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José Carlos Libâneo
Considerações iniciais
E o que é educar? Educar é intervir na capacidade de ser e de agir das pessoas. Para
isso, são providas as mediações culturais, isto é, as ferramentas simbólicas e materiais,
mediante um processo de comunicação. É disto que trata a Pedagogia: a mediação de
saberes e modos de agir. O papel da Pedagogia é promover mudanças qualitativas no
desenvolvimento e na aprendizagem das pessoas, visando ajudá-las a se constituírem
como sujeitos, a melhorar sua capacidade de ação e as suas competências para viver e
agir na sociedade e na comunidade.
São muitos lugares e as modalidades de cumprimento dessa tarefa. De fato, o pedagogo é
o profissional que cuida da formação humana em todos os lugares onde essa formação
acontece de forma intencional e sistemática. Assim, todo profissional que lida com a
formação de sujeitos, seja em instituições de ensino seja em outro lugar, é um pedagogo.
Entretanto, na realidade brasileira, as instituições de ensino formal ganham destacada
importância, razão pela qual é crucial sabermos o que a Pedagogia pode fazer pelas
escolas e pelos professores.
São estas as tarefas a serem assumidas pelas escolas e pelos professores mas,
principalmente, são estas as tarefas da Pedagogia para as quais são absolutamente
imprescindíveis os professores. Porém, para emponderar a escola e os professores são
necessários, também, os pedagogos especialistas com formação específica. Com isso, é a
escola, a sala de aula e seu entorno sociocultural que devem ser a referência para as
políticas educacionais, a legislação, o funcionamento das instituições de ensino, os
sindicatos, as associações, etc. Escrevi recentemente em outro texto:
Em boa parte, as políticas de formação não têm sido bem sucedidas porque não estão
partindo de políticas educativas para a escola e para a aprendizagem dos alunos. Dizendo
isso de forma: há uma idéia muito arraigada, embora bem intencionada, em certos
segmentos de educadores, de que os problemas da educação podem ser resolvidos de
fora para dentro. Essa atitude se manifesta de duas formas: uns acreditam que se muda o
ensino e a formação de professores com leis, regulamentos, reformas, mudanças
curriculares etc.; outros acham que isso acontecerá fortalecendo as demandas dos
movimentos sociais, das associações, dos sindicatos em torno da formação da
consciência política dos professores. Não duvido que essas atitudes sejam bem
intencionadas. Mas, da minha parte, penso o contrário: o processo educativo tem caráter
endógeno, de dentro para fora e, por isso mesmo, as políticas de formação devem ter
como referência as políticas educativas e de aprendizagem. Sendo assim, a pergunta mais
importante seria esta: como promover mudanças “por dentro” do sistema de formação de
modo a garantir qualidade cognitiva e instrumental das práticas de formação de
professores, considerando os influxos políticos, econômicos, culturais e institucionais?
(Libâneo, 2004)
Tais demandas da realidade que condicionam os objetivos e as práticas de formação
profissional são captadas tanto no âmbito dos fatores externos quanto dos internos. São
notórias as mudanças que ocorrem no entorno econômico, social, cultural. Convivemos
na sociedade globalizada com mudanças na economia, no sistema de produção, na oferta
de empregos. Há novos requisitos de qualificação profissional. Há novas formas de fazer
política, de formação do cidadão. Do ponto de vista cultural, temos o mundo da
informação, das mídias, modificando modos de vida individual e social de todos os
segmentos sociais, mas especialmente da juventude. Também vivemos uma crise moral
sem precedentes, em boa parte induzida pelo relativismo ético. A intensificação da
urbanização e a complexificação da vida na cidade ampliam as responsabilidades da
escola ao mesmo tempo que destacam o papel educativo da cidade. A democratização do
acesso à escolarização, a industrialização, a migração interna, o êxodo rural, o
inchamento das grandes cidades resultam na diversidade social e cultural dentro da
escola, tornando heterogêneas as necessidades individuais e sociais a atender. Os influxos
da sociedade da informação, em especial dos meios de comunicação, produzem
mudanças comportamentais na juventude e afetam as formas de aprender. São desafios
de um mundo em mudança que atingem diretamente as escolas e o trabalho dos
professores.
Antes de tecer a crítica aos dispositivos da Resolução, faço um resumo das minhas
posições sobre a Pedagogia e a formação profissional no campo educacional.
Muitas definições desse teor podem ser trazidas para contestar radicalmente a concepção
de Pedagogia e docência supostamente encampadas pela Resolução do CNE, em que ela
é tomada como curso de formação de professores. Tenho apresentado em vários
documentos minhas posições sobre a Pedagogia (Libâneo, 1998; 2000; 2002; 2003; 2005),
e as resumo aqui.
d) Resulta dessas posições, uma conclusão muito clara: Se há uma imensa variedade de
práticas educativas na sociedade, haverá também uma diversidade de Pedagogias, e uma
diversidade de pedagogos. O que significa dizer que são pedagogos todas as pessoas que
lidam com algum tipo de prática educativa relacionada com o mundo dos saberes e
modos de ação.
O projeto de Resolução aprovado pelo CNE tem como objetivo instituir as Diretrizes
Curriculares Nacionais para os cursos de Graduação em Pedagogia. Farei uma análise
critica da Resolução considerando a concepção de Pedagogia e de docência, as
modalidades de formação e o perfil do profissional a que chama de “pedagogo”.
As imprecisões conceituais não param ai. No mesmo artigo 2º se afirma que “o curso de
Pedagogia (…) propiciará o planejamento, execução e avaliação de atividades educativas”
(grifo meu). A Pedagogia, nessa frase, já não tem mais como objeto a docência, mas as
atividades educativas. Afinal, qual o conceito de Pedagogia da Resolução?
A insuficiência conceitual leva a definições operacionais muito pouco convincentes
do ponto de vista teórico e o exemplo mais patente é a definição de atividades docentes,
tal como consta no parágrafo único do artigo 4º:
A imprecisão conceitual que salta aos olhos é o entendimento de que quaisquer
atividades profissionais realizadas no campo da Educação, ligadas à escola ou extra-
escolares, são atividades docentes. Ou seja, o planejador da educação, o especialista em
avaliação, o animador cultural, o pesquisador, o editor de livros, todos eles estariam
nessas atividades exercendo docência (são docentes). Em suma, é patente a confusão que
o texto provoca ao não diferenciar campos científicos, setores profissionais, áreas de
atuação, ou seja, uma mínima divisão técnica do trabalho necessária em qualquer âmbito
científico ou profissional sem o que a prática profissional pode tornar-se inconsistente e
sem qualidade.
Em boa parte decorrente dessas insuficiências de base, são verificadas outras:
e) O art. 9º exclui toda e qualquer outra modalidade de formação inicial que não sejam as
estabelecidas na Resolução. O art. 10 determina a extinção de todas as habilitações
existentes; o art. 14 estabelece a formação de especialistas em cursos de pós-graduação;
o art. 11 mantém o Curso Normal Superior.
Foi em 1999, na apresentação da 2ª. edição do meu livro Pedagogia e pedagogos, para
quê, que formule inicialmente o argumento de que as proposições defendidas pela
ANFOPE representavam uma abordagem sociologizante da escola e, por conseqüência, da
formação dos educadores. Escrevi nesse texto:
A citação, a meu ver, continua pertinente, mas para argumentar criticamente quanto aos
prejuízos sociais e pedagógicos da Resolução para o funcionamento das escolas, é
necessário aprofundar a análise do que chamo de sociologização do modelo de formação.
A segunda e a terceira teses estão ligadas à primeira, de modo que me deterei mais nela. A
relação ora pacífica ora conflituosa entre Sociologia e Pedagogia, ou entre cientistas
sociais e pedagogos, no Brasil, tem sido marcada há quase 50 anos por controvérsias,
tensões e disputas de campo. Entretanto, com o surgimento do já mencionado Comitê
Pró-formação do educador em 1980, e depois a ANFOPE, inicia-se a efetiva influência da
Sociologia da Educação nos currículos da Pedagogia. A natureza dessas relações
conflituosas é muito simples: desde que se põem em discussão as relações entre
educação e política surge a questão: a educação é mais predominantemente política ou
mais predominantemente pedagógica? O entendimento de que a educação é uma prática
política valoriza o papel dos condicionantes sociais e econômicos e dos fatores extra-
escolares, dando pouca importância à especificidade pedagógica da escola. A meu ver,
esta é a posição dominante em expressiva parte dos pesquisadores do campo da
Sociologia da Educação no meio educacional brasileiro. O entendimento de que a
educação escolar é um atividade eminentemente pedagógica valoriza seus componentes
didáticos, psicopedagógicos, técnicos, podendo-se admitir que frequentemente se
descuida da sua dimensão política. Uma terceira posição, na qual o autor deste texto se
inclui, busca uma inter-relação entre as duas anteriores. Entretanto, é forçoso dizer que as
tensões entre os campos da Pedagogia e a Sociologia em nosso país perduram ainda hoje,
com conseqüências para a concepção de escola, de ensino, de gestão escolar, de
formação profissional.
As explicações desta polarização são bastante plausíveis. Entre o final da década de 1970
e início da década de 1980 ocorre um período de crise do regime militar, forçando certa
liberalização. O arrefecimento do controle político, da censura, junto com resistências dos
setores de esquerda organizados, favoreceu a produção de pesquisas e publicações no
campo da educação contra práticas autoritárias e ideológicas no regime militar. Foi nesse
contexto histórico que se realizou, em 1980, a I CBE – Conferência Brasileira de Educação.
Uma das entidades que se fez presente nessa Conferência foi o Comitê Pró-Participação
na Formação do Educador. O que movia a atuação desse Comitê era as críticas à
legislação corrente no curso de Pedagogia, toda ela ligada aos pareceres e resoluções
produzidos por Valnir Chagas ao longo das décadas de 1960 e 70. Essa legislação era
denunciada como tecnicista, destinada a consolidar a educação tecnicista baseada na
racionalidade técnica, na busca de eficiência e produtividade, contra uma educação
critica e transformadora. Havia um alvo paralelo das críticas, a Lei 5.540/68, produzida
pelo regime militar, que regulava todo o ensino superior na perspectiva tecnicista e do
qual resultou a Res. 2/69 do CFE de regulamentação do curso de graduação em
Pedagogia. No dizer de Silva (1999), com a Lei da Reforma Universitária “a tradição liberal
de nossa universidade fica interrompida e nasce o que alguns críticos passaram a chamar
de universidade tecnocrática, ainda que mesclada com nuanças do pensamento liberal”.
Forquin também alerta para o fato de que a intencionalidade educativa prática não
pode prescindir das contribuições descritivas e analíticas da abordagem sociológica de
cultura. Mas destaca que a cultura não pode ser tomada apenas como variável externa,
mas conteúdo substancial do ensino, que requer levar o aluno a aceder um nível ou forma
de desenvolvimento intelectual e pessoal por procedimentos cognitivos e atitudinais
sistemáticos que não pertencem propriamente ao campo do sociológico. Eis, então, que,
de um ponto de vista do campo pedagógico, a visão sociologizada da escola e da
formação profissional demarca um viés reducionista no entendimento de objetivos e
práticas escolares, que pode levar as conseqüências danosas para as políticas de
formação e para o funcionamento das escolas.
A terceira conseqüência, bem mais visível e concreta, foi a supressão, nos currículos,
das habilitações profissionais, associada à descaracterização do campo teórico-
investigativo da Pedagogia. Além disso, a sobreposição das ciências da educação e,
paralelamente, o esvaziamento dos estudos de teoria pedagógica, eliminou a pesquisa
específica voltada para os diversos campos de atuação profissional do pedagogo e para
problemáticas específicas de currículo, desenvolvimento e aprendizagem, das
dificuldades escolares, avaliação, etc. Com efeito, se não há formação específica de
pedagogos especialistas, são desnecessários estudos teóricos de Pedagogia. Com isso,
vemos o disparate de não ter Pedagogia na Pedagogia. O lugar do pedagógico foi tomado
pelos sociólogos, pelos cientistas políticos, pelos especialistas em políticas educacionais,
pelos psicólogos. Não há pedagogos para formular políticas para as escolas, para
realidade das salas de aula, formular teorias de aprendizagem, métodos de ensino, para
as crianças concretas de nossas escolas. Não é nada fora de propósito perguntar: onde se
formam profissionais para pensar as políticas da educação? Onde se formam os
administradores educacionais? E os diretores de escola? E quem forma os profissionais
que irão cuidar do desenvolvimento profissional dos professores na escola? Quem ajuda
nos problemas e nas dificuldades de aprendizagem dos alunos? A verdade é que a
Pedagogia, quero dizer, a teoria pedagógica e a pesquisa pedagógica, estão ausentes das
faculdades de educação. É por isso que o campo da educação hoje não tem um consenso
mínimo sobre políticas para a escola básica, formas de organização e gestão da escola,
formatos curriculares, níveis esperados de desempenho escolar dos alunos, a formação
necessária de professores para determinadas demandas da prática. Desconhecendo-se as
necessidades concretas das escolas, dos professores, dos alunos, não se sabendo para
que realidade se formam pedagogos e professores, torna-se difícil formular um sistema
integrado e articulado de formação de educadores.
Associado a esse fato, vem ocorrendo uma tendência à queda de prestígio da formação
fornecida nas faculdades de educação. O predomínio de docentes não-pedagogos induz à
ausência, no projeto curricular, de uma cultura favorável à formação de professores com
base nas necessidades concretas da realidade escolar. É muito comum na prática de
professores universitários responsáveis pela formação pedagógica dos alunos, a
despreocupação pela transposição didática do que está ensinando, pelas formas de
instrumentalização didática, exercendo efeitos negativos sobre a identidade profissional
dos licenciandos. Em muitas instituições de formação, a profissão de professor é
ironizada, ou seja, difunde-se uma identificação negativa com a profissão no próprio lugar
de formação do futuro profissional e, pior, isso acontece em cursos de Pedagogia onde o
forte do currículo deveria ser precisamente a construção de uma identidade profissional
positiva com a profissão. Com isso, os professores e pesquisadores universitários estudam
as políticas educativas do Estado, dizem como deve ser o professor, e até pesquisam as
práticas das escolas e dos professores de outros graus de ensino, mas não analisam e não
refletem criticamente sobre suas próprias práticas e a cultura formativa negativa que
transmitem aos alunos.
Entre as conseqüências mais danosas das mudanças curriculares foi a supressão, na rede
de escolas, da exigência de formação profissional específica para os cargos de diretor e
coordenador pedagógico. Muito provavelmente, boa parte da queda da qualidade de
ensino pode ser atribuída ao rebaixamento das exigências de formação especifica. Com
efeito, a eliminação em muitos lugares, nos meados dos anos 1980, das habilitações,
levou os sistemas de ensino à desregulamentação da exigência de formação especifica
aos ocupantes desse cargo. É surpreendente que profissionais ligados à escola, que se
valorizam a escola, sensíveis ao mundo empírico das escolas e às suas necessidades,
tenham consentido em suprimir a formação do pedagogo especialista, especialmente nas
habilitações de direção e coordenação pedagógica. Com a eliminação das habilitações, as
Secretarias de Educação retiraram das escolas ou deixaram de contratar coordenadores
pedagogos, prejudicando a coordenação do currículo e do ensino e o atendimento
pedagógico-didático aos professores.
Que caminhos podem, ainda, ser trilhados para um sistema de formação de educadores
que atendam às necessidades sociais e formativas num mundo em mudança?
Em primeiro lugar, os educadores que consideram necessária uma concepção mais aberta
e mais abrangente de formação profissional para o campo da educação, devem continuar
lutando por um projeto de legislação consistente de longo prazo. A Resolução do CNE, que
estamos analisando, também perdeu essa oportunidade, pois o conjunto dos
instrumentos legais continua assistemático, fragmentado, confuso, inconsistente
teoricamente e formalmente.
Este projeto consistente de longo prazo deve contemplar no seu conjunto toda a
formação dos profissionais da educação para atuação na educação básica e em outras
instâncias de prática educativa. Considero um ato de coragem e de compromisso social
com a educação, a ampla abertura de possibilidades legais para que as Faculdades de
Pedagogia (ou de Educação) ofereçam o bacharelado em Pedagogia com todo o leque
possível de habilitações, e os cursos de licenciatura para toda a educação básica, inclusive
para professores de ensino superior em geral.
Uma das conseqüências do viés reducionista é que intelectuais ligados a algumas das
disciplinas especializadas insistem em negar identidade científica à Pedagogia, se
recusando a aceitar seu campo teórico e sua problemática, muitas vezes sem o conhecer.
Em alguns casos, chega-se a defender, explícita ou implicitamente, que somente sua área
pode postular um discurso científico sobre educação, caso típico de certos setores ligados
à Sociologia da Educação[3]. Por outro lado, a recusa dos reducionismos não impede o
reconhecimento da falta de tradição teórica dos estudos propriamente pedagógicos, a
falta de “massa crítica” no segmento de pedagogos de profissão, a assimilação passiva
das críticas provenientes de setores intelectuais mais distanciados da prática cotidiana
escolar resultando, em alguns casos, na desqualificação acadêmica da área.
É aos pedagogos que cabe convencerem-se de que a Pedagogia tem sua especificidade
epistemológica e que isto é a condição para se recolher a contribuição, sem dúvida
imprescindível, das demais ciências da educação. E quanto mais os pedagogos forem
capazes de definir o especifico da Pedagogia, tanto mais fácil será definir a identidade
profissional dos educadores em suas variadas alternativas de exercício profissional. Para
isso, é inadiável o esforço dos pedagogos em favor do bacharelado em Pedagogia,
prestando atenção ao fato de que as disciplinas e as pesquisas vinculadas às ciências da
educação (sociologia, psicologia, antropologia, história da educação, etc.), quando
desenvolvidas no campo investigativo da educação, devem estar a serviço da Pedagogia e
do trabalho dos professores.
A quarta das posições dos pedagogos deve ser a exigência de que os cursos de
formação profissional tenham seus objetivos, currículo e metodologias fortemente
vinculadas à realidade empírica, isto é, às necessidades e demandas concretas da
sociedade, das escolas, dos professores e dos alunos. As políticas de formação devem
surgir de necessidades postas à formação de professores originadas nos contextos
concretos de ensino e aprendizagem das escolas e das salas de aula. Para isso, as
faculdades de educação precisam conscientizar-se da necessidade de instrumentalização
teórica, metodológica e procedimental dos professores formadores no ensino de suas
disciplinas. A formação de professores implica competências teórico-metodológicas,
modos de atuar, de saber fazer, de saber agir moralmente, etc. Penso que a formação de
professores deve atender a demandas muito concretas, a decisões operacionais, que
dizem respeito, primordialmente, a formas de se garantir uma aprendizagem de
qualidade a todos os alunos.
Em quinto lugar, torna-se imprescindível que as instituições formadoras se
constituam como espaços integralmente formadores, admitindo-se resultados cada vez
mais convincentes das pesquisas sobre o imenso efeito das práticas socioculturais e
institucionais na mudança de comportamentos e atitudes de professores e alunos. Esta
postulação é compatível com argumentos muitos sólidos já apontados (cf. Pimenta e
Libâneo, 1999) favoráveis à defesa de um local institucional específico para a formação de
professores, ou seja, as faculdades de educação. Conceber as práticas de organização e
gestão (práticas institucionais) como práticas formativas para o futuro profissional
significa compreender que não se ensina ou se aprende apenas na sala de aula, ensina-se
e aprende-se com a dinâmica organizacional, com as práticas de gestão e de
coordenação, com a manutenção de um ambiente de trabalho, com as metodologias de
ensino desenvolvidas em classe, com as formas de relacionamento humano que vigoram
na instituição. As expressões comunidade de aprendizagem, comunidades de prática,
aprendizagem cooperativa estão associadas à idéia de que um curso, um departamento, é
um espaço público em que se discute o conhecimento, a organização curricular, as
relações sociais, os modos e critérios de avaliação, as normas, implicando práticas de
cooperação e criação de uma cultura própria da instituição.
CONCLUSÃO
É por tudo isso que se requer uma legislação clara, consistente e, ao mesmo tempo,
aberta à complexidade e diversidade da realidade, para além das divergências
acadêmicas e políticas. A educação brasileira continua carente dessa legislação. O
Ministério da Educação deve reavaliar a pertinência de homologar a Resolução que dispõe
sobre a as diretrizes curriculares para a Pedagogia porque não atende às necessidades
sociais e pedagógicas de formação de educadores postas por um mundo em mudança.
Referências bibliográficas
Libâneo, José C. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez Editora, 1998.
Libâneo, José C. Ainda as perguntas: o que é Pedagogia, quem é o pedagogo, o que deve
ser o curso de Pedagogia. In: Pimenta, Selma G. (org.). Pedagogia e pedagogos: caminhos
e perspectivas. São Paulo: Cortez, 2002.
Libâneo, José C. Pontos críticos dos atuais cursos de Pedagogia. In: Presença Pedagógica,
v. 11, n. 65, set./out.2005.
Silva, Carmem Silvia B. Da. Curso de Pedagogia no Brasil – História e identidade. São
Paulo:Editora Autores Associados, 1999. (2ª. Edição revista e ampliada, 2003).
[1] Nem de longe os leitores deste texto podem concluir dessa crítica que minha posição
de defesa do pedagógico signifique desconsideração dos fatores sociais e culturais da
prática educativa e mesmo das relações de poder ou do caráter socialmente determinado
dos saberes e práticas escolares. O problema é que a sociologização do discurso
pedagógico descartou o pensamento pedagógico, desvalorizando a efetiva prática
pedagógico-didática e produzindo no professorado a perda de sentido do seu trabalho
pedagógico enquanto trabalho político.
[2] É oportuno lembrar duas coisas. A primeira é que há, de fato, nas faculdades de
educação muitos formadores de professores muito mais preocupados com suas
pesquisas e seus artigos do que com as escolas e seus professores. A segunda é que
muitos pesquisadores originários da didática deslocaram seus trabalhos para a formação
de professores cuja temática, em muitos casos, ao enfocar mais as formas de
desenvolvimento profissional, o currículo, os locais de formação, etc., se distancia da vida
real das escolas e das salas de aula e das questões da prática de ensino e da
aprendizagem escolar. Isto me parece ser mais um efeito da sociologização do discurso
pedagógico.
[3] Reitero que a crítica à sociologização do discurso pedagógico não pode ser entendida
como negação da dimensão sociológica do educativo ou do caráter político da pedagogia.
A pedagogia é uma prática política, é um saber voltado para a transformação da realidade
educativa, entretanto, colada ao fazer educativo, não sendo subsumida pela ação política.
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