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TRANSTORNOS PSICÓTICOS

Esquizofrenias

PROF. Dr. SÉRGIO LUIZ RIBEIRO


CURSO DE PSICOLOGIA
UNIP – Campus de Bauru
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1)Definição

Doença de origem desconhecida, caracterizada por sintomas psicóticos que


comprometem significativamente o funcionamento psíquico, com perturbações das
sensações, sentimentos, pensamentos e comportamento. É crônica e apresenta uma fase
ativa com alucinações e delírios e outra residual no qual estas alterações podem estar
ausentes. As causas são predisposições genéticas somadas a desencadeantes
biopsicossociais.

1809 – descrição dos sintomas pelo médico britânico John Haslam.


1801-1809 – descrição de casos de esquizofrenia pelo médico francês Philippe
Pinel.
1852 – psiquiatra belga Benedict Morel a denominou de démence précoce.
1898 – psiquiatra alemão Emil Kraepelin aplicou o termo dementia praecox a
um tipo de doença que se iniciava na adolescência e levava a uma demência em
pouco tempo.
1908 – psiquiatra suíço Eugen Bleuler criou o termo esquizofrenia, que
significa mente dividida, cindida.

Os principais sintomas são:


- Conteúdo do pensamento anormal: delírios, ideações de autorreferência, pobreza de
conteúdo.
- Forma do pensamento ilógica: afrouxamento das associações, incoerência,
neologismos, bloqueios.
- Distúrbios da percepção: alucinações auditivas (as mais frequentes) visuais, olfativas e
tácteis.
- Alterações do afeto: embotamento, labilidade.
- Comprometimento da vivência do Eu: perda dos limites do Eu, confusão quanto ao
sexo, identidade, incapacidade de distinguir realidade interna e externa.
- Alterações da vontade: impulsos ou motivações inadequados, ambivalência acentuada.
- Comprometimento da interação: retraimento, agressividade, comportamento sexual
inadequado.
- Alterações psicomotoras: agitação, retraimento, posturas bizarras, rituais, catatonia.
- Crítica da doença comprometida, negação da doença.

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Atualmente tem-se feito uma diferenciação destes sintomas em positivos e


negativos.
Os positivos estão geralmente presentes na fase ativa ou surto psicótico e são os
delírios, alucinações, alterações de pensamento e alterações do comportamento
(impulsividade, agitação, bizarrices).
Os sintomas negativos são muitas vezes consequência das perdas cognitivas e
afetivas da evolução da doença, tratamentos inadequados e/ou muito tempo de
institucionalização. Apresentam-se como o distanciamento afetivo, isolamento social,
empobrecimento da linguagem e do pensamento, diminuição da vontade, falta de
pragmatismo e lentificação psicomotora. A diferenciação entre estes grupos de sintomas
é importante para as estratégias a serem usadas para o tratamento.

2) Epidemiologia

- 1% da população.
- Homens = mulheres.
- Início dos 15 aos 35 anos.

3) Tipos de Esquizofrenia

a) Catatônica

Apresenta estupor ou mutismo, negativismo, rigidez, momentos de excitação


sem propósito. Também manifesta posturas bizarras, flexibilidade cérea. Início pode ser
insidioso ou agudo, não apresenta delírios ou alucinações. Pode ocorrer remissão
espontânea, apresentam boa resposta ao tratamento.

Caso: Ana, 23 anos, solteira, faz curso de Matemática. Foi trazida ao Pronto Socorro
pela polícia após ter atacado uma criança. Ana havia se aproximado de uma menina de
9 anos em uma parada de ônibus e tentado estrangulá-la. As pessoas que ali estavam
dominaram-na e chamaram a polícia. A princípio ela lutou violentamente e tentou

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alcançar a criança, mas subitamente tornou-se imóvel e rígida como uma estátua, com
um braço esticado em direção à criança e uma expressão selvagem no rosto. Quando a
polícia chegou foi difícil de colocá-la no carro, porque ela não se movia e resistia as
tentativas de ser movida. Quase teve que ser carregada para entrar no carro. Na
delegacia não disse palavra alguma, continuava parada em uma posição
desconfortável e olhando fixo para a frente.

b) Desorganizada (Hebefrênica)

Caracterizada por incoerência acentuada, afrouxamento das associações,


comportamento irresponsável, desorganizado e imprevisível. Afeto achatado ou muito
inapropriado, delírios ou alucinações pouco sistematizados, fugazes e fragmentados e
ainda, apresenta tendência ao isolamento. Início ocorre na adolescência ou início da
idade adulta (antes dos 25 anos). Podem ocorrer prejuízos cognitivos e interpessoais
com rapidez a cada nova crise que vivencia.

Caso: Iracema, 22 anos e solteira. Foi levada a emergência devido a agitação


psicomotora, ideias de perseguição e afeto incongruente. Suas alterações se iniciaram
aos 16 anos, subitamente abandonou seu cargo como secretária estagiária, tornou-se
muito ansiosa e agitada e começou a discutir com seus pais. Ela se sentia perseguida,
dizia que camundongos estavam comendo seu estômago e que tinha visto cobras perto
de sua cama. Foi encaminhada a um hospital-dia e tratada com medicamento,
melhorou e foi encaminhada para tratamento ambulatorial. Como estava melhor, parou
de tomar os remédios e de ir às consultas.
Aos 21 anos foi internada num hospital, pois se tornara mais ansiosa e insone,
com alucinações somáticas e visuais, além de acessos de agressividade em relação a
sua mãe. No hospital ficava agitada, com fala incoerente e afeto incongruente. Ela
conseguiu atear-se fogo após derramar um pouco de parafina sobre a cama e sofrera
queimaduras graves em seu corpo. Teve melhora relativa e assim teve alta após cinco
meses de internação. Abandonou novamente o tratamento ambulatorial após um mês de
sua alta.
Desta vez na consulta estava bastante desalinhada, inquieta, gritava palavrões
para os funcionários e corria pelos corredores. Apresentava associações frouxas,
pensamento ilógico e incoerente e alucinações e delírios bastante fragmentados.

c) Paranoide

Preocupação com delírios sistematizados e/ou alucinações frequentes


relacionadas a tema único, na maioria de ser perseguido. Não apresenta incoerência ou

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afrouxamento das associações, alterações de afeto e comportamento ausentes ou muito


discretos. Boa resposta ao tratamento, ocorrendo pouco ou nenhum prejuízo com a
doença.

Caso: Chega ao Ambulatório de Saúde Mental Ilza, uma mulher de 30 anos, casada,
um filho, desempregada há 2 meses. Vem apresentando nos últimos dias alterações de
comportamento caracterizadas por irritabilidade, insônia e agressividade. Na
entrevista referiu ser vítima de controle dos pensamentos por meio do marido que,
enciumado, não estaria suportando que ela ficasse sozinha em casa. Perguntada como
chegou a esta conclusão, respondeu que descobriu pelo rádio, quando ouvia um
programa, percebeu que vários pensamentos seus estavam sendo repetidos pelo
locutor. Concluiu que o marido estava controlando seus pensamentos e os estaria
revelando por meio do radialista. O marido referiu que há alguns meses estão
passando por dificuldades econômicas, acentuadas após Ilza ter sido demitida do seu
emprego.

d) Simples

Ocorrência insidiosa e progressiva de excentricidade de comportamento, se


tornando incapaz de responder exigências da sociedade e com declínio global do
desempenho. Os sintomas negativos se desenvolvem sem serem precedidos por
sintomas psicóticos manifestos. Pouca resposta ao tratamento, chegando rapidamente ao
estado residual.

d) Residual

Ocorre após período de sintomas agudos. É um estado de estabilização da


doença, com ausência de delírios proeminentes, alucinações, incoerência ou
comportamento desorganizado. Apresenta os sintomas negativos: lentidão psicomotora,

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hipoatividade, embotamento, passividade, falta de iniciativa e desempenho social


prejudicado. É consequência da evolução da Esquizofrenia Desorganizada quando não
tratada e acompanhada de forma adequada e do próprio quadro da Esquizofrenia
Simples.

4) Tratamentos

- Na fase de surto:

Atendimento intensivo – CAPS, NAPS, Hospital-Dia, Enfermaria psiquiátrica em


hospital geral, hospital psiquiátrico.

-Por meio de articulação de várias modalidades de cuidado por meio de equipe


interdisciplinar e de acordo com a necessidade da pessoa e seu projeto terapêutico. Entre
elas avaliação e utilização de medicação, apoio psicológico e social, Acompanhamento
Terapêutico, orientação e apoio da família, atividades de Terapia Ocupacional,
atividades expressivas, grupos de apoio, atividades recreativas e de socialização e
cuidados clínicos gerais.

Após o surto:

- O atendimento pode ser realizado, de acordo com a possibilidade e a necessidade da


pessoa, em CAPS, Hospitais-Dia, ambulatórios de saúde mental, Oficinas terapêuticas,
Centros de Convivência, Centros de Saúde, Unidade Básicas de Saúde, Estratégia da
Saúde da Família ou de forma partilhada entre estes serviços.
- Os cuidados a serem desenvolvidos pela equipe interprofissional são os mesmos
citados acimas, acrescidas de outras que foram necessárias, com maior ênfase na
recomposição da vida social, afetiva, econômica e profissional e na autonomia deste
usuário e de evitar novos surtos.

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Tratamento medicamentoso

1) Antipsicóticos:
- Haldol, Neozine, Amplictil (sintomas positivos).
- Stelazine, Melleril, Risperdal, Zyprexa, Geodon e Leponex (sintomas positivos e
negativos).

2) Antiparkinsonianos (Akineton) e Fenergan: (impregnação neurolética).

Referências

DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.


Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.

KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Manual de Psiquiatria Clínica. Rio de Janeiro:


Medsi, 1992, cap. 6.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Classificação de Transtornos Mentais e


de Comportamento da CID-10. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

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