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INTRODUÇÃO
Há oito anos trabalhamos com crianças surdas, como professores temos percebido a
grande dificuldade que essas crianças apresentam para desenvolver a linguagem.
O bebê sem déficit auditivo desde os primeiros dias reage aos ruídos do ambiente. Essa
reação vai evoluindo claramente. Aos 3 ou 4 meses a criança já parece reagir com especificidade
aos diferentes ruídos familiares, e aos 4 ou 5 meses, parece discriminar algumas entonações.
Também aos 2 ou 3 meses, a criança começa a fixar o olhar nos lábios do adulto que fala e
esboça movimentos nos próprios lábios. Aos 5 ou 6 meses tem início a lalação: o bebê começa a
emitir sons elementares ou fonemas: - balbucios que serão a matéria-prima da linguagem falada.
A medida que a criança emite seus sons, os adultos reagem aos mesmos, repetem as
vocalizações da criança, e inserem outros elementos sonoros. Tem início então um rico e
complexo processo interacional através do qual a criança vai adquirindo os sons típicos do
modelo fonético do idioma materno. A partir dos 10 meses as palavras começam a fazer sentido,
depois as frases. Aos 3 anos está estabelecido o fundamental no que se refere às estruturas do
idioma, segundo COSTA (1994).
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O portador de surdez severa ou profunda por não desenvolver o "feedback" auditivo não
consegue dominar naturalmente o código da língua, como acontece com as crianças que ouvem.
Um bebê que nasce surdo balbucia como um de audição normal, mas suas emissões
começam a desaparecer à medida que não tem acesso à estimulação auditiva externa, fator de
máxima importância para a aquisição da linguagem oral. Assim também, não adquire a fala como
instrumento de comunicação, uma vez que, não a percebendo, não se interessa por ela, e não
tendo "feedback" auditivo, não possui modelo para dirigir suas emissões.
Uma criança que não percebe os sons desde que nasce, vai sofrer uma grande perda, já
que o conhecimento do mundo sonoro é que possibilita a conquista natural da comunicação oral.
A falta do "feedback" auditivo ou realimentação entre a fala e a audição, impede que o bebê com
uma perda severa ou profunda comece a imitação do seu próprio balbucio, que tome consciência
e imite a linguagem das pessoas que o cercam, impossibilitando, também o uso, o controle
auditivo e a aquisição natural da linguagem.
A surdez severa ou profunda impede que a criança perceba os sons produzidos em seu
ambiente familiar. A surdez profunda vai impossibilitar a tomada de consciência do mundo sonoro
fazendo com que a criança não chegue nem a estruturar sua memória auditiva. Ouve apenas os
sons muito fortes e como estes não acontecem com muita freqüência, em seu ambiente, ela não
chega a memorizá-los por falta da repetição que seria necessária. Dessa forma essa criança fica
privada de ouvir a voz das pessoas que com ela convivem, não conseguindo adquirir a linguagem
pelos processos naturais.
Primeiros dias:
Ouvinte: a partir dos primeiros dias reage a certos ruídos de maneira reflexa.
Surdo: não reage ao ruído; as pessoas que estão ao seu redor não se dão conta
porque a criança é muito novinha; porém a partir dos 2 ou 3 meses começam a preocupar-se.
2 ou 3 meses:
o Ouvinte: fixa o olhar nos lábios do adulto que fala. Esboça movimento labiais sem
emissão de voz.
o Surdo: idem.
3 ou 4 meses:
4 ou 5 meses:
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o Ouvinte: compreende (discrimina) algumas entonações: se o chamam, se o
repreendem; a mímica que acompanha algumas palavras; desempenha um papel de informação
complementar.
5 ou 6 meses:
o Ouvinte: começa a lalação; emite, ao acaso, numerosos sons e alguns deles não
fazem parte do idioma materno.
o Surdo: apresenta a lalação igual ao bebê ouvinte, porém é, geralmente, menos rica.
o Surdo: seus sons não evoluem, nem tampouco algum modelo de acordo com o
acervo de sons do idioma.
A partir de 1 ano:
o Surdo: é uma evolução sem conseqüências. Se ninguém lhe presta uma atenção
particular, as emissões sonoras da lalação se detém, e a criança mergulhará no silêncio alheia à
fala e aos ruídos (ambientais) para os quais não manifesta nenhuma reação. Se o surdo receber
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informações e estimulações pelos outros sentidos (visão, tato, olfato, gustação) pode se desen-
volver sem muito atrasos. Quanto antes a surdez for detectada, melhor para o indivíduo surdo.
2. BRINQUEDO
AXLINE (1972), diz que "sendo o brinquedo seu meio natural de auto-expressão lhe é
dada a oportunidade de, brincando, expandir seus sentimentos acumulados de tensão,
frustração, insegurança, agressividade, medo, espanto o confusão".
A brincadeira desempenha uma função vital para a criança. Brincar é natural do ser
humano. Quando se brinca a criança fica tão envolvida com o que está fazendo, que coloca na
ação seu sentimento e emoção.
A criança precisa de algo concreto que lhe dê suporte ao significante, que pela imaturação
limitante de seu corpo não se sustenta por sí só. Nesse sentido, o brinquedo, é um suporte
imaginário do objeto.
O uso do brinquedo faz com que a criança crie uma situação imaginária. O brinquedo é a
ação da criança.
3. MATERIAL E MÉTODOS
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Esta pesquisa tem por objetivo, verificar se o brinquedo ou o brincar tem ou não
importância no desenvolvimento de linguagem da criança surda.
A coleta de dados foi realizada com crianças que encontram-se matriculadas na Escola
Estadual Para Surdos Alcindo Fanaya Júnior - ensino fundamental, na cidade de Curitiba, PR., a
qual utiliza uma proposta Bilingüe. O bilinguismo é uma proposta de ensino usada por escolas
que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Essa proposta
considera a língua de sinais como língua natural, sendo assim, adquirida de forma espontânea
pela pessoa surda em contato com pessoas que usam essa língua, e a língua oral é adquirida de
forma sistematizada, sendo considerada como a segunda língua.
# OBS: Dados retirados das anamneses e avaliações das pastas pedagógicas de cada
criança participante, que encontram-se na secretaria da escola.
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Esta pesquisa foi realizada numa sala cedida pela própria escola denominada
Brinquedoteca, a qual constitui-se em um espaço para as crianças brincarem com diversos
brinquedos, sem poder levá-los para casa. A pesquisa foi realizada através de observação
semanal das crianças na brinquedoteca. Sendo que a observação foi feita sempre pela
mesma pesquisadora por um período de 2 (duas) horas de Fevereiro a Julho de 1999. Os
materiais utilizados foram:
Através das tabelas 2 e 3 podemos fazer uma análise geral da evolução do grupo,
pudemos perceber que o grupo melhorou com relação a socialização e a comunicação,
mostrando que o brinquedo ou o brincar são muito importantes para todos, principalmente
para a criança, pois é através deste que a criança poderá formar novas idéias e
conhecimentos
4. CONCLUSÃO
Percebemos que no geral a comunicação dos participantes era mediada pelos brinquedos,
sendo que utilizavam-se mais dos sinais, já que a LIBRAS é a e sua língua natural ou
primeira língua usada para sua comunicação.
SACKS (1989), diz que o "sinal para os surdos é uma adaptação excepcional a outro modo
sensorial; mas é também e igualmente uma incorporação de identidade pessoal e cultural.
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Pois na linguagem de um povo "reside todo o seu pensamento, sua tradição, história e
religião, a base da vida, todo o seu coração e alma". Isso é ainda mais verdade com os
sinais, pois são biologicamente a voz dos surdos, que não pode ser silenciada".
Por isso é muito importante que desde pequenas as pessoas surdas tenham o contato
com os sinais favorecendo assim o seu desenvolvimento de linguagem no decorrer do seu
crescimento. Como foi observado, os brinquedos favoreceram o desenvolvimento de
linguagem dos participantes, melhorando, sua comunicação das vivências do seu dia-a-
dia.
Assim sendo, o objetivo desta pesquisa foi confirmado, pois como foi descrito o brinquedo
é muito importante para o desenvolvimento de linguagem da criança surda bem como,
proporciona melhora nas suas adaptações psicossociais
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KISHIMOTO, T.M. e col. O Brincar e suas teorias. São Paulo : Pioneira, 1998.
RIZZO, L. & HAYDT, R.C. Atividades lúdicas na educação da criança. 2.ed. São Paulo :
Ática, 1987.
SACKS, O. Vendo vozes - uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de Janeiro :
Imago, 1989.
Feedback auditivo = (retorno). Quando o indivíduo fala ele escuta sua própria voz,
estimulando cada vez mais o desenvolvimento de sua linguagem (fala).
Gestos Naturais = são os gestos que todas as pessoas possuem e que são entendidos por
todos independente de serem surdos ou ouvintes.
Leitura Labial = é a interpretação que um deficiente auditivo faz da fala das pessoas,
fundamentalmente da observação dos lábios, língua, abertura da boca e expressão facial.
Segundo MÜLLER e col. (1994), "a pista visual no entanto é limitada em si, já que alguns
movimentos associados a produção dos sons da fala são parcial ou completamente ocultos
dentro da cavidade bucal e outros são tão idênticos ou tão similares na aparência, que se torna
impossível, a compreensão da fala e, consequentemente, da linguagem". Dessa forma, todo
trabalho de leitura labial, além de preconizar uma boa articulação, com movimentos adequados
dos órgãos fonoarticulatórios, deverá envolver situações significativas para que a interpretação de
tais movimentos seja facilitada.
LIBRAS = Língua Brasileira de Sinais. É uma língua natural adquirida de forma expontânea
pela pessoa surda em contato com pessoas que usam essa língua. As línguas de sinais, são
línguas espaço-visuais, ou seja, a realização dessas línguas não são estabelecidas através do
canal oral-auditivo mas através da visão e da utilização do espaço. Segundo SACKS (1989),
"sinal está mais próximo da linguagem da mente, e assim é mais "natural" do que qualquer outra
coisa quando a criança em desenvolvimento precisa construir uma linguagem no modo manual".
Surdez Severa = é a perda auditiva entre 70 e 90 dB. Esse tipo de perda vai permitir,
apenas, que o deficiente identifique alguns ruídos do ambiente familiar, só podendo perceber uma
voz muito forte. Se a família estiver bem orientada a criança poderá chegar a adquirir linguagem
em seu próprio ambiente. A compreensão verbal vai depender em grande parte, da aptidão para
utilizar a percepção visual e observar o contexto da situação em que se desenvolve a
comunicação.