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Come interages de decisées microeconémicas resultam em problemas macroeconSmicos Escrito por Fernando Nogueira da Costa © Blog Cultura & Cidadania - 2020 Fernando Nogueira da Costa COSTA, Fernando Nogueira da Economia em 10 Ligdes. Como interagées de decisées microeconémicas resultam em problemas macroeconémicos. Campinas, SP: Blog Cultura & Cidadania, 2020. 28 Edigdo Revista - 622 p. 1. Economia 2. Teoria 3. Metodologia |. Titulo. 330 c837a BLOG CIDADANIA & CULTURA https: //fernandonogueiracosta.worépress.com Sumario PREFACIO. UTILIDADE.. CONTEUDO.. FORMA. ESTRUTURA DE UM CURSO DE INTRODUGAO HUMOR PARTE | METODOLOGIA PARA CONHECIMENTO DE ECONOMIA.. INTRODUCAO .. PRIMEIRA LICAO: DECISAO DE ESTUDAR ECONOMIA.. 1.1, DidLOGO AUTOR - LEITOR 1.2. 0 que € Economia? 1.3. Por QUE DEVO ESTUDAR ECONOMIA? 41.4. POR QUE & ECONOMIA E HERWETICA? 41.5. PoR QUE & ECONOMIA E CONTROVERSA? 1.6. Como DEVO ESTUDAR ECONOMIA? .. RESUMO PERGUNTA E RESPOSTA vs. .ccssssssseee LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET... PARTE Il PRECOS E MOEDA.. SEGUNDA LICAO: DECISAO DE FICAR RICO. 2.1. DIALOGO ESTUDANTE - PROFESSOR 2.2.0 QUE FOI A ACUMULAGAO PRINITWA 2.3. 0 QUE E ACUNULACAO DE CAPITAL HUNAN 2:4. COMO ACUMULAR CAPITAL PARA INVESTIR.. 2.6 CoMo SE ESTRUTURA 0 MERCADO? 2.7. QUAIS SAO AS MODERNAS TEORIAS DA FIRMA. RESUMO... PERGUNTA E RESPOST# LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA .. FONTE DE INFORMACOES NA INTERNET. TERCEIRA LIGAO: MERCADO DE ATIVOS E NIVEL DOS PRECOS 3.1 DIALOGO BANCARIO - BANQUEIRO 3.2. CoMo ESCOLKER ATIVOS 3.3. CoMO FUNCIONA 0 SISTEMA FINANCEIRO? 3.4 COMO CRIAR (E MULTIPLICAR) MOEDA? 3.5 POR QUE HA INFLACAO' 3.6 O QUE PROVOCA CRISE RESUMO.. PERGUNTA E RESPOST# LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA .. FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET PARTE Ill PRODUGAO E EMPREGO QUARTA LIAO: DECISAO DE PRODUZIR . 4.4 DidLOGO PRODUTOR - COMERCIANTE 4.2 QUAL E & CONCEPCAO CLASSICA DA DIVISKO DO TRABALHO E DA PRODUTIVIDADE? 220 4.3 QUAL € 0 SIGNIFICADO DA TEORIA DO VALOR-TRABALHO? 4:4 COMO ECONOMISTAS NEOCLASSICOS EXPLICAM A LE DA OFERTA E DA DEMANDA 4.5 QUAIS SAO 05 FUNDANENTOS TEORICOS DAS CONTAS NACIONAIS MODERNAS? RESUNO.. PERGUNTA E RESPOSTS LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET . QUINTA LIGAO: NIVEL DE EMPREGO E MERCADO DE TRABALHO 5.1 DIALOGO SINDICALISTA - ASSESSOR SINDICAL.. 5.2 QUAIS SAO AS TEORIAS DA DETERMINACAO DO SALARIO 5.3 Como SE EXPLICA 0 DESEWPREGO? 5.3 Como FUNCIONA © MERCADO DE TRABALHO NAO-QUALIFICADO EM UMA ECONOMIA ATRASADAY, 5.4 QUAIS SAO 0S REFLEKOS DAS TRANSFORMAGOES TECNOLOGICAS E ECONOMICO-FINANCEIRAS RECENTES NO MUNDO DO TRABALHO? . RESUMO.. PERGUNTA E RESPOSTS LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA .. FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET PARTE IV GASTOS, CICLO, TENDENCIA E DESENVOLVIMENTO ECONOMICO.. SEXTA LIGAO: DECISAO DE GASTAR. 6.1 DIALOGO REPORTER - ECONOMISTA CONSULTOR, 6.2. Qual E A Teoria Do CoNsUMIDOR? 6.3 QUAIS SAO 05 DETERMINANTES DO CICLO DE INVESTINENTOS? .. {6.4 COMO INOVACOES DETERMINAM A TENDENCIA DE CRESCIENTO EM LONGO PRAZO? 367 6.5 AINTERVENCAO GOVERNAMENTAL E 0 SUPERAVIT DO COMERCIO EXTERIOR SAO NECESSARIOS A RECUPERAGAO ECONOMICA? RESUMO.. PERGUNTA RESPOSTH LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA .. FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET SETIMA LIGAO: DESENVOLVIMENTO ECONOMICO........ 7.1. DIALOGO ESTAGIARIO(A) DE ECONOMIA - EX-FUNCIONARIO INTERNACIONAL ... 7.2. CoNO SE CLASSIFICA AS ANTIGAS TEORIAS DO DESENVOLVIMENTO? «. 7-3. QUAL E 0 PENSAMENTO ESTRUTURALISTA SOBRE O DESENVOLVIMENTO?. 7-4, QUAL E & NovA TEORIA 90 CRESCIMENTO ENDOGENO? ... 7.5. 0 ENFOQUE NEO-SCHUMPETERIANO DO DESENVOLVINENTO f UMA ALTERNATIVA A ABORDAGEN AMIGAVEL DO MERCADO? LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA .. FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET .. PARTE V RELAGOES INTERNACIONAIS E POLITICA ECONOMICA...vsvrsrtnteteteereseeA OITAVA LIGAO: MERCADO DE CAMBIO E BALANGO DE PAGAMENTOS. A392 8.1 DIALOGO ESPECULADOR - ASSESSOR .. 8.2 0 Que € 0 MERCADO DE CAmBI0? 8.3 QUAIS SAO 0S CONCEITOS E AS DEFINICOES DA TAXA DE CAMBIO 8.4 COMO COBRIR 0 RISCO DE CANBIO? .. 8.5 QUAIS Sho 05 DETERMINANTES DAS TAKAS DE CAMBIO 8.6 O QUE € UM “ATAQUE ESPECULATIVO"? QUAL E A DIFERENCA PARA ““BOLHA ESPECULATIVA 8.7. QUAIS SAO AS ABORDAGENS ECONOMICAS DO BALANCO DE PAGAMENTOS? RESUMO... sevvesvensensvassenee PERGUNTA E RESPOSTA.. LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET NONA LIGAO: DECISOES DE POLITICAS MACROECONOMICAS. EM ECONOMIA ABERTA .. 9.1. DIALOGO GOVERNANTE - CONSELHEIRO.. 9.2. CONO SE OPERA A POLITICA MONETARIA.. 9.3. QUAL E A INPORTANCIA DA POLITICA FISCAL?.. 9-4 COMO COMBINAR POLITICA MONETARIA, POLITICA FISCAL E REGIMES CAMBIAIS? .. 9.5 QUAL € & NOVA TEORIA DO COMERCIO INTERNACIONAL? RESUMO.. PERGUNTA E RESPOSTA. LEITURA ADICIONAL RECOMENDADA .. FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET ‘ANEXO 9.A: FLUKOGRAMAS DO MODELO MUNDELL-FLEWING (IS-LM-BP) ‘ANEXO 9.B: ANALISE GRAFICA DO MODELO MUNDELL-FLEMING (IS-LM-BP) PARTE VI CONCLUSAO: VISAO SISTEMICA. DECIMA LICAO: CIRCUITO MONETARIO 10.1 DidtoGo LerToR - auToR 10.2 Quals SAO AS RAIZES DA ABORDAGEM DA CIRCULACAO? ........ 10.3 QUAIS SkO AS IDEIAS PRINCIPAIS DA ABORDAGEM DA CIRCULACAO? 10.4 QUAIS S40 AS DIFERENCAS ENTRE A ABORDAGEM DA CIRCULACAO E AA POS-KEYNESIANA?.. 10.5 QuAIs SK0 05 FUNDAMENTOS TEORICOS DO RISCO SISTEMICO?. RESUMO... PERGUNTA E RESPOSTA. LEITURA ADICIONAL RE - FONTES DE INFORMACOES NA INTERNET SOBRE O AUTOR.....scscccsscsssssssesssssssssssssssssnsssssnsssssnsennsssssssssssssssssesssssceeseeeeess610 NOTAS REFERENCIAIS 611 PREFACIO Este livro diddtico de Introdugo & Economia - aquela fundamental, basica, essencial, necessaria para o conhecimento de todo cidad3o educado - se restringe a 10 ligdes. Tem como publico- alvo quem deseja comecar a estudar Economia, inclusive sem pretender se tornar economista, ou seja, estudantes e profissionais de outras carreiras: Administracéo de Empresas, Ciéncias Contabeis, Ciéncias Politicas, Ciéncias Sociais, Direito, Engenharias, etc. E um livro de “autoajuda econdmica”, no sentido mais apropriado de almejar o ensino da ldgica da escolha racional, informada por teorias econémicas. O autor se coloca como conselheiro ou assessor econémico do leitor, “trocando em mitidos” as teorias e os modelos de decistio complexos. O livro busca ajudar o leitor na arte de pensar o seu ambiente econémico. Pretende ser um guia introdutério ao conhecimento de Economia sem economés, para leigos, rompendo a incomunicabilidade entre os especialistas e os nao especialistas. UTILIDADE Ele nao fica restrito & matéria convencional de um curso de Introdugéo & Economia. Concilia a linguagem acessivel ao rigor metodolégico, contemplando as teorias econémicas contemporaneas realmente relevantes. Assim, torna-se Util como fonte de consulta permanente inclusive para o estudante de Economia de séries mais avancadas. Este estudante poderé sempre retornar a este manual, devido a facilidade de consulta as definicdes e conceitos chaves. Seus conteidos em Microeconomia, Macroeconomia, Economia Internacional, Desenvolvimento Econémico, e Histéria do Pensamento Econémico permitem também a recordacéo da matéria pelo estudante de Ciéncia Econémica com objetivo de prestar 0 Exame Nacional do Curso de Economia. Embora os livros-texto em Economia sejam todos parecidos| leste diferencia-se dos livros de Introducdo 4 Economia existentes| por: I> 0 ensino didatico com o propésito pratico de auxiliar a tomada de| decis6es econémicas fundadas na racionalidade cientifica. + © foco colocado na relacéo entre a microeconomia e a macroeconomia, em economia monetéria aberta contemporanea. Y © estilo acessivel, com leveza e bom humor na apresentacao das diversas teorias econémicas - ortodoxas e heterodoxas, antigas e| modernas; > 0 uso de recursos graficos, humor, ilustragdes e referéncias a letras de misicas e filmes; > uma lista de enderecos de sites na Internet com informagdes| econémicas relacionadas a cada Licdo. CONTEUDO © objetivo geral do livro é mostrar como o conhecimento econémico possibilita uma melhor andlise para as diversas tomadas de deciséo econémico-financeira no nosso cotidiano. Sistematiza o conhecimento genérico do cidadao e socializa o conhecimento especifico do economista, © primeiro objetivo parcial - geralmente colocado no primeiro capitulo de cada parte - é examinar microfundamentos da macroeconomia através das teorias das decisdes basicas dos agentes econémicos ou das firmas. 0 segundo objetivo parcial - colocado no outro capitulo de cada parte - é examinar macrofundamentos da microeconomia através das teorias dos principais problemas resultantes sistémicos (inflagéo, desemprego, ciclo econémico e crise cambial) e das relagées internacionais entre as decisdes de politicas macroeconémicas, em economia aberta. Dessa forma, as tematicas econémicas (monetéria, microeconomia, macroeconomia e internacional) esto integradas e articuladas entre si, dentro de cada uma das seis partes. FORMA A forma de exposicao & tao importante quanto o contetido. Nao possuo nenhum preconceito contra “textos literdrios”, inclusive este é um livro de “nao-ficcao” com personagens ficticios em didlogo. Privilegia a “arte de escrever” em vez do dito “rigor matematico” cada vez mais estéril em Economia. Entre a elegancia formal da apresentac&o e a relevancia tedrica da exposic&o escrita, fico com esta. Escrever é como montar um quebra-cabeca: é divertido conectar pecas - idéias ininteligiveis, se soltas. Escrever é também o prazer de ler: a maior parte do tempo do escritor se passa com a leitura - tem de ler muitos livros para escrever um Unico! Assim, peco bengdo aos autores de diciondrios e enciclopédias, aqui profusamente consultados. Adotei o estilo de fundir o easy-reading (facil de ler) com temas universais, entremeando a narrativa com citacées diversas, tipo /iteratura-pop. Inclusive o leitor vai esbarrar com algumas cangées, cujas letras so instigantes. O esforco foi feito no sentido de produzir um texto divertido e agil, pois a gente nunca se cansa de ler do assim escrito. Um texto inteligente tem de ser inteligivel ao leitor. Embora a finalidade deste livro seja dar uma explicagdo simples dos fundamentos econémicos mais importantes, busquei nao sacrificar, demasiadamente, a profundidade dos temas apresentados. © leitor deve encaré-lo como uma preparag&o para estudos mais aprofundados, tendo uma lista de leitura adicional recomendada ao final de cada capitulo. © livro almeja a “alfabetizagdo econdmica”, ou seja, a propagacio do ensino da leitura da Economia. A leitura nunca deve ser obrigatéria, mas sim necessdria e sempre insuficiente. Na verdade, nada digo de novo, que os economistas ndo conhecam, neste livro. Apenas proponho uma nova maneira de dizer 0 jd conhecido, na profisséo, para os que no o conhecem. Faco isso através de didlogos. Passo o livro conversando comigo mesmo através de personagens. 9 Na Parte I - Metodologia para o conhecimento de Economia - simulo um didlogo entre o leitor e o autor. Na Parte II - Precos e Moeda - dramatizo primeiro um didlogo entre o estudante com desejo de enriquecer, tornando-se empresério, e o professor. Depois, entre um banqueiro e um assessor bancério. Na Parte II - Produgéo e Emprego - os didlogos so primeiro entre produtor e comerciante e depois entre sindicalista e assessor sindical Na Parte IV - Gastos, Ciclo e Tendéncia, Economia do Desenvolvimento - os didlogos ocorrem entre uma repérter, apresentando questées do cidad&o, da dona-de-casa consumidora e do contribuinte, e um economista-consultor (ex-ministro) entrevistado, em uma lic&o, e entre um estagidrio(a) de Economia e um ex-funciondrio de organizaco desenvolvimentista internacional, em outra. Na Parte V — Relagées Internacionais e Politica econémica — um didlogo ocorre entre um especulador internacional €@ um assessor e o outro entre um governante (presidente da Reptblica) e um conselheiro econémico (presidente do banco central). Finalmente, na Parte VI - Conclusdo - retoma-se o didlogo direto entre o leitor e 0 autor. ESTRUTURA DE UM CURSO DE INTRODUCAO Se 0 professor deseja explicar claramente 0 contetido desse| curso, pode experimentar: lt.focar sua aula sobre poucos pontos — os mais importantes - e| omitir as excegdes desnecessérias, as complexidades e os detalhes. l2.. definir cuidadosamente todos os conceitos e termos. |3. reprisar explicagdes sobre os pontos importantes varias vezes. |4. usar em grande quantidade exemplos concretos e memoraveis. I5.demonstrar um conceito ou idéia em vez de simplesmente descrevé-lo ou discuti-lo. |6.usar imagem, imaginacdo visual (metéforas, analogias, etc.), slides, mapas, gravacées, dramatizagdes ao vivo ou filmadas, graficos, diagramas e todo tipo de recurso cultural, sempre quando| possivel, para ilustrar a matéria. 10 7. reconhecer a dificuldade e a importancia diversa de cada conceito,| para alertar a atengao dos alunos. I8.estabelecer empatia com os estudantes em dificuldades, na| aprendizagem da matéria pela primeira vez. Para atingir esse objetivo, a aula pode ser organizada - a partir deste livro - da seguinte forma: * uma introducéio (0 que vai ser apresentado), a apresentacdo das teorias convencionais sobre o tema (o que se diz normalmente a respeito), a critica construtiva apresentando outras teorias (0 que se pode tomar como alternativas), * as fontes e usos de informagdes (evidéncias empiricas), * um resumo recapitulando o dito (com a listagem de pontos basicos), e, finalmente, uma leitura adicional recomendada (comentada). Essa organizacao é facilitada, pois os resumos, ao final de cada ligdo, apresentam o essencial a ser destacado, em aula. Os conceitos-chave estdo em destaque com bordas. A partir deles pode-se preparar os slides do PowerPoint com um sumério da aula, a listagem de pontos basicos e os testes de conhecimento. Sugestdes de pesquisa de informacées adicionais podem ser feitas a partir dos enderegos dos sites na Internet - uma selecéo dos melhores servidores para o internauta iniciar a navegac&o. A opcdo foi apresenta-los por assunto, de acordo com 0 tratado em cada Licdo. Os temas “subordinam” as escolas de pensamento, ou seja, é apresentado, dentro de cada tema fundamental, o que dizem as diversas escolas e/ou autores. E um livro de Introdugdo 4 Economia Fundamental com uma abordagem pluralista. Para a organizac&o de um curso a partir da adocéio deste livro como guia-didatico, pode-se, por exemplo, em uma disciplina padrao de 60 horas ou 30 aulas: 1. Apresentar a Parte I - uma metodologia para o conhecimento de economia -, a partir de aspectos da Introdugao e da P "1 Ligao, em uma aula. Deve observar a Introducao apresentar um carater mais complexo em relagéo aos temas seguintes, pois diz respeito 4 metodologia adotada neste livro, integrando a microeconomia e macroeconomia e nao as deixando em partes justapostas, como é convencional em livro-texto. . Na segunda aula, iniciando a Parte II, pode usar a Segunda Ligdo para discutir “a deciséo de ficar rico” com os estudantes, como uma provocaco para o debate. Depois, em um total de trés aulas, pode-se confrontar as decisées (dependente de acumulacdo prévia) de trabalhar e/ou estudar versus as de escolher ativos (aplicar ou selecionar carteira com diversas formas de manutengdo de riqueza), langar agées (associar-se), tomar financiamento, competir, inovar, conquistar mercado, determinar margem de lucro, fixar precos relativos. Essa Ligdo examina a moderna Teoria da Firma. . A Terceira Ligo, tratando do mercado monetario e de ativos e/ ou do nivel geral de precos, pode ser apresentada também em trés aulas. Examinar os atos de criar ou emitir moeda, racionar crédito, e cobrir riscos (tépicos 3.1 a 3.4) em uma aula; a dificuldade de equilibrar a demanda agregada monetéria e a oferta agregada de bens e servicos, ou seja, controlar a inflagao (3.5) em outra; e, finalmente, discutir a inflagdo e a deflacdo de ativos, isto &, a crise financeira (3.6), para encerré-la. . Na Parte III, a Quarta Lig&o refere-se & decisdo de produzir, podendo ser apresentadas a concepcio classica e a marxista (4.1 a 4.3) em uma aula. A Teoria da Produgdo neoclassica, a questdo dos custos e da elasticidade da demanda ao preco (tépico 4.4) podem ser vistas em outra aula. E vidvel uma breve explicacdo sobre a contabilidade social - 0 Sistema de Contas Nacionais e a Matriz Insumo Produto - em uma terceira aula. A Quinta Ligdo é sobre o nivel de emprego e/ou o mercado de trabalho. Apresentar as explicagdes de saldrio nominal e emprego, de acordo com a teoria convencional (sintese neoclassica, monetarismo, novoclassicismo), 0 pés-keynesianismo e 0 novo- keynesianismo, necesita pelo menos de duas aulas. Mostrar como funciona o mercado de trabalho néo-qualificado, em uma economia atrasada, e quais sdo os reflexos das transformacées tecnolégicas e econémico-financeiras recentes, no mundo do trabalho, pode ser feito em uma outra aula. 12 6. Na Parte IV, a Sexta Lig&o trata da demanda agregada, ou seja, das decisées de consumir (Teoria do Consumidor) - a sugestao é de uma aula -, investir (Keynes, Kalecki) - em outra aula -, inovar (Schumpeter), de gastos governamentais e de obtencao de superdvit comercial, tudo isso pode ser visto em uma terceira aula. Trata-se da discussao do ciclo e da tendéncia. 7. A Sétima Ligo é sobre o desenvolvimento do mercado de bens e servicos. Cabe apresentar as teorias classicas (7.1 a 7.3) e modernas (7.4 e 7.5) do crescimento e do desenvolvimento econémico, respectivamente, em duas aulas. 8. Na Parte V, sobre relacées internacionais, a Oitava Lig&o trata do mercado de cambio e do balanco de pagamentos. Os conceitos basicos dos tépicos 8.1 a 8.3 podem ser dados em uma aula; a cobertura do risco de cdmbio (8.4), através do uso de derivatives, merece toda uma aula; assim como os fatores determinantes da taxa de cambio e do balango de pagamentos (8.5), inclusive a discusséo de ataque especulativo e/ou bolha especulativa (8.6) Uma quarta aula seria sobre as abordagens econémicas do balango de pagamentos (8.7). 9.A Nona Ligéo refere-se as decisées de politicas macroeconémicas, em economia aberta, e deve ser apresentada também em quatro aulas. Uma primeira mostraria como se faz politica monetaria junto ao mercado de reservas bancarias (9.2) Discutiria a importdncia da politica fiscal (9.3) em uma segunda aula. Apresentaria, entéo, 0 modelo de equilibrio geral em economia aberta e os instrumentos de politica monetaria e fiscal em distintos regimes de cAmbio (9.4) na terceira aula. Informaria, na quarta aula referente a essa Licéo, sobre a nova Teoria do Comércio Internacional (9.5). 10.Finalmente, na Parte VI, conclui-se 0 curso de Introdugao com a Décima Lido, apresentando a Teoria do Circuito Monetario. Em uma Unica aula, pode-se fazer uma breve descricéo das fases estilizadas do circuito monetério (10.1 a 10.4), e em outra, para encerrar, discutir a possibilidade de crise sistémica. 0 estudante adquiriré, ao longo do curso (em 28 aulas e mais duas para avaliagao), com a leitura dessas 10 Ligdes, um conhecimento do funcionamento sistémico da economia, complexo resultante das miltiplas decisées individuais. Em outras palavras, partindo de uma visdo particular de 13 seus interesses imediatos (6tica microeconémica), obteraé uma viséo global, social e coletiva da economia de sua comunidade (6tica macroeconémica). Decisées Precos e Moeda Decisao de fixar a margem de lucro e/ou o prego: Decisdo de carteira e financiamento. Estrutura de mercado. Teorias da firma. Mercado de Ativos e Nivel dos Precos: Conceito de dinheiro. Funcionamento do sistema bancario. Criagao (e multiplicagao) da moeda. Inflagao. Crise financeira. Fundamentos tedricos das Contas Nacionais. Produgao e Emprego Decisao de produzir: Nivel de Emprego e Concepgao classica da diviséo do| Mercado de Trabalho trabalho e da produtividade. Teorias da determinagao do salario. Teoria do valor-trabalho. Teorias do desemprego. Fundamentos neoclassicos para a lei|Funcionamento do mercado de da oferta e da demanda. trabalho ndo-qualificado em uma economia atrasada. Reflexos das transformacées tecnolégicas e econdmico-financeiras recentes no mundo do trabalho. Gastos, Ciclo, Tendéncia do Crescim lento e Desenvolvimento Econémico: Decisao de gastar: Teoria do Consumidor. Determinantes do ciclo de investimentos. Intervengao governamental e superdvit do comércio exterior para recuperacao econémica Determinantes da tendéncia de crescimento em longo prazo. Crescimento e Desenvolvimento Econémico: Teorias do desenvolvimento. Pensamento estruturalista sobre o desenvolvimento. Nova teoria do crescimento endégeno. Abordagem amigavel do mercado. Enfoque neo-schumpeteriano do desenvolvimento. Combinagao da politica monetéria, politica fiscal e regimes cambiais em distintos graus de mobilidade de capital. Relagées internacionais Decisées de Politicas Mercado de Cambio e Macroeconémicas Balango de Pagamentos: em Economia Aberta: Conceitos e definigges da taxa de Politica monetéria. cambio. Politica fiscal. Cobertura do risco do cambio. Fatores determinantes da taxa de cambio ‘Abordagens do balango de pagamentos. Teoria do comércio internacional 14 HUMOR As epigrafes em latim justificam-se por uma razio muito pessoal. No meu colégio, eu pertenci a ultima turma obrigada a aprender rudimentos dessa Jingua morta, Queria me provar esse arduo estudo ter alguma utilidade na minha vida... Utilizei também algumas expressdes de uma certa lingua viva muito falada no mundo. Nas perguntas e respostas, ao final de cada capitulo, as piadas corporativas sio uma espécie de teste: o humor é diretamente proporcional a imers&o no conhecimento da profissdo. Sobre essas piadas a respeito da minha profissdo, 0 que tenho a dizer, em minha defesa, & 0 dito pelos economistas uns dos outros é 0 pensado por mim a respeito de todos. Swift (1667-1745) disse: “a satira é uma espécie de espelho no qual os que o olham, geralmente, descobrem o rosto de todo mundo, menos o seu préprio”. Entendo as satiras aqui expostas como uma auto-ironia. A gente ri dos humoristas porque falta-nos sensibilidade... A piada oportuna é 0 melhor tempero da conversacao. Mas ela & como todo tempero: deve ser usada com moderacéo. Usada de modo devido, descansa a mente fatigada pelos estudos e ocupacdes sérias. Porém, um homem de idgias nunca é sério; sé é quem nao as tem. A fisibilidade € propriedade insepardvel da racionalidade: nenhum animal irracional sabe rir. AGRADECIMENTOS Papai economista tem dificuldade de usar conceitos como maximizagao da fungao utilidade, custo de oportunidade e quejando, para engabelar seus filhos. Face & racionalidade infantil, ndo hd teoria econémica justificadora do fechamento do pai em um escritério, durante seis meses. $6 0 amor filial do Ivo e da Nina Ihes permitiu a tolerancia Mas compreenséo maior teve a Dayse. Sem ela cuidar dos afazeres praticos da nossa vida doméstica, dar-me conforto afetivo, e ainda fazer algumas revisdes, eu nao teria conseguido chegar ao final dessa obra, nos termos e tempo propostos. Agradeco a todos. 15 Por fim, confesso: a gente escreve, apaixonadamente, para se ver através dos olhos do leitor a quem a leitura agrada. OBSERVACAO Este Prefécio foi escrito em julho de 1999, antes do langamento do livro em 2000, ou seja, vinte anos atrés. Resolvi manté-lo em seu conteuido, sé fazendo a reviséo da forma escrita, assim com fiz em todo o livro, adequando-a ao meu estilo aperfeicoado com dez anos de escrita para blog. Campinas, janeiro de 2020 Fernando Nogueira da Costa fercos@eco.unicamp.br PARTE I METODOLOGIA PARA CONHECIMENTO DE ECONOMIA 17 INTRODUGAO “Existem somente os individuos: tudo 0 mais - as nacionalidades e as classes sociais - é mera comodidade intelectual" (Gorge Luis Borges, 1973). © homem nao é nem um dtomo nem um rato de laboratério. Embora, repetidamente, nos sintamos alvos de experiéncias de cientistas sociais, temos algo capaz de nos distinguir das cobaias: a racionalidade individual. Ela nos permite unir com nossos semelhantes e reagir, defensivamente, mudando nosso comportamento coletivo. Quebrada a regularidade da maneira de nés comportarmos, fracassam os testes das leis sociais. Obrigamos os cientistas sociais - entre eles, os economistas - a repensarem, periodicamente, 0 conjunto de atitudes e reagées do individuo em face do meio social. Assim como nada pode surgir do nada, o ambiente socioeconémico resulta de nossos distintos procedimentos. Os cientistas sociais adeptos do individualismo metodolégico consideram nossas condutas individuais como um ponto de partida da mesma forma como os laboratoristas consideram os atomos. A etimologia da palavra 4tomo diz ela derivar do grego, com o sentido de “indivisivel”. E uma coisa pequenissima, insignificante, uma particula minima de matéria, antes considerada impossivel de ser divisivel. Todas as substancias séo formadas de dtomos. Eles podem se agrupar, formando moléculas. Existe, na sociedade, uma infinidade de “atomos” diferentes em termos metaféricos Combinados, eles podem dar origem a corpos sociais os mais diversos. Devemos levantar uma questéio famosa dentro da filosofia das Ciéncias Sociais: a do monismo metodolégico. Existe um método cientifico aplicavel a todas as ciéncias, independentemente de seu campo de estudo? Ou a Ciéncia Social deve empregar uma légica de investigac&o prépria? “Existem muitos cientistas sociais em busca na Filosofia da Ciéncia das melhores maneiras de imitar a Fisica, a 18 Quimica e a Biologia. Porém, também existem alguns convencidos de a ciéncia social possuir uma compreensao intuitiva de seu campo de estudo de alguma forma negada aos cientistas da rea fisica”2. Foi Karl Popper quem anunciou a doutrina do monismo metodolégico: “todas as ciéncias tedricas ou gerais devem usar o mesmo método, sejam ciéncias naturais ou ciéncias sociais”, Ele prescreveu um principio de individualismo metodolégico para as Ciéncias Sociais: “a tarefa da teoria social é construir e analisar cuidadosamente nossos modelos sociolégicos em termos descritivos ou nominalistas; isso quer dizer, em termos de individuos, de suas atitudes, expectativas, relagées, ete."3. O leitor principiante n’o deve se sentir confuso com esse egocentrismo. Por tras do movimento dos dtomos nao ha determinada “inteng3o”. Ao contrario dos agentes econémicos racionais, os dtomos nao tém consciéncia, um atributo altamente desenvolvido na espécie humana. Ele se define por uma oposic&o basica: é 0 atributo pelo qual o homem toma em relagéo ao mundo (e, posteriormente, em relag&o aos chamados estados interiores, subjetivos) aquela distancia tedrica onde cria a possibilidade de niveis mais altos de abstracdo e integracao. Os cientistas sociais buscam o conhecimento com base nesse atributo: a faculdade humana de estabelecer julgamentos morais dos atos realizados, 0 conhecimento imediato da sua prépria atividade psiquica, a racionalizago dos acontecimentos. Os homens tém conhecimento, nogéo, consciéncia de sua atividade social, demonstrada pelo cuidado com o qual executam um trabalho, cumprem um dever, pelo senso de responsabilidade apresentado. Enfim, so virtudes humanas a honradez, a retiddo, a probidade. A consciéncia moral € a faculdade de distinguir 0 bem do mal, da qual resulta o sentimento do dever ou da interdic&o de se praticar determinados atos, e a aprovagéo ou o remorso por havé-los praticado. Porém, a Ciéncia Social pesquisa a consciéncia coletiva: o conjunto de representagées, de sentimentos ou de tendéncias nao explicaveis pela psicologia de cada individuo, mas pelo fato de haver agrupamento social de individuos. Infelizmente, em sociedade, certos individuos podem pér a consciéncia & venda: oferecé-la a quem der a mais alta recompensa.. 19 “Um homem sé satisfaz seu desejo humano quando outro hhomem Ihe reconhece um valor humano. Em outras palavras, 0 homem sé pode manter-se em um plano humano em relacéo com outros homens. A esséncia humana nao pode manifestar- se no individuo isolado, pois 0 individuo sé & propriamente individuo, individuo humano, em comunidade. Nesse trajeto necessdrio da consciéncia individual para a pluralidade de consciéncias, Hegel revela, ainda sob forma idealista, a natureza social do homem. O individuo ndo basta a si mesmo; n&o pode ficar trancado em sua subjetividade individual sem renunciar a sua natureza humana, pois s6 socialmente ele é individuo humano"*. Diante do exposto até aqui, torna-se possivel apresentarmos dois pontos de partida metodolégicos PRINCIPIO DO HOLISMO METODOLOGICO PRINCIPIO DO INDIVIDUALISMO METODOLOGICO > Estabelece as explanacées sobre os fendmenos sociais, politicos ou econémicos somente deverem ser consideradas adequadas se > Postula os conjuntos sociais terem objetivos ou funcdes no possiveis de ser reduzidos as crencas, atitudes e agdes dos individuos tomadores de colocadas em termos de decisdes. crengas, atitudes e decisdes dos individuos. Do lado do holismo, 0 argumento & quando as agdes humanas forem delimitadas e impulsionadas por normas e formarem o campo de estudo da investigacao social, a explanagdo na Ciéncia Social devera ocorrer em termos das motivacées e intencdes de individuos, moldadas por regras e instituicdes. Nesse caso, o tipo de conhecimento apropriado para a investigacao social somente pode ser obtido aprendendo-se essas regras e instituicdes - fatos irredutiveis da sociedade. Do lado do individualismo metodolégico, hd a proposicio segundo a qual os individuos criam todas as instituicdes sociais e, portanto, os fenémenos coletivos séo simplesmente abstragdes 20 hipotéticas, derivadas das decisées de individuos reais. No limite, a dedug&o é todas as concepgées da Sociologia, da Politica e da Economia sdo redutiveis aquelas da Psicologia. Na realidade, é falsa a sensacéo de nossa personalidade individual possuir um nucleo constante, com base no qual se pode generalizar teoricamente. Adotaremos qual proposic&o? Talvez o mais sensato seja aceitar a tarefa principal das ciéncias soci identificar as repercussées sociais involuntarias das agées humanas intencionais. Essa doutrina das consequéncias nao intencionais sugere haver proposicées sobre conjuntos mais além da mera soma de proposigdes acerca das partes constituintes. Este ¢ 0 chamado Sofisma da Composicéo. Por exemplo, em Economia, 0 mecanismo de mercado pode ser visto como a consequéncia social no planejada das interacées das decisdes individuais, impulsionadas por motivos puramente egoistas em busca dos prdéprios interesses. Podem ser inconsistentes entre si e gerar problemas macroeconémicos. Essa postura néo implica nos restringirmos ao estudo dos subprodutos das ages individuais. Devemos também focar as teorias proponentes das melhores tomadas particulares de decisio. Em termos de teoria econémica, néo devemos nem excluir todas as proposigées macroeconémicas nao redutiveis aos seus fundamentos microeconémicos, nem eliminar a andlise das regras, normas e instituigées capazes de conformarem o contexto macroeconémico, dentro do qual se insere a deciséo microeconémica. MICROECONOMIA MACROECONOMIA > Ocupa-se da forma pela qual > Focaliza o comportamento do as unidades individuais componentes da economia agem e reagem umas sobre as outras. Evidencia as A metéfora usual é: “estuda as arvores, mas nao a floresta”. decisdes particulares ex-ante. sistema econémico como um todo. Tem como objeto de estudo as relagdes entre os agregados estatisticos. Enfoca © resultado sist&mico ex-post da pluralidade de decisées particulares. 21 Tal ideia de reparticgo do conhecimento econémico entre microeconomia e macroeconomia distingue os acontecimentos e as situagdes esperadas de ocorrer em um intervalo ainda futuro de tempo, daqueles acontecimentos e as situagdes de fato surgidos no decorrer desse intervalo. Eles s&0 incorporados pela histéria. No primeiro caso, tém-se as expectativas; no segundo, a satisfagdo ou a frustragdo dessas expectativas. APRECIACAO EX ANTE APRECIACAO EX POST > Concepciio do esperado a > Andlise do registrado, quando ocorrer em um segmento de ja decorrido o intervalo de tempo futuro. tempo antes esperado. A microeconomia, portanto, faz um exame “microscépio” da estrutura basica (“celular” ou “atomistica”) da economia. A macroeconomia possui uma abordagem “macroscépica” da constelacdo econémica, apreendendo-a através de seus agregados e aspectos globais sistémicos. Nessa concepcio, a andlise microeconémica focaliza, por exemplo, as preferéncias e a restricéo orgamentaria do consumidor e as decisdes do produtor (firma) sobre 0 que, quanto, como, com que margem de lucro, a que preco e para quem produzir. Ela envolve Teoria do Consumidor, Teoria da Firma, Teoria da Producao, Teoria dos Precos e Teoria da ReparticSo. A andlise macroeconémica verifica os resultados sistémicos das interacdes dessas decisdes. Nesse sentido, analisa o sistema complexo emergente de seus miltiplos componentes interativos. Em Economia, isto é, em Ciéncia Econémica (quando usar mailiscula), sem duvida, essa & uma divisdo artificial da economia (atividade quando usar mintiscula). Pode ser uma fonte de erro na aproximagao da “verdade econémica”. Esta “verdade” estaria mais préxima através do exame do todo, como se propée a visao holista ou holistica, ainda quando, para fins didaticos, seja feita via sucessivas aproximagées. Assim, neste livro, pretendemos romper a rigida linha diviséria entre a Microeconomia e a Macroeconomia, costumeira em livros-texto. Devemos ultrapassar as fronteiras da diviséo de trabalho, buscando uma transdisciplinaridade cientifica. 22 “Os compéndios atendem 4 verdade consagrada, portanto, 4 verdade vendavel, e ndo necessariamente 4 verdade real"5. © que Galbraith critica, particularmente, so os compéndios e ensinos figis & idela de dominio impessoal do reverenciado O Mercado como um deus ou ser sobrenatural por serem pressupostos, religiosa ou ideologicamente, sua onipresenca, onipoténcia e onisciéncia. Evidentemente, hd contradigéo légica entre esses dois Ultimos atributos: quem prevé o futuro perde o poder de o modificar. Uma questéo-chave é: sem a nogdo de mercado, a natureza do processo regulador da economia de mercado nao fica nada clara Sem as transaces de compra-e-venda deixaria de haver uma teoria formalista possivel de ensinar com base na liberdade econémica de iniciativas particulares. Sobraria apenas o planejamento central? As decisdes individuais ex-ante sdo descentralizadas e descoordenadas, em uma economia de mercado, diversamente da intenc&o dos burocratas em uma economia de planejamento central Historicamente, jamais foi alcancada tal meta estapafurdia: controlar todas as decisées individuais Deixou uma licdo histérica importante para a esquerda: sua luta nao é para estatizar todos os meios de produgio e submeter todas as decisdes econémicas a hierarquia burocratica sob um Comité Central. © chamado “centralismo democratico”, dentro de uma “ditadura do proletariado”, é uma contradigdo em seus termos. Leva a um regime totalitério distante da utopia (critica ao mundo real) da igualdade social desejada pela esquerda democratica. Os tomadores de decisdes, sejam empreendedores, sejam burocratas, desconhecem a priori os efeitos dindmicos e defasados de umas decisées sobre as demais. Elas interagem e resultam em um futuro desconhecido e/ou incerto. As informacées sempre serdo incompletas face &s necessdrias para se fazer as escolhas étimas. Os manuais tradicionais e o ensino ortodoxo possuem, ideologicamente, uma profunda afeic&o pelo principio do mercado livre. Nesse caso, desdenham os mecanismos compensatérios, através do governo e dos sindicatos, para quem sofre com a desigualdade da concorréncia. Essas instituigdes so conquistas histéricas da luta social. 23 O interesse comunitério seria, de fato, se ter um preco de mercado, estabelecido em um mercado impessoal com poder de barganha igual para todos participantes. No entanto, como veremos, so os market-makers [fazedores de mercado], com seu poder auto regulamentador, quem estipula os préprios precos. Na realidade, a concorréncia aparece mais na publicidade em lugar de impor pregos, Todos os participantes do mercado buscam um mecanismo de defesa contra a tirania dos precos fixados unilateralmente. A emancipacéo em relacdo ao mercado ocorreria através do controle da prépria renda e/ou de seu preco Como veremos, quando as firmas individualmente possuem certo grau de controle sobre os seus precos, mesmo com a queda da demanda, podemos ndo ter cortes nos precos, mas sim na producio. Surge 0 fendmeno denominado estagflacdo. O controle de presos, permitido pelo poder de mercado de certas firmas oligopolistas ou monopolistas, é fonte de capital para investimentos. “O Mercado” (com artigo definido e maitscula) é uma abstracio, virtual, sem localizag8o precisa. Refere-se 4 compra e 4 venda em geral. E um ente imagindrio ditador de decisdes. Neste compéndio, n&o o trataremos com formalidade, como se fosse uma forca impessoal, justa, ndo sujeita 4 manipulag&o. O realismo nos obriga a constatar as falhas do mercado como mecanismo regulador tornar natural a intervencéo governamental. E uma alternativa aceitavel quer & anarquia quer & exploragdo do mercado. Para seu bom funcionamento, ha necessidade de balizd-lo com instituigdes compensar seus danos sociais. A anédlise microeconémica convencional busca demonstrar a viabilidade da organizagio econémica liberal. Defende: se as livres iniciativas pudessem operar sem qualquer tipo de intervengdo governamental, a racionalidade do homem econémico (maximizador individualista) e do automatismo das forcas de mercado conduziria 0 sistema econémico ao equilibrio e ao ponto de maxima eficiéncia Determinando as condigdes gerais de equilibrio na economia a partir do comportamento dos agentes econémicos individuais, essa teoria microeconémica esté ligada a ideologia do individualismo e do liberalismo. 24 INDIVIDUALISMO LIBERALISMO ECONOMICO > Doutrina explicativa dos fenémenos histéricos ou sociais por meio da acao consciente de individuos, naturalmente livres. A sociedade deve visar, como fim Unico, ao bem particular dos individuos constituintes > Doutrina segundo a qual existe uma ordem natural e de equilibrio para os fenémenos econémicos, sendo esta ordem alcancdvel pelo livre jogo da concorréncia e através da no intervengao do Estado no mercado. dela, e nao da coletividade ou do Estado A palavra liberal assume diferentes conotagdes conforme os paises considerados. Por exemplo, na Inglaterra e na Alemanha, indica um posicionamento de centro, capaz de mediar o conservadorismo e a posicéo progressista. Nos Estados Unidos, expressa um radicalismo de esquerda defensor das liberdades civis das minorias. Na Itdlia, indica os politicos da direita, em busca de apenas manter a livre iniciativa econémica e a propriedade particular. Na realidade, o /iberalismo mostra duas faces e duas estratégias * uma enfatiza a sociedade civil como espaco natural do livre desenvolvimento da individualidade, em oposig&o ao governo; outra vé no Estado, como portador da vontade comum, a garantia politica, em ultima instdncia, da liberdade individual © fato € 0 liberalismo, geralmente, ser confundido com o individualismo ¢/ou o atomismo da doutrina econémica tradicional Esta implicita sua intengdo ideolégica de sugerir “cada individuo receber exatamente o que merece”. Essa meritocracia exigiria compensaco pelo “azar do berco” por politica de cotas para colocar todos em igualdade de condigées na linha-de-partida. Idealmente, seria uma doutrina da responsabilidade individual: através de sua decisdo particular, cada individuo se torna responsavel por sua renda, Tratar-se-ia de uma questo de escolha: analisar a vantagem comparativa dentro de um menu hipotético. Por exemplo, as escolhas (decisées intertemporais) entre custos e beneficios: educagio, no presente, e oferta de trabalho qualificado, no futuro; 25 poupanca, no presente, consumo maior, no futuro; crédito, no presente, juros e amortizacées, no futuro; etc. A questo é: frente a essa pretensa soberania do trabalhador, do consumidor, do devedor, etc. trata-se, de fato, de um problema de opcao ou de falta de opco? Ele é determinante ou determinado? Até aqui, sugerimos n&o acreditarmos nem o homem econémico poder set definide independentemente de seu ambiente social, nem este ambiente social ser, mesmo em teoria, inteiramente criado pela combinagéo de vontades individuais. Os fenémenos sociais ndo se constituem por simples somatério de leis da natureza de cada homem individual Alguns exemplos simples podem ilustrar 0 ponto. A fungao do Estado é defender o interesse da Nacdo como um todo ou os interesses particulares? Naturalmente, se esses ultimos interesses se chocam entre si, a defesa governamental do sistema capitalista pode (e deve) se chocar com interesses privados de diversos capitalistas. Uma verdade para o todo social pode nao ser verdadeira para as partes (e vice-versa). Outro exemplo é retirado das discussdes populares sobre assuntos da Economia: déficit publico, balango de pagamentos, etc. E comum partir da suposicéo de a decisdo econdmica do Estado ou da Nagao dever ser tal qual como é de uma familia, E tipico da demagogia politica, principalmente em época de eleigdo, dizer: - “Vocé, dona-de-casa, a me escutar: a senhora sabe administrar 0 orgamento doméstico; 0 governo deve fazer 0 mesmo, na administrago publica”, Infelizmente, a realidade nao é tao simples: a faléncia pune o déficit orgamentario familiar, mas nao o da Unido e/ou o do balango de pagamentos. O Estado e a Nacdo criam mecanismos de financiamento inacessiveis as familias, Gastos puiblicos podem elevar © nivel de emprego e da renda - e dai a arrecadacio fiscal. Os Estados ndo sdo entes uniformes, coordenados e com uma Unica vontade individual - a do Presidente da Replblica ou a do Primeiro- Ministro. Na realidade, séo constituidos de miltiplos interesses, em seus diversos niveis: federal, estadual, municipal, com seus ministérios, escaldes, secretarias, empresas estatais, etc. 26 Uma situagdo tipica de faldcia da composicéo na vida econémica constitui-se de um quadro no qual o todo resultante de uma mirlade de agées e reacées individuais ganha vida propria e termina contrapondo-se a racionalidade das partes. © exemplo mais citado € 0 da poupanca: se todos os agentes econémicos se abstiverem de consumir, no presente, com 0 objetivo de maximizar 0 consumo, no futuro, esse resultado por certo nao sera alcancado. Isto por que essas decisdes, racionais sob o ponto de vista microeconémico, tém repercuss8o macroeconémica negativa: com 0 corte generalizado de gastos pessoais, cairo as vendas e, com elas, a renda de todos e, portanto, a prépria capacidade de poupar. © instinto de preservag&o do individuo (manter-se vivo) e a perpetuaco da espécie humana (reproduzir a vida) esto na base da Economia. Os imperativos de sobreviver e procriar leva a disputa por recursos escassos e necessdrios ao suprimento das caréncias humanas. O desafio da sobrevivéncia e da reprodug&o impée, para superacao de ameacas e obstaculos, a escolha entre comportamentos e estratégias: pode partir-se para 0 engano, 0 conflito aberto, a cooperacdo, a divisdo de trabalho, etc. Um conhecimento cientifico da Economia pode nos informar das possiveis decisées a serem tomadas, tanto em termos individuais, quanto em termos coletivos. Nao nos diz, exatamente, o que fazer, mas ensina-nos a procurar os custos e os beneficios ndo antevistos pelo senso comum. Nossa razio inata nos da a capacidade de ordenar em diferentes grupos e classes todas nossas impressdes sobre 0 mundo. Contra a boutade do Jorge Luis Borges - ver a epigrafe desta Introdug&o - temos de comemorar a comodidade intelectual de classificar e de trabalhar com as nogées de nacées e classes antagénicas, a fim de revelar nossa histéria social. Buscando relagdes de causa e efeito, referimo-nos a como as coisas acontecem, na economia. Perguntando por que, estamos investigando qual é a intencao o individuo, qual objetivo persegue Quando reconhecemos os comportamentos econémicos comuns, os ordenamos em diferentes grupos ou categorias. As criaturas vivas, no caso, os animais humanos, detém potencialidade de transformacio. Quando encontramos algo dificil de classificar, por exemplo, todas suas capacidades, deparamos com um 27 verdadeiro desafio intelectual. Ha uma série de normas cientificas rigidas, para conclusdes ou provas poderem ser consideradas validas em termos légicos Os homens tém capacidade de perceber o mundo, de se locomover, de pensar, racionalmente. De quais atividades 0 homem precisa para viver? Sugerimos, anteriormente, sem a sociedade nao somos considerados humanos. Na economia da familia, da cidade, do Estado, da Nagao, do mundo, satisfazemos nossas necessidades vitais primérias de alimentac30, mas nao sé. Ha muitas outras, inclusive novas recém-criadas ou ainda a serem criadas. Cada pessoa é um microcosmo dependente do macrocosmo econémico. Necessitamos compreender sua raz&o, a “razéo do mundo econémico”, isto é, a resultante (até certo ponto imprevista) de todas as decisées econémicas. Sabemos a verdade econémica ser, basicamente, subjetiva. N3o ha verdade objetiva, além da razéo humana, por definicéio. Todo conhecimento é conhecimento humano. Da mesma forma, no existe verdade eterna, pois ndo existe uma razdo desvinculada de um tempo. Nao podemos afirmar determinado pensamento estar certo para sempre. Portanto, os dogmas nao sao nossos pontos de partida, Aprender (0 método da) Ciéncia, nos obriga a questionar tudo, inclusive todos argumentos de autoridade. A Ciéncia submete fés, ideologias e doutrinas a alguma racionalidade légica ao testa-las com fatos pelo método observacao- hipétese-experimentacao. Em suma, a familia, a empresa e o Estado sdo forcas econémicas e sociais objetivas. O individu é parte organica de uma comunidade. E impossivel “desligar-se” da sociedade. O Estado vai além da soma de todos os cidaddos. A (macro)economia vai além da justaposicao das vontades individuais dos agentes econémicos. Uma parte jamais compreenderd, isoladamente, 0 todo ao qual pertence Logo, a razéo econémica sé se torna inteligivel na andlise da interag3o dos individuos. 28 ‘A ambicao deste livro é oferecer ao leitor trés estagios rumo a lconscientizagao de si - a autoconsciéncia - na Economia: 1. 0 da raz&o subjetiva: o leitor se conscientiza de suas préprias decisdes econémicas; 2. 0 da razéo objetiva: o leitor atinge um nivel mais elevado de| consciéncia econémica, alcangando uma razéo surgida dal interac&o entre os individuos, através das familias e firmas, no mercado e no Estado; 3. 0 da razdo absoluta: o leitor reflete sobre seu proprio papel social na histéria. Para fechar esta Introducéo, tomemos consciéncia do alerta dado por C. J. Stigler (1911-1991), ganhador do Prémio Nobel de Economia, em 1982: “A enciclopédia aguada como é 0 atual curso de Economia rudimentar em faculdade n&o ensina ao aluno como raciocinar sobre questdes econdmicas”® Este livro constitui um esforco para tentarmos, coletivamente, mudar esse estado de coisas. 29 _ PRIMEIRA LICAO: DECISAO DE ESTUDAR ECONOMIA Quis? Quid? Ubi? Quibus auxilliis? Cur? Quomodo? Quando? [Quem? O que? Onde? Por que meios? Por que? Como? Quando?) - Método para circunstancia a pessoa, 0 fato, o lugar, os meios, os motivos, o modo, o tempo. 1.1, Diélogo autor - - Meu caro leitor... = Por que caro? Caro é vocé, livro. - Este adjetivo vem do latim caru. Significa custar um prego alto, elevado. Mas em relac&o a qual prego? Posso alegar apenas a livraria ter cobrado caro, ou seja, ter pedido um preco mais elevado em relag&o as concorrentes... — Por sua vez, a editora justificaré sua publicag&o exigir grandes despesas, ser dispendiosa. Sei onde isso vai parar: no meu bolso! - Meu autor diz seus conhecimentos terem sido obtidos com grandes sacrificios. No entanto, se alguém me I, é considerado por ele um caro leitor, pois é tide em grande valor ou estima, Todo leitor 6 querido, amado. — Por alto prego devo entender, entdo, em relago aos outros pregos ou & minha renda? - Tanto no referente ao preco relativo quanto comparado ao seu poder aquisitivo real. Sou caro somente se meu prego for mais além do natural, face a seus custos de produco, ou razodvel, de acordo com o mercado... 30 — Essa conversa de economista me confunde, as vezes. Preco natural, preco de mercado, prego relativo, valor nominal, valor real, tudo isso parece demasiado complexo para mim. Até mesmo dialogar contigo, livro. Na verdade, sé saberei se vocé vale o quanto me custou quando eu te ler. A cada pagina te avaliarei, para saber se valera a pena virar para a préxima. Ai, entdo, constatarei se vocé é Util ou no. — De fato, uma corrente de pensamento afirma a atitude subjetiva de 0 comprador em relagdo & mercadoria adquirida ser o problema central em Economia. Em vez de estudar as relacées sociais objetivas surgidas no processo de producéo e de distribuicio das mercadorias, acaba por atentar apenas & atitude subjetiva do homem para com as coisas dirigidas a satisfagdo de suas necessidades. — Vocé esté me sugerindo eu, ao aprender Economia, nao deverei mais me conduzir de acordo como meus préprios interesses?! — Nao, E racional cada um agir dentro do principio da obtengéo da maxima “vantagem econémica”. A chamada “Lei de Gérson” [jogador da selec&o brasileira de futebol, campedo mundial em 1970, disse, em uma propaganda, “gostar de levar vantagem em tudo”, sintetiza muito bem o principio geral, segundo acreditam os economistas ortodoxos, a governar toda a atividade econémica dos homens. Este principio deu origem a imagem idealizada do “homem econémico” [homo economicus]. Esse sujeito abstrato agiria, estritamente, seguindo o desejo de obter a maxima vantagem em dinheiro. - Ent&o, de acordo com esta teoria subjetivista, todo o comportamento humano é governado por um desejo de obter o prazer maximo e 0 desgosto minimo possiveis nas condigdes dadas? Isto 6, minha deciséo de te comprar é uma deciséo econémica? E uma atividade econémica maximizar o beneficio possivel com a posse de bens — no caso, de vocé, livro -, comparado ao custo de sua aquisicao? -— Pode ser surpreendente, mas, sim, isto é verdade, de acordo com essa corrente chamada subjetivista ou utilitarista. Em vez de uma ciéncia das relagdes econémicas entre homens, nasceu uma “Cigncia Econémica” [economics] cujo objeto é a relagdo entre o homem e as coisas. Em vez de uma ciéncia tratando de um certo tipo da atividade humana, surgiu uma ciéncia formal de um certo modo 31 de comportamento de acordo com a “psicologia utilitéria”. A Economia torna-se uma relagio entre o Prazer e a Dor [a calculus of Pleasure and Pain). = Vocé esté me sugerindo, implicitamente, de fato, ser estranho eu estar aqui, dialogando - solitariamente — com vocé, um livro- objeto, Mas, por tras dessa relac&o utilitéria homem-coisa, hé uma relag&o social, Esta deveria ser o verdadeiro objeto de uma Ciéncia Social como pretende ser a Economia? — Este € 0 ponto almejado a chegar. As relagées sociais definem- se como um determinado tipo de reacao repetivel, constantemente, de uns para outros seres humanos, mediante uma atividade continua de dada espécie. Muitas relacdes sociais se estabelecem no decorrer do processo econémico. Distinguem-se das outras espécies de relagdes sociais pelo fato de surgirem por intermédio dos objetos materiais ou servigos capazes de servirem a satisfacio das necessidades humanas. Em outros termos, as coisas, os objetos materiais, desempenham o papel de cimento das relacdes econémicas entre os homens. Posso representar tais relagdes pelo seguinte esquema: homem-coisa-homem. — Bem, se é assim, eu te despeco, pois entendi vocé, livro, ser simplesmente um porta-voz do autor. Para haver, verdadeiramente, um didlogo é necesséria a comunicago entre duas ou mais pessoas; ou uma conversacao, um coléquio. Vocé me mostrou uma obra cientifica poder ter uma forma dialogada, quando se troca ou discute ideias, opinides, conceitos, com vista ao entendimento da Economia e & solugéo de problemas econémicos. De agora em diante, converso diretamente com o autor. Ah! Ai esté voc8. Quais serao as préximas ligdes? — A primeira vocé ja aprendeu. O despertar da consciéncia social 0 primeiro passo para o entendimento da Economia como uma Ciéncia Social. Vocé jé percebeu também haver uma divisio de trabalho entre nds. Este é um tema econédmico. Um dos primeiros explorados por Adam Smith, nos primérdios da Economia Politica, ha mais de dois séculos... — Ei! Vai com calma. Nao vé me contar toda a histéria do pensamento econémico, jpsis literis, de uma vez. Tenho muitas duvidas sobre o presente, para aguardar tanto tempo. Na verdade, 32 quero escolher poucos assuntos, para absorver a ldgica basica do método de pensar na Economia. = Este livro é um lecionario. Lecionar significa explicar em modos de ligdes. Uma licdo é uma forma particular de texto, matéria ou tema ensinado ou explicado pelo professor ao aluno. Aqui, em Introdug&o & Economia, cada uma das 10 ligdes (ou capitulos) corresponde a uma unidade didatica no conjunto da materia, Neste breve curso de Economia, a aprendizagem vira, naturalmente, em doses homeopaticas. O objetivo é proporcionar ao estudante (ou leitor) a légica basica do raciocinio com a qual possa analisar as questdes econémicas enfrentada como cidado. Nesta primeira licdo, estamos abertos as perguntas referentes as dvidas bdsicas a respeito da decisdo de estudar Economia. — Pois bem, vamos I. O que é, exatamente, Economia? O que ela poderé fazer por mim? Basta um conhecimento pratico em Economia? Qualquer um pode entendé-la? Tenho grande dificuldade para entender a Economia: sua terminologia; as explicagdes dos economistas colidindo com a realidade cotidiana; o choque de opinides entre os préprios economistas; as constantes mudangas econémicas... — Agora, sou eu a pedir calma a voc. Cada uma das respostas merece um tépico, neste capitulo. Podemos resumir suas questdes em cinco: 1. O que é Economia? 2. Por que devo estudar Economia? 3. Por que a Economia é hermética? 4. Por que a Economia é controversa? 5. Como devo estudar Economia? 1.2. O que é Economia? — Existem destros e existem canhotos. Em Politica, hé uma disting&o entre a direita e a esquerda. Em Economia... 33 - Desculpe a interrupgdo, mas quais séo as razdes e os significados dessa distingdo? Antes disso, qual é sua origem? — Na revolug&o francesa, a direita referia-se ao grupo parlamentar sentado ao lado direito do presidente da respectiva assembleia. Era, tradicionalmente, constituido por elementos pertencentes aos partidos conservadores. Contrapunha a ele a parte da assembleia a esquerda do presidente. Hoje, quando a maioria é da direita, a oposig&o parlamentar é classificada como da esquerda, Em Cigncias Politicas, 0 conjunto de individuos ou grupos politicos partidérios de uma reforma social ou revolugao socialista compée a esquerda. Entende-se como aco politica aquela cuja finalidade é a formacéo de decisdes coletivas. Uma vez tomadas, elas passam a vincular toda a coletividade. Politica, portanto, é uma ago coletiva. “Esquerda” e “direita” indicam programas contrapostos com relag&o a diversos problemas cuja solugao pertence, habitualmente, & aco politica. Possuem contrastes ndo sé de ideias, mas também de interesses econémicos e de prioridades a respeito da direcdo a ser seguida pela sociedade. Esses contrastes existem em toda sociedade. Alias, n3o h& nada mais ideolégico além das afirmagées: “as ideologias esto mortas” ou “a distingdo entre direita e esquerda desapareceu”. Naturalmente, os jogos de interesses sio muitos. Os diversos blocos, partidos e tendéncias tém entre si convergéncias e divergéncias. So possiveis as mais variadas combinacées de umas com as outras. O maniqueismo é a doutrina fundada em principios opostos, bem e mal, segundo a qual o Universo foi criado e é dominado por dois principios antagénicos e irredutiveis: 0 bem absoluto ou Deus, e 0 mal absoluto ou o Diabo. Ele nao permite a forma adequada de se encarar essa distingdo politica: quem nao é de direita é de esquerda - ou vice-versa. O Pensamento Preto ou Branco é um mau argumento em debates. — De fato, entre a escuridéo e a luz, existe a penumbra. Entre o preto e o branco, ndo existe apenas o cinza, mas sim um arco-iris de coloragdes politica... — As posigées “progressista” e “reaciondria” nao constituem monopélios permanentes. A reacdo, defensora de um sistema politico 34 extremamente conservador, contrdrio as ideias provocadoras de importantes transformagées politico-sociais, muda de defensores. Com 0 tempo, o que antes era popular, avancado e democratico pode se tornar populista, retrégrado e corporativo ou totalitario. Mas “direita” e “esquerda”, argumenta Norberto Bobbio7, continuam a servir como pontos de referéncia indispensdveis. Esse filésofo italiano contemporaneo levanta quais so os critérios para se dizer alguém ser de direita ou de esquerda. Parte da constatagéo de os homens, por um lado, deverem ter todos os mesmos direitos e deveres; de outro, cada individuo é diferente dos demais. Quem considera mais importante, para a boa convivéncia humana, aquilo comum capaz de unir todos em uma coletividade democratica, esta na margem esquerda; quem acha relevante, para a melhor convivéncia humana, a diversidade e/ou a competitividade, se situa na margem direita. ESQUERDA DIREITA Sao de esquerda as pessoas em A direita insiste na conviccio de defesa da eliminacdo das as desigualdades serem naturais desigualdades sociais. e, enquanto tal, nao eliminaveis. Entre os economistas, néo ha porque descartar a disting&o politica entre direita e esquerda, Uma moeda possui duas faces, embora “cara” e “coroa” se alternem... Hora uma esté por cima, hora outra. Mas had também dubiedade entre os economistas: “coracdo” (emogao) a esquerda e “cabeca” (razao) a direita. - O que faz um economista ser classificado como da “direita”? — Ha diversas explicagdes convencionais, mais empiricas em vez de cientificas, entre as quais ganha destaque a direita a ideia de se tratar de uma adaptacdo ao ambiente competitivo profissional ou de um conservadorismo de posigées conquistadas. Estas dependeriam de ambiggo ou de se acreditar superior aos outros, em uma sociedade de competicao entre desiguais. 35 ESQUERDA ECONOMICA DIREITA ECONOMICA Prioriza a proteg&o contra a competic&o social. Na escolha entre a competitividade e a solidariedade, prioriza esta Confia nas desigualdades sociais poderem ser diminuidas se criar ambiente de competicao para todos; minimiza a protecao social ultima. e maximiza o esforco individual. Em Economia, define uma posig&o de direita a idéia de a vida em sociedade reproduzir a vida natural, com sua violéncia, hierarquia e eficiéncia. Se os homens so seres biolégicos desiguais, devem submeter-se a lei do darwinismo social. — Asociedade mercantil ndo faz uma selecdio, neste caso “social”, entre os individuos capazes de se desenvolver e aqueles possiveis de apenas sobreviver? — Aregra de ouro da direita econémica é: quem melhor se adapta ao meio ambiente econémico enriquece, inclusive dando continuidade a sua dinastia. © homem de direita, acima de tudo, preocupa-se com a defesa da tradic&o e da heranca. Uma atitude de esquerda pressupée a condicéo humana ser fundada pela negacao da heranca natural. A sociedade se desenvolve ao se opor as forcas cegas da natureza, assim como nao permite a sociedade se incrustar no livre-mercado como este fosse a livre natureza, Quem acredita na esséncia humana ser essencialmente egoista e imutavel é de direita, mesmo sem ter consciéncia disso. Hirschman aponta, na retérica da intransigéncia, trés teses reacionérias principais. “De acordo com a tese da perversidade, qualquer acdo proposital para melhorar um aspecto da ordem econémica, social ou politica sé serve para exacerbar a situacéo a se remediar. A tese da futilidade sustenta as tentativas de transformac&o social serem infrutiferas, simplesmente nao conseguem, ao fim e ao cabo, ‘deixar uma marca’. Finalmente, a tese da ameaca argumenta o custo da reforma ou mudanga proposta ser alto demais, pois coloca em perigo outra preciosa realizacao" ®. A Utopia - pais imaginério, criag&o literaria de Thomas Morus, escritor inglés (1480-1535), onde um governo, organizado da melhor 36 maneira, proporciona dtimas condicées de vida a um povo equilibrado e feliz — trata da descrigéo ou representagdo de qualquer lugar ou situacdo ideais nas quais vigorem normas e/ou instituigdes politicas altamente aperfeicoadas. Esse projeto irrealizdvel, parecendo ser uma quimera ou uma fantasia, serve como um contraste critico & realidade. A idealizagao de uma sociedade perfeita sempre foi arma de luta contra a desigualdade da sociedade real. — Entendi. Na Economia, assim como na Politica, existem duas visées basicas: a da direita e a da esquerda. — N&o. O mundo n&o é assim t&o cartesiano. Ndo se deve considerar um fenémeno isolando-o, radicalmente, da totalidade onde aparece. O justo é nao atribuir uma relagdo de determinacdo necesséria, e mais ou menos direta, entre Economia e Politica. Deve- se refutar uma interpretacdo determinista da relacéo entre o pensamento teérico econdmico e a pratica politica - 0 chamado “economicismo’. A andlise politica no pode ser simplista ao extremo de reduzir as contradigées existentes entre os diversos interesses econémicos a uma bipolaridade Ha economistas imaginando escamotear sua incompeténcia na anélise econémica propriamente dita reduzindo tudo ao bordao: “isto uma questo politica’... A pensa estar isento de se posicionar com um diagnéstico e uma terapia a respeito de problemas econémicos cruciais. Quando opinam, o fazem com um simplismo atroz, abusando do senso comum ou com excessivo voluntarismo. = O que significa 0 determinismo? - 0 determinismo propée uma relacéo entre os fendmenos pela qual estes se acham ligados de modo tao rigoroso a ponto de, em um dado momento, todo fendmeno estar completamente condicionado pelos precedentes. Ele acompanha e condiciona com o mesmo rigor 05 0 fenémeno seguinte. Se for relacionado a fenémenos naturais, o determinismo constitui 0 principio da ciéncia experimental, pois fundamenta a possibilidade de busca de relacgées causais estdéveis entre os fenémenos. Mas, se a referéncia é a agdes humanas e a decisdes da vontade, entra em conflito com a possibilidade da liberdade. 37 As razées técnico-naturais néo devem ser encaradas com fatalismo, como se condigdes politicas distintas ndo criassem outras possibilidades. Aquelas razdes n&o séo condicionadas a politicas inevitavei — E quanto ao fatalismo, é a mesma coisa? = 0 fatalismo corresponde & atitude ou & doutrina a admitir curso da vida humana estar, em graus e sentidos diversos, previamente fixado por um ser sobrenatural. Se o futuro estiver predestinado, a vontade ou a inteligéncia humana se torna impotente para dirigi-lo ou alterd-lo. — Isso tudo é muito esclarecedor. $6 n&o consigo entender qual é a relacdo com a definic&io de Economia — Chegaremos Ié. Queremos sugerir, como jé vimos, haver duas abordagens basicas da Economia, embora se possa falar de varias derivagées. S80 pontos-de-partida metodolégicos. Ndo impéem, necessariamente, um posicionamento politico. ABORDAGEM CLASSICA DA ECONOMIA POLITICA ABORDAGEM NEOCLASSICA DA ECONOMIA PURA Da énfase as relagGes sociais estabelecidas entre os homens, em suas atividades econémicas. Enfatiza a capacidade humana de fazer escolhas, em face da miltiplos fins e de diversos meios para alcangé-los. Nesta concepco de Economia Pura, qualquer escolha feita por um agente econémico quanto a alocagao de recursos (escassos face a todos fins almejados) implica uma relacéo entre custos (os meios empregados) e beneficios (os fins alcangados). Considera-se também, nessa decisdo, a ocorr€ncia de custos de oportunidade, isto &, a perda de outras possibilidades possiveis de serem alcancadas, com os mesmos recursos, mas perdidas ao fazer outra escolha. - De onde vem essa denominac&o: Economia Politica? — Vale a pena ler as seguintes observacées de Oskar Lange sobre a histéria da denominag&o Economia Politica. 38 “O termo ‘Economia’ provém de Aristételes. Designa a ciéncia das leis da Economia Doméstica. Em grego, dikos quer dizer casa e nomos, lei. A expressdo “Economia Politica’ comegou a ser usada no principio do século XVII. Foi Montchrétien quem a introduziu, para publicar, em 1615, um livro intitulado Traité de I’Economie Politique [Tratado de Economia Politica]. O adjetivo ‘politica’ devia indicar se tratar de leis da economia do Estado. Montchrétien ocupava-se, com efeito, em seu livro, principalmente das questées das Finangas Publicas. Posteriormente, a denominagéo ‘Economia Politica” generalizou-se para designar as pesquisas consagradas aos problemas da atividade econémica social. O termo grego politikos é sinénimo de ‘social’ (por exemplo, Aristdteles definiu 0 homem como sendo um ‘animal social’: zoon politikon). Daf considerarmos as expressées ‘Economia Politica “ e ‘Economia Social’ como sinénimos, embora esta ultima exprima melhor o verdadeiro contetdo desta ciéncia” 8. Depois Alfred Marshall (1842-1924) intitulou seu livro, publicado em 1890, de Principles of Economics [Principios de Economia]. Entdo, o termo “Economia” passou a ser usado, crescentemente, nos paises anglo-saxées. Hoje, 0 termo “Economia Politica” € empregado quase exclusivamente na literatura de esquerda. Ela contrapde a “Economia Politica” das escolas de pensamento econémico classica e marxista & “Ciancia Econémica” universitdria contemporanea. = Os seguidores da Economia Politica séo “estatizantes” e os da Ciéncia Econémica, defensores da iniciativa privada? - Nada pode ser mais simplista em lugar dessa dicotomia ideolégica entre Economia Politica e Economia (Pura) de acordo com o intervencionismo estatal. A primeira como representante da defesa de uma economia com o governo agindo, discricionariamente, e a segunda, por contraste, defendendo uma economia sem governo intervindo, ou seja, com autorregulacéo do mercado. Na histéria do pensamento econémico, como veremos mais adiante, a concepcéio cléssica da Economia Politica, desenvolve-se na 22 metade do século XVIII, a partir da abertura liberal contra as amarras do mercantilismo. Esta doutrina econémica caracteriza o periodo histérico da Revolucéo Comercial (séculos XVI-XVIII), marcado pela desintegracio do feudalismo, pela formacdo dos 39 Estados Nacionais e por um comércio exterior de cardter protecionista. A Economia Politica liberta-se, ent&o, da subjugacdo do atendimento apenas aos objetivos politicos do Estado sob a Monarquia Absolutista, exceto na Inglaterra j4 com Monarquia Parlamentarista ou Constitucionalista desde o fim de sua longa guerra civil em 1788. Laissez-faire, laissez-passer [deixe fazer, deixe passar] é a palavra de ordem do fiberalismo econémico, proclamando a mais absoluta liberdade de produc&o e comercializaco de mercadorias. Na época, a politica do /aissez-faire representava os interesses econémicos da burguesia inglesa. Esta estava na vanguarda da revolugdo industrial e necessitava de mercados para seus produtos. Essa politica opunha-se as prdticas corporativistas e mercantilistas impeditivas da produgdo em larga escala e em resguardo dos dominios coloniais. Com 0 desenvolvimento capitalista, © laissez-faire evoluiu para o liberalismo apenas econémico, denominado atualmente neoliberalismo. Este condena toda intervengo do Estado na economia, exceto em épocas de crise, quando algumas protecdes, favores particulares e subsidios sao até muito bem-vindos... A partir de entdo, a investigacéo econémica incide sobre cada um dos aspectos da atividade econémica, da formagao de riquezas & sua distribuigdo. Esse é 0 objeto de An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealh of Nations [Investigago sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nagées] de Adam Smith [1723-1790], obra prima publicada em 1776, ano da Independéncia dos Estados Unidos. - Defina para mim alguns conceitos econémicos ja aparecendo, para eu néo ficar confuso e os recordar facilmente BENS Os meios materiais para satisfazer as necessidades humanas. SERVICOS _| Produtos da atividade humana, embora sem assumirem a forma de bens materiais, capazes de satisfazerem necessidades. Exigem a presenga do produtor no ato de consumo. 40 PRODUCAO. A atividade humana consistente em adaptar os recursos (matérias-primas, maquinas e equipamentos) e as forcas da natureza transformadas em energia para criar bens. DISTRIBUIGAO | Modo como se processa a reparticao da riqueza e dos bens socialmente produzidos entre os membros da sociedade. Depende diretamente da organizac&o da produgao e da forma de propriedade vigente. A leitura dos autores classicos é exigéncia da uma boa formacao de economista. © conhecimento da concepgao de Economia Politica, por parte de David Ricardo (1772-1823), em seu On the Principles of Political Economy and Taxation [Principios de Economia Politica e Tributacéio], publicado em 1817, é fundamental. Nela, fica clara a @nfase classista. O conflito distributivista nao era escamoteado, na Economia Politica classica. “0 produto da terra - tudo aquilo obtido de sua superficie pela aplicago combinada de trabalho, maquinaria e capital - se divide entre trés classes da sociedade, a saber: 0 proprietario da terra, 0 dono do capital necessdrio para seu cultivo e os trabalhadores cujos esforcos séo empregados no seu cultivo. Em diferentes estégios da sociedade, no entanto, as proporcées do produto total da terra destinadas a cada uma dessas classes, sob os nomes de renda, lucro e saldrio, seréo essencialmente diferentes, 0 que dependeré principalmente da fertilidade do solo, da acumulagao de capital de populacao, e da habilidade, a engenhosidade e dos instrumentos empregados na agricultura. Determinar as leis reguladoras dessa distribuicéo & a principal quest&o da Economia Politica” 10. Na transigSo dos séculos XIX-XX, uma outra linha conceitual ~ classificada como neocldssica - centra sua atencdo no pressuposto ideolégico da economia de mercado ter a capacidade de atender as aspiracées humanas e a satisfacao de suas necessidades materiais. A Economia passa a ser vista, pela tradic&io neoclassica, como a ciéncia em busca da melhor maneira de utilizar os meios escassos asseguradores do grau maximo de realizag&o do fim escolhido pela atividade humana. 41 “Por forga desta transformagéo da prépria natureza da Economia Politica, esta deixa de ser uma ciéncia empirica, tratando de certos fenémenos reais, e torna-se uma ‘légica da escolha‘ formal, na qual o critério da verdade das afirmagées é, tal como na Légica e na Matemética, a Unica ndo contradicao entre os axiomas escolhidos. Aplicada a atividade humana real, uma tal ‘Iégica da escolha’ & empiricamente verdadeira na medida em que a atividade & conforme o principio econémico [de maximizacéo]” ". A tradigéio neoclassica - composta de varias correntes do pensamento econémico com diferentes hipéteses analiticas - se caracteriza por dois principios basicos: 1. em uma economia de mercado, os agentes econémicos tomam decisdes independentemente de qualquer coordenacio ex-ante, ou seja, ndo hd nem uma divis&o de trabalho determinista, nem um planejamento central, porque se trata de um processo decisério descentralizado; 2. cada agente toma suas decisdes tendo em vista seus interesses, preferéncias e restricdes, inclusive orcamentérias, dadas suas expectativas sobre o futuro e sobre o que espera que os demais agentes irdo fazer. Ao contrario do proposto pelo individualismo metodolégico, o primeiro principio ndo exclui a possibilidade de as decisdes individuais serem influenciadas, ou mesmo determinadas, socialmente’?. A escolha individual depende das instituigdes existentes. Além disso, hd externalidades e interdependéncias de decisées estratégicas: as de um agente pode depender das dos demais agentes. 0 que é melhor para cada agente fazer depende do que ele espera que os demais irdo fazer. © estudo da interacéo das decisdes individuais requer a| lespecificacio de diversos elementos, entre os quais se destacam ll. quais siio as opgdes para cada agente; 2. qual é a sequéncia das decisdes tomadas pelos agentes; 3. quais so as relagdes de preferéncia de cada agente; 42 4. quais séo as consequéncias, para cada agente, de cada| conjunto possivel de decisdes tomadas por todos os individuos,| incluindo regras de consequéncias a posteriori; 5. quais restrigdes séo impostas, nas expectativas dos agentes, sobre como os demais individuos tomam suas decisdes e sobre| as varidveis agregadas, inclusive precos relativos, ou seja, al relag&o estabelecida entre os diversos pares de precos; 6. quais instituicédes existem, definindo os limites das acdes| individuais; 7. como cada agente escolhe. — Para os primeiros autores neocléssicos, qual seria a solucdo desse modelo? — Através de um vetor de pregos e quantidades em torno do qual os precos e as quantidades de mercado gravitariam ao longo do tempo. Sugeriam, entdo, a nogo de ponto de repouso. A ideia basica do modelo de equilibrio geral de Leon Walras (1834-1910), em sua principal obra - Elements d ‘Economie Politique Pure [Elementos de Economia Politica Pura] - &, a um preco apropriado, as quantidades totais demandadas serem iguais as quantidades totais ofertadas, Os pregos sustentdveis de equilibrio seriam descobertos via mercado. Este constituiria 0 meio pratico de resolver o sistema de intengées condicionais dos participantes. Esta teoria do equilibrio enfatiza a interdependéncia dos fatos econémicos, ao substituir a nogéo de causa (unilateral) pela de fung&o (reciproca). © equilibrio seria a compatibilizagéo mutua dos planos| individuais entre sie com os recursos produtivos disponiveis. Em um processo de tateio [tétonnements], sequencial e recorrente, as reconciliagdes de acgées se dariam através do mecanismo de contratagdes virtuais sucessivas. A figura metaférica do “leiloeiro walrasiano” possui o papel de promover o reajuste de pregos relativos com base em contratos virtuais, realizados com base no prix crié - 0 prego apregoado -, em leildo. A hipdtese do modelo de equilibrio geral era os resultados observados corresponderem ao 43 planejado ser feito pelos agentes, individualmente, sem receberem comando, tomando decisdes descentralizadas e/ou descoordenadas. © equilibrio seria uma situacdo idealizada onde os agentes teriam confirmadas suas expectativas. Revelaria a consisténcia de cada individuo com seu contexto, tanto com seus recursos, quanto com outros agentes. Para os neo-walrasianos, as informagées dadas pelo contexto so divulgadas via “vetor pregos”. O modelo de equilibrio geral, através de variaces dos precos relativos, iguala a demanda a oferta em todos os mercados, resolvendo o problema de coordenacéio, ex- post, em economias descentralizadas, via livre mercado. Nao adota uma coordenacéo das expectativas dos agentes ex-ante, pois seria contraditério com a natureza descoordenada, antagénica ou nao cooperativa, das situagdes estudadas. — Enos modelos neoclassicos recentes, qual é a solugdo do modelo? — Euma trajetéria capaz de descrever o comportamento do vetor de precos e de quantidades ao longo do tempo". Atualmente, os neoclassicos mostram, essencialmente, qualquer dinémica ser compativel com os modelos de equilibrio geral com infinitos periodos. Caso haja incerteza, a solucdo do modelo é 0 conjunto das trajetérias possiveis. Tudo pode acontecer. Entretanto, a teoria tem de colocar restrigbes sobre o possivel de acontecer, sendo torna-se irrelevante, ndo produzindo conhecimento, Na concepgao neoclassica, nao ha teoria com poder de reproduzir 0 mundo tal como de fato ele é. Ela o desconhece, tudo possivel de se afirmar, teoricamente, é submetida & prova contra factual. Assim, & a teoria idealizada propde a interpretacdo do mundo. Cabe testé-la, cientificamente, para desmenti-la. Teoria deve propor previsées possiveis de (e necessariamente) ser desmentidas por fatos e dados. Demandar realismo das hipéteses abstratas supde a teoria descrever 0 que é a realidade. Esta descricio seria um absurdo metodoldgico sem sentido racional ou analitico. 44 Dentro da tradigéo neoclassica, toda analise tedrica é contra factual (sujeita a teste para ser falseada), ou seja, é uma abstracdo Obviamente, n&o reproduz o mundo real. Ha impossibilidade de avaliar o “realismo” da teoria ou de suas hipéteses. Toda teoria pode ser avaliada apenas segundo sua capacidade de previsao. Esta antecipa o que deve ocorrer e pode ser verificada, desmentida pelos fatos a serem observados. Uma explicagao no pode ser equivocada face a outra ao ser comparada. Para qualquer sequéncia de fatos, hd uma quantidade imensa de explicagées possiveis de serem feitas - e a serem testadas. - Como prosseguir na andlise, quando a previséo, nascida da teoria, é rejeitada, empiricamente? - Este é um dos problemas dessa abordagem neoclassica. Hd também um problema de inconsisténcia légica, pois, para testar o sucesso empirico da teoria se requer uma teoria. Conclui-se a tradig&o neoclassica compor-se apenas de um conjunto de procedimentos. Eles estabelecem regras para novas pesquisas, propondo novos modelos. Estes, quando aplicados, nao reduzem o grau de falseamento da teoria. Supostamente, confere um cardter cientifico, segundo a metodologia do positivismo légico, associando a tradicao empirista ao formalismo Iégico matematico™. Utiliza informagées estatisticas para enunciar as leis regentes das relagdes do processo econémico e fazer da Economia uma ciéncia experimental. A abordagem neoclassica aponta as seguintes vantagens da) jandlise formalizada: 1. aponta necessidade de hipdéteses nao percebidas pela anilise| verbal; 2. aponta novas dreas de pesquisas; 3. ilumina consequéncias inesperadas das hipéteses, as vezes| Imostrando a hipdtese ser mais restritiva face ao sugerido pelo largumento intuitivo; 45 4. revela relagdes de causalidade inesperadas - a teoria| neoclassica contemporanea para mostrar relacdes de causalidade, Indo para demonstrar, necessariamente, o equilibrio geral. - Ei, esperem-me! J4 estou com dificuldade de acompanhar o raciocinio neoclassico, Se a Economia for isso, desisto! - Eu também ja teria desistido desse conhecimento, se ele se reduzisse aos modelos formalizados de previsdes estéreis. Acredito também a evasdo de alunos dos cursos de Economia e 0 numero de formados em Economia néo exercendo a profissdo seriam muito maiores, se esse fosse 0 Unico objeto préprio da reflexdo, nessa drea de conhecimento. — Endo é assim? - Felizmente, existem esses dois objetos de conhecimento, ja citados (Economia Politica e Economia Pura), cada qual apresentando implicagdes distintas a respeito 4 abordagem e ao modo de tratar os temas econémicos. Vamos retomé-los, de maneira comparativa. Um enfoque vamos denominar, a partir de agora, de Ciéncia Econémica ortodoxa. Nele, a meta basica de reflexéio do economista é estudar todos os fenémenos relacionados com a escassez, Estd diretamente relacionada com o conceito de opgao entre alternativas. © estudo de Economia deve dizer a respeito de como realizar| lop¢ées segundo critérios ou procedimentos cientificos, na concepcao| tradicional da Ciéncia Econémica. Em outra perspectiva, chamada, anteriormente, de Economia Politica e, atualmente, classificada como “heterodoxa’, 0 objeto préprio da reflexdo do economista é 0 estudo das leis sociais regentes dos processos de producio e reparticio dos bens e servigos, além dos aspectos financeiros, ou seja, envolvendo também o estudo da circulag&o financeira do excedente gerado na producio, bem como sua acumulago sob forma de riqueza. Os modos como as sociedades, em diversas etapas histéricas, se organizam (ou se coordenam), para resolver os problemas da lproduc3o, da distribuicéo, do consumo, do investimento, do inanciamento, etc., € 0 objeto de reflexéo dessa linha de lpensamento, classificada como Economia Politica. 46 Esses dois pontos-de-vista metodolégicos partem de verdades: 1, ha escassez relativa de bens e servicos; 2. ha produgdo e distribuig&o social deles No entanto, eles no s&o compativeis. Em primeiro lugar, devido ao distinto nivel de abstracéo. Como a escassez sempre se manifestou, ocorrendo em todas as épocas e economias, ela pode ser tratada como um conceito nao-histérico. Em outros termos, a Ciéncia Econémica poderia se pretender universal e atemporal, isto é, a partir dos fenémenos de escassez e de opcio se elabora um sistema de proposigdes teéricas e procedimentos cientificos aplicéveis a qualquer tempo e em qualquer lugar. Sé nesse nivel de abstracdo seria possivel a generalizag3o Em Economia Politica, refere-se sempre a um tempo histérico definido, em determinada formag8o social. As leis da Economia Politica tem vigéncia definida no espacgo e no tempo. Dentro dessa perspectiva histérico-institucionalista, a Economia nao pode pretender construir teorias universais - abrangentes de todos os periodos e os lugares. Em segundo lugar, a incompatibilidade advém de diferentes recortes da realidade. Cada linha de pensamento executa um distinto do outro. Qualquer procedimento analitico é uma operacéo de partic&o, de fracionamento em seus elementos constituintes. Toma-se um todo e o reparte, para obter uma colecao de partes. O professor Carlos Lessa, em uma aula famosa, dada aos seus alunos nos anos 70, usou um exemplo que vale a pena repetir, para ilustrar uma operagao analitica, cujo objeto é uma vaca. “Reparem bem, nos n3o vamos analisar a vaca em geral, nos vamos tomar uma determinada vaca, nascida em data e lugar especifico. Tomem esta vaca, por exemplo, a Madalena, e vamos analisd-la. Agora vamos colocad-la em méos de dois analistas: 0 primeiro analista é um agougueiro. O que ele vai fazer com a vaca? Vai maté-la. Retira a carne de 14, a de 22 e a de 32, retira as visceras, 0 couro, a cabega com os chifres para emoldurar, etc., ou seja, desmembra aquele todo em uma colegao de partes. Agora, se essa mesma vaca tivesse de ser dissecada por um outro analista, um professor da escola de 47 Veterindria, 0 que ele faria? Ele vai utilizar a vaca para uma lig de anatomia. Logo, mata a vaca da mesma maneira. Mas, a partir dai, vai desmembré-la com critérios distintos: primeiro, o sistema neurovegetativo; depois, o sistema circulatério, etc. No final, teria uma outra colecéo de partes. Em primeiro lugar, qual € 0 denominador comum dos dois analistas? Ambos assassinaram o todo. Segundo dado comum as duas situagées: & impossivel reconstruir Madalena, a partir das duas colegées de partes. O que aconteceu? O primeiro analista, 0 agougueiro, e 0 segundo, o professor de anatomia, ao desmembrarem a vaca obtiveram, nao elementos, mas partes sem as conexées com as demais e com o todo. Mas 0 que, realmente, diferencia um analista do outro é o primeiro ter critérios de particéo diferentes do critério de partiggo do segundo. Generalizando mais, poderiamos dizer existirem indmeras colecées de partes obtidas a partir de um todo, Madalena”. Toda andlise econémica é uma operacdo de particio, mas de ideias. A operacdo analitica se dé com um objeto idealizado. A colegdo de partes obtidas pelo analista so conceitos. Mas esse objeto colocado sob andlise admite, da mesma maneira feita 2 Madalena, inGimeros modos de partico, No entanto, existem critérios implicitos ou explicitos por tras dos conjuntos de conceitos econdmicos. Dependendo dos critérios escolhidos, teremos uma determinada colecéo de conceitos. Dependendo dos conceitos tomados, podemos demonstrar qualquer coisa, mas nao ressuscitaremos a Madalena (0 todo). 0 professor Carlos Lessa encerrou, assim, seu argumento: “Houve um grego que disse 0 seguinte: — Deem-me uma alavanca e um ponto de apoio, af eu desloco 0 mundo. Com a teoria econémica acontece 0 seguinte: - Deem-me a possibilidade de manter oculto meu critério de partic&o, af eu demonstro qualquer coisa”... - Gostei dessa historia da Madalena. Poderia contar outra? = Para continuarmos nessa linha de pecuarista, podemos contar aquela piada de economista neoliberal capaz de distinguir os modos de produgao e regimes politicos contemporaneos. Com ela, 48 ilustramos, de maneira bem-humorada, a perspectiva histérica da Economia Politica. SOCIALISMO | Vocé tem duas vacas. O Estado toma uma e adda alguém. COMUNISMO | Vocé tem duas vacas. O Estado toma as duas e te dé o leite. FASCISMO | Vocé tem duas vacas. O Estado toma as duas e te vende 0 leite. NAZISMO | Vocé tem duas vacas. O Estado toma as duas e te mata. BUROCRACIA | Vocé tem duas vacas. O Estado toma as duas, mata uma e desperdica o leite, no sistema de racionamento. CAPITALISMO | Vocé tem duas vacas. Vocé vende uma e compra um touro. Voltando & questo do nivel de abstracdo, tenta-se baixd-lo a cada nova varidvel introduzida em uma relacdo funcional, porém nunca se acerca do real, pois caso acontecesse ter-se-ia uma funcao com infinitas varidveis. Todas as construgées analiticas estéo em um determinado nivel de abstragdo e néo podem ser operacionalizadas em nivel diferente, sem mediagdes de novos elementos, sendo resulta em perda de foco. Portanto, as relacdes funcionais da Ciéncia Econémica sé séo plenamente validas em um mundo idealizado, com as abstragdes feitas pelo tedrico da Economia. A Ciéncia Econémica faz abstrag&o das relagdes sociais (Sociologia), da estrutura de poder (Politica), do espaco (Geografia), de tempo (Histéria). © pensamento econdmico abstrato elimina, portanto, contribuigdes de outras Ciéncias Sociais. Esse procedimento analitico é, necessariamente, um processo de particéo - um recorte da realidade. Substitui-se um processo social vivo, cheio de inter-relagdes, por uma bateria de conceitos abstratos, para o teorizar. Como vimos, esse procedimento, na perspectiva da Ciéncia Econémica, estabelece funges ou relagdes de causalidade entre varidveis econdmicas: o 49 comportamento da varidvel dependente como efeito da varidvel independente. Se 0 economista tiver toda sua formagao repousando apenas em recepsao e transmisso desses modelos analiticos ortodoxos, ele vai ficar equipado apenas com uma légica formal. Desconhecerd as dimensdes mais pertinentes ao préprio problema a se enfrentar. Na perspectiva da Economia Politica, reconhece-se de saida a historicidade de seu campo de reflexdo. Admite-se tratar de um objeto representativo de uma totalidade em mutacéo. © instrumento Iégico disponivel para aprender 0 processo de transformacao é a chamada dialética. A tensdo entre ser e nao ser & resolvida pelo conceito de transformar-se. Como a realidade esta impregnada de opostos e contradicées, um processo de descrigo da transformaco real tem, necessariamente, de ser carregada de opostos e de contradicées. Geralmente, um pensamento surge com base em outros formulados anteriormente. Uma vez formulado, porém, 0 novo pensamento seré criticado por um outro. A tensdo surgida desses pensamentos opostos é superada quando um terceiro pensamento é formulado, incorporando o que havia de melhor nos dois pontos de vista precedentes. Assim, na evolucao dialética, uma proposic&o inicial é chamada de posicéo, Logo surge outra capaz de se opor a primeira, chamada de negagdo. Ambas est&o certas em alguns pontos e enganadas em outros. Uma articulagéo entre os dois pontos de vista opostos é chamada de negacSo da negacdo. Esses trés estagios do conhecimento também so chamados de tese, antitese e sintese. A dialética entra em confronto direto com as hipéteses da légica formal, porque esta estabelece uma antecedéncia entre varidveis imutavel, S80 os conceitos articulados em relagdes funcionais explicativas das variagdes. Em uma perspectiva dialética, admite-se exatamente o inverso. Uma hipétese se transforma em ponto de partida para nova cadeia tripartite de pensamento - também chamada de triade -, onde a sintese se transforma em tese. A esta segue-se uma nova antitese. A volta é a continuag’o da ida 50 Para abordar “o existente em transformacées”, através de determinados conceitos, a Economia Politica faz a operac&o de critica. Esta a inversa da operacdo de andlise. A critica é reconstruir as ligagdes de uma parte com o todo na qual ela esta inserida. Busca reconstruir as conexées mantidas pelos conceitos econémicos com os das demais Ciéncias Sociais - outro conjunto de conhecimento. As linhas demarcatérias entre Ciéncias Sociais sao artificiais. Na verdade, todas elas estudam influéncias no comportamento e/ou o resultado socioeconémico. © economista, de acordo com a tradicao da Economia Politica, no deve excluir 0 conhecimento dessas outras Ciéncias. Uma economia apresenta um conjunto de caracteristicas porque chegou ao seu estado atual por seu passado resultar em seu presente. Em Economia Politica, tenta-se explicar com a dindmica do passado a configuragao do presente. A causac&o ldgica da evolucdo anterior dessa sociedade explica seu presente. Essa interpretacdo da histéria pde em evidéncia a existéncia de grupos sociais, a estrutura de poder, a presenca da economia do pais dentro de um contexto mundial, etc. Enfim, entra tudo aquilo abstraido tradicionalmente pela Ciéncia Econémica. A Economia Politica deixa de ter aquela assepsia caracteristica da légica formal © professor Carlos Lessa chama a ateng&o para o fato de a formacgéo do economista, baseada somente em profundos conhecimentos de Ciéncia Econémica, causar frustracdo. Ela sera uma formag&o sobre a qual se tem aguda consciéncia de “faltarem coisas”. — Isso sugere eu abandonar a Ciéncia Econémica e mergulhar somente no estudo da Economia Politica? Eu, de fato, tenho dificuldade em Matematica... - _ N&o, de maneira nenhuma, Uma boa formacaio de economista é pluralista, E, também na Economia Politica, vocé jamais conseguird “pensar o todo”. E impossivel. Voc deve adquirir treinamento suficiente para saber até qual nivel de abstracao é possivel trabalhar com os conceitos da Ciéncia Econémica e a partir de qual é conveniente recuperar a visio da Economia Politica — Existe alguma “formula magica” para me ajudar?

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