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Nos capítulos anteriores, fizemos uso de um limite especial para calcular derivadas, a
f(x + ∆x) − f(x)
saber o limite f ′ (x) = lim .
∆x→0 ∆x
Neste capítulo veremos os limites como ferramentas de estudo do comportamento
de funções reais, provendo informações importantes sobre seus gráficos.
A definição formal de limite é matematicamente sofisticada, requerendo muitas
horas de estudo para ser entendida. O leitor interessado poderá encontrá-la em bons
livros-textos de Cálculo1 . Ocorre porém que, em um primeiro curso de Cálculo, a de-
finição de limite tem pouca ou nenhuma serventia quando queremos calcular limites.
Faremos uma exploração intuitiva do conceito de limite e de suas propriedades, através
de exemplos e interpretações gráficas.
33
34 Aula 4
lim f(x) = 3
x→0
Suponhamos que f(x) é uma função real definida em uma reunião de intervalos, e
que x0 é um ponto no interior ou no extremo de um desses intervalos. Os matemáticos
dizem que lim f(x) = L (L ∈ R) quando podemos fazer f(x) arbitrariamente próximo
x→x0
de L, tomando x suficientemente próximo de x0 , mantendo x ≠ x0 . No exemplo em que
f(x) = 2x + 3, podemos fazer f(x) próximo de 3 o quanto quisermos, bastando tomar x
bem próximo de 0.
Exemplo 4.2. Aqui temos uma lista de exemplos intuitivos, em que fazemos uso de
propriedades intuitivas do cálculo de limites.
1. lim x = a (a ∈ R)
x→a
2. lim xn = an (n ∈ N, a ∈ R)
x→a
x3 − 3 lim (x3 − 3) 8 − 3
x→2
4. lim 2 = = =1
x→2 x + 1 lim(x2 + 1) 4 + 1
x→2
x3 − 8
Solução. Note que, sendo f(x) = , temos que 2 ∈/ D(f). Quando x se aproxima
x−2
de 2, x3 se aproxima de 8. Um cálculo direto nos dá então
x3 − 8 8 − 8 0
lim = =
x→2 x−2 2−2 0
Limites. Uma introdução intuitiva 35
Este resultado, 0/0, é muito comum no cálculo de limites, e não tem significado como
valor de um limite. A expressão 0/0 é um exemplo de um símbolo de indeterminação
ocorrendo em uma tentativa de cálculo de um limite. A ocorrência desta expressão
significa que o limite ainda não foi calculado.
Para evitar o símbolo de indeterminação 0/0, neste exemplo fazemos
x3 − 8 (x − 2)(x2 + 2x + 4)
lim = lim
x→2 x − 2 x→2 x−2
2
(x−2)(x + 2x + 4)
= lim
x→2 x−2
2
= lim(x + 2x + 4) (pois x ≠ 2)
x→2
2
= 2 + 2 ⋅ 2 + 4 = 12
1 ⋅
(y−1)
= lim 2
(y−1)(y
y→1 + y + 1)
1 1
= lim 2 =
y→1 y + y + 1 3
tornam-se cada vez maiores. Neste exemplo, podemos fazer f(x) maior que qualquer
número real positivo, tomando x suficientemente próximo de 0. Dizemos que o limite
de f(x), quando x tende a 0 é “+ infinito”, e escrevemos
lim f(x) = +∞
x→0
ou seja,
1
lim = +∞
x→0 x2
Tabela 4.1.
1
x x2 f(x) = x2
±1 1 1
±0, 5 0, 25 4
±0, 2 0, 04 25
±0, 1 0, 01 100
±0, 01 0, 0001 10000
±0, 001 0, 000001 1000000
Figura 4.1. lim 1/x2 = +∞, ou seja, à medida que x se aproxima de 0, y = f(x) torna-se
x→0
cada vez maior. Também lim 1/x2 = 0, ou seja, à medida que x cresce, tomando
x→+∞
valores cada vez maiores, f(x) aproxima-se de 0. E ainda lim 1/x2 = 0.
x→−∞
y
16
-2 -1 0 1 2 x
Tabela 4.2.
1
x x2 f(x) = x2
1 1 1
1
2 4 4 = 0, 25
1
5 25 25 = 0, 04
10 100 0, 01
100 10000 0, 0001
103 106 10−6
Com estes exemplos simples iniciamos uma álgebra de limites com o símbolo ∞:
⎧ ⎧
⎪
⎪ +∞ se c > 0 ⎪ +∞ se c < 0
⎪
c ⋅ (+∞) = ⎨ c ⋅ (−∞) = ⎨
⎪
⎪
⎩ −∞ se c < 0 ⎩ −∞ se c > 0
⎪
⎪
⎧ ⎧
+∞ ⎪ ⎪ +∞ se c > 0 −∞ ⎪ ⎪ +∞ se c < 0
=⎨ =⎨
c −∞ se c < 0 c
⎩ −∞ se c > 0
⎪
⎪ ⎪
⎪
⎩
3x2 − 2x − 1
Exemplo 4.5. Calcular lim
x→+∞ x3 + 4
3x2 − 2x − 1 x2 (3 − x2 − x12 )
lim = lim
x→+∞ x3 + 4 x→+∞ x3 (1 + x43 )
3 − x2 − x12 2
3 − +∞ − +∞1
= lim =
x→+∞ x(1 + x43 ) +∞(1 + +∞4
)
3−0 3
= = =0
+∞ ⋅ (1 + 0) +∞
Exemplo 4.6. Calcular lim (x5 − x3 )
x→−∞
Temos
lim (x5 − x3 ) = (−∞)5 − (−∞)3 = (−∞) − (−∞) = (−∞) + (+∞), portanto
x→−∞
chegamos a um símbolo de indeterminação.
Limites. Uma introdução intuitiva 39
p(x)
Nos limites da forma lim , em que p(x) e q(x) são polinômios em x,
x→±∞ q(x)
prevalecem os termos de maior grau de ambos os polinômios, ou seja, se
3x2 − 2x − 1 3x2 3 3
lim 3
= lim 3
= lim = =0
x→+∞ x +4 x→+∞ x x→+∞ x +∞
1
Exemplo 4.7. Calcular lim .
x→0 x
Solução. Aqui podemos ser induzidos a dizer, tal como no exemplo do limite lim x12 ,
x→0
que lim x1 é infinito. Ok, mas qual “infinito”? +∞ ou −∞ ? A resposta é, neste caso,
x→0
nenhum dos dois!
Se x se aproxima de 0 por valores positivos, então 1/x tende a +∞. Porém se x se
aproxima de 0 assumindo somente valores negativos, então 1/x tende a −∞ (∣1/x∣ fica
cada vez maior, porém 1/x mantém-se sempre < 0).
1
Neste caso, dizemos que não existe o limite lim .
x→0 x
1
O comportamento da função f(x) = , nas proximidades de x = 0, será melhor
x
estudado na próxima aula, quando introduziremos o conceito de limites laterais.
40 Aula 4
Figura 4.2. x0 não está no domínio de f, lim f(x) = a, e lim f(x) = b = f(x1 ).
x→x0 x→x1
y
y = f(x)
a
0 x0 x1 x
y
y = f(x)
b
x
0
4.4 Problemas
1. Calcule os limites.
x2 − 4 (i) lim
√ 15
(a) lim x→ 2
x→2 x − 2
x2 − x 2x2 + 5x − 3
(b) lim 2 (j) lim
x→1 2x + 5x − 7 x→1/2 6x2 − 7x + 2
k2 − 16 x3 + 8
(c) lim √ (k) lim 4
k→4 x→−2 x − 16
k−2
6s − 1
(x + h)3 − x3 (l) lim
(d) lim s→4 2s − 9
h→0 h
3
x2 1
h +8 (m) lim ( − )
(e) lim x→1 x − 1 x−1
h→−2 h + 2 √
1 4 − 16 + h
(f) lim (n) lim
z→10 z − 10 h→0 h
1 (4t2 + 5t − 3)3
(g) lim (o) lim
x→1 (x − 1)4 t→−1 (6t + 5)4
(h) lim 2 (2 + h)−2 − 2−2
√ (x + 3)(x − 4) (p) lim
x→ 2 h→0 h
2. Demonstre que se
p(x) an x n
(b) lim = lim
x→±∞ q(x) x→±∞ bm xm
42 Aula 4
y = f(x)
0 a x
a
0 x
y = f(x)
Figura 4.6. lim f(x) = −∞, lim f(x) = b, e lim f(x) = −∞.
x→a x→−∞ x→+∞
a
0 x
y = f(x)
b
Limites. Uma introdução intuitiva 43
3. Calcule os limites.
2. (b)
p(x) an xn (1 + aan−1
nx
+ ⋯ + anax1n−1 + ana0xn )
lim = lim
x→±∞ q(x) x→±∞
bm xm (1 + bbm−1
mx
+ ⋯ + bmbx1m−1 + bmb0xm )
an xn 1 + aan−1
nx
+⋯+ a1
an xn−1
+ ana0xn
= lim ⋅ lim
x→±∞ bm xm x→±∞ 1 + bm−1 + ⋯ + b1
+ bmb0xm
bm x bm xm−1
an xn 1 + a±∞
n−1 a1
+ ⋯ + ±∞ a0
+ ±∞
= lim ⋅ lim
x→±∞ bm xm x→±∞ 1 + bm−1 + ⋯ + b1 + b0
±∞ ±∞ ±∞
an xn 1+0+⋯+0 an x n
= lim ⋅ = lim
x→±∞ bm xm 1 + 0 + ⋯ + 0 x→±∞ bm xm
4. Joãozinho está certo, pois x2 , sendo positivo, ao se tornar cada vez mais próximo de 0
fica também cada vez mais próximo de −1. Podemos notar que a sequência de quadrados
que aparece na tabela 4.1 é a sequência 1 0, 25 0, 04 0, 01 0, 0001 0, 000001 . . .
Cada termo a partir do segundo está mais próximo de −1 que seu antecessor! Mas isto
não quer dizer que o limite de x2 quando x tende a 0 seja −1. “Cada vez mais próximo”
não quer dizer “arbitrariamente próximo”, que é o termo correto no contexto de limites.