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História do ATLS

O ATLS® é um programa que visa capacitar médicos no atendimento de


pacientes politraumatizados em qualquer hospital que possua um mínimo de
estrutura e materiais necessários. Após participar do curso, cada médico é
capaz de realizar o atendimento de um paciente sozinho. O ATLS visa otimizar
a avaliação e o tratamento das vítimas de trauma durante a chamada "hora de
ouro", a primeira hora após o trauma.
A ideia de se desenvolver uma sistematização no atendimento a pacientes
vítimas de trauma surgiu na cidade de Auburn, quando o Dr. James Styner,
cirurgião ortopédico, observava o atendimento a ele e sua família. Em 1976
sofreu um sério acidente aéreo com sua família. Sua aeronave pessoal caiu em
uma plantação de milho e sua esposa morreu no momento da colisão, três de
seus quatro filhos foram seriamente feridos e o filho mais velho teve apenas um
braço fraturado.
Após o acidente, o Dr.Styner teve de acenar para um carro e pedir que ele e
seus filhos fossem levados para o hospital mais próximo. O pequeno da cidade
estava fechado, e o serviço de emergência foi aberto pelo médico local quase
que 10 horas depois do acidente. Por sorte, o Dr.Styner e seus filhos
sobreviveram a tamanha espera.
Na operação de resgate o Dr Styner percebeu que os colegas não tinham uma
rotina de atendimento e com isso deixavam de realizar procedimentos
indispensáveis para salvar visa ou mesmo preservar um membro ameaçado. O
cirurgião ficou tão abalado com aquele atendimento que se motivou para mudar
a abordagem do traumatizado mudo afora.
O Dr. Styner afirmou: ""When I can provide better care in the field with limited
resources than what my children and I received at the primary care facility,
there is something wrong with the system and the system has to be changed"
Ele se uniu ao Dr. Paul Collicott, cirurgião geral e vascular, e começaram a
desenvolver um programa que otimizasse a abordagem do politraumatizado e a
criação de um centro de trauma integrado. Eles pesquisaram por dois anos e,
juntamente com o pessoal do ACLS® e da Lincoln Medical Education
Foundation (instituição da qual os dois faziam parte), desenvolveram um
protocolo de atendimento a politraumatizados.
O programa foi concebido em 1978 e até hoje é tido como padrão de
atendimento inicial ao politraumatizado. O ATLS, enquanto curso, combina
informações didáticas com habilidades para procedimentos e simulações.
Seguindo esta iniciativa, os serviços locais de atendimento pré-hospitalar e de
atendimento de enfermagem também sistematizaram seu atendimento a
pacientes vítimas de trauma.
A premissas do ATLS é tratar a maior ameaça a vida primeiro. Primordialmente
problemas relativos a oferta inadequada de sangue oxigenado ao sistema
nervoso central e a órgãos vitais. Intervenções mais críticas são realizadas
mais precocemente e o tratamento independe do diagnóstico definitivo. A
avaliação e intervenção no politraumatizado segue a sequência consagrada no
método mnemônico ABCD.
Em 1980, o American College of Surgeons editou aquele protocolo e o publicou
como o ATLS® (inspirado nos moldes do ACLS®, já posto em prática desde
1976), iniciando sua disseminação nacional. Em 1981, o Canadá foi o primeiro
país fora dos EUA a receber o ATLS® e seguiu-se a difusão internacional.
Páises da América Latina começaram a implementar o curso em 1986. Desde
então, a publicação original foi atualizada e revisada várias vezes, a última
tendo sido realizada em 2018 (10ª edição).
Principais mudanças e destaques do ATLS 10:
– Ressalva para a mobilização manual da coluna cervical;
– A intubação orotraqueal (IOT) de sequência rápida agora é chamada IOT
assistida por drogas;
– Passa a ser recomendado o uso de videolaringoscopia para a IOT;
– Lesão da árvore traqueobrônquica passa a ser considerada uma lesão
ameaçadora à vida;
– Tórax instável passa a ser considerado uma lesão potencialmente
ameaçadora à vida;
– Descompressão torácica (punção torácica): 5º espaço intercostal na linha
axilar média;
– A drenagem torácica deve ser feita utilizando drenos de menor calibre, entre
28 e 32 fr;
– Indicação do FAST e eFAST;
– Profissionais de saúde devem ter parcimônia na associação de pneumotórax
com drenagem de tórax imediata;
– É recomendado a reposição com até 1 litro de cristaloide;
– Punção venosa única com jelco 18;
– Uso do ácido tranexâmico;
– Transfusão maciça: definido como 10 U de concentrado de hemácias em 24
horas ou 4 unidades em 1 hora. A regra de reposição 3:1 (perdidos/reposto)
passar a ser 1:1:1, orientando a transfusão precoce;
– Os profissionais devem fazer uso do tromboelastograma para guiar a
transfusão e uso do ácido tranexâmico;
– Laparoscopia é recomendada no trauma penetrante;
– Lavado peritoneal em segundo plano, porém não excluído, devido à adoção
crescente do FAST;
– Fratura pélvica com choque hipovolêmico possui indicação de arteriografia;
– Fórmula de Parkland: volume de reposição = 2 x Peso (Kg) x % SCQ; e
manejar pelo débito urinário;
– ECG (Glasgow): resposta motora à pressão e não à dor. Pressão deve ser
realizada nas regiões supraorbitária ou ungueal;
– O novo ATLS passa a adotar a regra Canadense para a retirada do colar
cervical: paciente consciente, glasgow = 15 e sem dor, já pode tirar o colar
cervical;
– No idoso, atenção para o trauma pélvico em que o risco é quatro vezes maior
de óbito;
– Quando transferir para o tratamento definitivo? utilizar o mnemônico SBAR:
Situation, Background, Assessment, Recommendation.

O que não mudou no ATLS 10 e devemos reforçar?


– Abordagem rápida
– Intervenção precoce
– Identificar, abordar e reavaliar

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