINT NETWORK, 2006b, p.6).
Finalmente, é preciso salientar a dificuldade inerente à aplicação de uma metodologia
para o cálculo de pegadas ecológicas, em termos locais ou subnacionais. Dessa forma, houve
pesquisa prévia para o desenvolvimento e adaptação da metodologia aplicada em Pardinho.
Uma das contribuições desse estudo é, portanto, o uso de duas diferentes abordagens para o
desenvolvimento do trabalho: uma orientação top-down, com respeito a indicadores de
comparação globais e nacionais, e o sentido bottom-up, quando se dispunha de dados locais.
Quando os dados locais eram inconsistentes ou indisponíveis, as tabelas foram
complementadas por estatísticas do estado de São Paulo, como por exemplo, o consumo de
Kwh/per capita.
Quanto ao aspecto científico, espera-se que este estudo tenha colaborado para a
discussão da necessidade de metodologias de mensuração que tenham como foco a avaliação
de impactos e práticas relativas à sustentabilidade. As próprias dificuldades verificadas neste
trabalho reforçam a necessidade de se discutir melhorias nos processos de cálculo e,
principalmente, no acesso aos dados necessários.

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