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FUNDAMENTOS DE DIREITO CIVIL E DIREITO DAS PESSOAS

ANO LECTIVO 2021/2022


2.º SEMESTRE
TODAS AS TURMAS

HIPÓTESES PRÁTICAS

1. António e Bernardo celebraram um contrato, nos termos do qual António


receberia € 25.000 por se sujeitar ao jogo da roleta russa. Na data prevista
contratualmente, António colocou uma bala no seu revólver de seis tiros,
rodou o tambor do revólver e apontou a arma contra a sua cabeça,
preparando-se para disparar.
Com receio de que a sorte não estivesse do seu lado, decidiu não disparar.
Bernardo exige-lhe que dispare, invocando o contrato celebrado.
Quid iuris?

2. Luís, editor de um jornal, pretende saber se pode, licitamente, noticiar a


gravidez de uma conhecida apresentadora de televisão, sem o seu
consentimento.
Quid iuris?
[V. Ac. RLX de 9.6.2010 (proc. nº 713/09.1TVLSB.L1-2), www.dgsi.pt]

3. A nomeação para primeiro-ministro de Pedro Araújo foi alvo de críticas


violentas por parte dos jornalistas. Diversos jornais publicaram notícias e
artigos de opinião, nos quais, para além de colocarem em causa a

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competência e integridade de Pedro Araújo para o exercício do cargo, se
divulgaram as rotinas da vida do visado e respetivos familiares. Pedro
Araújo julga tais atos ilícitos e passíveis de gerar responsabilidade civil.
Diferentemente, os jornalistas consideram que os mesmos são lícitos por
consubstanciarem o exercício de um direito: a liberdade de expressão e a
liberdade de imprensa.
A quem assiste a razão e porquê?
[V. Ac.s do STJ de 13.7.2017 (proc. n.º 1405/07.1TCSNT.L1.S1) e de 8.5.2013
(proc. n.º 1755.08.0TVLSB.L1.S1.45), www.dgsi.pt]

4. Álvaro e Beatriz, noivos, contrataram com Cláudia, fotógrafa, a cobertura


fotográfica do seu casamento. Esta fez-lhes um “preço especial”, uma vez
que os noivos permitiram que os seus retratos de casamento viessem a
constar de um dossier que Cláudia mostrava a todos os clientes que
pretendiam conhecer o seu trabalho, antes de recorrerem aos seus serviços.
Decorridos alguns meses sobre o seu casamento, Álvaro e Beatriz,
enquanto folheavam uma revista de larga tiragem, especializada em
eventos sociais, veem aí reproduzida, numa página de publicidade a
Cláudia, uma fotografia em que trocavam, um com o outro, gestos de
carinho na cerimónia nupcial.
Beatriz, que entretanto enviuvou, pretende saber:
1. Se pode impedir, e através de que meios, que as suas fotografias
de casamento venham a ser utilizadas por Cláudia em páginas
publicitárias em revistas da especialidade;
[V. Ac. STJ de 7.6.2011 (proc. nº 1581/07.3TVLSB.L1-S1), Ac. RLX
de 28.09.2004 (proc. nº 1086/2003-7), www.dgsi.pt]
2. Se pode exigir que Cláudia retire do dossier todas as suas
fotografias;
3. Se pode exigir que Cláudia retire do dossier todas fotografias do
falecido marido.
[V. Ac. STJ de 18.10.2007 (proc. 07B3555), www.dgsi.pt]

5. O advogado Bento Passos Confiante goza de grande reputação como


defensor brilhante de arguidos em processos de natureza económica e
fiscal. Certa manhã, quando se dirigia ao tribunal, repara, estupefacto, que

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o seu primo, de nome idêntico (Bento Passos Confiante), se estabeleceu
num escritório em frente à sua rua. O primo, também advogado,
especializou-se na área do direito da família, gozando de uma fama pouco
lisonjeadora.
Bento Passos Confiante intenta uma ação contra o primo, pedindo que este
seja condenado a:
1. Abster-se de usar os seus apelidos.
2. Mudar o seu domicílio profissional para outra área, que diste a
pelos menos 2 km do seu escritório.
3. Acrescentar aos seus apelidos a palavra “Primo”.
Como deverá o tribunal decidir a presente ação?
[V. Ac. RLX de 12.11.2009 (proc. nº 3231/08.1TVLSB.L1-2 ), www.dgsi.pt)

6. No decurso das negociações para a futura conclusão de um contrato,


Ernesto diz a Fernanda não ser possível a inclusão de certa cláusula no
contrato, por não haver disposição legal que o permita.
Tem razão? Justifique a sua resposta.

7. Bernardo acordou com Carlos servi-lo, como súbdito e escravo, durante o


período de três anos. Para o efeito, ambos redigiram um contrato, que
prontamente assinaram. Aconselhado por Eduarda, estudante de Direito,
Bernardo comunicou a Carlos a sua intenção de “não mais cumprir o contrato,
porque ilegal”. Carlos respondeu-lhe que, segundo o disposto no Código
Civil, “os contratos devem ser pontual e integralmente cumpridos, só podendo
modificar-se ou extinguir-se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos
admitidos na lei”.
Quem tem razão?

8. Joana, perdidamente apaixonada por Bernardo, namorado de Sofia, propõe


a Miguel o seguinte negócio: se ele conseguir seduzir Sofia e, dessa forma,
acabar com o referido namoro, receberá de 500€. Miguel aceita e executa a
sua prestação com êxito. Não obstante, Joana recusa-se a pagar-lhe a
quantia oferecida, por não estar a isso vinculada.
Quid iuris?

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9. Amélia pretende arrendar um quarto de sua casa a estudantes, pondo para
o efeito um anúncio à porta da Faculdade. Apresentaram-se dois
interessados, Berta e Carlos. Embora Carlos oferecesse uma quantia mensal
mais elevada, Amélia contratou com Berta, por não querer, em nenhuma
circunstância, arrendar a rapazes. Carlos sente-se discriminado.
Quid iuris?
(V. Lei nº 14/2008, de 12 de Março, na redação dada pela Lei nº 9/2015, de 11
de Fevereiro)

10. Com vista ao preenchimento de uma vaga de esteticista, o cabeleireiro


“Beleza Instantânea” publicou um anúncio num dos jornais de maior
tiragem. Em resposta ao anúncio, a sociedade recebeu os Curricula Vitae de
João, com 10 anos de experiência no ramo, e de Maria, que acabara de
concluir com êxito o seu período de formação. Depois de ter procedido às
entrevistas profissionais respetivas, João foi contactado pelo cabeleireiro
“Beleza Instantânea”, tendo-lhe sido comunicado que fora preterido em
favor de Maria, por se considerar que aquele tipo de funções é mais
adequado para pessoas do sexo feminino. João, indignado, sustenta que a
recusa do cabeleireiro em contratar é inadmissível e ilegal. O cabeleireiro
defende-se, alegando que não é obrigado a contratar com João.
Tem razão?
(V. art.s 23.º e ss. e 30.º e ss. do Código do Trabalho)

11. Numa tarde de domingo, António foi a casa de Bernardo, para uma partida
de póquer com mais dois amigos. Depois de dois jogos em que perdera,
António esperava ganhar o terceiro, confiante de que a sua sorte estava a
mudar. Quando se apercebeu de que afinal iria perder mais uma vez,
António deu um forte murro na mesa, sem reparar que o cinzeiro de cristal
de Bernardo estava próximo da ponta da mesa. Com a força do murro, a
mesa estremeceu e o cinzeiro caiu no chão, estilhaçando-se em mil pedaços.
Bernardo, acusando António de ter mau perder, exige-lhe um cinzeiro
igual ao que este partira. António alega nada dever, uma vez que não partiu o
cinzeiro de propósito.

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Quid iuris?

12. Carlota, conduzindo o seu novo automóvel, atropelou Diogo, o qual sofreu,
em consequência do acidente, vários ferimentos, tendo sido internado num
hospital, durante dez dias. Uma vez recuperado, Diogo dirigiu-se a Carlota
exigindo-lhe o pagamento:
1. Dos custos de internamento no hospital, no valor de € 2.000;
2. De 30,00€, correspondentes ao valor que receberia pela explicação
de matemática que iria dar a um aluno no dia do acidente e que
não pôde dar.
Carlota recusa-se a pagar tais quantias, alegando que não teve qualquer
culpa no acidente, uma vez que este se deveu à quebra do cabo da
embraiagem do veículo.
Quid iuris?

13. Diogo passeava o seu feroz cão de guarda quando, repentinamente, a trela
se partiu e o cão foi morder Elias, cirurgião plástico, que se encontrava
sentado num banco de jardim. Na sequência dos ferimentos, Elias gastou
200 Euros em tratamentos hospitalares, para além de ter deixado de ganhar
25.000 Euros em virtude do cancelamento de quatro intervenções cirúrgicas
previamente agendadas. Ficou provado que a trela se encontrava em
péssimo estado de conservação.

1. Poderá Diogo ser responsabilizado pelos danos causados a Elias?


Em caso afirmativo, que pressupostos têm que estar reunidos
cumulativamente?
2. Qualifique os danos sofridos por Elias, de acordo com os critérios
de classificação estudados.

14. Sábado à tarde, Gonçalo, apercebendo-se da existência de um lençol de


água a sair pela porta da moradia da sua vizinha Helena e sabendo que esta
estava fora durante o fim-de-semana, decidiu arrombar a porta da casa para
assim evitar a inundação da moradia de Helena.

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Uma vez regressada de fim-de-semana, Helena dirigiu-se a Gonçalo para
lhe agradecer ter evitado a inundação e pedir-lhe o pagamento da
reparação da porta arrombada. Gonçalo recusa-se a pagar.
Quid iuris?

15. Francisca, figura conhecida da alta sociedade lisboeta, contratou Eduardo,


conceituado estilista, para que este fizesse o vestido de batizado da sua
primeira filha, o qual deveria ser entregue até à véspera do batizado. Na
data aprazada, Eduardo não entregou o vestido a Francisca, tendo a filha
desta sido batizada com um simples e vulgar vestido branco, para espanto e
crítica de todos quantos assistiram à cerimónia. Em consequência, Francisca
exige agora de Eduardo uma indemnização de € 5.000, pela humilhação que
sofreu no dia do batizado, perante os seus convidados, e pela humilhação
pública resultante da publicação por todas as revistas sociais de notícias
relativas ao fiasco do evento.
Quid iuris?

16. André é proprietário de um solar no Douro dedicado a turismo de


habitação.
Em virtude de ser necessário realizar obras de remodelação, André
contactou vários empreiteiros com esse propósito. Bernardo apresentou-se
a André com a melhor proposta, pelo que este decidiu negociar com
Bernardo os termos do contrato de empreitada a celebrar.
Dada a complexidade da obra, André e Bernardo negociaram as condições
do contrato durante cerca de um mês e meio. Ao fim desse período, André
comunicou a Bernardo aceitar as condições por este oferecidas, ao que este
respondeu que apenas se vincularia por escrito e que poderiam assinar o
contrato daí a uma semana, uma vez que estaria ausente do País por esse
período. Com vista a não perderem mais tempo, André perguntou a
Bernardo se podia encomendar os materiais para a obra. Bernardo
respondeu-lhe que sim.
Logo após ter esta conversa, André encomendou material no valor de €
10.000 e informou os seus empregados de que não poderiam aceitar
marcações de clientes a partir da semana seguinte e durante dois meses.
Decorrida uma semana e meia e estranhando a ausência de contacto de
Bernardo, André telefonou-lhe, sendo então surpreendido com a atitude
deste, que lhe comunicou que já não estava interessado no contrato, uma

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vez que na viagem que fizera fechara um outro contrato de empreitada
mais vantajoso.
André exige-lhe que respeite o compromisso assumido, ameaçando-o com
uma ação de responsabilidade civil, ao que Bernardo contrapõe nada dever
a André uma vez que não foi celebrado nenhum contrato.
O que pode André fazer?
[V. Ac.s STJ de 6.11.2012 (proc. nº 4068/06.8TBCSC.L1-S1) e de 25.10.2012
(proc. nº 2625/09.0TVLLSB.L1.S), www.dgsi.pt]

17. Durante dois meses, Gonçalo e Helena negociaram um contrato de


fornecimento de uma máquina fabricada por Gonçalo para o
estabelecimento de Helena.
No decurso dessas negociações, em que foram trocadas várias minutas do
contrato de fornecimento, Gonçalo sempre insistiu que não era necessário
qualquer documento escrito, pois ele confiava na palavra de Helena. Esta,
por sua vez, insistia para que as diferentes condições do fornecimento
ficassem por escrito, para que depois não existissem dúvidas sobre o que
tinha sido acordado. Entretanto, Helena contratou mais dois colaboradores
para trabalharem no projeto e financiou-lhes um curso de formação que
lhes permitisse tirar o maior rendimento.
Gonçalo apoiou a decisão de Helena e aconselhou-a mesmo na escolha do
melhor curso. Gonçalo e Helena haviam já combinado assinar o contrato há
uma semana, mas tiveram que adiar tal assinatura por impossibilidade de
Gonçalo se deslocar a Lisboa
Na véspera da nova data combinada para assinarem o contrato, Gonçalo
telefona a Helena dizendo-lhe que, afinal, não irá celebrar o contrato de
fornecimento. Helena, atónita, pergunta-lhe porquê. Este responde que não
tem que justificar nada, porque não é obrigado a celebrar contratos com ninguém.
Helena reconhece-lhe semelhante liberdade, mas lembra-lhe que já estava
tudo acordado e que ela até fizera investimentos tendo em atenção tal
contrato.
Quid iuris?
[V. Ac. STJ de 18.12.2012 (proc. nº 1610/07.0TMSNT.L1-2), www.dgsi.pt)]

18. Helena, finalista de Direito, celebrou com Ivo, trabalhador rural, um


contrato de compra e venda de um pequeno terreno, por escrito particular.

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Mais tarde, Ivo procurou Helena, manifestando a sua apreensão pelo modo
como o negócio fora celebrado, obtendo então a seguinte resposta: “Não se
preocupe, pois não terá nenhum problema”. Passados alguns meses, Helena
propõe em Tribunal uma ação tendente à invalidação do negócio, com
fundamento na falta de forma legalmente exigível.
Tem razão? Pode fazê-lo?
[V. Ac.s STJ de 17.01.2002 (proc. nº 01B3778) e de 11.12.2014 (proc. nº
1370/10.8TBPFR.P1-S1), www.dgsi.pt]

19. Em janeiro de 2020, Bruno arrendou a Filipa um pequeno T2, por 900€/mês.
Como forma de custear parte da renda, Filipa permitiu que Joana utilizasse
a sua cozinha e aí desenvolvesse a sua atividade de cozinhar refeições para
fora, mediante o pagamento mensal de 500€.
Durante o confinamento de março, Bruno encomendou por duas vezes
tartes e salgados a Joana.
Em junho de 2020, Bruno comunicou a Filipa que ia resolver o contrato de
arrendamento, invocando para tal a violação da cláusula 7.ª do contrato de
arrendamento e da cláusula 10.º do Regulamento do Condomínio, que
justamente proibiam a exploração de indústrias domésticas no edifício, e dos
artigos 1083.º, n.º2, c) e e), e 1088.º, n.º 1, do CC.
Quid iuris?

20. A empresa ABC, Lda. fornecia à empresa Sob Rodas, Lda. jogos de pneus de
baixo perfil, que esta instalava e de cuja assistência se encarregava. A
determinada altura, a empresa Sob Rodas, Lda. queixou-se à ABC, Lda. da
má qualidade dos pneus que estavam a ser entregues. Esta reagiu, de
imediato, enviando uma carta à empresa Sob Rodas, Lda. em que lhe pedia
que identificasse os defeitos alegados e afirmava que, até ter uma resposta,
suspendia os fornecimentos.
A empresa Sob Rodas, Lda. não respondeu e, dois anos decorridos, acionou
a empresa ABC, Lda., pedindo uma indemnização pelo incumprimento
contratual resultante da suspensão do fornecimento de pneus.
Quid iuris?
[V. Ac. STJ de 4.4.2002 [proc. nº 02B677), www.dgsi.pt]

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21. Há 19 anos, David emprestou a Elisa a quantia de 200 euros, a reembolsar
no prazo de seis meses. Chegado o vencimento, Elisa, que estava então
desempregada, alegou dificuldades financeiras e não liquidou o
pagamento. Os dois amigos continuaram a relacionar-se e nunca mais
David reclamou os 200 euros de Elisa, apesar de terem mantido encontros
semanais.
Hoje, depois de uma forte “desavença clubística”, e decorridos quase 19
anos, David intenta uma ação em tribunal contra Elisa, para reaver a
quantia emprestada, bem como os juros moratórios. Elisa, citada na ação,
defende-se alegando nada mais ter a restituir. Quem tem razão?
[V. Ac. STJ, de 24.10.2002 (proc. nº 02A2958), Ac. RLX de 31.3.2011 (proc. nº
411348/09.3YIPRT-B..L1-2), www.dgsi.pt].

22. No dia 2 de abril, João celebrou com Dionísio um contrato de compra e


venda, mediante o qual o primeiro vendeu ao segundo as macieiras
plantadas no seu jardim.
1. Qual a forma que deveria revestir o contrato, na hipótese de se ter
acordado que as macieiras permaneceriam na quinta de João?
2. A sua resposta seria a mesma, caso as partes tivessem combinado
que Dionísio providenciaria ao transporte das referidas macieiras
para a sua quinta, no dia 5 de Abril?
3. Se no contrato estivesse estabelecido que, no dia 5 de Abril, João
deveria desenterrar, transportar e entregar das macieiras na
quinta de Dionísio e se, no dia 4 de Abril, deflagrasse um
incêndio na quinta de João que reduzisse a cinzas as árvores em
questão, Dionísio teria direito a ser indemnizado por João?
4. Se no contrato estivesse estabelecido que, no dia 5 de Abril, João
deveria desenterrar, transportar e entregar das macieiras na
quinta de Dionísio e se, no dia 3 de Abril, João vendesse a quinta
a Beatriz, quem seria o proprietário das macieiras?
Fundamente as suas respostas

23. Frederico vendeu o seu automóvel a Guilherme. Na data acordada para a


entrega do veículo, Guilherme verificou, contudo, que Frederico lhe
retirara não só o jogo de faróis especiais, como o pneu sobresselente e o
macaco. Apesar de na venda nada ter sido convencionado a tal respeito,

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Guilherme arroga-se do direito à entrega de todos estes objetos, o que
Frederico recusa.
Quem tem razão?

24. Alice comprou um serviço de mesa por 1000€. Ao desempacotar, apercebeu-


se de que faltavam os pratos de sobremesa. Contactou de imediato a loja, a
qual lhe explicou que os pratos de sobremesa não estavam incluídos no
preço, sendo vendidos à parte por 300€. Alice recusa-se a pagar essa
quantia, afirmando ter direito à entrega dos pratos sem qualquer custo
acrescido.
Tem razão?

25. Ana, estudante do 1.º ano da FDUCP, encarregou Bernardo de lhe construir
uma estante para colocar os livros que já tem e que pensa adquirir ao longo
do curso. Do contrato celebrado constam, entre outras, as seguintes
cláusulas:

1.º Bernardo fica adstrito a construir a estante segundo o modelo desenhado por
Ana e com os materiais já definidos.
2.º Bernardo fica adstrito a assegurar o transporte da estante, desde o local de
trabalho de Bernardo até à casa de Ana, obrigando-se, igualmente, a proceder à
respetiva instalação.
3.º Ana pagará a Bernardo, numa única prestação, 400 euros por todos os serviços
prestados.
4.º Ana pagará, ainda, um prémio de 100 euros, se Bernardo conseguir concluir a
estante num prazo inferior a dois meses.
5.º Ana fará sua a estante logo que, tendo Bernardo procedido à sua entrega, a
aceite.
6.º Ana poderá impor a Bernardo qualquer alteração ao projeto, desde que não
implique uma modificação substancial do modelo, se o entender conveniente.
7.º Ana dispõe de um prazo de 6 meses, contados desde a entrega da estante, para
denunciar a Bernardo os defeitos eventualmente existentes, sob pena de não poder,
depois, exigir a respetiva eliminação.
8.º Bernardo pode recusar a entrega da estante enquanto Ana não se dispuser a
pagar-lhe o preço.

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9.º No caso de pretender alienar a estante, Ana compromete-se a informar, por
escrito, Bernardo do projeto de venda, incluindo o seu valor, devendo vendê-la a
Bernardo se este oferecer o mesmo preço.

Qualifique as situações jurídicas subjacentes à hipótese.

26. No decurso de um passeio pela praia, Carlos descobre, na areia molhada,


uma estrela-do-mar, tendo, de imediato, tomado posse da mesma. Mais
tarde, vem a utilizar a referida estrela-do-mar para fazer uma pintura
abstrata que, uma vez terminada, veio a emoldurar e a colocar na sala de
estar da sua casa.
Quinze dias mais tarde, Diana, sua velha amiga, impressionada com a
beleza do quadro pintado, convenceu Carlos a dar-lhe o mesmo de aluguer
pelo prazo de dois meses, o que este aceitou, tendo, em contrapartida,
exigido que Diana lhe doasse um velho relógio de corda que pertencera a
Eduardo, pai desta, o que veio efetivamente a suceder.
Terminado o prazo do aluguer, Diana restituiu o quadro a Carlos.
Descreva as vicissitudes, subjetivas e objetivas, dos direitos subjetivos
existentes na presente hipótese.

27. Luís e Manuel venderam a João uma escultura, de que eram


comproprietários, por 10 000€. Ficou acordado entre as partes que a entrega
da coisa e o respetivo pagamento teriam lugar uma semana depois. Na data
aprazada, João não pagou o preço devido.
Luís pretende resolver o contrato. Manuel opõe-se.
Quid iuris?

28. Carlos, co-superficiário conjuntamente com Leonel de um imóvel


incorporado no prédio de Aníbal, renuncia à sua quota. Leonel entende
que a consequência lógica de semelhante ato é a de que doravante ele será o
titular exclusivo do direito de superfície sobre o imóvel. Aníbal, no entanto,
discorda, sustentando, pelo contrário, que o ato de renúncia o beneficia a
ele, na medida em que determina a reversão a seu favor da posição jurídica
de Carlos.

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Quem tem razão? Fundamente a sua resposta.

29. Álvaro, credor de Diogo, ameaça executar o património deste, caso Diogo
não lhe ceda o seu lugar na garagem do prédio em que ambos habitam.
Quid iuris?

30. Em 2018, António comunicou ao seu senhorio, Bento, que havia uma
infiltração na casa de banho do apartamento que lhe arrendara, solicitando
a realização das obras necessárias para a sua remoção. Não obtendo
resposta, António voltou a instar por mais três vezes o senhorio para o
cumprimento da obrigação a que legalmente estava adstrito. A infiltração
foi-se agravando à medida que o tempo foi passando. Em 2019, António
saiu do referido apartamento e foi viver com a sua mãe, contando regressar
mal a obra estivesse concluída. Bento nunca promoveu a reparação da
infiltração. No início de 2021, Bento resolveu o contrato de arrendamento,
com fundamento no não uso do locado por mais de 1 ano (al. d) do n.º 2 do
artigo 1083.º do CC).
Quid iuris?

31. O Ministério Público propôs uma ação para defesa de interesses difusos,
alegando, que ré Empresa-A, explora sem licença camarária uma indústria
de depósito e transformação de entulho, ferro velho, carcaças de veículos
automóveis, navios, fogões, frigoríficos, baterias e outros resíduos sólidos,
ali procedendo, em solo não impermeabilizado, à queima de parte desses
resíduos sólidos, o que provoca fumos, poeiras, cheiros, gases tóxicos e
escorrências de produtos poluentes para os terrenos circundantes, perigosos
para a saúde dos habitantes da zona envolvente. Com base nisto pediu que a
ré fosse condenada a cessar de imediato a atividade desenvolvida,
procedendo ao respetivo encerramento, à remoção de todo o espólio ali
existente e à reposição do terreno na situação anterior à instalação.
A ré, por sua, alegou em sua defesa que a exploração daquela atividade
corresponde ao exercício do direito à livre iniciativa económica.
Quid iuris?
[V. Ac do STJ de 09-05-2006 [proc. nº 06A636], www.dgsi.pt)

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32. António e Bento, enquanto proprietários individuais, respetivamente, das
herdades X e Y, ambas encravadas, têm direito de servidão de passagem
sobre a herdade de Duarte. Concretamente sobre o caminho de terra batida
que permite o acesso de carro à via pública.
Todos os dias de manhã, António e Bento têm o mesmo problema. Ambos
pretendem passar com as suas viaturas justamente na mesma altura.
António porque precisa de ir trabalhar, Bento porque tem aula de pilates a
essa hora. O caminho, no entanto, só permite a passagem de um automóvel.
Qual deles poderá passar primeiro? Fundamente a sua resposta.

33. Das instâncias, vem dada como provada a seguinte factualidade:

1. No dia 02.10.2006, pelas 02.00h, no IP4 km 89,837, Vila Real, ocorreu um


embate entre dois veículos (A);

2. Nele foi interveniente o ligeiro de passageiros com a matrícula ...-JD,


propriedade e conduzido por FF (B);

3. E o ligeiro de passageiros com a matrícula ...QHE... (C);

4. No veículo JD seguia, além do seu condutor, EE, transportado (D);

5. Em virtude do embate, o EE perdeu a vida (E);

6. À data do embate o EE tinha 25 anos de idade (F);

7. O BB, nascido a 19.05.2005, é filho do EE e da Autora (G);

8. O qual á data da morte do pai tinha 16 meses (H);

9. Nas circunstâncias referidas em 1, o veículo com a matrícula ...-JD,


circulava no sentido Amarante / Vila Real (1º);

10. Nas mesmas circunstâncias, o veículo com a matrícula ...-JD invadiu a


hemi-faixa de rodagem destinada ao sentido Vila Real / Amarante (1º);

11. Após o referido em 10, o veículo com a matrícula 35-66-JD embateu na


viatura com a matrícula ...QHE... (2º);

13
12. O embate mencionado ocorreu na hemi-faixa de rodagem destinada ao
sentido Vila Real / Amarante (2º);

13. Imediatamente antes do embate, a viatura com a matrícula ...QHE...


circulava no sentido Vila Real / Amarante, na hemi-faixa de rodagem
destinada a tal sentido (2º);

14. EE, à data do sinistro, auferia o salário líquido mensal de, pelo menos, €
753,08 (3º);

15. O EE vivia com a A. desde Fevereiro de 2001, em condições análogas às


dos cônjuges, isto é, em comunhão de habitação, mesa e leito (4º);

16. CC nasceu no dia 20-10-2006 (5º / 6º / 12º);

17. CC é filha da A. (5º / 6º / 12º);

18. Por sentença proferida no processo n.º 121/10.1TBPNF, do 4º Juízo do


Tribunal da Comarca de Penafiel, transitada em julgado no dia 10-09-2010,
CC foi declarada filha de EE (5º / 6º);

19. A A. e o EE, tencionavam contrair matrimónio, um com o outro, após o


nascimento da filha, tendo, inclusive, planos para a construção de uma casa
própria para a família (7º);

20. A A. foi sempre e é, doméstica, não auferindo qualquer rendimento do


trabalho ou outro (8º / 11º);

21. O EE, bem como a A., tudo faziam para proporcionar as melhores
condições, quer afectivas, quer materiais, ao menor BB (9º);

22. EE pretendia que os seus filhos dispusessem de condições que lhes


permitisse obter um grau de formação no ensino superior (10º);

23. EE despendia, por mês, pelo menos, com o sustento do seu filho,
referido em G) da matéria assente, a quantia de € 200,00 (11º);

24. O EE desejava para a sua filha, nascitura, o mesmo que desejava para o
seu filho BB, conforme se referiu em 22 (13º);

14
25. Era o EE que sustentava a família constituída pela A. e o filho BB (14º);

26. EE tinha como único vício fumar (15º);

27. No trabalho, não tinha qualquer despesa com os transportes, uma vez
que era transportado pela entidade patronal (16º);

28. A alimentação era paga, também, pela entidade patronal (17º);

29. Sempre que estava em casa dedicava-se à família, não tendo o hábito de
frequentar cafés, bares, ou ir ao cinema (18º);

30. Por norma, limitava-se a ir tomar um café à sexta-feira depois de jantar,


acompanhado da mãe do seu filho e aproveitando para ler o jornal (19º);

31. Aos sábados e domingos costumavam ir visitar os pais (do EE) onde
tomavam as refeições, indo depois ao café tomar um café (20º);

32. A A. nasceu no dia 11-01-1986 (24º);

33. O EE era um homem digno, honesto, sendo o enlevo da A. e do filho


(25º);

34. O EE era generoso e franco, e esforçou-se sempre por tirar partido das
suas capacidades de trabalho e por proporcionar aos seus familiares o
prazer de o ter junto deles, sendo o amparo dos mesmos (26º);

35. Entre a A., o falecido e o seu filho existia uma extrema proximidade e
envolvência afectiva, constituindo uma família unida por fortes laços de
amor, amizade e ternura (27º);

36. A CC não chegou a conhecer o pai e irá padecer ao longo de toda a sua
vida da ausência da figura paterna (28º);

37. Nenhum dos menores poderá beneficiar do acompanhamento, do


amparo, da assistência, do carinho e do afecto do pai, tão importantes para
o desenvolvimento equilibrado dos mesmos (29º);

38. Na adolescência e juventude continuarão a sentir a falta do pai (30º);

39. Em consequência da morte de EE, a A. ficou triste (31º);

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40. O EE era cheio de energia e vontade de viver (32º);

41. Era pessoa saudável, trabalhador e jovial (33º);

42. Era respeitado, tendo um feitio sociável, expansivo, alegre, gozando de


grande estima e carinho de quantos o rodeavam, que com ele adoravam
conviver (34º);

43. Vivia com a A. e o seu filho, com quem tinha uma vida harmoniosa,
dando-se muito bem e sendo muito amigos (35º);

44. Vivia passo a passo a gravidez da A. e esperava o nascimento da filha


com grande ansiedade (36º);

45. A R. realizou, por intermédio de terceiros, averiguações sobre o modo


como o sinistro dos autos ocorreu (39º).

Terá CC direito a ser indemnizada pela morte do pai?

[V. Ac. STJ de 03-04-2014 [proc. nº 436/07.6TBVRL.P1.S1].www.dgsi.pt]

34. Joana, em testamento, deixa metade dos seus bens a Luís, seu sobrinho
predileto, e outra metade ao filho que este venha a ter de Madalena, com
quem Luís casará em Dezembro de 2021.
Joana morre no início de Fevereiro de 2021. Nuno, irmão de Luís, furioso
por a tia nada lhe ter deixado, recusa-se a aceitar que metade dos bens de
Joana seja herdada por alguém que simplesmente não existe e pode nunca
vir a existir.

35. Eduardo, com 17 anos, vende um quadro de pintura que herdara de uma
Avó dois anos antes, pelo preço de € 10.000.
Logo que tomaram conhecimento do negócio, os pais de Eduardo
insurgiram-se contra o ato do filho. Contudo, após saberem o preço de
venda, acabaram por concordar com a compra e venda efetuada.
Ao atingir os 18 anos, Eduardo ingressa na Faculdade de Direito da
Universidade Católica. Passados seis meses de ter completado 18 anos e
enquanto assistia a uma aula de Fundamentos de Direito Civil e Direito das
Pessoas, Eduardo fica com a ideia de que o ato por si praticado é inválido.

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Pode Eduardo invalidar o negócio jurídico por si celebrado?

36. António, filho de Bernardo e de Carlota, casados um com o outro, tem


agora 17 anos. Pretendendo comprar livros para o seu curso de Direito,
António pediu autorização ao pai para vender a primeira edição de um
romance célebre que lhe coubera por herança do avô. O pai acedeu.
António vendeu o romance a Daniel, por 150 euros, tendo, com o produto
da venda, adquirido vários manuais de Teoria Geral do Direito.
Ao saber do preço da venda, Bernardo, irado, pretende destruir o contrato,
já que aquela edição tem um valor de mercado nunca inferior a 300 euros.
Quid iuris?

37. No mesmo dia, Carlos, de 17 anos, doou um valioso relógio de ouro a


Daniel e, conseguindo convencer o notário de que já era maior de idade,
deixou em testamento, igualmente a Daniel, o seu solar no Douro.
1. Suponha que Carlos faleceu, sem filhos e antes de atingir a
maioridade, e que os seus pais só vieram a saber dos negócios
realizados, decorridos dois anos desde a respetiva celebração.
Poderão, ainda assim, invalidar os atos realizados pelo filho?
2. Suponha agora que Carlos casara com Elvira antes de praticar os
referidos atos. A sua resposta será a mesma?

38. Helena, que tem dezasseis anos, escreve artigos de opinião sobre as
amarguras de se ser adolescente para uma revista semanal chamada "Sweet
teen". Com o dinheiro que todos os meses recebe da revista, Helena
comprou, a prestações, um computador para nele escrever os seus artigos
de opinião e para substituir o velho computador oferecido pelos seus pais
há alguns anos.
O vendedor do computador, perante o não pagamento da última prestação,
exige a Isabel, mãe de Helena, o valor em dívida. Isabel entende, porém,
que a filha não podia ter comprado um computador e que nada é devido ao
vendedor.
Quid iuris?

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39. Carla, filha de Diana e de Ernesto, trabalha desde os seus dezasseis anos
num estabelecimento comercial. Quando completou dezassete anos,
casou com Francisco, sem autorização dos pais e sem ter logrado obter o
respetivo suprimento. Logo depois do casamento, Carla pagou a viagem de
núpcias com o dinheiro que juntara com o seu trabalho. Ao saber do
casamento da neta, e ainda quando esta era menor, a avó de Carla doou-lhe um
prédio de que era proprietária. Ainda durante a sua menoridade, Carla vendeu
este prédio a Gastão. Por ocasião da venda, tendo Gastão expressado reservas
quanto à pouca idade de Carla, esta mostrou-lhe uma certidão de
casamento falsificada, na qual os seus pais figuravam como testemunhas.
Tendo em conta estes dados, responda às seguintes perguntas:
a) O casamento celebrado entre Carla e Francisco é válido?
b) Podia ter Carla pagado a viagem de núpcias com o dinheiro que
recebeu como remuneração do seu trabalho?
c) Suponha que, ainda antes de Carla completar dezoito anos, os seus
pais tomam conhecimento da venda do andar que a avó lhe doara e
pretendem requerer a anulação do negócio. Podem fazê-lo?
d) O conjunto de bens que Carla levou para o casamento forma
um património separado?

40. Dantas, titular de vasta fortuna que herdara do seu padrinho, resolve, para
comemorar os seus 17 anos, dar uma festa de aniversário em casa dos pais.
Para o efeito, dirige-se ao supermercado onde os seus pais se abastecem e aí
encomenda os alimentos necessários, combinando com o proprietário do
estabelecimento, Emanuel, que, mais tarde, pagaria a conta, no montante de
1000 euros.
Tomando em consideração os dados da hipótese, responda às seguintes
questões, independentes umas das outras:

a) Francisca e Gil, pais de Dantas, ao saberem da quantia gasta pelo


filho no supermercado de Emanuel, perguntam se o contrato
celebrado pelo filho é válido, e caso o não seja, se têm legitimidade
e em que prazo podem requerer a sua invalidação;
b) Suponha agora que os pais de Dantas não questionaram a
validade do contrato celebrado pelo filho com Emanuel e que a

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referida conta nunca veio a ser paga. Se, decorridos três anos após
a celebração do negócio, Emanuel vier a exigir a Dantas o
pagamento da conta, como se pode este defender?

41. Helena e Inácio têm um filho, João, de 20 anos, que sofre de perturbações
mentais desde a infância. Sob o efeito de uma crise, convencido de ser um
campeão de motociclismo, João compra uma mota em mau estado a um
amigo de longa data, a quem revela a sua condição de "campeão".
A partir dos factos expostos, responda às seguintes questões:
a) Luís, credor de João, pretende saber se o contrato de compra e
venda celebrado pelo João é válido e se, caso o não seja, tem o
direito de pedir a sua invalidação.
b) O que podem Helena e Inácio fazer para que, de futuro, João se
veja impedido de, por si ou livremente, praticar atos em relação
aos quais não tenha capacidade para entender e querer?

42. Duarte, de 80 anos, tem, desde há algum tempo, vindo a apresentar sintomas
de demência, com crises que o levam a perder a noção da sua identidade e a
não conseguir reconhecer o valor do dinheiro.
Eva, filha de Duarte, pretende saber:
a) Se os negócios celebrados pelo seu pai durante as referidas
"crises de demência" são válidos e, caso o não sejam, quem e
em que prazo pode requerer a sua invalidação.
b) Se pode requerer alguma providência para que, de futuro, fique
acautelada a situação do seu pai, quanto à regência da sua
pessoa e bens. Fundamente a sua resposta.

43. A sentença judicial, que decretou o acompanhamento de Carlos, de 20 anos,


por abuso de bebidas alcoólicas, determinou o seguinte: A prática de atos de
disposição pelo maior acompanhado carece da autorização do seu acompanhante,
Daniel.
Já depois de registada a sentença, Carlos vende, por baixo preço, e sem
autorização do acompanhante, a fruta de um pomar, que herdara do seu
avô, e um relógio de ouro, oferecido pela mãe.

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a) O contrato de compra e venda da fruta do pomar é válido? Se o
mesmo contrato tivesse sido celebrado por Carlos, embriagado, à
saída de uma discoteca, a sua resposta seria a mesma?
b) O contrato de compra e venda do relógio de ouro é válido?
Fundamente a sua resposta e indique o regime aplicável.

44. Suponha que, no decorrer de uma festa, Hélder, que tem 21 anos,
notoriamente embriagado, doa à sua namorada, Inês, de 19 anos, um
relógio valiosíssimo, que esta, perfeitamente lúcida, aceita.
1. Imagine que Inês se arrepende de ter recebido o relógio que
Hélder lhe doou e pretende saber se o negócio é válido e se pode
arguir a sua anulabilidade;
2. Classifique os efeitos da doação do relógio, quanto ao direito de
propriedade, do ponto de vista das vicissitudes do direito
subjetivo.

45. Os habitantes do Concelho de Vila Nova querem unir-se para prosseguir a


finalidade de promoção do desenvolvimento cultural e social da autarquia.
a) Caracterize a pessoa coletiva em causa, do ponto de vista do seu
substrato, fim prosseguido e modalidade de reconhecimento;
b) Suponha que o ato de constituição da pessoa coletiva vem a ser
celebrado por documento particular. Este ato é válido? Caso o não
seja, qual o regime de arguição da invalidade quanto à
legitimidade e prazo?

46. Isabel, Joana e Luís, residentes em Lisboa e preocupados com a crescente


obesidade dos jovens portugueses, pretendem unir-se com vista a
promover o desporto e a alimentação saudável entre os jovens do seu
concelho.

a) Diga que organismo social poderão Isabel, Joana e Luís criar e


caracterize-o quanto ao substrato, fim e modalidade e regime de
reconhecimento.
b) Aproveitando a euforia do campeonato europeu de futebol,
Isabel, Joana e Luís organizam um torneio de futebol, tendo

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exigido o pagamento a cada interessado de uma inscrição no valor
de € 10,00 por cabeça. Manuel, que pretende inscrever-se,
confrontado com a necessidade de efetuar o pagamento, recusa-se
a fazê-lo, invocando que o organismo criado pelos três amigos não
pode ter qualquer lucro com a atividade que desempenha e, nessa
medida, a inscrição deveria ser gratuita. Quem tem razão?

47. O Banco X, por ocasião do Natal, efetuou uma doação de 5.000 euros
destinada a ajudar crianças carenciadas de um país africano. Será válida a
doação?

48. Margarida instituiu, por testamento, com um capital de 100.000 euros, uma
fundação destinada a assegurar o financiamento dos estudos de todas as
crianças da sua família. Iniciado o processo de reconhecimento, Nídia e
Noémia, suas sobrinhas, reagem, alegando que o valor da herança da
instituidora não vai além dos 75.000 euros.
a) Atentas as circunstâncias, parece-lhe que a fundação deverá ser
reconhecida? Fundamente a sua resposta.
b)Em caso negativo, qual o destino do capital afecto à fundação?

49. Bernardo, Carlota e Diogo constituíram, por documento particular, uma


sociedade civil para a produção de produtos hortícolas. Bernardo entrou
para a sociedade com o prédio rústico onde iria ser feita a exploração
agrícola e Carlota e Diogo com o capital. Dois anos depois, Bernardo vem
sustentar que o contrato de sociedade é nulo, por vício de forma, e exige a
devolução do prédio.
Tem razão?

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