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O ensaio que me proponho a realizar aborda o tema da política económica

como solução para a tão evidente, mas tão pouco debatida, problemática da justiça
social; mormente devido ao conformismo, cómodo, de uma sociedade e, não obstante,
aquele que é motivado pela ideia de impotência dos cidadãos no contexto de uma
democracia que segue um paradigma fixo instituído pela entidade estatal.

Na verdade, no contexto atual da economia-mundo que vigora são várias as


visões acerca das políticas adequadas à prosperidade socioeconómica das nações.
Dever-se-á privilegiar a igualdade efetiva, embora deficitária, reivindicada pelo
socialismo, ou a estratificação socioeconómica justa segundo princípios de distinção
sustentada no mérito de qualquer indivíduo, uma perspetiva segundo uma direita
liberal?

A concepção de um Estado mínimo, no qual a liberdade de escolha dos


indivíduos fosse minimamente afetada, havia sido defendida pelo filósofo Robert
[1]
Nozick . Esta constitui uma visão radical de liberalismo nas dimensões económica,
social e política. John Locke, um ativista da filosofia política e do liberalismo, é
considerado o pai desta última posição política («o homem vive livre e em paz no seu
estado de natureza»)[2].

Visando a redistribuição dos rendimentos primários, facilmente constatamos o


caráter fulcral da existência de um Sistema de Segurança Social (SS): de facto, um
panorama realista de diferenciação socioeconómica inevitável é fomentado não só
pelo desigual acesso a determinados bens/serviços como também a empregos que
possibilitem esse abastecimento de produtos essenciais à subsistência. A desigualdade
de oportunidades é, atualmente, um dos constrangimentos da nossa sociedade e do
nosso tempo, pelo que deve, pois, ser encarada numa ótica de atenuação, porém
nunca de supressão, por ser uma variável socioeconómica extremamente complicada
no que ao seu controlo/asseguramento diz respeito. Com efeito, a realidade social
tem-se mostrado heterogénea, já que os fenómenos sociais são, de certa forma,
complexos.

Ainda que o nosso país seja essencialmente socialista, a verdade é que existe
bastante liberdade no que à economia e ao mercado diz respeito, pelo que a iniciativa
1
individual acaba por gerar desigualdades consoante o sucesso ou fracasso no mesmo
âmbito. O investimento e a criação de novas áreas de negócio estão disponíveis ao
cidadão comum, pelo que se presencia um certo capitalismo, embora parcial, gerador
de desigualdades, posteriormente «corrigidas» pela Administração Central.

Deste modo, torna-se imperativo requerer um sistema que proteja as classes


mais debilitadas social e financeiramente do nosso país. No entanto, aos dias de hoje,
persistem algumas questões eticamente deploráveis e que inviabilizam a construção
de uma comunidade regida por princípios sólidos assentes na justiça, no mérito e nos
valores individuais: os aproveitamentos constantes do Rendimento Social de Inserção
[1]
(RSI) e outros subsídios de pobreza/desemprego por uma franja populacional
significativa que acaba por criar projetos de vida sustentados na garantia do usufruto
ininterrupto deste abono; o desrespeito pelo trabalho empenhado e merecido por
oposição àqueles que em nada contribuem para o crescimento económico e/ou
desenvolvimento do país.

Com efeito, poder-se-á contra-argumentar com o imperativo da existência


deste sistema que gera capital a partir das quotizações sociais como meio de assegurar
um rendimento mínimo que permita a subsistência dos beneficiários destas prestações
sociais. Contudo, os aproveitamentos de um sistema vicioso por parte dos demais não
se coaduna com os projetos naturalmente evocados de prosperidade, crescimento
económico, desenvolvimento humano e combate à precariedade. O papel de uma
entidade de fornecimento de seguros sociais obrigatórios, hoje denominada Segurança
Social, foi amplamente reconhecido já desde março de 1935. No entanto, deverão ser
introduzidas reformas no funcionamento-base deste mecanismo: a formulação de
critérios inflexíveis e cuja verificação reflita, indubitavelmente, situações de efetivas
dificuldades de integração social, económica e financeira; a constante necessidade de
justificação mais prática e focalizada da necessidade do usufruto deste abono; a
supressão de todo e qualquer benefício aos desrespeitadores da ideologia de justiça
social e de avanço sustentado da economia e da coletividade nacionais.

Noutra ótica semelhante, poder-se-á constatar a insustentabilidade gerada pela


opção de interrupção das ajudas a uma franja populacional relevante e que a
[2] apoio destinado a proteger as pessoas que se encontrem em situação de pobreza extrema, sendo
constituído por uma prestação em dinheiro para assegurar a satisfação das suas necessidades mínimas, e
um programa de inserção que integra um contrato
abstenção por parte da mesma de um rendimento social colocará em causa,
impreterivelmente, a qualidade de vida essencial a uma vida com dignidade. No
entanto, estes casos devem constituir oportunidades de requalificação social e de
reintegração humana na atividade económica e mormente no mercado de trabalho. A
vida é, aliás, o bem mais precioso de qualquer ser e, sem dúvida, que só em ocasiões
muito concretas e motivadas por outro tipo de indumentária, um sujeito estaria
disposto a abdicar da mesma. Com efeito, a necessidade de construção sólida de uma
vida financeira segura aliada ao rigor e à exigência na atribuição de ajudas
proporcionará o empenho instintivo individual na procura de fontes de rendimento. A
escolha de vias ilegítimas de obtenção de rendimentos é, da mesma forma, uma das
realidades passíveis, pelo que o mecanismo de reabilitação deve reger-se por este
mote de combate à corrupção.

Assim, e indo ao encontro da tese de Nozick, o combate à corrupção deve


constituir a principal área de intervenção de um Estado Mínimo. Relativamente à
redistribuição dos rendimentos com base no valor bruto auferido e no pagamento de
impostos diretos, como o IRS ou o IRC, que, à partida, fomentariam o equilíbrio da
sociedade e da economia, não pode ser descurado o mérito e a legitimidade da
obtenção desses proveitos. Na verdade, não é ético suprimir determinadas regalias a
um agente económico e atribuí-las a outrem unicamente como forma de fazer
transparecer uma sociedade aparentemente justa, equilibrada e sustentável. Ainda
que se procure camuflar as heterogeneidades de uma comunidade, a verdade é que
estas persistirão indefinidamente. O foco tem, portanto, de ser o da busca de garantia
da igualdade de oportunidades, e com isto refiro-me ao combate eficaz e real a
problemas que jamais deverão ser escondidos da sociedade moderna – racismo,
xenofobia, discriminação, crimes, de uma forma geral. Do mesmo modo, não é justo
conferir-se obrigações pecuniárias correntes, cujo montante dependa unicamente do
valor do rendimento-base; devem ser criados critérios meritocráticos, que substituam
uma visão tão redutora da realidade social e que não descurem as vias de obtenção de
tais rendimentos. Esta é a via do sucesso de uma nação: a do liberalismo assente na
condenação da delinquência e da perversidade.

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