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SERGIO LESSA E IVO TONET INTRODUCGAO A FILOSOFIA DE MARX 2 edic Editora Expresséo Popular Sao Paulo ~ 2011 fo Popular do Filho e Miguel diagramacio e capa: ZAP Design Arce da capa: Arte sobre imagem de Larry Ria Impressio e acabamento: Cromoscte Dados intemacionais de Catalogacto-na Publica Lessa, Sérgio Introdugto a flosofia de Marx / Sérgio Lessa, vo Tonet 2ed— Sto Paulo : Expresso Popular, 2041 128p. 538 Indexado em GeoDados - htips/www.goodados tem br ISBN 978-85-7743-073-4 1. Filosofia manista. 2. Filosofia. I. Tonet, wo. I. Titulo. 00197 Todos os direitos reservados. Nenhuma parce deste livro po (ou reproduzida sem a autorizagio da e ‘A EXPRESSAO POPULAR Rua Abolisio, 201 — Bela Vista CEP 01319-010 ~ Séo Paulo Fone: (11) 3522-7516 / 4063-41 editora.expressaopopular.com.br livraria@expressaopopular.com. br Capitulo Il A relacgao do homem com a natureza: © trabalho O tinico pressuposto do pensamento de Marx é 0 fato de que ‘os homens, para poderem existir, devem transformar constan- temente a natureza.” Esta é a base ineliminavel do mundo dos homens. Sem a sua transformacio, a reproducio da sociedade ndo seria possivel. Essa dependéncia da sociedade para com a natureza, contudo, nao significa que o mundo dos homens esteja submetido as mesmas leis e processos do mundo natural. Sem a reprodugio bioldgica dos individuos nao h4 sociedade; mas ahist6ria dos homens € muito mais do que a sua reproducao biolégica. A luta de classes, os sentimentos humanos, ou mesmo uma obra de arte, sio alguns exemplos que demonstram que a Vida social € determinada por outros fatores que nao séo biolé- gicos, mas sociais.* Essa simultanea articulagéo c diferenga do mundo dos ho- mens com a natureza tem por fundamento o trabalho. Por meio do trabalho, os homens néo apenas constroem materialmente a sociedade, mas também langam as bascs para que se construam no individuos. A partir do trabalho, o ser humano se faz di- ferente da natureza, se faz um auténtico ser social, com leis de acerca merodollica de Marr 0 seu presuposto pode enteverificado, Se encontrésemos alguma sociedade que nSo necesiase bio onginico com a narurea para sua eprodus, todo o maraisino tia oe pressuponto algo erificado na ealkdade do pensamento de Marx uma teovia muito dina de todas as outras coments fl ‘ou “infer” os seus pressuports de eu proprio fandamentos, Marx Engels, ideal adem, p. 25183 Engels, De scialone wtpco * ao scalionecimafico, ee 18 Sexo Lessee desenvolvimento histérico completamente distintas ¢ 08 processos nacurais.4 Marx entende por trabalho um tipo de atividade muico dife rente daquela que podemos encontrar nas abclhas ou formigas Nessas, a organizagio das atividades ¢ sua execugao sio deter- minadas geneticamente e, por isso, ndo servem de fundament para o descnvol ses insetos. Por séculos, as abelhas e as formigas produzirao, exatamente da mesma forma, 0 que ja produzem hoje. jomens, a transformagao da natureza é um proces: 10 diferente das agées das abelhas ¢ formigas. Em primeirc lugar, porque a ago € seu resultado séo sempre projetados na consciéncia antes de ser sna pritica. E essa capa Cidade de idear (isto é, de criar ideias) antes de objetivar (isto ¢ de construir objetiva ou materialmente) que funda, para Marx, a diferenca do homem em relagao a do humana.’ jamos por qué. PREVIA-IDEAGAO E OBIETIVAGAOS ‘Vamos imaginar que alguém tenha a necessidade de queb tum coco. Para atingir esse objetivo, hd varias alternativas possiv pode jogar 0 coco no chao, pode construir um machado, p: queimé-lo e assim por diante. Para escolher entre as alter deve imaginar 0 resultado de cada uma, ou, em outras palav deve antecipar na consciéncia 0 resultado proviv nativa Essa antccipacao na consciéncia do resultado provavel alternativa possibilita as pess m aquela que avaliam © Marx € Engels, A idelogte le como a melhor. Escolha feita, o individuo leva-a 4 pritica, ou seja, objetiva a alternativa. Vamos imaginar que a alternativa escolhida para quebrar o coco sejaa de construir um machado. Ao construt-lo, o individuo transformou a natureza, pois o machado era algo que ndo existia antes. Isso é da maior importancia, uma vex que toda objetivagao € uma transformagio da realidade. Este € 0 modo do agir cotidiano que todos conhecemos. Ve~ jamos o que de fato ocorreu: hd uma necessidade (quebrar 0 coco); hé diversas alternativas para atender a essa necessidade jogar 0 coco no chio, construir o machado etc.) . © individuo projeta, em sua consciéncia, o resultado de ida uma das alternativas, faz uma avaliago delas ¢ ¢s- colhe aquela que julga mais conveniente para envo de converter cm objeto uma previ denominado por Marx de objetivagio. O resultado do proceso de objetivacio é, sempre, alguma transformagao da realidade. Toda objetivacao produz uma nova situagao, pois tanto a realidade j4 no é mais a mesma (em alguma coisa ela foi mudad: > mesmo, uma vez que ele aprendeu algo com aquela a for fazer o préximo machado, utilizard a experiéncia ca habilidade adquiridas na construgio do machado anterior. Ele poderé, ainda, incorporar ao novo machado @ experiéncia de uso do machado igo (por exemplo, um cabo desta madeira € pior do que daquela outra, esta pedra é melhor do que aquela outra etc.) Segundo Marx, isso significa que, a0 construir o mundo obje- tivo, o individuo também se constréi’. Ao transformar a natureza, volume I capitulo V. os homens também se transformam, pois adquirer noves conhecimentos ¢ habilidades. Essa nova situacio esub- jetiva, bem entendido) faz com que surjam novas necessidades (um machado diferente, por exemplo) e novas possibilidades para atendé-las (0 individuo possui imentos e habilidades qu no possuia anteriormente e, além disso, possui um machado para auxilié-lo na c4o do préximo machado). necessidades ¢ possibilidades impulsionam o in- dividuo a novas p Bes, a novos projetos e, em novas objetivagées. Estas, por sua vez, dario origem situagées que fardo surgir novas necessidades po objetivagio, e assim por diante.* Trés aspectos desse complexo prc sivos para compreensio 1. O machado ¢ um objeto construido pelo homem poderia existir por meio da objetivagao de uma prévia ideagéo. Sem que um individuo objetive um proj ideal (isto é, da consciéncia), nao hé machado possivel. A natureza pode produzir milho, mes nao pode construir machados. ntudo, © machado é a transformagdo de um pedaco d natureza. A madeira ¢ a pedra do machado continua pedacos da natureza. Se desmancharmos 0 machado, a a madeira continuario pedra ¢ madeira. O machado é a pedra c a madeira organiz: ido uma determinada forma e um determinado fim — e estes s6 podem existir como resultado d uma ago conscientemente 0} isto é, de uma aco que orientada por um p: lizado como resposta a uma idade concrera, o desaparecimento da natureza, mas sua transformaci¢ ido pelos hor InrRooucho A rLesoria oe Mak 21 fundamento material dltimo que no pode ser ignorado Nenhuma prévia-ideagio brota do nada, ela € sempre uma resposta a uma dada necessidade que surge em uma situagao determinada. . Como toda objetivagéo origina uma nova situagéo, a his- téria jamais se repete. Iniciamos este capftulo tentando esclarecer por que, para Marx, © trabalho é 0 fundamento do ser social. Até agora, obtivemos uma resposta apenas parcial a essa pergunta: pelo trabalho, o ho- mem, 20 transformar a natureza, também se transforma. Quando os homens constroem a realidade objetiva, também se fazem asi ‘mesmos como individuos. Contudo, esse exemplo que estamos analisando (um indivi que precisa quebrar um coco ¢, para isso, faz um machado) tem uma séria limitacdo: ele trata do individuo e da sua agdo como se a sociedade nao existisse. Como uma etapa preparatéria para o estudo da reprodugio social, esse passo € indispensdvel porque possibilica a identificagao precisa dos elementos essenciais do tra balho. Tadavia, como néo hé individuos sem sociedade, restringir aandlise do mundo dos homens apenas aos individuos seria um enorme equivoco, Por isso, para respondermos & pergunta mais satisfatoriamente, analisaremos no préximo capitulo a relagio ‘entre os atos dos individuos e a sociedade. Resumo Do CAPITULO 1) Para existirem, os homens devem necessariamente transfor mar a natureza. Esse ato de transformacio é 0 trabalho. O trabalho é op lc produgao da base material da socie- dade pela transformagio da natureza. E, sempre, a objetivacao de uma prévia-ideagdo ¢ a resposta a uma necessidade concreta. Da prévia-ideagio & sua objetivagio: isto € o trabalho. Vale enfatizar que, para Marx, nem toda atividade humana é trabalho, mas ape nas a transformaco da natureza. Veremos mais adiante por qué. 1) Ao transformar a natureza, o individuo também transforma Wi proprio © a sociedade: todo ato de trabalho produz uma nova situagéo, na qual novas necessidades ¢ novas possibilidades iro surgir todo ato de trabalho modifica também o individuo, pois este adquire novos conhecimentos ¢ habilidades que nio » bem como novas ferramentas que também antes nao possuia; todo ato de trabalho, p tuagio, tanto objetiva quanto subjetiv ituagao possibilitard aos individuos novas p 00) Projetos e, desse modo, novos atos de trabalho, os quai modificando a realidade, darao origem a novas situacé assim por diante Capitulo Ill O trabalho e a sociedade Iniciamos 0 capitulo anterior com o exemplo de um individuo que deseja quebrar um coco e que, para isso, decide construir um machado. Isso nos permitiu estudar a relagao entre a prévia-ideago a sua objetivagao. Contudo, esse exemplo é rigorosamente impossivel de ocorrer na histéria, pois nio ha individuos fora da sociedade. O personagem da nossa histéria s6 poderia existir como parte de uma sociedade, mesmo a mais primitiva, e a sua necessidade de quebrar 0 coco, bem como o seu ato de construir © machado, influenciam e recebem influéncias da sociedade na qual vive. Para que nosso exemplo torne-se mais real, devemos estudar a complexa relacdo que existe entre os atos individuais e avida so OBieTIVAcAo E SOCIEDADE Ja vimos como a construgio do machado, a0 modificar a realidade, nbém modifica o individuo, dotando-o de novos conhecimentos ¢ habilidades. Contudo, na vida real, as coisas s0 tum pouco mais complicada © machado, embora construide por um individuo, é tam- bém resultado da evolusio anterior da sociedade. Apenas uma sociedade que jé se desenvolveu um pouco, saindo do seu est mais primitivo, pode construir um machado. Sem essa evolugio © anterior, ele nao existiria. Por outro lado, essa descoberta ¢ decisiva para a histéria huma- na: é uma ferramenta que aumenta muito a capacidade produtiva abre novas possibilidades de desenvolvimento. Observe-se bem: a construgio do machado possivel gracas evolugao anterior e, além disso, possui consequéncias fururas. ‘Ao ser objetivado, ele passa a fazer parte da hist6ria dos homens, 24 Strso Lissa ¢ vo Toner Passa a influenciar € a softer influéncias dessa histéria. Ou seja le ¢ parte de um desenvolvimento muito mais geral, que vai para muito além dele préprio, que é a histéria human: A nova situaglo, criada pela objetivasao do machado, possui portanto, uma dimensio social, coletiva. Nao apenas o individu se encontra em uma nova situagio, mas tod lade s contra frente a um novo objeto, o que abre novas possibilidad para o desenvolvimento tanto da sociedade quanto do individuo, levando ambos a rem. objeto construido pelo trabalho do individuo possui, por tanto, sempre segundo Marx, uma ineliminavel dimensio so cle tem por base a histéria passada; faz parte da vida da so faz parte da hist6ria d de um modo geral"® Mantenha-se essa dimensao social do trabalho em mente ela ser importante para a conclusio deste cap{tulc OsserivacAo & CONHECIMENTO J4 nos refetimos ao fato de que, a0 construir © machado, 0 fduo também se transforma, ja que adquire novas habilidad. € novos conhecimentos. O que agora nos interessa € o que oco: com estes iltimos. Por um lado, esse conhecime mneralizado, de modo a ser til tanto para a construgo de novos machados quanto em Por exemplo, na medida em que individuo constréi machados, ele aprende a distinguir as umas das outras. Isso Ihe permite diferenciar as pedras du menos resistentes, as pesadas das mais leves etc. O que lh sibilita, também, conhecer outras caracteristicas das pedras, po! exer a qualidade e aquele defe se fazerem machados, as negras tém outras qualidades € assim por diante. Do conhecimento imediatamente ttil para a produgéo do machado se evolui para o das propriedades da: 9 Maree Engels A id Maree En pedras em modo, para o da natureza. © mesmo corre com t jetos com os quais os homens entram em contato: de um conhecimento singular e imediaco se evolui para outro cada vex mais abrangente e genérico. Por esse meio, um conhecimento que se originou da construcéo do machado pode converter-se em algo til para a construcéo de casas, pontes etc. Isto é, pode ser aplicado em situagées muito diferentes daquela em que se originou. Esse fato nao deve ser subestimado. Ele pode abrir possibili- dades novas ¢ inesperadas ao desenvolvimento social. O conhe. cimento das pedras adquirido ao se fazerem machados pode, por exemplo, set decisivo para uma tribo descobrir que determinadas pedras, uma vez colocadas no fogo, derretem ¢ liberam meta como 0 cobre € 0 ferro, Este € um dos niveis de generalizacao do conhecimento, que estamos cstudando: 0 conhecimento de um caso singular (cons. de um machado) se eleva a genérico que pode ser itl em diversas circunstincias. Mas hd, também, um outro processo de generalizacéo: os conhecimentos adquirides por um individuo tendem a se tor. mar patriménio de toda a sociedade. Em mais ou menos tempo, dependendo do caso, eles se generalizam a todos individuos. O que era de dominio de apenas uma pessoa toma-se de toda a humanidade Podemos, agora, retornar & afirmacao que fizemos acima § tomé-la ainda mais complexa. Diziamos que todo ato de tral tho possui uma dimensio social. Em primeiro lugar, porque ele é | também o resultado da histéria passada, expressio do desenv vimento anterior de toda a sociedade, Em segundo lugar, porque ‘© novo objeto promove alteragées na situacao histérica concreta fem que vive toda a sociedade; abre novas possibilidades ¢ gera novas nevessidades que conduzirao ao desenvolvimento futuro. [Em tercciro lugar, porque os novos conhecimentos x iquiridos se fogencralizam cm duas dimensbes: tornam-se aplicéveis as situagoes [Pinas diversas ¢ transformam-se em patriménio genérico de 26 Serco Less vo Tove a humanidade na medida em que todos os individuos passam-« compartilhar dos mesmos."" ssas caracteristicas que comparecem de forma clementar no trabalho estéo também presentes em todo e qualquer ato human ~ portanto, nao sao exclusivas do trabalho. EF, por isso, Marx afirma que toda e qualquer aséo dos individuos tem uma dimensio social. Suas consequéncias influenciam nio apenas a vida do individuo, mas também a de toda a sociedade. Essa articulacdo entre os ato: dos individuos e a vida social coletiva é da maior importincia Possibilita a compreensio de quais os processos que articulam como o fazem, individuo c sociedade em uma relagio indissohiv as disso s agora, der & nossa perg anterior acerca das razées de ser o trabalho a categoria fundant do mundo dos homens. O trabalho é 0 fundamento do ser social porque ao transformar a natureza, cria a base, também mate indispensivel ao mundo dos t sibilita que, formarem a natureza, os homens também se transformem. articulada transformagéo da natureza ¢ dos individuos permite a constante construgao de novas situagSes histéricas, de novas rela 6es sociais, de novos conhecimentos e habilidades, num p de acumulaséo constante (e contraditério, com processo de acumulacéo de novas situagdes ¢ de novo: mentos ~ 0 que significa novas possibilidades de evolu faz com que o desenvolvimento do ser social seja ontologicame: (isto é, no plano do ser) distinto da nacure2 ResuMo Do cAPfTuLo 1) Todo ato humano tem por base 2 evolugio passada da socie- dade, a situacao presente concreta em que se encontra o indi iio da consiéncia no Marx Engle, idole Inmooucko A miosoma DE MA e suas aspiracées ¢ seus desejos para o futuro. Nao hd ato humano fora da hist6ria, fora da sociedade. TD) A objetivacdo resulta, sempre, em trés niveis de general. . O nivel objetivo: 0 objeto produzido passa a ser influenc do e a influenciar toda a sociedade. Sua histéria adquire, assim, uma dimensio genérica: é, agora, parte da histria humana. . O nivel subjetivo, que se subdivide em dois subniveis: a) 0 conhecimento de um caso singular (como fazer este ‘machado) se eleva a um conhecimento acerca da realidade em geral. Esse conhecimento genético da realidade pode ser aplicado em circunstincias muito distintas daquelas em que se origina b) o conhecimento de um individuo se difunde por toda a sociedade, torando-se patrimnio da humanidade. IIl) O trabalho é o fandamento do ser social porque, por meio da transformacéo da nacureza, produz-a base material da sociedade. Todo proceso hist6rico de construgio do individuo e da sociedade tem, nessa base material, o seu fundamento. Capitulo IV O que é, mesmo, um machado? © machado é a madeira e a pedra organizadas machado. Na origem dessa forma esté 0 trabalho. O trabalho converte uma ideia, que apenas ciéncia, em um objeto. Em outras palavras, o machado é uma sintese entre o mundo natural (a pedra ¢ a madeira), que existe independentemente da consciéncia, e a ideia de machado. Essa sintese ¢ fundada pelo trabalho: ela depende da ago de, ao menos, um individuo. Sem ela, 0 machado ndo existiria. Em linguagem filos6fica, dizemos que o machado é a unidade sintética da prévia ideagao do machado com a madeira e a pedra PREVIA-IDEACAO E CAUSALIDADE Por que a ideia de machado é diferente do objeto machado? A ideia depende absolutamente da consciéncia para existir; 0 machado, uma vez produzido, nao." ncia por suporte, a ideia nao pode existir. Com 9 objeto acontece algo muito diferente. A consciéncia que 0 § projetou, o individuo ¢ mesmo a sociedade que o criaram podem [pdesaparecer c cle continuar existindo. Quantos objetos de civili- FF ragées passadas subsistiram aos seus criadores! Claro que quem Bronstruiu o machado pode também destruf-lo. Mas esse fato néo F Sinifca que o machado nao possua a sua hist [jcvelucio propria, que pode mesmo se estender no tempo muito sm lsbfico que adquitu enorme importincia com Hegel (1770- 1831) e, depots, com Karl Marx. Ele significa que coisr distinas (no noso cao, de machado ¢ a madeira © s peda) se ariculam dando origem a una te dae anteriores (o ma 30 Strain Lessa hx depois de seus criadores jé terem morrido. Isso acontece porque distinto da ideia, da consciéncia. Claro que 0 machado, uma vez obje continua a softer transformacées. A madeira e 2 6 da navy reza, continuam naturalmente a se alte: apodrecendo etc., a pedra vai se oxidando indo, reagindo com os componentes do ambiente em que se encontra, € assim por diante. Os processos naturais continuam a agir sobre 0 machado € essa acéo é um componente importante de sua hist6ria. Mas, ao lado dessas transformagées naturais, o machado tam bém passa por transformagées provocadas pelos human " uso pelas pessoas pode submeter a pedra e a madeira a um tipo de desgaste que nao sofreriam na natureza. Ou pode protegé-lo de desgastes qi ele pode ser preservado das chuvas, do s. Em suma, sendo o machado a unidade sintérica entrea p ideagio e a natureza, sua evolugio é determinada tanto pelo: processos naturais quanto pelo seu uso pelos A evolucio do machado — ou, mais precisamente, a histéria dele — néo pode jamais ser controlada de forma absoluta pelo seu criador. Por mais que o individuo cuide da sua ferramenta, s mesmo oposto — Aquele desejado. O mi que ele seria mais n de novas possibilidades jamais poderia suspeitar. (Quantas vezes nés nos deparamos, nas nossas vidas, com quéncias de nossas agdes que jamais imagi ynsequéncias podem ser boas ou ruins, aqui no importa. O que importa que toda agio huma uma histéria prépria, que evoluem € sentidos que nao podem jamais ser completamente previstos ou controlad produzindo consequéncias inesperadas. Essa independéncia da realidade frente & conscién daquela porcao da realidade produzida pelos homen: Inmmooucdo A uotona oe Manx 31 que todos 0s nossos atos constroem objetos que sio distintos de nds e de nossas consciéncias. Esses objet rolug: Prépria porque neles aruam causas a eles inerentes ¢ que impul- sionam seu desenvolvimento. No caso do machado, essas causas naturais (0 apodrecimento da madeira, 0 envelhecimento da pedra) somadas a causas sociais (a forma como 0 machado utilizado etc.). Outras vezes, como quando se trata das lutas de asses, elas sio exclusivamente sociais."4 Em outras palavras, a ideia que objetivada se transforma em objeto. O novo objeto se converte em parte da causalidade ¢ passa a sofrer influéncias e a influenciar a evolucio da realidade da qual € parte. Ao fazé-lo, é submetido a uma relacéo de causas efeitos que impulsionam a sua evolugao com autonomia frente & consciéncia que o idealizou. Ha, assim, a esfera subjetiva, a consciéncia e, de outro lado, © mundo objetivo. Este tiltimo evolui movido por causas que Ihe séo préprias. Essa esfera puramente causal é denominada, por Lukics, causalidade, ow seja, algo que possui um princfpio pré- prio de movimento. Sua evolugao acontece na absoluca auséncia de consciéncia, ainda que a consciéncia, por meio da objetivacao, possa interferir em sua evolucéo. Quantas vezes, por exemplo, 2 interven¢ao humana nao destruiu uma parte da natureza? Mas isco a que a existéncia da nacureza dependa da Acigot, a natureza ¢ mesmo anterior & consciéncia © machado, ao ser transformado de ideia em matéria, foi inserido em uma cadeia de causas e efeitos (a causalidade) que passa entao a influenciar a sua hiscéria mesmo que disso os homens io tenham consciéncia, ou a tenham apenas parcialmente. Em outras palavras, ideia e causalidade, consciéncia ¢ objetos pro- duzidos pelo trabalho sio ontologicamente distintos e, pc produtos resultantes do trabalho humano tém inesperadas para a histéria. O mesmo podemo A ideale, p. 30-313 Mare, O capt lz I. 3. pp. 150-153. 32 Sexcio Lessa ¢ 0 Tas sociais, elas alteram 0 mundo dos homens, dando origem a novos processos sociais que possuem consequéncias futuras que em alguma medida, so casuais Resumo D0 caetruto 1D Ideia e matéria sio qualitativamente distintas. Jamais uma serd.a outra. A ideia, a0 se objeti je ser ideia e se converte em matéria. A matér ada pela nsciéncia, € convertida em ideias Tl) A matéria se distingue da conscincia p air em si propria suas causas, seus principios de n ¢ de evolugio. Por isso, Lukscs, para diferencié-la da prévia-i mina salidad IID) Os objetos criados Iho se originam da objetiva so de prévias-ideagées. Contudo, ao se objetivarem as prévia ideagbes, o objeto produzido ¢ inserido na cadeia de causas que rege 0 setor da realidade ao qual pertence, ¢ sua evolucao passa a ser determinada também por essas causas. Do mesmo modo, sua aco sobre a evol realidade, seja ial ou natural, se dard de modo puramente causal TV) O fato de ideia e matéria serem ontologicamente distintas nao impede as ideias de exercerem forca material na transforma do mundo dos homens. Ao se con em “forca material ideias jogam um papel objetivo na histéria. Ve uidado ao tratarmos oda qualquer so. Por i lem de uma enorme simpli servi como int qe nfo ae refer tora

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