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O sistema respiratório

A P R E S E N TA Ç Ã O
A energia metabólica usada pelos animais é derivada A maior parte da energia necessária para o metabolis-
mo é fornecida pela oxidação celular dos alimentos
absorvidos. Em animais muito pequenos, o oxigênio ne-
da oxidação celular das moléculas dos alimentos.
O oxigênio, necessário para a produção de energia, cessário para essa reação e o dióxido de carbono resultante
assim como o dióxido de carbono resultante dessa como um subproduto podem ser transportados entre o
reação química, entram e saem do corpo por difusão ambiente externo e as células pela difusão, porém esse é
através de uma membrana respiratória. Tanto a água um processo lento e eficiente somente em pequenas dis-
quanto o ar contendo oxigênio e dióxido de carbono tâncias. Nos vertebrados, a difusão desempenha um papel
são movimentados para dentro e fora do corpo (e da importante no transporte de gases por distâncias curtas,
membrana respiratória) pelo processo de ventilação. mas também são necessários sistemas para o transporte de
Muitas mudanças ocorreram nesse sistema ao longo grandes quantidades de gases por distâncias mais longas,
da história evolutiva dos vertebrados, que passaram que geralmente envolve movimentos musculares. Em um
do ambiente aquático para o ambiente terrestre, com primeiro momento, algum tipo de bomba deve mover o
alguns tendo se tornado endotérmicos. meio – água ou ar – que contém os gases por meio de uma
membrana fina, úmida e vascularizada, por onde ocorre
a difusão e a troca dos gases com aqueles que estão no
P O N TO S P R I N C I PA I S sangue; uma membrana desse tipo é chamada membra-
O sistema respiratório dos peixes na respiratória. Em seguida, outra bomba – o coração
As brânquias – deve mover o sangue contendo os gases respiratórios
A estrutura e o desenvolvimento das brânquias pelos vasos que irrigam os tecidos do corpo, onde a difu-
internas são ocorre novamente, tanto na troca gasosa com as célu-
As brânquias das lampreias las como nas trocas com a membrana respiratória. Neste
As brânquias dos elasmobrânquios capítulo, trataremos da primeira questão, isto é, a natureza
As brânquias dos peixes ósseos da membrana respiratória e o transporte dos gases através
Os órgãos acessórios da respiração aérea dela, ou a ventilação.
Os pulmões Um sistema respiratório eficiente deve otimizar a difusão
A bexiga natatória e a troca de gases entre o corpo e o ambiente externo, mas
A respiração nos tetrápodes primitivos muitos fatores afetam a natureza da membrana respiratória
Os órgãos respiratórios dos anfíbios e a forma como ela é ventilada. A equação geral para difu-
O sistema respiratório dos répteis são é a seguinte, com R representando a taxa de difusão:
A respiração nas aves
A respiração nos mamíferos R = D ´ A ´ (Dp/d)
A evolução dos padrões respiratórios em vertebrados D é a constante de difusão, cujo valor depende das pro-
que respiram ar priedades do meio (densidade, temperatura) por meio do
Enfoque 18-1 A primeira bomba de aspiração na qual a difusão ocorre. A é a área de superfície através
evolução dos vertebrados da qual a difusão ocorre (a membrana respiratória). Dp é
Enfoque 18-2 Válvulas aerodinâmicas no pulmão das aves a diferença entre as pressões parciais do gás em cada lado
576 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

da membrana respiratória, e d é a distância (a espessura da uma ampla superfície respiratória e ser capazes de mover
membrana respiratória) ao longo da qual a difusão ocorre. grandes volumes de água através dela a um custo energéti-
Altas taxas de difusão requerem uma grande área de super- co considerável. Assim, qualquer modificação no design do
fície (A) da membrana respiratória e uma curta distância sistema respiratório que resulte em uma redução dos custos
de difusão (d) entre o meio externo e o sangue. As taxas de energéticos seria vantajosa para tais animais.
fluxo através da membrana respiratória, tanto de entrada A liberação do dióxido de carbono é um dos menores
quanto de saída de gases do corpo, devem ser lentas o sufi- problemas, porque esse gás é altamente solúvel na água. O
ciente para permitir a difusão e, ao mesmo tempo, devem gás carbônico reage com a água formando o ácido carbôni-
ser rápidas o suficiente para manter a diferença na con- co (H2CO3) resultando na diminuição do pH do meio; no
centração dos gases entre o meio externo e o sangue, ou entanto, a maioria dos peixes vive em corpos d’água sufi-
seja, para manter o gradiente de difusão (Dp). As taxas de cientemente grandes, de forma que a acidez é praticamente
ventilação, a área da membrana respiratória em uso em um neutra (pH 7), evitando qualquer consequência indesejável.
dado momento, ou ambas, devem ser ajustáveis de modo A respiração no meio aquático também têm outras im-
que a troca de gases se equipare às necessidades do animal, plicações, como a rápida troca de calor, o que dificulta a
que variam conforme seu nível de atividade. Uma superfí- manutenção da temperatura do corpo diferente da tempe-
cie respiratória maior ou uma maior taxa de ventilação em ratura da água (Enfoque 3-4) e a troca de nutrientes valio-
relação àquela necessária ao animal durante seu período de sos, como água, sais e resíduos nitrogenados, que também
atividade representam gastos energéticos desnecessários. A sofrem difusão através da membrana.
quantidade de gás na água ou no ar também afeta o tama-
nho da membrana e sua taxa de ventilação. A densidade e As brânquias
a viscosidade do meio influenciam na quantidade de ener-
gia necessária para mover os gases através da membrana Os urocordados e os cefalocordados são animais suficien-
respiratória. O movimento de outras moléculas difusíveis, temente pequenos e pouco ativos, de forma que o corpo
como a água, os sais e os resíduos nitrogenados através da ou a parede da faringe pode atuar como uma membrana
membrana às vezes precisa ser reduzido ou aumentado. O respiratória. Uma corrente de água para alimentação ou
tamanho do corpo é um importante fator por causa da respiração entra pela boca, passa para dentro da faringe, e
influência das relações superfície-volume para as trocas me- depois sai do corpo pelas diversas fendas faríngeas; esses
tabólicas. Essas considerações mostram que as membranas animais não possuem brânquias. Os ancestrais dos cra-
respiratórias e os métodos de ventilação diferem muito en- niados já eram animais maiores e mais ativos, e, nesses
tre os vertebrados. animais, o desenvolvimento de brânquias permitiu o au-
mento da área de superfície para as trocas gasosas; associa-
do a elas, desenvolveu-se mecanismos para bombear uma
corrente de água para ventilá-las.
O sistema respiratório dos peixes As larvas de muitas espécies de peixes possuem brân-
quias externas, que são processos filamentosos altamen-
O sistema respiratório dos peixes deve se adequar às duas te vascularizados e com grandes áreas de superfície, lo-
principais restrições da vida aquática: primeiro, a quantida- calizadas nas laterais da cabeça entre algumas das fendas
de de oxigênio dissolvido na água é bem menor que a con- branquiais. Nos peixes adultos, em contrapartida, há
centração de oxigênio no ar. A quantidade de oxigênio dis- brânquias internas, formadas por diversas e grandes
solvida na água depende da pressão parcial do oxigênio no placas vascularizadas, chamadas lamelas branquiais pri-
ar (que é de aproximadamente 160 milímetros de mercúrio márias, ligadas às paredes das brânquias ou das bolsas
no nível do mar), porque essa força que determina a difu- branquiais (do grego, branchia = brânquias) ou aos arcos
são do oxigênio do ar para a água e também depende da branquiais. As pequenas lamelas branquiais secundá-
solubilidade dessa molécula, que não é muito alta. Embora rias, onde a troca gasosa ocorre, estão ligadas perpendicu-
o ar no nível do mar a uma temperatura de 20 °C apresente lar e transversalmente às lamelas primárias (Figura 18-3).
uma concentração de 210 mililitros de oxigênio por litro de
ar, a concentração na água doce sob as mesmas condições A estrutura e o desenvolvimento das
é de apenas 6,6 mililitros de oxigênio por litro de água; a
água salgada apresenta uma concentração ainda menor, de
brânquias internas
5,3 mililitros por litro de água. A solubilidade do oxigênio As bolsas faríngeas formam-se, durante o desenvolvimento
é um pouco maior em águas mais frias, sendo que, em água embrionário, como evaginações endodérmicas laterais da
doce a 0 °C, a concentração do oxigênio dissolvido é de região do arquêntero que se transformará na faringe (Fi-
10,3 mililitros por litro de água. A segunda restrição para gura 18-1A). Sulcos ectodérmicos se invaginam, indo ao
a respiração aquática é que a água na qual o oxigênio está encontro das bolsas endodérmicas, e o tecido interveniente
dissolvido é mais densa e mais viscosa que o ar. Em virtude logo se rompe. Na maioria dos peixes, o epitélio que re-
dessas duas restrições, animais aquáticos devem apresentar veste as brânquias parece ser de origem ectodérmica. As
O sistema respiratório 577

Placódio nasal
Narina

Arco mandibular
Válvula espiracular
Primeiro arco aórtico e pseudobrânquia

Cavidade Espiráculo
Primeira bolsa oral
faríngea (endoderme) Arco hioide
Rastro branquial
Primeiro arco Hemibrânquia
branquial = terceiro
arco visceral Primeira fenda
Faringe branquial externa
Raio branquial

Sulco Septo
Fenda
ectodérmico interbranquial
branquial
interna Quinta artéria
branquial aferente
Sexto arco
Holobrânquia
aórtico

Lamelas branquiais
Câmara
Cintura peitoral
branquial
FIGURA 18-1
Câmara Seção frontal da faringe de um
parabranquial elasmobrânquio. Um estágio inicial de
Celoma
Esôfago desenvolvimento é mostrado em A;
A. Estágio inicial B. Condição adulta a condição adulta, em B.

placas do tecido entre bolsas sucessivas, às quais as lamelas primeira é reduzida a um par de espiráculos (figuras 18-
branquiais primárias se ligam, são chamadas septos inter- 1B e 18-2C). Os espiráculos foram perdidos nos teleóste-
branquiais (Figura 18-1B). Um arco visceral esquelético os, que apresentam, portanto, apenas cinco pares de bolsas
está presente em cada septo interbranquial. O primeiro (Figura 18-2D). Todas as bolsas branquiais são revestidas
arco visceral (o arco mandibular dos gnatostomados) está por lamelas branquiais nas lampreias e mixinas atuais, e
posicionado rostralmente à primeira bolsa embrionária, e o acreditamos que isso se assemelhe à condição ancestral
último (o sétimo arco visceral) está localizado caudalmen- dos craniados. A distribuição das lamelas é mais restrita
te à última bolsa. Os raios esqueléticos que dão suporte nos peixes com mandíbula. Uma brânquia completa, ou
às nadadeiras (raios branquiais) geralmente se estendem uma holobrânquia, é formada por septos interbranquiais
perifericamente, dos arcos viscerais aos septos interbran- que apresentam lamelas branquiais em ambas as superfí-
quiais ou às lamelas branquiais primárias. Músculos e ner- cies. Peixes com mandíbulas geralmente possuem quatro
vos estão associados aos elementos esqueléticos, e cada um holobrânquias. Além disso, alguns tubarões, peixes pul-
dos seis primeiros septos interbranquiais de um peixe com monados e peixes do grupo Chondrostei apresentam uma
mandíbulas contém uma artéria embrionária, conhecida hemibrânquia na superfície posterior do septo hioideo
como arco aórtico, que suprirá as brânquias. (Figura 18-1B). As lamelas branquiais raramente estão
As bolsas branquiais eram numerosas em espécies dos presentes na superfície posterior da última bolsa bran-
grupos mais basais de craniados, sendo que alguns peixes quial, porque não se forma um arco aórtico para supri-las.
sem mandíbulas chegavam a apresentar 15 pares. Uma O peixe pulmonado africano Protopterus é uma exceção,
espécie recente de mixina apresenta 14 pares de bolsas, porque possui uma hemibrânquia nessa posição que é su-
ao passo que as lampreias apresentam apenas 7 (Figura prida pelo arco aórtico da sexta brânquia.
18-2B). A maioria dos peixes condrictes e dos peixes ós- Uma pequena estrutura que se assemelha a uma brân-
seos primitivos possui seis pares de bolsas, sendo que a quia é encontrada no espiráculo. Ela é chamada pseu-
578 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

Dentes
córneos

Arco
mandibular Arco
hioide
Segunda bolsa Cesto
branquial branquial Fenda
Arco branquial
hioide interna
Fenda
Faringe branquial Arco Espiráculo
interna branquial Cavidade
Fenda opercular
branquial
externa Brânquia
Faringe Opérculo
Décima Câmara
bolsa branquial Arco parabranquial
branquial
Esôfago Brânquia
Fenda
branquial
externa
Esôfago
A. †Osteostraci B. Lampreia C. Tubarão Esôfago D. Teleósteo

FIGURA 18-2
Seções frontais de quatro “peixes”, mostrando a configuração das diversas bolsas branquiais e os tipos de brânquias. A. Brânquias em
bolsas de um representante do grupo †Osteotraci. B. Brânquias em bolsas de uma lampreia. C. Brânquias septadas de um tubarão. D.
Brânquias não septadas de um teleósteo.

dobrânquia, porque recebe sangue oxigenado de outras As brânquias dos elasmobrânquios


brânquias (Capítulo 19; Figura 18-1B). Sua função, nos
elasmobrânquios, é incerta. A maior parte dos teleósteos As bolsas branquiais dos condrictes são representadas por
manteve a pseudobrânquia mesmo tendo perdido o espi- câmaras estreitas, e as lamelas branquiais são suportadas pe-
ráculo; nestes animais ela pode funcionar como um órgão los septos interbranquiais, que se estendem até a superfície
sensorial ou regulador da concentração de sal. do corpo (figuras 18-1B e 18-2C). Essas brânquias são do
tipo brânquias septadas. Uma fenda branquial interna e
alongada verticalmente se estende da faringe à cada câma-
As brânquias das lampreias ra branquial. Os rastros branquiais localizados nas bases
As brânquias internas podem estar organizadas de dife- dos septos interbranquiais restringem o alimento à faringe.
rentes maneiras entre os peixes, e existem diferentes me- A estrutura dos rastros branquiais está relacionada ao tipo
canismos para sua ventilação. Os peixes sem mandíbulas de alimento ingerido: nos tubarões predadores, os rastros
possuem grandes bolsas branquiais saculares que são re- são processos curtos, ao passo que nos tubarões filtradores,
vestidas pelas lamelas branquiais primárias (figuras 18- que se alimentam de plâncton, como os tubarões-elefante
2A-B), chamadas brânquias em bolsas. A água que entra e tubarões-baleia, os rastros são mais numerosos e repre-
pela boca é levada para a faringe e entra nas bolsas bran- sentados por filamentos longos e finos. As câmaras para-
quiais por meio das fendas branquiais internas, em for- branquiais estão localizadas entre as câmaras branquiais e
ma de poros, e sai das bolsas por meio das fendas bran- as pequenas fendas branquiais externas. As extremidades
quiais externas, também em forma de poros. Uma das distais dos septos interbranquiais atuam como válvulas que
especializações da lampreia para seu modo de alimentação podem fechar as fendas branquiais externas.
por sucção é a divisão longitudinal da faringe em uma re- Os arcos aórticos embrionários dão origem às artérias
gião dorsal para passagem de alimentos – o “esôfago” – e que suprem e drenam as brânquias. Os ramos das artérias
uma região ventral correspondendo ao tubo respiratório, branquiais aferentes (do latim, ad = em direção a +ferent
em fundo cego, de onde as fendas branquiais internas se = transportando) transportam o sangue com baixo teor
formam (Figura 17-2A). Durante o processo de alimen- de oxigênio para dentro de todas as lamelas branquiais
tação, a lampreia também bombeia a água para as trocas primárias. Afluentes das artérias pré-tremáticas e pós-
gasosas, para dentro e para fora das bolsas branquiais por -tremáticas coletam o sangue oxigenado das brânquias e
meio das fendas branquiais externas. o direcionam a uma artéria branquial eferente (do latim,
O sistema respiratório 579

Artéria Arco branquial Septo interbranquial


branquial
Artérias pré e aferente Câmara parabranquial
pós-tremáticas
Faringe

Lamelas branquiais primárias

Corrente de água
Canais
A. Brânquias de um tubarão septados

Sangue oxigenado
para a aorta dorsal

Artéria branquial aferente

Artéria Artéria pós-tremática


pré-tremática
Sangue pobre
em oxigênio
Septo
interbranquial
Água pobre em
Leito capilar da oxigênio
lamela secundária a ser expelida

FIGURA 18-3
A. Diagrama das partes das
brânquias de um condricte.
A água (setas) flui por entre as
lamelas secundárias para os
canais septados localizados nas
Canal laterais do septo interbranquial,
septado sendo, então, liberada para
Lamela o meio. O sangue (não
Sangue rico em branquial representado) flui na direção
primária
oxigênio vindo da oposta pelas lamelas secundárias.
lamela secundária
Água rica em oxigênio
B. Lamelas branquiais primárias e
Artéria branquial da corrente respiratória secundárias mostradas em maior
aferente vinda da aorta aumento, com a representação
ventral transportando
sangue pobre em oxigênio do fluxo sanguíneo (setas pretas)
e do fluxo de água (setas azuis).
B. Lamelas branquiais primárias e secundárias Fonte: A, baseado em Hughes.

ex = fora + ferent = transportando) na base da brânquia, septo interbranquial e flui para os espaços vascularizados
que, por sua vez, transporta o sangue para uma aorta dor- da lamela secundária, de onde é coletado e transportado às
sal, que o distribui para o corpo. Os capilares sanguíneos artérias pré e pós-tremáticas, na base da brânquia. A maior
nos quais ocorrem as trocas gasosas encontram-se nas la- parte da água flui no sentido das fendas branquiais inter-
melas secundárias entre as artérias eferentes e as artérias nas para as externas, passando por entre as lamelas secun-
pré e pós-tremáticas (figuras 18-3A-B). O sangue vindo dárias para dentro dos canais septados, localizados nas
da artéria branquial aferente entra nos pequenos vasos do laterais do septo interbranquial, sendo, então, eliminada
580 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

para o meio. Nas lamelas secundárias estabelece-se um flu- ganhar água do ambiente (Capítulo 20). No entanto, o
xo oposto de sangue e água (Figura 18-3B), e é esse fluxo papel do sistema não respiratório dos elasmobrânquios é
contracorrente que proporciona uma troca gasosa mais efi- ainda um pouco obscuro, já que seu sangue é isosmótico
ciente que seria caso os fluxos de água e sangue estivessem em relação à água do mar.
na mesma direção (Figura 18-4), caso no qual a difusão do Durante a inspiração nos tubarões, a boca e os espirá-
oxigênio da água para o sangue ocorreria até que o pon- culos se abrem, e as válvulas que fecham as brânquias são
to de equilíbrio fosse atingido. Por causa da presença da fechadas. A faringe expande-se por contrações dos mús-
hemoglobina, que se liga ao oxigênio, o sangue eventual- culos coracomandibular e rectus cervicis (esterno-hioideo;
mente teria uma concentração de oxigênio maior que a da Figura 18-5A-B), reduzindo a pressão dentro da faringe
água, mas uma quantidade considerável de oxigênio ainda em relação àquela da água a seu redor. A pressão é redu-
permaneceria nela. No fluxo contracorrente, o sangue ae- zida ainda mais nas câmaras parabranquiais pela curvatu-
rado que sai das lamelas secundárias encontra a água que ra para fora das válvulas que fecham as fendas branquiais
ainda não passou pelas lamelas secundárias, e, portanto, externas. A faringe e as câmaras parabranquiais agem em
apresenta uma concentração de oxigênio maior que a do conjunto como uma bomba de sucção, criando um gra-
sangue. A condição oposta é observada na extremidade da diente de pressão que arrasta a água para dentro da faringe
lamela secundária mais próxima ao canal septado: nesse através da boca e dos espiráculos, fazendo-a passar pelas
local, a água que perdeu a maior parte de seu oxigênio fica brânquias e chegar às câmaras parabranquiais. Durante a
próxima do sangue que contém ainda menos oxigênio. expiração (Figura 18-5C-D), a boca e os espiráculos se
Esse mecanismo contracorrente permite a formação de fecham, a faringe e as câmaras branquiais são comprimi-
um gradiente de difusão do oxigênio da água para o san- das pelos músculos adutores da mandíbula e pela maioria
gue ao longo de todo o comprimento das lamelas secun- dos músculos branquiais, as fendas branquiais externas se
dárias, resultando na entrada da maior parte do oxigênio abrem e a água é dirigida para fora. A faringe e as câma-
(80-95%) da água para o sangue. ras branquiais agem juntas como uma bomba de força.
Ambas as vias descritas anteriormente constituem uma A atividade dos músculos branquiais é maior durante a ex-
via respiratória, na qual ocorre o arejamento do sangue piração, comprimindo a faringe e as câmaras branquiais. O
que passa pelas brânquias, fornecendo sangue rico em oxi- esqueleto visceral também é comprimido, e uma energia
gênio para os tecidos. Além dela, os elasmobrânquios e a considerável é armazenada nas cartilagens dobradas. A ex-
maioria dos outros peixes também possui uma via não pansão do sistema durante a inspiração ocorre, em parte,
respiratória, na qual uma parte do sangue pode ser des- por conta do recuo do esqueleto visceral pela força elástica
viada das lamelas branquiais e entrar diretamente na parte armazenada, mas também pela contração da musculatura
eferente do sistema ou na drenagem venosa das brânquias. somática hipobranquial que rebaixa o assoalho da faringe;
Por meio desse mecanismo, o sangue não é, aparentemen- toda essa atividade minimiza o consumo de energia. O tu-
te, arejado em um grau maior que o necessário para suprir barão conserva ainda mais energia ao mover a água conti-
o nível metabólico do peixe, porque o sangue que passa nuamente em apenas uma direção, em vez de movê-la para
pelas brânquias, na maioria dos peixes, pode perder ou dentro e para fora das fendas branquiais, já que a massa da

O sangue sai das lamelas


e a água entra nos espaços
100 Direção do 100 entre as lamelas
fluxo de água
% de saturação de O2

% de saturação de O2

Direção do
Difusão
fluxo de água
de O2
Difusão de O2
50 50 da água para
Direção do
Direção do o sangue
fluxo sanguíneo
fluxo sanguíneo

O sangue entra
FIGURA 18-4 nas lamelas e
Gráficos mostrando as mudanças a água sai
das concentrações do oxigênio Distância ao longo das Distância ao longo das
do sangue e da água durante o lamelas branquiais lamelas branquiais
(medial para lateral)
fluxo concorrente (esquerda) (medial para lateral)
e o fluxo contracorrente (direita). A. Fluxo concorrente B. Fluxo contracorrente
O sistema respiratório 581

Água entrando pelo espiráculo

Recuo elástico
e músculos
dilatadores Bolsa Faringe -
Músculo branquial
- rectus
Água entrando cervicis
pela boca -
- - -
Cintura -
peitoral - - - --
- - -- -
Hioide Músculo Abas fechadas
coracomandibular Câmara parabranquial
A. Bomba de sucção B. Inspiração

Músculo adutor da mandíbula


Válvula do espiráculo fechada
Músculo
pré-orbital Músculos
constritores
+++ + + +

Cintura +
+ + +
Músculos peitoral + + +
interhioideo + ++ ++ +
intermandibular +
Hioide Água forçada para + + + + + + ++ +
fora das câmaras Hemibrânquia
parabranquiais
C. Bomba de força D. Expiração Abas abertas

FIGURA 18-5
A mecânica da ventilação branquial em um tubarão, com representações de cortes laterais (esquerda) e frontais (direita) da faringe. As
pressões relativas são indicadas por + e –. As setas pretas estreitas indicam o fluxo de água que entrou na faringe pela boca. As setas
pretas tracejadas indicam o fluxo de água que entrou pelo espiráculo. As setas laranja indicam a atividade muscular, com a largura
expressando o nível relativo da atividade. As setas pretas largas ilustram os movimentos do hioide. A-B. Inspiração. C-D. Expiração.
Fonte: B e D, baseado em Hughes.

água não precisa ser alternadamente acelerada e desacelera- por ossos, conhecida como opérculo, estende-se da região
da. A maioria dos tubarões depende de um equilíbrio das do arco hioideo, na cabeça, lateral e caudalmente sobre
bombas de força e de sucção em seu ciclo respiratório. Al- as brânquias. Estas se abrem em uma grande cavidade
guns tubarões que nadam rápido, bem como alguns teleós- opercular comum, e uma única fenda branquial externa
teos, abrem sua boca após atingir certa velocidade e apro- valvulada está presente, em vez de uma série de pequenas
veitam seu deslocamento para a frente, gerado pelo tronco câmaras parabranquiais, cada qual com sua própria fenda
e pelos músculos da cauda, para conduzir a água através branquial externa (figuras 18-2D e 18-6). Os septos inter-
das brânquias. Esse tipo de ventilação é chamado ventila- branquiais são reduzidos, especialmente nos teleósteos, de
ção forçada, e, nos tubarões que utilizam esse mecanismo, modo que as lamelas branquiais estendem-se livremente
os espiráculos são reduzidos ou ausentes. As raias, que ha- para a cavidade opercular. As brânquias são descritas como
bitam o fundo de rios e mares e possuem a boca posiciona- não septadas. O desenvolvimento do sistema opercular
da ventralmente, apresentam espiráculos excepcionalmente permitiu aos teleósteos o estabelecimento de um ciclo
grandes pelos quais entra uma grande quantidade de água respiratório com um fluxo contínuo e unidirecional de
na faringe. Nesses animais, a ventilação das brânquias é água, que ocorre no sentido da orofaringe para a cavidade
feita, principalmente, por uma bomba de sucção, ao pas- opercular sobre as brânquias. Esse ciclo consiste em dois
so que a bomba de força desempenha um papel menor. estágios: o estágio no qual há a atividade da bomba de
sucção é iniciado com uma expansão da cavidade bucal
e da faringe pelos músculos esterno-hioideo e elevadores
As brânquias dos peixes ósseos das brânquias (Figura 18-6A-C), resulltando em um au-
O aparelho branquial dos peixes ósseos é um pouco dife- mento do volume da orofaringe e gerando, consequente-
rente daquele dos elasmobrânquios. Uma aba sustentada mente, uma diferença de pressão entre a cavidade interna
582 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

Fluxo Sangue pouco


Arco branquial Faringe de oxigenado saindo
Cavidade opercular água das brânquias
Rastro branquial Rastro
branquial
Arco
branquial

Sangue
Lamela oxigenado
branquial entrando nas
primária brânquias

Fluxo de água
Cintura Fluxo de água
peitoral
Hioide Lamela
secundária
Músculo Câmara
esterno-hioideo opercular
Lamela primária

A. Vista lateral B. Fluxo contracorrente

Músculo
esterno-hioideo Água sugada Válvula oral fechada
Cavidade bucal Músculos adutor
Músculos da mandíbula
dilatadores e e gênio-hioideo + +
elevadores
- Faringe Água forçada
pelas brânquias
Água passando
Brânquia pelas brânquias Arco branquial

Cavidade
opercular Opérculo Músculos
adutores

- -
-- -- Válvula + +
Cintura opercular
peitoral fechada Válvula opercular
Celoma aberta
Parede
do corpo Esôfago comprimido
C. Inspiração (estágio de expansão) D. Inspiração (estágio de compressão)

FIGURA 18-6
Sistema branquial de um teleósteo. A. Câmara opercular aberta em vista lateral. As setas pretas indicam os movimentos do hioide.
B. Fluxo contracorrente de água e de sangue em uma brânquia. As setas azuis indicam o fluxo de água através das brânquias.
As setas pretas indicam o fluxo sanguíneo dentro das brânquias. C. Mecânica da inspiração. As setas azuis mostram a direção do
movimento da água. D. Mecânica da inspiração. Fonte: B, baseado em Dorit, Walker e Barnes (1991).

e o meio externo que faz que a água entre para a boca. A eficiência do sistema respiratório dos teleósteos depen-
Ao mesmo tempo, a cavidade opercular é ampliada pela de da manutenção de uma diferença de pressão entre a
ação dos músculos dilatadores, resultando em uma pressão orofaringe e a cavidade opercular, as quais estão separadas
interna ainda menor e fazendo que a água da orofaringe por uma rede de brânquias (Figura 18-6B). A diferença
seja arrastada para dentro da cavidade opercular, passando de pressão produz um fluxo unidirecional e ininterrupto
pelas brânquias (Figura 18-6B-C). No segundo estágio, a de água que corre na direção oposta do fluxo sanguíneo,
bomba de força é ativada pelos músculos adutores e gênio- formando um sistema de contracorrente otimizado.
-hioideos (Figura 18-6D), causando a compressão da oro- A estrutura do grande número de lamelas secundárias
faringe e criando uma pressão positiva maior que a pressão fornece uma grande área de superfície (A na equação de
na cavidade opercular. Como resultado, a água continua a difusão) e uma distância para difusão excepcionalmente
fluir da orofaringe, passando pelas brânquias para dentro curta (d na equação de difusão) entre a água e o sangue. O
da cavidade opercular aberta e, daí, para fora do corpo. epitélio da superfície de cada um dos lados de uma lamela
O sistema respiratório 583

secundária tem, muitas vezes, apenas uma célula de espes- fusão pelas lamelas branquiais é menor em peixes mais ati-
sura (Figura 18-7A). As células suporte apresentam finos vos, e o conteúdo de hemoglobina de seu sangue é maior.
processos citoplasmáticos, que se espalham por entre as A troca gasosa através das brânquias é acompanhada
células epiteliais e mantêm as camadas de células epiteliais pela difusão de moléculas menores. Uma quantidade con-
separadas e o sangue flui por estes estreitos espaços forma- siderável de amônia, na maioria dos peixes, e de ureia, na
dos pelas células suporte e não em típicos leitos capilares. maioria dos teleósteos, é excretada pelas brânquias. Os pei-
A área total em seção transversal de todos os canais vas- xes condrictes são uma exceção, pois a ureia não é liberada
culares dentro das lamelas secundárias é consideravelmen- pelas brânquias e, dessa forma, uma grande quantidade
te maior que a soma da área em seção transversal das ar- de ureia é acumulada nos fluidos do corpo e nos tecidos.
térias branquiais que as suprem. Da mesma forma, a área A água e os sais podem ser perdidos ou adquiridos por
em seção transversal de todos os espaços para a passagem difusão através das brânquias de acordo com a diferença
de água entre as várias lamelas secundárias é maior que a de suas concentrações relativas entre o meio e os fluidos
área em seção transversal da faringe. Pelo fato de a velo- do corpo. A água, por exemplo, entra pelas brânquias por
cidade de um líquido em movimento diminuir quando osmose nos peixes de água doce, mas é perdida na maioria
ele passa de uma área estreita para uma área mais ampla das espécies marinhas, já que o ambiente é hiperosmótico
(como ocorre com a velocidade da água que flui de um em relação a seus fluídos do corpo (Capítulo 20).
córrego para uma lagoA), a taxa do fluxo sanguíneo por Em função dos problemas inerentes à manutenção do
meio das lamelas e o fluxo de água através delas são redu- equilíbrio osmótico, torna-se vantajoso a um peixe ósseo
zidos, permitindo, dessa forma, um tempo adequado para não ventilar suas brânquias ou fazer o sangue passar por
a difusão. elas mais rapidamente que o necessário para suprir suas
A soma da área de superfície das lamelas secundárias necessidades de oxigênio em determinado momento. Di-
varia muito entre as espécies de teleósteos distantemen- versos mecanismos atuam de forma a equilibrar a taxa de
te relacionados filogeneticamente e, provavelmente, está trocas gasosas às necessidades metabólicas de um peixe:
adaptada a seus diferentes modos de vida. Hughes (1984)
calculou que o peixe-sapo, um animal lento que vive no 1. A taxa de ventilação pode ser regulada.
fundo do mar, possui 151 milímetros quadrados de área 2. As lamelas branquiais primárias de brânquias adjacentes
de superfície branquial por grama de seu peso, ao passo podem se unir ou se separar (Figura 18-7B-C). Quando
que uma savelha, um animal pelágico mais ativo, apresenta os músculos adutores das brânquias estão relaxados, a
1.241 milímetros quadrados por grama. A distância de di- elasticidade dos raios branquiais esqueléticos, auxiliados

Lamela primária
Fluxo de água
Canal
Célula suporte
vascular Lamela
branquial
primária

Epitélio da superfície
Raio
branquial

Músculos Artéria
adutores branquial
aferente
Músculos
abdutores Artéria
Arco branquial
branquial eferente

A. Lamela secundária B. Lamela primária com os C. Lamela primária com os


músculos adutores relaxados músculos adutores contraídos

FIGURA 18-7
Estrutura branquial de um teleósteo. A. Seção transversal de uma lamela secundária, mostrando a proximidade entre os canais
vasculares por onde o sangue flui e a superfície por onde a água flui. B. Lamelas branquiais primárias de brânquias adjacentes se
encontram quando os adutores relaxam, de modo que a água seja direcionada para atravessar as lamelas secundárias. C. As lamelas
branquiais primárias de brânquias adjacentes se separam quando os músculos adutores se contraem e boa parte da água sai da
câmara opercular sem atravessar as lamelas secundárias. Fonte: A, baseado em Hughes; B-C, baseado em Bijtel (1949).
584 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

pela contração dos pequenos músculos abdutores, sepa- animais vivem principalmente – mas não exclusivamente
ra as lamelas primárias e faz com que as extremidades – em águas com pouco oxigênio e se tornam respirado-
das brânquias adjacentes se encontrem, formando uma res bimodais, ou seja, respiram tanto na água como no ar
espécie de barragem, e a maior parte de água que passa em diferentes proporções, dependendo das condições am-
pelas brânquias deve atravessar pelos espaços entre as bientais. Em alguns teleósteos, a respiração aérea é obri-
lamelas secundárias. Quando os músculos adutores se gatória. Praticamente todos os animais com respiração bi-
contraem, as extremidades das brânquias adjacentes são modal apresentam, simultaneamente, brânquias e órgãos
separadas e boa parte de água sai das câmaras branquiais especializados para a respiração aérea. Algumas espécies
sem atravessar as lamelas secundárias. apresentam uma pele altamente vascularizada que atua
3. A via não respiratória também pode controlar a quan- como um órgão respiratório, como é o caso das enguias
tidade de sangue que passa pelas lamelas secundárias. de água doce que, muitas vezes, migram para a terra. Em
Os desvios vasculares desviam parte do sangue dire- outras, modificações de partes do trato digestivo, como os
tamente das artérias branquiais aferentes para as efe- revestimentos da boca, faringe, esôfago, intestino e reto,
rentes ou para a drenagem venosa das brânquias sem atuam na respiração acessória. Exemplos desse caso são os
passar pelas lamelas secundárias. Em muitas outras muçuns, pertencentes ao grupo dos Symbranchiformes,
espécies, o número de lamelas secundárias sendo dre- que possuem boca, faringe e esôfago altamente vasculari-
nadas pode ser controlado. zados, pelos quais ocorrem as trocas gasosas. Esses animais
engolem o ar, segurando-o de 30 minutos a 3 horas para
assimilar o oxigênio e podem permanecer no ambiente
Os órgãos acessórios de respiração aérea
terrestre por até seis meses. Peixes como o gouramis – o
A eficiência das brânquias dos peixes ósseos para a res- perca-escalador (Figura 18-8A), o peixe beta, o cabeça-de-
piração é tão grande a ponto de permitir que 80% a -cobra e o bagre (Figura 18-8B), entre outros, apresentam
95% do oxigênio disponível na água seja levado para uma bolsa dorsal às brânquias formando uma câmara de
o sangue. No entanto, em algumas situações, apenas as ar suprabranquial, que pode ser preenchida com ar. A
brânquias não são suficientes para atender às necessida- partir de um dos arcos branquiais forma-se uma estrutu-
des dos peixes: os níveis de oxigênio podem ser bastante ra complexa, dobrada e altamente vascularizada chamada
baixos em poças rasas e aquecidas, em pântanos, onde órgão do labirinto, ou órgão arborescente, que se projeta
muita decomposição pode acontecer, ou em outros cor- para a câmara de ar e atua como um “pulmão”, possibili-
pos de águas paradas, limitando a vida nesses habitats a tando que o peixe viva em águas com pouco oxigênio ou
animais que não possuam órgãos respiratórios acessórios até mesmo que passe boa parte de seu tempo em terra. Al-
que permitam o aproveitamento do oxigênio do ar. As guns bagres e a botia apresentam partes de seus intestinos
brânquias não são eficazes nesses mecanismos porque as revestidas por dobras epiteliais, onde se desenvolvem os
delicadas lamelas branquiais não mantêm sua estrutura capilares sanguíneos, permitindo que atuem como esses
fora da água, colapsando umas às outras e reduzindo, segmentos intestinais órgãos respiratórios acessórios. Nas
obviamente, a superfície respiratória. águas com pouco oxigênio, esses peixes complementam a
Muitos peixes teleósteos podem suplementar a respira- respiração branquial com a respiração aérea engolindo o
ção branquial com órgãos respiratórios acessórios. Esses ar e suspendendo temporariamente as funções digestivas.

Filamentos
Cavidade suprabranquial Narina branquiais Órgãos arborescentes
Margem do corte Órgão do labirinto anterior Base da modificados anteriores posteriores
da cobertura cobertura
branquial branquial Extensão da
cavidade
branquial

Primeiro arco branquial


Barbilhões
Arcos branquiais 1-4
A. Perca-escalador B. Bagre

FIGURA 18-8
Adaptações à respiração aérea nos teleósteos. A. Perca- escalador. B. Bagre.
O sistema respiratório 585

O mecanismo de ventilação das câmaras de ar supra- nos peixes pulmonados por toda sua história evolutiva nos
branquiais dos teleósteos ocorre com a passagem do ar ambientes tropicais de água doce (Figura 18-9).
com pouco oxigênio, que já foi absorvido na respiração, Os pulmões se desenvolvem nos bichires, peixes pul-
para a cavidade bucal expandida, de onde é expelido para a monados e anfíbios como uma evaginação ventral do as-
superfície da água. O ar novo, rico em oxigênio, é sugado soalho do trato digestivo (a faringe ou, em alguns casos,
e a boca é fechada quando a cavidade bucal é preenchi- o esôfago) caudalmente ao último par de bolsas faríngeas.
da. A compressão da cavidade bucal forçará esse ar para a Em algumas larvas de anfíbios, os primórdios dos pulmões
câmara suprabranquial. Assim, a câmara é esvaziada pela assemelham-se a um par de bolsas faríngeas deslocadas, o
sucção e preenchida pela compressão da cavidade bucal, que levou alguns pesquisadores a sugerir homologia entre
que age como uma bomba (especificamente como uma os pulmões dos actinopterígios, dos peixes pulmonados
bomba de pulsação), alternando sucção e compressão. e dos anfíbios. Isso significaria que os pulmões dos tetrá-
Da mesma forma, uma bomba de pulsação equivalente podes, popularmente aceitos como uma adaptação para a
ventila o ar no intestino. vida em terra, seriam, na verdade, uma característica pri-
mitiva de todos os peixes ósseos e seus descendentes. Nos
Os pulmões bichires (Polypterus), peixes pulmonados africanos (Protop-
terus) e anfíbios, os pulmões bilobados pares estendem-se
Os pulmões são apenas um dos muitos órgãos de respira- para dentro da cavidade pleuroperitoneal e crescem ven-
ção aérea que se desenvolveram nos peixes. Muitos peixes tralmente em cada lado do trato digestivo (Figura 18-9).
ósseos possuem pulmões ou bexigas natatórias, com ex- Em outros peixes pulmonados, um único primórdio pul-
ceção daquelas espécies que vivem no fundo de rios e ma- monar se estende caudal e dorsalmente de um dos lados
res nas quais ambos os órgãos foram perdidos; pulmões do trato digestivo, podendo se ramificar posteriormente
e bexigas natatórias são, portanto, característica comum no desenvolvimento, tornando-se bilobados. As conexões
do grupo. Os pulmões parecem ter se originado relativa- vasculares dos pulmões dos peixes pulmonados, de Polyp-
mente cedo na escala evolutiva, podendo estar presentes terus, e dos anfíbios, são semelhantes. Nos peixes pulmo-
em alguns †placodermes e em grupos mais basais de pei- nados e nos tetrápodes primitivos, a glote, uma abertura
xes ósseos que viviam em habitats de água doce parada e em forma de fenda no assoalho faríngeo ou no esôfago,
sujeitos a secas periódicas durante o final dos períodos Si- forma a passagem aos pulmões.
luriano e Devoniano (Capítulo 3). A evidência geológica Os pulmões dos peixes pulmonados, de Polypterus e
sugere que a Terra, nesse período, esteve sujeita a flutu- de todos os outros vertebrados que apresentam pulmões
ações pronunciadas de chuvas, com grandes alternâncias contêm células especializadas que secretam uma película
entre os períodos de seca e chuva como acontece em al- lipoproteica conhecida como surfactante; a composição
guns habitats tropicais atuais. Durante as estações quen- química desse composto, no entanto, se modificou ao lon-
tes e secas, muitos corpos de água doce teriam se tornado go da história evolutiva dos vertebrados. Como veremos
menores e as temperaturas da água teriam aumentado, adiante, os pulmões dos mamíferos são subdivididos em
fazendo que os níveis de oxigênio diminuíssem. Algumas muitas câmaras pequenas (alvéolos), nas quais ocorrem
lagoas tornaram-se, provavelmente, pântanos parados ou as trocas gasosas. A substância surfactante reduz bastante
secaram completamente. Peixes condrictes e peixes †pla- a tensão superficial nos alvéolos e, consequentemente, a
codermes, muitos dos quais eram marinhos, não teriam resistência à expansão pulmonar, sendo necessária menor
sido afetados por essas flutuações climáticas. Porém pei- quantidade de energia para expandi-los. Os pulmões dos
xes ósseos de água doce, incluindo os grupos dos Rhi- peixes e dos tetrápodes primitivos apresentam um menor
pidistia ancestrais dos tetrápodes, teriam sido incapazes grau de compartimentalização bem menor e, portanto,
de sobreviver a tais flutuações ambientais a menos que a necessidade de diminuir a tensão superfícial também é
possuíssem órgãos acessórios para respiração aérea, como menor. A substância surfactante nesses animais age mais
os pulmões. como uma “anticola”, prevenindo a aderência das superfí-
Entre os actinopterígios com pulmões para respiração cies epiteliais adjacentes quando o volume dos pulmões é
aérea estão os peixes-agulha (Lepisosteus), os bichires e os mais baixo. Especula-se que essa tenha sido a função pri-
peixes-corda (Polypterus e Erpetoichthys; Enfoque 18-1), mitiva de um surfactante (Daniels, et al., 1995).
Amia, e os pirarucus (Arapaima). O mecanismo de ven- Quando um peixe pulmonado está respirando ar, ele
tilação dos pulmões nos peixes actinopterígios é o de uma vem até a superfície para inalar o ar fresco. A inalação se dá
bomba bucal de quatro tempos: a cavidade bucal se expan- com a expansão da cavidade bucal, resultando na sucção
de de modo a ser preenchida com o ar com pouco oxigênio do ar fresco (Figura 18-10). Durante esse processo, a glo-
vindo do pulmão, já utilizado na respiração; uma vez pre- te se abre, e o ar já usado é transferido dos pulmões para
enchida, a cavidade bucal é comprimida para expelir esse a cavidade bucal pelo recuo da força elástica dos pulmões
ar e expandida novamente para receber o ar fresco, sendo, pressurizados e pelas contrações dos músculos lisos que os
finalmente, comprimida para empurrar esse novo ar para envolvem. Como resultado, o ar usado é misturado com o
os pulmões. Os pulmões foram mantidos nos bichires e ar fresco recém-inalado na cavidade bucal. O excesso de ar
586 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

A primeira bomba de aspiração na evolução


EN FO Q U E 18- 1 dos vertebrados

Praticamente todos os peixes e anfíbios que respiram ar ven- medida que a armadura dérmica retorna passivamente a sua
tilam seus pulmões a partir de um mecanismo de bomba de posição de repouso, original ela cria uma pressão subatmos-
pulsação. Nesses sistemas, o ar força o pulmão a se expandir, férica na cavidade pleuroperitoneal que provoca a expansão
ao passo que, nos sistemas de aspiração, o ar é sugado para do pulmão (Partes IV e V). Essa pressão subatmosférica resul-
dentro do pulmão já em expansão. Os peixes e os anfíbios tante no pulmão em expansão vai rapidamente arrastar o ar
respiradores de ar começam a encher o pulmão apenas após para dentro da boca aberta. Esse mecanismo de ventilação
a boca ser fechada, e os músculos de compressão agem na dos peixes polipterídeos mostra que a dura parede do corpo,
bomba de força bucal. Uma notável exceção é encontrada capaz de armazenar energia, pode contribuir para a inalação
nos peixes polipterídeos Polypterus e Erpetoichthys, que exi- nos vertebrados.
bem o primeiro mecanismo de ventilação do pulmão por as- As costelas dos peixes polipterídeos estão confinadas a uma
piração observado na história evolutiva dos vertebrados. Os parte dorsal do corpo e não estão diretamente envolvidas no
peixes polipterídeos são envoltos por uma armadura rígida processo de ventilação (mesmo fornecendo rigidez ao corpo,
de escamas semelhante à carapaça dérmica dos tetrápodes permitindo, assim, a deformação do ventre). A compreensão
primitivos (Figura A, Parte I). Brainerd, et al. (1989) estudaram dos mecanismos de ventilação nos peixes polipterídeos resul-
a bomba de aspiração destes animais por meio de análises ta em importantes implicações para nossas tentativas de com-
cinerradiográficas, registros de pressão e registros das defor- preender a mecânica de ventilação dos anfíbios primitivos
mações “força-extensão” da “carapaça dérmica”: o peixe do Paleozoico, que apresentavam escamas ósseas ventrais de
exala o ar primeiro por contração dos músculos lisos ao redor seus ancestrais; essas fileiras de escamas em forma de V são
do pulmão (Parte II); esse ar usado é então forçado para a semelhantes à armadura do corpo dos peixes polipterídeos,
faringe e sai através da fenda opercular (Parte III). A redução formada por escamas romboides. Ainda, a configuração das
do tamanho dos pulmões causa uma diminuição no volume costelas desses primeiros anfíbios sugere que elas conferiam
do espaço ocupado por órgãos dentro da cavidade peritone- rigidez ao corpo. A presença, nos peixes polipterídeos, do
al, provocando o curvamento interno da carapaça dérmica mecanismo de ventilação envolvendo uma espessa armadura
ventral (Parte III), que só é possível graças à natureza das arti- de escamas dérmicas sugere que a carapaça dérmica ventral
culações entre as escamas. Essas articulações possuem a capa- dos anfíbios primitivos pode ter desempenhado importante
cidade de sofrer retração após a deformação inicial e, assim, à papel na respiração por aspiração.

Carapaça dérmica dura

Contração do pulmão

Saída do ar usado

Curvamento interno
Ar fresco sugado da parede ventral
por aspiração

Recuo elástico

Figura A. Diagramas resumindo o modelo de


ventilação por aspiração nos polipterídeos.
Fonte: Baseado em Brainerd, Liem e Samper.
O sistema respiratório 587

Pulmão
Vista
Peixes- lateral
-agulha
Seção
transversal
Respiração
aérea
Bexiga natatória

Ducto pneumático
Carpa
Origem
dorsal Trato digestivo
Fisóstomo

Bexiga natatória
Hidrostático
Perca

Fisóclisto

Bexiga de
gás presente

Pulmão
Bichires

Respiração aérea
não alveolar

Pulmão
Peixes
Origem pulmonados
ventral
Glote
simples

Respiração
Pulmão
aérea alveolar
Tetrápodes
FIGURA 18-9
Glote Cladograma mostrando a evolução dos
protegida pulmões e das bexigas natatórias.

escapa pela boca aberta e o restante é conduzido aos pul- siderável, durante o qual o oxigênio é usado lentamente.
mões quando o peixe fecha sua boca e comprime sua cavi- A respiração não é contínua e ocorrem longos períodos de
dade bucal, que age, portanto, como uma bomba de força. apneia, nos quais os animais prendem a respiração, alter-
A glote é então fechada, e o ar é mantido nos pulmões sob nados com os curtos períodos de ventilação dos pulmões.
pressão. Dessa forma, o padrão da ventilação dos peixes A compartimentalização do pulmão pelo desenvolvi-
pulmonados é considerado, tipicamente, uma bomba de mento de septos internos resulta no aumento da área de
pulsação de dois tempos. O peixe expande e comprime superfície para as trocas gasosas (Figura 18-9). O peixe
a cavidade bucal apenas uma vez durante o ciclo respira- pulmonado australiano Neoceratodus utiliza seu pulmão de
tório. Esse modo de ventilação é característico de todos forma complementar às brânquias, quando em água com
os peixes actinopterígios, com exceção para os celacantos, pouco oxigênio, mas, em ambientes nos quais o suprimen-
fato que foi verificado por análises de cinematografia de to de oxigênio na água é suficiente, o animal não realiza a
raio X em alta velocidade e por medidas diretas da mistura respiração pulmonar. Os septos pulmonares internos são
gasosa (Brainerd, Ditelberg e Bramble, 1993). Os peixes mais numerosos nos Protopterus; nestes animais as brân-
pulmonados mantêm o ar no pulmão por um tempo con- quias estão ausentes, o que os torna, portanto, respiradores
588 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

Glote Glote Glote


Ar fresco aberta Ar aberta fechada
misturado Superfície da água

Músculo
esterno-hioideo
Constrição
Recuo elástico + branquial
músculos lisos

Pulmão pressurizado
A. A boca se abre B. A glote se abre C. A boca se fecha D. A glote se fecha

FIGURA 18-10
Ventilação do pulmão pelo mecanismo de bomba de pulsação bucal nos peixes pulmonados sul-americanos (Lepidosiren) e africanos
(Protopterus). As setas pretas indicam o fluxo de ar e as laranjas, a ação do músculo. A. Na superfície o peixe pulmonado abre sua
boca e leva o ar fresco para sua cavidade orofaríngea. B. A glote se abre e o ar usado que sai dos pulmões se mistura com o ar
fresco; o excesso de ar escapa pela boca. C. A boca se fecha e o ar misturado é forçado para os pulmões. D. A glote se fecha e o ar é
mantido nos pulmões.

aéreos obrigatórios que se afogariam caso impedidos de A bexiga natatória dos actinopterígios primitivos con-
chegar à superfície para engolir o ar. O peixe pulmonado tinua a ser importante para a absorção de oxigênio, mas
sul-americano, o Lepidosiren, também é um respirador aé- também possui função hidrostática. Em um teleósteo, a
reo obrigatório. bexiga natatória é, principalmente, um órgão hidrostático
Durante os períodos de apneia, o dióxido de carbono é que pode ser regulado de forma a permitir que o peixe
acumulado nos pulmões. A hemoglobina dos peixes pul- atinja a flutuabilidade neutra, mantendo, assim, sua posi-
monados, assim como a dos vertebrados terrestres, deve ção na coluna d’água com o mínimo esforço muscular. A
ser adaptada a uma ligação preferencial ao oxigênio quan- flutuabilidade neutra requer que a densidade do peixe seja
do existe mais dióxido de carbono dissolvido na água que igual a da água: a densidade equivale à massa ou o peso
normalmente ocorre. O dióxido de carbono acumulado dividido pelo volume; um mililitro de água pura pesa um
é liberado durante a expiração, mas a frequência da ven- grama e, portanto, possui uma densidade de um grama
tilação do pulmão é muito baixa para descarregar todo o por mililitro. No entanto, o mesmo volume para o animal
dióxido de carbono; assim a maior parte do dióxido de pesa um pouco mais de um grama, o que corresponde a
carbono é liberada por difusão através das brânquias, já uma densidade maior que a da água. Portanto, peixes sem
que esse gás é bastante solúvel em água. uma bexiga natatória (como é o caso de muitos peixes que
habitam o fundo de rios e mares, e de muitos elasmobrân-
quios) tendem a afundar. Uma estrutura interna preenchi-
A bexiga natatória da com ar, em forma de saco tem a função de diminuir
A maioria das espécies de neopterígios e celacantos pos- o peso do animal, fazendo com que sua densidade geral
suem bexigas natatórias. Os peixes neopterígios vivem se equipare à da água. No entanto, mudanças de profun-
em águas ricas em oxigênio, nas quais não haveria ne- didade requerem que o peixe module a quantidade de ar
cessidade da manutenção de um órgão como o pulmão. dentro da bexiga natatória: quando o peixe se desloca para
Assim, as pressões seletivas que atuavam sob a formação profundidades maiores, a pressão da água aumenta, a be-
do pulmão foram flexibilizadas, e esses órgãos eventual- xiga natatória é comprimida, diminuindo seu volume, e a
mente foram modificados em órgãos hidrostáticos para densidade relativa do peixe aumenta, fazendo que ele afun-
auxiliar na flutuabilidade e, portanto, na maior eficiência de mais rapidamente. A adição de um volume suficiente
da locomoção. Em um actinopterígio primitivo, a bexiga de gás na bexiga natatória pode permitir a manutenção
natatória se desenvolve como uma protuberância dorsal de sua flutuabilidade nessa profundidade. Quando o peixe
da extremidade caudal do esôfago e permanece conectada emerge, a pressão da água diminui, o que resulta na expan-
a ele por um ducto pneumático (Figura 18-9). As espécies são da bexiga natatória. Dessa forma, a remoção do gás da
nas quais o ducto pneumático permanece são chamadas bexiga é necessária para manter a flutuabilidade neutra.
fisóstomas (do grego, physa = bexiga + stoma = boca). O gás na bexiga natatória da maioria das espécies é
Nos teleósteos mais recentes, no entanto, esse ducto é per- composto por 80% de oxigênio e é secretado na bexiga
dido e essas espécies são, então, conhecidas como espécies por uma glândula de gás, presente em uma das superfí-
fisoclistas (do grego, kleiein = fechar). cies do órgão (Figura 18-11). Muitas vezes, o gás deve ser
O sistema respiratório 589

Músculo do hemoglobina é bem mais rápida que sua recombinação,


Glândula esfíncter Oval portanto, uma quantidade considerável de oxigênio livre é
de gás
acumulada no sangue, próximo da glândula de gás, sendo
que a rede mirabile previne que boa parte desse oxigênio
Sangue escape. Oxigênio adicional é trazido continuamente para
arterial o sistema pelo sangue arterial sendo também eventual-
pH 7,5
O2 mente liberado também. Finalmente, a tensão de oxigênio
no sangue da glândula de gás excede sua pressão parcial na
bexiga natatória e o oxigênio difunde-se para a bexiga na-
Sangue O2 tatória. A rede mirabile e a glândula de gás juntas formam
venoso Rede um sistema multiplicador de contracorrente.
pH 7,4 mirabile A remoção de oxigênio da bexiga natatória durante a
emersão do peixe é um processo bem simples: o oxigênio é
FIGURA 18-11
O funcionamento da bexiga natatória em um teleósteo fisoclisto. liberado por meio do ducto pneumático nas espécies fisós-
Fonte: Adaptado de Alexander (1966). tomas, mas é reabsorvido por um compartimento vascula-
rizado especial da bexiga natatória, conhecido como oval,
nos animais fisoclistos. O esfíncter que normalmente separa
secretado contra um gradiente de concentração considerá- o oval da parte principal da bexiga natatória é relaxado, per-
vel, já que a pressão da água aumenta rapidamente com a mitindo a entrada do oxigênio neste compartimento e, em
profundidade. Em uma profundidade de 500 metros, por virtude da sua alta pressão parcial, rapidamente ele se di-
exemplo, o peixe e os gases em sua bexiga natatória estão funde no sangue. O oxigênio não se difunde para o sangue
sujeitos a uma pressão de 50 atmosferas, e a pressão par- em outras partes da bexiga natatória porque a parede desse
cial do oxigênio na bexiga natatória é de 40 atmosferas, órgão é formada por placas de guanina, que formam uma
ao passo que a pressão parcial, ou tensão, do oxigênio na barreira para a difusão. A bexiga natatória, com sua capa-
água e no sangue do peixe é de 0,2 atmosfera. (“Tensão” cidade regulatória eficiente, do ponto de vista energético,
é um termo aplicado à pressão parcial de um gás quando em manter seu volume sob diferentes regimes de pressão, é
dissolvido.) Mas os peixes conseguem injetar oxigênio na considerada uma verdadeira inovação evolutiva que possi-
bexiga natatória contra esse gradiente de pressão e mantê- bilitou a diversificação dos teleósteos por inúmeros habitats
-lo ali. O oxigênio é mantido na bexiga pela rede mira- aquáticos no mundo.
bile (do latim, rete = rede + mirabile = maravilhoso), Embora a bexiga natatória seja, em primeiro lugar, um
um conjunto de capilares paralelos relativamente longos órgão hidrostático, ela possui funções adicionais em deter-
localizados anteriormente à glândula de gás (Figura 18- minadas espécies, podendo auxiliar na respiração celular, se
11). Juntas, a rede mirabile e a glândula de gás são cha- necessário, visto que contém um estoque de oxigênio; fa-
madas corpo vermelho. A tensão do oxigênio nos capi- zendo parte do mecanismo de audição na maioria dos pei-
lares venosos que saem da bexiga natatória é alta porque xes ostariofisos, participando da ressonância e amplificação
ele está em equilíbrio com a pressão parcial do oxigênio do som (Capítulo 12); ou ainda sendo utilizada para a pro-
presente dentro da bexiga natatória. O oxigênio começa dução de sons, por meio de uma musculatura especializada
a ser transportado para fora da bexiga por esses capila- associada, como observado nas pescadas e outras espécies.
res venosos, que estão cercados por capilares arteriais que
transportam sangue com uma tensão de oxigênio menor
na direção oposta. Assim, ocorre a troca contracorrente:
o oxigênio se difunde do sangue venoso para o sangue A respiração nos tetrápodes primitivos
arterial e é transportado de volta para a bexiga natatória.
A rede mirabile age como uma porta para o oxigênio e, A quantidade de oxigênio disponível aos vertebrados ter-
quanto mais longos forem os capilares nesse órgão, menos restres é maior que aquela disponível aos animais aquáticos.
oxigênio poderá escapar da bexiga. No entanto, para que o oxigênio possa ser aproveitado, é
A secreção de oxigênio na bexiga natatória exige um au- necessária uma membrana respiratória úmida, pois o oxi-
mento local na acidez do sangue. À medida que o sangue gênio deve estar em solução para se difundir para o sangue.
se torna mais ácido, a hemoglobina libera o oxigênio liga- Dois grandes problemas para os vertebrados terrestres são
do a ela. A acidez é resultado de dois fatores: o primeiro evitar a exposição e a ventilação da membrana respiratória
é a formação de ácido carbônico pela combinação do dió- sem que haja perda excessiva de água do corpo e evitar
xido de carbono com a água, ambos presentes no sangue; o colapso das estruturas respiratórias no ar, que é menos
esta reação que é bastante acelerada na presença da enzima denso que a água. Os pulmões dos vertebrados terrestres,
anidrase carbônica nos glóbulos vermelhos. O segundo é a derivados dos peixes, estão bem adaptados para contornar
presença de uma quantidade considerável de ácido láctico esses problemas. Assim, eles geralmente apresentam septos
secretada pela glândula de gás. A liberação de oxigênio pela internos ou divisões das vias aéreas que, além de aumentar
590 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

a área de superfície da membrana respiratória, fornecem o que se abre ao meio por um único poro na superfície cor-
suporte necessário para que estas não colapsem. Além dis- pórea, chamado espiráculo (termo que, no entanto, é in-
so, o ar dentro dos pulmões contém uma grande quantida- correto, porque esse poro não é homólogo, tampouco aná-
de de vapor de água, sendo que, nos mamíferos, o ar fica logo, ao espiráculo de um peixe). O opérculo dos girinos é
normalmente saturado. A superfície respiratória é mantida bastante amplo, chegando a cobrir os membros anteriores
úmida sem que uma grande quantidade de água seja per- em desenvolvimento. Os girinos mais velhos perdem as
dida porque a taxa de ventilação é baixa, o ar é umedecido brânquias externas à medida que desenvolvem as brânquias
por glândulas mucosas nas vias aéreas antes de entrar nos mais profundas, que ficam ligadas aos arcos branquiais;
pulmões e nem todo o ar nos pulmões é trocado em cada ainda não há consenso sobre a homologia dessas brânquias
ciclo de respiração. As baixas taxas de ventilação e de tro- mais profundas às brânquias internas dos peixes. O pulmão
ca são possíveis pelo alto conteúdo de oxigênio do ar dos se desenvolve e começa a funcionar mais tardiamente na
pulmões. O vapor d’água, que é um gás, reduz a pressão vida larval. As brânquias são perdidas na metamorfose, os
parcial de oxigênio nos pulmões para cerca de 100 milí- membros anteriores crescem através do opérculo, e os res-
metros de mercúrio, ao passo que o ar, ao nível do mar, tos do opérculo, fundem-se à parede do corpo.
apresenta 160 milímetros de mercúrio; no entanto, essa O sistema respiratório dos anuros (Figura 18-13) é
concentração é suficiente para o animal. tradicionalmente aceito como representante dos anfíbios
adultos, ainda que estudos recentes sobre salamandras
forneçam novas perspectivas funcionais e evolutivas. Nos
Os órgãos respiratórios dos anfíbios anuros, as narinas externas valvuladas conduzem às curtas
As larvas de dois dos três gêneros atuais de peixes pulmona- cavidades nasais que se abrem no palato pelas coanas. O ar
dos possuem brânquias externas na superfície do corpo, na passa pela cavidade bucofaríngea e entra pela glote, que
região da cabeça, e as larvas de espécies de Rhipidistia an- é apoiada por pequenas cartilagens laríngeas laterais
cestrais dos tetrápodes provavelmente as tinham também. derivadas do sexto arco visceral. A glote conduz a uma
As larvas dos anfíbios são aquáticas e apresentam brânquias pequena câmara laringotraqueal triangular, de onde os
externas. A evidência fóssil indica que as larvas de alguns pulmões emergem. Todas essas passagens são revestidas
neotetrápodes primitivos também possuíam brânquias ex- por cílios e por células secretoras mucosas e serosas, cujas
ternas. As salamandras mantêm as brânquias externas por secreções mantêm o ar úmido, capturam partículas de su-
todo o seu período larval (Figura 18-12), e as espécies ne- jeira e as transportam para fora dos pulmões. Os pulmões
otênicas, como a salamandra aquática Necturus, retêm as dos sapos são órgãos em forma de sacos; nas salamandras,
brânquias por toda a vida. As brânquias externas dos gi- esses órgãos são alongados. A superfície respiratória dos
rinos dos sapos estão cobertas por uma dobra opercular pulmões dos sapos é aumentada por septos primários e, às

FIGURA 18-12
O desenvolvimento das brânquias
externas na larva de uma salamandra.
Fonte: Baseado em Glaesner.

Coana Tuba auditiva


Narina
Pulmão

Língua

Glote
Câmara
laringotraqueal

Brônquio

FIGURA 18-13
Diagrama representando o sistema respiratório Estômago
de um anuro. Fonte: Baseado em Dorit et al. (1991)
O sistema respiratório 591

vezes, por septos secundários, que formam uma série de nio por tempo considerável. Essa diminuição das taxas de
bolsas. O interior dos pulmões é aberto. ventilação faz que a eliminação do dióxido de carbono seja
O mecanismo de ventilação dos pulmões de um sapo mais problemática que a obtenção de oxigênio.
assemelha-se ao dos peixes pulmonados, com exceção para Além dos pulmões, a pele fina, úmida e vascularizada da
o fato de o ar entrar e sair pelas cavidades nasais e narinas maioria dos anfíbios existentes age como uma membrana
em vez da boca (Figura 18-14). Em um ciclo respiratório respiratória na maioria das espécies, por meio da qual ocor-
típico, a depressão do assoalho faríngeo força o ar fresco re uma quantidade considerável de trocas gasosas (apesar
pelas cavidades nasais, sendo direcionado para dentro da de haver muitas variações). Em alguns sapos tropicais arbo-
cavidade bucofaríngea. A glote então se abre e a pressão rícolas, que vivem em habitats secos, as trocas gasosas pela
positiva nos pulmões expulsa o ar já usado. A expiração é pele são menos representativas do ponto de vista do forne-
auxiliada pelo recuo da força elástica dos pulmões e pela cimento de oxigênio para o corpo. Por sua vez, salamandras
contração dos músculos hipaxiais do flanco (DeJongh e da família Pletodontidae perderam seus pulmões e depen-
Gans, 1969), mais especificamente, pelo músculo trans- dem exclusivamente das trocas gasosas cutâneas. A perda
versal do abdomen, um músculo hipaxial característico dos pulmões é uma modificação morfológica relativamente
dos tetrápodes (Brainerd, 1999). O fluxo de ar expirado inesperada para um vertebrado terrestre, e diversos cenários
passa sobre o ar fresco que, por sua vez, é retido no assoa- evolutivos são propostos para explicar os possíveis motivos
lho da cavidade bucofaríngea. Esse mecanismo não impe- dessa redução (Reagan e Verrell, 1991). No entanto, qual-
de, no entanto, a mistura dos dois tipos de ar. A entrada quer que tenha sido a causa, a dependência da pele para as
de ar para os pulmões é feita com o fechamento das na- trocas gasosas restringe essas salamandras aos habitats de
rinas, seguidas pelo levantamento do assoalho faríngeo, o temperaturas mais baixas e com suprimento de oxigênio
que força o ar para os pulmões. A glote é, então, fechada. mais confiável. Algumas vivem no fundo de córregos frios
Esse mecanismo assemelha-se ao ciclo respiratório de dois em locais montanhosos; outras vivem sob rochas e troncos
tempos dos peixes pulmonados. A ação de bombeamento em florestas úmidas. Além disso, essas salamandras tam-
da faringe pode se repetir até que os pulmões estejam bem bém são pequenas, com uma proporção massa-superfície
inflados. Algumas modificações dessa sequência já foram favorável para à troca gasosa através da pele.
descritas por Vitalis e Shelton (1990). Nas espécies em que tanto os pulmões como a pele
Além da bomba bucal para a respiração por inalação, são usados para a respiração, os pulmões são, geralmente,
as salamandras usam o músculo transversal do abdômen mais importantes para a absorção de oxigênio que para
para aumentar a pressão da cavidade do corpo e forçar o a liberação de dióxido de carbono, ao passo que a pele é
ar para fora dos pulmões, o que representa um mecanismo mais importante para a liberação do dióxido de carbono
ativo para a exalação do ar. Esse sistema de inalação pela que para a absorção de oxigênio (Shoemaker et al., 1992).
bomba bucal e exalação pela força do músculo transversal Mas o papel dos pulmões e da pele varia com a tempera-
do abdômen é comum entre as salamandras e também é tura e com a atividade: conforme a temperatura sobe ou a
encontrado em alguns anuros. Como nos peixes pulmo- atividade aumenta, os pulmões assumem papel maior na
nados, os anfíbios podem tolerar períodos prolongados de troca de ambos os gases; por outro lado, com a diminui-
apneia alternados a breves períodos de ventilação. Como o ção da temperatura ou da atividade, a pele assume papel
metabolismo e a necessidade por oxigênio de um anfíbio maior nas trocas gasosas. Os pulmões podem ser comple-
são baixos, um pulmão cheio de ar pode fornecer oxigê- tamente inutilizados em baixas temperaturas.

Narinas Narinas
Glote fechada
Glote aberta fechadas

Boca
fechada

A. Narinas se abem; B. A glote se abre C. Narinas se fecham D. As narinas se abrem,


a glote se fecha a glote se fecha
FIGURA 18-14
Glote fechada Glote aberta Ventilação do pulmão dos anfíbios. A-D. Troca de ar em um anuro. Setas
longas mostram os movimentos dos fluxos de ar; setas curtas mostram a
expansão e a contração dos pulmões e da cavidade bucal; setas abertas
mostram os movimentos do hioide e do assoalho das cavidades bucofaríngea
e pleuroperitoneal. E. Esquemas feitos a partir de videografias de uma
E. Glote de uma salamandra em estágio larval salamandra em estágio larval durante o fechamento e a abertura da glote.
Fonte: A-D, baseado em DeJongh apud Brainerd.
592 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

A troca gasosa cutânea é considerada um problema aos


anfíbios pois boa parte da água do corpo é perdida através
da pele. Essa perda de água é compensada pela vida em
habitats úmidos e, em algumas espécies (como os sapos,
por exemplo), pela maior atividade nos períodos da ma-
nhã e da noite, quando a umidade relativa é mais alta.
A vocalização dos anuros faz parte do comportamento
reprodutor, atraindo as fêmeas da mesma espécie duran-
C. Mamíferos
te a época de reprodução. As cordas vocais, localizadas
na câmara laringofaríngea, vibram quando o ar passa por
elas. Embora ambos os sexos possuam cordas vocais, ape-
nas os machos são capazes de ressoar seus sacos vocais,
que são evaginações do assoalho ou da lateral das paredes
da faringe que podem ser preenchidos com ar. A câmara
laringotraqueal dos machos também é significativamente
maior que a de fêmeas de tamanhos semelhantes nas espé- B. Répteis
cies em que essa característica foi examinada.

O sistema respiratório dos répteis


A troca gasosa nos embriões dos répteis, das aves e dos A. Anfíbios D. Ophiosaurus
mamíferos ovíparos acontece por meio da membrana
alantoide, que é uma membrana extraembrionária vascu- FIGURA 18-15
larizada que se estende a partir do intestino posterior para A-C. Grau de compartimentalização dos pulmões de diferentes
se unir ao córion, logo abaixo da casca do ovo (Capítulo tetrápodes. D. O pulmão do lagarto Ophiosaurus.
Fonte: Baseado em Portmann.
4). Em alguns marsupiais placentários, a membrana co-
rioalantoide contribui para a formação da placenta.
Os répteis apresentam um pescoço mais longo e uma cada pulmão e brônquios secundários se ramificam a par-
câmara laringotraqueal dividida em uma laringe (do gre- tir desse brônquio central. Sacos alveolares de diferentes
go, larynx = esôfago) e uma traqueia (do grego, tracheia tamanhos, por sua vez, ramificam-se a partir dos brôn-
= artéria áspera). A parede da laringe é suportada por um quios secundários. A estrutura do pulmão varia conside-
par de cartilagens aritenoides que flanqueiam a glote, e ravelmente entre as espécies. A parte anterior do pulmão é
por uma cartilagem cricoide em forma de anel; ambas as mais compartimentalizada nos lagartos e nas cobras que a
cartilagens são derivadas das cartilagens laterais da laringe parte posterior, que é um simples saco com paredes pouco
dos anfíbios. Os répteis não possuem cordas vocais, mas vascularizadas; essa região posterior parece servir para o
algumas espécies podem produzir alguns tipos de sons ao armazenamento de ar ou agir como um fole para auxi-
expelir rapidamente o ar. Os anéis cartilaginosos que en- liar na ventilação do resto do pulmão, assemelhando-se
volvem total ou parcialmente a traqueia a mantém aberta à função dos sacos aéreos nas aves. As anfisbenas e squa-
para o fluxo livre de ar. mata com corpo alongado, incluindo as cobras, geralmen-
A pele córnea da maioria dos répteis impede a troca te apresentam a redução ou perda de um dos pulmões.
gasosa cutânea. Portanto, os pulmões dos adultos são o Como esperado, espécies com tamanhos maiores pos-
principal, ou o único, local para a troca gasosa. Algumas suem pulmões mais compartimentalizados que espécies
tartarugas aquáticas realizam trocas gasosas pela pele e com tamanhos menores, mantendo uma proporção ade-
também pela cavidade bucofaríngea ou pela cloaca, bom- quada entre a superfície respiratória e a massa corpórea.
beando a água para dentro e para fora dessa última. Al- A ventilação dos pulmões nos répteis segue o mecanis-
gumas espécies de tartarugas possuem bexigas vasculares mo de bombeamento por aspiração. Durante a inspira-
acessórias que evaginam da cloaca para esse propósito ção, a contração simultânea dos músculos intercostais dos
(Figura 17-8). O lagarto do gênero Sphenodon apresen- dois lados do corpo aumenta a cavidade pleuroperitoneal,
ta pulmões semelhantes ao dos anfíbios, com apenas um onde os pulmões se encontram, resultando na expansão
leve aumento na área de superfície interna. A maioria dos da caixa torácica, o que faz com que a pressão dentro da
répteis, no entanto, possui pulmões que são relativamente cavidade pleuroperitoneal fique abaixo da pressão atmosfé-
mais compartimentalizados e maiores que os dos anfíbios rica e os pulmões se expandam, puxando o ar para dentro
(Figura 18-15). Um brônquio central amplo (do grego, (daí o termo “bombeamento por aspiração”). A glote é
bronchos = traqueia) dirige-se da traqueia para dentro de fechada e o ar é mantido nos pulmões até o próximo ciclo
O sistema respiratório 593

de respiração. Períodos prolongados de apneia ocorrem, acontece por meio de uma bomba de pistão hepática,
assim como nos peixes pulmonados e nos anfíbios. A ex- além da bomba de aspiração costal. As tartarugas, no en-
piração é resultado dos movimentos opostos das costelas e tanto, não podem depender das costelas para a ventilação
da caixa torácica e da contração das fibras da musculatura dos pulmões, já que seu corpo está envolto por um plas-
lisa na parede do pulmão. A aspiração pelo mecanismo de trão ventral e uma carapaça dorsal, formada pelas costelas.
bomba por sucção é mais eficaz que uma bomba de for- Acreditava-se que as tartarugas eram capazes de mudar a
ça gular (bucal) porque o ar pode ser transferido para os pressão nos pulmões movimentando seus membros para
pulmões em um único movimento. Assim, de maneira ge- dentro e para fora, mas estudos atuais mostraram que es-
ral, os répteis respiram pelo mecanismo de aspiração, mas ses movimentos não são suficientes para a ventilação que
alguns lagartos também usam o mecanismo de bombea- é, portanto, realizada pela ação de um músculo transver-
mento gular (bucal) que auxilia na ventilação do pulmão, sal do abdômen e um “diafragma” muscular, que elevam
especialmente durante ou logo após a locomoção rápida o plastrão ventral em direção à carapaça, diminuindo o
ou moderada. As ondulações laterais que acompanham volume da cavidade do corpo e provocando, consequen-
a locomoção parecem reduzir a eficácia dos movimentos temente, a exalação do ar dos pulmões. A inalação ocor-
respiratórios costais, porque os músculos intercostais tam- re com o aumento do volume da cavidade corpórea pelo
bém são utilizados no curvamento do corpo de um lado músculo oblíquo do abdômen.
para outro, contraindo-se alternadamente primeiro em
um lado e depois no outro, e não simultaneamente, como
acontece na respiração costal (Owerkowicz et al., 1999). O A respiração nas aves
primeiro indício, entre os vertebrados, de um mecanismo
de respiração por bomba de aspiração foi descrito para o As aves necessitam de um sistema respiratório excepcio-
peixe actinopterígio Polypterus (Enfoque 18-1), apesar de nalmente eficaz e compacto que sustente um alto nível
esse mecanismo ter evoluído como um sistema análogo metabólico para manter a endotermia e o voo, e que não
que não usa uma bomba costal. comprometa seu peso. Os pulmões das aves são relativa-
Os crocodilos apresentam um mecanismo incomum mente pequenos, que ficam aderidos à parede dorsal das
de ventilação: seus pulmões se encontram em cavidades cavidades pleurais e não mudam muito de volume (Figu-
pleurais separadas, anteriores ao fígado e a contração de ra 18-17A). Os pulmões têm apenas metade do tamanho
um diafragma muscular exclusivo (que não é homólogo dos pulmões de um mamífero de tamanho do corpo se-
ao diafragma dos mamíferos), que se estende do fígado à melhante, mas, nas aves, eles se conectam a um sistema de
cintura pélvica, puxa o fígado caudalmente e aumenta as sacos aéreos localizados entre as vísceras e se estendendo
cavidades pleurais (Figura 18-16), provocando a entrada para muitos ossos. Os sacos aéreos aumentam conside-
de ar fresco para pulmões. A expiração ocorre pela contra- ravelmente a área do sistema respiratório e, juntos, os
ção dos músculos abdominais do flanco, que aumentam a pulmões e os sacos aéreos possuem um volume que é de
pressão intra-abdominal e deslocam o fígado para a fren- duas a três vezes maior que o volume dos pulmões de um
te. Dessa forma, a ventilação dos pulmões nos crocodilos mamífero de tamanho do corpo semelhante. As paredes

Fígado Músculo do
Pulmão diafragma
Exalação Músculos abdominais
Cintura pélvica

Músculos
intercostais
Inalação

FIGURA 18-16
Ventilação dos pulmões no jacaré
caiman. As setas pequenas dentro
do corpo mostram a contração de
diferentes músculos. As setas grandes
abaixo do animal mostram os
movimentos da parede abdominal.
Fonte: Adaptado de Gans e Clark.
594 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

Antro Capilares aéreos


Sacos
aéreos
anteriores

0,5 mm
Pulmão

Fluxo de ar
Sacos aéreos
posteriores

B. Parabrônquio e capilares aéreos

Antro

A. Pulmões e sacos aéreos


Capilares
aéreos
Labirinto
respiratório
Capilares
sanguíneos

C. Antro e labirinto respiratório

FIGURA 18-17
Anatomia do sistema respiratório de uma ave. A. Vista lateral dos pulmões e dos principais sacos aéreos. B. Vista lateral de um
parabrônquio e dos capilares aéreos. As setas mostram o fluxo unidirecional do ar pelas superfícies respiratórias. C. Pequena porção
da parede. Fontes: A, baseado em Salt; B-C, adaptado de Smith et al. (1986).

dos sacos aéreos não são altamente vascularizadas e, por- um mesobrônquio, que se conecta aos sacos aéreos pos-
tanto, não contribuem para as trocas gasosas. No entanto, teriores (Figura 18-18A). O ar nos sacos posteriores re-
os sacos aéreos, em combinação com um arranjo exclusivo torna ao pulmão por meio de brônquio mediodorsal,
das vias aéreas dentro dos pulmões, estabelecem um fluxo que se liga a milhares de parabrônquios. Inúmeros ca-
de ar unidirecional pelos pulmões, no qual não ocorre a pilares aéreos curtos brotam dos parabrônquios e fazem
mistura dos fluxos de ar ricos e pobres em oxigênio, como anastomose com os capilares aéreos adjacentes (Figura
ocorre nos demais vertebrados com pulmões, nos quais o 18-17B). Os capilares aéreos são entrelaçados por densos
ar entra e sai dos pulmões através das mesmas passagens, leitos capilares vasculares, formando um labirinto respi-
resultando em certa mistura dos fluxos novo inspirado e ratório no qual ocorre a troca gasosa. As distâncias entre
do usado expirado. Nas aves, o fluxo de via única trans- os capilares aéreos e os sanguíneos são curtas, permitin-
porta o ar fresco, com mais oxigênio e menos dióxido de do uma taxa de difusão que mantém a composição do
carbono, pelas superfícies respiratórias durante a inspira- ar nos capilares aéreos quase em equilíbrio com a do ar
ção e a expiração. que flui unidirecionalmente nos parabrônquios. Os para-
A morfologia do sistema respiratório das aves é com- brônquios conduzem ao brônquio medioventral que, por
plexa, e diversos estudos foram feitos para determinar a sua vez, conecta-se aos sacos aéreos anteriores e ao brô-
composição dos fluxos de ar e sua direção dentro do sis- nquio primário (Figura 18-18B). Os parabrônquios são
tema utilizando-se de técnicas variadas, como a inserção paralelos entre si por todo o pulmão nas aves primitivas e
de sondas minúsculas nas vias aéreas. Os numerosos sacos na maior parte do pulmão nas demais espécies; essa parte
aéreos podem ser agrupados funcionalmente em um con- do pulmão, na qual os parabrônquios correm paralelos,
junto anterior e outro posterior (Figura 18-17A). A tra- é chamada paleopulmão. Um pequeno neopulmão, no
queia se bifurca em um par de brônquios primários, cada qual os parabrônquios estão organizados em uma rede, foi
qual passando diretamente pelo centro de um pulmão em incorporado aos pulmões de muitas aves.
O sistema respiratório 595

Ciclo 1
Brônquio Sacos Brônquio
Parabrônquios mediodorsal aéreos medioventral
anteriores

Brônquio Mesobrônquio
primário Sacos
aéreos
A. Inspiração 1 posteriores B. Expiração 1

FIGURA 18-18
Ciclo 2 Movimento de um fluxo de ar
(sombreado) através dos pulmões e
dos sacos aéreos de uma ave. Dois
ciclos de inspiração e de expiração
são necessários para mover uma
massa de ar pelo sistema.
Fonte: Baseado em Bretz e Schmidt-
C. Inspiração 2 D. Expiração 2 Nielsen (1971).

Os pulmões são ventilados pelos movimentos do ester- os pulmões e o ar “antigo” é expelido dos sacos anteriores,
no, que causam a expansão e a compressão alternadas dos passando pelos brônquios principais e pela traqueia para
sacos aéreos. Articulações entre as partes dorsal e ventral ser liberado para o meio (Figura 18-18D).
das costelas permitem essa movimentação do esterno (Fi- O ar flui pelo sistema ao longo da linha de resistência
gura 8-17A). Os processos uncinados nas extremidades mínima, determinada, em parte, pelos diâmetros e pelas
dorsais das costelas agem como braços de alavanca, nos direções das aberturas dos diversos brônquios e, em parte,
quais certos músculos respiratórios são ligados. Como os pelas “válvulas aerodinâmicas” (Enfoque 18-2).
músculos de voo também causam movimentos do esterno, O sangue nos capilares vasculares flui transversalmente
da clavícula e das costelas, a ventilação dos pulmões e dos ao ar que flui pelos parabrônquios e capilares aéreos; tal
sacos aéreos está intimamente associada e ocorre em sin- padrão é chamado fluxo de corrente cruzada (Figura 18-
cronia aos movimentos do voo (Jenkins, et al, 1988). A 19). À medida que o ar flui da direita para a esquerda, no
glote é mantida aberta na maior parte do tempo porque os modelo, ele perde oxigênio para o sangue; sangue fluin-
pulmões da ave são ventilados continuamente e não ocor- do transversalmente ao ar, por sua vez, ganha oxigênio.
re nenhum período prolongado de apneia. São necessárias Como os fluxos de sangue e de ar são transversais entre
dois ciclos de inspiração e dois de expiração para mover si, forma-se um gradiente para a transferência de oxigênio
uma unidade de ar pelo sistema (Figura 18-18). Duran- em cada região nas quais capilares sanguíneos se cruzam
te a primeira inspiração, o ar fresco é levado, através do aos parabrônquios, porém esse gradiente é diferente em
brônquio primário e do mesobrônquio, para os sacos aé- cada intersecção. O resultado desse sistema, assim como
reos posteriores (Figura 18-18A). Esse ar se move pelos ocorre no fluxo contracorrente entre sangue e água nas
brônquios mediodorsais e pelos parabrônquios durante brânquias dos peixes, é a remoção da maior parte do oxi-
a primeira expiração (Figura 18-18B), e é arrastado para gênio do ar pelo sangue que sai do sistema, ao passo que,
dentro dos sacos aéreos anteriores durante a segunda inspi- nos pulmões dos outros vertebrados, as concentrações de
ração (Figura 18-18C), sendo finalmente expelido do sis- oxigênio do sangue e do ar alcançam um equilíbrio. O flu-
tema durante a segunda expiração (Figura 18-18D). Existe xo unidirecional do ar através dos pulmões das aves, o
um fluxo contínuo de ar entrando e saindo dos pulmões fluxo cruzado de ar e sangue, e a enorme superfície de tro-
e dos sacos aéreos, mas a existência desses dois ciclos de ca gasosa combinam-se para produzir um sistema respira-
inspiração e de expiração resulta na passagem de diferentes tório bastante eficiente, permitindo que as aves extraiam
massas de ar consecutivamente: durante a inspiração, de- uma quantidade de oxigênio do ar maior que os mamífe-
terminado volume de ar passa pelos pulmões para os sacos ros e que elas vivam e voem em altitudes altas onde o ar é
aéreos posteriores (Figura 18-18A), e o ar que foi inalado mais rarefeito.
anteriormente é deslocado dos pulmões para os sacos aé- As aves também possuem um aparelho vocal associado
reos anteriores (Figura 18-18C). Durante a expiração, o ar às vias aéreas. Os chamados e os cantos das aves são usa-
nos sacos posteriores (Figura 18-18B) é conduzido para dos no reconhecimento das espécies, como sinais de alerta
596 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

EN FO Q U E 18- 2 Válvulas aerodinâmicas no pulmão das aves

A forma como o fluxo unidirecional de ar é mantido durante a o que obviamente ajudaria a direcionar o ar para os brôn-
respiração das aves é controversa, considerando a ausência de quios mediodorsais. O mecanismo pelo qual isso acontece
abas ou de outras válvulas mecânicas nas vias aéreas. Os diâ- não está totalmente claro, mas parece que envolve uma
metros das aberturas para os vários brônquios e sacos aéreos, “compensação dinâmica” na qual a pressão reduzida do ar
e a direção para as quais eles se voltam certamente desempe- no mesobrônquio durante a expiração do ar dos sacos aéreos
nham papel importante na determinação de um caminho de anteriores provocaria o colapso parcial de sua parede. A efi-
menor resistência, mas muitos pesquisadores afirmam que as cácia da válvula foi positivamente correlacionada com a taxa
válvulas aerodinâmicas, cuja operação depende de fatores do fluxo aéreo expiratório, apresentando 95% de eficiência
sutis, como a pressão e a composição do ar, também parti- nas taxas de fluxo que presumidamente ocorrem durante o
cipam da determinação do fluxo unidirecional. Uma válvula exercício, quando a compensação dinâmica seria maior, e
inspiratória desse tipo foi encontrada nos gansos (Wang et al., uma eficiência menor em baixas taxas de fluxo.
1992). A parede da região caudal do brônquio primário é en-
volvida por um músculo liso disposto de maneira circular. Essa
região, chamada segmento de aceleração, contrai-se durante Saco aéreo Brônquio Parabrônquio
anterior
a inspiração (Figura A) e, como consequência, o ar que passa medioventral

por ela é acelerado, entrando diretamente para o mesobrôn-


quio, sacos aéreos e brônquios mediodorsais, sendo impedido
Brônquio
de entrar no brônquio medioventral. O estímulo para mudan- mediodorsal
ças nas dimensões do segmento de aceleração parece ser a
mudança dos níveis de dióxido de carbono (CO2). Em condi-
ções de níveis de CO2 mais altos, como ocorre durante a ex- Mesobrônquio

piração, as fibras do músculo liso relaxam e o segmento dilata. Segmento de


Não se sabe se uma válvula expiratória aerodinâmica está aceleração

presente para direcionar a saída de ar dos sacos aéreos pos- Brônquio primário
Saco aéreo
posterior
Siringe
teriores, impedindo que este retorne ao mesobrônquio e flua Traqueia

diretamente para os brônquios e parabrônquios mediodor- Figura A. Principais vias aéreas do pulmão de um ganso, mostrando
sais. Brown et al. (1995) acreditam que podem ter encontra- o segmento de contração durante a inspiração. Os diferentes
do uma válvula expiratória nos gansos, mostrando evidências diâmetros são mostrados com as linhas tracejadas.
de um estreitamento do mesobrônquio durante a expiração, Fonte: Adaptado de Wang et al (1992).

Brânquias Pulmões dos que envolvem sua parede. Elas são vibradas pelo movi-
dos peixes Pulmões das aves mamíferos
Reservatório
mento do ar através delas, e as vibrações são transforma-
Contracorrente Corrente cruzada
uniforme das em sons significativos por mudanças na tensão dessas
Meio que membranas, pela configuração da traqueia e da cavidade
contém
bucofaríngea, e pelos movimentos da língua. Os cisnes-
gás
-trombeteiros e os grous-americanos possuem traqueias
Sangue excessivamente longas, que se estendem e se curvam na
região da quilha do esterno (Figura 18-20B), fazendo que
as vocalizações desses animais apresentem uma sonoridade
FIGURA 18-19 profunda, ressonante e com semelhança a um trombone.
Comparação entre os movimentos do sangue e do meio externo
(água ou ar) através da superfície respiratória de um peixe, uma
ave e um mamífero. Fonte: Baseado em Piiper e Scheid (1977).
A respiração nos mamíferos
no estabelecimento de territórios e no comportamento
reprodutivo. A caixa vocal não é a laringe situada no topo A linhagem evolutiva dos sinápsidas levando ao surgimento
da traqueia, como nos anfíbios anuros e nos mamíferos, dos mamíferos e a linhagem dos saurópsidas levando aos
mas sim a siringe (do grego = flauta de Pã), localizada na répteis e às aves divergiram há milhões de anos, próximo
bifurcação da traqueia para os brônquios principais (Figu- à origem dos amniotas. Embora o sistema respiratório dos
ra 18-20A). A estrutura da siringe varia entre as espécies, mamíferos também seja eficiente para suprir as necessida-
mas geralmente uma ou mais membranas semelhantes a des da endotermia, ele apresenta diversas diferenças em re-
um tímpano encontram-se entre os anéis cartilaginosos lação ao das aves, pois ambos tiveram origens evolutivas
O sistema respiratório 597

Traqueia

Músculos
da siringe

Membrana
timpânica
Saco aéreo
FIGURA 18-20
clavicular
Vocalização das aves. A. Seção frontal através da
Brônquio siringe de um melro macho, Turdus merula.
principal B. Esterno e traqueia de um grou-americano em
vista lateral. Fontes: A, baseado em Pettingill
A. Siringe de um melro B. Esterno e traqueia de um grou-americano (1985); B, baseado em Portmann.

independentes a partir de uma condição amniota genera- bramentos ósseos, conhecidos como ossos turbinados, ou
lizada. O desenvolvimento de um palato secundário nos concha, que aumentam de forma considerável a área de su-
mamíferos e em seus ancestrais terápsidas possibilitou a se- perfície (Figura 18-21). A membrana mucosa que recobre
paração das passagens de alimento e de ar (Capítulo 7). As os ossos turbinados e que reveste as passagens respiratórias
cavidades nasais pares dos mamíferos, que se encontram conforme elas se prolongam para dentro dos pulmões é
dorsalmente ao palato duro, são relativamente maiores que bastante vascularizada e ciliada, além de conter células que
as dos outros vertebrados. Cada uma delas possui três do- produzem secreções mucosas e serosas, que umedecem o ar

Seio frontal Superior


Central Concha
Inferior

Seio
esfenoidal

Nasofaringe

Tuba
auditiva
Narinas
Palato
Palato mole
duro
Língua

Orofaringe

Tonsila
palatina
Músculos
da língua
Laringofaringe

Cartilagem
Mandíbula epiglótica

Vértebra
Osso hioide
Corda vocal Cartilagem FIGURA 18-21
cricoide Diagrama de parte da cabeça de
Cartilagem
um humano, vista em corte sagital,
tireoide Esôfago mostrando as cavidades nasal e bucal, a
Traqueia faringe, o esôfago e a traqueia.
598 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

conforme ele passa por essas superfícies para os pulmões. A gura 18-22C). As cartilagens de suporte, os músculos
sujeira que fica retida no muco é transportada pela ação ci- lisos e as células secretoras e ciliadas desaparecem gradu-
liar para a garganta, podendo ser engolida ou expectorada. almente ao longo da série de ramificações.
As cavidades nasais se conectam com a nasofaringe, A ventilação dos pulmões dos mamíferos é feita por
separada da orofaringe por um palato mole, pelas coa- uma bomba de aspiração costal. O ar é movido para den-
nas. As passagens de alimento e de ar se encontram na tro e para fora por mudanças no tamanho das cavidades
laringofaringe, mas o alimento normalmente não entra na pleurais, que aumentam e diminuem alternadamente a
via respiratória porque a laringe e o aparelho hioide são pressão relativa dos pulmões em relação à pressão atmos-
puxados para a frente contra a base da língua durante a férica. O aumento do tamanho da cavidade pleural ocor-
deglutição. A epiglote se dobra sobre a glote ou desvia re, principalmente, pela contração e pelo deslocamento
o alimento para o esôfago. Uma nova cartilagem, não caudal do diafragma muscular (Figura 18-22A). Durante
encontrada em outros grupos de vertebrados e, aparen- uma inspiração mais forte, o músculo intercostal interno
temente, não homóloga a outras estruturas presentes em e outros músculos respiratórios puxam as costelas rostral-
outras espécies, suporta a epiglote. A glote, que é ligada mente, resultando no aumento das dimensões do tórax.
lateralmente pelas cordas vocais, é mantida aberta para a A pressão dentro dos pulmões deve ser reduzida ao má-
ventilação contínua dos pulmões, exceto no momento da ximo durante a inspiração para superar a resistência fric-
deglutição, durante o qual a glote se fecha. cional das diversas vias aéreas para o fluxo de entrada de
A laringe dos mamíferos é mais complexa que a laringe ar e, também, para superar a tensão superficial das paredes
dos outros tetrápodes (Figura 7-26). A cartilagem cricoi- dos milhares de alvéolos, que tende a provocar um colap-
de, em forma de anel, e as cartilagens aritenoides pares, so nos alvéolos. A resistência das vias aéreas é reduzida por
que se estendem para as cordas vocais, fazem o suporte um padrão de ramificação que maximiza os diâmetros das
das paredes da laringe, sendo que a cartilagem cricoide principais vias aéreas, por meio do suporte cartilaginoso
apoia a região caudal da parede e as cartilagens aritenoi- de suas paredes, e pela secreção de substâncias surfactan-
des apoiam a parede rostrodorsal. Uma nova cartilagem, a tes. Os líquidos surfactantes são particularmente impor-
cartilagem tireoide, sustenta a parede lateroventral. Essa tantes nos mamíferos por causa do pequeno tamanho e
cartilagem é derivada do quarto e quinto arcos viscerais, da grande área de superfície de seus alvéolos. A expiração
que se dissociaram do aparelho hiobranquial. Os múscu- nos animais quadrúpedes é um processo bem mais passi-
los intrínsecos da laringe que moldam e controlam as cor- vo, que depende do recuo da força elástica dos pulmões,
das vocais são derivados do quarto, quinto e sexto arcos das costelas e das vísceras abdominais, que são puxadas
viscerais. Como era de se esperar, eles são inervados por caudalmente pela contração do diafragma. Os músculos
um ramo do nervo vago. As vibrações de ar produzidas intercostais e abdominal e outros músculos respiratórios
pelas cordas vocais são “moldadas” por movimentos da tornam-se ativos durante a expiração forçada, mas, apesar
faringe, do palato mole, da língua e dos lábios. dessa atividade durante a inspiração e a expiração forte, a
A traqueia continua na região do tórax e nos brôn- função primária desses músculos é manter a integridade
quios primários, que entram nos lobos dos pulmões. As da parede do tórax de modo que os espaços intercostais
vias internas dos pulmões dos mamíferos apresentam não sejam deslocados com mudanças de pressão. Nos ca-
uma compartimentalização mais fina que a observada nos mundongos, as costelas são usadas na ventilação do pul-
anfíbios e répteis, resultando em um grande aumento da mão quando o animal está em repouso, ao passo que o
área de superfície interna (figuras 18-15C e 18-22). En- diafragma torna-se o principal componente ventilatório
quanto um sapo apresenta cerca de 20 centímetros qua- durante períodos de atividade.
drados de área de superfície do pulmão por centímetro
cúbico do tecido pulmonar, um humano apresenta 300
centímetros quadrados por centímetro cúbico. As vias
aéreas dentro dos pulmões se ramificam pelo menos 20 A evolução dos padrões respiratórios
vezes, formando uma complexa árvore respiratória que nos vertebrados respiradores aéreos
termina nos bronquíolos, sacos alveolares e alvéolos.
As paredes das vias aéreas tornam-se progressivamente Tradicionalmente, os modos de ventilação do pulmão en-
mais delgadas ao longo das sucessivas ramificações da tre os vertebrados que respiram ar são vistos como uma
árvore respiratória, chegando ao ponto de, nos alvéolos dicotomia: nos peixes e anfíbios, a ventilação é feita por
– em que a troca gasosa ocorre – a parede ser constituída uma bomba de pulsação bucal, ao passo que nos amniotas
por um epitélio escamoso bastante fino, envolvido qua- ela é feita por uma bomba de aspiração cujas forças são
se totalmente por capilares sanguíneos. A distância final geradas pela musculatura do corpo. Não há dúvidas de que
de difusão dos gases nesse local é de aproximadamente o padrão primitivo do modo de ventilação dos pulmões
0,2 μm (apenas nas aves essa distância é menor, chegan- dos vertebrados seja por meio da bomba de pulsação bu-
do a aproximadamente 0,1 μm), com os gases podendo cal, presente nos peixes actinopterígios e caracterizado pela
se difundir por duas ou mais superfícies do alvéolo (Fi- respiração de quatro tempos, na qual ocorre a expansão da
O sistema respiratório 599

Concha Bronquíolo
Tuba
auditiva terminal
Palato
Nasofaringe Bronquíolos
Epiglote respiratórios
Anel traqueal Laringe

Esôfago
Veia
Brônquio
primário
Pleura
Vênula
Pulmão Bronquíolo Aumentado na
(lobo superior) Figura 18-22C
Cavidade Artéria
pericárdica
Ducto e sacos
Pulmão alveolares
(lobo inferior)
Cavidade
pleural
Diafragma

Ducto
alveolar
Alvéolos

A. Vias aéreas e pulmões B. Alvéolos

Veia Alvéolo
Vênula com rede
capilar Alvéolo

Capilares
entre os
alvéolos

Sacos
alveolares

Arteríola

Artéria
C. Leito capilar D. Parte do pulmão humano

FIGURA 18-22
Diagramas do sistema respiratório dos mamíferos. A. Vista geral da localização e estrutura das vias aéreas e dos pulmões. B. Alvéolos
em detalhe. C. Rede capilar que cobre os alvéolos. D. Desenho baseado em uma micrografia eletrônica de um pulmão de mamífero.
Observe que a maioria dos capilares tem alvéolos em duas de suas superfícies. Fontes: A-C, baseado em Dorit, et al. (1991).; D,
baseado em Kessel et al. (1979).

cavidade bucal durante a exalação, removendo o ar “usa- se expande uma segunda vez para adquirir ar fresco e se
do” do pulmão ou do órgão acessório de respiração aérea, comprime para forçar esse ar para dentro dos pulmões ou
e logo após sua compressão completa, de forma a expelir dos órgãos acessórios. Os peixes sarcopterígios e as sala-
todo o gás exalado (Figura 18-23). A cavidade bucal então mandras já apresentam um ciclo respiratório de dois tem-
600 Anatomia funcional dos vertebrados – uma perspectiva evolutiva

Actinopterygii  FIGURA 18-23


Cladograma mostrando os principais estágios na evolução da
ventilação pulmonar. Fonte: Baseado em Brainerd.

Dipnoi
pos, no qual a cavidade bucal se expande para capturar o
ar fresco enquanto o ar usado flui para fora dos pulmões e,
Bomba bucal eventualmente, mistura-se a ele. Parte dessa mistura é sub-
Ventilação do pulmão sequentemente bombeada para os pulmões, e o restante sai
impulsionada apenas Caudata
pela boca e pelas fendas branquiais.
pela musculatura
cranial
Brainerd (1999) demonstrou experimentalmente que o
(exalação passiva) mecanismo de ventilação dos pulmões nas salamandras re-
presenta um estágio evolutivo intermediário para um meca-
Gymnophiona nismo de respiração por aspiração (Figura 18-23), pois, além
do mecanismo de bomba bucal de dois tempos de inalação,
as salamandras exalam o ar pela ação do músculo transver-
sal do abdômen. Nos amniotas, toda a respiração é feita por
Anura ação muscular: os músculos do corpo são usados tanto para
Bomba de expiração a exalação como também para a inalação. Em todos os am-
Exalação ativa niotas, exceto nas tartarugas, os músculos intercostais e as
impulsionada pelos
costelas são recrutados nos movimentos de inalação através
músculos axiais
(bomba bucal mantida
Amniota da aspiração costal, um mecanismo primitivo na história
para inalação) evolutiva dos amniotas. Os padrões encontrados nas tartaru-
gas, nos crocodilos e nas aves são especializações evolutivas.
Bomba de aspiração Nos mamíferos, o diafragma fica interposto entre as cavida-
Inalação impulsionada des pleural e peritoneal. Contrações do diafragma assumem
pelos músculos axiais papel primordial no aperfeiçoamento do mecanismo de ven-
tilação por uma bomba de aspiração.

RESUMO
1. A difusão de gases entre o meio externo (água ou ar) por um arco branquial esquelético, por raios bran-
e o sangue no corpo ocorre através de uma membra- quiais, por derivados vasculares de um arco aórtico
na respiratória. Os vertebrados se utilizam de meca- embrionário, por nervos e, às vezes, por um septo
nismos para gerar um fluxo de massa através dessa interbranquial.
membrana para que ela seja ventilada. 6. Espécies do grupo Agnatha apresentam inúmeras
2. O sistema respiratório de um peixe deve ser adap- bolsas branquiais.
tado ao suprimento limitado de oxigênio disponível 7. Os elasmobrânquios possuem brânquias septadas,
na água e à alta densidade desse meio. Eliminar o sustentadas por septos interbranquiais, voltadas para
dióxido de carbono não é problema para um peixe estreitas câmaras branquiais. Cada câmara se abre para
porque esse gás é altamente solúvel na água. Calor, uma câmara parabranquial que, por sua vez, se abre à
sais minerais e água também são trocados através da superfície por meio de uma fenda branquial externa.
membrana respiratória. 8. Um fluxo de contracorrente, com o fluxo de água
3. Muitas larvas de peixes possuem brânquias externas, passando pelas lamelas secundárias em direção opos-
mas a troca gasosa nos adultos é realizada nas brân- ta ao fluxo de sangue que passa por elas, aumenta a
quias internas. eficácia da troca gasosa.
4. As bolsas branquiais dos peixes são formadas a partir 9. A ação valvular da boca e das fendas branquiais exter-
do encontro das bolsas faríngeas endodérmicas com nas permite que a faringe e as câmaras parabranquiais
os sulcos ectodérmicos que se invaginam da superfí- atuem juntas na ventilação das brânquias, por movi-
cie do corpo. A primeira bolsa é reduzida a um espi- mentos de expansão e contração concorrentes, pri-
ráculo ou está ausente. meiro como uma bomba de sucção e, depois, como
5. Uma brânquia completa, ou uma holobrânquia, pos- uma bomba de força.
sui lamelas branquiais primárias em ambas as super- 10. Os teleósteos possuem brânquias não septadas locali-
fícies. Essas lamelas, por sua vez, suportam inúmeras zadas em uma cavidade opercular comum que se abre
lamelas branquiais secundárias, nas quais ocorre a para a superfície por meio de uma única fenda bran-
troca gasosa. Uma holobrânquia é formada, ainda, quial. A ausência de septos aumenta a eficácia das
O sistema respiratório 601

trocas gasosas entre os fluxos de contracorrente de perda de água ao reduzir o ritmo da ventilação de
sangue e água. A faringe e a cavidade opercular agem seus pulmões.
alternadamente e em sequência como bombas de 18. Os anfíbios adultos ventilam seus pulmões por uma
sucção e de força. A combinação de mecanismos de bomba bucofaríngea e mantém o ar nos pulmões
sucção e de força é descrita como um mecanismo de sob uma pressão positiva por um período prolon-
bomba de pulsação. gado de apneia. A respiração cutânea participa da
11. A estrutura das lamelas secundárias fornecem uma obtenção do oxigênio e da eliminação do dióxido
grande área de superfície e uma curta distância de di- de carbono.
fusão entre os gases da água e do sangue. 19. As salamandras da família Plethodontidae não pos-
12. Em virtude dos problemas osmóticos inerentes à vida suem pulmões e dependem totalmente da respiração
aquática, os peixes não ventilam suas brânquias mais cutânea para a troca de gases.
que o necessário para suprir suas necessidades de 20. A área de superfície do pulmão dos répteis é relati-
oxigênio. Vários mecanismos regulam a quantidade vamente maior que a dos anfíbios. A ventilação dos
de ventilação. pulmões é feita por movimentos das costelas em um
13. Os pulmões provavelmente se desenvolveram, nos mecanismo de bomba aspiratória costal e, nos cro-
ancestrais dos peixes ósseos, como órgãos respirató- codilos, por um músculo que puxa o fígado caudal-
rios acessórios que permitiram a vida em ambientes mente. Os répteis também têm períodos prolonga-
instáveis de água doce. dos de apneia.
14. Os peixes pulmonados ventilam seus pulmões por 21. As aves possuem pequenos pulmões conectados a
uma bomba de pulsação, ocorrendo a mistura do ar um extenso sistema de sacos aéreos. Seus pulmões
fresco com o ar usado. Essa mistura é mantida sob são ventilados continuamente pelos movimentos das
pressão positiva nos pulmões por um período pro- costelas e do esterno, e também pela ação dos sa-
longado de apneia. Uma quantidade de dióxido de cos aéreos.
carbono é acumulada nos pulmões, mas a maior par- 22. As vias aéreas das aves estão dispostas de maneira
te é eliminada através das brânquias. a estabelecer um fluxo unidirecional de ar passando
15. Os pulmões dos primeiros peixes ósseos foram modi- pelos numerosos parabrônquios e pelos capilares aé-
ficados em bexigas natatórias hidrostáticas, presentes reos. Uma pequena quantidade de ar usado é manti-
na maioria das espécies contemporâneas. da nos pulmões. Um fluxo transversal de sangue e de
16. Os peixes regulam sua flutuabilidade por meio da re- ar na região dos parabrônquios areja completamente
gulação da quantidade de ar na bexiga. Na maioria o sangue.
das espécies, o oxigênio é secretado para a bexiga pela 23. As vias aéreas pulmonares dos mamíferos terminam
glândula de gás e é mantido na bexiga pela rede mira- em diversos alvéolos com paredes finas que são en-
bile, atuando em contracorrente com o fluxo sanguí- volvidos por densas redes de capilares. Uma grande
neo. O oxigênio pode ser reabsorvido no oval. área de superfície fica disponível para a troca gasosa,
17. Os vertebrados terrestres devem evitar a perda exces- mas o novo ar que entra nos pulmões sempre se mis-
siva de água do corpo pelos pulmões. A grande con- tura com um pouco de ar antigo. Os pulmões são
centração de oxigênio no ar e a baixa taxa metabólica ventilados continuamente por um diafragma muscu-
dos anfíbios permitem que estes animais evitem a lar bem desenvolvido.

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