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Ontoteologia
Fernando Fragozo*
Resumo
Este artigo apresenta a caracterização heideggeriana da metafísica como ontoteologia. Num
primeiro momento, trata-se de explicitar a posição do pensamento de Heidegger a partir da
questão do desvelamento, da diferença ontológica e da análise do esquecimento do ser como
origem da metafísica, para, em seguida, caracterizar o vigor metafísico como busca de funda-
mentação do ente enquanto tal e no seu todo enquanto princípio de razão. Por fim, trata-
se de refletir sobre a análise que faz Heidegger deste movimento como história da metafísica,
que hoje se apresentaria como cálculo e disponibilização infinita da totalidade do ente.
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alavr as-chavv e: Heidegger, Metafísica, Ontoteologia, Filosofia, Verdade.
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Abstract
This article presents Heidegger’s characterization of metaphysics as ontotheology. At first,
the position of Heidegger’s thought is presented by way of the question of the unconcealment,
the ontological difference and the analysis of the forgetfulness of Being as the origin of
metaphysics. The metaphysical vigor is characterized as a search for grounding being as
being and as a whole, as principle of reason. At last, the article aims at reflecting on
Heidegger’s analysis of this movement as history of metaphysics, present nowadays as
calculation and search for infinite control of the whole of being.
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Fernando Fragozo
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ywor ds: Heidegger, Metaphysics, Ontotheology, Philosophy, Truth.
ords:
*
O pensamento de Heidegger é todo ancorado num marco
central que se nomeia alétheia. Tradicionalmente traduzida, a
partir do latim veritas, por “verdade” no sentido de “adequa-
ção”, alétheia é pensada por Heidegger como Unverborgenheit,
traduzido em português por “desvelamento”, “desoculta-
mento” ou “desencobrimento”. Tal interpretação se dá a
Heidegger a partir do que ele nomeia “um pressentimento”,
de tal modo que, em Meu caminho para a fenomenologia, ao
comentar o estudo que realizava sobre as Investigações Lógicas
de Husserl, Heidegger dirá que neste estudo descobriu “an-
tes conduzido por um pressentimento do que orientado
por uma compreensão fundada” que “o que para a
fenomenologia dos atos conscientes se realiza como o
automostrar-se dos fenômenos é pensado mais originaria-
mente por Aristóteles e por todo o pensamento e existência
dos gregos como Alétheia, como o desvelamento do que se
pre-senta, seu desocultamento e seu mostrar-se”.1
1
Martin HEIDEGGER, Meu Caminho para a Fenomenologia. p. 300. (Para referências
completas, cf. abaixo Bibliogr
Bibliogr af
liograf ia
afia
ia.)
2
ID., De l’essence de la vérité – Approche de l’”allégorie de la caverne” et du Théétète de Platon, p. 27.
3
Em Ser e Tempo: “O ser (...) apenas ‘é’ na compreensão dos entes a cujo ser
pertence uma compreensão do ser.” (M. HEIDEGGER, Ser e Tempo - Parte 1, p. 246).
Na Carta sobre o Humanismo (p. 168): “O homem é e é homem enquanto é o ec-
sistente. Ele está postado, num processo de ultrapassagem, na abertura do ser, que
é o modo como o próprio ser é”. Sobre a denominação Dasein, lê-se, no relatório do
seminário de Zähringen, redigido por Jean Beaufret: “Este ser-numa-abertura,
8
ID., Logos. In: SOUSA, José Cavalcante de (Seleção de Textos e Supervisão). Os Pré-
Socráticos – Fragmentos, Doxografia e Comentários. p. 122.
9
Ibid., p. 121.
10
M. HEIDEGGER, Les Séminaires, p. 419.
11
Ibid., p. 421.
12
ID., De l’essence de la vérité..., p. 66.
13
ID., Les Séminaires, p. 415.
14
M. HEIDEGGER, A Constituição Onto-Teo-Lógica da Metafísica, p. 201.
15
ID., Ciência e Pensamento do Sentido, p. 50.
16
ID., A Constituição Onto-Teo-Lógica..., p. 196.
17
Ibid., p. 196.
18
ID., Logos, p. 115.
19
Ibid., p. 121.
20
Ibid., p. 112.
21
Ibid., p. 121-122.
22
ID., Les Séminaires, p. 398.
23
ID., A Constituição Onto-Teo-Lógica..., p. 196.
24
ID., Le Principe de Raison, p. 43.
25
Ibid., p. 79.
26
ID., Le Mot de Nietzsche ‘Dieu est Mort’. p. 266.
27
ID., De l’essence de la vérité..., p. 32.
Bibliografia
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