Você está na página 1de 4

FACULDADE DE TECNOLOGIA TECBRASIL - FTEC

CURSO DE DIREITO

ALEXANDRA QUEIROGA GAIRA


EDSON CERES DE CASTILHOS

PARECER:
ELEIÇÃO DE FORO DE NEGÓCIO JURÍDICO EMPRESARIAL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL I


Prof Me. Diego Sena Bello

Porto Alegre
Maio 2022.
PARECER
ELEIÇÃO DE FORO DE NEGÓCIO JURÍDICO EMPRESARIAL

CONSULTA

O consulente busca embasamento jurídico que lhe forneça opções para, à luz do Direito, poder,
ou não, discutir a fidelidade do contrato/ negócio jurídico realizado com a empresa BBBX Ltda, que
presta serviços de internet e telefonia. Seu referencial de informações recai sobre dois aspectos:
a) Qual é a competência para processar e julgar eventual demanda acerca do contrato?
b) É juridicamente possível ajuizar a futura demanda em Canoas/RS, por ser a cidade onde se localiza
o escritório de Ângelo?
Para tanto apontaremos abaixo as premissas legais levando em consideração a legislação aplicável
ao caso em concreto e em específico. Trabalharemos com os conceitos dos principais temas abordados
no questionamento cujo intuito é ode facilitar o entendimento por parte do cliente, utilizando termos
acessíveis à compreensão dele.

1.A respeito dos Negócios jurídicos

Levando em consideração, segundo Chaves, Netto e Rosenvald que o conceito de negócio jurídico
como “sendo o acordo de vontades tendente a adquirir, modificar ou extinguir direitos, por intermédio
da livre utilização, que os particulares fazem, de sua autonomia da vontade.” Portanto, as partes
interessadas, BBBX Ltda e Ângelo Silva MEI, ambas pessoas jurídicas, contraíram negócio jurídico de
prestação de serviços de telefonia com fidelização de atendimento mediante contrato de adesão. Apesar
de serem similares os contratos de prestação de serviço, entre empresas, refletem uma relação jurídica
que necessita outro meio de tratamento do assunto, tendo por usual o tratamento à luz do Ordenamento
Jurídico de 2002.
De acordo com as palavras de SCARAVAGLIONI, se pode conceituar contratos de adesão da
seguinte forma:
“Os contratos de adesão são os contratos já escritos, preparados e impressos com
anterioridade pelo fornecedor, nos quais só resta preencher os espaços referentes à
identificação do comprador e do bem ou serviços, objeto do contrato. As cláusulas
são preestabelecidas pelo parceiro contratual economicamente mais forte, sem que o
outro parceiro possa discutir ou modificar substancialmente o conteúdo do contrato
escrito. É evidente que esses tipos de contrato trazem vantagens as empresas, mas
ninguém duvida de seus perigos para os contratantes hipossuficientes ou
consumidores. Estes aderem sem conhecer as cláusulas, confiando nas empresas que
as pré-elaboraram e na proteção que, esperam, lhes seja dada por um Direito mais
social.”1
Em paralelo temos o aspecto da relação consumerista nos termos de contrato de adesão que,
juntamente com o questionamento do enunciado, e conforme o Art 2º da Lei 8078/1990, “Consumidor
é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”.
NEVES traz a concepção de que a relação consumerista de pessoa jurídica pode causar perplexidade.
FILOMENO apud NEVES falando a respeito da pessoa jurídica consumerista, apesar das
resistências pessoais do autor citado, prevalece a inclusão das pessoas jurídicas igualmente como
consumidoras de produtos e serviços embora haja a ressalva de que consumidor é aquele consumidor e
destinatário final de produtos e serviços que adquirem.
Neste caso, a vulnerabilidade e hipossuficiência subentendidas na relação de consumo cm o
consumidor pessoa física, podem ser afastadas em uma relação consumerista entre pessoas jurídicas,
presentes nas jurisprudências abaixo elencadas.
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
RESTITUIR C/C PERDAS E DANOS C/C DANOS MORAIS - ACOLHIMENTO
PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA - ART. 1.015 DO CPC - TAXATIVIDADE
MITIGADA - CABIMENTO - MANUTENÇÃO DE EMPILHADEIRA -
RELAÇÃO DE CONSUMO - TEORIA FINALISTA MITIGADA -

1 Eduardo Scaravaglioni – assessor do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul


VULNERABILIDADE TÉCNICA VERIFICADA - COMPETÊNCIA - FORO DE
DOMICÍLIO DO CONSUMIDOR. "O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade
mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada
a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de
apelação" - tese fixada no tema 988 pelo c. STJ. De acordo com a teoria finalista
aprofundada ou mitigada, adotada pelo c. STJ, deve-se aplicar a relação de consumo
também nos casos em que a pessoa jurídica adquire produto ou serviço para exercício
da sua atividade empresarial, quando restar evidentemente demonstrada a
vulnerabilidade técnica, jurídica ou econômica da empresa contratante, frente à
empresa fornecedora contratada. Demonstrada a vulnerabilidade da autora frente a
requerida, aplicável as normas do Código de Defesa do Consumidor, possibilitando
à empresa autora a escolha do foro de sua sede, para acionar a jurisdição. Recurso
conhecido e provido. (Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.20.063801-3/001 11ª
CÂMARA CÍVEL. COMARCA DE POÇOS DE CALDAS; Relator(a): Des.(a)
Maria das Graças Rocha Santos Data de Julgamento: 05/11/2020; Data da
publicação da súmula: 16/11/2020)2

No Código de defesa do Consumidor, o artigo de referencial ao tema encontra-se no CAPÍTULO III -


Das Ações de Responsabilidade do Fornecedor de Produtos e Serviços, demonstrando que em um
contrato há responsabilização cível do contratado frente ao contrato não cumprido, de prestação de
serviço, sob contrato de adesão. Razão ela qual, esta norma especial de relacionamento entre as partes
de uma relação de consumo, o foro é percebido no inciso I do art 101 da Lei 8078/1990:
“Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços,
sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as
seguintes normas:
I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor;”3

Competência de Foro

O tipo de competência enquadra-se na competência relativa que está ligada ao interesse das partes,
compreendendo o território ou o valor da causa.4 Em relação ao presente caso, devemos entender a
questão da competência, que se traduz na distribuição da ação para quem irá dizer o direito dentre os
diversos órgãos do Poder judiciário que dá luz à teoria da competência. Cada causa demanda um tipo
específico de foro, que vai poder dizer o direito de acordo com sua especificação de atuação e/ ou
conhecimento de causa pela experiência, lhe proporcionando a naturalidade para lidar com a causa
central, o dizer o direito naturalmente lhe dá a competência de foro.
O Art 44 do CPC que nos fala sobre Competência de foro deverá ser determinada pelas normas
previstas neste ordenamento ou em legislação especial, dentro das normas de organização judiciária e,
no que couber, pelas constituições dos Estados.
O Código de Processo civil refere sobre competência de foro no TÍTULO III - DA
COMPETÊNCIA INTERNA, no CAPÍTULO I - DA COMPETÊNCIA, na Seção I - Disposições
Gerais, local em que consta a leitura:
“Art. 535. É competente o foro:
III - do lugar:
a) onde está a sede, para a ação em que for ré pessoa jurídica;
b) onde se acha agência ou sucursal, quanto às obrigações que a pessoa jurídica
contraiu;
c) onde exerce suas atividades, para a ação em que for ré sociedade ou associação
sem personalidade jurídica;
d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o
cumprimento;”

2
Acórdão consultado no site do TJMG: www5.tjmg.jus.br
https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/relatorioEspelhoAcordao.do?inteiroTeor=true&ano=20&ttriCodigo=1&codigoOrigem=0&numero=
63801&sequencial=1&sequencialAcordao=0
3 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm
4. Conceito extraído do site: https://trilhante.com.br/curso/competencia-processual/aula/competencia-absoluta-e-relativa
5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
Este artigo do CPC, de identificação pelo lugar de competência do Foro, provoca dubiedade na
decisão da competência de foro, pois sendo ré a empresa/ pessoa jurídica, o local recai ao de sua sede;
contudo, por se tratar de negócio jurídico envolvendo prestação de serviços e, por conseguinte,
obrigação de fazer relacionada à entrega ao contratante o serviço contratado, ou seja, serviços de
telefonia e de internet. Contudo, a alínea “d” descreve com exatidão o resultado do referencial do CPC
referendando o lugar onde a obrigação deve ser feita.
Contudo em análise de outros referenciais de pesquisa, REBOUÇAS6 relata que mesmo após
tanto tempo de existência, ainda não está clara a posição da doutrina ou da jurisprudência quanto à
definição da relação consumerista entre duas empresas. Visto que “São inúmeros os casos verificados
em todos os tribunais estaduais ou federais em que se questiona a aplicação do microssistema do CDC
às relações entre empresas, independentemente de estarmos frente a uma atividade-meio.”

Partindo do que foi debatido acima chegou-se aos propósitos:

a) Da competência para processar e julgar eventual demanda acerca do contrato – dentro da


organização judiciária, a esfera julgadora para demandarmos Petição inicial é de Instância estadual, ou
seja, no Foro do domicílio do autor da demanda, isto é, da Ângelo Silva MEI.

b) É juridicamente possível ajuizar a futura demanda em Canoas/RS, por ser a cidade onde se localiza
o escritório de Ângelo?
Sim, é juridicamente possível que o futuro ajuizamento da demanda inicie na cidade de Ângelo.
Tendo em vista a relação de consumo de uma pessoa jurídica com outra, sendo uma delas percebida
como consumidor. Partindo dessa informação, o Foro de competência recai sobre o domicílio do autor,
isto é, o Foro da Cidade de Canoas. Lembrando que a legislação especial, o CDC, beneficia o
consumidor.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

DENSA, Roberta. Direito do Consumidor. 9. Ed. São Paulo : Atlas,2014


FARIAS, Cristiano Chaves et all.. Manual de Direito Civil – Volume Único. 4. ed. rev, ampl. e atual.
– Salvador: Ed. JusPodivm, 2019, p. 520 e 525.
FUX, Luiz. Novo Código de Processo Civil Temático. São Paulo : Editora Macenzie , 2015.
NEVES, Daniel Amorim. Manual de Direito do Consumidor. São Paulo : 2017.
SCARAVAGLIONI, Eduardo. O Código de Defesa do Consumidor e os contratos de adesão. Jus
Navigandi, Teresina, a. 4, n. 43, jul. 2000 Disponível em
<http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=706>. Acesso em 13 de agosto de 2003.

https://www.procon.go.gov.br/noticias/o-codigo-de-defesa-do-consumidor-e-os-contratos-de-
adesao.html
https://idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/entenda-a-definicao-de-contrato
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm
https://www.conjur.com.br/2017-fev-18/relacoes-juridico-empresariais-regidas-codigo-civil
https://www.aurum.com.br/blog/negocio-juridico/

6REBOUÇAS, Rodrigo Fernandes. Relações jurídico-empresariais devem ser regidas pelo Código Civil, não pelo CDC.
Revista Consultor Jurídico, 18 de fevereiro de 2017, 7h17; Disponível em https://www.conjur.com.br/2017-fev-
18/relacoes-juridico-empresariais-regidas-codigo-civil

Você também pode gostar