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ELEMENTOS DE GEOLOGIA E MINERALOGIA

ORIGEM DO UNIVERSO

O planeta em que vivemos é formado pelo mesmo material que compõe os demais corpos do
Sistema Solar e tudo o mais que faz parte de nosso Universo. Assim, a origem da terra está ligada
intrinsecamente à formação do Sol, dos demais planetas do Sistema Solar e de todas as estrelas a
partir de nuvens de gás e poeira interestelar. Com base nas informações decorrentes de diversos
campos da Ciência (Física, Química, Astronomia, Astrofísica, Cosmoquímica), bem como
estudando a natureza do material terrestre (composição química, fases minerais, etc.) já foram
obtidas respostas para algumas importantes questões que dizem respeito à nossa existência:

Vamos começar pela parte mais difícil. Como se formaram os elementos químicos, as
estrelas e galáxias? Como se originaram os sistemas planetários? Qual é a idade da terra e do
Sistema Solar? Qual é a idade do Universo? Qual é o futuro do Sistema Solar, e do próprio
Universo? Estas questões têm atraído a atenção de grandes filósofos e cientistas nos últimos dois
séculos e as respostas ainda não foram totalmente encontradas.
Para as três primeiras perguntas já existem evidências suficientes para estabelecer uma
razoável confiança nos pesquisadores em relação às suas teorias, baseadas no conhecimento
cientifico, tanto teórico como pratico, observacional ou experimental. A quarta e sexta talvez
também possam vir a ser respondidas com o progresso da Ciência.
Contudo, o que existia antes do Universo? Para esta pergunta ainda não temos esperança de
resposta no campo do conhecimento cientifico convencional, e tal questão permanecerá como
objeto de considerações filosóficas e metafísicas (tema de âmbito das diferentes religiões: a
presença de um Criador, Deus, exercendo sua vontade superior).

ESTRUTURA DO UNIVERSO
A Astronomia nos ensina que existem incontáveis estrelas no céu. Ao mesmo tempo,
observamos que elas se dispõem de uma maneira ordenada, segundo hierarquias. As estrelas
agrupam-se primeiramente em galáxias, cujas dimensões são da ordem de 100.000 anos-luz
(distância percorrida à velocidade da luz, 300 mil km/s, durante um ano). Exemplos comuns de
galáxias são do tipo elíptico e espiral. A estrutura interna das galáxias pode conter mais de 100
bilhões de estrelas de todas as dimensões, com incontáveis particularidades.
Por exemplo, entre as descobertas que vêm sendo alvo de estudos rádio-astronômicos estão
os quasars, objetos peculiares com dimensão semelhante à do nosso Sistema Solar, mas contendo
imensa quantidade de energia e brilhando com extrema intensidade. As galáxias podem conter
enormes espaços interestelares de baixa densidade, mas também regiões de densidade extrema. Os
assim chamados buracos negros podem sugar qualquer matéria das proximidades, em virtude de
sua gigantesca energia gravitacional. Nem mesmo a luz consegue escapar dos buracos negros, e o
seu estudo é um dos temas de fronteira da Astronomia. A Via Láctea é também uma galáxia do tipo
espiral, sendo que o Sol - a estrela central de nosso Sistema Solar - está situado num de seus braços
periféricos (braço de Orion). A Via Láctea possui também um núcleo central, onde aparecem
agrupamentos de estrelas jovens.
As galáxias, por sua vez, se agrupam nos assim chamados aglomerados, que podem conter
entre algumas dezenas a alguns milhares de galáxias. A Via Láctea pertence ao chamado Grupo
Local, que inclui também a galáxia de Andrômeda e as Nuvens de Magalhães. Finalmente, o maior
nível hierárquico do Universo é o de superaglomerados, compostos de até dezenas de milhares de
galáxias, e com extensões que atingem centenas de milhões de anos-luz.

O Universo encontra-se em expansão. Não é a distância entre as estrelas de uma galáxia que
está aumentando, e nem a distância entre as galáxias de um aglomerado, visto que tanto as
primeiras como as últimas estão ligadas entre si pela atração da gravidade. A expansão do Universo
significa que aumenta continuamente o espaço entre os aglomerados galácticos que não estão
suficientemente ligados pela atração gravitacional. A velocidade desta expansão é dada pela
constante de Hubble, ainda não determinada com grande precisão, e que presentemente parece se

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situar próxima de 18 Km/s.106 anos-luz. Se o nosso Universo for "aberto", este valor permanecerá
constante, ou poderá aumentar no futuro. Se entretanto o Universo for "fechado", a velocidade de
expansão diminuirá com o tempo, tenderá a anular-se e em seguida tomará valores negativos
característicos de contração.
A Astronomia ainda não está segura quanto à natureza aberta ou fechada do Universo, pois
isto depende de sua densidade média, cujo valor não se encontra estabelecido adequadamente. O
valor limite entre Universo aberto e fechado, chamado de densidade crítica, é dado por ρo = 3 Ho2 /
8πG, onde Ho é a constante de Hubble e G a constante gravitacional. Para o valor mencionado
acima de Ho a densidade crítica é de 6,5 x l0-30 g/cm3.
Observações recentes sugerem que a densidade média tem valor inferior ao crítico,
indicando um Universo aberto, portanto tendendo a expandir-se para sempre. Entretanto, é difícil
medir essa densidade em virtude da existência da chamada matéria escura, de complicada
caracterização e de presença ubíqua em todo o espaço interestelar. Este material, virtualmente
invisível, consiste de neutrinos e possivelmente de outras partículas desconhecidas que interagem
apenas por forças de gravidade com a matéria conhecida. Muitos cientistas acreditam que esta
matéria invisível estaria presente no Universo em quantidade muito superior à da matéria visível, e
nesse caso a densidade média poderia superar o valor critico, apontando assim para um Universo
“fechado”.
Se o nosso Universo for fechado, isto é, se sua densidade média for superior a 6,5 x 10-30
g/cm3, sua velocidade de expansão deverá diminuir até anular-se, e em seguida ele deverá implodir
sobre si mesmo, num colossal cosmocrunch, no futuro longínquo, daqui a muitas dezenas de bilhões
de anos. Toda a matéria estará reunida numa singularidade, um espaço muito pequeno de densidade
extremamente alta, virtualmente infinita, e sob uma temperatura também extremamente alta,
virtualmente infinita. Nesta singularidade que foge a qualquer visualização, matéria e energia
seriam indistinguíveis, não haveria espaço em seu entorno e o tempo não teria sentido.
Esta pode ter sido a situação existente cerca de 15 bilhões de anos atrás, o ponto de partida
de tudo o que nos diz respeito, um ponto reunindo toda a matéria e energia do Universo, que
explodiu no evento único e original que os físicos denominaram Grande Explosão, ou Big Bang

1. EXPLICAÇÕES DAS OBSERVAÇÕES


Se alguém quer entrar na lista (luta?) de cientistas interessados na explicação de alguns
fenômenos relacionados à origem dos sistemas planetários, isto é relativamente simples. Com base
num raciocínio lógico, desenvolva um mecanismo que explique as seguintes observações:

1) Como e porque se distribuem as massas dos planetas?


2) Explique a distribuição do tamanho dos planetas.
3) Explique as peculiaridades de suas órbitas.
4) Explique a abundância dos elementos nos planetas e no Sol.

O que aconteceu a cerca de 4,7 bilhões de anos quando os planetas começaram a se formar
resultou de várias regularidades e grupamentos curiosos.

1. Todos os planetas giram em torno do Sol na mesma direção, em órbitas elípticas, porém
quase circulares, que jazem num mesmo plano (Fig). Muitas de suas luas também giram na
mesmo direção.
2. Todos os planetas exceto VÊNUS e URANO rotacionam na mesma direção de sua
revolução em volta do Sol - isto é, no sentido horário quando nos olhamos do polo Norte
para o polo Sul da Terra.
3. Cada planeta está grosseiramente 2 vezes mais distante do que planeta interior. Este
ordenamento é conhecido como a regra de Titius-Bode.
4. Embora o Sol seja responsável por cerca de 99,9% de toda a massa do sistema solar, 99% do
momento angular está concentrado nos planetas maiores (Fig. para explicar momento
angular).

Dr. Marco Antonio Galarza - Instituto de Geociências


Os planetas formam 2 grupos: os chamados planetas terrestres (ou rochosos) - Mercúrio,
Vênus, Terra e Marte, o grupo mais interno de corpos pequenos, rochosos e mais duros (densidade
4 a 5,5 vezes a densidade da H2O); e os planetas gigantes (ou gasosos) - Júpiter, Saturno, Urano e
Netuno, um grupo externo de corpos largos, gasosos com densidades menores, entre 0,7 e 1,7 vezes
a densidade da H2O. De certa forma os planetas exteriores são mais parecidos com o sol, levando
em conta a sua composição gasosa.
A partir de análise química das rochas da terra, lua e meteoritos, supõe-se que os planetas
terrestres são construídos principalmente (ca. 90%) de 4 elementos: Ferro, Oxigênio, Silício e
Magnésio. Os estudos espectroscópicos* do Sol mostram que ele é composto quase que
inteiramente (99%) de hidrogênio e hélio. A elevada abundância do hidrogênio e do hélio são
também características do planeta gigantes.

* OBS: A luz é emitida ou absorvida de uma maneira característica por diferentes elementos quando eles
incandescem. A análise da luz em cores (componentes espectrais) revela a composição de sua fonte. Desta
forma a cor amarela produzida quando vaporizamos sal de comum (NaCl) em chamas de gás, revela a
presença do elemento Na.

2. AS DIFERENTES HIPÓTESES
2.1. A HIPÓTESE DAS "NEBULOSAS"
A abordagem moderna sobre o problema da origem do sistema planetário iniciou em 1755
quando o filósofo alemão Immanuel Kant** idealizou uma nuvem de gás primitiva (original),
rotacionando lentamente, (este fenômeno é chamado atualmente de nebulosa), que de forma não
especificada condensou num número discreto de corpos globulares.

**OBS: A hipótese de Kant, publicada anonimamente, tinha como título: "Universal Natural History and
Theory of the Heavens, or an Essay on the Constitution and Mechanical Origin of the Whole Universe,
Treated According to Newtonian Principles". A editora foi a falência e os livros foram divididos entre os
credores, de tal maneira que poucos exemplares chegaram as mãos do público em geral.

Com esta hipótese, Kant explicou claramente a consistência das direções de rotação e
revolução no qual a direção da nebulosa original é preservada na rotação do Sol e a revolução dos
planetas ao redor do Sol, e a rotação dos planetas sobre seus próprios eixos - todos na mesma
direção.
O grande matemático francês Laplace propôs essencialmente a mesma teoria em 1796 -
surpreendentemente sem a formulação matemática que ele seria capaz de desenvolver. Os
historiadores de ciência terão ainda que determinar se Laplace sabia ou conhecia o trabalho de Kant
e porque ele não lançou a sua própria teoria a partir de análises matemáticas.
De acordo com Kant e Laplace a massa original de gás resfriou e começou a contrair.
Quando isto aconteceu a velocidade rotacional aumentou (uma conseqüência da lei de conservação
do momento angular), até que anéis mais ricos de material gasoso foram "expulsos" da massa
central pela força centrífuga. No estágio final os anéis condensaram e permaneceram planetas.

Cem anos mais tarde James Clerk Maxwell e Sir James Jeans mostraram que não era bem
assim, pois não havia massa suficiente nos anéis para criar força gravitacional suficiente que
gerasse a atração para condensação dos planetas.
O golpe final na teoria de Kant veio no século XIX quando o astrônomo F.R. Moulton de
Chicago, mostrou que a hipótese sobre a nebulosa violava o item 4 - ou seja - os planetas é que
possuem o maior momento angular. A conservação do momento angular requer que cada parte de
uma nebulosa em rotação e condensando, conserve o seu momento angular. O Sol que possui a
maior massa deveria, portanto, apresentar o maior momento angular do sistema. Entretanto pode-se
afirmar, que de forma simplificada, o Sol não gira mais suficientemente rápido; ele deve ter girado
mais rapidamente no passado.

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2.2. HIPÓTESE DAS COLISÕES
A hipótese sobre colisões surgiu em 1749 e foi formulada por Count Buffon. Esta hipótese
foi revitalizada por T.C. Chamberlin e por F.R. Moulton. Esta hipótese considera que "línguas"
gigantes de matéria foram expulsas do Sol por atração gravitacional de uma outra estrela em
movimento. De acordo com Chamberlin e Moulton estas "línguas" separaram-se em partes
menores, ou planetesimais, que começaram a se mover como corpos frios em órbitas ao redor do
Sol no plano da estrela que passava. Por colisão e atração gravitacional os planetesimais maiores
arrebataram os pedaços menores e formaram planetas. Infelizmente as várias versões da teoria da
colisão possuem um ponto fraco fatal. De acordo com os astrônomos, uma boa parte do material
ejetado do Sol deveria vir do seu interior e deveria ser tão quente, talvez 1.000.000°C, que os gases
deveriam ter-se dispersados através do espaço ao invés de condensarem em planetas. Embora um
maior momento angular fosse esperado nos planetas através da hipótese de colisão estrelar, a
quantidade prevista é ainda menor do que a observada. Finalmente, a vastidão do espaço torna a
probabilidade da colisão de 2 estrelas extremamente pequena.

2.3. TEORIAS RECENTES


O pensamento das últimas duas décadas tem sido influenciado pela descoberta de que o
espaço não está tão "vazio" como se pensava. Observações astronômicas tem detectado, em ambos,
espaço interestelar e em nebulosas, matéria rarefeita que consiste em cerca de 99% de gás e 1% de
poeira. Os gases são principalmente H e He, e as partículas tamanho poeira possuem composição
similar aos materiais terrestres, tais como, compostos de silício, óxidos de Ferro, cristais de gelo e
vários outros moléculas incluindo compostos orgânicos.

Não é surpresa, então, que as teorias recentes tendam a ser Neo-Laplacianas, uma vez que
elas retomam a idéia da nuvem de gás e poeira girando, cuja forma e movimentos internos foram
determinados pelas forças gravitacionais e pelas forças de rotação. Em algum momento a atração
gravitacional tornou-se o fator predominante e a contraçäo começou, juntamente com o aumento na
velocidade de rotação (novamente conservação do momento angular). A nuvem tendeu a ficar plana
como um disco, a matéria começou a se deslocar para o centro formando o proto-Sol. Este
colapsou devido a sua própria gravitação, tornando-se denso e opaco na medida em que a matéria é
comprimida. Existem evidências crescentes que o colapso de uma nébula para formar um Sol e
planetas foi engatilhado pelo nascimento de uma SUPERNOVA (explicação: ou seja uma explosão
cataclísmica de uma estrela enorme com uma força tremenda). Alguns detritos da supernova tem
sido encontrados nos meteoritos. O que quer que causou o colapso, provocou uma elevação de
temperatura do proto-Sol de cerca de 1.000.000°C no qual a fusão nuclear teve início. Mais
precisamente, o sol começou a brilhar com o início da reação termonuclear, na qual o núcleo de H
combina sob intensa pressão para formar um núcleo de He liberando uma enorme quantidade de
energia.
E o disco de gás e poeira que envolvia o sol primitivo? Como se formaram os planetas?
Como os planetas ficaram com o momento angular necessário, e porque os planetas possuem
diferentes composições químicas? Existe pouca concordância entre os especialistas sobre as
respostas a estas perguntas.

Um modelo recente sobre o "disco nebular", chamado de "chemical-condensation-sequence"


parece prever as observações feitas quanto a variação na composição química e densidade dos
planetas. Ele afirma o seguinte: Inicialmente, o disco estava extremamente quente, tanto que os
materiais estavam todos na forma gasosa. Na medida em que o disco resfriou, vários componentes e
minerais condensaram formando grãos que gradualmente se agruparam formando os planetesimais.
Os planetesimais coalesceram, os maiores, com maior gravidade capturaram o material nas suas
proximidades. Se um planeta cresceu a uma distância mais próxima do Sol de tal forma que a
temperatura permitisse que certos materiais condensassem, estes gases foram expelidos pela
radiação e pela matéria emanada a partir do Sol. (A ejeção de matéria durante os estágios iniciais
contribuiu em parte para a diminuição da velocidade das rotações). Próximo ao Sol, onde as

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temperaturas eram mais elevadas, os primeiros materiais a condensar foram aqueles com pontos de
ebulição mais altos, como os metais e alguns minerais. Desta forma, Mercúrio, o planeta mais
próximo do Sol, é o mais denso de todos (5,4 x a δ H2O), porque é o mais rico em Ferro. A
proximidade de Mercúrio em relação ao Sol significa que ele se formou a temperaturas tão altos que
praticamente só o ferro condensou. Os compostos mais leves formadores de rochas, tais como
aqueles feitos de Mg, Si e O condensam mais rapidamente em ambientes mais "frios", dos planetas
interiores. Materiais facilmente evaporáveis, tais como a água, o metano e a amônia são
extremamente voláteis para permaneceram nos planetas interiores, mas eles poderiam condensar em
gelo nos planetas exteriores mais distantes do Sol, como por exemplo nos satélites dos planetas
gigantes. Júpiter e Saturno são grandes o suficiente e possuem atrações gravitacionais fortes o
suficiente para reter todos os seus constituintes e com isso apresentam uma composição semelhante
a da nébula original - ou seja principalmente H, He como o Sol.

O que foi dito anteriormente é uma hipótese, ou seja um modelo possível. Talvez algumas
destas idéias estejam próximas do que realmente aconteceu. Nos só saberemos no futuro, pois é
necessário ainda muito trabalho para que alguns pontos "obscuros" sejam esclarecidos.
As nebulosas em diferentes estágios de desenvolvimento estão sendo estudadas com o
telescópio convencional e também com equipamentos especiais que magnificam os raios-x e as
ondas de rádio. Estas ondas invisíveis mas detectáveis fornecem informações adicionais sobre o
universo. Sondas planetárias tem enviado uma série de informações sobre a natureza e composição
da atmosfera e da superfície de planetas como Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno e a Lua.
Em 1983 o Satélite astronômico (infravermelho) IRAS, um telescópio sensível a luz infravermelha
que não pode penetrar na atmosfera terrestre, foi colocado em órbita. Este instrumento encontrou as
primeiras evidências de matéria sólida ao redor das estrelas. O IRAS pode ter detectado os estágios
iniciais da formação de sistemas planetários ao redor de duas estrelas muito próximas, VEGA e
FOMALHOUT. A descoberta principal suporta o conceito de que nosso sistema de planetas em
órbita em redor do Sol não é o único fenômeno e fornece a primeira oportunidade de estudar a
origem dos planetas "fora" do sistema solar. Toda esta atividade deveria, no devido tempo, nos
fornecer um quadro mais claro de como tudo começou.

Nos persistimos na questão sobre a origem do sistema solar por várias razões. O curso
evolutivo seguido por um planeta é determinado pelo seu estado inicial. O estado atual da Terra,
cerca de 4,7 bilhões de anos após o início de sua formação é razoavelmente bem conhecido. Estes 2
tempos no decorrer da evolução planetária - o começo e agora são importantes limites no
desenvolvimento de modelos de como a Terra tem mudado através de sua história. O crescimento
de idéias sobre a origem dos planetas é uma história interessante na história da ciência. Ela ilustra
como hipóteses sucessivas são adiantadas, rejeitadas, ressuscitadas e modificadas à luz de novos
dados e novos conceitos. Esta evolução, típica de todas as ciências, da teoria está especialmente
ligada a geologia moderna, onde a revolução no pensamento e conceito está atualmente em
modificação.

TERRA COMO PLANETA EM EVOLUÇÃO


Neste momento nos introduziremos alguns conceitos sobre a evolução da Terra. Nós
veremos a transformação que a Terra sofreu desde a sua formação. Inicialmente um corpo
homogêneo que depois se transformou num planeta diferenciado - este é, um planeta cujo interior é
dividido em várias camadas que deferem entre si química e mineralogicamente. Nós estudaremos
como os processos de diferenciação estão indiretamente relacionados com a formação da atmosfera,
dos oceanos, continentes, montanhas, vulcões e campo magnético.

1. ESTAGIO INICIAL - UMA AGLOMERAÇÃO HOMOGÊNEA


Pense na Terra como ela era no início do registro geológico - isto é, antes da formação das
rochas mais antigas agora conhecidas, a aproximadamente 4.0 Ga Este período cobre o primeiro
bilhão de anos da história da Terra, os eventos que nós tentaremos reconstruir, mesmo que nós não

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tenhamos evidências diretas na forma de rochas destes tempos primordiais. Este estágio é
caracterizado pela acumulação dos planetas por reunião ou acreçäo de planetesimais cerca de 4,7
Ga. O novo planeta era provavelmente uma aglomeração desordenada, principalmente de
compostos silicosos,, óxidos de ferro e magnésio e pequenas quantidades de todos os elementos
químicos naturais. Embora os planetesimais tivessem sido relativamente frios, três efeitos
diferentes começaram a aquece-los durante o seu crescimento (Fig. 1-6).

2. A TEMPERATURA INICIAL
Cada planetesimal que se chocava possuía uma energia cinética que era transformada após o
choque em calor. Por exemplo um planetesimal de 4.000 kg aquecido a uma velocidade de 30 km/s
produz uma quantidade de energia na ordem de grandeza de uma explosão nuclear de 1 quiloton.
Embora uma boa parte deste calor irradie de volta para o espaço, uma fração significativa ficou
retida através de crescimento do planeta. O quanto é ainda incerto, pois isto depende da massa,
velocidade e temperatura dos planetesimais e também da taxa de acreção. Uma taxa de acreção
alta implica numa zona de impacto aquecida, que poderia ser recoberta por uma nova chuva de
meteoritos antes mesmo que a energia pudesse ser irradiada de volta para o espaço, desta forma o
calor "soterrado" poderia de certa forma aumentar a temperatura no interior do planeta.

A compressão também elevaria a temperatura. Um exemplo comum é o aquecimento de um


cano de uma bomba de ar, p. ex. quando nós enchemos o pneu de uma bicicleta. Quando nós
bombeamos o ar comprimido rapidamente, tão rapidamente que o calor não consegue se difundir e
por isso o cano aquece. As partes internas do planeta foram comprimidas na medida que aumentava
o peso que se acumulava nas partes externas. A energia despendida na compressão do interior foi
convertida em calor que não fluiu para fora porque o calor é propagado muito lentamente através
das rochas. Como resultado o calor acumulado e a temperatura aumentaram no interior da Terra.
Muitos geofísicos que tentam calcular a magnitude do aquecimento, acreditam que a acreção e
compressão resultaram num aumento médio da temperatura no interior do planeta de cerca de
1000°C.

3. CALOR A PARTIR DE DESINTEGRAÇÃO RADIOATIVA


Os elementos pesados U e Th e uma pequena fração de K não são muito abundantes na
Terra. Sua ocorrência é medida em poucas partes por milhão (uma grama em 1000 quilogramas de
rocha). Estes elementos devem ter tido um efeito profundo na evolução do Planeta por causa de sua
RADIOATIVIDADE. Os átomos destes elementos desintegram-se espontaneamente através da
emissão de partículas atômicas (núcleos de He e elétrons) e são assim transformados em diferentes
elementos. Na medida que as partículas emitidas são absorvidas pela matéria nos suas
proximidades, sua energia cinética é transformada em calor. O calor gerado desta forma parece ser
desprezível, cerca de 20 cal de calor é emitido por 1cm3 de granito no decorrer de 1 milhão de anos.
Portanto, talvez sejam necessários 500 Ma para aquecer uma xícara de café usando o calor
radioativo de um pedaço de granito de 1 cm3 (assumindo, é claro, que o calor seja retido e nada seja
perdido). Entretanto, se considerarmos os vários bilhões de anos da Terra, a temperatura poderia se
elevar o suficiente para fundir partes de uma rocha p.ex. de composição granítica - e mais cedo se a
temperatura crescer devido a acreção e compressão. Desta forma a desintegração radioativa de
alguns elementos é uma fonte de calor que persiste por bilhões de anos. O calor gerado pela
radioatividade se propaga lentamente através das rochas e com isso aquece a Terra recém formada.

AQUECIMENTO; "OVERTURN"; FORMAÇÃO DE UMA TERRA DIFERENCIADA.

1. A TERRA SE AQUECE
É possível fazer várias conjeturas sobre a temperatura e sobre a radioatividade da Terra nos
seus primórdios. A partir disto é possível calcular como a temperatura interna se modificou nos
anos seguintes ao nascimento do planeta. Todos os cientistas que tentaram fazer isto se
confrontaram com uma importante característica. A Fig. 1-7 mostra um destes resultados

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calculados. As curvas ilustram como a temperatura interna cresceu nos anos seguintes a formação
do Planeta. O calculo demonstra o que nós supúnhamos - o calor radioativo foi gerado mais
rapidamente do que ele poderia fluir, de forma que o interior do Planeta aqueceu gradualmente. A
Fig. 1-7 também mostra a temperatura na qual o ferro metálico deveria fundir dentro do Planeta. O
ponto de fusão aumenta com a profundidade na Terra por causa do aumento de pressão. O ponto
importante deste modelo, é que ele indica que à cerca de 1 bilhão de anos após a Terra ter-se
formado, a temperatura à profundidades de 400 - 800 km deve ter-se elevado até o ponto de fusão
de Ferro. Outros modelos, por exemplo, assumem uma taxa de acreçäo maior ou uma maior
radioatividade, mostrando que este estado pode ter sido alcançado somente a poucos centenas de
milhões de anos após a formação da Terra.

2. A CATÁSTROFE DO FERRO
Devido ao fato do Ferro ser mais pesado do que outros elementos comuns na Terra, quando
o ferro numa camada começou a fundir, grandes "gotas" poderiam ter-se formado e terem se
concentrado no centro do Planeta deslocando os materiais mais leves para cima (Fig. 1-8).

Como elemento abundante, o ferro contribui com cerca de um terço da massa da Terra. A
fusão e o afundamento do Ferro para formar um núcleo líquido no centro foi entretanto um evento
catastrófico. O Ferro "caindo" através do centro deve ter liberado uma enorme quantidade de
energia gravitacional que foi com certeza convertida em calor. O processo é basicamente o mesmo
que o observado quando uma cachoeira é utilizada para mover uma turbina e gerar eletricidade. O
calor liberado durante a formação do núcleo de Ferro foi suficiente para elevar a média da
temperatura em cerca de 2.000°C, causando um enorme fracionamento da Terra.

3. DIFERENCIAÇÃO PLANETÁRIA
Muito cedo em sua história, possivelmente nas primeiras poucas centenas de milhões de
anos, a Terra foi submetida a uma profunda reorganização interna, após ela ter-se aquecido até a
temperatura de fusão de Ferro. Aproximadamente um terço do material primitivo do Planeta
afundou para o seu centro e neste processo uma grande parte do corpo foi convertida ao estado de
fusão parcial. Pode até ter-se formado um oceano de rocha fundida - o magma - com mais de 100
km de profundidade. O material fundido sendo mais leve que o material original, foi separado dele
indo resfriar nas porções mais superiores e formar desta forma uma crosta primitiva. A formação no
núcleo foi o início do estágio de diferenciação da Terra, processo este que converteu a Terra a partir
de um corpo homogêneo num corpo zonado ou acamado com um núcleo denso e uma crosta
superficial composta de materiais mais leves com baixo ponto de fusão separados pelo manto (Fig.
1-9). A diferenciação é talvez o mais significativo evento na história do planeta Terra. Ela levou a
formação de uma crosta e eventualmente dos continentes. A diferenciação iniciou provavelmente o
escape dos gases do interior do planeta, que eventualmente levaram a formação de uma atmosfera e
oceanos.

Entretanto, a pergunta que se faz é, e quanto aos outros planetas? Eles tiveram o mesmo
desenvolvimento que a Terra? As informações que dispomos, através de sondas planetárias indicam
que todos os planetas terrestres foram submetidos a uma diferenciação, mas eles seguiram caminhos
evolutivos diferenciados. Por exemplo, Mercúrio e a Lua evoluíram rapidamente nos primeiros 1 a
2 bilhões de anos, e tornaram-se aparentemente inativos e geologicamente mortos - isto é, sem
formação de montanhas, vulcanismo, terremotos e erosão como nós observamos na Terra. Os
planetas gigantes vão permanecer como um quebra-cabeça por um longo tempo. Eles são
quimicamente tão diferentes dos planetas terrestres e tão maiores que eles devem ter seguido um
curso evolutivo completamente diferente.

Júpiter, por exemplo, através de processos internos ainda não entendidos irradia 2 ou 3
vezes mais energia do que recebe do Sol ! Talvez Júpiter e suas 15 luas seja um exemplo
miniaturizado de um sistema solar cujo "sol" nunca atingiu o estágio de emitir radiação como o Sol.

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4. O RENASCIMENTO DA TERRA
Se nós tomarmos a história do desenvolvimento da Terra após a sua diferenciação nós
veremos o seguinte:

1) Os primeiros continentes, se é que eles existiram, devem ter sido engolfados e reabsorvidos
continuamente.
2) Neste sentido a Terra renasceu sem nenhum registro de sua história pretérita.

De acordo com as estimativas mais confiáveis tudo isto aconteceu entre 3.7 Ga e 4.5 Ga.
Nós preferimos datar este evento a 4.0 Ga próximo do início do tempo geológico, quando as rochas
mais antigas conhecidas foram formadas.

5. CONVECÇÄO (RETORNO CONECTIVO)


O fluxo de calor por convecção para a superfície tem lugar tão lentamente na Terra, que a
maior parte do calor se acumula no interior do Planeta, causando um aumento na temperatura
interna do Planeta. Quando o interior tornou-se muito quente, ele tornou-se "maleável" ou o
material começou a fundir e podia se mover. Isto representa portanto um mecanismo bem mais
eficiente de transferir calor do interior do Planeta para a superfície - a este mecanismo chamamos
de convecção. A convecção tem lugar quando líquidos e gases que são mais quentes nas porções
mais inferiores ascendem e resfriam. O material mais quente expande, torna-se menos denso do que
o material acima e "flutua" para cima, carregando com ele o calor até a superfície, onde o material
aquecido se resfria e afunda novamente. Uma vez iniciada, (a convecção) na Terra, o calor foi
dissipado rapidamente e o Planeta resfriou rapidamente. O manto solidificou, mas o núcleo não,
permaneceu "líquido" por mais de 4 Ga.
Embora o fenômeno da convecção seja mais comum em líquidos do que em gases,
surpreendentemente ele também pode acontecer em substâncias em estado sólido. Sob certas
condições, a rocha aquecida move-se lentamente para cima, porque sua densidade diminui na
medida em que ela se expande. Nós veremos que o fluxo convectivo no interior "sólido" da Terra
tem sido proposto como principal força de movimento para processos geológicos em larga escala,
como espalhamento do fundo oceânico e a deriva continental. A convecção produz também um
zoneamento químico na Terra.

6. ZONEAMENTO QUÍMICO
Os oito elementos mais abundantes na Terra são observados na Fig. 1-10. Juntos estes
elementos somam mais de 99% da massa da Terra. Cerca de 90% do nosso planeta é construído por
4 elementos principais, são eles: Fe, O, Si e Mg (se compararmos a abundância destes elementos na
crosta com os valores para a Terra como um todo).
Devido ao fato da maioria do Fe ter afundado e se concentrado no núcleo, este elemento fica em
quarto lugar na crosta. Por outro lado o Si, Al, Ca, K e Na são muito mais abundantes na crosta do
que em toda a Terra. Esta distribuição desigual de elementos na Terra é chamada de zoneamento
químico. É interessante e significante que a diferenciação não conduza a um arranjo vertical dos
elementos baseado no seu peso relativo, como seria de se supor. A razão é que vários elementos
formaram compostos e são as propriedades químicas e físicas destes compostos - propriedades tais
como pontos de fusão, afinidades químicas e densidade - que governam a distribuição dos
elementos, ao invés das propriedades intrínsecas de cada elemento. Por exemplo certos silicatos de
cálcio, sódio, potássio e alumínio - principalmente os feldspatos (CaAl2Si2O8, NaAlSi3O8,
KAlSi3O8) - são mais facilmente fundidos. Eles iniciam a fusão a temperaturas entre 700-1.000°C e
quando fundidos eles são relativamente leves. Nós podemos especular que os compostos como estes
devem fundir mais cedo, subindo até a superfície por convecção e se acumulam na crosta. Não
deveria ser surpresa que os feldspatos sejam os minerais mais comuns na crosta terrestre.

O manto situado entre a crosta e o núcleo é composto por silicatos de Fe e Mg, que fundem
menos facilmente e são mais pesados do que os feldspatos. A partir da abundância relativa mostrada

Dr. Marco Antonio Galarza - Instituto de Geociências


na Fig. 1-10, nós deveríamos esperar que os constituintes dominantes possuem combinações de Fe,
Mg, Si e O. Nós não deveríamos nos surpreender, entretanto, se observarmos posteriormente que
muitos geofísicos e petrólogos acreditam que os principais minerais no manto são: Olivina
(Mg2SiO4-Fe2SiO4) e piroxênio (MgSiO3-FeSiO3).

Elementos pesados como Au e Pt possuem pouca atração química por O e Si, e muitos
destes elementos (metais importantes) provavelmente afundaram p/ o núcleo do planeta. Entretanto,
outros elementos pesados tais como o U e Th possuem uma forte tendência em formar óxidos e
silicatos, que são mais leves e podem subir e se acumular na crosta. A gravidade, entretanto, é
somente responsável de forma secundária pelo zoneamento do planeta; de mesma forma importante
é a abundância relativa dos elementos (Box 1-1) e a sua química, ambos determinam que compostos
irão ser formados. As propriedades dos compostos - densidade e ponto de fusão - diferem dos
elementos no seu estado puro e governam a distribuição destes (os elementos).

7. A DIFERENCIAÇÃO TORNA A MAQUINA MAIS LENTA


Uma conseqüência importante do zoneamento químico é a concentração de elementos
pesados como U e Th na crosta terrestre na forma de óxidos e silicatos. Nos estágios iniciais,
quando estes elementos radioativos eram amplamente distribuídos através da Terra, eles eram
provavelmente bastante efetivos na elevação da temperatura até o ponto de fusão do Ferro.
Entretanto, como parte do processo de diferenciação, este "combustível" radioativo começou a se
concentrar nas porções mais superiores, onde o calor que era gerado poderia ser conduzido através
de distâncias mais curtas até a superfície e desta forma ser "perdido" mais facilmente. Desta
maneira a diferenciação do planeta pode agir como redutor de velocidade da operação "máquina de
calor".

8. FORMAÇÃO DOS CONTINENTES, OCEANOS E ATMOSFERA


Nós só possuímos a noção geral de como os continentes se formaram. Uma teoria diz o
seguinte:
A Lava fluindo do interior do planeta parcialmente fundido alcança a superfície e solidifica
formando uma fina crosta. Esta crosta inicial foi fundida e solidificada repetidas vezes de forma que
os componentes mais leves gradualmente se separaram dos componentes mais pesados. O
Intemperismo através de componentes como água de chuvas entre outros componentes
atmosféricos quebra e altera as rochas. A Erosão produz sedimentos - o resíduo do quebra das
rochas. Na medida em que estes sedimentos se acumulam eles são em parte penetrados por gases
quentes e soluções a partir de baixo, sendo portanto aquecidos e alterados, transformados desta
forma em outras rochas ou foram inteiramente reabsorvidos. O produto final de tais processos
formam os núcleos dos continentes que cresceram continuamente através destes processos. A teoria
mais popular considera que os continentes começaram a crescer após a diferenciação do manto e do
núcleo e vem crescendo através do tempo geológico, mas que o crescimento foi completo por volta
de cerca de 2,5 Ga.
Se nós aceitarmos a premissa de que a Terra cresceu a partir de planetesimais resfriados,
então os oceanos tiveram a sua origem a partir do interior do planeta, como produto do processo de
aquecimento e diferenciação. A água originalmente estava aprisionada na estrutura de alguns
minerais como p.ex. as micas KAl3Si3O10(OH)2. Na medida em que a Terra se aquecia e fusões
parciais ocorriam, a água foi liberada e trazida a superfície através da lava dos vulcões. Quando esta
lava atingia a superfície, uma boa parte da água escapava para a atmosfera na forma de nuvens de
vapor.
Mesmo considerando as taxas atuais de vulcanismo, as lavas que alcançam a superfície no
passado deveriam conter uma quantidade de água na forma de vapor suficiente para preencher os
oceanos é claro através do tempo geológico. Considera-se entretanto que parte desta água pode ter-
se originado através do impacto de meteoritos formados principalmente por blocos de gelo.
Como e quando a atmosfera iniciou o seu desenvolvimento é difícil de determinar. Nos
podemos tentar explicar isto através dos fatos conhecidos. Existe pouca dúvida que a atmosfera

Dr. Marco Antonio Galarza - Instituto de Geociências


primitiva era inteiramente diferente da atual rica em Oxigênio e Nitrogênio. Os planetesimais
resfriados que se agregaram para formar a Terra, provavelmente não possuíam atmosfera porquê
eram muito pequenos para reter gases através de sua força gravitacional. Desta forma a
desgasificação fez parte do processo de diferenciação (a liberação de gases a partir do interior do
planeta devido ao aquecimento interno e das reações químicas). A partir da composição química das
lavas e dos gases expelidos pelos vulcões modernos supõe-se que os gases vulcânicos são
constituídos principalmente de vapor de água, dióxido de carbono e nitrogênio (Fig. 1-11).
Porém, as moléculas leves de hidrogênio poderiam não ser retidas pela gravidade terrestre e uma
parte do H deve ter escapado para o espaço como acontece hoje em dia. Com a energia suprida pela
luz do sol, algum vapor de água na atmosfera superior pode ter sido "quebrado" em H e O.
Qualquer oxigênio formado desta forma não deve ter permanecido livre por muito tempo,
ele deve ter sido rapidamente combinado com outros gases como o metano e o monóxido de
carbono para formar novamente água e dióxido de carbono. Ele deve também ter-se combinado
com os materiais crustais, principalmente metais como o ferro contido nas olivinas e piroxênios
para formar óxidos de ferro como hematita (Fe2O3).

A produção significante de oxigênio livre e a sua persistência na atmosfera só ocorreu


provavelmente após a vida ter-se desenvolvido, pelo menos até atingir a complexidade das algas
verdes. Como as outras formas de vida superior das plantas verdes, as algas convertem a luz do sol
em matéria orgânica através da fotossíntese, usando o dióxido de carbono e a água para produzir
matéria orgânica de oxigênio.
A grande questão sobre a atmosfera diz respeito a vida. Como é que a vida se desenvolveu numa
atmosfera primitiva tão inadequada e venenosa? Como é que os seres primitivos evoluíram até
atingir o estágio de plantas superiores que "purificam" o ar com oxigênio livre facilitando o
desenvolvimento de outras formas de vida? As respostas a estas perguntas vocês serão capazes de
dar nas próximas aulas.

Uma boa parte do dióxido de carbono foi removido da atmosfera através de reações
químicas com cálcio, hidrogênio e oxigênio para formar calcário, carvão e petróleo. O carvão e o
petróleo são as maiores reservas de combustível fóssil que nós possuímos para abastecer nossas
indústrias. Os poucos centésimos de por cento da atmosfera que permanecem como CO2 é portanto
muito importante, porque é a matéria prima para a fotossíntese. É até irônico sejam os responsáveis
agora pelo aumento da concentração do CO2 na atmosfera, através da queima de combustíveis e das
florestas tropicais. Isto possivelmente causará sérios problemas no final do próximo século
principalmente no que diz respeito a mudanças climáticas e nas taxas de intemperismo.
A Terra está à 140.000.000 km de distância do Sol. Alguns cálculos mostram que se esta distância
fosse 10.000.000 km menor, as altas temperaturas teriam evitado a condensação do vapor de água e
conseqüentemente a formação de oceanos. O dióxido de carbono seria retirado da atmosfera e se
alojaria nas rochas (formando minerais). Seria difícil que a vida como a conhecemos pudesse ter-se
desenvolvido nestas circunstâncias.

Montgomery (1992)
Teixeira et al. (2000)

Dr. Marco Antonio Galarza - Instituto de Geociências

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