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Supremo Tribunal Federal

MANDADO DE SEGURANÇA 33.889 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. ROBERTO BARROSO


IMPTE.(S) : ALVARO FERNANDES DIAS
ADV.(A/S) : GABRIELA GUIMARAES PEIXOTO
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
IMPDO.(A/S) : PRESIDENTE DO SENADO FEDERAL
ADV.(A/S) : OCTAVIO AUGUSTO DA SILVA ORZARI E
OUTRO(A/S)

DECISÃO:

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E


PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE
SEGURANÇA. CONVERSÃO EM LEI DO PROJETO
IMPUGNADO. PERDA SUPERVENIENTE DO
OBJETO.
1. A jurisprudência desta Corte admite,
excepcionalmente, a impetração de
mandado de segurança por parlamentares
com a finalidade de coibir atos praticados
no processo de aprovação de lei ou emenda
constitucional incompatíveis com
disposições constitucionais que disciplinam
o processo legislativo
2. A superveniente aprovação parlamentar
do projeto de lei ou da proposta de emenda
à Constituição, no entanto, importa na
perda da legitimidade ativa dos membros
do Congresso Nacional para o
prosseguimento da ação mandamental, que
não pode ser utilizada como sucedâneo da
ação direta de inconstitucionalidade

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que institui a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil. O
documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/ sob o número 14633591.
Supremo Tribunal Federal

MS 33889 / DF

Precedentes.
3. No caso concreto, a sanção do projeto e a
promulgação da lei pela Presidente da
República ocorreram antes da comunicação
do deferimento da medida cautelar que
determinou a sustação do trâmite do
processo legislativo.
4. Assim sendo, em razão da conversão em
lei do projeto impugnado, não é viável o
prosseguimento da ação mandamental.
Eventual questionamento sobre vícios
formais do processo legislativo deve ser
deduzido em ação direta de
inconstitucionalidade.
5. Extinção do processo sem julgamento de
mérito, por perda superveniente do objeto.

1. Trata-se de mandado de segurança, com pedido liminar,


impetrado pelo Senador Álvaro Dias sob a alegação de
inconstitucionalidade formal do Projeto de Lei de Conversão nº 17/2015
(MP nº 678/2015), aprovado pela Câmara dos Deputados e do Senado
Federal e encaminhado à sanção em 29.10.2015.

2. O impetrante afirma que a Presidente da República editou


a Medida Provisória nº 678/2015, para acrescentar o inciso VII no rol do
art. 1º da Lei nº 12.462/2011, estendendo o Regime Diferenciado de
Contratações Públicas – RDC às licitações e contratos necessários à
realização de “ações no âmbito da segurança pública”. Sustentou, no entanto,
que durante a tramitação no Congresso Nacional, a MP recebeu 72
emendas parlamentares, com matérias estranhas ao seu propósito
original. Indicou que para além do objeto inicial da MP nº 678/2015,
foram inseridas no Projeto de Lei de Conversão nº 17/2015 outras
alterações à Lei nº 12.462/2011 e a diversos dispositivos das Leis nºs

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8.666/1993, 7.210/1984, 9.718/1998, 12.249/2010, 12.869/2013, 6.015/1973,


8.935/1994, 9.492/1997, 9.430/1996, 11.196/2005 e 12.305/2010, entre eles,
e.g., a renegociação de dívidas do Proálcool.

3. Alegou que, em 21.10.2015, o Plenário do Senado Federal


aprovou o Projeto de Lei de Conversão nº 17/2015, mesmo ciente da
decisão proferida pelo STF na ADI 5.127, red. p/ acórdão Min. Edson
Fachin, j. em 15.10.2015, em que se afirmou “não [ser] compatível com a
Constituição da República a apresentação de emendas parlamentares sem relação
de pertinência temática com medida provisória submetida à apreciação do
Congresso Nacional”. Sustentou, assim, vício formal na tramitação do
Projeto de Lei de Conversão nº 17/2015. Asseverou, ainda, que o referido
projeto não seria alcançado pela modulação de efeitos realizada na ADI,
porque foram preservadas apenas as leis promulgadas até o julgamento
da ação em 15.10.2015.

4. Requereu, assim, a concessão da segurança, para anular a


tramitação do Projeto de Lei de Conversão nº 17/2015, ou ao menos a
parte referente às 72 emendas legislativas.

5. Diante da urgência alegada, em 19.11.2015, deferi


monocraticamente o pedido liminar alternativo, ad referendum do Plenário
(RI/STF, art. 21, V), para suspender o trâmite do PLC nº 17/2015, exceto
quanto ao acréscimo dos incisos VI e VII ao art. 1º da Lei nº 12.462/2011.
Determinei ainda que, caso sancionado o projeto em pontos diversos dos
excepcionados acima, a eficácia de tais dispositivos ficaria suspensa até
posterior deliberação (doc. 40).

6. Em suas informações, a Câmara dos Deputados, o Senado


Federal e a Presidente da República sustentaram a perda do objeto do
mandado de segurança, em razão da sanção parcial do PLC nº 17/2015
(doc. 53), que resultou na Lei nº 13.190/2015 (doc. 55).

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7. A União, ao requerer ingresso no feito, se manifestou pela


extinção do processo, sem resolução de mérito, ao fundamento de
ilegitimidade passiva da Presidente da República e de inadequação da via
eleita. No mérito, pugnou pela denegação da segurança (doc. 62).

8. O Ministério Público, por sua vez, opinou pela concessão


parcial da ordem, de modo a anular a tramitação do Projeto de Lei de
Conversão nº 17/2015 na parte alusiva às emendas legislativas
exorbitantes (doc. 66).

9. Finalmente, em 14.03.2018, o Senado Federal informou que


“o Congresso Nacional, na sessão de 24/05/2016, manteve todos os vetos apostos
ao projeto de lei”, reiterando a preliminar de perda do objeto (doc. 70).

10. É o relatório.

11. A jurisprudência desta Corte admite, excepcionalmente,


que parlamentares utilizem o mandado de segurança com a finalidade de
coibir atos praticados no processo de aprovação de leis e emendas
constitucionais incompatíveis com o processo legislativo constitucional
(MS 24.667/DF, Rel. Min. Carlos Velloso, j. em 04.12.2003; e MS 24.642/DF,
Rel. Min. Carlos Velloso, j. em 18.02.2004).

12. Ocorre que, também de acordo com a jurisprudência deste


Tribunal, a superveniente aprovação parlamentar do projeto de lei ou da
proposta de emenda à Constituição importa na perda da legitimidade
ativa dos membros do Congresso Nacional para o prosseguimento da
ação mandamental, que não pode ser utilizada como sucedâneo da ação
direta de inconstitucionalidade (MS 32070/DF, Rel. Min. Celso de Mello).

13. No caso concreto, o mandado de segurança questionava a


introdução, no Projeto de Lei de Conversão nº 17/2015, de diversos
dispositivos que não constavam da Medida Provisória nº 678/2015. É
certo, no entanto, que a grande maioria dessas inserções foi vetada pela

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Presidente da República, com a seguinte justificativa:

“Os dispositivos são resultado de emendas inseridas no


projeto de lei de conversão sem relação de pertinência temática
com a medida provisória submetida à apreciação do Congresso
Nacional. Assim, são incompatíveis com a Constituição, nos
termos de decisão proferida recentemente pelo Supremo
Tribunal Federal – STF, em sede de Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI 5.127/DF).”

14. E, conforme informado pelo Senado Federal, todos os


vetos foram mantidos pelo Congresso Nacional (doc. 70). Em relação a
esses dispositivos, portanto, o writ perdeu seu objeto.

15. Dessa forma, restariam pendentes de apreciação apenas as


inserções à redação originária da MP que foram sancionadas pela
Presidente da República. Entretanto, também em relação a esses
dispositivos, entendo ter o mandado de segurança perdido seu objeto.

16. O mandado de segurança foi ajuizado em 18.11.2015, no


penúltimo dia do prazo para a sanção ou veto do Projeto de Lei de
Conversão nº 17/2015. E a medida liminar para suspender a tramitação do
projeto foi deferida em 19.11.2015. Ocorre que, na mesma data, a
Presidente da República sancionou parcialmente o projeto de lei e, por
conseguinte, promulgou a Lei nº 13.190/2015 – publicada no dia seguinte,
20.11.2015.

17. O fax por meio do qual se comunicou a decisão cautelar à


Presidente da República foi transmitido às 19:19 do dia 19.11.2015 (doc.
51, fl. 2). Nesse momento, no entanto, a Lei nº 13.190/2015 já havia sido
promulgada. Isso porque, nos termos do art. 23 da Portaria nº 268, de
05.10.2009, da Casa Civil, para a publicação da Lei no Diário Oficial da
União no dia seguinte, o expediente teve de ser transmitido até as 18:00
do dia 19.10.2015.

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18. Assim sendo, em razão da conversão em lei do projeto de


lei impugnado, não é viável o prosseguimento da ação mandamental.
Eventual questionamento sobre vícios formais do processo legislativo
deve ser deduzido em ação direta de inconstitucionalidade.

19. Diante do exposto, com base no art. 21, IX, do RI/STF,


julgo prejudicado o presente mandado de segurança.

Publique-se. Intimem-se.

Brasília, 09 de abril de 2018.

Ministro LUÍS ROBERTO BARROSO


Relator

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