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cr John R. Reitz ~ Frederick J. Milford Robert W. Christy Desde o seu aparecimento em 1960, este livro tornou-se 0 texto obri- Um vetor é uma quantidade que esté completamente caracterizada por seu_médulo, diregéo e sentido. Como exemplos de vetores, citamos posigao a partir de uma origem fixa, velocidade, ace- leracdo, forca, etc, A generalizacdo para um campo vetorial dd uma fungao da posigdo que est completamente especificada por seu médulo, direcdo e sentido em todos os pontos do espaco. Estas definig6es podem ser mais precisas e ampliadas; na realidade, no Apéndice I elas so substituidas por definigdes mais sutis em termos de propriedades de transforma- 40. Além disso, espécies mais complicadas de quantidades, como os tensores, so as vezes encontradas, Escalares ¢ vetores sero contudo suficientes aos nossos propésitos até 0 Capitulo 22. 1s 16 Andlise Vetorial ~ 1-2 ALGEBRA VETORIAL Como a algebra dos escalates é familiar ao leitor, usé-la-emos para desenvolver a dl- gebra vetorial. Para continuar com este desenvolvimento convém possuir uma representa- Go de vetores e, com este propésito, introduzimos um sistema coordenado cartesiano tri- dimensional. Este sistema tridimensional serd representado pelas trés varidveis x, y, 2 0u, quando for mais conveniente, x, , x2, x3. Com respeito a este sistema de coordenadas, um vetor serd especificado por suas componentes x-, y- e z-. Assim, um vetor* V serd especifi- cado por suas componentes V_, Vy,V;,onde Vz =|V1cos ay, V, =|Vi cos a, Vz =|V1 0s as, sendo a 0s ngulos entre V € os eixos coordenados apropriados. O escalar |V| VV? + V2 + V2 0 médulo do vetor V, ou seu comprimento. No caso dos campos veto- riais, cada uma das componentes deve ser considerada como uma funcdo de x, y ez. Deve- se salientar aqui que introduzimos uma representagdo de vetores relativos a um sistema de coordenadas cartesianas somente para simplificar e facilitar a compreensdo; todas as defi- nigGes © operagdes sd0, na realidade, independentes de qualquer escolha especial de coor- denadas. Define-se a soma de dois vetores como 0 vetor cujas componentes so as somas das componentes correspondentes dos vetores originais. Assim, se C for a soma de A e B, es- creveremos C=A+B (vl) C, =A, +B,, Cy=A,+By, C.=A, +B, (2) Esta definiggo da soma vetorial é completamente equivalente 4 conhecida regra do parale- logramo para a adi¢do de vetores. Define-se a subtragdo vetorial em termos ilo negativo de um vetor, que é 0 vetor cu- jas componentes sio os negativos das componentes correspondentes do vetor original. As- sim, se A for um vetor, ~A serd definido por (A)e = Ax, (A)y =—Ay, (CA), =~ Ane (13) A operagio de subtragdo é entdo definida como a adigdo do negativo; o que é expresso como A—B=A+(—B). (4) Uma vez que a adigdo de ndmeros reais é associativa e comutativa, segue-se que a adigdo vetorial (¢ a subtra¢do) também serd associativa e comutativa, Na notagdo vetorial isto se apresenta como A+(B+C)=(A+B)+C=(A+C)+B=A4+B+C. (1-5) Em outras palavras, os parénteses nfo sdo necessdrios, como se mostra na iltima forma. Passando agora a0 processo da multiplicagdo, notamos que o produto mais simples * As quantidades vetoriais serdo impressas em negrito. ~ Algebra Vetorial 7 © de um escalar multiplicado por um vetor. Esta operago tem como resultado um vetor cujas componentes so 0 escalar multiplicado pela componente correspondente do vetor original. Se ¢ for um escalar e A um vetor, o produto cA serd um vetor, B= cA, definido por By=cA,, By=cAy, B,=cAy. (1-6) E claro que se A for um campo vetorial e c um campo escalar, entio B ser4 um novo cam- po vetorial que ndo é necessariamente um miltiplo constante do campo original. Se, agora, dois vetores forem multiplicados, haverd duas possibilidades, conhecidas como produtos escalar e vetorial. Considerando em primeiro lugar o produto escalar, no- tamos que este nome provém da natureza eseatar do produto, apesar de Os nomes alterna- tivos, produto interno e produto ponto, serem algumas vezes usados. A defini¢ao do pro- duto escalar, expresso por A + B, é A+ B=A,B, +A,B, + A,B. (1-7) Esta definigdo € equivalente a outra, talvez mais familiar, a saber: o produto dos médulos dos vetores originais multiplicado pelo co-seno do angulo entre estes vetores. Se A e B fo- rem perpendiculares um ao outro, A-B=0 0 produto escalar € comutativo. O comprimento de A é IAl= VA-A. 0 produto vetorial de dois vetores é um vetor, o que explica o nome. Nomes alter- nativos também usados so produtos externo e produto cruz. O produto vetorial é expres- so por A x B; se C for o produto vetorial de Ae B, entao C= A x B, ou AyB,- AzBy, Cy =AzBy — AB, Cz =AxBy — AyBy. (1-8) E importante notar que o produto vetorial depende da ordem dos fatores; a troca da or- dem introduz um sinal negativo: Bx A=-AxB Conseqiientemente, Ax A=0. Esta definigdo é equivalente a seguinte: 0 produto vetorial é 0 produto dos médulos mul- tiplicado pelo seno do angulo entre os vetores originais, sendo o sentido dado pela regra do parafuso de rosca direita (ou da mio direita)*. 0 produto vetorial pode ser facilmente recordado em termos de um determinante. Se i, je k forem vetores unitérios, isto é, vetores de médulo unitdrio, nas diregdes e senti- * —Suponhamos que A gira até B pelo menor angulo possivel. Um parafuso de rosca direita girado desta forma avangari numa diregZo perpendicular tanto a A como a B; 0 sentido deste avango € © sentido de A x B, 18 Anilise Vetorial dos positivos de x, y, z, respectivamente, teremos lo fienk AxB=|A, 4, 4,]. (19) B, By B. Se este determinante for resolvido pelas regras usuais, o resultado serd precisamente nossa definigdo de produto vetorial. As operagdes algébricas expostas acima podem ser combinadas de muitas formas. A maioria dos resultados assim obtidos é Sbvia; entretanto, hé dois produtos triplos de im- porténcia suficiente para merecer mengdo explicita. Vé-se facilmente que o produto esca- lar triplo D = A - B x Cé dado pelo determinante a, Ay A, D=A-BxC=|B, BR, B.|=-B-AxC (2-10) CHG, GE Este produto ndo varia ao se fazer a permuta entre 0 ponto e a cruz ou uma permutago ciclica dos trés vetores; parénteses no so necessirios, uma vez que o produto vetorial de um escalar por um vetor nio est definido. O outro produto triplo interessante é 0 produ- to vetorial triplo D = A x (Bx C). Através de uma aplicagdo repetida da definigao de pro- duto vetorial, Eq. (1-8), obtemos D=Ax (Bx C)=B(A -C)—C(A «B), (-) que € freqientemente conhecida como regra do fator médio. Deve-se observar que no pro- duto vetorial os pardnteses so vitais; sem eles, 0 produto ndo ficard corretamente defini- do. Neste ponto poder-se-ia perguntar sobre a possibilidade da divisdo vetorial. A divi- so de um vetor por um escalar pode ser naturalmente definida como a multiplicagao pe- lo recfproco do escalar. A divisdo de um vetor por outro vetor, no entanto, somente sera possivel se os dois vetores forem paralelos. Por outro lado, € possivel expressar solucdes gerais de equacdes vetoriais e, desta forma, efetuar algo parecido com a divisio. Conside- remos a equacdo c=A*X, (1-12) onde ¢ é um escalar conhecido, A é um vetor conhecido e X é um vetor desconhecido. Uma solugao geral desta equagdo é (1-13) onde B é um vetor de médulo arbitrdrio, perpendicular a A, isto é, A : B=0. O que fize- mos, foi muito semelhante a dividir ¢ por A; mais corretamente, achamos a forma geral do vetor X que satisfaz a Eq. (1-12). Nao existe uma solugdo tinica e este fato explica o vetor B. Do mesmo modo, podemos considerar a equagao vetorial C=AxX, (1-14) onde A e C sdo vetores conhecidos e X é um vetor desconhecido. A solugdo geral desta equacdo sera Gradiente 19 Cth RETA oe (1415) x se C+ A=0, onde k é um escalar arbitrério. Se C + A ¥ 0 nao existird nenhuma solugdo. Isto, novamente, € quase 0 quociente de C por A; o escalar k leva em conta a no unicida- de do proceso. Se X for necessério para satisfazer tanto a Eq. (1-12) como a Eq. (1-14), entdo 0 resultado serd tinico (se existir) e dado por pe Sess 1:16 EAL AG MAS A Gas) 13 GRADIENTE As extensOes das idéias introduzidas acima para a diferenciagdo e a integrag4o, isto é, para o célculo vetorial, sero consideradas agora. A mais simples destas é a relaco entre um campo vetorial particular e as derivadas de um campo escalar. E conveniente introdu- zit em primeiro lugar a idéia da derivada direcional de uma funco de diversas varidveis. Isto exatamente a taxa de varia¢do da funcdo em uma diregao e sentido especificados. A derivada direcional de uma funcao escalar y € usualmente representada por dy/ds; deve ser entendido que ds representa um deslocamento infinitesimal na dire¢do e sentido conside- rados e que ds € 0 valor escalar de ds. Se ds tiver por componentes dx, dy, dz entdo (x + Ax, y + Ay, — (x, ¥. 2) do We lim Aro a ec dv a de éx ds” éy ds * @= ds Para esclarecer a idéia de uma derivada direcional, consideremos uma fungao escalar de duas varidveis. Entfo, v(x, y) representa um campo escalar bidimensional. Podemos construir 0 grafico de y como fungo de x e y da mesmia forma que na Fig. 1-1 foi feito para a fungdo g(x, y)=x? +y?. A derivada direcional no ponto Xo, )o depende da dire- do e do sentido. Se escolhermos o sentido correspondente a dy/dx = ~xo/¥o, obteremos dp oy dx, dg dy Xo] dx - => = Meg — 21 — =0. (1-17a) Flue! Bae Byals [he gg hds j Alternativamente, se escolhermos dy/dx = y9/x9, obteremos , dy mn vw xo Sat Ba” (ot?) J agegg “VF ea uma vez que ds = V(dx}? + (@y)*. Como uma terceira possibilidade, escolhemos dy/dx = a, entdo do S |o50 Se este resultado for diferenciado em relacdo a we a derivada feita igual a zero, o valor de @ para o qual a derivada terd um méximo ou um minimo terd sido achado. Quando efe- tuarmos estas operagdes, obteremos a = ¥o/x9 que significa simplesmente que a diregao de maxima taxa de variagdo da funcao y=x? + y? é a direcao radial. Se 0 sentido for ra- dialmente para fora, entdo o maximo seré a taxa méxima de crescimento; se for radial- = (2xo + 2ayo)(1 + a?) 1, (1-17c) 20 Andlise Vetorial mente para dentro seré uma taxa maxima de decréscimo ou taxa minima de crescimento. Na direco especificada por dy/dx = ~xq/yo, a taxa de variacZo de x? + y? é zero. Esta diego é tangente ao circulo x? + y? =x2 +y}. Evidentemente, nesta curva, y = x? + y? nao varia. A direcdo em que dy/ds se anula da a direcdo da curva y = constante através do ponto considerado. Estas linhas, que so circulos no caso da fungdo x? + y?, so com- pletamente andlogas as ja familiares linhas de nivel, ou linhas de altitude constante, que aparecem nos mapas topogrdficos. A Fig. 1-2 ilustra a fungdo y = x? +,y* reconstituida graficamente como uma curva de nivel. Figura 1-1 Grifieo da fungio p(x, y) =x? + y em fungio de x ey em trés dimensbes, Pode-se generalizar a idéia das curvas de nivel estendendo-a a uma fungdo de trés va- ridveis, em cujo caso as superficies v(x, y, 2) =constante so denominadas superficies de nivel ou superficies equipotenciais. O andlogo tridimensional da Fig. 1-2 € a tinica manei- ra pritica de representar graficamente um campo escalar num espago tridimensional. y 4y can Figura 1-2 Fungo (x, y) da Fig. 1-1 expressa em forma de curvas de nivel em duas dimen- ses, Gradiente a Pode-se agora definir o gradiente de uma fungdo escalar como segue: O gradiente de uma funcao escalar y é um vetor cujo médulo é a derivada direcional maxima no ponto considerado e cujo sentido é 0 sentido de derivada direcional maxima neste pont. E claro que o gradiente tem uma diregdo normal a superficie de nivel de y através do pon- to em considera¢do. Os simbolos mais comuns para o gradiente so V e grad; destes, usa- remos de preferéncia o Ultimo, Em termos de gradiente, a derivada direcional é dada por do ds onde @ € 0 Angulo entre o sentido de ds € 0 sentido do gradiente. Isto é imediatamente evidenciado pela geometria da Fig. 1-3. Se expressarmos 0 deslocamento vetorial de mé- dulo ds por ds, a Eq, (1-18) poderd ser eserita como dg ds = grad y= 1-19) See (-19) Esta equago permite-nos achar a forma explicita do gradiente em qualquer sistema de co- ordenadas em que conhegamos a forma de ds. Sabemos que, em coordenadas retangulares, ds =i dx + jdy +kdz. Também sabemos que a a é eax +e dy + oe ae x @z = |grad | cos 0, (1-18) do as Figura 1-3 Partes das duas superficies de nivel da fungfo e(x, », 2). O Igrad yl em P ¢ igual ao limite de Ay/PQ quando PQ > Oe dolds € o limite cor- ¥ © = y+ Ae respondente de Ag/PS. Desta e da Eq. (1-19). sepue-se que 20 ay * oo 2 ay oe ox = (grad ¢), dx + (grad 9), dy + (grad 9), 4 Fixo P | oer Figura 1-4 DefinigZo das coordenadas pola res 7, 8,0. 2 Andlise Vetorial Igualando os coeficientes das diferenciais das varidveis independentes em ambos os lados da equaedo, obtemos a ae, ox em coordenadas retangulares. Num caso mais complicado, 0 procedimento é o mesmo. Em coordenadas polares esféricas, com r, 8, como sZo definidos na Fig. 1-4, temos ap op ay +k a (1-20) grad o eg ag ep = 1-21 dp = FP dr + 5 a0 + 54 dd, 121) ds =a, dr +a,r dO + a,r sen 0 dd, (1-22) onde a,, ag € ay S20 vetores unitérios nas diregdes e sentidos positivos de r, 0 e ¢ respecti- vamente, Aplicando a Eq. (1-19) igualando os coeficientes das varidveis independentes, temos 1 6p +96 end ap 28) grad @ em coordenadas esféricas. 1-4 INTEGRACAO VETORIAL Existem naturalmente outros aspectos da diferenciag%o que envolvem vetores; en- tretanto, convém discutir em primeiro lugar a integrago vetorial. Dentro do nosso objeti. vo, podemos considerar trés tipos de integrais: de linha, de superficie e de volume, de acordo com a natureza da diferencial que aparece na integral. O integrando pode ser um vetor ou um escalar; entretanto, certas combinacdes de integrandos e diferenciais do ori- gem a integrais sem interesse. As de maior interesse aqui so a integral escalar de linha de um vetor, a integral escalar de superficie de um vetor e as integrais de volume de vetores e escalares, Se F for um vetor, a integral de linha de F ser expressa como > [ Fed (1-24) onde C € a curva ao longo da qual a integracdo é efetuada, a e b so os pontos inicial e fi- nal da curva e dl é um vetor deslocamento infinitesimal ao longo da curva C. Como F + d1é um escalar, esta claro que a integral de linha é um escalar. A definigdo da integral de linha & muito semelhante a definicTo de Riemann da integral definida. O segmento de Centre ae 6 € dividido num grande mimero de pequenos incrementos lj; para cada in- cremento € escolhido um ponto interior e determinado o valor de F neste ponto. O pro- duto escalar de cada incremento com o valor correspondente de F € determinado e a soma destes computada. Define-se ento a integral de linha como o limite desta soma 4 medida que 0 némero de incrementos se torna infinito, de forma a que cada incremento tenda a zero. Pode-se expressar compactamente esta definiggo como Nowe (1 im ¥ | Fedt= lim ¥ FAL Integragio Vetorial 23 E importante observar que a integral de linha em geral nfio depende apenas dos pontos ex- tremos a e b mas também da curva C ao longo da qual se realiza a integragao. A integral de linha ao longo de uma curva fechada é de considerdvel importancia, de maneira que uma notagao especial é usada, isto é, f Fea (2-28) c A integral em toro de uma superficie fechada pode ser zero ou nao; a classe de vetores para a qual a integral de linha em torno de qualquer curva fechada é nula, é de grande in- teresse. Por esta razo, freqiientemente se encontram integrais em toro de percursos fe- chados nao indicados, por exemplo, {Feat (1-26) Esta notagdo ¢ stil apenas nos casos em que a integral é independente do contomo C den- tro de limites bastante amplos. Se qualquer ambigidade for possivel, serd conveniente es- pecificar 0 contorno. O procedimento bdsico para a solugdo de integrais de linha consiste em obter uma descrigo com um parametro da curva e entdo usar esta descri¢Zo para ex- pressar a integral de linha como a soma de trés integrais ordindrias unidimensionais. Em todos os casos, exceto os mais simples, este é um procedimento longo e tedioso; mas, fe- lizmente, raras vezes se tora necessério resolver as integrais desta forma. Como veremos posteriormente, muitas vezes € possivel mostrar que a integral de linha nao depende da trajet6ria entre 0s pontos extremos. Em altimo caso, pode-se escolher um percurso sim- ples para simplificar a integragao. Se F for novamente um vetor, uma integral de superficie de F ser expressa como F-nda, (1-27) onde S € a superficie sobre a qual se efetua a integragdo, da é uma drea infinitesimal em S en é uma normal unitdria a da. Ha uma dupla ambigitidade na escolha de n, que seré eli- minada, considerando-se n como sendo a normal dirigida para fora se S for uma superficie fechada. Se $ ndo for uma superficie fechada e for finita, teré um contorno, ¢ 0 sentido da normal seré importante somente em relago ao sentido arbitrério positivo de atravessar © contomo. O sentido positivo da normal é aquele em que um parafuso de rosca direita avangaria se fosse girado no sentido positivo da curva de contorno. Isto estd ilustrado na Fig. 1-5. A integral de superficie de F sobre uma superficie fechada S é, as vezes, repre- sentada por f Fenda s Figura 1-5 Relacdo da normal na uma su- Contorno perficie e 0 sentido de giro do contorno. 24 Andilise Vetorial Podem-se fazer comentarios iguais aos feitos para a integral de linha para a integral de su- perficie. Esta integral de superficie & evidentemente um escalar; depende geralmente da superficie S e os casos em que nao depende desta sao particularmente importantes. A de- finigdo da integral de superficie ¢ feita de uma forma compardvel 4 da integral de linha. Apresentar-se-d como exercicio essa formulacio pormenorizada. Se F for um vetor e y um escalar, entdo as duas integrais de volume em que estamos interessados serio J, gd, K={ Fav. (1-28) . 4 Evidentemente, J é um escalar e K, um vetor. As definigdes destas integrais reduzem-se ra- pidamente a integral de Riemann em trés dimens6es exceto que em K se deve notar a exis- téncia de uma integral para cada componente de F. Estas integrais so suficientemente fa- miliares de modo que ndo exigem nenhum outro comentario. 1.5 DIVERGENTE Um outro operador importante, que é essencialmente uma derivada, € 0 operador divergente. O divergente do vetor F, escrito div F, € definide como segue: O divergente de um vetor é 0 limite de sua integral de superficie por unidade de volume quando 0 volume encerrado pela superficie tende a zero. Isto é, div F = im +f Fenda v-0 Vis E incontestavel que o divergente é uma funcdo escalar puntual (campo escalar) que se de- fine no porto limite da superficie de integragdo. A definigo acima tem varias vantagens: € independente de qualquer escolha especial do sistema de coordenadas e pode ser usada para encontrar a forma explicita do operador divergente em qualquer sistema particular de coordenadas. O elemento de volume Ax Ay Az dé, em coordenadas retangulares, uma base con- veniente para encontrar a forma explicita do divergente. Se um vértice do paralelepipedo retangular se localizar no ponto x9, Yo, Zo, entdo F (xo + Ax, y, Flos y=) + Ax s : one oF, F(x, Yo + Ay. =) = Fy(x, yo. 2) + Ay S : oY |agot (1-29) aF,| F(x, y, 29 + Az) = (x.y, 29) + Az I onde termos de ordem maior em Ax, Ay e Az foram omitidos. Como o elemento de 4rea A, Az 6 perpendicular ao eixo x, Az Ax € perpendicular ao eixo y e Ax Ay € perpendi- cular ao eixo 2, a definigdo do divergente torna-se Leite di = — yz) dy iv Fm fim as il Fon 2) dy + Ax Ay + [ Fy(s vo. =) dx dz oF, ey ¥ 4 | F.C, yy 20) dx dy ) dy dz — [ Fyls, yo. =) dx dz — [ F(x. 9, 20) dv a (130) As | f O sinal menos associado com os diltimos trés termos explica o fato de que a normal dirigi- da para fora esta, nestes casos, no sentido negativo dos eixos. O limite é facilmente obtido € 0 divergente encontrado, em coordenadas retangulares, é OF, , OF, , F, +o + div F=" 31) x” ey Em coordenadas esféricas, procedimento é semelhante. O volume encerrado pelos intervalos de coordenadas Ar, Ad, Ag é escolhido como volume de integragao. Este volu- me &7? sen 0 Ar A® Ag, Como a drea encerrada pelos intervalos de coordenadas depende dos valores das coordenadas (note-se que este no é 0 caso das coordenadas retangulares), émelhor escrever F « n Aa em sua forma explicita: F-nAa=F,r* sen 0 Ad Ad + Fyr sen) Ad Ar + Fyr Ar AQ. (1-32) E evidente, através desta expresso, que r7F, sen @, a0 invés de somente F,, deve ser des- dobrado em série de Taylor. De maneira semelhante, é 0 coeficiente dos produtos dos it tervalos de coordenadas que deve ser expandido em outros termos. Fazendo estas expan- ses e usando-as para calcular a integral de superficie na definicao do divergente, obtemos i be div F= fi ee iv F = lim par Aa lor rr? 8280) Ar M0 Ae é é | + 3 (Far sen 8) 40 ar AO +55 (For) Ad Ar Ay (133) Tomando o limite, a forma explicita do divergente, em coordenadas esféricas, é 1a ena Le, divF=5 2F,)+——_ = 1-34) WR = 5 OF) + ag a6 NOP) + oe ap ne Este método de encontrar a forma explicita do divergente € aplicavel a qualquer sistema de coordenadas contanto que as formas dos elementos de volume ¢ de superficie ou, alter- nativamente, os elementos de comprimento sejam conhecidos. Compreende-se logo o significado fisico do divergente através de um exemplo toma- do da mecinica dos fluidos. Se V for a velocidade de um fluido, dado como fungio da po- sigdo, ¢ p for sua densidade, entio $,pV + nda serd evidentemente a quantidade liquida de fluido, por unidade de tempo, que deixa o volume encerrado por S. Se o fluido for in- compressivel, a integral de superficie medira a fonte total de fluido encerrada pela super- ficie. A definigo anterior do divergente indica, entdo, que o mesmo pode ser interpreta- do como o limite da intensidade da fonte por unidade de volume, ou a densidade da fonte de um fluido incompressivel. 26 Andlise Vetorial Pode-se agora enunciar ¢ demonstrar um teorema extremamente importante que en- volve o divergente. Teorema do divergente. A integral do divergente de um vetor sobre um volume V é igual d integral de superficie da componente normal do vetor sobre a superficie que limita V. Isto 6, Consideremos o volume a ser subdividido num grande numero de pequenas células. Seja AV; 0 volume da célula de ordem i ¢ suponhamos que o mesmo esteja limitado pela su- perficie S;. E evidente que (135) onde em cada integral da esquerda, a normal se dirige para fora do volume considerado. Como o sentido para fora de uma célula é o sentido para dentro da célula adjacente apto- priada, todas as contribuigdes do lado esquerdo da Eq. (1-35) se cancelam, exceto as que provém da superficie S. Assim a Eq. (1-35) esti essencialmente demonstrada. Obtém-se agora o teorema do divergente fazendo o niimero de células ir ao infinito de forma a que © volume de cada célula tenda a zero " - F-nda= lim BL F+nda/A¥,. 1-36) 5, am Siar, i , No limite, a soma sobre i converte-se numa integral sobre Ve a razio entre a integral so- bre 5, e AY; toma-se o divergente de F. Assim, b F-nda=| div F dv, 37) s que € 0 teorema do divergente. Teremos, freqiientemente, ocasido para tirar partido deste teorema, tanto no desenvolvimento de aspectos tedricos da eletricidade e magnetismo quanto na resolugdo pritica de integrais. 1-6 ROTACIONAL O terceiro operador vetorial diferencial que interessa é o rotacional. O rotacional de um vetor, expresso por rot F, € definido como segue: 0 rotacional de um vetor € 0 limite da razdo entre a integral de seu produto vetorial com @ normal dirigida para fora, sobre uma superficie fechade, e 0 volume encerrado pela superficie quando 0 volume tende a zero. Isto &, ni rot F = lim —[ nx Fda 138) Linh (138) E incontestavel o paralelismo entre esta definicdo e a definicIo do divergente; ao invés do produto escalar do vetor com a normal dirigida para fora, tem-se o produto vetorial. No mais, as definigOes so iguais. Uma definigdo diferente, mas de igual valor, sera mais ttl Esta definigdo alternativa é A componente do rot F na direeao do vetor unitério ao limite de uma integral de linha por unidede de érea, quando a drea encerada tende a zero, sendo esta érea perpendicular a a. Isto é, ie . F=lim —} F- dl aera tne JE fal (1:39) Rotacional 21 onde a curva C, que limita a superficie S, esté em um plano normal aa. E facil ver a equi- valéncia das duas definigdes, considerando uma curva plana C e o volume varrido por esta curva quando esta for deslocada uma distancia ¢ na direc da normal a seu plano, como é ilustrado na Fig. 1-6. Se a for normal a este plano, entdo, tomando-se o produto escalar de a com a primeira definigao do rotacional, Eq. (1-38), obtemos eerot P= tim farm x Fda (1-40) Figura 1-6 Volume varrido pelo destoca- mento da curva plana C no sentido de sua normal, a. Como a é paralelo 4 normal em toda a superficie limitadora, exceto na estreita faixa limi- tada por Ce C’, somente se deve considerar a integral sobre esta superficie. Observamos que nesta superficie ax nda € exatamente { dl, onde dl € um deslocamento infinitesi- mal ao longo de C. Uma vez que, além disso, V ={S, limite da integral de volume, é exa- tamente 1 a-+rot F= lim vao 6S {er +d, que se reduz A segunda forma de nossa definigdo apés 0 cancelamento dos ¢. Pode-se de- monstrar esta equivaléncia sem 0 emprego do volume especial utilizado aqui; entretanto, fazé-lo assim, sacrifica muito a simplificagdo do que demonstramos anteriormente. ‘A forma do rotacional em varios sistemas de coordenadas pode ser calculada de ma- neira semelhante 4 do divergente. Em coordenadas retangulares, € conveniente o volume Ax Ay Az. Para a componente x do rotacional, somente contribuem as faces perpendicu- lares aos eixos y e z. Recordando que jx k=—k x j =i, as contribuigdes nao eliminaveis das faces do paralelepipedo 4 componente x do rotacional, dio (rot F),. = + F(x, y, 2)) Ax Ay + [F.(x, y+ Ay, 2) — F(x, y, <)] Ax Az}. (1-41) Fazendo-se uma expansiio em série de Taylor e tomando-se o limite, obtém-se (ot F), = 2 oy (1-42) para a componente x do rotacional. As componentes y € z podem ser obtidas da mesma forma. Sao elas OF, _ oF, oF, OF, eae ee ene (rot F)y = eR (rot F),. os Oy (1-43) 28 Andlise Vetorial Pode-se recordar facilmente a forma do rotacional em coordenadas retangulares, se obser- varmos que ele ¢ justamente a expansio de um determinante trés por trés, ou seja, rot, (ee (1-44) Fe O problema de determinar a forma do rotacional em outros sistemas de coordenadas ¢ li- geiramente mais complicado e ¢ deixado para exereicios como no caso do divergente, encontramo-nos com um importante e util teorema que envolve o rotacional, conhecido como teorema de Stokes. Toorema de Stokes. A integral de linha de um vetor segundo uma curva fechada & igual & integral da componente normal de seu rotacional sobre qualquer superficie limitada pela ‘curva, Isto &, > Fed c rot F + nda. (1-45) onde C é uma curva fechada que limita a superficie S. A demonstrago deste teorema é bastante andloga 4 prova do teorema do divergente. A superficie 5 é dividida em grande niimero de células. A superficie da célula de ordem i € denominada AS; e a curva que a li- mita é C;. Uma vez que cada uma destas células deve ser atravessada no mesmo sentido, é evidente que a soma das integrais de linha segundo os C; é justamente a integral de linha segundo a curva limitadora; todas as outras contribuigdes se cancelam. Como conseqiién- cia, pFedl=Sf Feat ¢ The Falta apenas tomar o limite quando o.nimero de células tender ao infinito, de modo que a drea de cada uma tenda a zero. O resultado deste processo de limite € : ie fFedl= fim 5 5 f Favs, asino T =[ rot Fenda, que é 0 teorema de Stokes. Tal teorema, assim como o divergente, ¢ til tanto no desen- volvimento da teoria eletromagnética, como na resolugdo de integrais. Talvez. valha a pena observar que ambos os teoremas, o do divergente e 0 de Stokes, sdo essencialmente inte- gragdes parciais 1-7 OPERADOR DIFERENCIAL VETORIAL V Introduziremos agora uma notagdo alternativa para os trés tipos de diferenciagdo vetorial que expusemos — ou seja, gradiente, divergente ¢ rotacional. Esta é expressa pelo ‘operador vetorial diferencial del, definido em coordenadas cartesianas como Operador Diferencial Vetorial ¥ 29 (1-46) Del é um operador diferencial, jd que é usado apenas frente a uma fungo de (x,y, z), que ele diferencia; € um vetor, jd que obedece as leis da dlgebra vetorial.* Em termos de del, as Eqs. (1-20), (1-31) ¢ (1-44) sdo expressas como segue: grad =, (1-20) (131) i isk VxF= o z (1-44) PF, OF, Fe As operagdes expressas com del so independentes de qualquer escolha especial do siste- ma de coordenadas. Quaisquer identidades que possam ser demonstradas através do uso da representagdo cartesiana sao independentes do sistema de coordenadas. Del pode ser expresso num sistema de coordenadas ortonormais nao cartesiano (curvilineo) de forma andloga 4 Eq. (1-46) com os elementos de distancia apropriados, mas deve-se relembrar, ao aplicd-lo, que os vetores em tais sistemas de coordenadas sao, eles proprios, fungdes de posiedo e precisam ser diferenciados.** Os teoremas integrais importantes, de acordo com as Eqs. (1-19), (1-45) ¢ (1-37), sao > [vera | to=o Po — Par (1-47) wae fo F-dl, (1-45) [ Ve Fdav={ F-nda (137) ty s ‘i £ também um vetor em termos de suas propriedades de transformagdo, como mostrado no Apéndice 1. ** Uma exposigao clementar é feita por H. T. Yang, American Journal of Physies, vol. 40, p. 109 (1972), 30 Anilise Vetorial Estes fornecem a integral de uma derivada de uma fungo, sobre uma regido de n dimen- ses, em termos de valores da propria Fungo nos limites da regido de ordem dimensional (n—1), para n= 1,2,3. Uma vez que 0 operador del obedece as regras da dlgebra veto- rial, € conveniente usd-lo em cdlculos que envolvam andlise vetorial; daqui por diante, ex- pressaremos o gradiente, 0 divergente e 0 rotacional em termos de V, Deve-se observar que V seré um operador linear: Vlay + bY) = aVo + bv, V-(aF +6G)=aV-F+6¥-G, V x (aF + bG) = aV x F+bV x G, seu ¢ } Corer escalares eunstutttes. 1-8 DESENVOLVIMENTOS ADICIONAIS As operages que consistem em tomar o gradiente, o divergente ou o ratacional de espécies apropriadas de campos podem ser repetidas. Por exemplo, faz sentido tomar o di- vergente do gradiente de um campo escalar. Algumas destas operagdes repetidas do zero para qualquer campo bem-comportado. Um ¢ de tanta importincia que tem um nome es- pecial; os outros podem ser expressos em termos de operagGes mais simples. Importante operagdo dupla é a do divergente do gradiente de um campo escalar. Este operador combi- nado é conhecido como 0 operador laplaciano e € usvalmente escrito V?, Viva? Em coordenadas retangulares, ep ee ear tay ey’ (1-48) Este operador é de grande importéncia na eletrostitica e sera considerado pormenorizada- mente no Capitulo 3 © rolacional du grudiente de qualquer campo escala. € uulo. Verificase este enun- ciado mais facilmente expressando-o em coordenadas retangulares. Se 0 campo escalar fore, (1-49) Vx (Vo) = ale elF gle = ‘© que confirma o enunciado original. Em notagdo de operadores, VxV=0. O divergente de qualquer rotacional é também zero. Isto se verifica diretamente em coor- Descnvolvimentos Adicionais 31 denadas retangulares, escrevendo-se (1-50) ou V-VxF=VxV-F=0. Outra possivel operagdo de segunda ordem consiste em tomar o rotacional do rotacional de um campo vetorial. Deixou-se como exercicio a demonstrago de que em coordenadas retangulares, Vx (V x F)=V(V + F)— VF, (151) ‘onde © laplaciano de um vetor é 0 vetor cujas componentes retangulares so os laplacia- nos das componentes retangulares do vetor original. Em qualquer sistema de coordenadas que no seja o retangular, define-se o laplaciano de um vetor pela Eq. (1-51). Outra maneira pela qual os operadores diferenciais vetoriais se podem desdobrar consiste na sua aplicagdo a varios produtos de dois vetores e escalares. Existem seis possi- veis combinagées de operadores diferenciais e produtos; estao listadas na Tabela 1-1. Estas identidades podem ser facilmente verificadas em coordenadas retangulares, o que € suficiente para assegurar sua validade em qualquer sistema de coordenadas. Uma deriva- da de um produto de mais de duas fungdes, ou uma derivada maior do que a derivada de segunda ordem de uma fungo, pode ser calculada por aplicagdes repetidas das identida- des da Tabela 1-1, 0 que se constitui num proceso exaustivo. As formulas podem ser fa- cilmente recordadas a partir das regras da dlgebra vetorial e da diferenciagio ordinaria; a nica ambigiidade poderia estar em (1-1-6) onde ocorre F - V (nao V « F). Tabela 1-1 Identidades Vetoriais Diferenciais VVo=V9 (1-1-4) VV x F=0 (1-1-2) Vx ¥o=0 (1-1-3) Vx (Vx F)=V(V- F)- OF (1-1-4) V(oy) = (Vo + ov (1s) V(F - G) = (F- V)G + F x (Vx G)+(G- V)F+G x (Vx F) (1-1-6) V- (pF) = (Vo): F + 0° F (1-1-7) AV + (F xG)=(V x F):G-(¥ x G)-F (1-1-8) V x (pF) = (Vo) x F+ oV x F (1-9) V x (F x G)=(V°G)F — (¥- F)G + (G-V)F - (F-¥)G (1-1-10) Alguns tipos particulares de funges surgem tantas vezes na teoria eletromagnética que vale a pena anotar agora suas varias derivadas. Para a funcao F =r, V-r=3, (1-52) G:Wr=G, Vr =0. 32 Anilise Vetorial Para uma funcdo que depende somente da distancia r = |r| = Vx? Fy? 2, g(r) ou Flr): ¥ (1-53) Para uma fungdo que depende do argumento A r, onde A é um vetor constante, OfA+t) ou Fann): Vea 4, (1-54) dA) Para uma fungdo que depende do argumento R=r—+’, onde r’ é tratado como uma ori- gem constante V=Vpi oa é (1-55) ae + lgg tle onde R = Xi + Yj + Zk. Se ao invés disso, r for tratado como constante, v=-v (1-56) onde é é é Vit eS . ae tla thy Existem varias possibilidades para a extenso do teorema do divergente e do teore- ma de Stokes. A mais interessante € 0 teorema de Green, que é | WV0- eVW) de={ (Woe — pW): nda. (1-57) Este teorema provém da aplicacdo do teorema do divergente ao yetor F = Vo — py. Usando este F no teorema do divergente, obtemos [ ¥-[wVo — pvu] de={ (We - eV): nda (1-58) Usando a identidade (Tabela 1-1) para o divergente de um escalar vezes um vetor, temos V- (WV) — V > (VW) = V9 — @Vv. (1-59) Combinando as Eqs. (1-58) ¢ (1-59), obtém-se 0 teorema de Green. Alguns outros teore- mas de integrais esto listados na Tabela 1-2. Isto conclui nossa breve exposigdo de anilise vetorial. Por concisio, as provas de muitos resultados foram deixadas como exercicios, Nenhuma tentativa foi feita para al- cangar um alto grau de rigor; baseou-se 0 procedimento num critério unicamente utilita- rista. O necessirio foi desenvolvido; tudo mais, omitido. Problemas 33 Tabela 1-2 Teoremas Integrais Vetoriais [nx Voda fea [ Vo do= f onda (1-2-2) 3s [Vx Fae~f nx Fado (1-2-3) v 5 f (WG +G- VF ao=f F(G-n)da_— (1-2-4) 1.9 RESUMO Trés espécies diversas de diferenciagdo de vetores podem ser expressas pelo opera- dor diferencial vetorial del, V, ou seja, gradiente, divergente e rotacional: 29 , 29 ,, Ve =i 4p op ening tig tka OF, aF, aF, ope the, OF, a VOR Sai ay or” ijk a6 @ vane [2 2 2 “ES ae op Be F, Fy Fy Del € um operador linear. Suas aplicagdes repetidas ou suas aplicagdes a produtos de fun- ges produzem formulas que podem ser deduzidas em coordenadas retangulares mas inde- pendentes do sistema de coordenadas. Estas podem ser recordadas por meio das regras da Algebra vetorial e da diferenciagdo ordindria. As derivadas de algumas fungoes especiais merecem ser decoradas. Os teoremas integrais mais importantes relativos as derivadas s40: . i» [ vo-dl=o we [ ¥xF-nda= ts (Teorema de Stokes) f V-Fdo={ F-nda, (Teorema do divergente) v s que podemos considerar generalizagdes do teorema fundamental do céleulo. PROBLEMAS I-l_ Os vetores que vio desde a origem até os pontos A, B,C, D, so Aniti+k B= 2i+3), C= 31+ 5j- 2k, D=k-j. 34 Andlise Vetorial Demonstre que as linhas 4B e CD sfo paralelas e encontre a razio entre seus comprimentos. 1-2 Demonstre que os seguintes vetores sfo perpendiculares: A=si+4j+3k, B= 4i + 2j — 4k. 1-3 Demonstre que os vetores —3)- 5k, C=3i-4j- 4k formam os lados de um triingulo reto, 1-4 Elevando a0 quadrado ambos os lados da equagio -¢ ¢ interpretando geometicamente o resultado, prove a “lei dos co-senos”. 1-5 Demonstre que cos x + jen x, B=icos p +jsenf so vetores unitérios no plano xy e formam angulos a, # com o eixo x. Por meio de um produto esca- lar, obtenha a fSrmula cos (a — 8). 1-6 Se A for um vetor constante ¢ r for o vetor que vai desde a origem até o ponto (x, y, 2), demons- tre que (r-A)-A=0 serd a equagao de um plano. 1-7 Com Ae r definidos como no Problema 1-6, demonstre que (r-A)-r=0 €a equagdo de uma esfera. 1-8 Usando 0 produto escalar, encontre © co-seno do éngulo entre a diagonal principal de um cubo e uma das arestas do cubo. 1-9 Demonstre a lei dos senos para um triéngulo, usando o vetor produto vetorial com A + C =B. 1-10 Se A,B, C forem vetores que vio desde a origem até os pontos A, B, C, demonstre que (A x B) + (Bx C) + (Cx A) sera perpendicular ao plano ABC. T-L1 Verifique que a Eq. (1-15) & uma solugio da Eq. (I-14) por substituigdo direta. (Observe que a Eg. (1-14) implica que C seja perpendicular a A.) 1-12 Demonstre que A, B e C no serdo linearmente independentes se A-BxC=0. Serio 0s vetores Aait3k. Problemas 35 = 2k, +j+k Jincarmente independentes? 1-13 Demonstre que © vetor unitério normal a superficie (x) = constance é Vo!|Vo| Encontre n para 0 clipséide ax? + by? + cz? ° 1-14 Encontre 0 gradiente de y em coordenadas cilindricas, sabendo que ds = dr a, + r'd@ ag + dz k. Devese observar que r€ 0 tém aqui significados diferentes dos que apresentam nas Eqs. (1-21) € (1-22). Em coordenadas esféricas, r € 0 médulo do raio vetor a partir da origem e @ é 0 angulo polar. Em coordenadas cilindricas, r € a distincia perpendicular a partir do eixo do cilindro ¢ @ € 0 angulo azimutal em relagao a este eixo, 1-15 A partir da definigio do divergente, obtenha uma expressio para V + F'em coordenadas cilindri- cas. 1-16 Encontre o divergente do vetor ix? + yz) + jo? + =x) + k(=? + xy). Encontre tamt rotacional. B17 y. speck ocestariamnaniiperpendhoclar'npaes toda fats wetoriad FY Justifigue su respor- ts 118 Prove que, para duas fungGes escalaresquaisquer, ¢€ Vs A V(ov) = eV'Y + Wg + 2V9° Vu 4-19 /Se r for o vetor que vai desde a origem ao ponto (x, , 2), demonstre as formulas 3p Vxr=0; (w+ Vy=u (ota: é qualquer vetor.) 1.20 Se A for um vetor constante, demonstre que VAcr)=A 1-21 Demonstre as identidades (1-1-7) ¢ (1-1-9) da Yabela 1-1 1-22 Ser for o médulo do vetor que vai desde a origem até o ponte (x, »,2) € (7) for uma fungao ar- bitrdria de r, prove que 1-23 Prove que 1-24 Prove que sepeAcr. 1-25 Verifique a Eq. (1-51) em coordenadas retangulares, onde VF nestas coordenadas esti de acor- do com a definigao do texto. 1.26 Demonstre as identidades (1-2-2) ¢ (1-2-4) da Tabela 1-2. (Sugestdo: Use 0 teorema do divergen- te e uma ou mais identidades da Tabela 1-1.) CAPITULO 2 ELETROSTATICA | 21 CARGA ELETRICA < A primeira observagdo da eletrificagdo de objetos por atrito perdew-se na antiguida- de; todavia, é experiéncia comum que ao se esfregar um pente de ebonite com um pedago de 1, a ebonite adquire a capacidade de levantar pequenos pedagos de papel. Como resul- tado do ato de esfregar os dois objetos (estritamente falando, como conseqiiéncia de po: los em contato), ambos, a ebonite e a Id, adquirem uma nova propriedade; esto carrega- dos. Esta experiéncia serve para introduzir 0 conceito de carga. No entanto, a propria carga _nio € criada durante este proceso; a carga total, ou a soma das cargas nos dois cor- pos, € ainda a mesma que antes da eletrificagdo. A luz da fisica moderna, sabemos que particulas microsc6picas carregadas, especificamente elétrons, sdo transferidas da 18 para a ebonite, deixando a Id positivamente carregada e o pente de ebonite negativamente car- regado. ‘A carga é uma propricdade fundamental e caracteristica das particulas elementares que constituem a matéria. Com efeito, toda matéria é composta de protons, néutrons e elétrons, ¢ duas destas particulas possuem cargas. Porém, conquanto em uma escala mi- croscépica a matéria seja composta por grande nimero de particulas carregadas, as poten- tes forcas elétricas associadas a estas particulas est3o muito bem ocultas a uma observa- 40 macroscdpica. A razdo é que existem duas espécies de carga, a positiva e a negativa, e um pedago ordindrio de matéria contém quantidades aproximadamente iguais de cada es- pécie. Do ponto de vista macroscépico, a carga refere-se A carga liquida, ou excesso de carga. Quando dizemos que um objeto esté carregado, queremos dizer que ele tem um excesso de cargas, um excesso de elétrons (negative) ou um excesso de protons (positivo). Neste e nos capitulos seguintes, a carga serd usualmente indicada pelo simbolo q. Pela observacio experimental sabemos que a carga no pode ser criada, nem destrui- da. A carga total de um sistema isolado nJo pode variar. Do ponto de vista macroscépico, as cargas podem ser reagrupadas e combinadas de modos diferentes; todavia, podemos es- tabelecer que a carga liquida é conservada num sistema isolado. 2-2 LEI DE COULOMB 5, No final do século dezoito, as técnicas da ciéncia experimental aleangaram tal sofis- ticagdo que permitiram fossem realizadas observacGes rigorosas das forgas entre cargas elé- tricas. Os resultados destas observagdes, que foram extremamente polémicos na época, 36 7 Lei de Coulomb 37 podem ser resumidos em trés afirmativas: (a) Existem duas e somente duas espécies de carga elétrica, hoje conhecidas como positiva e negativa.\(b) Duas cargas puntuais exer- cem, entre si, forgas que atuam ao longo da linha que as une e que sao inversamente pro- porcionais ao quadrado da distancia entre elas. (c) Estas forcas so também proporcionais a0 produto das cargas; s4o repulsivas para cargas de mesmo sinal e atrativas para cargas de sinais opostos. As duas tltimas afirmativas, com a primeira como preambulo, sdo conheci- das como lei de Coulomb em homenagem a Charles Augustin de Coulomb (1736-1806), que foi um dos principais estudantes de eletricidade do século dezoito. A lei de Coulomb para cargas puntuais pode ser concisamente formulada segundo a notagdo vetorial do Capitulo 1 como Fac aide Fis 1 3 Mhz Mz (2-1) n= hh, onde F, ¢ a forga sobre a carga q1, 12 € 0 vetor que vai de q2 241,712 € 0 médulo de ry. e C é uma constante de proporcionalidade sobre a qual se falard mais tarde. Na Eq. (2-1) foi formado um vetor unitério na diregdo e sentido de rz a0 dividir-se ry, por seu modu- lo, um artificio que sera usado freqientemente. Para achar a forga que atua sobre q2, é necessdrio apenas mudar os indices 1 para 2 e os indices 2 para 1. Entender esta notagao € importante, uma vez que em trabalhos futuros proporcionara uma técnica para seguir 0 rastro das variéveis do campo e da fonte. A lei de Coulomb aplica-se a cargas puntuais. No sentido macroseépico, uma “carga puntual” é aquela cujas dimens6es espaciais s40 muito pequenas em comparacdo a qual- quer outro comprimento pertinente ao problema em considerac40; usaremos 0 termo “carga puntual” neste sentido. Até onde sabemos, a lei de Coulomb também se aplica as interagdes de particulas elementares, como protons e elétrons. A Eq. (2-1) aplica-se a re- pulsdo eletrostatica entre nticleos a distincias maiores que 10~* metros, aproximadamen- te; para distancias menores, as forgas nucleares, intensas, mas de curto alcance, dominam © quadro. A Eq. (2-1) € uma lei experimental; contudo, existem evidéncias, tanto teéricas co- mo experimentais, que indicam que a lei do inverso dos quadrados é exata, isto é, que 0 expoente de ry, € exatamente 2. Por meio de uma experiéncia indireta,* foi demonstrado que 0 expoente de 72 nao pode diferit de 2 por mais do que uma parte em 10'S A constante C na Eq, (2-1) requer algum comentério, uma vez que determina o sis- tema de unidades. As unidades de forga e distancia sfo provavelmente as pertencentes a um dos sistemas usados na mecanica; 0 procedimento mais direto aqui seria fazer C= 1 e escolher a unidade de carga de forma a que a Eq. (2-1) concorde com a experiéncia, Este € © procedimento adotado no sistema gaussiano de unidades. Outros procedimentos sio também possiveis e podem apresentar certas vantagens; por exemplo, a unidade de carga pode ser especificada antecipadamente. Em 1901, Giorgi demonstrou que todas as unida- des elétricas comuns, como o ampére, o volt, 0 ohm, o henry etc., podem-se combinar com um dos sistemas mecanicos (0 MKS ou sistema metro — quilograma — segundo) para formar um sistema de unidades para todos os problemas elétricos e magnéticos. Uma van- * E.R, Williams, J. E. Faller e H, A. Hill, Phys. Rey. Letters, vol. 26, p. 721 (1971). Experiéncias semelhantes foram realizadas anteriormente. Maxwell estabeleceu 0 expoente 2 com menos de uma parte em 20.000. 38. Eletrostitica tagem deste sistema € que os resultados dos calculos que envolvem circuitos elétricos es- to nas unidades elétricas que sd usadas no laborat6rio; usaremos o sistema de unidades MKS racionalizado ou sistema de Giorgi no presente volume, na forma conhecida como SI (Sistema Internacional). Uma vez que neste sistema, q & medido em coulombs (C), rem metros e F em newtons (N), é claro que C deve ter as dimensOes de newton metro” por coulomb?. O valor da unidade de carga, o coulomb, é estabelecido por meio de experién- cias magnéticas; isto requer que C = 8,9874 x 10° N - m?/C?. Fazemos a substitui¢do aparentemente complicada, C= 1/47ép, no intuito de simplificar alguma das outras equa- ges. A constante é ocorrerd repetidamente, ela ¢ conhecida como a permissividade do espaco livre e € numericamente igual a 8,854 x 10-"? C?/N + m?. No Apéndice I, as defi- nigdes do coulomb, do ampére, da permeabilidade e da permissividade do espago livre es- 10 relacionadas umas as outras e a velocidade da luz de maneira légica; como uma formu- lacdo ldgica destas definigdes requer um conhecimento dos fendmenos magnéticos ¢ da propagaedo da onda eletromagnética, ndo ¢ apropriado fazé-las agora. No Apéndice IT ex- pde-se o sistema gaussiano de unidades. Até 0 Capitulo 4, todas as frmulas podem ser colocadas em unidades gaussianas simplesmente substituindo e9 por 1/47. Se estiverem presentes mais do que duas cargas puntuais, as forgas mutuas serdo de- terminadas pela aplicagdo repetida da Eq. (2-1). Particularmente, se for considerado um sisterna de NV cargas, a forga na carga de indice i serd dada por (2:2) onde a soma 4 direita se estende sobre todas as cargas, exceto 4 de indice /. Este é justa- mente o principio da superposicdo de forcas, que diz que 2 forga total que atua sobre um corpo é a soma vetorial das forgas individuais que atuam sobre ele. Uma simples extensdo da idéia de NV’ cargas puntuais interagentes consiste na intera- ¢40 de uma carga puntual com uma distribuigdo continua de cargas. Escollemos delibera- damente esta configurago para evitar certas dificuldades que poderiam ser encontradas quando a interagdo de duas distribuigdes continuas de carga fosse considerada. Antes de prosseguirmos, devemos examinar o significado de uma distribui¢do continua de carga. Sabe-se agora que a carga elétrica é encontrada sob a forma de miltiplos de uma carga bé- sica: a carga do elétron. Em outras palavras, se qualquer carga fosse examinada minucio- samente, sua magnitude seria um miltiplo inteiro do valor da carga eletronica. Para os fins da fisica macrosc6pica, 0 fato de a carga ser discreta ndo causa dificuldades, simplesmente porque a carga eletrénica tem um valor igual a 1,6019 x 10-'C, que é extremamente pe- queno. A pequenez da unidade basica significa que as cargas macroscé picas sf compostas invariavelmente por um nimero muito grande de cargas eletrOnicas; isto, por outro lado, significa que numa distribuigdo macroscépica de carga, qualquer elemento de volume con- tém um grande niimero de elétrons. Pode-se entdo descrever uma distribuigdo de cargas em termos de uma fungdo densidade de carga, definida como o limite da carga por unida- de de volume quando 0 volume se toma infinitesimal. Entretanto, deve haver cuidado quando se aplica este tipo de descrico a problemas at6micos, uma vez que, nestes casos, somente um pequeno niimero de elétrons estando envolvido, 0 processo de aplicago do limite nao teria sentido. Deixando de lado estes casos atémicos, podemos proceder como se um segmento de carga pudesse ser subdividido indefinidamente e descrever a distribui- do de cargas por meio de fungdes puntuais Campo Ekétrico 39 uma densidade de carga volumétrica definida por io p= lim 42 23 aaa 23) € uma densidade de carga superficial definida por Aq 2.4) aso AS” @-4) Do que foi dito a respeito de q, € evidente que p ¢ 0 S40 densidades de carga liquida ou de excesso de carga. Vale a pena mencionar que em materiais sélidos tipicos mesmo uma densidade de carga p muito grande envolverd uma variagao da densidade local de elétrons de aproximadamente uma parte apenas em 10°. Se a carga estiver distribuida num volume V com uma densidade p e, na superficie S que limita V com uma densidade a, a forga exercida por esta distribuicao de cargas sobre uma carga puntual q, localizada em r, sera obtida por meio da Eq. (2-2) pela substituigao de q; por p;dvj (ou por 0; daj), aplicando-se o limite: is o(t') da’ (25) [ror A variével r’ é usada para localizar um ponto no interior da distribuicdo de carga, isto é, faz o papel do ponto fonte i; na Eq. (2-2). Pode parecer, & primeira vista. que se 0 ponto r estiver no interior da distribuigao de cargas, a primeira integral da Eq. (2-5) divergira. Este no é 0 caso; 2 regido de integragdo na vizinhanga de r contribui com uma quantida- de desprezivel e a integral é bem-comportada (veja o Problema 2-5) Esta claro que a forga sobre q, como é dada pela Eq. (2-5), é proporcional aq; 0 mesmo € vilido na Eq. (2-2). Esta observagfo leva-nos a introduzir um vetor campo que é independente de q, ou seja, a forca por unidade de carga. Este vetor campo, conhecido ‘como campo elétrico, seré estudado pormenorizadamente na segdo seguinte. 2-3 CAMPO ELETRICO © campo elétrico num ponto € definido como o limite da seguinte razao: a forga so- bre uma carga teste, colocada no ponto, pela carga da carga teste; sendo que 0 limite to- mado para o valor da carga teste tende a zero. O simbolo que se costuma empregar para 0 campo elétrico € E. Em notacdo vetorial, a definico de E torna-se E= lim *# (2-6) a0 4 O limite esta incluido na definigdo de E para assegurar que a carga teste nao afete a distri- bui¢o de cargas produzidas por E. Se, por exemplo, uma carga positiva for distribuida pela superficie de um condutor (um condutor € um material em que a carga se pode mo- ver livremente), a0 trazer-se uma carga teste para a vizinhanga deste, a carga sobre 0 con- dutor se redistribuird. Se campo elétrico for calculado, usando-se a razdo entre a forga a carga para uma carga teste finita, o campo obtido serd aquele devido a carga redistribui- da, ao invés daquele devido a distribuigao de carga original. No caso especial em que uma das cargas da distribuigdo de carga pode ser usada como uma carga teste, 0 uso do limite desnecessario. Neste caso, © campo elétrico na posicao da carga teste serd aquele produzi: do por todo © restante da distribuigao de carga; ndo haverd, naturalmente, redistribuig¢ao de cargas uma vez que a propria distribuicao de carga se obtém sob a influéncia de toda a 40 Eletrostatica distribuigdo de cargas, inclusive a carga que esta sendo usada como carga teste. Em alguns outros casos, principalmente naqueles em que a distribuigIo de cargas é especificada, a forga sera proporcional ao valor da carga. Também nestes casos, 0 uso do limite é desne- cessério; entretanto, se existir qualquer diivida, sera sempre melhor aplicar o limite. As Eqs. (2-2) e (2-5) proporcionam um meio rdpido para se obter uma expresso para o campo elétrico devido a uma jé dada distribuigdo de cargas. Suponhamos que a dis- tribuigdo de cargas consista de NV cargas puntuais q,,q2,.. . ,4yv, localizadas nos pontos 1,12, ...,fy, respectivamente, e uma distribuicdo volumétrica de cargas especificada pe- la densidade de carga p(r’) no volume V e uma distribuico superficial caracterizada pela densidade de carga superficial o(r’) sobre a superficie S. Se uma carga teste q estiver loca- lizada no ponto r, ela atin uma forca F dada por wee op eed (2-7) Figura 2-1 Mapeamento de um cam- fi po elétrico com o auxilio de linhas de 0 forga. Potencial Eletrostdtico 4 por causa de uma dada distribuicao de carga. O campo elétrico em r é 0 limite da razio entre esta forga e a carga teste q. Como a razdo € independente de q, 0 campo elétrico em réexatamente 1 ¥-- EW) dnc 4, [r=] 5 ott) do! (28) A Eg, (2-8) € bastante geral; em muitos casos, um ou mais termos nao sero necess4- rios. ‘A quantidade que acabamos de definir, o campo elétrico, pode ser calculada em ca- da ponto do espaco na vizinhanga de um sistema de cargas ou de uma distribuigho de car- gas. Entao E =E(r)é uma fung4o vetorial puntual, ou um campo vetorial. Este campo tem muitas propriedades mateméticas interessantes, que exporemos nas segdes seguintes e no proximo capitulo. Como um auxilio para visualizar a estrutura do campo elétrico associa- do com uma distribuigdo particular de carga, Michel Faraday (1791-1867) introduziu o conceito de linhas de forea. Uma linha de forga é uma linha (ou curva) imagindria tragada de tal forma que sua diregdo e sentido em qualquer ponto sejam os do campo elétrico na- quele ponto. Consideremos, por exemplo, a estrutura do campo elétrico associado a uma s6 carga puntual positiva q,. As linhas de forga so linhas radiais que se dirigem para fora de q,. De forma semelhante, as linhas de fora associadas a uma carga puntual negativa isolada sdo também linhas radiais mas, neste caso, o sentido é para dentro (isto é, em diregdo a carga negativa). Estes dois exemplos sdo extremamente simples, contudo, ilustram uma propriedade importante das linhas de campo; as linhas de forga terminam nas fontes do campo elétrico, isto é, sobre as cargas que produzem 0 campo elétrico. A Fig. 2-1 ilustra dois campos elétricos simples que foram tracados com o auxilio de linhas de forga. 2-4 POTENCIAL ELETROSTATICO Observou-se no Capitulo 1 que se © rotacional de um vetor se anular, o yetor pode- 14 ser expresso como 0 gradiente de um escalar. O campo elétrico dado pela Eq. (2-8) sa- Tisfaz este critério. Para verificar isto, observamos que a aplicaggo do rotacional na Eq. (28) implica diferenciagdo-com respeito a r. Esta varidvel aparece na equaco somente em fungdes da forma (r—r’)/|r—r'l? e, portanto, serd suficiente demonstrar que fungdes desta forma tém rotacional nulo-Usando a formula do rotacional do produto (vetor vezes escalar), da Tabela 1-1, obtemos = v2 1_v¥x(e—ry+|v-—, \r-rP Tr] [r— De um céleulo direto (veja o Problema 1-19) resulta | x[r-r} (2-9) (2-10) € (veja o Problema 1-22) em (2-11) 42 Eletrostdtica Estes resultados, juntamente com a observagio de que o produto vetorial de um vetor com um vetor paralelo ¢ nulo, sdo suficientes para demonstrar que r-r [ESFP Uma vez que cada contribuigdo da Eq. (2-8) para 0 campo elétrico é deste tipo, demons- tramos que o rotacional do campo elétrico ¢ zero. A Eq. (2-12) indica que existe uma fun- 40 escalar cujo gradiente € 0 campo elétrico, falta achar tal fungdo. Isto é, sabemos agora que existe uma fungi que satisfaz vx (2-12) E(r) = — Vor), (2-13) temos, porém, que encontrar ainda a forma da fungdo y. Deve-se observar que é conven- cional a inclusdo do sinal negativo na Eq. (2-13) e a denominagao de y para o potencial eletrostitico E facil encontrar-se 0 potencial eletrostdtico devido a uma carga puntual 41; € exa- tamente 1 a 4m [F—1,|° e(r) como se pode verificar de modo répido por diferenciacdo direta. Com esta indi cil adivinhar que o potencial que dé o campo elétrico da Eq. (2-8) € que também se verificaria facilmente por diferenciago direta. Pode parecer que as Eqs. (2-14) e (2-15) foram obtidas de maneira um pouco arbitriria; entretanto, como tudo que se requer de y € que satisfaca a Eq. (2-13), e como isto foi verificado diretamente, nfo im- porta a maneira pela qual se obteve ¢. O potencial eletrostatico y pode ser obtido diretamente assim que se admita sua existéncia. Como sabemos que ¥ existe, podemos escrever E(r)-dr'=—[ Vo-dr, feet fret onde ref representa um ponto de referéncia em que seja nulo. Da defini¢fo do gradien- te, 16) Vo: dr’ =dy (2-17) Ao se substituir a Eq. (2-17) na Eq. (2-16), esta se converte na integral de um diferencial perfeito, facilmente resolvida. O resultado é —| Vo-dr =—g(r)=[ E(r’)- dr. (2-18) ref veh que é realmente o inverso da Eq. (2-13). Se o campo elétrico devido a uma carga puntual * Condutores ¢ Isolantes 43 for usado na Eq, (2-18) e 0 ponto de referéncia ou limite inferior da integral for conside- rado como infinito, o potencial sendo nuto ai, o resultado serd a 4nior g(t) (2-19) que, naturalmente, € apenas um caso especial da Eq. (2-14), ou seja, 0 caso onde ry € ze- ro, Tal derivagdo pode ser ampliada para obter a Eq. (2-15); entretanto, o procedimento & demasiado enfadonho para que o incluamos aqui. Outro aspecto interessante e itil do potencial eletrostético é sua intima relaco com a cnergia potencial associada 4 forca eletrostética conservativa. A energia potencial asso- ciada a uma forga conservativa arbitraria € uU@)=—[ Flr): ar, (2-20) onde U(r) é a energia potencial em r relativa ao ponto de referéncia em que a energia po- tencial é arbitrariamente considerada zero. Uma vez que no caso eletrostitico F = gE, se- gue-Se que se 0 mesmo ponto de referéncia for escolhido para o potencial eletrostatico e para a energia potencial, ento o potencial eletrostitico seré somente a energia potencial por unidade de carga. Esta idéia ¢ algumas vezes usada para introduzir o potencial eletros- tAtico; sentimos, entretanto, que a introdugao em termos da Eq. (2-13) realga a importan- cia do potencial eletrostitico na determinagao do campo elétrico. Nao existe, naturalmen- te, nenhuma diivida sobre a equivaléncia dos dois métodos. Pode-se compreender a utilidade do potencial eletrostatico no célculo dos campos elétricos, comparando as Eqs. (2-8) e (2-15). A Eq. (2-8) € uma equagao vetorial; para ob- ter o campo elétrico a partir dela, é necessdrio resolver trés somas ou trés integrais para ca- da termo. Na melhor das hipéteses, é um procedimento tedioso; em alguns casos, é quase impossivel resolver as integrais. A Eq. (2-15), por outro lado, é uma equagao escalar e en- volve somente uma soma ou integral por termo. Alm disso, os denominadores que apa- recem nesta equaco sfo todos da forma |r — ‘|, o que simplifica as integrais, em compa- ragGo com as da Eq. (2-8). Tal simplificagdo é algumas vezes suficiente para estabelecer a diferenga entre a resolugo e no resolugao das integrais. Pode-se objetar que apés resolver as integrais da Eq. (2-15) serd ainda necessfrio diferenciar 0 resultado; pode-se rejeitar pron- tamente tal objegd0, observando-se que a diferenciacdo pode ser sempre realizada, se a de- rivada existir, e € realmente muito mais facil que a integrado. Observar-se~i, no Capitulo 3, que 0 potencial eletrostitico € até mais importante nos problemas em que a distribui- go de carga ndo ¢ especificada mas deve, a0 contrério, ser determinada durante a resalu- 40 do problema. No sistema MKS, a unidade de energia ¢ 0 newton-metro ou joule. A unidade de po- tencial é joule/coulomb, unidade que ocorre tao freqiientemente que the é dado um nome especial, volt (V). A unidade do campo elétrico € o newton/coulomb ou volt/metro. 2-5 CONDUTORES E ISOLANTES Quanto ao comportamento eletrostdtico, os materiais podem ser divididos em duas categorias: condutores de eletricidade e isolantes (dielétricos). Os condutores sfo substan- cias, como os metais, que contém um grande némero de portadores de carga essencial- mente livres. Estes portadores de carga (elétrons, na maioria dos casos) estao livres para vaguear por todo o material condutor; respondem a campos elétricos quase infinitesimais € continuam a se mover enquanto esto sob a ago de um campo. Tais portadores livres 44 Eletrostitica conduzirio a corrente elétrica quando um campo elétrico estaciondrio for mantido no condutor por uma fonte externa de energia. Dielétricos so substancias em que todas as particulas carregadas esto, ao contrd- rio, ligadas fortemente s moléculas constituintes, As particulas carregadas podem mudar ligeiramente suas posigdes em resposta a um campo elétrico, porém nao se afastam da vizi- nhanga de suas moléculas. Rigorosamente falando, esta definigdo aplica-se a um dielétrico ideal, que ndo apresenta nenhuma condutividade em presenca de um campo elétrico ex- teramente mantido. Os dielétricos fisicos reais apresentam uma débil condutividade, num dielétrico tipico, porém, a condutividade € 10% vezes menor do que num bom con: dutor. Como 10” é um tremendo fator, em geral é suficiente dizer que os dielétricos sio nao condutores. Certos materiais (semicondutores, eletrélitos) tém propriedades elétricas interme- didrias entre as dos condutores e as dos dielétricos. No que diz respeito ao seu comporta- mento num campo elétrico estitico, estes materiais comportam-se como condutores. En- tretanto, suas respostas transitérias so algo mais lentas, isto , tais materiais necessitam de mais tempo para alcangar 0 equilibrio em um campo estatico. Neste e nos quatro capitulos seguintes, trataremos de materiais em campos eletros- taticos. A polarizagdo dielétrica, apesar de ser um fendmeno basicamente simples, produz alguns efeitos um pouco complicados; conseqiientemente, adiaremos seu estudo até 0 Capitulo 4. Os condutores, por outro lado, podem ser estudados muito facilmente segun- do 08 conceitos jé expostos. Como a carga pode mover-se livremente num condutor, mesmo sob a influéncia de campos elétricos muito pequenos, os portadores de carga (elétrons ow fons) movem-se até encontrarem posigdes em que no experimentam nenhuma forca Iiquida. Quando atingem © repouso, 0 interior do condutor deve ser uma regio desprovida de campo elétrico; isto deve ser assim porque a populacao de portadotes de carga no interior nao se esgota de ne- nhuma forma e, se um campo persistir, os portadores continuardo a se mover. Assim, sob condi¢des estiticas, 0 campo elétrico em um condutor se anula. Além disso, como E=0 num condutor, 0 potencial € 0 mesmo em todos os pontos do material condutor. Em ou- tras palavras, em condigdes estdticas, cada condutor forma uma regido eqitipotencial no espago. 2-6 LEI DE GAUSS Existe uma relagdo importante entre a integral da componente normal do campo elétrico sobre uma superficie fechada e a carga total encerrada pela superficie. Esta rela- 0, conhecida como lei de Gauss, seré agora investigada mais pormenorizadamente. O campo elétrico num ponto r devido a uma carga puntual q localizada na origem é E(r)=—2- = (221) Figura 2-2 Superficie fechada imaginéria S que encerra uma carga puntual na origem. - Lei de Gauss 45 Considere-se a integral de superficie da componente normal deste campo elétrico sobre uma superficie fechada (como a mostrada na Fig. 2-2) que encerre a origem e, conseqiien- temente, a carga q; esta integral é simplesmente ada #4 8 {Eo mda f aaah, da (2:22) ‘A quantidade (r/r) + nda € a projecao de da sobre um plano perpendicular ar. Esta 4rea projetada dividida por r? € o Angulo s6lido subtendido por da, que ¢ expresso por d&. Pe- la Fig. 2-3, evidencia-se que o angulo sélido subtendido por da é 0 mesmo que o fingulo s6lido subtendido por da’, um elemento de area superficial da esfera S’ cujo centro esta na origem e cujo raio ér’. E ento possivel escrever f Seda =f ED = an, sr érica igura 2-3 Construcdo da superficie es como um auxilio para a avaliago do angulo lido subtendido por da. demonstrando-se que § E-nda= 4 aged (2-23) s ange no caso especial acima descrito. Se q estiver fora de S, é claro, a partir da Fig. 2-4, que S poderd ser dividido em duas areas S, e S , subtendendo cada uma o mesmo angulo sdlido em relacao a carga q. Para S;, no entanto, o sentido da normal se dirige para q enquanto que para S; se afasta de q. Por esta raz0, as contribuigdes de S, e S> para a integral de superficie so iguais ¢ opostas, ¢ a integral total se anula. Se, entdo, a superficie encerrar uma carga puntual q, a integral de superficie da componente normal do campo elétrico se- rd g/éo, enquanto que se q estiver fora da superficie, a integral de superficie ser4 zero. O enunciado precedente aplica-se a qualquer superficie fechada, até mesmo as chamadas re- entrantes, Um estudo da Fig. 2-5 é suficiente para se verificar que ¢ realmente 0 que acon- tece. Figura 2-4 A superficie fechada $ pode ser dividida em duas superficies, 5, € S,, cada uma subtendendo 0 mesmo Angulo s6lido em 4. 46 Eletrostitica Se varias cargas puntuais qi, 2, . -. , av estiverem encerradas pela superficie S, en- to 0 campo elétrico total serd dado pelo primeiro termo da Eq, (2-8). Cada carga subten- de um ngulo s6lido completo (47); conseqiientemente, a Eq. (2-23) toma-se [frmde= i 5j ae (2-24) 0 mt 3. @) o) Figura 2-5 Elemento de dngulo sélido cortando a superficie § mais do que uma vez, Este resultado pode ser imediatamente generalizado ao caso de uma distribuigo continua de cargas, caracterizada por uma densidade de carga. Se cada elemento de carga pdv for considerado como uma carga puntual, contribuiré com pdv/ey para a integral de superficie da componente normal do campo elétrico, contanto que esteja no interior da superficie sobre a qual integramos. A integral da superficie total serd ento a soma de to- das as contribuigdes desta forma devidas & carga no interior da superficie. Assim, se S for uma superficie fechada que limita 0 volume V, f E-nda=_( pdo (225) Jy ey As Eqs. (2-24) e (2-25) so conhecidas como leis de Gauss. © termo a esquerda, a integral da componente normal do campo elétrico sobre a superficie S, é algumas vezes denomina- do fluxo do campo elétrico através de S. A lei de Gauss pode ser ainda expressa de outra forma, usando-se 0 teorema do di- vergente. O teorema do divergente, Eq. (1-37), estabelece que { Fenda=[ V-Fde Se este teorema for aplicado a integral de superficie da componente normal de E, dari [| E-nda=[ V+ Ede, (2-26) ts que, quando substituida na Eq. (2-25), dard (227) A Eq, (2-27) deve ser vélida para todos os volumes, isto €, para qualquer escolha do volu- me V. Isso s6 serd verdadeiro, se os integrandos que aparecerem a esquerdae A direita na equaco forem iguais. Entdo, a validade da Eq. (2-27) para qualquer escolha de V implica Aplicagio da Lei de Gauss 7 1 V-E=—p. (2-28) fo Este resultado pode ser considerado como a forma diferencial da lei de Gauss. 2-7 APLICACAO DA LEI DE GAUSS A Eq. (2-28) ou, mais apropriadamente, uma forma modificada desta equacZo, que se deduziré no Capitulo 4, € uma das equagGes diferenciais basicas da eletricidade e do magnetismo. Desse ponto de vista ela é, naturalmente, importante; mas, a lei de Gauss também tem utilidade pratica. Esta aplicagdo da lei baseia-se principalmente na possibili- dade de proporcionar uma forma bastante fécil para 0 célculo dos campos elétricos em si- tuagdes suficientemente simétricas. Em outras palavras, em certas situagdes altamente si- métricas, de considerdvel interesse fisico, 0’ campo elétrico pode ser calculado através do uso da lei de Gauss ao invés de o ser por meio das integrais dadas anteriormente, ou atra- vés dos procedimentos do Capitulo 3, Quando se puder fazer isto, economiza-se esforgo. Para que a lei de Gauss seja itil no caleulo do campo elétrico, deve ser possivel esco- Ther uma superficie fechada de forma a que 0 campo elétrico tenha uma componente nor- mal que seja nula ou tenha um tinico valor fixo em cada ponto da superficie. Como exem- plo, consideremos uma longa linha de carga de densidade de carga d por unidade de com- primento, como ilustrado na Fig. 2-6. A simetria da situaggo indica claramente que 0 campo elétrico é radial e independente tanto da posi¢ao ao longo do fio, como da posigao angular em relaeo ao fio. Estas observacdes levam-nos a escolher a superficie mostrada na Fig. 2-6. E de facil solugdo a integral da componente normal do campo elétrico para esta superficie. As extremidades circulares nao contribuem, uma vez que o campo elétrico € paralelo a elas, A superficie cilindrica contribui com 2171E, pois E € radial e independe da posigao da superficie cilindrica. A lei de Gauss toma entao a forma 2nrlE, (229) Parte de uma longa Jinha de carga Figura 2-6 Superficie cilindrica para ser usada com a lei de Gauss, para encontrar 0 campo elé- ‘rico produzido por uma longa linha de carga. Explicitando £, na Eq. (2-29). obtemos E, (2-30) 48 Eletrostética Poder-se-4 avaliar melhor a economia de esforgo conseguida com 0 uso da lei de Gauss na solugdo do Problema 2-4, que envolve a aplicagao direta da Eq. (2-8). Outro resultado importante da lei de Gauss consiste na verificagdo de que acarga (car- ga liquida) de um condutor carregado se localiza em sua superficie externa. Vimos na Sega0 2-5 que 0 campo elgtrico no interior de um condutor se anula, Podemos construir uma su- perficie gaussiana em qualquer parte no interior do condutor; pela lei de Gauss, a carga If- quida que cada uma dessas superficies encerra é nula, Finalmente, construimos a superfi- cie gaussiana S da Fig. 2-7; novamente, a carga liquida encerrada é nula. O ‘nico lugar em que a carga pode estar, sem entrar em contradig70 com a lei de Gauss, é na superficie do condutor. Uma vez que ndo hd carga no interior, parte do material poderia ser removido sem que nada se alterasse. Dessa forma, a carga de uma casca condutora deve localizar-se inteiramente na superficie externa. Figura 2-7 Superficie gaussiana $ construida no interior de um condutor carregado, Condutor Figura 2-8 Aplicago da lei de Gauss & superff- cie fechada S,em forma de caixa de pilulas, que intersecciona a superficie de um condutor car- regado. © campo elétrico na regio imediatamente externa a um condutor carregado deve ser normal 4 superficie do condutor. Isto ocorre porque a superficie é uma eqilipotencial, e E=—Vg. Suponhamos que a carga de um condutor seja dada pela fungao densidade su: perficial o. Se a lei de Gauss for aplicada a pequena superficie S, em forma de caixa de pi- lulas, da Fig. 2-8, ento EAS= (Z)as. © onde AS é a drea de uma das bases da caixa de pilulas. Portanto, o campo elétrico na re- gido imediatamente externa a um condutor serd E=". (231) © Dipolo Elétrico 49 2-8 DIPOLO ELETRICO Duas cargas iguais e opostas, separadas por uma pequena distancia, formam um di- polo elétrico. O campo elétrico e a distribuigao de potencial produzidos por esta configu- ragGo de carga podem ser investigados com 0 auxilio das formulas das Segdes 2-3 ¢ 2-4. Suponhamos que uma carga —q esteja localizada no ponto r’e que uma carga q esteja lo- calizada em r’ +1, como esté ilustrado na Fig. 2-9; entao, o campo elétrico num ponto arbitrario r pode ser encontrado pela aplicagao direta da Eq. (2-8). O campo elétrico em ré q [r-r-l rr Elt)= go pay ciP ~ av (2:32) \ ey Figura 2.9 Geometria envolvida_ no cal- culo do campo elétrico E(f) devido a duas ccargas puntuais. Este € o campo elétrico correto para qualquer valor de q ¢ qualquer valor da separago J; contudo, ele nao é de facil interpretagdo. O que desejamos é o campo do dipolo, e no di- polo a separa¢do J € pequena em comparacdo com r —r’; portanto, podemos desenvolver a Eq. (2-32), conservando apenas 0 primeiro termo que nao se anular. Uma vez que este procedimento € de utilidade geral, seré considerado pormenorizadamente. A principal dificuldade a0 efetuar-se esta expansdo é causada pelo denominador do primeiro termo da Eq. (2-32). O reciproco deste denominador pode ser expresso como |r—r 03 =[—rP - 20 —r) + PY? Ar—r)-F Pr ~rarP tery oan -rpei E facil expandico, nesta forma, por meio do teorema binomial, conservando-se somente termos lineares em I. O resultado desta expansao € -i oly + | onde termos envolvendo /? foram omitidos. Substituindo a Eq. (2-33) na Eq. (2-32)enova- mente conservando apenas termos lineares em I, obtemos @ pe" re ar A Eq. (2-34) da a parte do campo elétrico devida a um dipolo elétrico finito, que & pro- porcional a separagao das cargas. Ha outras contribuigdes proporcionais ao quadrado, a0 va te} (233) Ir- (234) 50 Eletrostitica cubo ¢ as poténcias mais elevadas da separacdo. Se, entretanto, a separagdo for pequena, estas poténcias mais elevadas contribuem muito pouco. No limite quando / tende a zero, todos os termos se anulam, a ndo ser que a carga se torne infinita. No limite quando / ten- de a zero, ainda que q se tome infinito, de tal forma que q/ permanega constante, todos 0s termos desaparecem com exce¢o do termo linear em I. Neste limite é formado um di- polo puntual. Um dipolo puntual ndo tem carga lfquida, ndo tem extensdo no espago e é completamente caracterizado por seu momento de dipolo, que é o limite de ql quando! tende a zero. Usamos o simbolo p para representar 0 momento de dipolo elétrico e es- crevemos p=ql (2-35) A Eq. (2-34) pode ser escrita, em termos do momento de dipolo, como tog Mil (2-36) A distribuigdo de potencial produzida por um dipolo puntual também é importante ¢ poder-se-ia encontri-la através da procura de uma fungao com gradiente igual ao lado di- reito da Eq. (2-36). £, todavia, mais facil aplicar a Eq. (2-15) 4 distribuigao de cargas que se constitui de duas cargas puntuais separadas por uma distancia pequena. Usando a nota- 40 da Eq. (2-32), a distribuicao de potencial seré dada por q 1 1 $n, [Jp —f] [r—r'| Expandindo-se © primeiro termo de maneira idéntica & usada para o primeiro termo da Eq. (2-32) e conservando-se apenas o termo linear em /, a Eq. (2-37) pode ser colocada na forma (237) lt) = (238) Esta equaeéy é vilida para a mesma aproximagdo que a Eq. (2-34), quer dizer, termos proporcidfials a /? e a poténcias mais elevadas de / so desprezados. A Eq. (2-38) € exata para um dipolo puntual p; entretanto, ¢ melhor expressd-la como ot) 1 p(r-r) “Gg [ror (239) A Eq, (2-39) dé o potencial y(r) produzido por um dipolo elétrico; a partir deste potencial pode-se determinar 0 campo elétrico (Eq. (2-36)]. Também é interessante averi- guar a respeito da energia potencial de um dipolo elétrico que ¢ colocado num campo el trico externa. No caso de duas cargas, —q em re q em r +1,em um campo elétrico deseri- to pela funcao potencial gexe(r), a energia potencial é simplesmente U = ~QOcult) + Wenlt + D- (2-40) Se I for pequeno comparado com r, gexr(t +) poderd ser expandido numa série de po- téncias em / e somente os primeiros dois termos se conservariio. A expansio dd Penll +I) = Poult) +E VO (2-41)

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