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Memória,Esquecimento, Silêncio - Michael Pollak

Sobre a memória

● Diferentes pontos de referência ( Monumentos, Patrimônio arquitetônico, tradições e


costumes, Datas comemorativas, folclore e música, tradições culinárias, etc)
● Reforça a ideia de pertencimento
● Seletiva e negociada

Halbwachs x Pollak diferentes abordagens


● Halbwachs = função positiva da memória coletiva é reforçar a coesão
social, pela adesão efetiva ao grupo. "Memória nacional, a forma mais
completa de uma memória coletiva."

● Pollak = crença no poder destruidor, uniformizador e opressor da memória


nacional. Enquanto memórias subterrâneas se silenciam e afloram em
momentos de crise

Memória em disputa
Três exemplos:
1. Destalinização (lembranças proibidas)
● pós XX Congresso do PC da União Soviética, acusação de Nikita
Kruschev dos crimes estalinistas- resultou em " destruição progressiva
dos signos e símbolos que lembram Stalin, despojo do Mausoléu da
Praça Vermelha. Imagem de Stálin 'pai dos pobres' arranhada.
● Segundo momento= anos 80 movimento intelectual que resgatou a
memória das vítimas do terror estalinista.

Assim:
Memória clandestina ou proibida invade a cena cultural e se opõe à
dominação hegemônica do Estado. Disputa de memórias.

Constatações.
I- Necessidade dos dirigentes da memória fazerem uma autocrítica
apesar dos riscos de onde tal revisão pode levar.
II- Sobrevivência de lembranças traumáticas que após anos emerge no
momento propício.
III-Silêncio como resistência aos discursos oficiais.
2. Sobreviventes dos campos de concentração que retornaram à Alemanha e
à Áustria. (lembranças indizíveis)
Silêncio:
● Não provocar o sentimento de culpa na maioria.
● Sentimento de auto-culpa (negociação com nazistas)
● Silêncio das vítimas pela memória "comprometedora"
● Razões políticas e pessoais engendram o silêncio. Quarenta anos depois,
razões políticas e pessoais convergem, é preciso escrever as lembranças
antes de partir.

3. Recrutados a força alsacianos (lembranças vergonhosas)


● Três etapas: Memória envergonhada, associações de desertores,
evadidos e recrutados a força.

Pontos em comum dos 3 exemplos:


_Oposição a memória nacional
_Redes de transmissão: família, associações, redes de sociabilidade afetivas/políticas
_Passam despercebidas pela sociedade englobante
“A fronteira entre o dizível e o indizível, o confessável e o inconfessável, separa, em
nossos exemplos, uma memória coletiva subterrânea da sociedade civil dominada ou
de grupos específicos, de uma memória coletiva organizada que resume a imagem que
uma sociedade majoritária ou o Estado desejam passar e impor.” (p.9)
_Emergência de certas lembranças conforme certas circunstâncias.

Enquadramento da memória
Função da memória: Reforçar e definir o sentimento de pertencimento. Manter coesão
dos grupos.Manter coesão interna e defender o que o grupo tem de comum= funções
essenciais da memória comum.Isso significa fornecer um quadro de referências e de
pontos de referências.Memória enquadrada (Memória coletiva)

Enquadramento:
Tem limites
Toda organização política, por exemplo - sindicato, partido etc. -, veicula seu próprio
passado e a imagem que ela forjou para si mesma.
“Esse trabalho de enquadramento da memória tem seus atores profissionalizados,
profissionais da história das diferentes organizações de que são membros, clubes e
células de reflexão. Esse papel existe também, embora de maneira menos claramente
definida, nas associações de deportados ou de ex-combatentes.” (p.11)
_Controle de testemunhas = evidencia o enquadramento da memória.
Rastros do enquadramento: Monumentos, museus, bibliotecas, etc.
os instrumentos da história oral, parte das memórias individuais, faz aparecerem os
limites desse trabalho de enquadramento e, ao mesmo tempo, revela um trabalho
psicológico do indivíduo que tende a controlar as feridas, as tensões e contradições
entre a imagem oficial do
passado e suas lembranças pessoais.

Múltiplos motivos de silencios


Testemunhar para esquecer
Repressão
“Assim como uma "memória enquadrada", uma história de vida colhida por meio da
entrevista oral, esse resumo condensado de uma história social individual, é também
suscetível de ser apresentada de inúmeras maneiras em função do contexto no qual é
relatada.”

Jelin, Elizabeth. 2017. La Lucha por el pasado. Cómo construimos la memoria


social. Buenos Aires: Siglo XXI Editores Argentina.

“Introducción”
Memórias- Sempre plurais, e em múltiplas temporalidades
O silenciado em determinada época pode emergir com força posteriormente

Algo sobre a memória.


● Falar de memória é falar do presente : “En verdad, la memoria no es el pasado,
sino la manera en que los sujetos construyen un sentido del pasado, un pasado
que se actualiza en su enlace con el presente y también con un futuro deseado
en el acto de rememorar, olvidar y silenciar.” (p.13)
● Atores e militantes colocam em pauta leituras e interpretações do passado
● Feridas da memória: “Hay también vivencias pasadas que reaparecen en
momentos posteriores, y el sujeto no puede significarlas: son las “heridas de la
memoria”, situaciones en que la represión y la disociación provocan
interrupciones, quiebres y huecos traumáticos en la capacidad narrativa.” (p.14)
● Sempre seletiva
● Processos de construção da memória são sempre abertos e nunca acabados.
● Considerações
1- Caráter conflitivo das memórias (confrontos e contraposições de sentidos em
relação ao passado)
2-Elaborações e sentidos do passado de acordo com distintos atores
3- Passado como construção cultural sujeito ao presente
O tempo, a palavra e os silencios
Há silencios de diversos tipos:
● Volluntário
● provocado
● Não recordar o que pode ferir
● situações conflitivas e vergonhozas
● ao medo (repressão, violência)
● Para proteger e cuidar dos outros
● Esquecer as dores para continuar seguir vivendo

Momento propício para expressar momentos dolorosos : Esta “espera” tiene que
ver con otra lógica en el silencio: encontrar a otros con capacidad de escuchar es vital
en el proceso de quebrar silencios, por el temor a no ser comprendido.

Quem escuta também seleciona, silencia, interpretam e dão sentido ao que se


fala e ao que esta silenciado. Também enquadram a memória institucionalmente
(juízos e comissões), entrevistas etc.
_narrativas públicas= multiplicidade de vozes, “Verdades”, silencios e coisas não ditas.

Cap. 1 “La conflictiva y nunca acabada mirada sobre el pasado

Proposta: Pensar como é elaborado o passado de paises que conviveram com a


violência de Estado (ditadura) em países da América do Sul (Argentina, Chile, Brasil,
Uruguai, Paraguai)

Grande questão: “La cuestión que quiero plantear refiere a las maneras en que una
sociedad y sus autoridades legítimas, representadas en un Estado democrático,
confrontan un pasado violento en el que todas las normas de convivencia fueron
quebradas y Pisoteadas.”

Alemanha
Como normalizar o passado? Como se conciliar com este?
● Anos 60 Nação moral - disposta a confrontar o passado, extrair lições e assumir
responsabilidades
● Anos 70 Nação normal - História similar a de outros países altos e baixos.
● Anos 80 noção de normalização em 2 sentidos:
I. Relativização (Outros países também foram horrendos ao longo do tempo,
história alemã não se restringia ao período nazista)
II. Regularização/ritualização: Reconhecimento da responsabilidade histórica.
Mostras de culpas (comemorações), evocações do sofrimento alemão
“El poder alemán parecía haber aprendido que el deseo de normalización se cumple
mejor a través de la ritualización que apelando al desafío o el silencio”

Golpes na América do Sul


● Golpistas tidos como heróis diante das ameaças (comunistas)
● Versões distintas silenciadas. “Así como los militares golpistas victoriosos
instalaron una memoria en el acontecimiento, las controversias sobre los
sentidos del pasado comenzaron con el acontecimiento conflictivo propiamente
dicho. Sólo que esas otras versiones y sentidos fueron censurados y prohibidos
durante mucho tiempo, al punto de quedar reducidos a espacios privados o
familiares y a acciones de protesta reprimidas, silenciadas y ocultadas por el
régimen.”

Pós ditadura
● Processos pos ditatoriais não foram fáceis (relações civis/militares, acusadores e
defensores)
● Busca da verdade, justiça, sentido ao passado (múltiplas faces de acerto com o
passado)
● Concentração na vitimização, silenciamento dos ideais que sustentavam as lutas
dos grupos políticos.

Emergencia do debate anos 90


● Denúncias e demandas de justiça
● Movimento dos direitos humanos
● pressões internacionais
Atualidade do passado ganha visibilidade pública.
“Ante las demandas de los movimientos sociales y la justicia internacional, las
respuestas estaban orientadas a “superar” o “cerrar” las cuentas con el pasado o, en
todo caso, promover la reconciliación y el diálogo (Chile), la paz (Uruguay) o el silencio
(Brasil).” (p.44)

Depois de 30 anos
“Las estrategias estatales elaboradas durante los años noventa no tuvieron el efecto de
cierre esperado, y el Estado asumió la tarea de confrontar el pasado a través de la
conformación de comisiones de investigación, de procesos judiciales, de políticas de
reparación económica o de conmemoración, de archivos, de museos y memoriales.
Estas políticas estatales fueron el resultado de las demandas y la acción colectiva
llevada adelante por el movimiento de derechos humanos, con el protagonismo central
de víctimas y familiares.

Saldando a questão
● Impossível uma resolução definitiva
● tempo e memória não são lineares
● novas gerações perguntam e reinterpretam
● Não há uma solução satisfatória a todas as demandas
● _Memória nunca acabada sempre conflitiva.

Diálogos com minha pesquisa

Os insurgentes esperavam ver atendidas suas reivindicações (Anderson, 2005). No


entanto, sob o lema "Harambee" (união) o governo pós independência se pautou na
ideia de que era necessário esquecer o passado em nome da unidade nacional
(Anderson, 2005; Charton, 2011; Wahome, Kiruthu, Mwangi, 2016; Munene, 2015),
caracterizando aquilo que Igreja (2008) e Trouillot (2016) entendem como
silenciamento da história para estabilização de sociedades tomadas por conflitos
internos. Além do silenciamento, Munene (2015) argumenta que se buscou também o
remodelamento da própria história, refutando qualquer protagonismo Mau Mau na
busca da "uhuru'' (liberdade). Apesar das tentativas de silenciamento da memória Mau
Mau nos governos de Jomo Kenyata e de Daniel Arap Moi (Speitkamp, 2015), em
2002, após a eleição de Mwai Kibaki, o movimento Mau Mau foi retirado da ilegalidade
(posição que ocupava desde 1952). Isso contribuiu para a organização de associações
Mau Mau e outras instituições empenhadas em trabalhar com a memória do movimento
(Anderson, 2005; Charton, 2011; Wahome, Kiruthu, Mwangi, 2016; Munene, 2015).

MBC
Uma importante fonte de dados sobre versões da guerrilha Mau Mau diferentes
daquela que figura na história oficial pode ser encontrado no MBC - Museum of British
Colonialism. Criado em 2018, o MBC é uma plataforma online de iniciativa
anglo-quenianaque cria, compartilha e age como um repositório digital de amplo
acesso. Formada por uma equipe multidisciplinar, composta por voluntários advindos,
principalmente, da história, arqueologia, ciências sociais e comunicação, desenvolve
suas atividades com a arrecadação de doações. A organização afirma ter um perfil
transnacional, anti-racista, anti-colonial e busca “dar voz” a pessoas e histórias
silenciadas.
O MBC disponibiliza artigos, entrevistas, relatórios de eventos, conta com um blog e
tem grande penetração nas mídias digitais dando ênfase a um processo de
“restauração da história” explorando o que consideram aspectos ocultados e
deliberadamente removidos.

Algumas questões.
● Enquadramento do MBC que envolve a seleção de testemunhas.
● Lugares de memória significam a não existência de uma memória viva, se há
necessidade de recordar é porque há o risco de se esquecer.
● Um grão de trigo, Ngugi wa Thiongo - personagens que sentem o peso do
passado e as incertezas do futuro no pós independência. Como lidar com as
memórias, com os papéis desempenhados, como se socializar após os embates
que dividiram famílias, amigos e conhecidos, como lidar com o fim do conflito e
lidar com os papéis anteriormente desempenhados.

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