Você está na página 1de 76

NOEMI MARLENE BUBANZ

COMO SE CONSTRÓI A ADAPTAÇAO ESCOLAR NAS CRIANÇAS QUE


FREQUENTAM AS INSTITUIÇOES DE EDUCAÇAO INFANTIL

RESUMO

A adaptação escolar na educação infantil, visto como forma de isenção


social tem como objetivo central que as creches e pré – escolas constituam-se em
espaços de socialização, em que favoreçam-se a construção e a reconstrução
democrática das regras, da autonomia, da cooperação, da solidariedade, da
singularidade, lugar de confronto e solução para as dificuldades encontradas,
espaço possível para a construção de identidade.
Os educadores devem planejar e organizar momentos em que as crianças
possam interagir, trocando idéias, compartilhando e construindo regras. Valorizando
a história e os espaços físicos dentro e fora das instituições, as comemorações, as
atividades culturais e os passeios podem ser usados como estratégias que ampliam
as integrações sociais, realizadas com as crianças do mesmo grupo etário ou com
todo o coletivo das instituições.
Cumpre-se destacar que as dificuldades só são encontradas e os avanços só
são conquistados quando se toma a decisão política de enfrentar os desafios de
uma adaptação escolar vista como um processo de construção coletiva.
Dedicatória

“A todos que acreditam


e aceitam as crianças como cidadãos e sujeitos de
sua própria história”
Todas as vezes que olhar para uma criança, levante

seu pensamento em ação de graças a Deus, que

jamais abandonaria seus filhos.


Agradecimentos

Nesta etapa e caminhada da minha vida agradeço a todos que não mediram

esforços para tornar este momento mais “leve” para mim, dividindo comigo as

dúvidas, angústias e ansiedades. É gratificante podermos contar com pessoas que

nos apóiam e nos amparam durante a nossa existência.

Não poderia igualmente deixar de agradecer a Deus por ter me dado forças,

fé, saúde, persistência e muita coragem para vencer mais esta caminhada.

Agradeço eternamente a meus pais Alcídio Bulianz (in memorian) e Leonida

Ema Bulianz que durante a minha vida foram exemplos sem par de vencedores.

Aos demais familiares que sempre me apoiaram e incentivaram com palavras

de ânimo, dando-me força para chegar no final deste curso: meu reconhecimento.

Aos amigos, professores e a todos que de uma ou de outra maneira me

ajudaram a aprimorar a construção de meus conhecimentos.


Um agradecimento em especial, muito, muito especial a meu filho Maurício

Manoel, que sempre aceitou minha ausência e soube compreender essa etapa de

nossa vida.

Muito obrigada.

Noemi Marilene Bulianz


1. INTRODUÇÃO

Considerando a escola de educação infantil um espaço próprio para

adaptação escolar, procura-se valorizar o processo educacional, como forma de

promoção humana e social. Capaz de proporcionar ao indivíduo em

desenvolvimento integral com ritmo próprio e harmonia perfeita.

A adaptação é uma modificação do comportamento do indivíduo para

responder aos estímulos do meio onde ele se encontra, crítico entre os desejos da

criança e os limites que o convívio social impõe. O desenvolvimento das crianças

podem ser melhorado a medida que ocorrer cooperação entre família e escola.

O período da adaptação escolar contribui para que o educador posa definir,

seus objetivos, metas, tematizações e organização de tempo e espaço. Observa-se

e acompanha-se os processos de adaptação em escola de Educação Infantil da

rede pública, procurando identificar as reações das crianças no diferente momento

de sua adaptação. Analisando os dados coletados conclui-se que a escola deve ser

um ambiente onde a criança sinta-se segura e amada, para que assim possa

desenvolver-se plenamente. A escola deve proporcionar um ambiente afetivo,

através das atividades propostas, a criança interaja com o seu grupo e o meio em

que passa a conviver.

Torna-se necessário repensar o agir pedagógico da educação infantil,

tornando criativo, flexível atendendo à individualidade do coletivo.


Dessa forma, a escola deve propor situações e significado para criança. O

professor passa a levar em conta que cada criança tem uma forma específica de

pensar e que cada uma tem uma maneira individual de compreensão.

Paralelamente, a própria educação esta em plena mutação, as possibilidades

de aprender oferecidas pela sociedade exterior à escola multiplicam-se em todos os

domínios, exigindo que os seres humanos consigam adaptar-se as mudanças

introduzidas pela evolução obrigatória da sociedade.

Convivendo também com pessoas diferentes, em diferentes espaços, com

novos ritmos, pessoas estas com diferentes expectativas, o ser humano necessita

de adaptar-se no meio que esta inserido, vista as exigências da sociedade.

Na fase escolar isto não é diferente, tanto para o professor como para o aluno

e seus familiares. Nesta fase confronta-se com nova realidade, que exigem o

enfrentamento destas questões.

Na maioria das vezes a adaptação escolar só é considerada em relação ao

aluno, não leva-se em conta a sua repercussão nos comportamentos dos

professores e no clima psicopedagógico e pedagógico da instituição escolar, sem

refletir sequer em relação a sua interação social.

A adaptação é uma modificação comportamental do indivíduo para responder

aos estímulos do meio em que está, permitindo a criança viver numa sociedade,

adquirindo valores, normas e condutas que a sociedade transmite. Elas são

necessárias para que a criança ajuste seu modo de viver de acordo com as

necessidades e limites estipulados pelo ambiente em que ela virá a conviver. É

importante que a criança conheça este ambiente, sinta confiança e segurança com

as pessoas e o lugar em que está inserida.


Esta pequena busca em conhecimentos em relação ao processo de

adaptação escolar nas creches e escolas de educação infantil. Através de

pressupostos que contribuam na compreensão do entendimento de como se

constrói este processo.

Sabe-se que os seres humanos são sujeitos reativos e participantes em

qualquer processo de interação social. Assim o ensino não será eficaz se o aluno é

simplesmente visto como um cliente, ao qual a mercadoria “educação” é passada

sem qualquer relação de interação.

Mas a educação formal somente poderá cumprir seu papel quando valorizar a

autonomia do indivíduo ao encontro social, que se dará através do reconhecimento

de sua identidade. Neste sentido procura-se fornecer dados fundamentais para o

desenvolvimento de uma consciência ao mesmo pessoal e social.

Através do processo de adaptação o sujeito está em constante construção e

reconstrução de sua história, marcada por diferentes perspectivas de abordagem

como: a do sujeito no mundo social, entre a diversidade de corrente de

pensamentos. Essa diversidade de visão e orientação pode estar predispondo

diferenças de pensamentos e ações, despertando reações adversas e construindo

uma personalidade crítico-reflexiva, por isso apresenta-se uma proposta de

adaptação escolar que contribua para fundamentar a construção da autonomia do

sujeito na sociedade que ele está inserido.

Nesta pesquisa destaca-se a reflexão sobre a infância e as diferentes

concepções sobre a mesma e os significados atribuídos à ela que vão resultando em

processos de construção social. Também enfatizam-se a importância dos

profissionais das instituições infantis, sendo que para o docente complete a difícil
tarefa de efetivar o processo de adaptação escolar. Destaca-se também nesta

pesquisa a importância do conhecimento da história da educação infantil.

Sabe-se que faz pouco tempo que as instituições de educação infantil

deixaram de ser mero assistencialismo para tornar-se um espaço educativo

preocupado com a formação da criança.

Apresenta-se assim, algumas sugestões metodológicas, que com certeza

poderá contribuir com os demais profissionais de educação infantil, no sentido de

compreender a importância do processo de adaptação escolar e refletir sobre a

construção deste processo.


CAPÍTULO 1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1.1 PROBLEMA

Como se constrói a adaptação escolar em crianças que freqüentam as

Instituições de Educação Infantil?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL

Verificar como se constrói a adaptação escolar nas crianças de ambos os

sexos nas escolas de Educação Infantil e creches.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Evidenciar importância da adaptação das crianças das Escolas de

Educação Infantil e Creches para todos os envolvidos na mesma.

- analisar as metodologias e didáticas utilizadas pelos professores na

adaptação escolar nas Escolas de Educação Infantil e Creches na

perspectiva de conferir sua coerência ou incoerência.


- elaborar um embasamento teórico-prático sobre adaptação escolar

nas Escolas de Educação Infantil e Creches.

1.3 ABORDAGEM GERAL DO PROBLEMA

Muitas crianças na faixa etária de zero à seis anos têm dificuldades de

adaptar-se ao ambiente escolar. Na medida que ingressarem nas escolas de

Educação Infantil ou Creches estas dificuldades manifestam-se, tornando difícil a

adaptação.

A adaptação é uma modificação de comportamento aos estímulos do meio

em está criança. São fenômenos que implicam no ajuste de seu modo de viver, às

necessidades e limites estimulados pelo ambiente em que ela está inserida. É

importante que a criança conheça este ambiente (meio), sinta confiança e segurança

em relação as pessoas e lugares que passa a conviver.

Portanto, centraliza meus estudos nesta pesquisa na verificação das

reações das crianças da Educação Infantil e Creches, mediante o ambiente, os

valores, normas e rotina escolar, podendo estas serem de aceitação ou de rejeição.

Acreditando que a criança é capaz de adaptar-se e entender de forma mais ampla e

concreta o mundo que a rodeia, desde que a ela seja dada oportunidade, apoio e

estímulos para isso.


1.3 PRESSUPOSTOS

Vai depender da criação de um ambiente de confiança, de dar e receber

carinho, atenção, pois a separação do ambiente familiar, mesmo sendo temporário,

cria um sentimento de desintegração, curiosidade e em alguns casos pânico.

As crianças interagem criativamente mediante a ação, quando partilham

atividades, assumem problemas ou conflitos que os tornam desafios comuns ao

grupo.

As ações educacionais através do lúdico e criativo favorecem a adaptação

escolar.

O uso do objeto – transitório é um instrumento que auxilia na adaptação

escolar na escola de Educação Infantil ou Creches.

Orientam e definem objetivos, princípios, metas, tematizações e organiza o

tempo e o espaço educacional na Educação Infantil e Creches.

1.4 JUSTIFICATIVA

As dificuldades encontradas em crianças de ambos os sexos, em idade de

creche e escolas de Educação Infantil em seu processo adaptativo e como este

processo se constrói motivaram a realização desta pesquisa.

A criança chega na creche ou na escola por volta de dois anos, ou nos

primeiros meses de vida, bastante ressabiada.Que diabo de lugar é esse? Cadê o


pai? Onde está a mamãe? O que faço com essa gente toda? Ela chora, esperneia

se isola.

Para que haja adaptação ao novo, a nova realidade da creche ou escola de

Educação Infantil, todos os indivíduos envolvidos no processo educativo deverão

estar comprometido com o mesmo, sobrepondo – se às crises do ensino, magistério

e das instituições. Portanto, uma das primeiras justificativas do presente estudo é

centralizar a atenção para a revisão do dinamismo psicológico da adaptação escolar,

bem como para as relações funcionais existentes entre interação, experiência e

processo centrais de controle social destacando a repercussão das expectativas e

da imagem do processo pelo aluno e vice – versa, bem como de seus familiares e

ambiente escolar (creche).

A separação do ambiente familiar mesmo sendo temporária, cria um

sentimento de desintegração, curiosidade e pânico. Mas as crianças mesmo com

pouca idade são capazes de opções próprias, e vão interagindo criativamente,

quando encontram problemas ou conflitos que se tornam desafios comuns. Nessa

consiste essencialmente a ação educativa que deve ser favorecido por atividades

lúdicas e a oportunidade de ocorrer a adaptação.

Como profissionais da educação temos o compromisso de procurar

recursos para tornar a adaptação um momento de crescimento e de prazer, não

doloroso para as crianças que estão iniciando nas escolas de Educação Infantil ou

Creches e ter clareza de como o mesmo se constrói.

Considerando a escola de Educação Infantil e Creches constitui-se num

espaço propício para a adaptação escolar, pois através desse espaço busca-se a

valorização do processo educacional como forma de promoção humana e social


capaz de proporcionar ao indivíduo um desenvolvimento integral com ritmo próprio e

harmonia familiar.

Para Yanto necessita-se de uma revisão sobre as metodologias dessas

instituições, o problema da adaptação torna-se uma exigência das políticas atuais da

Educação Infantil. A apropriação de brincadeiras orientadas de forma integrada

podem contribuir para o desenvolvimento da capacidade infantil em relação

8interpessoal de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação,

respeito e confiança.

O período de adaptação escolar contribui para que o educador possa definir

objetivos, metas, tematizações e organização de tempo e espaço escolar, durante o

ano letivo.

O ingresso na Educação Infantil ou Creches representa um desafio para a

capacidade de adaptação da criança, e é preciso considerar os pais ou

responsáveis, os professores e os funcionários como também a afetividade,

percepção, comunicação interpessoal e os demais elementos que se envolvem

neste processo de construção da adaptação, sendo a criança o principal ator deste

processo.

3.1 Tipologia da Pesquisa

A monografia está consolidada como pesquisa bibliográfica, uma vez que a

delimitação do tema abrange somente pressupostos teóricos.

Nesse sentido procurou-se enfatizar uma abordagem teórica paritada em

diversos autores, delimitando o referencial teórico.


A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado,

construído principalmente de livros e artigos científicos.

A pesquisa bibliográfica procura explicar um problema na partir de referências

teóricas publicadas.

O domínio dos autores podem ajudar na criatividade do pesquisador que por

meio deles, chegamos a saber o que se produziu de importante sobre o nosso

objeto de pesquisa e sobre os avanços realizados a respeito dele. Segundo

SANTOS, 2000: 27, “A pesquisa bibliográfica consegue colocar a nossa frente a

paixão por nosso objeto de investigação apontando-nos os autores envolvidos como

horizonte de nosso interesse”.

Entende-se assim que uma boa base teórica é o alicerce para que possamos

olhar os dados levantados, além do que a realidade nos mostra simplesmente.


CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 UMA VISÃO DE INFÂNCIA E AS CONCEPÇÕES DE CRIANÇA AO


LONGO DA HISTÓRIA

Manuel Sarmento, ao pensar sobre as crianças e da condição social da

infância, afirma que as condições de nascer a de crescer, diferentes de criança para

criança, saliento que o mundo da infância aparece invadido pela morte, pela

injustiça, pela doença, pelo desconforto e pela violência. (SARMENTO, 1997, pág. 1

– 2).

Somente com a Constituição Federal de 1988 e mais tarde em 1990 com a

implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990 com a lei de

Diretrizes e Bases, a criança no Brasil torna-se “Objeto da legislação” sob um viés

diferenciado das legislações anteriores. Portanto, os direitos sociais e essenciais das

crianças são reconhecidos como inertes às crianças, atualmente a criança no Brasil

é reconhecido como sujeito social de direito e que creches e pré – escolas devem

ser garantidos à todos, enquanto for dever do estado e opção da família.


“Aos olhos dos jesuítas recém – chegados às Índias então descobertas, não

só o cenário carecia de ordem que exprimisse a marca civilizatória da metrópole na

colônia, mediante a instalação de vilas, elevação de capelas e semeadura dos

campos, mas as almas indígenas deviam ser ordenadas e adestradas para receber

a semeadura da palavra de Deus. Transformação da paisagem natural e também

transformação dos nativos em cristãos; esta ra a missão.” (DEL PRIERE, , 1996, pg.

10 e 11).

Muitas são as concepções de infância geradas por características sociais,

políticas, econômicas e culturais específicas em diferentes lugares e tempos. No

século XX, intensificaram -se estudos científicos sobre a criança em diferentes

campos dos saberes, entre eles a psicologia, a antropologia, a sociologia, a história.

A história referencia a infância em todos os tempos e lugares mostrando que a

criança era parte da sociedade, mas sua participação na mesma foram diferente

conforme a época e as formas de organização social. A visão de infância é, portanto

uma construção social e histórica.

Por volta de 1549, chegaram no Brasil quatro padres e dois irmãos

pertencentes à Companhia de Jesus, chefiado pelo Padre Manoel da Nóbrega,

conjuntamente com o primeiro governador geral Tomé de Souza. Logo começaram a

escrever seu apostolado, Vicente Rodrigues encarrega-se pelo ensino dos meninos,

tanto no doutrino como na ciência, ensinando-os a ler e escrever. Menos de um ano

depois, o padre Navaro já se encontrava em Porto Seguro, ensinando a ler e fazer

orações para as crianças.

Os padres jesuítas preocupam-se com a conversão geral, mas o ensino das

crianças foi as primeiras e principais preocupações dos mesmos. Esta tarefa


também foi vislumbrada por D. João III, ao regimento do governador Tomé de

Souza, determinava o doutrinamento dos meninos, para a formação de uma

manipulável de mão-de-obra.

O ensinamento das crianças indígenas dispensava muita mão-de-obra pelos

padres da Companhia de Jesus, pois os meninos das aldeias eram enormes. O

ensino dos meninos ensejou a organização de uma estrutura que permitisse

viabilizar o aprendizado e, conseqüentemente a catequese das crianças indígenas e

dos filhos de portugueses. Tal variedade de alvo de aplicação de conteúdos, ou seja,

criança indígena, mestiça e portuguesa caracterizou-se como problema para os

jesuítas.

As variáveis e interesses econômicos distintos entre os tipos de alunos, eram

responsáveis pela redução de instruídos, na medida em que estes cresciam, pois os

escravos e indígenas cabia o trabalho logo cedo e aos outros a continuidade dos

estudos para o exercício de cargos de liderança. Os ensinamentos eram realizados

nas casas e em muitas delas ocorriam a reunião de padres mais instruídos para

estudos específicos de gramática. Decorre daí a criação de casas de colégios com

ensinamentos específicos de forma a atender a necessidade de cada região.

A exclusividade deste ensino não era só dos jesuítas.A Ordem dos Frades

Menores se ocupavam também de conversão no século XVI, e também do ensino

dos filhos dos portugueses. A Companhia de Jesus criada na primeira metade do

século XVI, com a finalidade única de ter característica missionária, com o passar do

tempo foi se transformando numa ordem docente.

A formação de uma criança tinha também uma preocupação pedagógica, que

era de transforma-las em indivíduos responsáveis. Humanistas europeus como


Erasmo e Vicente Vives já tinham dado as pistas desta “educação básica“ afirmando

que desde cedo, a criança devia ser valorizada por meio da aquisição dos

rudimentos de leitura e da escrita, assim como das bases da doutrina cristã que a

permitissem ler a Bíblia em cartilhas de alfabetização e ensino da religião eram

comumente usadas, quando nos estudos a nível público. Objetivaram sedimentos na

criança o trabalho que já deveria ter sido feito pela mãe, na primeira fase de sua

vida, sendo enfatizados conteúdos que dizem respeito a vida espiritual.

No cotidiano colonial o castigo físico não era novidade, pois já haviam sido

introduzidos no século XVI pelos padres jesuítas.

No século XVII, as crianças eram vistas como adulto em miniatura. A duração

da infância correspondia ao período em que a criança dependia do adulto para

sobreviver. Muitos não sobreviviam e morriam, quando sobreviviam passavam a

viver em comum com os adultos, participando dos trabalhos, jogos e nas festas.

Tendo por base a idéia de adulto em miniaturas, afirmava-se a idéia de

criança, principalmente o bebê como um ser incompetente e passivo e por meio de

progressões mais ou menos lineares, torna-se um organismo competente. Neste

período a preocupação em prever e acelerar o desenvolvimento da criança é mais

importante do que realmente a de compreender como ele se processa. Ainda uma

outra concepção de infância apareceu no final do século, onde a criança começa a

ser vista com diferenças ao adulto, organizada e competente, com necessidades,

motivos e interesses próprios.

Os índios mantinham uma experiência diferenciada de tratar as crianças (os

curumins), sendo que nas comunidades indígenas tratavam as suas crianças com

muito respeito. A integração entre os indígenas começa desde cedo, onde os


adultos construíam brinquedos como miniaturas de animais, arco e flechas, criavam

situações para momentos de iniciação utilizando rituais de pintura de festas, de

dança, de lutas que diferenciavam uma tribo indígena da outra.

“Melhor então investir nos ‘curumins’ nos ‘meninos da terra’, nos ‘indiozinhos,

filhos de gentios’, que de mãos dadas com os órfãos portugueses enviados para

auxiliar os irracionais, encontrariam a ambígua nota e seus miméticos habitantes,

formando um exército de pequenos – Jesus a pregar, e a sacrificar-se entre as

‘brenha’ e os sertões, para a salvação e conseqüente adestramento moral e

espiritual destas Índia do Brasil,” (PRIORE, 1996. pg. 12)

Com a chegada dos Portugueses e das missões Jesuíticas, outros valores

foram impostos para os índios e suas crianças. Os curumins a partir dali foram

catequizados, através de ensinamento do latim, dos cantos e orações da religião

católica. Os jesuítas usavam as crianças como um instrumento de dominação dos

indígenas. As crianças órfãs européias que aprendiam o “tupi – guarani” para serem

intermediárias nas relações entre jesuítas e as crianças indígenas.

PRIORE (1996) descreve que nos sermões, José de Anchieta enfatizava que

o amor de pai devia inspirar-se naquele amor divino, no qual Deus ensinava que

amar é castigar e dar trabalhos nesta vida”. Vícios e pecados, mesmo cometidos por

pequeninos, deviam ser combatidos com açoites e castigos. O autor cita ainda que a

partir da segunda metade do século XVIII, com o estabelecimento das chamadas

Aulas Régias, a palmatória era o instrumento de correção por excelência: “nem a

falta de correção os deixe de esquecer do respeito que devem conservar a quem os

ensina”, cita um documento de época. Mas, ressalvava, endereçando-se aos

professores: e tão somente usarem dos golpes das disciplinas ou palmatórias


quando virem que a repreensível preguiça é a culpada dos seus erros e não rudez

das crianças, o cúmplice da sua ignorância.

O lazer nas escolas jesuítas ficava por conta dos banhos de nós e pela

apreciação do correr das argolinhas, penduradas em árvores ou postes, brincadeiras

da tradição lusa antiqüíssima. As brincadeiras eram conduzidas pelos padres e seus

alunos, tais como: o jogo do beliscão, o de virar bundacanastra, o jogo de

peiaqueimada, além de ritmos, cantos, mímicas feitas de trechos declamados e de

movimentação aparentemente leve, mas repetidora de um desenho invisível e de

uma lógica misteriosa e mecânica. Piões, papagaios de papel e animais, gente e

mobiliário reduzidos, confeccionados em pano, madeira ou barro, eram os

brinquedos preferidos.

não deixa de ser verdade que nos é difícil encontrar, nesse tipo de material, traços das
alegrias e penas dos escravos ou dos vínculos que estes estabeleciam com o seu Deus ou
com seus Orixás, com seus parentes, seus amigos ou mesmo seus inimigos. Sua palavra
torna-se volátil, seus gestos desvanecem-se no anonimato reduto da escravidão.O que se
pode então dizer das crianças escravas que são duplamente mudas, e duplamente escravas,
uma vez que, geralmente, entende-se que todo escravo, mesmo adulto, é criança para seu
senhor, menos perante a lei e eterno catecúmeno para a Igreja?” (MATTOSO, 1996, pg. 77)

Outra cultura que foi suprimida foi a das crianças negras. Como eram

escravos, não podiam expressar seus sentimentos e desejos, eram propriedade dos

senhores de engenho. As crianças negras valiam como futura força de trabalho,

produto de comercialização e posteriormente geradores de novos escravos.

Passavam a trabalhar nos engenhos e nas tarefas domésticas desde as mais ternas

idades, os mesmos deveriam adaptar-se as regras dos dominantes, não era

permitido ao negro ir as escolas.

Os filhos dos senhores de engenho eram definido em um papel social: os

filhos eram chamados de ”sinhozinhos”, tinham acesso ao letramento e aprendam a


serem futuros “senhores”, dando continuidade ao legado da família. As filhas,

camadas de “sinhazinhas” destinava-se as prendas da domésticas, mantendo

interrupta a idéia da mulher como esposa e mãe. Algumas tinham acesso a leitura e

a escrita.

Nesta época existia muito desrespeito com as diferenças em virtude das

relações de poder como gênero, classe e etnia.

As crianças começavam timidamente a ter relevância social e política

somente a partir do século XVIII, portanto recentemente elas passaram a fazer parte

da história. A família começa a se organizar em torno da criança e lhe dar

importância, que a criança saiu do seu antigo anonimato, que se tornou impossível

perde-la ou substituí-la sem uma enorme dor, que ela não pode mais reproduzida

muitas vezes, e que se tornou necessário limitar seu número para melhor cuidar

dela.

Mediante a Proclamação da República, a urbanização, a Revolução Industrial

e a exploração de mão-de-obra barata utilizando-se do trabalho infantil e feminino e

as mudanças nas estruturas, marcaram momentos de grande transformação na

sociedade brasileira e mundial.

“É comum considerar-se o trabalho como elemento da integração social do

individuo. A criança, também, irá, paulatinamente, receber as demarcações jurídicas

que nortearão a utilização de sua força de trabalho no mercado. Alguns juristas

afirmam que a primeira medida trabalhista que orientou os limites do trabalho do

menor data de 1825, através de um projeto de decreto elaborado por José Bonifácio

de Andrada e Silva, proibindo aos escravos menores de 12 anos, o trabalho

insalubre e fatigante”. (POSSETTI, Edson 1996, pg. 147).


Com o acentuado aumento de crianças desamparadas fez com que a

sociedade e o Estado criassem múltiplas instituições de amparo a essas crianças.

Durante muito tempo utilizou-se a “roda dos expostos, Casa do Exposto ou Depósito

dos enjeitados”. Estas instituições também eram mantidas pela caridade pública e

sob a responsabilidade das Irmandades de Misericórdias. A roda de exposto, como

ficou conhecida, era uma espécie de asilo, depósito para as crianças abandonadas,

sendo caracterizada principalmente por ser o local onde acontecia o abandono.

Roda de expostos era o nome dado a um dispositivo, por onde eram introduzidas as

crianças para a irmandade cuidar, ocultando a identidade de quem as abandonava.

Este dispositivo era um cilindro de madeira vazado, que produzia um movimento

rotativo, daí o nome “roda dos expostos”. As crianças eram recolhidas pelas

instituições que passam a ter a guarda das mesmas e através de uma série de

normas e poder de decidir seus destinos.

Ser crianças no Brasil, hoje e nunca no decorrer da história foi fácil. A

realidade em que vivem não são as adequadas às necessidades básicas da vida

infantil. A infância é encurtada principalmente pelas crianças mais pobres, ficando

muitas vezes ao cuidado dos mais velhos, de visinhos, parentes ou o que é pior e

muito freqüente abandonados à sua própria sorte, isto tudo em virtude de formas de

governar voltado somente para os mais privilegiados da sociedade.

O menor, vivendo sob o impacto da marginalização, tem como causa maior

de sua situação, entre, “causas múltiplas”, a desorganização familiar. É uma questão

social, vista que “constitui-se família sem a menor preocupação com a estabilidade

conjugal”. A defesa da família como valor universal passa a ser a única solução para

se chegar ao patamar do bem – estar, “procurando a melhor distribuição de bem,


pois que a distribuição de misérias não leva a nada que preste”. (PASSETTI. 1986,

pg. 153).

Enfrentando a vida muito cedo, sem as mínimas estruturas afetivas,

emocionais e de conhecimento da realidade, para lutar pela sobrevivência e ajudar a

família. Passam a marginalidade e são explorados pela sociedade, pois a lei não é

respeitada e nem cumprida. Não tendo acesso a escolas, alimentação, saúde,

habitação e outras necessidades essenciais para a sua sobrevivência com o mínimo

de dignidade e igualdade. Com as crianças não tão pobres e bem como as mais

ricas, ocorre geralmente o contrário do que descrevemos acima; as mesmas

recebem todos os cuidados necessários para o seu pleno desenvolvimento o que

deveria ser o direito de todas as criaturas humanas.

O estatuto social da criança e adolescente que entrou em vigor no dia 5 de

outubro de 1988, e a criança passou a representar um investimento necessário para

que um projeto de nação se concretizasse no futuro, nesta nova fase, propondo uma

visão de criança como sujeito de direito.

A educação brasileira vem passando atualmente por transformações

intensas, em conseqüência das transformações econômicas, políticas e sociais a

nível mundial, isto força também uma mudança nas concepções de infância, hoje

considerada uma importante etapa no processo de construção de cidadania. Nos

últimas décadas os termos “creche e criança” são objetos de discursos sociais,

sendo redigido um novo modelo de atendimento as crianças. Foram muitas as

evoluções, podemos destacar alguma como a infância protegida pela família e pela

sociedade, onde as crianças tem cuidados especiais. Num mundo à parte com suas
próprias roupas, alimentação, brinquedos, escolas, porém ainda acompanhado de

um controle rígido, numa relação ao adulto.

Considerada uma das mais avançadas, a legislação específica para a criança

no Brasil, não tem garantido que na prática seus direitos sejam respeitados. Como já

mencionado anteriormente em nosso país ainda as crianças são exploradas com

força de trabalho. A violência também esta presente nas relações familiares ou

institucionais por meio do abuso sexual. Para MOTT “mais grave ainda, para a

opinião pública, são as relações sexuais envolvendo o homem adulto com meninos

ou adolescentes” cada vez mais comuns em nossos dias, punições, discriminações,

privações de liberdade, negligências de cuidados, segregação dos portadores de

necessidades educativas especiais e portadores de H.I.V.

A indústria cultural, utilizando muitas técnicas para induzir as crianças a

reproduzirem os valores capitalistas. A criança é incitada ao consumo, sendo alvo de

propagandas, dos apelos sexuais e da erotização precoce, reproduzindo modelos

estereotipados que as transformam em mercadoria. Esta industria cria necessidades

de consumo e estabelece comportamentos que atendam a lógica do mercado. É

necessário uma ruptura em relação a dominação da indústria cultural, passando pela

conscientização dos adultos e que implica em um compromisso social de mudança.

Os significados atribuídos à infância são resultados de um processo de

construção social, de um conjunto de possibilidades que se conjugam em

determinado momento da história, são organizados socialmente e sustentados por

discursos nem sempre homogêneo e de transformação, são modelados nas

relações de poder e representam interesses manifestados pelo Estado, igreja,

sociedade civil. As mudanças impulsionadas pelas novas configurações da


sociedade e de família que se organizam e se consolidam nas instituições

educacionais modernas entre elas, aquelas encarregadas das crianças pequenas.

Sintetizando o que foi relacionado podemos afirmar que atualmente a criança

que gera à seis anos é curiosa, investigativa e tem questionamentos e necessidade

de responder ás questões sobre o mundo que os cerca. Ela tem conhecimento

acumulados através de diferentes experiências que vivência no cotidiano, através da

relação com outros e com os objetos e tem condições específicas e diferenciadas,

relacionados as características de cada faixa etária e sua vivência cultural.

Ao nascer, a criança se relaciona com o seu meio físico e social,

estabelecendo vínculos afetivos com a mãe ou com quem cuida dela. O mundo se

descortina para a criança ingressar no mundo da cultura. Ao entrar no espaço

institucional da educação infantil, a criança amplia a possibilidade de contatos

diversificados frente ao novo meio.

A criança constrói sua identidade no contato com o meio, na construção do

grupo a que pertence, na relação com os conhecimentos e valores, para conhecer o

mundo é importante a proximidade com o outro adulto e criança, maiores ou

menores, que são parceiras indispensáveis nesta tarefa, pois é no processo de

interação que se alicerça o seu desenvolvimento.

2.2 PROFISSIONAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Considerando a complexidade da educação infantil e o processo de

adaptação, pensa-se que é importante uma discussão sobre a questão do

profissional das creches e escolas de Educação Infantil. A qualificação do


profissional da Educação Infantil tem se tornado um dos temas atuais

freqüentemente discutido dentro das temáticas relacionados aos cuidados,

educação e formação de crianças de zero a seis anos.

Devemos nos desfazer do concebido que para trabalhar com crianças das

instituições infantil sejam necessários somente ser mulher e gostar de criança, isto

contribui para que os papéis sejam confundidos e associados a parentesco sejam

internalizados na ligação as crianças como por exemplo, referir-se as educadoras

como “tias”.

Paulo Freire refere-se as “tias” em professora sim, tia não (pg. 25.) a tentativa

de reduzir a professora à condição de tia é uma inocente armadilha ideológica em

que, tentando-se dar a ilusão de adocicar a vida da professora o que se tenta é

amaciar a sua capacidade de lutar ou entende-la no exercício de tarefas

fundamentais. Entre elas, por exemplo, a de desafiar seus alunos, desde a mais

terna idade, através de jogos, de estória, de leituras...”

O mesmo Paulo Freire defende a idéia que tios, tias, professoras e

professores, todos nós temos direitos ou dever de lutar por nós mesmos, de optar.

Porém professora é professora e tia é tia. É possível ser tia sem amar seus

sobrinhos, sem gostar sequer de ser tia, mas não é possível ser professora sem

amar, só, não basta-se sem gostar do que se faz. Não é possível também ser

professora sem lutar por seus direitos para que seus deveres passam ser

cumpridos.

Deveria ser maiores as discussões em relação a preparação dos profissionais

que trabalham com crianças de zero a seis anos. A nível nacional a Educação

Infantil tem-se iniciado várias discussões e vem-se ganhando novos espaços, graças
a muitos movimentos liderados por educadores e pesquisadores, buscando um

melhor desempenho para os profissionais destas instituições. O profissional deveria

assumir cada vez mais a postura de sujeito participante do processo, estar

consciente que é preciso ser possível mudar.

A formação permanente fará com que os profissionais da Educação Infantil,

busque as melhores metodologias para utilizar no seu trabalho com as crianças, sua

prática dependeria principalmente da concepção de homem e de mundo, de uma

postura frente a educação.

O profissional deve ver a criança como sujeito do processo educacional. Ter

bom senso, firmeza, carinho nos momentos em que as relações sociais e hábitos

estão sendo adquiridos e construídos, entender o crescimento de seu esquema

corporal e o desenvolvimento motor respeitando suas fases e suas individualidades.

O profissional deverá estabelecer uma relação de igualdade entre ela e a criança,

construir uma metodologia onde o professor tenha capacidade de oportunizar

situações de uma relação profissional x criança, sincera, verdadeira onde o vínculo

seja de confiança, com cumplicidade e transparência, fortalecendo a relação que se

estabelece entre sujeitos.

Inseridas em um contexto em que apenas recentemente a creche é

reconhecida no campo da educação, a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação – lei 9394196 – as educadoras de creches e escolas de

Educação Infantil vem construindo as suas referências sobre o trabalho, ao mesmo

tempo em que as creches e as escolas de Educação Infantil se constituem em

instituições educativas.
Devemos refletir sobre o processo de formação continuado vivenciados pelas

educadoras de creche e Educação Infantil, a formação para os trabalhos nestas

instituições envolve uma série de questões relacionadas à própria definição da

identidade do profissional das mesmas. Trata-se de uma atividade que, ao longo das

últimas duas décadas, tem sido alvo de debates mais amplos que envolvem as

questões da identidade das próprias instituições, anteriormente vinculadas à

assistência social, o campo da educação não apresenta tradição voltada nem para o

atendimento em creches e escolas de Educação infantil, bem como para a formação

do profissional para atuar junto as mesmas que atendem as crianças em período

integral.

Trata-se de uma temática a ser discutida, às voltas com definições básicas

que permitam indicar os cominhos da formação e as possibilidades de

profissionalização e estabelecimento de carreira nos sistemas de ensino.

Através da formação dos profissionais de creches e Educação Infantil

constituindo processos complexos de aprendizagem e de inserção em um novo

universo de relações com incidência tato na vida particular quanto nas relações de

trabalho que fazem parte destes educadores.

A medida que os profissionais avançam na compreensão dos diversos

elementos presentes na prática profissional, eles passavam à questionar a própria

postura e as construir uma percepção de que sua atuação se distância de uma

prática, que se limita a tomar conta da criança para uma que é a marca por toda a

vida, quando se assume a tarefa de educar e buscar conhecimento.

Novas propostas deverão ser lançadas e estar voltada as creches e

Educação Infantil e fundamentar-se na “Proposta Política da Educação Infantil” do


MEC e no Referencial Curricular Nacional 0para Educação Infantil, da SEC, esta

estabelece diretrizes buscando sempre um investimento qualitativo. Nesta

perspectiva, é preciso definir como prioridade a formação continuada, visando com

isto elevar os padrões de qualificação destes educadores que atendem as crianças

na faixa etária de zero a seis anos e bem como a redefinição de seu perfil com base

sólida de formação cultural e política e de competência.

A formação continuada ou em serviço, considera-se que essa formação não

se constrói por acumulação de cursos, conhecimentos ou técnicas, mas através de

um trabalho de reflexão crítica sobre sua prática e de construção permanente de

identidade pessoal, consideramos importante investir a prática como lugar de

produção do saber.

Para PIOGET (1974) “a formação de professores é longa e complexa. Nesse

processo, julga fundamentais quatro pontos: primeiro, é importante o professor

tomar consciência do que faz ou pensa a respeito de sua prática pedagógica;

segundo, ter uma visão crítica das atividades e procedimentos na sala de aula e dos

valores culturais de sua função discente; terceiro, adotar uma postura de

pesquisador e não apenas de transmissor; e quarto, ter um melhor conhecimento

dos conteúdos escolares e das características do desenvolvimento e aprendizagem

de seus alunos”.

Partindo dessas premissas deve-se traçar ações que levem os profissionais a

buscar a socialização de informações e conhecimentos em pesquisa, articulando

suas ações pedagógicas como mediação de uma prática reflexiva, ampliando assim,

as possibilidades de trabalhar junto e em prol das crianças.


Sendo assim a principal função do educador é o de ser o mediador entre a

criança e as experiências que irão compor o ambiente educativo da instituição por

ela freqüentada, para ser um mediador os educadores das creches e Educação

Infantil, os mesmos necessitarão atender os desejos e anseios das crianças,

oportunizando-lhes experiências significativas, organizando um ambiente acolhedor

e desafiador, que propicie a exploração da curiosidade infantil incentivando o

desenvolvimento das potencialidades físicas, sócio – afetivas, intelectuais, éticas,

possibilitando o desenvolvimento do senso crítico e da progressiva autonomia da

criança.

O nosso olhar para essas educadoras constitui-se a partir de uma concepção

nas diversas relações de que participam. Assim procura-se compreender as

relações entre a trajetória dos profissionais, a atividade profissional que exercem e a

inserção em projetos de formação profissional, sendo essencial que os educadores

de creches e Educação Infantil busque nesta trajetória “o prazer” no trabalho de

educador mediador e transformador que realizam. Considera-se da maior

importância o papel do profissional desta instituição creche e escola de Educação

Infantil que deixar já tardiamente o de ser monitor, crecheira ou pajem, para o de ser

professor, com a formação exigida para atuar na primeira etapa da educação básica,

tem como função principal a de educar. Por sua natureza e características, esse

professor se diferencia dos demais na medida em que ajuda a criança a se inserir na

cultura e a produzir conhecimentos, sendo o mediador desse processo. Para tanto, é

necessário abandonar as formas de trabalho adulto centrico, criando um coletivo em

que o diálogo pedagógico seja um instrumento muito importante.


Certamente é possível pensar e desejar um profissional capaz de se fazer

presente em todos os momentos, em todos os tempos e em todos os espaços da

infância, deverá ter um preparo e propósito especial, porque para a infância, se

exige o melhor que dispomos, como não poderia deixar de ser, novo papel que vem

sendo construído para a educação infantil traz uma nova visão de criança e também

uma nova concepção de profissional. Um dos primeiros documentos produzidos

nessa década pelo MEC, que estabelecidas as diretrizes da proposta de política de

Educação Infantil (MEC,1994), antes mesmo da LDB, já apostava a valorização do

profissional para a melhoria da qualidade do atendimento.

Na LDB, no artigo 87, parágrafo 4º, aponta que, até o fim da década da

Educação (dezembro/2007), somente serão admitidos professores com habilidade

em nível superior ou formados por treinamento em serviço. Entretanto, ainda que a

lei maior mencione estes aspectos, temos a considerar que o nível de formação dos

docentes das creches e pré – escolas já existentes é extremamente desigual,

pensando-se o país, o estado no seu conjunto, e isto não pode ser esquecido neste

período de transição. É necessário que os critérios e diretrizes fixadas por esta

resolução sejam trabalhados e implantados de maneira fundamentada, embora

flexível, para que possam batizar a passagem do real para o ideal possível.

O trabalho docente, para atendimento específico. Será qualificado com a

intervenção de equipe multiprofissional, composto por orientador educacional,

supervisor escolar, professor de educação física, de educação artística, psicólogo,

assistente social, psicopedagogo, médico, enfermeiro, nutricionista, dentista e

outros. Este apoio poderá ser estabelecido através de convênios ou acordos

institucionais conforme as condições e possibilidades, afirma-se assim. A


necessidade de integração das dimensões de assistência social e de saúde e da

educação.

O artigo 164 da LDB estabelece “(...) a formação de profissionais de

educação para a administração, planejamento, inspeção, supervisão e ou orientação

educacional para a educação básica, será feita em curso de graduação em

pedagogia ou em nível de pós – graduação...”. Desta forma, as mantenedoras que

oferecem nos seus estabelecimentos de ensino outros níveis de educação básica –

além da educação infantil – devem ter em sua equipe diretiva no mínimo um

profissional com formação específica, responsável pela educação da criança de zero

a seis anos de idade.Cabe também destacar o artigo 67 que, em seu parágrafo

único, alerta “A aparência docente é pré – requisito para exercício profissional de

qualquer outra função do magistério, nos termos, das normas de cada sistema de

ensino.”

2.4. A CRIANÇA NA INSTITUIÇÃO INFANTIL – TEMPO DA


ADAPTAÇÃO

“A separação dos pais ou daquela pessoa que é a sua principal fonte de

atenção torna as crianças pequenas freqüentemente muito infelizes. Elas muitas

vezes se sentem abandonadas, deixadas de lado e desprezadas. Elas podem se

sentir amedrontadas, como também muitas vezes, enraivecidas. As crianças, as

vezes, gritam e choram. Atiram coisas. Batem nas outras crianças. Tentam bater no

professor. Elas batem, dão pontapés. Deitam no chão e têm crise de mau humor.
Às vezes, a situação é bem diferente. A criança entra na sala como se fizesse

parte dela, como se tivesse ido lá milhões de vezes antes. Ela toca no equipamento.

Brinca com as outras crianças. Acena alegremente para seus pais se despedindo

deles.” (BALABAN, 1985 pg. 13 e 14).

Durante a realização desta fundamentação teórica emergiram elementos

relacionados ao processo adaptativo, antes passados despercebidos. Ao nascer, a

criança entra em um mundo cuja sua construção não participou e dá início as

relações sociais com outros indivíduos. Se nos colocarmos do ponto de vista dos

bebês, veremos que, para eles, o “paraíso” foi perdido, há necessidades urgentes de

adaptação ao desconhecido, saciar a fome, por exemplo, a pequena criatura

humana está a mercê dos fatores externos para suprir todas as suas necessidades

físicas e afetivas.

O bebê e sua mãe não mais formam uma unidade, estando agora separados,

neste primeiro momento da vida a mãe tem o principal papel em relação ao bebê,

neste momento acontecem as primeiras e essenciais adaptações ao meio que o

mesmo está inserido. Serão incontáveis as adaptações que os seres humanos irão

necessitar passar no decorrer de sua vida.

A primeira relação do ser humano será no grupo familiar e posteriormente

outros grupos sociais entre eles a escola ou creche. A adaptação é um processo de

preparação para viver em um mundo social regido por normas, valores, modos de

representar objetos e situações que compõe a realidade. A adaptação está

relacionada às condições objetivas de cada indivíduo.

A preocupação deste capítulo é o de falar da adaptação das crianças de

ambos os sexos nos seus primeiros tempos de creche ou escola. Novos amigos,
novos espaços, novas professoras, novos ambientes, novos ritmos, novas

expectativas. Tempos vivenciados por muitos, as lembranças por vezes boas ou

não, período em que as instituições de Educação Infantil não dão atenção e a devida

importância.

A adaptação deve ser vista como um tempo de conquista, o ingresso de uma

criança na escola ou creche, principalmente quando trata-se da primeira vez, marca

o início de um processo rico e contínuo, o progressivo crescimento da criança como

um indivíduo autônomo. Implica novas posturas dos pais, conquistas para as

crianças e um atento trabalho pedagógico dos educadores conforme BIZZO, “as

crianças que tiveram a sorte de ter uma mãe segura, carinhosa e não castradora,

tem sempre melhores condições de enfrentar um ambiente novo sozinha”. (1982, pg.

312). Muito mais que acompanhar este processo, os pais muitas vezes são tomados

por sentimentos de insegurança provocada pelo desconhecido. Pois a partir daquele

momento serão outros adultos que irão conviver com as crianças durante grande

parte do dia. As crianças (seus filhos) viverão uma nova experiência de não ter

exclusividade, que acontecia anteriormente em casa. Os professores e monitores

irão dividir suas atenções com diferentes crianças.

A adaptação acontecerá rapidamente para algumas crianças, para outras

acontecerá aos poucos, ainda algumas levaram mais tempo, dificilmente acontecerá

a não adaptação, os desafios são superados e todos conseguem sucesso.

De modo qual os conceitos de adaptação encontrados nos dicionários de

psicologia destacam as modificações comportamentais do indivíduo para responder

aos estímulos ambientais e ajustar-se ao meio, resultando daí a sua adaptabilidade,


ou seja “a capacidade de responder às situações ambientais e dar respostas

apropriadas às circunstâncias em mudanças”. (NOVAES, 1976, pg. 17).

Os objetivos das creches e escolas de Educação Infantil ampliam-se a cada

ano que compõe a seqüência desse nível de ensino. Seus objetivos são

basicamente a “construção de indivíduos felizes e capazes de estabelecer uma

relação prazerosa com o conhecimento”.

O primeiro desafio para as instituições infantis, sem dúvida é a adaptação de

todos os envolvidos no processo. Os educadores buscam “sentir” o grupo, identificar

características com as quais irão trabalhar e procurar facilitadores da convivência

em grupo.

“Aqui, nas primeiras idas para a escola, está uma oportunidade perfeita para

se ensinar. A autoconfiança segue de separações bem conduzidas. As crianças que

são protegidas pelos seus professores e pelos pais quando se afastam de casa têm

chance de se dirigirem com medo para o mundo do ensino e de crescimento”.

(BALABAN, 1985, PG. 32).

A rotina da cada dia deverá ser bem determinada, obedecer o horário faz

parte da organização da convivência em um grupo social. A noção de tempo vai

sendo incorporada: ontem, hoje, amanhã, agora, mais tarde, daqui mais um pouco...

A brincadeira é a vida da criança, é condição indispensável para o seu

desenvolvimento. E é por meio das brincadeiras que procura entender o mundo em

que estão inseridas, concretizar a vivência das fantasias e encontrar soluções para

seus problemas.

Brincar é uma realidade cotidiana na vida da criança, e para que elas brinquem é suficiente
que não sejam impedidas de exercitar sua imaginação. A imaginação é um instrumento que
permite às crianças relacionar seus interesses e suas necessidades com a realidade de um
mundo que possuem para interagir com o universo dos adultos, universo que já existia
quando elas nasceram e que só aos poucos elas poderão compreender. A brincadeira
expressa a forma como uma criança reflete, ordena, desorganiza, destrói e reconstrói o
mundo a sua maneira”. (PROFESSOR da Pré – Escola, 1991, pg. 86).

Conquistar a autonomia pela criança é uma preocupação e desafio das

creches e escolas de Educação Infantil e sua admissão é iniciada desde muito cedo.

É preciso que se estabeleça uma sintonia entre pais e as instituições de Educação

Infantil, na qual a contribuição de cada um seja acolhida e respeitada em benefício

do bem – estar e do crescimento da criança.

Desde que as mulheres passaram a ter o seu trabalho fora de suas casas,

certamente para contribuir com o orçamento doméstico, as creches e escolas de

Educação Infantil, tornaram um apoio importante para os pais deixarem as suas

crianças durante o dia, ou parte dele, nestas instituições. Esse recurso é tão, ou

muitas vezes mais valorizados que as avós ou outras pessoas, parentes,

empregadas e babás para cuidar das crianças na ausência dos pais.

A adaptação da criança está muitas vezes na dependência da orientação da

educadora, que deverá conhecer suas necessidades básicas, suas características

evolutivas e ter informações quando aos aspectos da saúde, higiene e nutrição

infantil, sendo assim a adaptação e a socialização da criança desenvolver-se

harmoniosamente adquirindo superioridade sob o ponto de vista da independência,

confiança em si e seu rendimento intelectual.

Os casos de dificuldade na adaptação advindo de problemas emocionais são

muitas vezes comuns, alunos que sofrem angústias, depressão, inibições,

insegurança e sentem-se inferiores, são agressivas com o ambiente, vivendo

conflitos familiares paralelos. A ansiedade de um aluno pode advir de exigências

excessivas do ambiente, como sentimento de solidão, isolamento ou de bloqueio de


comunicação que desencadearão dificuldades de relacionamento e de

aprendizagem, deverão receber atenção especial.

“As crianças se comunicam conosco através de seus olhos, tom de suas

vozes, postura de seus corpos, seus gestos, seus mecanismos, seus sorrisos, seus

pulos para cima e para baixo, sua desatenção. Elas nos mostram, através da

maneira pela qual fazem as coisas, assim como através daquilo que fazem o que

está acontecendo dentro delas. Quando chegamos a ver o comportamento das

crianças através do significado que as coisas têm para elas, dentro para fora,

estaremos no caminho certo para compreende-las.” (COHEN; STEM, com

BALABAM, 1985, p. 5).

O início do processo de adaptação de um grupo ou de uma criança em uma

creche ou escola de Educação Infantil é sempre um momento delicadamente

especial. Momento onde o educador necessita concentrar suas energias para dois

pontos essenciais de seu trabalho: a construção da rotina e do vínculo. A

necessidade de delimitar as atividades, objetivos, regras, compromissos de cada um

para com as tarefas, organização do tempo, espaço e materiais. Bem como a

construção do vínculo, significa assumir seu papel de autoridade (aqui autoridade

não sugere autoritarismo) e de modelo para a criança, autoridade que centraliza

intervenções encaminhamentos para o favorecimento da construção do

conhecimento e dos sujeitos, em um clima de cumplicidade e respeito e confiança.

Para NOVAES “[...] a socialização não é apenas uma convivência pacífica

entre as diversas pessoas, mas a influência mútua, por meio da qual todos se

modifica, e ao se modificarem, contribuem para o enriquecimento a si mesmo.”

(1976, p. 30)
São muitas as sutilezas do processo de adaptação às creches e a Educação

Infantil, portanto é fundamental que os primeiros dias sejam bem planejados para

que a criança e sua família se sintam bem acolhidos. Quando esse processo for

positivo traz desenvolvimento para a criança, bem como o bem – estar de sua

família. Também torna-se interessante o papel da família neste processo, mesmo a

família democrática, onde os pais adotam práticas disciplinares como a explicação e

o reforço positivo, evitam os castigos físicos e solicitam a participação das crianças

nas decisões da família, certamente essa criança se tornaria competente e

independente, com uma alta estima e equilíbrio emocional surpreendente. Pais

autoritários, através de punições, tornarão seus filhos de pais democráticos terão

facilidade de adaptação nas instituições de ensino.

As creches e escolas de Educação Infantil representam um desafio para

capacidade de adaptação das crianças. Neste processo é preciso considerar que

educadores, pais (e ou responsáveis) funcionários das instituições e não somente as

crianças fazem parte do mesmo. Conforme AMORIM, (1990) “De modo bastante

peculiar que a criança se relaciona e se percebe no mundo. A natureza, bichos e

objetos são personagens importantes, quanto as pessoas. E entre todos esses

corpos a mistura é livre para curvar-se a sua vontade.”Assim a criança constrói o

conhecimento conforme estabelece relações e interações com outras pessoas e

objetos.

“O desenvolvimento conjuntivo da criança, é, inicialmente determinado por

processo biológico e guiado subseqüentemente por interações sociais com adultos,

que iniciam e medeiam pelas interações sociais, o desenvolvimento das habilidades

conjuntivas.” (VYGOTSKY, 1989, PG. 79)


O desenvolvimento da identidade e da autonomia, estão intimamente

relacionada com os processos de adaptação e socialização. Nas interações sociais

se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com as

outras crianças e com os adultos, contribuindo para sua aprendizagem.

Muitas vezes nos processos de adaptação, muitas crianças isolam-se dos

demais.

O isolamento da criança é prejudicial a ela mesma, pois é no intercâmbio com

o grupo que ela da sua contribuição e ao mesmo tempo recebe informações que são

relevante ao seu aprendizado.

São muitos os fatores que podem levar uma criança ao isolamento dentro da

escola, fazendo com que ela não estabeleça este intercâmbio de informações. À

origem deste isolamento pode estar muitas vezes na família: a criança foi sempre

reprimida, teve poucas oportunidades de manifestações em casa viu-se

freqüentemente relegada a um segundo plano, nunca foi considerada como um

membro efetivo do grupo familiar. Além dos problemas familiares as experiências da

criança em termos de relacionamento com outras crianças da mesma idade podem

ter sido poucas ou negativas, levando a criança a fechar-se em si mesma. O

aspecto social também é importante, a criança pode fazer parte de um grupo

destinado em sua comunidade.

Infelizmente algumas escolas reproduzem as condições sociais. Aquela

criança que tende a isolar-se, este isolamento costuma ser reforçado pelas escolas

ou creches. Os colegas geralmente procuram relacionar-se com outras crianças que

são “mais dadas” mais extrovertidas. O professor em geral tende a solicitar mais a
participação daqueles alunos dados à participação, quanto mais a criança participa

mais lhe são oferecidas oportunidades para que intensifique sua participação.

Para superação do isolamento de uma criança exige-se um trabalho conjunto

escola – família. No dia-a-dia da escola ou creche, a superação do isolamento d

uma criança quando professores e alunos mudarem de atitude. Ao mesmo tempo

em que se procura refrear um pouco os mais extrovertidos é preciso criar um

ambiente que estimule a participação dos mais inibidos. É necessário estimula-los a

falar, brincar tomar parte ativa das atividades propostas, programas, atividades

conjuntas, criar um clima agradável e sem repressão as expressões individuais

desses alunos.

Sabemos que todos nos possamos constantemente por situações adaptativas

no decorrer da nossa existência não somente quando enfrentamos nossas primeiras

adaptações institucionais, devemos ter bem claro que as adaptações acontecem a

cada instante e são constituintes da nossa vida, temos necessidade de enfrentar

novidades, ver as mudanças como algo positivo que nos levará ao crescimento. A

psicologia de Piaget já dizia que é necessário haver uma mudança, um desequilíbrio

nas estruturas do pensamento para haver aprendizagem.

Portanto para que o processo de adaptação escolar se concretize com êxito,

como uma etapa importante do processo educacional não basta somente

planejamento é preciso também profissionalismo e humanismo, por parte dos

educadores e contar com o respaldo e apoio por parte da família das crianças que

integrarão e freqüentarão as instituições de Educação Infantil.


2.5 CONSTITUINDO A ADAPTAÇÃO: UM PROJETO COLETIVO

Inúmeras discussões tem se realizado no Brasil nos últimos anos, acerca das

metodologias de adaptação escolar, mas muitos estudos e pesquisas ainda serão

necessárias para melhorar consideravelmente este processo que é fundamental

para o desenvolvimento de todas as crianças e indivíduos envolvidos no mesmo, e

quando não tem estruturados deixaram marcas irreversíveis e se acentuaram

certamente problemas afetivos, conjuntivo e social.

Faz-se necessário termos bem claro que existem vários tipos de relações

sociais, baseado em Piaget estas relações são: a coação e a cooperação. A coação

é uma relação dos indivíduos no qual um elemento de prestígio ou autoridade

(autoritário) intervém em suas decisões, tendo o indivíduo pouca participação

racional na produção, conservação e divulgação das idéias. Corresponde a um nível

baixo de socialização, aceita a verdade imposta, leve ao empobrecimento das

relações sociais representando um freio ao desenvolvimento da inteligência. Reforça

o egocentrismo. A cooperação é uma relação onde o ser humano constitui-se

enquanto tal na sua relação com o outro. Enquanto a coação fornece um modelo,

um conteúdo a ser seguido, a cooperação fornece um método. Piaget concorda com

DURRHEIM, quando afirma que a educação moral age na participação social da

criança. Somente a moral da cooperação permite a autonomia necessária a

construção e consolidação do mundo democrático.

Cada instituição de Educação Infantil deverá planejar esse processo de

adaptação de acordo com as concepções de educação e de criança, que direcionam

sua prática e realidade de cada instituição, portanto cada instituição tem uma forma
específica de acolher as crianças e os pais. Algumas escolas planejam o processo

da adaptação com muito cuidado, outras não prestam e não dão a devida atenção a

esse período. No entanto, o processo de adaptação ao ambiente escolar tem

características específicas, que estão relacionados a fatores como: idade,

maturidade e a satisfação das necessidades das crianças e de sua família, e a

relação desta com a instituição.

Objetiva-se neste capítulo chamar a atenção dos profissionais das instituições

infantis para a importância do planejamento da inserção da criança e sua família no

ambiente escolar. Bem como fornecer algumas metodologias e técnicas que

poderão auxiliar a efetivação do processo adaptativo.

“As crianças vão se sentir estranhas num grupo novo que é diferente de seu

grupo familiar e no qual elas não tem um “status” especial. Poucas pessoas sabem

os seus nomes. Ninguém sabe se elas gostam de sorvete de creme ou de chocolate

ou que as amedronta ou acalma. Ninguém realmente gosta ou não delas de alguma

maneira especial. Não têm o seu lugar natural nesse grupo, mas vão ter que

conquistá-lo através de seu comportamento. Embora elas ainda não saibam disso, é

provável que o sintam.”(BALABAN, 1985, pg. 17)

São vários os fatores que podem criar angústias, ansiedades e dúvidas, tanto

para a criança como para a sua família, no momento da transiçãao da casa para a

escola ou creche. Pesquisas apontam a necessidade de pensar e planejar uma

inserção gradativa da criança no ambiente escolar e, conseqüentemente, um

afastamento gradativo do ambiente familiar, com o objetivo de tornar esse processo

o mais tranqüilo possível para todos e de criar um ambiente em que a criança e seus

familiares sintam-se confiantes e respeitados.


“As crianças e as escolas oferecem, com freqüência, períodos curtos que são

aumentados gradativamente durante a primeira ou as duas primeiras semanas do

programa, para ajudar a entrada na escola e a separação. Ao estabelecer um

horário para uma entrada gradual, lembre-se de que as crianças que estão

retornando podem precisar de menos tempo para se acomodarem do que as

crianças que estão chegando pela primeira vez.”(BALABAN, 1965 PG. 106 E 107).

A necessidade da inserção paulatina também esta relacionada com a

quantidade de elementos novos que vão aparecer na vida da criança: pessoas

(adultas e crianças), espaço físico, rotina e atividades.

Outra forma de inserção é a participação estruturada da família no processo

de adaptação, bem como o vínculo que a escola e em particular a professora

estabelecer com a família, esta parceria entre família e professora é importante para

a formação da criança. No período de adaptação, o professor tem um papel

fundamental por muitas razões, uma delas será que a família vai reconhecer a figura

do professor (profissional) como o adulto que vai cuidar e satisfazer as necessidades

da criança no espaço escolar. Durante os primeiros dias o professor vai começar a

entender as crianças, começando desde os cuidados básicos como ir ao banheiro,

tomar água, muitas vezes com a presença dos pais estas tarefas poderão ser

realizadas por eles e o professor poderá dar um enfoque especial para atrair as

crianças para as atividades planejadas. Os pais devem reforçar isso, ajudando a

fortalecer o vínculo d confiança da criança /professor, pois o mesmo ainda é um

desconhecido para a criança. Trabalhar a parceria com os pais pressupõe a

definição de um espaço de ligação entre a família e a escola. Quando os pais e

escola trabalham em conjunto, a escola aparece para os pais como um espaço que
vai ampliar e complementar a tarefa deles em relação a educação de seus filhos e

não como espaço que vai suprimir seu papel pelo do educador. É importante que a

escola seja apresentada para os pais tal como ela é, sem criar expectativas que não

correspondem à realidade das instituições. Esta apresentação poderá ser feita no

momento da entrevista de matrícula ou reunião de pais para informações sobre a

instituição, abrindo espaço para que os pais se conheçam e compartilhem certezas e

suas dúvidas.

A família deve ser informada sobre os limites de sua participação no processo

adaptativo, isso significa que deve saber o que é de sua competência e o que é da

competência da instituição escolar e dos professores. Os pais que não podem

participar da adaptação por questão de tempo, devem ser informados sobre a

importância de sua presença, principalmente no primeiro dia, caso não possam

participar, podem ser substituídos por uma pessoa de confiança da criança, que

também deve receber as orientações da instituição escolar.

“No entanto a maioria das crianças reagem de alguma maneira forte a novos

ambientes, ainda que esta reação possa não ser revelada. Parece até que as

crianças realizam um trabalho mental e emocional para absorverem e

compreenderem a ambientação de um romance.

As crianças precisam avaliar o ambiente humano assim como o ambiente

físico quando entram numa nova sala de aula. O professor torna-se uma fonte de

curiosidade e profundo interesse. Elas pensam: Será que o professor fala a minha

língua? O professor é da minha cor? Algumas maneiras de agir ou atitudes do

professor me são familiares? As reações do professor ao meu comportamento são

iguais às reações de meus pais?”(BALABAN, 1985, pg. 15).


As crianças entram pela primeira vez num ambiente e num grupo social com

características diferentes do ambiente e do grupo familiar, sendo que essas

diferenças abrangem desde o espaço físico e a rotina das atividades até o tipo de

relação que pode estabelecer.

Para que esse processo não provoque angústias, devemos planejar como

vamos apresentar a escola para a criança, também para a criança a escola deve ser

apresentada como realmente é, com o objetivo de não fortalecer falsas expectativas

e evitar que a criança vivencie frustrações.

O professor nos seus planejamentos pode incluir na rotina passeios pela

escola para que o gripo tenha a oportunidade de conhecer e familiarizar-se com o

espaço físico, integração com as outras turmas são importantes, pois a criança terá

contato com outras crianças e professoras da escola, o uso dos espaços

principalmente o externo para atividades em conjunto com as outras turmas podem

ser usados para fortalecer e facilitar o processo.

Uma rotina bem estruturada desde os primeiros dias é fundamental para que

a criança se sinta segura. É interessante que desde o início a criança em contato

com a rotina comum para escola, embora ela possa ser flexível, pois toda a rotina é

possível e passível de alterações para melhor atender as necessidades da criança.

Ressalta que, cada criança e cada família tem seu próprio tempo para adaptar-se ao

espaço da escola, a sala, a rotina, aos colegas e aos professores. Há crianças e

família que precisam de estratégias e tempos específicos que podem ser criados em

conjunto pela escola e família.

Algumas estratégias específicas para melhorar e facilitar o processo serão

sugeridas a seguir: bebês deverão ter sua rotina semelhante a de suas casas, a sua
adaptação poderá ficar comprometida se forçarmos uma rotinamuito diferente de

sua casa. Devemos evitar que a criança oponha resistência a mudanças súbitas,

utilizando métodos de transição gradual. É aceitável o uso de objetos transicionais

(pedaço de pano, cobertor...) ou brinquedo de sua preferência para facilitar o

processo.

“... porque temos muitas crianças em salas que trazem para a escola pedaços

de coberta, animais de pano esfarrapados e rasgados panos velhos ou outros

objetos “aconchegantes”. Talvez se lembre de ter tido você um desses objetos. De

alguma forma essas coisas parecem fazer com que as crianças se sintam bem,

como se elas levassem um pouco de suas casas para a escola. As crianças

parecem atribuir qualidades especiais aos objetos que lhes tranmitem segurança e

dota-los de importantes poderes.”(pg. 49).

Aos dois anos de idade é considerado por muitos como a idade mais difícil

para a adaptação, nesta idade as crianças estão mais afeiçoadas a mãe, por isso

custa-lhe deixa-la. Muitas vezes é preferível que outra pessoa a acompanhe à

escola, em vez da mãe, nesta idade a adaptação efetua-se através de “pessoas”.

Sugere-se que a acolhida seja feita por uma educadora que se conserve junto dela e

a ajude a iniciar a sua atividade. As distrações ajudam em relação a algumas, outras

precisam de uma formula simples, cada vez, por exemplo, “vamos ver o passarinho”

entre outras. Chamar a criança pelo nome pode ser de um auxílio, nesta idade um

meio para facilitar o processo e se utilizar dos espaços ao ar livre, brincar na areia

desperta grande interesse nas crianças. No início podem chorar, mas em geral

param de chorar depressa, logo que lhe despertem e mantenham o seu interesse

em algo.
Nos três anos é a primeira idade em que a criança presta tanta atenção às

como a educadora, nesta idade as crianças se adaptam facilmente, quando

apresentarem problemas de adaptação são de fácil controle e podem ser utilizados

para isto o brinquedo predileto e as “surpresas”. Procura a ajuda de algum amigo

para ajuda-lo a solucionar algum problema que não consegue resolver sozinho e

bem como buscar a educadora para ajuda-lo.

A partir de quatro anos surgem problemas de adaptação, não são proviniente

de que a criança tenha dificuldades em separar-se da mãe, mas sim, dela ter outros

interesses alheios à escola e não querer por isso permanecer ali como as crianças

são agora maiores é importante que cada uma delas ao chegar à escola seja

recebida de forma que tome em consideração a sua própria individualidade. Gostam

que lhe dêem logo alguma ocupação. Podemos ajudar as crianças com dificuldades

de adaptação deixando-as trazer de casa alguma coisa que possam mostrar as

outras crianças ou partilhar com o grupo. Se a dificuldade consiste em separar-se de

seus pais, também podemos ajuda-las com qualquer sugestão como “vamos dizer

tchau e depois vamos acenar da janela”.

Se o programa da creche ou pré – escola incluírem almoço e seste para

crianças bem pequenas, é melhor que estas atividades sejam preferencialmente

introduzidas uma de cada vez. Pois o fato de comer e dormir, para as crianças

pequenas, são lembranças fortes de suas casas, os seus sentimentos são, muitas

vezes, ativados neste momento. Se os pais acompanharem as crianças que forem

almoçar na escola nos primeiros dias e quando forem sestear na escola nas

primeiras vezes, isso vai avaliar a ansiedade das crianças. As crianças muitas vezes

têm medo de dormir num ambiente que não lhes é familiar. Elas talves relutem por
deixar o controle que têm quando estão acordadas. Muitas crianças precisam se

sentir muito seguras antes de abrir do controle e adormecer.

A escola que tem conhecimento da importância especial que a comida e o

sono têm para as crianças fará o possível para facilitar o crescimento destas

crianças de terem um agir independente.

A escola é um espaço de vivências, onde se ampliam as possibilidades de

contatos diversificados, onde se estabelece outros vínculos e relações de grupo, que

contribuem na formação da própria identidade, onde é fundamental que se promova

aprendizagem diversificadas com acesso do mundo físico, social e desenvolver

noções sobre o real. A escola deverá ser um espaço onde se compartilhem

experiências e se desenvolvam atitudes e valores como respeito, colaboração,

solidariedade entre outros. A creche e a pré – escola, como instituições

educacionais, além de possibilitar o brincar, de enriquecer e diversificar as

interações sociais, constitui-se também em um espaço em que a criança entrará em

contato com conhecimento, ampliando e sistematizando o mesmo, favorecendo o

seu desenvolvimento global.

Gostaria de sugerir algumas informações que poderão melhorar e facilitar o

processo adaptativo.

1. A decisão de colocar seu filho na escola deve resultar de atitude

pensada consciente e segura;

2. A vinda da criança para a escola deve ser preparada; entretanto,

evitar longas explicações para ela, pois isso pode despertar

suspeitas e insegurança;
3. A separação, apesar de necessária, é um processo doloroso tanto

para a criança quanto para os familiares, especialmente a mãe, mais

é superado em pouco tempo;

4. Cuidados devem ser tomados nesse período de adaptação em

relação a: troca recente de residência, retirada de chupeta ou fralda,

troca de mobília do quarto da criança, perda de parente próximo ou

animalzinho de estimação;

5. O choro na hora da separação é freqüente e nem significa que a

criança não queira ficar na escola;

6. A ausência do choro não significa que a criança não esteja sentindo

a separação. Não force com violência e ansiedade a criança a ficar

na escola;

7. Evite comentários sobre a adaptação da criança em sua presença;

8. Cabe à mãe entregar a criança ao educador, colocando-a no chão e

incentivando-a a ficar na escola. Não é recomendável deixar o

educador com o encargo de retirar a criança do colo da mãe;

9. Nunca sair escondido do filho, despeça-se naturalmente;

10. A sala de atividade é um espaço que deve ser respeitado e a

presença da mãe, além de dificultar a compreensão da separação,

fará as outras crianças cobrarem a presença de suas mães;

11. Incentivar a criança a procurar a ajuda do seu educador quando

necessitar algo, para que crie um laço afetivo com ele;


12. Lembre-se que o educador atende às crianças em grupo,

procurando distribuir sua atenção igualmente, promovendo junto

com a mãe a integração da criança;

13. Se os pais confiam na escola, sentirão segurança na separação e

esse sentimento será transmitido à criança, que suportará melhor a

nova situação;

14. O período de adaptação varia de criança para criança, é únic e deve

ser avaliado individualmente;

15. Os pais deverão evitar interrogatórios sobre o dia da criança na

escola;

16. Poderão ocorrer algumas regressões de comportamento durante o

período de adaptação, assim como alguns sintomas

psicossomáticos (febre, vômitos, etc);

17. È comum verificar-se nessa fase uma ambivalência de sentimentos.

O desejo de autonomia da criança e a necessidade de proteção

ocorrem simultaneamente;

18. Cuidado com a aparente adaptação. Os pais devem respeitar o

período estabelecido pela escola.

Buscando aumentar a autonomia das crianças pode-se lançar mão da

interdisciplinaridade lúdica nas pré – escolas e creches, assim melhorar a qualidade

de ensino, como educadores comprometidos com a formação dos indivíduos e

levando-se em conta os aspectos emocional, moral, intelectual e social vê-se a

necessidade de planejar e executar um trabalho educativo – formador que não se

atrele ao atraso cultural, da evasão escolar e do analfabetismo. Tem-se a certeza


que é preciso mais material ou jogos ou boas intenções é preciso um projeto

educativo elaborado com responsabilidade, coerência, criatividade isso pode ser

traduzido pela interdisciplinaridade.

“... uma atitude diante de alternativas para conhecer mais e melhor, atitude de

esperar ante os atos consumados, atitude de reciprocidade que impede a troca, que

impele ao diálogo – ao diálogo com pares idênticos, com pares anônimos ou consigo

mesmo – atitude de humildade diante da limitação do próprio saber, atitude de

perplexidade ante a possibilidade de desvendar novos saberes, atitude de desafio –

desafio perante o novo, desafio em redimensionar o velho – atitude de envolvimento

com os e com as pessoas neles envolvidos, atitude, pois, de compromisso em

construir sempre da melhor forma possível, atitude de responsabilidade, mas,

sobretudo, de alegria, de revelação, de encanto, enfim de vida”.(FAZENOTT, Ivani,

1988, pg. 82).

Este projeto deverá favorecer e desenvolver práticas interdisciplinares, dentro

de uma proposta construtivista e sócio – interacionista, de modo objeyivo e criativo.

Oferecendo à criança o máximo de oportunidades de desenvolvimento sócio –

afetiva e conjuntiva, sempre de maneira prazerosa e lúdica. Bem como dar à criança

oportunidade de errar e acertar e que ela possa se desenvolver em uma totalidade.

Aprendizagem na idade de zero à seis anos é essencialmente lúdica, indo

sempre da fantasia à realidade e vice – versa. Considerando a criança de forma

integrada, como um ser global onde o conjuntivo, afetivo e simbólica são

inseparáveis, que agem, pensa, sente e represente sempre fazendo ligações com o

meio físico e humano cabe à escola criar situações onde ela interaja, coordene suas

ações, construindo significados partilhados, com troca de experiência,


esclarecimentos de idéias, fazendo relações e conexões, expresse seu pensamento,

observe, deduza, discorde, isto é, seja “sujeito” na construção dos conhecimentos e

habilidades. Na interdisciplinaridade o conhecimento não é comportamentalizado,

tem seus aspectos culturais, sociais e informativo intimamente ligados entre si, não

se valoriza ou prioriza uma atividade ou área de conhecimento, mas seja

aproveitada na sua totalidade, efetivando-se assim uma busca de conhecimento

mais lógico, atrativo e prazeroso e de fácil assimilação pelas crianças.

Na interação com o grupo, com os instrumentos metodológicos, com material

e espaço, o professor deve desenvolver atividades que permitam às crianças

adquiram conhecimento de várias áreas de forma integrada, onde o produto de uma

atividade seja o início de outro processo – elo de ligação – onde nenhum conteúdo

fique fora de um contexto, perdido, e onde a criança tenha também seu espaço de

brincar, ficar só, observar, divagar, criar. O educador só entra neste mundo mágico

da criança se também se deixar envolver pelo lúdico e prazeroso, de cada atividade

em curso, dispor-se a experimentação, que é seu compromisso com o futuro no

presente da sala de aula, e terá habilidade de transmitir, que é seu compromisso

com o passado no presente com as coisas que não se pode esquecer.

O educador deve ser integrante do processo educativo, mediando, sugerindo,

organizando, motivando a cooperação, a iniciativa, a autonomia, propondo situações

e servindo de alavanca no processo de construção e descoberta. A intervenção

pedagógica se justifica, e até o atendimento individual, se necessário, pois, segundo

Vigotsky, “o desenvolvimento real é aquele que a criança dispõe para solucionar

problemas com seus próprios recursos, o desenvolvimento potencial é aquele que a

criança alcança solucionando problemas com a ajuda de colegas e com a ajuda da


professora. Para que as intervenções pedagógicas promovem o desenvolvimento do

aluno de seu nível real para seu nível potencial, as propostas para situações de

aprendizagem deverão atuar na zona de desenvolvimento proximal, que esta

inserida entre os dois níveis descritos. Isto promoverá desequilíbrios naquilo que o

aluno já pode estruturar e o fará avançar a partir de suas próprias investigações.”

Não podemos esquecer o saber familiar, sua cultura, sua realidade são

excelentes pontos de partida para sondagem de temas, início ou finalização do

trabalho, e sua valorização só vem enriquecer e legitimar o processo pedagógico. O

grupo deve exercer a autodisciplina: levantar regras comum que, depois de

discutidas e aprovadas por ele, serão obedecidas por todos, isto tem o objetivo não

só de organização do grupo no convívio social enquanto escola, mas também na

formação dos seus valores morais, como a honestidade, a lealdade, a sinceridade, a

responsabilidade, o respeito, a justiça, que tão faltam em nosso meio, isto pode ser

alisersado desde a mais tenra idade.

Sem dúvida são muitas as sutilezas do processo de adaptação à escola,

entretanto é fundamental que os primeiros momentos sejam muito bem planejados

para que a criança e sua família se sintam bem acolhidas. Considerando as idéias

expostas, significa que planejar um período de adaptação com muito cuidado e ter

bem claro que não devemos apenas planejar para diminuir as ansiedades e

angústias do momento, mas também oportunizar a independência e a autonomia.

Quando este processo de transição é favorável, as conseqüências serão positivas e

importantes para o desenvolvimento da criança, satisfação da escola e o bem –

estar familiar.
2.3 A EDUCAÇÃO INFANTIL TAMBÉM TEM HISTÓRIA: um breve
histórico da Educação Infantil

2.3.1 O RENASCER DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Em virtude do tema proposto se faz necessário esclarecer que, o que

atualmente chamamos de Educação Infantil já foi denominado e organizado como:

asilo, roda de exposta, jardim de infância, creche e pré – escola, no decorrer da

história do Brasil.

A creche surgiu em torno de 200 anos atrás, na França. A origem da palavra

francesa “creche” significa “manjedoura” ela era associada ao simbolismo cristão de

dar abrigo a um bebê necessitado. As creches surgiram durante o século XIX nos

países norte – americanos, no início do século XX no Brasil, acompanhando a

estruturação do capitalismo, a enbranização e a necessidade de reprodução da

força de trabalho.

A história das creches está intimamente ligada as mudanças do papel da

mulher na sociedade e suas repercussões no âmbito familiar, em especial no que se

refere à educação dos filhos. A creche deve ser vista dentro de um contexto social

que inclui a expansão da industrialização e de setores de serviços, ao mesmo tempo

em que as cidades crescem cada vez mais.

A preocupação com as crianças intensificou-se nos últimos tempos, mas no

decorrer do tempo também foi preocupação no Brasil mas sofreu modificações com

o passar dos anos. Quando se passou a perceber a criança no início da colonização


do Brasil, primeiramente se percebeu as crianças rejeitadas e órfãs, fenômeno

normal. Com isto justifica-se a criação de asilo para crianças órfãs, abandonadas,

mantidas pela caridade pública e pela filantropia, pois questão desta natureza não

interessava ao poder público e o abandono da criança na época era assunto

exclusivo da família. As instituições de caridade começaram aparecer para suprir

justamente a função da família quando por alguma razão esta deixava de assisti-la.

“No que se refere ao atendimento da infância brasileira, até 1874, existia

institucionalmente a ”Casa dos Expostos” ou “Roda para os abandonados” das

primeiras idades é a “Escola de Aprendizes Marinheiros” (fundada pelo estado em

1873) para os abandonados maiores de doze anos. O código civil daquela época

relacionava a idéia de “menos desvalido” como o de menos delinqüente ou

criminoso. Além disso, apresentava a repressão como medida necessária para

solucionar o problema daquele menos.”(KRAMER, Sônla, 1992, pg. 49)

Um outro fato que foi marcante o uso da “Roda dos Expostos”, também

conhecidos por “Casa dos Expostos” ou “Depósito dos Enjeitados”. A roda de

expostos ficou conhecida por uma espécie de asilo, para crianças abandonadas,

sendo caracterizado principalmente por ser o local onde acontecia o abandono.

No início a preocupação com as crianças de zero a seis anos, surgiu no

período colonial e mantinham atendimento igual ou similar ao atendimento em asilos

ou internatos, destinava-se primeiramente ao atendimento de filhos de mães

solteiras que não tinham condições de ficar com seus filhos e cria-los isso gerava

naquelas mulheres sentimentos de pecado ou culpa e o atendimento institucional à

seus filhos eram considerados um favor, uma caridade. Uma nova visão de
infânciasurge ainda no início da Nova República, o que vai determinar uma nova

preocupação com a questão e o aparecimento de novas instituições infantis.

Segundo Áries (1981), a concepção de desenvolvimento humano na idade

média tem relação com a ação do homem na sociedade. O período vivido pelo

indivíduo de diferentes formas, correspondia não apenas as formações biológicas,

também estavam ligados às relações de trabalho.

Por volta do século XVI, começa a se estabelecer uma nova diferença entre o

mundo da criança e o mundo dos adultos. Sendo que no século XVII, mudanças

consideráveis vêm contribuir de forma definitiva para a concepção de infância que se

tem hoje. Definiu-se um novo lugar para a criança e para a família, fruto da

sociedade capitalista.

Com o surgimento do capitalismo a mulher sente necessidade da ir trabalhar

fora e como conseqüência surge o desequilíbrio nas famílias, pois para isto a mãe e

mulher deixa seu lar durante muitas horas do dia para se dedicar a uma atividade

remunerada, quebrando assim com o padrão tradicional da família imposta pela

sociedade. Estas mulheres tiveram que enfrentar um grande desafio – quem iria

cuidar de seus filhos, muitas vezes um vizinho era pago para “olhar” por eles, ou

ficavam com familiares. A questão deixa de ser familiar e passa a ser uma questão

social. Sendo assim o Estado e algumas instituições da sociedade começam a

pensar em instituições para as crianças em idade inferior a idade escolar que

venham a contemplar as necessidades desta idade.

Em resposta as necessidades sociais começam a surgir diversos tipos de

instituições, asilos, jardins de infância, creches e escolas maternais, principalmente

em São Paulo. Porém com caráter educacional e reconhecendo oficialmente pelos


órgãos públicos os jardins de infância, mas estes deveriam desenvolver a

metodologia froebeleana e destinar-se a criança na faixa etária de quatro a sete

anos em um período do dia.

Durante a época da imigração européia desde o final do século XIX, foram

sendo absorvidos como mão – de – obra nas fábricas, principalmente em São Paulo

e Rio de Janeiro. Na década de 20, no século XX, a industrialização se intensificou

nos centros urbanos do país, começam a ser organizados movimentos de protesto

contra as condições de trabalho nas fábricas e entre as muitas reivindicações

estavam a da criança de creche para os filhos das empregadas. Os proprietários das

indústrias, procurando diminuir a força dos movimentos dos operários foram

concedendo benefícios sociais, entre eles estavam as creches e escolas maternais.

“... procurando essa situação a reorganização dos aparelhos do Estado, a

mudança na estrutura da sociedade brasileira com o crescimento do setor industrial,

a ampliação da classe média, o fenômeno da urbanização e, enfim, o advento de um

proletariado industrial proveniente da zona rural, que vinha se empregar nas

atividades emergentes. Iniciadas na década de 20, tais modificações culminaram na

Revolução de 1930, com traços centralizados e, em seguida, ditatoriais.”(ESTADO

NOVO, KRAMER, pg. 57)

A maioria das creches existentes na época eram propriedade das fábricas e

as que existiam fora das fábricas eram da responsabilidade de entidades

filantrópicas, no decorrer dos tempos estas últimas recebiam ajuda e donativos de

famílias mais ricas e também ajuda governamental para manter o seu trabalho,

nesta época o trabalho de desenvolvimento intelectual e afetivo não era valorizado,

a única preocupação era a alimentação, higiene e segurança física das crianças.


Em 1943, com a criação da C.L.T.C(consolidação das leis de trabalho) por

Getúlio Vargas, esta lei determinou a organização de locatários pelas empresas para

abrigar os filhos das operárias durante o período de amamentação.

No período de 1930 a 1960, a preocupação com a saúde aumenta em relação

as classes mais pobres, como forma de evitar a marginalidade das crianças e

jovens, isto levou alguns grupos sociais politicamente influentes a defenderem o

bem estar social. A creche novamente é colocada como um favor aos menos

favorecidos(pobres). Na década de 50 com o aumento crescente da industrialização,

aumenta o número de mulheres de classe média no mercado de trabalho,

professoras e funcionárias públicas também procuram os serviços de creche para

seus filhos.

Segundo KRAMER(1987, pg. 25), estes discursos propõe que:

“Faltaria a essas crianças,“privadas culturalmente” de determinados atributos,

atitudes ou conteúdos que deveriam ser nelas incutidos. A fim de suprir as

deficiências de saúde e nutrição, as escolas, ou as do meio sócio – cultural em que

vivem as crianças, são propostos diversos programas de educação pré – escolar de

cunho compensativos.”

Com esta concepção compensatória poderíamos ver o papel da pré – escola

como um mecanismo que vem acabar com o problema da evasão e repetência na

primeira série do primeiro grau. Sendo que ainda, nesta visão o problema da escola

do ensino fundamental em relação a aprendizagem e conteúdo é devido a carência

cultural, afetiva, nutricional e de desigualdade. Com o atendimento da pré – escola

estariam todos resolvidos, esta visão surgiu nos anos 60 nos Estados Unidos com a

proposta de acabar com o problema do processo escolar, que prejudicava


principalmente as crianças negras e filhos de imigrantes. Esta teoria da carência

cultural surgiu com objetivo principal de dar assistência médica, dentária e serviços

educacionais para as crianças.

Quando esta concepção veio para o Brasil, já se encontrava fracassada no

seu país de origem e veio para discriminar ainda mais as crianças carentes. Afinal

este mito de que a criança carente e desnutrida não aprende, persiste até os dias de

hoje.

Na década de 70, com o objetivo de organizar um programa para a educação

pré – escolar, o MEC criou, modificou e extinguiu v´rios órgãos que existiam na

época. Em 1975 foi criado o Setor de Educação Pré – escolar – SEPRE, vinculado

ao departamento de Ensino Fundamental; o SEPRE se transformou em

coordenação, assumiu a posição de Coordenadoria de Educação Pré – Escolar –

COEPRE, ainda no mesmo ano.

No ano de 1942, com o objetivo de amparar os convocados para a II Guerra

Mundial e suas famílias, surge a Fundação Brasileira de Assistência (LBA), sendo

esta fundação a primeira do Brasil como o objetivo específico de assistencialista e já

em 1944 esta fundação já alcançava 1.562 municípios. Esta fundação teve sua

história política e administrativa bem complicada. Até 1956, era mantida pelos

Institutos de Previdência; entre 1956 e 1965, vai depender de recursos vindo da

União, no ano de 1965 passa a ser fundação; em 1969 passa a receber o recurso

financeiro de 40% da renda líquida da loteria esportiva; em 1974 é absorvida pelo

recém criado Ministério da Previdência e de Assistência Social; em 1988 este

ministério é extinto e então pula para o Ministério da Habitação e Bem – Estar Social

e finalmente já em 1989 é incorporada ao Ministério do Interior.


Ainda nesta época o governo federal começou a investir e envolver vários

órgãos como: o MEC,o MOBRAL, O Programa dos Municípios da Merenda Escolar e

o Fundo de Assistência Escolar, para promover e desenvolver mais a educação pré-

escolar Brasil para favorecer as classes mais desfavorecidas. Porém, estas medidas

contribuíram muito pouco para que o quadro da Educação Infantil mudasse no

Brasil.

Por mais que se tornasse pública as políticas para a pré-escola, assim como

estudos realizados para esta faixa etária, faltava legislação para assegurar os seus

direitos e deveres, porém, isto não impedia as lutas feitas pela população exigindo

os direitos da criança.

No ano de 1977, passa a atuar de forma sistemáticas na área de creches,

com a criação do Projeto Casulo, que tem de início um caráter experimental e é

implantado em apenas quatro municípios. Este foi um período de revitalização da

LBA.

Na década de 80, começa-se a questionar sobre o verdadeiro objetivo do

ensino pré-escolar: Educação ou Compensação? Esta foi uma época que os

pesquisadores, como Sonia Kramer, Maria Lúcia Machado, Orly Montavam de

Assis,... começam a questionar a pré-escola não mais como uma etapa que

antecedia a fase escolar ou como uma instituição assistencialista, mas como uma

instituição com objetivos próprios para a fase que se encontra a Criança, nesta

etapa do seu desenvolvimento.

Observa-se aí os direitos da criança pequena, uma luta travada pelas

feministas intelectualizadas da classe média, que na época passam a fazer estudos

sobre a infância e assessoram políticos sensíveis a reivindicações por creches


populares. Inicialmente com as feministas da esquerda, de diferentes situações

econômicas, e intelectual, também com o apoio de educadores, novos

conhecimentos e pesquisas são formulados a respeito da infância, em repasse a

nova constituição de 1988, num artigo que instituía a criança como sujeito de

direitos...

Depois da anistia, o movimento feminista reivindica junto ao movimento

sindicais creches, como um direito da mãe trabalhadora, sendo que sem

esclarecimento das mesmas sobre o direito a educação da criança pequena fora da

família, acaba surgindo aí num caráter assistencialista e tendo como conseqüência a

falta da iniciativa do setor público e filantrópico com a adoção deste projeto. E a

pouca participação vinda do estado era mais voltada a alfabetização, ou ao modelo

escolar.

Em 1979 surge no Brasil o Movimento de Luta por Creches, uma resolução

do I Congresso da Mulher Paulista. Esta movimento veio contribuir para a expansão

de creches na rede pública, que mesmo limitada vinha acontecendo, a partir de

meados dos anos 70. Todas estas lutas não foram suficientes para que a creche

deixasse de ser uma instituição provisória e destinada a poucas famílias, sendo

assim os serviços nas creches torna-se pior que o desejado.

Segundo ROSENBERG (1989: 90),

“A proposta de creche, portanto, até uma época bastante recente, não

conseguiu romper com a representação mas apenas como um equipamento

substituindo certas mães: aquelas que trabalham fora. [...] esta vinculação tem tido

pesadas conseqüências para esta instituição, seja na perspectiva de sua expansão,


seja na busca de uma identidade própria, capaz de gerar uma proposta educacional

alternativa e satisfatória para a criança pequena.”

Ainda nesta década, vários estudos e projetos em nível federal, estadual e

municipal são direcionados a pré-escola e divulgados, pois, observou-se que as

crianças de classes populares apresentavam déficit na linguagem, costumes,

valores e hábitos, o que as tornavam diferentes da criança de classe média. Com

isto, surgiu a concepção preparatória ou compensatória com o objetivo de suprir esta

carência cultural da classe popular e prepara-las melhor para ingressar na escola de

primeiro grau. Foi com base no discurso da carência cultural que os programas

governamentais criaram os serviços oferecidos as crianças de 4 a 6 anos.

CAMPOS (1995:16), comenta:

“Reconhecendo que creches e pré-escolas integram o sistema educacional

junto aos demais níveis de ensino, embora não em caráter obrigatório, a nova

Constituição consagra, no plano da lei, que os movimentos sociais vinham

reivindicando em várias partes do país.Este inegável avanço terá, certamente,

repercussões sobre as demais legislações que deverão ser elaboradas – Lei de

Diretrizes e Base da Educação Nacional, Legislação Trabalhista – e sobre a

definição das políticas sociais que incidem nessa faixa etária”.

A constituição de 1988 vem contemplar várias áreas da Educação Infantil,

apresentando um impacto sobre as legislações posteriores, sobre a definição de

políticas sociais e também sobre a organização institucional que da uma identidade

e o suporte a todos os trabalhos com as crianças em fase pré-escolar. Sendo que o

que se observa e é nítido, é a distância entre os serviços prestados a criança

pequena dos direitos assegurados legalmente a mesma.


Estes estudos vêm mostrar e reafirmar a importância da Educação Infantil

como a primeira etapa da educação básica, indispensável a construção da

cidadania, haja visto que é reconhecida pelo MEC, uma iniciativa Federal, seguindo

de preceitos constitucionais.

No início da década de 90, foi aprovado o Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), na forma de Lei nº 8.069 de 13 de junho, resultado de longas

discussões em torno dos direitos da criança. Este Estatuto incorpora grandes

modificações no tratamento jurídico da questão, alterando as práticas do estado,

família e da sociedade no que se refere a criança e ao adolescente.

O que chamou a atenção no Estatuto da Criança e do Adolescente, é a

sensibilização da sociedade, dos pais, dos educadores e do governo pra o direito

social e de proteção à infância e entre estes está o direito a EDUCAÇÃO.

Em 1991, a Lei nº 8.242, de 12 de junho, cria o Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), regulamentado pelo decreto nº

408, de 27 de dezembro de 1991.

No ano de 1993 a Lei nº8.642, de 31 de março, regulamentada palo decreto

nº 1.056, de 11 de fevereiro de 1994, com o objetivo de articular ações de apoio à

criança e ver seus interesses contemplados na nova Carta Magna do país. Dentre

estas mobilizações ocorridas na época podemos destacar o Movimento Feminista,

do qual é identificado como um dos fatores mais importantes nas conquistas obtidas

no Texto Constitucional, o Fórum Defesa da Criança e do Acolescente (DCA) e o

grupo Ação – Vida.

“Os movimentos sociais é que têm exigido do Estado ações políticas mais

significativas, direcionadas às populações infantis. Notadamente as mulheres, mas


também núcleos de educadores têm defendido a democratização da educação de 0

a 6 anos e têm denunciado, ainda, o descaso da política pública voltadaàs crianças

de classes populares. Consciente de que a situação da infância resulta da própria

desigualdade a que é submetida a maioria da população brasileira, o movimento

social luta, então, pelo acesso das crianças de todas as classes sociais a serviços

de saúde, assistência e educação de qualidade, que de fato representem condições

de vida digna e – no caso da educação – também contribuam para o

desenvolvimento e a ampliação dos conhecimentos infantis. E os movimentos

sociais fazem essa exigência por entenderem que saúde, assistência e educação

são direitos sociais que o Estado deve garantir”.(KRAMER, 1995, pg. 125)

A luta dos educadores, os programas desenvolvidos nos Estados e

Municípios, os avanços teóricos sobre a infância, caracterizando e diferenciando a

Educação Infantil das demais, é evidente a sua colaboração nas conquistas para a

área, contemplada na Constituição de 1988.

Na história do Brasil, a Constituição de 1988 foi um marco para a Educação

Infantil, incluindo em seu texto especificações sobre a educação pré-escolar. Esta

Constituição é um avanço importante na área, visto que pela primeira vez reconhece

que é um dever do Estado oferecer condições para a educação das crianças

pequenas. Esta lei vem oferecer condições para que se rompa com o serviço

anterior marcado pelo assistencialismo e pelo improviso. E é claro que esta

conquista seja garantida, ela deve ser retomada e detalhada em novos documentos

legais, inúmeros debates são realizados em torno do trabalho desenvolvido pelas

creches e pré-escolas e das diversas instituições criadas por grupos populares.

Foram estas discussões que fizeram aumentar as vagas pelo Estado, apesar de que
com qualidade ainda insuficiente e com a permanência confusa da estrutura

administrativa. Ainda que se observe tal avanço, continua a faltar uma política

pública que venha de encontro as necessidades da criança pequena, afinal ao lado

de todas estas discussões, veio cada vez mais fortalecer a idéia de que a educação

de 0 a 6 anos é fundamentalmente um direito da criança, contemplando-a não

somente no seu ingresso na escola, mas ajuda-la na socialização e seu

desenvolvimento afetivo, físico, cognitivo,etc., do qual ela necessita. Sendo assim,

este é um direito de toda e qualquer criança pequena, como um dever do Estado.

CAMPOS (1993:15), afirma:

“(...) no que se refere ao debate ideológico e político sobre o significado da

educação da criança pequena, seus direitos e o reconhecimento da

responsabilidade do poder público, constata-se progressos significativos”.

Um avanço qualitativo é observado na legislação, ao reconhecer a

importância da Educação Infantil não mais como um depósito ou um passa tempo e

sim como parte importante na formação do individuo.

2.3.2 .ALGUNS EDUCADORES QUE INFLUENCIARAM A


EDUCAÇÃO INFANTIL.

Com certeza educadores como Rousseau, Pertalozzi, Froebel, Decroly,

Montessori e Piaget contribuíram com suas pedagogias e idéias para melhor

desenvolvimento da criança na infância escolar das mesmas. Tem-se a intenção de

oferecer uma breve noção a respeito das idéias destes pensadores que
preocuparam-se e interessaram-se pelo estudo da criança, no decorrer dos tempos.

Sendo assim, ao examinar a vida, o pensamento e as obras de educadores

destacando neste momento, é fundamental que levemos em consideração o tempo

e o espaço em que viveram, bem como as influências que receberam daqueles que

os antecederam e/ou com eles viveram e também as influências que exercem até os

tempos atuais.

Rousseau combateu veementemente as idéias que predominavam por muito

tempo, que foram a teoria e a prática educacional, junto à criança, deviam focalizar

os interesses do adulto e da vida adulta, canalizou suas atenções para as

necessidades da criança e as condições de seu pleno desenvolvimento. Partindo da

visão de Rosseau a criança não podia mais ser vista como um adulto em miniatura.

E se a criança era um ser com características próprias, não só as suas idéias, seus

interesses e suas roupas tinham de ser diferente da do adulto; preocupa-se com o

relacionamento rígido dos adultos em relação as crianças e estas relações

precisavam ser modificadas buscando uma igualdade das mesmas. Com as suas

idéias, Rousseau desmistificou a concepção de que a educação e processo pelo

qual a criança adquiri conhecimento, hábitos e atitudes armazenados pelas

civilizações, sem qualquer modificação. Cada fase de vida a infância, a

adolescência, a juventude e a maturidade, foi concebida como portadora de

características próprias respeitando a individualidade de cada um. A contribuição de

Rousseau para a educação infantil é importantíssima. O método da natureza vale

para todas as coisas, ele incentivou as mães à amamentarem seus filhos e lhes

mostrava o valor deste gesto. Salientou que não se deveria moldar o espírito das

crianças de acordo com os modelos pré-estabelecidos. Mostrou que a criança devia


fazer, sem a ajuda dos outros, o que é capaz de fazer sozinha. O mesmo afirmou

que a educação não vem de fora, é expressão livre da criança no seu contato com a

natureza. Propõem para as crianças primeiramente o brinquedo e o esporte.

Pertalozzi acreditava mais do que ninguém no poder da educação para

aperfeiçoar o indivíduo e a sociedade. Com seu entusiasmo, influenciou reis e

governantes a pensarem na educação do povo. Para Pertalozzi, o desenvolvimento

é orgânico, sedo que a criança se desenvolve por leis definidas, os poderes infantis

brotam de dentro para fora, os poderes inatos, uma vez despertados lutam para se

desenvolver até a maturidade, a gradação deve ser respeitada, o método deve

seguir a natureza, o professor é comparado ao jardineiro que providência as

condições para plantar, crescer, a impressão sensorial é fundamental e os sentidos

devem estar em contato direto com os objetos, a mente é ativa.

Com Froebel surge o primeiro Jardim de Infância, é figura de destaque no

cenário educacional para os tempos modernos. Suas idéias reformularam a

educação. Inspirou-se no amor à criança e à natureza. Baseava-se na pedagogia

nos ideais de atividades e liberdade. Dedicou sua vida à fundação de jardim de

infância, a formação de professores e a elaboração de métodos e equipamentos

para estas instituições. Para Froebel a infância é o período em que a criança deve

ser protegida pelos pais, pois ela é dependente. As atividades motoras e os sentidos

são preponderantes nesse momento de vida. Em 1837, surge o “Rindergarten”, o

jardim de infância, onde as crianças eram consideradas plantinhas de um jardim,

cujo jardineiro seria o professor. A criança se expressaria através das atividades de

percepção sensorial, da linguagem e do brinquedo. A linguagem oral se associava à

natureza e à vida. Mesmo reconhecendo a importância do brinquedo, a atividade


lúdica; o desenho e as atividades que envolvem o movimento e os ritmos eram muito

importantes.

Decroly destaca o desenvolvimento infantil, a educação, segundo ele, não se

constitui na preparação para a vida adulta; a criança deve viver os seus anos jovens,

bem como resolver as dificuldades compatíveis ao seu momento. Interessou-se

especialmente, mas também as demais pelas crianças chamadas de “retardadas” e

“anormais”. Com seu método do centro de interesse, rompeu com a rigidez dos

programas de ensino de seu tempo. Para Decroly a criança deve ser criança e não

um adulto em potencial.

Montessari mudou os rumos da educação tradicional, que privilegiava a

formação intelectual. Emprestou um sentido vivo e ativo à educação. Destacou-se

pela criação da Casa da Criança, instituições de educação e vida e não apenas

lugares de instrução. O espírito da criança, para a educadora italiana, se formaria

mediante os estímulos que precisam ser delimitados. A criança deve ir percebendo

gradativamente as manifestações do homem, na natureza e na cultura, tudo está

relacionado.

Piaget foi um estimulador da educação pré – escolar, sua própria teoria da

psicogenética, que reconhece que o processo de desenvolvimento pressupõe uma

sucessão de etapas. Emprestou seu apoio às atividades espontâneas das crianças

visando à organização cognitiva voltada a preparação das operações da inteligência.

Conhecer a produção de grandes pensadores ajudaram a aprimorar o

trabalho das instituições infantis e um crescer profissional, visando um melhor

entendimento do desenvolvimento e crescimento das crianças.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação infantil, sempre foi objeto de grande envolvimento e atenção para

mim, não somente profissionalmente bem como em outros espaços da minha vida. A

reflexão que vem-se fazer cerca de como se constrói e processa-se a adaptação

neste momento traz-me o desejo de socializar com os demais, o que pude

compreender e conquistar por meio deste estudo.

O momento em que estamos vivenciando são de intensas transformações,

principalmente na educação brasileira, em decorrência de fatores econômicos,

políticos e sociais. Estas transformações foram ocasionadas devido as mudanças

nas concepções de infância, considerada hoje, uma etapa importante no processo

de construção da cidadania. Os discursos sociais dos últimos limpos destacamos

temas creches, escola e criança, constituído o atendimento à criança como uma

exigência social. Importantes reformas em vários campos educacionais, e em

especial a Educação Infantil, como na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional prescreve: a Educação Infantil é um direito das crianças, embora não seja

obrigatória, a creche faz parte da educação básica, assim como a Pré – escola,

ensino fundamental e médio. Pela primeira vez, as crianças de zero à seis anos

também fazem parte de uma crise, já que desde 1998, com a nova constituição,
adquiriram o direito de serem educadas em creches e pré – escolas passam a ser

respeitadas portanto como cidadão e sujeitos de direitos.

Através de meus estudos e leituras realizadas fui percebendo a importância

do processo de adaptação como uma etapa integrante de formação do sujeito que é

a criança e para tanto deve ser respeitada como tal. A adaptação de uma forma

inteira, assumida com suas dificuldades e contradições, expondo seus medos e

aflições, bem como alegrias e surpresas. Percebi que neste processo fazem parte o

choro, o riso, o lamento, a satisfação, o desejo, a resistência, porém deverá ser um

processo constituído, elaborado e assumido pela escola e família.

Quando comecei minhas leituras, fui percebendo que também era necessário

ter o conhecimento da história das crianças de pouca idade ao longo existência da

humanidade, bem como a história das instituições de educação infantil, não podia

deixar de ter bem claro a concepção de criança, me aprofundar mais nas leis em

vigência, sem deixar de tomar conhecimento do comprometimento a formação dos

profissionais desta área.

Todo esse estudo tem um sentido e o objetivo principal, que é o de buscar

qualidade e a diminuição da angústia e da ansiedade com relação a construção da

adaptação escolar, por isso busquei metodologias e técnicas que possam tornar

este momento menos doloroso e mais agradável a todas as crianças e seus

familiares, pois os primeiros anos de vida são provavelmente decisivos no

desenvolvimento da criança, durante essa fase, ela começa a estabelecer padrões

de aprendizagem, atitudes e um sentido de si mesma como ser, tudo o que irá ter

reflexos em sua vida inteira, por isso o papel de mediador do educador e processo

de desenvolvimento e aprendizagem da criança pequena requer formação


continuada de seus profissionais e a necessidade de oferecer oportunidades

educativas às crianças dessa faixa etária, de forma crítica, criativa e consciente, sem

se restringir somente aos cuidados assistenciais de saúde, alimentação, proteção e

guarda. A creche é uma instituição em transformação, mas ainda hoje persistem

visões e realidade de creche bem diferenciada da outra.

Ao longo deste relatório, analisamos as causas que interferem ou contribuem

na construção do processo de adaptação escolar, a ida da criança para a escola,

consegui somar muitas dúvidas, mas acredito que ainda devo buscar mais leituras e

estudos sobre este tema. Nas observações constatei que todo período de adaptação

escolar envolve relações entre criança família, educadores e escola, um tanto mais

acentuado quando trata-se de criança que esta chegando pela primeira vez na

escola, principalmente quando essa criança é muito ligada aos familiares. A escola

precisa fazer-se conhecer antes de receber os alunos para transmitir aos pais a

integração entre todos os indivíduos que formam “o grupo escolar” bem como as

dependências da mesma, isto pode ajudar a diminuir a angústia tanto dos pais,

professores e criança, pois a criança nesse momento lida com sentimentos de

insegurança, abandono e medo. O professor deve dispor dr muita compreensão,

companheirismo e dialogar muito. Promover momentos que envolvam os interesses

da turma. Hoje, as escolas já estão aplicando novas formas de integrar os alunos,

dando ao mesmo uma maior importância ao que a criança faz ou não faz, suas

expectativas, sua história e seus valores.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

-ALENCAR, Regina Lúcia Brandão. O papel da escola e o papel

familiar. Revista do professor. Porto Alegre : nº 277, pg. 27 a 29, agosto,

1998.

-AMORIM, Marília. Atirei o pau no gato. Pré – escola em serviço : 4 ed.

São Paulo : Brasiliense, 1990, pg. 115.

-ARIES, Phillippe. História social da criança e a família. 2 ed., Rio de

Janeiro : Livros teóricos, 1978.

-BALABAN, Nancy. O início da vida escolar da separação a

independência. Rio Grande do Sul : Editora Artes Médicas Sul LTDA,

1995.

-BRAGA. Portugal, coleção Infans, Centro de Estudos da Criança,

Universidade do niño, 1997.

-BRASIL, Lei Federal nº 8069/90 de 13 de julho de 1990. Estatuto da

Criança e do Adolescente – ECA.

-BRASIL, Lei Federal nº 9394/96 de 20 de dezembro de 1996. Lei de

Diretrizes e Bases da Educação – L D B. Brasília. Imprensa do Senado,

1996.
-BRASIL. Senado Federal. Constituição Federal brasileira, Brasília :

Imprensa do Senado, 1998.

-Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Sul, Parecer nº 623/99

processo. CEEP nº 28612700/99.6.

-DUBET, François e MARTUCCELLI, Danilo. A socialização e a

formação escolar. Lua Nova. São Paulo : nº 40 e 41 pg. 242 a 265,

1997.

- FARIA, Ana Lúcia G. & PALHARES, Marina Silveira. Educação

infantil pós – L D B. Rumos e desafios, Campinas, S.P. : Editora autores

associados, 2000.

-FAZENDA, I. C.A. Interdiciplinaridade. história, teoria e pesquisa. São

Paulo : Papirus, 1998.

-FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não. Cartas a quem gosta de

ensinar. Editora Olho d’água, fevereiro/ 2000, São Paulo.

-HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro : Editora Paz e

Terra S.A. p. 121, 1985.

-KRAMER, Sônia. A política da Pré – escola no Brasil. Arte disfarce,

São Paulo : Cortez, 1992.

-NICOLAU, Marieto L. M. A educação Pré-escolar. Editora Ática.

-NOVAES, Maria Helena. Adaptação Escolar. diagnósticos e

orientações. Petrópolis : Vozes, 1976.

-PETRY, Arlete dos Santos. Adaptação escolar. Revista do professor.

Porto Alegre : p 5 a 7 jan/mar. 1998.


-PIAGET, J. Seis Estudos de Psicologia. Rio de Janeiro : Editora

Foreuse, 1974.

-PIAGET; VIGOTZKI, WALLAN. Teorias psicogenética em discussão/

Yves de La Tailli, Marta Rohl de Oliveira. Haloysa Dantas. São Paulo :

Summus, 1992.

-Política de Educação Infantil, Ministério da Educação e do Desporto, 1993.

-PRIORE, Mary Del, História da criança no Brasil. São Paulo, 4 ed.

1996

- Professor da Pré – escola/ Fundação Roberto Marinho – Rio de Janeiro,

FAE,1991.

-PROFESSOR da Pré – escola/ Fundação Roberto Marinho, Rio de

Janeiro: FAE, 1991.

-RANOS, Maria Aparecida. O jogo e a educação infantil. São Paulo :

Pioneira, 2000.

-RIZZO, Gilda. Educação Pré – escolar IM. Adaptação à Pré – escola ,7

ed. Rio de Janeiro : Francisco Alves, p. 312 a 325, 1992.

-SANTOS, Antônio Raimundo. Metodologia ciêntifica a construção do

conhecimento. Rio de Janeiro : D POA editoria, 2000.

-SILVA, Isabel de Oliveira. Profissionais da Educação Infantil. formação

e construção da identidade. São Paulo : Cortez, 2001.

-SARMENTO, M.J. & PINTO M. As crianças: contexto e identidade. in

Você também pode gostar