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INSTITUTO OLAVO DE CARVALHO

Em primeiro lugar, Ajax não vive em meio aos homens, mas solitário, imerso na desconfiança e no
culto de uma só coisa. Quem vive em meio aos homens vive entre os deveres coletivos que os unem:
os valores comuns, como o respeito pela família. Mas quem vive em meio à desconfiança não vive
entre os homens, mas entre adversários. E o único dever em relação aos adversários é vencê-los.
(ZOJA, Luigi. Paranoia: la locura que hace la historia. 2013, p. 19)

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO______________________________________________________________1

PARTE 1 – INSTITUTO OLAVO DE CARVALHO – INTRODUÇÃO_____________________3

PARTE 2 – INSTITUTO OLAVO DE CARVALHO – LUCIANE AMATO__________________5

PARTE 3 – INSTITUTO OLAVO DE CARVALHO – INSTITUTO ARROGÂNCIA__________11

APRESENTAÇÃO

Este é um texto longo e com um assunto específico e pesado para quem conseguir compreendê-lo
(para quem conseguir entender a natureza e a gravidade dos acontecimentos narrados). É um texto
sobre o instituto Olavo de Carvalho e é, por isso, dedicado especialmente aos ex-alunos do finado
instituto Olavo de Carvalho e a alunos e ex-alunos de Olavo de Carvalho. Quem não se enquadrar,
entretanto, nessas categorias e ainda assim quiser saber algo de minha história, algo que até pouco
tempo era obscuro para mim mesmo mas que aos poucos parece tornar-se mais claro, que sinta-se à
vontade para lê-la. Eu acho, além disso, que meu relato remete a histórias semelhantes de algumas
comunidades religiosas e seitas, além de dizer respeito a um personagem que se tornou famoso nos
últimos tempo, Olavo de Carvalho, o que pode tornar seu interesse um pouco mais geral.

Alguma indignação motivou, sim, este relato, mas ela foi aparecendo em mim principalmente ao
longo das descrições, quando eu me dava mais conta do que havia ocorrido. Apesar disso, talvez a
motivação principal vem de uma conversa recente que tive com um amigo que foi aluno de Olavo
de Carvalho e também passou pelo instituto Olavo de Carvalho. Ele começou a conversa assim:
“Quanto tempo... parece que foi ontem...” E foi esse “parece que foi ontem” que me tocou, pois
para mim não parecia mais que “foi ontem”, parecia algo distante (o instituto Olavo de Carvalho
teve seu fim no começo de 2013). E então eu me dei conta, ao lembrar-me também de algumas
conversas com outras pessoas que participaram da experiência “instituto Olavo de Carvalho”, de
como a coisa parecia ainda próxima e ao mesmo tempo esquisita para muita gente e, por vezes, a
mim também. E essa experiência voltou a parecer próxima em muitos momentos em que eu narrava
a história que vai abaixo (sem trocadilhos). Foi, então, principalmente para dar mais inteligibilidade
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a mim mesmo quanto ao que ocorreu que resolvi escrever o que escrevi, a princípio. Ao terminar
este texto, entretanto, pensei que ele poderia auxiliar o entendimento de outras pessoas sobre o
assunto também. E o publico, assim, além de com a intenção de denúncia, também com essa
esperança. Imagino que, ao me expor deste modo, só possa trazer aporrinhações para mim, mas
publicar este texto me pareceu a coisa certa a ser feita, alguém tinha que expor os ocorridos
publicamente: simples assim.

Além disso, vale a pena ressaltar que consultei vários ex-alunos do instituto Olavo de Carvalho
antes de publicá-lo, para perguntar a eles se exagerei ou fui injusto em algumas partes de meu texto
(as respostas a essas perguntas foram negativas em todos os casos das pessoas que me responderam
até agora). Também consultei os alunos a quem me referi de forma mais específica (com exceção
daqueles que, por questões práticas e óbvias relativas ao seu tipo de envolvimento na história, não
pude consultar e, também, do aluno que foi expulso do instituto Olavo de Carvalho, de quem não
recebi resposta após três semanas), para verificar se eles não viam problema em eu relatar o que
relatava e se referia a suas histórias. Eles me disseram que não, que não havia problema.

Adicionalmente, devo dizer que estou ciente de que os graus de envolvimento e, portanto, de
responsabilidade em relação aos acontecimentos das histórias que relato variam. Cada um deve
medir o seu, de acordo com seu maior ou menor conhecimento quanto às indiscrições de Luciane
Amato e quanto ao que fez ou deixou de fazer ao ouvi-las. E também de acordo com o que fez após
o fim do instituto Olavo de Carvalho. Você se aproveitou dos despojos deixados? Quis ocupar o
lugar de Luciane Amato? Às vezes eu me pergunto se não é viver uma mentira continuar a seguir e
imitar Olavo de Carvalho após se ter passado pela experiência “instituto Olavo de Carvalho”. E se
torna cada vez mais difícil escapar da mentira quanto ela lhe concede rendimentos e ajuda a pagar
suas contas.

Sei, ademais, que as personagens sobre as quais escrevo – Luciane Amato e Olavo de Carvalho –
são mais complexas do que minhas descrições possam fazer parecer. Isso, contudo, não invalida o
que digo abaixo sobre o que fez Luciane Amato e nem sobre o que de Olavo de Carvalho
transparece em seus textos e posts nas mídias sociais. Ele é, a meu ver, também o que digo abaixo
sobre ele, e eu acho que o que digo é razão suficiente para lê-lo e assisti-lo com reserva, para dizer o
mínimo. Além disso, Olavo de Carvalho tem responsabilidades, sim, sobre os ocorridos no instituto
Olavo de Carvalho. Quanto a Luciane Amato, ela fez o que digo que ela fez, e o que digo basta para
saber que ela não é confiável para ser orientadora ou professora de quem quer que seja.

Também aproveito a oportunidade para pedir desculpas a colegas, amigos e parentes de quem enchi
muito o saco (com conversas, e-mails, posts etc.) e a quem por vezes ofendi nos dez anos em que
estive sob a influência de Olavo de Carvalho e nos sete em que estive sob influência de Luciane
Amato. Perdoem principalmente meus momentos de arrogância. Além disso, peço desculpas aos ex-
colegas de instituto Olavo de Carvalho pelas vezes em que me mantive em silêncio ao ouvir sobre
alguns de vocês e também pela arrogância que eu possa ter demonstrado em alguns de meus
comportamentos e conversas quando estive com vocês.

Por fim, quero deixar meus sinceros agradecimentos ao psicólogo e amigo Armando de Oliveira e
Silva (CRP 08/0084), que me deu as principais chaves teóricas para o entendimento de alguns de
meus comportamentos, de Luciane Amato e do que está presente nos textos e declarações de Olavo
de Carvalho. Foi ele quem me indicou os elementos paranoides, o complexo de vítima e a
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arrogância presentes em todas essas coisas, bem como me auxiliou a entender esses conceitos.

Vamos ao relato.

PARTE 1 – INSTITUTO OLAVO DE CARVALHO – INTRODUÇÃO

Só para situar a maioria das pessoas que terão acesso a este texto, falarei um pouco da relação de
minha história pessoal com a história do que vou relatar.

Fui seguidor e aluno de Olavo de Carvalho por cerca de 10 anos, de 2002 ao final de 2012. Li todos
os artigos que ele publicou durante esse período e todos os anteriores a esse período. Também li
todos os livros de Olavo de Carvalho publicados ao longo desses 10 anos e também os publicados
anteriormente a esse período, inclusive livros de teoria do discurso, filosofia e simbolismo
tradicional que nada tinham a ver com polêmicas relativas à política ou à guerra cultural hodierna.
Além disso, assisti a todas as 32 aulas do curso de história de filosofia dado por Olavo de Carvalho
no ano de 2002 (ou pelo menos publicado pela É Realizações nesse ano) e ouvi ou li transcrições de
muitas outras aulas de outros cursos dados por Olavo de Carvalho (astrocaracterologia, alquimia,
ética, ciência política, artes liberais, introdução à vida intelectual, Szondi, as 12 camadas da
personalidade, a teoria da psique, elementos de tipologia espiritual, além de outros sobre assuntos
diversos). Tive acesso a todas essas aulas por meio de Luciane Amato, que tinha sido aluna de
Olavo de Carvalho por vários anos e era uma divulgadora autorizada da obra do escritor (se ela era
aluna de Olavo de Cavalho há 15 anos quando a conheci, ela o foi por 23 ao menos, quando deixei
de ter contato com ela). Adicionalmente, fui aluno do Seminário de Filosofia de Olavo de Carvalho,
transmitido dos Estados Unidos, desde a sua primeira aula em 2009 até uma das últimas aulas dadas
em 2012, sem perder nenhuma delas, salvo engano, e também assisti a todos os cursos curtos de
Olavo de Carvalho veiculados nesse mesmo período (Eric Voegelin, a Imortalidade da Alma etc.),
sem falar de tudo o que li de autores citados por Olavo de Carvalho e indicados por Luciane Amato
ao longo desse tempo. Por fim, tive aulas particulares semanais ou quinzenais com Luciane Amato
de 2005 a 2010, nas quais discutíamos, além de textos de Olavo de Carvalho, literatura, cinema e
qualquer assunto que viesse à baila. Se fosse para atribuir algum papel social a Luciane Amato,
creio que seria, ao menos para mim (mas acho que não só para mim, embora ela exercesse outros
papéis para outros alunos), o de orientadora dos estudos e orientadora existencial, os dois
amalgamados, pois os estudos tinham que ter a ver com a vida e esta deveria ser orientada por
aqueles (frequentemente ela citava uma frase que atribuía a Platão: “verdade conhecida é verdade
obedecida”).

E vários outros alunos tiveram uma trajetória parecida com a minha (alguns mais cdfs do que eu
inclusive), embora cada um tivesse sua própria história pregressa (muitos foram ligados a
comunidades religiosas ou tinham alguma relação forte com alguma religião, especialmente a
católica, o que não era o meu caso, de estudante universitário sem religião e com tendências de
esquerda).

Mas esta história – a do instituto Olavo de Carvalho – começa no momento em que, dado um
cenário em que Olavo de Carvalho começou seu curso na Virgínia e rapidamente viu-se que o curso
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tinha muitos inscritos (acredito que mais de dois mil só no primeiro ano) e em que Luciane Amato
já contava com ao menos duas dezenas de alunos, esta decidiu, numa ação com alguns alunos,
fundar o instituto Olavo de Carvalho, que deveria ser uma espécie de centro de estudos
independente da academia, no qual se estudaria, além da obra de Olavo de Carvalho, filosofia,
história, literatura, simbolismo tradicional e artes em geral. No decorrer de sua existência, de
meados de 2010 ao começo de 2013, o instituto Olavo de Carvalho recebeu pessoas de muitos
estados do país (em sua quase totalidade ou totalidade alunos e/ou leitores de Olavo de Carvalho),
algumas que ficaram para estudar no instituto, algumas que vinham para passar temporadas e
algumas que faziam visitas únicas ou esporádicas.

No instituto Olavo de Carvalho, havia diversos grupos de estudo, de literatura (um de teoria da
literatura e vários sobre diversos escritores), de simbolismo tradicional, de estudos de
fenomenologia, além de outros, e uma reunião semanal na sexta-feira à noite, na qual um grupo
maior de alunos se reunia (todos ou quase todos os alunos) para ouvir seminários principalmente
sobre história, literatura e poesia. Mas havia também aulas de latim e houve aulas de grego antigo
por um curto período. Além disso, o instituto oferecia cursos online de história da filosofia, latim,
história medieval e da igreja (se não me engano) e poesia. Outros cursos também foram ofertados
online, como um de teoria (ou experiência) da literatura baseado na obra de Northrop Frye.

O instituto Olavo de Carvalho foi um empreendimento pretensioso. Quando saí de lá, ouvi falar que
alguns alunos realmente esperavam se tornar uma espécie de elite intelectual que iria mudar os
destinos da cultura brasileira, destruída pela militância intelectual de esquerda. Não posso dizer que
eu não era também pretensioso e arrogante. Assim como todos (ou quase todos) os alunos de Olavo
de Carvalho (e Luciane Amato) que conheci, eu trazia comigo a presunção de superioridade moral e
intelectual em relação à classe intelectual acadêmica e em relação à sociedade brasileira em geral,
presunção encarnada (mesmo que sem carne e substância nenhuma) na nobreza de uma missão a
cumprir (para mim a de preservar em mim e transmitir a quem pudesse algo do que chamávamos de
alta cultura, e não de transformação cultural de uma sociedade) em decorrência de uma
identificação com o ideal que ela representava e com o mestre (Olavo de Carvalho) que
heroicamente a conduzia e que, presumivelmente, trazia consigo, já realizada e não em potencial
como em nós, aquelas superioridades moral e intelectual.

Bom, era mais ou menos essa que pensávamos (pelo menos eu pensava) ser a natureza e o objetivo
de nosso empreendimento, sem nenhuma consciência, à época, de nossa presunção, é claro. Mas eis
que nosso lado não tão nobre e mais mesquinho, mesquinhamente humano, eu diria, se manifestou,
com requintes de crueldade e manipulação psicológica da braba, das quais todos fomos, em alguma
medida, partícipes, mas as quais foram seguramente encabeçadas por Luciane Amato, não sem
refletir algo dos ensinamentos e da personalidade (do lado mais visível e público da personalidade
ao menos) de Olavo de Carvalho (atenção às NOTAS ao final do texto).

Ao fim e ao cabo, os ciúmes, os egoísmos e egocentrismos, as vaidades, a arrogância que já estava


na origem do empreendimento e que sempre esteve em Olavo de Carvalho, e, em alguns casos, a
canalhice e a perversão mesmas, se destacaram mais do que as aulas, os estudos e a alegada nobreza
do empreendimento. E será justamente desse aspecto sombrio do instituto Olavo de Carvalho e de
sua diretora, Luciane Amato, das relações entre seus membros (não se preocupem, não citarei
nenhum nome, a não ser os de Luciane Amato e Olavo de Carvalho, por tratarem-se de figuras
públicas e por terem mais culpa no cartório) e de como a sombra de Olavo de Carvalho também
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pairava, na minha opinião, sobre todos nós seus alunos que tratarei em seguida.

PARTE 2 – INSTITUTO OLAVO DE CARVALHO – LUCIANE AMATO

Luciane Amato não era excepcionalmente inteligente. Lembro que desde nossas primeiras aulas,
cinco anos antes da existência do instituto Olavo de Carvalho, essa foi minha impressão. Mas ela
era admirável para mim justamente por não ser tão inteligente (entenda-se: tinha uma inteligência
mediana ou não muito acima da média) e, ao mesmo tempo, conseguir levar a vida que levava, de
professora e orientadora particular que só ensinava o que bem entendia e dedicava sua vida aos
livros e aos estudos (era assim que eu a via). Eu pensava: “se ela conseguiu, eu, que também não
tenho nenhum talento excepcional, também posso conseguir levar uma vida assim, também posso
viver, por um ideal, apartado do sistema; se eu conseguir fazer isso, serei uma espécie de marginal,
mas uma espécie de herói marginal”. E isso me atraia, afinal, ser um herói marginal tem algo de
excepcional, não é, meu caro ego?

E Luciane Amato sempre foi do tipo assertiva, motivadora, sem jamais, pelo que me lembre,
demonstrar dúvidas e fraquezas (isso já era um sinal – que jamais notei – do que estava por vir), a
não ser de forma teatral, como Olavo de Carvalho (conferir citação – ao final do texto – do prólogo
de “Aristóteles em Nova Perspectiva” – em NOTA 1), se diminuindo de vez em quando para
dissimular humildade para depois exaltar a si mesma (“Eu sou só uma mulherzinha, mas...”, e
depois do “mas” vinha a nobreza da missão que ela se via obrigada a cumprir). Eu acho que os
modos de Luciane Amato se gabar de si eram, principalmente, através das citações de caráter
enobrecedor e heroico de grandes autores, de santos e, é claro, de seu mestre Olavo de Carvalho e
também com a postura inabalável de alguém cheia de certezas e investida de uma missão grandiosa,
antes mesmo da existência do instituto Olavo de Carvalho (lembro-me de como ela gostou da frase
“A alma é divina e a obra é imperfeita” - acho que a anotou - do poema “Padrão”, de Fernando
Pessoa, quando eu o declamei, já no instituto. A citação pareceu-lhe, pensei já à época, sem achar
nada de mais, espelhar o que ela fazia: um empreendimento heroico, mesmo que com
imperfeições).

Além disso, é provável que ela, mesmo não a tendo, achasse ter uma grande inteligência. Lembro-
me de uma vez que, já no instituto Olavo de Carvalho, durante uma aula de grego, um aluno, muito
mais talentoso que ela, fez uma brincadeirinha sobre a dificuldade que ela estava tendo para
aprender o grego. Ela ficou furiosa e respondeu a ele agressivamente: “se eu tivesse mais tempo, eu
aprenderia muito mais rápido que você” (o que era, flagrantemente, mentira).

Ela, como nós, via-se investida de uma grande missão; no caso dela, acredito, de trabalhar pela
educação, para formar jovens com alta cultura, capazes de desafiar o sistema constituído
representado pela intelectualidade acadêmica e talvez também capazes de se opor a toda uma
parcela da sociedade “obviamente” moralmente degradada por essa mesma intelectualidade. Como
dá para ver, nada muito diferente dos objetivos declarados do próprio Olavo de Carvalho. No
entanto, ela acreditava-se mais capaz de aglomerar pessoas em prol de um objetivo comum do que
Olavo de Carvalho. Ela me disse, na maior humildade, algo assim: “O Olavo nunca conseguiu fazer
algo assim, juntar as pessoas assim, eu tenho essa capacidade e ele não”. E, certamente por se ver
investida de missão tão nobre e por se colocar numa posição de poder em relação a seus alunos, de
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diretora do importante instituto Olavo de Carvalho (embora não só por isso, pois alguma falta de
vergonha além do vulgar é necessária para fazer tudo o que ela fez), ela se viu também autorizada a
rebaixar e humilhar algumas pessoas, a caçoar delas entre os “eleitos” para estarem mais próximos
dela (às vezes eu estava entre estes) e a revelar a muitas pessoas segredos íntimos de alguns de seus
alunos, ditos somente a ela num ambiente que em muito se assemelhava ao de um consultório de
psicologia. Em linguagem psicológica, ela abusou do poder transferencial concedido a ela para
rebaixar, explorar as fraquezas e manipular as pessoas mesmas com ela envolvidas na relação
transferencial. Mas já estou me adiantando, pois o que Luciane Amato fez merece uma lista.

Abaixo, seguem alguns dos feitos mais significativos de Luciane Amato ocorridos durante a
existência do instituto Olavo de Carvalho (de meados de 2010 ao fim de 2012), uma contribuição
(dela) muito mais relevante do que tudo o que ela fez em termos intelectuais ou de formação de
alunos (mencionarei sempre aquilo que não testemunhei pessoalmente):

- Luciane Amato falou para um aluno que começou a atinar para os absurdos e contradições que
estavam acontecendo no instituto Olavo de Carvalho que a personalidade dele ia “cindir”, pois esse
aluno não estava “nem dentro nem fora” (do instituto). Ou seja, ela usou de um suposto
conhecimento psicológico que tinha para amedrontar essa pessoa, só para ela não contrariá-la. Um
artifício também recorrentemente usado por Olavo de Carvalho (vejam os textos “Psicopatas”, “A
lógica da histeria” e “A mentira estrutural”, só a título de exemplo – NOTA 2): o de patologizar o
inimigo. Pois assim já se neutralizava de cara (para os que ainda lhe eram fiéis e ouviram a mesma
teoria acerca daquele aluno) tudo o que a pessoa poderia vir a dizer contra ela. Um anormal, afinal,
só pode dizer coisas anormais e indignas de consideração, não é? Além disso, desde o ponto de vista
de Luciane Amato, só havia duas possibilidades de colocar-se em relação ao seu empreendimento:
ou estar dentro ou estar fora do instituto Olavo de Carvalho. Essa polarização entre nós, os eleitos e
iluminados, e eles, os ignorantes ou canalhas (ou doentes), aliás, sempre foi típica entre os alunos
do instituto Olavo de Carvalho e, pelo que posso ver, também é típica entre os alunos de Olavo de
Carvalho. Essa divisão reforça a coesão do grupo e, ao mesmo tempo, fomenta concepções da
realidade e comportamentos elitistas, esnobes e arrogantes. (Neste caso foi o próprio aluno que
recebeu a profecia de que sua personalidade iria cindir quem me relatou esse evento, de acordo com
o que leu em um e-mail enviado por Luciane Amato a outro aluno dela.)

- Ainda dentro do rol das indiscrições de Luciane Amato, cabe dizer que ela pedia aos seus alunos
que fizessem diários de suas atividades intelectuais e que, em seguida, os entregassem a ela (eu
mesmo escrevi vários e os entreguei a ela). A primeira coisa a se fazer é perguntar: por que ela pedia
que entregássemos esses diários a ela? Entregar os diários – essas são minhas hipóteses – era, em
primeiro lugar, uma forma de cobrar seus alunos quanto a suas atividades intelectuais (era uma
vergonha entregar um diário dizendo que não se fez nada naquele dia e era um desapontamento não
entregá-lo) e podia ser, portanto, um instrumento para assegurar que o aluno iria, senão realizar
alguma atividade intelectual durante o dia, ao menos estar pensando nas ditas atividades intelectuais
todos os dias, (ele mesmo) verificando se as realizou a contento e se culpando caso não as tivesse
realizado ou as tivesse realizado mal. Pode até ser que esse seja um modo de melhorar, de cada um
vigiar a si mesmo para verificar se realizou alguma atividade intelectual naquele dia e como a
realizou, mas também é um modo de criar culpas (e dependências). E, se seria possível haver culpa
mesmo sem que os diários fossem entregues, devido a nossas cobranças pessoais, é certo que a
culpa era maior ante a possibilidade de desapontar – e era “obrigatório” ser sincero – uma figura a
quem se atribuiu o papel de guia intelectual. Outro fator a considerar seria a possibilidade de que,
pelo fato de os diários terem de ser entregues a essa guia, houvesse o falseamento dos verdadeiros
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centros de interesse de cada um, já que as pessoas poderiam passar a fazer apenas as atividades que
agradariam Luciane Amato, sem falar na possibilidade da mentira, voluntária ou não, quanto ao que
se realizou no dia, também com o intuito de parecer melhor à guia intelectual. Além disso, os
diários ofereciam a Luciane Amato um instrumento de controles: primeiro, um controle de como
estava o progresso de cada um dos alunos do instituto Olavo de Carvalho; segundo, e quem sabe
mais importante, um controle sobre quem poderia estar se desviando, sobre quem estava fiel aos
propósitos do instituto Olavo de Carvalho e a ela; e, também, um controle sobre quem poderia se
transformar num elemento de oposição e se transformar, na visão dela, num possível “inimigo” do
instituto Olavo de Carvalho e, principalmente, dela, Luciane Amato. De qualquer forma, como é
possível observar, em todas as minhas hipóteses está presente um elemento: a necessidade de
controle. Mas quais seriam as razões dessa necessidade de controle(s)? Luciane Amato temia
inimigos e/ou concorrentes, mesmo sem haver ainda nenhum sinal deles? Seria esse um exemplo de
atitude paranoide? Mais abaixo falo um pouco mais do ambiente paranoide do instituto Olavo de
Carvalho. Em acréscimo ao que foi dito, vale dizer que alguns ex-alunos do instituto me relataram
que Luciane Amato revelava parte do conteúdo desses diários a eles (alunos) em seu consultório,
falando mal ou debochando do autor do diário. Pode-se dizer que isso seja algo menos que vil?

- Luciane Amato rotulava seus alunos e espalhava entre eles os rótulos uns dos outros. O rotulado, é
claro, era o único a não saber que tinha sido rotulado. Uma era “ninfomaníaca” (rótulo claramente
retirado a partir de confissões íntimas dirigidas a ela (Luciane Amato) ou a alguma pessoa próxima
a ela que depois as repassou a ela), um outro era “travado” (esse era eu), reprimia tanto as coisas
que até o corpo estava ficando “travado”. Nesses dois casos (embora este não fosse sempre o caso),
mais uma vez há a recorrência à patologização para diminuir a pessoa. E isso acontecia antes
mesmo de a pessoa tornar-se “inimiga” ou ter feito algo de que ela não tinha gostado. Ao parecer
antagonista ou mesmo ao se opor somente quanto a algum ponto do que Luciane Amato dizia, o
rótulo, é claro, tornava-se arma de ataque e de defesa (Não lembra o comportamento de alguém que,
para se defender, sempre ataca? O nome do instituto não é mera coincidência, nunca foi.). (os
rótulos de “travado” e “ninfomaníaca” foram relatados a mim por outros alunos)

- Ela revelava segredos íntimos das pessoas, suas fragilidades e inclusive segredos de ordem sexual,
coisas que lhe foram ditas na intimidade de seu consultório e ela repassava a outros alunos. Para
quê? Era o espírito de fofoqueira inveterada? Era um modo de mostrar o poder que detinha sobre
seus alunos? Era, ao menos inconscientemente, uma ameaça velada aos que ouviam o segredo
(“veja, os teus segredos também podem vir à tona”)? Era mais um modo de expor sua superioridade
(“obviamente eu não tenho nenhum desses defeitos”)? E o segredo revelado servia muitas vezes de
ilustração de uma teoria de como deveriam ser o homem e a mulher, de como eles deveriam se
comportar numa relação de casal, de como deveria ser um sujeito para poder ser um juiz, de como
isso fazia bem e aquilo fazia mal para a alma etc. etc. Valer-se recorrentemente de pretextos nobres
e de frases de efeito para convencer os outros era uma das piores qualidades de Luciane Amato.

Um dos efeitos indubitáveis das inconfidências de Luciane Amato foi incentivar a inconfidência e o
dedo-durismo entre seus alunos. Tudo o que alguns de nós ouviam e que era dito entre alunos
contrariamente a ela ou ao instituto Olavo de Carvalho, chegava ao seu conhecimento. Eu acho que
as pessoas se sentiam importantes e queridas por ela ao mostrarem-se fiéis a ela e ao instituto Olavo
de Carvalho. E havia o espírito de proteção do grupo já incorporado, senão por todos, por muitos.
Eu mesmo fui garoto de recado de Luciane Amato umas duas ou três vezes, já nos últimos meses de
instituto Olavo de Carvalho, e passei a ela informações sobre uma pessoa próxima a ela, embora
essas informações não tivessem nada de picante ou altamente denigridor da pessoa (apesar de
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confirmarem uma fraqueza que ela pensava haver nessa pessoa). Contar segredos também pode ter
sido um expediente para lisonjear e tornar cúmplices seus alunos (“olha, ela confia em mim a ponto
de contar um segredo desses”), afinal, eu acredito que todos nós gostaríamos de nos sentir mais
próximos e preferidos de Luciane Amato.

Já no apagar das luzes do instituto Olavo de Carvalho, depois de Olavo de Carvalho ter se referido a
ela como sociopata numa aula do seminário de filosofia no final de 2012, um emissário dela veio
me contar algo sobre a vida pessoal do próprio Olavo de Carvalho. Para que, porém, Luciane Amato
enviara aquele emissário para me contar aquela história, a não ser para denegrir Olavo de Carvalho,
para desacreditá-lo (ele, afinal, referiu-se a ela como sociopata) e, se não para me manter ao lado
dela, ao menos para que eu não me tornasse um opositor? Mais uma vez vemos aplicado, portanto,
o ato manipulatório de diminuir seu adversário atacando-o pessoalmente para assim buscar retirar
todo crédito de suas palavras (coisa que ela aprendeu bem com o mestre). E, com esse ato, ao
menos para mim (pois muitos alunos sabiam há muito tempo dos fatos relacionados à vida pessoal
de Olavo de Carvalho), Luciane Amato, depois de ter traído reiteradamente seus alunos, para
completar sua bela obra, desferiu um golpe contra seu mestre (Que fique claro, no entanto, que ela
só foi infiel ao mestre sob este aspecto: o de contar coisas sobre a vida pessoal de Olavo de
Carvalho a alguns alunos deste, permanecendo sempre fiel como transmissora dos ensinamentos de
Olavo de Carvalho e, também, a meu ver, fiel como aplicadora de vários métodos tipicamente
olavianos de “convencimento” - e manipulação? - e de livrar-se dos inimigos. Luciane Amato
sequer veio jamais a público para falar sobre o que sabia da vida pessoal de Olavo de Carvalho,
mesmo depois de este ter, publicamente, se referido a ela como sociopata. É bem possível que ela
até se ache uma espécie de mártir por ter “preservado” Olavo de Carvalho.).

Luciane Amato, provavelmente, diminuía seus alunos, primeiro em si mesma, e depois os re-
diminuía na frente de outras pessoas, reforçando desse modo sua crença na inferioridade deles por
meio da (conveniente) re-reprovação dos atos dos alunos, agora em conjunto com seu(s) ouvinte(s),
para imaginar-se, sentir-se e fazer-se superior a eles. É possível se deleitar com o sentimento da
própria superioridade, e eu fico pensando se de fato ela não se deleitava com ele (assim como nós,
ao ouvi-la), primeiro ao ouvir de um aluno um relato sobre suas dificuldades e fraquezas e depois ao
repassar a outros alunos esse relato, desta vez já com o peso de seu infalível e portanto justíssimo
julgamento (em que posição, afinal, é preciso colocar-se para se achar autorizada a julgar assim?).
Se isso não é arrogância - com requintes de crueldade - não sei mais o que é (NOTA 3).

- Luciane Amato recebeu doações vultosas (para nosso padrão de classe média) de alguns alunos
seus para abrir o instituto Olavo de Carvalho (e acredito que também para se manter ao longos dos
dois anos e meio de sua existência, pois ela diminuiu bastante o número de seus atendimentos
individuais nesse período). Alguns alunos chegaram a vender seus apartamentos para contribuir e se
dedicar ao instituto Olavo de Carvalho. E alguns desses mesmos alunos, que a princípio foram por
ela muito bem tratados, ao mostrarem o primeiro desacordo, foram rebaixados por ela em conversas
com outros alunos. Um dos alunos, inclusive, talvez o que mais tenha contribuído para o início do
instituto Olavo de Carvalho, foi enxotado de lá por Luciane Amato, após ela descobrir, por fofoca
de terceiros, que esse aluno havia feito críticas ao instituto Olavo de Carvalho (ó infiel!). Ele era
uma das pessoas mais próximas a ela e tinha um lugar especial numa sala junto com outros quatro
alunos (eu também estava entre os especiais nessa sala). Ela juntou as coisas dele, colocou-as numa
caixa e separou-as para ele levar embora, tudo num ato maximamente decidido e investido do mais
elevado senso de indignação. Eu testemunhei esse acontecimento, como muitos, aliás, os de que
estou falando. Na hora, achei errado e exagerado o que Luciane Amato estava fazendo, mas não tive
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coragem de intervir e justifiquei para mim mesmo que ela devia ter boas razões para fazê-lo (este
sempre era o pensamento com relação aos atos de Luciane Amato, ao menos era o meu, como é
também, pelo que consigo ver, o pensamento dos alunos de Olavo de Carvalho com relação ao que
ele diz e faz – eles sempre têm boas razões). Mas depois ela me contou do ato de “traição” do aluno
e, numa reunião subsequente no instituto Olavo de Carvalho, eu também virei a cara e não
cumprimentei esse aluno e um amigo dele, afinal, também eu não podia perdoar aquela traição. Esse
foi o ato que pratiquei no instituto Olavo de Carvalho de que mais me arrependi. Depois, fiquei
sabendo que esse aluno chegou a cogitar o suicídio.

Agora consideremos o que expus até o momento nos quatro primeiros pontos de meus relatos sobre
Luciane Amato e o instituto Olavo de Carvalho: patologizar os discordantes, revelar coisas íntimas
das pessoas a terceiros, rotular a todos, dedurar e incentivar o dedo-durismo, ameaçar de exclusão
ou de fato excluir os discordantes. Essas atitudes não parecem poder contribuir para que quem seja
participante de um agrupamento desse tipo tema a todo momento o que outros membros do mesmo
agrupamento vão pensar do que ele vá dizer ou fazer e, consequentemente, contribuir para que esse
participante passe a ver ameaças (ou inimigos), senão em toda parte, em muitos dos lugares de
convívio com os outros participantes desse agrupamento (o instituto Olavo de Carvalho no nosso
caso)? Além disso, antes mesmo do acontecimento “instituto Olavo de Carvalho”, já não éramos
nós incentivados por Luciane Amato e Olavo de Carvalho a enxergar ameaças a nossa integridade
psíquica, moral e intelectual em vários dos ambientes nos quais convivíamos, em nosso trabalho, na
universidade, nas reuniões entre amigos e às vezes até mesmo em nossas famílias? O nome que se
dá a essa atitude de enxergar inimigos em toda parte e, consequentemente, se achar perseguido por
eles, é paranoia. Não estaríamos então, nós alunos do instituto e de Olavo de Carvalho, sendo
duplamente (pelos acontecimentos do instituto e pela predisposição dada pelos ensinamentos de
Luciane Amato e Olavo de Carvalho) empurrados por essa dupla na direção de atitudes paranoides?
E esse tipo de agrupamento (do instituto Olavo de Carvalho), bem como o lado mais visível e
público da personalidade e dos ensinamentos de Olavo de Carvalho, por sua vez, não tenderiam a
atrair mais pessoas com tendências paranoides do que outros agrupamentos sociais? Lembro-me,
por exemplo, de que, quando eu era um leitor fervoroso de Olavo de Carvalho, a cada vitória da
esquerda e a cada novidade sobre o “movimento comunista” brasileiro (novidade já filtrada pelas
lentes da direita e de Olavo de Carvalho), eu ficava mais preocupado, pensando que a revolução
comunista definitiva (que culminaria numa ditadura estatizante mesmo) estava muito próxima. O
movimento dos trabalhadores sem terra crescia e estava recebendo armamentos e treinamento das
FARC, o PT estava criando mecanismos para engessar o congresso e passar o poder para a elite
partidária por meio de conselhos sociais, os “comunistas” queriam destruir as igrejas e proibir os
símbolos sagrados em locais públicos para acabar com qualquer resistência conservadora, a
legalização do aborto, bandeira “comunista”, estava sempre na iminência de acontecer (os
conservadores eram sempre as vítimas e os “comunistas” sempre os agressores): cada vez que eu lia
notícias desse tipo – e elas iam se acumulando nas mídias que eu lia – eu temia que já não houvesse
mais volta, que a revolução comunista estava acontecendo e poderia dar seus últimos passos a
qualquer momento. Eu estava sempre alerta e na defensiva. E isso rolou por cerca de 10 anos. Mas
talvez eu tenha sido o único a experimentar esse tipo de preocupação com o futuro do país (nobre,
né?), essa tensão e esse sentimento de suspeita próprios de uma atitude paranoide, senão paranoica,
não é? Cada um que revise suas atitudes e sua história (NOTA 4 – questões paranoides).

Juntem-se a esse clima instaurado as tarefas de todo tipo a realizar, todos os grupos de que
participar (eu cheguei a participar de mais de 5 grupos de estudo com encontros semanais), as
leituras e resenhas a fazer (leituras e resenhas impressionistas, principalmente quando em boa
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quantidade, também cansam), os resumos orais das aulas de Olavo de Carvalho feitos logo depois
delas terminarem e também o resumo oral de outras leituras em voz alta logo após o seu término, as
reuniões realizadas em horários não-convencionais (nos domingos à noite e estendendo-se pela
madrugada em outros dias), o modo amador e cheio de improvisos com que Luciane Amato
conduzia o instituto Olavo de Carvalho, e tenha-se em conta que todo esse excesso de atividades
(com grupos de estudo ao longo de toda a semana, inclusive no domingo, e aulas de Olavo de
Carvalho aos sábados assistidas em grupo no instituto Olavo de Carvalho) tinha como um de seus
resultados afastar-nos de nossas famílias e de outras atividades que não as devotadas aos estudos e
ao instituto Olavo de Carvalho, junte-se tudo isso e se verá que, com tantas cobranças e tensões,
não é de se estranhar que tantos alunos de Luciane Amato tenham passado por momentos de
depressão. (conferir NOTA 5 – sobre elementos paranoides em Olavo de Carvalho)

- Fomos cúmplices de vários dos malfeitos de Luciane Amato, principalmente como garotos de
recados (fomos co-fofoqueiros) e como condenadores e culpabilizadores uns dos outros quando a
notícia de que um de nós havia infringido alguma norma do instituto Olavo de Carvalho (as quais,
além da norma máxima de não contrariar Luciane Amato, não sabíamos bem quais eram) chegava
ao conhecimento de todos. E também rindo, debochando ou condenando alguém junto com
Luciane Amato, fosse nos encontros pessoais com ela ou em grupos menores. Isso nos
comprometia, pois fazíamos parte do rol dos julgadores (que a qualquer momento poderiam passar
a julgados), e tornava a atmosfera do instituto Olavo de Carvalho muito repressora. Todo mundo
tinha que se vigiar muito para não dizer ou fazer a coisa “errada” na frente de praticamente qualquer
um dos de lá, pois a notícia de suas más ações e palavras rapidamente chegaria a Luciane Amato,
que em sua sanha de controle – e medo? –, queria de tudo saber. E a notícia de sua má ação logo se
espalhava entre todos os alunos do instituto Olavo de Carvalho, que também passavam a condenar o
transgressor com palavras e olhares judicativos, ou passavam a simplesmente zombar da pessoa. Eu
creio que alimentar esse clima de vigiar e dedurar uns aos outros e, consequentemente, de frequente
sentimento de culpa (por dedurar e por ter feito algo digno de “deduração”) entre os membros de
um grupo como esse (que em muito se assemelha a uma seita) é muito útil para seu líder ou
dirigente, afinal, isso confere a ele mais um poder: o de perdoar e livrar os malfeitores de suas
culpas. O que tem como efeito mais uma vez engrandecer esse líder e fazer com que os liderados
permaneçam fiéis a ele, ela, Luciane Amato, no caso.

- Na curta história do instituto Olavo de Carvalho (dois anos e meio), um namoro estável, um
noivado e dois casamentos se desfizeram. Um casamento, do qual falarei adiante, em decorrência da
ação direta de Luciane Amato. Sei que ela também interferiu no namoro. Quanto aos outros dois
relacionamentos (um noivado e um outro casamento), não posso dizer nada, pois não sei o que
aconteceu. Outros alunos me relataram, além disso, que ela interferiu em outros relacionamentos.
Talvez um dos elementos que tenha pesado nos desentendimentos amorosos tenha sido o que diz
respeito a questões de masculinidade entre os homens instigadas por Luciane Amato. O apelo à
masculinidade dos homens (“haja como um homem”; “um homem não deve tolerar isso”; “um
homem que não tem sexo em casa tem o direito de trair” - ela dizia coisas assim) era um dos
recursos argumentativos de Luciane Amato, que servia para exigir algo dos alunos homens (ao dizer
coisas que remetiam ao “seja homem”) e também para rebaixá-los (ao dizer coisas que remetiam ao
“você não está sendo suficientemente homem”). A questão da vocação (é melhor, dizia ela, estar
com alguém que apoie você em sua vocação ou que seja o mais parecido possível com você quanto
aos objetivos de vida) também era uma questão que, sob a influência do que dizia Luciane Amato,
pesava para os alunos em suas decisões em seus relacionamentos amorosos (pelo menos para mim e
alguns outros alunos que pude observar, foi assim). Não sei se nem em que medida Luciane Amato,
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conscientemente, usava ou usou essas questões para satisfazer seus interesses.

- Para colocar a cereja podre neste bolo indigesto, numa noite de domingo (e isso foi mais ou menos
em abril de 2011), Luciane Amato reuniu, no apartamento de um outro aluno do instituto Olavo de
Carvalho, um grupo de, salvo engano, nove alunos (eu entre eles), os que ela julgava mais próximos
a ela, acredito, para contar a todos que ela estava namorando um de seus alunos. Detalhe: esse aluno
era casado com outra aluna sua e esta não sabia de nada. Luciane Amato estava muito nervosa e
tremia ao contá-lo, mas ela dizia que, primeiro, seus AMIGOS (ela enfatizou isso) tinham o direito
de saber e, segundo, aquilo tinha de ser daquele modo, como se fosse obra de um destino inexorável
reuni-la àquele aluno seu. Ao pegar o elevador com alguns colegas em nossa ida para casa, um deles
comentou que estava chocado. Eu nem cogitei nada quanto à dupla traição sofrida pela esposa do
aluno de Luciane Amato (como esposa e como aluna). Não falei nada, só lembro de ter pensado na
hora em que recebi a notícia, ainda no apartamento: por que alguém trocaria a esposa por uma
mulher muito mais velha que vai mandar nele (como já mandava, nele e em todos nós)? Quanto a
nós, alunos que fomos chamados a nos reunir naquela noite, há mais um problema, talvez mais
grave, a se considerar: ao contar aquilo para nós, Luciane Amato, mais uma vez, pôs à prova nosso
laço de confiança e fidelidade em relação a ela e, pior, nos tornou cúmplices de seu ato, como que
convocando-nos para defendê-la, apoiá-la e, assim, reforçar (ao mesmo tempo em que fazia parecer
que não) mais uma vez a imposição arbitrária e egoísta de sua vontade. Todas as nossas
demonstrações de fidelidade e comprometimento com as causas do instituto Olavo de Carvalho
ainda não eram suficientes. Era preciso essa última demonstração de fidelidade, guardar o segredo
de um malfeito, para nos tornarmos enfim iniciados (ou terminados). Era preciso comprometer tudo,
inclusive – e talvez principalmente – nossa consciência moral.

Depois que o instituto Olavo de Carvalho foi para o beleléu, seus remanescentes (sempre os há)
fundaram o CENTRO DE ESTUDOS LANDMARK, que, pelo que sei, também não deu certo. Meu
conselho é ficar longe desse lugar.

PARTE 3 – INSTITUTO OLAVO DE CARVALHO – INSTITUTO ARROGÂNCIA (ou


ARROGÂNCIA INSTITUÍDA, por sugestão do Armando)

O começo do fim do instituto Olavo de Carvalho se deu com a revelação do relacionamento de


Luciane Amato com seu aluno casado. Depois desse acontecimento, várias pessoas deixaram o
instituto. Mas muitas pessoas ainda permaneceram ao lado de Luciane Amato, pois a confiança em
suas boas intenções, na importância do instituto Olavo de Carvalho e também a crença (o que todos
ou ao menos alguns dos que ficaram queriam acreditar) de que o casal se formara somente após o
aluno ter terminado o relacionamento com sua esposa ainda resistiram por algum tempo, apesar de
virmos a saber logo em seguida que a esposa do aluno não sabia de nada e que, um ou dois dias
antes de nos contar de seu envolvimento com o aluno, Luciane Amato conversara, em seu
consultório, com a esposa desse aluno sobre a possibilidade de ela, a esposa, e ele, o esposo,
adotarem uma segunda criança.

Contudo, o golpe de misericórdia (ou melhor, de, com justiça, falta de misericórdia) foi dado pelo
próprio homenageado com o nome do instituto. Em uma aula do final de 2012 (fim de outubro ou
começo de novembro, se não me engano), Olavo de Carvalho, sem citar o nome, mas se referindo
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claramente – ao menos para quem lhe mandara e-mails falando acerca de Luciane Amato e das
coisas que ocorriam no instituto Olavo de Carvalho – a Luciane Amato, disse que esta era uma
sociopata e que, por isso, não havia modo de conversar com ela para demovê-la de suas ações.

Sociopata. Foi esse o termo que ele usou. Mas OLAVO DE CARVAHO, oportunamente, não citou o
nome de Luciane Amato, nem o do instituto OLAVO DE CARVALHO, afinal, ele não queria ver
seu nome ligado a nenhum escândalo. Este é, sem dúvida, mais um exemplo de um expediente
largamente usado tanto por Luciane Amato como por Olavo de Carvalho, o de patologizar e assim
diminuir e desacreditar quem lhe cause ou possa vir a causar problemas. Com a adicional “lavada
de mãos” (“não há nada que eu possa fazer – nem havia nada que antes pudesse – em relação a ela e
sua influência, pois ela é sociopata”) com a qual Olavo de Carvalho buscou se isentar de qualquer
responsabilidade pelo fato de ter permitido que Luciane Amato fundasse um instituto com o seu
(dele) nome.

Olavo de Carvalho já conhecia Luciane Amato há mais de 20 anos. Pelas histórias que ouvi dela e
de seu filho, eles chegaram a conviver muito proximamente por algum tempo, a ponto de Olavo de
Carvalho se hospedar na casa de Luciane Amato. Além disso, um amigo e também ex-aluno de
Luciane Amato me relatou que ela já tentara antes constituir um grupo de estudos que também se
desfez (Segundo a filha de Olavo de Carvalho, Heloísa de Carvalho, ele mesmo já fez parte e até
mesmo constituiu agrupamentos que talvez em muito se assemelharam ao instituto Olavo de
Carvalho). Apesar disso, Olavo de Carvalho, com suas afirmações sobre Luciane Amato, buscou
isentar-se de qualquer responsabilidade por ter deixado esta fundar um instituto (o primeiro e único,
pelo que sei) com seu nome. Pelo jeito, Olavo de Carvalho deixou Luciane Amato fundar um
instituto com seu nome sem sequer investigar ou querer saber nada sobre ela e sobre às quantas
andavam suas (dela) relações com alunos e ex-alunos, da mesma forma que indicou um ministro da
educação para o governo Bolsonaro sem saber nada acerca dele, a não ser o que lera dele (e não
sobre ele) há mais de vinte anos. “Mas não, ele, Olavo de Carvalho, sempre estuda e verifica muito
bem os fatos acerca das coisas que declara”, dirão seus alunos. Se for assim, temos um problema
aqui: ou ele buscou saber sobre Luciane Amato antes da fundação do instituto Olavo de Carvalho e
não encontrou nada que depusesse contra ela (parece pouco provável que ele fez isso); ou ele não
verificou nada e, mesmo assim, deixou muitos alunos seus passarem pela experiência “instituto
Olavo de Carvalho”; ou ele verificou, encontrou problemas em Luciane Amato, mas mesmo assim a
deixou fundar um instituto com seu nome. Olavo de Carvalho sempre tem uma justificativa nobre
(mesmo que ninguém a conheça e todo mundo apenas a imagine) para o que faz. Gostaria de saber
qual foi ela dessa vez.

Contudo, do que foi dito sobre o instituto Olavo de Carvalho e sobre Luciane Amato (e tenho
certeza de que vários dos alunos que por lá passaram vão me dar razão, senão a respeito tudo, a
respeito de muita coisa de que falei), se tanta coisa assim aconteceu, resta uma pergunta a fazer: por
que ninguém jamais veio a público para relatar e denunciar o que ocorreu por lá?

Bom, tenho minhas hipóteses. Pode ser que alguns temam alguma espécie de retaliação. Pode ser
que alguns ainda guardem algum temor inconsciente ou consciente em relação a Luciane Amato e
sua personalidade colérica. Pode ser que alguns se achem devedores por terem recebido alguma
espécie de ajuda de Luciane Amato. E há, também, conforme me apontou um amigo e ex-aluno do
instituto Olavo de Carvalho, a própria dificuldade de se entender o que aconteceu.
13

Um dos principais motivos, porém, com certeza, é a vergonha de ter participado de uma coisa
dessas, do instituto Olavo de Carvalho. Não é fácil dizer que se viram as coisas que narrei acima,
principalmente quando falei de Luciane Amato e de nossa (de seus alunos, ao menos de seus alunos
mais próximos) às vezes mais e às vezes menos consciente cumplicidade com ela, e admitir que,
quase sempre ou sempre, enquanto se estava no instituto, se calou acerca delas, muitas vezes sem
sequer experimentar surpresa ou indignação (a não ser que eu tenha sido o único). Estávamos (pois
acho que não era o único) com as sensibilidades moral, psicológica e intelectual embotadas.
Luciane Amato usou do poder concedido a ela na relação transferencial, através da qual atribuímos
a ela muito crédito e a ela concedemos muita obediência, para nos impor tarefas e obrigações
morais (às vezes até obrigações imorais, como no caso de seu aluno-amante) e práticas cujo não
cumprimento ou cumprimento insatisfatório geravam em nós muita culpa, para assim,
culpabilizando-nos, nos submeter ainda mais às suas vontades. De vez em quando, ela nos
lisonjeava com palavras de incentivo sobre nossos progressos, sobre nossas apresentações, sobre
nossa utilidade para o instituto e em prol de sua (do instituto Olavo de Carvalho) nobilíssima
missão, para que nós, que já queríamos seu afeto e aprovação, nos sentíssemos novamente próximos
dela – e juntamente com isso nos sentíssemos novamente enobrecidos pelas tarefas de que fomos
investidos e próximos do propósito grandioso a que suas (das tarefas) realizações tendiam. Mas,
para podermos nos sentir novamente aproximados e acolhidos, era preciso antes afastar, fosse
através de “gelos” e distanciamentos (em relação aos quais muitas vezes desconhecíamos os
motivos mas já nos sentíamos culpados e, por isso, buscávamos tais motivos em nossas imaginações
– lembrem-se, a título de exemplo, das não-respostas ou demoras em responder e-mails), fosse
através da culpabilização direta, mesmo que essa culpabilização chegasse de forma indireta, através
de algum outro aluno do instituto Olavo de Carvalho. Afinal, se você está sempre próximo, você
não sente e não reconhece a “graça” da reaproximação. Às vezes, com suas palavras de motivação,
Luciane Amato tinha o poder de nos “reerguer” e motivar a prosseguir nos estudos que queríamos
largar, mas ela estava nos “reerguendo” de uma depressão muitas vezes causada pelas relações que
tínhamos com ela e entre nós, membros do instituto Olavo de Carvalho, e também pelo próprio
excesso de obrigações referentes aos estudos, principalmente aos estudos de coisas que não
queríamos – mas achávamos que queríamos – estudar. Não estou dizendo que, necessariamente,
todos esses comportamentos de Luciane Amato fossem conscientes, mas, se (e aqueles que) não o
foram, decorriam de um modo habitual dela se comportar (e “o hábito é uma segunda natureza”,
lembram?) e da dupla posição que ela ocupava em relação a nós, de diretora do importantíssimo
instituto Olavo de Carvalho e de guardiã, transmissora e agora realizadora da ainda mais importante
missão de salvar o Brasil, ou ao menos seus alunos, das tão recorrentemente apontadas por Olavo de
Carvalho misérias intelectuais e morais brasileiras. Aquele se tornou, por assim dizer, seu modo
“natural” e habitual de travar relações, o que, sob certos pontos de vista, é pior do que a canalhice e
a perversidade conscientes. Tendo em vista o que eu disse neste parágrafo, pode-se dizer, então, que
fomos, sim, vítimas de Luciane Amato. Mas também reside em muitos de nós a culpa em virtude de
termos sido co-participantes em alguns dos malfeitos dela, por termos silenciado acerca de muitos
desses malfeitos, por termos sido garotos (e garotas) de recado dela (a fofoca e a maledicência) e
por termos lançado muitas culpas e julgamentos (muitas vezes injustos) uns sobre os outros. E isso
faz, além disso, a gente (pelo menos me faz) questionar: qual era nosso problema por termos
passado por tudo isso tantas vezes sem esboçarmos reação, sem nos indignarmos, sem nos
rebelarmos, a não ser às escondidas e com medo? Isso talvez nos leve a questionarmo-nos sobre
nossa “normalidade”, o que é assustador. E essa é, acredito, junto com a vergonha, uma das razões
de ninguém querer falar publicamente dos ocorridos no instituto Olavo de Carvalho.

Entretanto, ainda há um outro motivo, acredito, de não se querer falar em público do que aconteceu
no instituto Olavo de Carvalho. E esse motivo, que também traz consigo culpa, é o que assemelha
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Luciane Amato, Olavo de Carvalho e seus alunos (de ambos): nossa arrogância. Nossa presunção de
superioridade moral e intelectual em relação à intelectualidade descrita por Olavo de Carvalho
como dominante em toda a superestrutura social e também em relação a toda uma parcela da
sociedade brasileira (incluindo aí nossos parentes e amigos) sujeita às crenças propagadas por essa
classe. Essa presunção de superioridade, que nos colocava para nós mesmos em tão alta conta
(mesmo que não o percebêssemos), torna muito difícil admitir que fomos enganados, que fomos
feitos de trouxas por uma aproveitadora. Para os mais presunçosos, como eu, foi ainda mais difícil
admitir, pois essa aproveitadora, Luciane Amato, era uma aproveitadora não muito inteligente. Se
fosse de fato inteligente, não deixaria tantos rastros. Nós nos achávamos especiais, e fomos comuns
em nossos enganos, em nossas mesquinharias e em nossas crenças e visões bitoladas dos outros
seres humanos e da intelectualidade e da sociedade brasileira em geral, comuns a milhares de outros
olavetes por aí. Quase todos (pelo menos todos a quem tenho acesso) os alunos e alguns ex-alunos
de Olavo de Carvalho ainda se acham intelectual e moralmente superiores aos restantes dos mortais.
Alguns gostam de afirmá-la (sua presunção de superioridade) em ostentações do que consideram ser
exemplos de macheza (“faço aulas de tiro”, “pratico a caça”, “olha só a minha camiseta do
Mossad”). Alguns parecem guardá-la, a arrogância, em suas auto-definições e em seus posts nas
redes sociais.

E esse traço de presunção de superioridade moral e intelectual está ainda presente em cada frase de
Olavo de Carvalho e de seus seguidores quando eles todos falam da mídia e da intelectualidade
brasileiras. Toda vez que eles começam uma frase com “Brasileiro é”, “A mídia é”, “Na
universidade só” ou “Tem de ser muito imbecil para acreditar”, “Só um idiota não vê”, “Até um
menino de 12 anos perceberia”, e coisas do tipo, toda vez em que isso ocorre, lá estão a presunção e
a arrogância. Olavo de Carvalho diz que queria formar uma elite intelectual, mas ajudou a organizar
um movimento de massa (mesmo que essa massa não seja tão grande), de pessoas com as mesmas
crenças, os mesmos preconceitos, talvez até com hábitos semelhantes, com seus próprios jargões e
frases de efeito e que até se expressam ou tentam se expressar como seu guru, pessoas
indiferenciadas como uma massa. Em parte, Luciane Amato só continuou essa escola. Gambini
(1988) diz que “Se o objeto (no qual algo é projetado) for valorizado demais, o sujeito não pode se
desenvolver e diferenciar-se enquanto indivíduo, pois a energia necessária para tanto prende-se ao
objeto e não pode ser usada para outro fim” (p. 45). E eu acho que isso explica, em parte, a falta de
originalidade, improdutividade e a dependência excessiva em termos intelectuais de muitos dos
alunos de Olavo de Carvalho em relação a este. Projetou-se seu ideal (dos alunos) de virtude e
inteligência no mestre e este é por eles muito valorizado. Por sua vez, Olavo de Carvalho oferece o
“gancho” perfeito para a projeção que advém de seus alunos, pois ele realmente se acha o cara mais
inteligente da terra e adora ser reverenciado. Uma coisa é ter Olavo de Carvalho como uma
referência entre várias, outra coisa é fazer dele objeto de reverência (como bem me disse o
Armando).

Curiosa (e obrigatoriamente?), essa ostentação de superioridade por parte de alunos de Olavo de


Carvalho, em virtude da projeção de um ideal de grandiosidade e da identificação com esse ideal e
com a imagem que fazem de seu mestre, é compensada por uma total submissão a este e a tudo o
que ele (Olavo de Carvalho) diz. Os machões se tornam mansinhos e passivos diante do mestre; os
especiais, de repente, se fazem vulgares; uns, que se dizem náufragos, continuam a navegar sob a
mesma e torta velha vela; e os arrogantes (diante de parentes, companheiros e colegas) se mostram
submissos ao mestre. Do mesmo modo que todos nós fomos submissos a Luciane Amato.

A principal razão, aliás, de nosso silêncio e de nossa falta de indignação e da falta de atinar que algo
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de errado estava acontecendo quando Luciane Amato nos confidenciava algo da vida íntima de
outros alunos – e sempre era algum “defeito” ou fraqueza – acredito que se relaciona a esse jogo de
compensações entre nossa arrogância e nosso sentimento de inferioridade (assim como muito do
que Luciane Amato disse e fez e, possivelmente, muito do que Olavo de Carvalho disse e diz
explique-se por esse mesmo jogo de compensações). Lembro-me de um episódio em que uma
pessoa muito próxima a Luciane Amato me revelou uma fraqueza íntima de uma outra pessoa muito
próxima a ela (aquela pessoa com certeza ficou sabendo da fraqueza porque Luciane Amato a
revelou a ela). Não me escandalizei com a revelação, lembro-me até de ter sentido um certo alívio
ao saber daquilo, afinal, aquela pessoa, além de ser muito mais próxima de Luciane Amato do que
eu (preferida em relação a mim então), era muito mais disciplinada, estudava muito mais e se
interessava por muitos mais assuntos “interessantes” do que eu. Não externei e nem pensei comigo
mesmo na época, mas se fosse para expressar meu sentimento, seria algo assim: “ele não é tão
melhor do que eu, afinal”. Ou seja, para quem se sentia inferior, aquela poderia ser uma
oportunidade de se ver superior, ao menos sob determinado aspecto, com a adicional vantagem
psicológica de pensar ou sentir que, se Luciane Amato estava dizendo aquelas coisas daquela
pessoa, ela também não tinha tanta consideração assim para com aquela pessoa (ela não era assim
tão mais amada – ou considerada mais inteligente ou moralmente melhor – por Luciane Amato do
que eu). Ou seja, era, de certa forma, um alento para a psique e para a vaidade ouvir, senão todas, ao
menos algumas das indiscrições de Luciane Amato sobre outros alunos dela. Nesse (nosso?)
movimento interior há arrogância, sentimento de inferioridade, cumplicidade no malfeito e,
possivelmente, culpa decorrente tanto da arrogância como de sua consequência, a cumplicidade
resultante do sentimento sentido e do silêncio e falta de indignação em relação à indiscrição (a não
ser quando esta dizia respeito a algum fato de nossa própria vida íntima, não é? Pois aí nossa honra
e também nossa vaidade (novamente) estavam em jogo). Se fui o único a me comportar assim, peço
desculpas a meus ex-colegas de instituto Olavo de Carvalho por minha generalização inadequada.
Podem botar a arrogância e o sentimento de inferioridade somente em minha conta.

Lembro-me de que eu já estava me sentindo para baixo antes de Olavo de Carvalho chamar Luciane
Amato de sociopata. Vieram falar comigo depois disso e, a princípio, eu defendi, em e para mim
mesmo, Luciane Amato. Mas eu senti que precisava me afastar do instituto Olavo de Carvalho para
pensar no que estava acontecendo. Fui então conversar com Luciane e falar que ia me afastar,
dizendo que eu já não sabia o que queria fazer (alguma vez soube?) e que nada do que eu estava
fazendo fazia sentido para mim. Não me lembro se foi logo que saí do consultório dela ou se foi
num processo pelo qual passei nas duas semanas seguintes, em meio a e-mails de colegas que
também foram alunos no instituto Olavo de Carvalho, que eu tive uma espécie de insight e disse
comigo mais ou menos assim: “Meu Deus, a Luciane está há vinte ou trinta anos seguindo fielmente
Olavo de Carvalho e ela não sabe nada realmente. Tudo o que ela sabe é baseado ou na confiança
que ela tem (tinha?) em seu mestre ou em algumas crenças consolidadas que ela tem. Ela é vazia de
conhecimento. Como eu!” (ao conversar com um aluno sobre esse momento, lembrei-me de que ela
disse que esperava que Olavo de Carvalho, com tudo o que escreveu, falou e fez, tivesse feito mais
bem do que mal, mas que ela não sabia qual era o caso, na verdade). Lembro que senti um nojo
enorme de mim mesmo e dizia “Eu não posso ser assim!”. Eu sentia nojo de mim porque cada
palavra que eu dizia parecia sair da boca de Olavo de Carvalho. Até o que eu sentia parecia não ser
meu, a não ser aquele nojo. E então eu decidi me afastar de tudo aquilo, não só de Luciane Amato e
do instituto Olavo de Carvalho, mas também da influência de Olavo de Carvalho. Essa – a de não
me reconhecer – foi a principal razão de eu ter me afastado de tudo aquilo, mais importante que as
questões de ordem moral ou do que as ponderações de meus colegas sobre os comportamentos de
Luciane Amato (embora sem estas últimas certamente eu ficaria patinando por muito mais tempo).
Olavo de Carvalho, ou melhor, tudo o que eu conferia à imagem “Olavo de Carvalho”, tinha sido
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demasiadamente valorizado por mim e, assim, roubava a energia necessária ao meu


desenvolvimento pessoal e a minha diferenciação.

Diferentemente do que aconteceu com alguns de meus ex-colegas de instituto Olavo de Carvalho,
eram a imagem, as palavras e o modo de falar de Olavo de Carvalho que pesavam sobre mim, que
eu sentia refletir. E não os de Luciane Amato. “Mas esse é um problema seu, a projeção saiu de
você, o crédulo foi você”, dirão. E estarão certos. Entretanto, esse foi um problema só meu? Se você
não se identifica (ou se ofende) nem um pouco com algo do que estou dizendo, este texto realmente
não é para você.

Ao revisar meu trajeto cognitivo desde o primeiro contato com Olavo de Carvalho até o fim do
instituto que tinha seu nome, vejo que, após ler os primeiros textos dele, pensei que ele exagerava
quanto à posição que ocupava e à condição moral da esquerda no Brasil. Mas meu melhor amigo na
faculdade de Letras era uma pessoa muito próxima a Luciane Amato e conhecera Olavo de
Carvalho pessoalmente. Esse amigo me contou várias histórias de Olavo de Carvalho, de como ele
estudara sozinho e muito, apartado da universidade, de como ele estava apenas querendo falar a
verdade e que não estava (como pensei a princípio) travando um duelo ideológico, me falou do
quanto ele era genial. Lembro-me de, em uma de nossas conversas, ele me dizer que “Olavo é
grande”, talvez maior do que todos os filósofos que estudávamos na universidade (e aqui ele se
referia a Descartes, a Kant, a Marx, a Freud etc.). Aos 20 anos, com minha ignorância e falta de
experiência, achei esquisito, mas fiquei impressionado. Esse meu amigo me passou alguns textos de
Olavo de Carvalho, de filosofia e sobre a vida intelectual, e fiquei mais impressionado ainda. E
então passei a dar mais crédito ao que dizia Olavo de Carvalho, passei a ler seus artigos de jornal
com mais atenção e como se tudo aquilo que ele falava fosse verdade (embora não estivesse, nesse
momento, ainda totalmente “entregue”). Minha perspectiva mudou a tal ponto em tão pouco tempo,
no entanto, que, me lembro bem, depois de votar em Lula no primeiro turno das eleições de 2002,
no segundo turno votei nulo (por via das dúvidas, não votaria em alguém que um cara que “é
grande” colocava como representante de tudo o que havia de pior por estas bandas). Depois li A
nova era e a revolução cultural, O Jardim das Aflições (esta foi a mais impactante das leituras) e O
Imbecil Coletivo, passei a observar melhor o que acontecia e o que líamos na universidade e
comecei a achar que Olavo de Carvalho tinha razão quanto ao que ocorria lá. Como, conforme pude
conferir, ele tinha razão quanto a esse ponto (universidade), conferi ainda mais crédito a Olavo de
Carvalho com relação ao que ele dizia sobre outras coisas também, e, já nesse momento, ele
começava a se tornar o porto seguro, aquele que eu poderia confiar que estava dizendo a verdade
sobre todas as coisas das quais eu “queria” saber a verdade e não sabia (Conveniente, né, caso você
não queira de fato – embora diga a todo momento que quer – descobrir as coisas por si? Você
saberia muito pouco sozinho, por sua conta e risco, não é? Ao passo que Olavo de Carvalho sabia –
sempre e sobre tudo – muita coisa e muito profundamente.). E foi por esses tempos, antes de
começar a ter aulas com Luciane Amato, que comecei a venerar e a me identificar (no sentido
psicológico) com Olavo de Carvalho. E eu lia muitos dos autores indicados por ele e, pasmem, eles
confirmavam o que ele dizia! Li O Abandono dos Ideais e aquilo parecia com algo que eu vivera
recentemente na universidade. Li o Introdução à Vida Intelectual e decidi que era aquele tipo de
intelectual que eu queria ser. E assim ia aumentando mais e mais o crédito que eu dava às coisas que
Olavo de Carvalho dizia.

Mas se me perguntassem (e é o que agora pergunto a todos os alunos de Olavo de Carvalho): você
leu e avaliou criteriosamente todos (ou mesmo apenas um dos) os autores que Olavo de Carvalho
cita, às vezes como “clássicos”, como “leituras fundamentais” ou como “leituras necessárias”, para
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provar que suas teses sobre as ações e fundamentos das ações da esquerda estão corretas e muitas
vezes “mais do que provadas”? Você realmente sabe se o que Olavo de Carvalho fala sobre
professores universitários e autores de esquerda no Brasil ou sobre tantos filósofos é verdade ou
não? Você foi lá conferir nos originais? Mais ainda, fez as devidas articulações dos originais com
outras obras do autor, tomou as devidas precauções quanto ao conhecimento do uso dos termos,
pesquisou comentadores, para não cometer anacronismos? E você tem certeza de que Olavo de
Carvalho fez tudo isso? Com tantos autores? Eu não. Mas se você, como eu, também não, isso quer
dizer que existem lacunas enormes em nosso real conhecimento sobre as coisas de que Olavo de
Carvalho fala e, portanto, somos completamente incapazes de avaliar sua veracidade ou não. Mas,
se você é assim, o que o autoriza a distribuir vitupérios aos quatro ventos e afetar a posse de tantos
conhecimentos? É bom pensar-se a si mesmo mais inteligente do que toda uma classe (a acadêmica)
que se diz a detentora dos principais, senão de todos, os conhecimentos de um lugar, não é? É bom
se achar superior aos que se dizem inteligentes, né? É bom saber de uma coisa que ninguém (ou
muito pouca gente) sabe (como a alquimia, a astrocaracterologia e os elementos de tipologia
espiritual) e estar entre os especiais, não é? É bom ter alguém em quem despejar nossas raivas e
frustrações, não? Mas isso é pretender conhecer o que não se conhece e pretender ser o que não se
é. Isso é arrogância. A mesma arrogância que acompanhou Luciane Amato e a nós, ex-alunos do
finado instituto Olavo de Carvalho.

É a refletir sobre as coisas que eu disse que convido alunos e ex-alunos de Olavo de Carvalho (e do
instituto Olavo de Carvalho). Você tem (ou teve), como eu tive, em seus atos e palavras, essa
presunção de superioridade intelectual e moral de que falei? Essa presunção, por sua vez, está (e até
que ponto?) calcada na projeção de e identificação com uma imagem de grandiosidade, de
superioridade moral e intelectual de Olavo de Carvalho, de identificação com o que ele diz e faz?
Você tem certeza de que o que você fala, e de que o modo como você fala, seria o mesmo ou ao
menos parecido com o que é se você não estivesse sob a influência de Olavo de Carvalho? Você
reverencia Olavo de Carvalho? E, complementarmente, reflita se Olavo de Carvalho não contribui
para e chama a essa reverência (pense um pouco no que eu disse nos outros textos que escrevi – e
que estão em minha linha do tempo do facebook – sobre Olavo de Carvalho e sua influência. Nada
daquilo pode ser verdade?) (NOTA 6 – sobre as frases chantagistas). Reflitam se ele não se coloca
com uma recorrência absurda na condição de herói, de intelectual infalível, de alguém intelectual e
moralmente superior e que quer continuar superior não só aos seus adversários mas também aos
seus alunos (por que, por exemplo, ele cita como seus alunos mais talentosos seus alunos mais fiéis
a ele?), provavelmente para que estes permaneçam indefinidamente seus alunos e, portanto, servis e
reverentes a ele, para que, de forma alguma, brilhem mais do que ele. Que tipo de relação é possível
ter com Olavo de Carvalho? O que sobraria de você, enfim, sem Olavo de Carvalho?

Além disso, não podemos esquecer que quem autorizou a existência do instituto Olavo de Carvalho
foi Olavo de Carvalho. Quem jamais visitou o instituto Olavo de Carvalho para saber o que
acontecia por lá foi Olavo de Carvalho. Quem jamais perguntou a nenhum aluno do instituto Olavo
de Carvalho o que lá ocorria, a não ser após ser alertado por alguns desses alunos de que sua
reputação poderia ser manchada (de que algo de sua vida pessoal poderia vir à tona, na verdade), foi
Olavo de Carvalho. Quem disse publicamente que Luciane Amato era uma das únicas pessoas
autorizadas a transmitir sua obra foi Olavo de Carvalho. E quem alimentava, em parte, o espírito do
instituto Olavo de Carvalho, principalmente no que dizia respeito à arrogância de seus membros, ao
desrespeito pela opinião dos diferentes, ao fato de eles acharem-se vítimas de uma sociedade
ignorante e imoral e verem inimigos por todos os lados, quanto ao fato de eles acharem-se tão
importantes em suas missões a ponto de acharem-nas muitas vezes mais importantes do que seus
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amigos, namoradas e familiares, quanto à unilateralidade das ações e pensamentos dos alunos em
função da “vida intelectual” (com suas consequências para todos os outros aspectos da vida –
revejam NOTA 4), quem alimentou essas disposições foi principalmente Olavo de Carvalho. Sendo
assim, ele que não venha tirar o seu da reta. Luciane Amato, no mínimo, soube em que fonte beber
para exercer o tipo de influência que exerceu.

Tudo o que eu disse de Olavo de Carvalho não significa que não aprendi algumas coisas com ele.
Mas significa que tudo o que foi aprendido, na minha opinião e no meu caso, não compensaram os
desgastes emocional e cognitivo resultantes de ler, estudar e levar a sério Olavo de Carvalho. Se
você consegue lê-lo, estudá-lo e levá-lo a sério sem se tornar intelectualmente dependente dele e
sem reverenciá-lo; sem desconfiar de e procurar “esquerdismos” e ameaças de algum tipo por toda
parte; sem se achar um incompreendido (e, portanto, solitário e ao mesmo tempo especial) por todos
ao seu redor (a não ser os outros seguidores de Olavo de Carvalho) por causa das misérias morais e
intelectuais da cultura brasileira tal e qual ele as descreve; se você consegue manter-se neutro acerca
de todos os livros de que ele fala, de todos os intelectuais e filósofos que ele critica e que você não
leu ou sobre os quais não sabe o suficiente para avaliar o que ele diz a respeito deles; se você
consegue não tornar-se crítico acerca de todos os aspectos que você desconhece da cultura e da
intelectualidade brasileiras apesar das críticas tão veementes e exaustivamente repetidas de Olavo
de Carvalho a elas; se você consegue relevar a enorme vaidade, o egocentrismo e as leviandades
(falhas de julgamento) e frases chantagistas de Olavo de Carvalho ao lê-lo, estudá-lo e levá-lo a
sério, muito bem, você pode acompanhar o que diz Olavo de Carvalho sem preocupações a respeito
de sua integridade psíquica e intelectual. Eu não consegui. Eu não consigo.

Quanto ao pessoal do finado instituto Olavo de Carvalho, reflitam se vocês não viram acontecer
muita coisa – senão mais – de tudo o que falei acima (e/ou coisas semelhantes) e, se, em muitos
casos, não se comportaram como eu, de forma passiva, submissa e ao mesmo tempo arrogante.
Contudo, saibam que não só nossos defeitos e fragilidades (e é muito necessário buscar saber sobre
eles e elas), mas também muitas de nossas boas qualidades foram exploradas e indevidamente
usadas por Luciane Amato.

E, finalmente, não podemos perder de vista que Luciane Amato banalizou a filosofia, a psicologia e
as artes ao ser uma amadora fingindo não sê-lo e, portanto, foi uma farsante. Luciane Amato
banalizou palavras e expressões altamente significativas, como vocação, consciência de si,
sinceridade e juízo final. Luciane Amato banalizou o mal, ao nos enganar e manipular, ao cobrar e
receber indevidamente, ao revelar a terceiros relatos da vida íntima de seus alunos contados a ela
como a uma psicóloga (mas ela não era psicóloga e teria até essa desculpa, uma desculpa de
amadora e banal). Luciane Amato banalizou o mal ao colocar-nos uns contra os outros e ao
incentivar nossos piores defeitos, nossos ciúmes, nossas invejas, nossos egoísmos e vaidades.
Luciane Amato banalizou o mal ao expor e debochar de nossas fraquezas. E Luciane Amato, por
fim, banalizou o bem. Ao se valer de frases lapidares de grandes autores e santos e usar o nome de
Deus para justificar suas ações e insistir nelas, ao julgar a todos como se estivesse moral e
espiritualmente acima de todos nós e também ao fingir, de forma afetada, humildade, Luciane
Amato banalizou o bem. Luciane Amato banalizou o bem ao usar o dinheiro de alguns e a boa
vontade de todos para atingir seus fins mesquinhos sob uma capa de nobreza. Isto estava lá o tempo
todo e se escancarou diversas vezes diante de nós sem que o percebêssemos: Luciane Amato foi
banal. E nós teremos que viver com esta (sem, de forma alguma, esquecermo-nos de nossas
responsabilidades): fomos feitos de trouxas, e levados a fazer coisas que, em sã consciência, não
faríamos, por uma banal.
19

NOTA 1

“O contraste entre a altitude dessas cogitações e a mesquinhez das reações que o livro suscitou nesta
parte do mundo não me infunde nenhuma revolta, já que minha alma pecaminosa é antes inclinada à
gula, à preguiça e à luxúria (os três pecados capitais “menos graves” - parênteses meu) do que a
espumar de cólera, mas uma tristeza sem remédio, cheia de presságios sombrios sobre o papel que
este país pretende representar na História espiritual do mundo” (Carvalho, 1996, p. 17). Agora
comparem o que disse Olavo de Carvalho com a frase de Luciane Amato: “entre os meus imensos e
imperdoáveis pecados não está a ingratidão”. O prólogo de “Aristóteles em Nova Perspectiva”,
aliás, fornece, de forma assustadora por seu caráter antecipatório quanto à trajetória do escritor, um
bom exemplar do estilo e das motivações (declaradas por ele mesmo) de Olavo de Carvalho
relativas a suas críticas à classe acadêmica e a sua missão de salvar o país das trevas da ignorância,
bem como um bom exemplar do caráter auto-referente, vitimista e auto-exaltador de muitas,
muitíssimas de suas frases. Lembremos que, nesse livro, Olavo de Carvalho fala, em seu prólogo,
da PRIMEIRA polêmica em que se envolveu com intelectuais do sistema (pelo menos a primeira de
que tive notícia). Ele não era nada conhecido e não havia mídias sociais e, portanto, não podia dar a
desculpa de que estava sendo massivamente criticado e agredido verbalmente, e que, por causa
disso, estava se defendendo. Ele estava se defendendo de um único ataque e, para isso, já destilou
(em 9 páginas de um livro de 200) praticamente todos os recursos do estilo que ainda hoje usa
quando se defende de e ataca seus adversários. Com base nessa única crítica recebida, de um único
membro, de uma única agremiação, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC),
Olavo de Carvalho já teria tirado suas conclusões quanto à totalidade da classe intelectual brasileira,
a ponto de ter “presságios sombrios sobre o papel que este país pretende representar na história
espiritual do mundo”? Se não, quantas vezes antes ele tinha, de fato, sido atacado injustamente a
ponto de sentir que ofenderam sua integridade intelectual e para poder fazer suas generalizações? Se
ele já conhecia antes todas as falhas da classe acadêmica brasileira, por que começar a escrever
sobre elas apenas após receber uma crítica a um livro seu? Além disso, Olavo de Carvalho diz,
nesse mesmo prólogo, que “Foi nesse instante que nasceu, de início obscura e indefinida, a
inspiração do livro O Imbecil Coletivo, como a de uma espécie de tratamento de choque para
despertar o moribundo” (p. 21). Se Olavo de Carvalho estiver falando a verdade acerca de suas
motivações nesse prólogo, não sei como escapar de dizer que sua reação foi, no mínimo, exagerada.
No mesmo prólogo, Olavo de Carvalho fala também de “seu terrível sentimento de solidão” (p.20)
(o eterno incompreendido e excepcional em sua solidão – mais abaixo menciono o senti-se solitário
e sem interlocutores como um possível sintoma da paranoia), além de qualificar seus adversários,
dentre outras coisas, como “essas criaturas”, “suínos e galináceos” e possuidores de “três
neurônios”. Isso foi há 23 anos, minha gente!

NOTA 2

http://olavodecarvalho.org/psicopatas/

http://olavodecarvalho.org/logica-da-histeria/
20

http://olavodecarvalho.org/a-mentira-estrutural/

NOTA 3

Conhecemos o mito grego de Ícaro, cujo pai Dédalo construiu asas para que ambos, pai e filho,
voassem para fora do Labirinto do Minotauro, o qual (labirinto), segundo a tradição, foi idealizado
pelo próprio Dédalo. Mas dificilmente recordamos do que ocorreu antes da ida de Dédalo a Creta e,
portanto, do que ocorreu anteriormente a sua punição. “Dédalo, artesão e inventor de insuperável
capacidade, vive com o filho Ícaro na corte do rei Minos, onde exerce sua arte. Na realidade, ele é
um ateniense cuja presença em Creta se explica por um incidente anterior que lança sombra sobre
sua insuperabilidade e no qual a hýbris se anuncia. Dentre os aprendizes a quem instruía em Atenas,
distinguia-se Talo, filho de sua irmã Policaste, o qual, ainda muito jovem, já começava a superar o
mestre. Dédalo o matou e, descoberto, foi banido de Atenas” (ZOJA, História da Arrogância, 2000,
p. 125). E eu me pergunto se Luciane Amato (como Olavo de Carvalho em relação a seus alunos?)
não nos diminuía para si mesma e uns aos outros para, ao nos apequenar duplamente (nos
diminuindo e nos fazendo partícipes da diminuição uns dos outros), prolongar indefinidamente
nossa dependência em relação a ela, para assim sentir-se, também indefinidamente, superior a todos
nós (mesmo que isso não tenha ocorrido de forma totalmente consciente). Será que ela não
apequenava também por inveja da superioridade (mesmo que ainda apenas possível) dos outros?
Será que ela não “matava” nosso desenvolvimento pessoal também para assegurar sua
superioridade?

NOTA 4

“Ajax tem um só interesse: ser reconhecido como o mais forte. Ao ter um só interesse, ao existir só
em função desse interesse, sua forma de vida é a solidão. Ajax se nutre de pensamentos solitários.
Mas o vazio de pessoas e de interesses é contrário à natureza da psique, que reage preenchendo esse
espaço. Pouco a pouco as presenças que são rechaçadas na realidade reaparecem na mente.
Rechaçadas enquanto realidade, reaparecem como pesadelos e obsessões. Se convertem em
desconfiança e no regresso vitorioso do que se queria negar. A vida mental de Ajax está saturada de
suspeitas a ponto de explodir” (ZOJA, 2013, p. 13).

O fato de se devotar a um só interesse (os estudos, as leituras, destruir a elite esquerdista, destruir o
inimigo etc.) é apontado por Zoja como um dos traços do comportamento paranoico e acredito que
nossa devoção preferencial ou exclusiva ao instituto Olavo de Carvalho foi uma amostra desse
traço.

NOTA 5

Há elementos que sugerem pensamentos paranoides em posts e artigos de Olavo de Carvalho, no


seu estilo e no conteúdo de muitas de suas proposições. Armando me advertiu desse fato após eu ler
21

alguns artigos de Olavo de Carvalho para ele. O que interessa mesmo, para mim, é avaliar a
possibilidade de como ele povoa o mundo de inimigos e mostra achar-se perseguido por todo
mundo em seus artigos e posts no facebook. “Mas ele tem mesmo muitos inimigos e
perseguidores”, dirão seus fãs e simpatizantes. Mas não foi ele mesmo quem os criou? Olavo de
Carvalho encontra inimigos em toda parte, os denuncia, menospreza, achincalha e enraivece (sem
falar de abstrações como o “comunismo” ou “a mentalidade revolucionária”, categorias definidas
por Olavo de Carvalho nas quais ele enquadra quase tudo o que está em circulação entre as classes
falantes. Será que o que ele diz estar em tanta gente está mesmo? E será que a abrangência que ele
dá a esses termos não é demasiado extensa?). Nesse processo, não seriam criados inimigos reais, o
que, por sua vez, num só tempo, confirmaria (para ele e seus seguidores) que aqueles inimigos
existiriam mesmo e também exaltaria seu maior combatedor, ele mesmo, Olavo de Carvalho? E não
é esquisito que os maiores inimigos de Olavo de Carvalho, aqueles – praticamente os únicos – que
ele mais critica, diminui e achincalha em seus artigos e posts exerçam duas profissões: de jornalista
ou de professor? Justamente as duas profissões que Olavo de Carvalho exerceu durante quase toda
sua vida de 72 anos. Seria uma auto-referência? Será que ele se odeia tanto assim? Para alguns
teóricos (ver Henderson e Gillespie, Textbook on Psychiatry, p. 292; e Jung, The Visions Seminar,
vol. II, p. 512 – essas duas citações estão na obra de Roberto Gambini, O espelho índio, de 1988,
p.21-22), o ódio de si mesmo estaria na origem de várias atitudes paranoicas. E por falar em auto-
referência e de como Olavo de Carvalho se acha perseguido, segue uma frase do próprio a título de
ilustração e resumo do que eu disse: “A melhor maneira de fazer um sujeito parecer agressivo é
agredi-lo constantemente” (https://olavodecarvalhofb.wordpress.com/2017/02/22/2122017/): e
Olavo de Carvalho parece estar dos dois lados dessa equação. A quantidade de frases de Olavo de
Carvalho dirigidas a seus adversários e criticados que, se lidas como auto-referentes, caberiam
como definições de si mesmo, aliás, é atordoante.

Luigi Zoja (2013), ao descrever os traços típicos da paranoia, afirma que “O paranoico grave
constrói uma teoria de complô porque desta maneira parece encontrar um sentido para seu
sofrimento ao mesmo tempo que compensa algumas debilidades de fundo. Em primeiro lugar, a
solidão (releiam a NOTA 1 e relembrem do “terrível sentimento de solidão” de Olavo de Carvalho
em relação ao ambiente cultural brasileiro), que de uma maneira circular é ao mesmo tempo causa e
consequência da desconfiança, rompe com a fantasia de ser o centro de interesse de todos (delírio
de referência). Em segundo lugar, a sensação de ser pouca coisa, negada durante muito tempo,
encontra uma solução aparentemente definitiva na fantasia contrária de grandeza: justamente
porque são cada vez mais numerosas as pessoas que tomam consciência de seu valor, estas se aliam,
por ciúmes, para impedir que se reconheçam os seus méritos. A este caso típico podem-se agregar
os componentes “laterais” mais frequentes da paranoia: megalomania e inveja, as quais são
atribuídas aos rivais mas que em realidade pertencem ao sujeito.” (p. 33) (os itálicos são do autor)

Parecem exemplos da “fantasia de ser o centro de interesse de todos” e da crença de que “são cada
vez mais numerosas as pessoas que tomam consciência de seu valor”, as quais, por isso, “se aliam,
por ciúmes, para impedir que se reconheçam seus méritos” os posts abaixo de Olavo de Cavalho (
https://www.facebook.com/olavo.decarvalho) (Ou seria Olavo de Carvalho tão perseguido mesmo?
Pode até ser que hoje, por ter se tornado conhecido, as afirmações abaixo pareçam verossímeis – o
que, em si, não elimina a possibilidade da presença de características paranoides no que ele escreve.
Mas e todas as afirmações feitas no prólogo de “Aristóteles em nova perspectiva” em que Olavo de
Carvalho se faz de vítima e nas quais culpabiliza a intelectualidade acadêmica? Esse livro é de
1996):
22

“O número, a uniformidade e constância dos ataques difamatórios que sofro da mídia não podem
ser explicados como acúmulo casual de meras coincidências. Há por trás disso a ação consciente de
um grupo, um consenso intencional, uma FORMAÇÃO DE QUADRILHA. (o complô contra ele)”
(06/07/2019)

“A falsificação proposital do meu pensamento já se tornou uma operação internacional, e ninguém


parece nem um pouco interessado em investigar esse concurso de crimes.” (09/07/2019)

Agora vocês podem estar se perguntando: mas você não está também se valendo de um dos recursos
para anular a ação de um adversário usados por Olavo de Carvalho, o de patologizá-los? Talvez sim,
mas há algumas diferenças.

Primeiro, a perspectiva sob a qual vejo a paranoia é a seguinte, descrita por Zoja (2013):

“Em geral consideramos as enfermidades mentais como algo diferente e temível. Podemos sentir
compaixão em relação àqueles que delas padecem, mas também distância e desconfiança.
Entretanto, nos primeiros momentos em que nos aproximamos da paranoia podemos percebê-la
como um prolongamento de nossos pensamentos normais, mais precisamente, de nossa necessidade
de justificação. A paranoia, em sua versão atenuada, se vende e se compra todos os dias no meio da
multidão, não nos institutos psiquiátricos. Não é um pensamento totalmente diferente. Todo
processo mental típico está potencialmente presente em (todos) nós. A tentação de rechaçar nossas
responsabilidades e de atribuir o mal aos demais não constitui uma exceção. Uma voz interior nos
insinua que é uma questão que nos convém. Por mais débil que seja, por mais escondida que esteja,
existe em cada um de nós.

“Consequentemente, consideramos a paranoia não tanto como uma enfermidade, mas


preferencialmente como uma possibilidade presente em todos nós: como um arquétipo, no sentido
que dá a este termo Carl Gustav Jung. No mito deu lugar à aparição de Ajax e Otelo, e na história, a
personagens como Hitler e Stalin. Mas este traço psicológico pode aparecer num dia qualquer em
uma pessoa qualquer. É o pequeno Hitler em nosso interior.” (p. 31)

Além disso, não considero Olavo de Carvalho um adversário, mas alguém que exerce uma
influência, na minha opinião, mais problemática e moralmente questionável sobre seus alunos do
que estes talvez possam pensar. E é a alunos e ex-alunos de Olavo de Carvalho que dedico
especialmente o que escrevo neste texto, para que façam cada um suas auto-reflexões e tirem suas
conclusões quanto à validade ou não para si do que digo.

Em terceiro lugar, estou falando de uma única figura pública e apontando alguns elementos
paranoides encontrados nas declarações e textos de Olavo de Carvalho. Diferentemente de Olavo de
Carvalho, não estou patologizando toda uma classe de pessoas (vide os artigos que citei e se
encontram na NOTA 2).

Em quarto lugar, não estou estabelecendo um quadro clínico de Olavo de Carvalho, não estou
dizendo que ele é clinicamente paranoico. Mas apenas que há elementos paranoides em suas
declarações e textos e que isso exerce um efeito psicológico menos bom do que ruim sobre seus
alunos, independentemente de ele estar dizendo a verdade ou não. Porém, se muitos dos argumentos
23

de Olavo de Carvalho – notadamente aqueles em que ele se posiciona em relação à classe


intelectual acadêmica, à classe jornalistica e ao que ele chama de “esquerda” ou “comunista” -
tiverem um fundo paranoide, eles devem ser observados, sim, com cautela, pois, se Olavo de
Carvalho os vê simplesmente como perigos e/ou adversários, há aí um limite de perspectiva, já que,
conforme diz-se na citação que serve de epígrafe a este texto, “o único dever em relação aos
adversários é vencê-los”.

NOTA 6

Na apresentação do livro O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota (livro que estava
na escrivaninha de Bolsonaro em sua primeira transmissão online após vencer as eleições), de
Olavo de Carvalho (2013), Felipe Moura Brasil, antes de começar a falar do autor, transcreve a
seguinte epígrafe: “É um grande sinal de mediocridade elogiar sempre moderadamente” (Leibniz).
O próprio Olavo de Carvalho já fez referência a essa frase, salvo engano, em suas aulas e ela
aparece numa tradução encontrada em seu site: http://olavodecarvalho.org/os-roedores-da-gloria/.
Essa frase traz uma das marcas do estilo literário de Olavo de Carvalho: as frases chantagistas. O
que Felipe Moura Brasil quer dizer (e acredito que Olavo de Carvalho também), quando cita essa
frase é que “ou você admira Olavo de Carvalho imoderadamente ou você é um medíocre”
(esquecendo-se, oportunamente, do “sempre” presente na citação). Outras frases do mesmo tipo,
todas de Olavo de Carvalho, a título de exemplo: “O sujeito que não percebe a diferença de nível de
predição entre a doutrina da Igreja e o discurso das ciências sociais é o mais ridículo dos
analfabetos funcionais” (dia 06/07/2019, em sua linha do tempo no facebook); “Nenhum ser
humano de inteligência normal ou superior pode chegar à idade madura sem ser forçado pelo
acúmulo de fatos a admitir que muito do que se carimba como “teoria da conspiração” é verdade e
muito do que se louva como “ciência” é história da carrochinha” (03/07/2019, também no
facebook); “Uma direita antibolsonaro é como um pinto anti-ereção” (03/05/2019,
https://www.facebook.com/olavo.decarvalho ).

Mas, de propósito, escolhi uma citação de caráter edificante e que faz apelo ao argumento de
autoridade. E também de propósito escolhi uma citação feita por um aluno de Olavo de Carvalho.
Em primeiro lugar porque, talvez, esse seja o tipo de frase e marca de estilo olaviano mais copiado
pelos seguidores de Olavo de Carvalho, o que ao mesmo tempo denota uma submissão ao mestre e
uma tendência arrogante e exclusivista (ou você está do meu lado ou você é medíocre ou analfabeto
funcional ou impotente ou cúmplice de um regime político genocida etc. etc. etc.). Em segundo
lugar porque, do mesmo modo que o tipo de argumento chantagista, a frase de caráter edificante que
faz apelo ao dito de uma autoridade intelectual também tem a vantagem de prescindir da
argumentação razoável para exercer seus efeitos de ordem psicológica. Se Olavo de Carvalho já
“provou” que suas frases têm suas razões em outras oportunidades, isso é outra coisa. O que me
interessa é o que em si o tipo de argumento esconde (o efeito psicológico) e o que isso tem de
intelectualmente desonesto, além de como esse tipo de argumento é, também desonestamente,
especialmente se prescinde de fundamentos e explicações, usado por alunos de Olavo de Carvalho.
Não é à toa que a a apresentação do livro de Olavo de Carvalho feita por Felipe Moura Brasil seja,
além de um inventário de lisonjas ao mestre, também um texto com uma coleção de frases do tipo
chantagista [o título do livro já é uma frase desse tipo, e uma outra é “Olavo de Carvalho não é para
os frouxos” (p. 20)]. Além disso, vale lembrar que Luciane Amato dava “aulas” muitas vezes
24

unicamente baseada nesse tipo de frases, sem explicar seus fundamentos.

Emanuel Franchetti Silva

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