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Sistemas de Informação

Geográfica
Profª. Regina Luiza Gouvea

Indaial – 2021
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2021

Elaboração:
Profª. Regina Luiza Gouvea

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

G719s

Gouvea, Regina Luiza

Sistemas de informação geográfica. / Regina Luiza Gouvea –


Indaial: UNIASSELVI, 2021.

209 p.; il.

ISBN 978-65-5663-690-0
ISBN Digital 978-65-5663-691-7

1. Informação geográfica. - Brasil. II. Centro Universitário


Leonardo da Vinci.
CDD 910

Impresso por:
Apresentação
Neste livro didático vamos tratar de um tipo de tecnologia que vem
crescendo muito nos últimos anos, deixando de ser um tema restrito ao meio
acadêmico: os Sistemas de Informações Geográficas (SIG).

Os Sistemas de Informações Geográficas contemplam um conjunto


de ferramentas que permite o armazenamento, a manipulação e a visualiza-
ção de dados em formato de mapas e possuem o amplo espectro de aplicação
em diversas áreas do conhecimento, o que torna estes sistemas de grande
importância para auxiliar na compreensão e gestão do espaço.

Dessa forma, veremos alguns elementos relevantes para a compreen-


são de SIG, como os aspectos conceituais, funcionalidades e tecnologias para
o desenvolvimento de um SIG.

Veremos que para iniciar um projeto é importante tomar conheci-


mento da disponibilidade de dados. Embora as empresas públicas, geral-
mente, disponibilizem dados para o usuário, na ausência de dados dispo-
níveis, é fundamental que o usuário conheça os métodos de aquisição de
dados, assunto que será abordado neste livro, pois, pode ser que ele precise
produzir seus próprios dados.

Por fim, para a realização de uma análise, é importante conhecer


os modelos e estruturas de dados geográficos utilizados na representação
espacial. Dessa forma, o analista poderá comunicar os resultados obtidos
empregando os conhecimentos teóricos e práticos na execução de um projeto.

Ao longo deste estudo, perceberá que o SIG permite muitas análises


espaciais. Então, vamos conhecer alguns processos que são empregados na
construção de um mapa, que consiste na transformação de dados geográficos
digital em produtos visuais de fácil comunicação.

Boa aprendizagem!

Profª. Regina Luiza Gouvea


NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


Sumário
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES
E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)................................ 1

TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES


GEOGRÁFICAS.............................................................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 3
2 ASPECTOS CONCEITUAIS DO SIG .............................................................................................. 3
3 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA ........................................................................ 8
4 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS SIGS .................................................................... 11
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 19
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 20

TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG....................... 23


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 23
2 HARDWARES PARA INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DE SOFTWARE SIG........................... 25
3 ESTRUTURA GERAL DE SIG ........................................................................................................ 27
4 FUNCIONALIDADE DE UM SIG ................................................................................................. 32
4.1 CONSULTA.................................................................................................................................... 33
4.2 RECLASSIFICAÇÃO..................................................................................................................... 33
4.3 ANÁLISES DE PROXIMIDADE E DE CONTIGUIDADE (INTERPOLAÇÃO).................. 34
4.4 CRUZAMENTO DE CAMADAS................................................................................................ 34
4.5 CÁLCULO DE MEDIDAS LINEARES E DE ÁREA................................................................. 34
4.6 ANÁLISE DE CONTIGUIDADE: INTERPOLAÇÃO.............................................................. 34
4.7 OPERAÇÕES DE SUPERPOSIÇÃO (OVERLAY)...................................................................... 35
4.8 OPERAÇÕES ALGÉBRICAS NÃO CUMULATIVAS ............................................................. 35
4.9 OPERAÇÕES ALGÉBRICAS CUMULATIVAS......................................................................... 37
5 NECESSIDADES DE APLICAÇÕES DE GEOPROCESSAMENTO........................................ 38
RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 42
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 43

TÓPICO 3 — TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG........................ 45


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 45
2 GEOTECNOLOGIAS......................................................................................................................... 45
3 VISÃO GERAL DA TECNOLOGIA DE SIG ............................................................................... 48
4 TECNOLOGIAS PARA A EVOLUÇÃO DE UM SIG.................................................................. 51
4.1 SOFTWARES LIVRES . ................................................................................................................. 53
4.1.1 gvSIG...................................................................................................................................... 53
4.1.2 QGIS........................................................................................................................................ 54
4.1.3 SPRING.................................................................................................................................. 54
4.1.4 TerraView............................................................................................................................... 54
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................................. 55
RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 57
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 58

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................... 60

UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO,


ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS....................... 63

TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS........................................................................... 65


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 65
2 NATUREZA DOS DADOS GEOGRÁFICOS............................................................................... 65
2.1. CONCEITOS RELACIONADOS COM DADOS GEORREFERENCIADOS ...................... 70
2.1.1 Mapa....................................................................................................................................... 70
2.1.2 Escala...................................................................................................................................... 71
2.1.3 Projeção.................................................................................................................................. 72
2.2 REPRESENTAÇÃO COMPUTACIONAL DE DADOS GEOGRÁFICOS............................. 73
3 FONTE DE DADOS GEOGRÁFICOS........................................................................................... 76
4 MÉTODOS PARA AQUISIÇÃO DE DADOS.............................................................................. 77
RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 81
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................... 82

TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS............. 85


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 85
2 ARMAZENAMENTO DE DADOS EM SIG................................................................................. 85
2.1 MODELOS DE DADOS PARA SIG............................................................................................. 86
2.2 OBJETOS ESPACIAIS.................................................................................................................... 88
2.2.1 Ponto....................................................................................................................................... 89
2.2.2 Linha ...................................................................................................................................... 89
2.2.3 Polígono................................................................................................................................. 90
2.2.4 Representação de Superfícies Contínuas.......................................................................... 91
2.3 ARMAZENANDO TOPOLOGIA EM BANCO DE DADOS.................................................. 93
3 SISTEMA GERENCIADOR DE DADOS GEOGRÁFICOS...................................................... 95
3.1 CRIANDO UM BANCO DE DADOS GEOGRÁFICO............................................................. 97
3.2 GERENCIADOR DE BANCO DE DADOS – BD...................................................................... 98
3.3 CRIANDO CLASSE DE FEIÇÕES NO BANCO DE DADOS GEOGRÁFICO..................... 98
3.4 IMPORTANDO CAMADAS PARA O BANCO DE DADOS GEOGRÁFICO.................... 100
3.5 ANÁLISE E CONSULTAS NO BANCO DE DADOS GEOGRÁFICO................................. 101
3.6 REALIZANDO CONSULTAS POR ATRIBUTO PELO GERENCIADOR DE BD................ 101
3.7 REALIZANDO CONSULTAS ESPACIAIS PELO GERENCIADOR DE BD....................... 105
4 MANIPULAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS....................................................................... 106
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 111
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 112

TÓPICO 3 — ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS.................................. 115


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 115
2 DADOS ESPACIAIS........................................................................................................................ 115
3 ANÁLISE DE DADOS ESPACIAIS EM SIG.............................................................................. 118
4 INTEGRAÇÃO COM SENSORIAMENTO REMOTO ............................................................ 124
4.1 CORREÇÃO GEOMÉTRICA DE IMAGENS ......................................................................... 125
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 127
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 129
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 130

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 132

UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO


DE DADOS AMBIENTAIS........................................................................... 135

TÓPICO 1 — MODELOS DE DADOS............................................................................................ 137


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 137
2 PONTOS, LINHAS E ÁREAS ....................................................................................................... 137
3 REPRESENTAÇÃO DE DADO MATRICIAL............................................................................. 140
4 REPRESENTAÇÃO DE DADO VETORIAL............................................................................... 144
RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 148
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 149

TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS........................................................ 153


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 153
2 ESTRUTURA E FORMATO DE DADOS GEOGRÁFICOS.................................................... 153
3 ESTRUTURA DE DADOS PARA MODELOS MATRICIAIS ................................................ 155
4 ESTRUTURA DE DADOS PARA MODELOS VETORIAIS................................................... 159
4.1 ESTRUTURA SPAGHETTI......................................................................................................... 160
4.2 ESTRUTURA TOPOLÓGICA ................................................................................................... 161
5 CONVERSÃO ENTRE MODELOS MATRICIAL E VETORIAL ........................................... 166
RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 170
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 171

TÓPICO 3 — SISTEMA DE REFERÊNCIA.................................................................................... 173


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 173
2 SISTEMA DE COORDENADAS .................................................................................................. 173
3 SISTEMAS DE PROJEÇÕES DE MAPAS................................................................................... 174
4 SISTEMAS DE REFERÊNCIA........................................................................................................ 178
4.1 SISTEMAS DE REFERÊNCIA CLÁSSICOS............................................................................. 179
4.2 SISTEMAS DE REFERÊNCIA MODERNOS........................................................................... 179
4.3 SISTEMAS DE REFERÊNCIA GEODÉSICOS ADOTADOS NO BRASIL........................... 180
RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 181
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 182

TÓPICO 4 — SAÍDAS........................................................................................................................ 185


1 INTRODUÇÃO................................................................................................................................. 185
2 MAPAS TEMÁTICOS...................................................................................................................... 185
2.1 VISUALIZANDO O MAPA TEMÁTICO................................................................................. 186
3 LAYOUT DE MAPAS....................................................................................................................... 188
4 CONSTRUÇÃO DE MAPAS NO QGIS....................................................................................... 190
LEITURA COMPLEMENTAR........................................................................................................... 202
RESUMO DO TÓPICO 4................................................................................................................... 205
AUTOATIVIDADE............................................................................................................................. 206

REFERÊNCIAS..................................................................................................................................... 208
UNIDADE 1 —

ASPECTOS CONCEITUAIS,
FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS
LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO
GEOGRÁFICA (SIG)

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• aprender os aspectos conceituais do SIG, sua evolução ao longo do


tempo e suas aplicações;

• conhecer a história da ciência da informação e como se deu a sistematiza-


ção dos usos fundamentais do conceito de ciência da informação;

• compreender o desenvolvimento e operacionalidade de um SIG e sua


estrutura geral em uma visão mais abrangente;

• identificar relações topológicas e compreender os usos dessas relações


em um ambiente SIG;

• entender quais são as necessidades de aplicações de geoprocessamento


e conhecer os segmentos de geoprocessamento no Brasil;

• entender a diversidade de usos das geotecnologias e o impacto do uso


da tecnologia de SIG nas diferentes áreas do conhecimento;

• conhecer as tecnologias necessárias para o desenvolvimento de um SIG,


incluindo fabricantes e estrutura de dados.

1
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada
tópico, você encontrará autoatividades com o objetivo reforçar o conteúdo
estudado.

TÓPICO 1 – CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE


INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

TÓPICO 2 – DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

TÓPICO 3 – TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

2
TÓPICO 1 —
UNIDADE 1

CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE


INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, nós conheceremos os aspectos conceituais dos SIGs,


ferramenta de grande importância para a realização de projetos nas mais
diferentes áreas do conhecimento.

Antes de apresentarmos os diferentes conceitos destes sistemas, contudo,


abordaremos o conceito de Informação Geográfica e como essa informação
pode ser expressa na forma digital para uma melhor compreensão da estrutura
e funcionamento dos SIGs. Além disso, faremos uma breve abordagem sobre a
origem histórica da ciência da informação.

O histórico da evolução dos SIGs também é tema de estudo deste tópico.


Conheceremos quais são as mais antigas formas para analisar e manipular
informações que estão no espaço, em um determinado período; sua evolução
a partir da década de 1940; e uma síntese dos diferentes estágios, períodos e
características da evolução dos SIGs.

2 ASPECTOS CONCEITUAIS DO SIG


De acordo com Gonçalves (2020, p. 7), “um SIG não pode existir sem
uma ou mais pessoas responsáveis pela instalação ou atualização de hardware,
software e bancos de dados. Esta responsabilidade se estende à avaliação da
qualidade e usabilidade de novas aquisições”.

De acordo com Ferreira (2006), a definição de Informação Geográfica


envolve: a informação sobre locais na superfície terrestre; o conhecimento
sobre “onde” alguma coisa está; e o conhecimento sobre “o que” está em uma
determinada localização. De acordo com o autor, esta informação pode ser
expressa na forma digital, codificada em um alfabeto que emprega somente dois
caracteres (0 ou 1), denominado bits (FERREIRA, 2006).

3
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

De acordo com Ferreira (2006), existem dois significados distintos para


SIG: um deles trata da aplicação real de SIG, incluindo equipamentos, dados,
programas computacionais, recursos humanos e métodos indispensáveis para
resolver um problema (Figura 1) e o outro significado se refere a um tipo de
programa computacional vendido ou disponibilizado por um desenvolvedor de
programas computacionais.

Perceba que a Figura 1 que representa a aplicação real de um SIG,


apresenta os diferentes elementos que incluem os dois significados para estes
sistemas pontuados pelo referido autor.

FIGURA 1 – APLICAÇÃO REAL DE UM SIG

FONTE: Ferreira (2006, p. 6)

Para Longley, (2013), um SIG é constituído por seis partes: pessoas,


software, hardware, dados, procedimentos e rede, conforme mostra a Figura 2. De
acordo com o autor, o software pode ser simples como um navegador padrão da
internet, mas, possivelmente é um pacote comprado de um vendedor de SIG.

FIGURA 2 – SEIS PARTES DE UM SIG

FONTE: Longley (2013, p. 25)


4
TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

De acordo com Garcia (2014, p. 54), “Os SIGs são uma tecnologia es-
pecífica, cujo arcabouço de ferramentas está direcionado às análises de dados
espaciais, referenciados no espaço”. Segundo o autor, é perceptível que o con-
ceito de SIG evoluiu ao longo do tempo, especialmente após sua “origem” ou
uso mais intensificado desse conjunto de ferramentas durante os anos de 1980.
Segundo Silvan (2019) foi a partir do final da década de 1980 que se ampliaram
os aplicativos com o aparecimento de softwares específicos para as áreas meio
ambiente, segurança pública, transportes, telecomunicações, agricultura, obras
de engenharia, turismo e serviços de emergência. O autor salienta que, após 30
anos de desenvolvimento tecnológico, o SIG se tornou um fenômeno global,
envolvendo usuários de diferentes profissões desde arquitetos até bombeiros.
Quanto aos aplicativos, destaca, variam de cadastro técnico municipal a atendi-
mento de emergência a ataques terroristas.

Garcia (2014, p. 54) afirma, ainda, que muitas abordagens “entendem


os SIGs como um conjunto de ferramentas (toolbox) e algoritmos necessários à
manipulação de dados geográficos e à produção de mapas, por exemplo”. O autor
destaca que existem enfoques que apresentam os SIGs como sistemas integrados,
formados por diversas etapas, incluindo pré-processamento e processamento de
dados e análise, até a composição dos produtos. Para Garcia (2019) as definições
de SIG apontam para um aspecto multidisciplinar de sua utilização.

Para Silvan (2019, p. 9) o SIG pode ser definido como “um sistema
computacional que permite a associação de dados gráficos (mapas) e banco
de dados que serve de base à gestão espacial e consequentemente a soluções
a problemas de determinada área da superfície terrestre”, ou, também, “como
o ambiente que permite a integração e a interação de dados referenciados
espacialmente com vistas a produzir análises espaciais como suporte à decisão
técnica ou política” (SILVAN, 2019, p. 9).

E
IMPORTANT

Um Banco de Dados Geográfico é um conjunto de dados referenciados


espacialmente, que funciona como um modelo da realidade, por representar um conjunto
selecionado de fenômenos reais, que podem estar associados a períodos diferentes
(FILHO; IOCHPE, 1996). Georreferenciar, por sua vez, consiste em determinar os limites
de pontos na superfície terrestre, tornando suas coordenadas conhecidas.

5
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

De acordo com Davis e Câmara (2001), o termo SIG é aplicado para


sistemas que realizam o tratamento computacional de dados geográficos e
recuperam informações com base em suas características alfanuméricas, através
de sua localização espacial, oferecendo ao administrador uma visão inédita de
seu ambiente de trabalho, “em que todas as informações disponíveis sobre um
determinado assunto estão ao seu alcance, inter-relacionadas com base no que
lhes é fundamentalmente comum – a localização geográfica” (DAVIS; CÂMARA,
2001, p. 2).

De acordo com Miranda (2015), o conceito de SIG evoluiu nos últimos


anos, mas seu objetivo não mudou. O autor pontua que o contexto da definição
foi mudado à medida que o uso dos SIGs evoluiu abrangendo diferentes campos
de pesquisa. Para Burrough (1986 apud Miranda, 2015, p. 20), os SIGs podem
ser definidos como “um sistema (automatizado) de coleta, armazenamento,
manipulação e saída de dados cartográficos”, tem grande influência de uma
linguagem comum da área da computação, o que pode levar o leitor a pensar que
um SIG passou a existir com a chegada do computador.

Contudo, Miranda (2015) pontua que estes sistemas já existiam antes do


aparecimento do computador e do desenvolvimento de sistemas computacionais.
O autor salienta que a evolução destes sistemas envolveu séculos de produções de
mapas e compilação de registros geográficos. De acordo com o autor, os romanos
foram os primeiros a empregar o conceito de registros de propriedades e que,
em muitos países, o termo cadastro designa o registro de mapas e propriedades
(BERNHARDSEN, 1999 apud MIRANDA, 2015).

Ainda que os sistemas de informação geográfica tenham surgido antes


mesmo do advento do computador, Garcia (2014) afirma que foi a evolução da
informática que contribuiu para o avanço dos SIGs e do conjunto de ferramentas
para a análise das informações geográficas, recebendo contribuições da Geografia
e de outras ciências que foram fundamentais nas aplicações e nos direcionamentos
destes sistemas como suporte à tomada de decisões. Garcia (2014) acrescenta que
as contribuições da geografia, com os trabalhos de produção de mapas e da coleta
de dados especializáveis, e de outras ciências, foram fundamentais nas aplicações
e nos direcionamentos dos SIGs.

De acordo com Miranda (2015, p. 20), “a evolução do conceito de SIG


se relaciona com as diferentes áreas de pesquisa que contribuíram para o seu
desenvolvimento como a informática, a geografia, e outras que ainda enfatizam
aplicações como suporte à decisão”.

De acordo com Garcia (2014, p. 54), o conceito mais difundido de SIG


entre inúmeros autores é de “um conjunto organizado de hardware, software,
dados geográficos e pessoal capacitado, desenvolvido para capturar, armazenar,
atualizar, manipular e apresentar, por meio de um produto final cartográfico, a
espacialização das informações referenciadas geograficamente”.

6
TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

De acordo com Lacruz e Souza Filho (2019) apud Mello (2015), SIG é um
conjunto de planos de informação que contém a localização geográfica de dados
geográficos, que nasceu como solução para representar um grande volume de
informação geográfica procedente das mais variadas fontes, estruturando e
unificando essa informação de forma eficaz, de forma a possibilitar a captura,
armazenamento, manipulação, análise, visualização, apresentação, busca e
seleção de informações constantes em um mapa, produzindo resultados confiáveis
sobre assuntos relacionados a dados geográficos, além de construir um banco de
dados frequentemente atualizado, composto por esses dados e informações. Para
Maguire (1991 apud Mello, 2015), a característica mais importante dos SIGs está
no seu amplo poder de análise, distinguindo-o de quaisquer outros sistemas.

Segundo Mello (2015), há quem defina o SIG como um sistema de suporte


à decisão, integrando dados em um ambiente a resposta a problemas, há quem
defina os SIGs como instrumentos apropriados no auxílio de diagnósticos
de cenários futuros das diferentes situações ambientais existentes, há quem
associe às ferramentas computacionais de Geoprocessamento que possibilitam
a realização de análises complexas. De acordo com Mello (2015), há autores que
afirmam que uma equipe com conhecimentos básicos em matemática, estatística,
cartografia, SIG e Geoprocessamento é um passo fundamental para garantir uma
boa implementação do SIG, pois as diferentes formações possibilitam a exploração
mais abrangente e integrada das ferramentas dos SIGs.

Outro ponto abordado por Mello (2015) diz respeito à visão de alguns
autores sobre o uso dos SIGs em países de dimensões continentais com o
Brasil. De acordo com o autor, alguns estudiosos afirmam que, em um país de
dimensões continentais como o Brasil, o uso dos SIGs como ferramentas para a
implementação de mapeamento básico é bem-vinda, mas muitas empresas que
utilizam esta tecnologia não mantém uma base digital dos seus resultados.

Sobre as possibilidades que os SIGs apresentam, Rosa (2020) destaca


que um SIG possibilita a orientação e planejamento, fornecendo mapas digitais
navegáveis, o que possibilita a pesquisa e busca de informações de locais. Segundo
o autor, o uso de SIG não garante a certeza, a segurança, ou a melhor solução
para um problema específico, tendo em vista que, se não houver um controle de
qualidade do banco de dados, ou seja, se o banco de dados for impreciso e/ou
cheio de erros, o resultado será um mapa talvez extremamente colorido, capaz de
impressionar, mas, na prática, um mapa sem significado e impróprio.

Outra possibilidade com o uso dos SIGs é a sobreposição de camadas. De


acordo com Rosa (2020, p. 5-6), o “SIG apresenta as informações em diferentes
camadas temáticas, permitindo sobrepor e trabalhar com camadas distintas dando
significado e permitindo a análise dos dados”. Os modelos mais comuns em SIG
são o modelo raster, imagens que representam, por exemplo, a elevação, uso da
terra, imagens de satélite; e o modelo vetorial, modelo cujas informações sobre
pontos, linhas e polígonos são codificadas e armazenadas como uma compilação
de coordenadas x, y e z.

7
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

TUROS
ESTUDOS FU

No final desta unidade, vamos apresentar alguns exemplos e a descrição geral


de aplicativos SIGs. Incluindo softwares livres que podem ser baixados e instalados pelos
usuários interessados no uso destas ferramentas.

3 A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA


Para conhecer as origens históricas da ciência da informação de forma
mais pormenorizada, Fonseca (2005 p. 14), destaca a obra de Jesse Shera e Donald
Cleveland (1977). De acordo com Fonseca (2005), estes estudiosos traçaram
uma minuciosa cronologia das principais questões que marcaram a ciência
da informação na América do Norte e na Europa, desde os primeiros esforços
para sistematizar informações bibliográficas até o advento da “era da ciência da
informação”. Nesta jornada, afirma Fonseca (2005), Shera e Cleveland apontam
o encontro de Paul Otlet e La Fontaine em Bruxelas, em 1892, como o primeiro
marco a ser considerado, pois naquele momento foram lançadas as bases para a
criação do Instituto Internacional de Bibliografia, com o intuito de estabelecer a
compilação internacional da informação bibliográfica registrada.

Fonseca (2005, p. 19) destaca que a sistematização dos usos fundamentais


do conceito de ciência da informação por Machlup e Mansfield (1983) são as
seguintes:

a) estudo sistemático da informação, podendo influir a combinação


de diversas disciplinas acadêmicas; b) estudo de fenômenos de
interesse para os que lidam com computadores como processadores
da informação, observando quando se expressa em termos de ciência
da informação e computação; c) estudo visando a aplicação de novas
tarefas e novas tecnologias às práticas tradicionais de biblioteconomia,
observando quando se expressa em termos de ciência da informação
e biblioteconomia; d) nova área de estudos desenvolvida a partir da
interseção das outras três áreas mencionadas e interessada sobretudo
em facilitar a comunicação da informação científica e tecnológica e a
aplicação de métodos de pesquisa para o estudo de sistemas e serviços
de informação.

De acordo com Fonseca (2005, p. 19), uma das mais antigas definições de
ciência da informação teve origem na conferência realizada no Georgia Institute of
Technology (1961-1962), ganhando aceitação básica, tendo em vista que a maioria
das outras definições, constituíam-se em variações.

8
TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

Ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informa-


ção, as forças que governam o fluxo de informação e os meios de pro-
cessar a informação para ótima acessibilidade e uso. O processo inclui
a origem, a disseminação, a coleta, a organização, o armazenamento,
a recuperação, a interpretação e o uso da informação. O campo está
relacionado com a matemática, lógica, linguística, psicologia, tecnolo-
gia da computação, pesquisa operacional, artes gráficas, comunicação,
biblioteconomia, administração e algumas outras áreas (FONSECA,
2005, p. 19).

De acordo com Longley et al. (2013), o termo ciência da informação


geográfica foi cunhado em um artigo publicado em 1992, por Michael Goodhil, em
que o autor argumenta que essas e outras questões semelhantes são importantes e
seu estudo sistemático constitui uma ciência própria. De acordo com os autores,
esta ciência estuda os temas fundamentais oriundos da criação, manuseio,
armazenamento e uso da informação. De modo similar, pontuam Longley et al.
(2013), a ciência da informação geográfica deveria estudar os temas fundamentais
resultantes da informação geográfica com uma classe definida da informação
geral. Importante ressaltar que, de acordo com os referidos autores, diferentes
termos têm o mesmo significado, como geomática e geoinformática, ciência da
informação espacial e engenharia da geoinformação, sugerindo uma abordagem
científica para os temas fundamentais decorrentes do uso de SIG e tecnologias
associadas.

“A ciência da informação geográfica é a base científica utilizada no


desenvolvimento e sustentabilidade das tecnologias dos Sistemas de Informações
Geográficas” (FERREIRA, 2006, p. 9). De acordo com Ferreira (2006), a ciência
da informação considera as questões fundamentais suscitadas pelo uso de
sistemas e tecnologias, e ela é necessária para manter a tecnologia no limiar
do conhecimento. Outro ponto levantado pelo autor é de que, devido a sua
amplitude de conhecimentos, esta ciência tem caráter multidisciplinar, integrando
disciplinas de aquisição e tratamento de dados espaciais como cartografia,
geodésia, sensoriamento remoto, fotogrametria, entre outras disciplinas.

Segundo Ferreira (2006), as questões científicas tratadas pela ciência da


informação geográfica são muitas. As mais importantes podem ser apresentadas
da seguinte forma: as questões da representação do mundo real, que envolvem
“a complexidade infinita da superfície da Terra, ou seja, como capturá-la e
representá-la em um sistema digital? Como e onde coletar amostras? Quais as
opções de estruturas e formatos de armazenamento de dados se devem utilizar?”
(FERREIRA, 2006, p. 10).

Quanto aos critérios podem ser usados para selecionar uma representação,
Ferreira (2006) destaca a acurácia da representação; a acurácia de predições,
e decisões baseadas em representação; a minimização do volume de dados; a
maximização da velocidade de processamento; a compatibilidade com outros
projetos, usuários e programas computacionais; e a existência de compatibilidade
com a percepção que as pessoas têm do mundo.

9
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

No que se refere à avaliação de uma representação, segundo Ferreira


(2006), os questionamentos a serem feitos devem ser os seguintes: como medir
sua acurácia? Como medir o que está faltando, sua incerteza? Como expressar a
representação de forma significativa para o usuário?

Quanto às questões sobre modelos e estruturas de dados, de acordo com


Ferreira (2006), a pesquisa deve se apoiar em como armazenar uma representação
eficientemente, como recuperar informações rapidamente através de indexação
apropriada, e como adquirir interoperabilidade entre sistemas.

No que se refere à exibição de dados, informações geográficas e questões


sobre ferramentas de análises, Ferreira (2006) ressalta que se destacam os seguintes
questionamentos: como os métodos de exibição afetam a interpretação de dados
e informações geográficas; como a ciência da cartografia pode ser estendida para
obter vantagens das possibilidades do ambiente digital; quais propriedades
básicas da exibição determinam seu sucesso. Ainda de acordo com Ferreira
(2006), no primeiro e no segundo casos, os questionamentos envolvem a natureza
da intuição espacial humana e como ela pode ser melhorada pelas ferramentas de
SIG, os métodos de análises necessárias para apoiar tipos específicos de tomadas
de decisões utilizando SIG e como os métodos de análises podem ser apresentados
tal que os usuários possam escolher eficientemente entre eles.

De acordo com Ferreira (2006), devido à quantidade de aplicações dos


SIGs, existe uma grande quantidade de disciplinas relacionadas com a Ciência
da Informação Geográfica, entre elas, “destacam-se as disciplinas tradicionais,
relacionadas com a aquisição e tratamento dos dados espaciais, tais como
Cartografia, Sensoriamento Remoto, Geodésia, Topografia, Fotogrametria e
Processamento de Imagens Digitais” (FERREIRA, 2006, p. 11). Além dessas
disciplinas, destaca o autor, faz-se importante considerar a Ciência da
Computação, especialmente as suas subáreas, como banco de dados, geometria
computacional, processamento de sinais e reconhecimento de padrões. Como em
todas as ciências, destaca o autor, um requisito essencial da ciência da informação
geográfica é o método para a descoberta de novos conhecimentos.

DICAS

Para conhecer a ciência da informação e suas origens históricas, as principais


tentativas de conceituação desta ciência e suas relações interdisciplinares, recomendamos
a leitura da obra de FONSECA, M. O. K. Arquivologia e ciência da informação. Rio de Janeiro:
FGV, 2005.

10
TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

4 BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO DOS SIGS


Segundo Garcia (2014), os mapas são as mais antigas formas conhecidas
para analisar e manipular informações que estão no espaço, em um determinado
período. Nesses documentos, as informações apresentadas, de modo geral,
“encontram-se georreferenciadas por um sistema de coordenadas, em que cada
ponto pode ser localizado a partir de sua referência de latitude, longitude e
elevação em relação ao nível do mar” (GARCIA, 2014, p. 56).

A Figura 3 apresenta um mapa geológico na escala de 1:63.360 da cidade


de Abingdon, sendo o primeiro exemplo conhecido de um mapa elaborado por
meios automáticos, publicado em uma série de mapas para o estabelecimento de
padrões cartográficos (LONGLEY et al. 2013).

FIGURA 3 – MAPA GEOLÓGICO NA ESCALA DE 1:63.360 DA CIDADE DE ABINGDON

FONTE: Longley et al (2013, p. 18)

De acordo com Garcia (2014, p. 56),

Os primeiros SIGs desenvolvidos pelas sociedades surgiram


como tentativa de baratear e automatizar o processo de análise de
informações, visando à precisão das análises. Os avanços tecnológicos
ocorridos na década de 1940, especialmente o aparecimento dos
primeiros computadores eletrônicos, contribuíram para modificar os
padrões clássicos da cartografia (ASSAD, SANO, 1998). Os processos
matemáticos que eram realizados por esses computadores abriram
ovas perspectivas à pesquisa e à manipulação de grandes quantidades
de dados, especialmente os espaciais.

De acordo com Miranda (2015), o desenvolvimento do SIG não seguiu


uma lógica definida. Para o autor, isso é comum em toda pesquisa científica.
Miranda (2015) pontua que houve falhas, reveses, diversões e sucessos, mas

11
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

que apenas esses foram relatados. Segundo o autor, as falhas seriam de grande
utilidade, mas, na comunidade científica isso não é comum, pois, um relato de
falha certamente poderia condenar o pesquisador ao descrédito.

Para Miranda (2015, p. 21)

Ao informar que a tecnologia de SIG é relativamente nova, precisamos


informar que as principais formações dos envolvidos eram em
cartografia, geografia, sensoriamento remoto, engenharia, matemática
e estatística. A relativamente recente ciência da computação foi também
um dos pilares do desenvolvimento do SIG. E quanto aos objetivos que
nortearam o SIG? Quais demandas foram as principais responsáveis
pelo surgimento desta tecnologia? Sem dúvida, o emergente interesse
no manejo dos recursos naturais, planejamento urbano e regional, o
cadastro e taxação de propriedades, a gerência dos serviços públicos
(telefonia, eletricidade, gás etc.), táticas militares e outros mais.

Conheceremos, então, como se deu a evolução dos sistemas de informa-


ções geográficas a partir da década de 1940.

Segundo Bolfe (2011), foi nesta década que surgiram as primeiras


tentativas de fundamentação teórica dos SIGs. De acordo com o autor, este
período também foi marcado pelo início da era da computação moderna, com
computadores da “primeira geração”. Antes disso, afirma o autor, os sistemas
de informação nas organizações baseavam-se essencialmente em técnicas de
arquivamento e recuperação de informações de grandes arquivos.

Quanto às mudanças radicais que estes sistemas sofreram nesta década,


Bolfe (2011) faz referência a dois fatos destacados por Bertalanffy (1973) e Vicente
e Perez Filho (2003): o surgimento de novas disciplinas científicas de cunho
multidisciplinar, que tratam da interação e análise de grande volume de dados,
como a Engenharia de Sistemas e a Ciência da Informação; os processos por uma
nova forma de gestão do território, no período entre as grandes guerras, que
exigia novos métodos de aquisição e análise de dados de cunho espacial, razão
histórica para o surgimento dos SIGs. Foi o processo de cálculos matemáticos, via
computadores, que abriu possibilidades de pesquisa na manipulação de grandes
volumes de dados, sobretudo de dados espaciais, iniciando-se um novo momento
nas Geociências (BOLFE, 2011).

A década de 1950 foi marcada pelo desenvolvimento nas formas de


representação da superfície terrestre, sobretudo no período pós Segunda
Guerra Mundial, “ocorrido em função da evolução dos estudos geodésicos,
topográficos, aerofotogramétricos e matemáticos e das aplicações transversais e
sistêmicas na realização de análises espaciais” (BOLFE, 2011, p. 7), permitindo,
segundo o autor, a representação dos fenômenos ocorrentes na superfície
terrestre de forma e precisão únicas para a época. Posteriormente, pontua Bolfe
(2011), iniciaram-se os trabalhos relacionados com a representação temática em
bases cartográficas e tentativas iniciais de representação de dados geofísicos,
geológicos e meteorológicos. De acordo com Longley et al. (2013), o primeiro

12
TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

satélite militar da década de 1950 foi desenvolvido e mantido em segredo para


ganhar em inteligência, mas a liberação desses produtos ofereceu algumas visões
sobre o papel dos militares e da comunidade de inteligência no desenvolvimento
dos SIGs. De acordo com Longley et al. (2013), os militares foram responsáveis
pelo desenvolvimento, na década de 1950, do primeiro sistema uniforme do
mundo para calcular localização, por conta da necessidade de alvos balísticos
dos mísseis intercontinentais e as necessidades militares foram responsáveis pelo
desenvolvimento inicial do Sistema de Posicionamento Global, em inglês Global
Positioning System (GPS).

De acordo com Aronoff (1995 apud GARCIA, 2014), as primeiras tentativas


de automatizar o processamento de dados georreferenciados aconteceram
na década de 1950, nos EUA e Grã-Bretanha. Entretanto, os primeiros SIGs,
propriamente ditos, foram desenvolvidos na década de 1960. Em 1962, o Canadá
construiu um sistema automatizado para inventariar os recursos naturais
presentes em seu território, o Canadian Geographic Information System (CGIS)
(ARONOFF, 1995 apud GARCIA, 2014).

Segundo Bolfe (2011), foi na década de 1950 que ocorreram as primeiras


tentativas de automatizar o processamento de dados com características
espaciais, década marcada pelo acirramento da corrida espacial, que culminou,
em 14 de agosto de 1959, na obtenção da primeira imagem da Terra vista do
espaço, produzida a bordo do satélite americano Explorer VI, estabelecendo os
paradigmas da análise espacial para a década seguinte.

Segundo Bolfe (2011), no início dos anos 1960, com a evolução dos sistemas
computacionais, vários grupos acadêmicos se formaram com a finalidade de
desenvolver programas automatizados dentro do conceito de sistemas de
informação, destacando-se o conceito de Matriz Geográfica proposto por Berry
(1964), no âmbito da análise espacial. De acordo com Bolfe (2011), esse arcabouço
teórico-metodológico levou aos conceitos de sítio e situação, que possuem
significados importantes para a análise espacial e as operações de modelagem de
mapas realizadas nos atuais SIGs.

Segundo Bolfe (2011, p. 9)

No Canadá, formou-se uma parceria entre Roger Tomlinson e a IBM,


que aprovaram, junto ao Departamento de Agricultura do Governo
Canadense, o projeto denominado CARDA (Canadian Agricultural
Rehabilitation and Development Administration), cuja direção coube
a Tomlinson. Desse projeto, que visava subsidiar o planejamento
territorial rural do Canadá e minimizar impactos ambientais, surgiu,
em 1964, o sistema CGIS (Canadian Geographical Information System). O
CGIS foi considerado historicamente o primeiro SIG desenvolvido. A
partir de 1967, os Estados Unidos desenvolveram o projeto MIDAS,
do Serviço Florestal Americano, considerado o primeiro sistema
completo para administração de recursos naturais, e o projeto DIME
(Dual Independent Map Economic), do U.S. Bureau of the Census, que
criou o programa denominado “Geographic Base File”, desenvolvido
para construir representações digitais de ruas e zonas censitárias.

13
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Na década de 1970, a produção de novos recursos de hardware possibi-


litou o desenvolvimento de sistemas de informação comerciais (BOLFE, 2011).
De acordo com Bolfe (2011), ainda, foi dessa forma que a expressão Geographic
Information System ou sistemas de informações geográficas foi difundida. Nessa
época, “apareceram os primeiros sistemas comerciais do tipo CAD, que melhora-
ram significativamente as condições para a produção de desenhos e plantas para
engenharia e tornaram-se os precursores dos primeiros softwares de cartografia
automatizada” (BOLFE, 2011, p. 9). Comercialmente, afirma o autor, foi nesse
período que surgiram empresas de aplicativos baseados em SIG, como a Gimms,
Esri, Intergraph, Synercon, Comarc e Computer Vision, entre outras.

A partir da década de 1980, a tecnologia de SIG passou a crescer de forma


acelerada, iniciando-se um período no qual as empresas privadas e a comunidade
científica começaram a investir e a pesquisar com maior intensidade essa
tecnologia, destacando-se os estudos de Dana Tomlin para os primeiros sistemas
em SIG raster (Map Analysis Package) e de Jack Dangermond, que deu início ao
desenvolvimento de um SIG – vetor, que posteriormente se tornou o programa
ArcInfo. Este foi o período em que, no Brasil, surgiram grupos de pesquisa e
desenvolvimento em SIG, como o do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), com destaque para o desenvolvimento do Sistema de Tratamento
de Imagem (SITIM) e do Sistema Geográfico de Informações (SGI) pelo INPE
(BOLFE, 2011). Bolfe (2011) sintetiza este período como a década caracterizada
pela grande evolução comercial dos SIGs.

Segundo Garcia (2014), foi na década de 1980 que se observou a


incorporação dos SIGs nos diferentes segmentos das sociedades, período
caracterizado pelo barateamento das estações de trabalho e dos computadores
pessoais, possibilitando a ampliação do uso dos SIGs para além das grandes
corporações. Foi nesta década que, de acordo com Longley et al. (2013), os SIGs
começaram a decolar em função da queda do preço dos computadores e entre
os primeiros clientes estavam as companhias florestais e agências de recursos
naturais. De acordo com os referidos autores, o mercado de softwares de SIG
continuou a crescer, o preço dos computadores continuou a cair. Desde então, a
potência e a indústria de software de SIG vem crescendo (LONGLEY et al., 2013).

De acordo com Miranda (2015, p. 20)

Na década de 80, houve um crescente interesse na manipulação da


informação geográfica por computador. A informação geográfica se
relaciona a locais específicos, possuindo um sistema de referência
ou localização especial através de um sistema de coordenadas. Este
processo resultou no desenvolvimento e evolução de sistemas que
ficaram conhecidos como SIG. Enfatiza-se que o uso das informações
na forma digital (legível por computador) não representa fato novo,
mas o uso de um termo no dia a dia desenvolveu-se naquela década. O
SIG não evoluiu de forma isolada, mas do esforço conjunto de outras
tecnologias e áreas de aplicação.

14
TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

Segundo Bolfe (2011) foi na década de 1990 que o uso dos SIGs se
consolidou definitivamente como instrumento de apoio à tomada de decisão,
saindo do meio acadêmico e científico e sendo incorporado pelo setor
comercial, não apenas em aplicações corporativas. De acordo com Ferreira
(2006), esta década foi marcada pela integração entre usuários e SIGs, através
da simplificação dos aplicativos disponíveis. Para o autor, essa década foi
marcada pelo fato de o usuário da tecnologia SIG não necessitar mais ser um
especialista em geotecnologias. Mas, foi no fim dos anos 1990, afirma Ferreira
(2006), que a utilização da web foi consolidada, e grandes corporações passaram
a adotar esse instrumento de forma expressiva, sobretudo para a comunicação e
disseminação de dados e informações.

Neste período, para atender às demandas do mercado, os desenvolvedo-


res de SIGs remodelaram os aplicativos e estes passaram a fazer uso também da
web, popularizando-se (BOLFE, 2011). Segundo o autor, no Brasil, o INPE inovou
e disponibilizou gratuitamente o Sistema para Processamento de Informações
Georreferenciadas (SPRING). Segundo o autor, neste período ganha destaque a
aproximação entre as grandes empresas de SIG e as tradicionais empresas de Tec-
nologia da Informação (TI), como a Oracle, Microsoft, Google, o que influenciaria
nas aplicações dos SIGs posteriormente.

De acordo com Bolfe (2011), entre 2000 e 2009, observou-se uma elevada
massificação do uso de SIG, com aplicações em distintos setores da sociedade e o
surgimento do Google Maps e o Google Earth, que propiciaram uma verdadeira
revolução no perfil dos usuários de informações geográficas.

Outro aspecto destacado neste período é que

as inovações tecnológicas permitiram a concepção de sistemas


amadurecidos conceitualmente, recriando o SIG fundamentado em
conceitos de sistemas especialistas (expert-systems), da lógica nebulosa
(fuzzy logic), das redes neurais e das noções de tempo e espaço relativos
(BOLFE, 2011, p. 12).

De acordo com Bolfe (2011, p. 12-13):

Inúmeros conglomerados empresariais utilizam-se dos SIGs como


um fator diferencial em seus produtos. Empresas desenvolvedoras de
aparelhos de telefonia celular, por exemplo, incluem como serviços,
telefones equipados com mapas e GPS. Montadoras automobilísticas
investem no desenvolvimento do mobile cartography. Chegou ao
mercado bibliotecas geográficas digitais (BGD), produto da evolução
dos sistemas de informação, caracterizadas pelo gerenciamento de
grandes bases de dados geográficos, com acesso por redes locais e
remotas com interface via Web. Por outro lado, é crescente a necessidade
de uma linguagem que unifique e padronize a sistemática de dados,
capaz de reunir informações geradas por diferentes fontes. Assim,
estão surgindo iniciativas para o desenvolvimento de padronizações
em SIG, sendo o Consórcio OpenGIS (OGC, 2010) um dos principais
grupos com essa preocupação.

15
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Atualmente, o grande desafio do uso de SIG é a geração de dados e


informações geográficas de forma rápida, eficiente e de precisão, possibilitando
conhecer a distribuição geográfica das atividades antropogênicas e suas relações
com o meio em que acontecem (BOLFE, 2011). Para Garcia (2014), atualmente,
as interfaces estão baseadas em menus, que são mais fáceis de operar, tendo
em vista que o ambiente já está pronto e o usuário não precisa aprender uma
linguagem complexa. Inclusive, o referido autor pontua que esta é uma tendência
de mercado e as empresas procuram adaptar-se a ela com o objetivo de conquistar
novos usuários.

De acordo com Bolfe (2011, p. 13):

O grande número de sistemas sensores atualmente disponíveis


permitem gerar análises espectrais, espaciais e temporais em diferentes
abrangências geográficas e de forma detalhada e diferenciada. Estas
condições valorizam as informações em escala local e permitem gerar
análises espaciais em escala regional, gerando produtos e serviços
geográficos multiescalares. Exemplificam-se estas potencialidades dos
SIGs, através do processamento digital de imagens hiperespectrais e a
classificação orientada a objetos de imagens de alta resolução espacial.

Um exemplo de aplicação destes sistemas na atualidade é o gerenciamento


de passageiros por empresas aéreas, para a realização de reservas, venda de
passagens e check-in de passageiros (FERREIRA, 2006).

Acompanhe, no Quadro 1, os diferentes estágios, períodos e características


da evolução dos SIGs, sintetizados por Câmara e Medeiros (2003).

QUADRO 1 – DIFERENTES ESTÁGIOS, PERÍODOS E CARACTERÍSTICAS DA EVOLUÇÃO DOS


SIGS

Período Estágio Características

• Período pioneiro dos SIGs, quando o


Década: 1950-1959 Primeira Fase
destaque eram os esforços individuais.

• Período de regularização das experiên-


cias e práticas.
Década: 1960-1969 Segunda Fase
• Órgãos comprometidos com o desen-
volvimento dos SIGs.

• Competitividade do setor comercial;


Década: 1970-1979 Terceira Fase Dinamização do desenvolvimento dos
SIGs.

• Desenvolvimento dos SIGs para


ambientes VAX e PC/DOS.
Primeira Geração
• Geração caracterizada por SIGs
baseados em CAD cartográfico.

16
TÓPICO 1 — CONCEITOS E HISTÓRIA DOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS

• Sistemas herdeiros da tradição de


Cartografia.
• Limitação do banco de dados.
• Paradigma típico de trabalho era o
Primeira Geração mapa (plano de informação).
• Pouca preocupação de gerar arquivos
digitais de dados.
• Sistemas orientados por projeto
(project-oriented GIS).

• Período no qual existiu certo domínio


dos usuários.
• Acentuou-se a competição entre
fornecedores de SIG.
Década: 1980-1989 Quarta Fase
• Padronização e sofisticação dos
sistemas.
• Usuários com elevado conhecimento
das potencialidades.

• Geração de SIG (banco de dados


geográficos) para o mercado.
• Aplicações e usos em ambientes cliente-
servidor.
• Acoplamento aos gerenciadores de
banco de dados relacionais.
Segunda Geração • Inclusão de pacotes de processamento
digital de imagens.
• Desenvolvimento para ambientes mul-
tiplataforma (Unix, OS/2, Windows)
com interfaces baseadas em janelas.
• Sistemas para suporte a instituições
(enterprise-oriented GIS).

• Desenvolvimento a partir de bibliotecas


geográficas digitais.
• Gerenciamento de grandes bases de
dados geográficos.
• Acesso via redes locais e remotas, com
interface via www.
• Aprimoramento dos bancos de dados
Década: Pós 2000 Terceira Geração
espaciais.
• Características de interoperabilidade,
de maneira a permitir o acesso a infor-
mações espaciais por SIGs distintos.
• Sistemas orientados para a troca de
informações entre uma instituição e a
sociedade (society-oriented GIS).

FONTE: Bolfe et al. (2011, p. 14)

17
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Conhecemos os conceitos e história dos Sistemas de Informações


Geográficas. Mas, antes de iniciarmos o estudo sobre o desenvolvimento e
operacionalidade de um SIG, incluindo a estrutura geral e funcionalidade de um
SIG no próximo tópico, recomendamos que faça a leitura da síntese dos conteúdos
abordados e as autoatividades que vêm a seguir.

18
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Informação Geográfica é a informação sobre locais na superfície terrestre; é o


conhecimento sobre ‘onde’ alguma coisa está; o conhecimento sobre ‘o que’
está em uma determinada localização.

• O SIG evoluiu ao longo do tempo, mas foi no final da década de 1980 que se
ampliaram os aplicativos com o aparecimento de softwares específicos para
aplicações em diversas áreas do conhecimento.

• Jesse Shera e Donald Cleveland (1977) traçaram uma minuciosa cronologia


das principais questões que marcaram a ciência da informação na América do
Norte e na Europa.

• Foi na década de 1940 que surgiram as primeiras tentativas de fundamen-


tação teórica dos SIGs, período marcado pelo início da era da computação
moderna, com computadores da “primeira geração”.

• Entre 2000 e 2009, observou-se uma elevada massificação do uso de SIG, com
aplicações em distintos setores da sociedade e o surgimento do Google Maps e
o Google Earth.

• Na atualidade, o grande desafio do uso de SIG é a geração de dados e


informações geográficas de forma rápida, eficiente e precisa, possibilitando
conhecer a distribuição geográfica das atividades antropogênicas e suas
relações com o meio.

19
AUTOATIVIDADE

1 A década de 1980 foi marcada pelo crescimento acelerado da tecnologia de


sistemas de informação geográfica (SIG), que perdura até os tempos atuais.
Sobre os avanços e ferramentas dos SIGs, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) As contribuições da geografia foram irrelevantes para o avanço dos


SIGs.
b) ( ) Houve pouca evolução no conceito de SIG ao longo dos anos.
c) ( ) As ferramentas dos SIGs estão direcionadas às análises de dados
temporais.
d) ( ) O avanço dos SIGs está diretamente relacionado com a evolução da
informática.

2 Existem diferentes conceitos para os sistemas de informações geográficas,


mas, segundo Garcia (2014), este sistema é basicamente constituído por al-
guns elementos que incluem uma interface, entrada e integração de dados,
funções de processamento, visualização e plotagem, armazenamento e recu-
peração. Sobre os diferentes conceitos de SIG, analise as afirmativas a seguir.

I- Um dos conceitos de SIG é de um sistema automatizado de coleta,


armazenamento, manipulação e saída de dados cartográficos.
II- Há definições que destacam a importância dos bancos de dados por ser
essencial para o gerenciamento dos dados que integram os SIGs.
III- Há definições que incluem o conjunto organizado de hardware, software,
dados geográficos e pessoal capacitados para especializar as informações
referenciadas.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 Na década de 1950, na Inglaterra e nos Estados Unidos, aconteceram as


primeiras tentativas de automatizar parte do processamento de dados com
características espaciais, objetivando a redução dos custos de produção e
manutenção de mapas. Sobre o surgimento e evolução dos SIGs, marque V
para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.

20
( ) As primeiras tentativas de fundamentação teórica dos SIGs foram
observadas somente na década de 1990.
( ) Na década de 1950, ocorreram as representações dos fenômenos
ocorrentes na superfície terrestre de forma precisa e única para a época.
( ) Na década de 1940 foi criado o Canadian Geographical Information
System (CGIS), considerado historicamente o primeiro SIG desenvolvido.
( ) No Brasil, muitos grupos de pesquisa e desenvolvimento em SIG, como
o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), surgiram nos anos
de 1980.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) F – V – F – V.
d) ( ) V – F – F – V.

4 Miranda (2015) afirma que o desenvolvimento do SIG não seguiu uma


lógica definida, o que, segundo o autor, é comum em toda pesquisa
científica. Disserte sobre a origem dos SIGs. Entre falhas, reveses e sucessos
no desenvolvimento dos SIGs, descreva, de acordo com a visão do autor,
porque somente os sucessos foram reportados neste processo.
MIRANDA, J. I. 2015. Fundamentos de sistemas de informações geográficas. 4. ed. Brasília,
DF: Embrapa, 2015.

5 Sabe-se que é possível realizar diferentes diagnósticos e análises em


diferentes áreas da ciência utilizando os SIGs. No entanto, também existem
desafios para o uso e aplicações destas ferramentas. Nesse sentido, disserte
sobre os desafios e vantagens do uso de SIG na atualidade.

21
22
TÓPICO 2 —
UNIDADE 1

DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE
DE UM SIG

1 INTRODUÇÃO

O uso de um SIG compreende, basicamente, três etapas: coleta de


dados; criação do banco de dados geográficos; e operacionalização do sistema
(GARCIA, 2014).

Veremos quais são os componentes de um SIG, porém, antes disso, conhe-


ceremos quais são os elementos da realidade modelados em um banco de dados
geográfico, conhecimento indispensável para a operacionalização dos SIGs.

Segundo Filho e Iochpe (1996), os elementos da realidade modelados em


um banco de dados geográfico, têm duas identidades: o elemento da realidade,
conhecido como entidade e o elemento representado no banco de dados,
designado objeto. Existe, ainda, uma terceira identidade usada em aplicações
cartográficas que é o símbolo, empregado para representar entidades/objetos
como uma feição no mapa (FILHO, IOCHPE, 1996).

De acordo com Filho e Iochpe (1996):

• Entidade é qualquer fenômeno geográfico da natureza, ou fenômeno oriundo


da ação direta humna, que é de interesse para o domínio específico da aplicação.
• Objeto é a represesntação digital de uma entidade ou de parte dela. A
representação digital pode variar conforme a escala utilizada, como um
aeroporto, por exemplo, que pode ser representado por um ponto ou uma área,
dependendo da escala em uso.
• O tipo de entidade refere-se à descrição de um agrupamento de entidades
semelhantes, que podem ser representadas por objetos armazenados
uniformemente, como o conjunto de estradas de uma região, por exemplo. O
tipo de entidade fornece uma estrutura conceitual para descrever os fenômenos.
• O tipo de objeto espacial, por sua vez, se refere a cada tipo de entidade de um
Banco de Dados Espacial, representado de acordo com umm tipo de objeto
espacial apropriado.

De acordo com Câmara (2005, p. 10):

23
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Para representar dados geográficos no computador, temos de descre-


ver sua variação no espaço e no tempo. Em outras palavras, precisamos
poder a perguntas como: “qual é o valor deste dado aqui e agora?”.
Isto requer uma compreensão dos processos de mensuração da reali-
dade, de forma consistente com os dois primeiros princípios de Searle
(1998): “a realidade existe independentemente das representações hu-
manas” e “nós temos acesso ao mundo através de nossos sentidos e de
nossos instrumentos de medida”. O processo de medida consiste em
associar números ou símbolos a diferentes ocorrências de um mesmo
atributo, para que a relação dos números ou símbolos reflita as rela-
ções entre as ocorrências mensuradas. Por exemplo, podemos medir a
poluição numa cidade através de sensores localizados em diferentes
locais. Cada um destes sensores nos dará uma medida diferente [...].

O Quadro 2 apresenta alguns exemplos de análises espaciais. Observe os


exemplos para compreender os tipos de soluções que os SIGs proporcionam.

QUADRO 2 – EXEMPLOS DE ANÁLISES ESPACIAIS

Análise Pergunta Geral Exemplo

Condição "O que está..." "Qual a população desta cidade?"

Localização "Onde está...? "Quais as áreas com declividade acima de 20%?"

"O que
Tendência "Esta terra era produtiva há 5 anos atrás?"
mudou...?"

Roteamento "Por onde ir... ?" "Qual o melhor caminho para o metrô?"

"Qual o
Padrões "Qual a distribuição da dengue em Fortaleza?"
padrão...?"

"O que acontece "Qual o impacto no clima se desmatarmos a


Modelos
se...?" Amazônia?"

FONTE: <http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/tutorial/introducao_geo.html>. Acesso em:


15 maio 2021.

E
IMPORTANT

“Os processos de análise espacial tratam dados geográficos que possuem uma
localização geográfica (expressa como coordenadas em um mapa) e atributos descritivos
(que podem ser representados num banco de dados convencional)” (INPE, 2009, s.p.). De
acordo como INPE, dados geográficos não existem sozinhos no espaço e que, além de
localizá-los, é muito importante descobrir e representar as relações entre os diversos dados.

24
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

Agora que conhecemos os elementos da realidade modelados em um


banco de dados geográfico, vamos conhecer uma visão geral dos SIGs.

De acordo com Garcia (2014), em uma visão mais abrangente, a


representação do relacionamento dos principais componentes ou subsistemas de
um SIG e a visão do esquema de funcionamento interno dos diferentes SIGs que
apresentam diferenças conceituais expressas na maneira como cada um deles se
organiza, refletindo sua evolução como produto ao longo dos anos.

São assuntos abordados neste tópico as principais relações topológicas


entre os objetos de análise, suas características e exemplos em SIG, além das
principais funções dos SIGs: reclassificação, cruzamento de camadas e operações
algébricas.

Contudo, antes de entrarmos neste assunto, conheceremos o conceito


de hardware, sua composição típica e os principais equipamentos periféricos
usados em SIG para abordarmos, posteriormente, quais são as principais
funções dos SIGs.

DICAS

Para saber como se examina os problemas básicos de representação


computacional de dados geográficos e esclarecer questões como: de que maneira
representar os dados geográficos no computador; como as estruturas de dados
geométricas e alfanuméricas se relacionam com os dados do mundo real e que alternativas
de representação computacional existem para dados geográficos, consulte a obra de
CÂMARA, G. Representação computacional de dados geográficos. In: Casanova, M.;
CÂMARA, G.; DAVIS, C.; VINHAS, L.; QUEIROZ, G. R. (Orgs.). Bancos de Dados Geográficos.
Curitiba: MundoGEO, 2005. p. 11-52.

2 HARDWARES PARA INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO


DE SOFTWARE SIG
Segundo Matias (2001, p. 185), um hardware é conhecido como a parte
física de um sistema computacional. É um conjunto de equipamentos imprescin-
díveis para as tarefas de entrada, processamento e armazenamento dos dados e
saída de informações. Segundo o autor, sua composição típica se relaciona com
a existência de uma unidade central de processamento (UCP) e de equipamentos
periféricos. Quanto à unidade central de processamento, o autor afirma que con-
siste num conjunto formado por três tipos de unidades: uma de armazenamento,

25
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

uma lógica e aritmética e uma outra de controle. De acordo com Matias (2001),
embora a área de SIG tenha iniciado utilizando-se computadores de grande por-
te, o uso de microcomputadores e computadores de médio porte, em grande
parte workstations, passaram a ser predominantes.

De acordo com Bolfe et al. (2011, p. 9):

No decorrer da década de 1970, a produção de novos recursos de


hardware viabilizou o desenvolvimento de sistemas de informação
comerciais. Assim, difundiu-se a expressão Geographic Information
System ou sistemas de informações geográficas. Nessa época, também
apareceram os primeiros sistemas comerciais do tipo CAD, que
melhoraram significativamente as condições para a produção de
desenhos e plantas para engenharia e tornaram-se os precursores dos
primeiros softwares de cartografia automatizada.

Os principais equipamentos periféricos usados em SIG podem ser


agrupados em três grupos segundo a sua função, conforme Matias (2001, p. 185):

• Entrada de dados: permite a entrada dos diversos tipos de dados,


como teclado, mouse, caneta ótica, mesa digitalizadora, scanner,
microfone.
• Armazenamento: dispositivos que possibilitam a gravação e o
armazenamento dos dados para fins de transporte ou segurança
dos dados, apresentando diferentes capacidades em termos de
armazenamento e de acesso aos dados, de acordo com a tecnologia
utilizada, como disco flexível, disco rígido, CD-ROM, fita.
• Visualização e Saída: destinado à visualização e consulta das
informações geradas, por exemplo: monitor de vídeo, traçador
gráfico (plotter) e impressora. Variam conforme a tecnologia
utilizada e a capacidade de produzir resultados em diversos
tamanhos e com diferentes resoluções.

Bolfe et al. (2011, p. 12) reforçam que as inovações tecnológicas, incluindo


os hardwares e softwares, “permitem a concepção de sistemas amadurecidos
conceitualmente, recriando o SIG fundamentado em conceitos de sistemas
especialistas (expert-systems), da lógica nebulosa (fuzzy logic), das redes neurais e
das noções de tempo e espaço relativos”. Assim, afirma-se que partir da década
de 1980 houve um acelerado crescimento a tecnologia de SIG e que, aliado a esse
crescimento, houve uma expressiva evolução dos equipamentos de hardware e
periféricos, que permitiram uma manipulação de dados geográficos de forma
mais efetiva (BOLFE et al., 2011). Por fim, Bolfe et al. (2011) pontuam que, no
universo de implementação, decisões concretas de programação podem admitir
número muito grande de variações e que estas decisões podem levar em conta
as aplicações às quais o sistema é voltado, incluindo o desempenho do hardware.

26
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

3 ESTRUTURA GERAL DE SIG


De acordo com Davis e Câmara (2001), em uma visão abrangente, pode-
se dizer que um SIG contém os seguintes componentes: interface com usuário;
entrada e integração de dados; funções de consulta e análise espacial; visualização
e plotagem; armazenamento e recuperação de dados (organizados sob a forma de
um banco de dados geográficos), que se relacionam de forma hierárquica.

Segundo Davis e Câmara (2001, p. 2), “no nível mais próximo ao usuário,
a interface homem-máquina define como o sistema é operado e controlado.
No nível intermediário, um SIG deve ter mecanismos de processamento de
dados espaciais (entrada, edição, análise, visualização e saída)”. No nível mais
interno, um sistema de gerenciamento de bancos de dados geográficos oferece
armazenamento e recuperação dos dados espaciais e seus atributos (DAVIS,
CÂMARA, 2001).

A Figura 4 mostra o relacionamento dos principais componentes ou


subsistemas de um SIG. “Cada sistema, em função de seus objetivos e necessi-
dades, implementa estes componentes de forma distinta, mas todos os subsis-
temas citados devem estar presentes num SIG” (DAVIS, CÂMARA, 2001, p. 3).

FIGURA 4 – ESTRUTURA GERAL DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

FONTE: Davis e Câmara (2001, p. 3)

De acordo com Davis e Câmara (2001, p. 4):

27
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Os GIS de mercado funcionam segundo uma variedade de arquitetu-


ras internas. Uma análise das diferentes arquiteturas de GIS pode in-
dicar a existência de pontos fortes ou fracos em cada sistema, que têm
influência decisiva em aspectos como o desempenho, a capacidade de
gerenciamento de grandes bases de dados, a capacidade de utilização
simultânea por múltiplos usuários e a capacidade de integração com
outros sistemas.

Antes de conhecer a visão geral do esquema de funcionamento interno


dos SIGs, vamos compreender como os Sistemas de Gerenciamento de Banco de
Dados (SGBD) controlam o acesso ao banco de dados geográficos.

De acordo com Câmara (2005), o banco de dados geográfico pode


ser acessado por multiusuário, através de diferentes ambientes SIGs, e são os
Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados que controlam este acesso. O
autor destaca que em uma mesma instituição podem existir diferentes bancos de
dados geográficos, armazenados em diferentes servidores de dados, conforme
mostra a Figura 5.

FIGURA 5 – FORMAS DE ACESSO AO BANCO DE DADOS GEOGRÁFICOS

FONTE: Câmara (2005, p. 37)

28
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

Entre os principais SGBDs comerciais e livres estão: Oracle Spatial;


MySQL Spatial Extension; Microsoft SQL Server Spatial - MSSQLSpatial; PostGIS
– extensão espacial do PostgreSQL; e SpatiaLite – extensão espacial do SQLite
(CÂMARA, 2005).

Agora que vimos qual a função de um SGBD, conheceremos a visão do


esquema de funcionamento interno dos diferentes SIGs.

Segundo Davis e Câmara (2001), a visão do esquema de funcionamento


interno dos diferentes SIGs apresentam diferenças conceituais expressas na
maneira como cada um deles se organiza, refletindo sua evolução como produto
ao longo dos anos.

As categorias de SIGs e as diferentes características de cada sistema são


apresentadas da seguinte forma pelos referidos autores:

• SIG Tradicional: segundo Davis e Câmara (2001), entende-se por “tradicional”


a arquitetura que trata dos primeiros SIGs, arquitetados em um período em a
integração de dados gráficos a dados alfanuméricos em um único ambiente era
novidade. Uma característica deste sistema refere-se à codificação dos dados
gráficos em estruturas proprietárias, estruturas de dados implementadas
dentro do ambiente do desenvolvedor e tratadas como segredo comercial. De
acordo com Davis e Câmara (2001, p. 6), “o tratamento dos dados alfanuméricos
pode ser feito em um ambiente proprietário de gerenciamento de bancos de
dados, sendo este ambiente totalmente integrado ao produto, e não tendo vida
própria fora dele”. Exemplos: ARC/INFO (básico).

• Arquitetura Dual: esta arquitetura se assemelha à concepção do SIG


tradicional, com a diferença na adoção de um (SGBD) relacional completo
para o gerenciamento dos dados alfanuméricos. De acordo com Davis e
Câmara (2001, p. 7), “esta opção reflete principalmente uma intenção de não
‘reinventar a roda’, utilizando produtos disponíveis no mercado para realizar
parte das tarefas do SIG”. Os autores pontuam que, neste tipo de estrutura,
observa-se que o SIG e o SGBD relacional, sendo produtos diferentes, precisam
se comunicar satisfatoriamente para a realização da sua função. Essa forma
e esta comunicação são gerenciadas pelo núcleo, abrindo a possibilidade de
compartilhamento de atributos alfanuméricos dos objetos geográficos dentro
do ambiente do SGBD relacional, compartilhando os atributos alfanuméricos
dos objetos geográficos. Contudo, de acordo com Davis e Câmara (2001), o
problema desta estrutura é que, como o SGBD relacional não conhece a estrutura
gráfica proprietária, existe o risco de se introduzir inconsistências no banco
de dados geográfico. Na prática, para uma melhor compreensão deste tipo de
arquitetura, os autores destacam que um usuário de aplicação exclusivamente
alfanumérica pode excluir um registro alfanumérico que compõe um conjunto
de atributos para uma determinada entidade geográfica. Dessa forma, os
referidos autores afirmam que, sem que o SIG saiba, esta entidade geográfica
passa a não ter mais atributos, gerando inconsistências. Exemplos: Genasys.

29
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

• SIG baseado em CAD: sobre este tipo de arquitetura, Davis e Câmara (2001)
destacam que apresentam dois grandes problemas principais: a grande
facilidade em introduzir inconsistências no banco de dados geográfico, de
forma semelhante à Arquitetura Dual, pois basta algum usuário acessar os
dados gráficos, usando diretamente o software CAD para acessar os arquivos
gráficos, assim, se alguma entidade gráfica for excluída, o registro alfanumérico
correspondente ficará isolado; da mesma forma, os autores ressaltam que um
usuário com acesso ao SGBD relacional pode deletar algum registro relacionado
a um dado gráfico, gerando o efeito inverso. Exemplos: MGE/MicroStation,
AutoCAD Map, dBMapa.

• SIG relacional: nesse sistema, os dados gráficos são organizados em tabelas, de


forma semelhante aos dados alfanuméricos e um sistema de chaves relaciona
estas tabelas, formando um esquema cuja integridade é garantida pelo SGBDR.
Segundo Davis e Câmara (2001), esta tarefa é desempenhada com um alto nível
de segurança, por conta da evolução dos SGBDR que gerenciam os dados.
Contudo, ressaltam os autores, para realizar os tipos de consultas e operações
mais frequentes no ambiente SIG, há necessidade de algumas extensões, entre
elas, a linguagem de consulta, que nos SGBD relacionais é a linguagem SQL,
incluindo nesta linguagem operadores geográficos, como “contém”, “contido
em”, ou “vizinho a”. Um exemplo de sistemas relacionais mais avançados é
o Postgres, que permite a implementação de novas estruturas de indexação e
novos métodos de acesso, favorecendo a implementação de SIG relacionais.
Exemplos: Vision*GIS.

• SIG orientado a objetos: segundo Davis e Câmara (2001), esta alternativa se


assemelha ao SIG relacional, com o diferencial de armazenar dados geográficos
utilizando objetos, função esta realizada por um SGBD orientado a objetos, que
pode ser um produto genérico, de mercado ou um gerenciador proprietário.
Nesse caso, destacam os autores, toda a operação do SIG é fundamentada
em um modelo de dados orientado a objetos, contendo informações sobre
cada classe de objetos, incluindo características gráficas, alfanuméricas e
aspectos do comportamento do objeto. De acordo com os referidos autores,
há possibilidade de conexão com gerenciador de bancos de dados relacional
externo, porém, o foco deste sistema é no gerenciador de objetos, que é, de
modo geral, proprietário. Exemplos: APIC, Smallworld.

• Desktop mapping: estes sistemas são uma classe de aplicações de


geoprocessamento que focam em promover atividades de apresentação de
informações sob o formato de mapas (DAVIS, CÂMARA, 2001). Apesar disto,
ressaltam os autores, são sistemas adequados para atividades de cartografia
automatizada, por não contar geralmente com recursos muito sofisticados em
termos de edição e entrada de dados. Uma observação feita pelos autores é que
não são adequados para gerenciar um grande volume de informações, devido
à tendência de sua estrutura de arquivos a ser bastante simples, exigindo
com frequência o uso direto de arquivos gráficos ou alfanuméricos de outros
aplicativos, como AutoCAD, Excel, Access, dBASE, entre outros. A exceção a

30
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

essa regra é quando os dados são codificados no formato proprietário do sistema,


o que permite ter alguns recursos voltados à melhoria do desempenho, como
indexação espacial. Segundo Davis e Câmara (2001), o forte desta classe de
aplicações está na facilidade de integrar dados de diversas fontes e na facilidade
para produção de mapas temáticos plotados. Por se tratar de aplicações
voltadas especificamente para o usuário final, ou mesmo para facilitar alguma
análise espacial, afirmam os autores, são em geral ferramentas desenvolvidas
no ambiente Windows, contando ainda com custos relativamente baixos que
apresentam tendência de queda. Exemplos: MapInfo, Maptitud.

• SIG baseado em imagens: esta é uma das tendências de desenvolvimento de


tecnologias que admitam o tratamento simultâneo de dados matriciais (grades
e imagens), com dados vetoriais, pois na área ambiental há uma grande
necessidade de integração de dados de diferentes formatos, como imagens,
mapas temáticos e modelos de terreno (DAVIS; CÂMARA, 2001). Como este
sistema exige uma grande quantidade de armazenamento necessária para
imagens dr, os SGBDs de mercado não apresentarem suporte eficiente para este
tipo de dados e os SIGs integrados acabam sendo, na maior parte dos casos,
uma extensão do modelo de "arquitetura dual" a fim de incluir o gerenciamento
de arquivos gráficos no formato matricial. Exemplos: SPANS, IDRISI, ERDAS.

• SIG Integrado (Matrizes-Vetores): de acordo com Davis e Câmara (2001),


estes são sistemas que foram desenvolvidos para o tratamento simultâneo de
dados matriciais com dados vetoriais em função da necessidade de integração
de dados de diferentes formatos, como imagens, mapas temáticos e modelos
de terreno na área ambiental, por conta da necessidade de integração de dados
de diferentes formatos. A quantidade de armazenamento necessária para
imagens fez com que os SIGs integrados se tornassem uma extensão do modelo
de "arquitetura dual" para a inclusão de gerenciamento de arquivos gráficos no
formato matricial ("raster"). Exemplos: SPRING, ARC/VIEW (com extensões
"Spatial Analyst" e "Image Extension").

E
IMPORTANT

Para saber sobre o sistema Open GIS, outra categoria de SIG, acesse a leitura
complementar ao final desta unidade. O Open GIS Consortium (OGC) foi criado em 1994 a
partir da associação de representantes dos desenvolvedores de software, das universidades
e dos diversos níveis de governo, provenientes de diversos países, com o objetivo de buscar
uma solução para alguns problemas dos SIGs disponíveis até então. Vamos conhecer as
características deste sistema?

31
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

4 FUNCIONALIDADE DE UM SIG
De acordo com Garcia (2014), primeiramente o usuário de um SIG deve
organizar os dados coletados ou o BD. Esta é uma etapa que, segundo o autor,
deve demandar a maior parte do tempo e dos esforços (físicos, intelectuais e
financeiros) empreendidos da produção de um mapa. É a partir do momento em
que o BD está organizado que se utilizam as funções de um SIG para a elaboração
dos mapas desejados (GARCIA, 2014).

Neste sentido, destaca Garcia (2014), são realizadas operações matemáticas


que, ao serem combinadas, geram novas produções. Tais operações, muitas vezes,
são automáticas e realizadas por ferramentas encontradas em softwares, inclusive
porque a maior parte das operações utilizadas em SIG são complexas e exigem
aprofundados conhecimentos matemáticos.

Outro ponto que Garcia (2014) destaca como de grande relevância refere-
se à qualidade dos dados de que se dispõem. Segundo Garcia (2014, p. 62), “É
imprescindível que as relações topológicas (relacionamentos matemático-espaciais
entre os dados geográficos) sejam satisfeitas”, entre elas a disjunção, adjacência,
contingência, igualdade, intersecção e cruzamento, conforme podemos observar
na Figura 6.

FIGURA 6 – PRINCIPAIS RELAÇÕES TOPOLÓGICAS ENTRE OS OBJETOS

FONTE: <https://bit.ly/385GmMt>. Acesso em: 15 maio 2021.

Vamos ver quais são as características das relações topológicas e alguns


exemplos práticos do uso dessas relações em SIG no Quadro 3.

QUADRO 3 – RELAÇÕES TOPOLÓGICAS EM SIG


Relações
Características Exemplos em SIG
topológicas
Um mapa pedológico com
Relações entre elementos
manchas representativas dos
Disjunção que não possuem limites em
tipos de solos, sem cadeias que
comum.
as separem.

32
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

Um mapa de vegetação que


Há cadeias separando os
Adjacência mostre a contiguidade entre os
elementos.
tipos vegetais.

Um mapa geológico com


Relações comuns entre manchas, representando uma
Contingência
elementos. litologia que poderá aparecer
em litologias diversas.

Sobreposição entre declivida-


Singularidade de os elemen-
de e uso do solo. Poderá haver
Igualdade tos possuírem as mesmas
sobreposição de polígonos com
relações geométricas.
geometria equivalente.

Cruzamento entre um
Limites municipais e a rede de
Intersecção elemento linear e um dos
drenagem de uma localidade.
contornos de certo polígono.

Caso de intersecção no qual


Rede viária sobre um mapa
Cruzamento os elementos cruzam com-
com limites municipais.
pletamente os polígonos.

FONTE: Garcia (2014, p. 63)

Em síntese, Garcia (2014, p. 63) pontua que as principais funções dos


SIGs são: “consulta, reclassificação, cruzamento de camadas; cálculo de medidas
lineares e de área; análises de proximidade e de contiguidade (interpolação);
operações de superposição (overlay); operações algébricas não cumulativas;
operações algébricas cumulativas”. Conheceremos as principais características
destas funções conforme abordagem de Garcia (2014) e Miranda (2015).

4.1 CONSULTA
A consulta consiste no acesso às informações presentes no BD, ou seja,
para obter informações de um objeto geográfico, basta clicar sobre o mesmo e
consultar as informações disponíveis. Esta consulta permite adquirir informações
sobre a localização, como as coordenadas geográficas, por exemplo, além de
permitir ao usuário o conhecimento sobre o comprimento, perímetros e áreas
(GARCIA, 2014).

4.2 RECLASSIFICAÇÃO
Garcia (2014) pontua que a reclassificação é uma das funções mais
empregadas em SIG, o que permite ao usuário produzir novas informações
especializadas, com base nas informações contidas do BD. Uma das suas
utilidades é a reclassificação de classes de declividade e cruzamento entre mapas
de declividade e ou uso do solo, por exemplo.
33
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

4.3 ANÁLISES DE PROXIMIDADE E DE CONTIGUIDADE


(INTERPOLAÇÃO)
Segundo Garcia (2014), esta função também é conhecida como operação
de proximidade e permite a geração de subdivisões geográficas bidimensionais na
forma de faixas ou áreas que, segundo o autor, podem ser determinadas de forma
simples ou múltipla. No primeiro caso, quando uma única área é definida e, no
segundo caso, quando várias áreas são definidas. Um exemplo citado pelo autor
é um ponto no desenho que representa uma escola e o que se deseja conhecer
é a criminalidade em torno deste ponto. Neste caso, pode-se definir um círculo
entorno deste ponto para a representação da área em cujo raio se encontra o limite
da criminalidade. Podem-se desenhar, também, vários círculos que representam
os níveis de criminalidade ao redor da escola (GARCIA, 2014).

4.4 CRUZAMENTO DE CAMADAS


A função de cruzamento de camadas permite a produção de novas
camadas a partir do cruzamento entre informações de mais de uma camada. De
acordo com Garcia (2014), durante o processamento dos dados, as informações
e os atributos das camadas ou de parte de uma das camadas que fazem parte
do processo podem ser combinados. Entre estas combinações, encontram-se
operação de corte, operação de intersecção e operação de união.

4.5 CÁLCULO DE MEDIDAS LINEARES E DE ÁREA


Esta é uma função, de acordo com Garcia (2014), que permite operações
para realizar cálculos de distâncias lineares e de áreas quando se referem a objetos
geográficos que correspondem a polígonos.

4.6 ANÁLISE DE CONTIGUIDADE: INTERPOLAÇÃO


A análise de contiguidade diz respeito ao conjunto de procedimentos
matemáticos para a geração de superfícies contínuas. De acordo com Silva (1999)
apud Garcia (2014, p. 66), é utilizado para “determinar o valor de uma função
matemática num ponto interno a um intervalo, ou seja, com esses procedimentos,
espera-se poder estimar o valor da variável em estudo num ponto não amostrado”.
Contudo, Garcia (2014) destaca que esta análise somente é possível com dados
autocorrelacionais, ou seja, aqueles que permitem uma medida de semelhança
dos dados espaciais no interior de uma área.

34
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

4.7 OPERAÇÕES DE SUPERPOSIÇÃO (OVERLAY)


As operações de superexposição são funções exclusivas de SIG. Entre
elas, o autor destaca a imposição ou máscara, colagem, comparação, associação
e sincronização. A imposição consiste na seleção de uma determinada área a ser
analisada e observada em todos os pontos de informação; a colagem ocorre quan-
do as características geográficas de um mapa se impõem sobre as características
geográficas de outro mapa. Para elucidar esta função, Garcia (2014) apresenta o
exemplo da distribuição espacial dos tipos de vegetais de acordo com os tipos de
solo em que, pelo processo de colagem, quase todas as áreas de cobertura vegetal
são preservadas, mas todos os atributos mantidos. Observando a Figura 7, é pos-
sível notar que, no caso da cobertura 2, parte da área recebeu os atributos 7 e 8.

FIGURA 7 – EXEMPLO ESQUEMÁTICO DA OPERAÇÃO DE COLAGEM


MAPA DE COBERTURA VEGETAL MAPA DE SOLOS

FONTE: Garcia (2014, p. 69)

4.8 OPERAÇÕES ALGÉBRICAS NÃO CUMULATIVAS


De acordo com Garcia (2014), as operações algébricas não cumulativas,
também conhecidas como análises lógicas, incluem a simultaneidade booleana e
as operações de possibilidade fuzzy e modelos de probabilidade bayesiana.

Antes de abordarmos sobre as operações, a simultaneidade booleana e


operações de probabilidade fuzzy, apresentaremos alguns aspectos dos modelos
de probabilidade utilizados por Miranda para explicar a teoria bayesiana.

35
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

De acordo com Miranda (2015, p. 297), a teoria da probabilidade “delimita


uma área do conhecimento situada entre a da certeza e a da ignorância. Tem a ver
com algo verdadeiro ou de ocorrência possível, que poderá ser comprovado no
futuro”. Fermat e Pascal lançaram as bases da teoria da probabilidade, e muitos
outros contribuíram para que as bases da teoria da probabilidade se expandissem.
De acordo com Miranda (2015, p. 297):

Moivre, Bayes e os irmãos Bernoulli, Lapalce, em sua obra Essai sur lês
probalités, em 1814, sistematizou os resultados de seus antecessores.
Vale ressaltar que todas essas pesquisas resultaram na teoria dos erros,
teoria da amostragem e teoria do traçado de curvas e seu ajustamento
(método dos mínimos quadrados). O desenvolvimento do assunto
atingiu seu clímax com o matemático russo Kolmogorov que, em 1933,
apresentou a teoria das probabilidades de modo axiomático, entre
outros, propôs o “espaço de probabilidade, amostral” ou de “eventos”.
Aliás, essa área continua atual, com pesquisadores da ciência espacial
estudando erros em SIG com o uso de probabilidades.

No caso da simultaneidade boolena, Garcia (2014) destaca que são


operações representadas através de símbolos ligados por relações entre si e
concebidos por sinais matemáticos. De acordo com o autor, esta lógica é bastante
utilizada em SIG, pois possibilita a análise rápida de áreas com simultaneidade.
Um exemplo apresentado pelo autor envolve o relacionamento entre um mapa
de cobertura vegetal e de solos em que se pode propor a exclusão de certas áreas
de cobertura vegetal, independentemente do tipo de solo.

De acordo com Garcia (2014), as operações de possibilidade fuzzy incluem


os procedimentos de lógica matemática voltadas aos cálculos de incerteza ou de
aproximação, auxiliando, por exemplo, em estudo de áreas ou informações em
que há incertezas ou dúvidas. Dessa forma, afirma o autor, além de conjuntos
bem definidos, pode existir conjuntos ambíguos. Segundo Miranda (2015, p. 284),
o conceito de lógico difusa ou lógica fuzzy “se originou no fato de que certos
fenômenos não têm fronteiras claramente definidas”.

Miranda (2015, p. 286) destaca que “A teoria dos conjuntos difusos foi
desenvolvida para tratar dos problemas do processamento de informações da
linguagem natural, na qual existem conceitos centrais bem definidos”, porém,
Miranda (2015) ressalta que esta fronteira é vaga. Na álgebra de Boole, um membro
pode assumir dois estados: falso (0) ou verdadeiro (1), enquanto, na lógica difusa,
existem diversos membros entre a negação absoluta (0) e a verdade absoluta (1).
Dessa forma, eliminadas as situações intermediárias entre os extemos, a lógica de
Boole torna-se um caso específico da lógica difusa (MIRANDA, 2015).

Donha, Souza e Sugamosto (2006), para determinar a fragilidade ambien-


tal de uma área no município de Pinhais, região metropolitana de Curitiba, ta-
bularam e cruzaram os mapas de fragilidade e cada um dos fatores utilizados
em seus estudos. Para possibilitar a integração desses mapas, os autores fizeram
a sua padronização através do comando fuzzy, o qual permite a criação de uma
curva que represente a variação dos valores de cada fator em função da sua influ-
ência na fragilidade da área.
36
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

Para confecção do mapa fuzzy de lineamentos, Marcellino et al. (2018)


aplicaram a função fuzzy sigmoidal decrescente sobre lineamentos, gerando um
mapa que apresentou uma zona de suscetibilidade alta (255) nas regiões próximas
aos lineamentos, e uma zona de baixa ou nula suscetibilidade (0), em zonas mais
distantes aos lineamentos, conforme mostra a Figura 8.

FIGURA 8 – MAPA FUZZY DE LINEAMENTOS MOSTRANDO AS ÁREAS ONDE APRESENTAM


BAIXA OU ALTA ADEQUABILIDADE

FONTE: Marcellino et al. (2018, p. 49)

4.9 OPERAÇÕES ALGÉBRICAS CUMULATIVAS


Estas são operações que “correspondem a operações de adição, subtração
e divisão entre matrizes, que representam os arranjos dos dados espaciais”
(GARCIA, 2014, p. 71). Neste tipo de operação, de acordo com o autor, os mapas
resultantes podem conter erros ou ambiguidades quanto à análise real das
informações especializadas.

Para exemplificar estas operações, Garcia (2014) destaca, a partir da


análise da Figura 10, que o atributo [4] é resultado da soma dos atributos 3 e
1, que representa um atributo exclusivo. Garcia (2014), evidencia ainda que,
como se pode observar na representação, outras ambiguidades presentes nesta
análise poderiam ficar comprometidas e que, quanto maior a quantidade de
informações usadas nos cruzamentos, maiores são as tendências de ambiguidades
e dificuldades de análise.

37
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

FIGURA 10 – OPERAÇÕES ALGÉBRICAS CUMULATIVAS

FONTE: Garcia (2014, p. 71)

É importante destacar que, de acordo com o referido autor, as potências


numéricas podem ser aplicadas aos atributos originais a fim de minimizar estas
ambiguidades, mas também podem gerar algarismos grandes, rompendo a
hierarquia original dos atributos, podendo levar a interpretações equivocadas do
produto final, sobretudo a supervalorização dos resultados.

5 NECESSIDADES DE APLICAÇÕES DE GEOPROCESSAMENTO


Antes de abordarmos sobre as necessidades de aplicações de geoproces-
samento, é importante entender o ponto em que o geoprocessamento se torna
uma ferramenta importante para um analista e a adoção de um SIG uma oportu-
nidade a ser considerada.

Segundo Câmara e Davis (2001, p. 1), “Se onde é importante para seu
negócio, então Geoprocessamento é sua ferramenta de trabalho”. Conforme
Câmara e Davis (2001, p. 1), ainda, “sempre que o onde aparece, dentre as
questões e problemas que precisam ser resolvidos por um sistema informatizado,
haverá uma oportunidade para considerar a adoção de um SIG”.

Mas se o geoprocessamento é uma ferramenta importante para solucionar


problemas por um sistema informatizado, o que é geoprocessamento? De acordo
com Câmara e Davis (2001), o termo Geoprocessamento relaciona-se com o uso
de técnicas matemáticas e computacionais para o tratamento da informação ge-
ográfica. Para Silvam (2019, p. 4), geoprocessamento é “um conjunto de técnicas
e metodologias de armazenamento, processamento, automação e utilização de
imagens para tomada de decisões”. O Silvam (2019) ainda pontua que o geopro-
cessamento é uma ferramenta interdisciplinar, que possibilita a convergência de
diferentes disciplinas científicas para o estudo de fenômenos ambientais.

38
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

De acordo com Hamada (2003), órgãos governamentais, entidades


privadas e não governamentais utilizam o geoprocessamento com o objetivo de
integrar dados espaciais e não espaciais. Para o autor, suas aplicações abrangem
diversas áreas, como: recursos naturais, incluindo estudos de impacto ambiental,
estudos das migrações e dos habitats das faunas; gestão das explorações agrícolas,
incluindo cultivo de campo e avaliação do potencial agrícola da terra; área urbana,
incluindo planejamento dos transportes, localização dos acidentes e seleção dos
itinerários; gestão das instalações, que pode ser empregada na localização dos
cabos e tubulações, planejamento e manutenção das instalações, entre outros;
administração pública, como gestão de cadastro, avaliação predial/territorial,
gestão da qualidade das águas, entre outros; comércio, na realização de análise
da estrutura de mercado, análise da concorrência e das tendências de mercado,
por exemplo; e saúde pública, incluindo epidemiologia, distribuição e evolução
das doenças e distribuição dos serviços sociais sanitários.

De acordo com Carvalho, Pinto e Facincani (2014), a carência de


informações relacionadas ao meio físico, associada à prática de atividades
produtivas que desconsideram a capacidade de suporte do meio físico, geram
desequilíbrios nos sistemas ambientais. Dessa forma, ressaltam que a atualização
de dados temáticos se torna essencial por possibilitar a identificação do grau
de vulnerabilidade das áreas, o que requer o uso de ferramentas que permitam
a coleta e o tratamento destas informações para tomada de decisões. É neste
cenário que o geoprocessamento, conjunto de técnicas direcionadas à coleta e
ao tratamento de informações espaciais, torna-se uma ferramenta importante,
porque possibilita a obtenção, manipulação, análise e geração de uma grande
quantidade de dados (CARVALHO; PINTO; FACINCANI, 2014).

De acordo com Davis e Câmara (2001), em uma visão geral, o setor de


Geoprocessamento no Brasil pode ser dividido em seis segmentos:

QUADRO 4 – SETORES DE GEOPROCESSAMENTO NO BRASIL

Segmentos do
Características/aplicações
Geoprocessamento

Cadastro urbano e rural, realizadas normalmente por


Prefeituras, em escalas que costumam variar de 1:1.000 a
Cadastral 1:20.000. Para atender este setor os SIGs devem dispor de
uma capacidade básica de funções de consulta a bancos de
dados espaciais e apresentação de mapas e imagens.

Instituições produtoras de mapeamento básico e temático.


Para esta produção é necessário dispor de ferramentas de
Cartografia
aerofotogrametria digital e técnicas de entrada de dados,
Automatizada
como os digitalizadores ópticos, e de produção de mapas,
como gravadores de filme de alta resolução.

39
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Instituições ligadas às áreas de Agricultura, Meio-


Ambiente, Ecologia e Planejamento Regional, que
trabalham com escalas de 1:10.000 a 1:500.000. Para atender
Ambiental a este segmento as capacidades básicas do SIGs incluem:
integração de dados, gerenciamento e conversão entre
projeções cartográficas, modelagem numérica de terreno,
processamento de imagens e geração de cartas.

Concessionárias de serviços (Água, Energia Elétrica,


Telefonia), com escalas de trabalho típicas variam entre
1:1.000 a 1:5.000. Os SIGs para redes devem apresentar forte
ligação com bancos de dados relacionais e capacidade de
Concessionárias/Redes
adaptação e personalização. É importante ressaltar que
o pacote básico disponível com os SIGs não é suficiente
para a realização da maioria das aplicações, por conta das
necessidades distintas de cada usuário.

Empresas agropecuárias que necessitam planejar a


produção e distribuição de seus produtos, com escalas
de trabalho típicas variam entre 1:1.000 a 1:50.000. Neste
caso, as aplicações apresentam características próprias e
com dependência de cada usuário. Para esta demanda, os
Planejamento Rural
SIGs devem apresentar forte ligação com bancos de dados
relacionais e a capacidade de adaptação. O pacote básico
disponível com os SIGs é insuficiente para a execução da
maioria das aplicações, por conta das necessidades distintas
de cada usuário.

Empresas que precisam distribuir equipes de vendas e


promoção ou encontrar novos nichos de mercado. As
escalas de trabalho costumam variar entre 1:1.000 a 1:10.000.
Quanto às ferramentas de SIG, devem fornecer meios de
Business Geographic apresentação dos bancos de dados espaciais para fins de
planejamento de negócios. Neste caso, os SIGs devem ser
adaptados ao cliente, com ferramentas de particionamento
e segmentação do espaço para localizar novos negócios e
alocação de equipes.

FONTE: Adaptado de Davis e Câmara (2001, p. 29-30)

Segundo Davis e Câmara (2001), é possível constatar cada segmento do


setor de Geoprocessamento apresenta características próprias e requer soluções
específicas, fato este nem sempre compreendido pelos usuários. Os autores ainda
ressaltam algumas necessidades típicas de aplicações de Geoprocessamento. Os
termos correspondentes aos códigos apresentados são mostrados a seguir. Vamos
conferir?

40
TÓPICO 2 — DESENVOLVIMENTO E OPERACIONALIDADE DE UM SIG

FIGURA 11 – NECESSIDADES TÍPICAS DE APLICAÇÕES DE GEOPROCESSAMENTO

FONTE: Davis e Câmara (2001, p. 31)

Códigos:
ANG = análise geográfica
BDG = consulta a BD georreferenciados
PDI = processamento digital de imagens
MAP = produção cartográfica
MNT = modelos numéricos de terreno
GEO = geodésia e fotogrametria
RED = modelagem de redes

Chegamos ao final deste tópico, mas ainda temos uma síntese dos
conteúdos abordados até aqui e autoatividades para autoavaliar a compreensão
dos assuntos sobre desenvolvimento e operacionalidade de um SIG. No próximo
tópico, conheceremos as tecnologias utilizadas para o desenvolvimento de um
SIG, incluindo o conceito e aplicações das geotecnologias e a visão geral da
tecnologia de SIG.

41
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Hardware é a parte física de um sistema computacional. É um conjunto de


equipamentos para realizar tarefas de entrada, processamento e armazenamento
dos dados e saída de informações.

• SIG é um sistema composto por uma interface com usuário; pela entrada e
integração de dados; por funções de consulta e análise espacial; pela visualização
e plotagem; e pelo armazenamento e recuperação de dados que se relacionam
de forma hierárquica.

• O usuário de um SIG deve organizar os dados coletados ou o BD, etapa que


deve demandar a maior parte do tempo e dos esforços (físicos, intelectuais e
financeiros) empreendidos da produção de um mapa.

• As principais funções dos SIGs são: consulta, reclassificação, cruzamento de


camadas; cálculo de medidas lineares e de área; análises de proximidade e de
contiguidade (interpolação); operações de superposição (overlay); operações
algébricas não cumulativas; operações algébricas cumulativas.

• O Geoprocessamento relaciona-se com o uso de técnicas matemáticas e


computacionais para o tratamento da informação geográfica, ferramenta
interdisciplinar, que possibilita a convergência de diferentes disciplinas
científicas para o estudo de fenômenos ambientais.

• Em uma visão geral, o setor de Geoprocessamento no Brasil pode ser


dividido em seis segmentos: cadastral, cartografia automatizada, ambiental,
concessionárias/redes; planejamento rural e Business Geographic.

42
AUTOATIVIDADE

1 Existem diferentes SIGs, que apresentam esquemas de funcionamento


interno. Tais diferenças se expressam na maneira como cada um deles se
organiza, além de refletir sua evolução como produto ao longo dos anos.
Sobre as diferentes categorias de SIGs, analise as alternativas e assinale
aquela que apresenta uma característica peculiar da arquitetura do SIG
tradicional.

a) ( ) Refere-se à arquitetura dos primeiros SIGs.


b) ( ) Sua principal característica é a adoção de um SGBD.
c) ( ) Destaca-se pelos SGBDs relacionais e a linguagem SQL.
d) ( ) Seu diferencial é armazenar dados geográficos usando objetos.

2 O conceito de hardware inclui os dispositivos e equipamentos empregados


no processamento de informações, enquanto o conceito de software
inclui os componentes lógicos de um computador ou de um sistema de
processamento de dados. Sobre um hardware, analise as afirmativas.

I- Trata-se de um programa, uma rotina ou ainda conjunto de instruções que


controlam o desempenho de um computador.
II- É a parte física de um sistema computacional, equipado para a realização
de tarefas de entrada, processamento e armazenamento dos dados e saída
de informações.
III- Possui uma unidade central de processamento e de equipamentos
periféricos, entre eles equipamentos destinados à visualização e consulta
das informações geradas.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 Sobre as características das relações topológicas e características dessas re-


lações em SIG, coloque V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas.

( ) A contingência é aquela em que há cadeias separando os elementos.


( ) Disjunção é aquela que as relações entre elementos que não possuem
limites em comum.

43
( ) Intersecção se caracteriza pelo cruzamento entre um elemento linear e
um dos contornos de certo polígono.
( ) O cruzamento se caracteriza pela intersecção no qual os elementos
cruzam completamente os polígonos.

Assinale a alternativa que corresponde à sequência CORRETA:

a) ( ) F – V – V – V.
b) ( ) F – V – F – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) V – F – V – V.

4 O termo ‘simultâneo’ indica algo que se realiza ao mesmo tempo (ou quase)
que ao mesmo tempo. As operações algébricas não cumulativas, uma das
funções dos SIGs, é bastante utilizada em SIG. Neste sentido, descreva que
tipo de operação ela realiza e um exemplo desta operação.

5 Segundo Hamada (2003), órgãos governamentais, entidades privadas e não


governamentais utilizam o geoprocessamento com o intuito de integrar
dados espaciais e não espaciais. Neste sentido, discorra sobre a importância
do uso deste conjunto de ferramentas para a área ambiental.

44
TÓPICO 3 —
UNIDADE 1

TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG

1 INTRODUÇÃO

O Tópico 3 está voltado para o conhecimento das tecnologias para


o desenvolvimento de um SIG. Dessa forma, abordaremos o conceito de
geotecnologias, alguns exemplos destas ferramentas e aplicações na sociedade
contemporânea.

Apresentaremos uma visão geral de um SIG e informações sobre as


diferentes gerações de SIG, incluindo concepções e características que envolvem
a primeira, a segunda e a terceira gerações de SIG, além de fazer uma breve
abordagem sobre as quatro grandes tecnologias complementares dos SIGs e,
finalmente, conheceremos as descrições gerais de alguns softwares livres.

2 GEOTECNOLOGIAS
De acordo com Miranda e Oliveira (2018), a maioria das cidades apresen-
tam crescimento populacional rápido e as estruturas urbanas não acompanharam
esse ritmo, o qual, além de não ser planejado, pode causar problemas como inun-
dações, deslizamento de encostas e desabamentos de construções (MIRANDA;
OLIVEIRA, 2018).

Para os referidos autores, atualmente, a ocupação urbana é tema de emer-


gência nacional, portanto, o desenvolvimento de tecnologias que apoiem a gestão
estratégica da ocupação urbana é interessante em diversas instâncias de governo.

É neste contexto que Miranda e Oliveira (2018) destacam a importância


das geotecnologias que vêm sendo empregadas como uma ferramenta importante
para auxiliar no planejamento urbano e na compreensão da dinâmica espacial e
da forma urbana.

Diante do exposto, entende-se sua importância. Mas o que são essas


geotecnologias? Segundo Rosa (2011), as geotecnologias são o conjunto de
tecnologias que visam à coleta, ao processamento, à análise e à oferta de informação
com referência geográfica. Elas são compostas por soluções em hardware, software
e peopleware que, juntas, formam ferramentas para tomada de decisão. Entre elas,
destaca o autor, estão os Sistemas de Informação Geográfica, a Cartografia Digital,
o Sensoriamento Remoto, o Sistema de Posicionamento Global e a Topografia
Georreferenciada.
45
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

De acordo com Fonseca et al. (2016), a expressão cartografia digital envolve


elementos relacionados às práticas cartográficas que empregam a computação.
Os autores destacam que existe um termo mais abrangente em francês, mas que
engloba essa cartografia: geomatique. Para Guermond (2003) apud Fonseca et al.
(2016), a geomática se refere à análise de dados espaciais, em que o computador
desempenha papel-chave nos processos de pesquisas, envolvendo o Sistema de
Informações Geográficas (SIG), a utilização do Global Positioning System (GPS) e
softwares diversos.

O Sensoriamento Semoto é uma tecnologia que emprega sensores a


bordo de satélites e aeronaves para a obtenção de informações sobre a superfície
e atmosfera terrestre (FERREIRA, 2006). De acordo com o autor, tais sensores
variam conforme a capacidade de detalhamento da observação espacial, espectral,
temporal e radiométrica e os sinais capturados são transmitidos para a Terra e
recebidos em estações onde eles são transformados em imagens digitais.

No que se refere à Topografia Georrefenciada, é importante ressaltar


que topografia e agrimensura são ciências que apresentam uma forte relação e
o georreferenciamento é um requisito básico para a realização de serviços nestas
áreas do conhecimento.

Quanto ao Sistema de Posicionamento Global, trata-se de um sistema de


satélites que orbitam a Terra e transmitindo sinais precisos para o posicionamen-
to geográfico. Contudo, a evolução desta tecnologia levou ao desenvolvimen-
to do Sistema Global de Navegação por Satélites, em inglês, Global Navigation
Satellite System (GNSS). De acordo com o IBGE (2021), este sistema refere-se à
constelação de satélites que permite o posicionamento em tempo real de objetos,
bem como a navegação em terra ou mar. Eles são utilizados em diferentes áre-
as, como mapeamentos topográficos e geodésicos, aviação, navegação marítima
e terrestre, monitoramento de frotas, demarcação de fronteiras, agricultura de
precisão, entre outros.

Percebem que estas tecnologias estão relacionadas e que alguns destes


conjuntos de ferramentas envolvem ou necessitam de outras tecnologias que
foram apresentadas? Algumas destas ferramentas são nossas conhecidas. Usamos
no nosso dia a dia e isso tem facilitado nossa vida em diversos aspectos, e isso é
uma característica da sociedade pós-industrial.

De acordo com Martins e Matias (2013), a sociedade pós-industrial ou


informacional é um possibilitador da informação e das geotecnologias. Segundo
os autores, a sociedade informacional se origina a partir dos anos 1970, momento
de mudança do modo de produção capitalista, e, neste novo momento, há uma
incorporação da ciência na estrutura econômica por meio da institucionalização
da pesquisa, permitindo um grande avanço tecnológico. Neste momento, afirmam
os autores, a tecnologia se apresentou como um dos principais fatores das
mudanças sociais, ampliando o controle sobre a natureza, mudando as relações
entre os indivíduos e a forma de considerar o mundo.

46
TÓPICO 3 — TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG

Segundo Martins e Matias (2013, s.p.), “A informação, principalmente


aquela que representa algum aspecto ou característica do espaço geográfico, é
muitas vezes obtida por meio das geotecnologias, instrumentos que formam um
integral e indispensável componente da vida cotidiana”, a exemplo dos Sistemas
de Informação Geográfica (SIG).

De acordo com Martins e Matias (2013, s.p.),

os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são um sistema de


informação “na plenitude de seu significado e não um conjunto de
mapas ou de tabelas de dados” (MATIAS, 2005, p. 8889), mesmo que
ele se constitua desses mesmos elementos, sua importância está na
produção de informação e não nos seus mecanismos técnicos em si,
nisto reside “sua verdadeira implicação social e política, servindo
de instrumento tanto para a guerra como para as ações estratégicas
mais gerais no/do espaço geográfico” (MATIAS, 2005, p. 8889). Um
exemplo recorrente de sua aplicação está no forte vínculo com as áreas
de planejamento na geografia por ser um importante sistema de apoio
à decisão, e isso ocorre “independente do olhar adotado pelo geógrafo
em relação ao seu objeto de estudo”.

A Embrapa reforça a importância e uso das geotecnologias na sociedade


contemporânea. De acordo com a Embrapa (2021a), na sociedade contemporânea,
é corrente o uso das geotecnologias. Dessa forma, o referido instituto destaca
que é fácil perceber como os aparelhos eletrônicos que dispõem de sistema de
posicionamento global (GPS) ultrapassaram a fronteira do meio acadêmico
e empresarial para influenciarem as atividades cotidianas do cidadão, sendo
empregadas para gerar localização, orientar melhores rotas de viagem e para
indicar horários de transportes públicos (EMBRAPA, 2021a).

De acordo com a Embrapa (2021a), com a extensão territorial brasileira, a


diversidade e a complexidade biomas do país são desafios para o conhecimento
e o uso do território nacional e, neste caso, as geotecnologias figuram como
instrumentos em trabalhos de inteligência, gestão e monitoramento territorial.
Inclusive, a referida instituição aponta que quase toda atividade de planejamento
e administração da agricultura, da escala nacional à local, pode se beneficiar do
uso de informações geoespaciais. Exemplos são os mapas e imagens de satélites
utilizados para o planejamento e nas políticas públicas.

Ainda tratando do uso das geotecnologias na agricultura, a Embrapa


(2021a) destaca que imagens de satélite, mapas digitais e bancos de dados
geocodificados são combinados para cartografar, gerir e monitorar a agricultura
nas mais diferentes escalas. Além disso, diversos procedimentos permitem
detectar, identificar, qualificar, quantificar e cartografar as áreas agrícolas, assim
como sua dinâmica temporal e o uso dos recursos naturais de forma efetiva,
rápida e precisa. Um exemplo deste tipo de tecnologia é o SIG, cuja análise das
informações nele contidas permite a elaboração de mapas, gráficos, tabelas e
relatórios que representam, digitalmente, a realidade.

47
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

De acordo com Medeiros e Câmara (2001, p. 4), o impacto do uso da


tecnologia de Sistemas de Informação Geográfica é grande em pelo menos quatro
grandes dimensões dos problemas ligados aos Estudos Ambientais: “Mapeamento
Temático, Diagnóstico Ambiental, Avaliação de Impacto Ambiental, Ordenamento
Territorial e os Prognósticos Ambientais”.

Nesta visão, segundo Medeiros e Câmara (2001, p. 4):

os estudos de Mapeamento Temático visam a caracterizar e entender


a organização do espaço, como base para o estabelecimento das
bases para ações e estudos futuros. Exemplos seriam levantamentos
temáticos (como geologia, geomorfologia, solos, cobertura vegetal),
dos quais o Brasil ainda é bastante deficiente, especialmente em
escalas maiores. Tome-se, por exemplo, o caso da Amazônia, onde o
mais abrangente conjunto de dados temáticos existente é o realizado
pelo projeto RADAM, no qual os dados foram levantados na escala
1: 250.000 e compilados na escala 1:1.000.000. A área de diagnóstico
ambiental objetiva estabelecer estudos específicos sobre regiões de
interesse, com vistas a projetos de ocupação ou preservação. Exemplos
são os relatórios de impacto ambiental (RIMAs) e os estudos visando o
estabelecimento de áreas de proteção ambiental (APAs).

3 VISÃO GERAL DA TECNOLOGIA DE SIG


Ao abordar a arquitetura geral de um SIG, Davis e Câmara (2001) apre-
sentam uma visão geral de um SIG. Vimos que, em uma visão abrangente, um
SIG apresenta uma interface com usuário, entrada e integração de dados, funções
de consulta e análise espacial, visualização e plotagem, armazenamento e recupe-
ração de dados. Agora, conheceremos conhecer uma visão geral de um SIG para
um melhor entendimento da estrutura destes sistemas de informação geográfica.

De acordo com Davis e Câmara (2001, p. 8), o conceito “sistemas de


informação geográfica” está relacionado com diferentes alternativas e há
uma grande diversificação de oferta de SIG, com quatro grandes tecnologias
complementares:

• Os "GIS desktop", com interfaces amigáveis e crescente


funcionalidade.
• Os "Gerenciadores de Dados Geográficos", que armazenam os
dados espaciais em ambiente multiusuário.
• Os "Componentes GIS", ambientes de programação que fornecem
insumos para que o usuário crie seu próprio aplicativo geográfico.
• Os "Servidores Web de Dados Geográficos", utilizados para
publicação e acesso a dados geográficos via Internet.

Davis e Câmara (2001) destacam que um aspecto fundamental das di-


ferentes tecnologias apresentadas é que se complementam. Segundo Câmara e
Queiroz (2001, p. 9), “os ‘GIS desktop’ podem utilizar ‘gerenciadores de dados ge-
ográficos’, que podem estar ligados a ‘servidores web’, e os usuários destes dados
podem ter interfaces personalizadas, construídas a partir de ‘componentes GIS’”.

48
TÓPICO 3 — TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG

De acordo com Matias (2001), a primeira geração de SIG refletiu o


domínio da tecnologia de hardware. De acordo com o autor, esta era uma
tecnologia de alto custo que exigia conhecimento especializado e os sistemas
eram proprietários, baseados em computadores centralizados e de grande porte
(mainframe). Os autores afirmam, ainda, que a tecnologia de software empregada
neste tipo de sistema era baseada no conceito de sobreposição de planos de
informação (layers) de sistemas convencionais de mapeamento, tipo CAD.
Neste período, o mercado de SIG atendia praticamente grandes instituições, a
maioria públicas, de ensino/pesquisa e planejamento, limitado na aquisição e
manipulação de dados cartográficos (MATIAS, 2001).

De acordo com o INPE (2006, s.p.), na primeira geração do CAD cartográfico


se configuram:

Sistemas herdeiros da tradição de Cartografia, com suporte de ban-


cos de dados limitado e com o paradigma típico de trabalho sendo o
mapa (chamado de "cobertura" ou de "plano de informação"). Desen-
volvidos a partir do início da década de 80 para ambientes da classe
VAX e, a partir de 1985, para sistemas PC/DOS. Utilizada principal-
mente em projetos isolados, sem a preocupação de gerar arquivos
digitais de dados. Esta geração também pode ser caracterizada como
sistemas orientados a projeto ("project- oriented GIS")).

Segundo Davis e Câmara (2001), a segunda geração de SIGs (“banco de


dados geográfico”) chegou ao mercado no início dos anos 1990 e foi concebida
para uso em ambientes cliente-servidor. De acordo com os autores, estes sistemas
se caracterizam ao acoplamento de gerenciadores de bancos de dados relacionais
com pacotes adicionais para processamento de imagens. Esta geração de SIGs
são sistemas para suporte às instituições (DAVIS; CÂMARA, 2001). De acordo
com Matias (2001), o período do advento da segunda geração SIG pode ser
caracterizado como um período formativo. “O surgimento de computadores do
tipo workstation com sistema operacional UNIX habilitou a implementação de SIG
de forma semidistribuída, permitindo o compartilhamento de dados comuns”
(MATIAS, 2001, p. 100). O autor ainda pontua que, mesmo com o crescimento
da produção e disponibilidade de dados georreferenciados nos mais diferentes
setores, o SIG permanecia característico de ambientes especializados, fora do
domínio de tecnologia de informação de uso mais geral.

Para o INPE (2006, s.p.), a segunda geração foi concebida

para uso em ambientes cliente-servidor, acoplado a gerenciadores de


bancos de dados relacionais e com pacotes adicionais para processa-
mento de imagens. Chegou ao mercado no início da década de 90. Com
interfaces baseadas em janelas, esta geração também pode ser vista
como sistemas para suporte a instituições ("enterprise-oriented GIS").

Davis e Câmara (2001, p. 8) pontuam que a terceira geração de SIGs


(“bibliotecas geográficas digitais” ou “centros de dados geográficos”), se
caracteriza pelo “gerenciamento de grandes bases de dados geográficos, com
acesso através de redes locais e remotas, com interface via WWW (World Wide Web)”.
49
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Os autores destacam, ainda, que estes eram sistemas que seguiam os requisitos
de interoperabilidade, de modo a permitir o acesso de informações espaciais
por SIGs distintos, e eram sistemas orientados para troca de informações entre
uma instituição e os demais membros da sociedade (“society-oriented GIS”). Para
Matias (2001) esta nova geração se caracterizou pela adoção de sistemas abertos,
em termos de hardware e software, e arquiteturas computacionais distribuídas e
interligadas em redes.

De acordo com o INPE (2006, s.p.), os SIGs de terceira geração se


caracterizam por:

• Banco de dados geográfico compartilhado por um conjunto


de instituições, acessível remotamente e armazenando dados
geográficos, descrições acerca dos dados ("metadados") e
documentos multimídia associados (texto, fotos, áudio e vídeo).
• Motivado pelo aguçar da nossa percepção dos problemas
ecológicos, urbanos e ambientais, pelo interesse em entender, de
forma cada vez mais detalhada, processos de mudança local e
global e pela necessidade de compartilhar dados entre instituições
e com a sociedade.
• Núcleo básico composto por um grande banco de dados geográficos
com acesso concorrente a uma comunidade de usuários, com
diferentes métodos de seleção, incluindo folheamento ("browsing")
e linguagem de consulta.
• Metadados (ou "dados sobre os dados") descrevendo os conjuntos
de dados disponíveis localmente ou em centros associados,
devendo ser suficiente para guiar a busca e com um conjunto
pequeno de descritores obrigatórios, minimizando o esforço
requerido para compor o metadado e maximizando a capacidade
de busca disponível. Disponibilidade de dados síntese, na forma
de mapas em escala reduzida que podem ser utilizados para
localizar geograficamente os conjuntos de dados disponíveis. Deve
permitir um refinamento do processo de consulta, estabelecendo
um caminho contínuo entre o nível mais abstrato de metadados e
os dados.
• Acesso por interfaces multimídia via Internet, proporcionado
pelo ambiente WWW, permitindo que os dados geográficos sejam
apresentados de forma pictórica (através de mapas reduzidos e
imagens "quick-look").
• Navegação pictórica (browsing), ou seja, seleção baseada em
apontamento na qual uma interface interativa permite ao usuário
percorrer o banco de dados, acessando dados com base em sua
localização espacial. Deve garantir interatividade e rapidez de
resposta por meio de mecanismos de generalização.

Sobre a tecnologia SIG no Brasil, de acordo com Matias (2001, p. 108):

A introdução da tecnologia SIG no Brasil teve início na segunda


geração e se deve, de forma preponderante, ao papel desempenha-
do por pesquisadores situados em instituições públicas de pesqui-
sa e ensino, entre elas, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE), o Departamento de Geografia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), o Departamento de Planejamento Regional da
Universidade Estadual Paulista – Campus de Rio Claro (UNESP), o
Departamento de Transportes da Escola Politécnica da Universidade

50
TÓPICO 3 — TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG

de São Paulo (USP), e o Departamento de Engenharia Civil da Uni-


versidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Além dessas, num setor
mais abrangente, destacam-se a Fundação de Desenvolvimento da
Região Metropolitana do Recife (FIDEM) e a Companhia de Pesquisa
de Recursos Minerais (CPRM).

Em suma, Martins e Matias (2013) destacam que os exemplos do uso


das geotecnologias, com o intuito de obter informações geográficas precisas e
atualizada são inúmeros, desde usuários individuais até grandes corporações
e que o Estado e a sociedade deveriam se apropriar dessas tecnologias como
instrumentos que possibilitam revelar as contradições e desigualdades que o
modo capitalista reproduz e propor alternativas de combate a esta situação.

4 TECNOLOGIAS PARA A EVOLUÇÃO DE UM SIG


De acordo com Davis e Câmara (2001), existem representantes brasileiros
para quase todos os principais sistemas de informação geográfica, disponíveis
especialmente nos Estados Unidos e Europa. Os autores listam alguns dos mais
conhecidos sistemas GIS e desktop mapping comerciais no Quadro 4. Contudo,
deixaram de fora os sistemas CAD que, segundo Davis e Câmara (2001), podem
ser eventualmente usados em cartografia automatizada ou algo semelhante, e os
sistemas aplicados ao sensoriamento remoto.

QUADRO 4 – ALGUNS SISTEMAS GIS E DESKTOP MAPPING COMERCIAIS

GIS Estruturas Banco de


Equipamentos Observações
Fabricante de Dados Dados

APIC Produzido na França,


Vetorial Orientado a UNIX,
APIC tem muitas instalações
Matricia objetos Windows
Systèmes na Europa
Produtos
complementares
Vetorial – incluem o Arc/
ARC/INFO
topológica Relacional NIX, Windows CAD (apoiado em
ESRI
Matricial AutoCad) e o Arc/
View (ferramenta de
consulta
AutoDesk Capaz de ler
World Vetorial Relacional Windows diretamente arquivos
(AutoDesk) de diversos GIS

DBMapa
Vetorial Vetorial Windows Apoiado no MaxiCAD
MaxiData

Genasys Matricial UNIX,


Relacional
Genasys Vetorial Windows

51
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

O TransCAD,
GIS Plus especializado em
Vetorial Relacional Windows
Caliper transportes, é baseado
no GISPlus
DRISI
Muito voltado para
Clarkk Matricial Proprietário Windows
Aplicações Ambientais
University
Principalmente
MapInfo Proprietário, utilizado como
Vetorial Windows
MapInfo xBASE ferramenta de Desktop
Mapping

Maptitude Matricial Matricial Mais usado como


Windows
Calipe Vetorial Vetorial desktop mapping

MGE Vetorial UNIX, Baseado no sistema de


Relacional
Intergraph Matricial Windows CAD MicroStation
Permite uma
SPRING Matricial UNIX,
Relacional integração entre
INPE Vetoria Windows
vetores e imagens
Pioneiros no
Vision*GIS armazenamento
Vetorial
System Relacional UNIX de gráficos dentro
Matricial
House do banco de dados
relacional

FONTE: Davis e Câmara (2001, p. 32)

De acordo com Davis e Câmara (2001), todos os softwares elencados


possuem condições para interligação de dados gráficos com dados alfanuméricos,
armazenados em bases de dados proprietárias ou não.

Sobre a estrutura e funcionalidades do ArcGis Desktop, de acordo com


Rubert (2011, p. 29), “o ArcGIS é um pacote de softwares da ESRI (Environmental
Systems Research Institute) de elaboração e manipulação de informações vetoriais e
matriciais para o uso e gerenciamento de bases temáticas”. Para o autor, o ArcGIS
disponibiliza em um ambiente SIG uma série de ferramentas de forma integrada
e de fácil utilização.

Segundo Rubert (2011), o ArcGIS está estruturado em três módulos


funcionais: ArcCatalog; ArcMap e ArcToolbox, permitindo o desempenho de
tarefas simples e complexas, compreendendo a gestão de dados geográficos,
construção de cartografia, análise espacial, edição avançada de dados ou conexão
com base de dados externas.

Quanto às funcionalidades do programa, Rubert (2011) destaca que estas


se dividem em três tipos de licenciamento distintos:

52
TÓPICO 3 — TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG

• o ArcGis ArcView, que disponibiliza ferramentas de construção de cartografia,


análise espacial e edição simples;
• o ArcGis ArcEditor, que compreende todas as funcionalidades do ArcView,
além de possuir as capacidades de edição complexa de dados;
• o ArcGis ArcInfo, que expande as capacidades de ambos para níveis de
geoprocessamento avançado, disponibilizando todas as funcionalidades.

4.1 SOFTWARES LIVRES


De acordo com Miranda (2015), os SIGs de acesso livre não são tão versáteis
como suas versões comerciais, mas oferecem muitas das funções estudadas,
tornando-os úteis como ferramenta de aprendizado e como opção possível para
uso em projetos reais.

Mas, o que se entende por um software de código aberto ou livre? Por que
eles foram criados? De acordo com Miranda (2015, p. 374).

Software de código aberto ou livre tem seu código-fonte disponível


para modificações e redistribuição ao público em geral. Existe um
grande número de licenças de software de código aberto, geralmente
arbitrado pela Open Source Iniciative (OSS) <http://wwwopensource.
org>. Portanto, ao usar um software de código livre, deve-se certificar
das suas permissões e proibições. Basicamente, projetos de código livre
não são cirados para liberar o código-fonte livremente, eles são criados
pelo crescimento das comunidades de interesses compartilhados. O
sucesso de alguns softwares livres não está no fato de eles terem seu
código aberto livremente, mas porque uma comunidade compartilha
o interesse em mantê-los em constante evolução. Como exemplo,
o servidor Wev Tomcat, da Apache. Nada menos que a IBM, a HP,
agências governamentais e instituições acadêmicas contribuem para
sua manutenção.

Entre os softwares livres para geoprocessamento, destacam-se: o gvSIG,


Kosmo GIS, QGIS, Spring, TerraView, GRASS e uDig. Apresentaremos, assim,
uma breve descrição das características gerais do gvSIG, QGis, Spring e TerraView.

4.1.1 gvSIG
De acordo com a Embrapa (2021b), o gvSIG é um projeto Open Source
criado em java para a gestão da informação geográfica. Entre os diferentes
produtos gvSIG, estão: gvSIG Desktop, produto de escritório que pode ser
operado nas plataformas Linux, Windows e Mac; o gvSIG Mobile, voltado para
dispositivos móveis; e o gvSIG Mini, que permite a visualização de mapas em
telefones celulares Android e java.

53
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

4.1.2 QGIS
Sobre o QGIS, Dalla Corte et al. (2020, p. 8) salientam que “é livre (segundo
a Licença Pública Geral GNU) e de código aberto construído a partir do Free
and Open Source Software (FOSS)”. De acordo com informações do site oficial, o
QGIS disponibiliza um número de funcionalidades em constante crescimento por
meio das funções nativas e de complementos. Esta ferramenta permite visualizar,
gerir, editar, analisar dados, e criar mapas para impressão.

4.1.3 SPRING
De acordo com o INPE (2018, n. p.), o SPRING é um “Sistema de
Informações Geográficas (SIG), um banco de dados geográfico de 2ºgeração,
para ambientes Windows, Linux e Mac”. De acordo INPE (2018, s.p.), ainda, os
“sistemas desta geração são concebidos para uso em conjunto com ambientes
cliente-servidor, geralmente acoplados a gerenciadores de bancos de dados
relacionais, operando como um banco de dados geográfico”.

As vantagens do SORUBG são as seguintes: algoritmos inovadores, como


os empregados para indexação espacial, segmentação de imagens, classificação por
regiões e geração de grades triangulares com restrições, garantindo o desempenho
apropriado para diferentes aplicações, complementando os métodos tradicionais
de processamento de imagens e análise geográfica. Além disso, apresenta base de
dados única, ou seja, mesma estrutura de dados quando o usuário trabalha em
um microcomputador na versão Windows e em uma máquina RISC (Estações de
Trabalho UNIX), não necessitando de conversão de dados (INPE, 2018).

4.1.4 TerraView
De acordo com o INPE (2009, s.p.), o TerraView é um aplicativo produzido
sobre a biblioteca de geoprocessamento TerraLib. De acordo com o referido
instituto, seus principais objetivos são: “apresentar à comunidade um fácil
visualizador de dados geográficos com recursos de consulta a análise avançada
destes dados e exemplificar a utilização da biblioteca TerraLib”. Segundo o INPE
(2009, s.p.), o TerraView “manipula dados vetoriais (pontos, linhas e polígonos)
e matriciais (grades e imagens), ambos armazenados em SGBD relacionais ou
georrelacionais de mercado, incluindo ACCESS, PostgreSQL, MySQL e Oracle”.

Chegamos ao final desta unidade. Conhecemos os aspectos conceituais,


as funcionalidades dos SIGs e uma descrição geral das tecnologias para o
desenvolvimento de um SIG. Lembre-se de realizar as autoatividades do Tópico
3 e fazer a leitura complementar sobre interoperabilidade em GIS.

54
TÓPICO 3 — TECNOLOGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DE UM SIG

LEITURA COMPLEMENTAR

ARQUITETURA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA

Clodoveu Davis
Gilberto Câmara

Open GIS: Interoperabilidade em GIS

A quantidade dos dados geográficos disponíveis em formato digital


é bastante grande, e vem crescendo rapidamente. Durante o período em que
estes dados geográficos vêm sendo coletados (aproximadamente nos últimos
30 anos), diferentes alternativas tecnológicas foram adotadas para a aquisição,
o armazenamento, o processamento, a análise e a visualização destes dados, em
geral em esforços isolados e independentes uns dos outros.

Com a evolução do geoprocessamento, é cada vez mais marcante a


necessidade de se utilizar estes dados, cuja coleta e manutenção são bastante
caros, para o maior número de aplicações diferentes possível. Por exemplo, se uma
prefeitura mapeia em um GIS as ruas da cidade, porque não utilizar estes dados
na companhia de energia elétrica, ou na companha de telecomunicações? Muitas
vezes isto não é possível, ou pelo menos é dificultado fortemente, pela adoção de
diferentes plataformas de hardware e software, cada uma das quais utilizando um
formato ou conjunto de formatos de armazenamento das informações geográficas
digitais. Transferir dados de um formato para o outro nem sempre é simples,
mas poderia ser realizado utilizando programas tradutores, capazes de ler as
informações codificadas em um formato específico e regravá-las em um formato
padrão, e vice-versa. No entanto, a experiência mostra que raramente se consegue
uma tradução perfeita, livre de erros. Além disso, os formatos padronizados hoje
utilizados têm uma capacidade muitas vezes insuficiente para representar todos
os detalhes das informações geográficas que são necessários.

Outra situação que pode ocorrer é aquela em que todos os usuários


dispõem do mesmo GIS, mas os métodos e padrões utilizados para a coleta e a
manutenção dos dados inviabilizam sua utilização em conjunto. Por exemplo,
um dos usuários pode ter um grau de exigência maior com relação à precisão
cartográfica que os demais. Outros problemas que podem impedir ou inviabilizar
o intercâmbio de informações incluem diferenças de sistemas de projeção ou de
datum, unidades de medida, métodos para produção de estimativas, e ainda
diferenças entre os conceitos utilizados por cada usuário na criação e manutenção
de seus dados. Para completar, ainda poderão existir dificuldades no que diz
respeito às políticas de disponibilização dos dados adotadas por cada usuário:
mídia de gravação, política de comercialização de dados, limitações quanto ao
repasse dos dados para terceiros, e assim por diante.

55
UNIDADE 1 — ASPECTOS CONCEITUAIS, FUNCIONALIDADES E TECNOLOGIAS LIVRES PARA O DESENVOLVIMENTO
DE UM SISTEMA DE OPERAÇÃO GEOGRÁFICA (SIG)

Todas estas dificuldades estão no caminho da interoperabilidade entre


aplicações distintas de geoprocessamento, e ocorrem em todo o mundo. Para
buscar uma solução para estes problemas, foi criado em 1994 o Open GIS
Consortium (OGC), a partir da associação de representantes dos desenvolvedores
de software, das universidades e dos diversos níveis de governo, provenientes
de diversos países, especialmente os Estados Unidos e a Europa. Este consórcio
está elaborando um padrão denominado OGIS (Open Geodata Interoperability
Specification), que é uma especificação abrangente da arquitetura de software
para acesso distribuído a dados geoespaciais e a recursos de geoprocessamento
em geral. Esta arquitetura é composta de três partes principais:

• Open Geodata Model (OGM), que busca uma maneira comum de representar
a Terra e fenômenos relacionados a ela, matematicamente e conceitualmente;

• OGIS Services Model, que é um modelo de especificação para a implementação


de serviços de acesso a dados geográficos, incluindo seu gerenciamento,
manipulação, representação e compartilhamento;

• Information Communities Model, um arcabouço para utilização do OGM e


do OGIS Services Model para resolver não apenas os problemas técnicos
de interoperabilidade, mas também os problemas interinstitucionais que
interferem no processo.

A ideia principal por trás do OGIS é o estabelecimento de um padrão


comum para transferência de dados geográficos entre aplicações, estabelecendo
uma “camada” de padronização entre clientes e servidores de informações
geográficas. Isto possibilitará o acesso a qualquer banco de dados geográfico
(cujo gerenciador atenda ao modelo OGIS) por parte de qualquer aplicação, como
um GIS, um CAD ou um software Desktop mapping. O servidor poderá mesmo
ser um SGBD relacional, um SGBD orientado a objetos, ou mesmo o gerenciador
geográfico proprietário de algum software, como o ARC/INFO ou o Vision.
Assim, usuários de GIS que dispõem de um produto específico poderiam acessar
dados mantidos em uma ampla variedade de produtos, através de uma interface
padronizada.

DAVIS, C.; CÂMARA, G. Arquitetura de sistemas de informação geográfica. In: CÂMARA, G.; DAVIS,
C.; MONTEIRO, A. M. V. (Orgs.). Introdução à ciência da geoinformação. São José dos Campos:
INPE, 2001 (p. 21-23).

56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• É corrente o uso das geotecnologias, e é fácil perceber como os aparelhos


eletrônicos que dispõem de sistema de posicionamento global (GPS)
ultrapassaram a fronteira do meio acadêmico e empresarial para influenciarem
as atividades cotidianas do cidadão.

• O impacto do uso da tecnologia de Sistemas de Informação Geográfica é


grande em pelo menos quatro dimensões dos problemas ligados aos Estudos
Ambientais: Mapeamento Temático, Diagnóstico Ambiental, Avaliação de
Impacto Ambiental, Ordenamento Territorial e os Prognósticos Ambientais.

• O conceito “sistemas de informação geográfica” está relacionado com diferen-


tes alternativas e há uma grande diversificação de oferta de SIG, com quadro
grandes tecnologias complementares: os "GIS desktop; os "Gerenciadores de
Dados Geográficos"; os "Componentes GIS"; e os "Servidores Web de Dados
Geográficos".

• A primeira geração de SIG refletiu o domínio da tecnologia de hardware,


tecnologia de alto custo na época que exigia conhecimento especializado e os
sistemas eram proprietários.

• Existem representantes brasileiros para quase todos os principais sistemas


de informação geográfica, disponíveis especialmente nos Estados Unidos e
Europa.

• Os SIGs de acesso livre não são tão versáteis como suas versões comerciais,
mas oferecem muitas das funções estudadas, tornando-os úteis como ferra-
menta de aprendizado e como opção possível para uso em projetos reais.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

57
AUTOATIVIDADE

1 Em uma visão mais abrangente, os SIGs apresentam uma interface com


usuário, entrada e integração de dados, funções de consulta e análise
espacial, visualização e plotagem, armazenamento e recuperação de dados.
Quanto às tecnologias complementares das estruturas dos SIGs, é correto
afirmar que:

a) ( ) O GIS desktop possui interfaces amigáveis.


b) ( ) O GIS desktop possui interfaces complexas e de difícil operação.
c) ( ) Os Servidores Web de Dados Geográficos não possuem acesso via
Internet.
d) ( ) Os Gerenciadores de Dados Geográficos são dispositivos físicos de um
hardware.

2 Os SIGs foram evoluindo com o tempo, permitindo, com o passar dos


anos, a adoção de sistemas abertos e redução de custos. Cada geração
apresenta características e funcionalidades diversas para atender às de-
mandas mais crescentes do uso desta tecnologia. Sobre a segunda geração
de SIGs, é CORRETO afirmar que:

a) ( ) Refletiu o domínio da tecnologia de hardware.


b) ( ) Se limitava à aquisição e manipulação de dados cartográficos.
c) ( ) Chegou ao mercado no início dos anos 1990, com suporte às instituições.
d) ( ) Se caracteriza pelo gerenciamento de grandes bases de dados
geográficos, com acesso através de redes remotas.

3 Segundo Davis e Câmara (2001), existem representantes brasileiros para


quase todos os principais SIGs disponíveis. Sobre o SPRING, é CORRETO
afirmar que:

a) ( ) É um software livre que permite uma integração entre vetores e


imagens.
b) ( ) É um software proprietário que permite uma integração entre vetores
e imagens.
c) ( ) É um hardware proprietário que permite uma integração entre vetores
e imagens.
d) ( ) É um software código aberto de uso exclusivo de instituições de ensino
e pesquisa.

58
4 O Brasil possui uma grande extensão territorial, diversidade e complexi-
dade de biomas o que torna um desafio para o conhecimento e o uso do
território nacional. Neste sentido, disserte sobre a relevância do uso das
geotecnologias para esta finalidade.

5 O estudo e ações de combate à desertificação, desmatamento e queimadas


no Brasil torna-se cada vez mais relevante, tendo em vista os avanços
observados nos últimos anos de áreas em processo de desertificação,
áreas desmatadas e degradadas, além das queimadas ligadas a práticas
econômicas. Neste sentido, discorra sobre a importância das geotecnologias
e como elas podem ser empregadas na execução de estudos voltados para
o mapeamento da vulnerabilidade ambiental em áreas sujeitas a práticas
desta natureza.

59
REFERÊNCIAS
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Geográficas. Campinas: Embrapa, 2011.

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MELLO, J. M. Adoção de sistema de informação geográfica. Curitiba:


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MIRANDA, J. I. Fundamentos de Sistemas de Informação Geográfica. 4. ed.


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MIRANDA, D. A.; OLIVEIRA, F. B. de. Análise multitemporal da ocupação


urbana na cidade de Alegre – Espírito Santo. In: OLIVEIRA, F. B. et al. (Orgs.).
Geotecnologias e suas aplicações. Alegre: CAUFES, 2018. p. 9-24.

ROSA, R. Geotecnologias na geografia aplicada. Revista do Departamento de


Geografia, São Paulo, v. 16, p. 81-90, 2011.

RUBERT, A. V. Curso básico de geoprocessamento em ArcGIS desktop. Brasília:


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ROSA, M. Sistema de informação geográfica: criando seu primeiro SIG com


software livre. Foz do Iguaçu: Edição do Autor, 2020.

SILVAM, M. Geoprocessamento: conceitos básicos essenciais para iniciantes,


[on-line]: Edição do Kindle, 2019.

62
UNIDADE 2 —

AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO,
GERENCIAMENTO, ANÁLISE E
APRESENTAÇÃO DE DADOS
GEOESPACIAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as características dos dados espaciais e o que eles buscam


representar, além de conhecer sobre os sistemas de Banco de Dados
Espaciais utilizados em aplicações de Geoprocessamento;

• conhecer a disponibilidade de dados geográficos e os diferentes métodos


para a obtenção destes dados;

• entender que os modelos de dados existentes para SIG estão relacionados


com as diferentes formas de percepção da realidade e podem ser divididos
segundo diferentes visões;

• entender o processo de criação de um BD no formato SpatialLite, a partir


de um exercício, que possibilita o conhecimento das funcionalidades de
um Sistema Gerenciador de Dados Geográficos;

• conhecer a Infraestrutura de dados espaciais – IDEs e compreender como


é realizada a distribuição dos dados espaciais;

• compreender como a distribuição espacial de dados relacionados a


certos fenômenos ocorridos no espaço é relevante para as mais esclarecer
questões centrais em diversas áreas do conhecimento.

63
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade,
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.

TÓPICO 1 – DADOS GEORREFERENCIADOS

TÓPICO 2 – ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO


DE DADOS ESPACIAIS

TÓPICO 3 – ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim
absorverá melhor as informações.

64
TÓPICO 1 —
UNIDADE 2

DADOS GEORREFERENCIADOS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, abordaremos a natureza dos dados geográficos, incluindo


conceitos, características e exemplos de técnicas de representação espacial de
dados geográficos.

Estudaremos, neste tópico, a relação de dados geográficos com as aplica-


ções de Geoprocessamento e como esta tecnologia manipula os dados. Além dis-
so, apresentaremos alguns conceitos relacionados com dados georreferenciados e
como se dá a representação computacional de dados geográficos.

Será feita uma breve explanação sobre a fonte de dados geográficos e sobre
os métodos de aquisição de dados. Nesse caso, trataremos dos métodos mais
utilizados: a digitalização manual; a leitura ótica realizada através de dispositivos
de varredura tipo “scanner”; a digitação feita através de teclado.

2 NATUREZA DOS DADOS GEOGRÁFICOS


Em um ambiente SIG, os dados podem ser categorizados em dados
convencionais, que são atributos alfanuméricos empregados na descrição de
objetos, como nome e população de uma cidade, por exemplo; dados espaciais
que descrevem a geometria, a localização e as relações topológicas dos objetos
geográficos; e dados pictóricos, que são os atributos que armazenam imagens,
como fotografias de uma cidade (FILHO; IOCHPE, 1996).

Dados geográficos possuem um componente espacial, razão pela qual são


conhecidos como dados espaciais. Esses dados buscam representar a superfície
da Terra e possuem atributos relacionados com sua localização geográfica, dentro
de um sistema de coordenadas. De acordo com Filho e Iochpe (1996), esses são
conhecidos como dados georreferenciados ou dados geoespaciais. Na literatura,
também são denominados de dados referenciados espacialmente.

65
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

E
IMPORTANT

A correlação topológica é importante na representação computacional.


As relações topológicas como adjacência, pertinência e intersecção, permitem que se
estabeleça os relacionamentos entre os objetos geográficos (CÂMARA; MEDEIROS, 1996).

De acordo com D’Alge (2001, p. 6-7) “O georreferenciamento de imagens


pressupõe uma relação estabelecida entre o sistema de coordenadas de imagem
e o sistema de referência da base de dados”. Quanto à base de dados, segundo
Miranda (2015, p. 34):

Trata-se de uma coleção de mapas e informações associadas na


forma digital. Desde que a base de dados se relaciona com elementos
da superfície da Terra, ela pode ser vista como formada por dois
elementos – uma base de dados espacial, descrevendo a geografia
(forma e posição) de elementos da superfície da Terra; e uma base de
dados com atributos, descrevendo as características ou qualidades
destes elementos (MIRANDA, 2015, p. 34).

A figura a seguir apresenta dados manipulados por um SIG. Ela mostra os
diferentes elementos Mencionados por Miranda (2015).

FIGURA 1 – DADOS MANIPULADOS POR UM SIG

FONTE: Calijuri e Loures (2003, p. 5)

Miranda (2015) destaca que em determinados sistemas, as bases de dados


espacial e de atributos são distintas, enquanto em outros sistemas elas podem
estar integradas proximamente em uma única entidade.

De acordo com Calijuri e Loures (2003, p. 10) “qualquer fenômeno gráfico


pode ser reduzido a um dos três conceitos topológicos básicos: pontos, linhas e
polígonos”, que, de modo geral, são “definidos, nos mapas, usando-se um sistema

66
TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS

de coordenadas cartesianas X,Y, como latitude e longitude [...]”. Esse sistema


de coordenadas cartesianas é o mais utilizado como ferramenta para medir
localizações espaciais e analisar suas várias propriedades, como distâncias”.

A representação espacial pode ser realizada a partir de diferentes técnicas


de representação. A seguir, apresentamos sete tipos de técnicas de representação
espacial de dados geográficos.

QUADRO 1 – DECOMPOSIÇÃO DE TIPOS DE DADOS GEOGRÁFICOS E MÉTODOS DE


REPRESENTAÇÃO

FONTE: Calijuri e Loures (2003, p. 11)

A coleção de dados referenciados espacialmente forma o Banco de


Dados Geográficos, que funciona como um modelo da realidade. De acordo com
Garcia (2014, p. 59), o BDG é o repositório de dados de um SIG “responsável
pelo armazenamento e recuperação de dados geográficos em suas diferentes
geometrias (imagens, vetores, grades), bem como pelas informações descritivas
(atributos não espaciais).

67
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

Cabe ressaltar que existe uma distinção entre Banco de Dados Espaciais e
Banco de Dados Geográficos. Segundo Filho e Iochpe (1996, p. 3-4):

Banco de Dados Espaciais é o nome atribuído aos sistemas


gerenciadores de banco de dados, capazes de gerenciar dados com
representação geométrica. São utilizados em diversas áreas não só as
ligadas ao Geoprocessamento, como também nas áreas de Medicina,
Astronomia, Engenharia etc. [MED 94]
O termo Banco de Dados Geográficos caracteriza os sistemas de Banco
de Dados Espaciais utilizadas em aplicações de Geoprocessamento,
ou seja, são uma especiallização dos sistemas de Banco de Dados
Espaciais [CAM 94] (FILHO; IOCHPE, 1996, p. 3-4).

Segundo o IBGE (2019, p. 37), o padrão da International Organization for


Standardization (ISO) e da Open Geospatial Consortium (OGC) estabelece nove
métodos para testar relacionamentos espaciais entre objetos geométricos, na
estrutura vetorial, em um banco de dados geográfico: “equal (iguais); disjoint
(disjuntos); intersects (interceptam); touches (tocam); crosses (cruzam); within
(dentro de); contains (contém); overlaps (sobrepõem); e relate (relacionam-
se)”. Conforme a geometria primitiva (ponto, linha e área) são possíveis os
relacionamentos espaciais entre: pontos; ponto e linha; ponto e área; linhas; linha
e área; e entre áreas (IBGE, 2019). Os possíveis relacionamentos com a geometria
ponto são mostrados a seguir.

QUADRO 2 – RELACIONAMENTOS ESPACIAIS ENTRE AS GEOMETRIAS DO TIPO PONTO,


LINHA E ÁREA

FONTE: Adaptado de Borges (1997), Brasil (2008) e IBGE (2019, p. 38)

A seguir, apresentamos os relacionamentos possíveis entre as geometrias


linha e área.

68
TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS

QUADRO 3 – RELACIONAMENTOS ESPACIAIS ENTRE AS GEOMETRIAS DO TIPO LINHA E ÁREA

FONTE: Adaptado de Borges (1997), IBGE (2019, p. 38) e Brasil (2008)

A figura a seguir apresenta os relacionamentos possíveis entre as


geometrias do tipo área.

FIGURA 2 – RELACIONAMENTOS ESPACIAIS ENTRE AS GEOMETRIAS DO TIPO ÁREA

FONTE: Adaptado de Borges (1997) e IBGE (2019, p. 38)

Vimos que dados georreferenciados é o nome atribuído às informações


manipuladas pelas aplicações de Geoprocessamento. De acordo com Filho e
Iochpe (1996 p. 6):

Devido às características das aplicações de Geoprocessamento, a
obtenção dos dados é feita, em sua maioria, a partir de fontes brutas de
dados, ou seja, as aplicações tratam com entidades ou objetos físicos
distribuídos geograficamente, como por exemplo, rios, montanhas,
ruas, lotes etc. Isso torna o processo de obtenção de dados uma
das tarefas mais difíceis e importantes no desenvolvimento desses

69
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

sistemas. Um SIG pode ser alimentado por informações de diversas


fontes, empregando tecnologias como digitalização de mapas,
aerofotogrametria, sensoriamento remoto, levantamento de campo
[ROD 90] (FILHO; IOCHPE,1996, p. 6).

De acordo com o IBGE (2019), existem diferentes tipos de dados


em Geoprocessamento. Segundo o referido instituto, as tecnologias de
Geoprocessamento utilizam e manipulam os seguintes tipos de dados:

• Dados de referência e cadastrais: parte espacial de referência para o SIG. Estes


dados ficam armazenados em forma de coordenadas (vetorial ou matricial), e
seus atributos não gráficos ficam armazenados em um banco de dados.
• Dados temáticos: permitem a representação matricial e vetorial e são dados
que se referem à temática a ser abordada no SIG. Estes dados podem ser
estatísticos, de vegetação, de uso do solo, de geologia, de litologia, entre outros.
• Redes: são parte dos dados de referência e temáticos armazenados em forma
de coordenadas vetoriais, com atributos não gráficos são armazenados em um
banco de dados.
• Imagens de sensoriamento remoto: são empregados no mapeamento de
referência e temático armazenadas em representação matricial.
• Modelos digitais de elevação (MDE): modelos digitais que representam
as altitudes da superfície topográfica associada aos elementos geográficos
existentes sobre ela.
• Modelo digital de terreno (MDT): modelos digitais que representam as
altitudes da superfície topográfica, sem considerar as alturas dos elementos
geográficos existentes sobre ela.
• Dados tabulares: são aqueles associados ou não aos dados gráficos ou espaciais,
na estrutura vetorial. Estes dados podem abranger diferentes informações
descritivas e complementares das entidades espaciais.

2.1. CONCEITOS RELACIONADOS COM DADOS


GEORREFERENCIADOS
Já que estamos tratando de dados georreferenciados, apresentaremos, a
seguir, alguns conceitos relacionados com os dados georreferenciados que, de
acordo com Filho e Iochpe (1996), são comumente são utilizados em SIG.

2.1.1 Mapa
Segundo Oliveira (1993) apud Filho e Iochpe (1996), a origem da palavra
mapa é cartaginesa, cujo significado é “toalha de mesa”. A origem do termo foi
dada porque as rotas de viagem dos antigos comerciantes e navegadores eram
definidas desenhando-se diretamente sobre as toalhas (mappas). De acordo com
Menezes e Fernandes (2013, p. 21):

70
TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS

“O conceito de mapa é caracterizado como uma representação plana,


dos fenômenos sociobiofísicos, sobre a superfície terrestre, após a
aplicação de transformações, a que são submetidas as informações
geográficas (MENEZES, 2000). Por outro lado, um mapa pode ser
definido como uma abstração da realidade geográfica e considerado
como uma ferramenta poderosa para a representação da informação
geográfica de forma visual, digital ou tátil (BORD, 1975)” (MENEZES;
FERNANDES, 2013, p. 21).

De acordo com Filho e Iochpe (1996, p. 6), entre outras coisas, a confecção
de um mapa requer a escolha “das características a serem incluídas no mapa, a
classificação dessas características em grupos, a simplificação para representação,
a ampliação de certas características para que possam ser representadas e a
escolha de símbolos para representar diferentes classes”.

2.1.2 Escala
Segundo o IBGE (1999, p. 23), “a escala é a relação entre a medida de
um objeto ou lugar representado no papel e sua medida real”. Para Filho e
Iochpe (1996), a escala é a razão entre as distâncias no mapa e suas distâncias
correspondentes no mundo real. Em um mapa de escala de 1:50.000, por exemplo,
um centímetro no mapa corresponde a 50.000 cm (ou 500 m) na superfície terrestre
(FILHO; IOCHPE, 1996). Para Menezes e Fernandes (2013, p. 50) isso significa que
“as medidas de comprimento e área efetuadas no mapa terão representatividade
direta sobre os seus valores reais no terreno”. De acordo com Menezes e Fernandes
(2013 p. 50-51):

Em uma conceituação mais ampla, a escala cartográfica vem a ser


um fator determinante para a delimitação do espaço físico, grau
de detalhamento de uma representação ou identificação de feições
geográficas, uma vez que a própria percepção espacial depende
da amplitude da área em estudo. Essa amplitude é definida pelas
dimensões lineares da área no terreno na representação. Dessa forma,
existe uma razão matemática, topográfica e métrica associada à
escala cartográfica, o que não significa que ela responde unicamente
por suas propriedades matemáticas. Com a escala cartográfica, a
informação geográfica poderá ser visualizada segundo diferentes
níveis de detalhamento, proporcionando diferentes possibilidades de
intepretação (MENEZES; FERNANDES, 2013 p. 50-51).

Em termos lineares, dispõe-se da seguinte relação adimensional de escala


linear:

• EL= d/D

Em que:

• d= medida linear da representação e d=medida linear real

71
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

2.1.3 Projeção
A transformação projetiva é “um processo transformação cartográfica em
que um sistema de projeção é adotado para que uma informação geográfica seja
plotada em uma representação bidimensional plana e associada a um sistema de
coordenadas” (MENEZES; FERNANDES, 2013).

De acordo com Menezes e Fernandes (2013) as diferentes transformações


projetivas podem afetar na forma, área, comprimento, entre outros aspectos
relacionados com as informações a serem plotadas em um mapa, o que pode criar
codificações diversas e influenciar na cognição do usuário final e na comunicação
cartográfica, por consequência.

Segundo o IBGE (1999, p. 37), “na impossibilidade de se desenvolver


uma superfície esférica ou elipsódica sobre um plano sem deformações, na
prática, buscam-se projeções tais que permitam diminuir ou eliminar parte das
deformações conforme a aplicação desejada”. Dessa forma, de acordo com o
referido instituto, destacam-se as projeções equidistantes, conformes, equivalentes
e afiláticas.

Vamos ver as principais características dessas projeções cartográficas,


conforme as suas propriedades?

• Equidistantes: são aquelas que não apresentam deformações lineares para


algumas linhas em especial, ou seja, os comprimentos são representados em
escala uniforme.
• Conformes: representam sem deformação todos os ângulos em torno de
quaisquer pontos, não deformando desta maneira, pequenas regiões.
• Equivalentes: apresentam a propriedade de não alterar as áreas, conservando
uma relação constante com suas correspondentes na superfície terrestre. Seja
qual for a porção representada em um mapa, ela conserva a mesma relação
com a área de todo o mapa.
• Afiláticas: não apresentam nenhuma das propriedades dos outros tipos, ou
seja, as projeções em que as áreas, os ângulos e os comprimentos não são
conservados.

Agora que conhecemos alguns conceitos relacionados com dados


georreferenciados, para finalizarmos este item, retomaremos nossa abordagem
sobre a natureza dos dados geográficos, aqueles referenciados espacialmente ou
georreferenciados. Eles possuem determinados componentes que armazenam
informações.

Aronof (1989), em uma publicação sobre os Sistemas de Informações


Geográficas, citado por Filho e Iochpe (1996), pontuam que os dados
georreferenciados apresentam quatro componentes principais: o que é a
entidade, onde ela está localizada, qual o relacionamento com outras entidades e

72
TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS

em que momento ou em que período a entidade é válida. Segundo o autor, esses


componentes são: atributos qualitativos e quantitativos, atributos de localização
geográfica, relacionamento topológico e componente tempo. Vamos conhê-los?

De acordo com a citação de Filho e Iochpe (1996), os atributos qualitativos


e quantitativos armazenam as características das entidades mapeadas e podem
ser representados por tipos de dados alfanuméricos. Eles apresentam aspectos
não gráficos e podem ser tratados pelos SGBD convencionais. Os atributos de
localização geográfica se referem à geometria dos objetos e envolmem conceitos
de métrica, sistemas de coordenadas, distância entre pontos, posicionamento
geodésico, entre outros. O relacionamento topológico representa as relações
de vizinhança espacial interna e externa dos objetos. A exigência deste aspecto
é a existência de modelos e métodos de acesso não convencionais para sua
representação nos SGBDs. Quanto ao componente tempo, é aquele que se refere
às características temporais, sazonais ou períodicas dos objetos (ARONOF, 1989
apud FILHO; IOCHPE 1996).

O relacionamento topológico inclui “pertinência e adjacência, relações


direcionais como “ao norte de”, e relações informais como “no coração de” ou
“perto de” (CÂMARA, 2005). Por exemplo: afluente: curso de água que deságua
em outro curso de água, considerado principal.

Trataremos, agora, da representação computacional de dados geográficos


e conhecer alguns tipos de medidas de dados geográficos.

2.2 REPRESENTAÇÃO COMPUTACIONAL DE DADOS


GEOGRÁFICOS
Agora, apresentaremos os problemas básicos de representação com-
putacional de dados geográficos, conforme a abordagem de Câmara (2005), que
procura esclarecer questões da seguinte natureza: como representar os dados
geográficos no computador? Como as estruturas de dados geométricas e al-
fanuméricas se relacionam com os dados do mundo real? Que alternativas de
representação computacional existem para dados geográficos?

Para esclarecer tais questões, apresentaremos a abordagem feita por


Câmara (2005) sobre a representação de dados geográficos no computador, que
está relacionada com os atributos de dados geográficos: teoria da medida.

Segundo Câmara (2005), para representar dados geográficos no computa-


dor, é preciso descrever sua variação no espaço e no tempo. De acordo com o au-
tor, isso significa que é preciso fazer perguntas como: “qual é o valor deste dado
aqui e agora?” – o que requer uma compreensão dos processos de mensuração
da realidade.

73
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

De acordo com Câmara (2005, p. 11): “o processo de medida consiste em


associar números ou símbolos a diferentes ocorrências de um mesmo atributo,
para que a relação dos números ou símbolos reflita as relações entre as ocorrências
mensuradas”. Um exemplo mencionado pelo autor é a mensuração da poluição
numa cidade através de sensores localizados em diferentes locais, em que cada
um desses sensores apresenta uma medida diferente. Esta atribuição é conhecida
como escala de medida. Segundo o autor, uma importante referência geral
acerca das escalas de medidas é o trabalho de Stevens (1946), que propõe quatro
escalas de mensuração: nominal, ordinal, intervalo e razão. Vamos conhecer
essas medidas.

De acordo com Câmara (2005), os níveis nominal e ordinal são temáticos,


tendo em vista que cada medida recebe um número ou nome associando a
observação a um tema ou classe. A classificação de objeto na escala nominal é
feita em classes distintas sem ordem inerente. Um exemplo é a cobertura do solo,
com rótulos como “floresta”, “área urbana” e “área agrícola”.

Segundo o referido autor, a escala ordinal apresenta a ideia de ordenação,


distinguindo os objetos em diferentes classes que possuem uma ordem natural,
por exemplo, 1 – ruim, 2 – bom, 3 – ótimo ou “0-10%”, “11-20%”, “mais que 20%”.
Neste tipo de escala, as relações “”, de modo que para todo a e b, as relações a <
b, a > b ou a = b são possíveis. A aptidão agrícola de solos é um exemplo é com
rótulos como “muito apto”, “apto”, “pouco apto”, e “inapto”, conforme mostra
a Figura 3.

FIGURA 3 – EXEMPLOS DE MEDIDA NOMINAL (MAPA GEOLÓGICO) E MEDIDA ORDINAL


(MAPAS DE CLASSES DE DECLIVIDADE)

FONTE: Câmara (2005, p. 12)

No caso das medidas temáticas, Câmara (2005) pontua que não se


associam à magnitude do fenômeno. Quando há necessidade de uma descrição
mais detalhada, que permita comparar intervalo e ordem de grandeza entre
eventos, o autor destaca que se recorre aos níveis de medidas numéricos, onde as
regras de atribuição de valores se baseiam em uma escala de números reais.

74
TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS

Quanto aos níveis de medidas baseados em escalas de números reais,


Câmara (2005) destaca as escalas por intervalo e por razão. De acordo com
Câmara (2005, p. 12), “a escala por intervalo possui um ponto zero arbitrário, uma
distância proporcional entre os intervalos e uma faixa de medidas entre [-∞,∞]”.
Um exemplo de medida por intervalo apresentado pelo autor é a temperatura em
graus Celsius, onde o ponto zero corresponde a uma convenção, ou seja, a fusão
do gelo em água. Por ter uma referência zero arbitrária, o autor pontua que valores
medidos no nível por intervalo não podem ser usados para estimar proporções.

A escala de razão, segundo Câmara (2005, p. 13) “permite um tratamento


mais analítico da informação, pois nela o ponto de referência zero não é arbitrário,
mas determinado por alguma condição natural. Sua faixa de valores é limitada
entre [0,∞]”. De acordo com o autor “Nesta escala existe um ponto zero absoluto
que não pode ser alterado e um intervalo arbitrário com distâncias proporcionais
entre os intervalos. Neste caso, o autor ressalta que números negativos não são
permitidos, porque o número zero representa ausência total do que está sendo
medido. Um exemplo apresentado pelo autor é a descrição de atributos como
peso e volume de objetos em que não há valores negativos. Outro exemplo é a
medida da temperatura em graus Kelvin, pois a condição natural é o ponto de
repouso dos átomos da matéria, a partir do qual não se alcança temperaturas
menores.

A Tabela 1 mostra um resumo das escalas de medidas, apresentando


algumas operações admitidas e exemplos para cada uma delas.

TABELA 1 – TIPOS DE MEDIDAS DE DADOS GEOGRÁFICOS

Escala Características Exemplos Operações possíveis

Tipo de solo, vegetação, uso


Nominal Descrição Seleção de comparação
do solo

Classes de declividade, Mediana, Máximo,


Ordinal Ordem
aptidão de uso mínimo

Intervalo Distância Altimetria Diferença, soma

Renda, população, taxa de


Razão Valores absolutos Operações aritméticas
natalidade

FONTE: Câmara (2005, p. 13-14)

Portanto, acadêmico, estudamos a representação de dados geográficos no


computador, que está relacionada com os atributos de dados geográficos: teoria
da medida. Agora, apresentaremos uma breve explanação sobre fontes de dados
geográficos.

75
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

3 FONTE DE DADOS GEOGRÁFICOS


Miranda (2015) pontua que, alguns estados do Brasil estão avançados
quanto à disponibilidade de dados geográficos. No entanto, o autor afirma que
não se pode contar ainda com grandes disponibilidades de dados para todas
as regiões do país, pois existem regiões que foram ou são mais amostradas que
outras. Às vezes, ressalta o autor, há informação disponível, mas a escala não
atende às necessidades do trabalho a ser realizado pelo analista.

Os fornecedores de dados são colaboradores externos do SIG (MIRAN-


DA, 2015). O autor ressalta que estes fornecedores são empresas públicas, pri-
vadas ou o próprio usuário. Contudo, afirma que o maior fornecedor de dados
geográficos no país é o IBGE.

De acordo com Miranda (2015), as empresas públicas geralmente colocam


os dados à disposição do usuário, contando que sejam utilizados para fins não
lucrativos. Entretanto, pontua o autor, a venda dos dados é o mais comum. Neste
caso, os preços são mais acessíveis, pois as empresas públicas não visam o lucro.

Mapas, observações de campo, imagens captadas por sensores em


satélites ou aeronaves, informações coletadas via GPS, são fonte de dados
espaciais que podem ser convertidos para uma forma digital para aplicação em
SIG (MIRANDA, 2015).

De acordo com Filho e Iochpe (1996) a obtenção de dados em aplicações


de Geoprocessamento não se limita à entrada de dados e a simples operações
de inserção. Dessa forma, os autores destacam que as dificuldades surgem pelas
seguintes razões: por se referir a informações gráficas, que já figuram como
uma tarefa mais complexa do que a entrada de dados alfanuméricos e devido à
natureza das fontes de dados destas aplicações.

Saldanha (2005) pontua que o mapeamento sistemático nacional, reali-


zado no Brasil pela Diretoria de Serviço Geográfico (DSG) do Exército Brasileiro
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é a principal fonte
de dados geográficos para os SIGs. Segundo os autores, até o final da década de
1980, estas instituições produziram material cartográfico apenas em meio analó-
gico através da impressão em papel de cartas topográficas. Entretanto, o autor
salienta que, com os avanços tecnológicos, a partir de meados da década de 1990,
os restituidores analógicos foram modernizados por meio da adaptação de dis-
positivo tipo encolder (conversor analógico digital) associados a computadores
com sistemas CAD, possibilitando a produção de dados espaciais em meio digital
através do processo de digitalização vetorial.

Segundo Filho e Iochpe (1996), as fontes de dados podem variar de acordo


com o tipo de aplicação. O autor apresenta as seguintes aplicações: sistema de
suporte a uma companhia de distribuição de água, em que as entidades a serem
representadas são os canos, as válvulas e os diversos tipos de conexões; sistema

76
TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS

de roteamento intermunicipal de veículos, que manipula estrutura de rede, em


que representamos cidades e as ligações com os possíveis caminhos entre duas
cidades; ou mesmo um sistema de gerenciamento marítimo da costa brasileira,
em uma escala provavelmente menor do que nas demais aplicações. Dessa forma,
ressaltam os autores, é possível perceber que em alguns casos os dados precisam
ser adquiridos diretamente da realidade, ou seja, fontes brutas, tendo em vista
que nem sempre há um mapa pronto, na escala apropriada.

Sobre os dados manipulados em um SIG, Filho e Iochpe (1996, p. 9)


destacam:

Os dados manipulados em um SIG, podem ser entidades ou fenômenos


geográficos distribuídos sobre a superfície da terra, podendo
pertencer a sistemas naturais ou criados pelo homem, tais como tipos
de solos, vegetação, cidades, propriedades rurais ou urbanas, redes
de telefonia, escolas, hospitais, fluxos de veículos, aspectos climáticos
etc. Podem ser também objetos resultantes de projetos envolvimento
entidades que ainda não existiam, como por exemplo, o planejamento
de uma barragem para a construção de uma usina hidroelétrica [RAM
94] (FILHO; IOCHPE, 1996, p. 9).

Segundo Miranda (2015), a base de dados ocupa uma posição de destaque


em SIG. Quanto à entrada de dados em SIG, Filho e Iochpe (1996) afirmam que
é importante, pois é a partir destes dados que as análises são realizadas e as
decisões são tomadas. Portanto, vamos conhecer os métodos de aquisição destes
dados a seguir.

DICAS

Na área de geociências do IBGE é possível fazer downloads de cartas, imagens,


imagens aéreas e orbitais, mapas, malhas, atlas e arquivos Google Earth, entre outros.
Para consultar esta base, acesse o link: https://www.ibge.gov.br/geociencias/downloads-
geociencias.html.

4 MÉTODOS PARA AQUISIÇÃO DE DADOS


A entrada de dados consiste na operação de codificação e escrita dos dados
no BD (SALDANHA, 2005). Segundo o autor, manter um banco de dados livre de
inconsistências é uma tarefa complexa da qual depende a finalidade do SIG.

Existem diferentes métodos para a obtenção de dados. Contudo,


Aronof (1989 apud FILHO; IOCHPE, 1996) salientam que os mais utilizados
são a digitalização manual; a leitura ótica realizada através de dispositivos de
77
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

varredura tipo “scanner”; a digitação feita através de teclado; além da leitura de


dados derivadas de fontes de armazenamento secundário, como fitas magnéticas,
discos óticos, teleprocessamento, entre outros. Segundo Filho e Iochpe (1996), a
transferência destes dados para a base de dados SIG é feita através de captura
tipo levantamento de campo, sensoriamento remoto, imagens de satélites, entre
outros. Sampaio e Brandalize (2018, p. 92) destacam que os processos indiretos
aquisição de dados “correspondem à produção de bases cartográficas a partir
da vetorização de imagens (fotos aéreas, imagens de satélite ou radar) ou bases
cartográficas preexistentes (impressas)”.

De acordo com Calijuri e Loures (2003, p. 24) “a digitalização é o processo


de conversão de feições gráficas de um mapa convencional (pontos, linhas e
polígonos) para um formato compatível para uso em computador”. De acordo
com os autores, este processo pode ser realizado através da digitalização
ou vetorização manual (utilizando-se mesas digitalizadoras) e por meio da
digitalização ou vetorização automática (utilizando-se scanners).

Segundo Saldanha (2005), a técnica de digitalização vetorial por meio de


mesa digitalizadora foi o primeiro procedimento de conversão de cartas para o
meio digital em formato vetorial. Contudo, pontua o autor, com o advento dos
scanners, houve uma migração dos produtores de cartas para a digitalização
vetorial em tela.

A mesa digitalizadora, equipamento básico processo de digitalização


manual, é composta por três partes principais: uma superfície plana para a fixação
do mapa; um dispositivo para a mensuração das coordenadas; e um cursor, que
indica cada posição da mesa em relação ao sistema de referência adotado.

FIGURA 4 – COMPONENTES DA MESA DIGITALIZADORA

FONTE: Calijuri e Loures (2003, p. 24)

78
TÓPICO 1 — DADOS GEORREFERENCIADOS

De acordo com Calijuri e Loures (2003), utilizam-se dois indicadores de


exatidão para aferir a qualidade de digitalização: a resolução e a precisão. A
resolução é a menor distância que pode ser medida ao longo dos eixos horizontal
e vertical, enquanto a precisão é o erro máximo resultante de uma série de
medidas sobre um mesmo ponto (CALIJURI; LOURES, 2003). Para Saldanha
(2005), a precisão de posicionamento está relacionada com o espaçamento
entre os fios, que pode chegar a precisões de construção da ordem de 0,01mm.
Contudo, afirma o autor, chegar a esta exatidão não é uma tarefa fácil devido,
principalmente, a fatores humanos. Segundo Miranda (2015), no processo de
digitalização, a precisão está limitada a pelo menos três fatores: resolução da
própria mesa digitalizadora, prática do operador e precisão do dado original.

Filho e Iochpe (1996, p. 10):

A digitalização é o método no qual uma folha de papel contendo


um mapa é colocada sobre uma mesa digitalizadora e, através de
um dispositivo de apontamento (ex. caneta ótica), um operador vai
assinalando diversos pontos, que são calculados e interpretados como
pares de coordenadas x e y. Normalmente, no início do processo
de digitalização, três ou mais pontos de coordenadas conhecidas
são cadastrados no sistema para serem utilizados como pontos de
referência no cálculo das coordenadas dos pontos digitalizados [PAR
94] (FILHO; IOCHPE, 1996, p. 10).

A eficiência do processo de digitalização depende da qualidade do


software de digitalização, assim como também da experiência do operador. Essa é
uma tarefa que exige tempo e que pode ocasionar erros. Dessa forma, os softwares
de digitalização oferecem mecanismos que permitem ao operador identificar e
corrigir possíveis erros introduzidos (FILHO; IOCHPE, 1996).

De acordo com Sampaio e Brandalize (2018), embora as mesas


digitalizadoras ainda sejam muito utilizadas nas áreas de publicidade e artes,
foram gradativamente substituídas por outras tecnologias, como os processos
de vetorização de representações rasterizadas por meio de scanners de alta
resolução. Os autores afirmam que, os processos de vetorização de representações
cartográficas rasterizadas dominam este tipo de entrada de dados em SIG e “têm
como referência documentos ou acervos cartográficos analógicos transformados
para o formato matricial digital (raster) a partir do uso de scanners de alta
resolução” (SAMPAIO; BRANDALIZE, 2018, p. 57). Quanto ao método de leitura
ótica, Filho e Iochpe (1996, p. 10):

Os métodos de leitura ótica através de dispositivos de varredura


(“scanner”), permite a criação de imagens digitais a partir da
movimentação de um detector eletrônico sobre um mapa. É um
processo bem mais rápido que a digitalização, mas não é adequado a
todos os tipos de situações. Para ser lido por um “scanner”, um mapa
precisa apresentar algumas características que vão permitir a geração
de imagens de boa qualidade. Por exemplo, alguns textos podem ser
lidos acidentalmente como se fossem entidades, linhas de contorno
podem ser quebradas por textos ou símbolos do mapa etc. [NCG 90].
(FILHO; IOCHPE, 1996, p. 10).

79
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

Os rastreadores óticos são dispositivos de entrada mais avançados que


as mesas digitalizadoras e executam a maior parte do trabalho de entrada sem
muita intervenção do usuário (MIRANDA, 2015). De acordo com Miranda (2015,
p. 52): “Rastrear é uma maneira de codificar através da conversão de uma imagem
analógica para digital contendo uma matriz regular de células”. De acordo com
o autor, os rastreadores trabalham com o seguinte princípio: as marcas do mapa
refletem um feixe de luz diferente das áreas que são brancas; estas diferenças
são registradas digitalmente, resultando em uma imagem digital construída
com variações de valores refletidas. Miranda (2015) afirma, ainda, que este é um
processo que se assemelha às imagens obtidas por sensoriamento remoto.

Existem diferentes tamanhos de rastreadores. Miranda (2015) apresenta


esses rastreadores em diferentes categorias, de acordo com o tamanho: os rastre-
adores formatos A0 (e formatos maiores) são chamados pelo autor de “pedestal”;
e os rastreadores de formato A4 são chamados por ele de “rastreadores de mesa”.

A digitalização via teclado é empregada para inserir atributos não


gráficos, como aquelas levantadas em campo (FILHO; IOCHPE, 1996). Contudo,
o emprego de GPS passou a ser empregado neste tipo de inserção. De acordo
com os autores, este sistema possibilita a realização de levantamento de campo
com alto grau de acurácia com registros que podem ser realizados diretamente
em meio digital. Além deste sistema, temos sua evolução, o GNSS (vem de Global
Navigation Satellite System), ou seja, Sistema Global de Navegação por Satélite,
que além de navegação também é um sistema de posicionamento, empregado em
levantamentos topográficos e/ou geodésicos, que proporciona um melhor rastreio
das informações. Este sistema determina as coordenadas para levantamento de
dados por meio de informações recebidas dos sinais de satélites.

Chegamos ao final deste tópico. Lembre-se de realizar as autoatividades


sobre os assuntos abordados, pois elas permitem uma avaliação da compreensão
sobre dos assuntos abordados. No final desta unidade há uma leitura complementar
com informações referentes às características dos dados geográficos, que não
foram explanados. Explore este conteúdo para a conhecer um pouco mais sobre
este tema.

80
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Dados geográficos possuem uma componente espacial, razão pela qual são
conhecidos como dados espaciais. Esses dados buscam representar a superfície
da Terra e possuem atributos relacionados com sua localização geográfica,
dentro de um sistema de coordenadas.

• A coleção de dados referenciados espacialmente forma o Banco de Dados


Geográficos, que funciona como um modelo da realidade. O Banco de Dados
Geográficos caracteriza os sistemas de Banco de Dados Espaciais utilizadas em
aplicações de Geoprocessamento.

• Para representar dados geográficos no computador, é preciso descrever sua


variação no espaço e no tempo, o que significa fazer perguntas como: “qual é o
valor deste dado aqui e agora?”, o que requer uma compreensão dos processos
de mensuração da realidade.

• Alguns estados do Brasil estão avançados quanto à disponibilidade de dados


geográficos, mas não se pode contar com grandes disponibilidades de dados
para todas as regiões do país, pois existem regiões que foram ou são mais
amostradas que outras.

• Existem diferentes métodos para a obtenção de dados, mas os mais utilizados


são a digitalização manual; a leitura ótica realizada através de dispositivos de
varredura tipo “scanner”; a digitação feita através de teclado; além da leitura
de dados derivadas de fontes de armazenamento secundário.

81
AUTOATIVIDADE

1 Em um ambiente SIG, os dados podem ser categorizados em diferentes


tipos de dados, incluindo aquele que utilizam atributos alfanuméricos
empregados na descrição de objetos. Sobre ao que se referem os dados
representados por pontos, linhas, polígonos, utilizados para representar
graficamente elementos geográficos, como sistema viário, drenagem,
relevo, vegetação, limite político etc., assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Dados espaciais.
b) ( ) Dados pictóricos.
c) ( ) Dados convencionais.
d) ( ) Dados segmentados.

2 Os dados georreferenciados apresentam diferentes componentes, entre


eles, o que é a entidade e onde ela está localizada. No que se refere ao
componente que representa as relações de vizinhança espacial interna e
externa dos objetos, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Dados pictóricos.
b) ( ) Dados espaciais.
c) ( ) Dados convencionais.
d) ( ) Dados segmentados.

3 Segundo Câmara (2005), uma importante referência sobre escalas de


medidas é o trabalho de Stevens (1946), que propõe quatro escalas de
mensuração: nominal, ordinal, intervalo e razão.

FONTE: CÂMARA, G. Representação computacional de dados geográficos. In: CASANOVA,


M. et al. Bancos de Dados Geográficos. Curitiba: MundoGEO, 2005.

82
FONTE: Adaptada de Câmara (2005)

Dessa forma, observe o mapa de litologia da Bacia do Alto Rio Grande.


Em seguida, assinale a alternativa CORRETA que apresenta a escala de
mensuração representada:

a) ( ) Razão.
b) ( ) Nominal.
c) ( ) Ordinal.
d) ( ) Intervalo.

4 Existem diferentes métodos para a obtenção de dados, incluindo a


digitalização manual e a leitura por rastreadores óticos. Neste sentido,
discorra em que consiste a digitalização manual.

5 A digitalização via teclado é empregada para inserir atributos não


gráficos em um ambiente SIG. Neste contexto, apresente o tipo de registro
empregado nesta inserção e tecnologias que podem ser utilizadas.

83
84
TÓPICO 2 —
UNIDADE 2

ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS


ESPACIAIS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, conheceremos o armazenamento de dados em SIG e


como é importante que essa informação seja estruturada de forma a garantir a
acessibilidade dos dados para os diversos grupos de usuários.

Veremos que modelos de dados existentes para SIG estão relacionados


com as diferentes formas de percepção da realidade e que estes modelos de dados
podem ser divididos segundo duas visões: visão de campo e visão de objetos, que serão
caracterizadas e exemplificadas para uma melhor compreensão destes modelos.

Outro assunto a ser trabalhado neste tópico se refere ao processo de


Construir Topologia. Veremos que um Banco de Dados cartográficos pode ser
convertido em um banco de dados topológico por meio do cálculo e identificação
dos relacionamentos entre objetos, processo este conhecido como Construir
Topologia. Então, vamos iniciar este estudo tratando do armazenamento de
dados espaciais?

2 ARMAZENAMENTO DE DADOS EM SIG


Antes de iniciarmos nosso estudo sobre o armazenamento de dados
em SIG, vamos reforçar o conceito de dado geoespacial. De acordo com o
Decreto nº 6.666, de 27 de novembro de 2008, dado geoespacial é “aquele que se
distingue essencialmente pela componente espacial, que associa a cada entidade
ou fenômeno uma localização na Terra, traduzida por sistema geodésico de
referência, em dado instante ou período de tempo, podendo ser derivado, entre
outras fontes, das tecnologias de levantamento, inclusive as associadas a sistemas
globais de posicionamento apoiados por satélites, bem como de mapeamento ou
de sensoriamento remoto” (BRASIL, 2008).

De acordo com Filho e Iochpe (1996, p. 68), “o componente de armazena-
mento, denominado sistema de Banco de Dados Geográficos, estrutura e armazena
os dados de forma a possibilitar a realização das operações de análise e consulta”. O
Banco de Dados Geográficos é o repositório de dados de um SIG (GARCIA, 2014).
De acordo com Garcia (2014, p. 59), o BDG “é responsável pelo armazenamento e
pela recuperação de dados geográficos em suas diferentes geometrias (imagens, ve-
tores, grades), bem como pelas informações descritivas (atributos não espaciais)”.
85
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

Segundo Filho e Iochpe (1996), os SIG precisam armazenar grandes quan-


tidades de dados, além de disponibilizá-los para operações de consulta e análise.
Neste sentido, de acordo com os autores, os SBGD se tornaram fundamentais
para os SIG, por isso muitas pesquisas foram realizadas com o objetivo de buscar
soluções para a questão que envolve o gerenciamento de dados georreferencia-
dos e com crescente disponibilidade de dados geoespaciais. Camboim e Sluter
(2013), destacam que os esforços se tornaram relevantes para que essa informação
seja estruturada para garantir a sua acessibilidade para os diversos grupos de
usuários, razão pela qual foram criadas as Infraestruturas Nacionais de Dados
Espaciais (INDE).

No Brasil, a INDE foi instituída pelo Decreto Nº 6.666 de 27/11/2008 com


a seguinte definição: "Conjunto integrado de tecnologias; políticas; mecanismos e
procedimentos de coordenação e monitoramento; padrões e acordos, necessário
para facilitar e ordenar a geração, o armazenamento, o acesso, o compartilhamen-
to, a disseminação e o uso dos dados geoespaciais de origem federal, estadual,
distrital e municipal.", com o objetivo de “promover o adequado ordenamento na
geração, no armazenamento, no acesso, no compartilhamento, na disseminação e
no uso dos dados geoespaciais de origem federal, estadual, distrital e municipal,
em proveito do desenvolvimento do País” e, para atingir os objetivos dispostos
neste artigo, propôs-se a implantação do Diretório Brasileiro de Dados Geoespa-
ciais – DBDG, “que deverá ter no Portal Brasileiro de Dados Geoespaciais, de-
nominado “Sistema de Informações Geográficas do Brasil – SIG Brasil”, o por-
tal principal para o acesso aos dados, seus metadados e serviços relacionados”
(BRASIL, 2008).

Segundo Garcia (2014), o principal objetivo de um SIG é oferecer uma


visão mais abstrata dos dados, ocultando do usuário a forma como estes dados
estão armazenados ou mantidos. De acordo com o autor, os SIG armazenavam
tradicionalmente os dados geográficos e seus atributos em arquivos internos
aos softwares e sistemas em uso. Contudo, pontua o autor, este tipo de solução
passou a ser substituída pelo uso do SGBD, que facilitam o acesso aos dados
contidos no BDG.

Agora, faremos uma breve abordagem sobre os Modelos de Dados para


SIG, os Objetos Espaciais e o Sistema gerenciador de dados geográficos, funda-
mentais para compreender como dados são armazenados e disponibilizados
em SIG.

2.1 MODELOS DE DADOS PARA SIG


Filho e Iochpe (1996) pontuam que os modelos de dados existentes para
SIG estão relacionados com as diferentes formas de percepção da realidade. Para
Goodchild (1990), citado por Filho e Iochpe (1996), estes modelos de dados podem
ser divididos segundo duas visões: visão de campo e visão de objetos.

86
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

Na visão de campo, destacam Filho e Iochpe (1996 p. 14) “a realidade


é modelada por variáveis que possuem uma distribuição contínua no espaço,
por exemplo: temperatura, tipos de solo ou relevo”. De acordo com os autores,
as posições no espaço geográfico se associam a algum valor correspondente à
variável representada. Para Filho e Iochpe (1996, p. 14), “os objetos definidos com
o uso do modelo são, na verdade, abstrações que representam fenômenos que
acontecem na realidade (ex.: temperatura, pressão, umidade)”.

No que se refere à visão dos objetos, de acordo com os referidos autores,


“entidades reais são observadas como estando distribuídas sobre um grande
espaço vazio, onde nem todas as posições estão preenchidas e, além disso, mais de
uma entidade pode estar situada sobre uma mesma posição geográfica” (FILHO;
IOCHPE, 1996, p. 14).

Segundo Miranda (2015), geralmente, as entidades possuem relações,


como pertinência, localização e vizinhança, percebidas por nós de forma intuitiva.
Contudo, destaca o autor, os programas computacionais não conseguem discerni-
las, necessitando, para tal, de programas com a implementação de algoritmos.

Goodchil (1992 apud FILHO; IOCHPE, 1996, p. 14-15), identificou seis


tipos de modelos de dados baseados na visão de campo, usados em SIG. Vamos
conhecer cada um deles?

a) Amostragem Irregular de Pontos – o banco de dados contém um


conjunto de tuplas <x,y,z> representando valores coletados em
um conjunto finito de localizações irregularmente espaçadas (ex.:
estações de medição de temperatura).
b) Linhas de Contorno – o banco de dados contém um conjunto de
linhas, cada uma com um valor z associado. (ex.: curvas de nível).
c) Polígonos – a área é particionada em um conjunto de regiões, onde
a cada região está associado um valor que é único em todas as suas
posições. (ex.: tipos de solos).
d) Amostragem Regular de Pontos – como no item a, porém, com pon-
tos distribuídos regularmente. (ex.: Modelos Numéricos de Terreno).
e) Grade Regular de Células – A área é dividida em uma grade regular
de células, onde o valor de cada célula corresponde ao valor da variá-
vel para todas as posições dentro da célula. (ex.: imagens de satélites).
f) Grade Triangular – a área é particionada em triângulos irregulares.
O valor da variável é definido em cada vértice do triângulo e varia
linearmente sobre o triângulo. (ex.: TIN – Triangulated Irregular
Network) (FILHO; IOCHPE, 1996, p. 14-15).

A Figura 5 apresenta exemplos de modelos de dados na visão de campo.

FIGURA 5 – MODELOS DE DADOS NA VISÃO DE CAMPO

87
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

FONTE: Filho e Iochpe (1996, p. 15)

Segundo Miranda (2015, p. 109), “diferentes usuários e diferentes aplica-


ções podem ter diferentes modelos de dados para representar o mesmo fenômeno”.

Quanto ao Modelo de Objetos, Filho e Iochpe (1996) afirmam que os


objetos são representados como pontos, linhas ou áreas. Os autores pontuam que
dois objetos podem estar localizados na mesma posição geográfica, apresentando
coordenadas idênticas e que, muitas implementações não distinguem o banco
de dados, modelos de objetos e de campos. Um exemplo citado pelos autores é
um conjunto de linhas que pode representar contornos (modelo de campos), mas
pode representar estradas (modelo de objetos), contudo as implicações destas
interseções se diferem nos dois casos. No caso de aplicações socioeconômicas,
que tratam de entidades criadas pelo homem, como rede de transportes e escolas,
por exemplo, os referidos autores destacam que o modelo de objetos é mais
apropriado. Em aplicações ambientais, os autores afirmam, também, que os
modelos de campo são mais apropriados. Agora que conhecemos a divisão dos
modelos de dados e as características de cada um deles, conheceremos os objetos
espaciais armazenados em BD Geográfico.

2.2 OBJETOS ESPACIAIS


De acordo com Filho e Iochpe (1996), os objetos espaciais são representações
das entidades do mundo real, armazenadas no BD Geográfico. Segundo Miranda
(2015), o fenômeno espacial foi abstraído nas seguintes classes: ponto (dimensão
zero), linha (uma dimensão) e área (duas dimensões).

Na sequência, mostraremos como os objetos do tipo ponto, linha, área ou


superfície, são empregados para representar as diferentes entidades da realidade.

88
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

2.2.1 Ponto
Segundo Miranda (2015, p. 113) “um ponto é a representação gráfica mais
simples de um objeto”. O autor afirma que, de modo geral, um ponto representa
um fenômeno espacial que acontece em apenas um local no espaço, como, por
exemplo, uma árvore que “só pode existir uma delas no local em certo período de
tempo, pois ela pode vir a ser cortada” (MIRANDA, 2015, p. 113).

De acordo com Filho e Iochpe (1996, p. 16), “As entidades representadas


por objetos do tipo ponto, são aquelas que não possuem dimensões significativas,
de acordo com a escala em uso”. Segundo os autores, entidades como postes
elétricos, hidrantes, nascentes de rios, pontos de ônibus, entre outros, podem ser
representados pontualmente em mapas de escalas grandes, como nos mapas com
escala 1:5.000. Contudo, ressaltam que, em mapas de escalas um pouco menores,
como de 1:20.000, os pontos podem ser usados para representar a localização
de escolas, hospitais, prédios públicos, entre outros. Os autores ainda pontuam
que, em escalas muito pequenas, os pontos podem representar a localização de
cidades no mapa, por exemplo.

2.2.2 Linha
Segundo Miranda (2015, p. 113) “Linhas conectam, no mínimo, dois
pontos e são usadas para representar objetos que podem ser definidos em uma
dimensão”.

De acordo com Filho e Iochpe (1996, p. 17), “As entidades que são
representadas por objetos do tipo linha são aquelas que possuem uma distribuição
espacial (na escala em uso), por exemplo, as ruas, rodovias, estradas de ferro,
cabos telefônicos, rios etc.” ou, de acordo com Miranda (2015), a linha não
apresenta uma largura verdadeira, a menos que, segundo Garcia (2014), que esta
informação seja incluída como um atributo verdadeiro na tabela de atributos do
dado geográfico em questão.

Peuquet (1990 apud MIRANDA, 2015), destaca que, no caso de uma divisão
política ou dos paralelos ou meridianos, não se pode imaginar uma largura
para as linhas. Além disso, o autor pontua que, em um SIG, as linhas podem
desempenhar diferentes funções como: elementos isolados, em que as linhas não
são conectadas, como as falhas geológicas; elementos de estrutura em forma de
árvore, como rios; e elementos de estrutura de redes, como sistema viário.

Um destaque feito por Filho e Iochpe (1996) é de que as linhas também


podem ser empregadas, junto aos pontos, para representar estruturas de redes,
que são usadas em aplicações do tipo redes de utilidades públicas, como rede de
água; redes viárias, como mostra a Figura 6, que apresenta as entidades de uma
rede elétrica; e redes naturais, como redes hidrográficas. Linhas simples ou quase

89
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

retas, são representadas facilmente por um pequeno número de pontos, mas se


elas se tornam mais complexas, como linhas muito curvas, é necessário um maior
número de pontos para representá-las (MIRANDA, 2015).

FIGURA 6 – ENTIDADES DE UMA REDE ELÉTRICA

FONTE: Filho e Iochpe (1996, p. 17)

Sobre os atributos dos dados de uma rede Filho e Iochpe (1996, p. 17),
destacam que:

“Os atributos dos dados em uma rede podem estar relacionados aos
nós ou às ligações. Como exemplo de atributos de ligações pode-se
citar: direção do sentido do tráfego em uma rua, distância entre duas
cidades, diâmetro de uma tubulação, voltagem da rede elétrica etc.
Para atributos associados aos nós da rede pode-se citar: existência de
semáforo em um cruzamento, tipo de válvula em um nó de rede de
água, tipo do transformador de voltagem em uma rede elétrica etc.”
(FILHO; IOCHPE, 1996, p. 17).

2.2.3 Polígono
De acordo com Miranda (2015, p. 113):

“Os polígonos podem ser de três tipos: a) polígonos isolados, onde


a sua fronteira não é compartilhada em nenhuma parte por outro
polígono; b) polígonos adjacentes, onde cada segmento de fronteira
é compartilhado com pelo menos um outro polígono; c) polígonos
aninhados, onde um ou mais polígonos ficam inteiramente dentro
de um outro polígono (PEUQUET, 1990). Exemplo de polígonos
adjacentes são as fronteiras dos estados de um país. Linhas de contorno
fechadas no mapa topográfico são exemplos de polígonos aninhados”
(MIRANDA, 2015, p. 113).

Segundo Filho e Iochpe (1996), as entidades que apresentam características


bidimensionais são representadas no banco de dados por objetos do tipo polígono/
área. Os autores ressaltam que os limites das entidades podem ser definidos pelos
próprios fenômenos, como limites de um lago, ou podem ter sido criados pelo
homem, como limites de um município.
90
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

Quanto à distribuição no espaço, Filho e Iochpe (1996) afirmam que as


entidades podem ser representadas por polígonos isolados com possibilidade de
sobreposição, conforme mostra a Figura 7 (a), que exemplifica uma área usada
para cultivo de cana de açúcar entre as décadas de 1960 e 1990, ou cada posição
deve pertencer a exatamente uma única entidade, como mostra a Figura 7 (b) que
exemplifica limites de propriedades rurais/urbanas.

FIGURA 7 – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DE ÁREAS

FONTE: Filho e Iochpe (1996, p. 18)

As entidades podem apresentar certas particularidades. De acordo com


Filho e Iochpe (1996, p. 18), uma entidade pode conter regiões vazias (“buracos”),
ou outras entidades inseridas dentro da sua área, como mostra a Figura 8.

FIGURA 8 – DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL COM “BURACOS” OU “ILHAS”

FONTE: Filho e Iochpe (1996, p. 18)

2.2.4 Representação de Superfícies Contínuas


De acordo com Filho e Iochpe (1996), alguns fenômenos da natureza são
caracterizados por possuírem variação contínua no espaço como, por exemplo, a
elevação de terreno, a pressão atmosférica, a temperatura, entre outros. Quanto à
variação da elevação sobre uma área pode ser modelado de diferentes maneiras.
Os referidos autores pontuam que, no caso dos Modelos de Elevação Digital ou
Modelos Digitais de Terreno, podem ser representados tanto por superfícies
definidas matematicamente ou através de imagens de pontos/linhas.

Segundo Câmara e Davis (2001, p. 1), “modelos numéricos de terreno:


podem ser armazenados em grades regulares (representação matricial), grades
triangulares (representação vetorial com topologia arco nó) ou isolinhas (repre-
sentação vetorial sem topologia)”, como veremos em seguida.
91
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

De acordo com o INPE (2021), o termo modelo numérico de terreno


denota a representação de uma grandeza que varia continuamente no espaço,
normalmente associado a altimetria. Na sua representação, dois tipos podem
ser utilizados: grades regulares, que apresenta uma matriz de elementos com
espaçamento fixo, onde o valor estimado da grandeza é associado na posição
geográfica de cada ponto da grade; e malhas triangulares, que apresenta uma
grade formada por conexão entre amostras do fenômeno, utilizando a triangulação
de Delaunay. Esta grade triangular é uma estrutura topológica vetorial do tipo
arco nó que formam recortes triangulares do espaço (INPE, 2021).

As representações baseadas em imagens de pontos mais conhecidas são


as matrizes de altitude, em que os dados são coletados em intervalos regulares
de pontos (FILHO; IOCHPE, 1996). Contudo, de acordo com Filho e Iochpe
(1996, p. 18) “esta abordagem tem a desvantagem de introduzir redundâncias de
dados, quando a área observada possui comportamento estável e pode perder
informações, quando a área é muito acidentada”.

Filho e Iochpe (1996) ressaltam outra abordagem também baseada em


imagens de pontos: o modelo de Grade Triangular ou TIN (Triangulated Irregular
Network), em que os pontos são coletados mais densamente em porções do
terreno com maior variação acidental e mais esporadicamente nas outras áreas.
Segundo Câmara e Davis (2001), a malha triangular é uma estrutura do tipo
vetorial com topologia do tipo nó-arco que representa uma superfície através de
um conjunto de faces triangulares interligadas. Os pontos se conectam formando
faces triangulares, onde os valores coletados ficam associados aos vértices dos
triângulos, conforme Figura 9.

FIGURA 9 – GRADE TRIANGULAR

Filho e Iochpe (1996, p. 15)

De acordo com Filho e Iochpe (1996), outro tipo de modelo de terreno


é formado por um conjunto de linhas de contorno que representam pontos de
mesma elevação, conforme mostra a Figura 10 que apresenta uma representação
das linhas isométricas.

92
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 10 – LINHAS DE CONTORNO

FONTE: Filho e Iochpe (1996, p. 15)

Filho e Iochpe (1996, p. 19):

“Dentro de um SIG, os dados referentes à elevação podem ser


convertidos de um modelo para outro, mas podem ocorrer perdas de
informações, reduzindo os detalhes da superfície [ARO 89]. Projeções
tridimensionais de superfícies contínuas podem ser usadas, por
exemplo, para permitir uma melhor visualização do relevo da área
observada” (FILHO; IOCHPE, 1996, p. 19).

FIGURA 11 – ELEVAÇÕES EM PROJEÇÃO TRIDIMENSIONAL

FONTE: Filho e Iochpe (1996, p. 19)

2.3 ARMAZENANDO TOPOLOGIA EM BANCO DE DADOS


Segundo Calijure e Loures (2006), para a elaboração de alguns tipos
de análises os SIGs precisam conhecer a representação gráfica das entidades
mapeadas (pontos, linhas e polígonos) e o relacionamento espacial entre estas
entidades. Os autores afirmam que, em mapas digitais, os relacionamentos
espaciais são apresentados utilizando-se a topologia.

De acordo com Filho e Iochpe (1996, p. 21) topologia “é atribuído às


estruturas de relacionamentos espaciais que podem, ou não, ser mantidas no
banco de dados. Um banco de dados espacial é dito topológico se ele armazena a
topologia dos objetos”.

Conheceremos a definição de topologia de Paredes (1994 apud CALIJURI;


LOURES, 2003, p. 21):

93
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

“a topologia é um processo matemático que define explicitamente os


relacionamentos espaciais tais como, conectividade, circunscrividade,
contiguidade e orientação. A conectividade permite que arcos sejam
ligados um a outro por nós; a circunscrividade permite que arcos pos-
sam circunscrever uma área, definindo um polígono; a contiguidade
permite que arcos possuam direção e lados como esquerda e direita;
e a orientação permite a orientação do fluxo de identificação dos atri-
butos, como “de nó” e “para nó” (PAREDES, 1994 apud CALIJURI;
LOURES, 2003, p. 21).

Segundo Aronof (1989 apud FILHO; IOCHPE, 1996, p. 21) uma das
características mais importantes dos SIG é sua capacidade de armazenar
os relacionamentos entre os objetos espaciais, como os relacionamentos de
vizinhança, proximidade e pertinência. De acordo com os referidos autores, esta
importância se deve ao fato de que estes relacionamentos são fundamentais para
possibilitar a realização de diferentes tipos de operações de análise espacial.

Sobre as operações de vizinhança, Miranda (2015) destaca que as operações


que consideram a existência de um atributo particular e onde ele está posicionado
dentro de seus vizinhos são consideradas espacial na sua natureza. Este tipo de
operação é conhecido como operação de vizinhança e, de acordo com o autor,
seu objetivo é caracterizar cada objeto como parte de uma extensa vizinhança.
De acordo com Miranda (2015, p. 204), este tipo de operação se caracteriza pelo
fato de “os valores de atributos de novas células serem calculados com base
nos valores das células que pertençam a uma vizinhança existente no plano de
informação original”.

Segundo Filho e Iochpe (1996), os bancos de dados cartográficos são


utilizados em muitos pacotes para elaboração de mapas e podem ser convertidos
em um banco de dados topológico por meio do cálculo e identificação dos
relacionamentos entre objetos, processo conhecido como “construir topologia”.

Sobre o processo de Construir Topologia, Filho e Iochpe (1996) ressaltam


que também é usado para identificar os objetos de um mapa através de linhas
digitalizadas, processo realizado empregando-se o conceito de Restrição Planar
(Planar Enforcement), que consiste em aplicar duas regras sobre os objetos usados
para descrever a variação espacial.

De acordo com Filho e Iochpe (1996), o processo de Construir Topologia,


é apresentado na Figura 12. A Figura 12 (a) mostra um conjunto de segmentos de
linha não relacionados. Na Figura 12 (b) observa-se cada interseção de linhas ou
nós. A Figura 12 mostra cada polígono resultante com um identificador (c).

94
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 12 – PROCESSO DE CONSTRUIR TOPOLOGIA

FONTE: Adaptada de Filho e Iochpe (1996)

Filho e Iochpe (1996, p. 22), afirmam que “Os pontos, as linhas e os


polígonos identificados durante o processo de construção da topologia, são
armazenados em estruturas de dados que variam de acordo com a implementação
de cada sistema”.

Segundo Câmara e Davis (2001, p. 2-21), “a topologia arco nó é a


representação vetorial associada a um rede linear conectada.” De acordo com os
autores, um nó pode ser conceituado como o ponto de intersecção entre duas ou
mais linhas, que corresponde ao ponto inicial ou final de cada linha. Os autores
ainda afirmam que, nenhuma linha deverá estar desconectada das demais de
forma que a topologia da rede possa ficar totalmente definida. Quanto à topologia
arco nó-polígono, é usada na representação de elementos gráficos do tipo área
(CÂMARA; DAVIS, 2001).

3 SISTEMA GERENCIADOR DE DADOS GEOGRÁFICOS


De acordo com Miranda (2015), os SGBD comerciais mais conhecidos,
Oracle e IBM DB2, fornecem funcionalidades espaciais. O Oracle conta com o Oracle
Spatial, e o DB2 com o Spatial DataBlade e o Geodetic DataBlade. De acordo com o
autor, o SQL Server 2008 fornece funcionalidade espacial com seus componentes
espaciais Geometry e Geodetic Geography. Uma iniciativa de código aberto, gratuita,
mencionada por Miranda (2015) é o PostgreSQL, que conta com o PostGIS, além
do SpatialLite/RasterLite, do código aberto SQLite.

95
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

Agora, conheceremos como acontece a manipulação de banco de dados


geográficos em um ambiente SIG, de acordo com o tutorial disponibilizado
pelo IBGE. O software utilizado na demonstração foi o QGIS. Segundo o referido
instituto, além de carregar dados armazenados em banco de dados geográficos,
o QGIS permite, o gerenciamento e consultas por meio de funcionalidades do
Sistema Gerenciador de Banco de Dados – SGBD. Para isso, segundo o IBGE
(2019) é necessário, no mínimo, um conhecimento básico de Structure Query
Language – SQL.

De acordo com Câmara e Davis (2001), nos SGBD relacionais, o SQL é uma
linguagem de consulta. Os referidos autores afirmam que, para incluir operadores
geográficos, como “contém”, “contido em”, ou “vizinho a”, é necessário estender
o SQL tradicional.

Neste exemplo, foram explorados os bancos de dados SpatiaLite aliado a


funcionalidades do Gerenciador de BD, conforme mostra a Figura 13.

FIGURA 13 – SPATIALITE ALIADO AO GERENCIADOR DE BD

FONTE: IBGE (2019, p. 109)

A criação do BD no formato SpatialLite, é um exemplo extraído de um


Manual Técnico em Geociências, disponibilizado pelo IBGE, referenciado ao
final desta unidade, que possibilita o conhecimento das funcionalidades de um
Sistema Gerenciador de Dados Geográficos.

Antes de iniciar a criação do BD SpatiaLite, foi necessário verificar se o


Navegador estava ativo. A ativação do Navegador foi realizada através do menu
Exibir > Painéis > Navegador, conforme ilustra a Figura 14.

96
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 14 – ATIVAÇÃO E VISUALIZAÇÃO DO NAVEGADOR

FONTE: IBGE (2019, p. 110)

3.1 CRIANDO UM BANCO DE DADOS GEOGRÁFICO


Para a criação de um banco de dados geográfico, iniciou-se clicando
com o botão direito do mouse sobre “SpatialLite” e selecionando “Criar Base de
dados...”, como mostra a Figura 15.

FIGURA 15 – CRIAÇÃO DE UMA BASE DE DADOS NO FORMATO SPATIALLITE

FONTE: IBGE (2019, p. 110)

O arquivo criado foi nomeado como “BCIM_SpatialLite”. Após a criação,


o arquivo foi salvo. Em seguida, na aba Banco de Dados > Gerenciador BD,
deve aparecer uma tela conforme a Figura 16, com a base SpatialLite já criada e
conectada.

97
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

FIGURA 16 – BASE CRIADA E CONECTADA

FONTE: IBGE (2019, p. 110)

3.2 GERENCIADOR DE BANCO DE DADOS – BD


De acordo com o IBGE (2019), através do Gerenciador de BD do QGIS é
possível manipular e gerenciar diversos conjuntos de dados em diferentes ban-
cos de dados geográficos. Para acessar esta ferramenta, foi selecionado Banco
de dados > Gerenciador BD, conforme mostra Figura 17 (Gerenciador de banco
de dados).

FIGURA 17 – GERENCIADOR DE BANCO DE DADOS

FONTE: O autor

3.3 CRIANDO CLASSE DE FEIÇÕES NO BANCO DE DADOS


GEOGRÁFICO
De acordo com o IBGE (2019), no QGIS para cada camada criada por meio
do menu Criar camada > SpatiaLite, um novo banco de dados geográfico é criado
no formato SpatiaLite. Contudo, para o usuário incorporar a nova camada em um
único banco de dados, é preciso realizar os procedimentos do tópico “Importando
camadas para o banco de dados geográficos”. Destaca-se que, após a criação do
banco de dados, é possível adicionar camadas vetoriais ao projeto, através do
menu Adicionar nova camada > SpatiaLite, conforme Figura 18 (IBGE, 2019).

98
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 18 – CRIANDO CAMADAS NO BANCO SPATIALITE

FONTE: IBGE (2019, p. 111)

De acordo com o IBGE (2019), é importante se atentar para o preenchimento


do nome da camada a ser criada e do sistema de coordenadas desta camada na
janela aberta após a seleção da nova camada. Em seguida, os campos da tabela de
atributos da camada devem ser criados, através das ferramentas na parte inferior
da janela, conforme mostra a Figura 19.

FIGURA 19 – FERRAMENTA DE CRIAÇÃO DE NOVAS CAMADAS NO BANCO SPATIALITE

FONTE: IBGE (2019, p. 112)

99
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

3.4 IMPORTANDO CAMADAS PARA O BANCO DE DADOS


GEOGRÁFICO
Para adicionar camadas de dados à base, foi necessário manter a camada
selecionada e clicar no menu Importar camada/arquivo, conforme Figura 20 e de
acordo com as instruções do IBGE (2019).

No exemplo apresentado, a camada escolhida foi “HID_Trecho_


Drenagem_L” que se encontrava na pasta “DadosTreinamento/FormatoVetorial”.
Neste exercício a codificação foi alterada clicando em “Opções de atualização”,
mudando o campo “Codificação” de “UTF-8” para “CP 1250” e marcando a caixa
“Criar índice espacial”, conforme ilustrado na Figura 20. No final, foi clicado em
“OK”.

FIGURA 20 – IMPORTANDO CAMADAS OU ARQUIVOS

FONTE: IBGE (2019, p. 113)

Retornando ao Navegador, no item que se refere ao SpatiaLite, a camada


importada deverá aparecer. Para adicioná-la ao projeto, foi necessário clicar duas
vezes, mas, de acordo com o tutorial, também há a opção de arrastá-la até o painel
“Camadas”. No caso deste exercício, a classe trecho de drenagem aparecerá na
tela e na lista de camadas, conforme mostra a Figura 21.

100
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 21 – CAMADA ADICIONADA AO BANCO SPATIALITE E AO PROJETO

FONTE: IBGE (2019, p. 113)

3.5 ANÁLISE E CONSULTAS NO BANCO DE DADOS


GEOGRÁFICO
De acordo com o IBGE (2019), para a realização de consultas num banco
de dados é utilizada a linguagem de consulta estruturada SQL. Seus comandos e
estrutura são padronizados, facilitando a interoperabilidade, o aprendizado e a
utilização em diversos SGBD (IBGE, 2019).

De acordo com o referido instituto, os comandos desta linguagem


se baseiam na álgebra relacional, como: operadores lógicos (or; and; like; ilike);
comandos matemáticos (+; -; /; ×); operadores de comparação (=; >; <; ≥; ≤; ≠);
análise de elementos textuais e espaciais.

3.6 REALIZANDO CONSULTAS POR ATRIBUTO PELO


GERENCIADOR DE BD
Para criar o banco de dados SpatiaLite e carregar a camada “HID_Trecho_
Drenagem_L” no banco de dados SpatiaLite, utilizando o Gerenciador de BD, foi
realizado o seguinte procedimento: iniciar Gerenciador de BD e abrir da caixa de
diálogo “Janela SQL”, através da ferramenta apresentada na Figura 22.

101
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

FIGURA 22 – FERRAMENTA DE CONSTRUÇÃO DE CONSULTAS SQL

FONTE: IBGE (2019, p. 114)

Conforme a Figura 23 (IBGE, 2019), na “Janela SQL”, foi escrita e executada


a seguinte expressão:

Select * FROM "HID_Trecho_Drenagem_L" WHERE “HID_Trecho_


Drenagem_L"."nome" LIKE “%Rio Una%"

FIGURA 23 – INSERIDO A EXPRESSÃO SQL PELO GERENCIADOR DE BD

FONTE: O autor

Para carregar a consulta SQL no mapa foi necessário clicar em “Criar uma
visão. Neste caso, ela foi nomeada como “una”. Na sequência, a lista de camadas
foi atualizada através do ícone ilustrado, para que a visão criada apareça na lista.
Para torná-la visível como camada, foi necessário clicar com o botão direito e
escolher “Adicionar à tela”, conforme mostra a Figura 24, intitulada “Adição da
visão criada à tela” (IBGE, 2019).

102
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 24 – ATUALIZANDO A VISÃO DE CAMADAS NO SPATIALITE

FONTE: O autor

FIGURA 25 – ADIÇÃO DA VISÃO CRIADA À TELA

FONTE: O autor

Posteriormente, foi importada uma camada à base SpatialLite, por meio


do ícone ilustrado na Figura 26 (Importar camada/arquivo) e configurada a im-
portação conforme a Figura 27 (Importação da camada baseada na visão criada).

FIGURA 26 – IMPORTAR CAMADA/ARQUIVO

FONTE: IBGE (2019, p. 115)

103
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

FIGURA 27 – IMPORTAÇÃO DA CAMADA BASEADA NA VISÃO CRIADA

FONTE: IBGE (2019, p. 115)

A Figura a seguir apresenta o resultado da consulta SQL realizada no


Gerenciador de BD do QGIS.

FIGURA 28 – RESULTADO DA CONSULTA SQL CARREGADO EM TELA

FONTE: IBGE (2019, p. 116)

104
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

A contagem de registro com um determinado atributo consultado é outro


tipo de consulta SQL que pode ser realizada no Gerenciador de BD, conforme
mostra a Figura 29, através da expressão:

Select count (*) as número_linhas from "HID_Trecho_Drenagem_L" where


nome like "%Rio Una%".

FIGURA 29 – RESULTADO DA CONSULTA DO NÚMERO DE LINHAS DA CAMADA TRECHO DE


DRENAGEM

FONTE: IBGE (2019, p. 117)

3.7 REALIZANDO CONSULTAS ESPACIAIS PELO


GERENCIADOR DE BD
Para proceder à seleção de todos os rios presentes na classe trecho de
drenagem e no esquema do banco de dados geográficos da Base Cartográfica
Contínua do Brasil – BCIM, na escala de 1:1 000.000, que interceptam o Estado
da Bahia, conforme manual do IBGE, apresentado na Figura 30, foi selecionado:

Select d.* from "HID_Trecho_Drenagem_L" d, "LIM_Unidade_Federacao_A" a


where st_intersects(a.geom,d.geom) and a.nome = 'Bahia'

105
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

FIGURA 30 – RESULTADO DA CONSULTA DO NÚMERO DE RIOS QUE INTERCEPTAM O


ESTADO DA BAHIA

FONTE: IBGE (2019, p. 117)

4 MANIPULAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS


De acordo com o IBGE (2019), o ambiente SIG QGIS permite a manipulação
dos dados geoespaciais, como a conversão de estruturas (vetorial e matricial) e
georreferenciamento de dados não espaciais, mas com coordenadas acessíveis.

Apresentaremos, agora, como é feita a conversão de um MDE da estrutura


matricial para vetorial, de acordo com o manual do IBGE (2019). Os modelos
de dados matricial e vetorial, assim como a estrutura de dados para modelos
matriciais e vetoriais, serão abordados na Unidade 3.

Antes de prosseguir com o exercício extraído do Manual Técnico de


Geociências do IBGE, retomaremos as características básicas de estruturas
matricial e vetorial e apresentar o conceito de MDE. Há dois modelos de estrutura
de dados: matricial e vetorial. Segundo Garcia (2014, p. 79):

“A estrutura matricial representa a realidade com base em superfícies


projetadas com um padrão regular. Trata-se de uma subdivisão de
superfícies bitridimensionais ou tridimensionais em um conjunto de
figuras geométricas básicas que cobrem completamente a superfície
sem falhas ou sobreposições” (GARCIA, 2014, p. 79).

Quanto à estrutura vetorial, Garcia (2014, p. 82) pontuam que:

106
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

“Nesse modelo de estruturação dos dados, os fenômenos reais são di-


vididos em elementos claramente definidos. Cada elemento é repre-
sentado por um objeto identificável, com geometria própria de pontos,
lias, polígonos e áreas. Assim, todas as posições, comprimentos e di-
mensões podem ser exatamente determinados (GARCIA, 2014, p. 82).

Quanto aos Modelos digitais de elevação (MDE) “São modelos digitais


que representam as altitudes da superfície topográfica agregada aos elementos
geográficos existentes sobre ela, como cobertura vegetal e edificações” (IBGE,
2019, p. 33), conforme Figura 31 que mostra um exemplo de cadeia de vulcões no
Equador em resolução de um metro.

FIGURA 31 – MODELO DIGITAL DE ELEVAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3FxcyrR>. Acesso em: 17 de jul. 2021.

Para a conversão do SRTM da estrutura matricial para estrutura vetorial,


foi selecionado no exemplo apresentado: Raster > Converter > Raster para vetor
(poligonizar), e preenchidas as configurações, conforme a Figura 32.

FIGURA 32 – CAIXA DE DIÁLOGO PARA A CONVERSÃO DA ESTRUTURA MATRICIAL PARA


VETORIAL

FONTE: IBGE (2019, p. 79)

107
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

Em seguida, nas propriedades da camada vetorial criada, as recomenda-


ções do IBGE (2019, p. 79) foram as seguintes:

“selecione “Estilo”, altere de “Símbolo simples” para “Graduado”,


classifique a coluna “Cota” criada pela conversão e altere o gradiente
de cores para o esquema “YlOrRd”. Em seguida, na opção “Símbolo”,
clique em “Mudar...” e, na subseção “Preenchimento simples”,
altere o estilo da borda para “Sem caneta”. As cores sugeridas são
tradicionalmente associadas com a representação de variação de
relevo, mas outros esquemas de cores podem ser experimentados ou
mesmo criados no QGIS” IBGE (2019, p. 79).

A figura a seguir apesenta o resultado da conversão da estrutura matricial


para vetorial.

FIGURA 33 – RESULTADO DA CONVERSÃO DA ESTRUTURA MATRICIAL PARA VETORIAL

FONTE: IBGE (2019, p. 79)

No caso da conversão de um arquivo SRTM da estrutura matricial para


estrutura vetorial, curvas de nível (isolinhas hipsométricas), foi selecionado:
Raster > Extrair > Contorno, com intervalo das curvas de nível de 100 metros,
conforme a Figura 34 (IBGE, 2019).

FIGURA 34 – CAIXA DE DIÁLOGO PARA CONVERSÃO DO MDE (MATRICIAL) PARA CURVAS DE


NÍVEL (VETORIAL)

FONTE: IBGE (2019, p. 80)

108
TÓPICO 2 — ARMAZENAMENTO E GERENCIAMENTO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 35 – RESULTADO DA CONVERSÃO DO MDE PARA CURVA DE NÍVEL

FONTE: IBGE (2019, p. 80)

Um exemplo de visualização de dados geoespaciais apresentados no


manual do IBGE (2019), foi obtido carregando no ambiente de trabalho QGIS
as seguintes camadas da Base Cartográfica Contínua do Brasil, agrupadas por
categorias de informação da ET-EDGV:

• Categoria limite: limites das Unidades da Federação.


• Categoria sistema de transporte: trecho ferroviário; travessia (ponto e linha).
• Categoria hidrografia: ilha e massa d’água.
• Categoria localidade: cidade.

Durante a construção do ambiente de trabalho salve o projeto. Salve


o novo projeto como “VisualizacaoDadoGeoespacial.qgs”. O resultado do é
apresentado na Figura 36, que apresenta as camadas vetoriais visualizadas e
simbolizadas.

FIGURA 36 – CAMADAS VETORIAIS VISUALIZADAS E SIMBOLIZADAS

FONTE: IBGE (2019, p. 82)

109
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

E
IMPORTANT

O propósito da missão SRTM, cujos dados de radar foram coletados no


período de 11 a 22 de fevereiro de 2000, a bordo da nave espacial Endeavour, foi atuar
na produção de um banco de dados digitais global, necessários na elaboração de um
Modelo Digital de Elevação (MDE) das terras continentais. Os dados foram produzidos
para a região do planeta localizada entre os paralelos 56ºS e 60ºN e realizadas pelas
instituições National Imagery and Mapping Agency (NIMA) e a National Aeronautics and
Space Administration (NASA). Para saber mais sobre essa missão, acesse: embrapa.br/
satelites-de-monitoramento/missoes/srtm.

110
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Informação geoespacial é aquela que se distingue essencialmente pela


componente espacial.

• As Infraestruturas Nacionais de Dados Espaciais (INDE) foram criadas


para garantir a acessibilidade da informação para os diversos grupos de
usuários e, no Brasil, a INDE foi instituída pelo Decreto nº 6.666 de 27 de
novembro de 2008.

• Modelos de dados existentes para SIG estão relacionados com as diferentes


formas de percepção da realidade e podem ser divididos segundo duas visões:
visão de campo e visão de objetos.

• Os objetos espaciais são representações das entidades do mundo real,


armazenadas no BD Geográfico.

• O QGIS permite, o gerenciamento e consultas por meio de funcionalidades do


Sistema Gerenciador de Banco de Dados – SGBD.

• PostgreSQL, que conta com o PostGIS e o SpatialLite/RasterLite, do código


aberto SQLite, são iniciativas de código aberto, gratuita.

• Ambiente SIG QGIS permite a manipulação dos dados geoespaciais, como a


conversão de estruturas (vetorial e matricial) e georreferenciamento de dados
não espaciais, com coordenadas acessíveis.

111
AUTOATIVIDADE

1 O sistema de Banco de Dados Geográficos estrutura e armazena os dados,


possibilitando a realização das operações de análise e consulta. Quanto ao
tipo de dado se distingue essencialmente pela componente espacial, que
associa a cada entidade ou fenômeno uma localização na Terra, traduzida
por sistema geodésico de referência conhecido como:

a) ( ) Dado geoespacial.
b) ( ) Informação descritiva.
c) ( ) Sistema de referência.
d) ( ) Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais.

2 Modelos de dados podem ser divididos segundo a visão de campo e visão


de objetos. Existem diferentes tipos de modelos de dados baseados na visão
de campo usados em SIG. Sobre os modelos de dados baseados na visão de
campo, analise as afirmativas a seguir:

I- Amostragem Irregular de Pontos se refere a um banco de dados que


contém um conjunto de linhas, cada uma com um valor z associado, por
exemplo, as curvas de nível.
II- Os polígonos são exemplos de modelos de dados em que a área é
particionada em um conjunto de regiões, onde a cada região está associada
um valor que é único em todas as suas posições.
III- Na Grade Regular de Células a área é dividida em uma grade regular de
células, onde o valor de cada célula é correspondente ao valor da variável
para todas as posições dentro da célula.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa II está correta.


b) ( ) As afirmativas I, II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 Sabe-se que o fenômeno espacial foi abstraído nas classes ponto, linha e
área. Sobre como os objetos do tipo ponto, linha, área ou superfície são
empregados para representar as diferentes entidades da realidade,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Entidades que apresentam características bidimensionais são


representadas no banco de dados por objetos do tipo polígono/área.

112
( ) Um polígono é a representação gráfica mais simples de um objeto,
representando um fenômeno espacial que acontece em apenas um local
no espaço.
( ) Entidades como postes elétricos, hidrantes, nascentes de rios, pontos de
ônibus, entre outros, podem ser representados pontualmente em mapas
de escalas grandes.
( ) Linhas podem desempenhar diferentes funções como elementos isolados,
em que as linhas não são conectadas, e elementos de estrutura em forma
de árvore, como rios.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – V – V – F.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – F – V – V.

4 Entre as representações baseadas em imagens de pontos mais conhecidas


estão as matrizes de altitude. Observe a figura a seguir e discorra sobre o
tipo de modelo de terreno que ela representa.

FONTE: O autor

5 Segundo Miranda (2015) as linhas conectam, no mínimo, dois pontos e


são empregadas na representação objetos que podem ser definidos em
uma dimensão. Observe a figura a seguir e descreva quais objetos são
empregados para representar as diferentes entidades da realidade nesta
representação.

FONTE: MIRANDA, J. I. Fundamentos de Sistemas de Informação Geográfica. 4. Ed. Brasília:


EMBRAPA, 2015.

FONTE: Adaptada de Miranda (2015)

113
114
TÓPICO 3 —
UNIDADE 2

ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, estudaremos a análise e apresentação de dados espaciais.


Retomaremos o conceito de dado espacial e, na sequência, abordaremos o
funcionamento de uma infraestrutura de dados espaciais.

Em seguida, compreenderemos o processo da distribuição espacial


e como este conhecimento é importante para esclarecer questões centrais em
diversas áreas do conhecimento, como a área da saúde, ambiente, geologia, entre
outras.

O conhecimento sobre onde e quando se incorporou a categoria do


espaço às análises também é um assunto a ser abordado neste tópico. O exemplo
pioneiro, data de 1854, em que a relação espacial entre dados contribuiu para o
avanço na compreensão de um fenômeno, sendo um dos primeiros exemplos da
análise espacial.

Finalmente, faremos uma breve abordagem sobre a integração entre


Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto e como a união da tecnologia e dos
conceitos e teorias de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento favorece a
criação de sistemas de informação mais ricos e sofisticados.

2 DADOS ESPACIAIS
Vimos, no Tópico 1, que os dados espaciais descrevem a geometria, a
localização e as relações topológicas dos objetos geográficos. Segundo Calijure e
Loures (2006, p. 10), “qualquer fenômeno gráfico pode ser reduzido a um dos três
conceitos topológicos básicos: pontos, linhas e polígonos.”

Dado é um elemento essencial para o SIG. “Os dados geográficos são


muito dispendiosos para coleta, armazenamento e manipulação, pois são
necessários grandes volumes para solucionar importantes problemas geográficos”
(CALIJURI; LOURES, 2003, p. 7-8).

De acordo com o IBGE (2019), apesar do aumento da oferta de dados


geoespaciais nas últimas décadas, ainda há dificuldades de acesso à informação
geográfica – IG, dificuldades estas que podem ocorrer por desconhecimento

115
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

dos mecanismos de busca, por falta de conhecimento dos produtores e de seus


produtos, por ausência de documentação sobre os dados ou dificuldades de
transferência de dados ou mesmo por falta de padronização.

No Brasil, entre os principais produtores de informação geoespacial,


destacam-se o IBGE e a Diretoria de Serviço Geográfico do Exército Brasileiro
(DSG/EB). Para o IBGE (2019, p. 42), o Ministério do Meio Ambiente, o
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT, o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, o Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária – Incra, merecem destaque, além das universidades, órgãos
e instituições que dão suporte à infraestrutura, à administração das esferas
estaduais e municipais, entre outros.

Quanto à Infraestrutura de Dados Espaciais (IDEs) e a forma de


distribuição dos dados por meio de serviços e catálogos representam o novo
paradigma de acesso a dados geoespaciais (IBGE, 2019). Segundo o referido
instituto, os padrões, as políticas, as tecnologias, acordos e arranjos entre agentes,
e a própria comunidade são componentes das IDEs que visam uniformizar os
dados por meio da elaboração de normas e padrões para modelagem, aquisição,
distribuição, entre outras.

Para conhecer o funcionamento de uma IDE e a interação entre usuário,


geoportal e servidores, observe a Figura 37. De acordo como o IBGE (2019),
Divulgação e distribuição de dados a partir de uma IDE acontece da seguinte
forma: o usuário consulta e conhece os dados a partir do catálogo de metadados,
geoserviços ou visualizadores, disponibilizados em uma interface única de acesso:
o geoportal; dessa forma, o usuário acessa e consome os dados geoespaciais
provenientes de diferentes instituições; por sua vez, as instituições publicam seus
dados e metadados conforme as normas e padrões estabelecidos para a IDE.

FIGURA 37 – DIVULGAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE DADOS A PARTIR DE UMA IDE

FONTE: IBGE (2019, p. 43)

116
TÓPICO 3 — ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

No Brasil, a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais – INDE foi


instituída oficialmente em novembro de 2008, pelo Decreto nº 6.666, de 27.11.2008,
que a define como: [...] conjunto integrado de tecnologias; políticas; mecanismos e
procedimentos de coordenação e monitoramento; padrões e acordos, necessário
para facilitar e ordenar a geração, o armazenamento, o acesso, o compartilhamento,
a disseminação e o uso dos dados geoespaciais de origem federal, estadual,
distrital e municipal (BRASIL, 2008).

De acordo com Camboim e Sluter (2013), a INDE-BR é gerenciada pelo


Comitê de Implantação da INDE (CINDE) na CONCAR – Comissão Nacional de
Cartografia. No âmbito da INDE-BR, segundo Camboim e Sluter (2013, p. 1128)

“à rede de servidores de dados capaz de reunir eletronicamente pro-


dutores, gestores e usuários dos dados geoespaciais envolvidos é
denominada Diretório Brasileiro de Dados Geoespaciais, ou DBDG.
Cada produtor de dados pode criar seu próprio servidor dentro do
DBDG, constituindo um nó autônomo, ou então utilizar o nó cen-
tral que é gerenciado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Para inserção da instituição ao DBDG está prevista a as-
sinatura de um Termo de Adesão, no qual constarão os dados, meta-
dados e serviços a serem disponibilizados bem como o planejamento
da manutenção do nó, caso seja executado pela própria instituição.
O Portal Brasileiro de Dados Geoespaciais – SIG Brasil é a porta de
acesso a estas informações quando disponibilizadas, através do qual
os usuários podem explorar os recursos distribuídos do DBDG”
(CAMBOIM; SLUTER, 2013, p. 1128).

O geoportal da INDE, conhecido como SIG Brasil – portal brasileiro de


dados geoespaciais, oferece acesso aos dados das instituições que aderiram à
INDE por meio de um visualizador de mapas, um catálogo de metadados, um
catálogo de geoserviços e uma área de download (IBGE, 2019). Um exemplo de
visualização de dados de diferentes instituições através do visualizador de mapas
da INDE é apresentado na Figura 38.

FIGURA 38 – VISUALIZAÇÃO DE DADOS PELO GEOPORTAL DA INDE

FONTE: IBGE (2019, p. 44)

117
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

O Quadro 4 relaciona alguns domínios de acesso a dados espaciais, que


compreendem diferentes catálogos ou IDES. Estes são apenas alguns exemplos
de catálogos disponíveis apresentados pelo IBGE (2019), contudo, há outros.

QUADRO 4 – EXEMPLOS DE PROVEDORES DE DADOS GEOESPACIAIS NACIONAIS

Nome Descrição URL

Banco de Dados Geográfico do


BDGEX https://bdgex.eb.mil.br/bdgexapp
Exército

Mapas Portal de Mapas – IBGE https://portaldemapas.ibge.gov.br

DGI Catálogo de Imagens – DGI/INPE http://www.dgi.inpe.br/CDSR/

GEOINFO IDE da Embrapa http://geoinfo.cnpm.embrapa.br/

DataGEO Sistema Ambiental Paulista http://datageo.ambiente.sp.gov.br/

Infraestrutura de Dados Espaciais


IDESP http://www.idesp.sp.gov.br/
do Estado de São Paulo

IDE- Infraestrutura de Dados Espaciais


https://bhgeo.pbh.gov.br/home
BHGEO do município de Belo Horizonte

Infraestrutura Nacional de Dados


INDE https://inde.gov.br/
Espaciais

FONTE: IBGE (2019, p. 44)

Quanto aos metadados são documentos que descrevem os dados. De


acordo com o IBGE (2019), eles devem responder a algumas perguntas sobre os
dados, entre elas: o que é, quando foi produzido, por quem foi produzido, qual
a extensão geográfica abrangida pelo dado, como ele foi produzido, qual sua
qualidade.

Segundo o IBGE (2019), os metadados possuem um papel essencial na


busca, exploração e correta utilização dos dados e que o ideal é que todos os
dados produzidos por uma dada instituição sejam seguidos de seus metadados,
que devem ser públicos e estruturados de maneira lógica.

3 ANÁLISE DE DADOS ESPACIAIS EM SIG


De acordo com Câmara et al. (2004) a compreensão da distribuição
espacial de dados decorrentes de fenômenos ocorridos no espaço é um desafio
para esclarecer questões centrais em diversas áreas do conhecimento, como a área
da saúde, ambiente, geologia, entre outras. Segundo os autores, estes estudos têm

118
TÓPICO 3 — ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

se tornando mais comuns em função da disponibilidade de SIG de baixo custo


e interface amigável. Os autores ainda ressaltam que estes sistemas permitem a
visualização espacial de diversas variáveis e que, para tal, basta dispor de um
banco de dados e de uma base geográfica para que o SIG seja capaz de apresentar
um mapa que permite a visualização do padrão espacial do fenômeno.

Além da percepção visual e da distribuição espacial do fenômeno,


Câmara et al. (2004) ressaltam que é possível traduzir padrões existentes com
considerações objetivas e mensuráveis, como a coleta de dados sobre a ocorrência
de doenças feitas por epidemiologistas. Neste caso, pode-se investigar se a
distribuição dos casos de uma doença forma um padrão no espaço, se existe
associação com alguma fonte de poluição, se há evidência de contágio e se houve
variação no tempo.

Este é um exemplo que faz parte da análise espacial de dados geográficos,


de acordo com Câmara et al. (2004). Para os autores, a ênfase da análise espacial
é a mensuração de propriedades de relacionamentos, considerando a localização
espacial do fenômeno em estudo de forma clara, o que significa incorporar o
espaço à análise que se deseja fazer.

O exemplo pioneiro, apresentado por Câmara et al. (2004) ilustra onde


e quando se incorporou a categoria do espaço às análises. De acordo com os
autores, em 1854, ocorria em Londres uma epidemia de cólera trazida das Índias.
Não se saiba muito sobre os mecanismos causais da doença. Uma das vertentes
científicas para explicar a doença, relacionava-a aos miasmas concentrados nas
regiões baixas e pantanosas da cidade e outra vertente relacionava-a à ingestão
de água insalubre. A residência dos óbitos ocasionados pela doença e as bombas
de água que abasteciam a cidade foram mapeadas, possibilitando visualizar
uma destas, em Broad Street, como o epicentro da epidemia. Posteriormente,
estudos confirmaram esta hipótese, comprovada por outras informações, como
a localização do ponto de captação de água desta bomba a jusante da cidade, em
um local onde a concentração de dejetos era máxima, incluindo a de pacientes
coléricos. Segundo Câmara et al. (2004), essa é uma situação típica em que a relação
espacial entre dados contribui para o avanço na compreensão do fenômeno,
sendo um dos primeiros exemplos da análise espacial.

119
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

FIGURA 39 – MAPA DE LONDRES COM ÓBITOS POR CÓLERA IDENTIFICADOS POR PONTOS E
POÇOS DE ÁGUA REPRESENTADO POR CRUZES

FONTE: Adaptada de Câmara et al. (2004)

Apresentaremos, agora, os tipos de dados em análise espacial. De acordo


com Câmara et al. (2004), a taxonomia mais empregada para caracterizar questões
de análise espacial considera três tipos de dados: eventos ou padrões pontuais,
superfícies contínuas e áreas com contagens e taxas agregadas.

Vamos conhecer as características destes tipos de dados em análise


espacial, conforme apresentado por Câmara et al. (2004, s.p.):

• Eventos ou Padrões Pontuais – fenômenos expressos através de


ocorrências identificadas como pontos localizados no espaço,
denominados processos pontuais. São exemplos: localização de
crimes, ocorrências de doenças, e localização de espécies vegetais.
• Superfícies Contínuas – estimadas a partir de um conjunto de amostras
de campo, que podem estar regularmente ou irregularmente
distribuídas. Usualmente, este tipo de dados é resultante de
levantamento de recursos naturais, e que incluem mapas geológicos,
topográficos, ecológicos, fitogeográficos e pedológicos.
• Áreas com Contagens e Taxas Agregadas – trata-se de dados associados
a levantamentos populacionais, como censos e estatísticas de saúde,
e que originalmente se referem a indivíduos localizados em pontos
específicos do espaço. Por razões de confidencialidade, estes dados
são agregados em unidades de análise, usualmente delimitadas por
polígonos fechados (setores censitários, zonas de endereçamento
postal, municípios) (CÂMARA et al., 2004, s.p.).

De acordo com Câmara et al. (2004), a partir da divisão dos tipos de dados
em análise espacial, é possível verificar que os problemas de análise espacial
estão relacionados com dados ambientais e com dados socioeconômicos. Nestes
casos, afirmam os autores, a análise espacial é composta por um conjunto de

120
TÓPICO 3 — ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

procedimentos encadeados cujo objetivo é a escolha de um modelo inferencial


que considere os relacionamentos espacial presentes no fenômeno. De modo
geral, “o processo de modelagem é precedido de uma fase de análise exploratória,
associada à apresentação visual dos dados sob a forma de gráficos e mapas e
a identificação de padrões de dependência espacial no fenômeno em estudo
(CÂMARA et al., 2004, s.p.).

Segundo Almeida, Chagas e Pizzol (2005), na área da saúde é muito


comum o uso de indicadores de mortalidade enquanto sinalizadores da qualidade
da saúde de uma população.

A partir dos exemplos apresentados por Câmara et al. (2004), é possível


relacionar com outros trabalhos publicados e compreender melhor o objeto de
interesse de cada uma destas análises.

No caso de análise de padrões de pontos, segundo os referidos autores,


o objeto de interesse é a localização espacial dos fenômenos estudados. O
exemplo apresentado pelos autores da aplicação deste tipo de análise pode
ser observado na Figura 40 que mostra a distribuição de casos de mortalidade
por causas externas em Porto Alegre, com dados de 1996. A localização dos
homicídios foi representada em vermelho, de acidentes de trânsito em amarelo
e suicídios em azul, conforme mostra a Figura 40 (esquerda). A Figura à direita,
mostra uma superfície para a intensidade estimada, que pode ser considerada
como a “temperatura da violência”, segundo Câmara et al. (2004). Segundo os
autores, a superfície interpolada mostra um padrão de distribuição de pontos
com forte concentração no centro da cidade, decrescendo em direção aos bairros
mais afastados.

FIGURA 40 – DISTRIBUIÇÃO DE CASOS DE MORTALIDADE POR CAUSAS EXTERNAS EM PORTO


ALEGRE EM 1996 E ESTIMADOR DE INTENSIDADE

FONTE: Câmara et al. (2004, s.p.)

121
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

De acordo com Câmara et al. (2004), para a análise de superfícies, a


finalidade é reconstruir a superfície da qual se retirou e mediu as amostras. A
Figura 41 apresenta a distribuição de perfis de amostras de solo para o estado de
Santa Catarina e áreas próximas (esquerda) e distribuição contínua estimada para
a variável saturação por bases (direita).

FIGURA 41 – DISTRIBUIÇÃO DE PERFIS E AMOSTRAS DE SOLO EM SANTA CATARINA


(ESQUERDA) E DISTRIBUIÇÃO CONTÍNUA ESTIMADA PARA A VARIÁVEL SATURAÇÃO POR
BASES (DIREITA)

FONTE: Câmara et al. (2004, s.p.)

Uma análise espacial dos casos humanos de esquistossomose em uma


comunidade horticultora da Zona da Mata de Pernambuco, foi realizada por Neto
et al. (2012). Os pesquisadores realizaram um exame parasitológico e os casos
positivos para Schistosoma mansoni foram geocodificados e incluído no modelo
computadorizado da comunidade, gerando mapas de distribuição espacial com
estimadores de kernel, conforme mostra a Figura 42. Este é exemplo que ilustra a
análise de distribuição de pontos.

122
TÓPICO 3 — ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

FIGURA 42 – MAPA DE DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS CASOS DE ESQUISTOSSOMOSE EM


NATUBA, VITÓRIA DE SANTO ANTÃO, PERNAMBUCO, BRASIL

FONTE: Neto et al. (2012, p. 776)

FIGURA 43 – MAPA ESTIMADOR DE KERNEL SEGUNDO LOCALIZAÇÃO DOS CASOS HUMANOS


(A) E CARGA PARASITÁRIA (B), NATUBA, VITÓRIA DE SANTO ANTÃO, PERNAMBUCO, BRASIL

FONTE: Neto et al. (2012, p. 777)

123
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

Quanto à análise de áreas, de acordo com Câmara et al. (2004), os dados


são, em grande parte, resultantes de levantamentos populacionais, como censos,
estatísitcas de saúde e cadastramento de imóvies. Essas são áreas, segundo os
autores, comumente delimitadas por polígonos fechados onde se conjectura haver
homogeneidade interna. Contudo, os autores pontuam que esta é uma premissa
nem sempre verdadeira, tendo em vista que as unidades de levantamento são
definidas por critérios operacionais ou políticos, não havendo garantia de que
dentro destas unidades a distribuição do evento seja homogênea.

Como exemplo, os autores apresentam a distribuição espacial do índice


de exclusão/inclusão social de São Paulo. A partir deste mapeamento, foram
extraídas áreas agregadas de exclusão e inclusão social, mostrados na Figura 44
(direita), que apresentam os extremos de exclusão e inclusão social na cidade
(CÂMARA et al. 2004).

FIGURA 44 – MAPA DE EXCLUSÃO/INCLUSÃO SOCIAL DE SÃO PAULO (1991) E


AGRUPAMENTOS DE EXCLUSÃO SOCIAL (ZONAS LESTE E SUL) E INCLUSÃO SOCIAL (CENTRO)

FONTE: Câmara et al. (2004, s.p.)

E por falar em exclusão social, Almeida, Chagas e Pizzol (2005), destaca-


ram em seu estudo que o cruzamento de indicadores complexos e intersetoriais
permite elaborar mapas que sejam ferramentas de análise incorporadas ao pla-
nejamento estratégico-situacional para formular políticas públicas que buscam
a reversão da situação de exclusão social em termos de realocação de recursos
e de avaliação da qualidade dos serviços ofertados à população, a partir de um
Sistema de Indicadores Sociais Georreferenciados (SISGeo), que se estrutura a
partir de um (ou vários) banco de bases de dados com variáveis indexadas por
endereço e setor censitário intraurbano.

4 INTEGRAÇÃO COM SENSORIAMENTO REMOTO


Um dos assuntos trabalhados em cartografia para o Geoprocessamento é
a integração entre Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto.

124
TÓPICO 3 — ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

Segundo Silvan (2019, p. 17) “o sensoriamento remoto está relacionado


à ausência de contato físico entre o sensor (câmera fotográfica, satélite) e o alvo
(objeto)”. Desta forma, Silvan (2019, p. 17) afirma que “o Sensoriamento Remoto
também pode incluir o estudo das técnicas de aerofogrametria e fotointerpretação,
uma vez que fotografias aéreas são remotamente captadas”.

De acordo com D’Alge (2001), o Sensoriamento Remoto representa a
fonte principal de informação atualizada para um SIG. Além disso, pontua o
autor, a união da tecnologia e dos conceitos e teorias de Sensoriamento Remoto
e Geoprocessamento favorece a criação de sistemas de informação mais ricos e
sofisticados. Segundo D’Alge (2001, p. 6-21)

“De uma forma mais pragmática, a integração entre Sensoriamen-
to Remoto e Geoprocessamento depende da inserção das imagens
aéreas ou de satélite na base de dados do SIG. Para isso entram em
cena os procedimentos de correção geométrica de imagens, as vezes
chamados de georreferenciamento ou geocodificação, outras vezes
excessivamente simplificados e reduzidos ao registro de imagens
(D’ALGE, 2001, p. 6-21).

4.1 CORREÇÃO GEOMÉTRICA DE IMAGENS


Segundo Silva et al. (2012) a correção geométrica é importante tendo em
vista que as imagens obtidas por meio de satélites no nível orbital apresentam
distorções, que podem ser podem ser próprias da plataforma (velocidade, altitude
e posição), do instrumento, do tipo de sensor (varredura mecânica ou eletrônica)
e do modelo da Terra (rotação, esfericidade, relevo, entre outros.).

De acordo com D’Alge (2001), de modo geral, o processo de correção


geométrica de imagens compreende três grandes etapas que se inicia com uma
transformação geométrica, denominada mapeamento direto, que estabelece uma
relação entre coordenadas de imagem (linha e coluna) e coordenadas geográficas
(latitude e longitude). De acordo com o autor, é nesta etapa que se eliminam
as distorções existentes e se determina o espaço geográfico a ser ocupado pela
imagem corrigida. Na sequência, o mapeamento inverso deve ser feito, invertendo
a transformação geométrica utilizada no mapeamento direto, possibilitando que
se retorne à imagem original para a definição dos níveis de cinza que farão a
composição da imagem corrigida. Na última etapa, ocorre a definição de níveis
de cinza, conhecida como reamostragem, que, na verdade, segundo D’Alge (2001)
nada mais é do que uma interpolação sobre os níveis de cinza da imagem original.

125
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

DICAS

Para conhecer o protocolo de correção geométrica de imagens de satélite,


no âmbito das atividades de geoprocessamento em projetos internos da Embrapa
Monitoramento por Satélite, tais como AgSpec, Aftosa, GeoRastro e GeoDegrade1.
Acesse o documento que apresenta as etapas do processo de correção geométrica
feito, utilizando três aplicativos, ArcMap, ENVI e ERDAS, além da obtenção automática
de pontos de controle no aplicativo Regeemy. Para conhecer os procedimentos para
correção geométrica de imagens de satélite, acesse a publicação de Silva et al. (2012)
referenciado no final desta Unidade.

126
TÓPICO 3 — ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS ESPACIAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

CARACTERÍSTICAS DOS DADOS GEOGRÁFICOS

Janine Molinari Mello

[...] Segundo Câmara e Davis, para modelar e representar um dado


geográfico em ambiente digital, é necessário incluir uma definição conceitual
para os dados geográficos para distinguir as grandes classes formais dos dados
em contínuos e objetos individualizáveis, e subdividir essas classes, de acordo
com o tipo de dados, em dados temáticos, dados cadastrais, modelos numéricos
de terreno e imagens por sensoriamento remoto.

Os autores apresentam outros conceitos essenciais para compreender


como é feita a tradução e modelagem dos dados geográficos para o meio digital,
que, de acordo com eles, ocorre com base em duas visões complementares:
modelo de campos e modelo de objetos. Desta forma, esses autores apresentam
os seguintes conceitos: Modelo de Campos, Geocampo, Modelo de Objetos, Geo-
objeto, Objeto Não Espacial e Região Geográfica.

O Modelo de Campos vê o espaço geográfico como sendo uma superfície


onde acontece uma variação contínua dos dados geográficos observados,
formando diferentes distribuições. Exemplo: um mapa geoquímico descreve
uma distribuição que associa cada ponto do mapa à presença de determinado
teor de mineral.

Geocampos são representações da distribuição espacial de dados


geográficos que variam ao longo do tempo, juntamente com seus valores, em
todos os pontos de uma região geográfica. Inúmeras representações de um
mesmo Geocampo podem significar a variação de um dado geográfico ao longo
do tempo, tornando possível a representação das cronologias desse dado, como
as mudanças climáticas, por exemplo.

O Modelo de Objetos representa o espaço geográfico como um conjunto


de dados geográficos distintos devidamente identificados. Exemplo: um cadas-
tro espacial dos rios de uma bacia hidrográfica que identifica cada rio, contendo
os atributos que o distinguem dos outros rios existentes.

Geo-objeto é um dado geográfico único, composto por atributos não espa-


ciais, e que consegue ter sua localização geográfica identificada de forma exata.

127
UNIDADE 2 — AQUISIÇÃO, ARMAZENAMENTO, GERENCIAMENTO, ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS GEOESPACIAIS

Um objeto não espacial é um dado geográfico com atributos não espaciais,


um dado que não tem localizações espaciais associadas, cuja informação não
contém referência geográfica, mas que se quer inclui-la no sistema de informação.

Região Geográfica é uma superfície do espaço geográfico que serve de


apoio geométrico para localizar dados geográficos, pois cada dado geográfico
pesquisado está representado por um ponto ou um conjunto de pontos em uma
região geográfica [...].

FONTE: MELLO, J. M. Adoção de sistema de informação geográfica (Ciências da


Comunicação: TI – Tecnologia da Informação). Curitiba: Editora Appris, 2015.

128
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Houve um aumento da oferta de dados geoespaciais nas últimas décadas,


mas que ainda há dificuldades de acesso à informação geográfica que podem
ser decorrentes do desconhecimento dos mecanismos de busca, por dificul-
dades de transferência de dados, por falta de padronização, entre outros.

• Infraestrutura de dados espaciais (IDEs) e a forma de distribuição dos dados


por meio de serviços e catálogos representam o novo paradigma de acesso a
dados geoespaciais.

• A compreensão da distribuição espacial de dados decorrentes de fenômenos


ocorridos no espaço é um desafio para esclarecer questões centrais em diversas
áreas do conhecimento.

• O exemplo pioneiro de distribuição espacial, ocorrido em 1854, em Londres,


por ocasião de uma epidemia de cólera, originada nas Índias, ilustra onde e
quando se incorporou a categoria do espaço às análises.

• O Sensoriamento Remoto representa a fonte principal de informação atuali-


zada para um SIG e que a união da tecnologia e dos conceitos e teorias de
Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento favorece a criação de sistemas de
informação mais ricos e sofisticados.

CHAMADA

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129
AUTOATIVIDADE

1 A Infraestrutura de Dados Espaciais (IDEs) e forma de distribuição dos


dados por meio de serviços e catálogos representam o novo paradigma de
acesso a dados geoespaciais. Quanto à Infraestrutura Nacional de Dados
Espaciais (INDE), que foi instituída oficialmente pelo Decreto nº 6.666, de
27 de novembro de 2008, ela é gerenciada pelo Comitê de Implantação da
INDE (CINDE) em qual órgão?

a) ( ) CONCAR – Comissão Nacional de Cartografia.


b) ( ) CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente.
c) ( ) INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
d) ( ) CPTEC – Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos.

2 Quanto aos tipos de dados em análise espacial, de acordo com Câmara


et al. (2004), a taxonomia mais empregada para caracterizar questões de
análise espacial considera três tipos de dados: eventos ou padrões pontuais,
superfícies contínuas e áreas com contagens e taxas agregadas. Sobre
as características destes tipos de dados em análise espacial, analise as
afirmativas a seguir:

I- Eventos ou padrões pontuais são fenômenos expressos através de


ocorrências identificadas como pontos localizados no espaço.
II- Localização de crimes, ocorrências de doenças, e localização de espécies
vegetais, são exemplos de eventos ou padrões de análise que podem ser
representados por pontos.
III- Áreas com contagens e taxas agregadas são dados associados a
levantamentos populacionais, como censos e estatísticas de saúde, que
originalmente se referem a indivíduos localizados em pontos específicos
do espaço.
IV- Superfícies contínuas usualmente resulta de levantamento de recursos
naturais, que incluem mapas geológicos, topográficos, ecológicos,
fitogeográficos e pedológicos.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa II está correta.


b) ( ) As afirmativas I e IV estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, III e IV estão corretas.

130
3 Os problemas de análise espacial podem estar relacionados com dados
ambientais e com dados socioeconômicos. Quando os dados são resultantes
de levantamentos populacionais como censos, estatísitcas de saúde e
cadastramento de imóvies, as áreas são normalmente delimitadas por:

a) ( ) Triangulação.
b) ( ) Interpolação.
c) ( ) Distribuição pontual.
d) ( ) Polígonos fechados.

4 A compreensão da distribuição espacial de dados é um desafio para


esclarecer questões em diversas áreas do conhecimento. Neste sentido,
discorra sobre a importância de incorporar o espaço à análise que se
deseja fazer.

5 Vimos que, em 1854, ocorreu em Londres uma epidemia de cólera,


originada nas Índias. Como não se conhecida muito sobre os processos
causais da doença, discorra sobre a importância da relação espacial entre
dados para o avanço na compreensão deste fenômeno.

131
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A. L. de J.; CHAGAS, E. F.; PIZZOL, R. J. O uso do SIG no tratamento
da informação em saúde. In.: ENCONTRO DE GEÓGRAFOS DA AMÉRICA
LATINA., 5., 2005, São Paulo, Anais [...] São Paulo, 2005.

BORGES, L. de O. Os atributos e a medida do significado do trabalho. Psicol.


teor. pesqui, v. 13, n. 2, p. 211-220, 1997.

BRASIL. Decreto nº 6.666, de 27 de novembro de 2008. Institui, no âmbito do


Poder Executivo federal, a Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (INDE),
e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2007-2010/2008/decreto/d6666.htm. Acesso em: 16 de jul. 2021.

CALIJURI, M. L.; LORENTZ, J. F. Fundamentos de Sistemas de Informações


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CASANOVA, M. Bancos de Dados Geográficos. Curitiba: MundoGEO, 2005.

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São José dos Campos: INPE, 2001.

CÂMARA, G.; et al. Análise espacial e geoprocessamento. In: Análise Espacial de


Dados Geográficos. Brasília: EMBRAPA, 2004.

CÂMARA, G.; MEDEIROS, J. S. de. Geoprocessamento para projetos ambientais.


São José dos Campos: INPE, 1996.

CAMBOIM, S. P.; SLUTER, C. R. I. Uso de ontologias para busca de dados


geoespaciais: uma ferramenta semântica para a Infraestrutura Nacional de Dados
Espaciais. Revista Brasileira de Cartografia, v. 65, n. 6, p. 1127-1142, 2013.

D’ALGE, J. C. L. Cartografia para geoprocessamento. Gilberto Câmara,


Clodoveu Davis, Antônio Miguel Vieira Monteiro (Ogs). In: Introdução à ciência
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FILHO, J. L. IOCHPE, C. Introdução a Sistemas de Informações Geográficas


com ênfase em banco de dados. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1996.

GARCIA, M. C. P. A aplicação do sistema de informações geográficas em


estudos ambientais. Curitiba: InerSaberses, 2014.

132
GOODCHILD, J. Conjugates of oligonucleotides and modified oligonucleotides:
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INPE. Divisão de Processamento de Imagens (DPI). c2021. Disponível em: http://


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MENEZES, P. M. L de e FERNANDES, M. do C. Roteiro de Cartografia. São


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MIRANDA, J. I. Fundamentos de Sistemas de Informação Geográfica. 4. ed.


Brasília: EMBRAPA, 2015.

NETO, O. B. L. et al. Análise espacial dos casos humanos de esquistossomose


em uma comunidade horticultora da Zona da Mata de Pernambuco, Brasil. Rev.
Bras. Epidemiol. v. 15, n. 4, p. 80-771, 2012

SALDANHA, M. F. S. Validação de dados geográficos espaciais em ambiente


orientado a objetos. 2005. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) –
Universidade Federal Do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.

SAMPAIO, T. Vi. M.; BRANDALIZE, M. C. B. Cartografia geral, digital e temática.


São Paulo: CIP, 2018.

SILVA, G. B. S. da. et al. Procedimentos para correção geométrica de imagens de


satélite. Brasília: Embrapa, 2012.

SILVAN, M. Geoprocessamento: Conceitos básicos essenciais para iniciantes.


[S.l.]: IGeógrafo, 2019.

STEVENS, S. S. et al. On the theory of scales of measurement. AAA Science, New


Series, v. 103, n. 2684, p. 677-680, jun.1946.

133
134
UNIDADE 3 —

ESTRUTURAS DE DADOS
E REPRESENTAÇÃO DE
DADOS AMBIENTAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer e diferenciar os conceitos e características dos modelos e


estruturas de dados matricial e vetorial e de que forma esses modelos
representam os aspectos da realidade;

• identificar os diferentes universos utilizados para abordar o problema


fundamental da Geoinformação e as características fundamentais destes
universos utilizados na produção de representações computacionais do
espaço geográfico;

• compreender as possibilidades de conversão entre os formatos matricial


e vetorial e sobre os processos utilizados nestas conversões;

• entender os conceitos e importância dos sistemas de coordenadas e de


um sistema de projeção cartográfica para retratar a superfície terrestre ou
parte dela;

• conhecer o conceito de mapas temáticos e os elementos necessários para


a produção deste tipo de mapa;

• conhecer alguns passos e ferramentas para a confecção de layouts para


impressão de mapas no QGIS.

135
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da
unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o
conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – MODELOS DE DADOS

TÓPICO 2 – ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

TÓPICO 3 – SISTEMA DE REFERÊNCIA

TÓPICO 4 – SAÍDAS

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim
absorverá melhor as informações.

136
TÓPICO 1 —
UNIDADE 3

MODELOS DE DADOS

1 INTRODUÇÃO

Como o analista – ou usuário de SIG – pode se deparar com situações


para decidir sobre o uso de modelos de dados, destacaremos, neste tópico, a
importância que tem sido dada pelos cientistas sobre o valor de usar modelos
como representações aproximadas dos sistemas reais.

Abordaremos o modelo de dados mais simples utilizado com frequência
para representar uma entidade, representado por um conjunto de dois elementos:
a localização geográfica – entidade no espaço definida através de coordenadas – e
o atributo – que descreve as características da entidade que se encontra à parte da
localização espacial.

Dessa forma, para uma melhor compreensão dos modelos de dados,


que representam a realidade com diferentes graus de informação, neste tópico,
estudaremos as classes: pontos, linhas e áreas, classificação que tem sido útil
como conceito organizado para se discutir o fenômeno espacial e a representação
de dados matricial e vetorial.

2 PONTOS, LINHAS E ÁREAS


Segundo Garcia (2014, p. 77), na visão dos objetos, “os fenômenos
geográficos são representados por objetos espaciais geometricamente retificados,
mas também tratados como objetos cartográficos com atributos”. Para Garcia
(2014, p. 77), os “objetos cartográficos são os componentes geométricos básicos da
cartografia e dos bancos de dados do SIG, que definem três entidades geométricas
fundamentais: 1) pontos, 2) linhas e 3) áreas”. Miranda (2015) ainda acrescenta
mais duas classes: a superfície, com três dimensões, e o relacionamento espaço-
tempo, com quatro dimensões.

Ponto é a representação gráfica mais simples de um objeto (MIRANDA,


2015). Geralmente, afirma o autor, ele representa um fenômeno espacial que
ocorre somente em um local. Entre os exemplos, pode-se citar escolas, hospitais,
poços artesianos ou de petróleo, telefone público, postes de energia, entre outros.

137
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

De acordo com Miranda (2015), pontos não têm dimensão, mas podem
ser indicados em mapas através do uso de símbolos e por serem discretos,
sempre ocorrerão em locais distintos. Segundo Garcia (2014), pontos representam
unidades discretas, o que significa que só pode haver uma escola no mesmo
lugar – em determinado tempo. Para o autor, o tempo é considerado importante,
porque a escola pode ser demolida, dando lugar a outra estrutura.

Um ponto representa a localização de um elemento geográfico, como um


poste ou hidrante, por exemplo, que não podem ser representados como uma
linha ou área por conta da pequena dimensão (DAVIS; CÂMARA, 2001).

O que determina se um objeto será representado sob a forma de ponto ou


de polígono é a escala de representação (GARCIA, 2014). O exemplo apresentado
por Garcia (2014) é uma sede municipal. De acordo com o referido autor, em uma
escala macro ela pode ser representada por um ponto, e em uma escala micro,
por uma área.

Linhas conectam, no mínimo dois pontos. De uma forma simples, Davis


e Câmara (2001) as definem como um conjunto de pontos conectados, como ruas
e rios que são tipicamente feições lineares. De acordo com Garcia (2014, p. 78), “A
localização da linha é descrita por um conjunto de coordenadas que definem a
trajetória espacial daquele dado. As linhas podem representar rios, linhas férreas,
fronteiras, curvas de nível entre outros fenômenos que tenha comprimento”.

Segundo Miranda (2015), as linhas simples podem ser representadas


facilmente por um pequeno número de pontos, porém, se elas se tornarem mais
complexas, deve-se usar um maior número de pontos para representá-las. As
linhas também podem ser empregadas, junto aos pontos, na representação de
estruturas de redes, como redes viárias e redes naturais (FILHO; IOCHPE, 1996).

Polígonos são apresentados, por, no mínimo, três linhas conectas. Eles


são utilizados na representação de objetos e fenômenos definidos em duas di-
mensões, como lago, floresta, área urbana, área agrícola, entre outros (GARCIA,
2014). No modelo de dados vetorial, de acordo com Davis e Câmara (2001), cada
localização é armazenada com coordenada x,y. “Áreas ou polígonos são armaze-
nadas como uma série de coordenadas de x,y, que define um ou mais segmento
de linha ou arco que se fecham para formar uma área ou polígono” (DAVIS;
CÂMARA, 2001, p. 92).

De acordo com Peuquet (1990 apud MIRANDA, 2015), os polígonos


podem ser de três tipos: polígonos isolados, cuja fronteira não é compartilhada
em nenhuma parte com outro polígono; polígonos adjacentes, cujo seguimento de
fronteira é compartilhado com pelo menos outro polígono; polígonos alinhados,
em que um ou mais polígonos ficam dentro de outro polígono.

138
TÓPICO 1 — MODELOS DE DADOS

Quanto às superfícies, segundo Miranda (2015), são representações de


objetos de três dimensões, como, por exemplo, o relevo de uma região. Neste caso,
de acordo com o autor, o que se armazena são as coordenadas de cada ponto (x,y)
mais sua altitude z. Segundo Garcia (2014, p. 78), “quando se coletam, em campo,
diversos pontos representativos das altitudes de uma área, essa série de pontos
pode ser codificada com base em sua interpolação (função SIG)”, compondo
contornos que representam a superfície do terreno (GARCIA, 2014).

De acordo com Garcia (2014), essas classes de dados espaciais (pontos,


linhas, polígonos e superfícies) se consolidam em dois modelos de representação
dos dados: matricial e vetorial.

No modelo de dados vetorial, à cada uma das feições representadas


está associada um identificador único (DAVIS; CÂMARA, 2001). Dessa forma,
ressaltam os autores, a lista de coordenadas de cada feição está associada com o
identificador da feição, conforme mostra a Figura a seguir.

FIGURA 1 – REPRESENTAÇÃO COMPUTACIONAL DE DADOS VETORIAIS NO ARC/INFO

FONTE : Davis e Câmara (2001, p. 93)

De acordo com Miranda (2015), nenhum modelo ou abstração representa


todos os aspectos da realidade. Sendo assim, pontua o autor, não é possível
projetar um modelo de dado de propósito geral que possa ser usado em qualquer
situação. A explicação para essa questão apresentada por Miranda (2015, p. 115-
116) é a seguinte:

139
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

“Existem estruturas de dados espaciais que, quando implementadas


em meio digital, são boas para serem reproduzidas graficamente,
mas ineficientes para propósitos de análise. Por outro lado, algumas
estruturas são ótimas para a realização de análise espacial, mas
ineficientes para serem reproduzidas graficamente. Sempre existe
uma relação de compromisso quando se escolhe um modelo para
representar o fenômeno geográfico” (MIRANDA, 2015, p. 115-116).

Contudo, se um modelo de dados fosse projetado para representar os


objetos e seus relacionamentos, resultando numa estrutura do fenômeno? De
acordo com Miranda (2015, p. 116), “querendo representar tudo isso, acabar-se-ia
com um modelo tão complexo quanto a realidade e perder-se-ia o sentido de usar
um modelo”. Entretanto, se fosse o caso de simplificar este modelo retirando os
objetos e relações? Para Miranda (2015, p. 116), “Ele seria menos representativo
da realidade, mas conteria apenas o essencial para objetivos específicos. A
grande vantagem é que ele conteria uma complexidade mínima”. Então, vamos
conhecer os dois modelos de representação espacial que estão bem consolidados
no mercado?

3 REPRESENTAÇÃO DE DADO MATRICIAL


Em sua obra, Fundamentos de Sistema de Informações Geográficas,
Miranda (2015) ressalta que a palavra matricial, usada em seu livro, é uma
tradução livre do termo inglês raster. O autor afirma que não há um vocábulo
em português para traduzir a palavra raster e que muitos traduzem o termo
rasterizing por varredura. Quanto ao termo ‘matriz’, Miranda (2015, p. 116)
afirma que é um termo emprestado da matemática, mais especificamente da
álgebra linear, que a define como “um conjunto de números, conhecidos como
índices, que podem ser referenciados de forma única por um par de coordenadas,
uma horizontal e uma vertical”.

De acordo com Miranda (2015) o modelo matricial representa a realidade


através das superfícies projetadas com um padrão regular, se assemelhando a um
tabuleiro de xadrez ou grade regular de células, grade que impõe limites precisos
a cada célula que tem as mesmas dimensões e forma geométrica. Para Ferreira
(2006, p. 19), “a estrutura matricial consiste em uma matriz bidimensional, que
pode ser matematicamente é definida como sendo uma função f(x,y), composta por
linhas e colunas, onde cada elemento desta estrutura é contém um número inteiro
ou real”. Segundo Garcia (2014, 79), “trata-se de uma subdivisão de superfícies
bitridimensionais ou tridimensionais em um conjunto de figuras geométricas
básicas que cobrem completamente a superfície sem falhas ou sobreposições”.

Garcia (2014) pontua que, as matrizes podem ser apresentadas sob forma
geométrica de um quadrado ou retângulo e, em SIG, são constituídas por índices
chamados células, que são representações numéricas de fenômenos geográficos
abstraídos da realidade. De acordo com Miranda (2015, p. 116):

140
TÓPICO 1 — MODELOS DE DADOS

“O modelo matricial pode definir células em qualquer forma geomé-


trica razoável, à medida que as formas possam ser interconectadas
para criar uma superfície plana representando todo o espaço de estu-
do. Embora diferentes formas de células seja possível, – por exemplo,
triângulos ou hexágonos, é mais simples usar retângulos ou, mais
frequentemente, quadrados. Como modelo é chamado de “grade de
célula”. Estas grades são normalmente regulares em tamanho, mas
isso não é absolutamente necessário (DEMERS, 1997; BERNHARDE-
SEN, 1999 apud MIRANDA, 2015, p. 116).

No que se refere aos formatos, de acordo com Garcia (2014), o formato


quadrado é usado, especialmente, em mapeamentos digital e em SIG, formato
este denominado de grade ou grid de células, que geralmente são regulares. Neste
caso, cada célula da matriz apresenta um valor específico de atributo, conforme
mostra a Figura a seguir.

FIGURA 2 – REPRESENTAÇÃO DO MODELO DE GRADE DE CÉLULAS

FONTE: Garcia (2014, p. 80)

Quando se trata de mapas temáticos, Garcia (2014) pontua que, cada


célula da matriz apresenta valor de atributo de tema, dessa forma, a matriz é
denominada de Plano de Informação (PI). De acordo com Garcia (2014, p. 81):

141
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Ao trabalharmos com um PI referente à rede de drenagem de uma


área em um município, por exemplo, o conjunto de valores 1 (um)
poderia ser representativo das células em que há água e o conjun-
to de valores 0 (zero) indicaria a ausência de água. Se quiséssemos
saber sobre a qualidade da água em corpos d’água (lagos, rios etc.),
poderíamos utilizar outros valores para essas células; caso estivésse-
mos medindo a quantidade de materiais sólidos flutuando sobre os
corpos líquidos, diferentes valores seriam atribuídos às células que
contém valor 1 (um). Assim, inúmeros outros fenômenos podem ser
representados sob essa forma de estruturação de dados geográficos
(GARCIA, 2014, p. 81).

A proposta do modelo matricial é abstrair em forma de grade os objetos


medidos na superfície terrestre (MIRANDA, 2015). Neste caso, destaca o autor,
cada célula armazena um valor de atributo. Segundo Miranda (2015), para criar
um mapa temático no modelo matricial, colecionam-se dados acerca de um tema
na forma de uma matriz, em que cada célula representa um atributo do tema.

Miranda (2015) pontua que existem coberturas para cada tema (uso da
terra, cobertura vegetal, hidrologia, entre outros) de modo que os atributos
sejam facilmente identificados (um para cada tema) e uma cobertura ou plano
de informação (matriz bidimensional) é criada e o SIG manipula o cruzamento
destes planos, conforme mostra a Figura a seguir.

FIGURA 3 – MODELO MATRICIAL COMO REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE

FONTE: Miranda (2015, p. 117)

142
TÓPICO 1 — MODELOS DE DADOS

No exemplo apresentado por Miranda (2015), abstraiu-se uma região fic-


tícia em três planos de informação: drenagem, solo e uso atual. De acordo com
o autor, o número de planos pode crescer conforme a necessidade do projeto e,
dependendo do plano de informação ou da variável a ser representada, as células
terão valores qualitativos ou quantitativos. Neste exemplo, as células com um re-
presentam presença de água e as células com zero representam ausência de água.

Inúmeros fenômenos podem ser representados por valores de células


atribuídos conforme o tipo de tema, entre eles, destaca Miranda (2015, p. 118):

• Variáveis físicas, como precipitação e topografia, com quantias e


elevações atribuídas às células. No caso da precipitação, o valor de
cada célula corresponde à quantidade de chuva que cai naquela
área. No caso da topografia, cada célula representa o valor da
elevação daquele lugar específico.
• Regiões administrativas, como códigos para distritos urbanos,
unidades estatísticas etc.
• Uso da terra, com células definidas a partir de um sistema de
classificação. Fazem parte da classificação, por exemplo, categorias
como área urbana, área industrial, área agrícola, corpos d’água etc.
• Distância de um dado objeto a um alvo. Neste caso, cada célula
do modelo tem um valor que representa a distância do objeto em
estudo a um alvo especificado pelo usuário.
• Energia emitida ou refletida como uma função de comprimento de
onda – dados de satélite de recursos naturais.

Neste modelo, Miranda (2015) ressalta que a capacidade de referenciar


geograficamente um objeto no SIG é essencial. Isso ocorre quando se atribui a
cada célula da grade um par de coordenadas na forma de linha e coluna. Na
sequência, vemos um destaque feito por Miranda (2015, p. 121) sobre a estrutura
matricial.

“Na estrutura matricial, um ponto é representado por uma simples


célula da grade; portanto, sua referência se constitui de um único
par de coordenadas (linha, coluna). Para representar uma linha é
necessária uma sequência de células vizinhas numa dada direção,
compreendendo as coordenadas (linha, coluna) do ponto inicial ao
(linha, coluna) do ponto final. E uma área é representada por um
aglomerado de células vizinhas. Neste caso, as coordenadas formam
um conjunto de pares (linha, coluna) para toda a região. Quando os
números da linha e da coluna são conhecidos, a localização das células
vizinhas pode ser calculada facilmente)” (MIRANDA, 2015, p. 121).

Um destaque feito por Ferreira (2006, p. 19) é de que os arquivos em


estrutura matricial podem apresentar diversas camadas, “mais especificamente
bandas, no caso de imagens obtidas por sensores remotos, ou por câmeras
fotográficas digitais, ou ainda por meio de dispositivos de digitalização matricial,
denominados scanners”.

143
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

De acordo com Miranda (2015), a ideia de um mundo dividido em


quantidades discretas, como ocorre no modelo matricial, sofre restrições. Além
disso, ressalta o autor, problemas de localização precisa neste modelo também
sofre restrições. Segundo Miranda (2015), como não se pode ter a localização
precisa do objeto no modelo matricial, a solução seria uma representação em um
espaço de coordenadas contínuas. É neste contexto que entra a representação de
dados vetoriais que veremos na sequência.

4 REPRESENTAÇÃO DE DADO VETORIAL


“Na representação vetorial, a representação de um elemento ou objeto é
uma tentativa de reproduzi-lo o mais exatamente possível. Qualquer entidade ou
elemento gráfico de um mapa é reduzido a três formas básicas: pontos, linhas,
áreas ou polígonos” (CÂMARA; MONTEIRO, 2001, p. 16) e geograficamente
referenciados por coordenadas cartesianas (GARCIA, 2014), conforme mostra a
Figura a seguir.

FIGURA 4 – MODELO VETORIAL COMO REPRESENTAÇÃO DA REALIDADE

FONTE: Miranda (2015, p. 123)

Segundo Garcia (2014, p. 82) neste modelo de representação, “Cada


elemento é representado por um objeto identificável, com geometria própria
de pontos, linhas, polígonos e áreas. Assim, todas as posições, comprimentos e
dimensões podem ser exatamente determinadas.”

144
TÓPICO 1 — MODELOS DE DADOS

Na estrutura vetorial Miranda (2015, p. 124) ressalta que “há uma combi-
nação entre a entidade dado espacial com o seu atributo, o dado não espacial”. De
acordo com o referido autor, de modo geral, o atributo é mantido em um arquivo
separado ou em um SGBD disponível no mercado. Estas informações devem ser
ligadas de alguma forma (MIRANDA, 2015). Dessa forma, ressalta o autor, neste
modelo, há duas estruturas de armazenamento ao invés de uma, como no modelo
matricial, conforme representado na Figura a seguir.

FIGURA 5 – MODELO VETORIAL

FONTE: Miranda (2015, p. 124)

Neste modelo, a entidade ponto é o que existe de mais importante,


abrangendo todas as entidades geográficas e gráficas que são posicionadas por
um par de coordenadas (x, y) (MIRANDA, 2015). Para Filho e Iochpe (1996),
o ponto é a primitiva principal do modelo de representação vetorial, mas são
usados três construtores básicos: o ponto, a linha e o polígono, como mencionado
anteriormente. Além das coordenadas x e y, destacadas por Miranda (2015), o
referido autor ressalta que seu atributo deve ser armazenado para indicar seu
“tipo” de ponto. “O registro do dado teria que incluir informação acerca do
símbolo, tamanho e orientação. Se o “ponto” fosse uma entidade poço artesiano,
o registro de dado teria que incluir informação acerca da vazão, pH, nome
do proprietário ou outras informações consideradas relevantes ao trabalho”
(MIRANDA, 2015, p. 124).

145
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Neste tipo de modelo, “uma cidade pode ser representada por uma
entidade ponto em um nível continental de resolução, mas como uma entidade
polígono em um nível regional” (MIRANDA, 2015, p. 125). No caso da entidade
linha, consiste em dois ou mais pares de coordenadas, cujos atributos são
armazenados em arquivo separado. Esta entidade implica na “representação da
extensão geográfica do objeto por conjuntos de coordenadas (x,y) que definem
um caminho conectado através do espaço, mas sem nenhuma largura verdadeira,
a menos que especificada em termos de atributos em anexo” (MIRANDA, 2015,
p. 125). Segundo o autor, as linhas mais complexas abrangem um número maior
de segmentos de retas, que começam e terminam em um par de coordenadas.
Elas exigem mais espaço no disco do computador do que as entidades pontos.
Insto acontece, de acordo com Miranda (2015), porque elas podem ser compostas
de 3 ou 3.000 pontos, conforme suas extensões e sinuosidades.

Embora o modelo de dados vetorial seja mais representativo da localiza-


ção de objetos no espaço, ele não é tão preciso, porque o número de coordenadas
ou pontos para linhas mais complexas dificilmente será suficiente para uma re-
presentação fiel da realidade (MIRANDA, 2015). Um exemplo apresentado pelo
referido autor, mostra uma curva e dois prováveis conjuntos de pontos que a
representam, mostrado na Figura a seguir.

FIGURA 6 – DIGITALIZANDO UMA CURVA

FONTE: Miranda (2015, p. 126)

146
TÓPICO 1 — MODELOS DE DADOS

No primeiro caso, Miranda (2015) ressaltam que, o digitalizador foi minu-


cioso, inserindo um número maior de pontos para representar a curva, enquanto,
no segundo caso, digitalizou menos pontos para representar a curva, resultando
em uma representação mais retilínea.

Dessa forma, ressalta Miranda (2015), o responsável pela digitalização


de dados para um SIG acaba se deparando com a seguinte questão: quantos
dados devo inserir? Caso sejam inseridos muitos dados, a base de dados crescerá
e, se forem inseridos poucos dados, problemas nas análises a serem realizadas
podem acontecer (MIRANDA, 2015). Diante disso, o referido autor destaca que,
é preciso decidir onde colocar o cursor da mesa digitalizadora e apertar o botão
da entrada de dados para produzir uma representação razoável da curva usando
segmentos de reta.

A rede é uma aplicação de SIG que usa o modelo vetorial, composta de
linhas, seus atributos e informações adicionais (MIRANDA, 2015). Um exemplo
é uma linha que representa uma estrada, cujo atributo indica se ela é principal ou
vicinal, pavimentada ou não.

De acordo com Miranda (2015, p. 127):

O sistema viário é um dos sistemas de rede mais usados no SIG. O


objetivo é usar o SIG para modelar o deslocamento de recursos ou
objetos de um lugar para outro, ou a alocação de recursos ou objetos
de/ou para um centro. Um exemplo simples seria uma transportadora
otimizar um conjunto de segmentos de linhas conectadas por nós.
Cada linha e cada nó tem identificação única. Um segmento de linha
não tem nenhuma intersecção lógica intermediaria e um nó é um
ponto de intersecção onde dois ou mais segmentos se encontram. Mas
os algoritmos de alocação de recursos são complexos (MIRANDA,
2015, p. 127).

De acordo com Miranda (2015), é possível adicionar informações no que


se refere a nós que as conectam, como indicar a existência de um semáforo, um
sinal de “pare”, uma placa advertindo retorno proibido, ou mesmo informações
sobre fluxo de veículos.

O modelo vetorial tem uma informação adicional que o qualifica: o


atributo. De acordo com Miranda (2015), os pares de coordenadas armazenadas
no computador têm o que se chama no SIG de topologia. Segundo Miranda (2015),
é através dela que se sabe que um polígono em um mapa de solos representa um
determinado tipo de solo, por exemplo.

Vimos as principais características dos modelos matricial e vetorial.


Agora, vamos conhecer a estrutura de dados para os formatos matricial e vetorial.

147
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os objetos cartográficos são os componentes geométricos básicos da cartografia


e dos bancos de dados do SIG, definidos em três entidades geométricas
fundamentais: pontos, linhas e áreas.

• Nenhum modelo ou abstração representa todos os aspectos da realidade.


Dessa forma, não é possível projetar um modelo de dado de propósito geral
que possa ser usado em qualquer situação.

• O modelo matricial representa a realidade através das superfícies projetadas


com um padrão regular, assemelhando-se a um tabuleiro de xadrez ou grade
regular de células, grade que impõe limites precisos a cada célula que tem as
mesmas dimensões e forma geométrica.

• No modelo vetorial cada elemento é representado por um objeto identificável,


com geometria própria de pontos, linhas, polígonos e áreas. Dessa forma,
podem ser exatamente determinadas todas as posições, comprimentos e
dimensões.

148
AUTOATIVIDADE

1 Pontos, linhas e áreas, são utilizados para representar a realidade com


diferentes graus de informação. Esta é uma classificação utilizada como
conceito organizado para se discutir o fenômeno espacial e a representação
de dados matricial e vetorial. Sobre os conceitos e características de pontos,
linhas e áreas, analise as afirmativas a seguir:

I- Linhas são definidas como um conjunto de pontos conectados, como ruas


e rios entre outros fenômenos que tenha comprimento.
II- Ponto é a representação gráfica mais simples de um objeto, representando
um fenômeno espacial que ocorre somente em um local.
III- Polígonos são utilizados na representação de objetos e fenômenos definidos
em duas dimensões, armazenadas como uma série de coordenadas de x,y
que define um ou mais segmento de linha ou arco que se fecham.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

2 A palavra matricial é uma tradução livre do termo inglês raster. O modelo


matricial representa a realidade através das superfícies projetadas com um
padrão regular, que se assemelha a um tabuleiro de xadrez (MIRANDA,
2015). Sobre este modelo, classifique V para as afirmativas verdadeiras e F
para as falsas.

FONTE: MIRANDA, J. I. Fundamentos de Sistemas de Informação Geográfica. 4. ed. Brasília:


Embrapa, 2015.

( ) O modelo matricial é o único modelo capaz de representar todos os


aspectos da realidade sem falhas.
( ) A estrutura matricial é composta por linhas e colunas, onde cada elemento
desta estrutura contém um número inteiro ou real.
( ) A estrutura matricial consiste em uma matriz bidimensional, que pode
ser matematicamente definida como sendo uma função f(x,y).
( ) O modelo matricial é uma subdivisão de superfícies bitridimensionais
ou tridimensionais em um conjunto de figuras geométricas básicas que
cobrem a superfície representada.

149
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – F – F – V.

3 De acordo com Miranda (2015), o número de planos de informação pode


crescer conforme a necessidade de cada projeto. Dependendo do plano
de informação ou da variável a ser representada, o autor destaca que
as células terão valores qualitativos ou quantitativos. Sobre os tipos de
variáveis que podem ser representadas no modelo matricial, analise as
afirmativas a seguir:

FONTE: MIRANDA, J. I. Fundamentos de Sistemas de Informação Geográfica. 4. Ed. Brasília:


EMBRAPA, 2015.

I- Variáveis físicas, como precipitação e topografia, podem ser representados


em modelos matriciais.
II- Para a representação do uso da terra é necessário recorrer aos modelos de
dados vetoriais, tendo em vista que não pode ser representado por um
modelo matricial.
III- Energia emitida ou refletida como uma função de comprimento de onda
– dados de satélite de recursos naturais, podem ser representados em
modelos matriciais.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas I e II estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

4 Nenhum modelo de dados ou abstração é capaz de representar todos os


aspectos da realidade, não sendo possível, dessa forma, projetar um modelo
de dado de propósito geral que possa ser usado em qualquer situação
(MIRANDA, 2015). Neste sentido, disserte sobre a escolha de um modelo
para a representação do fenômeno geográfico.

FONTE: MIRANDA, J. I. Fundamentos de Sistemas de Informação Geográfica. 4. Ed. Brasília:


Embrapa, 2015.

150
5 No modelo de representação vetorial, cada elemento é representado por
um objeto que pode ser identificado, com geometria própria de pontos,
linhas, polígonos e áreas, de forma que todas as posições, comprimentos
e dimensões possam ser exatamente determinados (GARCIA, 2014). Neste
contexto, disserte sobre as vantagens e desvantagens do modelo de dados
vetorial na representação espacial.

FONTE: GARCIA, M. C. P. A aplicação do sistema de informações geográficas em estudos


ambientais. Curitiba: InterSaberes, 2014.

151
152
TÓPICO 2 —
UNIDADE 3

ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

1 INTRODUÇÃO

Após o estudo do modelo de dados usados na representação do fenôme-


no geográfico matricial e vetorial, que abstraem o fenômeno espacial, resultan-
do em uma forma representada por um mapa, trataremos então da estrutura de
dados para modelos matriciais e vetoriais, pois, esses modelos precisam de uma
estrutura de dados para serem implementados.

Uma pontuação feita por Miranda (2015) é que existe uma dificuldade
de rever todas as estruturas disponíveis para implementar os modelos matricial
e vetorial, pois a literatura é muito extensa e sempre há alguém fazendo novas
implementações para otimizar o uso de espaço em disco ou capacitação das
estruturas matriciais.

Diante do avanço tecnológico que possibilita inovações contínuas na


área de geoprocessamento, neste tópico, serão apresentados os conhecimentos
básicos sobre as principais estruturas utilizadas para implementar o modelo de
dados matricial.

2 ESTRUTURA E FORMATO DE DADOS GEOGRÁFICOS


De acordo com Miranda (2015), a estrutura do dado é a forma padrão para
armazenar dados no computador. O autor destaca que, “Quando um sistema
é projetado para computadores, na fase de planejamento deve ser definida a
estrutura que dará suporte à forma de armazenar os dados” (MIRANDA, 2015, p.
132). Segundo o referido autor, quando os dados disponíveis forem inseridos no
computador, eles formarão uma base de dados e, uma característica desta base de
dados é que ela vai armazenar dados geograficamente referenciados. De acordo
com Queiroz e Ferreira (2006, p. 5):

Do ponto de vista da aplicação, o uso de sistemas de informação ge-


ográfica (SIG) implica em escolher as representações computacionais
mais adequadas para capturar a semântica de seu domínio de aplica-
ção. Do ponto de vista da tecnologia, desenvolver um SIG significa
oferecer o conjunto mais amplo possível de estruturas de dados e al-
goritmos capazes de representar a grande diversidade de concepções
do espaço (QUEIROZ; FERREIRA, 2006, p. 5).

153
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Queiroz e Ferreira (2006) ressaltam que são utilizados o paradigma dos


quatro universos para abordar o problema fundamental da geoinformação, que
é a produção de representações computacionais do espaço geográfico. Segundo
os autores, este paradigma diferencia quatro passos entre o mundo real e sua
realização computacional: o universo ontológico, o universo formal, o universo
estrutural e o universo de implementação.

De acordo com Smith (2003 apud QUEIROZ; FERREIRA, 2006) “nossas


percepções do mundo real são materializadas em conceitos que descrevem a
realidade e respondem a questões como: que classes de entidades são necessárias
para descrever o problema que estamos estudando?”.

Dessa forma, ressaltam Queiroz e Ferreira (2006), criamos o universo


ontológico, onde inserimos os conceitos da realidade a serem representados no
computador, como, por exemplo, tipos de solo, elementos de cadastro urbano e
caracterização das formas do terreno.

O universo formal “inclui modelos lógicos ou construções matemáticas


que generalizam os conceitos do universo ontológico e dão resposta à pergunta:
quais são as abstrações formais necessárias para representar os conceitos de nosso
universo ontológico?” (QUEIROZ; FERREIRA, 2006, p. 6).

De acordo com Queiroz e Ferreira (2006), o terceiro universo, o universo


estrutural, é onde as entidades dos modelos formais são mapeadas para estruturas
de dados geométricos e alfanuméricos, além de algoritmos que realizam operações.
Segundo os referidos autores, neste universo, são respondidas questões como:
quais são os tipos de dados e algoritmos necessários para representar os modelos e as
álgebras do universo formal?

No universo estrutural, as estruturas de dados utilizadas em bancos de


dados geográficos podem ser divididas em duas grandes classes: estruturas
vetoriais e estruturas matriciais (QUEIROZ; FERREIRA, 2006), temas abordados
nos próximos itens deste tópico.

Por fim, o universo de implementação completa o processo de


representação computacional. De acordo com Queiroz e Ferreira (2006, p.6),
“neste universo, realizamos a implementação dos sistemas, fazendo escolhas
como arquiteturas, linguagens e paradigmas de programação.”

Para Queiroz e Ferreira (2006), o paradigma destes universos é uma


maneira de compreender que a transposição da realidade para o computador
exige uma série complexa de mediações. De acordo com os autores, primeiramente
é necessário dar nomes às entidades da realidade e, posteriormente, são gerados
os modelos formais que as descrevem de forma precisa.

154
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

Neste caso, conheceremos as estruturas matricial e vetorial, duas grandes


classes do universo estrutural, um dos paradigmas dos quatro universos para
abordar o problema fundamental da Geoinformação.

DICAS

Para conhecer os aspectos do universo estrutural que incluem as arquiteturas


de SGBD – conversão de dados, interoperabilidade e disseminação de dados na Internet –,
consulte a obra:
• CÂMARA, G. Representação computacional de dados geográficos. In: CASANOVA, M. et
al. (orgs.) Bancos de Dados Geográficos. Curitiba: MundoGEO, 2005.

3 ESTRUTURA DE DADOS PARA MODELOS MATRICIAIS


Segundo Ferreira (2006), o princípio do armazenamento de dados
geográficos em estrutura matricial é simples, bastando que o arquivo tenha um
cabeçalho, que contenham informações sobre as coordenadas do canto superior
direito da imagem (x, y), o tamanho da célula em x e em y e o número de linhas e
colunas da matriz. De acordo com Miranda (2015, p. 133):

As imagens de satélite usadas nos sistemas de processamento de


imagens digitais usam o formato matricial. As estruturas diferem
ligeiramente umas das outras, principalmente pela maneira como
os atributos de dados são organizados e representados. A estrutura
mais simples e popular é restringir cada nível a um atributo simples
e limitar o número de valores do atributo ao intervalo inteiro 0-255.
Na terminologia do processamento de imagens digitais, os atributos
são chamados de bandas ou canais, referindo-se a uma faixa do
espectro eletromagnético medido por satélites de recursos naturais,
como os satélite americano Landsat. A sequência de células na matriz
é comumente dada pela ordem da linha, começando no canto superior
esquerdo e passando da esquerda para a direita, de cima para baixo
(MIRANDA, 2015, p. 133).

O modelo de dados matricial foi criado com o propósito de armazenar


os fenômenos geográficos como planos cartesianos divididos em quadrículas ou
células e um SIG com esta estrutura é conhecido como SIG Matricial (MIRANDA,
2015). De acordo com o autor, este tipo de SIG é referenciado na literatura como
Grid Based System ou Raster Based System.

155
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Na estrutura destes sistemas, destaca Miranda (2015, p. 133), “cada célula


era referenciada individualmente e estava associada com células posicionadas de
maneira idêntica em todos as outras coberturas ou temas”. De acordo com o au-
tor, “o esquema desta estrutura era uma coluna de células verticais, cada uma re-
ferindo-se a um tema (MIRANDA, 2015, p. 133), conforme mostra a Figura 7 (a).

FIGURA 7 – TRÊS MODELOS MATRICIAIS

FONTE: Miranda (2015, p. 135)

Queiroz e Ferreira (2006) destacam que as estruturas matriciais utilizam


uma grade regular sobre a qual se representa, o elemento que está sendo
representado, célula a célula. Os autores ressaltam ainda que, a cada célula, é
atribuído um código referente ao atributo estudado, de modo que o computador
identifique o elemento ou objeto pertencente a determinada célula.

Nestes sistemas, segundo Miranda (2015), a comparação entre diferentes


temas era feita uma coluna por vez e a facilidade de comparar temas era a
vantagem destes sistemas. Entretanto, para Miranda (2015, p. 133), “era ineficiente
para comparar grupos de células nos diferentes planos de informação porque
cada célula era endereçada individualmente.

156
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

Um modelo inicial foi o IMGRID, como mostra a Figura 7 (b). A ideia


principal deste sistema, conforme Miranda (2015), foi usar planos de informação
binários, ou seja, células que conteriam apenas um valor: 0 ou 1. Para representar
um mapa temático de uso da terra com quatro categorias, como, por exemplo:
recreação, agricultura, indústria e residência, Miranda (2015, p. 133) destaca que
“cada um destes atributos teria um plano de informação individual. Um para a
agricultura, com 1s e 0s, representando a presença ou ausência desta atividade
para cada célula. Recreação, indústria e residência seriam representadas da
mesma maneira”. Sobre os planos binários representados na Figura 7 (b), Miranda
(2015, p. 135) ressaltam:

“Estes quatro planos binários poderiam ser combinados para produ-


zir outro plano de informação com um único tema. Pelo menos duas
vantagens existiam para este tipo de armazenamento de dados: a) os
objetos geográficos eram armazenados como um plano cartesiano,
mais representativo para um mapa do que a estrutura anterior; b) os
valores dos atributos de cada tema eram normalizados para 0 e 1. Tal
procedimento facilitava eventuais cálculos necessários nos planos.
Uma desvantagem era o crescimento do número de planos de infor-
mação quando se trabalhava com várias categorias por tema, ocor-
rência corriqueira. Embora o computador manipulasse tantos planos
quantos necessários, tal procedimento era ineficiente (MIRANDA,
2015, p. 135)”.

Um modelo de SIG matricial que influenciou muitos sistemas no mer-


cado por integrar as vantagens dos dois métodos foi o Map Analysis Package
(MAP), desenvolvido por Dana Tomlin (TOMLIN, 1990; DEMERS, 1997 apud
MIRANDA, 2015, p. 134). Neste modelo, cada tema era registrado e acessado
de forma separada pelo nome do mapa e título, conforme Figura 7 (c). Neste
modelo cada variável ou unidade de mapeamento do tema da cobertura era
gravado com um rótulo ou número de código separado, que podia ser acessa-
do individualmente quando a cobertura era recuperada (MIRANDA, 2015). De
acordo com o autor, a flexibilidade e facilidade do uso do MAP favoreceram seu
aprendizado como uma versão didática de SIG.

Conforme se observa na Figura 7 (c), na base estrutura hierárquica


está o mapa digital, representando uma coleção de planos de informação
(georreferenciada a um sistema de referência comum) organizada de modo
que cada um deles pertencia a uma área de estudo (MIRANDA, 2015). Para o
referido autor, “cada plano de informação era como um mapa convencional, um
desenho plano indicando a natureza, forma, posições relativas e tamanho de
condições selecionadas em uma determinada área geográfica, a área de estudo
(MIRANDA, 2015. p. 134).

Segundo Filho e Iochpe (1996), dois conceitos importantes no modelo


matricial se referem à resolução e à orientação da imagem. No que se refere
à resolução, Filho e Iochpe (1996) ressaltam que corresponde à dimensão
mínima da menor unidade do espaço geográfico (célula) considerada. Quanto à

157
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

orientação de uma imagem matricial Filho e Iochpe (1996, p. 25), eles destacam
que “corresponde ao ângulo entre o norte verdadeiro e a direção definida pelas
colunas da imagem. Normalmente, a localização geográfica verdadeira de um ou
mais vértices da imagem é conhecida”.

O modelo pensado para o MAP, segundo Miranda (2015), dividia o


plano em quatro subitens: título, resolução, orientações e variáveis. O título era
a identificação do mapa escrita como um texto e a resolução se referia à relação
entre a distância medida na superfície (dimensão geográfica) e a distância medida
no papel (dimensão cartográfica). De acordo com Miranda (2015, p. 134):

Parece uma escala, mas não é, pois este número não se relaciona ao
tamanho físico de nenhuma imagem gráfica (TOMLIN, 1990). Por
exemplo, a resolução de um plano de informação poderia ser 20m
x 20m. Esta era a menor unidade de referência endereçada no mapa
em relação a um objeto no chão. Objetos menores que esta resolução
não poderiam ser identificados no plano de informação (MIRANDA,
2015, p. 134).

E
IMPORTANT

Segundo Miranda (2015), é comum trabalhar com diversos planos de


informação em projetos de SIG. De acordo com o autor, na Cartografia, o chamado
“plano de informação”, é conhecido como tema, cobertura, mapa, sobreposição ou
elemento de dados.

Quanto à orientação, de acordo com Miranda (2015, p. 135), descrevia


a relação entre a direção geográfica e cartográfica, especificando “a quantos
graus, no sentido horário, em relação ao norte verdadeiro o mapa em questão se
encontrava”.

No que se refere às variáveis, apresentaremos o exemplo utilizado por


Miranda (2015, p. 135) “a zona”, que, de acordo com o autor, “era uma área
geográfica que caracterizada uma qualidade particular de uma localização
geográfica”. Por exemplo, o plano de paisagem era classificado em várias zonas:
campo, floresta, água, estradas, edificações etc.” e as zonas eram subdivididas em
rótulos, valores, referências ou localizações.

Como podemos perceber, e de acordo com as afirmações de Miranda


(2015), os sistemas iniciais procuravam resolver o problema de representação
do fenômeno geográfico que tornasse mais fácil as operações de sobreposição

158
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

de diferentes temas, mas outra questão precisava ser solucionada: a economia


de espaço de armazenamento e essa solução, passava pelo desenvolvimento de
técnicas computacionais.

Para tentar resolver o problema, algumas estruturas foram apresentadas.


As mais conhecidas e adaptadas para a solução do problema de economia de
espaço ao se trabalhar com modelos matriciais: codificação por repetições
(run-length encoding), código de cadeia matricial (raster chain codes ou freeman) e
quadtrees (MIRANDA, 2015). Filho e Iochpe (1996) menciona ainda os códigos
de bloco (block codes).

DICAS

Para saber mais sobre os modelos mencionados, sugerimos o estudo da obra:


• MIRANDA, J. I. Fundamentos de Sistemas de Informação Geográfica. 4. Ed. Brasília, DF:
EMBRAPA, 2015.

4 ESTRUTURA DE DADOS PARA MODELOS VETORIAIS


Neste tipo de modelo, enquanto um arquivo armazena as coordenadas
planas do fenômeno geográfico, os atributos são armazenados em outro arquivo
para acesso futuro (MIRANDA, 2015, p. 143). De acordo com o autor, existem
inúmeras maneiras para colocar o modelo de dados vetorial em uma estrutura de
dado vetorial e, a partir deste ponto, pode-se analisar a relação entre variáveis em
uma cobertura ou entre variáveis de coberturas diversas.

Existem diferentes estruturas de dados para modelos vetoriais. Neste


caso, apresentaremos as estruturas: spaghetti e a topológica, a exemplo de Miranda
(2015), pois oferece uma ideia de como estas estruturas evoluíram ao longo do
desenvolvimento de SIG vetoriais.

Segundo Miranda (2015, p. 143):

“O modelo vetorial não é quantificado em partes como acontece com


o sistema matricial. No modelo vetorial, todas as posições, compri-
mentos e dimensões são definidos precisamente [...]. Além da supo-
sição de coordenadas matematicamente exatas, métodos vetoriais de
armazenamento de dados usam relações implícitas que permitem o
armazenamento de dados complexos em espaço mínimo. Porém, não
existe um método predominante” (MIRANDA, 2015, p. 143).

159
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

4.1 ESTRUTURA SPAGHETTI


Esta estrutura não é mais usada, mas será apresentada, pois dá uma
ideia de como como a estrutura para o modelo vetorial evoluiu. De acordo com
Miranda (2015, p. 145):

“A estrutura de dados vetoriais mais simples é chamada spaghetti


(DANGEMOND, 1982). Ela é uma tradução direta do mapa analógico
linha por linha. É a mais natural ou mais lógica, primeiramente porque
o mapa é mantido como um modelo conceitual. Embora o nome
pareça esquisito, ela é muito representativa. Cobrindo cada objeto
gráfico do mapa analógico com um fio de spaghetti, tem-se uma boa
ideia de como o modelo funciona. Cada pedaço do spaghetti age como
uma entidade simples, curto para pontos, longo para segmentos de
linha reta e coleções de segmentos de linhas que se juntam no início e
fim de áreas vizinhas. Cada entidade é um registro lógico, simples no
computador, codificado como registro de tamanho variável de pares
de coordenadas (x,y) (MIRANDA, 2015, p. 145).

FIGURA 8 – ESTRUTURA SPAGHETTI

FONTE: Miranda (2015, p. 145)

Segundo Filho e Iochpe (1996, p. 28), os modelos de dados spaghetti “utili-


zam estruturas de dados que armazenam os polígonos/linhas como sequência de
coordenadas de pontos. Nestes modelos, os limites entre duas áreas adjacentes são
registrados (digitalizados) e armazenados duas vezes, uma em cada polígono”.

160
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

Uma das desvantagens desta estrutura era o custo computacional em


função da ausência de atributos topológicos. Nesta estrutura não há informação
sobre vizinhança entre os polígonos e não se usa atributo topológico. No último
caso, esta ausência causa um dispêndio computacional, tornando difíceis as
medidas e análises (MIRANDA, 2015).

4.2 ESTRUTURA TOPOLÓGICA


Um destaque feito por Filho e Iochpe (1996) sobre os modelos de dados
topológicos é que a maioria dos SIG a utilizam. Os autores ainda destacam que
estes são modelos que utilizam estruturas de dados que permitem o armazena-
mento de alguns tipos de relacionamentos, com ênfase principal nos relaciona-
mentos de conectividade entre linhas de uma rede (que contêm arestas interliga-
das por nós) e nos relacionamentos de vizinhança entre áreas (representadas por
polígonos) adjacentes.

Antes de conhecermos um pouco mais sobre a estrutura topológica, co-


nheceremos a definição de topologia apresenta por Miranda (2015). De acordo
com Miranda (2015, p. 148):

“Topologia é uma área da matemática que trabalha com proprieda-


des geométricas que permanecem invariáveis sob certas transfor-
mações, tais como alongamento e dobra. Na estrutura topológica as
conexões e relações entre objetos são descritas independentemen-
te de suas coordenadas. Suas topologias permanecem inalteradas
quando a geometria é alongada ou dobrada (BERNHARDSEN,
1999). A estrutura topológica supre a maior fraqueza da estrutura
Spaghetti, a qual perde no quesito de relacionamento para muitas
manipulações, facilitando o processo de análise, e apresentações do
SIG”. (MIRANDA, 2015, p. 148).

Miranda (2015) pontua que o modelo topológico se baseia na teoria


matemática dos grafos e empega nós e arcos. Miranda (2015, p. 148) especifica que
“um nó é um ponto de interseção entre dois ou mais arcos ou um ponto inicial/
final de um arco. Seu número é usado para se referir a qualquer arco no qual
ele está conectado.” No caso do arco “é uma sequência de vértices ordenados,
seu começo é um vértice especial ou “nó inicial” e o fim outro vértice especial
chamado “nó final ou terminal” (MIRANDA, 2015, p. 148), ou seja, correspondem
a entidades unidimensionais, iniciando e finalizando por um nó. Observe a
Figura 9, que apresenta a topologia de polígonos, arcos e nós para uma melhor
compreensão deste modelo.

161
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

FIGURA 9 – TOPOLOGIA DE POLÍGONOS, ARCOS E NÓS

FONTE: <https://bit.ly/3mvqud1>. Acesso em: 13 set. 2021.

Ainda tratando sobre os arcos e nós, Miranda (2015, p. 158) pontua que:

“Arcos se conectam apenas nos nós. Um conjunto fechado de nós e


arcos forma um polígono. Os polígonos também contêm códigos de
identificação que se relacionam aos números dos arcos. Cada arco do
polígono é capaz de olhar para a esquerda e direita dos números dos
polígonos e sobre polígonos são adjacentes ao longo de seu percurso.
Isso porque as informações sobre polígonos da esquerda e direita
estão armazenadas” (MIRANDA, 2015, p. 148).

Essa estrutura que implementa o processo natural usado para se identificar


relações quando se lê um mapa é apresentada na Figura a seguir.

162
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

FIGURA 10 – ESTRUTURAS TOPOLÓGICAS

FONTE: Miranda (2015, p. 149)

Para uma melhor compreensão da Figura 10, Miranda (2015) explica que
as Identidades únicas são atribuídas a todos os arcos (L1, L2, ...), nós (N1,N2, ...),
polígonos (A, B, ...) e dados de atributos, que não mostrados na Figura a seguir. A
topologia pode ser descrita em três tabelas principais e uma secundária contendo
as coordenadas, observadas na Figura a seguir.

163
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Segundo Miranda (2015), a montagem da estrutura inicial das tabelas


topológicas era trabalhosa, mas, com a evolução das linguagens de programação,
há uma tendência em facilitar este tipo de montagem. De acordo com o autor, na
década de 1970, era muito mais difícil implementar estas estruturas do que agora.
Miranda (2015) salienta que a linguagem era o Frotran não estruturado, porém,
com o advento do C, estre trabalho foi facilitado. Atualmente, ressalta o autor,
“existem as linguagens orientadas a objetos, tornando o código ainda mais fácil
de implementar e manter” (MIRANDA, 2015, p. 151).

A seguir, veja uma breve apresentação de algumas estruturas topológicas


desenvolvidas e suas características, conforme Miranda (2015, p. 150).

• geographic base file/dual independent map encoding (gbf/dime): estrutura


em que cada linha termina quando ela muda de direção ou quando
intercepta outra linha e os nós são identificados com códigos;
• topological intergrated geographic encoding and referencing system
(tiger) que sanou alguns dos problemas encontrados no gbf/dime.
uma das características desta estrutura é a representação da feição
natural da linha, enquanto na estrutura gbf/dime, as linhas curvas
eram representadas por retas;
• polygon converter (polyvrt) que apresentava as facilidades da estru-
tura dime, além de eliminar suas ineficiências de armazenamento
e busca. “esta estrutura armazenava separadamente as entidades
fundamentais (ponto, linha e polígono) ligadas a uma estrutura de
dados hierárquica com os pontos relacionando-se com os arcos e
estes, por sua vez, relacionavam-se com os polígonos”. nesta es-
trutura os arcos eram chamados de cadeias, enquanto na estrutura
gbf/dime eram chamados de segmentos. nesta estrutura cada linha
começava e terminava com nós específicos;
• uma das vantagens da polyvtr sobre a gbf/dime é que sua estrutu-
ra hierárquica permita a recuperação seletiva de classes de dados
específicos.

Uma das vantagens da estrutura topológica é destacada por Miranda


(2015, p. 151):

“Criada a topologia, um mapa podia ser reproduzido com cores sólidas,


atividade impossível com a estrutura Spaghetti. A topologia requer
todos os arcos conectados, todos os polígonos fechados e todos os nós
perdidos removidos. Muitos programas de digitalização permitem o
uso de uma função de fechamento de polígonos – snap, em inglês.
Usando esta função com uma tolerância de 1mm, por exemplo, uma
busca é realizada nos arcos do polígono. Se dois vértices estivessem a
uma distância menor que a tolerância, eles serão unidos para formar
um nó, fechando o polígono. Os programas atuais de edição de entrada
de dados espaciais dispõem de muitas funções que facilitam a vida do
operador, tornando o processo de digitalização bem mais eficiente que
alguns anos atrás.” (MIRANDA, 2015, p. 151).

Uma comparação entre a estrutura spaghetti e a estrutura topológica, pode


ser observada na Figura a seguir.

164
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

FIGURA 11 – COMPARAÇÃO ENTRE A ESTRUTURA TOPOLÓGICA E SPAGHETTI

FONTE: <https://bit.ly/3Fm2uBD>. Acesso em: 13 de set. 2021.

Comparando os modelos matricial e vetorial, enquanto o modelo matricial


exigia grandes áreas de memória para ser armazenado, o modelo vetorial
economizava espaço (MIRANDA, 2015). A Figura 12 mostra, graficamente,
como funciona o algoritmo Douglas-Peucker que reduz o número de pares de
coordenadas a serem armazenadas.

FIGURA 12 – ALGORITMO DOUGLAS-PEUCKER

FONTE: Miranda (2015, p. 152)

165
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

“O método consistia em desenhar uma linha reta entre os pontos


inicial e final da curva, chamada de “linha de tendência” e calcular
a distância ortogonal de cada ponto curva para a reta. Os pontos que
estão dentro de uma faixa – limite de tolerância – como se fosse um
corretor – da linha de tendência, são eliminados. A interpretação é que
a linha de tendência pode representar a linha original. O ponto final da
linha de tendência então é movido para o ponto cuja distância para ela
foi maior. O algoritmo é repetido conforme o procedimento anterior
e termina quanto não há mais pontos dentro do limite estipulado. O
limite precisa ser definido com cuidado, para não descaracterizar a
curva original. Este algoritmo para reduzir o número de pontos não é
o mais rápido, uma vez que ele deve encontrar o desvio máximo para
cada linha que define o corredor” (MIRANDA, 2015, p. 151).

Vimos como funciona a estrutura de dados para modelos matriciais e


vetoriais. Agora, estudaremos a conversão entre modelos matricial e vetorial,
conteúdo que encerra os assuntos estudados neste tópico.

5 CONVERSÃO ENTRE MODELOS MATRICIAL E VETORIAL


De acordo com Garcia (2014), todos os softwares de SIG possuem
ferramentas para a conversão entre os formatos matricial e vetorial. Garcia
(2014, p. 85) pontua que, no processo de conversão do formato matricial para o
vetorial, “as áreas que contêm o mesmo valor de células são convertidas para
polígonos com valores de atributos equivalentes aos valores da célula”. “No
processo de conversão do formato vetor para o formato matriz, cada célula de
um polígono recebe valor igual ao do atributo do polígono (SILVA, 1999 apud
Garcia, 2014, p. 85):

Sobre este tipo de conversão, Miranda (2015, p. 153) ressalta que:

“O tipo de conversão de dados citado acima pode ser chamado tam-


bém de “integração simples”, desde que a conversão entre os forma-
tos seja realizada sob a intervenção do operador. Uma maneira mais
sofisticada seria a chamada “integração completa”, quando os dados
migram de um formato para o outro automaticamente, sem necessi-
dade de intervenção do operador de SIG” (MIRANDA, 2015, p. 153).

Segundo Ferreira (2006), o processo de conversão de dados matriciais em


vetoriais vai depender dos ajustes feitos pelo usuário. Para o autor, esses ajustes
possibilitam que o usuário interfira na composição geométrica das feições vetoriais
de saída. Após a determinação dos ajustes ideais da vetorização, Ferreira (2006)
salienta que eles podem ser utilizados e/ou então salvos para serem reutilizados
em outros trabalhos. Vimos que o formato matricial pode ser convertido em
vetorial e vice-versa. Contudo, conforme Miranda (2015, p. 153):

166
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

“A conversão do formato matricial para vetorial é considerada mais


complexa que a operação inversa, principalmente pela necessidade de
se criar uma saída com um grau de precisão que não se encontra no
formato matricial. Um dos pontos fracos do modelo matricial é sua
baixa precisão geográfica. Além disso, é necessário criar informação
topológica e identificar atributos individuais. Diferentes programas de
conversão podem produzir resultados diferentes a partir do m esmo
conjunto original de dados. Parâmetros como rapidez, qualidade de
saída e precisão são importantes quando trabalhamos com a conversão
matriz-vetor” (MIRANDA, 2015, p. 153).

Já a conversão do formato vetorial para o formato matricial, de acordo


com Miranda (2015), é considerada mais simples, pois nem toda informação to-
pológica do dado vetorial precisa ser transferida para o dado matricial. Segundo
o autor, pode-se criar diversos planos de informação a partir de um único plano
vetorial, considerando diferentes variáveis. Sobre a conversão entre os formatos
matricial e vetorial, Garcia (2014, p. 85) pontua:

“Todos os softwares de SIG contam com ferramentas para conversão


entre os formatos matricial (raster) e vetorial. No processo de
conversão do formato matriz para o formato vetor, as áreas que
contém o mesmo valor de célula são convertidas para polígonos
com valores de atributos equivalentes aos valores das células. No
processo de conversão do formato vetor para o formato matriz, cada
célula de um polígono recebe valor igual ao do atributo do polígono
(SILVA, 1999)” (GARCIA, 2014, p. 85).

De acordo com Silva (1999 apud GARCIA, 2014, p. 85) “No processo de
conversão, dados pontuais podem ser transformados em superfícies contínuas –
dados raster – por métodos de interpolação; já dados que são escaneados podem
ser convertidos em informações vetoriais pelo processo de vetorização”.

Alguns problemas podem surgir no processo de conversão. Um deles diz


respeito à conversão do formato matricial para o vetorial. Isso se dá por conta
da baixa precisão no formato matricial. Além disso, afirma Garcia (2014), na
transformação, é preciso criar as informações topológicas ao formato vetorial e
identificar os atributos individuais. De acordo com o autor, diferentes softwares
de SIG podem produzir resultados diferentes neste processo de conversão, ainda
que utilizem a mesma base original de dados.

O ambiente SIG QGIS permite a conversão de estruturas (vetorial


e matricial) e o georreferenciamento de dados não espaciais. Para ilustrar
melhor o processo de conversão destes formatos, apresentaremos um exemplo
disponibilizado pelo IBGE (2018) no QGIS.

De acordo com o IBGE (2018), para converter o SRTM da estrutura


matricial para estrutura vetorial, selecione Raster > Converter > Raster para Vetor
(Poligonizar), conforme a Figura a seguir.

167
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

FIGURA 13 – CAIXA DE DIÁLOGO PARA CONVERSÃO DA ESTRUTURA MATRICIAL PARA VETORIAL

FONTE: IBGE (2018, p. 77)

Observe a Figura 14 que mostra o resultado da conversão da estrutura


matricial para vetorial.

FIGURA 14 – RESULTADO DA CONVERSÃO DA ESTRUTURA MATRICIAL PARA VETORIA

FONTE: IBGE (2018, p. 78)

Para converter o arquivo SRTM da estrutura matricial para estrutura


vetorial, curvas de nível (isolinhas hipsométricas), conforme orientações do IBGE
(2018), basta selecionar: Raster > Extrair > Contorno, com intervalo das curvas de
nível de 100 metros, conforme a Figura a seguir.

168
TÓPICO 2 — ESTRUTURA DE DADOS GEOGRÁFICOS

FIGURA 15 – CAIXA DE DIÁLOGO PARA CONVERSÃO DO MNE (MATRICIAL) PARA CURVAS DE


NÍVEL (VETORIAL)

FONTE: IBGE (2018, p. 78)

As curvas de nível geradas ao seguir as instruções anteriores são


representadas na figura a seguir.

FIGURA 16 – RESULTADO DA CONVERSÃO DO MNE PARA CURVAS DE NÍVEL

FONTE: IBGE (2018, p. 79)

Chegamos ao final deste tópico. Lembre-se de realizar as autoatividades


para exercitar os seus conhecimentos sobre os assuntos trabalhados neste tópico.

169
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A estrutura do dado é a forma padrão para armazenar dados no computador.


Quando um sistema é projetado para computadores, deve ser definida, na fase
de planejamento, a estrutura que dará suporte à forma de armazenamento
dos dados.

• São utilizados o paradigma dos quatro universos para abordar o problema


fundamental da Geoinformação, que é a produção de representações
computacionais do espaço geográfico. Este paradigma é composto pelo
universo ontológico, o universo formal, o universo estrutural e o universo de
implementação.

• O princípio do armazenamento de dados geográficos em estrutura matricial


é simples, bastando que o arquivo tenha um cabeçalho, que contenham
informações sobre as coordenadas.

• Na estrutura de dados para modelo vetorial, enquanto um arquivo armazena


as coordenadas planas do fenômeno geográfico, os atributos são armazenados
em outro arquivo para acesso futuro e que existem inúmeras maneiras colocar
o modelo de dados vetorial em uma estrutura de dado vetorial.

• Os softwares de SIG possuem ferramentas para a conversão entre os formatos


matricial e vetorial e que no processo de conversão do formato matricial para
o vetorial, as áreas que apresentam o mesmo valor de células são convertidas
para polígonos com valores de atributos equivalentes aos valores da célula.

170
AUTOATIVIDADE

1 A estrutura do dado é a forma padrão para armazenar dados no


computador. Para abordar o problema fundamental da Geoinformação, ou
seja, a produção de representações computacionais do espaço geográfico,
são utilizados o paradigma dos quatro universos (QUEIROZ; FERREIRA,
2006). Sobre este paradigma, classifique V para as afirmativas verdadeiras
e F para as falsas:

FONTE: QUEIROZ, G. R. FERREIRA, K. R. Tutorial sobre Bancos de Dados Geográficos


GeoBrasil. 2006.

( ) No universo ontológico são inseridos os conceitos da realidade a serem


representados no computador.
( ) No universo formal inclui modelos lógicos ou construções matemáticas
que generalizam os conceitos do universo ontológico.
( ) O universo estrutural é aquele que inclui conceitos que dão resposta à
pergunta: quais são as abstrações formais necessárias para representar os
conceitos de nosso universo ontológico?
( ) O universo de implementação é onde as entidades dos modelos formais
são mapeadas para estruturas de dados geométricos e alfanuméricos, e
algoritmos que realizam operações.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – V – F – F.
b) ( ) F – F – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) V – F – F – V.

2 Segundo Filho e Iochpe (1996), dois conceitos importantes no modelo


matricial se referem à resolução e à orientação da imagem. No que se refere
à resolução, os autores ressaltam que corresponde à dimensão mínima da
menor unidade do espaço geográfico (célula) considerada. Sobre conceitos
relevantes para o modelo matricial, analise as afirmativas a seguir:

FILHO, J. L. IOCHPE, C. Introdução a Sistemas de Informações Geográficas com ênfase em


banco de dados. Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, 1996.

I- A orientação descreve a relação entre o norte geográfico e o norte


magnético da Terra.
II- Orientação de uma imagem matricial corresponde ao ângulo entre o norte
verdadeiro e a direção definida pelas colunas da imagem.
III- No modelo pensado para o MAP, a resolução se referia à relação entre a
distância medida na superfície e a distância medida no papel.

171
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

3 Existem diferentes estruturas de dados para modelos vetoriais, entre


elas as estruturas: spaghetti e a topológica, que evoluíram ao longo do
desenvolvimento de SIG vetoriais. Sobre estas estruturas, associe os itens,
utilizando o código a seguir:

I- Estrutura spaghetti.
II- Estrutura topológica.

( ) Entre as características desta estrutura estão o alto custo computacional e


a ausência de informação sobre vizinhança entre os polígonos.
( ) Se baseia na teoria matemática dos grafos e empega nós e arcos. Este
modelo requer todos os arcos conectados, todos os polígonos fechados e
todos os nós perdidos removidos.
( ) Utiliza estruturas de dados que permitem o armazenamento de alguns
tipos de relacionamentos, com ênfase principal nos relacionamentos de
conectividade entre linhas de uma rede e nos relacionamentos de vizinhança
entre áreas adjacentes.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – II – II .
b) ( ) II – I – I.
c) ( ) I – II – I.
d) ( ) II – II – I.

4 De acordo com Garcia (2014), todos os softwares de SIG possuem ferramentas


para a conversão entre os formatos matricial e vetorial. De acordo com
o autor, no processo de conversão do formato matricial para o vetorial,
as áreas que apresentam o mesmo valor de células são convertidas para
polígonos com valores de atributos correspondentes aos valores da célula.
Neste sentido, discorra sobre o processo de conversão entre estes modelos.

GARCIA, M. C. P. A aplicação do sistema de informações geográficas em estudos


ambientais. Curitiba: InterSaberes, 2014.

172
TÓPICO 3 —
UNIDADE 3

SISTEMA DE REFERÊNCIA

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, faremos uma breve abordagem sobre os sistemas de


coordenadas, apresentando algumas de suas características. O conceito e a
importância do sistema de projeção para a confecção de mapas também será
assunto deste tópico, pois, como veremos a seguir, o assunto projeções de mapas
devem ser visto com responsabilidade e preocupação pelos usuários de SIG, e
não somente pelos cartógrafos.

Veremos também os sistemas de referência, sistemas estes utilizados


para caracterizar a posição de objetos segundo suas coordenadas, incluindo os
sistemas clássicos e modernos.

2 SISTEMA DE COORDENADAS
“O posicionamento terrestre somente é possível mediante um sistema
de coordenadas que possibilite a localização espacial do elemento desejado na
superfície” (DOMPIERI; SILVA; JÚNIOR, 2015, p. 10).

O sistema de coordenadas geográficas é um sistema de referência


empregado para posicionar e medir feições geográficas, apresentadas em graus,
minutos e segundos ou em graus decimais. De acordo com D’Alge (2001), o
sistema de coordenadas geográficas é o sistema de coordenadas mais antigo.
Neste sistema, cada ponto da superfície da Terra é localizado na interseção de um
meridiano com um paralelo.

Miranda (2015) faz uma importante observação sobre um assunto que


envolve o sistema de coordenadas: a de que a localização de objetos no espaço um
tema desenvolvido ao longo da história. De acordo com o autor, existem objetos
com localização na superfície da Terra que não é plana. “No dia a dia, as pessoas
usam mapas planos representados em folhas de papel de duas dimensões. Mas
não se deve esquecer que há o problema de representação de uma superfície
esférica numa superfície plana” (MIRANDA, 2015, p. 74).

Sobre a importância destes sistemas Garcia (2014, p. 30) destacam que “os
sistemas de coordenadas são necessários para expressar a posição de pontos sobre
uma superfície, seja um elipsoide, seja uma esfera, seja um plano”. É com base

173
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

em determinados sistema de coordenadas, é possível descrever a superfície do


planeta geometricamente (IBGE, 1999; GARCIA, 2014). “Assim, para o elipsoide,
normalmente é empregado o sistema de coordenadas cartesiano curvilíneo,
representado por paralelos e meridianos; já para o plano é estabelecido um
sistema de coordenadas cartesianas X e Y” (GARCIA, 2014, p. 30).

Contudo, salienta Garcia (2014), para que a posição de um ponto possa ser
estabelecida de forma correta, é necessário determinar, uma terceira coordenada,
a altitude. “Há dois tipos de altitude: tipo (h), cuja distância é contata a partir
do geoide (superfície de referência para contagem das altitudes) e tipo (H),
também chamado de altitude geométrica, em que a distância é contada a partir
da superfície do elipsoide” (GARCIA, 2014, p. 85).

De acordo com Garcia (2014, p. 85):

“A forma mais comum para a representação de coordenadas em um


mapa se dá com base na aplicação de um sistema sexagesimal – sistema
de coordenadas geográficas. Os valores dos pontos sobre a superfície
são expressos por coordenadas geográficas (latitude e longitude)
contendo unidades de medida angular: (o) graus, (‘) minutos e (”)
segundos. Neste tipo de sistema, cada ponto da superfície terrestre é
localizado na interseção de um meridiano com um paralelo”.

E
IMPORTANT

Sobre o sistema plano, conhecido como Plano Cartesiano, o nome deriva do


matemático francês René Descartes, criador do referido sistema. Os estudos de Descartes
resultaram no aprofundamento do ramo da Matemática conhecido como Geometria
Analítica. De acordo com Miranda (2105), a Cartografia utiliza a Geometria Cartesiana
de diversas maneiras, sendo útil no desenvolvimento do sistema de coordenadas planas
empregado nas mesas digitalizadoras, equipamentos que possibilitam a entrada de
dados espaciais.

3 SISTEMAS DE PROJEÇÕES DE MAPAS


Uma projeção cartográfica, ou um sistema de projeção cartográfica, pode
ser definido como “qualquer representação sistemática de paralelos e meridianos
retratando a superfície da Terra, ou parte dela, considerada como uma esfera
ou elipsoide, sobre um plano de referência” (SNYDER, 1987; PEARSON, 1990;
BUGAYEVSKIY; SNYDER, 1995 apud MENEZES; FERNANDES, 2013, p. 119).

174
TÓPICO 3 — SISTEMA DE REFERÊNCIA

De modo geral, Miranda (2015) ressalta que o assunto projeções de mapas


é visto como responsabilidade e preocupação apenas de cartógrafos e, muitas
vezes, usuários de SIG, acabam ignorando o assunto da representação espacial.
Entretanto, com a propagação do uso de SIG e com os assuntos que dizem respeito
a geoprocessamento, como agricultura de precisão, posicionamento por satélite e
sensoriamento remoto por satélites, por exemplo, esse assunto deve ser ignorado.

De acordo com Garcia (2014, p. 25), “Projeções cartográficas são métodos


que permitem a correspondência entre cada ponto da superfície da Terra e uma
superfície de representação, tal como as cartas ou os mapas.” Segundo o autor, a
representação de uma superfície curva em um plano é a questão fundamental das
projeções cartográficas.

Por se tratar de uma representação da Terra, as representações de


superfícies curvas em uma superfície planam envolvem “extensões” ou
“contrações” que resultam em distorções ou “rasgos”. Portanto, “Diferentes
técnicas de representação são aplicadas no sentido de se alcançar resultados
que apresentem certas propriedades favoráveis para um propósito específico”
(GARCIA, 2014, p. 25).

Dependendo da figura geométrica utilizada para envolver o globo,


diferentes formas de projeção foram criadas e, de acordo com Miranda (2015),
cada um dos métodos pensado formava uma família de projeções, conforme
mostra a Figura a seguir.

FIGURA 17 – FAMÍLIAS DE PROJEÇÕES

FONTE: Miranda (2015, p. 81)

175
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Apesar da existência de diferentes projeções, Miranda (2015) destaca


que, de uma forma ou de outra, o espaço geográfico do globo terrestre não está
representado de forma precisa por essas famílias de projeções, cada uma imporá
diferentes distorções no mapa final, porque ocorrem distorções que não podem
ser completamente eliminadas. Portanto, ressalta o autor “não existe o mapa
perfeito, livre de erros. Todo mapa contém erros, por causa desse processo de
transformação. Nos procedimentos para produzir um mapa, o projetista terá que
optar por algumas relações de compromisso” (MIRANDA, 2015, p. 81).

Sobre as distorções e suas consequências, Miranda (2015, p. 82) salienta que:

“As distorções e suas consequências na aparência do mapa variam


com a escala. Pode-se abstrair o globo como sendo feito de pequenos
quadriláteros. Se cada um deles fosse extremamente pequeno,
não diferiria muito da superfície plana. No mapeamento de (p. 81)
pequenas áreas da Terra (mapeamento em grande escola), a distorção
não representa um problema maior de desenho, podendo ser
ignorada. À medida que a área mapeada se aproxima das dimensões
continentais, as distorções começam a ser sentidas e se tornam um
problema para o projetista” (MIRANDA, 2015, p. 82).

Segundo Miranda (2015), as distorções e suas consequências variam com


a escala. De acordo com o autor, o globo pode ser abstraído como sendo feito
de pequenos quadriláteros e, se cada um deles fosse extremamente pequeno,
não diferiria muito da superfície no plano. Miranda (2015) ainda pontua que, no
mapeamento de pequenas áreas da Terra, ou seja, no mapeamento em grande
escala, a distorção não representaria um problema maior de desenho, podendo
ser ignorada, mas, afirma o autor, “à medida que a área mapeada se aproxima
das dimensões continentais, as distorções começam a ser sentidas e se tornam um
problema para o projetista” (MIRANDA, 2015, p. 82).

Segundo o IBGE (1999), o ideal seria construir uma carta que reunisse
todas as propriedades representando uma superfície rigorosamente semelhante
à superfície terrestre. Dessa forma, essa carta deveria apresentar as seguintes
propriedades: manutenção da verdadeira forma das áreas a serem representadas,
ou conformidade; inalterabilidade das áreas, ou equivalência; constância das
relações entre as distâncias dos pontos representados e as distâncias dos seus
correspondentes, ou equidistância.

De acordo com o IBGE (2012), quanto às propriedades, as deformações


ocorridas pela planificação da superfície terrestre no que se refere às áreas,
aos ângulos ou às distâncias, podem ser minimizadas, porém nunca aos três
simultaneamente. Os exemplos a seguir apresentados pelo IBGE (2012) mostram a
possibilidade de alterar as projeções para o Brasil de acordo com as propriedades.

176
TÓPICO 3 — SISTEMA DE REFERÊNCIA

FIGURA 18 – PROPRIEDADES ESPECIAIS DAS PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS

FONTE: Adaptado do IBGE (2012, p. 22)

Sobre a família de projeções empregadas na representação espacial, apre-


sentamos as características destacadas por Miranda (2015), por conta da clareza e
objetividade expressas pelo autor.

De acordo com Miranda (2015), a família de projeções que conservam a


propriedade de correspondência angular correta em torno de pontos é denominada
de projeção conforme ou ortomórfica. Este tipo de projeção produz mapas sem
distorções, ou mantém a forma, dentro de certos limites de extensão. De acordo
com o autor, a manutenção de ângulos corretos para grandes áreas é uma tarefa
difícil, por isso, esta projeção deve ser utilizada somente para pequenas regiões
da Terra. Segundo o autor, este tipo de projeção não é adequado para grandes
regiões, tais como oceanos e continentes, pois as áreas ficarão distorcidas. “Como
há distorção neste tipo de projeção para grandes áreas, isso significa dizer que,
se forem medidas áreas nesses mapas áreas nesses mapas, elas serão incorretas”
(MIRANDA, 2015, p. 82).

Quanto às projeções que preservam áreas são denominadas de projeções


equivalentes ou de área igual. Contudo, preservando-se áreas, distorcem-se os
ângulos (MIRANA, 2015). De acordo com o autor, projeções de área igual são
adequadas para representar distribuição de pontos sobre grandes regiões, pois
não afeta a densidade de pontos. “Na projeção equivalente, ocorrem distorções
lineares ou de distância, porque é impossível para uma projeção manter ao mesmo
tempo equivalência e conformidade (preservação da forma)” (MIRANDA, 2015,
p. 82). De acordo com o IBGE (1999), este tipo de projeção conserva uma relação
constante com as suas correspondentes na superfície terrestre. “Seja qual for a
porção representada num mapa, ela conserva a mesma relação com a área de
todo o mapa” (IBGE, 1999, p. 37).

177
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Se a intenção de projetar um mapa for a mensuração correta das distâncias,


deve-se selecionar uma projeção que as preserve, projeção esta chamada “proje-
ção equidistante” (MIRANDA, 2015). Contudo, afirma o autor, essa projeção não
preserva nem relações angulares nem de área e que as distorções e suas consequ-
ências na aparência do mapa variam com a escala. De acordo com o IBGE (1999),
a projeção equidistante não apresenta deformação linear para algumas linhas em
especial, ou seja, os comprimentos são representados em escala uniforme.

Antes de finalizar este item, apresentaremos uma observação feita por


Miranda (2015) sobre a escolha das projeções para um projeto. De acordo com o
autor, ao tornar-se um futuro responsável por projetos de SIG, algumas decisões
precisam ser tomadas sobre a projeção mais indicada para determinados tipos de
análises que devem ser feitas com os dados espaciais. Por exemplo, se a análise
exige o estudo de um movimento ou mudança de objetos – como poderia ocorrer
por telemetria – a projeção conforme seria mais adequada (MIRANDA, 2015).
Segundo o autor, outras aplicações apropriadas para esse tipo projeção compre-
endem a preparação de cartas náuticas, dados meteorológicos ou topográficos.

4 SISTEMAS DE REFERÊNCIA
De acordo com Menezes e Fernandes (2013), esses sistemas são utilizados
para caracterizar a posição de objetos segundo suas coordenadas. Quando
a posição que se deseja identificar é a de uma informação sobre a superfície
terrestre (MENEZES; FERNANDES, 2013), afirma-se que os sistemas de
referência terrestres ou geodésicos são empregados. “Tais sistemas são associados
a uma superfície geométrica que mais se aproxime da forma da Terra e sobre a
qual serão desenvolvidos todos os cálculos das suas coordenadas” (MENEZES;
FERNANDES, 2013, p. 75). Sobre a obtenção das coordenadas pelo sistema de
referência terrestre, Menezes e Fernandes (2013, p. 75) destacam que:

“As coordenadas obtidas pelos sistemas de referência terrestre podem


ser apresentadas sob diversas formas. Uma forma é quando são
apresentadas em uma superfície esférica ou elipsódica, recebendo
a denominação de coordenadas geodésicas. A outra forma é uma
superfície plana, recebendo a denominação das coordenadas de
projeção cartográfica as quais estejam associadas, como por exemplo,
as coordenadas do sistema de projeção UTM.”

Existem diversos sistemas geodésicos de referência que procuram


atender a necessidades específicas. No Brasil, o sistema geodésico de referência é
denominado de sistema geodésico brasileiro (SGB), e “é definido por uma série
de características que tem como respaldo levantamentos de um conjunto de
pontos geodésicos implantados na superfície terrestre delimitada pelas fronteiras
do país” (MENEZES; FERNANDES, 2013, p. 75). De acordo com os autores, este
é o sistema em que estão referidas todas as informações geográficas brasileiras.

178
TÓPICO 3 — SISTEMA DE REFERÊNCIA

Entre os diferentes sistemas de referências, temos os sistemas de referên-


cia clássicos e modernos. Vamos conhecer estes tipos de sistemas e referência
geodésicos adotados no Brasil?

4.1 SISTEMAS DE REFERÊNCIA CLÁSSICOS


Segundo Menezes e Fernandes (2013, p. 75), “Antes das técnicas de posi-
cionamento, utilizava-se como base a geodésia por satélite, na qual os referenciais
geodésicos eram determinantes por processos conhecidos como astrogeodésicos
horizontais (DGH)”.

De acordo com Menezes e Fernandes (2013, p. 76) pode-se dizer que


esse tipo de sistema geodésico de referência “define um elipsoide de revolução
adequadamente adaptado à área e à sua orientação no espaço, estabelecendo
a origem para as coordenadas geodésicas referenciadas a esse elipsoide. Essa
origem recebe o nome de datum horizontal”.

O procedimento clássico para definir a situação espacial de um elipsoide de


referência obedece à antiga técnica de posicionamento astronômico, “na qual se ar-
bitra que a normal ao elipsoide e a vertical no ponto origem são coincidentes, bem
como as superfícies do geoide e elipsoide, induzindo, assim, a coincidência das
coordenadas geodésicas e astronômicas”. (MENEZES; FERNANDES, 2013, p. 77).

4.2 SISTEMAS DE REFERÊNCIA MODERNOS


Quanto aos sistemas de referência terrestres modernos apresentam uma
concepção diferente dos antigos sistemas topocêntricos, “mas, em essência, são
idênticos, possuindo uma estrutura definidora e a sua materialização” (MENEZES;
FERNANDES, 2013, p. 77). De acordo com Menezes e Fernandes (2013, p. 77):

“Basicamente, para obtê-los é necessário a adoção de uma plataforma


de referência que represente a forma e as dimensões da Terra. As
plataformas são conhecidas como sistemas geodésicos de referência
(SGR), fundamentados em um CTS (espaço abstrato), sendo,
portanto, geocêntricos. Esses sistemas são definidos como extensivas
observações do campo gravífico terrestre feitas por satélites, que
fornecem os fundamentos para a organização de todas as informações
pertinentes à Terra” (MENEZES; FERNANDES, 2013, p. 77).

Diferentemente dos sistemas de referência clássicos, topocêntricos,


Menezes e Fernandes (2013, p. 77) salientam que “os sistemas de referência
modernos são geocêntricos, ou seja, adotam um referencial que é um ponto
calculado computacionalmente no centro da Terra (geoide)”.

179
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

4.3 SISTEMAS DE REFERÊNCIA GEODÉSICOS ADOTADOS


NO BRASIL
Antes de abordarmos os sistemas de referência geodésicos adotados no
Brasil, faremos uma breve abordagem sobre os sistemas geodésicos globais.
De acordo com o IBGE (2018), os sistemas geodésicos globais se adequam às
modernas técnicas de posicionamento, permitindo levantamentos globais, por
exemplo, os Sistemas Globais de Navegação por Satélite (GNSS – Global Navigation
Satellite System). “A origem do sistema é o centro de massa da Terra (Sistemas
Geocêntricos). Por exemplo: World Geodetic System 1984 – WGS 84; International
Terrestrial Reference System – ITRS; Sistema de Referência Geocêntrico para as
Américas – SIRGAS 2000 (IBGE, 2018, p. 21).

No que se refere aos sistemas geodésicos de referência que já foram


adotados no Brasil, segundo Menezes e Fernandes (2013, p. 77), entre os mais
conhecidos, destacam-se os que, inicialmente, utilizavam sistemas topocêntricos
como o elipsoide Internacional de Hayford, de 1924, com a origem de coordenadas
estabelecida no ponto datum de Córrego Alegre/MG. Em 1977, o sistema geodésico
brasileiro foi alterado para o SAD-69 (South American Datum, de 1969), que
também é topocêntrico e adota o elipsoide de referência de 67 e o ponto Datum
Chuá/MG. Atualmente, o sistema adotado é o Sirgas (2000), sistema geocêntrico,
serve de referencial para a América do Sul.

180
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os sistemas de coordenadas são necessários para expressar a posição de pontos


sobre uma superfície e é com base em determinados sistema de coordenadas,
que é possível descrever a superfície do planeta geometricamente.

• Um sistema de projeção cartográfica pode ser definido como qualquer


representação sistemática de paralelos e meridianos, retratando a superfície
terrestre, ou parte da superfície da Terra.

• As distorções e suas consequências variam com a escala e que o globo pode


ser abstraído como sendo feito de pequenos quadriláteros e, se cada um deles
fosse extremamente pequeno, não diferiria muito da superfície no plano.

• Os sistemas de referência são utilizados para caracterizar a posição de objetos


segundo suas coordenadas e que tais sistemas estão associados a uma superfície
geométrica que mais se aproxime da forma da Terra.

• O procedimento clássico para definir a situação espacial de um elipsoide de


referência obedece à antiga técnica de posicionamento astronômico e que os
sistemas modernos apresentam uma concepção diferente dos antigos sistemas
topocêntricos.

181
AUTOATIVIDADE

1 Quanto às propriedades, as deformações ocorridas pela planificação da


superfície terrestre no que se refere às áreas, aos ângulos ou às distâncias,
podem ser minimizadas, porém nunca aos três simultaneamente (IBGE,
2012). Sobre a família de projeções empregadas na representação espacial,
analise as afirmativas a seguir:

FONTE: IBGE. Atlas geográfico escolar. Introdução à cartografia. 6. ed. Rio de Janeiro:
IBGE, 2012.

I- Na projeção equidistante, ocorrem distorções lineares ou de distância. É o


tipo de projeção que conserva a mesma relação com a área de todo o mapa.
II- Quanto às projeções que preservam áreas são denominadas de projeções
equivalentes ou de área igual. Contudo, preservando-se áreas, distorcem-
se os ângulos.
III- A projeção conforme mantém a forma dentro de certos limites de extensão.
Este tipo de projeção não é adequado para grandes regiões, tais como
oceanos e continentes, pois as áreas ficarão distorcidas.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Somente a afirmativa I está correta.


b) ( ) As afirmativas II e III estão corretas.
c) ( ) As afirmativas I e III estão corretas.
d) ( ) As afirmativas I, II e III estão corretas.

2 Existem diversos sistemas geodésicos de referência que procuram atender


a necessidades específicas. No Brasil, o sistema geodésico de referência
é denominado de sistema geodésico brasileiro (SGB). Entre os diferentes
sistemas de referências, temos os sistemas de referência clássicos e modernos.
Sobre esses sistemas, associe os itens, utilizando o código a seguir:

I- Sistemas de referência clássicos.


II- Sistemas de referência modernos.

( ) Sistemas de referência que adotam um referencial que é um ponto


calculado computacionalmente no centro da Terra.
( ) Utilizados antes das técnicas de posicionamento, com base a geodésia
por satélite, na qual os referenciais geodésicos eram determinantes por
processos conhecidos como astrogeodésicos horizontais (DGH).

182
( ) Sistemas que, para obtê-los, é necessário a adoção de uma plataforma de
referência que represente a forma e as dimensões da Terra. As plataformas
são conhecidas como sistemas geodésicos de referência (SGR).
( ) Sistema geodésico de referência que define um elipsoide de revolução ade-
quadamente adaptado à área e à sua orientação no espaço, estabelecendo a
origem para as coordenadas geodésicas referenciadas a esse elipsoide.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) I – II – II – I.
b) ( ) II – I – II – I.
c) ( ) I – II – II – II.
d) ( ) II – I – I – I.

3 Segundo o IBGE (1999), o ideal seria construir uma carta que reunisse todas
as propriedades representando uma superfície rigorosamente semelhante à
superfície terrestre. Considerando o exposto, disserte sobre as propriedades
que essa carta deveria apresentar.

FONTE: IBGE. Instituto brasileiro de geografia e estatística. Noções Básicas de cartografia.


Rio de Janeiro, 1999.

4 Por se tratar de uma representação da Terra, Garcia (2014) pontua que as


representações de superfícies curvas em uma superfície planam envolvem
“extensões” ou “contrações” que resultam em distorções ou “rasgos”. Dessa
forma, discorra sobre a solução para se alcançar resultados que apresentem
certas propriedades favoráveis para um propósito específico.

FONTE: GARCIA, M. C. P. A aplicação do sistema de informações geográficas em estudos


ambientais. Curitiba: InterSaberes, 2014.

183
184
TÓPICO 4 —
UNIDADE 3

SAÍDAS

1 INTRODUÇÃO

No ambiente SIG, muitas análises espaciais podem ser realizadas, pro-


porcionando a produção de muitos mapas, especialmente com o crescimento da
disponibilidade de dados. Assim, faremos uma breve abordagem sobre os mapas
temáticos e sua visualização.

Como a visualização dos dados é o último estágio no processo completo


do SIG, neste tópico, abordaremos a importância da comunicação de informação
geográfica por meio a imagem gráfica, comumente na forma de mapa.

Na sequência, conheceremos o layout de mapas, procurando compreender


os elementos necessários na produção de um mapa temático e, posteriormente,
mostraremos um exemplo de construção de layout de mapas no QGIS.

2 MAPAS TEMÁTICOS
Sobre a Cartografia Temática, Menezes e Fernandes (2013) destacam
que é aquela que realiza o inventário, análise ou síntese dos fenômenos físicos
ou humanos. De acordo com os referidos autores, não há limitação, pois pode
representar qualquer tipo de fenômeno que possa ser distribuído espacialmente.
De acordo com Miranda (2015, p. 318):

“Mapa temático é também conhecido como mapa de “propósito


específico”, “tópico simples” ou “estatístico”. Segundo a Internacional
Cartographic Association, a definição de mapas temático é: “Um mapa
projetado para demostrar elementos ou conceitos particulares. No
uso convencional, esse termo exclui mapas planialtimétricos” (DENT,
1985, tradução nossa). Esse mapa se concentra, geralmente, na
representação do relacionamento estrutural de um tema ou objetivo
selecionado. Isso envolve o mapeamento de um fenômeno físico ou
cultural ou ideias abstratas acerca dele. Um mapa temático apesenta
um tema gráfico acerca de um objetivo e pode pertencer ao grupo
qualitativo ou quantitativo” (MIRANDA, 2015, p. 318).

185
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

2.1 VISUALIZANDO O MAPA TEMÁTICO


Prosseguindo nossos estudos, abordaremos os três fatores que contribuem
para que o resultado das análises realizadas em um SIG não seja a principal
preocupação do analista. De acordo com Miranda (2015, p. 319), são eles:

“a) o forte de um SIG é a disponibilidade de ferramentas para a aná-


lise espacial dos dados; b) o usuário gosta mesmo é de manipular os
dados espaciais; c) geralmente, o pessoal que trabalha com sistemas de
informação geográfica tem uma formação técnica em áreas que não a
cartografia. Por tudo isso, esquece-se de que os resultados das análises
serão usados por outras pessoas. Se a saída ficar difícil de entender,
existe falha no objetivo maior da análise” (MIRANDA, 2015, p. 319).

De acordo com Miranda (2015), a visualização dos dados é o último estágio


no processo completo do SIG. Neste estágio, ressalta o autor, a preocupação é
a comunicação de informação geográfica e o meio para essa comunicação é a
imagem gráfica, comumente na forma de mapa.

Com a facilidade de acesso, aumento de disponibilidade de dados e


variedade de equipamentos de saídas no mercado, a preocupação é com o
conhecimento técnico para a produção de mapas. Conheceremos o que envolve a
produção de mapas, que, na visão de Miranda (2015, p. 319):

“Muitos mapas estão sendo produzidos com displicência pelos


usuários de SIG, que tentam impressionar os leitores com o uso de
cores em profusão. Vivem-se situações extremas: ou há excesso no
uso de cores e informações ou deficiência de informações. Ambas
as situações tendem a confundir o leitor e não estão transmitindo de
forma adequada os resultados obtidos. O desenho do mapa não pode
ser um ato automático. Ele envolve pensar, selecionar, processar e
generalizar a saída propositadamente e com premeditação, usando
símbolos apropriados para mostrá-los de uma maneira que o usuário
possa entender facilmente (DEMERS, 1997). O grande volume de
dados disponível, combinado com a possiblidade de muitas análises,
cria uma tendência de colocar muita informação em um simples
mapa. Será mais fácil entender os resultados das análises caso sejam
apresentados em mapas separados (MIRANDA, 2015, p. 319).

Conforme destaca Miranda (2015), a visualização do mapa temático


abrange a seleção e colocação de objetos gráficos e símbolos adequados para
mostrar de forma clara os elementos importantes resultantes das análises espaciais
realizadas no SIG e as relações espaciais dos objetos sob estudo. Outra colocação
feita pelo autor é de que o mapa temático precisará de um “quadro de referência”
como uma moldura para a localização desses objetos temáticos no espaço
geográfico. “O sistema de referência providencia um método de demonstrar a
ocupação espacial dos objetos temáticos e suas relações a outros locais espaciais.
Esse sistema é a área na folha do mapa emoldurado por uma borda imaginária ou
real” (MIRANDA, 2015, p. 319).

186
TÓPICO 4 — SAÍDAS

Miranda (2015) afirma que é preciso lembrar que o mapa temático tem o
objetivo de ser lido, analisado e interpretado e não deve haver a preocupação de
“embelezar” o mapa, mas sim de se comunicar com quem vai lê-lo. Entretanto,
como cumprir isso? Segundo o autor, com a seguinte regra básica: eliminando as
informações desnecessárias. “Toda informação colocada no mapa deveria dizer
alguma coisa acerca do interesse final da análise. Mapas temáticos produzidos
por análise em SIG são para apresentar a forma de distribuição de um conjunto
específico de saídas analíticas” (MIRANDA, 2015, p. 319) Portanto, o autor
destaca que a simplicidade é muito importante e não deve haver nenhum objeto
estranho ou floreado fantasioso.

Quanto à legenda, principal descrição que associa símbolos e referências,


é um elemento-chave na leitura do mapa (MIRANDA, 2015, p. 319). De acordo
com o referido autor, o objetivo da legenda é a descrição de todos os símbolos
desconhecidos ou usados. Segundo Martinelli (2008, p. 34), “todo o raciocínio,
reflexão e organização mental que o autor empreenderá acerca do tema por ele
estudado serão expostos através da estruturação da legenda”. Outro importante
destaque feio por Martinelli (2008) sobre a legenda é de que ela é a porta de
entrada para que o leitor se integre ao conteúdo do mapa de forma completa. Ela
tem o papel de relacionar os signos empregados no mapa, mostrando o que eles
significam, em um primeiro momento.

De modo geral, a legenda é localizada em um canto do mapa, enquadrada


em uma moldura (contorno) com o título “legenda” ou “convenções”. Em outros
termos, a legenda pode ser entendida como o quadro que apresenta as convenções
(FITZ, 2008).

No que se refere à escala, elemento essencial de uma produção cartográfica,


segundo Martinelli (2008) a escala é um elemento fundamental no mapa, pois
ela apresenta a noção de quantas vezes a realidade foi reduzida para caber no
papel, o que requer decisões em termos de escolha do que será incluído ou não
na representação. “A escala indica a proporção ou relação entre uma distância
representada no desenho e essa mesma distância no campo. A partir disso,
obtemos maior grau de precisão e riqueza de informação” (IBGE, 1985, p. 64).

“Os créditos podem incluir a fonte de dados para o mapa, uma indicação
de sua confiabilidade, data ou outras informações que ajudem a identificar
claramente fontes usadas” (MIRANDA, 2015, p. 319).

De acordo com Miranda (2015), a grade de coordenadas ou linhas


graduadas que envolvem ou cruzam o corpo do mapa é utilizada para indicar
coordenadas geográficas. Contudo, de acordo com o referido autor, não é raro
ser omitida dos mapas temáticos, porém, Miranda (2015) afirma que ela deve
ser incluída caso sua localização seja um fator importante ao proposto do mapa.
“Usar, por exemplo, cruzes, nos cruzamentos das coordenadas, ou uma tonalidade
de cinza muito suave, se for necessário traçar toda a grade. O importante é que ela
não sobressaia no mapa” (MIRANDA, 2015, p. 319).

187
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

É importante lembrar do emprego das bordas. Um destaque feito por Mi-


randa (2015) é que elas são úteis para restringir a atenção do leitor e que, frequen-
temente, fazem parte da grade de coordenadas, definindo seus limites. Contudo,
Miranda (2015) destaca que elas podem ser utilizadas com efeito de decoração.

Outro destaque importante é a escolha dos símbolos cartográficos, que


não é realizada de forma aleatória. De acordo com o IBGE (2020), foi criado um
sistema de símbolos conhecidos como convenções cartográficas, escolhidos de
forma a conter um certo grau de compreensão e intuição de seu significado, o
que facilita a leitura da informação contida no mapa por qualquer pessoa em
qualquer região do mundo.

3 LAYOUT DE MAPAS
O layout de mapas se refere a sua apresentação final, com os elementos
que um mapa temático deve apresentar.

Segundo Martinelli (2008), o mapa temático deve apresentar um tema,


declarado no título; uma legenda que contenha todo o raciocínio, reflexão e orga-
nização mental acerca do tema; a escala, que também é um elemento fundamental
no mapa; a fonte dos dados utilizados na elaboração do mapa; entre outros.

De acordo com Miranda (2015), entre as primeiras decisões ao se iniciar a


composição do mapa, está a colocação dos objetos, geográficos e não geográficos,
no limitado espaço do quadro de referência. De acordo com o referido autor,
muitos mapas não despertam interesse do leitor porque há muito ou pouco fundo
branco. Miranda (2015) destaca que, “um mapa que só contenha figura é menos
apresentável do que um que tenha no mínimo algum fundo amorfo para isolar a
figura e dar um senso de pertinência mais real a alguma forma”.

A Figura a seguir, denominada de ‘agrupamento de tamanho similar’ por


Miranda (2015), mostra um exemplo de fundo que adiciona contrate no mapa.

FIGURA 19 – AGRUPAMENTO POR TAMANHO SIMILAR

FONTE: Miranda (2015, p. 330)

188
TÓPICO 4 — SAÍDAS

“Adição de nomes, símbolos limítrofes familiares, reticulado e padrões de


sombreamento podem ser usados para permitir ao leitor identificar a importância
da área de estudo assim como o fundo ou porções não analisadas do mapa”
(MIRANDA, 2015, p. 330), conforme mostra a Figura a seguir. Nesta figura,
denominada por Miranda (2015) de ‘agrupamento por proximidade’ é possível
observar que o mapa recebe mais destaque em cada quadro.

FIGURA 20 – AGRUPAMENTO POR PROXIMIDADE

FONTE: Miranda (2015, p. 331)

Para a produção do desenho gráfico Miranda (2015) destaca que é muito


importante a sua organização hierárquica. De acordo com Miranda (2015, p. 330):

“Os vários elementos gráficos presentes no mapa devem ser orga-


nizados para ressaltar os mais importantes. Em mapas de referência
geral esse princípio é pouco desenvolvido porque seu propósito é
permitir que todos os elementos sejam de igual valor, permitindo
observação seletiva. Entretanto, em mapas temáticos, o propósito é
ressaltar elementos específicos ou resultados de análise, assim é vital
que se possa mostrar os elementos mais importantes. Isso pode ser
feito mediante de uma organização hierárquica, separando os ele-
mentos em níveis de importância visual (DEMER,S 1997)”.

189
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

Agora que conhecemos alguns aspectos relevantes para um layout de


mapa, e vimos a importância de se pensar em ordenar os componentes que
devem aparecer no mapa, buscando uma solução visual gráfica que represente
claramente seus componentes, falaremos da construção de mapas no QGIS.

4 CONSTRUÇÃO DE MAPAS NO QGIS


Um exemplo de construção de mapas utilizando o QGIS é encontrado na
obra EXPLORANDO O QGIS 3.X de Dalla Corte et al. (2020) de forma simples
e detalhada. Neste item, abordaremos a confecção de layout para impressão de
mapas no QGIS, de acordo com o tutorial de Dalla Corte et al. (2020):

Os procedimentos apresentados nesta obra são, de acordo com Dalla


Corte et al. 2020, sugestões realizadas para a condução nas análises, tanto de
dados vetoriais quanto de dados matriciais. Os autores ressaltam que os leitores
deverão desenvolver e apresentar senso crítico e discernimento sobre as condutas
mais adequadas a serem aplicadas nas situações que se depararem.

A obra mostra os passos necessários para a instalação do QGIS, download


dos arquivos para os exemplos do livro, algumas fontes de informações
georreferenciadas, a interface QGIS, e a manipulação das variáveis matriciais e
vetoriais. A obra ‘Introdução ao ambiente QGIS’, publicada pelo IBGE (2018) e
referenciada ao final desta unidade, apresenta algumas ferramentas do compositor
de impressão do QGIS. Vale a pena conferir.

Agora, iniciaremos confecção de layouts para impressão de mapas,


conforme o tutorial e exemplos de Dalla Corte et al. (2020). As camadas que
aparecem neste exemplo são aquelas utilizadas pelos referidos autores no tutorial,
assim como o produto, com os elementos necessários para a impressão de um
mapa temático.

O exemplo é composto por uma série de passos, que vão da abertura do


programa à apresentação do produto.

1. Abra o QGIS.

2. Clique em Camada > Adicionar camada > Adicionar camada vetorial >
selecionar “talhoes.shp”, “limites.shp” e ”pontos_aleatorios.shp”.

3. Clique no ícone Novo Compositor de Impressão.

4. Nomeie o compositor, como mostra a Figura a seguir.

190
TÓPICO 4 — SAÍDAS

FIGURA 21 – CRIAÇÃO DE TÍTULO DE IMPRESSÃO DE LAYOUT

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 90)

5. Selecione o tamanho da folha como A4 e a orientação como retrato, conforme


mostra Figura a seguir.

FIGURA 22 – TAMANHO DA FOLHA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 91)

191
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

6. Clique no ícone adicionar novo mapa, em posteriormente desenhe na folha a


área que deseja utilizar, como mostra a figura a seguir.

FIGURA 23 – ADICIONAR NOVO MAPA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 91)

7. Clique no ícone mover item do conteúdo para mover o mapa e utilize o


rolador do mouse para ajustar o zoom.

8. Em seguida, na propriedade do Item, inclua a escala desejada para o mapa.
De acordo com o IBGE (2018), com a escala de 10000 a visibilidade do mapa é
melhor, conforme mostra a figura a seguir.

FIGURA 24 – ADICIONAR A ESCALA NO MAPA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 92)

192
TÓPICO 4 — SAÍDAS

9. Em seguida marque a opção Moldura, conforme figura a seguir.

FIGURA 25 – ADICIONAR A MOLDURA NO MAPA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 92)

10. Adicione uma nova Grade, e clique em Modificar Grade, conforme figura a
seguir.

FIGURA 26 – ADICIONAR NOVA GRADE NO MAPA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 93)

11. Em tipo de grade, selecione a opção CRUZ. Em unidades de intervalo selecione


unidades do mapa. Nos intervalos X e Y coloque o valor 550.

12. O valor de 550 equivale ao intervalo da grade, ou seja, ela será alocada a cada
550 metros (unidade do mapa), conforme tutorial.

13. Marque o item desenhar coordenada, conforme mostra figura a seguir.

193
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

FIGURA 27 – DESENHAR COORDENADAS

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 93)

14. Em seguida, ajuste as direções das coordenadas, conforme a figura a seguir.

FIGURA 28 – PROPRIEDADES DA GRADE

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 94)

15. Agora, será feita a inserção dos elementos gráficos.



16. Clique em Adicionar Seta Norte.

17. Desenhe um quadro no topo do mapa e ajuste, conforme mostra figura a seguir.

194
TÓPICO 4 — SAÍDAS

FIGURA 29 – DESENHAR QUADRO NO TOPO DO MAPA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 94)

18. Clique em adicionar Nova barra de escala.



19. Clique no espaço destacado do mapa para desenhar a barra de escala. Para
realizar alterações utilize as propriedades do item, conforme mostra figura
a seguir.

FIGURA 30 – PROPRIEDADES PRINCIPAIS

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 95)

195
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

20. Clique em Adicionar nova legenda, conforme mostra figura a seguir.

FIGURA 31 – ADICIONAR LEGENDA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 95)

21. Para formatar os nomes da Legenda desabilite Atualização automática em


Propriedades da legenda, conforme mostra figura a seguir.

FIGURA 32 – ITENS DA LEGENDA – ATUALIZAÇÃO

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 96)

22. Selecione qual camada deseja renomear e clique no lápis para editar o item de
texto da legenda.

23. Renomeie a legenda, conforme mostra Figura a seguir.


196
TÓPICO 4 — SAÍDAS

FIGURA 33 – RENOMEAR A LEGENDA

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 96)

24. Forrmate a Fonte do Título, para Times New Roman, Normal e tamanho 20,
conforme mostra figura a seguir.

FIGURA 34 – FORMATAR FONTE DO TÍTULO

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 97)

25. Formate a Fonte do Item para Times New Roman, Normal, tamanho 16,
conforme mostra figura a seguir.

197
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

FIGURA 35 – FORMATAR FONTE DO ITEM

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 97)

26. Selecione Adicionar novo rótulo.



27. Desenhe o local da sua caixa de texto.

28. Preencha os dados nas propriedades do rótulo.

29. Formate fonte e Alinhamento horizontal, conforme mostra figura a seguir.

FIGURA 36 – ALINHAMENTO HORIZONTAL

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 98)

198
TÓPICO 4 — SAÍDAS

30. Selecione Adiciona forma > Retângulo em seguida crie uma borda sobre o
mapa.

31. Nas propriedades dessa forma, clique em Mudar na opção Estilo > Preen-
chimento Simples e mude o preenchimento > Preenchimento Transparente,
conforme mostra figura a seguir.

FIGURA 37 – PREENCHIMENTO

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 98)

32. Exporte o mapa clicando no ícone exportar como imagem, conforme mostra
Figura a seguir.

FIGURA 38 – EXPORTAR IMAGEM

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 99)

199
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

33. Escolha a pasta, nomeie e salve.



34. Salvar. Pode ser salvo em formato PDF.

35. Clique em gravar.

36. O Resultado é mostrado na figura a seguir.

FIGURA 39 – PRODUTO CARTOGRÁFICO

FONTE: Dalla Corte et al. (2020, p. 100)

Chegamos ao fim deste tópico e desta unidade. Recomendamos que


exercitem seus conhecimentos para ganhar habilidade e agilidade na confecção
de mapas.

Sugerimos que você acesse e pesquise sobre as obras de Dalla Corte et al.
(2020), que trazem explicações detalhadas do uso do QGIS. Além de mostrar os
passos necessários e links de acesso para download do programa, você conhecerá
diversas ferramentas do programa que proporciona acesso a todas as funções
principais e complementos. Inclusive, alguns tópicos de suas obras são destinados
à análise espacial e geoestatística e aplicações ambientais e florestais.

200
TÓPICO 4 — SAÍDAS

Lembre-se de realizar as autoatividades e a leitura complementar, que


apresentaremos a seguir, a fim de complementar os conteúdos trabalhados. Um
ótimo estudo e uma jornada de sucesso!

201
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

SISTEMAS GEODÉSICOS DE REFERÊNCIA ADOTADOS NO BRASIL E A


CONVERSÃO DOS DADOS GEOGRÁFICOS PARA O SISTEMA OFICIAL
SIRGAS2000: TRANSFORMAÇÕES E AVALIAÇÃO DE ERROS

André Ferreira Borges


Marcos Antonio Timbó
Dr. Marcelo Antonio Nero
Dr. Plínio da Costa Temba

O Datum Córrego Alegre foi oficialmente adotado no Brasil na década


de 1950 e utilizado até a década de 1970. Na definição deste sistema adotou-se
como superfície de referência o Elipsoide Internacional de Hayford, de 1924,
caracterizado por um semieixo maior (a) de 6.378.388 m e um achatamento
(f) de 1/297. Como ponto origem foi escolhido o vértice Córrego Alegre da
rede de triangulação geodésica nacional, situado em Minas Gerais, no qual
o posicionamento e a orientação do elipsoide de referência foram feitos
astronomicamente. Neste vértice adotaram-se valores nulos para as componentes
do desvio da vertical e para a ondulação geoidal. Existem duas materializações do
sistema Córrego Alegre, a materialização de 1961 e a materialização de 1970/1972
(IBGE, 1996).

No Brasil, ainda existe uma grande quantidade de documentos cartográ-


ficos e dados de coordenadas referenciados ao Sistema Córrego Alegre. Essas
informações cartográficas vêm sendo gradativamente atualizadas e novos pro-
dutos têm sido gerados com base neste sistema. Dalazoana (2001) reporta que
a realização do Sistema Córrego Alegre, de precisão compatível com as técnicas
e equipamentos da época, associada à baixa precisão da densificação do apoio
terrestre, faz com que os produtos gerados com base neste sistema, principalmen-
te os de escalas maiores que 1/10.000, apresentem qualidade posicional inferior,
quando comparados aos produtos gerados com base em sistemas de referência e
tecnologias mais atuais. Problemas de qualidade posicional dessa natureza foram
estudados e relatados por Borges et al. (2015) em estudos relacionados a incerte-
zas nas divisas territoriais entre os municípios de Nova Lima e Belo Horizonte.
Esses processos de conversão de SGR afetam, na prática, muitos órgãos públicos
e usuários gerais de dados espaciais. Podem ser citados os casos exemplares da
CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) que faz a migração do sistema
Córrego Alegre para o SIRGAS2000 e da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
com a migração do sistema SAD69 para o SIRGAS2000.

202
TÓPICO 4 — SAÍDAS

• Sistema SAD69

Sistema SAD69 O South American Datum 1969 (SAD69) foi adotado


como sistema de referência oficial no Brasil no final da década de 1970, tomando
como modelo geométrico da Terra, o Elipsoide de Referência Internacional de
1967 (a=6.378.160m e f=1/298,25) e como ponto de origem, o vértice geodésico
Chuá em Minas Gerais. O SAD69 foi estabelecido antes do surgimento das
técnicas espaciais de posicionamento, baseadas em satélites (IBGE, 1989). Assim,
corresponde a um sistema de referência clássico, cuja materialização foi realizada
através de metodologias de posicionamento terrestre. Além disso, possui caráter
regional ou local, não existindo coincidência entre o centro do elipsoide e o centro
de massa da Terra (IBGE, 1989).

O primeiro ajuste realizado em ambiente computacional, para o


estabelecimento do SAD69, foi realizado pelo Defense Mapping Agency (DMA),
órgão gestor dos serviços geodésicos dos Estados Unidos (IBGE, 1996). Ainda
na década de 1970, iniciou-se no Brasil o uso do sistema TRANSIT, que foi o
primeiro sistema de posicionamento e navegação por satélite a ser usado
operacionalmente. Em 1991, o IBGE adotou o uso do Global Positioning
System (GPS) em seus trabalhos geodésicos, e a partir de 1994 começaram a ser
implantadas redes estaduais GPS de alta precisão (COSTA, 1999b). Em 1996, foi
concluído pelo IBGE, o reajustamento da rede geodésica brasileira, amparando-
se nas novas técnicas de posicionamento por observação de satélites GPS. Foram
utilizadas todas as observações de natureza angular e linear da rede clássica e
as observações GPS ponderadas de acordo com suas precisões. A ligação entre
as duas redes foi feita por meio de 49 estações da rede clássica, as quais foram
observadas por tecnologia GPS. Este reajustamento resultou em uma nova
realização (novas coordenadas) para as estações da Rede Planimétrica Brasileira.
Com os resultados do ajustamento desenvolvido foi obtido, pela primeira vez, um
retrato consistente da qualidade da rede, a qual foi consideravelmente melhorada
em função do tratamento global (IBGE, 1996).

A partir de 1997, o IBGE começou a divulgar somente as coordenadas


na nova realização do SAD69 acompanhadas de seus desvios-padrão, o que
proporcionou ao usuário o conhecimento acerca da qualidade das coordenadas
das estações. De acordo com IBGE (1996), o deslocamento horizontal das
coordenadas aumenta proporcionalmente com a distância do ponto origem,
chegando a atingir cerca de 15 m.

• Sistema SIRGAS2000

O projeto SIRGAS teve início em 1993, com a finalidade de estabelecer


um sistema de referência geocêntrico para a América do Sul. Foi decidido adotar
o elipsoide GRS80 (a=6.378.137 m e f=1/298,257222101), além de estabelecer e
manter uma rede de referência. Diferentemente do SAD69 e Córrego Alegre,

203
UNIDADE 3 — ESTRUTURAS DE DADOS E REPRESENTAÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS

denominados topocêntricos, sua origem é no centro de massas da Terra. Entre os


meses de maio e junho de 1995 realizou-se a primeira parte do projeto, formando
uma rede GPS de precisão com 58 estações para toda a América do Sul, onde suas
coordenadas estão referidas ao ITRF94, época 1995,4.

A Resolução do IBGE Nº1/2005 de 25/02/2005 estabeleceu o Sistema de


Referência Geocêntrico para as Américas (SIRGAS), em sua realização do ano de
2000 (SIRGAS2000), como novo SGR para o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB)
e para o Sistema Cartográfico Nacional (SCN). Foi concedido um período de
transição não superior a dez anos (já expirado em 2015), onde o SIRGAS2000
pode ser utilizado em concomitância com o SAD69 para o SCN. Com essa
adoção garante-se a qualidade dos levantamentos GPS, devido à necessidade de
um sistema de referência geocêntrico compatível com a precisão dos métodos e
técnicas de posicionamento atuais e com os demais sistemas adotados em outros
países (ZANETTI, 2006).

Para a implantação do sistema foram utilizadas 21 estações de referência


da rede continental SIRGAS2000, estabelecidas no Brasil e a estação SMAR,
pertencente à Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo do Sistema GPS
(RBMC). O referencial altimétrico do SIRGAS2000 coincide com a superfície
equipotencial do campo da gravidade da Terra que contém o nível médio do mar,
definido pelas observações maregráficas de Imbituba, litoral de Santa Catarina.

O World Geodetic System 84 (WGS 84) é o sistema de referência


empregado pelo sistema GPS (MONICO, 2000), sendo compatível, em todos os
aspectos práticos, com o SIRGAS2000, tendo em vista que as diferenças entre as
coordenadas desses dois sistemas são inferiores a 0,01 m (IBGE, 2005). Realizaram-
se três atualizações para melhorar a sua precisão, sendo que a primeira recebeu
a denominação WGS 84 (G730), onde a letra “G” indica o uso da técnica GPS e
“730” faz referência à semana GPS da solução. A segunda versão chama-se WGS
84 (G873). A terceira e atual versão é denominada WGS 84 (G1150), podendo
ser considerado coincidente com o ITRF2000 com nível de precisão de um
centímetro. Portanto, o WGS 84 (G1150) possui características muito próximas
do SIRGAS2000, podendo ambos, para efeitos práticos da cartografia, serem
considerados como equivalentes.

FONTE: <https://periodicos.ufmg.br/index.php/geografias/article/view/13414>. Acesso em: 30


set. 2021.

204
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:

• O mapa temático é conhecido como mapa de “propósito específico”, “tópico


simples” ou “estatístico” e que mapa temático pode ser definido como um
mapa projetado para demostrar elementos ou conceitos particulares.

• A visualização do mapa temático abrange a seleção e colocação de objetos


gráficos e símbolos adequados para mostrar de forma clara os elementos
importantes resultantes das análises espaciais realizadas no SIG e as relações
espaciais dos objetos sob estudo.

• O mapa temático deve apresentar um tema, declarado no título; uma legenda


que contenha todo o raciocínio, reflexão e organização mental acerca do tema;
a escala, que também é um elemento fundamental no mapa; a fonte dos dados
utilizados na elaboração do mapa; entre outros.

• É preciso seguir alguns passos para a confecção de layouts para impressão


de mapas, e que o QGIS possui as ferramentas necessárias para incluir os
elementos essenciais para a produção de um mapa temático.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

205
AUTOATIVIDADE

1 Cartografia Temática é aquela que realiza o inventário, análise ou síntese


dos fenômenos físicos ou humanos (MENEZES; FERNANDES, 2013). De
acordo com os referidos autores, não há limitação, pois pode representar
qualquer tipo de fenômeno que possa ser distribuído espacialmente. Sobre
este tipo representação, assinale a alternativa CORRETA:

FONTE: MENEZES, P. M. L.; FERNANDES, M. C. Roteiro de cartografia. São Paulo: Oficina de


Textos, 2013.

a) ( ) Mapa temático é conhecido como mapa de propósito específico.


b) ( ) É um tipo de produção cartográfica sem uma finalidade específica.
c) ( ) Tem como objetivo fornecer uma base cartográfica com aplicações
generalizadas.
d) ( ) Tem como objetivo realizar trabalhos muito técnicos e muito específicos
como a produção de cartas náuticas e aeronáuticas.

2 Mapas são instrumentos de comunicação. A visualização do mapa temático


envolve a seleção e colocação de objetos gráficos e símbolos apropriados
para mostrar explicitamente elementos importantes (MIRANDA, 2015).
Sobre a legenda, um dos elementos de um mapa, classifique V para as
afirmativas verdadeiras e F para as falsas:

( ) O objetivo da legenda é a descrição de todos os símbolos ou usados na


produção cartográfica.
( ) O uso da legenda tornou-se dispensável na produção de um mapa
temático, com o avanço tecnológico.
( ) A legenda é considerada a porta de entrada para que o leitor se integre ao
conteúdo do mapa de forma completa.
( ) A principal descrição da legenda, que associa símbolos e referências, é
um elemento-chave na leitura do mapa.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F – V.
b) ( ) V – F – V – V.
c) ( ) F – V – V – V.
d) ( ) F – V – F – F.

206
3 Segundo Martinelli (2008), o mapa temático deve apresentar um tema,
declarado no título; uma legenda que contenha todo o raciocínio, reflexão
e organização mental acerca do tema; a escala, que também é um elemento
fundamental no mapa; a fonte dos dados utilizados na elaboração do mapa;
entre outros. Sobre os elementos gráficos presentes no mapa, assinale a
alternativa CORRETA:

FONTE: MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. 4. ed. São Paulo:


Contexto, 2008.

a) ( ) Devem ser organizados para ressaltar os elementos mais importantes.


b) ( ) São dispensáveis nas produções que não passaram pelo ambiente SIG.
c) ( ) Separar os elementos em nível de importância visual não é relevante
para a produção cartográfica.
d) ( ) Organização hierárquica não se aplica na separação dos elementos em
nível de importância visual em uma legenda.

207
REFERÊNCIAS
CÂMARA, G. MONTEIRO, A. M. V. Conceitos básicos em ciência da
geoinformação. In: CÂMARA, G.; DAVIS, C. MONTEIRO, A. M. V. (Ogs).
Introdução à ciência da geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2001.

D’ALGE, J. C. L. Cartografia para geoprocessamento. In: CÂMARA, G.; DAVIS,


C. MONTEIRO, A. M. V. (Ogs). Introdução à ciência da geoinformação. São José
dos Campos: INPE, 2001. p. 32.

DALLA CORTE, A. P. et al. Forest inventory with high-density UAV-Lidar:


Machine learning approaches for predicting individual tree attributes. Computers
and Electronics in Agriculture, v. 179, p. 105815, 2020.

DAVIS, C.; CÂMARA, G. Arquitetura de sistemas de informação geográfica.


CÂMARA, G.; DAVIS, C. MONTEIRO, A. M. V. (Ogs). Introdução à ciência da
geoinformação. São José dos Campos: INPE, 2001.

DOMPIERI, M. H. G.; SILVA, M. A. S.; JÚNIOR, L. R. N. Sistemas de referência


terrestre e posicionamento por satélite. Aracaju: Embrapa Tabuleiros
Costeiros, 2015.

FERREIRA, N. C. Apostila de sistema de informações geográficas. Goiânia:


Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás; Sistemas de Informações
Geográficas, 2006.

FILHO, J. L. IOCHPE, C. Introdução a Sistemas de Informações Geográficas


com ênfase em banco de dados. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1996.

FITZ, P. R. Cartografia Básica. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.

GARCIA, M. C. P. A aplicação do sistema de informações geográficas em


estudos ambientais. Curitiba: InterSaberes, 2014.

IBGE. O que é cartografia? Rio de Janeiro: IBGE, 2020. Disponível em: https://
atlasescolar.ibge.gov.br/conceitos-gerais/o-que-e-cartografia/convenc-o-es-
cartogra-ficas.html. Acesso em: 27 out. 2020.

IBGE. Introdução ao ambiente SIG QGIS. Rio de Janeiro: IBGE, 2018.

IBGE. Atlas geográfico escolar. In: Introdução à cartografia. 6. ed. Rio de Janeiro:
IBGE, 2012.

IBGE. Noções Básicas de cartografia. Rio de Janeiro: IBGE, 1999.

208
IBGE. Noções cartográficas para base operacional geográfica. Rio de Janeiro:
IBGE, 1985.

MARTINELLI, M. Mapas da geografia e cartografia temática. 4. ed. São Paulo:


Contexto, 2008.

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