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O último império - "A Recusa da Descolonização"

No rescaldo da 2.ª Guerra Mundial, o domínio colonial das potências europeias, sobre os
territórios africanos e asiáticos, começou a ser posto em causa. Isso obrigou à formação de
um grande movimento ideológico e político para obter a independência daqueles territórios.

Assim, Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, o chamado "Estado da
Índia" (constituído por Goa, Damão e Diu), Macau e Timor eram ainda pertença portuguesa.

Em 1955, data da entrada de Portugal na ONU, foi recomendado ao governo tornar as suas
colónias independentes, algo que não foi aceite. Para tentar contornar a situação o regime
declarou as colónias como "províncias ultramarinas" e concedeu a cidadania aos seus
habitantes. Tal medida foi reprovada internacionalmente pela Assembleia-Geral das Nações
Unidas.

O Império Português foi o último a ser afetado, viu perder a primeira parcela após a guerra
de pequena duração, na qual as forças portuguesas presentes em Goa, Damão e Diu não
conseguiram evitar a invasão daqueles territórios, por forças indianas, consideravelmente
mais fortes.

A Guerra Colonial desenrolou-se no período de 1961-1974. Na verdade foram guerras


coloniais em três palcos de operações diferentes, resultando naturalmente de alguns factores
importantes:

1-O imobilismo do Governo de Lisboa, que permaneceu sempre nas mesmas posições
relativamente ao problema da "questão colonial" e da sua descolonização, quer no fim da II
Guerra Mundial, quer depois da Conferência de Bandung, em 1955, mas principalmente após
o início do processo de Independência Africana.

2-A incapacidade de diálogo e de resposta aos pedidos feitos pelos Movimentos de Libertação
que se verificaram nas diferentes colónias portuguesas, nos meados dos anos 50.

3-Apoios internacionais, materiais de origens várias e constituição dos territórios dos vários
países recém-chegados à independência.

4- Pela necessidade de travar "ventos" socialistas vindos de Leste, Oliveira Salazar parte com
rapidez para a batalha política sem grandes demoras pois havia necessidade de evitar
tensões em África.

As ligações destes quatro fatores levaram ao recurso da via das armas, uma vez que não
havia outra alternativa para os Movimentos de Independência.

O movimento de independência de Angola

Em 1961, abriu-se um novo capítulo na História do Império Colonial Português.


Angola foi o primeiro palco de operações da Guerra Colonial (1961-1974). Depois do assalto,
feito por grupos de nacionalistas, à Cadeia de Luanda, tornou-se motivo de reivindicação
pelo MPLA, liderado por Agostinho Neto, e a UPA por Holden Roberto, mais tarde designada
FNLA, iniciaram alguns actos de terrorismo e guerrilha, em toda a região do Norte de Angola.
Anos mais tarde, já com a presença da UNITA, chefiada por Jonas Savimbi começa uma luta
de guerrilha.

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A UPA, aproveitando-se da recém-declarada independência do Congo ex-belga, ocupou todo
o território daquela colónia.

No continente africano, apenas Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe ficaram imunes à guerra.
Na Ásia não chegou a existir conflito armado. Em Timor os movimentos independentistas só
surgiram após o 25 de Abril de 1974.

Ora perante tal situação, Oliveira Salazar reagiu, em 1961, ao esmagar a tentativa golpista
do general Botelho Moniz, decidindo enviar tropas para Angola, "rapidamente e em força".

O Estado Novo converteu toda a repressão aos acontecimentos em Angola, o massacre de


colonos e populações negras do Sul foram uma simples "operação policial", propagandeada
junto da opinião pública, como sendo de curta duração.

Foi o que aconteceu em 1974, perto de 70 000 soldados portugueses estavam em Angola,
sendo alguns africanos, face à incapacidade da população portuguesa de poder assegurar
todos os recursos humanos nesta guerra.

A UPA nos primeiros anos de guerra dominou a frente Norte.


O MPLA, em Janeiro de 1963, abriu uma segunda frente no enclave de Cabinda; e em 1966,
no saliente do Cazombo.

No Leste angolano surgiu uma terceira frente de guerra.


Em Março de 1966, fundou-se a UNITA, no Munangaia, que depois de alguns anos de
combate, contra as tropas coloniais, assumiu uma via colaboracionista durante o comando
de Costa Gomes.

O movimento de independência da Guiné-Bissau

Na Guiné-Bissau, Amílcar Cabral fundou o PAIGC. Este partido começou as operações


militares em Janeiro de 1963, e em Julho, do mesmo ano, alargou as acções militares ao
Norte desta colónia. O objetivo era reunir à sua volta um grande número de militantes
determinados, alguns dos quais sendo cabo-verdianos.
Na Guiné as tropas coloniais portuguesas conheceram também grandes dificuldades no
decurso da Guerra.

O PAIGC, apoiado pela Guiné-Conacri e pelo Senegal, desenvolveu a guerra de guerrilhas


num terreno plano, cortado por rios e linhas de água, onde era diminuta a presença da
colonização branca. º

Os guerrilheiros do PAIGC, bem treinados e armados, conseguiram desde logo desencadear


operações militares e libertar algumas áreas do território.
Nos inícios dos anos 70, os guerrilheiros do PAIGC começaram a usar mísseis terra-ar Strela,
de origem soviética, provocando quase uma paragem da aviação militar portuguesa.

As forças militares portuguesas nunca obtiveram os meios necessários para combater os


mísseis Strela. Somente após o 25 de Abril de 1974, chegaram a Portugal mísseis ar-terra,
com capacidade para atacar as bases de onde eram propulsionadores os Strela.

Na Guiné, a situação foi-se dificultando para as tropas coloniais portuguesas. A acção


psicológica-militar do General Spínola e o assassinato de Amílcar Cabral, não impediram que,
em Setembro de 1973, em Madina Boé, zona libertada pelo PAIGC, fosse proclamada a
independência, imediatamente reconhecida por 80 Estados.

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Os responsáveis militares portugueses, nas vésperas de 25 de Abril de 1974, consideraram a
hipótese de uma derrota militar na Guiné, caso o PAIGC passasse a utilizar aviões Mig nas
suas operações militares.

O movimento de independência de Moçambique

Em Moçambique, as condições do desencadeamento da guerra, foram criadas pela fundação,


da FRELIMO, em Junho de 1962, que tinha como presidente Eduardo Mondlane.

Em Setembro de 1964, a FRELIMO, liderada por Samora Machel iniciou as acções armadas
em Moçambique, muito activas e violentas no distrito de Cabo Delgado, zona a partir da qual
começa a expandir-se para Sul.

Em primeiro lugar, a Guerra Colonial, a partir de 1964, foi uma forte fonte de desgaste para
o Estado Novo, desenvolvendo-se em três palcos de operações distintos, e pelos meios
militares e financeiros exigidos.

Em segundo lugar, a guerra originou uma gradual consciencialização política dos militares do
Quadro Permanente, através do contacto com oficiais milicianos cada vez mais hostis à
continuidade da guerra, e por se sentirem os únicos responsáveis pela União Indiana.

Finalmente, à medida que a guerra se prolongava era cada vez mais óbvio, para a maioria da
população portuguesa, a ausência da vitória militar em qualquer das três frentes de
combate, e a própria "questão colonial" só acabaria por uma solução negociada ou pelo
derrube do regime, que a converteu na única razão de sobrevivência.

A Guerra que Oliveira Salazar entendeu como "desígnio patriótico" foi o início do fim do
regime saído da Ditadura Militar de 1926. Por outro lado, Portugal desde o início da guerra
colonial ficou cada vez mais sozinho a nível internacional, começando a ser atacado e
hostilizado pelos adversários do regime. Paulatinamente, ficava abandonado pelos Aliados da
OTAN e pela própria Espanha, com quem Portugal, pela voz de Oliveira Salazar, entrou em
divergência, aquando do seu último encontro com General Franco, em 1963, na cidade de
Mérida.

As três frentes de guerra provocaram fortes abalos nas finanças do Estado, desgastando,
simultaneamente, as forças armadas, e isolava cada vez mais Portugal no panorama político
mundial.

Também a própria emigração portuguesa para a Europa, tornou-se imparável a partir da


década de 60. Esta passou a exercer também uma forte recusa à guerra colonial, ao mesmo
tempo que aumentavam as confusões nas fileiras, aquando da partida para África.

Em 1973, os refratários chegaram a ser cerca de 22 por cento do total dos mancebos que se
deveriam apresentar às inspeções militares.

Ao nível humano, as consequências foram trágicas: um milhão e quatrocentos mil homens


mobilizados, nove mil mortos e cerca de trinta mil feridos, além de cento e quarenta mil ex-
combatentes sofrendo distúrbios pós-guerra. Não se sabe exatamente o número total que a
guerra provocou em termos de vítimas civis, homens com perturbações psíquicas e doenças
incuráveis.

Em 1973, a guerra colonial provocou cerca de 800 mortos em combate, o maior número por
ano desde 1961. Na verdade, na Guiné, em Angola e em Moçambique as populações
africanas do interior resistiram sempre, e às vezes pela força das armas, à presença militar e
administrativa de Portugal. Só nos meados da década de 1970 tal resistência acabou.

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No período chamado "Marcelista", ou seja, o assumir de Marcelo Caetano à Presidência do
Conselho de Ministros, em 1968, por consequente exoneração de Oliveira Salazar do cargo, a
Guerra Colonial manteve os mesmos contornos e as três frentes de batalha, constituindo um
pesado custo para a Nação. Todavia, Marcelo Caetano definiu-a como uma "Questão
fundamental do País."

A queda do Regime

No ano de 1973, a mortandade aumenta vertiginosamente e a pressão que até ao momento


é apenas externa, começa também a surgir internamente. A guerra estava praticamente
perdida na Guiné, onde o PAIGC ocupava uma parte significativa do território.

Todavia, apesar da falência da solução militar, o governo de Marcelo Caetano insistia em


recusar a solução política da questão ultramarina. Então, na sociedade portuguesa, a
questão que se colocava era o porquê do envio de mais efetivos militares, se a guerra estava
praticamente perdida! Foi aqui que surgiu o movimento dos chamados Capitães de Abril, que
se insurgiram contra esta persistente política que só poderia ter como resultado a morte de
mais soldados.

O golpe de Estado do 25 de Abril de 1974, levado a cabo por militares dos três ramos das
Forças Armadas, dirigidos pelo MFA pôs fim a 41 anos de Estado Novo e a 48 anos de
Ditadura em Portugal.

Ao 25 de Abril de 1974, seguiu-se um período revolucionário, chamado PREC, que


transformou fortemente o Estado e a Sociedade. Somente em dois anos, Portugal sofreu a
mais profunda mudança na sua História, não só do ponto de vista político, como também na
estrutura social e económica. As independências dos territórios coloniais, ocorreram entre
Outubro de 1974 e Novembro de 1975.

A Guerra Colonial foi uma das motivações do MFA para preparar um golpe de Estado contra o
regime. O sinal utilizado pelos golpistas foi uma canção de Paulo de Carvalho "E Depois do
Adeus" transmitida pela Emissora Nacional e "Grândola, Vila Morena" de José Afonso,
transmitida pela Rádio Renascença. Estava assim iniciado o chamado golpe de Estado.

O golpe de Estado teve uma execução eficaz, baseada em princípios militares muito simples,
tais como a surpresa, coordenação e concentração de forças. Foram seus principais mentores
Otelo Saraiva de Carvalho e o Capitão Salgueiro Maia, sendo este último o responsável pela
tomada do Quartel do Carmo onde estava refugiado Marcelo Caetano, que iria legitimar o
poder ao General António de Spínola. Assim terminava o Estado Novo.

Nos anos de 1974 e 1975, as várias colónias tornaram-se independentes, regressando para
Portugal cerca de 1 milhão de pessoas (os retornados), cuja integração, apesar das
dificuldades do período revolucionário que então se vivia, se fez pacificamente.

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