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Georges Bataille 1
4.1
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916161/CA
O museu pós-moderno
4.1.1
Modernismo e pós-modernismos
1 BATAILLE, Georges, Museum. (1930) In: Dictionnaire critique. apud LEACH, Neil (1997).
Rethinking Architecture – a reader in cultural theory. London/New York: Routledge, 2001, p.
300.
172
(com a arte moderna incorporada), retornando à França nos anos 1970 com a
criação do Beaubourg2 .
Esta história poderia ser construída a partir de outros ângulos, como o das
proposições dos curadores – Dominique-Vivant Denon (Louvre), Wilhelm Bode
(Ilha dos Museus), Louis Hautecœur (OIM), Alfred Barr (MoMA-NY) e Pontus
Hulten (MNAM-Fr), entre os mais importantes. Esta história também poderia ser
escrita a partir da apresentação, em seqüência, dos edifícios projetados para os
museus, como o do museu de Kassel (1769-1777), o do Museu do Prado (1784), o
da Gliptoteca de Munich (1816-1830), o da Alta Pinacoteca de Munich (1826-36),
o do Altes Museum (1823-30), o do British Museum (1823-47) e ainda o do
MoMA-NY (1939), o do Museu do Crescimento Ilimitado (1929), o do Museu
para Cidade Pequena (1942) e o do Guggenheim de Nova York (1943-58),
modelos aqui estudados3 .
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 9916161/CA
4 Os problemas e as práticas dos museus atuais são abordados por SCHUBERT, Karsten. Op. cit.,
p. 67.
5 JAMESON, Fredric. Pós-modernismo. A lógica cultural do capitalismo tardio. Trad. Maria
Elisa Cevasco. Rev. Trad. Iná Camargo Costa. 2. ed. São Paulo: Ática, 2000.
174
No entanto, Jameson ressalva que nem toda produção cultural pós 1960 é
pós-moderna, em seu sentido mais amplo. O pós-moderno é um campo de forças
com variados impulsos culturais, e, quanto mais nos afastamos do período de
formulação das teorias pós-modernistas, mas isto se esclarece.
entanto, Greenberg sabia que todo grau zero era um mito. Mesmo assim, ele
conduziu sua teoria ao dogmatismo. Embora essa teoria possa ser aplicada à maior
parte da arte moderna, ela não dá conta de sua totalidade, excluindo movimentos
como o surrealismo e a pop art. Como uma teoria geral da arte moderna, ela se
tornou uma teoria restrita, que já não se ocupava dos fenômenos artísticos da
década de 1960, cujos artistas também já não se identificavam com ela.
4.1.2
proventos. Este é o museu a partir dos anos 1980, que, na falta de uma
nomenclatura mais adequada, é aqui denominado pós-moderno. Tal como
Jameson havia apontado, o museu na era da cultura de massa incorporou os
procedimentos industriais13 . O museu pós-moderno é uma empresa que, como
todas as outras, busca altos índices de produtividade. Os grandes museus têm
atualmente departamentos de marketing e de desenvolvimento, raridades no início
dos anos 1990.
ou do lugar físico das obras; a questão, para Rosalind Krauss, situa-se na maneira
como a proposta de Malraux foi lida e compreendida nos anos 198015 .
Segundo Rosalind Krauss, a implosão cultural que marcou a prática estética dos
anos 1980 entendeu a proposta de Malraux como uma colagem de estilos
históricos, em um período no qual a arte elevada (alta cultura) e a cultura de
massas só se imitavam16 .
15 KRAUSS, Rosalind. Le musée sans mur du postmodernisme. Les Cahiers du MNAM. Paris:
Centre Georges Pompidou, n. 17-18, L’œuvre et son accrochage, p. 152-158, 1986.
16 KRAUSS, Rosalind. Le musée sans mur du postmodernisme. Op. cit.
17 Ibid.
180
4.1.3
Rosalind Krauss aponta que uma das instituições que mais aderiu a essa
lógica foi a Fundação Guggenheim. Seu diretor, Thomas Krens, passou a se referir
ao museu utilizando termos emprestados da linguagem econômica, como indústria
do museu, overcapitalização, fusão, aquisições e administração de recursos, em
lugar de obras. Ele aplicou também termos da indústria referindo-se às atividades
do museu, exposições e catálogos, como produtos.
20 KRAUSS, Rosalind. The cultural logic of the late capitalist museum. October. The second
decade 1986-1996. Cambridge: The MIT Press, 1987, p. 427-441.
21 KRAUSS, Rosalind. The cultural logic of the late capitalist museum. Op. cit.
182
utilizado por Thomas Krens como emblema para legitimar a nova concepção do
museu.
A ruptura com a idéia de estética do original fez parte das questões iniciais
do Minimalismo, em vários trabalhos das décadas de 1960 e 1970, gerando
problemas no mercado de arte. Alguns trabalhos traziam em si o estatuto
conceitual da replicação, permitindo a refabricação dos objetos. Algumas vezes, a
refabricação do objeto era feita pelo próprio artista, para substituir uma peça
danificada. Em outros casos, os projetos (plantas e desenhos) foram vendidos a
colecionadores, junto ou separadamente do seu objeto original, permitindo que o
183
22 O protesto contra a refabricação partiu dos próprios artistas, Donald Judd e Carl Andre
(KRAUSS, Rosalind. The cultural logic of the late capitalist museum. Op. cit.)
23 KRAUSS, Rosalind. The cultural logic of the late capitalist museum. Op. cit.
184
4.2
4.2.1
24 A fim de adquirir a coleção Panza, com obras minimalistas, a Fundação Guggenheim leiloou,
através da Sotheby’s, três obras de sua coleção. A distinção das esferas da curadoria e da
administração gerou, nesse caso, a primazia do julgamento de valores esconsos aos interesses
específicos do museu como instituição cultural (KRAUSS, Rosalind. The cultural logic of the late
capitalist museum. Op. cit.).
187
4.2.2
O edifício
26 Houve uma concorrência limitada aos arquitetos Arata Isozaki (responsável pelo projeto
Guggenheim Soho-NY), Coop Himmelblau e Frank Gehry. O concurso demandava uma
estimativa de escala e a indicação dos tipos gerais de espaço para exposição. O concurso foi
realizado em 1991, em Frankfurt, com um júri formado por Thomas Krens, Carmen Jimènez,
curadora do museu na época, e três membros do governo basco, tendo como árbitro Heinrich
Klotz, ex-diretor do Museu de Arquitetura de Frankfurt. Em três semanas, os concorrentes
deveriam apresentar um esboço do projeto, com a obrigatoriedade de integrá-lo ao viaduto de La
Salve e à cidade, e de propor espaços internos coerentes com as novas funções dos museus. O
canteiro de obras foi iniciado em 1993, e o museu, inaugurado em 1997.
27 Richard Serra apud BECHTLER, Cristina (ed.); Kunsthaus Bregenz (collab.). Frank O.
Gehry/Kurt W. Foster. Ostfildern-Ruit: Cantz, 1999, p. 23.
189
o rio. A fachada voltada para a cidade acompanha a escala dos edifícios ecléticos.
Um corpo em pedra calcária abriga as funções administrativas e faz a transição da
malha urbana, dos ritmos de vazios e da textura presentes nos edifícios vizinhos
para as partes metálicas do organismo, relacionadas com a escala do rio e das
construções à sua margem, os armazéns. As partes retangulares são revestidas em
pedra calcária, enquanto as curvas são revestidas com titânio 29 .
28 As funções internas como carga e descarga de obras são feitas pelo nível inferior ou
diretamente na grande galeria, esquivadas dos olhares públicos ao lado do estacionamento, e
conectadas com a via pública.
29 O material anteriormente escolhido era o aço inoxidável, descartado em razão do aspecto de
frieza que impregnava no edifício.
30 Walter de Maria apud BECHTLER, Cristina (ed.).Op. cit., p. 88.
190
31 Frank Gehry é amigo pessoal de Daniel Buren, Claes Oldenburg, Coosie van Bruggen e
Richard Serra, entre outros, e estabeleceu parcerias com eles e com vários outros artistas.
32 GEHRY, Frank O. Le musée emblème de la ville: Le Guggenheim museum de Bilbao et projets
en cours. Seminário. Musée du Louvre. Construire le musée: l’architecture du musée, em 9
abr. 1999. Depoimento gravado.
33 Walter de Maria apud BECHTLER, Cristina (ed.). Op. cit., p. 56.
192
Uma grande galeria, livre de apoios internos, foi criada para as exposições
temporárias e as grandes peças da coleção. O volume, sob a Ponte de La Salve,
termina, em seu extremo, em uma torre. As paredes são brancas e o piso é de
concreto polido. A grande galeria é idéia de Thomas Krens, para quem era
importante suprir o museu com um espaço destinado a esculturas monumentais,
tais como Labyrinth, de Robert Morris, e Knife Ship, de Claes Oldenburg,
sugerindo para o ambiente a forma da escultura Snake, de Richard Serra,
encomenda da Fundação34 . O arquiteto foi contrário à demanda, às dimensões
gigantescas e à própria forma, pois a tornou a “galeria de Serra”. Uma solução
para minimizar a monumentalidade foi provê-la de dimensões humanas, como o
balcão na entrada, do qual se pode ter uma vista aérea da galeria, possibilitando
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34 A galeria tem 137 metros de comprimento por 24 metros de largura, com 7 metros de pé-
direito. Snake tem 4 metros de altura, 33 metros de comprimento e pesa 172 toneladas.
193
galerias foi uma imposição da diretoria, com a qual o arquiteto não concordou,
tendo em vista que na maioria dos casos seu efeito não é real, mas psicológico.
um caso diferente, pois o museu era destinado a abrigar uma determinada coleção
particular, e não uma coleção institucional, na qual o ritmo de aquisições, a
capacidade e a variação do acervo, além de sua rotatividade, são normalmente
mais dinâmicos. No caso de Bilbao, as galerias não foram desenhadas para
determinados trabalhos, mas para tipos de trabalhos, o que Krens chama de ritmo
interno entre os espaços.
que considera o museu como um dos casos mais bem sucedidos do século XX,
fato que não ocorreu, ao menos na época, ao Beaubourg37 .
4.3
4.3.1
Em fins dos anos 1960 e início dos 1970, período em que travou contato
mais acirrado com os artistas da cena californiana, ocorreu a primeira grande
transformação na obra do arquiteto. No projeto da casa/estúdio do artista Ron
Davis (Malibu, California, 1968-72), Gehry se afastou mais incisivamente da
linguagem ortogonal moderna que orientara sua obra até então, para assumir o
diálogo crítico com a perspectiva. Trata-se de um volume trapezoidal, que cria
Eu observo muito a pintura [...]. Há uma imediatidade nas pinturas, você sente
como o pincel traçou o que fez. Eu penso em pinturas o tempo todo, assim como
parte da arquitetura, eu sinto um interesse em explorar como trazer estas idéias para
edifícios.44
43 Frank Gehry, em entrevista com Peter Arnell, em 24 fev. 1984. In: ARNELL, Peter;
BICKFORD, Ted (ed.). Frank Gehry - Buildings and projets. New York: Rizzoli, 1985.
44 Frank Gehry em entrevista com Peter Arnell, em 24/02/1984. Ibid.
45 Ver entrevista na Revista El Croquis nº 74-75, p. 6-36.
200
46 Ver crítica à obra de Claes Oldenburg em ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo:
Companhia das Letras, 1993.
201
4.3.2
47 Posteriormente, Frank Gehry incorporou esse procedimento à sua prática usual, como
complemento do canteiro de obras.
48 O programa indica também o tipo de estrutura adequado às formas pretendidas, se aço,
concreto, etc. O edifício é sustentado por estrutura metálica, calculada sem desperdício por
computador.
49 Em entrevista com Peter Arnell. In: ARNELL, Peter; BICKFORD, Ted (ed.). Op. cit.
50 VIDLER, Anthony. Space, time and movement. In: KOSHALEK, Richard; SMITH, Elizabeth
A. T. At the end of the century: one hundred years of architecture. Los Angeles/New York:
Museum of contemporary Art of Los Angeles/ Harry N. Abrams, 1998, p. 101-125.
202
reportar ao contexto urbano, está longe de ser uma colagem historicista, embora se
remeta a formas e a questões da tradição arquitetônica.
A partir dos anos 1990, Frank Gehry, que desde meados da década anterior
já era considerado um dos grandes arquitetos americanos, adquiriu importância
internacional, passando a ser convidado a trabalhar com variados programas
arquitetônicos, em diversas cidades européias. A contextualização urbana do
objeto arquitetônico como preocupação central permaneceu ponto importante no
processo de criação. É o diálogo dos “objetos” urbanos, presente tanto nos
projetos com diversos volumes, como nos de partido de corpo único. A questão
principal é a relação entre os diversos objetos urbanos.
52 CELANT, Germano. Reflection on Frank Gehry. In: ARNELL, Peter; BICKFORD, Ted (ed.).
Op. cit., p. 4.
204
4.3.3
A busca do movimento
53 COHEN, Jean-Louis, Frankly Urban: Gehry from Billboards to Bilbao. In: RAGHEB, J. Fiona
(ed.). Frank Gehry, architect. New York: Guggenheim Museum Publications, 2001. Catálogo da
exposição Frank Gehry, architect, p. 322-336.
54 VIDLER,Anthony. Space, time and movement. Op. cit., p. 125.
205
[...] mesmo a fachada de uma casa deve descer, subir, se decompor, estar recolhida
ou saltada, em função do maior ou menor grau de necessidade das peças que a
compõem. É o exterior que o arquiteto deve sacrificar ao interior, como o fazemos
em pintura ou em escultura.58
55 Conforme VIDLER, Anthony. Space, time and movement. Op. cit., p. 120.
56 LISTA, Giovanni. Boccioni et Gehry à Bilbao. LIGEIA, Dossiers sur L’art. Dossier: Art et
Architecture. Paris: Association Ligeia, n. 33-36, oct. 2000/juin 2001, p. 125-136.
57 BOCCIONI, Umberto. Architecture futuriste. Texto inédito. In: LISTA, Giovanni. Op. cit., p.
128.
58 Ibid., p. 129.
206
Ao longo do século XX, o espaço foi sendo identificado cada vez mais
como um produto da projeção subjetiva do que como um contenedor estável de
objetos e corpos. O expressionismo é uma das vanguardas que mais explorou a
interseção do pensamento espacial com o pensamento sobre o enquadramento do
sujeito psicológico. A experimentação contemporânea preserva estes dois termos
(o pensamento espacial e o do sujeito), na medida em que distorce o espaço
tradicional do modernismo e questiona o sujeito humanista.
59 VIDLER, Anthony. Warped space: art, architecture, and anxiety in modern culture. Op.
cit.
60 Id. Space, time and movement. Op. cit., p. 101-125.
61 Id. Warped space: art, architecture, and anxiety in modern culture. Op. cit.
207
62 Neste ponto, Vidler refere-se sobretudo às poéticas de Rem Koolhaas, Coop Himmelblau e
Daniel Libeskind (VIDLER, Anthony. Warped space: art, architecture, and anxiety in modern
culture. Op. cit.).
63 VIDLER, Anthony. Space, time and movement. Op. cit.
208
Eu acho que todos nós, finalmente, só comentamos o nosso próprio ponto de vista,
aquilo que se passa no nosso cone de visão. 65