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A questão urbana – Manuel Castells

CASTELLS, Manuel. A questão urbana. 6ª ed. São Paulo:Paz e Terra, 2014.

O fenômeno urbano: delimitações conceituais e realidades históricas

“Dois sentidos extremamente distintos do termo urbanização: 1. Concentração


espacial de uma população, a partir de certos limites de dimensão e densidade;
2. Difusão do sistema de valores, atitudes e comportamentos denominado
“cultura urbana”.” P. 39

“A tendência culturalista da análise de urbanização fundamenta-se numa


premissa: a correspondência entre um certo tipo técnico de produção
(essencialmente definido por uma atividade industrial), um sistema de valores
(o modernismo) e uma forma específica de organização do espaço, cujos
traços distintivos são uma certa forma e uma certa densidade”. P. 40

“A cidade é o lugar geográfico onde se instala a superestrutura político-


administrativa de uma sociedade que chegou a um ponto de desenvolvimento
técnico e social de tal ordem que existe uma diferenciação do produto em
reprodução simples e ampliada da força de trabalho, chegando a um sistema
de distribuição e de troca, que supõe a existência: 1. De um sistema de classes
sociais; 2. De um sistema político permitindo ao mesmo tempo o
funcionamento do conjunto social e o domínio de uma classe; 3. De um sistema
institucional de investimento, em particular no que concerne à cultura e à
técnica; 4. De um sistema de troca com o exterior”. P. 43

“A problemática da urbanização gira em torno de quatro dados fundamentais e


de uma questão extremamente delicada:
1. A aceleração do ritmo da urbanização no contexto mundial;
2. A concentração deste crescimento urbano nas regiões ditas
“subdesenvolvidas”, sem correspondência com o crescimento econômico que
acompanhou a primeira urbanização nos países capitalistas industrializados;
3. O aparecimento de novas formas urbanas e, em particular, de grandes
metrópoles;
4. A relação do fenômeno urbano com novas formas de articulação social
provenientes do modo de produção capitalista e que tendem a ultrapassá-lo”.
P. 46

“O termo urbanização refere-se ao mesmo tempo à constituição de formas


espaciais específicas das sociedades humanas, caracterizadas pela
concentração significativa das atividades e das populações num espaço
restrito, bem como à existência e à difusão de um sistema cultural específico, a
cultura urbana”. p. 46

“A noção de urbano pertence à dicotomia ideológica sociedade


tradicional/sociedade moderna, e refere-se a uma certa homogeneidade social
e funcional, sem poder defini-la de outra forma senão pela sua distância, mais
ou menos grande, com respeito à sociedade moderna”. P. 47

“A análise da urbanização está intimamente ligada à problemática do


desenvolvimento”. P. 47

Técnica, sociedade e região metropolitana

“O papel desempenhado pela tecnologia na transformação das formas urbanas


é indiscutível. A influência se exerce, ao mesmo tempo, pela introdução de
novas atividades de produção e de consumo, e pela quase delimitação do
obstáculo do espaço, graças a um enorme desenvolvimento dos meios de
comunicação”. P. 54

“Se o progresso técnico permite, por um lado, a evolução das formas urbanas
para um sistema regional de interdependência, graças às mudanças
intervenientes nos meios de comunicação, por outro lado, ele reforça
diretamente esta evolução, pelas transformações suscitadas nas atividades
sociais fundamentais, em particular no que concerne à produção”. P. 55

“A região metropolitana não é o resultado necessário do simples progresso


técnico”. P.56

“A dispersão urbana e a formação das regiões metropolitanas estão


intimamente ligadas ao tipo social do capitalismo avançado, designado
ideologicamente sob o termo de “sociedade de massas””. P. 56

“A uniformização de uma massa crescente da população, no que diz respeito


ao lugar ocupado nas relações de produção (assalariadas) faz-se acompanhar
de uma diversificação de níveis de uma hierarquização no próprio interior desta
categoria social – o que, no espaço, resulta numa verdadeira segregação em
termos de status, separa e “marca” os diferentes setores residenciais, se
estendendo por um vasto território , que se tornou o local de desdobramento
simbólico”. P. 56

“A integração ideológica da classe operária na ideologia dominante caminha


junto com a separação vivida entre atividade de trabalho, atividade de
residência e atividade de “lazer”, separação que está na base do zoning
funcional da metrópole”. P. 56

“A concentração crescente do poder político, bem como a formação de uma


tecnocracia que assegura os interesses do sistema a longo termo eliminam
pouco a pouco os particularismos locais e tendem, através da planificação
urbana, a tratar os problemas de funcionamento do conjunto a partir de uma
divisão em unidades espaciais significativas, isto é, fundadas nas redes de
interdependência do sistema produtivo”. P. 57

“Uma interpretação tão frequente quanto errônea, derivada das constatações


empíricas às quais nos referimos, considera a urbanização como uma
consequência mecânica do crescimento econômico e, em particular, da
industrialização”. P. 79

“A urbanização em curso nas regiões “subdesenvolvidas” não é uma réplica do


processo que atravessam os países industrializados”. P. 79

“Uma sociedade é dependente quando a articulação de sua estrutura social,


em nível econômico, político e ideológico, exprime relações assimétricas, com
uma outra formação social que ocupa, frente à primeira, uma situação de
poder. Por situação de poder, entendemos o fato de que a organização das
relações de classe na sociedade dependente exprime a forma de supremacia
social adotada pela classe no poder na sociedade dominante”. p. 82

“O aumento das taxas de crescimento natural pode estar relacionado com a


diminuição da taxa de mortalidade, provocada pela difusão dos avanços da
medicina”. P. 85

“O fenômeno essencial que determina o crescimento urbano é o das migrações


(fuga para as cidades)”. P. 85

“Como a migração para as cidades não responde a uma demanda por mão-de-
obra, mas à tentativa de encontrar uma saída vital num meio mais diversificado,
o processo só pode ser cumulativo e desequilibrado”. P. 87

“Como a migração para a cidade é o produto da decomposição das estruturas


rurais, é normal que ela não seja absorvida pelo sistema produtivo urbano e
que, consequentemente, os migrantes só se integrem parcialmente no
sistema”. P. 88

“A América Latina é um exemplo típico de hiperurbanização, situação


intermediária entre “desenvolvimento” e “subdesenvolvimento”. Coexistência de
um crescimento automático e da marginalização progressiva de uma parte
importante da população”. P. 89

“A mudança na estrutura do emprego na América Latina foi muito menos


determinada pelo processo de industrialização que pela integração de uma
parte da população agrícola no setor terciário (serviços)”. P. 95

“A urbanização latino-americana caracteriza-se pelos traços seguintes:


população urbana sem medida comum com o nível produtivo do sistema;
ausência de relação direta entre emprego industrial e crescimento urbano;
grande desequilíbrio na rede urbana em benefício de um aglomerado
preponderante; aceleração crescente do processo de urbanização; falta de
empregos e de serviços para as novas massas urbanas e, consequentemente,
reforço da segregação ecológica das classes sociais e polarização do sistema
de estratificação no que diz respeito ao consumo”. P. 99
Teoria do espaço

“O espaço é um produto material em relação com outros elementos materiais.


Ele não é uma pura ocasião de desdobramento da estrutura social, mas a
expressão concreta de cada conjunto histórico, no qual uma sociedade se
especifica”. P. 182

“O espaço urbano é estruturado, não está organizado ao acaso, e os processos


sociais que se ligam a ele exprimem os determinismos de cada tipo e de cada
período de organização social”. P. 182

“O esforço teórico da ecologia humana, em particular a partir da Escola de


Chicago, domina ainda a apreensão da organização urbana, na literatura e na
prática, seja através da retomada de seus temas clássicos ou através das
críticas e reações suscitadas. É impossível abordar a análise da organização
do espaço sem uma discussão, desta tradição de pesquisa”. P. 182

“Na base das análises espaciais, há uma teoria geral da organização social que
consideramos dirigida por dois princípios essenciais: 1. O princípio da
interdependência entre os indivíduos, fundado nas diferenças complementares
(relações de simbiose) e suas semelhanças suplementares (relações de
comensalismo) e 2. O princípio da função central: em todo sistema de relação
com um ambiente, a coordenação é assegurada pelo intermediário de um
pequeno número de funções centrais. A posição de cada indivíduo com relação
a esta função determina sua posição no sistema e suas relações de domínio”.
P. 185

“A organização urbana explica-se então por um conjunto de processos que


moldam, distribuem e correlacionam as “unidades ecológicas”. Os principais
processos ecológicos são: a concentração – o aumento da densidade de uma
população num certo espaço num dado momento; a centralização ou
especialização funcional de uma atividade ou rede de atividades num mesmo
espaço, com sua articulação hierarquizada no conjunto do território regional; a
centralização, com seu corolário, a descentralização, está na base dos
processos de mobilidade da estrutura urbana, e, consequentemente, das
funções de circulação, no sentido amplo do termo; a segregação refere-se ao
processo pelo qual o conteúdo social do espaço torna-se homogêneo no
interior de uma unidade e se diferencia fortemente em relação às unidades
exteriores, em geral conforme a distância social derivada do sistema de
estratificação; enfim, a invasão-sucessão explica o movimento pelo qual uma
nova população (ou atividade) se introduz num espaço previamente ocupado,
sendo rejeitada pela anterior, sendo integrada ou finalmente sucedendo-lhe
como dominante na unidade ecológica visada”. P. 186

“O sistema ideológico organiza o espaço marcando-o com uma rede de signos,


cujos significantes são constituídos de formas espaciais e os significados, de
conteúdos ideológicos, cuja eficácia deve ser reconstruída por seus efeitos
sobre a estrutura social de seu conjunto”. P. 195
Articulação do sistema econômico com o espaço

“Por sistema econômico, entendemos o processo social pelo qual o


trabalhador, agindo sobre o objeto de seu trabalho (a matéria-prima), com a
ajuda de meios de produção, obtém um certo produto. Este produto está na
base da organização social – quer dizer, de seu modo de distribuição e de
gestão , bem como das condições de sua reprodução”. P. 201

“Uma série de transferências (relações de circulação) opera-se entre produto e


consumo no interior de cada um dos elementos. Chamaremos de troca a
realização espacial destas transferências. A cada tipo de transferência
corresponderá então uma expressão espacial distinta, mas que não poderá ser
entendida em si mesma, e sim em função dos elementos que ela coloca em
relação”. P. 202

“O elemento produção está na base da organização do espaço. Mas isto não


quer dizer que toda a cidade esteja fundamentada na indústria e que esta
molde o espaço sem outra lógica a não ser a do sistema econômico”. P. 203

“É a partir da disposição da mão-de-obra no espaço, das características


técnicas das empresas e do custo de implantação, que várias zonas são
definidas e vários comportamentos diferenciados”. P. 207

“A necessidade de mão-de-obra leva a empresa a se implantar num meio


urbano favorável. No nível elementar, os trabalhadores exigirão possibilidades
de equipamento social e cultural, escolas para as crianças, locais de comércio,
um conforto mínimo. Haverá uma tendência a valorizar os lugares “agradáveis”
pelo clima, a paisagem, o meio de relação”. P. 207

“A moradia, além de sua escassez global, é um bem diferenciado, que


apresenta toda uma gama de características, no que concerne à sua qualidade
equipamento, conforto, tipo de construção, durabilidade, etc., sua forma
(individual, coletiva, arquitetura, integração no conjunto de habitações e na
região) e seu status institucional (sem título, alugada, casa própria,
copropriedade, etc.) que determinam os papéis, os níveis e as filiações
simbólicas de seus ocupantes”. P. 224

“Quanto maior a taxa de crescimento industrial (capitalista), mais intenso é o


crescimento urbano, maior é a tendência à concentração em grandes
aglomerações e maior é a penúria de moradias como também a deterioração
do patrimônio imobiliário”. P. 226

“A incapacidade da economia privada em subvencionar as necessidades


mínimas de moradia exige intervenção permanente entre os organismos
públicos, em nível local e global”. 237

“Há quatro tipos fundamentais de habitat p. 247:


Individual Concentrado Disperso
Coletivo Aglomerados Subúrbios habitacionais
secundários II III
Cidade central I Grandes conjuntos IV

“A questão da moradia revela-se assim como estando no centro da dialética


conflitual para a apropriação social do produto do trabalho”. P. 249

“A distribuição dos locais residenciais segue as leis gerais da distribuição dos


produtos e, por conseguinte, opera os reagrupamentos em função da
capacidade social dos indivíduos”. P. 249

“Entendemos por segregação urbana a tendência à organização do espaço em


zonas de forte homogeneidade social interna e com intensa disparidade social
entre elas, sendo esta disparidade compreendida não só em termos de
diferença, como também de hierarquia”. P. 250

“Existe, por um lado, a interação entre as determinações econômica, política,


ideológica, na composição do espaço residencial; por outro lado, que existe um
reforço da segregação, segundo a articulação da luta de classes no local de
residência”. P. 250

“Na “escolha” de uma nova moradia intervêm, primordialmente, o conforto e o


tamanho desta moradia, bem como o ambiente social. O fator central na
decisão, o que fez com que ela seja tomada ou não, é o custo da operação,
sendo este determinado pela renda, etapa ou ciclo da vida, e o tamanho da
família”. P. 261

“A estrutura do espaço residencial sofre as seguintes determinações p. 263:


Em nível econômico, ela obedece à distribuição do produto entre os indivíduos
e à distribuição específica deste produto que é a moradia. Este fator está na
base do conjunto do processo;
Em nível político-institucional, a “democracia local” tende a reforçar as
consequências da segregação, praticando uma política de serviços em função
dos interesses da fração dominante de cada unidade administrativa;
Em nível ideológico, a segregação residencial ocorre por dois movimentos bem
diferentes. Por um lado, a relativa autonomia dos símbolos ideológicos com
relação aos lugares ocupados nas relações de produção, produz interferências
nas leis econômicas de distribuição dos indivíduos entre os tipos de moradia e
de espaço, como constatamos, por exemplo, a propósito da residência dos
empregados.
Em nível de luta de classes, exerce influência sobre as formas e os ritmos da
segregação:
1. No que diz respeito à relações entre as próprias classes, uma situação de
luta aberta reforça a explosão espacial, podendo chegar até mesmo á
formação de “guetos proibidos”, prefigurando zonas liberadas.
2. Coforme a estratégia adotada pela classe dominante, presenciaremos duas
intervenções possíveis do aparelho do Estado: uma repressiva, que se
traduzirá, por exemplo, num traçado urbano permitindo o controle e a
manutenção da ordem das comunidades consideradas perigosas; uma
intervenção integradora, visando a explosão da comunidade, dispersando-a no
conjunto de um espaço residencial hostil.

A organização institucional do espaço

“Da mesma forma que existe uma leitura econômica do espaço urbano, há uma
leitura possível deste espaço em termos de sistema institucional, a saber, do
aparelho político-jurídico da formação social considerada”. P 294

“Dois problemas se colocam então: 1. A divisão administrativa de espaço


enquanto expressão da lógica própria do sistema institucional. 2. Eficácia
social própria a esta divisão que, uma vez suscitada, articula-se com o conjunto
de efeitos econômicos e ideológicos e tem uma influência direta sobre os
processos sociais e a luta política”. P. 295

“Isto significa que a organização institucional do espaço não coincide com o


estudo do elemento estrutural que chamamos de gestão, que é a expressão
específica do aparelho de Estado ao nível de uma unidade urbana”. P. 295

“A divisão espacial institucional seguirá a lógica interna do sistema


institucional”. P. 295

“Sabemos que o sistema político-jurídico expresso concretamente através do


conjunto do aparelho de Estado só pode ser entendido com referência à
estrutura de classes de uma sociedade, e, em particular, das classes
dominantes e de sua relação com as classes dominadas”. P. 295

“A organização institucional do espaço é determinada, em primeiro lugar, pela


expressão, ao nível das unidades urbanas, do conjunto dos processos de
integração, de repressão, de dominação e de regulação que emanam dos
aparelhos de Estado”. P. 296

“Os processos de dominação-regulação, expressão das classes no poder,


organizam o espaço, por um lado determinando as normas de funcionamento
do conjunto da divisão, e conservando a possibilidade de iniciativas centrais
que transformam diretamente o espaço das coletividades locais (dominação);
por outro lado, intervindo para ajustar a relação social com o espaço, onde os
interesses contraditórios no seio do bloco no poder e/ou das defasagens
estruturais produzidas correm o risco de fazer explodir ou de agravar uma
crise: a planificação urbana ou as novas fronteiras administrativas (tasi como
os governos metropolitanos ou as circunscrições regionais) sã um bom
exemplo (regulação)”. P. 296

“ Ao falar de espaço institucional, não remetemos à base espacial do aparelho


de Estado, mas aos processos sociais que, partindo do aparelho político
jurídico, estruturam o espaço”. P. 297

O simbólico urbano
“O espaço está carregado de sentido. Suas formas e seu traçado se remetem
entre si e se articulam numa estrutura simbólica, cuja eficácia sobre as práticas
sociais revela-se em toda análise concreta”. 304

“A ideologia se manifesta no espaço urbano de duas formas: 1. Pelo


componente ideológico que, ao nível de uma realidade histórica, está presente
em todo elemento da estrutura urbana. Assim, por exemplo, toda moradia ou
todo meio de transporte se apresenta sob uma certa forma, produzida pelas
características sociais deste elemento, mas que, ao mesmo tempo, reforça-os,
pois ela dispõe de uma certa margem de autonomia. 2. Pela expressão,
através das formas e dos ritmos de uma estrutura urbana, das correntes
ideológicas produzidas pela prática social. É neste nível da mediação, pelo
espaço urbano, das determinações ideológicas gerais, que devemos colocar o
tema do simbólico urbano”. P. 306

“O que faz a força de um discurso ideológico é que ele constitui sempre um


código a partir do qual a comunicação entre os indivíduos se torna possível; a
linguagem e o conjunto dos sistemas expressivos são sempre processos
culturais, isto é, constituídos por um conjunto ideológico de dominação. É
preciso também observar que a comunicação efetua-se por um processo de
recohecimento entre os indivíduos (reconhecimento da posse do mesmo
código) e que este reconhecimento é ao mesmo tempo um desconheicmento,
na medida em que está fundamentado num código de domínio ideológico, que
torna possível a comunicação através de uma false apreensão da situação
vivenciada; assim, o ‘cidadão’ pode compreender a ‘democracia’ na medida em
que ele se torna como individualidade jurídica formal para além de sua filiação
de classe”. P. 307

“O conjunto dos processos não são nem as ‘vontades’ nem as estratégias, mas
os efeitos sociais necessários produzidos na ideologia por uma relação social
com o espaço. Às vezes, os efeitos ideológicos contradirão os efeitos
econômicos de uma operação”. P. 310

“Onde existe um corte das relações sociais ou fraca interiorização dos valores,
trata-se de criar um polo integrador, visível e organizado em função das
unidades urbanas que queremos integrar. As características ecológicas deste
centro são: concentração das atividades destinadas a favorecer a
comunicação, acessibilidade com referência ao conjunto da zona urbana da
qual assume a centralidade, divisão interior dos espaços centrais”. P. 312

“A ecologia urbana desenvolveu a perspectiva do centro como o que faz as


trocas e coordena as atividades descentralizadas”. P. 312

“Este tipo de centro é essencialmente funcional, sob seu duplo aspecto. Por um
lado, representa a especialização do processo de divisão técnica e social do
trabalho, com a gestão centralizada das atividades produtivas executivas nos
estabelecimentos industriais. Por outro lado, podemos defini-lo como
especialização geográfica de um certo tipo de unidades de consumo e de
serviços”. P. 312
“O centro é esta parte da cidade onde estão implantados serviços que se
endereçam ao maior número de consumidores ou usuários específicos, e a
proximidade espacial não intervém absolutamente na utilização dos serviços
oferecidos”. P. 312

“É o centro enquanto núcleo lúdico, concentração de lazeres e base espacial


das ‘luzes da cidade’”. P. 312

“O centro urbano, como a cidade, é produto: por conseguinte, ele exprime as


forças sociais em ação e a estrutura de sua dinâmica interna”. P. 312

“O centro urbano não tem na a ver com a centralidade geográfica numa área
urbana”. P. 314

“O centro urbano então não é uma entidade espacial definida de uma vez por
todas, mas a ligação de certas funções ou atividades que preenchem um papel
de comunicação entre os elementos de uma estrutura urbana”. P. 314

Em resumo, é conveniente:
1. Distinguir entre o elemento centro definido em relação à estrutura urbana e o
que chamamos os “centros” ou o “centro” numa aglomeração;
2. Estabelecer os níveis de análise da estrutura urbana e deduzir a noção de
centro para cada um destes níveis;
3. Assegurar a passagem entre cada noção de centro nos diferentes níveis de
sua expressão espacial mais ou menos mediatizada. Ou, mais concretamente,
mostrar o sentido exato, com relação a uma decomposição analítica da
estrutura urbana, das formas espaciais consideradas como centros numa
aglomeração.

Com relação ao nível econômico, a centralidade exprime uma certa correlação


dos diferentes elementos econômicos da estrutura urbana (produção,
consumo, troca, etc) bem como as relações internas de cada elemento. Trata-
se então de um conjunto de processo incluídos na problemática geral dos
traslados na estrutura urbana.

“Seja qual for a tradução espacial numa forma histórica determinada, podemos
reter uma primeira noção fundamental do centro, enquanto intermediário entre
os processos de produção e de consumo na cidade; ou, mais simplesmente
entre a atividade econômica e a organização social urbanas”. P. 316

“Cada vez mais ocorre uma perda do papel propriamente comercial do centro
em razão de surgirem outras formas de compra além do contato direto”. P. 320

“A desconcentração da função comercial conduz à criação de centros de trocas


periféricos, servindo às áreas urbanas determinadas, ou aproveitando-se de
uma situação na rede dos fluxos cotidianos da metrópole”. P. 321

“A perda da relação direta com o centro e o desaparecimento dos bairros, com


seus serviços locais na região urbana, conduzem ao mesmo tempo à
organização de centros comerciais ligadas às zonas de nova urbanização”. P.
321

“O espaço urbano torna-se então o espaço definido por uma certa parte da
força de trabalho, delimitada, ao memso tempo, por um mercado de emprego e
para uma unidade (relativa) de seu cotidiano”. P. 336

O sistema urbano

“Por sistema urbano, entendemos a articulação específica das instâncias de


uma estrutura social no interior de uma unidade (espacial) de reprodução da
força de trabalho”. P. 337

“O conjunto das relações entre os dois elementos fundamentais do sistema


econômico e o elemento que deriva dele (produção e consumo)”. P. 337

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