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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclu-
siva metodologia em período integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado.
O material didático é composto por 6 cadernos de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares.
O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto contém uma rica teoria que contempla, de
forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de material alternativo
complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades.
A seguir, apresentamos cada seção:

INCIDÊNCIA DO TEMA VIVENCIANDO


NAS PRINCIPAIS PROVAS
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreen-
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos são de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo temas para além da superficial memorização de fórmulas ou regras.
o território nacional. Para evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvol-
vida a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há
uma preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações
entre aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato
em seu dia a dia.
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção
tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua- APLICAÇÃO DO CONTEÚDO
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compila-
dos, deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e co-
mentados, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difí-
cil compreensão torne-se mais acessível e de bom entendimento
aos olhos do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever,
a qualquer momento, as explicações dadas em sala de aula.

MULTiMÍDiA
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidado-
sa seleção de conteúdos multimídia para complementar o reper-
tório do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreen-
ÁREAS DE
são, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o apro- CONHECiMENTO DO ENEM
fundamento nos temas estudados – há obras de arte, poemas, Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
imagens, artigos e até sugestões de aplicativos que facilitam os fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
estudos, com conteúdos essenciais para ampliar as habilidades aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
de análise e reflexão crítica, em uma seleção realizada com finos na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso aluno. a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resol-
CONEXÃO ENTRE DiSCiPLiNAS vê-las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos
conteúdos de cada área, de cada disciplina. DiAGRAMA DE iDEiAS
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abran-
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
gem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão,
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los em
como Biologia e Química, História e Geografia, Biologia e Mate-
suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aqueles
mática, entre outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com
que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio de
essa realidade por meio de explicações que relacionam a aula do
esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros,
Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da
sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o aluno consegue
aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos princi-
entender que cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz
pais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organização dos
parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
estudos e até a resolução dos exercícios.

HERLAN FELLiNi
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2021
Todos os direitos reservados.

Autores
Joaquim Matheus Santiago Coelho
Larissa Beatriz Torres Ferreira

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
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Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-65-88825-16-7

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a leg-
islação, tendo por fim único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito
do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição para
o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e
localizar os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição
para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
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SUMÁRIO

BIOLOGIA
EVOLUÇÃO E ECOLOGIA
Aulas 1 e 2: Origem da vida 6
Aulas 3 e 4: Evidências evolutivas 17
Aulas 5 e 6: Teorias evolutivas 25
Aulas 7 e 8: Especiação 35

DIVERSIDADE DA VIDA
Aulas 1 e 2: Taxonomia e reinos 50
Aulas 3 e 4: Vírus 60
Aulas 5 e 6: Reino Monera 69
Aulas 7 e 8: Reino protoctista I: protozoários 80

CITOLOGIA
Aulas 1 e 2: Composição química celular I 91
Aulas 3 e 4: Composição química celular II 102
Aulas 5 e 6: Composição química celular III 109
Aulas 7 e 8: Código genético e síntese proteica 116
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Compreensão de teias e cadeias alimentares, As questões se concentram principalmente


assim como a interação entre os seres vivos, na área da ecologia, sendo cadeia e teia
é fundamental para resolver as questões de alimentar assuntos recorrentes. Compreender
ecologia, que são interdisciplinares e pedem a origem da vida e a evolução dos seres vivos
temas atuais com relação aos impactos é a base para o entendimento da interação
ambientais. entre os organismos.

A ecologia aparece como área de destaque. Normalmente, usa casos atuais de impactos Uma prova muito bem elaborada e interdis-
Interações ecológicas e teias alimentares são ambientais para abordar assuntos básicos ciplinar que exige conhecimentos básicos de
corriqueiros. Além disso, evidências e teorias de ecologia. Saber relacionar problemas ecologia para resolver questões de cadeia e
evolutivas, como seleção natural, costumam ecológicos com conteúdos simples, é essencial. teia alimentar. Apesar de o assunto tratado ser
aparecer com certa frequência. Além disso, é importante saber identificar e de caráter intermediário, a múltipla interação
utilizar discursos lamarckistas e entre as áreas pode aumentar o
darwinistas. nível de dificuldade.

Prova com poucas questões de ecologia, Prova bem comparativa, com questões Problemas ambientais, relações ecológicas Prova com forte presença de ecologia –
sendo que o tema que mais aparece é a inte- que misturam diferentes áreas da Biologia. e conceitos básicos relacionados à ecologia cadeias alimentares, relações ecológicas e
ração entre os seres vivos (teias alimentares e Aparecem assuntos como especiação, (população, comunidade e ecossistema) são problemas ambientais são os principais as-
relações ecológicas). sucessão ecológica, origem da vida e relações muito presentes. suntos. Além disso, há questões sobre teorias
ecológicas. evolutivas e hipóteses de origem da vida.

UFMG

É uma prova com questões interdisciplinares Questões com alto nível de especificidade. Apresenta questões de temas variados e não
que cobram conteúdos altamente específicos. Estão presentes tanto conceitos evolutivos muito cobrados em outros vestibulares, como
Conceitos gerais (especiação e seleção natural) como ecológi- origem da vida (biogênese e abiogênese)
cos (cadeias alimentares, pirâmides e relações e dinâmica populacional. Também estão
ecológicas). presentes temas como teorias evolutivas e
teias alimentares.

Nesta prova, há questões principalmente sobre Com perfil similar à Fuvest e questões bem es- É uma prova que privilegia citologia e gené-
especiação, leitura e compreensão de clado- pecíficas, os temas mais frequentes são teorias tica, de forma que não há muitas questões
gramas e aplicação das teorias lamarckista e e evidências evolutivas, problemas ambientais sobre ecologia – os temas mais abordados são
darwinista. Em ecologia, a prova é similar à do e relações ecológicas. relações ecológicas e problemas ambientais.
Enem, com ênfase em problemas ambientais
e relações ecológicas.
EVOLUÇÃO E ECOLOGIA
relações de parentesco entre as diversas espécies são respon-
AULAS 1 e 2 sabilidade da evolução. Essas divisões facilitam o estudo, a
pesquisa e a construção do conhecimento biológico. Entre-
tanto, integrar essas subáreas é fundamental, pois permite um
olhar amplo que possibilita a compreensão da complexidade
dos seres vivos e dos ambientes em todos os seus níveis de or-
ganização: organismos, populações, comunidades biológicas,
ORIGEM DA VIDA ecossistemas, biomas, biocoras, biociclos e biosfera.

2. Formação da Terra
Antes de abordarmos a origem da vida, é necessário tratar
da origem da Terra.

COMPETÊNCIA: 4 A Terra surgiu há aproximadamente 4, 6 bilhões de anos.


Toda a matéria que compõe o Universo atual estava com-
HABILIDADES:
primida em uma esfera extremamente pequena e densa,
15 e 16
do tamanho da ponta de uma agulha.
Há cerca de 14 bilhões de anos, essa esfera teria subita-
mente explodido, dando início a expansão dessa matéria
e formando, de uma só vez, o Universo. A essa grande ex-
1. Introdução plosão dá-se o nome científico de Big Bang. A expansão do
A palavra biologia é formada através da conjugação do Universo continua sendo observada até hoje, o que reforça
grego "bio", que significa "vida", com o sufixo "-logia", as hipóteses a favor do Big Bang. A formação do Sistema
que significa "ciência de", "conhecimento de" ou "estu- Solar é resultado direto dessa explosão.
do de". Dessa maneira, é a ciência que estuda a vida e Ao longo desses bilhões de anos até hoje, ocorreram muitas
todos os seus desdobramentos. mudanças na superfície terrestre que influenciaram significa-
Esse estudo pressupõe um método científico que, apesar de tivamente a vida no planeta, como: movimentos de massas
seguir certos parâmetros, não possui uma receita universal continentais, alterações climáticas, formação e destruição de
infalível para todas as situações e necessita criatividade e cadeias de montanhas, extinção e origem de espécies, etc.
plasticidade para ser aplicado. Porém, tradicionalmente, o
método se caracteriza por observação, elaboração de per-
guntas (hipóteses testáveis), planejamento e realização de
experimentos, sistematização e registro de dados, discus-
são de resultados e, por fim, conclusão. Dessa maneira, ge-
ra-se conhecimento, que poderá ser questionado, ampliado
e alterado ao longo do tempo. Com efeito, a ciência e a
pesquisa são realizadas pelo ser humano e, portanto, são multimídia: vídeo
direcionadas. A ciência possui uma perspectiva e um olhar
FONTE: YOUTUBE
parcial, ou seja, é influenciada pela época, sociedade e cul-
tura às quais o pesquisador pertence. Então, é um método A origem do planeta Terra documentário completo
possível para interpretar os acontecimentos que está su-
jeito a revisões e confrontamentos de novas informações.
Para iniciar o estudo da biologia, são necessárias algumas re-
2.1. Escala do tempo geológico
flexões e considerações, pois existem várias subdivisões nessa A escala do tempo geológico representa a linha do tempo
ciência. Por exemplo, a zoologia estuda os animais e os seus desde o surgimento da Terra até o presente. Na escala, essa
desdobramentos; as plantas, por sua vez, são estudadas pela evolução é indicada por uma sequência de eventos. Dessa
botânica; as estruturas e o funcionamento das células são dis- forma, o tempo da história da Terra é marcado por determi-
cutidos pela citologia; as interações entre os seres vivos, e des- nados eventos geológicos e pode ser calculado por métodos
ses com o meio em que vivem, são abordadas pela ecologia; absolutos ou relativos. Os estudos da evolução da vida
os mecanismos e padrões de herança do material genético dividem hierarquicamente essa escala em: éons, eras,
são estudados pela genética; e o processo adaptativo e as períodos, épocas e idades

6
INÍCIO
ERA PERÍODO EVENTOS
(milhões de anos)

Clima flutuando entre frio e ameno. Avanços e recuos glaciais. Extinção de muitos mamífe-
Quaternário 1,6
ros e aves de grande porte. Primeiros humanos modernos do gênero Homo.

Surgimento e formação de montanhas. Início da glaciação nos hemisférios Norte e Sul. Ele-
vação do Panamá e consequente união das Américas do Norte e do Sul. Primeiros macacos
Cenozoica

Neogeno 23
do Velho Mundo. Mamíferos pastadores em abundância. Primeiros hominídeos eretos e
grandes carnívoros. Aves e mamíferos marinhos diversificam-se.

Clima ameno a frio. Mares continentais largos e rasos. Elevação dos Alpes e Himalaia. A Amé-
rica do Sul separa-se da Antártica. Clima ameno a muito quente no final do período. Primei-
Paleogeno 65 ros mamíferos insetívoros e primatas. Expansão extensiva de mamíferos e aves. Irradiação de
famílias de mamíferos placentários. Primeiros macacos do Novo Mundo. Formação inicial de
pradarias. Aves carnívoras gigantes, incapazes de voar, eram predadores comuns.

Clima ameno em todo o período. Níveis dos mares elevados. A África e a América do Sul se
separam. Clímax dos dinossauros e répteis marinhos, seguido da extinção destes grupos.
Cretácio 135
Início da irradiação de mamíferos marsupiais e placentários. Primeiras angiospermas. De-
clínio das gimnospermas. Aparecimento de muitos grupos de insetos.
Mesozoica

Clima ameno. Os níveis dos continentes são baixos com grandes áreas cobertas pelos ma-
Jurássico 205
res. Primeiras aves. Abundância de dinossauros. Crescimento exuberante de florestas.

Continentes montanhosos, unidos em um supercontinente (Pangeia). Extensas áreas ári-


Triássico 250 das. Primeiros dinossauros. Primeiros mamíferos. Crescimento exuberante de florestas com
predomínio de coníferas.

Glaciação extensiva do Hemisfério Sul no início do período. Elevação dos Apalaches.


Aridez marcante em algumas áreas. Origem das coníferas, cicadófitas e ginkgos. Desa-
Permiano 290
parecem os tipos anteriores de florestas. Irradiação dos répteis. O período termina com
extinção em massa.

Clima quente com pequena variação sazonal nos trópicos. Níveis das terras baixos. Áreas
pantanosas com a formação de depósitos de carvão. Irradiação dos anfíbios. Abundância
Carbonífero 355
de tubarões. Samambaias com esporos e árvores com “casca”. Primeiros répteis. Insetos
gigantes. Grandes florestas de pteridófitas.
Paleozoica

Mares na maior parte das terras, com montanhas locais. Primeiros peixes com nadadeiras
Devoniano 410
raiadas e nadadeiras lobadas. Primeiros tetrápodes terrestres.

Clima ameno. Topografia em geral plana. Primeiros peixes com mandíbulas. Primeiros in-
Siluriano 438
vertebrados terrestres.

Clima ameno. Mares rasos. Continentes em geral com topografia plana. Os mares cobrem
boa parte do atual território dos Estados Unidos. Glaciação no final do período. Primeiros
Ordoviciano 510
vertebrados (peixes sem mandíbula). Invertebrados marinhos em abundância. Primeiras
plantas terrestres.

Extensos mares invadindo os continentes existentes. Origem de vários filos e classes de


Cambriano 570
invertebrados. Primeiros cordados. Moluscos com conchas. Abundância de trilobitas.
Proterozoica

Extensivo bombardeamento de meteoritos e instabilidade geológica nas primeiras fases


dessa era. Os primeiros organismos eucariontes apareceram há cerca de 2 bilhões de anos.
- 2.500 Grande diversificação da vida há 1 bilhão de anos, surgindo os organismos pluricelulares,
inclusive algas. Os primeiros metazoários surgiram há mais ou menos 600 milhões de anos,
logo após uma grande glaciação.
Arqueana

Formação da crosta terrestre e início dos movimentos continentais. Os primeiros fósseis


- 4.600
(seres unicelulares) são conhecidos de 3,5 bilhões de anos atrás. Origem da vida.

7
A seguir, serão analisados os principais períodos e suas primatas, entre eles uma linhagem evolutiva de hábito
características. O objetivo dessa abordagem é apresentar terrestre que originou, há cerca de 5 milhões de anos, os
uma visão geral de como a vida se manifestou e se esta- primeiros hominídeos.
beleceu na Terra.
Os primeiros hominídeos, parte do gênero Australopithe-
Os primeiros microrganismos surgiram no planeta há cus, foram também os primeiros a apresentarem nos regis-
cerca de 3,5 bilhões de anos. tros fósseis uma morfologia dos membros inferiores com-
pletamente adaptada à bipedia. O aparecimento do Homo
Os primeiros peixes ancestrais apareceram no fim do pe-
sapiens ocorreu há aproximadamente 400 mil anos.
ríodo Cambriano, em que os oceanos eram largos, rasos
e cálidos. Registros fósseis indicam que esses peixes, di-
ferentemente dos peixes de hoje, possuíam apenas duas
barbatanas rudimentares e não tinham mandíbulas.
3. Teorias sobre a origem da vida
O mistério da origem da vida intriga o ser humano desde
No período Devoniano, conhecido como Idade dos
a Antiguidade.
Peixes, ocorreu uma grande proliferação de peixes que
possuíam mandíbulas adaptadas para digerir diversos Doutrinas milenares da Índia, da Babilônia e do Egito ensi-
tipos de alimentos. O ambiente desse período era bas- navam que rãs, cobras e crocodilos eram gerados espon-
tante diferente daquele em que surgiram os primeiros taneamente pelo lodo dos rios. Esses seres, que apare-
peixes. Os oceanos haviam avançado e retrocedido vá- ciam inexplicavelmente no lodo e na lama, eram vistos
rias vezes, e as plantas vasculares terrestres, que como manifestações da vontade dos deuses.
haviam surgido no período anterior, chamado de Silu- Para Aristóteles, por exemplo, os organismos surgiam a partir
riano, eram abundantes. do princípio ativo, uma energia presente em substâncias
No fim da Idade dos Peixes, um grupo ancestral de pei- inanimadas e capaz de formar vida espontaneamente. Des-
xes de água doce iniciou a adaptação à vida terrestre e sa interpretação, surgiu a teoria da geração espontânea, ou
originou os primeiros anfíbios. No período seguinte, teoria da abiogênese, segundo a qual os seres vivos origi-
apareceram os répteis, primeiros vertebrados terres- nam-se da matéria bruta de modo contínuo.
tres, assim como os primeiros insetos alados. A teoria da geração espontânea perdurou até meados do
Os primeiros mamíferos surgiram no período Triássico, século XIX, quando diversos cientistas a contestaram e, por
meio de experimentos, demonstraram que um ser vivo só
assim como os primeiros dinossauros. No período se-
se origina de outro ser vivo.
guinte, apareceram as primeiras aves.
No período Cretáceo, ocorreu a extinção dos dinossauros. ƒ Teoria da abiogênese: Os seres vivos surgem da ma-
No fim desse período, aconteceu uma grande irradiação téria bruta de maneira contínua (geração espontânea).
adaptativa dos mamíferos, fato que originou muitas das Principais defensores: Aristóteles, Platão, Needhan, Virgí-
ordens de animais conhecidas atualmente. Alguns mamí- lio, Aldovandro, Kricher e Van Helmont.
feros insetívoros deram origem a um grupo de animais ƒ Teoria da biogênese: Os seres vivos originam-se de
com polegares oponíveis e com unhas no lugar de garras outros seres vivos preexistentes. Principais defensores:
denominados primatas. Redi, Spallanzani e Pasteur.
A lenta movimentação dos continentes terrestres, deno-
minada deriva continental, originou, há 250 milhões
de anos, um supercontinente denominado Pangeia. Há
3.1. Van Helmont
aproximadamente 200 milhões de anos, teve início a se- Van Helmont (1580-1644), considerado o maior fisiologis-
paração da Pangeia. Há 90 milhões de anos, a América ta de seu tempo, criou diversas receitas para a abiogêne-
do Sul descolou-se da África. Há 50 milhões de anos, a se. Uma delas é a fórmula para se obter ratos por meio da
Índia uniu-se à Ásia, e, cinco milhões de anos depois, a geração espontânea:
Austrália separou-se da Antártica. ‘’Enche-se de trigo e fermento um vaso, que é fechado com
Os primatas experimentaram processos evolutivos distintos uma camisa suja, de preferência de mulher. Um fermento
nos dois lados do mundo. No continente americano, eles vindo da camisa, transformado pelo odor dos grãos, trans-
restringiram-se ao ambiente das árvores e desenvolveram forma em ratos o próprio trigo’’.
adaptações morfológicas muito eficientes para esse hábi- Como se sabe, os ratos que apareciam não se formavam a
to, entre elas uma cauda com grande capacidade preênsil. partir da camisa e do trigo, como acreditava Van Helmont,
No Velho Mundo, os prossímios geraram novas formas de mas eram atraídos pela mistura.

8
3.2. Francesco Redi Apesar dos resultados de Redi fortalecerem a teoria da bio-
gênese, o advento do microscópio e a descoberta dos mi-
Francesco Redi (1628-1698) começou, por volta de 1660, crorganismos, chamados naquela época de "animálculos",
a questionar a teoria da geração espontânea. Ao provocaram questionamentos acerca da origem desses seres.
observar cadáveres em decomposição, Redi notou a
presença de moscas rodeando a carne antes do apa-
3.3. John Needham
recimento de larvas. Sua hipótese, então, era que es-
sas larvas eclodiam a partir de ovos depositados pelas Dentre os que continuaram defendendo a teoria da
moscas. Para testá-la, elaborou um experimento com geração espontânea, pode-se destacar o cientista in-
dois frascos contendo carne crua, porém enquanto um glês John T. Needham (1713 -1781), que, por volta de
deles permaneceu aberto (grupo controle), o outro 1745, realizou uma série de experimentos para respaldar
foi obstruído com gaze. seu argumento. Após submeter à fervura diversos re-
cipientes contendo substâncias nutritivas e fechar parte
De acordo com a teoria da abiogênese, depois de alguns deles com rolhas enquanto o resto permanecia aberto,
dias deveriam surgir da carne moscas e outros insetos. Isso, ele observou o surgimento de microrganismos em todos
contudo, não aconteceu nos frascos fechados com gaze. os frascos. Needham afirmou que esse fenômeno ocorria
Nos frascos fechados, Redi não encontrou nada sobre devido à presença, nas partículas orgânicas da infusão, de
a carne, mas constatou ovos e larvas de insetos sobre uma força vital especial, responsável pelo aparecimen-
a gaze que cobria os recipientes. Assim, o experimento to da vida microscópica. Assim, com esses experimentos,
corroborou sua hipótese ao demonstrar que as moscas Needham contribuía para o fortalecimento da teoria da
eram atraídas pela carne e que o aparecimento das lar- geração espontânea.
vas era devido aos ovos depositados pelos insetos.
3.4. Abbey Spallanzani
larvas Em 1770, contudo, o cientista italiano Abbey Lazzaro Spallan-
zani (1729-1799) criticou seriamente os experimentos de
Needham e evidenciou que o aquecimento prolongado
de substâncias orgânicas acondicionadas em recipientes
fechados, providos de válvula de escape, não propiciava o
ausência desenvolvimento de microrganismos. Spallanzani concluiu,
de larvas
então, que Needham não havia esterilizado corretamente
os frascos. Porém, Needham respondeu às críticas afirman-
do que ferver as substâncias destruía a "força vital" e que
frasco aberto frasco fechado com gaze
fechar os frascos hermeticamente tornava o ar desfavorá-
ESQUEMA DO EXPERIMENTO REALIZADO POR FRANCESCO REDI (1668) vel ao aparecimento de vida.

VIVENCIANDO

A partir dos experimentos realizados por Pasteur para comprovar a teoria da biogênese, criou-se o
processo de pasteurização. A pasteurização é utilizada para conservar alimentos, pois elimina microrganis-
mos patogênicos que causam azedamento ou acidificação, sem causar alterações físico-químicas no valor nutri-
tivo dos alimentos. O método consiste em elevar a temperatura do alimento por um determinado tempo e, em
seguida, resfriá-lo a uma temperatura inferior a de antes. Por ser um processo rápido, nem todos os seres vivos
são eliminados, e, portanto, conservam-se no produto alguns microrganismos benéficos para o ser humano. Para
remover 100% dos microrganismos, o alimento deve passar por um processo de esterilização e posteriormente
ser lacrado para evitar novas contaminações. A pasteurização é muito usada na indústria alimentícia, principal-
mente em leite, sucos, cerveja, polpas de frutas, entre outros.

9
Por meio de novos experimentos, Spallanzani demonstrou
Pasteurização: outra importante que surgiam microrganismos quando os recipientes fecha-
contribuição de Pasteur dos e submetidos à fervura eram abertos e entravam em
contato com o ar, atestando que a “força vital’’ não havia
A pasteurização, criada em 1864 por Louis Pasteur, é
sido destruída. Apesar disso, Spallanzani não conseguiu
um procedimento industrial empregado no tratamen-
provar que o aquecimento de material orgânico em reci-
to do leite, de sorvetes, de cervejas, etc.
pientes fechados não alterava a qualidade do ar. Needham
O leite in natura é um produto altamente perecível, saiu favorecido dessa polêmica, o que reforçou ainda mais
propício ao desenvolvimento de microrganismos que a teoria da geração espontânea.
o acidificam e azedam. Para evitar esses problemas,
tomam-se alguns cuidados, da captação ao consumo 3.5. Louis Pasteur
do leite. Dentre eles, destaca-se a pasteurização, que,
no Brasil, é obrigatória. O cientista francês Louis Pasteur (1822-1895), por volta de
1860, através de seus célebres experimentos com balões
Esse procedimento consiste em submeter o leite a um
do tipo “pescoço de cisne”, conseguiu provar definitiva-
grau de aquecimento suficiente para destruir os mi-
mente que os seres vivos se originam de outros seres vivos.
crorganismos patogênicos presentes nele. O melhor
Além disso, constatou a presença de microrganismos no
cuidado nesse procedimento é não causar alterações ar atmosférico. Considerando as críticas dos seguidores
físico-químicas e organolépticas ao alimento, bem da abiogênese sobre a formação de ar viciado – que seria
como não alterar o valor nutritivo do produto. O leite impróprio para o desenvolvimento da vida em recipientes
pasteurizado, portanto, deve apresentar características submetidos à fervura e hermeticamente fechados –, Pas-
semelhantes, ao máximo, ao produto in natura, bem teur realizou os seguintes experimentos utilizando frascos
como garantir a ele mais tempo e condições de conser- com gargalos longos e curvos:
vação, uma vez que a pausterização destrói aproxima-
1
damente 99% da microbiota presente no leite. 2
O caldo nutritivo é O gargalo do frasco é
despejado em um esticado e curvado ao fogo
Mas esse procedimento também traz desvantagens, frasco de vidro

embora superadas pelos benefícios. Ele reduz ou


mesmo elimina as bactérias lácticas benéficas para o
organismo, altera o sabor do leite, bem como provoca 3
O caldo nutritivo 4 O caldo nutritivo do
desnaturação da proteína do leite, dificultando, por é fervido e frasco com “pescoço de
esterelizado cisne” matém-se livre
exemplo, a produção de alguns queijos. de microrganismos

Se o leite for submetido a temperaturas elevadas por


tempo prolongado, seu sabor e cor podem alterar-se.
5 Se o gargalo do frasco é
Em razão disso, há limites de temperatura e de tempo quebrado, surgem
microrganismos no caldo
para que suas características se mantenham.
Existem três tipos de pasteurização:

ƒ Pasteurização lenta: também conhecida como


LTLT (low temperature long time, baixa tempe- ESQUEMA DO EXPERIMENTO REALIZADO POR LOUIS PASTEUR (1860).

ratura por longo tempo), mantém a temperatu- O famoso experimento demonstrou que um líquido, ao ser
ra a 63 °C por 30 minutos. fervido, não perde a suposta “força vital”, como defendiam
os adeptos da geração espontânea. Na verdade, quando o
ƒ Pasteurização rápida: HTST (high temperature and
pescoço do balão é quebrado, depois da fervura do líquido,
short time, alta temperatura por pouco tempo), surgem seres vivos. O experimento refuta ainda outro ar-
mantém a temperatura a 72 °C por 15 segundos. gumento dos defensores da abiogênese: a formação de ar
ƒ Pasteurização muito rápida: UHT (ultra high tem- viciado impróprio para a vida. O líquido fervido fica, nesse
perature, temperatura ultraelevada), mantém a caso, em contato com o ar atmosférico através do pescoço
do balão, porém não ocorre o aparecimento de seres vivos
temperatura entre 130 °C e 150 °C por um perí-
porque as gotículas de água acumuladas no gargalo retêm
odo de 3 a 5 segundos.
FONTE: <HTTP://INFOESCOLA.COM/MICROBIOLOGIA/PASTEURIZAÇÃO>. os micróbios presentes no ar. A partir dos experimentos de
ACESSO EM: 6 FEV. 2015.AS CONDIÇÕES DA TERRA PRIMITIVA Pasteur, a teoria da biogênese passou a ser predominante
nos meios científicos.

10
não apresentava oxigênio (O2) e nem, portanto, camada de
4. Surgimentos dos ozônio (O3). Sem esse filtro, a radiação ultravioleta não era
primeiros seres vivos barrada e atingia a superfície de forma intensa.

De fato, com a consolidação da teoria da biogênese, a ques- Desse modo, os raios solares, em conjunto com os efeitos
tão da origem da vida passou a preocupar cada vez mais os das fortes descargas elétricas, forneceu a energia neces-
cientistas: se apenas seres vivos podem originar outros seres sária para que os gases componentes da atmosfera rea-
vivos, como apareceram as primeiras formas de vida? gissem entre si e formassem moléculas orgânicas simples
(aminoácidos, açúcares, álcoois).
Para responder a essa pergunta, várias hipóteses foram for-
muladas. Uma das teorias mais antigas, o criacionismo, Essas moléculas foram arrastadas pelas águas das chuvas
geralmente está associada à religião. Seus defenso- e se acumularam em mares primitivos, quentes e rasos,
res argumentam que cada ser vivo foi gerado indivi- que possibilitaram a ocorrência de outras reações. Assim,
dualmente através de criação divina e que sua forma a formação de grande número de substâncias orgânicas,
é a mesma desde o princípio, imutável ao longo do simples e complexas, transformou esses mares em verda-
tempo (fixismo). deiras "sopas nutritivas".

Já a panspermia afirma que a vida veio de outra parte As moléculas de proteína dispersas em água formaram uma
do Universo, por meio de meteoros e cometas que caíram na solução coloidal com características próprias.
Terra. Embora tenham evidências de material orgânico em Nos coloides, cada molécula de proteína encontra-se en-
meteoritos, essa teoria não explica a origem da vida e ape- volvida por várias moléculas de água atraídas pela diferen-
nas levanta mais questionamentos. ça de carga elétrica. Se há alteração no grau de acidez da
Não obstante, a teoria mais aceita atualmente é a hipó- solução coloidal, as moléculas de proteína aproximam-se,
tese da evolução gradual dos sistemas químicos, formando vários aglomerados proteicos envoltos por uma
desenvolvida pelo russo Aleksandr Oparin e pelo inglês porção líquida denominada camada de hidratação ou sol-
John Burdon Sanderson Haldane na década de 1920. vatação. Esses aglomerados foram chamados por Oparin
Para se compreender a teoria de Oparin e Haldane, é pre- de coacervados.
ciso conhecer as condições da Terra primitiva.
PROTEÍNA
4.1. A hipótese da evolução COACERVADO
gradual dos sistemas químicos H2O
Essa hipótese, formulada por Oparin e Haldane, sugere que,
na Terra primitiva, moléculas orgânicas complexas se for-
maram a partir de moléculas simples, antes do apareci-
mento dos seres vivos.
ESQUEMA DO DESENVOLVIMENTO DA CAMADA DE SOLVATAÇÃO E DOS COACERVADOS
Apesar de a Terra conservar altas temperaturas após a sua
formação, o contato com o espaço cósmico – que é muito Esses coacervados não eram seres vivos, mas uma
frio – possibilitou ligações químicas entre os elementos, primitiva organização das substâncias orgânicas,
formando substâncias como a água. Portanto, ao passo principalmente de proteínas e ácidos nucleicos,
que o calor da superfície evaporava toda substância lí- em um sistema isolado do meio. Apesar de isolados,
quida, as camadas mais frias da atmosfera condensavam os coavervados realizavam trocas com o meio externo e
os vapores de água e provocavam violentas tempestades possuíam em seu interior condições para a ocorrência de
com descargas elétricas (raios). Apenas com o gradativo inúmeras reações químicas.
processo de resfriamento da Terra que foi possível o acú- Com as constantes reações químicas, alguns coacervados tor-
mulo de água líquida sobre a superfície, fator que deu naram-se mais complexos, chegando inclusive a apresentar
origem aos mares primitivos. capacidade de duplicação. Nesse momento, teriam surgido
Além disso, intensas atividades vulcânicas liberavam gases os primeiros seres vivos, que, apesar de organização simples,
que contribuíam para a formação de uma atmosfera primiti- eram capazes de reproduzir-se, dando origem a outros seres
va bem diferente da atual, formada provavelmente por me- vivos. Essa evolução gradual dos sistemas químicos teve a
tano (CH4), amônia (NH3), hidrogênio (H2) e vapores de água duração provável de 2 bilhões de anos. O esquema a seguir
(H2O). Todavia, ao contrário da atmosfera atual, a primitiva sintetiza essa hipótese.

11
as condições da Terra primitiva e introduziram nele os gases
que provavelmente constituíam a atmosfera daquele período:
H2O H2
amônia (NH3), hidrogênio (H), metano (CH4) e vapor de água.
CH4 NH 3

ELETRODOS

Gases da Esses gases sofrem influência TUBO PARA


atmosfera de fortes descargas elêtricas e CRIAR VÁCUO POLO POSITIVO POLO NEGATIVO
primitiva de raios ultravioleta, formando
moléculas orgânicas.
AMÔNIA
METANO
HIDROGÊNIO
VAPOR D’AGUA
SÁIDA DO VAPOR

CONDENSADOR
ENTRADA DE ÁGUA

Moléculas orgânicas A chuva arrasta essas


simples na atmosfera moléculas para a
superficie da Terra ÁGUA FERVENTE PARA
GERAR VAPOR

Calor.
Formação de
moléculas
orgânicas RESULTADOS PARA
complexas ANÁLISE

*Sopa nutritiva* Alteração da acidez do


meio propicia a formação ESQUEMA DO EXPERIMENTO DE MILLER E UREY (1953), DEMONSTRANDO A
de aglomerados proteicos FORMAÇÃO DE AMINOÁCIDOS EM CONDIÇÕES SIMILARES ÀS DA TERRA PRIMITIVA
isolados (coacervados).

A água, ao ferver, transforma-se em vapor e ocasiona a cir-


culação em todo o sistema, conforme indicado pelas setas.
No balão em que se encontra a mistura gasosa, ocorrem
descargas elétricas simulando raios, que deviam ser muito
Inúmeras reações químicas ocorrem dando frequentes naquela época.
origem aos primeiros seres vivos.
Em seguida, as substâncias são submetidas a um resfria-
HIPÓTESE DA EVOLUÇÃO GRADUAL DOS SISTEMAS QUÍMICOS -
PROPOSTA POR OPARIN E HALDANE
mento para simular a condensação nas altas camadas da
atmosfera, fator que provoca as chuvas. A parte em “U”
do sistema simula os mares primitivos, que recebiam as
4.2. O experimento de Miller e Urey chuvas e os compostos formados na atmosfera.
A hipótese da evolução gradual dos sistemas químicos foi
Pela análise da água acumulada nessa parte em “U”, foi pos-
testada pela primeira vez em 1953 pelos químicos norte-
sível verificar a formação de moléculas orgânicas, dentre elas
-americanos Stanley L. Miller (1930-2007) e Harold Urey
alguns aminoácidos, substâncias que formam as proteínas.
(1893-1981). Eles construíram um aparelho que simulava

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Conceitos de química são aplicados no famoso experimento de Miller e Urey, dado que envolve reações químicas
que transformavam compostos inorgânicos em compostos orgânicos precursores da vida. Dessa forma, compre-
ender como os átomos e íons se conectam e se comportam para formarem pequenas moléculas orgânicas, como
aminoácidos, e, posteriormente, moléculas orgânicas maiores, como as proteínas, é fundamental para entender
como foi possível o início da vida a partir de moléculas inorgânicas simples, como metano, nitrogênio, hidrogênio
e vapor de água, que estavam presentes na atmosfera primitiva.

12
Dessa forma, o experimento de Miller e Urey demonstrou Entretanto, existe uma objeção a essa teoria: como os au-
que moléculas orgânicas (aminoácidos) poderiam tótrofos sintetizam alimentos orgânicos (a partir de subs-
ter-se formado nas condições da Terra primitiva, tâncias inorgânicas) à custa de uma série extremamente
o que reforçou a hipótese da evolução gradual dos siste- complexa de reações químicas, exige-se que seu próprio
mas químicos. organismo também seja complexo - uma situação menos
provável de acontecer quando comparada ao surgimento
4.3. O experimento de Fox de seres mais simples.

O bioquímico norte-americano Sidney W. Fox (1912-1998),


por meio de experimentos, evidenciou a combinação de 4.5. A hipótese heterotrófica
dois aminoácidos através de uma síntese de desidratação. Essa hipótese sustenta que o primeiro ser vivo surgiu em
um determinado ambiente, na forma de um ser pouco
NH2 O R
+
O
complexo e incapaz de fabricar seu alimento. Ou seja, ela
R C C+ H NH C C supõe que um organismo simples evoluiu vagarosamente
da matéria inanimada, fato que ocorreu nas condições es-
H OH H OH pecíficas de milhões de anos atrás. Não se trata de geração
espontânea, uma vez que a teoria da abiogênese afirma
NH2 O H R+ O
que seres complexos podem surgir de matéria bruta.
H2O + R C C N C C De acordo com a hipótese heterotrófica, a vida teria surgi-
do por meio das etapas ilustradas abaixo:
H H OH
REAÇÃO QUE FORMA AS LIGAÇÕES PEPTÍDICAS ENTRE FORMAÇÃO DE AMINOÁCIDOS
AMINOÁCIDOS, POR DESIDRATAÇÃO.

Para isso, aqueceu uma mistura seca de aminoácidos e,


FORMAÇÃO DE PROTEÍNAS CAPACIDADE DE REPRODUÇÃO
depois do resfriamento, verificou que eles haviam se unido
para compor moléculas maiores e mais complexas, seme-
lhantes a proteínas.
FORMAÇÃO DE COACERVADOS APARECIMENTO DE AUTÓTROFOS

Na Terra primitiva, os aminoácidos teriam chegado às ro-


chas levados pelas chuvas. A evaporação da água teria dei-
xado os aminoácidos secos sobre a superfície das rochas SURGIMENTO DE HETERÓTROFOS PREDOMÍNIO DE AUTÓTROFOS

quentes. Em tais condições, teria ocorrido a formação de


ligações peptídicas pela evaporação da água e a conse-
OBTENÇÃO DE ENERGIA APARECIMENTO DE AERÓBIOS
quente formação de proteínas.

4.4. A hipótese autotrófica


Alguns cientistas questionam se a vida surgiu nos mares Para se manter e se desenvolver, um sistema de coacervados
rasos e quentes da Terra primitiva, uma vez que a superfície necessitaria de uma fonte de energia constante e contro-
do planeta era bombardeada frequentemente por meteo- lável. A hipótese heterotrófica sugere que essa fonte teria
ros. Dessa forma, a crosta terrestre não teria a estabilidade sido a energia das ligações químicas existentes nas imensas
necessária para o desenvolvimento dos seres vivos. Para os quantidades de substâncias, geradas durante milhares de
defensores dessa teoria, a vida se originou nos assoalhos anos no mar primitivo.
oceânicos, perto de fontes térmicas, onde existiam bac- Porém, como a presença de gás oxigênio (O2) era quase nula
térias capazes de utilizar compostos químicos para obter na atmosfera da época, esse primeiros seres provavelmente
energia e, assim, sintetizar sua própria matéria orgânica. eram heterótrofos fermentadores que liberavam CO2.
Como todo ser vivo necessita de alimento para sobrevi-
ver, parece lógico admitir que os primeiros tenham sido 4.5.1. Capacidade de reprodução
capazes de produzir seu próprio alimento, ou seja, te- Devido a sua capacidade de retirar alimentos e energia
nham sido autótrofos. do meio e organizar as moléculas em padrões definidos,
De fato, está comprovado que que existem bactérias qui- os heterótrofos-anaeróbios primitivos teriam crescido
miossintetizantes em fontes térmicas sulfurosas de regi- gradativamente, a tal ponto que teriam surgido novos
ões tão profundas que a luz solar não consegue alcançar. problemas na luta pela sobrevivência: com o aumento

13
volumétrico do indivíduo, a difusão do alimento do meio 4.5.3. Surgimento dos aeróbios
exterior para o interior do coacervado teria ficado mais
No processo de fotossíntese, liberam-se moléculas de
lenta por causa da distância a ser percorrida; desse modo,
oxigênio. Dessa forma, é possivel supor que uma certa
o coacervado teria começado a sofrer fome.
quantidade de gás tenha-se acumulado gradativamente,
Nessas condições, teria se dividido para reduzir seu vo- durante milhares de anos, como consequência do apare-
lume. Contudo, qualquer mecanismo de divisão teria ge- cimento dos autótrofos. O aumento na concentração
rado um novo problema; ao dividir-se, o coacervado teria de oxigênio tornou a atmosfera tóxica para muitos
corrido o risco de se desorganizar e, portanto, perder as dos seres vivos anaeróbios e, portanto, selecionou
características de sistema complexo adquiridas em muito organismos adaptados às novas condições. Além
tempo de evolução. disso, o uso de oxigênio para a obtenção da glicose libera
muito mais energia do que aquela obtida na ausência de
Nos organismos bem-sucedidos, teriam surgido os ácidos
oxigênio, uma vez que a fermentação fornece um saldo
nucleicos, moléculas que controlam os processos básicos
energético de apenas 2 ATP, enquanto, na reação com o
de reprodução e organização. Em tais condições, o orga-
oxigênio, o saldo é de 38 ATP. Dessa forma, os organis-
nismo que tivesse DNA teria encontrado o meio para se
mos capazes de executar respiração aeróbia teriam levado
duplicar de maneira exata, transmitindo aos seus descen-
vantagem, pois eram capazes de retirar mais energia do
dentes o mesmo padrão de organização adquirido depois
alimento disponível.
de toda evolução transcorrida.

4.5.2. Surgimento dos autótrofos


Com o passar do tempo, a quantidade relativa de alimento
começou a decair e a competição entre os seres heterótrofos
se amplificou. A "sopa nutritiva" se diluiu progressivamente
devido ao crescimento contínuo da população que aumen-
tou o consumo de matérias orgânicas e à diminuição da sínte- multimídia: site
se de tais substâncias, dado que as condições para formá-las
deixavam de existir. Em contrapartida, graças à fermentação
https://evosite.ib.usp.br/
dos heterótrofos, a atmosfera tinha taxas cada vez mais altas
de gás carbônico (CO2).
Ao longo do desenvolvimento da vida na Terra, houve diver-
sas mutações no material genético dos seres vivos. A partir de-
las, há cerca de 2,7 bilhões de anos atrás, surgiram aleatoria-
mente seres vivos unicelulares com capacidade de sintetizar
matéria orgânica a partir de inorgânica, ou seja, organismos
autótrofos. Devido à presença de enzimas ATP, ao surgimento
de pigmentos fotossintetizantes e à capacidade de usar CO2 e
captar energia luminosa para realizar uma fotossíntese, esses
primeiros autótrofos foram bem-sucedidos no ambiente.

14
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.

A questão irá testar a capacidade de interpretação de hipóteses científicas por meio de experimentos e como os
resultados desses experimentos apoiam ou refutam a hipótese. Resultados dentro do esperado podem tornar
a hipótese uma lei científica.

MODELO 1

(Enem) Em certos locais, larvas de moscas, criadas em arroz cozido, são utilizadas como iscas para pesca.
Alguns criadores, no entanto, acreditam que essas larvas surgem espontaneamente do arroz cozido, tal
como preconizado pela teoria da geração espontânea. Essa teoria começou a ser refutada pelos cientistas
ainda no século XVII, a partir dos estudos de Redi e Pasteur, que mostraram experimentalmente que

a) seres vivos podem ser criados em laboratório;


b) a vida se originou no planeta a partir de microrganismos;
c) o ser vivo é oriundo da reprodução de outro ser vivo preexistente;
d) seres vermiformes e microrganismos são evolutivamente aparentados;
e) vermes e microrganismos são gerados pela matéria existente nos cadáveres e nos caldos
nutritivos, respectivamente.

ANÁLISE EXPOSITIVA

Os experimentos de Redi e Pasteur demonstraram que não é possível o surgimento de vermes ou microrga-
nismos por geração espontânea. Nessa situação, é importante saber analisar o procedimento experimental
adotado pelos cientistas e como os resultados obtidos refutaram a teoria da abiogênese.
O experimento de Redi foi realizado com a utilização de dois frascos com um pedaço de carne cada. Um
frasco permaneceu aberto e o outro foi fechado com gaze. Com o passar dos dias, ele observou que havia
vermes somente no frasco que permaneceu aberto, refutando a hipótese da abiogênese. Já Pasteur provou
que microrganismos não podem surgir espontaneamente. Ao ferver o meio de cultura em um recipiente
com pescoço de cisne, ele esterilizava o meio e o acúmulo de líquido no pescoço do recipiente impedia
que bactérias do ar entrassem no meio. Com isso, o meio de cultura permanecia estéril. Essa condição
se invertia quando o pescoço de cisne era retirado, promovendo a entrada de ar e, consequentemente, o
crescimento bacteriano no meio de cultura, que ficava com cor turva.

RESPOSTA Alternativa C

15
DIAGRAMA DE IDEIAS

ORIGEM DA VIDA

ABIOGÊNESE (IV A.C.) BIOGÊNESE (XVII)

PANSPERMIA
VIDA A PARTIR DA VIDA A PARTIR DE ALGO VIVO
MATÉRIA BRUTA
• ARISTÓTELES SERES VIVOS OU SUBS- F. REDI (1660)
• J.B. VAN HELMONT TÂNCIAS PRECURSORAS, FRASCOS COM CARNE
VINDAS DE OUTROS
LOCAIS DO COSMO L. PASTEUR (1860)
PESCOÇO DE CISNE

TEORIA DA EVOLUÇÃO QUÍMICA (XX)

COMPOSTOS INORGÂNICOS
ORIGINAM MOLÉCULAS ORGÂNICAS

OPARIN E HALDANE MILLER

TEORIA PRÁTICA

ATMOSFERA COM MOLÉCULAS


CH4, NH3, H2, H2O ORGÂNICAS
+
DESCARGA ELÉTRICA COACERVADOS

TEORIA TEORIA
AUTOTRÓFICA HETEROTRÓFICA

PRIMEIRO SER VIVO CAPAZ DE PRIMEIRO SER VIVO NUTRIA-SE


SINTETIZAR SEU PRÓPRIO ALIMENTO DA MATÉRIA ORGÂNICA DO MEIO

HETEROTRÓFICOS AUTOTRÓFICOS FERMENTA-


AERÓBICOS
FERMENTADORES DORES FOTOSSINTETIZANTES

16
mamíferos, estão adaptados ao ambiente em que vivem
AULAS 3 e 4 simplesmente porque as características que apresentam per-
mitem a realização de todas as suas funções vitais básicas,
ou seja, possibilitam o funcionamentos dos seus metabolis-
mos energético, plástico e de controle.

1.1. Fixismo e transformismo


EVIDÊNCIAS
Durante muito tempo, acreditou-se que os seres vivos que
EVOLUTIVAS conhecemos hoje são exatamente iguais à época de sua
criação. Essa teoria, conhecida como fixismo, começou a
ser questionada com maior vigor a partir do século XVIII,
quando se passou a acreditar que uma espécie poderia
modificar-se com o tempo, originando uma ou mais espé-
COMPETÊNCIA: 4 cies diferentes da anterior.
Assim, o fixismo, geralmente propagado pela Igreja, defen-
HABILIDADES: 15 e 16 de que as espécies foram originadas simultaneamentes por
uma divindade e que conservam uma essência imutável,
sem a capacidade de se modificar ao longo do tempo.
Já o transformismo propõe que as espécies são mutáveis
e que há uma correspondência entre as transformações do
1. A evolução meio e e as adaptações dos organismos. A partir desse con-
O ser humano sempre se interessou pelos seres vivos que ceito, originou-se o evolucionismo.
o rodeiam. Os caçadores silvícolas, os filósofos gregos, os Entre os transformistas está Jean-Baptiste de Lamarck (1744
monges da Idade Média, assim como qualquer outro ser -1829), o qual acreditava que as espécies não são fixas,
humano de qualquer época. mas que descendem de outras, e, por meio de mudanças
Todos possuem o discernimento de que os indivíduos, ainda graduais que se processam através de muitas gerações,
que diferentes uns dos outros em muitos pormenores, ten- apresentam diferenças em relação aos ancestrais.
dem a organizar-se em grupos com características comuns.
Atualmente, denomina-se esse grupos como espécies, um 2. Evidências evolutivas
conjunto de indivíduos semelhantes anatômica, fisiológica e
As evidências evolutivas fornecem informações sobre as
filogeneticamente, capazes de realizar fluxo gênico entre si
condições em que os organismos estão inseridos, permitem
por mecanismos reprodutivos diversos e produzir descenden-
traçar relações de parentesco e facilitam a análise da diver-
tes com as mesmas características (transmissão hereditária).
sidade genética − desde a origem da variedade, até o esta-
A evolução biológica consiste no conjunto de mutações belecimento de sua frequência. Em outras palavras, auxiliam
sofridas pelas espécies ao longo do tempo. Essas modifi- no entendimento dos processos de evolução.
cações podem permitir à espécie uma melhor adaptação
ao meio em que vive, ou seja, realizar com mais eficiência
seus comportamentos reprodutivo, alimentar e de explo-
ração de seu habitat.
Uma espécie evoluída é adaptada ao meio em que vive, não
importando o seu grau de complexidade. Por exemplo, um
organismo procarionte, unicelular e heterótrofo, como uma
bactéria que vive em nossos intestinos, pode ser considerado
tão adaptado ao seu habitat quanto um organismo eucarion-
te, pluricelular com tecidos e um autótrofo, como um abaca-
teiro, que é uma árvore frutífera. O mesmo raciocínio pode ser IMAGEM COM FEZES FOSSILIZADAS DE ORGANISMOS EXTINTOS, SUA ANÁLISE
feito quando a comparação é feita com o ser humano. PODE LEVAR A DIVERSAS CONCLUSÕES SOBRE OS SEUS HÁBITOS ALIMENTARES.

Assim, é interessante observar que tanto os organismos Fósseis, datação radiométrica, filogenia, constituição quími-
simples, como as bactérias, quanto os complexos, como os ca de organismos modernos e experimentos diversos ace-

17
nam para linhas de evidência que avançam para esclarecer todas as formas de vida. A grande maioria dos seres vivos
a origem da vida. Entretanto, essas hipóteses são sempre do passado não foi fossilizada. Em consequência, existe a
vulneráveis a mudanças graças ao avanço tecnológico e ao dificuldade de relacionar diferentes grupos de seres vivos.
conhecimento científico. A revisão de hipóteses é parte es- Faltam fósseis de transição que liguem esses grupos.
sencial da pesquisa científica.
É importante perceber que Lamarck e, mais tarde, Darwin,
ambos evolucionistas, procuraram elucidar o fato por meio
de hipóteses e teorias. A seguir, serão apresentadas as evi-
dências evolutivas descritas pela ciência ao longo dos anos.

2.1. Fósseis
Os fósseis são a principal e mais notável evidência a fa-
vor do transformismo e, portanto, da teoria evolucionis-
ta. Por definição, eles são restos ou vestígios de organis-
mos de épocas remotas conservados até a atualidade.
Representam uma evidência evolutiva, pois fósseis de
diferentes idades e/ou encontrados em distintos estratos
geológicos demonstram que os organismos não foram
criados simultaneamente. Além disso, também corrobo-
ram com a ideia que as espécies sofrem modificações ao
longo do tempo, uma vez que os fósseis não possuem
as mesmas características dos seres vivos atuais.
O registro fóssil é uma importante evidência das mu-
danças pelas quais passam os organismos ao longo do
tempo e, por meio da comparação com espécies atuais,
fornece possíveis indicativos de parentesco evolutivo.

PROCESSO DE FOSSILIZAÇÃO.
DESDE A MORTE ATÉ A DESCOBERTA DOS RESTOS FÓSSEIS.

2.1.2. Tipos de fossilização


Dentre os muitos tipos de fossilização, destacam-se:

ƒ Fossilização por âmbar: o âmbar é uma resina libe-


rada por árvores e com capacidade de aprisionar um
FÓSSEIS DE TELEÓSTEO (PEIXE ÓSSEO).
organismo vivo, permitindo a conservação das partes
moles de um ser vivo.
2.1.1. Processo de fossilização
São necessárias condições especiais para que um fóssil se
forme. Dado que os cadáveres se decompõem, é preciso
que os restos mortais ou os vestígios de um organismo
morto fiquem a salvo da ação de agentes decompositores
e das intempéries naturais, como o vento, o sol e a chuva.
As condições mais favoráveis à fossilização ocorrem quan-
do o corpo é coberto por sedimentos imediatamente de-
pois da morte.
Com efeito, a fossilização é um processo raro. Em razão PRESERVAÇÃO POR ÂMBAR, MUITO COMUM NA
disso, a paleontologia padece com a ausência de fósseis de CONSERVAÇÃO DE INSETOS, PÓLEN E RÉPTEIS.

18
ƒ Fossilização por mumificação e congelamento: De acordo com uma determinação científica, a meia-vida do
a mumificação ocorre em regiões desérticas e áridas; carbono-14 é de 5730 anos. Isso significa que, nesse período,
já o congelamento ocorre em regiões glaciais, como a metade do carbono-14 de uma amostra desintegra-se. Ao mor-
Sibéria, onde foram encontrados mamutes em perfeito rer, um organismo que se fossiliza contém determinada quan-
estado de conservação. tidade de 14C. Passados 5730 anos, restará no fóssil apenas
metade da quantidade de 14C presente no ser vivo que morreu.
ƒ Fossilização por carbonificação: ocorre mais co- Passados mais 5730 anos, a metade do que restou também
mumente com restos vegetais e organismos com partes será desintegrada, e assim por diante, até o último vestígio de
moles. Os restos mortais são comprimidos pelo peso ou isótopo radioativo na matéria orgânica remanescente.
pela compactação das rochas. Durante o processo, em
razão do calor e da compressão, são liberados gases Por meio da medição da quantidade residual de carbo-
como hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Ao final, resta no-14 em um fóssil, é possível calcular quanto tempo se
apenas uma película de carbono do organismo. passou desde a morte do ser vivo que o originou. Um fóssil
que apresente 1/8 do carbono radioativo estimado para
um organismo vivo indica que a morte deve ter ocorrido há
aproximadamente 22 ou 23 mil anos.

EXEMPLO DE CARBONIFICAÇÃO RECORRENTE EM UMA PLANTA LICÓFITA. FÓSSIL DE MAMUTE


PERCEBA A COR PRETA QUE O VEGETAL ADQUIRIU.
No entanto, a datação por meio do carbono-14 serve ape-
2.1.3. Datação radioativa dos fósseis nas para fósseis com menos de 50 mil anos, dado que a
A idade de um fóssil pode ser estimada pela medição de meia-vida desse isótopo é relativamente curta. Para datar
elementos radioativos presentes nele ou na rocha em que fósseis mais antigos, empregam-se isótopos com meia-
está fossilizado. Teoricamente, quanto mais profundo o ter- -vida mais longa, como é o caso das rochas fossilíferas.
reno, mais antigo é o fóssil. Rochas formadas há alguns milhões de anos podem ser da-
Caso o fóssil apresente substâncias orgânicas em sua cons- tadas por meio do isótopo urânio-235 (235U), cuja meia-vida
tituição, sua idade pode ser calculada com razoável precisão é de 700 milhões de anos. Para rochas mais antigas, com
pelo método do carbono-14 (14C), um isótopo radioa- centenas de milhões de anos de idade, usa-se o potássio-40,
tivo do carbono (12C). cuja meia-vida é de 1,3 bilhão de anos.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Um princípio químico, como o tempo de meia-vida do carbono-14, é utilizado para determinar a idade de um fóssil e,
assim, estudar o processo evolutivo e a relação entre os indivíduos. A colisão entre raios cósmicos e o nitrogênio-14,
presente na atmosfera terrestre, forma o carbono-14. Esse isótopo do carbono pode ligar-se com o oxigênio, forman-
do o gás carbônico, que é absorvido pelas plantas. Quando um organismo morre, a quantidade de carbono-14 sofre
uma queda, o que resulta em um decaimento radioativo. O tempo de meia−vida do carbono-14 é de 5730 anos.
Dessa forma, um organismo que morreu há 5730 anos apresentará a metade do conteúdo de 14C.

19
VIVENCIANDO

Há evidências de que a vida tenha se manifestado há 3,5 bilhões de anos com a descoberta de microfósseis (fósseis invisí-
veis a olho nu) da vida celular procariótica, frequentemente na forma de estruturas rochosas encontradas no sul da África
e na Austrália, chamadas estromatólitos, produzidos por micróbios (maioria cianobactérias fotossintetizantes), que se
formam quando as células crescem na superfície marinha e sedimentos
se depositam entre as células ou sobre elas. Assim, uma camada minera-
lizada fica abaixo delas, pois as células crescem na direção da luz. Com o
passar do tempo e a repetição do processo, camadas mineralizadas vão
formando uma estrutura rochosa estratificada, o estromatólito.
Ainda hoje, micróbios produzem estromatólitos modernos que são in-
crivelmente similares aos antigos. Vistos em corte transversal, ambos
mostram a mesma estrutura de camadas produzidas por bactérias.
Microfósseis de cianobactérias anciãs são eventualmente identificados
FÓSSEIS ESTROMATÓLITOS EM SECÇÕES TRANSVERSAIS.
nessas camadas.

2.2.1. Homologia
Estruturas homólogas apresentam a mesma origem em-
briológica, mas podem ter destinos funcionais diferentes.
Quando as estruturas não desempenham funções seme-
lhantes, indicando adaptações distintas, as homologias
apontam uma evolução divergente.
multimídia: vídeo
Nesse sentido, é possível citar os membros anteriores de
FONTE: YOUTUBE
vertebrados, que podem se diversificar em braços, patas
POA ciência de Jurassic Park | Nerdologia 57 dianteiras, nadadeiras ou asas. Apesar de funcionalidades
diferentes, identifica-se parentesco e, por consequência,
ancestralidade comum.
2.2. Anatomia e embriologia comparadas
No estudo dos vertebrados, é evidente a existência de um Ulna
Rádio
Úmero
padrão esquelético: um crânio ligado a uma coluna ver- Carpo
Metacarpo
1
tebral que apresenta uma cintura escapular, onde se co-
nectam os membros anteriores e uma cintura pélvica, na
qual estão conectados os membros posteriores. Assim, é 5
4
3
2 Golfinho
perceptível que todos os vertebrados, apesar de diferentes,
apresentam características em comum, fator que mostra Rádio
Úmero Carpo
parentesco e indica um ancestral comum que, por evolu- Ulna
Metacarpo
1
ção, deu origem a todos os subgrupos.
2
3
O estudo embriológico dos animais, por sua vez, demonstra 5 4

que, quanto mais inicial é a fase de desenvolvimento do em-


brião, maiores são as dificuldades de diferenciação e identifi- Humano

cação do grupo estudado. Isso indica que o desenvolvimento Úmero


Ulna
Metacarpo
embriológico dos animais é extremamente semelhante nas Rádio Carpo

suas primeiras fases e que a distinção só ocorre mais tarde.


Portanto, entre espécies ou grupos evolutivamente próximos,
existe uma semelhança embriológica muito grande em rela-
ção às fases iniciais do desenvolvimento. Cavalo

20
Úmero Como exemplo, é possível citar as asas de insetos, aves e mor-
Ulna Rádio Carpo
1
cegos. Esses grupos distintos adotaram, ao longo do tempo, a
2 Metacarpo mesma estratégia – asa – para a locomoção no meio aéreo,
porém a origem da estrutura nos grupos é completamente
3
diferente. A presença da característica “asa” permitiu a adap-
4 tação, ou seja, o voo. Nesse caso, percebe-se que o ambiente
5 Morcego foi o referencial comum entre as espécies distintas, pois, para
ESTUDO COMPARATIVO ÓSSEO ENTRE MEMBROS ANTERIORES a locomoção no meio aquático, sem dúvida que nadadeiras
DE GOLFINHO, HUMANO, CAVALO E MORCEGO.
seriam mais adaptadas, independentemente de sua origem –
A homologia é evidente na formação das espécies a partir caracterizando analogia. Essa situação é chamada de conver-
de um ancestral comum que colonizou diferentes meios e gência adaptativa.
nichos ecológicos, apresentando adaptações distintas. Esse
processo evolutivo caracteriza a irradiação adaptativa.

REPRESENTAÇÃO DE CONVERGÊNCIA EVOLUTIVA.

REPRESENTAÇÃO DE IRRADIAÇÃO ADAPTATIVA. Exemplo de convergência evolutiva: rãs, crocodilos e hipo-


pótamos possuem os olhos e as narinas posicionados acima
2.2.2. Analogia da superfície da água. Isso permite que eles permaneçam
ocultos, ao mesmo tempo que possibilita respirarem e obser-
Estruturas análogas obrigatoriamente apresentam a mes- varem ao seu redor. As estruturas não possuem mesma ori-
ma função ou papel biológico, mas possuem origens em- gem evolutiva, foram as pressões ambientais similares que
briológicas distintas. Assim, apesar de serem indício de selecionaram os caracteres mais adaptados ao meio.
condições evolutivas similares, não são evidências
de parentesco.
2.2.3. Estruturas vestigiais
As estruturas análogas surgem de um processo denominado
As estruturas vestigiais são características biológicas re-
evolução convergente. Devido a contextos ecológicos e a duzidas que modificaram ou perderam sua funcionalidade
pressões seletivas semelhantes, as estruturas evoluem inde- principal. Embora encontrada nessas condições em alguns
pendentemente em vários grupos que não possuem ancestral grupos de seres vivos, em outros a estrutura pode ser bem
em comum, convergindo para uma mesma funcionalidade. desenvolvida. Assim, é possível traçar parentesco entre as
espécies que a possuem.
O ceco, o apêndice vermifome e a a base da espinha dor-
sal humana são exemplos de órgãos vestigiais. Todas essas
características estão pouco desenvolvidas na espécie hu-
mana, enquanto em outras estão mais desenvolvidas − o
que denota modificação e evolução ao longo do tempo.
Por exemplo, ao passo que o apêndice cecal não possui
função aparente em animais carnívoros, em herbívoros ele
ESQUEMA COMPARATIVO DE ANALOGIA E HOMOLOGIA
é bem desenvolvido e possui papel essencial na digestão
ENTRE ASAS DE DIFERENTES ANIMAIS de celulose.

21
Base da espinha dorsal Humana

Vértebras

multimídia: vídeo
Sacro FONTE: YOUTUBE
Por Dentro do Apêndice - Por Dentro 7

Cóccix
(cauda vestigial)

BASE DA ESPINHA DORSAL HUMANA

Intestino
delgado SER HUMANO
HOMEM
COELHO
Apêndice
Ceco Intestino
Intestino grosso
delgado
Ceco Intestino
multimídia: site
Apêndice delgado
vermiforme
Ceco
http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/analo-
ESQUEMA COMPARATIVO ENTRE O INTESTINO DE COELHOS E DE SERES HUMANOS. gia-homologia.htm
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/
2.3. Bioquímica, biologia e genética molecular Ciencias/bioevolucao2.php
Estudos nas áreas de bioquímica, biologia e genética mole-
cular têm mostrado que a presença das mesmas proteínas
em organismos de grupos diferentes indica semelhança no
aparato metabólico e hereditário, o que, sem dúvida, evi-
dencia parentesco e, portanto, ancestralidade comum. O
esquema abaixo ilustra os processos básicos e universais
que envolvem o material genético e a sua expressão.

DNA
Replicação
informação

Transcrição informação
Transcrição

(Síntese de RNA)

RNA

informação
Tradução

Tradução
(Síntese proteica)

Ribossomo

proteína

MECANISMOS PARA EXPRESSÃO DO MATERIAL GENÉTICO.

22
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.

O exercício testa a capacidade do aluno de interpretar o processo biológico (queda do meteorito e o impacto
ambiental causado) e relacioná-lo à extinção dos dinossauros.

MODELO 1
(Enem) Paleontólogos estudam fósseis e esqueletos de dinossauros para tentar explicar o desaparecimento
desses animais. Esses estudos permitem afirmar que esses animais foram extintos há cerca de 65 milhões
de anos. Uma teoria aceita atualmente é a de que um asteroide colidiu com a Terra, formando uma densa
nuvem de poeira na atmosfera.
De acordo com essa teoria, a extinção ocorreu em função de modificações no planeta que
a) Desestabilizaram o relógio biológico dos animais, causando alterações no código genético.
b) Reduziram a penetração da luz solar até a superfície da Terra, interferindo no fluxo energético das teias tróficas.
c) Causaram uma série de intoxicações nos animais, provocando a bioacumulação de partículas de poeira
nos organismos.
d) Resultaram na sedimentação das partículas de poeira levantada com o impacto do meteoro, provocando
o desaparecimento de rios e lagos.
e) Evitaram a precipitação de água até a superfície da Terra, causando uma grande seca que impediu a
retroalimentação do ciclo hidrológico.

ANÁLISE EXPOSITIVA

Entender o fenômeno das extinções corretamente é de grande importância para dominar esse pro-
cesso biológico. Existe a crença de que o impacto por si só foi a grande causa das extinções dos
dinossauros há 65 milhões de anos. Na verdade, a Terra já vinha passando por alterações climáticas
consideráveis que foram potencializadas devido aos efeitos da queda do meteoro. Dentre esses efei-
tos, a formação de uma camada de poeira foi determinante, uma vez que reduziu drasticamente a
incidência de luz na superfície terrestre, diminuindo assim a captação de energia dos produtores e
comprometendo as teias alimentares. Como os dinossauros eram muito numerosos, sofreram drasti-
camente com esse processo a ponto de serem extintos.

RESPOSTA Alternativa B

23
DIAGRAMA DE IDEIAS

EVIDÊNCIAS EVOLUTIVAS

FATORES QUE COMPROVAM


A EVOLUÇÃO BIOLÓGICA

BIOQUÍMICA,
FÓSSEIS
BIOLOGIA E GENÉ-
TICA MOLECULAR
OS ORGANISMOS
DE ANTIGAMENTE EX: ANIMAIS COM AS MESMAS
ERAM DIFERENTES PROTEÍNAS EVIDENCIAM
UM PARENTESCO

ANATOMIA ÓRGÃOS VESTIGIAIS


COMPARADA
O CECO BEM DESENVOLVIDO
EX: ANIMAIS COM COLUNA EM HERBÍVOROS E POUCO DE-
VERTEBRAL / ANIMAIS SEM SENVOLVIDO EM CARNÍVOROS.
COLUNA VERTEBRAL

EMBRIOLOGIA
COMPARADA

ORIGEM DISTINTA,
MESMA ORIGEM
MAS MESMA FUNÇÃO

ÓRGÃOS ÓRGÃOS
HOMÓLOGOS ANÁLOGOS

PODEM APRESENTAR CONVERGÊNCIA


FUNÇÕES IGUAIS ADAPTATIVA
OU DIFERENTES
(DIVERGÊNCIA
ADAPTATIVA)

24
senvolvimento de ossos e músculos. As girafas com pesco-
AULAS 5 e 6 ços desenvolvidos transmitiriam essa característica a seus
descendentes. Logo, ao longo das gerações, todas as girafas
teriam pescoços grandes.
Para Lamarck, portanto, o ambiente tem um papel dire-
cionador e induz modificações nas características e nas
adaptações dos organismos, uma vez que estes se modi-
TEORIAS EVOLUTIVAS ficam para atender às necessidades impostas pelo meio.

COMPETÊNCIA: 4

HABILIDADES: 15 e 16

REPRESENTAÇÃO DO AMBIENTE INDUZINDO O DESENVOLVIMENTO


DO PESCOÇO DA GIRAFA AO LONGO DAS GERAÇÕES

1. Introdução O lamarckismo é considerado equivocado pela biologia


contemporânea: os lamarckistas defendem que os bagres
Entendendo que a evolução é o conjunto de mudanças here- cegos das grutas de Ipiranga perderam a visão devido
ditárias dos organismos no decorrer do tempo e que o estu- ao desuso e à atrofia dos olhos na ausência da luz; no
do das evidências corroboram essa teoria, é preciso entender entanto, foi demonstrado que tais animais simplesmente
como ocorrem as alterações nas espécies com o transcorrer descendem de formas com visão atrofiada (mutações), que
do tempo. Outra questão importante é o modo como essas surgiram e se fixaram ao acaso, quer na presença, quer na
modificações, se favoráveis, permanecem ao longo das gera- ausência de luz.
ções. Jean-Baptiste de Lamarck (século XVIII) e Charles
Darwin (século XIX) foram dois cientistas que se destacaram Outro questionamento dessa teoria foi realizado por Weis-
na tentativa de explicar essas e outras questões. mann, em experiências cortando caudas de camundongos
por sucessivas gerações e mostrando que não havia atrofia
desse apêndice. Ele foi autor da teoria da “continuidade do
2. Lamarckismo plasma germinativo”, segundo a qual o germe é imortal,
A teoria de Lamarck, publicada em 1809, baseava-se em não sendo as alterações provocadas pelo meio ambiente
três pontos principais: transmissíveis aos descendentes.

1. A lei do uso e desuso afirmava que era possível ad- Apesar de algumas de suas interpretações sobre a evolu-
quirir características necessárias à adaptação em um certo ção terem sido refutadas, Lamarck foi um dos primeiros
ambiente pelo uso intensivo do órgão ou estrutura envolvi- cientistas a criticar o fixismo e a introduzir o conceito de
da. Enquanto, do mesmo modo, o desuso poderia atrofiar adaptação do organismo ao meio, que é fundamental para
determinada característica. a compreensão do processo evolutivo.

2. A lei da transmissão dos caracteres adquiri-


dos, de maneira complementar, defendia que essas 3. Darwinismo
mudanças eram hereditáras, ou seja, eram transmitidas Na teoria de Charles Darwin, a evolução é defendida como
aos descendentes. um processo lento e gradual de pequenas alterações que
3. A ideia da evolução como progresso e melhora. Para vão se acumulando até resultarem em uma grande mu-
Lamarck, o aumento da complexidade e da perfeição dança em relação aos indivíduos ancestrais.
seriam o destino natural e esperado de cada espécie. Em sua viagem ao redor do mundo, de dezembro de 1831
Exemplo: o comprimento do pescoço das girafas pode ser a outubro de 1836, a bordo do navio inglês H.M.S. Beagle,
entendido, se pensarmos nos esforços diários para alcançar Darwin observou e colheu espécimes de animais e plantas
os ramos mais altos das árvores, como um resultado do de- que o levaram a elaborar sua teoria evolucionista.

25
Bico grande e forte que Bico grande e afiado que Bico curto e fino que
esmaga sementes grandes agarra e corta insetos apanha insetos das fendas
e duras no solo

LOCAIS VISITADOS POR DARWIN A BORDO DO H.M.S. BEAGLE. Bico pequeno e forte que Bico grande e fino que tira
parte sementes néctar de flores

Foi com base na observação desses espécimes que surgi-


ram as ideias sobre a possível mutabilidade das espécies. REPRESENTAÇÃO DE ALGUNS ESPÉCIMES DE TENTILHÕES,
RELACIONANDO OS TIPOS DE BICOS COM OS ALIMENTOS.
Darwin realizou muitas pesquisas e amadureceu sua teoria
evolutiva durante 20 anos, culminando na publicação do
livro A origem das espécies por meio da seleção natural. O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823-
1913) estudou as faunas da Amazônia e das Índias
O naturalista viajou pela América do Sul, passou pelo Bra- orientais. Ele desenvolveu a teoria de que as espécies se
sil, pela Austrália e por diversos arquipélagos, como o de modificam por seleção natural. De posse do manuscrito
Galápagos, no oceano Pacífico, a cerca de mil quilômetros da que relatava as pesquisas de Wallace, Darwin resolveu
costa sul-americana, que ofereceu a ele o material indispen- publicar seus estudos. Assim, em 1858, a pesquisa dos
sável ao desenvolvimento de sua teoria de seleção natural. A dois foi apresentada para a comunidade científica de
fauna desse arquipélago, principalmente os jabutis-gigantes Londres. Darwin é o nome de destaque da teoria da
e os pássaros, chamou sua atenção de modo particular. evolução, embora as ideias de Wallace tenham sido mui-
to bem elaboradas. A publicação do livro A origem das
Ele observou que diferentes espécies de tentilhões ficavam espécies, que possui uma ampla gama de informações
restritas a diferentes ilhas, bem como o formato do bico dos sobre a evolução, tornou Darwin mais conhecido, uma
espécimes desses pássaros adequava-se à necessidade de vez que o trabalho de Wallace não foi tão amplo. Não
consumir os alimentos disponíveis em cada uma das ilhas. obstante, Wallace merece créditos quando se trata da
teoria da evolução por seleção natural.
Darwin notou também as semelhanças entre os espécimes
de tentilhões habitantes das ilhas e do continente. Desse
fato, ele concluiu que aquelas diferentes espécies de pássa-
ros de Galápagos se originaram de uma única espécie an-
cestral, a qual provavelmente deixara o continente sul-ame-
ricano para viver nas ilhas. Assim, por seleção natural, foram
originados indivíduos adaptados aos diversos modos de vida
do ambiente. Nesse sentido, é provável que a diversificação
ALFRED RUSSEL WALLACE
da espécie original ocorreu como resultado das diferentes
alimentações e habitats existentes em cada ilha.

VIVENCIANDO
A elucidação dos processos evolutivos possibilitou a compreensão dos parentescos entre espécies e permitiu o
desenvolvimento de teorias que, acredita-se, estão cada vez mais próximas de desvendar como os seres vivos se mo-
dificaram ao longo do tempo. Pela teoria de Darwin, compreende-se como as bactérias podem ficar resistentes aos
antibióticos. O antibiótico, que é uma substância utilizada para combater infecções bacterianas, acaba com grande
parte dos microrganismos, mas não é capaz de eliminar formas mais resistentes, que se reproduzem passando o
gene de resistência para as próximas gerações. Quando um paciente com infecção bacteriana toma o antibiótico de
maneira inadequada ou interrompe o tratamento antes do tempo, possibilita-se que bactérias resistentes aumentem
sua população e, consequentemente, retornem com a doença de maneira mais agressiva. Por isso, é importante
tomar antibióticos sempre com recomendação médica e sempre nos horários indicados por esse profissional.

26
3.1. Seleção natural Logo, a seleção natural ou a “luta pela vida com a sobre-
vivência do mais apto” é o fator orientador da evolução e
De acordo com a teoria da seleção natural, os indivíduos não a causa das variações. A origem destas só foi desven-
com as características mais vantajosas para a sobrevi- dada com a descoberta das mutações, teoria exposta no
vência em determinado ambiente conseguiam resistir e
século XX por Hugo de Vries e denominada Mutacionismo.
se reproduzir, transmitindo essas características para as
próximas gerações. A teoria da seleção natural é o principal ponto do
darwinismo. Na época, essas ideias foram duramente com-
Em outras palavras, espécies bem adaptadas pressupõem
batidas, principalmente por considerar o ser humano como
sempre um agente responsável pela seleção dos indivídu-
mais uma espécie animal.
os mais aptos a determinado habitat. Assim, para Darwin,
o meio é um agente seletor − em oposição à teoria de Os indivíduos que nascem não são idênticos e, mesmo
Lamarck, na qual o ambiente induz as mudanças. dentre os descendentes de um mesmo casal, ocorreriam
variações das características − como os diferentes tama-
No caso dos tentilhões, o agente seletor foi o alimento, uma
nhos de pescoço (1).
vez que as condições climáticas gerais das ilhas eram pare-
cidas. Já em animais que viviam em regiões muito frias, a Porém, por conta das condições específicas do ambiente,
temperatura teria atuado como agente seletor. Consegui- nem todos estariam adaptados. No caso, girafas com pes-
riam sobreviver nesse ambiente apenas os indivíduos com coço maior teriam mais disponibilidade de alimento do que
características corpóreas vantajosas, como uma espessa ca- as outras, principalmente em épocas de escassez, quan-
mada de gordura que atuasse como isolante térmico. do as poucas folhas estão localizadas no alto (2). Assim,
Na segunda metade do século XIX, Charles Darwin apresen- naquele meio, os indivíduos com a característica "pescoço
tou, com bases sólidas, evidências das modificações sofridas comprido" estariam mais aptos a sobreviver e, portanto, a
pelas espécies, formulando uma explicação sobre os possíveis se reproduzir (3).
mecanismos que atuariam no processo de evolução biológica. Essas girafas com um pescoço um pouco mais longo que o
Em seu livro A origem das espécies, Darwin expôs a sua teoria de seus pais transmitiriam aos seus descendentes a variação
da evolução por seleção natural, partindo de duas observações: (4) e, após muitas gerações, o comprimento do pescoço des-
ses animais teria aumentado, modificando uma característi-
ƒ Os organismos vivos produzem um grande número de ca da espécie (5).
sementes ou ovos, mas o número de indivíduos nas po-
pulações normais é mais ou menos constante, o que Portanto, o Darwinismo pode ser entendido a partir de cin-
só pode ser explicado pela grande mortalidade natural. co acontecimentos fundamentais:

ƒ Organismos de mesma espécie, ou então de uma popula- 1. Variabilidade intraespecífica


ção natural, são muito variáveis em forma e comportamen- 2. Adaptação
to, sendo a variabilidade influenciada pela hereditariedade. 3. Seleção natural
4. Reprodução diferecial e hereditariedade
5. Tempo

Observações
Em todas as espécies e populações existe a variação,
sob forma de diferenças individuais.
A maioria dos organismos produz descendentes em
número muito maior do que o número dos que conse-
guem sobreviver até a idade reprodutiva.
Conclusões
FOTO COM DIVERSAS VARIEDADES DO MILHO. NOTE COMO A DIFERENÇA
É UM FATO NATURAL E ESSENCIAL NAS ESPÉCIES SILVESTRES. Darwin concluiu que existe uma competição ou “luta” pela
Desse modo, havendo variabilidade e grande mortalida- sobrevivência, na qual muitos indivíduos são eliminados.
de, alguns organismos tem maior chance de deixar des- As características que favorecem os indivíduos nesse proces-
cendentes do que outros. Darwin denominou esse tipo de so de eliminação são transmitidas às gerações posteriores.
reprodução diferencial como seleção natural.

27
As reflexões do economista Thomas Malthus a respeito do 3.2.1. Coloração de advertência
aumento da população humana contribuíram para algumas
conclusões de Darwin. De acordo com Malthus, grande parte Há animais que produzem e armazenam substâncias quí-
do sofrimento humano, provocado por guerras, fome, doen- micas nocivas, além de possuírem cores bastante vitsosas.
ças, etc, deve-se ao aumento da população humana ultra- Trata-se da chamada coloração de advertência, que sinali-
passar a velocidade de disponibilidade dos recursos do meio. za aos possíveis predadores que eles não devem ser ingeri-
dos, pois são perigosos.
“[...] A população humana tende a crescer para além das pos-
sibilidades do meio, cresce exponencialmente, enquanto que
os recursos alimentares crescem em progressão aritmética.”
THOMAS MALTHUS (1766-1834), COLABORADOR DE DARWIN.

A RÃ DE COR VERMELHA VIBRANTE POSSUI UM VENENO MUITO PERIGOSO.


multimídia: site
A borboleta-monarca, de coloração laranja e preta, é um
animal facilmente visível no ambiente. Essa espécie, no en-
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/ tanto, produz substâncias que a torna não palatável aos
Ciencias/bioselecaonatural.php seus predadores, os quais aprendem a associar o padrão
de coloração ao sabor desagradável e evitam capturá-la.
3.1.1. Tipos de seleção natural
ƒ Seleção direcional: ocorre quando as condições am-
bientais favorecem um dos fenótipos extremos.

ƒ Seleção estabilizadora: favorece indivíduos de fe-


nótipos intermediários, eliminando aqueles de fenóti-
pos extremos.

ƒ Seleção disruptiva: ocorre quando uma população é


submetida a diferentes pressões do ambiente, favorecen-
do indivíduos com fenótipo dos dois extremos.

GERAÇÃO 1 DANAUS PLEXIPPUS (BORBOLETA-MONARCA)

POPULAÇÃO DE
INDIVIDUOS
3.2.2. Mimetismo
Caráter Caráter Caráter Determinados organismos, denominados mímicos, apre-
POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 1 GERAÇÃO 2 POPULAÇÃO NA GERAÇÃO 2 sentam características que os confundem com outro grupo
de organismos, os modelos. Em geral, essa semelhança
ocorre por padrão de coloração, textura, formato corporal,
POPULAÇÃO DE
comportamento, constituição química, etc. Ela confere ao
INDIVIDUOS
mímico uma vantagem adaptativa. Existem três tipos de
Caráter Caráter Caráter

SELEÇÃO DIRECIONAL SELEÇÃO ESTABILIZADORA SELEÇÃO DISRUPTIVA mimetismo: batesiano, mülleriano e reprodutivo.
GRÁFICOS DEMONSTRANDO A VARIAÇÃO NA FREQUÊNCIA ƒ O mimetismo batesiano (de defesa) consiste na imita-
DAS CARACTERÍSTICAS EM CADA TIPO DE SELEÇÃO.
ção de um modelo tóxico ou perigoso por espécies “sa-
borosas” ou inofensivas, que escapam de ser predadas.
3.2. Estratégias adaptativas O mesmo ocorre no caso das cobras-corais verdadeiras
A seguir, serão destacados casos de adaptações que con- (Micrurus sp., modelo) e das falsas corais (Erithrolampus
feriram vantagens aos seus portadores e, por isso, foram aesculapi, imitadoras). As verdadeiras são bastante temi-
beneficiados pela seleção natural. das em razão da alta potência do seu veneno neurotóxi-

28
co. Ambas, no entanto, são dotadas de coloração de ad-
vertência. Mas as falsas não têm dentes inoculadores de
peçonha e não oferecem perigo a eventuais predadores.

OPHRYS APIFERA

3.2.3. Camuflagem
FALSA-CORAL Trata-se de um conjunto de técnicas e métodos que permite a
um organismo permanecer indistinto do ambiente que o ro-
deia. A camuflagem pode ser vantajosa para o predador, que
cerca a presa sem ser percebido, e para a presa, que se con-
funde com o meio, passando desapercebida pelo predador.

ƒ Homocromia: consiste na coloração semelhante do


CORAL-VERDADEIRA organismo com a do meio onde vive: cascas, galhos e
folhas de árvores, cor da areia, etc.
ƒ O mimetismo mülleriano ocorre quando duas ou mais
espécies assumem características uma da outra, como ƒ Homotipia: consiste na semelhança do indivíduo com
veneno ou sabor desagradável. Devido à coloração de a forma de estruturas presentes no meio onde vive. É o
advertência semelhante, ambas ampliam o número de caso dos insetos bicho-folha e bicho-pau, que se asse-
predadores que passam a evitá-las. O mimetismo mül- melham a folhas e gravetos, respectivamente.
leriano ocorre quando duas ou mais espécies se asseme-
lham tanto por possuírem veneno ou sabor desagradável,
quanto por compartilharem as mesmas estratégias adap-
tativas de advertência ao predador. Assim, ambas am-
pliam o número de predadores que passam a evitá-las.

É o caso da borboleta-vice-rei (Limenitis archippus) que


apresenta grande semelhança com a borboleta-monarca Camaleão
(Danaus plexippus). As duas possuem sabor desagradá-
vel e são tóxicas, sendo evitadas por pássaros predadores
que aprender a evitar insetos com a sua padronagem.

BICHO-PAU

LIMENITIS ARCHIPPUS (BORBOLETA-VICE-REI)


Bicho-folha
ƒ O mimetismo reprodutivo é bastante comum entre
plantas que mimetizam a fêmea de insetos e aproveitam 3.3. Seleção sexual
a tentativa de acasalamento para sua polinização. É o
O indivíduo mais apto não é necessariamente o mais rápi-
caso da Ophrys apifera, orquídea bastante comum no
do, maior ou mais forte. Aptidão pressupõe habilidade de
Mediterrâneo e vulgarmente chamada erva-abelha. Suas
sobreviver, encontrar um parceiro, produzir descendência e,
flores lembram as fêmeas de uma espécie de abelha (Eu-
finalmente, deixar seus genes na próxima geração.
cera nigrilabris). Essas semelhanças atraem os machos,
que acabam polinizando as flores e contribuindo para a Produzir filhotes, cuidar de sua prole – da qual alguns não
reprodução da orquídea. sobreviverão – e exibir-se para atrair o sexo oposto são estra-

29
tégias que aperfeiçoam a aptidão de deixar mais descen-
dentes. Seleção sexual, portanto, é a seleção natural volta-
4. Neodarwinismo:
da para o encontro de parceiros e para o comportamento teoria sintética da evolução
reprodutivo.
Quando Darwin propôs a sua teoria, os processos da heran-
Os leões-marinhos machos, por exemplo, brigam entre si ça biológica ainda eram desconhecidos. Apesar de Darwin
para demarcar um território e, normalmente, o maior e mais ter sido contemporâneo de Gregor Mendel (1822-1884)
forte conquista mais fêmeas e deixa mais descendentes. – pai da genética –, eles não se conheceram. Descobertas
recentes do século XX nos campos da genética, da biologia
molecular e da paleontologia deram origem a uma nova
teoria da evolução, conhecida como neodarwinismo ou
teoria sintética da evolução, que integra esses novos
conhecimentos às ideias de Darwin e esclarece a causa e o
destino das variabilidades.
Quatro fatores básicos constituem a moderna teoria sintética
da evolução: mutação, recombinação genética, sele-
ção natural e deriva genética. Os dois primeiros determi-
nam a origem da variabilidade genética, a qual é orientada
pelos dois últimos.
LEÕES-MARINHOS As diferenças existentes entre os indivíduos de uma mesma
espécie se enquadram sob a designação de variabilidade. Essa
3.4. Seleção artificial diversidade genética é gerada por meio de mutações e recom-
binações, as quais alteram a sequência de bases nitrogenadas
Darwin também estudou espécies cultivadas pelo ser hu-
nos ácidos núcleicos. A seleção natural e a deriva genética
mano, o que o muniu de argumentos a favor da seleção
descrevem como essas características são fixadas nas espécies.
dos mais aptos. Alguns animais domésticos e vegetais cul-
tivados pertenciam a espécies com representantes ainda
em estado selvagem. Contudo, as características dos or- 4.1. Mutação
ganismos domesticados diferiam das dos selvagens, e, em É importante salientar que a mutação é aleatória. Por
alguns casos, esses seres poderiam ser classificados como ocorrer ao acaso, não possui relação com sua utilidade e
pertencentes a espécies diferentes. não aparece como resposta do organismo a uma situação
A seleção artificial conduzida pelo ser humano consiste na ambiental. Além disso, mutações não são necessariamen-
adaptação e/ou seleção de seres vivos, com o objetivo de re- te sinônimo de evolução. Elas contribuem para a evolução
alçar determinadas características desses organismos para a biológica quando são herdáveis, como quando estão pre-
produção de carne, leite, lã e frutas, por exemplo. sentes em gametas.
Darwin chegou à conclusão de que a seleção artificial pode ser CÓPIA
CÓPIA
CORRETA
CORRETA

comparada à exercida pela natureza sobre as espécies selva-


gens. A luta pela vida foi substituída pela escolha humana dos
indivíduos que melhor atendem aos seus objetivos.

CÓPIA
CÓPIA
MUTANTE
MUTANTE

DEMONSTRAÇÃO DE UMA MUTAÇÃO: TROCA DE NUCLEOTÍDEO


DURANTE A REPLICAÇÃO DO DNA.
multimídia: vídeo
Vale ressaltar que mutações não são necessariamente be-
FONTE: YOUTUBE
néficas e podem ser neutras ou prejudiciais para o orga-
Evolução da Forma - Documentário (2008) nismo − tal interpretação depende das condições do meio
que essa mutação se insere.

30
Por exemplo, no caso de um organismo que vive num de-
serto de seca extrema, não é o ambiente que vai favorecer Muita atenção ao fato de que mutações são even-
o aparecimento de mutações que o ajudem a sobreviver. tos raros, uma vez que nosso organismo detém me-
No entanto, caso ocorra espontaneamente uma mutação canismos próprios para evitar erros na produção de
favorável, esta será selecionada positivamente. Assim, a moléculas de DNA.
população dos indivíduos portadores dessa variação ten-
derá a aumentar.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Para compreender o conceito de neodarwinismo, é necessário o conhecimento básico sobre genética e bioquímica.
Por meio de mutações no DNA, que são erros ao acaso ou nas bases nitrogenadas ou em cromossomos, o indivíduo
pode desenvolver características benéficas. Assim, esse organismo torna-se mais apto ao meio em que vive, tendo mais
chances de sobreviver e de passar seus genes aos descendentes. Dessa forma, duas áreas da biologia, como a bioquími-
ca dos ácidos nucleicos e as teorias evolutivas, interagem e se completam.

4.2. Recombinação ou permutação gênica dadores por serem mais visíveis. Depois da industrialização,
no século XIX, as mutantes escuras passaram a ser camu-
A recombinação genética (crossing-over) promove a troca de fladas pela fuligem e, como eram mais vigorosas, foram
sequências de bases nitrogenadas entre cromossomos ho- aumentando em frequência e substituindo as mariposas
mólogos, durante a divisão celular conhecida como meiose. claras. Estas, por se tornarem mais visíveis, passaram a ser
Assim, enquanto as mutações podem ocorrem em todo e eliminadas pelos pássaros. Assim, o agente seletivo foram os
qualquer organismo, a permutação gênica só ocorre na- predadores das mariposas.
queles que sofrem meiose − para produzir gametas, nos
animais, e esporos, nos vegetais. Logo, os organismos que
se reproduzem sexuadamente apresentam uma variabili-
dade maior em suas populações do que os organismos que
se reproduzem assexuadamente

4.3. Seleção natural


Como já exposto nas outras aulas, as variações são subme-
tidas ao meio ambiente, que, pela seleção natural, conserva
as favoráveis e elimina as desfavoráveis. Assim, quando as FOTO DA MARIPOSA BISTON BETULARIA, ILUSTRANDO A CAMUFLAGEM
condições ambientais se modificam, algumas variedades NA ÁRVORE O EXEMPLO DO MELANISMO INDUSTRIAL.
se tornam vantajosas e permitem aos indivíduos que as
possuem sobreviver e produzir mais descendentes do que ƒ Resistência de moscas ao DDT: quase todas as mos-
aqueles que não as têm. cas foram mortas durante o primeiro ano em que o DDT
foi usado numa determinada localidade. Algumas, as re-
A seguir, alguns exemplos de seleção natural:
sistentes, conseguiram sobreviver, foram selecionadas e se
Melanismo industrial: antes da Revolução Industrial na reproduziram. Assim, os descendentes foram herdando as
Inglaterra no século XVIII, predominavam as mariposas cla- características e logo ultrapassaram em número os tipos
ras, uma vez que o ambiente proporcionava condições para de moscas menos resistentes naquela área. Essa mudança
sua camuflagem. Às vezes apareciam mutantes escuras que, na população teve como consequência a perda de eficácia
apesar de serem mais robustas, eram eliminadas pelos pre- do inseticida.

31
VARIABILIDADE: corresponde à existência
de sensíveis e resistentes
(gerados por mutação)

INSETICIDA

SELEÇÃO representada pelo


INSETICIDA inseticida, que elimina
NATURAL:
os sensíveis e permite
a sobrevivência dos
resistentes.

INSETICIDA

ADAPTAÇÃO: é o predomínio dos


insetos resistentes ao
inseticida quando o
produto está presente
no meio.

4.4. Deriva genética


Enquanto na seleção natural o destino das mutações, que surgem a cada geração, depende do efeito no organismo e de sua
interação com o meio, na deriva genética a fixação dos caracteres acontece ao acaso.
Esse fenômeno evolutivo ocasiona uma mudança nas frequências, sem levar em conta o valor adaptativo de cada caracterís-
tica. Para a deriva, as variações são elementos flutuantes que permanecem ou desaparecem de acordo com a sorte. Quando
esse fenômeno é forte, pode promover a fixação de até mesmo características prejudiciais ao organismo.
Apesar de ocorrer em poupulações grandes finitas, tem efeitos mais profundos em populações pequenas. Na aula sobre forma-
ção de espécies, será explicado como decorre o efeito gargalo e o efeito fundador, eventos específicos de deriva genética.

32
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.

Por meio do modelo de mapa-múndi apresentado na questão, e munido do conhecimento prévio de que esses continen-
tes eram unidos há milhões de anos (Pangeia), o aluno deverá relacionar essa situação com o fenômeno biológico da
migração e, posteriormente, refletir sobre como a separação dos continentes foi capaz de criar a diversidade observada.

MODELO 1
(Enem) No mapa, é apresentada a distribuição geográfica de aves de grande porte e que não voam.

Avestruz

Ema
Emu

Há evidências mostrando que essas aves, que podem ser originárias de um mesmo ancestral, sejam, portanto,
parentes. Considerando que, de fato, tal parentesco ocorra, uma explicação possível para a separação geográ-
fica dessas aves, como mostrada no mapa, poderia ser:
a) a grande atividade vulcânica, ocorrida há milhões de anos, eliminou essas aves do Hemisfério Norte;
b) na origem da vida, essas aves eram capazes de voar, o que permitiu que atravessassem as águas oceâni-
cas, ocupando vários continentes;
c) o ser humano, em seus deslocamentos, transportou essas aves, assim que elas surgiram na Terra, distri-
buindo-as pelos diferentes continentes;
d) o afastamento das massas continentais, formadas pela ruptura de um continente único, dispersou essas
aves que habitavam ambientes adjacentes;
e) a existência de períodos glaciais muito rigorosos, no Hemisférico Norte, provocou um gradativo desloca-
mento dessas aves para o Sul, mais quente.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A princípio, o ancestral dessas aves vivia em uma mesma área, uma vez que os continentes eram unidos. A
migração fez com que diferentes populações se separassem e, posteriormente, com o afastamento das massas
continentais, essas populações ficassem isoladas geograficamente. Isso favoreceu o surgimento dessas aves a
partir do mesmo ancestral.

RESPOSTA Alternativa D

33
DIAGRAMA DE IDEIAS

TEORIAS EVOLUTIVAS

LAMARCK DARWIN
NEODARWINISMO
TEORIA SINTÉTICA
DA EVOLUÇÃO

RECOMBINAÇÃO
MUTAÇÃO
GENÉTICA

VARIABILIDADE
SELEÇÃO NATURAL
ADAPTAÇÃO
LEI DO USO E DESUSO
DIRECIONAL

HERANÇA DOS CARAC-


TERES ADQUIRIDOS ESTABILIZADORA

DISRUPTIVA

O AMBIENTE SELE-
O AMBIENTE INDUZ
CIONA AS CARAC-
MUDANÇAS NOS
TERÍSTICAS MAIS
ORGANISMOS
ADAPTADAS

34
AULAS 7 e 8

ESPECIAÇÃO

COMPETÊNCIA: 4
REPRESENTAÇÃO DOS EVENTOS DE ANAGÊNESE E CLADOGÊNSE, RESPECTIVAMENTE

HABILIDADES: 15 e 16
1.1.Fluxo gênico
Os mecanismos de fluxo gênico promovem a troca de
informações genéticas entre populações. Por um lado, essa
migração de genes favorece a variabilidade porque pos-
1. A origem das espécies sibilita introduzir caracteres novos. Por outro lado, também
pode dificultar a especiação, uma vez que permite um des-
Antes de compreender o processo de formação das espé- locamento genético entre populações afastadas e/ou em
cies, é necessário discutir o que de fato é uma espécie. processo de divisão
Melhor que uma única definição, que facilmente a as- O intercâmbio de genes é possível devido à semelhança
sociaria a um termo ou conceito, é preferível considerar e identidade genética, como número e tipos de cromos-
diferentes descrições. somos. A partir dos conhecimentos desenvolvimentos pela
engenharia genética é possível, por meio de manipulação
ƒ Definição biológica de espécie: são grupos de po-
cromossômica e gênica, abreviar os processos necessários
pulações naturais potencialmente capazes de ge-
à especiação e permitir o aparecimento de novas espécies
rar descendentes férteis e que, em condições na-
- ou de pelo menos espécies transgênicas. Deve-se lembrar,
turais, estão reprodutivamente isoladas de outros
no entanto, que a fertilidade é condição obrigatória entre
grupos semelhantes.
os descendentes de toda e qualquer espécie natural.
ƒ Unidade ecológica: apresenta características pró-
prias e mantém relações bem definidas com o am- 1.2. Isolamento reprodutivo
biente e outras espécies. A espécie ecológica, então, é O isolamento reprodutivo é a condição a partir da qual po-
formada por um conjunto de indivíduos que exploram de-se afirmar definitivamente que houve especiação a par-
o mesmo nicho. tir de um grupo ancestral. O isolamento reprodutivo indica
a incapacidade total ou parcial de os indivíduos de duas
ƒ Unidade gênica: dotada de um patrimônio gênico
subpopulações se reproduzirem entre si. Quando essas
característico, que não se mistura com o de outras
subpopulações entram em contato, o isolamento reprodu-
espécies e evolui de forma independente.
tivo impede a mistura de genes.
O processo de formação das espécies é chamado espe- Logo, para confirmar que houve especiação, deve-se
ciação. Pode ocorrer por meio de mudanças evolutivas apresentar diferenças genéticas que interfiram na efici-
contínuas e de transformações graduais dos caracteres, ência do acasalamento entre as novas espécies. Não há
alterando gradativamente as frequências ao longo das necessidade, no entanto, de que sejam diferenças gené-
gerações e, como consequência, resultando em uma es- ticas significativas. Seriam suficientes mudanças na data,
pécie nova (anagênese). Ou a partir da ramificação de no local ou nos rituais de acasalamento. Mas elas são
uma linhagem, isolando e dividindo a populações original necessárias e podem evoluir por seleção natural ou por
em duas ou mais subpopulações (cladogênese). deriva genética.

35
1.2.1. Mecanismos pré-zigóticos cromossomos herdados de pais de diferentes espécies.
Exemplo clássico desse caso é do burro ou da mula.
Os mecanismos pré-zigóticos impedem a fecundação e
Trata-se de um híbrido estéril, resultado do cruzamento
a formação do zigoto.
entre o jumento (Equus asinus) e a égua (Equus caba-
ƒ Isolamento estacional ou sazonal – decorre de di- lus). O burro e a mula são considerados híbridos inte-
ferenças nas épocas de reprodução. Por exemplo: gru- respecíficos e não constituem uma terceira espécie.
pos de rãs que vivem em uma mesma lagoa, mas não
se reproduzem na mesma época; ou espécies de orquí- Híbrido é o nome dado a um indivíduo formado pela
deas que, embora habitem a mesma região, florescem união de indivíduos de espécies diferentes. É o resulta-
em dias diferentes, o que lhes impede o cruzamento. do da mistura genética entre espécies distintas.
ƒ Isolamento ecológico – resulta quando populações
ocupam diferentes habitats. Mesmo vivendo na mesma
região geográfica, habitam microambientes distintos. Le- Exceção à regra
ões e tigres podem se cruzar em cativeiro e produzir des- Apesar de a regra dizer que híbridos são estéreis, há re-
cendentes férteis. Entretanto, em ambiente natural eles gistros de exceções a essa regra com filhotes de mula.
não se cruzam, uma vez que vivem em habitats dferentes Considerando que uma égua tem 64 cromossomos, e um
ƒ Isolamento etológico ou comportamental – de- jumento, 62, a principal barreira para esse tipo de repro-
dução diz respeito à diferença na quantidade de cromos-
corre de diferentes padrões de comportamento de corte.
somos dos pais da mula. Os 63 cromossomos da mula
Antes do acasalamento, representam um fator de funda-
constituem um número ímpar, que não pode ser dividido
mental importância para a reprodução de diferentes es-
em cromossomos pares (a importância dessa divisão será
pécies. O canto das aves, por exemplo, por ser específico,
explicada, quando falarmos sobre divisão celular), o que,
atrai apenas parceiros da mesma espécie. em princípio, a tornaria incapaz de reproduzir-se. Entre-
ƒ Isolamento mecânico ou incompatibilidade anatô- tanto, apesar de alguns casos já terem sido registrados
mica – resulta da incompatibilidade estrutural dos órgãos ao redor do mundo, ainda não há uma explicação para o
reprodutores. Nos animais, a diferença de tamanho ou for- fato, que permanece sendo estudado por pesquisadores.
ma dos órgãos genitais impede a cópula. Nas plantas, as
estruturas responsáveis pelo encontro dos gametas podem
não se encaixar perfeitamente em diferentes espécies. 2. Tipos de especiação
A especiação é resultado do consequente isolamento
1.2.2. Mecanismos pós-zigóticos
reprodutivo das espécies. Esse evento evolutivo pode
Os mecanismos pós-zigóticos são aqueles que inviabilizam ocorrer tanto pela existência de um empecilho geográfico
a sobrevivência do híbrido ou a sua fertilidade. Mesmo quanto pela redução do fluxo gênico.
ocorrendo a cópula, esses mecanismos impedem ou dificul-
tam seu desenvolvimento. Os principais tipos de isolamento Quando há algum obstáculo geográfico, formam-se duas ou
pós-zigótico são: mais populações que, ainda pertencentes à mesma espécie,
estarão submetidas às diferentes pressões seletivas de seus
ƒ Mortalidade do zigoto – trata-se da fecundação meios. Logo, as variabilidades e adaptações surgidas em uma
entre gametas de espécies diferentes que pode levar subpopulação podem ser diferentes das surgidas na outra.
à formação de zigoto pouco viável e com desenvolvi- Com isso, ocorre uma progressiva diferenciação ao longo do
mento embrionário irregular, problemas que inibem o tempo que, mesmo após o fim do isolamento geográfico e
progresso do embrião e podem causar sua morte. com a possibilidade de encontro dos indivíduos das duas
subpopulações, pode resultar em isolamento reprodutivo.
ƒ Inviabilidade do híbrido – diz respeito à cópula
ISOLAMENTO
entre indivíduos de espécies diferentes, à formação do GEOGRÁFICO
zigoto e à morte prematura do embrião devido à in-
compatibilidade entre os genes maternos e paternos.
Algumas espécies de rã, embora habitem a mesma
lagoa e eventualmente se cruzem, geram híbridos in- DIFERENCIAÇÃO
PROGRESSIVA
terespecíficos que não são capazes de se desenvolver.

ƒ Esterilidade do híbrido – forma-se o híbrido in-


terespecífico, porém este é estéril devido à presença ISOLAMENTO
de gônadas anormais ou de incompatibilidade dos REPRODUTIVO

36
A especiação também pode acontecer com populações que Está relacionada com o chamado efeito fundador, fenô-
convivem em um mesmo lugar e não possuem barreiras ex- meno de deriva genética que descreve o estabelecimen-
trínsecas para o fluxo gênico. Nesse caso, a distribuição dos to de uma nova população a partir da migração de uma
organismos no espaço ou a ocorrência de mudanças no com- pequena parcela de indivíduos e de genótipos da popula-
portamento, muitas vezes relacionadas a determinadas pres- ção original. Do mesmo modo, a peripátrica aplica-se ao
sões seletivas, podem desencadear o processo de formação evento de deriva genética denominado efeito gargalo,
de novas espécies. no qual algum evento reduz drasticamente uma população
Modos de e sua variabilidade genética.
Características Representação
especiação

Alopátrica As populações
(alo = outros; são geografica-
pátrica = lugar) mente isoladas.

Uma pequena po-


Peripátrica
pulação fica isolada REPRESENTAÇÃO DO EFEITO FUNDADOR.
(peri = perto)
da população maior.
EFEITO GARGALO

A população é
Parapátrica
continuamente
(para = ao lado) POPULAÇÃO INICIAL REDUÇÃO DA INDIVÍDUOS QUE NOVA POPULAÇÃO
distribuída.
POPULAÇÃO SOBREVIVEM

REPRESENTAÇÃO DO EFEITO GARGALO.

2.3. Especiação parapátrica


População inserida
Nessa especiação não há barreiras geográficas presentes.
Simpátrica
(sim = igual)
na população Por exemplo, em uma população dispersa continuamen-
ancestral.
te por uma grande área com diversificados ambien-
tes, o acasalamento não é aleatório e o intercâmbio de ge-
nes entre indivíduos de pontos distantes é reduzido. Porém,
a diminuição do fluxo gênico não implica isolamento total
2.1. Especiação alopátrica dessa população. Em conjunto com pressões ambientais dis-
tintas nos extremos opostos, altera-se a frequência gênica
Ocorre quando algum tipo de isolamento geográfico − nesses organismos a ponto de eles não serem mais capazes
como longas distâncias ou barreiras físicas − impede dois ou de se acasalarem caso estivessem reunidos.
mais grupos de se acasalarem regularmente entre si ou com
outros. O que caracteriza de fato uma especiação alopátrica
é a presença de um algum obstáculo geográfico que provoca
a redução significativa, não necessariamente a extinção, do
fluxo gênico entre as futuras novas espécies.

2.2. Especiação periprática


É um tipo particular de especiação com isolamento geográfico,
na qual uma subpopulação menor é separada da maior.

37
2.4. Especiação simpátrica Por exemplo, há cerca de 200 anos, os ancestrais da mosca-
-da-maçã depositavam seus ovos exclusivamente em frutos
Diferente dos tipos anteriores, a especiação simpátrica não de espinheiros, seu habitat original. Algumas populações
necessita de distância geográfica em larga escala para a di- passaram a utilizar maçãs domésticas (espécie exótica) como
minuição do fluxo gênico entre os indivíduos de uma popula- depósito, o que caracteriza isolamento de habitat. As fêmeas
ção, esse fenômeno acontece com organismos que habitam preferem os mesmos tipos de frutos onde cresceram; os ma-
áreas sobrepostas. chos tendem a procurá-las também nos tipos de frutos onde
A formação de novas espécies ocorre em virtude de cresceram. Resultado: moscas de espinheiros cruzam com
mudanças aleatórias no material genético associadas a as moscas de espinheiros, e as da maçã, com as da maçã.
determinadas pressões seletivas e a alterações no com- Assim, o fluxo gênico entre essas populações ficou reduzido.
portamento. A simples exploração de um novo nicho A mudança de espinheiro para maçã pode ser o começo da
por uma subpopulação pode contribuir para a redução especiação simpátrica.
do fluxo gênico entre indivíduos. Ocasionalmente, pode
acontecer entre insetos herbívoros que optem por uma
nova planta hospedeira.

Nicho é um termo usado para designar a função ou o


papel desempenhado pelos organismos de deter-
minada espécie em seu ambiente de vida. Isso inclui
multimídia: site
suas necessidades alimentares, a temperatura ideal de so-
brevivência, os locais de refúgio, as interações com outros
seres vivos, os locais de reprodução, etc. brasilescola.uol.com.br/biologia/especiacao.htm

VIVENCIANDO

O estudo do termo “especiação” permite compreender como surgem novas espécies e como outras podem ser
extintas ao longo do tempo. A interferência humana no meio ambiente − como o desmatamento, o assoreamento
dos rios e as construções de cidades, estradas e hidrelétricas − causa o aparecimento de barreiras geográficas, o que
altera o fluxo gênico das populações e contribui para o isolamento reprodutivo. Esse fato pode ocasionar o surgi-
mento de novas espécies, assim como o desaparecimento de outras. Dessa forma, é possível propor mecanismos de
conscientização e educação ambiental para minimizar a interferência humana na evolução das espécies.

diversos tipos de dados, desde aspectos moleculares até tra-


3. Filogenia e cladograma ços morfofisiológicos e evidências evolutivas. Assim, novos
Conforme as espécies, a partir de linhagens ancestrais, se conhecimentos e descobertas podem alterar as relações e,
separam, herdam alterações e diferenciam seus caminhos portanto, a filogenia daqueles grupos.
evolutivos, é produzido um padrão ramificado de relações
No cladograma, cada ponto (nó) indica um ancestral co-
de parentesco.
mum partilhado e as ramificações a partir dele mostram os
O estudo e a elaboração de hipóteses acerca da história eventos de especiação que deram origem a novos carac-
evolutiva dos organismos é chamado filogenia. O clado- teres e grupos. Nas terminações estão localizados os des-
grama (árvore filogenética) é uma representação gráfica cendentes. Lembre-se de que a leitura temporal da árvore
do grau de parentesco entre espécies e das mudanças que filogenética é sempre do ancestral (raiz do cladograma)
ocorreram ao longo do tempo. Para sua elaboração, utilizam-se para seus descendentes (término dos ramos).

38
TEMPO

LOCALIZAÇÃO DOS ANCESTRAIS NO CLADOGRAMA. NOTE COMO, NESSA ÁRVORE, multimídia: site
B E C SÃO PARENTES MAIS PRÓXIMOS QUE A E C, POIS COMPARTILHAM
UM ANCESTRAL EM COMUM MAIS RECENTE COM B QUE COM C.

http://www.qualibio.ufba.br/003.html

sim
a ter a
tis ogas cur
den ela
n bs
D. D. o
D. m 4. A extinção das espécies
Enquanto a especiação representa o desenvolvimento de
novas espécies, a extinção é o desaparecimento com-
pleto de uma espécie e pode ocorrer devido a processos
naturais ou por interferência humana. Segundo estimativas
atuais, o número total de espécies no planeta varia entre
5 milhões e 30 milhões. Desse total, cerca de 1,4 milhão
Eventos de
de espécies foram nomeadas e descritas pelos cientistas.
especiação Segundo a União Internacional para a Conservação da Na-
tureza (UICN), até a metade do século XXI, mais de 25%
CLADROGRAMA MOSTRANDO AS RELAÇÕES DE PARENTESCO ENTRE AS ESPÉCIES DE da fauna e flora terrestre devem desaparecer. Essa organi-
DROSOPHILA (MOSCA-DA-FRUTA). OS PONTOS DE RAMIFICAÇÃO DESSA FILOGENIA DE zação calcula que quase um quarto das 4.600 espécies de
DROSOPHILA REPRESENTAM EVENTOS DE ESPECIAÇÃO OCORRIDOS HÁ MUITO TEMPO. mamíferos conhecidas corre risco de extinção.
parafilético
Táxon merofilético manofilético
Táxon parafilético

Linhagem do
táxon A (ramo)
4.1. Os processos naturais
Linhagem do
Táxon Táxon Táxon Táxon
táxon D (ramo) A extinção de espécies acontece de forma natural desde
A B C D o surgimento da vida no planeta. Suas principais cau-
sas são as modificações climáticas, como as desertifica-
X espécie ancestral
ções, glaciações e alterações da atmosfera decorrentes
X (nó)
das atividades vulcânicas. Elas tornam o meio ambiente
Y espécie ancestral
desfavorável à permanência de alguns grupos, que, por
Y (nó)

seleção natural, desaparecem. No entanto, a maioria


Tempo
das espécies consegue se adaptar e sobreviver a essas
mudanças, pois elas são efeito de uma série de fatores e
Caráter a (sinapomorfia)
costumam ocorrer lentamente.
Árvore filogenética: relações filogenéticas ou de parentesco entre os seres vivos.
Durante a história terreste houve ao menos cinco gran-
des extinções em massa. A mais conhecida ocorreu
no fim do Cretáceo e ocasionou o desaparecimento dos
dinossauros. Outra, durante o Permiano-triássico, é uma
das maiores registradas e ocasionou a extinção de cer-
ca de 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres.
É importante pontuar que, mesmo com consequências
drásticas, os processos evolutivos dos organismos prosse-
guiram e a biodiversidade eventualmente cresceu.
multimídia: site
Para muitos cientistas, a possível próxima extinção em massa
já está em processo e tem como causa as ações humanas. A
http://www.qualibio.ufba.br/002.html velocidade de desaparecimento das espécies é maior do que
as últimas já registradas e preocupa os pesquisadores.

39
4.2. Os processos antrópicos frequências alélicas, ou seja, na proporção de um tipo de gene
alelo em relação ao conjunto de alelos; outros acham que a
Nas últimas décadas, o ser humano vem destruindo habitats deriva genética ou a variação aleatória dessas frequ-
de grande diversidade biológica, principalmente por causa ências é que tem um papel de destaque nessas mudanças.
da poluição das águas, do solo e do ar, do desmatamento,
da caça e pesca predatórias e da extração ilegal de espécies
vegetais. Essas mudanças estão acontecendo numa veloci- Genes são trechos de DNA que armazenam a infor-
dade maior do que a de adaptação dos seres vivos, que não mação para a síntese de proteínas.
se ajustam às novas condições de vida e desaparecem. Locus gênico se refere à localização de um gene
Uma das consequências da extinção das espécies é o desequi- no cromossomo.
líbrio das cadeias alimentares, responsáveis pela transferência Genes alelos, ou apenas alelos, são segmentos ho-
de alimento nos ecossistemas. A redução drástica dos animais mólogos do DNA que representam variações específi-
carnívoros, por exemplo, pode levar à proliferação dos animais cas de um mesmo gene.
herbívoros e, como consequência, haveria escassez de algu-
mas plantas. Polialelia ou polimorfismo: Quando um gene pos-
sui mais de duas formas alélicas. Exemplo: o sistema
Em todo o planeta, a quantidade de animais em via de sanguíneo ABO possui três alelos e quatro fenótipos
extinção é enorme. Entre eles, estão a baleia-azul, o mi-
co-leão-dourado, o elefante, o rinoceronte-negro e o go-
rila-das-montanhas (África), o cervo (Tailândia), o panda- Os selecionistas acreditam que a seleção natural é a
-gigante (China), o pinguim-grande (Islândia e Canadá), força predominante capaz de direcionar os processos
o cavalo-selvagem (Europa Central), o bisão, ou o boi- evolutivos, sendo que os outros fatores proporcionam, no
-selvagem, e o pelicano-branco (França). Várias espécies máximo, uma pequena contribuição. O selecionismo
vegetais também correm risco de extinção. É o caso das prega que as substituições alélicas ocorrem em consequên-
orquídeas de Chiapas, no México, das bromélias – típicas cia de seleção dos mais adaptados, no qual o novo alelo
das zonas tropicais e subtropicais, encontradas no conti- substituirá um antigo em função de aumentar o valor
nente americano e em parte da África –, das “madeiras adaptativo dos organismos que o possuem. Assim,
de lei”, como mogno, jacarandá, marfim, cerejeira, im- os polimorfismos seriam mantidos, quando a coexistência
buia, canela, entre outras, usadas em todo o mundo para de dois ou mais alelos num loco for vantajosa para o orga-
a confecção de móveis e na construção civil. nismo ou para a população.
No Brasil, o país de maior biodiversidade do mundo, cer- Já os neutralistas acreditam que, principalmente num
ca de 300 espécies da fauna e flora estão ameaçadas de nível molecular, a maioria das mudanças evolutivas não
extinção: lobo-guará, onça-pintada, gato-mourisco, veado- está relacionada a uma seleção positiva dos alelos de maior
-campeiro, cervo-do-pantanal, ariranha, mico-leão, anta, valor adaptativo, e sim à deriva genética, ou seja, à va-
peixe-boi, psitacídeos (arara e papagaio) e tucano. A lis- riação aleatória das frequências dos alelos. A teoria neu-
ta passa pelos répteis, como o jacaré-de-papo-amarelo e tralista surgiu no fim dos anos 1960, quando uma grande
tracajá, e estende-se, inclusive, a invertebrados de diversos quantidade de dados de sequenciamento de proteínas foi
filos, que ocupam os costões e praias da orla marítima. obtida, provendo, pela primeira vez, dados empíricos para
Vale lembrar também da extinção de seres pequenos, par- examinar as teorias relacionadas à substituição de genes/
camente estudados ou de pouco interesse para a sociedade. alelos. O neutralismo não diz que todos os alelos possuem
Dentre eles, destacam-se os invertebrados e, em especial, os estritamente o mesmo valor adaptativo, mas que a maio-
insetos. Esse grupo possui a maior quantidade de organis- ria das variações não afetam a sobrevivência e reprodução
mos e está em rápido declínio, seu desaparecimento é devi- dos organismos − ou seja, nem toda característica é uma
do principalmente ao controle de praga. Por conta da impor- adaptação selecionada de acordo com pressões ambientais.
tância dos seus papéis ecológicos, a extinção de espécies dos Assim, as frequências podem ser determinadas ao acaso. Se-
gundo eles a seleção opera de maneira secundária.
insetos pode causar consequências irreversíveis.
Segundo a teoria neutralista, um loco polimórfico é constitu-
ído de alelos que tendem a se fixar ou a se estinguir. Assim,
5. Neutralismo e selecionismo os processos moleculares importantes para o andamento da
Vários evolucionistas discordam sobre qual é o principal evolução são resultado de um contínuo surgimento das varia-
mecanismo responsável pela flutuação das frequências alé- ções por mutação e consequente fixação ou extinção aleató-
licas numa população. Alguns acham que a seleção natural ria dos alelos. A substituição alélica seria, portanto, um
é a mais importante força direcionadora da alteração nas processo longo e gradual, no qual a frequência dos

40
alelos aumenta ou diminui randomicamente até que desses grupos obtiveram maior sucesso. Essa resolução de
eles sejam perdidos ou fixados por ordem do acaso. problemas era facilitada quando havia uma vocalização
A verdade é que a base da disputa entre selecionistas e neu- complexa (pré-requisito para a linguagem humana).
tralistas está relacionada aos valores adaptativos dos Uma pré-adaptação para a vocalização foi um fator funda-
alelos mutantes. Ambas concordam que a maioria das mental para que essa característica pudesse existir.
novas mutações é deletéria e que essas alterações não
Pré-adaptações são estruturas que já existem naquela
contribuem para a taxa de mutação nem para a quantidade
espécie e que permitem que o animal tenha sucesso no
de polimorfismos dentro de uma população. A diferença está
ambiente. O ancestral humano já possuía uma estrutura
relacionada à proporção relativa de mutações neutras entre
física para vocalização (garganta, glote, estruturas para
as mutações não deletérias. Enquanto os selecionistas
passagem do ar, etc.). Ele só pôde desenvolver a linguagem
consideram que poucas mutações são seletivamen-
porque já possuía essas pré-adaptações (no caso, pré-adap-
te neutras, os neutralistas acreditam que a maioria
tacões para a linguagem).
delas é seletivamente neutra.
Um outro exemplo seriam as abelhas, que também vivem
Para encerrar, é óbvio que algumas características apresen-
em grupo e precisam se comunicar. Como elas não desen-
tam um valor adaptativo muito maior do que outras. Por
volveram nenhuma estrutura de vocalização ou de comuni-
exemplo, um hemofílico apresenta um valor adaptativo
cação sonora, comunicam-se por meio de sinais químicos,
muito mais baixo que um não hemofílico, aspecto que até
estruturas desenvolvidas a partir de pré-adaptações espe-
os neutralistas reconhecem e sabem que a seleção é muito
cíficas. Ao se analisar uma determinada adaptação em um
importante nesses casos. A abordagem selecionista pode ser
animal, deve-se tentar identificar a pré-adaptação que pos-
complementar, e não antagônica, à neutralista.
sibilitou o aparecimento daquela característica.

6. Evolução humana No caso da evolução humana. Esses grupos ancestrais que


vocalizavam, mesmo em grunhidos, foram selecionados
Os seres humanos possuem um cérebro grande se compa- positivamente pelo meio ambiente daquela época. Ao lon-
rado a outros mamíferos ou primatas. Um indivíduo adulto go das gerações, aqueles que possuíam uma melhor vocali-
tem um cérebro de quase 4 kg, para um peso corporal mé- zação eram gradativamente mantidos, enquanto os outros
dio de aproximadamente 70 kg. Ou seja, aproximadamen- acabavam sendo selecionados negativamente (extintos).
te 6% do nosso peso é composto de massa cefálica.
O ambiente fora das árvores era bem mais hostil, pois conti-
Os pesquisadores buscam determinar os motivos que leva- nha um maior número de variáveis. Nas árvores, a quantidade
ram a essa cefalização acentuada no gênero Homo. de alimento é maior do que em um campo aberto. É possível
A seguir, de forma simplificada, serão apontadas algumas afirmar que, para se obter a mesma quantidade de alimento
ideias a respeito desse tema. encontrada facilmente em 10 m2 na floresta, esses homens
primitivos deveriam percorrer 10.000 m2 em seu novo habitat.
A priori, tentou-se identificar um fator isolado que explicasse
essa característica, mas logo percebeu-se a limitação desse en- O fato de ser bípede era uma grande vantagem na cober-
foque. Atualmente, as pesquisas tentam ser mais realistas, en- tura dessas extensas áreas, além de liberar os membros
focando uma série de fatores que teriam agido em conjunto. anteriores desses animais (braços e mãos) para recolher as
frutas e manusear os alimentos. Assim, os mais habilidosos
Quando os ancestrais dos humanos tiveram a necessidade de
com os alimentos foram favorecidos e tiveram maior su-
descer das árvores para a sobrevivência (o que pode ter ocor-
cesso evolutivo, deixando mais descendentes. Na ciência,
rido devido a uma mudança no habitat, como a diminuição
isso é conhecido como “pressão positiva” para os mais ha-
do número de árvores), eles tiveram de lidar com um ambien-
bilidosos, ou seja, aqueles que tem mais habilidade levam
te diferente, no qual ser bípede oferecia algumas vantagens.
vantagem em relação aos menos habilidosos e prevalece-
Além disso, vivendo em campos abertos, aqueles que per- riam em termos de evolução. Outras estruturas, como as
maneciam em grupos eram mais favorecidos (seleção na- da mão, também foram se modificando e teriam sido sele-
tural de comportamento). Assim, ao longo das gerações, os cionadas a cada geração. Algumas alterações facilitavam o
indivíduos isolados eram predados mais facilmente e não manuseio do alimento, gerando maior habilidade.
deixavam muitos descendentes, enquanto aqueles que vi-
Dessa forma, os membros anteriores foram lentamente se mo-
viam em grupos geravam descendentes que possuíam a dificando e assumindo a forma que conhecemos, ou seja, com
tendência de viverem agrupados. o polegar opositor aos outros dedos, possibilitando uma maior
Assim, as populações que tinham indivíduos com maior firmeza e precisão nos movimentos. Além de facilitar o manu-
capacidade de solucionar problemas para manter a coesão seio dos alimentos, esse fator permitiu que o homem ancestral

41
segurasse galhos, pedras e outros objetos. Em conjunto, todos fêmea; para isso, a cabeça não pode ser muito grande. Essa
esses fatores resultaram em um cérebro mais desenvolvido. restrição é uma das razões para o crescimento contínuo do
cérebro, mesmo depois do nascimento. Isso faz com que os
bebês sejam extremamente dependentes das mães, mas,
por outro lado, gera uma flexibilidade tremenda, pois o
cérebro vai crescendo (e montando as ligações entre os
neurônios), sempre se ajustando ao ambiente e facilitando
o aprendizado direto ainda na formação cerebral.

IMAGEM COMPARATIVA DA ESTRUTURA DAS MÃOS EM PRIMATAS

Quanto maior o cérebro, maior o consumo de energia. O


cérebro humano, em termos energéticos, consome três ve-
zes mais do que o cérebro do chimpanzé e 22 vezes mais COMPARAÇÃO ENTRE A PELVE HUMANA E A DE CHIPAMZÉ
do que um tecido muscular em repouso. A taxa metabólica
No nascimento, o cérebro humano tem cerca de 25% do
específica (por grama) é nove vezes maior do que a do
peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos de idade,
resto do corpo como um todo. Para suprir essa demanda
esse valor é de 84,1%. Chimpanzés nascem com 47% do
energética, os ancestrais necessitavam de uma dieta de
peso do cérebro de um adulto; aos quatro anos, já têm
melhor qualidade proteica e energética.
100% do peso total. Com isso, é possível perceber outra
restrição para um cérebro muito grande e flexível: a redução
da taxa reprodutiva, pois os pais devem cuidar dos filhotes
por um período de tempo maior.
O bipedalismo, associado à possibilidade de explorar ou-
tros ambientes, além de exigir mais do cérebro, abriu novos
COMPARAÇÃO ENTRE O CRÂNIO DO AUSTRALOPITHECUS, horizontes para a evolução biológica humana. A seguir, as
DO CHIMPANZÉ E DO SER HUMANO vantagens angariadas com isso:
A mudança de dieta retroalimenta a expansão cerebral; ƒ desenvolvimento da habilidade para o transporte de
isso significa que, para manter o cérebro, nossos ancestrais alimentos;
precisavam se alimentar melhor, apresentando, assim, um ƒ redução de pelos sobre as áreas do corpo não expostas
comportamento forrageador (de busca de alimento) mais ao sol forte;
complexo e eficiente, que, por sua vez, fazia uma pressão ƒ liberação das mãos para diferentes usos, inclusive para
seletiva para a expansão cerebral. cuidar dos filhos;
Existem outros obstáculos a serem superados para o au- ƒ redução do consumo de energia em caminhadas a ve-
mento do cérebro, além do alto custo energético. O tama- locidades normais; e
nho da pélvis (bacia) das fêmeas é um dos exemplos. No ƒ aumento do horizonte de visão e aperfeiçoamento da
nascimento, o feto deve passar pela junção pélvica da proteção contra predadores.

42
de novas técnicas do que das mutações em si. Foi essa evo-
Evolução humana – hominídeos lução cultural que permitiu a formação dos grupos sociais, a
domesticação de animais, o cultivo de plantas e o domínio
ƒ cérebro grande;
do homem sobre a natureza, causando, ao mesmo tempo,
ƒ dependência total do uso de
utensílios; graves problemas a outras espécies.
cérebro, tecnologia, ƒ linguagem simbólica completa; e
linguagem e cultura
ƒ capacidades cognitivas desen- 6.2. Apontamentos sobre a
volvidas através de processos
complexos de transmissão da in- origem do ser humano
formação de geração em geração.
Em meados do século XIX, a teoria de Charles Darwin so-
ƒ proteínas de grandes animais; bre o mecanismo da evolução das espécies estremeceu o
ƒ consumo significativo de plantas mundo da ciência. A consequência lógica e irrefutável de
ricas em hidratos de carbono; tudo o que ele havia descoberto era a de que a espécie
dieta e subsistência
ƒ consumo retardado da comida
humana não teria sido criada separadamente dos outros
adquirida; e
seres vivos, como afirmavam as Escrituras das três maiores
ƒ partilha dos alimentos.
religiões monoteístas, mas evoluído a partir de espécies já
ƒ laços sexuais e econômicos fortes extintas, antecessoras também dos macacos, como o chim-
entre machos e fêmeas;
panzé, o gorila e o orangotango.
ƒ crianças dependentes;
ƒ adolescência prolongada; Na época, esse era um conceito inaceitável. Primeiro, por-
reprodução e sociedade ƒ vida social organizada em torno que refutava os dogmas religiosos, que ainda ocupavam
de um lugar central; e um lugar central no comando das sociedades ocidentais.
ƒ inexistência de caninos grandes Darwin teve uma educação teológica em Cambridge,
que possam ser usados em con-
texto de interação social.
estava destinado a ser um pároco da Igreja anglicana e
descendia de uma próspera família de proprietários rurais,
ƒ porte ereto e locomoção bípede;
locomoção e habitat e profissionais liberais e industriais. Seus amigos eram todos
ƒ habitats abertos. conservadores ou ligados à religião e ao governo, forte-
mente opostos à noção de evolução das espécies como um
Homo sapiens mecanismo independente do Criador.
Homo sapiens sapiens
neanderthalensis
Segundo, porque temia-se que, ao aceitar esse conceito, o
crânio achatado crânio abaulado
ser humano perderia seu lugar especial, rebaixando-se a
testa curta testa evidenciada mais um animal entre os animais. Para a classe dominan-
tes hegemônica, essa constatação poderia "liberar os ins-
osso supraorbital bas- ausência/redução acentua-
tante expandido da do osso supraorbital tintos mais baixos" da população, que poderia revoltar-se
órbitas oculares grandes órbitas oculares pequenas
contra o governo e instaurar a anarquia, tão temida pelos
governantes (é preciso não esquecer que a influência da
face projetada para a frente face curta Revolução Francesa ainda se fazia sentir e que o socialismo
ausência de queixo presença de queixo acabava de nascer como movimento político e social, ame-
açando tirar o poder dos velhos privilégios da monarquia,
osso occipital achatado osso occipital abaulado
da elite econômica, etc.).
ossos longos espes- Em terceiro lugar, havia um argumento científico sólido
ossos longos mais delgados
sos e curvos
contra a hipótese defendida por Darwin e seus seguidores:
até então, não havia qualquer evidência concreta de que
ossos longos com
ossos longos com pouca superfí- os registros fósseis comprovassem a progressão evolutiva
grandes áreas para
cie para ligação de músculos
ligação de músculos dos hominídeos.
O castelo cuidadosamente montado pelos opositores de
Darwin começou a desmoronar quando foram descobertos
6.1. Evolução cultural os primeiros esqueletos de um ser evidentemente muito
A cultura é um processo tipicamente humano: a evolução mais antigo que o Homo sapiens sapiens (a espécie moder-
da humanidade se tornou muito mais cultural do que bio- na do ser humano), o Homem de Neandertal, encontrado
lógica. Cultura, portanto, é o acúmulo de conhecimentos e em escavações no vale do rio Neander, na Alemanha (“tal”
hábitos cuja renovação depende muito mais do surgimento significa “vale”, em alemão).

43
As observações mostraram um ser com postura ereta, cor- 40 mil seres humanos em toda a face da Terra. Qualquer
po e membros praticamente iguais aos nossos, mas com grande desastre natural ou epidemia teria inviabilizado essa
um crânio com semelhanças ao de um gorila. espécie. Esses estudos de biologia molecular também evi-
denciaram que toda a humanidade descende, provavelmen-
A descoberta foi atacada na época, e seus opositores ar-
te, de não mais do que seis indivíduos que habitaram o sul
gumentaram que o fóssil pertencia a um ser humano de-
formado ou aleijado. No entanto, a descoberta acabou se da África, sendo que uma dessas mulheres é responsável por
consolidando com outros achados em várias partes da Euro- 60% de todos os genomas da humanidade atual, enquanto
pa e do Oriente Médio, provocando uma enorme polêmica. que outras cinco são responsáveis pelos 40% restantes.
Mostrou-se, pela primeira vez, que havia o registro histórico Inclusive, novos conhecimentos moleculares possibilita-
de um ser muito semelhante ao ser humano, que não mais ram descobrir também que o DNA atual de seres huma-
existia e poderia ser um ancestral em comum de macacos nos possui alguns poucos trechos de material genético de
atuais e seres humanos. A descoberta deu um grande impul- outros hominídeos. Isso evidencia que os hominídeos não
so à aceitação das teorias de Darwin pelos cientistas e incen- só coexistiam, como cruzaram entre si. Considerando que
tivou a busca desenfreada por fósseis de hominídeos cada o ser humano é uma espécie recente e que são poucos os
vez mais antigos, o que veio a acontecer somente no século trechos compartilhados, as evidências sugerem que não
XX, inicialmente na África, mas também na Ásia e Oceania. havia separação total entre as espécies e que ainda era
possível o cruzamento. Além disso, a falta acasalamen-
to não era motivada por diferenças genéticas, mas por
incompatibilidade de comportamento, que impedia uma
aproximação entre as espécies.

Os principais estágios da evolução humana


DA ESQUERDA PARA A DIREITA, OS CRÂNIOS DO AUSTRALOPITHECUS anos atrás estágios da evolução
AFARENSIS, UM DOS MAIS ANTIGOS HOMINÍDEOS ENCONTRADOS;
DO AUSTRALOPITHECUS AFRICANUS, UM HOMINÍDEO MAIS RECENTE
4 milhões Australopithecus afarensis
QUE O AFARENSIS; DO HOMO HABILIS, UMA DAS PRIMEIRAS ESPÉCIES
AFRICANAS DO GÊNERO; E DE UM HOMEM DE NEANDERTAL.
3,2 milhões “Lucy” (Australopithecus afarensis)
A ciência chegou à conclusão de que o ser humano evo-
luiu gradativamente a partir de espécies que hoje sabemos 2,5 milhões Australopithecus de várias espécies
terem se originado na África subequatorial entre 5 e 6 mi-
lhões de anos atrás. 2 milhões Homo habilis

Além disso, descobriu-se que o Neandertal não é nosso an-


1,6 milhão Homo erectus
tepassado, mas sim uma subespécie que surgiu em paralelo
com o Homo sapiens sapiens e que se extinguiu há cerca de
1,4 milhão Os Australopithecus sofrem extinção.
60 mil anos, por motivos desconhecidos. Ambos descendem
de duas espécies de hominídeos ancestrais, que, entre um
milhão a 500 mil anos atrás, começaram a emigrar da África 1 milhão O Homo erectus se estabelece na Ásia.
para outros continentes: o Homo erectus e o Homo habilis.
O Homo erectus se estabelece na Europa.
O Homo sapiens sapiens provavelmente tem apenas 100 mil 400 mil
O Homo sapiens começa a evoluir.
anos de existência como espécie independente, um período
extremamente curto em termos geológicos, ou mesmo para 250 mil
Formas arcaicas do Homo sapiens.
a idade total do gênero Homo. Trata-se de uma espécie que O Homo erectus sofre extinção.

está há pouquíssimo tempo na superfície deste planeta.


125 mil Homo neandertalensis
Uma conclusão surpreendente no estudo dos hominídeos é
que, provavelmente, existiram muitas espécies de hominíde-
O Homo sapiens se desenvolve plenamente
os ancestrais que foram extintas sem deixar marcas. A linha 100 mil
na Ásia e na África.
sobrevivente, em determinadas épocas históricas, chegou a
ter um número extremamente reduzido de indivíduos. Um 40 mil O Homo sapiens (Cro-Magnon) se desenvolve.
estudo recente do DNA mitocondrial (que é transmitido ape-
nas através da linha feminina, diferentemente do DNA, que Os Neandertais sofrem extinção.
tem componentes maternos e paternos) mostrou que houve 35 mil O Homo sapiens permanece como a única
espécie humana sobrevivente.
uma época no passado em que existiam apenas cerca de

44
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A evolução biológica e a antropologia cultural e social caminham juntas para explicar a história do ser humano na
Terra. Por meio de registros fósseis, como o tipo de arcada dentária, é possível estimar qual seria a alimentação daquele
espécime e também qual seria o crânio. A partir dessas informações, é viável recriar o contexto onde possivelmente os
indivíduos estavam inseridos, como os caçadores-coletores, os quais tinham uma distribuição de trabalho e uma divisão
social. Desse modo, é possível reproduzir as interações entre os indivíduos de uma sociedade de 200 mil anos atrás.

ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 15
Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de
organização dos sistemas biológicos.
HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização ta-
xonômica dos seres vivos.

Nesta questão sobre diversidade fenotípica associada ao ambiente ocupado, é fundamental a interpre-
tação correta do modelo apresentado, associando a cor da pelagem com a cor do ambiente. Com isso, será
possível entender como os processos evolutivos estão ocorrendo.

MODELO 1
(Enem) Os ratos Peromyscus polionotus encontram-se distribuídos em ampla região na América do Norte. A pela-
gem de ratos dessa espécie varia do marrom claro até o escuro, sendo que os ratos de uma mesma população têm
coloração muito semelhante. Em geral, a coloração da pelagem também é muito parecida à cor do solo da região
em que se encontram, que também apresenta a mesma variação de cor, distribuída ao longo de um gradiente
sul-norte. Na figura, encontram-se representadas sete diferentes populações de P. polionotus. Cada população é
representada pela pelagem do rato, por uma amostra de solo e por sua posição geográfica no mapa.

45
O mecanismo evolutivo envolvido na associação entre cores de pelagem e de substrato é:

a) A alimentação, pois pigmentos de terra são absorvidos e alteram a cor da pelagem dos roedores.
b) O fluxo gênico entre as diferentes populações, que mantém constante a grande diversidade interpopulacional.
c) A seleção natural, que, nesse caso, poderia ser entendida como a sobrevivência diferenciada de
indivíduos com características distintas.
d) A mutação genética, que, em certos ambientes, como os de solo mais escuro, têm maior ocorrência e
capacidade de alterar significativamente a cor da pelagem dos animais.
e) A herança de caracteres adquiridos, capacidade de organismos se adaptarem a diferentes ambientes e
transmitirem suas características genéticas aos descendentes.

ANÁLISE EXPOSITIVA
Compreender como os mecanismos evolutivos são capazes de produzir padrões encontrados de acor-
do com o meio ambiente onde as espécies habitam é primordial para entender a situação proposta.
Observa-se nesse esquema que a coloração dos ratos varia de acordo com o ambiente que ocupam,
ou seja, ratos de pelagem mais escura vivem em ambientes em que o solo é mais escuro. O que ocorre
é que provavelmente a pelagem com cor parecida ao substrato confere uma vantagem adaptativa. Po-
de-se entender esse processo por meio da seguinte situação: presumivelmente existiam ratos de todas
as cores em todos os ambientes. Aqueles que tinham coloração diferente do substrato eram predados
de maneira mais fácil e, com isso, foram extintos. Por outro lado, aqueles com pelagem semelhante ao
ambiente sobreviviam, pois conseguiam passar despercebidos pelo predador e transmitiam essa cor
de pelagem aos descendentes. Esse mecanismo evolutivo é denominado seleção natural e foi proposto
por Charles Darwin.

RESPOSTA Alternativa C

46
DIAGRAMA DE IDEIAS

DIFERENCIAÇÃO
PROGRESSIVA

ESPECIAÇÃO

ISOLAMENTO ISOLAMENTO
REPRODUTIVO REPRODUTIVO
PRÉ-ZIGÓTICO PÓS-ZIGÓTICO

• SAZONAL • MORTALIDADE
• ECOLÓGICO DO ZIGOTO
• MECÂNICO FORMAÇÃO DE • INVIABILIDADE
• COMPORTAMENTAL NOVAS ESPÉCIES OU ESTERILIDADE
DO HÍBRIDO

ALOPÁTRICA PERIPÁTRICA PARAPÁTRICA SIMPÁTRICA

ISOLAMENTO ISOLAMENTO SEM ISOLAMENTO SEM ISOLAMENTO


GEOGRÁFICO GEOGRÁFICO, GEOGRÁFICO, GEOGRÁFICO,
POPULAÇÃO MENOR GRANDES ÁREAS OCUPAÇÃO DE
DE UMA MAIOR NICHOS DISTINTOS

CLADOGRAMA

47
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

Parasitologia é um tema marcante e engloba A zoologia é o terceiro tema mais abordado


doenças causadas por vírus, bactérias e na Fuvest. Com relação a essa área, as
protozoários. A maioria das questões aborda perguntas são frequentemente comparativas,
a forma de contágio e profilaxia, sempre analisando os grupos de seres vivos. Assim,
trazendo doenças do cotidiano. é fundamental a compreensão da estrutura
celular de todos os reinos e orga-
nismos existentes.

É uma prova generalista com relação às Doenças causadas por vírus (como a dengue), Zoologia também aparece como ponto de
características dos seres vivos, que não bactérias e protozoários costumam aparecer destaque dentro desta prova. A abordagem
aborda grupos específicos, ao contrário, nas questões da Unifesp. mais usada sempre é a relação entre os orga-
abrange um vasto número de grupos, sempre nismos, suas semelhanças e diferenças.
comparando-os.

Essa prova possui maior foco em teorias Prova essencialmente comparativa e com Com poucas questões de Biologia, a Além de protozooses, a Santa Casa cobra
evolutivas e na taxonomia dos seres vivos. questões que misturam diferentes áreas da PUC-Camp cobra conhecimentos acerca da conhecimentos específicos e comparativos
Biologia. Há presença de assuntos como anatomia comparada dos filos animais e da sobre os mais variados seres vivos, de vírus a
diversidade de seres vivos e comparação entre classificação dos seres vivos. vertebrados.
os reinos e entre os filos animais.

UFMG

É uma prova com questões interdisciplinares Questões com alto nível de especificidade. Apresenta questões de temas variados e não
que cobram conteúdos altamente específicos. Estão presentes conteúdos relacionados muito cobrados em outros vestibulares, como
É importante reconhecer características dos a doenças virais e bacterianas e anatomia taxonomia dos seres vivos e diversidade do
seres vivos e saber comparar os diferentes comparada dos diferentes filos animais. Reino Monera. Também estão presentes temas
reinos e filos. como zoologia e anatomia comparada dos
diferentes filos animais.

Relações evolutivas, taxonomia e protozooses Com perfil similar à Fuvest e questões bem Saber ler cladogramas, classificar seres vivos
(doenças causadas por protozoários, como específicas, os temas mais frequentes são e diferenciar os principais grupos (reinos e
malária e doença de Chagas) são temas muito doenças virais e bacterianas, comparação filos) são competências fundamentais para ter
presentes nas provas da Uerj. entre os reinos e anatomia comparada dos sucesso nessa prova.
filos animais.
DIVERSIDADE DA VIDA
1.2. Complexidade e organização
AULAS 1 e 2 Os seres vivos são complexos e apresentam organização
própria. Mesmo os organismos unicelulares apresentam
extrema complexidade, tanto na estrutura quanto no
funcionamento da célula. O corpo humano, exemplo de
organismo pluricelular, apresenta 200 tipos de células,
TAXONOMIA E REINOS que se organizam em quatro tipos básicos de conjuntos,
chamados de tecidos epitelial, conjuntivo, muscu-
lar e nervoso. Os grupos desses tecidos se reúnem
formando órgãos, como pele, estômago e coração.
Por sua vez, atuando em conjunto, os órgãos passam a
constituir um sistema, como é o caso do digestório ou
do circulatório.
COMPETÊNCIA: 4
Vacúolo Mitocôndria

HABILIDADE: 16 Membrana celular

Citosol

Ribossomos

Centríolos

1. Os seres vivos Núcleo

Nucléolo Lisossoma

Os seres vivos, objeto de estudo da Biologia, podem ser


caracterizados por: Membrana nuclear

ƒ estrutura celular; Complexo


golgiense

ƒ reprodução;
ƒ complexidade e organização; Grânulos
secretores
ƒ material genético;
A complexa estrutura celular.
ƒ metabolismo;
ƒ adaptação;
ƒ reatividade; 1.3. Metabolismo
ƒ evolução.
Metabolismo é todo e qualquer processo que ocorre den-
tro do organismo. A maioria deles envolve energia.
1.1. Estrutura celular
A manutenção da vida ocorre por meio das atividades
Todos os seres vivos são formados por unidades estruturais
celulares, as quais são realizadas à custa de energia
e funcionais chamadas de células. A célula é a menor por-
proveniente de alimentos. O conjunto dessas atividades
ção capaz de apresentar as propriedades de um ser vivo:
é chamado de metabolismo. Nelas, estão envolvidos
nascer, crescer, reproduzir e morrer. Os seres vivos podem
ter o corpo constituído por apenas uma célula, os unice- diferente processos responsáveis pelo crescimento, ma-
lulares, como as bactérias, ou por mais de uma célula, os nutenção e reparo das células e, consequentemente, de
pluricelulares, como os animais. todo o organismo.
ParedeParede
celular
Celular
Os principais processos metabólicos são: anabo-
Membrana
Membrana
celular
celular
lismo e catabolismo. O termo anabolismo com-
Ribossomos
Ribossomos
preende os processos químicos sintéticos, nos quais
Plasmídeo
Plasmídeo

substâncias mais simples são combinadas para formar


DNA
DNA outras mais complexas, resultando em armazenamen-
Grânulo
Grânulo
to de energia, formação de novas estruturas celulares
e crescimento. O catabolismo se refere a processos
Flagelo
Flagelo

nos quais as substâncias complexas são quebradas,


originando substâncias mais simples e ocasionando
Célula bacteriana. liberação de energia.

50
GENITOR
GENITORA A

Catabolismo
A GENITORA B

PRODUZ PRODUZ
GAMETAS GAMETAS
Anabolismo

GAMETAS GAMETAS

FUSÃO
AS ATIVIDADES METABÓLICAS.

ZIGOTO
1.4. Reatividade REPRODUÇÃO SEXUADA

A reatividade é a capacidade que os seres vivos possuem


de reagir aos estímulos do meio ambiente. Os estímulos 1.6. Material genético
podem ser definidos como qualquer alteração física ou quí-
mica do ambiente capaz de desencadear uma reação num Cada célula possui uma região nuclear onde há uma ou
organismo. São exemplos a capacidade olfativa de um cão mais moléculas de ácido desoxirribonucleio, o DNA. Nessa
e o movimento de um girassol em relação à posição do Sol. molécula, estão contidos os genes que controlam todas as
atividades celulares. Passando de pais para filhos, os genes
carregam as características específicas de cada organismo.
1.5. Reprodução
Todo ser vivo é capaz de se reproduzir, ou seja, gerar or-
ganismos semelhantes. A reprodução pode ser assexua-
da ou sexuada. A divisão de uma bactéria em duas célu-
las-filhas, exatamente iguais à célula-mãe que as gerou,
é o exemplo mais comum de reprodução assexuada. A
reprodução sexuada, por sua vez, ocorre através da fusão
de duas células especializadas denominadas gametas,
que formam o zigoto ou célula-ovo. Por meio de sucessi-
vas divisões, o zigoto origina um novo organismo.
ORGANISMO
GENITOR
DNA: MACROMOLÉCULA CONSTITUÍDA
POR UMA DUPLA HÉLICE.

1.7. Adaptação
Adaptação é qualquer modificação de estrutura, função ou
DIVISÃO
comportamento que permite a um organismo explorar de
CELULAR maneira mais eficiente o meio em que vive. Por meio da
adaptação, o ser vivo amplia as possibilidades de sobrevi-
vência e reprodução.

1.8. Evolução
A expressão do material genético, ou seja, dos genes, é
responsável pelas características de um organismo. Qual-
quer mutação do material genético que provoque o apa-
recimento de uma nova característica é conhecida como
ORGANISMO ORGANISMO variação. É por meio das variações que opera o processo
FILHO A FILHO B
chamado de evolução, cuja definição é a transformação de
REPRODUÇÃO ASSEXUADA uma população de organizamos no decorrer do tempo.

51
diversidade devido à extinção de espécies, outras duas circun-
tâncias estão colaborando para atribuir urgência a esse tema: o
crescimento desenfreado das populações humanas, que conso-
mem os recursos naturais de forma acelerada, e as descobertas
da ciência acerca das potencialidades da diversidade biológica
para os seres humanos e para o meio ambiente.

2.1. Quantificar a biodiversidade:


riqueza de espécies
Quantificar a biodiversidade é uma tarefa difícil. Existem
habitats que se mantêm pouquissímo explorados, como re-
cifes de coral e solos do fundo do mar, e outros que foram
devastados antes de serem estudados, o que impossibilita
que a riqueza de espécies da Terra, ou seja, o verdadeiro
ESQUEMA SIMPLIFICADO DA EVOLUÇÃO DOS ORGANISMOS número de espécies seja conhecido.
Além da riqueza de espécies, os seres vivos são diferentes
2. Biodiversidade: diversidade entre si, mesmo aqueles que pertecem a mesma espécie. Ex-
ceto por casos de partenogênese ou de gêmeos idênticos,
de espécies e de ecossistemas virtualmente não há dois membros da mesma espécie gene-
Biodiversidade é o conceito que designa a diversidade bio- ticamente idênticos.
lógica existente entre os seres vivos de espécies diferentes, Isso faz com que cada espécie seja um repositório de uma
entre seres da mesma espécie, assim como também englo- imensa quantidade de informação genética. O número de
ba a diversificação de habitats e ambientes. genes é de aproximadamente 4×103 nas bactérias, 4×104
O conceito ganhou destaque a partir da década de 1980, em alguns fungos e de 4×105 ou mais em plantas com
a partir da discussão sobre o risco de extinção de espécies flores e alguns animais.
e dos impactos ambientais gerados pelas populações hu- A quantidade de informação genética em um organismo
manas que comprometiam a sobrevivência das gerações e o número de espécies constituem apenas uma parte da
futuras e a disponibilidade de recursos para elas. Hoje, sa- diversidade biológica sobre a Terra.
bemos que a biodiversidade é essencial para manutenção
dos ecossistemas. ESPÉCIES CONHECIDAS E ESTIMADAS
espécies espécies totais
Em locais com grande biodiversidade, há maior possibilida- formas de vida
conhecidas estimadas
de de existir organismos resistentes a mudanças ambien-
insetos e artrópodos 874.161 30 milhões
tais, de forma que populações com baixa diversidade ficam
mais vulneráveis a patógenos e ao ambiente. arbustos e árvores 248.400
de 275 mil a mais
de 400 mil
Existem, aproximadamente, 2 milhões de espécies conheci- Podem chegar a
invertebrados 116.873
das e 15 mil espécies são descritas pelos cientistas por ano. poucos milhões
Ainda assim, estima-se que existam entre 5 e 30 milhões
ervas e arbustos 73.900 Não disponível
de espécies no planeta, com a maioria das espécies con-
centrada nos trópicos. microrganismos 36.900 Não disponível

Segundo a União Internacional para a Conservação da Na-


peixes 19.056 21 mil
tureza (UICN), mais de 25% desse total correm sério risco
de extinção até 2050. Os principais fatores para extinção aves 9.040
98% já
conhecidas
de espécies é o desaparecimento de seus habitats, devido
ao desmatamento, ao avanço das cidades e à degradação répteis e anfíbios 8.962 95% já conhecidas
ambiental, como a poluição das águas e do ar.
mamíferos 4.000 95% já conhecidas
É preciso que a diversidade biológica seja reconhecida
enquanto um recurso global para que possa ser registrada, total 1.439.992
Excede a
30 milhões
usada e, acima de tudo, preservada. Além das perdas de bio-

52
2.2. Florestas tropicais: 2.3. O que fazer e por quê?
centros de biodiversidade A diversidade biológica mais ameaçada é também a me-
Mesmo com as ações antrópicas intensificadas principal- nos pesquisada. Além disso, não há nenhuma perspectiva
mente após o século XX, as florestas tropicais ainda pos- de que a tarefa científica seja completada antes de que
suem maior diversidade quando comparadas com as regiões uma grande parte das espécies desapareça. É provável que,
subtropicais ou temperadas. no mundo, não mais do que 1.500 profissionais sistematas
sejam competentes para lidar com milhões de espécies en-
Isso se deve a algumas características como a extensão terri- contradas nas florestas tropicais úmidas.
torial dessas florestas e por receberem mais energia advinda
do Sol, o que permite maior produtividade primária. Ademais, esse número pode estar em queda devido à dimi-
nuição das oportunidades profissionais, à restrição de fundos
para pesquisa e à priorização de outras disciplinas. De 1979 a
1983, o declínio foi acompanhado pela diminuição em mais
de 50% do número de publicações em ecologia tropical. O
problema da conservação tropical é, desse modo, potenciali-
zado pela falta de conhecimento e pela escassez de pesquisa.
Caso não ocorra um esforço no sentido de defesa e compreen-
são da biodiversidade, a compreensão desses aspectos impor-
tantes da vida ficará cada vez mais distante. Com efeito, devido
à aceleração da extinção das espécies, talvez a possibilidade
VEGETAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA SERRA DO PARDO, NA desse conhecimento escape da humanidade para sempre.
FLORESTA AMAZÔNICA BRASILEIRA
É fato que o conhecimento da diversidade biológica signifi-
O Brasil possui 30% das florestas tropicais existes no mun- cará pouco para a vastidão da humanidade, a não ser que
do e os exemplos brasileiros são a Floresta Amazônica, a existam motivações para utilizá-lo.
Mata Atlântica e as matas ciliares (de beira de rios).
O ser humano não depende completamente nem mesmo
Os solos desses biomais são, em geral, pobres. A rápida de 1% das espécies vivas para sobreviver, e o restante per-
ciclagem de matéria orgânica e a manutenção dos nu- manece esquecido, sem ser testado. No curso da história, de
trientes na biomassa são os principais responsáveis por acordo com estimativas feitas, as pessoas se utilizaram de
sua exuberância. Esse solo é rico em microrganismos que 7.000 tipos de plantas na alimentação, predominantemente
aceleram a decomposição da matéria vegetal – uma folha trigo, centeio, milho e cerca de uma dúzia de outras espécies
pode ser decomposta em seis semanas, enquanto numa altamente domesticadas. Não obstante, existem pelo menos
floresta temperada levaria um ano para degradar-se. cerca de 75 mil plantas comestíveis, e muitas delas são su-
Retirada a camada vegetal da floresta, a lixiviação e a ero- periores, em termos nutricionais, a plantas que estão sendo
são transformam e degradam a paisagem. Após isso, a re- largamente utilizadas. Outras podem ser substitutas do pe-
cuperação é lenta e incapaz de recriar o mesmo ambiente tróleo e são fontes potenciais de novos remédios e de fibras.
devido à perda da serrapilheira, camada de nutrientes em Além disso, entre os insetos existem muitas espécies que
decomposição sob o solo, e do banco de sementes, reser- são potencialmente superiores como polinizadoras de plan-
vatório de sementes capazes de substituir as plantas adul- tas, agentes controladores de ervas-daninhas e parasitas e
tas e dispersas pelas mesmas. predadoras de pestes de insetos, ou seja, podem ser usadas
As florestas tropicais também são importantes para man- como controles biológicos. As bactérias, leveduras e ou-
ter a estabilidade do clima ao compor o ciclo da água por tros microrganismos vão continuar a produzir novos remé-
meio da Evapotranspiração. dios, alimentos e procedimentos de restauração do solo.
Na realidade, a questão se resume a uma decisão ética:
De que maneira os seres humanos valorizam os mundos
naturais nos quais se desenvolveram e de que maneira en-
tendem seu status como indivíduos?
Os humanos são fundamentalmente mamíferos e espíritos
livres que alcançaram esse alto nível de racionalidade pela
criação perpétua de novas opções. A filosofia natural e a
VEGETAÇÃO DA MATA ATLÂNTICA. DISPONÍVEL EM: <WWW.MUDASNATIVAS.ORG>. ciência trouxeram alívio para o que poderia ser o paradoxo
ACESSO EM: 22 DEZ. 2015. essencial da existência humana.

53
A vontade da expansão perpétua ou de liberdade pessoal a finalidade de organizar as ideias e sistematizar os hábitos é
é básica ao espírito humano. Para sustentá-la, é preciso a nortear a produção de conhecimentos.
mais delicada e conhecedora administração do mundo vivo
que se possa planejar. A princípio, expansão e administra-
ção podem parecer objetivos conflitantes, mas, na realida- Reflita...
de, o que acontece é o oposto. Comparando um golfinho, um tubarão e o homem,
você diria que o grau de parentesco é maior entre:
Reflita...
ƒ golfinho e tubarão;
Quais seres vivos estão relacionados a sua vida?
ƒ golfinho e homem; ou
De que maneira você interfere no ambiente deles?
Que sentimentos eles despertam em você? ƒ tubarão e homem?

Você acha que a diversidade de espécies é maior Que critério utilizou?


agora, no seu ambiente, ou era maior no am-
biente antes de ele ser ocupado pelo homem?

2.4. Classificando e ordenando


3. Taxonomia e Filogenia
Cada uma das categorias usadas na classificação dos seres
a biodiversidade vivos é denominada táxon. Dessa forma, o ramo da Biolo-
A biodiversidade é estudada há muito tempo. Desenhos gia que se ocupa da classificação e nomenclatura é chamado
encontrados em cavernas indicam o provável interesse dos taxonomia. A categoria básica na classificação é a espécie.
homens em registrar e reconhecer os seres vivos. O avanço De acordo com o conceito biológico de espécie, dois orga-
da ciência levou a uma investigação mais sistemática dos nismos pertencem a mesma espécie quando, em condições
seres vivos atuais, tanto externa quanto internamente, e dos naturais, podem cruzar e gerar descendentes férteis. Espécies
já extintos, através de fósseis, o que permitiu classificá-los e que apresentam características em comum são agrupadas
compará-los. em um gênero. Os gêneros são agrupados em famílias; as
Durante os séculos XIX e XX, os estudos de arqueologia e famílias, em ordens; as ordens, em classes; as classes, em fi-
dos fósseis adquiriram maior importância, e as evidências los ou divisões (para vegetais); os filos, em reinos; e os reinos
decorrentes permitiram afirmar que os seres vivos de hoje estão ainda agrupados em domínios. Assim, cada uma das
derivam de outros que existiram há milhares de anos. categorias é um conjunto composto de vários subconjuntos.

Na Biologia, já foram utilizados diversos critérios na classi- O sistema de Lineu não considerava a ideia de parentesco
ficação dos organismos. Aristóteles, no século IV a.C., clas- entre os seres, pois ele acreditava que todos os seres haviam
sificou os animais em aéreos, terrestres e aquáticos. Santo surgido no momento da criação divina. O sistema de Lineu
Agostinho classificou os animais em úteis, nocivos e indife- consiste em um catálogo metódico de plantas e animais,
rentes ao homem. No entanto, com o passar do tempo, esses reunindo-os em grupos maiores e grupos subordinados.
critérios se mostraram inadequados. Atualmente, a ciência demonstra que todos os seres des-
Em meados do século XVIII, o naturalista sueco Carl von cendem de um mesmo ancestral e que um maior grau de
Linnée, ou Lineu, classificou os organismos segundo a es- semelhança reflete um parentesco mais próximo. Essas
trutura e anatomia dos seres vivos. Esse sistema de classi- semelhanças podem ser estruturais, etológicas (comporta-
ficação é utilizado até hoje e é denominado taxonomia. mentais), ecológicas, citológicas ou bioquímicas.
A priori, nenhum desses tipos de semelhanças é mais impor-
Classificar é separar em grupos de acordo com suas tante que os demais. Contudo, as semelhanças compartilha-
semelhanças e diferenças e, no caso da biologia, de das podem possuir significados diferentes, considerando-se a
acordo com seu grau de parentesco. história evolutiva. Além disso, algumas semelhanças podem
ser um indicativo enganoso de parentesco, uma vez que po-
dem ter surgido separadamente em cada grupo. Por exemplo,
Desde os tempos mais remotos até nossos dias, a classifica-
retomando a comparação entre tubarão, golfinho e homem.
ção das “coisas”, animais e vegetais ajudou a humanidade
a compreender o seu ambiente. Além disso, é fundamental Quais organismos você colocaria no mesmo grupo se fosse
no desenvolvimento de nossa capacidade intelectual, já que organizá-los baseando-se somente na aparência deles?

54
Agora, observe a classificação de cada um deles: 3.1. A nomenclatura binomial
tubarão golfinho homem A ideia de atribuir uma nomenclatura para cada organismo
Reino Animal Animal Animal também foi de Lineu. Essa nomenclatura é composta por
Filo Cordado Cordado Cordado dois nomes: o primeiro indica o gênero, e o segundo, a
espécie. Por exemplo: Canis lupus (lobo), na qual canis é
Classe Condríctie Mamífero Mamífero
o epíteto genérico (gênero), e lupus é o epíteto espe-
Ordem Elasmobrânquio Cetáceo Primata cífico. Dessa forma, várias espécies podem ter o primeiro
Família Carcarrinídeo Delfinídeo Hominídeo nome igual, mas o segundo nome será diferente. A nomen-
Gênero Negaprion Delphinus Homo
clatura foi criada para que houvesse uma padronização in-
ternacional dos nomes, facilitando o trabalho de cientistas.
Espécie Negaprion brevirostris Delphinus delphis Homo sapiens
A onça-parda, por exemplo, tem ampla distribuição geo-
O homem e o golfinho pertencem à classe dos mamífe-
gráfica, sendo conhecida por diversos nomes: puma, leão-
ros, portanto apresentam semelhanças mais relevantes do
-da-montanha, cougar, pantera-americana, catamount,
ponto de vista evolutivo do que as semelhanças observa-
panter. No entanto, todos os cientistas reconhecem-na
das entre o golfinho e o tubarão.
pelo nome de Felis concolor.
Indivíduos da mesma espécie são mais aparentados que in-
Para que a nomenclatura seja padronizada, certas regras
divíduos do mesmo gênero, indivíduos do mesmo gênero são
devem ser seguidas:
mais aparentados que indivíduos da mesma família, e assim
por diante. Ser mais aparentado significa ter compartilhado um ƒ os nomes devem estar em latim;
ancestral em comum mais próximo. Por exemplo, você e seu ƒ o primeiro nome deve ser escrito com inicial maiúscula,
irmão têm ancestrais comuns mais próximos (seus pais) do que e o segundo, com inicial minúscula; e
você e seu primo, cujos ancestrais comuns são os seus avós.
ƒ nomes devem ser sempre destacados do texto (em ne-
Definir quais características são relevantes é uma tarefa com- grito, itálico ou sublinhado).
plexa e faz com que as classificações sejam constantemente re-
visadas a partir das novas descobertas científicas. Atualmente,
3.2. Os três domínios
técnicas modernas permitem comparar a composição química
das proteínas e dos genes que compõem os seres vivos, eluci- A partir da análise de sequências de RNA ribossômico, atu-
dando algumas relações de parentesco. almente dividimos o mundo vivo em três grandes grupos,
conhecidos por domínios: Bacteria, Archea e Eukarya.
Em 1866, Herns Haeckel estabeleceu um novo campo de
estudo para designar as relações de origem e parentes- O domínio Bacteria é formado pelas chamadas “bactérias
co entre os seres, a filogenia. Isso foi possível a partir do verdadeiras”, seres procariontes cuja parede celular apresen-
estudo que realizou nos escritos de Charles Darwin sobre ta peptídeoglicanos como componente principal. Archaea é
evolução, o qual criou a primeira representação gráfica para um domínio de bactérias, também procariontes e com pa-
esses parentescos e que permitiu a Haeckel criar o conceito rede celular de composição variada, sem peptideoglicano.
de árvore filogenética. Estas possuem a característica de viver em ambientes inóspi-
tos, com grandes salinidades, altas temperaturas, ácidos, etc.

Procariontes são os seres que apresentam protocé-


lulas, ou seja, células com material genético disperso
no hialoplasma, pois não apresentam núcleo diferen-
ciado e nem organelas membranosas.

O domínio Eukarya inclui todos os demais seres vivos, isto é,


protistas (protoctistas), fungos, vegetais e animais.

Eucariontes são os seres que apresentam eucélulas,


ou seja, células com sistemas internos membranosos;
portanto, têm núcleo típico, uma vez que o material
genético é envolto por membrana – carioteca – cujo
hialoplasma abriga organelas membranosas.
ÁRVORE DA VIDA DE DARWIN

55
Esses organismos ainda assim apresentam diferenças entre Existem seres que não se encaixam em nenhum dos rei-
si: as células vegetais apresentam parede celular, cloroplas- nos existentes – os vírus –, pois apresentam características
tos e grandes vacúolos, enquanto estas estruturas estão au- únicas: eles não formam células (são formados de material
sentes nas células animais. genético envolvido por uma cápsula proteica) e só se repro-
duzem dentro de células hospedeiras. Existem cerca de mil
Alguns autores reúnem eubactéria e arqueobactéria em
grupos de vírus identificados e só é possível vê-los através
um único reino denominado Monera. O esquema abaixo
de microscópio eletrônico, que pode ampliar a imagem até
representa uma possível origem evolutiva dos seres vivos a
cerca de 100 mil vezes.
partir de um ancestral comum.
Reino características representantes
parasitas
Vírus HIV, ebola, influenza
intracelulares obrigatórios
procariontes, bactérias e cia-
Monera
autótrofos ou heterótrofos nobactérias

eucariontes, bolores, cogu-


Fungi unicelulares ou melos, leveduras,
pluricelulares, heterótrofos orelhas-de-pau

eucariontes,
unicelulares ou
Protoctista algas e protozoários
pluricelulares,
3.3. Os Reinos autótrofos ou heterótrofos
Por muito tempo, admitiu-se a existência de apenas dois eucariontes,
Plantae plantas
reinos: o animal e o vegetal, englobando apenas organis- pluricelulares, autótrofos

mos pluricelulares. Os animais eram aqueles que se deslo- Animalia


eucariontes,
animais
cavam, alimentavam-se e respiravam; enquanto os vege- pluricelulares, heterótrofos

tais eram verdes, sésseis e realizavam fotossíntese.


Contudo, foram identificados alguns organismos com ca-
Nomenclatura popular
racterísticas muito distintas e foi criado o Reino dos Pro-
tistas, no qual incluem-se algas microscópicas, fungos e Nomear os seres vivos que compõem a biodiversidade
diversos seres unicelulares. trata-se de uma etapa do trabalho de classificação. Mui-
Assim, observando-se águas de poças, lagos e mares, foi tos seres são “batizados” pela população com nomes
descoberto um universo microscópico: amebas, paramécios, denominados pela comunidade científica como popu-
bactérias, fungos e euglenas eram considerados protistas. lares ou vulgares. Esses nomes podem designar um
Percebendo as diferenças das células procariotas das bacté- conjunto muito amplo de organismos, incluindo, algu-
rias e cianobactérias, criou-se o Reino dos Moneras. mas vezes, até grupos não aparentados.

Em meados do século XX, com a justificativa de que os fun- Também pode acontecer de animais de uma mesma
gos apresentam características de vegetais e de animais, espécie receberem vários nomes, como ocorre com a
foi criado o Reino dos Fungos. onça-pintada, cujo nome científico é Panthera onca.

Apesar de existirem outras divisões atualmente, os organis- A planta Manihot esculenta, cuja raiz é muito aprecia-
mos podem ser agrupados em cinco reinos: da como alimento, dependendo da região do Brasil, é
conhecida por aipim, macaxeira ou mandioca.
ƒ Reino dos Moneras, que inclui bactérias e cianobacté-
rias, com aproximadamente 5 mil espécies descritas. Dessa forma, percebemos que a nomenclatura popular
ƒ Reino dos Protoctistas, que inclui protozoários e al- pode variar bastante, mesmo num país como o Brasil,
gas, com aproximadamente 58 mil espécies descritas. em que a população, de modo geral, fala o mesmo idio-
ma oficial. A situação é ainda mais complexa quando
ƒ Reino dos Fungos, que inclui fungos e líquens, com
se considera o mundo inteiro, com diversos idiomas.
aproximadamente 47 mil espécies descritas.
Assim, entendemos a necessidade da adoção de uma
ƒ Reino dos Vegetais, que inclui as plantas, com aproxi- nomenclatura padrão internacional, para facilitar a
madamente 250 mil espécies descritas. comunicação de diversos profissionais, como médicos,
ƒ Reino dos Animais, que inclui os animais inverte- zoólogos, botânicos e todos aqueles que estudam os
brados (com cerca de 992 mil espécies descritas, sen- seres vivos.
do que, dessas, cerca de 880 mil são artrópodes) e
vertebrados (cerca de 44 mil espécies descritas).

56
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Para que a linguagem científica se tornasse universal, criou-se um método para nomear as espécies. Baseado nos princí-
pios da linguagem e da escrita, foi escolhida uma língua morta, o latim, ou seja, uma língua que não possui mais falantes
nativos. Línguas vivas estão sujeitas a constantes transformações em suas estruturas gramaticais, o que acarretaria em
alterações dos nomes científicos. O latim é uma velha língua indo-europeia do ramo itálico, originalmente falada no
Lácio, região próxima à cidade de Roma. Foi largamente difundida, principalmente na Europa Ocidental, como a língua
oficial da República Romana, do Império Romano e, posteriormente, da Igreja Católica Romana.

VIVENCIANDO

A taxonomia auxilia os cientistas na classificação das espécies, pois utiliza uma nomenclatura universal. Uma espécie
possui o mesmo nome em qualquer lugar do mundo. Dessa forma, uma espécie não pode ser classificada mais de
uma vez. Quando um pesquisador no Brasil lê um artigo de um laboratório da Inglaterra e deseja replicar os expe-
rimentos, ele precisa saber, para obter as mesmas condições experimentais, qual espécie de animal ou vegetal foi
usada. Nesse contexto, a classificação dos seres vivos é extremamente importante.

57
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização ta-
xonômica dos seres vivos.

Neste exercício, a habilidade exigida é o conhecimento de duas diferentes classificações taxonômicas dos seres vivos.
Com isso, é fundamental conhecer o sistema de classificação de Lineu e o sistema filogenético para responder à questão.

MODELO 1
(Enem) A classificação biológica proposta por Whittaker permite distinguir cinco grandes linhas evolutivas utili-
zando, como critérios de classificação, a organização celular e o modo de nutrição. Woese e seus colaboradores,
com base na comparação das sequências que codificam o RNA ribossômico dos seres vivos, estabeleceram
relações de ancestralidade entre os grupos e concluíram que os procariontes do reino Monera não eram um
grupo coeso do ponto de vista evolutivo.
Whittaker (1969) Cinco reinos Woese (1990)Três domínios
Archaea
Monera
Eubacteria
Protista
Fungi
Eukarya
Plantae
Animalia
As diferenças básicas nas classificações citadas é que a mais recente se baseia fundamentalmente em:
a) Tipos de células.
b) Aspectos ecológicos.
c) Relações filogenéticas.
d) Propriedades fisiológicas.
e) Características morfológicas.

ANÁLISE EXPOSITIVA
Entender que os seres vivos podem ser classificados de acordo com aspectos morfológicos, fisioló-
gicos e evolutivos é de grande importância para o início do entendimento da diversidade biológica.
Saber que existem seres vivos com características semelhantes e saber agrupá-los é essencial para
o início dos estudos de seres vivos. Do ponto de vista evolutivo, a classificação filogenética é aquela
que leva em consideração a ancestralidade entre os grupos de seres vivos, demonstrando quais são
os táxons que são mais proximamente relacionados entre si. A classificação proposta por Woese
leva em consideração aspectos filogenéticos, representando assim uma classificação mais coesa. O
cladograma abaixo demonstra a representação filogenética desses grupos.
Bacteria Archaea Eukarya

RESPOSTA Alternativa C

58
DIAGRAMA DE IDEIAS

TAXONOMIA E REINOS

CLASSIFICAÇÃO, ORDENAÇÃO E NOMENCLA-


TURA DOS SERES VIVOS (BIODIVERSIDADE)

• ESTRUTURA CELULAR SISTEMA NATURAL


• REPRODUÇÃO DE LINEU
• COMPLEXIDADE E ORGANIZAÇÃO HIERÁRQUICA
ORGANIZAÇÃO
FILOGENÉTICA
• MATERIAL GENÉTICO • REINO
HERNS HAECKEL
• METABOLISMO • FILO (DIVISÃO)
PARENTESCO E
• ADAPTAÇÃO • CLASSE
ANCESTRALIDADE
• REATIVIDADE • ORDEM
• EVOLUÇÃO • FAMÍLIA
• GÊNERO
• ESPÉCIE

3 DOMÍNIOS 5 REINOS

• BACTÉRIA • MONERA
• ARCHAEA • PROTOCTISTA
• EUKARYA • FUNGI
• PLANTAE (METAPHYTA)
• ANIMALIA (METAZOA)

NOMENCLATURA BINOMIAL PARA ESPÉCIES

LATIM

EPÍTETO GENÉRICO HOMO SAPIENS EPÍTETO ESPECÍFICO

EM DESTAQUE (ITÁLICO OU NEGRITO)

59
AULAS 3 e 4 Capsídeo: Proteínas virais específicas

Envelope: Membrana bimolecular


de lipídeos e proteínas
específicas do vírus

DNA viral

VÍRUS H (Hemaglutina)

N (Neuraminidase)

Vírus da Influenza a
(Vírus envelopado)

O VÍRUS É UMA PARTÍCULA BASICAMENTE PROTEICA


QUE PODE INFECTAR ORGANISMOS VIVOS

COMPETÊNCIA: 4 Os vírus que mais se diferenciam dessa estrutura são os


bacteriófagos, que infectam bactérias. Eles são formados
HABILIDADE: 16 por uma cápsula proteica bastante complexa, que apresen-
ta uma região denominada cabeça, com formato poligo-
nal, envolvendo uma molécula de DNA, e uma região de-
nominada cauda, com formato cilíndrico, contendo fibras
proteicas em sua extremidade livre.
1. Introdução Cabeça
Os vírus estão no limite entre um ser vivo e a matéria bruta.
Eles não possuem célula, a unidade básica de vida, mas con-
seguem se multiplicar quando infectam outra célula, algo que
uma matéria sem vida não é capaz de fazer. Por isso são alvo Colar

de discussão, sendo que alguns autores os consideram seres


vivos, e outros, não. Fibra da cauda

2. A estrutura do vírus
Os vírus medem entre 0,03 μm e 0,3 μm (cerca de dez a cem
vezes menor do que as bactérias) e são formados por uma Placa basal
cápsula proteica, o capsídeo, com diversas subunidades, os
capsômeros. Apresentam material genético que pode ser Esquema de um Bacteriófago.
constituído por DNA nos chamados desoxirribovírus, por RNA
nos ribovírus ou por ambos no caso dos citomegalovírus. O envelope é formado por duas camadas de lipídios,
O capsídeo, juntamente com o ácido nucleico que ele en- derivadas da membrana plasmática da célula hospedeira,
volve, é denominado nucleocapsídeo. Alguns vírus são e por moléculas de proteínas virais, específicas para cada
formados apenas por essa estrutura e são chamados de tipo de vírus, imersas nas camadas de lipídios.
não envelopados, enquanto outros possuem um envoltório Além dos tipos já citados, os vírus podem ser classificados
ou envelope externo ao nucleocapsídeo e são denomina- de outras formas, como pelas enzimas que apresentam
dos vírus encapsulados ou envelopados. − como os retrovírus, ribovírus que apresentam a enzima
Proteínas
virais específicas
DNA viral transcriptase reversa − ou pela sua transmissão − como os
arbovírus, transmitidos por artrópodes.
Capsídeo: Proteínas
virais específicas

3. Reprodução
Quando estão no interior das células, os vírus apresentam
algumas propriedades dos seres vivos. Fora delas, não apre-
sentam essas propriedades e permanecem inertes, capazes
Adenovírus
(Vírus não envelopado) até de cristalizar-se, como alguns minerais. Por isso, são

60
considerados parasitas intracelulares obrigatórios, No ciclo lítico, o vírus invade a bactéria, que tem suas
o que significa que se reproduzem apenas pela invasão e funções normais interrompidas devido à presença do áci-
possessão do controle da maquinaria de autorreprodução do nucleico do vírus (DNA ou RNA). Ao mesmo tempo
celular. O termo vírus refere-se, geralmente, às partículas em que o vírus é replicado, ele comanda a síntese das
que infectam eucariontes, enquanto o termo bacteriófa- proteínas que irão compor o capsídeo. Os capsídeos or-
go, ou fago, descreve aqueles que infectam procariontes. ganizam-se e envolvem as moléculas de ácido nucleico,
Há ainda aqueles que infectam apenas fungos, denomina- produzindo, então, novos vírus. Ocorre, assim, a lise, ou
dos micófagos. seja, a célula infectada se rompe e os novos bacterió-
fagos são liberados. Os vírus que se reproduzem dessa
Os vírus carregam uma pequena quantidade de ácido nuclei-
maneira em organismos multicelulares causam sintomas
co (seja DNA, RNA ou os dois), sempre envolto pelo capsídeo. que aparecem imediatamente.
As proteínas que compõem o capsídeo são específicas para
cada tipo de vírus. São as moléculas de proteínas virais que No ciclo lisogênico, ao invadir a célula hospedeira, o
determinam qual tipo de célula o vírus pode infectar. vírus incorpora seu próprio DNA ao da célula infectada,
fazendo com que o DNA viral se torne parte do DNA da
Os vírus apresentam proteínas externas com encaixes es- célula invadida. Uma vez infectada, a célula continua com
pecíficos para as proteínas da superfície da célula que pode suas funções normais, como reprodução e ciclo celular. Ao
ser sua hospedeira. Após o encaixe entre ambas, a entrada realizar a divisão celular, o DNA da célula sofre duplica-
na célula pode ocorrer por meio de: ção, juntamente com o DNA do vírus que foi incorporado.
- fusão entre o envoltório viral e a membrana plasmática, Em seguida, os materiais genéticos são divididos igual-
seguida da liberação do material genético no interior da mente entre as células-filhas. Assim, uma vez infectada,
célula, como ocorre com o HIV; uma célula começará a transmitir o vírus sempre que se
multiplicar, e todas as novas células também estarão in-
- injeção do material genético viral na célula, deixando a
fectadas. Os sintomas causados por um vírus de ciclo li-
cápsula do lado de fora, como os bacteriófagos;
sogênico demoram para aparecer em um organismo mul-
- endocitose, como o Influenza. ticelular, e suas causas tendem a ser incuráveis. É o caso
Após invadir a célula, os bacteriófagos, que são vírus de da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – em
estrutura complexa, apresentam dois ciclos reprodutivos: o português: SIDA) e da herpes.
ciclo lítico e o lisogênico.
DNA O bacteriófago As vezes, um profago se solta
injeta DNA na do cromossomo bacteriano,
bactéria iniciando um ciclo lítico

Cromossomo
bacteriano
A bactéria se rompe
(lise), liberando DNA viral

novos vírus
Ciclo Lítico Ciclo Lisogênico

A bactéria se reproduz,
copiando o profago e
OU Prófago transmitindo às descendentes

O DNA viral se duplica. Há produção de O DNA do bacteriófago liga- se ao


proteínas virais, que, reunidas ao DNA, cromossomo bacteriano (profago)
constituem novos bacteriófagos

Uma bactéria lisogênica pode transformar-se em não lisogênica e iniciar o ciclo lítico sob determinadas condições naturais
e artificiais, como radiações ultravioleta, raios-X ou determinados agentes químicos.

61
VIVENCIANDO

Atualmente, uma aplicação importante dos vírus ocorre na área de biotecnologia. O bacteriófago é um tipo específi-
co de vírus que infecta bactérias, utilizando-as como vetor para a transmissão de material genético para uma célula.
Esse processo está envolvido na produção de insulina in vitro por bactérias.

meio de agentes, como verme, fungo ou insetos – no mo-


4. Processos de mento em que eles se alimentam e vão de planta em planta
manifestação viral –, ou através do pólen e das sementes contendo o vírus.
Outro mecanismo é a difusão mecânica, na qual o vírus
Os processos variam de acordo com o ácido nucleico (RNA
cristalizado se instala nos vegetais devido à manipulação
ou DNA):
realizada pelo homem. O vírus do mosaico do tabaco, por
ƒ Quando o material genético for DNA. exemplo, é transmitido por difusão mecânica.
O DNA viral passa por uma transcrição, sintetizando várias
moléculas de RNA traduzidas em uma proteína. É o caso
dos vírus da varíola, da hepatite e da herpes.

ƒ Quando o material genético for o RNA.


A ação viral pode ocorrer de duas maneiras, dependendo
do vírus.
Na primeira, os vírus de RNA sintetizam mais RNA tradu-
zido em proteínas pelo maquinário da célula hospedeira,
como o vírus da gripe, da poliomielite e da raiva. É POSSÍVEL VISUALIZAR AS MANCHAS CAUSADAS PELA DOENÇA DO MOSAICO.

Na segunda, o RNA é convertido em DNA por meio de uma


Um dos vírus de plantas mais estudados é o vírus do
enzima denominada transcriptase reversa. A partir desse
mosaico do tabaco (TMV). Isso ocorre por causa da sua
ácido nucleico, incorporado ao material genético da célula
organização simplificada e da compreensão de seu ci-
parasitada, são produzidos vários RNA traduzidos em pro-
clo de vida. Inicialmente estudado pelo cientista Wendel
teínas que atuam no controle metabólico do hospedeiro,
Stanley (1904-1971), ele provoca o aparecimento de
como o vírus da AIDS.
manchas de coloração esverdeada ou amarelada na su-
perfície das folhas.
5. Viroses As videiras (Vitis spp.) apresentam cerca de 50 doenças de
origem viral. Essas doenças atingem as folhas (causando
5.1. Vírus de plantas enrolamento das bordas foliares), causam manchas e ne-
crose (apodrecimento de tecidos) de nervuras, entre outros
Os vírus, em grande parte compostos de RNA e não en-
efeitos que podem ocasionar o não amadurecimento das
velopados, provocam a maioria das doenças vegetais. Por
uvas e o definhamento progressivo da planta.
volta de 400 tipos de vírus afetam a fertilidade das plantas
economicamente importantes.
Em geral, a consequência mais comum da ação desses ví-
5.2. Viroses humanas
rus está relacionada ao desenvolvimento do vegetal. Ocorre Diversas doenças que atingem os seres humanos são cau-
uma queda na taxa metabólica, ou seja, as plantas conta- sadas por vírus. Praticamente todos os tecidos e órgãos hu-
minadas crescem menos do que as sadias, além de apare- manos podem ser afetados por alguma infecção viral. Veja
cerem manchas em folhas, flores e frutos. Os mecanismos a seguir as viroses humanas mais frequentes, com desta-
de transmissão dos vírus são diversos e podem ocorrer por que para os mecanismos de transmissão e a prevenção.

62
5.2.1. Principais viroses que atingem podendo ser fatal sem o atendimento médico adequado a
os seres humanos tempo. Há vacinas e são ministradas para os animais.
6. Rubéola: a transmissão ocorre pelo contato direto com
1. Gripe: causa coriza, tosse, espirros, mal-estar, fraque-
pessoas contaminadas ou por meio de gotículas de saliva.
za, dores musculares e de garganta. É transmitida por
Causa febre, aumento dos linfonodos na região do pesco-
gotículas de saliva suspensas no ar. A gripe é provocada
ço e manchas vermelhas espalhadas pelo corpo. Também
pelo vírus Influenza, da família dos ortomixovírus. Possui
pode causar dor nas articulações, dor de cabeça e conjunti-
três subtipos: A, B e C; sendo os subtipos A e B os mais
vite. Apresenta vacina distribuída pelo Ministério da Saúde.
frequentes entre seres humanos.
7. Sarampo: transmitida principalmente por gotículas de sa-
Dado que os vírus Influenza se modificam constantemente, liva de pessoas contaminadas, desencadeia, em um primeiro
não existem fármacos 100% eficazes a serem utilizados no momento, febre, tosse, corrimento nasal, sensibilidade à luz
tratamento da doença. De acordo com as recomendações e conjuntivite. Posteriormente, esses sintomas se acentuam
da Organização Mundial da Saúde (OMS), são desenvolvi- e surgem manchas vermelhas pelo corpo. Apresenta vacina
das anualmente variadas vacinas contra os tipos virais da distribuída pelo Ministério da Saúde.
gripe que ocorreram com maior frequência no ano anterior,
8. Varíola: é transmitida pelo uso de objetos contamina-
protegendo as pessoas vacinadas com eficácia considerá-
dos, pelo contato com secreções das feridas de pessoas
vel. As vacinas são recomendadas para pessoas com 60
doentes e, o mais comum, por gotículas de saliva. Acre-
anos de idade ou mais, portadores de doenças crônicas ou
dita-se que, devido ao uso da vacina, foi erradicada do
imunocomprometidas e profissionais da saúde. Essas mo-
mundo. Causa grandes e numerosas feridas pelo corpo,
dificações, que ocorrem no material genético, podem gerar
além de febre, fadiga e dores. Pode levar à morte.
vírus para os quais a população humana não apresenta
anticorpos e que são mais transmissíveis. De acordo com 9. Catapora: transmitida principalmente pela saliva ou
a transmissão entre os países e a taxa de contaminação contato com objetos contaminados. Causa pequenas e
da doença, configuram pandemias como a da Gripe H1N1 numerosas feridas espalhadas pelo corpo e que provocam
que ocorreu em 2009. bastante desconforto devido à coceira excessiva. Pode cau-
sar febre e dor de cabeça. Apresenta vacina distribuída pelo
Além da vacinação, medidas de higiene pessoal simples Ministério da Saúde.
também atuam na prevenção da doença, como lavar as
10. Caxumba: semelhante à catapora, a caxumba pode
mãos constantemente e cobrir a boca ao tossir ou espirrar.
ser transmitida pela saliva. Ela causa inflamação da paró-
2. Hepatite: a contaminação por hepatite A ocorre tida e outras glândulas salivares, podendo se alastrar pelo
por meio da ingestão de água e alimentos que contêm corpo e infectar testículos, ovários, pâncreas e cérebro.
o vírus. Já as hepatites B e C podem ser contraídas Causa febre e, em alguns casos, meningite. Apresenta va-
através de relações sexuais desprevenidas e do uso de cina distribuída pelo Ministério da Saúde.
objetos contaminados por sangue que contenham o
11. Dengue: há quatro subtipos de vírus que, de modo
vírus. Apesar de apresentar outros sintomas, o princi-
geral, causam os mesmos sintomas, como febre, dores de
pal órgão afetado pela hepatite é o fígado.
cabeça, dores nas juntas, dores nos olhos e manchas averme-
3. Herpes: suas formas de transmissão são o contato di- lhadas pelo corpo. O agravante é que, depois de um segundo
reto ou com objetos contaminados. Manifesta-se por pe- episódio de dengue (por subtipo diferente), a manifestação
quenas feridas na pele ou mucosas. Quando afeta a região dos sintomas ocorre com mais severidade, podendo levar
genital, é chamada de herpes genital, sendo considerada à dengue hemorrágica. Geralmente, epidemias da doença
uma infecção sexualmente transmissível. ocorrem no verão devido aos períodos chuvosos, que geram
ambientes propícios à proliferação do vetor da doença, a fê-
4. Poliomielite: é transmitida por gotículas de saliva, ingestão
mea do mosquito Aedes aegypti.
de água ou alimentos contaminados. Em casos graves, afeta
o sistema nervoso e as musculaturas, o que gera o quadro de 12. Febre chikungunya: também é transmitida pela fê-
paralisia infantil quando atinge crianças. Apresenta vacina dis- mea do mosquito Aedes aegypti. Além disso, pode ser trans-
tribuída pelo Ministério da Saúde. mitida de mãe para filho. Na fase aguda, podem ocorrer
febre alta, dores de cabeça, dores musculares, manchas na
5. Raiva: embora possa ser transmitida pela arranhadura e
lambedura de mucosas por um mamífero infectado, sua prin- pele, conjuntivite e intensas dores nas articulações (mais ca-
cipal forma de transmissão é por meio da mordida. São co- racterístico), que podem persistir por um longo período.
nhecidos poucos casos de transmissão entre humanos, ocor- 13. Febre por zika vírus: pode ser assintomática ou apre-
ridos por transplante. Afeta principalmente o sistema nervoso,

63
sentar febre, dores de cabeça, dores leves nas articulações, com alta letalidade, já existem casos de cura. Quanto mais
erupções cutâneas, conjuntivite, entre outros. Ainda que os cedo se iniciar o tratamento, maiores as chances de um
sintomas demorem a passar, casos graves são raros. A trans- paciente sobreviver.
missão também ocorre pela picada da fêmea do mosquito
É fundamental que os pacientes diagnosticados com a do-
Aedes aegypti.
ença fiquem isolados, para evitar a proliferação. É impor-
O zika vírus vem sendo relacionado a casos de microcefalia tante também desinfetar a casa com cloro e desfazer-se
em recém-nascidos, caracterizada pelo perímetro cefálico de alguns objetos pessoais do paciente, uma vez que eles
menor que o normal para a idade. Isso se deve a transmis- também podem conter o vírus. Atualmente, vacinas e me-
são da mãe para o feto e as possíveis sequelas ainda estão dicamentos estão em fase de testes e alguns têm demons-
sendo estudadas. trado resultados satisfatórios em primatas.
14. Febre amarela: apresenta dois ciclos: o urbano, 16. AIDS: conhecida também por Síndrome da Imunode-
entre humanos, e o silvestre, entre primatas não huma- ficiência Adquirida, é provocada pelo vírus da imunodefi-
nos. O Aedes aegypti é o vetor no ciclo urbano, enquanto ciência humana (HIV) e apresenta os subtipos 1 e 2. Pode
o mosquito do gênero Haemagogus é responsável pela ser transmitida pelo contato com mucosas corporais, áreas
transmissão no ciclo silvestre. Causa febre, pele amarela-
feridas do corpo de um indivíduo portador, esperma, se-
da, desidratação e afeta o fígado, além de afetar outros
creção vaginal, leite materno ou sangue contaminado pelo
órgãos e poder ser fatal. Apresenta vacina distribuída
vírus. A principal via de transmissão é o contato sexual (ge-
pelo Ministério da Saúde.
nital, anal ou oral) e também pode ser transmitida para o
feto durante a gestação e pelo uso de objetos perfurocor-
A fêmea do mosquito Aedes aegypti é hematófaga e, tantes contaminados.
como vimos, responsável pela transmissão de diversas Como seu próprio nome indica, o vírus enfraquece o siste-
doenças. Assim, a principal maneira de prevenção, co- ma imunológico (responsável pela defesa do organismo)
mum a todas essas enfermidades, é por meio da elimi- atacando os glóbulos brancos e reduzindo sua quantidade.
nação de criadouros do mosquito. Assim, o portador do vírus está sujeito a adoecer com mais
facilidade, inclusive por aquelas doenças que não apresen-
tariam sintomas graves em pessoas com boa imunidade.
15. Ebola: doença altamente letal – mata aproximadamen-
Após 2 a 4 semanas, surgem os primeiros sintomas que
te 90% das pessoas que a contraem. Entre 2013 e 2016,
começam com uma fraqueza geral e desenvolvem para fe-
alguns países africanos passaram por surtos dessa doença.
bre, manchas na pele (sarcoma de Kaposi), calafrios e gân-
Contraída pelo contato direto com pessoas e outros animais
glios nas axilas, virilhas e pescoço. Com avanço da doença,
contaminados, sua infecção ocorre através dos fluidos corpo-
doenças oportunistas se manifestam, como tuberculose e
rais – como suor, sangue, sêmen, saliva, vômitos, fezes e uri-
pneumonia, o que pode levar a morte. Felizmente, hoje em
na – e pelo consumo de carnes de animais contaminados. As
dia os portadores do vírus têm maior expectativa de vida
crenças locais contribuem para o aumento de casos na África.
graças a terapia antirretroviral (TARV), oferecida gratuita-
Um exemplo são os funerais tradicionais nos quais o corpo
mente pelo SUS. Ela é capaz de controlar a multiplicação
da pessoa morta é lavado, o que contribui para disseminação
do vírus e, consequentemente, reduzir a destruição dos gló-
do vírus. Outro fator é a destruição dos ecossistemas naturais
que expõe as populações humanas a vírus que, anteriormen- bulos brancos. Com isso, a AIDS deixou de ser encarada
te, ficavam apenas entre populações animais silvestres. como uma moléstia fatal para transformar-se em doença
crônica passível de controle.
Os principais sintomas são febre, dores de cabeça e ab-
dominais, náusea, conjuntivite e hemorragias internas e Embora a medicação possa provocar efeitos colaterais, atu-
externas. Em casos graves da doença, é possível obser- almente a maioria das pessoas contaminadas pode exercer
var o paciente com sangramentos pelo nariz, boca e até suas atividades normalmente se utilizar o medicamento de
mesmo pelos olhos. forma contínua.

Por ainda não existir um tratamento específico, os médicos É importante ressaltar que o compartilhamento de obje-
normalmente realizam uma terapia com o intuito de au- tos ou contato direto, como cumprimentar e abraçar, não
mentar as defesas do corpo, já que o sistema imune tam- transmitem a doença. A principal prevenção é o uso de
bém é afetado pelo vírus. Além disso, são fornecidos soro camisinha em todas as relações sexuais, assim como uma
intravenoso, para evitar a desidratação, e medicamentos rotina de exames médicos com testes para ISTs. Além disso,
que reduzem a dor e a febre. Apesar de ser uma doença materiais cirúrgicos nunca devem ser compartilhados.

64
5.3. Vírus HIV Para que o genoma viral consiga invadir as células hospedei-
ras, ele apresenta três importantes fases de leitura e infecção
O HIV (vírus da imunodeficiência adquirida) pertence a uma celular determinadas pelos seguintes genes estruturais:
família de retrovírus de mamíferos (lentivírus) que causam
infecções crônicas persistentes no hospedeiro. O HIV, dife- ƒ Gag – codifica uma poliproteína, necessária para que
rentemente do herpes vírus, multiplica-se constantemente haja a liberação de proteínas virais estruturais;
no hospedeiro, apesar de algumas células apresentarem ƒ Pol – superpõe a gag, codificando três atividades enzi-
vírus em estado latente. Os seres humanos e os primatas máticas: DNA-polimerase ou transcriptase reversa, pro-
são os únicos hospedeiros naturais do vírus HIV. tease e uma integrase, todas necessárias ao processo
Existem duas grandes famílias de vírus HIV: o HIV-1, que de invasão celular do vírus à célula hospedeira; e
causa infecções em primatas não humanos, os símios, en-
ƒ Env – codifica a proteína transmembrana do envelope
contrados na África ocidental; e o HIV-2, que se subdivide
responsável pela fixação da entrada do vírus na célula.
em, pelo menos, cinco grandes subfamílias e causa a infec-
ção na população humana pelo mundo. Todos os tratamentos são associados à supressão da repli-
cação do vírus e à repleção das células CD4 periféricas. De
O HIV tem como alvo celular os linfócitos T-CD4, responsáveis acordo com o Department of health and human services,
pela proteção do organismo contra agentes infecciosos. Ele 2010, nas diretrizes para o início de tratamento nos EUA, de-
utiliza essas células e todo o maquinário celular para repro- vemos encontrar valores de CD4 menores que 350 cel/mm3.
duzir-se, causando a destruição do sistema imunológico do
hospedeiro, o que o torna suscetível a qualquer infecção opor- O tratamento das gestantes é fundamental para que não
tunista, como uma simples gripe, que pode levá-lo à morte. ocorra a contaminação cruzada na hora do parto. Duran-
te a gestação, o bebê está protegido da contaminação
pelo HIV por causa da placenta, mas, no momento do
nascimento, o neonatal corre riscos de contaminação de-
Envelope RNA
vido ao contato com o sangue da mãe.
lipídico
Diversos estudos indicam a baixa probabilidade de erradi-
cação do vírus do organismo contaminado pelo uso de co-
quetéis antirretrovirais, pois, de alguma maneira não eluci-
dada, o material genético integrado à célula hospedeira se
encontra quiescente em células T e, a qualquer momento,
poderá ser ativado, caso seja suspenso o uso do coquetel.
Além dos tratamentos para os infectados, há dois tipos de
Capsídeo Transcriptase
reversa
medicamentos antirretrovirais, disponibilizados gratuitamen-
te pelo SUS: o PEP - Profilaxia Pós-Exposição para pessoas
que tiveram um possível ou confirmado contato com o vírus
- e o PrEP - Profilaxia Pré-Exposição para uso preventivo de
ESQUEMA DO VÍRUS HIV. populações vulneráveis a contaminação pelo vírus.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

No contexto histórico, como na Revolta da Vacina de 1904, aplicam-se os conhecimentos sobre doenças virais, uma
vez que a febre amarela e a varíola faziam parte dessa “campanha de vacinação”. A campanha de vacinação foi
obrigatória, e, embora seu objetivo fosse positivo, ela foi realizada de forma violenta e autoritária. Em vários casos,
os agentes sanitários invadiam as casas para vacinar as pessoas à força, o que provocou a revolta. Essa rejeição em
ser vacinado ocorria porque grande parte da população não compreendia o que era a vacina e temia seus efeitos.

65
RESUMO DAS VIROSES
Doença Transmissão
Catapora Contato da pele com as bolhas ou pelo ar que con-
(varicela) tenha o vírus Varicela zoster.
Caxumba (paro- Por gotículas de saliva expelidas pelo doente que
tidite infecciosa) contenham o Paramyxovírus sp.
Vertical (placentária), amamentação materna, sexual,
multimídia: vídeo Citomegalia
de pessoa para pessoa e por transfusão sanguínea.
Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou
FONTE: YOUTUBE Dengue
Aedes albopictus.
Por que pra algumas pessoas o vírus Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou Aedes
é leve? | Coronavírus #37 Dengue albopictus (tigre asiático). Ocorre quando um indivíduo
hemorrágica que teve um tipo de vírus da dengue recebe outro vírus
diferente, também da dengue.
Na literatura médica existem controvérsias ao conside- Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti e Ae-
Febre
rar a AIDS uma doença crônica, devido a sua comple- des albopictus, os mesmos que transmitem o vírus da
chikungunya
dengue e da febre amarela.
xidade, aos riscos envolvidos, à alta taxa de mutação
O Aedes aegypti infecta-se com o Zika vírus toda vez que
e à adesão ao tratamento pelos pacientes, o que pode ele pica uma pessoa ou macaco previamente infectado.
originar novas gerações virais resistentes aos métodos Assim como ocorre na dengue e na febre amarela, o
terapêuticos existentes. mosquito não torna-se imediatamente um transmissor do
Febre por
vírus. Depois de ser contraído pelo mosquito, o Zika vírus
Zika vírus
ainda precisa de cerca de 10 dias para multiplicar-se e
migrar do sistema digestivo para as glândulas salivares
5.4. Imunização do Aedes. Só a partir desse momento é que o mosquito
passa a ser capaz de transmitir o vírus durante a picada.
Uma das opções para a prevenção de algumas dessas doen-
Febre aftosa Via respiratória, inalando o Aphthovirus sp.
ças viróticas é a vacinação, processo de imunização ativa
Febre amarela Picada da fêmea dos mosquitos Haemagogus sp. ou
que consiste na inoculação de antígenos mortos ou enfraque- silvestre Sabethes sp. contendo o Flavivirus sp.
cidos que estimulam a produção de anticorpos no organismo.
Febre amarela Picada da fêmea dos mosquitos Aedes aegypti ou
Essa primeira produção de anticorpos – imunização primária urbana Aedes albopictus contendo o Flavivirus sp.
– é lenta e pequena. O segundo encontro com o antígeno de- Febre hemor- Por meio de secreções corpóreas e sangue contami-
sencadeará a imunização secundária, que é rápida e produz rágica do ebola nado pelo Filovirus sp.
grande quantidade de anticorpos. Quando o vírus possui uma Gripe Contato com o ar contaminado pelo Mixovirus influenzae.
taxa de mutação muito alta, como é o caso da gripe, o processo Hantavirose
Via respiratória, água e alimentos contendo o Han-
tavirus sp.
é menos eficaz, pois o antígeno sofre muitas alterações.
Hepatite Contato pessoa a pessoa; oral-fecal, transfusão sanguínea.
Contato íntimo com indivíduo transmissor, a partir de
Herpes superfície mucosa ou de lesão infectante contendo, por
exemplo, o Herpes simplex.
Contato íntimo de secreções orais (saliva) contendo o
Mononucleose
vírus Epstein-Barr, da família Herpesviridae.
Papiloma Vertical (placentária); ato sexual; o agente etiológico
(condiloma) é o HPV.
Poliomielite
Contato direto com secreções faríngeas de doentes.
(paralisia infantil)
O PROCESSO DE VACINAÇÃO E A QUANTIDADE DE ANTICORPOS PRODUZIDOS PELO ORGANISMO. Hidrofobia (raiva) Por meio da saliva de animais doentes.
Contato com o ar contaminado pelos vírus sincicial
O processo de imunização passiva, denominado sorolo- Resfriado
respiratório, parainfluenza ou rinovírus.
gia, consiste na inoculação de anticorpos prontos para Por meio de gotículas de muco e saliva ou pelo con-
Rubéola
inativarem os antígenos estranhos que estão atuando no tato direto com as secreções do nariz.
organismo. É normalmente utilizado contra antígenos mui- Sarampo
Por meio de gotículas de muco e saliva ou pelo con-
to agressivos e que se manifestam muito rápido. Exige que tato direto com as secreções do nariz.

o vírus seja isolado e que, por biotecnologia, o anticorpo Síndrome da


imunodeficiência Ato sexual sem preservativo, seringa contaminada,
seja produzido em grande escala. Funciona melhor contra adquirida (SIDA ou transfusão sanguínea, via vertical (placentária).
bactérias ou venenos de certos animais, como as cobras. AIDS, em inglês)
Contato com as secreções das vias respiratórias, com
Varíola as lesões da pele, das mucosas e com os objetos de
uso do doente.

66
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização ta-
xonômica dos seres vivos.

A compreensão de assuntos correspondentes à saúde pública e a doenças comuns no território brasileiro é co-
mumente cobrado no Enem. Entender como o ambiente molda esses processos biológicos associando isso ao
aumento no número de casos ao longo dos anos é fundamental para a resolução da questão.

MODELO 1
(Enem) A partir do primeiro semestre de 2000, a ocorrência de casos humanos de febre amarela silvestre
extrapolou as áreas endêmicas, com registro de casos em São Paulo e na Bahia, onde os últimos casos tinham
ocorrido em 1953 e 1948. Para controlar a febre amarela silvestre e prevenir o risco de uma reurbanização da
doença, foram propostas as seguintes ações:
I. Exterminar os animais que servem de reservatório do vírus causador da doença.
II. Combater a proliferação do mosquito transmissor.
III. Intensificar a vacinação nas áreas onde a febre é endêmica e em suas regiões limítrofes.
É efetiva e possível de ser implementada uma estratégia envolvendo a(s) ação(ões)
a) II, Apenas.
b) I e II apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II, III.

ANÁLISE EXPOSITIVA
O vírus da febre amarela possui um agente transmissor, o mosquito Aedes aegypti, que transmite o vírus
em regiões urbanas. Impedir a reprodução do mosquito é uma das estratégias mais eficazes no combate
a essa transmissão, pois diminui a população do agente transmissor. Além disso, já está disponível uma
vacina contra o vírus, sendo eficaz no sentido de combater o vírus no organismo, além de impedir a in-
fecção dos mosquitos transmissores.

RESPOSTA Alternativa D

67
DIAGRAMA DE IDEIAS

VÍRUS

COMPOSIÇÃO PODEM SER:


CLASSIFICADOS EM:
CAPSÍDEO
ENVELOPADOS
RIBOVÍRUS NÃO ENVELOPADOS
MATERIAL GENÉTICO
(DNA OU RNA) MATERIAL GENÉTICO RNA

DESOXIRRIBOVÍRUS
MATERIAL GENÉTICO DNA

ACELULARES RETROVÍRUS ENZIMA TRANSCRIPTASE


MATERIAL GENÉTICO RNA REVERSA
DEPENDENTES DO
“MAQUINÁRIO” CELU- RNA DNA
LAR PARA REPRODUÇÃO,
PARASITAS INTRACELU-
LARES OBRIGATÓRIOS

CICLO LÍTICO CICLO LISOGÊNICO


PRODUÇÃO DE NOVOS VÍRUS MULTIPLICAÇÃO DO MATERIAL GENÉTICO

68
todos os restantes também não existiriam, pois os ciclos
AULAS 5 e 6 dos químicos essenciais para a vida (como o ciclo do nitro-
gênio ou do carbono) seriam interrompidos. Na situação
inversa, os procariontes continuariam sozinhos, como ocor-
reu durante mais de 2 bilhões de anos.

1.1. Bactérias: características gerais


REINO MONERA
As bactérias possuem células esféricas ou em forma de
bastonetes curtos com tamanhos variados, entre 0,3 μm
e 3 μm. Na maioria das espécies, a proteção da célula é
feita por uma camada extremamente resistente, a parede
celular. Abaixo, existe uma membrana citoplasmática que
delimita um único compartimento contendo DNA, RNA,
COMPETÊNCIAS: 4e8 proteínas e pequenas moléculas.
Na microscopia eletrônica, o interior celular aparece com
HABILIDADES: 16 e 29 uma matriz de textura variada, sem, no entanto, conter es-
truturas internas organizadas. O único organoide são os ri-
bossomos, que, espalhados no interior da célula, conferem
essa textura granular.

1. Bactérias e cianobactérias As bactérias podem se multiplicar com rapidez, simples-


mente se dividindo por fissão binária. A rápida reprodução
Os microrganismos conhecidos como bactérias vivem na é uma estratégia de sobrevivência e perpetuação da es-
Terra há cerca de 3,8 bilhões de anos, existindo evidências pécie no meio em que vivem, onde, em geral, há grande
de que tenham sido os ancestrais de todas as formas de disponibilidade de alimento. Em condições adequadas,
vida na Terra. Com efeito, há cerca de 1,5 bilhões de anos, uma simples célula procariótica pode dividir-se a cada 20
eram as únicas formas de vida no planeta. minutos, dando origem a 5 bilhões de células (número
As bactérias podem ser encontradas em todos os meios: aproximadamente igual à população humana da terra) em
pouco menos de 11 horas.
ar, água, solo ou mesmo no interior de outros organismos.
Isso se deve a sua enorme diversidade, de forma que há A habilidade em dividir-se rapidamente possibilita que
espécieis que suportam grande pressões, temperaturas ele- populações de bactérias se adaptem às mudanças de
vadas, concentrações osmóticas mortais para outros orga- ambiente. Sob condições de laboratório, por exemplo,
nismos e valores de pH radicais. uma população de bactérias evolui dentro de poucas se-
manas a partir do surgimento de novas mutações e pela
Assim como os eucariontes, todos os procariontes atuais são
ação da seleção natural, de forma a utilizar novos tipos
o resultado de milhões de anos de evolução, estando per-
de açúcar como fonte de carbono e de energia. Na na-
feita mente adaptados aos seus habitats, portanto, nenhum
tureza, as bactérias vivem em uma enorme variedade de
deles pode ser chamado de primitivo.
nichos ecológicos e mostram uma riqueza corresponden-
Por ser procarionte, a célula bacteriana não possui núcleo ver- te na sua composição bioquímica básica. Dois grupos de
dadeiro, uma vez que não apresenta a membrana que envol- bactérias distantemente relacionados são reconhecidos.
ve o material genético (envoltório nuclear ou carioteca). As eubactérias, que são os tipos comuns encontrados
na água, no solo e nos organismos vivos maiores, e as
De forma geral, a célula é minúscula e apresenta estrutura
arqueobactérias, que são encontradas em ambientes re-
formada por uma parede celular que envolve a membrana
almente inóspitos, como pântanos, fontes termais, fundo
plasmática e o citosol. Possui apenas um tipo de organoide, o
do oceano, salinas, vulcões, fonte ácidas, etc.
ribossomo, no qual ocorre a síntese de proteínas.
Existem espécies bacterianas que utilizam virtualmente
Apresenta um único cromossomo constituído por uma molé-
qualquer tipo de moléculas orgânicas como alimento, in-
cula gigante de DNA unida pelas extremidades (DNA circular),
cluindo açúcares, aminoácidos, gorduras, hidrocarbonetos,
ocupando a região da célula conhecida por nucleoide.
polipeptídeos e polissacarídeos. Algumas podem, também,
Embora algumas espécies sejam patogênicas, a maioria é obter seus átomos de carbono do gás carbônico e o seu
essencial à vida. Caso esse reino desaparecesse da Terra, nitrogênio do N2.

69
Cromossomo
1.2. A célula bacteriana: bacteriano
Bactéria
Plasmídeo

morfologia e estrutura
Quanto a sua forma celular, as bactérias podem ser classifi-
cadas em quatro grupos básicos, como na imagem abaixo.
Apesar de serem unicelulares, algumas espécieis se agrupam.
Os cocos são células esféricas que, quando agrupadas aos
pares, recebem o nome de diplococos; quando o agrupamen-
to constitui uma cadeia de cocos, estes são denominados
estreptococos; em grupos irregulares, lembrando cachos de
uva, recebem a designação de estafilococos.
PLASMÍDEO BACTERIANO
Os bacilos são células cilíndricas, em forma de bastonetes,
em geral se apresentam como células isoladas, porém, oca-
sionalmente, podem-se observar bacilos aos pares (diplobaci- 1.2.3. Mesossomo
los) ou em cadeias (estreptobacilos). Esse termo se refere a invaginações da membrana celular,
Os espirilos são células espiraladas e, geralmente, apresen- que podem ser simples dobras ou estruturas tubulares ou
tam-se como células isoladas, assim como os vibriões, que vesiculares. Diversas funções têm sido atribuídas aos me-
são células no formato de um bastão encurvado. sossomos, como papel na divisão celular e na respiração.

cocos
isolados 1.2.4. Parede celular: Gram-negativas e
Gram- positivas
Estreptococos
Vibrião
De acordo com a constituição da parede celular, as bacté-
Estafilococos
Bacilos
rias podem ser divididas em dois grandes grupos:
Espirilo

ƒ Gram-negativas: apresentam-se de cor avermelhada


quando coradas pelo método de Gram.
é ƒ Gram-positivas: apresentam-se de cor roxa quando
FORMAS DE BACTÉRIAS coradas pelo método de Gram.
A parede das Gram-positivas é formada por uma só camada,
1.2.1. Cromossomo enquanto a das Gram-negativas é formada por duas cama-
As bactérias apresentam um cromossomo circular, que das. Entretanto, os dois tipos de parede apresentam uma
é constituído por uma única molécula de DNA circular, camada em comum, situada externamente à membrana
também chamado de corpo cromatínico e que não apre- citoplasmática, que é denominada camada basal e compos-
senta proteínas associadas. É possível observar mais de ta de peptídeoglicano, em especial a mureína. A segunda
um cromossomo numa bactéria em fase de crescimento, camada, presente somente na células das Gram-negativas,
uma vez que a divisão do cromossomo precede a divi- é denominada membrana externa. Entre a membrana ex-
são celular. O cromossomo bacteriano contém todas as terna e a membrana citoplasmática, encontra-se o espaço
informações necessárias à sobrevivência da célula e é periplasmático no qual está a camada basal.
capaz de autorreplicação. Ácido tecóico
de parede

Peptidoglicana

1.2.2. Plasmídeo
No citoplasma de muitas bactérias, existem moléculas meno-
res de DNA, também circulares, cujos genes não codificam Parede celular

características essenciais, porém podem conferir vantagens


seletivas à bactéria que as possui. Esses elementos extra-
cromossômicos, denominados plasmídios, são autônomos, ou Membrana

seja, são capazes de autoduplicação independente da repli- plasmática

cação do cromossomo e podem existir em número variável


no citoplasma bacteriano. Observe a seguir a ultraestrutura Proteína

bacteriana evidenciando um plasmídeo. GRAM-POSITIVO

70
e apresentam um fotossistema simples. Ele permite captar a
energia luminosa e disparar a transformação dessa energia
em energia química que será armazenada na forma de ATP e,
em seguida, transformada em um carboidrato, como a glicose.
Abaixo, a ultraestrutura de uma cianobactéria nos permite
visualizar, dentro do citosol, membranas empilhadas que
formam os tilacoides, os quais, por sua vez, contêm diver-
GRAM-NEGATIVO GRAM-POSITIVO sos tipos de pigmentos.
BACTÉRIAS APRESENTANDO COR APRESENTAM COR ARROXEADA
AVERMELHADA PELO MÉTODO DE GRAM Inclusões
Parede celular
Membrana
Ribossomos
fotossintética Membrana plasmática
Cromatina

1.2.5. Cápsula Pigmentos


Envoltório viscoso

Diversas bactérias apresentam externamente à parede


celular uma camada viscosa denominada cápsula. As cáp-
sulas são geralmente de natureza polissacarídica, apesar
de existirem cápsulas constituídas de proteínas. A cápsula
constitui um dos antígenos de superfície das bactérias e
relaciona-se com a virulência da bactéria, uma vez que a ULTRAESTRUTURA DE UMA CIANOBACTÉRI
cápsula confere resistência à fagocitose.
Nas quimiossintetizantes, ocorre uma reação química es-
pecífica que libera energia formando ATP e, em seguida,
1.2.6. Esporos transfere-se para a formação de carboidratos, como a
Quando os nutrientes bacterianos se tornam escassos, geral- glicose. Entre as quimiossintetizantes, é possível citar as
mente pela falta de fontes de carbono e nitrogênio, algumas nitrobactérias e nitrosomonas, que são comuns no solo e
bactérias iniciam o processo de esporulação. A célula reduz participam da reciclagem do nitrogênio do planeta.
sua atividade metabólica e o endosporo é formado no interior As bactérias heterótrofas realizam digestão extracorpó-
dela. Ele é altamente resistente ao calor, à dessecação e a rea ao exocitarem enzimas digestistas. Quando se nu-
outros agentes físicos e químicos, podendo permanecer em
trem de matéria orgânica morta, são conhecidas por de-
estado latente por longos períodos e depois germinar, dando
compositoras ou sapróvoras, e, se utilizam matéria viva,
início a uma nova célula vegetativa. Na figura a seguir, é possí-
são parasitas.
vel observar o processo de formação de esporos em bactérias.
Tanto nas autótrofas quanto nas heterótrofas, a energia
armazenada nos carboidratos poderá ser utilizada no
metabolismo bacteriano para síntese (construção) ou de-
gradação de substâncias necessárias à manutenção ou
reprodução desses organismos.
A degradação de carboidratos pode ocorrer de forma
aeróbia (com a participação do oxigênio) ou anaeróbia
(sem a participação do oxigênio – respiração anaeróbica
ESPORULAÇÃO BACTERIANA
ou fermentação).
As bactérias anaeróbicas realizam processo similiar à respi-
1.3. Nutrição ração aeróbica, mas o aceptor final não é o oxigênio. Nes-
As bactérias podem ser autótrofas ou heterótrofas. As se processo, a fermentação, ocorre menor degradação da
autótrofas incluem as fotossintetizantes e as quimios- glicose, maior formação de resíduos e, em consequência,
sintetizantes. As bactérias fotossintetizantes, com clorofila menos ATP, mas o suficiente para sua manutenção. Para
específica, como as cianobactérias, conhecidas antiga- cada tipo, um resíduo diferente é formado: na fermentação
mente como “algas azuis”, utilizam gás carbônico e água alcoólica, gás carbônico (CO2) e álcooletílico (C2H5 OH), e
para a realização da fotossíntese; ou as bactérias sulfurosas na fermentação láctica, ácido láctico (C3H6O3).
púrpuras e as sulfurosas verdes, que, em vez de utilizar a No caso das bactérias heterotróficas aeróbias, as enzimas
água, usam o ácido sulfídrico (H2S) em sua fotossíntese. presentes no mesossomo permitirão a degradação da gli-
As bactérias fotossintetizantes apresentam um pigmento cose (C6H12O6), liberando energia para a formação de ATP,
disperso no hialoplasma, conhecido como bacterioclorofila, gerando gás carbônico (CO2) e água (H2O) como resíduos.

71
1.4. Reprodução das bactérias ƒ Transformação: a bactéria absorve moléculas de DNA
dispersas no meio, provenientes de outras bactérias mortas.
A divisão binária, bipartição ou cissiparidade é a repro-
dução assexuada mais comum nas bactérias, e a conjuga- ƒ Transdução: as moléculas de DNA são transferidas
ção é a reprodução sexuada, na qual ocorre o emparelha- entre as bactérias através de vírus (bacteriófagos), que
mento de duas bactérias, a comunicação entre as paredes são usados como vetores (transmissores). Os vírus, ao se
e a troca de material genético. Em certos casos, apenas montarem dentro das bactérias, podem eventualmente
uma bactéria recebe o material genético (a receptora) da incluir pedaços de DNA da bactéria que lhes serviu de
outra (doadora). hospedeira. Ao infectar outra bactéria, o vírus que leva o
DNA bacteriano o transfere junto com o seu. Se a bac-
téria sobreviver à infecção viral, pode passar a incluir os
genes de outra bactéria em seu genoma.

ƒ Conjugação: o DNA é transmitido diretamente da


bactéria macho para a bactéria fêmea através de mi-
BIPARTIÇÃO CONJUGAÇÃO
croscópicos tubos proteicos, chamados pili, que as
bactérias “macho” possuem em sua superfície.
FORMAS DE REPRODUÇÃO BACTERIANA

As bactérias multiplicam-se rapidamente, por bipartição TRANSFORMAÇÃO doador do


plasmídeo
CONJUGAÇÃO

assexuada, constituindo conjuntos de clones que são de-


nominados colônias. plasmídeo

Parede celular Membrana plasmática


transferência
de DNA livre gene de resistência
1 A célula se alonga e
o DNA é replicado. da bactéria

bactéria morta
gene de resistência transferência
da bactéria do plasmídeo

Vírus
Transferência de genes
DNA (nucleoide) de resistência pelo bacteriógrafo
A parede celular e a
2 membrana plasmática
começam a se dividir.
bastérias recebendo
os genes de resistência

os genes são inseridos no


plasmídeo ou no
TRANSDUÇÃO
cromossomo da bactéria

Paredes intermediárias

3 se formam, separando
completamente as duas Não se identificou até hoje qualquer forma de reprodução asse-
cópias de DNA.
xuada em cianobactérias, o que permite afirmar que as variações
nas populações derivam fundamentalmente de mutações gênicas.

4 As células se separam. 1.5. Importância das bactérias


As bactérias, assim como os fungos, são os principais decompo-
Essa grande capacidade reprodutora faz das bactérias um sitores dos ecossistemas e possibilitam a reciclagem da matéria.
excelente material biológico para a investigação genética, Elas decompõem a matéria orgânica sem vida e liberam os re-
pois um elevado número de gerações surgidas em pouco síduos dessa degradação para o solo ou a água. Esses resíduos
tempo possibilita alterações importantes no fundo genéti- correspondem à matéria inorgânica que funciona como nutrien-
co dessas populações. tes para os produtores do ecossistema, como algas e plantas.
Na reprodução sexuada, ocorre a transferência de segmen- Outro ponto a ser destacado é a participação essencial
tos de DNA de uma célula doadora (macho) para uma cé- de bactérias na ciclagem do nitrogênio, essencial para os
lula receptora (fêmea). produtores construírem aminoácidos e ácidos nucleicos. As
bactérias são responsáveis por retirar o nitrogênio do ar at-
Depois da transferência, ocorre a recombinação entre
mosférico e permitir que seja fixado no solo (as bactérias
o DNA recebido e o cromossomo bacteriano, originan-
do gênero Rhizobium são fixadoras de nitrogênio) na forma
do novas combinações de genes, que serão passadas às
de nitratos. As cianobactérias fazem esse papel, também,
bactérias-filhas. nos ecossistemas aquáticos. Nesse papel de decomposição,
A passagem de segmentos de DNA entre bactérias pode pode-se destacar a possível competição estabelecida há mi-
ocorrer de modos diversos: lhões de anos entre fungos e bactérias. É conhecido o fato

72
de certos fungos desenvolverem substâncias que impedem novas proteínas capazes de inativar substâncias estranhas,
o crescimento de bactérias. Lembre-se de que o primeiro como os antibióticos. Assim, são necessárias elaborações
antibiótico conhecido pelo homem foi a penicilina extraída periódicas de novos antibióticos, uma vez que a humani-
de um fungo do gênero Penicillium. dade tem selecionado linhagens resistentes de bactérias.
Nesse sentido, a resistência de linhagens de bactérias a di- Cada vez mais, as bactérias são utilizadas em tecnologia des-
versas substâncias derivadas de fungos é antiga. Essa com- tinada à humanidade. Há tempos, elas são aplicadas na for-
petição evolutiva talvez se assemelhe a de um predador mação de antibióticos e vitaminas, na produção de laticínios,
que, ao longo das gerações, apresenta mecanismos e estra- na produção de vinagre, etc. Atualmente, são empregadas
tégias para tornar sua caçada mais eficaz; paralelamente, na decomposição de lixo orgânico e produção de metano
a população de presas desenvolve estratégias de fuga ou (combustível), na degradação de petróleo derramado no mar
camuflagem cada vez mais sofisticadas. e na engenharia genética, processo no qual as bactérias re-
cebem pedaços de DNA humano e são induzidas a produzir
As bactérias são capazes de utilizar os plasmídios, incorpo-
proteínas humanas, como a insulina, por exemplo.
rá-los no seu genoma e gerar maior variabilidade, criando

VIVENCIANDO
“Para começar, quanto à nossa alimentação, as bactérias são amplamente utilizadas para a fabricação de iogurtes, por
exemplo. Você certamente já ouviu falar em lactobacilos vivos, que estão presentes num produto de marca famosa. Mas
de que modo as bactérias atuam no iogurte? Bem, elas transformam o açúcar contido no leite (lactose) em ácido láctico.
Desse modo, o leite torna-se azedo, mudando assim o seu pH. Isso faz com que a proteína do leite se precipite, formando
o 'coalho'. Mas, em matéria de alimentação, além das bactérias que atuam no leite, há também aquelas que modificam
o álcool etílico em ácido acético, formando o vinagre, que tempera saladas e diversos pratos.”
(HTTPS://EDUCACAO.UOL.COM.BR/DISCIPLINAS/BIOLOGIA/BACTERIAS-1-CONHECA-A-IMPORTANCIA-E-AS-VARIAS-UTILIDADES-DAS-BACTERIAS.HTM)

garganta e cavidades nasais. Pode causar dor, febre e difi-


2. Bactérias patogênicas culdades de falar e engolir. Há vacinas para essa doença.
As bactérias patogênicas são causadoras de doenças e os
4.Disenterias bacilares: causadas por diversas bactérias,
medicamentos utilizados no combate a elas são os antibi-
como a Shigella e Salmonella. Essas bactérias são transmitidas
óticos; no entanto, seu uso não deve ser indiscrimina do –
sem receita médica ou por períodos de tempo incorreto –, pela ingestão de alimentos e água contaminados. A desidrata-
uma vez que pode favorecer o surgimento de linhagens de ção, causada pela diarreia, pode causar quadros mais graves,
bactérias resistentes, dificultando a cura de várias infecções. caso não seja tratada. Saneamento básico e hábitos de higiene
A seguir, serão abordadas as principais doenças humanas constituem as medidas práticas para evitar o contágio.
causadas por bactérias: 5.Febre maculosa: a Rickettsia rickettsii, parasita do carra-
1.Cólera: causada pela Vibrio cholerae, é transmitida via pato-estrela, causa esse mal. Causa febre alta, vômito, dores
água ou alimentos contaminados, crus ou malcozidos; a bac- musculares e de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo. A do-
téria se aloja na parede intestinal e se multiplica, provocando ença pode levar à morte. Evitar caminhar em locais onde há in-
diarreia aguda. festação desses carrapatos ou, caso seja inviável, utilizar roupas
adequadas, como mangas longas, calça e bota, além de tratar
2.Coqueluche: causada pela Bordetella pertussis, causa fe-
os animais domésticos, são maneiras de se evitar essa doença.
bre, coriza, tosse seca e, em alguns casos, vômito. O contágio
é pelo contato com uma pessoa contaminada e há vacina e 6.Febre tifoide: causada pela Salmonella thypi, provoca úlce-
tratamento disponíveis. ras intestinais, diarreia, cólica e febre e pode ser prevenida pelo
3.Difteria: causada pela Corynebacterium diphteriae, é uso de vacinas e condições de saneamento básico satisfatórias.
transmitida pela inalação de gotículas oriundas do nariz e 7.Gonorreia: causada pela Neisseria gonorrhoeae, é uma IST
da boca de pessoas doentes. Libera toxinas que afetam a que provoca feridas genitais, com sangramento, podendo

73
causar infertilidade. O contágio é feito por meio de sexo des- 11. Pneumonia bacteriana: causada pela Streptococcus
protegido e por transmissão da mãe para o feto no momento pneumoniae. A inalação pelo ar é a forma de se contrair
do parto. essa doença, que causa infecção pulmonar. O tratamento
8.Hanseníase: é transmitida pelo bacilo de Hansen (My- dos doentes é a principal medida preventiva.
cobacterium leprae) através da pele e do trato respiratório. 12. Sífilis: provocada pela Treponema pallidum, essa IST
Provoca lesões na pele, mucosas e nervos, deixando essas pode ser transmitida por via congênita. Causa inflamação
regiões menos sensíveis. na pele e nos ossos, apresentando ao redor dos órgãos
9. Leptospirose: causada pela Leptospira interrogans. Ra- sexuais uma ferida indolor, de bordas endurecidas. Pode
tos e cães podem portar a bactéria e, dessa forma, alimentos causar, em casos mais graves, doenças respiratórias e pa-
e objetos que entraram em contato com a urina desses ani- ralisias. O tratamento dos doentes e o uso de preservativo
mais podem transmitir a doença ao ser humano. Os princi- são as formas de se evitar o contágio.
pais sintomas são febre alta, dores musculares e de cabeça, 13. Tracoma: causada pela Chlamydia trachomatis, é uma in-
náusea, vômitos, lesões na pele, inflamação e aumento do flamação da córnea e conjuntiva que provoca fotofobia, dor e
fígado e hemorragia digestiva. Prevenção de enchentes e tra- lacrimejamento. Pode causar cegueira, caso não seja tratada de
tamento do lixo e da água são maneiras de evitar a doença. forma apropriada. É transmitida pelo contato direto com olhos,
10. Meningite meningocócica: Neisseria meningitidis nariz e secreções do doente ou por objetos contaminados.
é a bactéria responsável pela meningite, caracterizada por 14. Tuberculose: causada pelo bacilo de Koch (Mycobac-
dor de cabeça intensa, febre, rigidez da nuca e vômito – terium tuberculosis), é transmitida pela inalação de gotículas
sintomas decorrentes da infecção das meninges. É transmitida espalhadas pelo ar. Essa doença atinge os pulmões e provoca
pela saliva e outras secreções da pessoa contaminada. Há infecções que podem se espalhar pelo corpo via sangue e linfa.
vacinas contra a meningite. Há vacinas para evitá-la e essa é a principal medida preventiva.

RESUMO DAS BACTERIOSES


Doença Transmissão Agente infeccioso
Por meio da inalação de esporos ou ingestão de alimentos contamina-
Antraz (carbúnculo) Bacillus antracis
dos e também por ferimentos cutâneos.
Botulismo Ingestão de alimentos contaminados (exemplo: enlatados de palmito). Clostridium botulinum
Brucelose Contato com secreções animais contaminadas; com a placenta; fetos
Brucella sp
(febre ondulante ou do mediterrâneo) abortados; ingestão de leite cru.
Cólera Ingestão de água ou de alimentos contaminados. Vibrio cholerae
Coqueluche (tosse comprida) Contato direto ou indireto com a saliva do doente. Bordetella pertussis
Difteria (crupe) Contato com a secreção do nariz, ou da garganta, ou através do leite cru. Corynebacterium diphteriae
Fascite necrosante Penetração através de cortes na pele. Estreptococo do tipo A
Contato direto pessoa a pessoa (com conjuntivite) ou indireto por inter-
Febre purpúrica brasileira Haemophilus influenzae
mediação mecânica (insetos, toalhas, mãos).
Febre tifoide (tifo) Contato direto ou indireto com fezes ou urina do doente. Salmonella typhi
Gonorreia (blenorragia) Contato sexual. Neisseria gonorrhoeae
Lepra (hanseníase) Penetração no organismo pela pele ou mucosas (ex.: nasais). Mycobacterium leprae
Penetração no organismo pelas mucosas, pela pele ferida ou via oral
Leptospirose Leptospira sp
(alimentos contaminados).

Lyrre (doença de Lyme) Adesão de carrapatos à pele e sucção de sangue. Bonnelia bungdorferi
Meningite meningocócica Por via respiratória, quando o doente fala, tosse, espirra ou pelo beijo. Neisseria meningitidis
Peste Picada de pulgas infectadas; pessoa a pessoa. Yersinia pestis
Diplococcus pneumoniae, micoplas-
Pneumonia Por via respiratória; contato pessoa a pessoa; infecção hospitalar.
mas, clamídias, legionelas etc.
Psitacose Por via respiratória: contato pessoa a pessoa. Chlamydia psittaci
Shigelose (disenteria) Ingestão de água ou de alimentos contaminados. Shigella sp
Sífilis Contato sexual; transfusão de sangue; via vertical (placentária). Treponema pallidum
Tetano Penetração dos esporos através de ferimentos perfurantes. Clostridium tetani
Tuberculose Por via respiratória (inalando o bacilo). Mycobacterium tuberculosis
Uretrite Ato sexual. Chlamydia trachomatis
Febre maculosa Contato com o carrapato-estrela infectado Rickettsia rickettsii

74
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Na interação parasita-hospedeiro, são utilizados conceitos de imunologia que mostram a ação do organismo frente a um
agente patogênico. Primeiramente, o patógeno é metabolizado pela imunidade inata, a qual apresenta esse patógeno,
que pode ser uma bactéria, para a imunidade adquirida que produz células de memória e anticorpos específicos para
cada microrganismo. Assim, quando o indivíduo entra em contato novamente com o agente patogênico, a reação de
eliminação do microrganismo é mais rápida e eficiente.

normais, a parede está sempre presente, sendo composta


por peptidioglicanos.
As arqueobactérias podem ser divididas em quatro gru-
pos principais:

ƒ Halófilas: sempre vivem em concentrações sali-


multimídia: vídeo nas extremas, dezenas de vezes mais salgadas que
a água do mar, em locais como salinas, lagos de
FONTE: YOUTUBE
sal ou soda, entre outros. A sua temperatura ótima
Entenda o que é Tuberculose é entre 35 e 50 ºC. Essas bactérias são autotró-
ficas, mas o seu mecanismo de produção de ATP
é radicalmente diferente do habitual, pois utilizam
3. Arqueas um pigmento vermelho único – bacteriorrodopsina
O termo arqueobactéria origina-se do termo grego “ar- – que, através do movimento de prótons, permite-
chaio”, que significa “antigo”, “velho” ou “arcaico”. Essas -lhes obter energia.
bactérias são capazes de viver em ambientes extremos e
são divididas em: halófilas extremas, que suportam gran- ƒ Metanogênicas: esse grupo de bactérias foi o primei-
des salinidades, como no Mar Morto, no Great Salt Lake e ro a ser reconhecido como único. Vivem em pânta-
nas Salinas; termófilas extremas, que vivem em temperatu- nos, no fundo dos oceanos, estações de tratamento
ras superiores a 100°C; e metanogênicas, que sobrevivem de esgotos e no tubo digestivo de algumas espécies
em ambientes anaeróbios, como pântanos, e no intestino de insetos e vertebrados herbívoros, onde produzem
dos ruminantes (gado bovino), gerando o gás metano. Al- metano (CH4) como resultado da degradação da ce-
gumas crescem em ambientes ácidos com pH igual a zero. lulose. As reservas de gás natural que conhecemos
Atualmente, são encontradas em ambientes menos hostis, são o resultado do metabolismo anaeróbio obriga-
no solo, nos oceanos e como os principais componentes tório e produtor de metano de bactérias desse tipo
do picoplâncton (organismos do plâncton com dimensões no passado. Algumas conseguem produzir metano a
menores que 1 μm). Diferem das bactérias normais, espe- partir de CO2 e H2, obtendo energia desse processo.
cialmente pela natureza química da parede celular.
ƒ Termoacidófilas: vivem em zonas de águas ter-
Mais próximas evolutivamente com os organismos euca-
mais ácidas, com temperaturas ótimas entre 70 e
rióticos, considera-se que as arqueobactérias atuais so-
150 ºC e valores de pH perto do 1. Na sua grande
freram poucas alterações em relação aos seus ancestrais.
maioria, metabolizam enxofre e podem ser autotró-
Esses procariontes vivem em locais com condições extre-
ficas, obtendo energia da formação do ácido sulfídri-
mamente adversas para outros seres vivos, provavelmen-
te semelhantes às que existiram na Terra primitiva. co (H2S) a partir do enxofre ou heterotróficas.

Muitas arqueas não possuem parede celular. No entanto, ƒ Sulforredutoras: são redutoras de sulfato. Anaeró-
existem arqueas em que a parede celular está presente e é bias, podem ser encontradas em poças próximas a fen-
constituída por polissacarídeos ou proteínas. Já nas bactérias das vulcânicas.

75
seres humanos. As mais prejudiciais para os seres humanos
4. Cianobactérias são as hepatotoxinas e as neurotoxinas. O problema é
A maioria das bactérias fotossintéticas são designadas cia- que muitas dessas toxinas não podem ser eliminadas pelo
nobactérias, e, durante muito tempo, foram chamadas de processo de fervura da água ou por métodos tradicionais usa-
algas azuis. Esse grupo de bactérias colonizou meios muito dos em estações de tratamento de água. Elas também podem
diversificados, devido à sua elevada autossuficiência, embora alterar o gosto e o odor da água, tornando-os desagradáveis.
a maioria seja de água doce. Apresentam pequena exigência
de nutrientes, proliferando em qualquer ambiente onde haja
gás carbônico, nitrogênio, água, alguns minerais e luz. 5. Micoplasma
Esse tipo de bactéria teria surgido na Terra há cerca de 3 É o nome dado às bactérias do gênero Mycoplasma. Pos-
bilhões de anos, como definir os estromatólitos encontra- suem cerca de 0,3 μm, sendo menores que outras bacté-
dos na Austrália, que se calcula serem já fotossintéticos, rias. Os microbiologistas ainda discutem se as bactérias
embora talvez não liberassem ainda oxigênio. evoluíram de um ancestral similar aos micoplasmas ou se
pertencem a linhagens diferentes. Também se discute pro-
As cianobactérias dominaram completamente a evolução bio- ximidade entre os micoplasmas e os vírus.
lógica durante mais de 2 bilhões de anos, atingindo enorme
sucesso. Provavelmente, teriam sido as responsáveis pela reins- A diferença principal entre as bactérias e os micoplasmas é
talação e proliferação de formas de vida heterotróficas nos oce- que a primeira possui uma parede celular sólida, e, por esse
anos primitivos, pois teriam sido importantes fontes de alimento. motivo, uma forma definida facilitando sua identificação
ao microscópio, ao passo que os micoplasmas possuem
Em geral, as cianobactérias têm vida livre, mas podem estabe- apenas uma membrana flexível, que, somada ao tamanho,
lecer simbiose com outros organismos ou formar colônias fila- dificulta sua identificação, mesmo quando observados no
mentosas, por vezes envolvidas por uma cápsula mucilaginosa. mais potente dos microscópios eletrônicos.
As cianobactérias são maiores que os outros procariontes,
Os primeiros micoplasmas foram detectados em 1898 no
não apresentam órgãos locomotores e realizam fotossín-
Instituto Pasteur, em tecidos de gado com artrite e pleuro-
tese com o auxílio de pigmentos fotossintéticos variados,
-pneumonia. O primeiro micoplasma humano foi isolado em
como a clorofila A, os carotenoides (pigmentos ama-
1932, num abscesso. Desde então, descobriram-se muitas
relos), a ficocianina (pigmento azul) e a ficoeritrina
estirpes diferentes, que são fundamentalmente específicas
(pigmento vermelho). Esse fator as diferencia das outras
da espécie hospedeira, ou pelo menos de grupos específicos
bactérias fotossintetizantes que não apresentam essa
de animais, como felinos, aves, roedores e homem. Desco-
abundância de pigmentos. Um dos produtos resultantes
briu-se, também, que, ao contrário das bactérias, que são
da fotossíntese, o oxigênio molecular, é um dos fatores
afetadas por penicilina – um tipo de antibiótico –, os mi-
que mais condiciona a vida das bactérias.
coplasmas são controláveis por antibióticos com tetraciclina.
Algumas cianobactérias são capazes de fixar o nitrogênio Foram descobertas linhagens que exibiam crescimento com
do ar atmosférico, aproveitando esse gás para construir micélios, semelhante ao dos fungos, o que levou ao surgi-
suas proteínas. mento da designação “micoplasma” (mico = fungo).
Os micoplasmas podem viver dentro de uma célula, sem
matá-la, à semelhança do que fazem alguns vírus e bacté-
rias, mas também podem viver e crescer fora delas, nos flui-
dos corporais, algo que os vírus não são capazes de fazer.
São responsáveis por doenças como artrite reumatoide, in-
flamações alérgicas, pneumonia atípica, entre outras. Estu-
multimídia: vídeo da-se, ainda, uma possível ligação entre esses organismos
e certas doenças relacionadas com o sistema imunitário,
FONTE: YOUTUBE
como a diabetes e a esclerose múltipla.
Watch antibiotic resistance evolve |
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6. Teoria da endossimbiose e
4.1. Liberação de toxinas origem das células eucariontes
Algumas espécies produzem e liberam toxinas na água que
vegetal e animal
podem envenenar outros animais que habitam o mesmo am- Acredita-se que a célula vegetal, eucariótica, originou-se a
biente ou contaminar a água potável, levando doenças aos partir de uma célula procariótica heterótrofa. Essa célula

76
possui uma parede celular protetora e bastante rígida. É pos- Célula
sível que o primeiro passo para surgimento da célula eucari- Estrutura Célula
eucariótica
ótica tenha sido a perda da capacidade de produzir a parede Membraba plasmática Presente Presente
celular. A célula, então, desprovida dessa parede, adquiriu Citosol Presente Presente
a capacidade de mudar de forma, crescer e envolver subs- Ribossomos Presente Presente
tâncias extracelulares através da invaginação da membrana Endomembranas Ausente Presente
plasmática, fenômeno conhecido por endocitose. Envoltório nuclear Ausente Presente
A invaginação da membrana plasmática desenvolve um con- Mitocôndria Ausente Presente
junto de endomembranas que se diferenciam no retículo en- Cloroplasto Ausente
Presente em
vegetais e algas
doplasmático, no sistema golgiense e no envoltório nuclear,
contornando o material genético (DNA). Desenvolve-se o cito- Cromossomo 1 por célula 2 ou mais por célula
esqueleto constituído por proteínas do tipo tubulina e actina,
DNA Circular Línear
dando maior sustentação à célula. Os ribossomos, inicialmente
livres, aderem-se às membranas do retículo endoplasmático,
constituindo o retículo endoplasmático granuloso (rugoso). 6.1. Teoria da endossimbiose
Células procarióticas primitivas são fagocitadas e evoluem A endossimbiose é um fenômeno comum entre os seres
para dar origem às mitocôndrias. Células procarióticas de cia- vivos. Um dos casos mais curiosos ocorre com os corais,
nobactérias, por meio da fagocitose, são englobadas, originan- celenterados que se associam a protistas unicelulares, as
do os cloroplastos. Material genético dessas bactérias (DNA) zooxantelas. Estas são dinoflagelados, com células douradas,
são também incorporados ao DNA da célula que está em evo- que realizam fotossíntese, produzindo alimento necessário
lução. Aí está formada, ao longo do tempo, uma célula euca- ao crescimento dos recifes de corais. Como as zooxantelas
riótica autotrófica. A evolução dessa célula eucariota primitiva realizam fotossíntese, elas precisam de luz, e, por isso, os co-
continua com o aparecimento da parede celular composta rais vivem em águas tropicais, limpas e a pequenas profun-
principalmente por celulose característica de vegetais. didades. Outro exemplo é são as mitocôndrias, presentes em
células animais e vegetais, que acredita-se que sejam bacté-
DNA rias fagocitadas no passado e que viveram em simbiose com
aquelas células, realizando respiração celular.
Célula procariótica Essa mesma relação simbiótica observa-se entre as células ve-
getais e as cianobactérias que, de acordo com a teoria da en-
dossimbiose, foram e transformaram-se em cloroplastos. As
provas que confirmam a teoria endossimbiótica da origem dos
cloroplastos e mitocôndrias são:
Invaginação da membrana celular e
eucariótica com a célula de DNA
envolvente formada ƒ Presença do DNA circular, típico de bactérias;

ƒ Presença de ribossomos para a síntese de suas proteínas;


DNA
ƒ Capacidade de autoduplicação.

Eucariótica primitiva

Respiração oxigenada
com enzimas bacterianas

Mitocôndria
endossimbiose

Cianobactéria

Cloroplasto
endossimbiose

Origem da célula eucariótica e a representação


da teoria da endossimbiose

77
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 16
Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização
taxonômica dos seres vivos.

Esta questão envolve o entendimento da reprodução assexuada e como esse tipo de padrão biológico
pode proporcionar vantagens em ambientes desfavoráveis.

MODELO 1
(Enem)

FERNANDO GONSALES. VÁ PENTEAR MACACOS! SÃO PAULO: DEVIR, 2004.

São características do tipo de reprodução representado na tirinha:


a) simplicidade, permuta de material gênico e variabilidade genética.
b) rapidez, simplicidade e semelhança genética.
c) variabilidade genética, mutação e evolução lenta.
d) gametogênese, troca de material gênico e complexidade.
e) clonagem, gemulação e partenogênese.

ANÁLISE EXPOSITIVA
O tipo de reprodução representado na tirinha é a assexuada, que é rápida, simples e possui semelhança genética entre as
células geradoras e geradas. É comum pensar que, pelo aspecto evolutivo, esse tipo de reprodução não é vantajoso, devido
à ausência de variabilidade genética. No entanto, em algumas situações, a reprodução assexuada pode ser uma grande
vantagem. Por exemplo, em uma população com número reduzido de indivíduos, esse tipo de reprodução pode ser muito
importante para garantir a não extinção, aumentando rapidamente o número de indivíduos.

RESPOSTA Alternativa B

78
DIAGRAMA DE IDEIAS

REINO
MONERA

BACTÉRIAS CIANOBACTÉRIAS

• AERÓBIAS AUTÓTROFAS
• ANAERÓBIAS (FOTOSSINTETIZANTES)
ALCOÓLICA
FERMENTAÇÃO BACTERIOCLOROFILA
LÁCTICA
FOTOSSISTEMA SIMPLES
ALGUMAS FAZEM
QUIMIOSSÍNTESE

REPRODUÇÃO

ASSEXUADA
IMPORTÂNCIA (BIPARTIÇÃO)
DAS BACTÉRIAS SEXUADA
(CONJUGAÇÃO)
• DECOMPOSIÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA
• ANTIBIÓTICOS E VITAMINAS
• FIXAÇÃO DE N2
MORFOLOGIA
• BIOTECNOLOGIA

• COCOS ESTREPTOCOCOS
• BACILOS ESTAFILOCOCOS
• ESPIRILOS
DOENÇAS • VIBRIÃO
BACTERIANAS

• CÓLERA MORFOLOGIA
• COQUELUCHE
• DIFTERIA • CROMOSSOMO DNA CIRCULAR
• DISENTERIAS
• FEBRE MACULOSA • PLASMÍDEO DNA CONFERE VANTAGENS SELETIVAS
• FEBRE TIFOIDE (RESISTÊNCIA A ANTIBIÓTICOS)
• GONORREIA
• HANSENÍASE • MESOSSOMO INVAGINAÇÕES DA MEMBRANA
• LEPTOSPIROSE DIVISÃO CELULAR
• MENINGITE RESPIRAÇÃO
• PNEUMONIA • RIBOSSOMOS SÍNTESE PROTEICA
• TUBERCULOSE • PAREDE CELULAR GRAM-POSITIVAS
GRAM-NEGATIVAS

79
1.1. Rizópodes (sarcodinos)
AULAS 7 e 8 Rizópodes são protozoários muito pequenos, que podem me-
dir, no máximo, meio milímetro. Eles se deslocam por estruturas
chamadas pseudópodes e se reproduzem por cissiparida-
de. Um exemplo é a Entamoeba histolystica, causadora da
amebíase, doença que pode causar disenteria e processos
REINO PROTOCTISTA I: inflamatórios, levando à desidratação.

PROTOZOÁRIOS Vacúolo
contrátil

Ectoplasma

COMPETÊNCIAS: 4e8 Endoplasma

HABILIDADES: 16 e 29 Vacúolo
digestivo

Pseudópodo

1. Protoctistas heterótrofos: Núcleo

Pseudópodo Medula
protozoários Axópodos
Os protozoários são classificados no Reino Protoctista,
contudo, por uma “licença didática”, eles serão discutidos
junto aos metazoários (animais). Como a maioria desses se- Córtex
res são heterótrofos, alguns autores afirmam que são animais.
Vacúolo
Eles se caracterizam por serem unicelulares, eucarion- digestivo

tes e viverem isolados ou em colônias. Neles, todas as


Exemplares de amoebas
funções vitais são executadas por uma única célula,
o que determina o surgimento de uma série de dife-
renciações celulares relativas às funções de nutrição, Entre as muitas espécies de amebas próximas ao ser hu-
proteção, locomoção, etc. Essas diferenciações, seme- mano, a Entamoeba histolytica é a principal espécie pa-
lhantes às dos órgãos de animais, são chamadas de togênica, com ampla distribuição geográfica, acometendo
organelas celulares. Vivem no mar e na água doce, 10% da população mundial e a segunda maior causadora
existindo espécies parasitas. de morte no mundo por infecção por protozoários.
Os protozoários são divididos em quatro classificações, Náuseas, vômitos, cólicas intestinais e disenteria aguda,
de acordo, principalmente, com o modo de locomoção com muco e sangue nas fezes, são os sintomas mais
ou com a forma de reprodução típica. Observe a diversi- comuns da amebíase. Existem casos em que a ameba
dade de protozoários: pode passar a parasitar outras regiões do organismo,
como fígado e pulmões, mas é assintomática na maioria
da população.
A contaminação é direta, não envolvendo um vetor, e ocorre
pela ingestão de água ou alimentos contaminados por cis-
Paramécio Balantídeo Tripanossomo tos, que são as formas celulares de infecção das amebas.
Os cistos passam pelo estômago e, quando resistem à ação
do suco gástrico, chegam ao intestino delgado, onde ocorre
o desencistamento que libera trofozoítos, formas celulares
capazes de aderirem ao intestino. Em seguida, migram para
Giárdia Ameba o intestino grosso e ali se estabelecem. Normalmente, ade-

80
rem à mucosa do intestino e se alimentam de detritos e bac- consegue sobreviver heterotroficamente. Afirma-se, então,
térias. Em determinadas condições, invadem a mucosa intes- ser um autótrofo facultativo. Também já foram classificados
tinal, dividindo-se ativamente no interior das úlceras. Nesses como algas: as euglenoides.
casos, podem atingir outros órgãos através do sistema por-
ta-hepático. A liberação de sangue nas fezes é consequência 1.2.2. Trypanosoma cruzi
da ruptura de vasos sanguíneos da mucosa intestinal.
Esse protozoário é o causador da doença de Chagas,
A prevenção é realizada por meio da higiene das mãos e sendo transmitido pela picada do inseto Triatoma infes-
dos alimentos, da construção de redes de coleta e trata- tans (barbeiro), que é hematófago e de hábito noturno.
mento de esgosto e do tratamento das pessoas infectadas. A picada do inseto não transmite a doença, pois
Cistos maduros
1
i d
nas suas glândulas salivares não existe a forma infec-
i = Estágio Infectivo
tante. Depois de picar e sugar o hospedeiro, o barbeiro
d = Estágio Diagnóstico
Ingestão
elimina fezes infectadas com tripanosomas próximo ao
Desencistação A = Colonização não invasiva

2 B = Doença intestinal
local da picada. O próprio hospedeiro, ao coçar-se, por
C = Doença extraintestinal exemplo, pode introduzir as fezes contaminadas nas
Trofozoíto
3
mucosas, facilitando a penetração dos tripanosomas.
d
Multiplicação

4
Cistos

d
3
d Trofozoíto A
d
C
d
d
B
d

3 4
d
Fezes
2
i d

CICLO BIOLÓGICO DA ENTAMOEBA HISTOLYTICA

1.2. Flagelados (mastigóforos)


Flagelados são protozoários que se locomovem por meio
de flagelos – apêndices filiformes que, com movimentos
IMAGEM MICROSCÓPICA DO TRYPANOSOMA CRUZI EM AMOSTRA DE SANGUE.
helicoidais, impulsionam a célula em meio líquido. Eles se
reproduzem por cissiparidade ou divisão binária. A maioria Outras formas de contato são transfusões sanguíneas,
é de vida livre, sendo abundantes na água doce e nos ma- transmissão na vida intrauterina por meio de gestantes
res; outros vivem como parasitas. Durante seu ciclo evoluti- contaminadas e ingestão de alimentos contaminados com
vo, o protozoário pode apresentar formas variadas. o próprio vetor ou fezes do mesmo, ao serem triturados
Grânulo
basal
junto ao açai ou ao caldo de cana.
Membrana
ondulante
A doença possui duas fases: um aguda e outra crônica.
Na fase aguda, o local da picada pelo vetor torna-se ver-
Flagelo

C
Corpúsculo
melho e endurecido, constituindo o chamado chagoma,
cerebral
nome dado à lesão causada pela entrada do Trypanosoma.
Núcleo
ú l
Quando essa lesão ocorre próxima aos olhos, leva o nome
de sinal de Romaña. Geralmente, o chagoma acompa-
nha uma íngua próxima à região.
FORMA MASTIGOTA (COM FLAGELO)
Após o período de incubação, outros sintomas surgem
Veja os principais exemplos dessa classe:
como febre, ínguas e inflamações locais na pele e em ór-
gãos como o fígado. Em casos mais graves, pode ocorrer
1.2.1. Euglena viridis insuficiência cardíaca. Os casos fatais, que são raros, ocor-
Esse protozoário não é patogênico ao homem. Apresen- rem nessa fase, em decorrência da inflamação do coração
ta cloroplasto e, na presença de luz, é autótrofo. Contudo, ou do cérebro.

81
Ciclo do Trypanosoma cruzi Ciclo do Trypanosoma cruzi
em triatomíneos em humanos e outros mamíferos

Tripomastigotas metacíclicos
Picada
Transformação em amastigotos
Tripomastigotas metacíclicos (dentro das células, proliferação)
(indutivo)

Multiplicação Trypanosoma cruzi


(no intestino) Pode infectar
novas células

Amastigotos intracelulares se
ransformam em trypomastigotos
e invadem a correte sanguínea

Epimastigotas
(no intestino)

CICLO DE VIDA DO TRYPANOSOMA CRUZII

Mesmo sem tratamento, os sintomas da fase aguda desa- 1.2.3. Giardia lamblia
parecem depois de semanas ou meses. Entretanto, o pa-
Mais frequente em crianças do que em adultos, a giar-
rasita pode continuar no corpo, o que pode ocorrer com
díase é uma parasitose que ocorre no intestino desses
casos assintomáticos, de forma que a pessoa permanece
indivíduos. Seu agente etiológico é a Giardia lamblia, um
durante muitos anos, ou mesmo a vida inteira, sem apre-
protozoário flagelado e com incidência mais alta em cli-
sentar sintomas, sendo diagnosticada somente em testes
mas tropicais e subtropicais.
de laboratório.
A giardíase pode provocar náusea, cólicas, diarreia e febre.
Nesses casos, a detecção do parasita no sangue torna-se
Em alguns casos, o estado agudo da doença pode durar
mais difícil e a identificação costuma ocorrer pela presença
meses, levando à má absorção de várias substâncias, in-
de anticorpos.
clusive vitaminas, como as lipossolúveis (vitaminas D, E, K
Com isso, inicia-se a fase crônica da doença, na qual as ma- e A, por exemplo).
nifestações são arritmia e perda progressiva da capacidade
A contaminação ocorre quando a pessoa ingere os cistos
de bombeamento do coração, consequência de lesões na
maduros. Os cistos podem estar na água (mesmo que
musculatura do órgão que enjirece e tende a aumentar de
clorada), nos alimentos contaminados ou nas mãos con-
tamanho para continuar funcionando.
taminadas. As medidas preventivas devem ser as mesmas
Outros órgãos também podem aumentar e comprometer tomadas contra a amebíase, uma vez que a contaminação
suas funções, configurando a Síndrome de Megas, já que o ocorre por meio da ingestão de cistos.
parasita gera inflamações no esôfago e no intestino grosso,
Trofozoíto se multiplica
por exemplo. por fissão binária

As medidas preventistas são de eliminação ou controle do


vetor, o que ocorre por meio da melhoria das habitações Intestino grosso
Excistação
rurais que servem de abrigo para o inseto e por meio de
adoção de práticas de higiene em processamento artesa- Intestino delgado

nal de alimentos, em especial frutas. Encistação


Contato por ingestão
de cisto

infecção por cisto


Cisto e trofozoídos
contaminados nas fezes

Ciclo biológico da Giardia Lamblia

1.2.4. Leishmania
O protozoário causador da Leishmaniose é transmitido pela
TRIATOMA INFESTANS (INSETO BARBEIRO) picada da fêmea do mosquito hematófago do gênero

82
Phlebotomus (mosquito-palha ou birigui). Entre as principais Dividem- se no intestino e
migram para a probóscide
espécies de protozoários parasitas do gênero Leishmania, po- Promastigotas se transformam
em amastigotas
dem ser destacadas a Leishmania braziliensis, a Leishmania Promastigotas são fagocitados
donovani e a Leishmania tropica. O principal grupo celular que por macrófagos

infectam são os macrófagos e, em seguida, infectam outras


células. Apresentam, como sintomas, três tipos de lesões: cutâ-
neas similares às das fotos abaixo, mucocutâneas e viscerais.

Amastigotas se transformam Amastigotas multiplicam- se


em promastigotas no intestino nas células de vários tecidos
e infectam outras células
O flebotomíneo ingere sangue
com células infectadas

CICLO DE VIDA DE LESHIMANIA SPP

VIVENCIANDO

A geografia é uma ferramenta importante na compreensão da distribuição de protozoários, uma vez que o clima pode
influenciar quais protozoários podem ser encontrados no ecossistema. A distribuição geográfica das espécies na Terra é
determinada por diversos parâmetros do ambiente, como luz, temperatura, umidade, entre outros. Organismos de uma
determinada espécie serão encontrados em regiões que ofereçam condições necessárias para sua sobrevivência. Por
exemplo, a malária é uma doença tropical causada pelo protozoário Plasmodium sp, parasita que encontrou condições
ambientais favoráveis nos trópicos e se proliferou pela América do Sul, América Central, África e Ásia. O clima tropical
faz parte dessas regiões, onde a temperatura é elevada, os verões são quentes e úmidos e os invernos têm temperaturas
menores e queda no índice de precipitação. Esse quadro climatológico fornece condições para a proliferação do vetor
transmissor e do hospedeiro definitivo da malária, fechando assim o ciclo de vida do parasita.

1.3. Ciliados Vacúolo contráctil


Macronúcleo
Vacúolo
Trata-se de protozoários que se locomovem por meio de cílios digestório
e apresentam reprodução por cissiparidade e conjuga-
ção. Um típico representante é o paramécio. Nele, observa-se
a existência de uma depressão – a goteira ou sulco oral – que
leva as partículas alimentares até uma abertura (citóstoma) Micronúcleo
que continua pela citofaringe, um canal que forma, na ex-
Tricocistos
tremidade, o vacúolo digestório. O citopígeo é uma abertura
usada para eliminar restos alimentares existentes no vacúolo Citóstoma

digestório. Além dos vacúolos contrácteis, evidenciam os dois Citopígeo


núcleos: o macronúcleo, relacionado à nutrição; e o micronú- REPRESENTAÇÃO DE UM PARAMÉCIO
cleo, envolvido com a reprodução. O paramécio se reproduz
assexuadamente, por bipartição, e sexuadamente, por con-
jugação. Nesse caso, acontece a fusão temporária de dois
1.4. Esporozoários
indivíduos, entre os quais se formam pontes citoplasmáticas Esses protozoários não possuem organelas de loco-
para trocas de partes dos micronúcleos. Depois da troca e da moção, portanto, são parasitas e apresentam reprodução
fusão de micronúcleos, os paramécios separam-se e dividem- sexuada por esporulação. É possível citar como exemplo os
-se duas vezes, produzindo um total de oito indivíduos. plasmódios e o toxoplasma.

83
O Toxoplasma gondii é o causador da toxoplasmose e é transmitido pela urina de gatos, ratos e também pela ingestão
de carne contaminada.
No Brasil, o Plasmodium vivax, o Plasmodium falciparium e o Plasmodium ovale são causadores da malária. Os protozoários são
transmitidos pela picada da fêmea do mosquito do gênero Anopheles (mosquito-prego).
O ciclo de vida do plasmódio apresenta uma fase de reprodução assexuada, novidade em relação aos outros protozoários.
Há os gametócitos, formas celulares que se fundem dentro do corpo do vetor formando um zigoto, como é possível ver na
imagem abaixo.Também há a reprodução assexuada que ocorre por várias divisões do núcleo seguidas da fragmentação do
citoplasma, denominada divisão múltipla ou esquizogonia.
A infecção pelo parasita ocorre nas células do sangue, as hemácias, e também há um ciclo hepático no qual o plasmódio
infecta hepatócitos e também podem-se multiplicar, eliminando mais parasitas pela lise da célula.
Ciclo de transmissão da malária
6. Quando o mosquito morde uma
pessoa infectada, os gametócitos são
5. Outros merozoítos se absorvidos e amadurecem no intestino
transformam em precursores do mosquito
de gametas de machos e fêmeas

7. Os gametócitos do macho
e da fêmea se fundem e
3. Os merozoítos infectam os formam um ookinete (Zigoto)
glóbulos vermelhos, onde se
desenvolvem em forma de
anéis trofozoítos e esquizontes No Mosquito

No Humano
8. Os zigotos se desenvolvem
e novos esporozoítos que migram
em
3. No fígado, o esporozoíto para as glândulas salivares do inseto
se reproduz de forma assexuada
(esquizogonia), produzindo Células infectadas

milhares de merozoítos 1. O Mosquito transmite os


esporozoítos móveis
2. O esporozoíto viaja
através das vias sanguíneas
até as células do fígado

1.5.2. Sexuada (conjugação)


Em ciliados, como o paramécio, ocorre uma troca de ma-
terial genético, que permite um aumento da variabilidade.
Essa troca se dá com o emparelhamento dos dois indivídu-
os e a formação de uma ponte citoplasmática.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
O ciclo do plasmódio no interior do mosquito Anopheles

CONJUGAÇÃO EM PROTOCTISTAS
1.5. Reprodução
1.5.1. Assexuada (divisão binária) 1.6. Encistamento
É a forma de reprodução mais comum entre os protoctistas
O encistamento inicia-se com a desidratação do cito-
unicelulares. A partir de um indivíduo, ocorre a duplicação
plasma do protozoário que diminui de volume e secreta
do núcleo e posterior divisão do citoplasma. O indivíduo
uma membrana resistente que o isola do meio externo.
gerado possui a mesma bagagem genética do indivíduo
Assim, o protozoário transforma-se num cisto que pode
que o gerou. Nessa forma de reprodução, a variabilidade
ser transportado pela água e pelo vento, favorecendo a
pode ocorrer pelo fenômeno de mutação gênica.
disseminação das espécies até em condições ambien-
tais desfavoráveis. Esses protozoários desincestam em
condições ambientais favoráveis, ou seja, no local ade-
DIVISÃO BINÁRIA EM PROTOCTISTAS quado de seu hospedeiro.

84
CISTOS DE AMEBAS

Principais protozooses
Local de infecção
Parasita Classificação Doença Transmissão Profilaxia
e sintomas
medidas de saneamento,
Entamoeba rizópode amebíase ƒ intestino grosso alimentos e água
higiene pessoal e com
histolytica (pseudopodes) (disenteria) ƒ ulcerações e diarreia contaminada
os alimentos

medidas de saneamento,
giardíase ƒ intestino delgado alimentos e água
Giardia lamblia flagelado higiene pessoal e com
(disenteria) ƒ dores abdominais e diarreia contaminada
os alimentos

medidas de saneamen-
Balantidi- balantidiose ƒ intestino alimentos e água
ciliado to, higiene pessoal e
um coli (disenteria) ƒ diarreia contaminada
com os alimentos

úlcera de ƒ vias respiratórias


Leishmania picada da fêmea do telas, repelentes, habitações longe
flagelado Bauru ou ƒ lesões nas mucosas da boca e do
brasiliensis mosquito-palha de matas
Leishmaniose nariz

ƒ uretra e próstata (homem); vagina


Trichomonas relação sexual, higiene pessoal, com piscinas e
flagelado tricomoníase (mulher)
vaginalis sanitários e piscinas sanitários, uso de preservativos
ƒ uretrite e corrimentos

Trypanosoma doença ƒ sangue e sistema nervoso picada da


flagelado combate à mosca
gambiensis do sono ƒ lesões nas meninges mosca-tsé-tsé

fezes de animais evitar contato com


ƒ mal-estar, prostração, febre; no feto
Toxoplasma domésticos (gatos animais domésticos (fezes
esporozoário toxoplasmose pode causar retardamento mental,
gondii em geral) e via e urina), principalmente
cegueira e hidrocefalite
placentária para mulher gestante

melhorar as condições de
Trypanoso- doença de ƒ corrente sanguínea
flagelado fezes do barbeiro habitação, eliminando ou
ma cruzi Chagas ƒ inflamação no coração e/ou cérebro
evitando contato com o vetor
picada da fêmea
ƒ hemáceas repelentes, telas, combate
Plasmodium esporozoário malária do mosquito-prego
ƒ inflamação no fígado ao vetor
(Anopheles)

85
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

“Maré vermelha é um fenômeno que acontece em todos os mares do Planeta, e é caracterizado pelo excesso do apareci-
mento de algas. Parte do fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, as algas microscópicas aumentam em grandes
proporções, fazendo com que o fenômeno aconteça. A floração, como é chamado esse aumento excessivo das algas, vem
acompanhada da liberação de substâncias tóxicas que podem ocasionar a morte de animais aquáticos, além da intoxicação
de pessoas que se alimentem de animais contaminados. O fenômeno é chamado de maré vermelha devido à coloração das
algas que aparecem em maior quantidade nesse tipo de floração – marrons e vermelhas – que acabam por alterar a colora-
ção das águas também. Quando acontece a maré vermelha, é possível a visualização de manchas avermelhadas nas águas.
A maré vermelha é um acidente ecológico que acontece em decorrência de alguns fatores, como a alteração da sali-
nidade, oscilação da temperatura, além do excesso de sais minerais que são ocasionados pelo escoamento de esgoto
doméstico, alterando as condições abióticas do mar, afetando, consequentemente, o comportamento de espécies que
vivem no local, inclusive as planctônicas.”
Dessa forma, os protistas podem ser usados como bioindicadores da qualidade da água nos oceanos.
(HTTP://WWW.ESTUDOPRATICO.COM.BR/MARE-VERMELHA-COMO-SE-DA-ESSE-FENOMENO/)

86
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 29
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a
saúde, a produção de alimentos, matérias-primas ou produtos industriais.

Neste exercício, é fundamental a análise correta de experimentos. Entender como funciona um grupo de controle
(mosquitos não expostos) e um grupo experimental (mosquitos expostos) e o que o resultado apresentado pode
fornecer sobre, por exemplo, a utilização de seres vivos como controles biológicos.

MODELO 1
(Enem) Foram publicados recentemente trabalhos relatando o uso de fungos como controle biológico de mos-
quitos transmissores da malária. Observou-se o percentual de sobrevivência dos mosquitos Anopheles sp após
exposição ou não a superfícies cobertas com fungos sabidamente pesticidas, ao longo de duas semanas. Os
dados obtidos estão presentes no gráfico abaixo.

No grupo exposto aos fungos, o período em que houve 50% de sobrevivência ocorreu entre os dias:
a) 2 e 4
b) 4 e 6
c) 6 e 8
d) 8 e 10
e) 10 e 12

ANÁLISE EXPOSITIVA
Reduzir a transmissão por meio do mosquito Anopheles sp é uma das maneiras mais eficientes de combater
a malária. Muitos estudos publicados em revistas científicas se utilizam de gráficos com o intuito de
facilitar a visualização e o entendimento do leitor. O experimento foi realizado por meio da utilização de
um fungo para combater o mosquito transmissor. Foram utilizados 2 grupos, um no qual os mosquitos
não foram expostos ao fundo (grupo controle) e outro no qual o fungo estava junto com os mosquitos
(grupo experimetal). Ao longo do tempo, no grupo em que o fungo estava presente, a porcentagem de
sobrevivência dos mosquitos começou a diminuir a partir do dia 6. O período no qual houve 50% de
sobrevivência foi entre os dias 8 e 10.

RESPOSTA Alternativa D

87
DIAGRAMA DE IDEIAS

• HETERÓTROFOS ENCISTAMENTO
• EUCARIONTES CONDIÇÕES
• ISOLADOS OU COLÔNIAS DESFAVORÁVEIS

PROTOZOÁRIOS

REPRODUÇÃO

• SEXUADA CONJUGAÇÃO
• ASSEXUADA BIPARTIÇÃO
CISSIPARIDADE

MEIOS DE LOCOMOÇÃO
(CLASSIFICAÇÃO)

ESPOROZOÁRIOS
CILIADOS
NÃO POSSUEM ESTRUTURAS
PARA LOCOMOÇÃO
CÍLIOS
PLASMODIUM VIVAX
POSSUEM MACRONÚCLEO
(MALÁRIA)
E MICRONÚCLEO
INFECÇÃO (NUTRIÇÃO E REPRODUÇÃO)
PICADA DA FÊMEA DO
MOSQUITO ANOPHELES SP

RIZÓPODES
FLAGELADOS (SARCONDINOS)
(MASTIGÓFOROS)
PSEUDÓPODES
FLAGELOS ENTAMOEBA HISTOLYTICA
EUGLENA VIRIDIS (AMEBAS)
AMEBÍASE
TRYPANOSOMA CRUZI INFECÇÃO
FEZES DO BARBEIRO
(DOENÇA DE CHAGAS) SINTOMAS
• DORES INTESTINAIS
GIARDIA LAMBLIA INFECÇÃO INGESTÃO DE ALIMENTOS
• INFLAMAÇÃO
(GIARDÍASE) CONTAMINADOS
INFECÇÃO
LEISHMANIA SP INFECÇÃO PICADA DO MOSQUITO • INGESTÃO DE ALIMENTOS
(EISHMANIOSE) PHLEBOTOMUS CONTAMINADOS

88
CITOLOGIA

89
INCIDÊNCIA DO TEMA NAS PRINCIPAIS PROVAS

O DNA e seus processos (transcrição e tradução) É a segunda área de maior destaque na prova,
são pontos fundamentais para resolver questões na qual os assuntos como núcleo, DNA e sín-
de biotecnologia. A bioquímica básica tem seu tese proteica têm grande destaque. Questões
destaque dentro de assuntos da atualidade, de interpretação de esquemas de células e
como clonagem e terapia gênica. Metabolismo identificação de funções de organelas celula-
energético são assuntos com res são bem frequentes.
presença garantida.

Diferenciação entre os tipos celulares, Função e reconhecimento de organelas são Dificilmente há uma prova da Unesp que
comparação entre os processos bioquímicos essenciais nesta prova, além de ter conheci- não caia bioquímica. Normalmente abordam
e fisiológicos são pontos fortes desta prova. mento sobre a bioquímica estrutural básica metabolismo energético, porém para entender
Mais uma vez, a bioquímica básica será base de cada uma. esse conteúdo é essencial o conhecimento da
para a compreensão desses assuntos. bioquímica básica.

Metabolismo energético (respiração celular Prova com questões que misturam diferentes Metabolismo energético, funções das organelas Citologia é um dos assuntos mais presente,
e fotossíntese), citologia (divisões celulares e áreas da Biologia. Destacam-se os conteúdos citoplasmáticas, divisões celulares e transporte sendo que há questões sobre funções de
funções de organelas) e bioquímica (síntese relacionados a metabolismo energético através da membrana são conteúdos sempre organelas, transporte através de membrana,
proteica e ácidos nucleicos) são bastante (respiração celular e fotossíntese), organelas presentes nesse vestibular. divisões (mitose e meiose) e metabolismo
presentes. citoplasmáticas e bioquímica básica. energético. Nos últimos anos, também houve
maior frequência de questões
sobre bioquímica.

UFMG

É uma prova com questões interdisciplinares Questões com alto nível de especificidade, Apresenta muitas questões relacionadas à bio-
que cobram conteúdos altamente específicos. sendo citologia um dos temas mais comuns. química básica e divisões celulares. Aparecem
Aborda conteúdos de bioquímica, principal- Estão presentes conteúdos como funções também questões sobre funções de organelas
mente DNA e síntese proteica, e citologia, das organelas, divisões celulares, transporte e transporte através de membrana.
como transporte através da membrana e através da membrana e metabolismo
divisões celulares. energético.

A bioquímica tem forte presença nesta prova, Com perfil similar à Fuvest e questões bem Prova com ênfase em citologia e genética. Na
abordando estrutura e exemplos de lipídeos, específicas, os temas mais frequentes são área de citologia, os assuntos mais abordados
carboidratos e proteínas; o dogma central da respiração celular e fotossíntese e funções são metabolismo energético (respiração celu-
Biologia e a síntese proteica são conteúdos bem das organelas citoplasmáticas (e como elas lar e fotossíntese), bioquímica (principalmente
abordados. No campo da citologia, podemos estão relacionadas com a especialização das ácidos nucleicos) e as divisões celulares.
destacar também fisiologia celular células).
e os processos de
divisão.
2. Água
AULAS 1 e 2 A água é considerada um solvente universal, sendo o
principal componente inorgânico de qualquer ser vivo. O
ambiente intracelular é aquoso, o que é essencial para a
ocorrência das reações químicas e metabólicas. A água
também ajuda a evitar variações bruscas de temperatu-
COMPOSIÇÃO QUÍMICA ra, atuando na termorregulação dos seres vivos, pois
apresenta valores elevados de calor específico, calor de
CELULAR I vaporização e calor de fusão. Nos processos de trans-
porte de células e de substâncias, intra e extracelu-
lares, a água tem importante participação, assim como na
eliminação de excretas celulares. Em regiões onde
há atrito, como nas articulações, a água também tem
COMPETÊNCIA: 4 função lubrificante.
A quantidade de água varia de acordo com a taxa meta-
HABILIDADE: 14 bólica. Quanto maior a atividade química (metabolismo) de
um órgão, maior o teor hídrico. Por exemplo, o encéfalo do
embrião. Observe a tabela a seguir:

1. Introdução Porcentagem de água das estruturas do ser humano


A Citologia (do grego "kytos = célula" e "logos = estudo") estrutura orgânica teor da água (%)
é a área da biologia que estuda os processos de funciona-
encéfalo de embrião 92
mento das células, bem como sua estrutura e composição.
A análise do conteúdo celular revela a existência de com-
músculos 83,4
ponentes minerais e orgânicos. Os primeiros compreen-
dem a água e os sais minerais. Já os componentes orgâni- cérebro 77,8
cos, muitas vezes chamados de macromoléculas, podem ser
agrupados em quatro categorias: açúcares (ou carboidra- pulmões 70,9
tos), lipídios, proteínas e ácidos nucleicos.
coração 70,9
Os ácidos nucleicos estão presentes nas células de qual-
quer organismo e suas quantidades são variáveis entre osso 48,2
espécies diferentes. Os detalhes e a causa dessa variação
serão apresentados mais adiante e, por essa razão, não es- dentina 12
tão presentes na tabela a seguir:
O encéfalo do embrião tem 92% de água, e o do adulto,
Componentes químicos das células 78%. A taxa de água, em geral, decresce com a idade e,
também, com a espécie. Por exemplo, na espécie humana
há 64% de água; nas medusas, 98%; nos esporos e se-
células mentes vegetais, 15%.
células
constituintes vegetais
animais (%)
(%)
2.1. Propriedades físicas da água
água 60 75
ƒ Coesão – Trata-se da capacidade de uma substância
substâncias minerais 4,3 2,45
permanecer unida, resistindo à separação. Uma gota
de água sobre um folha, por exemplo, forma uma es-
glicídios 6,2 18 pécie de película. Isso ocorre pois as moléculas estão
substâncias
fortemente ligadas umas às outras. Essa força de atra-
lipídios 11,7 0,5
orgânicas ção entre as moléculas gera um fenômeno chamado
proteínas 17,8 4
tensão superficial. Entre todos os líquidos, a tensão su-
perficial da água está entre as mais fortes. Observe na

91
figura a seguir que os insetos não afundam. Isso ocorre O zinco colabora na conservação do cabelo e da pele,
devido a uma espécie de membrana ultrafina que se além de auxiliar nas cicatrizações. É encontrado em peque-
forma na superfície da água. nas quantidades em diversos alimentos.
O selênio, por sua vez, é encontrado em carnes, peixes e
vegetais. Ele é responsável por diminuir os riscos de alguns
tipos de câncer, além de proteger as células contra subs-
tâncias oxidantes. A quantidade de selênio nos vegetais é
correlacionada com o teor desse mineral no solo.
Veja outros exemplos na tabela a seguir:

Principais sais minerais das células

DEVIDO À TENSÃO SUPERFICIAL, ALGUNS INSETOS Componente dos ossos e dentes. Ativador de
POUSAM SOBRE A ÁGUA E NÃO AFUNDAM.
Cálcio (Ca2+) enzimas, participa de processos como a con-
tração muscular e a coagulação.
ƒ Adesão – A água tem a tendência de se unir a moléculas
polares, e isso ocorre devido à sua polaridade. Essa atração Magnésio Faz parte da molécula de clorofila; é necessário,
recebe o nome de adesão. As moléculas de água não se li- (Mg2+) portanto, à fotossíntese.
gam a moléculas apolares, não havendo adesão. Por isso, ela Presente na hemoglobina do sangue, pigmen-
não se distribui igualmente sobre uma superfície encerada to fundamental para o transporte de oxigênio.
e forma gotículas separadas sobre elas, pois a cera é apolar. Ferro (Fe2+) Componente de substâncias importantes na
respiração e na fotossíntese (citocromos e fer-
rodoxina).
ƒ Capilaridade – Trata-se de um fenômeno físico resultante
Tem concentração intracelular sempre mais
das interações entre as forças de adesão e coesão da molé- baixa que nos líquidos externos. A membrana
cula de água. É devido à capilaridade que a água desliza por plasmática, por transporte ativo, constante-
tubos ou entre poros de alguns materiais, como o algodão. Sódio (Na+) mente bombeia o sódio, que tende a penetrar
por difusão facilitada. Importante componente
Quando se coloca um tubo fino em contato com água, o da concentração osmótica do sangue junta-
líquido tende a subir pelas suas paredes devido às forças de mente com o K+.
adesão e coesão. A adesão está relacionada com a afinidade É mais abundante dentro das células. Por trans-
porte ativo, a membrana plasmática absorve
entre o líquido e a superfície do tubo. A coesão as mantém o potássio do meio externo. Os íons sódio
unidas, arrastando umas às outras pela coluna, elevando o Potássio (K+) e potássio estão envolvidos nos fenômenos
nível de água. Esse fenômeno é muito utilizado pelas plantas elétricos que ocorrem na membrana plasmáti-
ca, na concentração muscular e na condução
no transporte de substâncias da raiz até as folhas. nervosa.
Componente dos ossos e dentes. Está no ATP,
molécula energética das atividades celulares.
3. Sais minerais Fosfato (PO4 ) –3
É parte integrante do DNA e RNA, no código
genético.
Como o ambiente intra e extra celular é aquoso, os sais mi- Componente dos neurônios (transmissão de
nerais presentes ali encontram-se dissociados em cátions Cloro (Cℓ–) impulsos nervosos).
(íons carregados positivamente) e ânions (íons carregados
negativamente). Em uma célula, os sais minerais podem Iodo (I–) Entra na formação de hormônios tireoidianos.

ser encontrados de duas formas simples: fixas como com-


ponentes de estruturas esqueléticas (osso, casca de ovos,
etc.) e ionizada ou dissociada. 4. Polímeros
Zinco, cobre, selênio e flúor devem ser ingeridos dia- Dentre os compostos orgânicos já citados anteriormente, os
riamente, pois desempenham um importante papel no carboidratos, proteínas e ácidos nucleicos são considerados
controle do metabolismo ou na manutenção da função polímeros. Polímeros são moléculas de alto peso molecular
de tecidos orgânicos. (também chamadas de macromoléculas) formadas por uma
cadeia de moléculas menores, chamadas de monômeros.
O cobre tem relação com as diversas pigmentações em
nosso corpo, além de proteger a pele. Ele está presente em Os monômeros que formam os carboidratos são chama-
alimentos como feijão, ervilhas, castanhas, uvas, cereais e dos de monossacarídeos, enquanto os monômeros que
pão integral. formam as proteínas são chamados de aminoácidos, e, por

92
fim, os monômeros que formam os ácidos nucleicos são plantas sintetizam seus próprios carboidratos, já os animais ad-
chamados de nucleotídeos. quirem os carboidratos necessários por meio da alimentação.
Os lipídios não apresentam uma unidade básica que possa PRINCIPAIS MONOSSACARÍDEOS
ser considerada um monômero, então não são considera- carboidrato papel biológico
dos polímeros, apesar de serem macromoléculas. Uma das matérias-primas necessárias à pro-
ribose (5C)
dução de ácido ribonucleico.
Os carboidratos e lipídios serão detalhados nesta aula, en-
quanto as próximas aulas se dedicarão ao estudo detalha- desoxirribose (5C)
Matéria-prima necessária à produção de ácido
desoxirribonucleico (DNA).
do das proteínas e ácidos nucleicos.
É a molécula mais usada pelas células para ob-
Monômetro
Monômeros tenção de energia. É sintetizada na fotossíntese
glicose (6C)
pelos seres clorofilados. Abundante em vegetais,
no sangue e no mel.

Muito comum em frutas, também apresenta pa-


frutose (6C)
pel fundamentalmente energético.
Polímero
Um dos monossacarídeos constituinte da lactose
galactose (6C)
do leite. Papel energético.

ESTRUTURA DE UMA MACROMOLÉCULA DO TIPO POLÍMERO.

RIBOSE DESOXIRRIBOSE GLICOSE FRUTOSE GALACTOSE

PRINCIPAIS DISSACARÍDEOS
papel
carboidrato unidades fontes
biológico
glicose + cana-de-açúcar papel
sacarose
multimídia: vídeo frutose e beterraba energético

glicose + ga- papel


FONTE: YOUTUBE lactose
lactose
leite
energético
Feofíceas ou algas pardas - glicose + gli- papel
maltose vegetais
cose energético
Diversidade dos Seres Vivos

4.1. Açúcares (ou carboidratos)


Os açúcares são conhecidos também como glicídios, carboi-
SACAROSE LACTOSE
dratos, sacarídeos ou hidratos de carbono. Essas moléculas
são compostas principalmente por carbono, hidrogênio e oxi- PRINCIPAIS POLISSACARÍDEOS
gênio. Os carboidratos mais simples são classificados como papel
monossacarídeos e sua fórmula geral é: CnH2nOn. O valor de n carboidrato unidades fontes
biológico
pode variar de 3 a 7, dependendo do tipo de monossacarídeo. (inúmeras)
raízes e reserva energética
amido moléculas
Os monossacarídeos podem ser classificados de acordo com de glicose
caules vegetal

a quantidade de carbonos em sua composição; os açúcares (inúmeras) parede


mais comuns são trioses (3 átomos de carbono), pentoses celulose moléculas de células sustentação
de glicose vegetais
(5 átomos de carbono) ou hexoses (6 átomos de carbono),
acrescidos da terminação "OSE". Como triose, pentose e he- (inúmeras)
fígado
reserva
glicogênio moléculas energética
xose. Os monossacarídeos mais importantes são: glicose, fru- de glicose
e músculos
animal
tose, galactose (hexoses) e ribose, desoxirribose (pentoses).
(inúmeras) parede
Dissacarídeo é a junção entre dois monossacarídeos; como quitina moléculas de células sustentação
de glicose vegetais
lactose, maltose e sacarose. A junção entre muitos monos-
sacarídeos recebe o nome de polissacarídeo, como amido, Apesar dos quatro polissacarídeos apresentados na ta-
glicogênio, celulose, quitina, etc. bela serem compostos de várias moléculas de glicose,
Além de serem a fonte primária de energia para as diversas essas moléculas se ligam umas às outras de formas dife-
atividades celulares, os glicídios possuem função estrutural. As rentes em cada molécula, assumindo assim conformações

93
tridimensionais diferentes, caracterizando assim suas o xilol, o éter, a benzina e o clorofórmio. São exemplos de
funções distintas. lipídios as gorduras os óleos e as ceras.
O amido é o carboidrato de reserva principal dos vegetais Os lipídios podem ser classificados em: glicerídeos (gru-
e é armazenado principalmente nos vacúlos de células po das gorduras e óleos), fosfolipídeos (componentes da
vegetais especializadas. Na digestão humana, o amido é membrana plasmática), cerídeos (as ceras impermeabili-
quebrado em glicose, que é utilizada como fonte de ener- zam superfícies vegetais, evitando a desidratação), este-
gia. A glicose excedente é parcialmente armazenada como roides (o principal esteroide é o colesterol) e carotenoides
glicogênio (reserva de carboidratos animal), e o restante é (pigmentos de coloração).
metabolizado em lipídios, armazenados no tecido adiposo
Os lipídios são os principais constituintes das membranas
dos animais.
celulares, estando assim presentes em todos os tecidos
No corpo humano, o glicogênio é armazenado nos mús- dos seres vivos. Os lipídios são muito importantes como
culos e fígado, com propósitos distintos. A reserva de gli- reserva energética. Nos animais, são armazenados em
cogênio muscular é quebrada rapidamente em momen- células específicas, chamadas de adipócitos, que formam
tos de demanda energética, permitindo que os músculos o tecido adiposo. Nos vegetais, os lipídios são armazena-
sempre tenham uma resposta de movimento imediata dos nos vacúolos celulares e são muito abundantes nas
aos impulsos nervosos. O fígado, por sua vez, é responsá- sementes oleaginosas.
vel por armazenar glicogênio e quebrá-lo em glicose em A maioria dos lipídios é derivada ou possui ácidos graxos na sua
momentos de baixa glicemia, como durante períodos de estrutura. Algumas substâncias classificadas entre os lipídios pos-
jejum, de modo que a glicose liberada circule pela corrente suem intensa atividade biológica, como vitaminas e hormônios.
sanguínea e permita que órgãos essenciais como o cérebro
sempre tenham uma fonte de energia disponível. Embora os lipídios sejam uma classe distinta de biomolécu-
las, observa-se que eles, geralmente, ocorrem combinados,
A quitina e a celulose apresentam uma estrutura química seja covalentemente ou através de ligações fracas, como
que dificulta a ação enzimática, então não são quebradas no membros de outras classes de biomoléculas, para produzir
processo de digestão da maioria dos seres vivos. Esses polis- moléculas hídricas, tais como glicolipídios, que contêm tan-
sacarídeos atuam como importantes moléculas de estrutura to carboidratos quanto grupos lipídicos, e lipoproteínas, que
e sustentação dos seres vivos; a celulose é essencial na com- contêm tanto lipídios como proteínas.
posição da parede celular de vegetais, enquanto a quitina é
o componente básico do exoesqueleto de artrópodes.
lactato



glicose
fermentação
láctica
glicogênio
glicose
 

lactato

gliconeogênese
glicose lactato


glicogênio

ESQUEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE SÍNTESE E UTILIZAÇÃO DO GLICOGÊNIO.


multimídia: vídeo
5. Lipídios FONTE: YOUTUBE

O grupo dos lipídeos é muito heterogêneo, e agrupa molé- Entrevista: Antonio Herbert Lancha Jr
culas orgânicas cuja característica comum é a insolubilida- fala sobre obesidade
de em água e a solubilidade em solventes orgânicos, como

94
As diferentes propriedades químicas e físicas dessas biomo-
léculas estão combinadas para exercer funções biológicas
específicas. Diferentemente das demais biomoléculas, os lipí-

POLAR
dios não são polímeros, ou seja, não são repetições de uma
simples unidade. Os lipídios possuem uma estrutura química
simples, mas suas funções são complexas e diversas. Atuam
nas etapas determinantes do metabolismo e na definição
das formas celulares. Alguns lipídios formam filmes sobre a
superfície da água, enquanto outros formam agregados or-
ganizados na solução. Os lipídios possuem uma região polar
ou iônica, que pode ser facilmente hidratada; como é o caso
dos lipídios que compõem as membranas celulares.

APOLAR
5.1. Glicerídeos
O grupo dos glicerídeos compreende as gorduras e os óleos.
Um glicerídeo muito abundante nos seres vivos são os tri-
glicerídios. Quando hidrolisados, os triglicerídeos liberam
um álcool chamado glicerol e três cadeias de ácidos graxos.
Os ácidos graxos podem ser classificados como saturado
ou insaturado; chamamos de saturado quando há somen-
te ligações simples entre os átomos de carbono (exemplos: UM FOSFOLIPÍDIO DE MEMBRANA.
palmítico e o ácido esteárico); por sua vez, um ácido graxo
Quando está no estado sólido e à temperatura ambiente,
é insaturado quando possui uma ou mais ligações duplas
um lipídio é denominado “gordura”; caso esteja no estado
entre os carbonos, como o ácido oleico, por exemplo.
líquido, será denominado “óleo”.
As ligações duplas, também chamadas de insaturações,
fazem com que a cadeia carbônica de cada ácido graxo 5.2. Ceras
tenha uma conformação espacial distinta, menos linear, e
As ceras são lipídios sólidos à temperatura ambiente. Quan-
isso faz com que ácidos graxos insaturados sejam menos
do hidrolisadas, seus lipídios também liberam uma molécula
compactos, e essa característica é essencial para a fluidez
de glicerol e ácidos graxos de cadeia longa.
das membranas celulares. Os ácidos graxos saturados, por
sua vez, são muito mais rígidos e também tendem a se As ceras são essencialmente usadas para a proteção dos
agregar nas paredes de vasos sanguíneos, podendo causar organismos, sejam animais ou plantas. Os seres humanos
complicações e entupimentos. produzem cera nos ouvidos como uma forma de evitar a
entrada de partículas de poeira no canal auditivo. Algumas
plantas secretam ceras que revestem as folhas e evitam per-
das excessivas de água, principalmente em ambientes secos.

5.3. Esteroides
Os esteroides são hormônios sintetizados a partir do lipídio co-
lesterol. Nos humanos, são secretados pelas gônadas, córtex
adrenal e pela placenta. Tanto a testesterona como o estradiol
(também chamado de estrogênio) são hormônios esteroides, e
estão relacionados com a expressão de características sexuais
secundárias masculinas e femininas, respectivamente.
O colesterol, além de atuar como precursor na biossíntese
dos hormônios esteroides, também é precursor dos ácidos
e sais biliares. Além disso, o colesterol é um constituinte
muito importante da membrana celular, pois auxilia na
fluidez da membrana, ou seja, impede que a membrana
celular fique excessivamente compacta, o que dificultaria
R = DEZ OU MAIS ÁTOMOS DE CARBONO. processos celulares.

95
É importante destacar que o corpo humano produz quantida- 5. HDL (Lipoproteína de Densidade Alta) – retira o coles-
des de colesterol suficientes para suprir as funções positivas terol da circulação. Quando seus níveis no sangue estão
desse lipídio no organismo; assim, é importante ter um cuida- elevados, os riscos de infarto do miocárdio são baixos.
do alimentar para evitar seu excesso na circulação sanguínea,
que pode causar prejuízos. O colesterol pode aderir às paredes 5.5. Prostaglandinas
dos vasos sanguíneos, formando estruturas conhecidas como
"placas ateroscleróticas", que são um dos principais fatores de As prostaglandinas são lipídios importantes em diversos
risco associados à ocorrência de infarto agudo do miocárdio. processos de comunicação entre células, produzidas prin-
cipalmente em tecidos onde há uma infecção ou lesão. As
prostaglandinas controlam processos de inflamação nos
Esteroides anabolizantes caso de infecções e a mudanças no fluxo sanguíneo e for-
mação de coágulos sanguíneos relacionados à lesões. Tam-
Os esteroides anabolizantes são produtos sintéticos
bém há prostaglandinas que atuam na indução do parto.
usados, em doses controladas, no tratamento de cer-
tas doenças. No entanto, como aumentam a síntese As prostaglandinas atuam na comunicação celular local-
de proteína pelos músculos, são também consumidos mente, ou seja, não entram na corrente sanguínea.
– sem acompanhamento médico – por pessoas que Anti-inflamatórios não esteroides, como a aspirina, agem
querem aumentar rapidamente a massa muscular.
bloqueando as enzimas responsáveis pela formação de
O uso indiscriminado de esteroides – e sem o controle precursores de prostaglandinas, evitam a sinalização e
médico – pode interromper o crescimento (na adoles- consequente resposta inflamatória do organismo.
cência), causar hepatite, danos aos rins, câncer de fígado,
problemas de comportamento (depressão, aumento da
agressividade), aumento da pressão arterial e do risco de
ataque cardíaco. Em homens, pode provocar esterilidade
e atrofia dos testículos. Em mulheres, pode desequilibrar
o ciclo menstrual e desenvolver características sexuais se-
cundárias masculinas, como a presença de pelos na face.
ESTRUTURA DE UMA PROSTAGLANDINA, A PROSTAGLANDINA E1, QUE TEM
Dessa forma, além de serem proibidos em competi- AÇÃO VASODILATADORA E ESTÁ PRESENTE EM RESPOSTAS INFLAMATÓRIAS.
ções esportivas, os esteroides anabolizantes não de-
vem ser utilizados sem indicação médica.
5.6. Em resumo: as funções dos lipídios
Como vimos até agora, fosfolipídeos são constituintes
5.4. Lipoproteínas da membrana plasmática e de todas as membranas
internas da célula.
Lipoproteínas são associações entre proteínas e lipídios, como
o próprio nome indica. Na corrente sanguínea, essas molécu- Além disso, lipídios liberam energia quando oxidados,
las têm a função de transportar e regular o metabolismo dos e são a segunda fonte de energia do organismo, sendo
lipídios no plasma. A fração lipídica das lipoproteínas varia usados na ausência de carboidratos. Os lipídios consti-
muito e permite a classificação das mesmas em cinco grupos: tuem a reserva energética dos animais, sendo aloca-
dos no tecido adiposo.
1. Quilomicron – é a lipoproteína menos densa. É res-
ponsável por transportar triacilglicerol exógeno (lipídios Os lipídios também fazem parte da estrutura de al-
provenientes da alimentação) na corrente sanguínea, para gumas vitaminas, como A, D, E e K, e atuam como
que seja armazenado nos tecidos adiposos. precursores de alguns hormônios, como testosterona,
2. VLDL (Lipoproteína de Densidade Muito Baixa) – trans- estrogênio e progesterona.
porta triacilglicerol endógeno (lipídios sintetizados pelo Também são os lipídios que formam as ceras, responsá-
próprio organismo, como colesterol, por exemplo). veis por proteger os organismos contra dessecação e
3. IDL (Lipoproteína de Densidade Intermediária) – é for- excesso de transpiração.
mada na transformação de VLDL em LDL. Adicionalmente, os lipídios formam um panículo adipo-
4. LDL (Lipoproteína de Densidade Baixa) – principal so sob a pele que, juntamente com o tecido adiposo de
transportadora de colesterol; seus níveis aumentados outras partes do corpo, oferece isolamento térmico,
no sangue elevam muito as chances de infarto agudo elétrico e mecânico, protegendo células, órgãos e o
do miocárdio. organismo como um todo.

96
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

No estudo das funções biológicas dos carboidratos e lipídios, aplicamos conceitos também estudados nas aulas de quí-
mica orgânica, como estruturas químicas e propriedades moleculares.
Os carboidratos são compostos químicos que possuem vários átomos de carbono ligados às hidroxilas (OH), apresen-
tando funções orgânicas como cetona e aldeído. Devido a essas características químicas e de organização atômica, os
carboidratos são moléculas muito reativas e por isso sua clivagem é a principal fonte de energia para os organismos.
Os lipídios, por sua vez, apresentam a função orgânica álcool (principalmente o glicerol) e ácidos graxos; alguns possuem
outros elementos, como grupos fosfato, e são classificados como fosfolipídeos. Os fosfolipídeos são considerados moléculas
anfipáticas, ou seja, apresentam características hidrofóbicas e hidrofílicas simultaneamente. Essa característica faz com que
essas moléculas; em meio aquoso, tenham a tendência de se agregar formando esferas lipídicas. A formação das membranas
plasmáticas e o consequente surgimento da vida estão intimamente relacionados com essa propriedade dos fosfolipídios.

folhas (couve, repolho, espinafre, etc.), carnes magras,


6. Vitaminas ovos, fermento de padaria, fígado, leite, etc.
As vitaminas são substâncias orgânicas essenciais e pre- ƒ Vitamina B3 (PP – ácido nicotínico) – Mantém o tônus
cisam ser obtidas dos alimentos, uma vez que o orga- nervoso e muscular e o bom funcionamento do aparelho
nismo não consegue fabricá-las. Podem ser agrupadas digestório. Previne a inércia e a falta de energia, o nervosis-
em hidrossolúveis, representadas pelo complexo B e pela mo extremo, os distúrbios digestivos, a pelagra (humanos)
vitamina C; e em lipossolúveis, representadas pelas vita- e a língua preta (cães). Está presente no lêvedo de cerveja,
minas D, E, K e A. A maioria das vitaminas necessárias nas carnes magras, nos ovos, no fígado, no leite, etc.
ao nosso organismo atua como coenzima, ou seja, como
ƒ Vitamina B6 (piridoxina) – Ajuda na oxidação dos
biocatalisadores, moléculas que se ligam à enzimas e per-
alimentos. Mantém a pele saudável. Evita doenças de
mitem seu funcionamento correto.
pele, distúrbios nervosos, inércia e extrema apatia. É
ƒ Vitamina A (retinol – antixeroftálmica) – Neces- encontrada no lêvedo de cerveja, nos cereais integrais,
sária para o desenvolvimento e para o funcionamento no fígado, nas carnes magras, no peixe, no leite, etc.
dos olhos, nariz e pulmões. Previne resfriados e várias ƒ Vitamina B12 (cianocobalamina) – É importante
infecções. Evita a xeroftalmia (conhecida como “ceguei- para a maturidade das hemácias. Evita a anemia perni-
ra noturna” ou “olhos secos”) em crianças e a cegueira ciosa. É encontrada no fígado, no leite e seus derivados,
total. Pode ser encontrada em vegetais amarelos (ce- nas carnes, nos peixes, nas ostras, nas leveduras, etc.
noura, abóbora, batata-doce, milho), pêssego, nectari-
na, abricó, gema de ovo, manteiga, fígado, etc.
ƒ Vitamina B1 (tiamina) – Ajuda na oxidação dos
carboidratos. Estimula o apetite. Mantém o tônus
muscular e o bom funcionamento do sistema nervoso.
Evita a perda de apetite, a fadiga muscular, o nervo-
sismo, o beribéri (humanos) e a polineurite (pássaros).
FONTES DE VITAMINA B12.
Encontrada em cereais na forma integral e em pães,
feijão, fígado, carne de porco, ovos, fermento de pa-
daria, vegetais de folhas, etc.
ƒ Vitamina B2 (riboflavina) – Auxilia na oxidação dos
alimentos. É essencial à respiração celular. Mantém a
tonalidade saudável da pele. Atua na coordenação mo-
tora. Evita a ruptura da mucosa da boca, dos lábios, da
língua e das bochechas. Está presente em vegetais de FONTES DE VITAMINA B3.

97
De acordo com as estruturas celulares e as substâncias
químicas envolvidas, é possível dividi-lo em metabolismo
energético, de construção e de regulação.
Pode-se considerar mais duas ideias sobre metabolismo
celular: anabolismo – reações químicas de síntese que, a
partir de moléculas menores, produzem moléculas maiores
FONTES DE VITAMINA B1. – e catabolismo – reações químicas de degradação que
transformam moléculas grandes em unidades menores.
O termo metabolismo celular é utilizado em relação ao
conjunto de todas as reações químicas que ocorrem nas célu-
las. Essas reações são responsáveis pelos processos de sínte-
se e degradação dos nutrientes na célula e constituem a base
da vida, permitindo o crescimento e a reprodução das células.
FONTES DE VITAMINA B2. Embora a glicose seja a fonte energética mais frequente, os or-
ganismos retiram energia das mais diversas moléculas orgâni-
ƒ Vitamina C (ácido ascórbico – antiescorbútica) cas (outros açúcares, aminoácidos, ácidos graxos, entre outras).
– Previne infecções. Mantém a integridade dos vasos
Os organismos heterotróficos obtêm glicose alimentando-se
sanguíneos e a saúde dos dentes. Previne o escorbuto,
daqueles que são capazes de produzi-la, os organismos auto-
a inércia e a fadiga em adultos, a insônia e o nervo-
tróficos fotossintetizantes.
sismo em crianças, o sangramento das gengivas, as
inflamações nas juntas e os dentes alterados. Pode ser
encontrada em frutas cítricas (limão, lima, laranja), to- 7.1. ATP: as baterias de energia
mate, couve, repolho e outros vegetais de folha, pimen- Ao final do processe de digestão de carboidratos, temos
tão, morango, abacaxi, goiaba, caju, etc. finalmente a molécula de glicose (monossacarídeo) livre
ƒ Vitamina D (ergosterol – precursor da vitamina na circulação. A molécula de glicose é, como já citamos,
D – antirraquítica) – Atua no metabolismo do cálcio a principal fonte energética das células. Porém, a energia
e do fósforo. Mantém os ossos e os dentes em bom contida nas ligações entre os átomos de carbono de cada
estado. Evita o raquitismo, os problemas nos dentes, molécula de glicose não pode ser liberada no ambien-
os ossos fracos, os sintomas da artrite, a osteomalácia te celular de uma vez só. Chamamos de respiração
(adultos). Está presente no lêvedo, o óleo de fígado de celular o processo de quebra gradual das moléculas
bacalhau, na gema de ovo, na manteiga, etc. de glicose para liberação de energia. Esse processo será
detalhadamente estudado mais adiante, porém, convém
ƒ Vitamina E (tocoferol – antioxidante) – Auxilia desde já sermos apresentados às moléculas de ATP.
na fertilidade. Previne o aborto. Atua no sistema ner-
voso involuntário, no sistema muscular e nos músculos Cada vez que uma ligação entre átomos de carbono
involuntários. Previne a esterilidade do macho. Ajuda é quebrada, a energia liberada é transferida para uma
na oxidação de ácidos graxos insaturados e enzimas molécula chamada adenosina trifosfato, ou ATP. Es-
mitocondriais. Está presente no óleo de germe de trigo, sas moléculas servirão de reservatórios temporários de
nas carnes magras, nos laticínios, na alface, no óleo de energia, armazenando a energia entre as ligações dos
amendoim, etc. grupos fosfato que a compõe.

ƒ Vitamina K (anti-hemorrágica) – Atua na coagu- É comum existir uma substância solúvel no interior das
lação do sangue. Previne hemorragias prolongadas. A células, conhecida por adenosina difosfato (ADP). É
sua falta retarda o processo de coagulação. Está pre- comum também a existência de radicais livres de fosfato
sente em vegetais verdes, tomate, castanha, espinafre, inorgânico (que vamos simbolizar por Pi). Cada vez que
alface, repolho, couve, óleos vegetais, etc. ocorre a liberação de energia, devido à reação química,
essa energia liga o fosfato inorgânico (Pi) ao ADP, geran-
do ATP. Como o ATP também é solúvel, ele se difunde por
7. Metabolismo celular toda a célula.
Metabolismo é o conjunto de reações bioquímicas que A ligação do ADP com o fosfato é reversível. Então, toda vez
ocorrem nas células e que são fundamentais para a exis- que é necessária a energia para a realização de qualquer
tência, manutenção, manifestação e propagação da vida. trabalho na célula, ocorre a conversão de algumas moléculas

98
de ATP em ADP + Pi e a energia liberada é utilizada pela célula. A recarga dos ADP ocorre toda vez que há liberação de energia
na quebra da glicose.

7.2. A estrutura do ATP


O ATP é um um composto derivado de nucleotídeo, ou seja, apresenta uma base nitrogenada (nesse caso, a adenina) e um
monossocarídeo (no caso, a ribose). Chamamos o conjunto de adenina e ribose de adenosina. Essa molécula de adenosina
pode então se ligar a um grupo fosfato, formando uma molécula chamada de AMP (adonisina monofosfato), porém, é mais
comum encontrar moléculas de adenosina ligadas a dois grupos fosfato, formando assim moléculas de ADP (adenosina
difosfato). Quando há energia liberada na célula, essa energia é usada para ligar mais um grupo fosfato às moléculas de ADP,
formando assim o ATP (adenosina trifosfato).
A ligação entre os segundo e o terceiro grupo fosfato de uma molécula de ATP é altamente energética e, quando quebrada,
libera cerca de 7 kcal/mol.
Assim, cada vez que o terceiro fosfato se desliga do conjunto, ocorre a liberação da energia que o mantinha unido ao ATP. É
essa energia que é utilizada para qualquer processo celular, como contração muscular e atividades neuronais.

VIVENCIANDO

Conhecer a bioquímica básica das moléculas inorgânicas (água e sais minerais) e das moléculas orgânicas (car-
boidratos e lipídios) é fundamental para compreender suas funções nos organismos vivos.
É com base nesses conhecimentos que nutricionistas e médicos podem indicar dietas, prescrever medicamentos,
tratamentos e exercícios e até mesmo suplementos alimentares específicos para cada paciente, além de com-
preender quadros clínicos, como a obesidade, a hipertensão, a diabetes, a arteriosclerose, entre outros.

99
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

Neste exercício é primordial conhecer as características presentes na água e como esse solvente se comporta
em sistemas biológicos a fim de manter o equilíbrio dos processos.

MODELO 1
(Enem) A água apresenta propriedades físico-químicas que a colocam em posição de destaque como substân-
cia essencial à vida. Dentre essas, destacam-se as propriedades térmicas biologicamente muito importantes,
por exemplo, o elevado valor de calor latente de vaporização. Esse calor latente refere-se à quantidade de calor
que deve ser adicionada a um líquido em seu ponto de ebulição, por unidade de massa, para convertê-lo em
vapor na mesma temperatura, que no caso da água é igual a 540 calorias por grama. A propriedade físico-quí-
mica mencionada no texto confere à água a capacidade de
a) servir como doador de elétrons no processo de fotossíntese;
b) funcionar como regulador térmico para os organismos vivos;
c) agir como solvente universal nos tecidos animais e vegetais;
d) transportar os íons de ferro e magnésio nos tecidos vegetais;
e) funcionar como mantenedora do metabolismo nos organismos vivos.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A água é um solvente universal e desempenha funções vitais nos organismos, como termorregulação, transpor-
te de substâncias, eliminação de excretas, lubrificação, acepção de elétrons, dentre outras. Identificar padrões
e fenômenos e compreender como são vitais à manutenção do equilíbrio dos organismos é uma atribuição
esperada na habilidade 14. O fato de a água possuir um elevado calor latente de vaporização faz com que ela
esteja diretamente relacionada com a função de reguladora térmica dos organismos. Para evaporar, ela neces-
sita absorver uma grande quantidade de calor. Observação: todas as alternativas apresentam funções exercidas
pela água, porém, aquela que está relacionada com a propriedade físico-química apresentada no enunciado é
a regulação de temperatura.

RESPOSTA Alternativa B

100
DIAGRAMA DE IDEIAS

ÁGUA SAIS MINERAIS

• SOLVENTE UNIVERSAL • CÁTIONS E ÍONS


• TERMORREGULAÇÃO • CÁLCIO OSSOS, CONTRAÇÃO
• TRANSPORTE MUSCULAR E COAGULAÇÃO
• EXCRETAS • COBRE PIGMENTAÇÃO
• LUBRIFICANTE • ZINCO CICATRIZAÇÃO
• COESÃO • SELÊNIO ANTIOXIDANTE
• ADESÃO • FERRO HEMOGLOBINA
• CAPILARIDADE • SÓDIO E POTÁSSIO CONTROLE
OSMÓTICO, CONDUÇÃO NERVOSA

COMPONENTES
INORGÂNICOS

METABOLISMO
COMPOSIÇÃO
ANABOLISMO (SÍNTESE) ATP ADP + P; + ENERGIA
QUÍMICA CELULAR
CATABOLISMO (DEGRADAÇÃO)

COMPONENTES
ORGÂNICOS
CARBOIDRATOS
LIPÍDEOS
(FONTE PRIMÁRIA DE ENERGIA)

MONOSSACARÍDEOS PROTEÍNAS • INSOLÚVEL EM ÁGUA


• RIBOSE • FLUIDEZ DE MEMBRANA
• DESOXIRROBOSE • RESERVA ENERGÉTICA
• AMINOÁCIDOS • VITAMINAS
• GLICOSE
• DIVERSAS FUNÇÕES:- • HORMÔNIOS ESTEROIDES
• FRUTOSE
CONTRAÇÃO MUSCULAR, • ISOLANTE TÉRMICO
• GALACTOSE
CITOESQUELETO, ENZIMAS, • GLICERÍDEOS
DISSACARÍDEOS ANTICORPOS, RECEPTO- • LIPOPROTEÍNAS
• SACAROSE RES E TRANSPORTADORES • PROSTAGLANDINAS
GLICOSE + FRUTOSE DE MEMBRANA, ETC.
• LACTOSE
GLICOSE + GALACTOSE
• MALTOSE
VITAMINAS
GLICOSE + GLICOSE
POLISSACARÍDEOS
• AMIDO • LIPOSSOLÚVEIS: D, E, K, A
• GLICOGÊNIO • HIDROSSOLÚVEIS: C, B1, B2, B12, PP
• CELULOSE
• QUITINA

101
carbono do agrupamento carboxila de um aminoácido com
AULAS 3 e 4 um átomo de nitrogênio do agrupamento amina do outro
aminoácido.
Cada ligação peptídica libera uma molécula de água,
dessa forma, o processo de ligação entre aminoácidos
para formar proteínas pode ser considerado uma síntese
por desidratação.
COMPOSIÇÃO QUÍMICA
CELULAR II

REAÇÃO ENTRE DOIS AMINOÁCIDOS COM DESTAQUE PARA


A FORMAÇÃO DE UMA LIGAÇÃO PEPTÍDICA

COMPETÊNCIA: 4 Quando a ligação ocorre entre dois aminoácido, a molé-


cula formada é denominada dipeptídio; quando ocorre
entre três, é chamada de tripeptídio; e, acima de quatro, é
HABILIDADE: 14 chamada de polipeptídio. As proteínas são sempre polipep-
tídios e costumam ter acima de 80 aminoácido. Existem
vinte tipos diferentes de aminoácido que fazem parte das
proteínas. Um mesmo aminoácido pode aparecer várias
vezes na mesma molécula.
1. Proteínas Monômetro
Monômeros (aminoácidos)
As proteínas são polímeros em que os monômeros são molé-
culas de aminoácidos (AA) e formam o grupo mais numero-
so e diversificado das moléculas orgânicas. Todo aminoácido
Polímero (proteína)
Polímero
é formado por um carbono assimétrico ligado a quatro ligan-
tes diferentes: uma carboxila (COOH), uma amina (NH2), um
hidrogênio (H) e um grupo radical (R).
Aminoácido

Os aminoácidos podem ser classificados em naturais,


quando podem ser produzidos pelo organismo, e essen-
ciais, quando não são produzidos pelo organismo e, por
isso, devem estar presentes na dieta. Os aminoácidos que
Amina Radical Ácido Carboxílico são naturais para uma dada espécie podem ser essenciais
para outra. Esse é um dos fatores que justifica a ampla
Na natureza existem inúmeras moléculas que podem ser classi- diversidade na composição das dietas dos animais.
ficadas como aminoácidos, porém, no organismo humano, ape- Na tabela abaixo, observe a relação dos aminoácidos com
nas 20 são usados para a síntese de proteínas. Observe, a seguir, o organismo humano.
algumas fórmulas:
Aminoácidos naturais
Asparagina (Asn) Prolina (Pro) Cisteína (Cis)
Glutamina (Gln) Alanina (Ala) Tirosina (Tir)
Arginina (Arg) Glutamato (Glu) Serina (Ser)
Histidina (His) Aspartato (Asp) Glicina (Gli)

Aminoácidos essenciais
Metionina (Met) Triptofano (Tri)
Isoleucina (Iso) Valina (Val)
Leucina (Leu) Treonina (Tre)
ESTRUTURA MOLECULAR DE ALGUNS AMINOÁCIDOS,
COM DESTAQUE PARA OS RADICAIS Lisina (Lis) Fenilalanina (Fen)

A ligação química entre dois aminoácidos é chamada de li- As proteínas diferem entre si devido à quantidade de amino-
gação peptídica e acontece sempre entre um átomo de ácidos, aos tipos presentes e a sua sequência na molécula.

102
Duas proteínas podem ter os mesmos aminoácidos nas mes- organismo), receptores de membrana (que se localizam
mas quantidades, porém, se a sequência dos aminoácidos nas membranas das células e reconhecem outras molécu-
for diferente, as proteínas serão diferentes. las no ambiente extracelular), entre outras funções.
Existem, porém, algumas proteínas que, para exerce-
1.1. Estrutura da proteína rem sua função, precisam estar interagindo com ou-
A sequência dos aminoácidos na cadeia polipeptídica é o que tras proteínas, formando estruturas quaternárias.
chamamos de estrutura primária da proteína. Cada pro- Um exemplo de estrutura quaternária é a hemoglobi-
teína apresenta a sua estrutura primária única e característica; na, proteína responsável pelo transporte de oxigênio
alterações na estrutura primária levam à formação de proteínas através da circulação. A hemoglobina é formada por
distintas. A estrutura primária é importante para a constituição quatro proteínas iguais, chamadas de globinas. Cada
estrutural da proteína, pois é a partir da interação entre os ami- globina apresenta um grupo Heme, um agrupamen-
noácidos da estrutura primária que a proteína se dobrará de to orgânico específico que contém um átomo de ferro.
forma a ter uma estrutura tridimensional. Cada molécula de hemoglobina é formada por quatro
subunidades (quatro proteínas globinas) e consequen-
Os aminoácidos ligados entre si (estrutura primária) não
temente contém quatro átomos de ferro, responsáveis
formam uma estrutura linear e esticada, pois as ligações
pela interação com o gás oxigênio e por conferir ao
peptídicas entre cada aminoácido e as interações entre os
sangue sua coloração avermelhada.
radicais de cada aminoácido fazem com que essa cadeia
de aminoácidos se dobre sobre si mesma, formando as
estruturas secundárias. Existes três principais tipos de
estruturas terciárias: as alfa-hélices, quando os amino-
ácidos formam uma estrutura helicoidal; as folhas beta-
-pregueadas, quando os aminoácidos interagem entre
si e formam uma estrutura plana, como uma folha; e os
loopings, que são regiões flexíveis, geralmente conectan-
do hélices e folhas beta-pregueadas. Uma proteína pode
apresentar mais de um tipo de estrutura secundária em
regiões distintas de sua estrutura.
Met
1.2. Desnaturação proteica
Gli Gli
Gli

Gli Lis Lis


Val
Arg
Lis

Ser
Diversos fatores, como temperatura, grau de acidez (pH) ou
concentração de sais podem comprometer a interação en-
Lis

Met Val
Gli

Arg Lis Val Lis

Estrutura secundária
Lis
Ser

Met
Arg

(hélice) tre as estruturas secundárias de uma proteína, desfazendo


Gli Gli Ser

assim sua estrutura terciária (sem alterar, logicamente, a se-


Gli
Lis
Val
Lis

Arg
Lis Lis

quencia de aminoácidos − ou estrutura primária). A principal


Met

Arg

Estrutura primária
(sequência de aminoácidos) consequência da perda da estrutura terciária é a perda da
capacidade da proteína de desenvolver sua função biológica.
Esse fenômeno é chamado de desnaturação proteica.

Estrutura terciária
Estrutura quaternária
(peptideo individual dobrado)
(grupo de dois ou mais peptideos)

REPRESENTAÇÃO DAS DIFERENTES ESTRUTURAS DE UMA PROTEÍNA

As estruturas secundárias das proteínas também intera-


gem entre si, dobrando-se e dando, finalmente, a estrutura
tridimensional típica de cada proteína específica. Chama-
mos esse dobramento final de estrutura terciária. De (sem estrutura
modo geral, ao chegar nesse estágio, a proteína está pron- terciária)

ta para exercer sua função biológica, que pode ser como


enzimas (que aceleram reações químicas no organismo),
anticorpos (que participam da defesa do organismo contra
patógenos), hormônios (que tem diversas funções no

103
VIVENCIANDO

A propriedade catalítica das proteínas (enzimas) faz com que elas sejam adequadas para aplicações industriais, como na
indústria alimentícia. As reações enzimáticas são fundamentais para a produção de alimentos, uma vez que as enzimas
atuam na formação de compostos altamente desejáveis. Por exemplo, as enzimas amilases são adicionadas a massas de
pão para potencializar o efeito de enzimas naturais durante a fermentação.
As principais aplicações das enzimas no segmento alimentício ocorrem nas áreas de produção de álcool e derivados,
vinicultura, açúcares e amidos, laticínios e derivados, panificação e sucos de frutas.

1.3. Função das proteínas Além da função estrutural, as proteínas atuam como en-
zimas ou biocatalisadoras das reações bioquímicas que
A seguir, serão discutidas com mais detalhes apenas as ocorrem nas células. Elas diminuem a energia de ativação
funções estrutural e enzimática das proteínas. As demais exigida pelas reações, tornando-as mais espontâneas e au-
funções serão apresentadas posteriormente, junto ao estu- mentando suas velocidades.
do da membrana plasmática (receptores permeases), dos
grupos sanguíneos (anticorpos) e da fisiologia do sistema
endócrino (hormônios).

Funções biológicas das proteínas

• estrutural
• catalizadora (enzimas)
• imunológica (anticorpos)
• regulatória (hormônios)
• receptora (membrana)
• transportadora (transmembrana)
A maior parte das informações contidas no DNA dos orga-
nismos está relacionada à fabricação de enzimas. Cada re-
Uma das funções das proteínas é a função estrutural, pois faz
ação que ocorre na célula necessita de uma enzima
parte da arquitetura das células e dos tecidos dos organismos.
específica, isto é, uma mesma enzima não catalisa duas
PROTEÍNAS ESTRUTURAIS reações distintas.
proteínas papel biológico A especificidade das enzimas é explicada pelo modelo da
Proteína presente em ossos, cartilagens, tendões e chave (reagente) e fechadura (enzima), pois a forma espacial
colágeno
pele. Aumenta a resistência desses tecidos à tração. da enzima deve ser complementar à forma espacial dos re-
Recobre a superfície da pele dos vertebrados agentes (substratos). Esse modelo pode ser nomeado como
terrestres. É o mais abundante componente de “encaixe induzido”, devido à dinamicidade do processo. As
queratina unhas, garras, corpos, bicos e pelos dos vertebra-
dos. Impermeabiliza as superfícies corpóreas e enzimas são reversíveis, ou seja, a mesma molécula pode ser
diminui a desidratação. usada diversas vezes. A desnaturação de uma enzima impli-
ca a sua inatividade, pois, perdendo sua forma espacial, ela
Principais constituintes dos músculos. Responsá-
actina e miosina não consegue mais se encaixar em seu substrato específico.
veis pela contratilidade dos músculos.

Algumas moléculas, sintetizadas tanto por seres vivos como


Proteína mais abundante do plasma sanguíneo,
albumina conferindo-lhe viscosidade, pressão osmótica e em laboratórios, podem atuar como inibidores enzimáticos,
solução tampão. substâncias que reduzem a interação entre uma proteína e
seu substrato, tornando a ação da enzima mais lenta.
Proteína presente nas hemácias. Relacionada ao
hemoglobina transporte de gases pelas células vermelhas do Os inibidores podem tanto ter uma estrutura tridimensio-
sangue.
nal semelhante à estrutura do substrato, encaixando-se no

104
sítio ativo da enzima (inibição competitiva), como também podem se ligar a outras regiões da enzima e impedir que ela
se ligue ao substrato (inibição alostérica). Em ambos os casos, o inibidor pode se desligar da enzima depois de um certo
tempo, de modo que enzima se torne novamente ativa, ou pode se ligar permanentemente à enzima, inibindo-a de forma
irreversível.

1.4. Cinética enzimática


O pH, a temperatura e a concentração do substrato são fatores importantes na determinação da velocidade da atividade
enzimática. Observe os gráficos:

A enzima apresenta condições ótimas de funcionamen- A enzima altera ligeiramente a sua


forma à medida que o substrato se liga
to, nas quais a velocidade da reação é máxima. Aci- Substrato Produtos
ma das temperaturas ótimas e fora dos limites do pH sítio ativo
ótimo, ocorre desnaturação. No corpo humano, a tem-
peratura ótima de funcionamento das enzimas é entre
enzima
35ºC e 36ºC.
Em algumas situações, como a entrada de patógenos no Substrato se ligando à Complexo Após a reação enzimática há a
enzima, para inicar a reação enzima-substrato formação dos produtos e a enzima é
organismo, pode ocorrer febre, um mecanismo de defesa liberada para atuar em outra reação
que eleva a temperatura corporal para desnaturar as prote-
ínas dos patógenos. Porém, esse mecanismo também des-
1.5. Hormônios
natura algumas proteínas do próprio corpo, o que ocasiona Os hormônios são substâncias químicas que desempenham a
uma queda metabólica e os sintomas associados à febre, função em órgãos diferentes daqueles onde são sintetizados
como cansaço e falta de apetite. e apresentam diferentes naturezas químicas. Ao circularem
pelo sangue, elas agem em determinados órgãos-alvo, onde
Muitas enzimas, para funcionar, necessitam de um agente
exercem os seus efeitos. Dentre aqueles à base de proteínas,
chamado cofator. Os cofatores podem ser íons metálicos, denominados hormônios proteicos, destacam-se o hormô-
como cobre, zinco e manganês. Se o cofator é uma subs- nio do crescimento (GH), que estimula o crescimento de
tância orgânica, ele é denominado coenzima. vários tecidos e órgãos, particularmente ossos, e a insulina,
responsável por reduzir o teor de glicose no sangue.
• Apoenzima: enzima ainda não ligada a seu
substrato. 1.6. Anticorpos
• Holoenzima: complexo formado pela enzima Conhecidos também por imunoglobulinas, os anticor-
+ substrato, que executa um papel biológico. pos são glicoproteínas criadas para combater agentes in-
vasores nocivos ao organismo. Eles são produzidos apenas
• Coenzima: moléculas orgânicas que precisam
quando existe uma substância estranha no corpo e pos-
se ligar a algumas enzimas para que elas pos- suem a capacidade de se combinar especificamente com
sam desempenhar seu papel biológico. essas substâncias, inativando-as.
• Cofator: moléculas inorgânicas que precisam O anticorpo se liga ao antígeno (molécula capaz de iniciar
se ligar a algumas enzimas para que elas pos- a resposta imune) de forma específica, por isso é possível
sam desempenhar seu papel biológico. afirmar que, para cada um dos tipos de antígenos, existe
um tipo de anticorpo, com forma complementar.

105
Os anticorpos agem aderindo à superfície do corpo estra-
nho. Dessa forma, eles impedem a multiplicação dos mi-
crorganismos e inibem a ação das toxinas.

Antígeno
bacteriano

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Feofíceas ou algas pardas -
Diversidade dos Seres Vivos

ANTICORPOS

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Conceitos de química e física são utilizados para analisar a atividade de uma enzima. Medidas da velocidade inicial
de uma reação catalisada por enzimas são fundamentais para a compreensão do mecanismo de ação da enzima.
A equação matemática que expressa a relação hiperbólica entre velocidade inicial e a concentração de substrato
é conhecida como equação de Michaelis-Menten. Nessa equação, V0 representa a velocidade inicial da reação
enzimática, Vmáx é a velocidade máxima dessa reação, [S] é a concentração do substrato e Km é uma constante
característica de cada enzima.
v0 = Vmax[S]/Km + [S]

106
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

Neste exercício, é necessário identificar processos importantes que determinam as velocidades das reações
químicas e como isso influencia o equilíbrio interno dos sistemas biológicos.

MODELO 1
(Enem) Alguns fatores podem alterar a rapidez das reações químicas. A seguir destacam-se três exemplos no
contexto da preparação e da conservação de alimentos:
1. A maioria dos produtos alimentícios se conserva por muito mais tempo quando submetidos à refrigeração.
Esse procedimento diminui a rapidez das reações que contribuem para a degradação de certos alimentos.
2. Um procedimento muito comum utilizado em práticas de culinária é o corte dos alimentos para acelerar o
seu cozimento, caso não se tenha uma panela de pressão.
3. Na preparação de iogurtes, adicionam-se ao leite bactérias produtoras de enzimas que aceleram as reações
envolvendo açúcares e proteínas lácteas.
Com base no texto, quais são os fatores que influenciam a rapidez das transformações químicas relacionadas
aos exemplos 1, 2 e 3, respectivamente?
a) Temperatura, superfície de contato e concentração.
b) Concentração, superfície de contato e catalisadores.
c) Temperatura, superfície de contato e catalisadores.
d) Superfície de contato, temperatura e concentração.
e) Temperatura, concentração e catalisadores.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A proposição 1 está relacionada diretamente com a temperatura, uma vez que a sua diminuição reduz o
metabolismo dos microrganismos relacionados com a degradação dos alimentos. Já a proposição 2 está
relacionada com o aumento da superfície de contato, que é maior quando os alimentos estão cortados e,
dessa forma, o cozimento ocorre mais rapidamente.
As enzimas são proteínas que têm como função acelerar as reações metabólicas dos organismos. Essa é a
função de um catalisador. Na indústria alimentícia, é essencial o uso das enzimas para a produção rápida
e em larga escala de seus produtos.

RESPOSTA Alternativa C

107
DIAGRAMA DE IDEIAS

AMINOÁCIDOS
+
LIGAÇÕES PEPTÍDICAS

PROTEÍNAS

FUNÇÕES ESTRUTURA

• DEFESA (ANTICORPOS)
• RECEPTORAS DESNATURAÇÃO: PERDA DE FORMA
• ENZIMÁTICA
CAUSADA POR: • PH
• HORMÔNIOS
• TEMPERATURA
• ESTRUTURAIS
• SALINIDADE
• TRANSPORTE DE OXIGÊNIO

PRIMÁRIA SECUNDÁRIA TERCIÁRIA

SEQUÊNCIA DE INTERAÇÕES ENTRE AS DOBRAMENTO


AMINOÁCIDOS LIGAÇÕES PEPTÍDICAS DA ESTRUTURA
ATRAVÉS DE LIGAÇÕES SECUNDÁRIA SOBRE SI
DE HIDROGÊNIO (TRIDIMENSIONAL)

108
guanina (G). As pirimídicas são a citosina (C) e a timina
AULAS 5 e 6 (T). Observe a figura:
CITOSINA ADENINA
NH2 (2-oxi-4-amonopirimidina) (6-aminopurina) NH2
C C N
4 6
N CH N C
CH
C C2 CH O PIRIMIDINA
PURINA HC C
C H H
N N N
4
HN C CH 3 C C N
H 5 H
4 6 C 7
HN CH N
1 5
O C2 CH 3 5 O

COMPOSIÇÃO QUÍMICA
O 8 CH
2 6 2 4
N HN CH HC 3 C C N
C 1 9
N N 6 C
4 H N HN
HN CH
H CH
TIMINA

CELULAR III
H 2
(5-METIL-2,4-dioxipirimidina) HN HC C
C C2 CH 2

N N
N
H
H URACILO GUANINA
(2 4 di i i i idi )

1.2. Relação de Chargaff


Em 1950, o austríaco Erwin Chargaff (1905-2002) anali-
sou amostras de DNA de diferentes células pertencentes
COMPETÊNCIA: 4 a diversas espécies e demonstrou que, em todas elas, as
quantidades de adenina eram iguais às de timina, enquan-
HABILIDADES: 13, 14 e 15 to as de citosina eram iguais às de guanina. A partir dessas
observações, ele desenvolveu a Relação de Chargaff:

A = T e C = G ou A/T = 1 e C/G = 1

1. DNA
1.1. Composição química 1.3. Estrutura do DNA
Por meio de informações obtidas em estudos da difração
O ácido desoxirribonucleico (DNA) é um polímero definido
dos raios-X e de análises químicas realizadas pela cientista
como um polinucleotídeo, uma vez que é constituído por
Rosalind Franklin, os pesquisadores James Watson e Francis
uma sucessão de unidades menores, os nucleotídeos.
Crick propuseram em 1953 o modelo da estrutura do DNA:
Os nucleotídeos são unidades orgânicas complexas formadas macromolécula constituída por duas cadeias polinucleotí-
pela união de três moléculas: um fosfato, uma pentose e uma dicas dispostas helicoidalmente.
base nitrogenada. Se o fosfato for retirado de um nucleotídeo,
o resultado será um nucleosídeo. Observe a figura abaixo:

Nucleotídeos - Bases nitrogenadas

DESENHO DO TRABALHO DE WATSON E CRICK


REPRESENTANDO A ESTRUTURA DO DNA.

De acordo com o modelo proposto por Watson e Crick, na


molécula de DNA, cada “corrimão da escada” é formado
OS QUATROS TIPOS DE NUCLEOTÍDEOS. por grupos de fosfatos ligados a desoxirriboses. Cada de-
O fosfato e a desoxirribose são constantes em todos os grau é formado por uma base púrica (A ou G) ligada a
nucleotídeos. A variação da base nitrogenada determina a uma base pirimídica (C ou T). Em cada degrau, as bases
existência de quatro tipos de nucleotídeos. são unidas por ligações de hidrogênio. A configuração mo-
lecular possibilita a ocorrência de duas ligações entre A e
Os nucleotídeos do DNA T e três entre C e G. O pareamento de A com T e de C com
As bases nitrogenadas pertencem a duas categorias: pú- G explica as igualdades: A = T e C = G, evidenciadas pela
ricas e pirimídicas. As púricas são a adenina (A) e a análise química. Observe os detalhes a seguir:

109
A dupla-hélice – Watson e Crick/1953 Transcrição
D=Desoxirribose
P= Fosfato Tradução
RNA
P P P
T T A
D D D
Proteína
P P P
C C G
D D D

P P P
G G C
D D D

P
A
P
A T
P
DNA
Duplicação
D D D
DNA

FUNÇÕES DO DNA
P P P

Cadeia de nucleotideos Duas cadeias pareadas, no plano

Dupla-hélice Dupla-hélice 1.6. Replicação (duplicação)


O processo de replicação é iniciado com a quebra das pontes
Existem vírus que apresentam DNA formado por uma cadeia de hidrogênio, o que permite que as duas fitas ou cadeias se
única de nucleotídeos. Nesses casos, não ocorre a Relação separem e a molécula se abra como um zíper. A cada base
de Chargaff, pois as quantidades de A e T, bem como de C e nitrogenada das duas cadeias separadas liga-se um nucleotí-
G, são diferentes. deo complementar, em meio aos disponíveis na célula. As fi-
tas ou cadeias parentais servem de molde aos novos filamen-
1.4. Localização do DNA tos, e o processo é ativado pela enzima DNA-polimerase.
Em laboratório, os cientistas usam uma reação bioquímica
conhecida como reação de Feulgen, que é específica para
localizar o DNA. Essa reação faz com que o DNA fique
corado de púrpura e possa ser observado ao microscópio.
Com essa coloração, podemos observar os cromosso-
mos no núcleo e também uma pequena quantidade de
DNA nos cloroplastos e mitocôndrias, que são organelas
citoplasmáticas que possuem seu DNA próprio.
Por fim, há a produção de duas novas moléculas-filhas,
cada uma das quais com uma cadeia nova recém-sinteti-
zada e uma outra, que pertencia à molécula-mãe. Por esse
motivo, a replicação é chamada de semiconservativa,
dado que cada molécula-filha conserva na sua estrutura
uma das metades da molécula-mãe. Observe:
Adenina
Timina
Citosina
Guanina

REAÇÃO DE FEULGEN

(P) Fosfato (D) Desoxirribose

1.5. Funções
O DNA é o material genético e possui duas propriedades
fundamentais: replicação e transcrição. Por meio da repli-
cação, a célula-mãe produz cópias exatas que passam para
as células-filhas.
A outra função e propriedade do DNA é a transcrição, a O fundamental do processo de replicação é garantir que as
partir da qual se origina o RNA, molécula que atua na sín- informações genéticas sejam passadas às gerações seguin-
tese das proteínas necessárias ao funcionamento celular. tes, permitindo, assim, que o genoma adaptativo persista.

110
Três estágios da replicação do DNA
Filamento
principal
3 Estágio 2: Síntese contínua

Estágio 1: Desenrolamento Dúplex DNA


não replicado
5 3
Novo DNA

Ativador do RNA

Filamento Novo DNA 5


lento 3

5 Direção da replicação do DNA

DNA polimerase 1

3 Estágio 3: Síntese descontinua

1.6.1. A enzima DNA-polimerase


Diversos aspectos da duplicação do DNA já foram desvendados pelos cientistas. Atualmente, sabe-se que diversas enzimas
estão envolvidas nesse processo. Algumas desemparelham as duas cadeias de DNA, outras desenrolam a dupla-hélice, e
existem aquelas que unem os nucleotídeos entre si. A enzima que promove a ligação dos nucleotídeos é conhecida como
DNA-polimerase, pois sua função é gerar um polímero de nucleotídeos.

1.7. Transcrição
Os genes, representados por segmentos de DNA, são os portadores da mensagem genética, que contém as instruções
necessárias para a síntese das proteínas nos ribossomos. Na transcrição, o DNA cromossômico sintetiza o RNA mensageiro,
para o qual transcreve a sequência de nucleotídeos representada pela mensagem genética. Ao deixar o núcleo, o RNA leva
a mensagem genética para os ribossomos.

2. RNA
2.1. Estrutura
Existem vários tipos de RNA, que estão sendo muito estudados por cientistas atualmente. Porém, dentro do contexto de
síntese de proteínas que será explorado aqui, estudaremos três tipos principais:
1. possui ribose (pentose) em vez de desoxirribose;
2. a base pirimídica uracila ou uracil, que não existe no DNA, substitui a timina;
3. sua molécula é formada por apenas uma fita ou cadeia simples, dessa forma, não existe pareamento nem igualdade nas
quantidades de bases.
Abaixo, um modelo de RNA:

111
A transcrição é o processo no qual todo RNA é sintetizado
pelo DNA. Como ocorre na replicação, as pontes de hidro-
gênio se quebram e as duas cadeias de DNA se separam.
Apenas uma delas serve de molde para a transcrição, na
qual ocorrerá a adição de nucleotídeos complementares de
RNA. O pareamento ocorrerá da seguinte forma:

DNA RNA multimídia: vídeo


A U FONTE: YOUTUBE
C G DNA - A Construção Social da Descoberta
G C
T A

A enzima responsável pelo processo é a RNA-polimerase. Uma vez formada, a molécula de RNA destaca-se e o DNA retorna
à sua forma original. A cadeia do DNA que forma o RNA é chamada de cadeia-molde ou hélice ativa. Observe um esquema
do processo a seguir:

RNA recém-formado
recém formado
Nucleotídeos RNA
RNA-polimerase
do RNA polimerase

Direção da “Template” da
transcrição fita de DNA

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O conceito de ligações químicas, como ligação fosfodiéster e ligações de ponte de hidrogênio, é aplicado no estudo do
DNA e do RNA. Uma ligação fosfodiéster é um tipo de ligação covalente que é gerada entre dois grupos hidroxila de
um grupo fosfato e duas hidroxilas de outras duas moléculas por meio de uma dupla ligação éster. Esse tipo de ligação
química liga as pentoses de um nucleotídeo aos fosfatos de outro, auxiliando na formação da estrutura do DNA e RNA.
A ponte de hidrogênio, por sua vez, é uma ligação química em que apenas dois elétrons são compartilhados por três
átomos e liga as bases nitrogenadas do DNA. Assim, os conceitos químicos são fundamentais para a compreensão da
estrutura dos ácidos nucleicos.

112
VIVENCIANDO

A descoberta da estrutura do DNA, ao elucidar o que é um gene, impulsionou os estudos na área e foi extremamente
importante para a fundamentação da biologia molecular atual. Compreender a estrutura e os processos de duplica-
ção e transcrição auxiliou na descoberta de doenças causadas por mutações no DNA, possibilitando um possível alvo
terapêutico para o tratamento, ou até mesmo a cura, dessas doenças.
Uma grande aplicação do conhecimento básico da biologia molecular é o Projeto Genoma Humano, que codificou o
genoma (todas as moléculas de DNA de uma célula de um determinado indivíduo) humano inteiro, o que possibilitou a
identificação de doenças hereditárias e também auxiliou nos estudos de parentesco evolutivo.

2.2. Tipos de RNA e suas funções


RNA ribossômico (RNAr), RNA mensageiro (RNAm) e RNA transportador (RNAt).
O RNAr, associado a proteínas, forma os ribossomos, organelas granulares responsáveis pela síntese de proteínas.
O RNAm é a cópia da mensagem genética, ou seja, do gene. A mensagem é formada no processo de transcrição e enviada
até os ribossomos para posterior leitura.
O RNAt tem como função o transporte de aminoácidos do hialoplasma para os ribossomos, participando do processo de
tradução, em que os aminoácidos são encadeados sequencialmente para formar uma proteína.

RNA mensageiro RNA transportador RNA ribossomal


(RNAm) (RNAt) (RNAr)
− Cópia da mensagem do gene.
− Transporte de aminoáci-
− Formado no processo de trans- − Associa-se com proteínas
FUNÇÃO dos do citoplasma para os
crição e enviado até os ribossomos para formar os ribossomos.
ribossomos.
(no citoplasma) para a tradução.
Local onde o
aminoácido se liga

ESTRUTURA
Anticódon

Local onde o
aminoácido se liga
Pontes de
hidrogênio

Anticódon

2.3. Localização do RNA nas células


O RNAr é o que aparece em maior quantidade na célula, sendo produzido no nucléolo e usado para formar os ribossomos. O
RNAm e o RNAt são produzidos no núcleo e migram para o citoplasma, aparecendo no hialoplasma e associados aos ribossomos,
onde participam da síntese de proteínas.

113
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 13
Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de
características dos seres vivos.

O exercício envolve conhecimentos sobre a estrutura e a replicação do DNA. Reconhecer como esses processos
estão envolvidos nos mecanismos de transmissão da vida e saber interpretar corretamente modelos biológicos
que demonstram esses processos são habilidades cobradas constantemente.

MODELO 1
(Enem) A reação em cadeia da polimerase (PCR, na sigla em inglês) é uma técnica de biologia molecular que
permite replicação in vitro do DNA de forma rápida. Essa técnica surgiu na década de 1980 e permitiu avanços
científicos em todas as áreas de investigação genômica. A dupla-hélice é estabilizada por ligações hidrogênio,
duas entre as bases adenina (A) e timina (T) e três entre as bases guanina (G) e citosina (C). Inicialmente, para
que o DNA possa ser replicado, a dupla-hélice precisa ser totalmente desnaturada (desenrolada) pelo aumento
da temperatura, quando são desfeitas as ligações hidrogênio entre as diferentes bases nitrogenadas.
Qual dos segmentos de DNA será o primeiro a desnaturar totalmente durante o aumento da temperatura
na reação de PCR?

a) d) T TAC GG C G
GG C C T T C G

C C GGAAG C AAT G C C G C

C C T C GAC T e)
b) C C TAGGAA
GGAG C T GA GGAT C C T T
c) AAT T C C TA

T TAAGGAT

ANÁLISE EXPOSITIVA
Essa questão envolve o conhecimento da estrutura do DNA, molécula essencial para a manutenção da vida. Aqui, o DNA é
contextualizado por meio de uma técnica chamada Reação em Cadeia da Polimerase (PCR), que tem como função produzir
novas moléculas idênticas de um determinado trecho de DNA. Para isso, é necessária a separação da dupla fita da molécula.
Isso ocorrerá devido ao aumento da temperatura, procedimento utilizado no PCR. Para entender qual fita será separada
mais facilmente, deve-se lembrar que adenina (A) se pareia através de duas ligações de hidrogênio com timina (T) e que
citocina (C) se pareia através de três ligações de hidrogênio com guanina (G). Logo, a molécula que vai se separar mais
facilmente é aquela que possui maior quantidade de (A) pareada com (T).

RESPOSTA Alternativa C

114
DIAGRAMA DE IDEIAS

DNA

ESTRUTURA PROPRIEDADES
COMPOSIÇÃO
QUÍMICA

DUPLA FITA TRANSCRIÇÃO

• FORMATO HELICOIDAL NUCLEOTÍDEO RNA A PARTIR DE DNA


• UNIDAS POR LIGAÇÕES
DE HIDROGÊNIO • PENTOSE (RIBOSE)
• FOSFATO
• BASE NITROGENADA REPLICAÇÃO
A, U, G, C

PAREAMENTO DE PAREAMENTO: • DUPLICAÇÃO DO DNA


BASES NITROGENADAS A U • SEMICONSERVATIVA
C G • DNA-POLIMERASE
A T (ADICIONA NUCLEOTÍDEOS
2 LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO À FITA RECÉM-SINTETIZADA)
• RNA-POLIMERASE:
C G
ADICIONA OS NUCLEO-
3 LIGAÇÕES DE HIDROGÊNIO
TÍDEOS À FITA DE RNA

115
1.1. O dogma central da
AULAS 7 e 8 biologia molecular
A relação DNA-RNA-proteínas, esquematizada na figura
a seguir, é conhecida como o dogma central da biologia
molecular, que estuda as atividades gênicas celulares por
meio da ação dessas macromoléculas.
CÓDIGO GENÉTICO E Polirribossomos

SÍNTESE PROTEICA
Aminoácido

CITOPLASMA
NÚCLEO

COMPETÊNCIA: 4
RNAm

HABILIDADES: 13 e 14 SÍNTESE

TRADUÇÃO
PROTEICA

enzima
1. Os organismos vivos TRANSCRIÇÃO ativa

Todos os seres vivos da Terra apresentam duas proprieda-


des típicas: autopreservação e autorreprodução.
DNA RNA RNAm PROTEÍNA
É chamada de autopreservação a capacidade que os orga- TRANSCRIÇÃO TRADUÇÃO

nismos possuem de manter sua individualidade por meio


de uma série de características próprias, mantidas num am- ƒ Replicação – é o processo de duplicação do DNA, na in-
biente em constante modificação. terfase, que determina a divisão celular responsável pelo
Autorreprodução é a habilidade de produzir descenden- crescimento, regeneração e reprodução dos organismos.
tes da mesma espécie. Essas duas propriedades depen- ƒ Transcrição – cada dupla fita de DNA das nossas
dem, em nível celular, da existência de duas macromo-
células forma um cromossomo. Esse termo é es-
léculas, presentes em todos os organismos: proteínas
pecialmente usado quando o DNA está condensado,
e ácidos nucleicos. As numerosas proteínas existentes
antes e durante e a divisão celular. Os cromossomos
em qualquer organismo podem ser agrupadas em: es-
se localizam no interior do núcleo das células. Já a
truturais e reguladoras.
síntese de proteínas ocorre no citoplasma, em uma
ƒ Proteínas estruturais – associadas com outras subs- organela chamada ribossomo, sob o comando gené-
tâncias, principalmente os lipídios, são responsáveis tico do DNA. Por meio da transcrição, o DNA forma
pela morfologia dos organismos, pois fazem parte das o RNA mensageiro (RNAm), para o qual transcreve a
estruturas celulares e, consequentemente, dos tecidos, mensagem genética – na verdade, uma receita para
órgãos e sistemas.
síntese de proteínas.
ƒ Proteínas reguladoras – são as enzimas e os
ƒ Tradução – saindo do núcleo, o RNAm atinge o ribos-
hormônios. As primeiras são especializadas na ca-
somo, que recebe a mensagem contida e codificada no
tálise de reações biológicas que determinam as ativi-
DNA. Na tradução, o ribossomo, de acordo com a sequ-
dades celulares, responsáveis por toda a fisiologia do
ência de bases nitrogenadas contidas no RNAm, selecio-
organismo. Os hormônios são proteínas geradas em
na e encadeia os aminoácidos, sintetizando a proteína.
órgãos especializados, servindo para regular o funcio-
namento de um organismo. Assim, é possível afirmar
que as características de um organismo dependem 1.2. A colinearidade DNA e proteína
das proteínas. Os ácidos nucleicos constituem o ma-
terial genético, responsável pela síntese das proteínas O DNA e a proteína são moléculas formadas por uma
estruturais e reguladoras. sequência linear de monômeros, ou seja, são polímeros.

116
No DNA e na proteína, os monômeros são, respectiva-
mente, nucleotídeos e aminoácidos. O DNA é colinear
com a proteína que ele codifica, ou seja, a sequência de DNA

nucleotídeos do DNA especifica a sequência de aminoá- informação


Replicação

cidos de uma proteína.

Correspondência entre as unidades do DNA e do RNA Transcrição informação


Transcrição

e os aminoácidos da proteína a ser sintetizada

(Síntese de RNA)

RNA
Hélice de DNA ativa
informação
Tradução

Transcrição
Tradução
(Síntese proteica)

RNAm Ribossomo

Tradução
proteína

MODELO DA AÇÃO GÊNICA


Proteína
2. Código genético
Em relação ao código genético, existem quatro símbolos,
representados pelos quatro tipos de nucleotídeos, abrevia-
DNA: polímero de nucleotídeos dos pelas letras iniciais: A, C, G e T.

Molécula de DNA Existe uma relação matemática na codificação dos amino-


ácidos, ou seja, qual a quantidade de nucleotídeos associa-
Genes da à identificação de um aminoácido?
As proteínas são constituídas por vinte tipos de aminoá-
cidos. Se cada nucleotídeo codificasse um único aminoá-
cido, apenas quatro poderiam ser codificados. Dois nucle-
otídeos também seriam insuficientes, pois, reunidos dois
a dois, só permitem dezesseis arranjos com repetição, ou
seja: desse modo, apenas dezesseis aminoácidos seriam
codificados. Se a mensagem genética fosse constituída
por arranjos de três letras, com repetição, teríamos 64
Códon possibilidades, mais do que suficiente para codificar vinte
tipos de aminoácidos. Portanto:
Proteína: polímero de aminoácidos
ƒ Três nucleotídeos o um códon, codifica um aminoácido.
ƒ Vários códons o um gene, codifica vários aminoácidos
em uma sequência específica para formar uma proteína.
Trp Phe Gly Ser
ƒ Vários genes o uma molécula de DNA, que contém
vários genes e, consequentemente, a informação gené-
Aminoácidos
tica para a síntese de várias proteínas.

1.2.1. Gene 2.1. Representação do código genético


O gene é um segmento de DNA que codifica a sequência Nas tabelas de código genético, os códons são representa-
de aminoácidos de uma proteína. dos pela sequência do RNA mensageiro.

117
TABELA DE CÓDONS DE RNAM

2.2. Códons de iniciação e terminalização O código é universal, pois cada códon codifica sempre o mes-
mo aminoácido em qualquer organismo, inclusive os vírus.
A síntese de uma proteína tem início quando um ribossomo
se organiza junto ao RNAm sobre o códon de iniciação AUG Ou seja, um aminoácido pode ser codificado por mais de
(start códon). Esse códon codifica o aminoácido metionina um códon, porém um códon codifica apenas um aminoácido
(Met), de forma que todas as proteínas começam com específico, de modo que o código genético não é, de forma
a metionina. A cadeia termina quando o ribossomo atinge alguma, ambíguo (não há possibilidade de dois aminoácidos
um dos três códons de parada ou finalização (stop códon), distintos serem codificados pelo mesmo códon).
representados por: UAA, UAG e UGA. Os códons de finaliza- Alguns pesquisadores afirmam que o fato de mais de um
ção não codificam nenhum aminoácido. códon poder codificar o mesmo aminoácido, de certa forma,
Gene "protege" o organismo contra algumas mutações, já que
DNA algumas alterações nesse códon podem manter o mesmo
Sequência promotora Fita ativa Região de final aminoácido codificado (por exemplo, se houver uma muta-
começa a sítese de RNA do DNA de transcrição
RNA polimerase
ção em um códon AUU para AUC, o aminoácido codificado
ainda seria o mesmo, nesse caso, isoleucina).
RNA em crescimento
Algumas exceções ao conceito de universalidade foram
descobertas no DNA mitocondrial, no qual, por exemplo,
AUA codifica isoleucina no código do DNA nuclear univer-
Final da transcrição.
O RNA está completo
e a polimerase é liberada sal e metionina no código do DNA mitocondrial humano.

2.4. Etapas da síntese proteica


A síntese proteica é um processo complexo que compreen-
2.3. Propriedades do código genético de três etapas: transcrição, ativação de aminoácidos
e tradução. A primeira ocorre nos cromossomos, a segun-
O código genético apresenta duas propriedades: degene-
da, no hialoplasma, e a terceira, nos ribossomos.
ração e universalidade. Afirma-se que o código é dege-
nerado porque a maioria dos aminoácidos é codificada por ƒ Transcrição – a primeira etapa da síntese protei-
dois ou mais códons. ca e, portanto, da ação gênica, é a transcrição, que

118
corresponde à formação do RNA mensageiro. O gene Ao sítio 1 se liga um RNAt que apresenta um anticódon
que codifica uma proteína sintetiza o RNAm. Destacan- complementar ao primeiro códon do RNAm. No sítio 2, aco-
do-se do DNA, o RNAm atravessa um poro do envoltório pla-se o segundo RNAt específico, que transporta o segundo
nuclear, os anulli, e atinge o citoplasma, em que se asso- aminoácido. Entre os dois primeiros aminoácidos, forma-se
cia a um ribossomo, formando um molde para a síntese a ligação peptídica, produzindo um dipeptídeo, enquanto o
de uma proteína. primeiro RNAt é liberado. O ribossomo desloca-se e aparece
então no segundo e terceiro códons do RNAm. O dipeptídeo
ƒ Ativação dos aminoácidos – nessa etapa, atuam
aparece no sítio 1, ficando o sítio 2 livre para o acoplamen-
os RNA transportadores (RNAt), pequenas moléculas
to do terceiro RNAt. Com o deslocamento do ribossomo, o
constituídas por uma cadeia com cerca de 80 nucle-
processo vai-se repetindo até a formação completa do poli-
otídeos que se dobra lembrando uma folha de trevo.
peptídeo, ou seja, da proteína. Por fim, o RNAm e a proteína
Diferenciam-se no RNAt duas regiões de união: o an-
desprendem-se do ribossomo.
ticódon e o extremo da molécula. O anticódon é uma
sequência de três bases complementares a um códon
do RNAm. A ativação do aminoácido implica a fixação 2.5. O polissomo
desse ao RNAt. O processo é catalisado pela enzima A cadeia do RNAm é muito longa, permitindo que vários
aminoacil RNAt sintetase e envolve gasto de ATP. ribossomos realizem simultaneamente a tradução. O con-
junto de ribossomos ligados a uma molécula de RNAm,
executando o processo de tradução, é chamado de polis-
somo ou polirribossomo.
Proteína
completa
Proteína em
crescimento

Ribossomo
em

A região de fixação do aminoácido está localizada no ex- movimento

tremo da molécula. Nessa etapa da síntese proteica, cada RNAm

aminoácido é transportado por um tipo específico de RNAt


e levado para o ribossomo.
A síntese de proteínas
ƒ Tradução – é a produção de uma proteína de acordo Síntese de RNAm a partir de um molde de DNA que cons-
transcrição
com a especificação do RNAm. Nesse processo, o ri- titui o gene. Ocorre no núcleo.

bossomo desloca-se ao longo do RNAm, encadeando ativação de Ligação de aminoácidos com o RNAt. Ocorre no hi-
aminoácidos e gerando a proteína. No ribossomo, exis- aminoácidos aloplasma.
tem dois sítios usados para a fixação de aminoácidos.
Observe a ilustração a seguir: A síntese de proteínas

Processo em que a sequência de nucleotídeos do RNAm


tradução determina a incorporação de aminoácidos em uma proteí-
na. Ocorre nos ribossomos.

DNA ATG CGC TAC GGC AAT

RNAm UAC GCG AUG CCG UUA


exemplo
RNAt AUG CGC UAC GGC AAU

aminoácidos TIR ALA MET PRO LEU

3. Mutação e síntese proteica


3.1. Mutação gênica
A mutação gênica é uma alteração na estrutura do gene.
Ela consiste numa mudança na sequência de bases do DNA
ocorrida por um erro no processo de replicação. A mutação
pode alternar a sequência de genes e consequentemente
alterar as proteínas que são produzidas por esse organismo.

119
3.2. Tipos de mutação 3.3. Mutações somáticas e germinativas
As mutações gênicas podem ser classificadas em: As mutações somáticas ocorrem nas células somáticas.
Elas podem modificar uma característica do organismo,
ƒ Substituição – consiste na substituição de uma
mas não são transmitidas para os descendentes. As mu-
base por outra, como pode ser observado na fi-
tações germinativas, por sua vez, acontecem nas células
gura abaixo, em que, na cadeia inferior, adenina
formadoras dos gametas ou ainda nos próprios game-
foi substituída por guanina. As substituições são
tas, e podem ser transmitidas aos descendentes. São
classificadas em dois tipos: transição, que é a
importantes para a variabilidade genética e a evolução
substituição de purina por purina (A por G ou G
dos organismos.
por A) ou pirimidina por pirimidina (C por T ou T
por C); e transversão, que é a troca de purina por 3.4. Agentes mutagênicos
pirimidina ou vice-versa (A ou G por T e vice-versa).
As mutações, quando determinadas por alterações
químicas nas bases, são denominadas espontâneas
e, quando decorrentes da ação de agentes físicos
e químicos, são denominadas induzidas. Entre os
agentes físicos, citamos os raios-X, alfa, beta e gama,
capazes de alterar as bases e produzir quebras nas
cadeias do DNA. Como agentes químicos, aparecem
ƒ Deleção ou deficiência – é a perda de bases, como os análogos de bases, substâncias que têm estrutu-
se verifica na figura abaixo, em que, na cadeia inferior, ras moleculares semelhantes às bases do DNA e, se
adenina foi suprimida. presentes, podem ser incorporadas durante a replica-
ção. Assim, bromouracil é quase igual à timina e pode
substituí-la na replicação do DNA. Contudo, diferente-
mente da timina, o bromouracil pareia com a guanina,
produzindo uma mutação do tipo transição com subs-
tituição de A – T por G – C.

ƒ Inserção – é a colocação de um ou mais nucleotídeos


numa cadeia de DNA; na figura abaixo, notamos a in-
serção de G – C.

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120
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Os conceitos de síntese proteica são necessários para a compreensão da evolução biológica e de como as características se
desenvolvem nos organismos. As características específicas de cada indivíduo produzem uma gama de variantes na população.
Dessa forma, os organismos mais aptos ao meio são selecionados positivamente, o que culmina no processo evolutivo. Para
que as informações contidas no DNA sejam expressas, é necessário que o metabolismo citológico trabalhe, produzindo
proteínas que resultam na expressão dos caracteres. Vê-se, nesse contexto, a interação entre a ecologia e a genética evolutiva.

121
ÁREAS DO CONHECIMENTO DO ENEM

HABILIDADE 14
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio
interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade, entre outros.

A síntese de proteínas é um processo vital na manutenção do equilíbrio interno dos organismos. Esse pro-
cesso está associado a equilíbrio, defesa, sexualidade, transporte, dentre outras funções vitais presentes nos
sistemas biológicos. Conhecer de que maneira esse processo ocorre é essencial, uma vez que é cobrado de
diferentes formas nas provas do Enem.

MODELO 1
(Enem) A figura seguinte representa um modelo de transmissão da informação genética nos sistemas biológi-
cos. No fim do processo, que inclui a replicação, a transcrição e a tradução, há três formas proteicas diferentes
denominadas a, b e c.

Depreende-se do modelo que:

a) a única molécula que participa da produção de proteínas é o DNA;


b) o fluxo de informação genética, nos sistemas biológicos, é unidirecional;
c) as fontes de informação ativas durante o processo de transcrição são as proteínas;
d) é possível obter diferentes variantes proteicas a partir de um mesmo produto de transcrição;
e) a molécula de DNA possui forma circular e as demais moléculas possuem forma de fita simples linearizadas.

ANÁLISE EXPOSITIVA
A partir do esquema, é possível depreender que a replicação do DNA ocorre de maneira periódica e in-
dependente de outros processos apresentados. De acordo com o esquema, pode-se formar tanto DNA a
partir de RNA como o processo inverso, pois a representação desse processo é feita por meio de uma seta
bidirecional. Portanto, a partir dessa representação, não é possível afirmar que o processo representado
é unidirecional. Ainda é possível depreender do esquema que, a partir do mesmo RNA formado, podem
ser formados tipos diferentes de proteínas. Isso é possível, pois, na mesma molécula de RNA, existem
diversos pontos de início e parada da síntese proteica, e, dependendo da região que está sendo traduzida,
diferentes proteínas podem ser formadas.

RESPOSTA Alternativa D

122
DIAGRAMA DE IDEIAS

SÍNTESE DE PROTEÍNAS (TRADUÇÃO)

REPLICAÇÃO CÓDONS
DNA
(NÚCLEO CELULAR)
• TRINCA DE NUCLEOTÍDEOS
• CORRESPONDEM A UM AMINOÁCIDO
• CÓDIGO GENÉTICO
TRANSCRIÇÃO UNIVERSAL
RNAm
(NÚCLEO CELULAR) DEGENERADO
NÃO AMBÍGUO

SÍNTESE DE
RIBOSSOMO
PROTEÍNA
(RNAr) RNAt
(CITOPLASMA)

• TRANSPORTE DE AMINOÁCIDOS
• TRINCA CORRESPONDENTE AO CÓDON

PROTEÍNA

123
Competência 1 – Compreender as ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papéis nos
processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade.
H1 Reconhecer características ou propriedades de fenômenos ondulatórios ou oscilatórios, relacionando-os a seus usos em diferentes contextos.
H2 Associar a solução de problemas de comunicação, transporte, saúde ou outro, com o correspondente desenvolvimento científico e tecnológico.
H3 Confrontar interpretações científicas com interpretações baseadas no senso comum, ao longo do tempo ou em diferentes culturas.
Avaliar propostas de intervenção no ambiente, considerando a qualidade da vida humana ou medidas de conservação, recuperação ou utilização sustentável
H4
da biodiversidade.
Competência 2 – Identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais em diferentes contextos.
H5 Dimensionar circuitos ou dispositivos elétricos de uso cotidiano.
H6 Relacionar informações para compreender manuais de instalação ou utilização de aparelhos, ou sistemas tecnológicos de uso comum.
Selecionar testes de controle, parâmetros ou critérios para a comparação de materiais e produtos, tendo em vista a defesa do consumidor, a saúde do
H7
trabalhador ou a qualidade de vida.
Competência 3 – Associar intervenções que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumen-
tos ou ações científico-tecnológicos.
Identificar etapas em processos de obtenção, transformação, utilização ou reciclagem de recursos naturais, energéticos ou matérias-primas, considerando
H8
processos biológicos, químicos ou físicos neles envolvidos.
Compreender a importância dos ciclos biogeoquímicos ou do fluxo energia para a vida, ou da ação de agentes ou fenômenos que podem causar alterações
H9
nesses processos.
H10 Analisar perturbações ambientais, identificando fontes, transporte e(ou) destino dos poluentes ou prevendo efeitos em sistemas naturais, produtivos ou sociais.
Reconhecer benefícios, limitações e aspectos éticos da biotecnologia, considerando estruturas e processos biológicos envolvidos em produtos biotecnológi-
H11
cos.
H12 Avaliar impactos em ambientes naturais decorrentes de atividades sociais ou econômicas, considerando interesses contraditórios.
Competência 4 – Compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando
conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais.
H13 Reconhecer mecanismos de transmissão da vida, prevendo ou explicando a manifestação de características dos seres vivos.
Identificar padrões em fenômenos e processos vitais dos organismos, como manutenção do equilíbrio interno, defesa, relações com o ambiente, sexualidade,
H14
entre outros.
H15 Interpretar modelos e experimentos para explicar fenômenos ou processos biológicos em qualquer nível de organização dos sistemas biológicos.
H16 Compreender o papel da evolução na produção de padrões, processos biológicos ou na organização taxonômica dos seres vivos.
Competência 5 – Entender métodos e procedimentos próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos.
Relacionar informações apresentadas em diferentes formas de linguagem e representação usadas nas ciências físicas, químicas ou biológicas, como texto
H17
discursivo, gráficos, tabelas, relações matemáticas ou linguagem simbólica.
H18 Relacionar propriedades físicas, químicas ou biológicas de produtos, sistemas ou procedimentos tecnológicos às finalidades a que se destinam.
Avaliar métodos, processos ou procedimentos das ciências naturais que contribuam para diagnosticar ou solucionar problemas de ordem social, econômica
H19
ou ambiental.
Competência 6 – Apropriar-se de conhecimentos da física para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científi-
co-tecnológicas.
H20 Caracterizar causas ou efeitos dos movimentos de partículas, substâncias, objetos ou corpos celestes.

H21 Utilizar leis físicas e (ou) químicas para interpretar processos naturais ou tecnológicos inseridos no contexto da termodinâmica e(ou) do eletromagnetismo.

Compreender fenômenos decorrentes da interação entre a radiação e a matéria em suas manifestações em processos naturais ou tecnológicos, ou em suas
H22
implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais.
Avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de energia em ambientes específicos, considerando implicações éticas, ambientais, sociais e/ou
H23
econômicas.
Competência 7 – Apropriar-se de conhecimentos da química para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científi-
co-tecnológicas.
H24 Utilizar códigos e nomenclatura da química para caracterizar materiais, substâncias ou transformações químicas

Caracterizar materiais ou substâncias, identificando etapas, rendimentos ou implicações biológicas, sociais, econômicas ou ambientais de sua obtenção ou
H25
produção.
Avaliar implicações sociais, ambientais e/ou econômicas na produção ou no consumo de recursos energéticos ou minerais, identificando transformações
H26
químicas ou de energia envolvidas nesses processos.
H27 Avaliar propostas de intervenção no meio ambiente aplicando conhecimentos químicos, observando riscos ou benefícios.
Competência 8 – Apropriar-se de conhecimentos da biologia para, em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científico
tecnológicas.
Associar características adaptativas dos organismos com seu modo de vida ou com seus limites de distribuição em diferentes ambientes, em especial em
H28
ambientes brasileiros.
Interpretar experimentos ou técnicas que utilizam seres vivos, analisando implicações para o ambiente, a saúde, a produção de alimentos, matérias primas
H29
ou produtos industriais.
Avaliar propostas de alcance individual ou coletivo, identificando aquelas que visam à preservação e a implementação da saúde individual, coletiva ou do
H30
ambiente.

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