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João Ertane Zipha

CONCEITO DE CULTURA

UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA
DELEGAÇÃO DO NIASSA
LICHINGA, 2008.
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João Ertane Zipha

CONCEITO DE CULTURA

Trabalho de Pesquisa, sobre Conceito de


Cultura ser apresentado ao
Docente da cadeira de Antroplogia
Cultural para avaliação, leccionada
pelo dr. Orlando Paulino.

UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA
DELEGAÇÃO DO NIASSA
LICHINGA, 2008.
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho aborda sobre conceito e características da cultura. Neste


contexto, visa, de um modo geral, apresentar as várias maneiras de definição da
cultura e as suas características, todavia, de forma especifica procurará identificar
como é que este termo é definido de acordo com o tempo, isto é, desde a Idade
Média, época em que o termo emergiu até a fase actual. Irá também neste sentido
destacar a evolução conceitual do termo de acordo com vários autores no seio das
teorias por eles apresentados sob ponto de vista antropológico, e, portanto distinguir
e explicar as diversas características que esta apresenta.

Dois conceitos foram usados na Idade Média, sobretudo no ideal centro da cultura:
nos mosteiros. Ao passo que no Renascimento, com a emergência humanista,
desenvolveu-se um terceiro significado; “cultivar o espírito”.
Durante toda "modernidade", tornou-se lugar comum afirmar que a Cultura
surgiu da "desnaturalização" do Homem, que não aceitando ser apenas uma parte da
Natureza, decidiu destacar-se dela e transformá-la. Porém, é surpreendente que
várias culturas não tenham uma palavra específica para a idéia de Cultura. E isto
não significa que essas culturas não tivessem desenvolvido formas "avançadas" de
consciência de si enquanto sociedades organizadas.

Para a realização deste trabalho, usou-se o método de abordagem


qualitativo, indutivo e consultas bibliográficas. Ele apresenta a introdução,
desenvolvimento em capítulos e subcapitulos, conclusão e a referência
bibliográfica.
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CONCEITO DE CULTURA

Etimologicamente, a palavra CULTURA provém do latim COLOKE que


significa cultivar, cuidar. Segundo MARTINEZ (2001:35), “expressa a relação
activa e estável a um lugar”:

Agri-cola = cultivador da terra;


In-cola = morador;
Colonus = que cultiva;
Colónia = o local cultivado”.
Palavra Latina CULTURA - que significa "lavoura, cultivo dos campos" e,
ao mesmo tempo, "instrução, conhecimentos adquiridos" - vai surgir nos primeiros
séculos do milênio em Roma, mas não será utilizada para definir os traços
distintivos dos diferentes povos do Império. A primeira vez que o termo "cultura"
aparece como um conceito de cunho antropológico é na Alemanha, em 1793, no
verbete Kultur do Dicionário Adelung.
Em outras palavras, o sentido de cultura é o mesmo dizer colere terra que
significa agricultura (cuidar a terra). Ainda pode-se referir colere deos loci ou cultu
doerum que quer dizer cuidar os deuses da terra. Esse dois conceitos foram usados
na Idade Média sobretudo no ideal centro da cultura: nos mosteiros. Ao passo que
no Renascimento, com a emergência humanista, desenvolveu-se um terceiro
significado; “cultivar o espírito”.
Em primeiro lugar, a própria Antropologia é cultural, trata-se de descrever o
conjunto das práticas e produções humanas socialmente adquiridas. Segundo
COPANS apoud HERSKOVISTS, “a cultura é a parte do meio produzida pelo
homem, (...), podem se observar fenómenos de trocas entre as diferentes culturas
(aculturação). A cultura é ao mesmo tempo consciente e inconsciente: é um modelo
que se ensina e que por si simultaneamente se impõe. Em fim, responde as
necessidades”. Enquanto que os iluministas franceses consideram a palavra
civilization no contexto da cultura e na Alemanha o termo é: KULTUR (função
regulativa, conteúdo ideológico).
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A partir da segunda metade do século passado desenvolveram–se ciências


positivas. Portanto, baseando–se na noção de EDWARD TYLOR, o "pai" da
Antropologia moderna citado por MARTINEZ, (2001:36) define: “Conjunto
complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis costumes e várias
outras opções e hábitos adquiridos pelo homem membro de uma sociedade”.

Todavia, existem muitos conceitos relacionados com a cultura. Desde então, a


noção de Cultura passaria por diversas transformações e metamorfoses, como
veremos a seguir:
 "A cultura é o conjunto de atributos e produtos resultantes das sociedades que não
são transmitidos através da hereditariedade biológica” (idem).

DEFINIÇÕES POSITIVISTAS

"A cultura é um controle científico da natureza”  (W. Von Humbolt);

"A ciência controla a natureza. A cultura é o controle que o homem exerce sobre si
mesmo”. (F. Barth)

DEFINIÇÕES FUNCIONALISTAS

"A cultura é um processo de criação orgânica e viva e não uma adaptação


mecânica do homem à natureza”.(F. Boas).
"A cultura é um conjunto funcional formado pelas diferentes instituições de uma

sociedade”.(B. Malinowski).

DEFINIÇÃO MARXISTA E WEBERIANA

"A cultura dominante é a cultura das classes dominantes”.(K. Marx)

"A cultura é o conjunto da reprodução das condições de um determinado modo de


produção”.(L. Althusser)

DEFINIÇÕES ESTRUTURALISTAS

"Cultura é o conjunto das relações sociais que servem de modelo estruturante de


um determinado modo de vida"
"As regras de parentesco, de economia e da comunicação que regulam as trocas
entre as mulheres, os bens e os signos de uma determinada sociedade formam o que
chamamos de cultura".(Radcliffe – Brown).
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Portanto, cultura é conjunto de significados e valores partilhados e aceites por uma


comunidade e/ou sociedade.
Considera-se ainda a maneira de viver de um grupo humano incluindo o
comportamento dos mesmos.

Segundo BERNARD (1989:7) “na linguagem corrente existe um uso duplo do


conceito de cultura que origina situação de incompreensão e equívoco. Torna-se,
pois, necessário introduzir uma distinção conceptual que propomos em torno de
cultura humanista e cultura antropológica”.
Assim, a cultura humanista adquire-se através de leitura e do estudo de
textos escritos, contudo, na língua italiana e outras línguas ocidentais, atribuem-se a
palavra cultura o significado do saber erudito e especializado. No mesmo contexto,
para os ingleses, o homem culto é aquele que sabe ler - a well read man. Cultura,
sem sentido humanístico, é, portanto a dos intelectuais, a dos estudiosos, a dos
escritores e a dos outros artistas do género: o homem comum está excluído.
Já, para Antropologia, qualquer ser humano é culto, quer dizer que é um ser
aberto à interpretação da realidade e da procura de uma ordem social e vida. A
primeira definição do conceito antropológico deve-se ao inglês E.B. TYLOR e
remonta a 1871, a qual diz o seguinte: “a cultura é um complexo unitário que inclui
o conhecimento, arte, a moral, lei e todas as capacidades e hábitos adquiridos pelo
homem enquanto membro da sociedade”. Ora, é óbvio que os dois conceitos
antropológico e humanístico integram-se alternativamente e são vividas na
realidade prática do quotidiano de toda pessoa “culta”. Um exemplo característico é
nos dado pelo comportamento de NICOLAU MAQUIAVEL que nos descreveu da
sua vida, Condado de Florença quando deslocara pelas suas terras para fiscalizar os
trabalhos e acabara na taberna a jogar com os camponeses.

CARACTERÍSTICAS DA CULTURA

A CULTURA É SIMBÓLICA
Segundo MARTINEZ ( 2001: 39), a cultura é um conjunto de significados e
valores significados necessariamente através de símbolos e sinais.
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Símbolo: fenómeno físico que tem um significado conferido por aqueles que
o utilizam; o significado é arbitrário: não tem uma relação necessária com as
propriedades físicas do fenómeno que o representa.

A CULTURA É SOCIAL
É uma das características base da cultura. O seu carácter simbólico permite
que ela seja transmitida, comunicada e seja social. Os hábitos, costumes,
padronização do comportamento são processos sociais (...). A sociedade e a cultura
foram definidas como fenómenos independentes dos indivíduos. Ambas as obras
humanas, não dependem dos indivíduos (Idem:40).

A CULTURA É DINÂMICA E ESTÁVEL


Estável - Identidade - tradição.
Enquanto se sublinha a tradição e a institucionalização de padrões de
comportamento. Tradição não significa repetição. Dinâmica-lei da vida: a cultura
muda como um ser vivo (exemplo do corpo), as mudanças podem ser pequenas ou
grandes, despercebidas ou violentas.
Mudanças Despercebidas: a própria natureza da aprendizagem lhe determina uma
aprendizagem lenta.
Mudança consciente: a cultura também experimenta a mudança desejada e
consciente.
Mudanças violentas: encontros culturais: a mudança ocorre em razão das novas
necessidades provocadas pelas novas situações.

A CULTURA É SELECTIVA
A cultura é contínua. Um processo que implica sempre formulações. A
própria cultura é subjectiva, a cultura a nível individual, implica necessariamente
uma reformulação da cultura objectiva. Esse processo de reformulação se acentua
na sucessão das gerações: alguns valores são relegados ao esquecimento, e outros
novos são integrados. Portanto, a adopção de técnicas avançadas implica também
um problema económico, isso faz com que ao lado de técnicas avançadíssimas
sobrevivam técnicas absoletas, mas relativamente suficientes. (Idem:41).
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A CULTURA É UNIVERSAL E REGIONAL


A cultura é um fenómeno universal. Nunca foi constatada a existência de
seres humanos desprovidos de cultura, ora, um animal pode sobreviver e viver bem
sem conhecer outros companheiros, ao passo que a pessoa humana é bem diferente,
pois, a cultura penetra todo o ser humano.
A cultura condiciona tanto a pessoa humana que nem a sua parte física fica
imune à sua acção. O homem é um ser harmónico e a distinção que se faz entre o
físico e o mental dá-se mais por razões metodológicas do que por uma separação
real e concreta de tais elementos constitutivos. É por ai que se infere que cada
membro da sociedade tem sua tarefa e interesses próprios dentro da cultura a que
pertence. Como também se diz que cada grupo alimenta seus interesses e tarefas
dentro do conjunto cultural próprio, assim, se formam os padrões regionais da
cultura, conforme as situações próprias e suas necessidades particulares.
Em vista disso pode-se falar de culturas regionais, sem excluir que essas
sejam diferentes do fenómeno geral de cultura universal. Os aspectos comuns a
todas as culturas regionais são denominados UNIVERSAIS DA CULTURA:
aspectos da cultura que são atributos de todos os grupos humanos que possam viver.
Em qualquer cultura particular, vamos encontrar varias instituições políticas,
religiosas, económicas, lúdicas, etc.muito embora elas representam o carácter
universal da cultura, suas formas dependem de contexto cultural em que estão
inseridos. (Idem:42).

A CULTURA É DETERMINANTE E DETERMINADA


A cultura determina o comportamento humano; responsável pela
padronização do comportamento humano. A herança cultural é bastante forte para a
conformação dos actos dos costumes, para o modo de pensar e de comportar se do
homem. N.
esse aspecto, é correcto dizer-se que a cultura é um processo inconsciente.
A cultura é determinada. A cultura se transforma ao longo do tempo:
 Factores da mudança:
-Modificações geofísicas, sociais, demográficas e culturais.
-A cultura representa o esforço adaptativo do homem frente a realidade que o
cerca: a cultura cabe o domínio do ambiente, garantia da sobrevivência humana
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e do conforto, bem como a satisfação humana, seja no domínio da estética, da


inteligência, da Biologia ou do sobrenatural.( (Idem:45)

CULTURA E SUBCULTURA
O uso do termo subcultura não significa que se trate de uma cultura inferior.
A subcultura quase sempre se identifica com a cultura regional ou com a parte da
cultura nacional. ((Idem:46)

ASPECTO COGNITIVO DA CULTURA


Podemos distinguir três aspectos:
1. Significados operativos: NORMATIVA são os significados de como agir e
procuram a maneira justa de agir;
2. Significados cosmológicos: CREDO significado do mundo, da natureza, do
universo todo, da teologia, a crenças do povo, a sua explicação como respostas ou
respostas aos porquês profundos;
3. Significados Morais: MORAL os significados dos valores, o que e desejável,
bom, belo; e o contrário, não desejável, não bom: os valores, a ética.( (Idem:46).

CONSEQUÊNCIAS COMUNS DESTES SIGNIFICADOS

 A prevedibilidade;
A mudança social e uma mudança no mundo do pensamento, e segue-lhe uma
mudança de modo de agir;
A pessoa humana torna-se cultural através do processo de aprendizagem
(inculturação);
Cada um torna-se o que e em grande parte, devido em parte muito importante a
tantos acidentes, históricos, mas sempre existe a possibilidade de mudar.
Todas as alturas, enquanto cultura, são iguais, habituemos-nos a pensar deste modo;
nos também os outros em outras partes.
Normas: idéias e conceitos sobre como se deve comportar, e são transmitidas; em
geral, são aceites: são precisadas pela tradição;
Valores: são parâmetros para julgar o comportamento;
Sanções: ajudam a manter os valores e observar as normas.
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CONCLUSÃO

De acordos as leituras feitas, conclui-se que, cultura é um conjunto de


significados e valores partilhados e aceites por uma sociedade ou comunidade, pois
o conceito de cultura varia de ragião para cada região sem que para o efeito mude o
seu significado. Salienta-se que, a cultura possui suas características das quais se
destacam as seguintes: simbólica, social, dinâmica e estável, selectiva, universal,
regional e determinante ou determinada.
Para fectivação do trabalho, o grupo recorreu a consulta bibliográfica, para
além de artigos da Internet.
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BIBLIOGRAFIA
ARANHA, at all. Filosofando: in Tradução a Filosofia, São Paulo, s/d, Pp. 2-7.
BERNARDI, B. Antropologia. Lisboa. Editorial Teorema. 1989.

MARTINEZ, F. L. Antropologia Cultural: Guia para o estudo. 3.ed. Matola.


Edibosco, 2001p.
http://www. geocities.com/capitolhill/3021. 02-08 2008, P. 4.

http://pt.wikipedia.org/wiki/ %C3%A7%C3%A3o
Categorias: 02-08 2008, P. 3
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Glossário
Arte - maneira correcta de fazer alguma coisa, isto é, o conjunto de regras e de
gosto que serve a execução de uma obra, seja ela de carácter estético ou utilitário.

Crença - acto ou efeito de crer, acreditar, de alguma coisa por certa ou verdadeira.
Mas geralmente emprega-se no sentido de aceitação convicta duma doutrina
religiosa.

Ética ou moral - Alma individual a qual é o princípio, a razão da vida; Alma sem
corpo; a realidade pensante, o pensamento, a inteligência, a reflexão - oposta a
matéria, o corpo, os objectos do pensamento, aos extensos e a sensibilidade.

Racionalismo – doutrina que afirma a autoridade soberana da razão, rejeitando a


intervenção da revelação (divina), da crença da afectividade e dos instintos da
descoberta da verdade; "doutrina segundo a qual existem verdades à priori,
universais e necessárias, independentes da experiência, e que afirma que a razão é
enacta, imutável e igual em todos os homens" (DESCARTES ; CUVILLIER)

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