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Conhecida por seu nome religioso Teresa Benedita da Cruz, Edith Stein foi uma santa,
filósofa alemã de origem judaica, e também ativista dos direitos das mulheres. Ela foi
batizada na Igreja Católica em 1922 e tornou-se Carmelita Descalça em 1933. Durante a era
nazista, ela se tornou vítima do Holocausto, como judia e cristã. Ela é venerada na Igreja
Católica como santa e mártir da Igreja. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 1987 e foi
canonizada em 1998. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 9 de agosto.
1. Biografia
1.1 Primeiros anos e adolescência
Edith Stein nasceu na Breslávia, que ainda era uma cidade alemã na época, filha de
Siegfried e Augusta Courant, ambos de origem judaica. Eles possuíam um negócio madeireiro
comercial, primeiro em Lubliniec e depois em Breslau, onde Edith nasceu, a última das cinco
filhas e dois filhos da família Stein-Courant, que em julho de 1893 foi subitamente destituída
do chefe da a família, morreu de insolação, como conta a própria Edith. Augusta deveria,
portanto, assumir o compromisso de alimentar a numerosa prole, assumindo pessoalmente as
rédeas da empresa. Tornou-se uma figura muito querida por Edith, que em suas memórias
familiares muitas vezes se lembra dela como uma mulher incansável e dura, de caráter forte e
muito hábil nos negócios.
Mas Edith também não estava a salvo na Holanda: a conferência dos bispos
holandeses em 20 de julho de 1942 elaborou uma carta contra o racismo nazista lida em todas
as igrejas do país. Em resposta, em 26 de julho Adolf Hitler ordenou a prisão de todos os
judeus, incluindo os convertidos (que haviam sido poupados até então). Edith e sua irmã
Rosa, também convertida, foram capturadas e internadas no campo de trânsito de Westerbork
antes de serem transportadas para o campo de concentração de Auschwitz, onde foram mortas
nas câmaras de gás em 9 de agosto de 1942; os corpos de ambas foram então queimados nos
fornos crematórios do campo.
2. A filosofia de Stein
2.1 A mulher
Edith Stein, desde muito cedo, foi muito marcada por sua condição feminina. Sendo a
primeira mulher Ph.D. na Alemanha, ela prometeu defender pessoalmente que as mulheres
fossem para a universidade e ensinassem, apesar de muitas dúvidas na virada do século 20 .
Com sua conversão, ela empreendeu um caminho diferente. Ela achava que as
reivindicações feministas não eram suficientes: era necessário desenvolver uma teologia
católica das mulheres, que foi o que ela fez em inúmeras conferências em toda a Alemanha.
Esta teologia específica para as mulheres, praticamente inexistente na educação católica, foi
desenvolvida por João Paulo II na carta apostólica Mulieris Dignitatem , na qual, ao que
parece, pode ter sido influenciado pela análise de Edith Stein.
A partir de uma análise filosófica, Edith Stein afirmou a unidade da humanidade, pois
uma diferenciação de gêneros a leva a afirmar que as mulheres têm três objetivos
fundamentais: o desenvolvimento de sua humanidade, sua feminilidade e sua individualidade.
Foi baseado na história do Gênesis e do Evangelho , abordagem adotada por João Paulo II em
seu ensino, que leva a Virgem Maria como modelo e afirma seu papel essencial na educação.
No entanto, ela nega a posição da época em que se dizia que a mulher deveria se limitar
apenas à esfera familiar e afirma que a vocação da mulher pode ter uma vida profissional: o
objetivo que consiste no desenvolvimento de competências profissionais, um objectivo a que
convém aspirar no interesse de um desenvolvimento saudável da personalidade individual,
que corresponda também às exigências sociais que exigem a integração das forças femininas
na vida do povo e do Estado. Esta afirmação é tanto mais forte quanto considera a vida das
jovens de boa família, ociosas das classes abastadas uma perversão da vocação feminina.
Stein afirmou, apoiando-se em São Tomás de Aquino , que existem profissões naturais
para as mulheres, baseadas em predisposições femininas, predisposições que não impedem
uma singularidade e disposições particulares, como nos homens. Mais tarde, ela afirmou que
uma verdadeira profissão feminina é uma profissão que permite que a alma feminina floresça
completamente. A mulher deve realizar-se na sua profissão procurando o que há de melhor
na sua vocação. Deve assegurar-se de que mantém uma "ética feminina" na sua profissão,
tendo a Virgem Maria como modelo para as mulheres e para o seu destino. Esta realização
deve incluir também uma missão espiritual da mulher que se realiza através da vida em Deus,
da oração e dos sacramentos .
Dentro dessa lógica, Stein critica a falta de formação dada às mulheres e a falta de
ensino do catecismo para elas mesmas, uma vez que a educação era mais voltada para a
piedade. Ela também afirmou que a fé não é uma questão de imaginação, nem um sentimento
de piedade, mas uma apreensão intelectual. Ela alertou as instituições religiosas que meios
coercitivos são frequentemente usados na educação religiosa para desenvolver a piedade. A fé
só pode ser obtida pela graça, que afirma a necessidade não tanto de controle como, por
exemplo, na educação das mulheres jovens.
2.2 Fenomenologia
Edith Stein não deixa dúvida de que é uma discípula de Husserl, mas desde sua tese de
doutorado sugere que seu trabalho é o de uma pensadora independente. Por volta de 1920, ao
redigir sua Introdução à filosofia e ao perguntar o que é realmente a filosofia, ela responde
que esta tem por meta compreender o mundo. Isso significa uma dupla clarificação do ser: o
ser da Natureza e o ser da consciência; o ser do que deve ser reconhecido e o ser do
conhecimento mesmo. Como aluna de Husserl, Edith Stein segue a abordagem inovadora do
mestre, indo além da crítica da razão de Kant: em toda percepção, algo é percebido, e, como
tal (como percebido; não necessariamente como subsistente), deve ser descrito. No dizer de
Edith Stein, porém, Husserl não havia dado uma resposta clara, até aquele momento de suas
pesquisas (anos 1920), à questão se o que é percebido pode ser liberado do vínculo com a
consciência e afirmado como independente dela.
Mas já na Introdução à filosofia fica claro que a relação de Edith Stein com o conceito
husserliano de consciência permanece sempre em tensão. Diz ela, por um lado, que “a ideia
de fato e a ideia de conhecimento são correlatas, mas de maneira que a ideia de conhecimento
pressupõe a ideia de fato”, e, mais adiante, que as ideias de ‘verdade’ e de ‘ser’ são ligadas
entre si, pois a verdade não tem sentido senão em referência a um ser.
Por outro lado, ela aceita, ao mesmo tempo, que a consciência, em sua estrutura, não é
determinada por seus conteúdos, mas por sua própria legalidade, uma legalidade absoluta,
vazia. Há, assim, dois reinos absolutos, o ser e a consciência, e um não pode ser derivado do
outro. No tocante à compreensão do mundo como mundo sempre percebido, Edith Stein
aceita que “se cancelarmos a consciência, também cancelamos o mundo”; mas, por outro
lado, diz ela que, embora essa afirmação seja convincente, é preciso reconhecer pelo menos
que “a experiência, em seu sentido próprio, indica algo de independente dela”:em outras
palavras, a experiência perde seu caráter fundamental de estar sempre direcionada para algo,
quer dizer, seu caráter de intencionalidade.
E, para Edith Stein, urgia conectar a consciência ao ser, ou, em outros termos, garantir
a correlação entre ser e consciência. Em sua Introdução à filosofia, e ainda que a passos
lentos, ela começa esse trabalho, pela demonstração metódica da interdependência mútua
entre o ser e a consciência, e o leva depois à plenitude, em particular com Ser finito e eterno,
pelo conhecimento da pessoa livre que se projeta para além da simples consciência. Na
compreensão da consciência sempre aparece a tentação do solipsismo; já a pessoa é
compreendida em função do mundo, quer dizer, de maneira fundamentalmente relacional, em
constante resposta porque sempre solicitada dialogicamente por alguém diferente dela mesma,
o que desemboca na ideia de empatia.
2.3 Empatia
Em sua tese de doutorado, tratando sobre o tema, ela entende que “empatia” é um
termo utilizado para designar a experiência intersubjetiva. A tese de Edith Stein analisa a
empatia como o dom da intuição e do rigor que nos permite captar o que o outro vivencia em
si mesmo. A empatia pode permitir que a pessoa humana, considerada como um universo em
si, se enriqueça e aprenda a conhecer-se através do contato com os outros. Assim, a Empatia,
para Stein é um ato de consciência pura que permite aos seres humanos compreender os atos
de consciência alheia, isto é, partindo da esfera individual vivências intersubjetivas assim
como a esfera mais ampla isso é abordando a dimensão comunitária isso é a capacidade de
perceber a vivência alheia, portanto buscando uma abordagem mais abrangente.
3. Referências Bibliográficas
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(1925)
STEIN, Edith. Potenz und Akt.Studien zu einer Philosophie des Seins (1926)
STEIN, Edith. Der Aufbau der menschlichen Person. Vorlesungen zur philosophischen
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STEIN, Edith. Bildung und Entfaltung der Individualität. Beiträge zum christlichen
Erziehungsauftrag (1932)
STEIN, Edith. Wege der Gotteserkenntnis. Studie zu Dionysius Areopagita und Übersetzung
seiner Werke (1937)
3.1.2 Em português
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Paulo: EDUSC, 1999.
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STEIN, Edith. Textos sobre Husserl e Tomás de Aquino. Trad. de E. Giachini et. al. São
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STEIN, Edith.Uma investigação sobre o estado. Trad. de M. Campos. São Paulo: Paulus,
2022.
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DE MOAS, Drten, Uitgeverij, Waler (1985). Aus dem Leben einer jüdische Familie. Das
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FERRER Urbano (ed.) (2008). Para comprender a Edith Stein. Ediciones Palabra.
GREENE, Dana .K In Search of Edith Stein : Beyond Hagiography Notre Dame, ed:
University of Notre Dame Press, 2006
3.2.2 Em português
ALFIERI, Francesco. Pessoa humana e singularidade em Edith Stein. São Paulo: Perspectiva,
2019.
FARIAS, Moisés; VARGAS, Carlos. Edith Stein - empatia, ética e mística. São Paulo:
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FILHO, J. Savian. Empatia, Edmund Husserl e Edith Stein - Apresentações Didáticas. São
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Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Humanas
e Sociais. Departamento de História. Programa de Pós Graduação em História.
LUCZINSKI, G. et. al. Psicologia com alma: a fenomenologia de Edith Stein. Belo
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