Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escolhidos
Elle n G. W h ite
Tradução
Karina Carnassale Deana
Davidson Figueiredo Deana
15-00345 cdd-286.732
Índices para catálogo sistemático:
o poder divino para que se unisse ao tinha o poder para redimi-lo. Cristo
esforço humano. Assim, por meio do “por um pouco foi feito menor do
arrependimento para com Deus e que os anjos […] por ter sofrido a
pela fé em Cristo, os filhos caídos de morte” (Hb 2:9). Ao tomar a natu-
Adão poderiam uma vez mais ser “fi- reza humana sobre Ele, Sua força
lhos de Deus” (1Jo 3:2). não seria igual a dos anjos, e eles
Os anjos não se alegraram é que deveriam fortalecê-Lo em
quando Cristo revelou a eles o Seus sofrimentos. Deveriam tam-
plano da redenção. Com pesar e ad- bém guardar os súditos da graça do
miração, ouviam Suas palavras, en- poder dos anjos maus.
quanto Ele lhes dizia como deveria No momento em que os anjos
entrar em contato com a degradação testemunhassem a agonia e a hu-
da Terra, suportar a tristeza, a ver- milhação de seu Senhor, desejariam
gonha e a morte. Ele Se humilharia livrá-Lo de seus assassinos, mas não
descendo à posição do homem para deveriam intervir. Fazia parte do
participar pessoalmente das triste- plano que Cristo sofresse o desprezo
zas e tentações que homens e mu- e maus-tratos de homens ímpios.
lheres teriam que enfrentar, a fim Cristo garantiu aos anjos que,
de “socorrer aqueles que também por Sua morte, Ele resgataria a mui-
estão sendo tentados” (Hb 2:18). tos e recuperaria o reino que tinha
Quando Sua missão como profes- sido perdido por causa da transgres-
sor estivesse terminada, Ele seria são. Os remidos deveriam herdá-lo
submetido a todo tipo de insulto e com Ele. Pecado e pecadores não
tortura que Satanás poderia inspi- mais existiriam, nunca mais per-
rar. Deveria morrer a mais cruel das turbariam a paz do Céu e da Terra.
mortes como um pecador culpado. Então uma inexprimível alegria
Teria que suportar terrível angústia encheu o Céu. Pelas cortes celes-
e a ocultação da face do Pai quando tiais ecoaram os primeiros acordes
os pecados do mundo todo recaís- do cântico que deveria soar sobre
sem sobre Ele. as colinas de Belém: “Glória a Deus
Os anjos se ofereceram para nas alturas, e paz na Terra aos ho-
se tornarem eles mesmos esse sa- mens” (Lc 2:14). “As estrelas matu-
crifício pela raça humana. Apenas tinas juntas cantavam e todos os
Aquele que havia criado o homem anjos se regozijavam” (Jó 38:7).
34 Os Escolhidos
Deus Promete um Salvador sua salvação. Adão e sua compa-
Na sentença pronunciada sobre nheira não seriam abandonados
Satanás no jardim, o Senhor decla- ao domínio de Satanás. Por meio
rou: “Porei inimizade entre você e a do arrependimento e fé em Cristo,
mulher, entre a sua descendência e poderiam novamente se tornar fi-
o Descendente dela; Este lhe ferirá lhos de Deus.
a cabeça, e você Lhe ferirá o calca- Adão e Eva viram, como nunca
nhar” (Gn 3:15). Essa foi a promessa antes, a culpa do pecado e seus re-
de que o poder de Satanás, o grande sultados. Suplicaram que a penali-
adversário, seria finalmente des- dade do pecado não recaísse sobre
truído. Adão e Eva permaneciam Aquele cujo amor tinha sido a fonte
como transgressores diante do justo de toda a sua alegria; em vez disso,
Juiz, mas antes que ouvissem da pediram que recaísse sobre eles e
vida de lutas e tristezas que deve- seus descendentes.
riam enfrentar, que retornariam ao Foi dito a eles que, por ser a lei de
pó, ouviram as palavras que não os Jeová a base do Seu governo, nem
deixariam sem esperança. Eles pode- mesmo a vida de um anjo poderia
riam olhar para o futuro e antever ser aceita como sacrifício pela trans-
a vitória final. gressão. Apenas o Filho de Deus,
Satanás sabia que sua obra para que os havia criado, poderia fazer a
promover a degeneração da natu- expiação por eles. Da mesma forma
reza humana seria interrompida, que a transgressão de Adão trouxe
que de alguma forma o homem sofrimento e morte, o sacrifício de
seria capacitado a resistir ao seu Cristo traria vida e imortalidade.
poder. Mesmo assim, ele se alegrava Quando foi criado, Adão re-
com seus anjos porque, depois de ter cebeu o domínio de toda a Terra.
causado a queda do homem, conse- Entretanto, ao ceder à tentação, ele
guiria tirar o Filho de Deus de Sua se tornou prisioneiro de Satanás.
exaltada posição. Quando Cristo to- O domínio passou para aquele que o
masse sobre Si a natureza humana, tinha vencido. Assim, Satanás pas-
Ele também poderia ser vencido. sou a ser “o deus desta era” (2Co 4:4).
Anjos celestiais revelaram de No entanto, Cristo, por Seu sacrifí-
maneira ainda mais ampla aos nos- cio, iria não somente redimir a fa-
sos primeiros pais o plano para a mília humana, mas restabeleceria
O Plano Revelado 35
amava; senão, não teria dado Seu Caim, o assassino, logo foi cha-
Filho, inocente e santo, para sofrer mado para responder por seu crime.
a pena que eles teriam que pagar. “Então o Senhor perguntou a Caim:
Tudo isso fez com que Caim ficasse ‘Onde está seu irmão Abel?’ Res-
ainda mais irado. A razão e a cons- pondeu ele: ‘Não sei; sou eu o res-
ciência lhe diziam que Abel estava ponsável por meu irmão?’” (Gn 4:9).
certo, mas ele estava irado por não Ele recorreu à falsidade para escon-
ter sido compreendido em sua rebe- der sua culpa.
lião. Furioso, ele matou seu irmão.
Assim, em todas as épocas, os A Sentença de Caim
ímpios odiaram aqueles que eram Novamente o Senhor pergun-
melhores do que eles. “Quem pra- tou a Caim: “O que foi que você
tica o mal odeia a luz e não se apro- fez? Escute! Da terra o sangue do
xima da luz, temendo que as suas seu irmão está clamando” (Gn 4:10).
obras sejam manifestas” (Jo 3:20). Caim teve tempo suficiente para re-
O assassinato de Abel foi o pri- fletir. Ele compreendia quão horrí-
meiro exemplo da inimizade entre vel era a natureza do ato que havia
a serpente e a semente da mulher – praticado e a mentira que havia pro-
entre Satanás e Cristo, cada qual com ferido para tentar ocultá-lo; mas ele
seus seguidores. Sempre que, pela fé ainda continuou sendo rebelde, e a
no Cordeiro de Deus, uma pessoa se sentença não mais foi adiada. A voz
recusa a atender ao pecado, Satanás divina pronunciou as terríveis pa-
fica irado. A vida santa de Abel foi lavras: “Agora amaldiçoado é você
um testemunho contra a alegação de pela terra, que abriu a boca para re-
Satanás de que guardar a lei de Deus ceber da sua mão o sangue do seu
é impossível para os seres humanos. irmão. Quando você cultivar a terra,
Quando Caim viu que não podia do- esta não lhe dará mais da sua força.
minar Abel, ficou tão irado que des- Você será um fugitivo errante pelo
truiu a vida do irmão. Onde quer que mundo” (Gn 4:11, 12).
alguém se coloque em defesa da lei Por causa de Sua misericórdia,
de Deus, o mesmo espírito será ma- Deus ainda poupou a vida de Caim
nifestado. Apesar disso, todo mártir e lhe deu a oportunidade de arre-
que morreu por Jesus morreu como pendimento. Mesmo assim, Caim
um vencedor (ver Ap 12:9, 11). viveu somente para endurecer cada
42 Os Escolhidos
vez mais o coração, para estimular natureza dessa rebelião para todo o
a rebelião contra a autoridade di- Universo, reafirmando amplamente
vina e para se tornar o chefe de a Sua sabedoria e justiça na maneira
toda uma linhagem de pecadores de lidar com o mal.
obstinados. Sua influência exerceu Os habitantes de outros mun-
uma força desmoralizadora até que dos observavam com profundo in-
toda a Terra se tornou tão corrupta teresse a condição existente na Terra
e cheia de violência que foi preciso antes do dilúvio. Eles viram os re-
ser destruída. sultados da forma de governo que
A negra história de Caim e de Lúcifer tinha tentado estabelecer
seus descendentes foi um exem- no Céu, colocando de lado a lei de
plo de qual teria sido o resultado Deus. Os pensamentos do coração
de permitir que o pecador vivesse humano eram somente maus, conti-
para sempre a fim de continuar em nuamente (ver Gn 6:5), e em conflito
sua rebelião contra Deus. A paciên- com os princípios divinos da pureza,
cia de Deus não convenceu o ímpio da paz e do amor. Esse foi um exem-
a deixar de ser ousado e desafiador. plo da terrível depravação resultante
Quinze séculos após ter sido pro- da astúcia de Satanás.
nunciada a sentença sobre Caim, o Pelos fatos revelados no desen-
crime e a corrupção inundaram a rolar do grande conflito, Deus tem
Terra. Estava claro que a sentença de a simpatia de todo o Universo, en-
morte sobre a raça caída era não ape- quanto, passo a passo, o Seu grande
nas justa, mas um ato de misericór- plano avança para o cumprimento
dia. Quanto mais tempo os homens final na completa destruição da re-
viviam em pecado, mais degradados belião. Ficará constatado que todos
e imprudentes se tornavam. aqueles que rejeitaram os preceitos
Satanás está em constante ativi- divinos estavam do lado de Satanás
dade para deturpar o caráter e o go- na luta contra Cristo. Quando o
verno de Deus a fim de manter os príncipe deste mundo for julgado
habitantes do mundo sob seus enga- e todos os que se uniram a ele par-
nos. Deus vê o fim desde o princípio. ticiparem de sua sorte, o Universo
Seus planos foram abrangentes e de inteiro exclamará: “Justos e verda-
longo alcance, não somente para pôr deiros são os Teus caminhos, ó Rei
um fim à rebelião, mas demonstrar a das nações!” (Ap 15:3).
6
*
Homens Fiéis a Deus
A dão teve outro filho que
seria o herdeiro da pri-
mogenitura espiritual. O nome Sete,
“Também a Sete nasceu um
filho, a quem deu o nome de Enos.
Nessa época começou-se a invocar
dado a esse filho, significava “desig- o nome do Senhor” (Gn 4:26). A dis-
nado” ou “compensação”; a mãe es- tinção entre as duas classes se tor-
colheu esse nome porque, segundo nou mais evidente – por parte de
ela mesma: “Deus me concedeu um uma havia uma grande profissão de
filho no lugar de Abel, visto que fidelidade a Deus, por parte de outra
Caim o matou’” (Gn 4:25). Sete era havia desprezo e desobediência.
muito mais parecido com Adão do Antes da queda, nossos pri-
que os outros filhos, tinha um cará- meiros pais guardaram o sábado
ter digno e seguia os passos de Abel. que foi instituído no Éden e, de-
Mesmo assim, não herdou mais bon- pois de serem expulsos do Paraíso,
dade natural do que Caim. Sete, eles continuaram a observá-lo.
assim como Caim, herdou a natu- Compreenderam que todos, mais
reza caída de seus pais. No entanto, cedo ou mais tarde, vão entender não
ele recebeu também o conhecimento só que as leis divinas são sagradas
do Redentor e instrução na justiça. e imutáveis, mas que a penalidade
Ele trabalhou como Abel teria traba- para a transgressão certamente se
lhado, caso estivesse vivo, para que seguirá. O sábado foi honrado por
a mente dos pecadores voltasse a re- todos aqueles que permaneceram
verenciar e obedecer ao seu Criador. fiéis a Deus. Entretanto, Caim e seus
* Este capítulo é baseado em Gênesis 4:25-6:2.
44 Os Escolhidos
descendentes não respeitaram o dia sua pureza inicial. Depois de algum
em que Deus descansou. tempo, começaram a se misturar
Caim fundou então uma cidade com os habitantes dos vales. “Os fi-
e deu a ela o nome de seu filho lhos de Deus viram que as filhas dos
mais velho. Ele saiu da presença do homens eram bonitas” (Gn 6:2). Os fi-
Senhor para ir em busca de rique- lhos de Sete desagradaram ao Senhor
zas e prazeres na Terra, tornando- quando eles se casaram com elas.
se o líder daquela grande classe de Muitos adoradores de Deus foram
pessoas que adoravam o deus deste atraídos pelas seduções que estavam
mundo. No que diz respeito aos constantemente diante deles e perde-
meros progressos materiais e ter- ram a santidade de seu caráter. Ao se
restres, os seus descendentes se des- misturarem com a raça corrompida,
tacaram bastante. Entretanto, eram tornaram-se como eles. As restrições
contrários aos propósitos de Deus ao sétimo mandamento deixaram
para a raça humana. Ao assassinato, de ser obedecidas, “e eles escolheram
Lameque, o quinto na descendên- para si aquelas que lhes agradaram”
cia de Caim, acrescentou a poliga- (Gn 6:2). Os filhos de Sete “seguiram
mia. Abel tinha levado uma vida de o caminho de Caim” (Jd 11). Eles não
pastor de ovelhas, e os descenden- apenas mantiveram a mente fixa na
tes de Sete seguiram o mesmo cami- prosperidade e nas alegrias munda-
nho, considerando-se “estrangeiros nas, mas também desprezaram os
e peregrinos na Terra”, em busca de mandamentos do Senhor. O pecado
uma “pátria melhor, isto é, a pátria se espalhou amplamente na Terra.
celestial” (Hb 11:13, 16).
Por algum tempo, as duas classes A Longa Vida de Adão
permaneceram separadas. A descen- Durante quase mil anos, Adão
dência de Caim se espalhou a partir procurou impedir a propagação do
do lugar em que primeiramente se mal. Ele recebeu ordens para instruir
estabeleceu, dispersando-se depois seus descendentes nos caminhos do
pelos vales e planícies onde os filhos Senhor e guardou como um tesouro
de Sete habitavam. Para fugirem de o que Deus lhe havia revelado, repe-
sua influência contaminadora, eles tindo esses ensinos às gerações que
se retiraram para as montanhas, e o sucederam. Por nove gerações, ele
lá mantiveram o culto a Deus em descreveu a santa e feliz condição
Homens Fiéis a Deus 45
trabalho que estava avançando tam- Senhor foi cumprido por intermé-
bém foi interrompido. Anjos foram dio dos próprios meios pelos quais
enviados para deter o projeto dos alguns haviam tentado impedir que
construtores. A torre havia alcan- ele se realizasse.
çado uma grande altura, e os traba- Que perda! Era plano de Deus
lhadores que estavam em diferentes que, quando as pessoas saíssem
pontos recebiam e passavam para os para habitar as várias partes da
outros os pedidos do material de que Terra, levassem consigo a luz da ver-
necessitavam. À medida que as men- dade. Noé, o fiel pregador da justiça,
sagens eram passadas de um para viveu trezentos e cinquenta anos
outro, a língua foi confundida de tal depois do dilúvio; assim, seus des-
maneira que as instruções transmi- cendentes tiveram a oportunidade
tidas eram frequentemente o oposto de aprender a respeito dos precei-
daquelas que haviam sido dadas. Todo tos divinos e da história sobre como
o trabalho foi interrompido. Os cons- Deus lidou com a raça humana.
trutores não conseguiam explicar a Entretanto, eles não tinham o de-
razão dos estranhos mal-entendi- sejo de preservar o conhecimento
dos entre eles. Em sua ira e decepção, a respeito de Deus; e devido à con-
acusavam uns aos outros. Como prova fusão de línguas, não conseguiram
do desagrado de Deus, raios vindos do mais se comunicar com aqueles que
Céu destruíram a parte superior da poderiam lhes trazer maior luz.
torre e a lançaram ao solo. Satanás estava tentando provo-
car desrespeito para com as ofer-
O Propósito ao Confundir tas sacrificais que simbolizavam a
as Línguas morte de Cristo. Como as pessoas
Até aquela época, todos falavam estavam com a mente obscurecida
a mesma língua. A partir de então, pela idolatria, ele as levou a per-
aqueles que compreendiam a fala verter essas ofertas, sacrificando
uns dos outros se uniram em grupos. os próprios filhos nos altares cons-
Uns foram para uma direção e outros truídos para os seus deuses. Ao se
para outra. “Assim o Senhor os disper- afastarem de Deus, os atributos do
sou dali por toda a Terra” (Gn 11:8). caráter divino – a justiça, a pureza
Essa dispersão foi um meio de po- e o amor – eram substituídos pela
voar a Terra; e assim o propósito do opressão, violência e brutalidade.
70 Os Escolhidos
Os moradores de Babel decidiram de que o Criador do Universo é o
estabelecer um governo indepen- Governante Supremo do Céu e da
dente de Deus. Contudo, alguns entre Terra. Ninguém pode desafiar Seu
eles temiam ao Senhor. Por amor a poder sem colher os resultados!
esses que eram fiéis, o Senhor adiou Existem ainda construtores de
os Seus juízos e concedeu tempo ao torres em nossos dias. Os humanis-
povo para revelar seu verdadeiro ca- tas se atrevem a dar sua sentença
ráter. Os que temiam a Deus tenta- sobre o governo moral de Deus.
ram convencê-los a desistir de seu Desprezam Sua lei e se vangloriam da
plano, mas o povo se uniu em inteligência humana. Então, “quando
seu ousado projeto contra o Céu. Se os crimes não são castigados logo, o
tivessem continuado sem serem im- coração do homem se enche de pla-
pedidos, teriam corrompido o mundo nos para fazer o mal” (Ec 8:11).
em sua infância. Se essa aliança entre
eles tivesse sido permitida, uma A Torre de Babel Atual
grande potência teria surgido para Muitos se desviam dos claros en-
banir a justiça da Terra – e, com ela, sinos da Bíblia e criam doutrinas ba-
a paz, a felicidade e a segurança. seadas em especulações humanas e
Aqueles que temiam ao Senhor em fábulas que agradam aos ouvidos.
clamavam a Ele para que inter- Depois apontam para a sua “torre”
viesse. “O Senhor desceu para ver como se ela fosse um caminho para
a cidade e a torre que os homens subir ao Céu. Lábios eloquentes ensi-
estavam construindo” (Gn 11:5). nam que o pecador não morrerá, que
Em Sua misericórdia para com o a salvação pode ser conseguida sem
mundo, Deus frustrou os planos a obediência à lei de Deus. Se os pro-
dos construtores da torre. Ele con- fessos seguidores de Cristo aceitas-
fundiu a língua, inutilizando assim sem a norma ordenada por Deus, ela
os planos de rebelião. Deus suporta os levaria à verdadeira unidade. En-
por longo tempo a maldade hu- quanto a sabedoria humana for exal-
mana, mas dá oportunidade para tada e colocada acima de Sua santa
o arrependimento. De tempos em Palavra, haverá divisões e dissensão.
tempos, Sua mão invisível é esten- A confusão existente entre cren-
dida para reprimir a iniquidade. ças e denominações que vivem em
O mundo obtém prova inequívoca conflito é muito apropriadamente
Línguas Confundidas 71
tinha vindo, mas buscou refúgio qual foram capacitados. Anjos celes-
temporário o mais próximo possí- tiais podem se unir a eles na obra a
vel da Terra da Promessa. ser finalizada na Terra.
O Senhor, em Sua sabedoria,
permitiu essa prova a Abraão para O Lamentável Erro
lhe ensinar lições que se tornariam de Abraão
um benefício para todos os que te- Enquanto estava no Egito,
riam que suportar a aflição. Deus Abraão demonstrou que não es-
não Se esquece nem rejeita aqueles tava livre da fraqueza humana.
que depositam sua confiança nEle. Sua esposa, Sara, era “muito bonita”
As provações que testam mais se- (Gn 12:14), e ele estava certo de que
veramente a nossa fé e fazem pare- os egípcios iriam cobiçar a bela es-
cer que Deus nos abandonou devem trangeira e matar seu marido. Ra-
nos levar para mais perto de Cristo. ciocinou que não estaria mentindo
Devemos depor todos os nossos far- em apresentar Sara como sua irmã,
dos aos Seus pés e experimentar a pois ela era filha de seu pai, embora
paz que Ele nos dará em troca. não fosse filha de sua mãe.
O calor da fornalha é que separa Isso era um engano. Por causa
a impureza do verdadeiro ouro do ca- da demonstração de falta de fé
ráter cristão. É por meio de provações de Abraão, Sara foi colocada em
difíceis e severas que Deus disciplina grande perigo. O rei do Egito or-
Seus servos. Ele vê que alguns têm denou que ela fosse levada ao pa-
habilidades que podem ser emprega- lácio, pretendendo fazer dela sua
das no avanço de Sua obra. Em Sua esposa. O Senhor, em Sua grande
sabedoria, Deus os conduz a posições misericórdia, protegeu Sara e puniu
que provam o seu caráter e revelam a casa real com “graves doenças”
as fraquezas das quais eles mesmos (Gn 12:17). O rei percebeu então que
não têm conhecimento. Ele lhes dá a tinha sido enganado. Ele reprovou
oportunidade de corrigir esses defei- Abraão, dizendo: “O que foi que
tos. Mostra suas fraquezas e os en- você fez comigo? […] Por que disse
sina a se apoiarem inteiramente nEle. que era sua irmã? Foi por isso que
Dessa maneira, são educados, treina- eu a tomei para ser minha mulher.
dos e disciplinados, preparados para Aí está a sua mulher. Tome-a e vá!”
cumprir o grande propósito para o (Gn 12:18, 19).
76 Os Escolhidos
A maneira com que Faraó tra- sobre ele, trazendo novamente juí-
tou Abraão foi amável e generosa, zos sobre a casa real.
mas ele lhe ordenou que deixasse o O caso não poderia ser man-
Egito. Sem saber, esteve a ponto de tido em segredo. Entenderam que o
causar uma grave ofensa a Abraão, Deus a quem Abraão adorava prote-
mas Deus livrou o monarca de co- geria Seu servo e que qualquer mal
meter tão grande pecado. Faraó viu feito a ele seria vingado. É perigoso
naquele estrangeiro um homem causar dano a um dos filhos do Rei
honrado por Deus. Se Abraão per- do Céu. O salmista afirma que Deus
manecesse no Egito, suas rique- “não permitiu que ninguém os opri-
zas, que se multiplicavam cada vez misse, mas a favor deles repreendeu
mais, provavelmente desperta- reis dizendo: ‘Não toquem nos Meus
riam a inveja ou cobiça dos egíp- ungidos; não maltratem Meus pro-
cios, e algum dano poderia recair fetas’” (Sl 105:14, 15).
12
Um Bom Vizinho
*
em Canaã
A braão voltou muito
rico para Canaã, “tanto
em gado como em prata e ouro”
mim e você, ou entre os seus pasto-
res e os meus; afinal somos irmãos!
Aí está a terra inteira diante de você.
(Gn 13:2). Ló estava com ele, e foram Vamos separar-nos. Se você for para
para Betel, onde armaram suas ten- a esquerda, irei para a direita; se for
das novamente. Mesmo em meio a para a direita, irei para a esquerda”
dificuldades e provações, eles ti- (Gn 13:8, 9).
nham vivido juntos em harmonia, Muitas pessoas sob circunstân-
mas em sua prosperidade havia pe- cias semelhantes se apegariam aos
rigo de desentendimento entre eles. seus direitos e preferências pessoais.
As pastagens não eram suficientes Muitos lares e igrejas têm sido divi-
para os rebanhos e o gado que eles didos, tornando a causa da verdade
tinham. Era evidente que deveriam um escândalo e uma desgraça entre
se separar. os ímpios. Os filhos de Deus em todo
Abraão foi o primeiro a pro- o mundo são uma só família, e o
por os planos para manter a paz. mesmo espírito de amor e concilia-
Embora toda aquela terra lhe ti- ção deve governá-los. “Dediquem-se
vesse sido dada por Deus, ele cortes- uns aos outros com amor fraternal.
mente não exigiu esse direito. “Não Prefiram dar honra aos outros mais
haja desavença”, disse ele, “entre do que a si próprios” (Rm 12:10).
* Este capítulo está baseado em Gênesis 13 a 15; 17:1-16; 18.
78 Os Escolhidos
A disposição de fazer aos outros Ao ar livre daqueles planaltos com
como desejaríamos que eles nos fizes- seus bosques de oliveiras e vinhe-
sem evitaria ou acabaria com grande dos, seus campos de cereais e lon-
parte dos problemas da vida. O cora- gas pastagens das colinas ao redor,
ção em que o amor de Cristo é culti- ele armou seu acampamento, con-
vado terá esse amor que cuida “não tente com sua vida simples, dei-
somente dos seus interesses” (Fp 2:4). xando para Ló o perigoso luxo do
Ló não demonstrou gratidão vale de Sodoma.
alguma ao seu generoso tio. Em Abraão não deixou de influen-
vez disso, de forma egoísta, tentou ciar seus vizinhos. Em contraste
tirar todas as vantagens possíveis. com os adoradores de ídolos, sua
“Olhou então Ló e viu todo o vale vida e caráter exerciam uma in-
do Jordão, todo ele bem irrigado […]; fluência poderosa em favor da ver-
era como o jardim do Senhor, como dadeira fé. Sua fidelidade a Deus
a terra do Egito” (Gn 13:10). A re- era inabalável. Tanto sua cordiali-
gião mais fértil de toda a Palestina dade quanto sua bondade inspira-
era o vale do Jordão, que lembrava vam confiança e amizade.
o Paraíso perdido para quem ali pas- Enquanto Cristo habita no co-
sava, e com a mesma beleza e produ- ração, é impossível ocultar a luz de
tividade das planícies enriquecidas Sua presença. Ela se tornará mais
pelo Nilo, que eles haviam deixado radiante à medida que a névoa do
para trás. Havia cidades, ricas e egoísmo e do pecado que nos en-
belas, que convidavam a um comér- volve for se dissipando com a luz
cio lucrativo. Deslumbrado com a do Sol da Justiça.
visão dos benefícios materiais, Ló Aqueles que pertencem ao povo
não levou em conta os problemas de Deus são luz em meio às trevas
morais encontrados lá. Ele “escolheu morais deste mundo. Espalhados
todo o vale do Jordão” e “mudou seu pelos grandes centros, cidades e
acampamento para um lugar pró- vilas, eles são condutos por meio
ximo a Sodoma” (Gn 13:11, 12). Ele dos quais Deus comunicará a um
mal podia imaginar os resultados mundo incrédulo o conhecimento
dessa escolha egoísta! e as maravilhas da Sua graça. É seu
Logo depois da separação, desejo que todos os que recebem a
Abraão se mudou para Hebrom. salvação sejam luz e que seu caráter
Um Bom Vizinho em Canaã 79
“Abraão creu em Deus e isso lhe foi separados dos idólatras e de que
creditado como justiça” (Rm 4:3). Deus os aceitava como Seu tesouro
O Senhor Se dispôs a fazer um especial. Não deveriam se casar com
concerto com Seu servo. Abraão os pagãos, pois, se fizessem isso, não
ouviu a voz de Deus lhe dizendo apenas seriam tentados a se envol-
que não esperasse pela posse ime- ver em práticas pecaminosas de ou-
diata da Terra Prometida, apon- tras nações, mas também seriam
tando para os sofrimentos de seus induzidos à idolatria.
descendentes antes de entrarem em
Canaã. O plano da redenção lhe foi Abraão Hospeda Anjos
desvendado, tanto na morte de Deus conferiu grandes honras a
Cristo, o grande sacrifício, como na Abraão. Anjos andavam e conver-
Sua vinda em glória. Abraão tam- savam com ele. Quando os juízos
bém viu a Terra restaurada à sua be- de Deus estavam para cair sobre
leza edênica, a ser concedida como Sodoma, o fato não foi encoberto
a herança eterna, em cumprimento dele. Abraão se tornou um interces-
completo e final da promessa. sor diante de Deus pelos pecadores.
Quando fazia quase vinte e cinco Em um dia de verão, no calor do
anos que Abraão estava em Canaã, meio-dia, Abraão estava assentado à
o Senhor apareceu a ele e disse: “De entrada de sua tenda, quando viu de
Minha parte, esta é a Minha aliança longe três viajantes. Antes de che-
com você. Você será o pai de muitas garem à sua tenda, os estranhos
nações” (Gn 17:4). Em sinal do cum- pararam. Sem esperar que lhe pe-
primento dessa aliança, seu nome, dissem qualquer favor, com toda a
que até aquele momento era Abrão, cortesia, Abraão insistiu para que
foi mudado para Abraão, que signi- lhe dessem a honra de permanecer
fica “pai de muitas nações” (Gn 17:5). ali um pouco e tomassem uma re-
O nome de Sarai se tornou Sara – feição. Ele mesmo trouxe água para
“princesa”; porque “dela procederão que pudessem lavar os pés e tirar o
nações e reis de povos” (Gn 17:15, 16). pó da viagem. Separou o alimento
Nessa mesma ocasião, o rito da e, enquanto descansavam em uma
circuncisão foi dado a Abraão para refrescante sombra, permaneceu ao
ser observado por ele e seus descen- lado deles respeitosamente, durante
dentes como um sinal de que eram o tempo em que comiam e bebiam
82 Os Escolhidos
o que lhes tinha providenciado. Ele mesmo faria um exame de sua
Mil anos mais tarde, por inspira- conduta. Se não tivessem passado
ção, o apóstolo fez referência a esse dos limites da misericórdia divina,
ato de cortesia: “Não se esqueçam certamente Deus concederia a eles a
da hospitalidade; foi praticando-a oportunidade de se arrependerem.
que, sem o saber, alguns acolheram Dois dos mensageiros celestiais
anjos” (Hb 13:2). partiram, deixando Abraão a sós
Abraão viu em seus hóspedes com Aquele que ele soube então ser
apenas três viajantes cansados, o Filho de Deus. O homem de fé in-
não imaginando que entre eles es- tercedeu em favor dos habitantes de
tava Um que era divino, sem pecado, Sodoma. Ele os salvou uma vez pela
a quem ele deveria adorar. O ver- espada, e naquele momento tentava
dadeiro caráter dos mensageiros salvá-los pela oração. Ló e sua fa-
celestiais foi então revelado. Eles es- mília ainda estavam morando lá, e
tavam em seu caminho como agen- Abraão procurava livrá-los da fúria
tes da ira de Deus; contudo, para dos juízos divinos.
Abraão eles falaram primeiramente Com profunda humildade, ele
sobre bênçãos. Deus não tem prazer insistiu em seu pedido: “Sei que
na vingança. já fui muito ousado ao ponto de
Abraão tinha honrado a Deus, falar ao Senhor, eu que não passo
por isso o Senhor o honrou, re- de pó e cinza” (Gn 18:27). Não re-
velando a ele os Seus propósi- clamava o favor por causa de sua
tos. “Esconderei de Abraão o que obediência ou sacrifícios que ti-
estou para fazer?”, disse o Senhor vesse feito ao cumprir a vontade
(Gn 18:17). “As acusações contra de Deus. Como pecador que era, ro-
Sodoma e Gomorra são tantas e o gava em favor do pecador. Mesmo
seu pecado é tão grave que desce- assim, Abraão demonstrou a con-
rei para ver se o que eles têm feito fiança de uma criança que faz uma
corresponde ao que tenho ouvido. súplica a seu amado pai. Embora
Se não, Eu saberei” (Gn 18:20, 21). Ló estivesse residindo em Sodoma,
Deus sabia qual era o pecado de ele não participava dos pecados de
Sodoma, mas Ele Se expressou em seus habitantes. Abraão imaginava
linguagem humana para que Sua que poderia haver outros adora-
justiça pudesse ser compreendida. dores do verdadeiro Deus naquela
Um Bom Vizinho em Canaã 83
poderia ter se oposto à vontade doe seus descendentes: “‘Juro por Mim
jovem forte. Isaque, porém, tinha mesmo’, declara o Senhor, ‘que por
ter feito o que fez, não Me negando
sido educado, desde criança, a obe-
decer prontamente e, ao saber do seu filho, o seu único filho, esteja
propósito de Deus, ele se entregoucerto de que o abençoarei e farei
sem resistir. Partilhava da mesma fé
seus descendentes tão numerosos
de Abraão e sentiu-se honrado em como as estrelas do céu e como a
dar sua vida em oferta a Deus. areia das praias do mar. Sua descen-
As últimas palavras de amor dedência conquistará as cidades dos
um para com o outro foram ditas, que lhe forem inimigos e, por meio
as últimas lágrimas derramadas, dela, todos os povos da Terra serão
o último abraço foi dado. O pai le-
abençoados, porque você Me obede-
vantou a faca. No mesmo instante, ceu’” (Gn 22:16-18).
o Anjo de Deus o chamou do Céu: Desde então, o grande ato de
“Abraão, Abraão!” Ele rapidamente fé praticado por Abraão perma-
respondeu: “Eis-me aqui.” Então ele
nece como uma coluna de luz, ilu-
ouviu novamente a voz: “‘Não toqueminando o caminho dos servos de
no rapaz’, disse o Anjo. ‘Não lhe faça
Deus em todos os tempos. Durante
nada. Agora sei que você teme a Deus,
esses três dias de viagem, Abraão
porque não Me negou seu filho, o seu
teve tempo suficiente para racio-
único filho’” (Gn 22:11, 12). cinar e duvidar de Deus. Ele pode-
Abraão viu “um carneiro preso ria ter pensado que matar seu filho
pelos chifres” e logo a seguir o faria com que fosse considerado um
ofereceu “em lugar de seu filho” assassino, um segundo Caim; seus
(Gn 22:13). Com grande alegria ensinos poderiam ser rejeitados e
e gratidão, Abraão deu um novo desprezados, destruindo assim seu
nome àquele lugar sagrado – “Jeová-
poder para fazer o bem a seus seme-
jiré”, que significa: “O Senhor pro-
lhantes. Poderia ter se justificado,
verá” (Gn 22:14). dizendo que a idade o dispensava
de obedecer, mas ele não se apegou
Promessa Renovada às desculpas. Abraão era humano.
No Monte Moriá, por meio de Suas paixões e afeições eram seme-
um juramento solene, Deus confir- lhantes às nossas, porém ele não
mou novamente a bênção a Abraão parou para ficar pensando na dor
92 Os Escolhidos
que sentia em seu coração. Sabia que Deus “anunciou primeiro as
Deus é justo e reto em tudo aquilo boas-novas a Abraão” (Gl 3:8). A fé
que nos pede para fazer. do patriarca foi firmada no Reden-
‘“Abraão creu em Deus, e isso lhe tor que um dia viria. Cristo disse:
foi creditado como justiça’ e ele foi “Abraão, pai de vocês, regozijou-se
chamado amigo de Deus” (Tg 2:23). porque veria o Meu dia; ele o viu
Paulo diz ainda: “Os que são da fé, estes e alegrou-se” (Jo 8:56). O cordeiro
é que são filhos de Abraão” (Gl 3:7). oferecido em lugar de Isaque repre-
Abraão demonstrou sua fé por meio sentava o Filho de Deus, que seria
de suas obras. “Não foi Abraão, nosso sacrificado em nosso lugar. O Pai,
antepassado, justificado por obras, olhando para Seu Filho, disse ao pe-
quando ofereceu seu filho Isaque cador: “Viva: Eu achei um resgate.”
sobre o altar? Você pode ver que A angústia que Abraão supor-
tanto a fé como as obras estavam tou durante os dias mais negros da-
atuando juntas, e a fé foi aperfei- quela terrível prova foi permitida
çoada pelas obras” (Tg 2:21, 22). para que ele pudesse compreender
Muitos não conseguem enten- uma parte da grandeza do sacrifício
der a relação entre fé e obras. Dizem feito por Deus para a nossa redenção.
eles: “Apenas creia em Cristo e estará Nenhuma outra prova poderia ter
salvo; isso não tem nada que ver com causado em Abraão tamanho sofri-
guardar a lei.” Entretanto, a fé ver- mento como o oferecimento do pró-
dadeira é demonstrada por meio da prio filho. Deus deu Seu Filho para
obediência. O Senhor declara com que sofresse uma morte de agonia e
respeito ao pai dos fiéis: “Abraão Me humilhação. Não foi permitido aos
obedeceu e guardou Meus preceitos, anjos que interferissem, como ha-
Meus mandamentos, Meus decre- viam feito no caso de Isaque. Não
tos e Minhas leis” (Gn 26:5). Tiago houve nenhuma voz que exclamasse:
assim nos diz: “Assim também a fé, “Basta!” Para salvar a raça caída, o Rei
por si só, se não for acompanhada da glória entregou a Sua vida.
de obras, está morta” (Tg 2:17). “Aquele que não poupou Seu
João, que tanto fala de amor, nos próprio Filho, mas O entregou por
diz: “Porque nisto consiste o amor todos nós, como não nos dará jun-
a Deus: em obedecer aos Seus man- tamente com Ele, e de graça, todas
damentos” (1Jo 5:3). as coisas?” (Rm 8:32).
A Prova da Fé 93
Acham que o Céu não seria Céu sem De repente, como o estrondo de
a presença daqueles a quem tanto um trovão, mesmo sem nenhuma
amam. Será que as pessoas que ali- nuvem no céu, a tempestade desa-
mentam esse tipo de sentimento bou. O Senhor fez chover fogo e en-
não sabem que estão ligadas por xofre sobre as cidades e a planície.
laços muito mais fortes de amor e Palácios e templos, mansões, jar-
lealdade ao seu Criador e Redentor? dins, vinhedos e multidões amantes
Se nossos amigos rejeitam o amor do prazer, inclusive aqueles que na
do Salvador, nós também devería- noite anterior insultaram os men-
mos rejeitar? Cristo pagou um preço sageiros do Céu – todos foram con-
infinito por nossa salvação, e aque- sumidos. A fumaça subia como se
les que dão valor a esse presente não fosse uma grande fornalha. O belo
desprezarão a misericórdia de Deus vale de Sidim se tornou um lugar
porque outros decidem fazer assim. que nunca mais seria reconstruído
O fato de outros desconhecerem as ou habitado – uma testemunha,
justas exigências de Deus deve nos para todas as gerações, da plena
animar a sermos mais prontos para certeza dos juízos de Deus sobre os
honrar a Deus e levar todos os que transgressores.
pudermos a aceitar o Seu amor. Existem pecados maiores do
que aqueles pelos quais Sodoma e
Sodoma é Destruída Gomorra foram destruídas. Aqueles
“Quando Ló chegou a Zoar, o que ouvem o convite do evangelho
sol já havia nascido sobre a Terra” para o arrependimento e não aten-
(Gn 19:23). Os brilhantes raios da dem ao chamado são mais culpados
manhã pareciam trazer somente que os moradores do vale de Sidim.
prosperidade e paz às cidades da O destino de Sodoma é uma séria
planície. A vida ativa e agitada nas advertência, não somente aos que
ruas estava apenas começando. As são culpados por viverem aberta-
pessoas seguiam por vários cami- mente no pecado, mas para todos
nhos, concentradas nos negócios ou aqueles que não levam em conside-
prazeres do novo dia. Os genros de ração a luz e os privilégios envia-
Ló estavam se divertindo à custa dos pelo Céu.
dos temores e advertências dadas O Salvador aguarda uma res-
pelo sogro já idoso. posta à Sua oferta de amor e de
100 Os Escolhidos
perdão com mais carinho e com- homens” (Mt 15:9). A infidelidade
paixão que o coração de um pai na domina em muitas igrejas, não uma
Terra ao perdoar um filho que se re- infidelidade declarada, como a nega-
belou. “Voltem para Mim e Eu vol- ção aberta da Bíblia, mas uma infi-
tarei para vocês” (Ml 3:7). Aquele delidade sutil que enfraquece a fé
que insiste em recusar esse grande na Bíblia como a revelação de Deus.
amor será finalmente deixado em A verdadeira religião tão essencial
trevas. O coração que despreza a mi- à vida deu lugar ao formalismo sem
sericórdia de Deus por longo tempo sentido. Como resultado, a imora-
fica endurecido pelo pecado e não é lidade e a apostasia tomaram
mais capaz de responder à influên- conta. Cristo declarou: “Aconteceu
cia da graça divina. No dia do juízo, a mesma coisa nos dias de Ló. […]
haverá mais tolerância para as cida- Acontecerá exatamente assim no
des da planície do que para aqueles dia em que o Filho do homem for
que conheceram o amor de Cristo e revelado” (Lc 17:28, 30). O mundo
se voltaram para os prazeres do pe- está amadurecendo rapidamente
cado. Nos livros do Céu, Deus man- para a destruição.
tém um registro dos pecados das Nosso Salvador afirmou: “Te-
nações, das famílias e de cada pes- nham cuidado para não sobre-
soa. Ainda são estendidos convi- carregar o coração de vocês de
tes ao arrependimento e ofertas de libertinagem, bebedeira e ansieda-
perdão, mas virá o tempo em que a des da vida, e aquele dia venha so-
folha de registro estará completa, bre vocês inesperadamente. Porque
a decisão pessoal tomada e o destino ele virá sobre todos os que vivem
da pessoa selado de acordo com sua na face de toda a Terra” – a todas as
escolha. Então será dado o sinal para pessoas cujos interesses estão foca-
executar o juízo. dos neste mundo. “Estejam sempre
atentos e orem para que vocês pos-
Outra Sodoma sam escapar de tudo o que está para
No mundo religioso de hoje, acontecer, e estar em pé diante do
pouca importância é dada à mise- Filho do homem” (Lc 21:34-36).
ricórdia de Deus. Multidões anu- Antes da destruição de Sodoma,
lam a lei; “seus ensinamentos não Deus enviou uma mensagem a Ló:
passam de regras ensinadas por “Fuja por amor à vida!” (Gn 19:17).
O Pecado de Sodoma e Gomorra 101
pela graça divina. Procurava constan- Agora poderia fazer o que quisesse.
temente um meio pelo qual pudesse Para satisfazer prazeres descontro-
conseguir a bênção que era desvalo- lados assim, equivocadamente cha-
rizada por seu irmão, mas que para mados de liberdade, muitos estão
ele era tão preciosa. vendendo seu direito de primogeni-
tura representado por uma herança
Esaú Vende seu Tesouro eterna nos Céus!
Ao voltar para casa certo dia, de- Esaú se casou com duas mulhe-
pois da caçada, com muita fome e can- res hititas. Elas adoravam falsos deu-
sado, Esaú pediu o alimento que seu ses, e a idolatria delas trazia grande
irmão estava preparando. Jacó apro- amargura para Isaque e Rebeca.
veitou o momento para tirar vanta- Esaú tinha transgredido uma das
gem da situação e ofereceu o alimento condições da aliança que proibia o
em troca da primogenitura. “Estou casamento entre o povo escolhido
quase morrendo. De que me vale esse e os pagãos; mesmo assim, Isaque
direito?” (Gn 25:32), exclamou o ca- ainda estava decidido a conceder a
çador precipitado e condescendente ele o direito de primogenitura.
consigo mesmo. Por um prato de len- Os anos se passaram. Isaque, já
tilhas vermelhas, ele abriu mão de sua idoso e cego, sentindo que a morte
primogenitura e confirmou a troca se aproximava, resolveu não de-
com um juramento. Para satisfazer morar mais a dar a bênção ao seu
um desejo do momento, demons- filho mais velho. Sabendo da opo-
trando toda a sua indiferença, ele tro- sição de Rebeca e de Jacó, decidiu
cou a gloriosa herança que o próprio realizar a solene cerimônia em se-
Deus tinha prometido a seus pais. gredo e deu as instruções a Esaú: “Vá
Todo o seu interesse estava no pre- ao campo caçar alguma coisa para
sente. Ele estava pronto a sacrificar as mim. Prepara-me aquela comida
coisas celestiais por prazeres terrenos, saborosa que tanto aprecio e traga-
a trocar um bem futuro por uma sa- me para que eu a coma e o abençoe
tisfação momentânea. antes de morrer” (Gn 27:3, 4).
“Assim Esaú desprezou o seu di- Rebeca contou a Jacó o que tinha
reito de filho mais velho” (Gn 25:34). acontecido, insistindo para que to-
Ao desistir da primogenitura, ele massem uma atitude imediata a fim
sentiu uma sensação de alívio. de que a bênção não fosse concedida
112 Os Escolhidos
a Esaú. Ela afirmou ao filho que, se vida. Essa cena ainda estava vívida
ele seguisse suas instruções, obteria diante dele, anos depois, quando o
o direito de primogenitura conforme mau procedimento de seus filhos
Deus tinha prometido. Jacó não con- apertava seu coração.
cordou facilmente. O pensamento de Assim que Jacó saiu da tenda
enganar seu pai lhe causava grande de seu pai, entrou Esaú. Embora ti-
angústia. Um pecado como esse tra- vesse vendido seu direito de primo-
ria maldição em vez de bênção. genitura, ele estava determinado a
Ele enfim cedeu e começou a co- obter as bênçãos por ela garanti-
locar em ação as sugestões de sua das. Com a bênção da primogeni-
mãe. Jacó não tinha a intenção de tura espiritual, estavam envolvidas
mentir; porém, ao estar na pre- as bênçãos materiais que davam o
sença de seu pai, percebeu que tinha direito de chefiar a família e de rece-
ido muito longe para voltar atrás. ber porção dobrada das riquezas do
Mesmo assim, conseguiu receber a pai. “Meu pai, levante-se e coma da
cobiçada bênção por meio da fraude. minha caça, para que o senhor me
dê sua bênção” (Gn 27:31).
Consequências do Engano Tremendo de espanto e angús-
Jacó e Rebeca foram bem- tia, o idoso pai, já cego, soube do en-
sucedidos em seu plano, mas conse- gano praticado contra ele. Sentiu
guiram apenas aborrecimento e tris- profundamente a decepção que
teza por seu engano. Deus afirmou o filho mais velho também senti-
que Jacó receberia a bênção da pri- ria. No entanto, veio à sua mente,
mogenitura; portanto, Sua palavra no mesmo instante, a convicção de
teria se cumprido se Jacó tivesse es- que a providência de Deus havia
perado que Deus agisse em seu favor. feito acontecer justamente o que
Rebeca se arrependeu amargamente ele estava determinado a impe-
do mau conselho que deu ao filho. dir. Lembrou-se das palavras do
Jacó sentiu o peso da culpa. Ele anjo a Rebeca e viu que Jacó seria
tinha pecado contra seu pai, contra o mais indicado para cumprir os
seu irmão, contra si mesmo e con- propósitos de Deus. Enquanto as
tra Deus. Não levou mais que uma palavras da bênção eram pronun-
hora para ele cometer um ato que lhe ciadas, ele sentia sobre si o Espírito
traria arrependimento para toda a de Inspiração; e confirmou então a
Jacó e Esaú 113
o que Jacó precisava – um Salvador. cumpriria por meio dele, Jacó teria
Ele tinha pecado, mas Deus revelou forças para se manter fiel.
um caminho pelo qual poderia ser Nessa visão, Jacó ficou sabendo
restaurado ao favor divino. de detalhes do plano da redenção
Cansado, o viajante se deitou no que eram importantes para ele
chão, tendo uma pedra como tra- naquele momento. A escada que
vesseiro. Ao dormir, ele viu uma es- ele viu no sonho era a mesma a que
cada, cuja base estava apoiada na Cristo Se referiu em Sua conversa
Terra enquanto o topo alcançava o com Natanael: “Vocês verão o Céu
Céu. Por essa escada, anjos subiam aberto e os anjos de Deus subindo
e desciam. Acima estava o Senhor e descendo sobre o Filho do homem”
da glória, e do Céu Jacó ouviu a Sua (Jo 1:51). O pecado de Adão e Eva
voz: “Eu sou o Senhor, o Deus de seu separou a Terra do Céu, de maneira
pai Abraão e o Deus de Isaque. […] que os seres humanos não mais
Todos os povos da Terra serão aben- poderiam ter comunhão com seu
çoados por meio de você e da sua Criador. Mesmo assim, o mundo
descendência” (Gn 28:13, 14). Essa não foi deixado sem esperança.
promessa tinha sido feita a Abraão A escada representa Jesus, o meio
e a Isaque, e agora estava sendo re- indicado para a comunicação. Cristo
novada a Jacó. Naquele momento, nos une, em nossa fraqueza e de-
ele ouviu as seguintes palavras de samparo, à fonte de infinito poder.
ânimo e de conforto: “Estou com Tudo isso foi revelado a Jacó no
você e cuidarei de você, aonde quer sonho. Embora no momento sua
que vá; e Eu o trarei de volta a esta mente conseguisse entender apenas
terra. Não o deixarei enquanto não uma parte da revelação, suas gran-
fizer o que lhe prometi” (Gn 28:15). des e misteriosas verdades foram o
O Senhor, em Sua misericórdia, estudo de toda a sua vida, trazendo
revelou o futuro ao fugitivo arre- cada vez mais luz à sua compreensão.
pendido para que pudesse estar Jacó despertou do sono no pro-
preparado para resistir às tenta- fundo silêncio da noite. A visão havia
ções que seriam colocadas diante se acabado. Agora, ele conseguia ver
dele quando estivesse sozinho somente o contorno das colinas so-
entre pessoas idólatras e astutas. litárias sob o céu brilhante e cheio
Sabendo que o propósito de Deus se de estrelas. Tinha consigo o solene
116 Os Escolhidos
sentimento de que Deus estava com livramentos proporcionados por
ele. “Sem dúvida o Senhor está neste Deus, ao abrir caminhos diante
lugar”, disse ele, “mas eu não sabia!” deles quando tudo parecia escuro
[…] “Temível é esse lugar! Não é outro, e ameaçador, animando-os quando
senão a casa de Deus; esta é a porta estavam prontos a desanimar.
dos Céus” (Gn 28:16, 17). Diante de tantas bênçãos inumerá-
“Na manhã seguinte, Jacó pegou veis, deveríamos constantemente
a pedra que tinha usado como tra- nos perguntar: “Como posso retri-
vesseiro, colocou-a em pé como co- buir ao Senhor toda a Sua bondade
luna e derramou óleo sobre o seu para comigo?” (Sl 116:12).
topo” (Gn 28:18). Ele chamou aquele
lugar de Betel, ou “casa de Deus” Por que o Dízimo é Sagrado
(Gn 28:19). Então fez um voto so- Sempre que passamos por um li-
lene: “Se Deus estiver comigo, cui- vramento especial ou bênçãos novas
dar de mim nesta viagem que estou e inesperadas nos são concedidas,
fazendo, prover-me de comida e devemos reconhecer a bondade de
roupa, e levar-me de volta em se- Deus por meio de dádivas e ofertas
gurança à casa de meu pai, então à Sua causa. Assim como recebemos
o Senhor será o meu Deus. E esta continuamente as bênçãos de Deus,
pedra que hoje coloquei como co- devemos também continuamente
luna servirá de santuário de Deus; e Lhe oferecer nossas dádivas.
de tudo o que me deres certamente “De tudo o que me deres”, disse
Te darei o dízimo” (Gn 28:20-22). Jacó, “certamente Te darei o dí-
Jacó não estava tentando fazer zimo” (Gn 28:22). Deveremos nós,
um contrato com Deus. O Senhor que temos a plena luz do evange-
prometeu prosperidade a ele antes lho, ficar satisfeitos em dar a Deus
disso, e esse voto foi feito por um menos do que deram aqueles que
coração cheio de gratidão pela cer- viveram antes de Jesus ter vindo
teza do amor e da misericórdia de ao mundo? Não são nossas obriga-
Deus. Jacó sentiu que tais evidên- ções muito maiores? Como é inútil
cias especiais do favor divino me- tentar contar matematicamente o
reciam uma retribuição. tempo, o dinheiro e o amor, diante
Os cristãos devem sempre lem- de tão imensurável amor e de um
brar com gratidão dos preciosos dom de valor incalculável como
A Fuga e o Exílio de Jacó 117
geada que caía durante a noite. Jacó os carrega junto ao Seu coração. Suas
era o chefe dos pastores; os servos ovelhas O amam. “Mas nunca segui-
que ele empregava eram pastores rão um estranho; na verdade, fugi-
ajudantes. Se faltasse alguma ove- rão dele, porque não reconhecem a
lha, o chefe dos pastores sofria o voz de estranhos” (Jo 10:5).
prejuízo e chamava os servos para A igreja de Cristo foi comprada
darem estrita conta se o rebanho com Seu sangue, e todo pastor que
não estivesse se desenvolvendo con- tiver o espírito de Cristo imitará o
forme o esperado. Seu exemplo de abnegação, traba-
lhando constantemente pelo bem
Temos um Pastor Fiel daqueles que estão sob a sua res-
A vida do pastor, em seu cuidado ponsabilidade, e o rebanho crescerá
e amor pelas criaturas indefesas, sob os seus cuidados. “Quando se
ilustra algumas verdades preciosas manifestar o supremo Pastor”, diz
do evangelho. Cristo é comparado o apóstolo Pedro, “vocês receberão a
a um pastor. Ele viu Suas ovelhas imperecível coroa de glória” (1Pe 5:4).
condenadas a morrer nos terrí- Já cansado de trabalhar para
veis caminhos do pecado. Para sal- Labão, Jacó decidiu voltar para
var esses seres errantes, deixou as Canaã. Disse então ao sogro: “Deixe-
honras e glórias da casa de Seu Pai. me voltar para a minha terra natal.
Ele diz: “Procurarei as perdidas e tra- Dê-me as minhas mulheres, pelas
rei de volta as desviadas. Enfaixarei quais o servi, e os meus filhos, e par-
a que estiver ferida e fortalecerei a tirei. Você bem sabe quanto traba-
fraca. […] Eu salvarei o Meu reba- lhei para você.” Labão insistiu para
nho, e elas não mais serão saquea- que ele ficasse, dizendo: “Peço-lhe
das. […] Nem os animais selvagens que fique. […] descobri que o Se-
as devorarão” (Ez 34:16, 22, 28). nhor me abençoou por sua causa”
Sua voz é ouvida chamando as (Gn 30:25-27).
ovelhas ao Seu aprisco, “e será um Jacó respondeu: “O pouco que
abrigo e sombra para o calor do dia, você possuía antes da minha che-
refúgio e esconderijo contra a tem- gada aumentou muito” (Gn 30:30).
pestade e a chuva” (Is 4:6). Ele for- Com o passar do tempo, Labão
talece a fraca, alivia as que sofrem, passou a ter inveja da grande
ajunta os cordeiros em Seus braços e prosperidade de Jacó, que “ficou
120 Os Escolhidos
extremamente rico” (Gn 30:43). irado e decidido a forçar todo o
Assim como o pai, os filhos de grupo a voltar. Os fugitivos esta-
Labão também estavam com inveja, vam realmente em grande perigo.
e suas palavras maldosas chegaram O próprio Deus interveio para
aos ouvidos de Jacó: Ele “‘tomou proteger Seu servo. “Tenho poder
tudo que o nosso pai tinha e jun- para prejudicá-los”, disse Labão, “mas,
tou toda a sua riqueza à custa do na noite passada, o Deus do pai de
nosso pai.’ E Jacó percebeu que a ati- vocês me advertiu: ‘Cuidado! Não diga
tude de Labão para com ele já não nada a Jacó, não lhe faça promessas
era a mesma de antes” (Gn 31:1, 2). nem ameaças” (Gn 31:29). Isso que-
Jacó teria deixado seu astuto ria dizer que ele não deveria obrigar
sogro muito tempo antes, não fosse o Jacó a retornar ou insistir com ele fa-
medo que tinha de se encontrar com zendo promessas lisonjeiras.
Esaú. Percebia que estava em perigo, Labão tinha retido o dote de ca-
por causa dos filhos de Labão que, ao samento de suas filhas e tratava
olharem para a sua riqueza como se Jacó usando de astúcia e grosseria,
fosse deles, poderiam tomá-la pela mas naquele momento o reprovou
violência. Ele se achava em grande por ter partido secretamente e por
perplexidade e angústia. Então lem- não ter dado ao pai a oportunidade
brou-se da graciosa promessa feita de fazer uma festa de despedida, ou
em Betel, e levou o seu caso a Deus. mesmo de se despedir de suas filhas
Por meio de um sonho, sua oração e de seus netos.
foi respondida: “Volte para a terra de Em resposta, Jacó apresentou
seus pais e de seus parentes, e Eu es- claramente a conduta egoísta e am-
tarei com você” (Gn 31:3). biciosa de Labão, e apelou para ele
Os rebanhos e o gado foram re- como testemunho de sua fidelidade
unidos rapidamente e enviados à e honestidade: “Se o Deus de meu
frente, e com suas duas mulheres, pai, o Deus de Abraão, o Temor de
filhos e servos, Jacó atravessou o rio Isaque não estivesse comigo”, disse
Eufrates, apressando-se para chegar Jacó, “certamente você me despediria
a Gileade, nas fronteiras de Canaã. de mãos vazias. Mas Deus viu o meu
Depois de três dias, Labão saiu atrás sofrimento e o trabalho das minhas
deles, alcançando-os no sétimo dia mãos e, na noite passada, Ele mani-
de viagem. Ele estava extremamente festou a Sua decisão” (Gn 31:42).
A Fuga e o Exílio de Jacó 121
Labão não poderia negar os entre nós. Então Jacó fez um jura-
fatos e propôs uma aliança de paz. mento em nome do Temor de seu
Jacó concordou e uma pilha de pe- pai Isaque” (Gn 31:49, 53).
dras foi erguida como símbolo da- Para confirmar a aliança, as duas
quele pacto. A essa coluna, Labão partes realizaram um banquete.
deu o nome de Mispá, “Torre de Passaram a noite reunidos amiga-
Vigia”, dizendo: “Que o Senhor nos velmente e, ao amanhecer, Labão e
vigie, a mim e a você, quando es- seu grupo partiram para casa. Com
tivermos separados um do outro. essa separação, acabou toda a ligação
[…] Que o Deus de Abraão, o Deus que havia entre os filhos de Abraão e
de Naor, o Deus do pai deles julgue os moradores da Mesopotâmia.
18
*
A Terrível Noite de Luta
C om muitos pressentimen-
tos, Jacó refez todo o cami-
nho pelo qual passou como fugitivo
Mais uma vez o Senhor deu a
Jacó um sinal do cuidado divino;
dois exércitos de anjos celestiais
vinte anos antes. Seu pecado por avançavam com seu grupo para ser-
ter enganado seu pai estava sempre vir de proteção. Jacó se lembrou da
diante dele. Sabia que seu longo exílio visão em Betel tanto tempo antes,
era o resultado direto daquele pecado. e seu coração sobrecarregado ficou
Pensava nesse ato dia e noite e, com a mais leve. Os mensageiros divinos
consciência pesada, a caminhada se que lhe trouxeram esperança e cora-
tornava muito triste. Ao aparecerem à gem ao fugir de Canaã deveriam ser
distância as colinas de sua terra natal, os guardas durante o seu retorno.
todo o seu passado voltou claramente “Quando Jacó os avistou, disse: ‘Este
diante dele. Com a lembrança de seu é o exército de Deus!’” (Gn 32:2).
pecado vieram também as promessas Mesmo assim, Jacó sentiu que
divinas de auxílio e direção. deveria fazer alguma coisa para
Teve medo quando pensou em garantir sua segurança. Então en-
Esaú. Seu irmão poderia ser levado viou mensageiros a Esaú com uma
à violência contra ele, não somente saudação, na esperança de que seu
pelo desejo de vingança, mas para irmão a receberia de bom grado.
obter a posse da riqueza que du- Os servos foram enviados ao “meu
rante tanto tempo tinha conside- senhor Esaú”. Eles deveriam se re-
rado como sua. ferir a seu senhor como “teu servo
* Este capítulo é baseado em Gênesis 32-33.
A Terrível Noite de Luta 123
deles por causa da crueldade que ti- o devorou. Veremos então o que será
nham cometido contra os siquemi- dos seus sonhos” (Gn 37:20).
tas. Assim, mandou que José fosse à Rúben não poderia suportar a
procura deles. Se Jacó soubesse dos ideia de assassinar seu irmão e pro-
verdadeiros sentimentos de seus fi- pôs que jogassem José vivo em um
lhos para com José, não o teria en- poço e o deixassem ali para mor-
viado sozinho até onde estavam. rer. Ele pretendia resgatar o irmão
Com alegria no coração, José se secretamente e mandá-lo de volta
despediu de seu pai, e nenhum dos para seu pai. Depois de convencer
dois poderia imaginar o que aconte- todos a aceitarem seu plano, Rúben
ceria até o dia em que viessem a se saiu, temendo que suas reais inten-
reencontrar. Quando José chegou a ções fossem descobertas.
Siquém, seus irmãos e os rebanhos José chegou sem ter ideia do
não estavam mais lá. Perguntou a perigo que corria. Em vez de ser
respeito deles, e foi informado de saudado como esperava, ficou ater-
que estavam em Dotã. Ele se apres- rorizado com a ira e os olhares de
sou, esquecendo o cansaço, tendo vingança dirigidos a ele. Seus ir-
em mente aliviar as preocupações mãos o agarraram e tiraram sua
de seu pai e encontrar os irmãos a túnica. Suas zombarias e ameaças
quem ele ainda amava. revelavam um propósito mortal.
Seus irmãos o viram se apro- Ele implorava que o deixassem, mas
ximando, mas, em seu ódio, nem se recusavam a ouvi-lo. Aqueles ho-
pensaram na longa viagem que ele mens cheios de ódio o arrastaram
tinha feito para encontrá-los na- à força até um poço muito fundo
quele lugar, no seu cansaço e fome, que havia por perto, empurraram
ou no direito de ser bem recebido e o irmão para dentro dele e o deixa-
no amor fraternal. Ao olharem para ram ali para morrer.
a sua túnica, o símbolo do amor de
seu pai, ficaram enfurecidos. “Lá Vendido como Escravo
vem aquele sonhador!” (Gn 37:19). Logo se aproximou um grupo de
A inveja e a vingança dominavam viajantes – uma caravana de ismae-
seus sentimentos. “É agora! Vamos litas a caminho do Egito com suas
matá-lo e jogá-lo num destes poços, mercadorias. Judá sugeriu então
e diremos que um animal selvagem que vendessem seu irmão em vez
134 Os Escolhidos
de o deixarem a morrer. Assim, ele que tinham cometido. Mataram
estaria fora do seu caminho, e não um cabrito, mergulharam a túnica
seriam culpados do seu sangue, de José no sangue do animal e a le-
“afinal”, insistiu, “é nosso irmão, é varam para seu pai, dizendo que
nosso próprio sangue” (Gn 37:27). a tinham encontrado no campo.
Todos concordaram, e José foi ra- “Achamos isto. Veja se é a túnica de
pidamente tirado do poço. teu filho” (Gn 37:32). Eles não esta-
Quando ele viu os mercadores, a vam preparados para ver a terrí-
terrível verdade caiu como um raio vel dor de coração e o sofrimento
sobre ele. Tornar-se um escravo era indescritível que foram obriga-
algo que ele temia mais do que a pró- dos a testemunhar. “É a túnica de
pria morte. Aterrorizado e em agonia, meu filho!”, disse Jacó. “Um ani-
apelou para cada um de seus irmãos, mal selvagem o devorou! José foi
mas foi em vão. Alguns tiveram pena despedaçado!” (Gn 37:33). Seus fi-
dele, mas todos achavam que tinham lhos procuraram confortá-lo, mas
ido longe demais para voltar atrás. ele “rasgou suas vestes, vestiu-se de
José contaria para o pai. Com o co- saco e chorou muitos dias por seu
ração endurecido pelo ódio, eles o en- filho.[...] ‘Chorando descerei à se-
tregaram nas mãos dos mercadores pultura para junto de meu filho’”
pagãos. A caravana seguiu seu cami- (Gn 37:34), clamava em desespero.
nho e logo se perdeu de vista. Os moços, aterrorizados com o
Rúben voltou ao poço, mas José que tinham feito, além de temerem
não estava mais lá. Quando soube o a condenação de seu pai, tinham
que tinha acontecido com ele, achou ainda que se manter em silêncio
que era melhor se unir aos seus ir- sobre sua culpa, que até para eles
mãos para tentar encobrir o crime parecia grande demais.
20
A Surpreendente
*
História de José
E nquanto isso, José es-
tava a caminho do
Egito, levado pelos donos da ca-
Ainda assim, essa experiência
seria uma bênção para ele. Em pou-
cas horas, ele aprendeu coisas que
ravana que o haviam comprado. nem mesmo vários anos poderiam
Mesmo de longe, o jovem conseguia lhe ter ensinado. Seu pai agira de
ver as colinas entre as quais esta- forma errada para com ele, com
vam as tendas de seu pai. Chorou seu favoritismo e falta de disci-
amargamente ao pensar em seu plina. Isso deixou seus irmãos ira-
amoroso pai, em sua solidão e so- dos e provocou a atitude cruel que
frimento. Ainda soavam em seus o separou de seu lar. Havia defeitos
ouvidos as palavras dolorosas e em seu caráter que tinham sido es-
os insultos dirigidos a ele diante timulados. Ele estava se tornando
de suas súplicas desesperadas em exigente e cheio de si. Sentia que
Dotã. Com o coração tremente ele não estava preparado para lidar
olhou para o futuro. Sozinho e sem com as dificuldades que estavam
amigos, qual seria o seu destino na- diante dele na vida cruel e de aban-
quela terra estranha para onde es- dono de um escravo.
tava indo? Por algum tempo, José Então seus pensamentos se vol-
se entregou a uma tristeza e terror taram para o Deus de seu pai. Várias
incontroláveis. vezes tinha ouvido a história da
* Este capítulo é baseado em Gênesis 39-41.
136 Os Escolhidos
visão de Jacó quando saiu de sua lealdade a Deus. Estava rodeado de
casa como um exilado e fugitivo. cenas e sons indesejáveis, mas era
Contaram a ele a respeito das pro- como se nada visse ou ouvisse. Ele
messas do Senhor a Jacó e como, na não permitia que seus pensamen-
hora da necessidade, os anjos vie- tos se ocupassem com coisas proi-
ram para ensinar, confortar e pro- bidas. O desejo de alcançar o favor
teger. Tinha aprendido do amor de dos egípcios não o fazia abrir mão
Deus em dar um Redentor. Todas de seus princípios. Não fazia qual-
essas preciosas lições vividamente quer esforço para ocultar o fato de
vieram à tona. José tinha certeza de que era um adorador de Jeová.
que o Deus de seus pais seria o seu “O Senhor estava com José, de
Deus. Entregou-se completamente modo que este prosperou.” Seu pa-
ao Senhor ali mesmo e orou para trão “percebeu que o Senhor estava
que o Guarda de Israel estivesse com ele e que o fazia prosperar em
com ele em seu exílio. tudo o que realizava” (Gn 39:2, 3).
Todo o seu ser tremeu diante da A confiança de Potifar em José au-
elevada resolução de se mostrar fiel mentava dia a dia e, finalmente, ele
a Deus, de agir como um súdito do o promoveu a seu mordomo, com
Rei do Céu. Ele enfrentaria as pro- total controle sobre todos os seus
vações em sua vida com coragem bens. “Assim deixou ele aos cuida-
e cumpriria fielmente o seu dever. dos de José tudo o que tinha, e não
A terrível experiência de um único se preocupava com coisa alguma,
dia fez com que deixasse de ser exceto com sua própria comida”
uma criança mimada, para se tor- (Gn 39:6).
nar um homem ponderado, corajoso O dinamismo, prontidão, zelo e
e confiante. energia de José eram coroados pela
Quando chegou ao Egito, José foi bênção divina; mesmo seu senhor
vendido a Potifar, capitão da guarda idólatra aceitava isso como o se-
real. Durante dez anos, foi exposto gredo de sua prosperidade. Deus era
a tentações em meio à idolatria, ro- glorificado pela fidelidade de Seu
deado de toda pompa da realeza, da servo. Era seu objetivo que o crente
riqueza e cultura da mais alta nação em Deus aparecesse em marcante
civilizada que existia na época. contraste com os adoradores de ído-
Mesmo assim, José manteve a sua los. Assim, a luz da graça celestial
A Surpreendente História de José 137
prisão injusta a que havia sido con- lembrasse do próprio sonho; com
denado, suplicou que seu caso fosse ele, veio à sua lembrança o pedido
levado perante o rei. “Quando tudo de José e o remorso por seu esqueci-
estiver indo bem com você”, disse ele, mento e ingratidão. Imediatamente,
“lembre-se de mim e seja bondoso ele informou ao rei como seu sonho
comigo; fale de mim ao Faraó e tire- e o sonho do padeiro-chefe tinham
me desta prisão, pois fui trazido à sido interpretados por um escravo
força da terra dos hebreus, e tam- hebreu e como as predições haviam
bém aqui nada fiz para ser jogado se cumprido.
neste calabouço” (Gn 40:14, 15). Era humilhante para o Faraó
O copeiro-chefe viu que seu consultar um escravo, mas ele es-
sonho tinha se realizado em todos tava disposto a fazer isso para que
os detalhes; mas quando foi restau- sua mente perturbada se acalmasse.
rado ao favor real, ele se esqueceu José foi enviado imediatamente ao
daquele que o havia ajudado. José palácio; tirou suas roupas de prisio-
permaneceu como prisioneiro por neiro e foi levado à presença do rei.
mais dois anos. A esperança que “O Faraó disse a José: ‘Tive um
tinha começado a arder em seu sonho que ninguém consegue inter-
coração, pouco a pouco foi se apa- pretar. Mas ouvi falar que você, ao
gando, e às outras provações foi ouvir um sonho, é capaz de inter-
acrescentada a mais amarga dor da pretá-lo.’ Respondeu-lhe José: ‘Isso
ingratidão. não depende de mim, mas Deus
Entretanto, a mão divina estava dará ao Faraó uma resposta favo-
pronta para abrir as portas da pri- rável’” (Gn 41:15, 16). José, modes-
são. Em uma noite, o rei do Egito tamente, recusou a honra de possuir
teve dois sonhos que indicavam sabedoria superior. Somente Deus
aparentemente o mesmo aconteci- pode explicar esses mistérios.
mento e pareciam estar prevendo O Faraó começou então a relatar
uma grande calamidade. Os magos seus sonhos: “Sonhei que estava em
e sábios não puderam dar a inter- pé, à beira do Nilo, quando saíram
pretação. A perplexidade do rei au- do rio sete vacas, belas e gordas, que
mentava e o terror se espalhou por começaram a pastar entre os juncos.
todo o palácio. A agitação geral Depois saíram outras sete, raquíti-
fez com que o copeiro-chefe se cas, muito feias e magras. Nunca vi
140 Os Escolhidos
vacas tão feias em toda a terra do deve estabelecer supervisores para
Egito. As vacas magras e feias come- recolher um quinto da colheita do
ram as sete vacas gordas que tinham Egito durante os sete anos de far-
aparecido primeiro. Mesmo depois tura. Eles deverão recolher o que
de havê-las comido, não parecia que puderem nos anos bons que virão
o tivessem feito, pois continuavam e fazer estoques de trigo que, sob
tão magras como antes. Então acor- o controle do Faraó, serão armaze-
dei. Depois tive outro sonho. Vi sete nados nas cidades. Esse estoque ser-
espigas de cereal, cheias e boas, que virá de reserva para os sete anos de
cresciam num mesmo pé. Depois fome que virão sobre o Egito, para
delas, brotaram outras sete, mur- que a terra não seja arrasada pela
chas e mirradas, ressequidas pelo fome” (Gn 41:33-36).
vento leste. As espigas magras en- A interpretação foi racional e
goliram as sete espigas boas. Contei coerente. A política recomendada
isso aos magos, mas ninguém foi era sólida e não tinha como ser co-
capaz de explicá-lo” (Gn 41:17-24). locada em dúvida. A quem pode-
ria ser confiada a execução desse
A Interpretação do Sonho plano? A preservação da nação de-
do Faraó penderia da sabedoria dessa esco-
“‘O Faraó teve um único sonho’, lha. Por algum tempo, a questão
disse-lhe José. ‘Deus revelou ao dessa indicação esteve em estudo.
Faraó o que Ele está para fazer’” Por meio do copeiro-chefe, o mo-
(Gn 41:25). Haveria sete anos de narca ficou sabendo da sabedoria e
muita fartura. Os campos e hortas prudência demonstradas por José
produziriam em grande quanti- na administração da prisão. Era
dade, como nunca antes. Esse pe- evidente que ele tinha uma habi-
ríodo seria seguido por sete anos de lidade administrativa superior.
fome. “A fome que virá depois será Em todo o reino, José foi o único
tão rigorosa que o tempo de fartura homem dotado de sabedoria para
não será mais lembrado na terra” indicar o perigo que ameaçava o
(Gn 41:31). “Procure agora o Faraó”, país e o preparo necessário que de-
disse ele, “um homem criterioso e veria ser feito para enfrentar uma
sábio e coloque-o no comando da situação como aquela. Não havia
terra do Egito. O Faraó também ninguém, entre os oficiais do rei,
A Surpreendente História de José 141
tão bem qualificado para conduzir atinge a humilde flor no vale ar-
os negócios da nação naquele mo- ranca pela raiz a frondosa árvore
mento de crise. “Será que vamos no topo da montanha. Assim tam-
achar alguém como este homem, bém, aqueles que mantiveram
em quem está o espírito divino?” sua integridade na vida humilde
(Gn 41:38), perguntou o rei aos seus que levavam podem ser arrasta-
conselheiros. dos pelas tentações que aparecem
com o êxito e as honras mundanas.
De Prisioneiro a O caráter de José resistiu da mesma
Primeiro-Ministro forma tanto à prova da adversi-
Foi feito então a José o surpreen- dade como da prosperidade. Ele
dente anúncio: “Uma vez que Deus era um estrangeiro em terra pagã,
lhe revelou todas essas coisas, não separado de sua família, mas acre-
há ninguém tão criterioso e sábio ditava que a mão divina tinha di-
como você. Você terá o comando rigido completamente a sua vida.
de meu palácio, e todo o meu povo Com inabalável confiança em Deus,
se sujeitará às suas ordens. Somente desempenhava fielmente os deve-
em relação ao trono serei maior que res do cargo que ocupava. A aten-
você. […] Em seguida o Faraó tirou do ção do rei e dos grandes homens
dedo o seu anel-selo e o colocou no do Egito foi dirigida ao verdadeiro
dedo de José. Mandou-o vestir de Deus, e eles aprenderam a respei-
linho fino e colocou uma corrente tar os princípios revelados na vida
de ouro em seu pescoço. Também de José como adorador de Jeová.
o fez subir em sua segunda car- Em seus primeiros anos, José se-
ruagem real, e à frente os arautos guiu o seu dever e não a inclinação.
iam gritando: ‘Abram caminho!’” A integridade, a simples confiança, a
(Gn 41:39, 40, 42, 43). nobre natureza do jovem produziram
Da prisão, José foi elevado a go- frutos em seus atos quando homem.
vernador de toda a terra do Egito, As circunstâncias variadas que
uma posição altamente honrada, encontramos dia a dia são destina-
mas também cercada de perigos. das a provar a nossa fidelidade e
Ninguém pode ocupar uma ele- a nos qualificar para maiores res-
vada posição sem estar sujeito ponsabilidades. Ao se apegar aos
ao perigo. A tempestade que não princípios, a mente se acostuma
142 Os Escolhidos
a atender às exigências do dever Um caráter reto tem maior valor
acima do prazer e da vontade. que o ouro de Ofir. Sem ele, nin-
A mente assim disciplinada não os- guém pode alcançar uma elevada
cila entre o que é certo e o errado posição. A formação de um caráter
como a cana balança ao vento. Pela nobre representa o trabalho de uma
fidelidade nas pequenas coisas, ad- vida inteira. Deus oferece as opor-
quirem forças para serem fiéis nas tunidades; o êxito depende do uso
coisas maiores. que fazemos delas.
21
*
José e seus Irmãos
S ob a direção de José, foram
construídos imensos arma-
zéns em toda a terra do Egito para
A fome também atingiu com
força o país em que Jacó vivia. Ao
ouvir falar da grande provisão feita
guardar todo o excedente da colheita pelo rei do Egito, dez dos filhos de
esperada. Durante os sete anos em Jacó viajaram até lá para comprar
que houve comida, a quantidade de cereais. Foram encaminhados ao
grãos armazenados foi muito além representante do rei e, assim como
do que se poderia calcular. outros compradores, apresentaram-
Então começaram os sete anos se diante do governador da terra.
de fome, de acordo com a predição “Curvaram-se diante dele com o
de José. “Houve fome em todas as rosto em terra. […] José reconheceu
terras, mas em todo o Egito havia os seus irmãos, mas eles não o reco-
alimento. Quando todo o Egito co- nheceram” (Gn 42:6, 8). Seu nome
meçou a sofrer com a fome, o povo hebreu foi mudado por outro que
clamou ao Faraó por comida, e foi dado pelo rei, e era bem pouca
este respondeu a todos os egípcios: a semelhança entre o primeiro-
‘Dirijam-se a José e façam o que ele ministro do Egito e o jovem que
disser.’ Quando a fome já se havia eles tinham vendido aos ismaeli-
espalhado por toda a terra, José tas. Quando José viu seus irmãos
mandou abrir os locais de armaze- se curvarem diante dele, seus so-
namento e começou a vender trigo nhos e as cenas do passado surgi-
aos egípcios” (Gn 41:54-56). ram vividamente diante dele. Com
* Este capítulo é baseado em Gênesis 41:54-56; 42 a 50.
144 Os Escolhidos
seu olhar aguçado, logo percebeu sozinho, deixando seu irmão na pri-
que Benjamim não estava entre são? Isso faria parecer que eles ti-
eles. Será que ele também havia nham sido mortos ou se tornado
sido vítima da crueldade e traição escravos. Se Benjamim fosse trazido,
deles? Decidiu então saber a ver- seria apenas para acabar tendo a
dade. “Vocês são espiões!”, disse ele. mesma sorte deles. Decidiram ficar e
“Vieram para ver onde a nossa terra sofrer juntos, em vez de causar mais
está desprotegida” (Gn 42:9). tristezas ao pai pela perda do único
Os irmãos responderam: “Não, filho que lhe restava. Assim, todos
meu senhor, teus servos vieram foram lançados na prisão.
comprar comida. […] Teus servos
são homens honestos, e não es- Homens Arrependidos
piões” (Gn 42:10, 11). Desejou tirar Os filhos de Jacó tinham pas-
alguma informação deles, com rela- sado por uma mudança de caráter.
ção à sua casa, mas sabia o quanto Antes, eles eram invejosos, tempe-
suas declarações poderiam não ser ramentais, enganadores, cruéis e
verdadeiras. Ele repetiu a acusação, vingativos; mas, depois que foram
e eles responderam: “Teus servos provados pelas dificuldades, mos-
eram doze irmãos, todos filhos do traram-se mais abnegados, leais uns
mesmo pai, na terra de Canaã. O ca- com os outros, dedicados ao seu pai
çula está agora em casa com o pai, e e, mesmo sendo já adultos, estavam
o outro já morreu” (Gn 42:13). sujeitos à sua autoridade.
Afirmando estar em dúvida a Os três dias que estiveram pre-
respeito da história que eles haviam sos no Egito foram de amargura e
contado, o governador declarou que tristeza, ao refletirem sobre seus pe-
eles deveriam permanecer no Egito cados. Se Benjamim não pudesse ser
até que um deles fosse e trouxesse trazido, sua condenação como es-
o irmão mais moço. Se não fizes- piões parecia certa.
sem isso seriam tratados como No terceiro dia, José mandou
espiões. Os filhos de Jacó não pu- que seus irmãos fossem levados pe-
deram concordar porque o tempo rante ele. Não poderia detê-los por
necessário para tudo isso faria suas mais tempo. Talvez seu pai e suas
famílias passarem fome; e quem famílias já estivessem sofrendo pela
entre eles poderia fazer a viagem falta de alimento. “Eu tenho o temor
José e seus Irmãos 145
por causa do dinheiro encontrado nos laram? Ainda está vivo?” “Teu servo,
sacos. Imaginavam que tivesse sido nosso pai, ainda vive e passa bem”,
colocado de propósito com o objetivo foi a resposta. “E se curvaram para
de encontrarem uma razão para que prestar-lhe honra.” (Gn 43:27, 28).
fossem feitos escravos. Como prova Então olhou para Benjamim e disse:
de sua inocência, informaram ao ad- “É este o irmão caçula de quem me
ministrador da casa que tinham tra- falaram?” E acrescentou: “Deus lhe
zido de volta o dinheiro encontrado conceda graça, meu filho” (Gn 43:29);
nos sacos e também mais dinheiro mas José ficou muito emocionado
para comprar o alimento; e acrescen- ao ver o irmão e não conseguiu
taram: “Não sabemos quem pôs a dizer mais nada. “Entrando em seu
prata em nossa bagagem” (Gn 43:22). quarto, chorou” (Gn 43:30).
“‘Fiquem tranquilos’, disse o admi- Quando José conseguiu se re-
nistrador. ‘Não tenham medo. O seu compor, voltou para junto dos
Deus e o Deus de seu pai foi quem lhes irmãos. Pelas leis das classes so-
deu um tesouro em suas bagagens, ciais, os egípcios eram proibidos
porque a prata de vocês eu recebi’” de comer com pessoas de qual-
(Gn 43:23). Os irmãos ficaram alivia- quer outra nação. Por essa razão,
dos. Assim que Simeão foi libertado foi posta uma mesa separada para
da prisão e se uniu a eles, sentiram os filhos de Jacó, enquanto o go-
que Deus tinha sido verdadeiramente vernador, devido à sua alta posi-
misericordioso com todos. ção, comia sozinho, e os egípcios
também tinham mesas separadas.
Os Sonhos se Cumprem Quando todos se assentaram, os ir-
Novamente mãos ficaram surpresos ao ver que
Quando o governador se en- foram colocados um após o outro,
controu novamente com eles, en- exatamente de acordo com a idade
tregaram a ele os seus presentes e de cada um. “Então lhes serviram
humildemente “curvaram-se diante da mesa de José” (v. 34), mas a por-
dele até o chão” (Gn 43:26). De novo ção de Benjamim era cinco vezes
seus sonhos lhe vieram à mente. Ele maior que a de qualquer um deles.
cumprimentou os irmãos e se apres- Com isso, esperava descobrir se o
sou em perguntar: “Como vai o pai de irmão mais novo era olhado com
vocês, o homem idoso de quem me fa- a mesma inveja e ódio que foram
148 Os Escolhidos
demonstrados a ele. Imaginando consideradas uma proteção contra
ainda que José não compreendia a o assassinato por envenenamento.
sua língua, os irmãos conversavam Diante da acusação do adminis-
normalmente entre si, dando a ele trador, os viajantes responderam:
uma boa oportunidade para conhe- “Por que o meu senhor diz isso?
cer seus verdadeiros sentimentos. Longe dos seus servos fazer tal
José ainda queria provar seus ir- coisa! Nós lhe trouxemos de volta,
mãos mais uma vez. Antes de saí- da terra de Canaã, a prata que en-
rem do Egito, ordenou que seu copo contramos na boca de nossa ba-
de prata fosse colocado no saco de gagem. Como roubaríamos prata
mantimentos do irmão mais novo. ou ouro da casa do seu senhor? Se
algum dos seus servos for encon-
A Prova Final de trado com ela, morrerá; e nós, os
Arrependimento demais, seremos escravos do meu
Alegremente eles partiram de senhor” (Gn 44:7-9).
volta para a casa de seu pai. Simeão e “Concordo”, disse o administra-
Benjamim foram com eles; seus ani- dor. “Somente quem for encontrado
mais estavam carregados de trigo, e com ela será meu escravo. Os de-
todos achavam que tinham escapado mais estarão livres” (Gn 44:10).
em segurança dos perigos que pare- A busca começou logo em se-
ciam cercá-los. No entanto, tinham guida. “Cada um deles descarregou
apenas chegado aos arredores da ci- depressa a sua bagagem e abriu-a”
dade, quando foram surpreendidos (Gn 44:11), e o administrador exa-
pelo administrador do governador, minou cada uma delas, começando
que bastante irado perguntou a eles: pela de Rúben, em ordem, até chegar
“Por que retribuíram o bem com o ao mais moço. A taça foi encontrada
mal? Não é esta a taça que meu se- na bagagem levada por Benjamim.
nhor usa para beber e fazer adivi- Os irmãos rasgaram suas roupas
nhações? Vocês cometeram grande com um sentimento de completa
maldade!” (Gn 44:4, 5). Eles achavam desgraça e lentamente retornaram
que essa taça tinha o poder de des- para a cidade. Pela própria promessa
cobrir qualquer substância venenosa que haviam feito, Benjamim estava
que nela fosse colocada. Taças desse condenado à escravidão. Eles acom-
tipo tinham muito valor, pois eram panharam o administrador até
José e seus Irmãos 149
o palácio e, ao encontrarem o go- conosco, logo que meu pai, que é tão
vernador, curvaram-se até o chão apegado a ele, perceber que o jovem
diante dele. não está conosco, morrerá. Teus ser-
“Que foi que vocês fizeram?”, vos farão seu velho pai descer seus
disse ele. “Vocês não sabem que um cabelos brancos à sepultura com
homem como eu tem poder para tristeza. Além disso, teu servo ga-
adivinhar?” (Gn 44:15). José pre- rantiu a segurança do jovem a seu
tendia saber se realmente tinham pai, dizendo-lhe: ‘Se eu não o trou-
se arrependido do seu pecado. xer de volta, suportarei essa culpa
Judá respondeu: “O que diremos diante de ti pelo resto da minha
a meu senhor? Que podemos falar? vida!’ Por isso, agora te peço, por
Como podemos provar nossa ino- favor, deixa o teu servo ficar como
cência? Deus trouxe à luz a culpa escravo do meu senhor no lugar do
dos teus servos. Agora somos es- jovem e permite que ele volte com
cravos do meu senhor, como tam- seus irmãos. Como poderei eu vol-
bém aquele que foi encontrado com tar a meu pai sem levar o jovem co-
a taça” (Gn 44:16). migo? Não! Não posso ver o mal que
“Longe de mim fazer tal coisa!”, sobreviria a meu pai” (Gn 44:30-34).
foi a resposta. “Somente aquele que José estava satisfeito. Tinha visto
foi encontrado com a taça será meu em seus irmãos os frutos do verda-
escravo. Os demais podem voltar em deiro arrependimento. Deu ordens
paz para a casa do seu pai” (Gn 44:17).
para que todos se retirassem, exceto
aqueles homens. Então, chorando em
O Apelo de Judá alta voz, ele exclamou: “Eu sou José!
Em profunda angústia, Judá se Meu pai ainda está vivo?” (Gn 45:3).
aproximou do governador. De ma-
neira eloquente, ele descreveu a Reconciliação!
dor de seu pai pela perda de José Os irmãos de José ficaram sem
e sua dificuldade em permitir que entender, calados, cheios de medo e
Benjamim fosse com eles ao Egito, espantados. O governador do Egito
por ser ele o único filho de Raquel, era o seu irmão José, a quem eles in-
o filho a quem Jacó tanto amava. vejavam e teriam matado, mas que
“Agora, pois, se eu voltar a teu acabaram vendendo como escravo!
servo, a meu pai, sem levar o jovem Todos os seus maus-tratos passaram
150 Os Escolhidos
diante deles. Lembraram-se de como todo o palácio e governador de todo
odiavam seus sonhos e de tudo o o Egito. Voltem depressa a meu pai
que fizeram para impedir que se e digam-lhe: ‘Assim diz o seu filho
cumprissem; porém, nada mais fi- José: Deus me fez senhor de todo
zeram do que desempenhar o seu o Egito. Vem para cá, não te demo-
papel para que eles se realizassem. res. Tu viverás na região de Gósen
Naquele momento em que estavam […] tu, os teus filhos, os teus netos,
completamente sob seu poder, sem as tuas ovelhas, os teus bois e todos
dúvida ele iria se vingar de tudo o os teus bens. Eu te sustentarei ali,
que tinha sofrido. porque ainda haverá cinco anos de
Ao ver o quanto estavam con- fome. Do contrário, tu, a tua família
fusos, ele disse bondosamente: e todos os teus rebanhos acabarão na
“Cheguem mais perto”. Quando se miséria’” (Gn 45:7-11). “Então ele se
aproximaram, ele continuou: “Eu lançou chorando sobre o seu irmão
sou José, seu irmão, aquele que Benjamim e o abraçou, e Benjamim
vocês venderam ao Egito! Agora, não também o abraçou, chorando. Em se-
se aflijam nem se recriminem por guida beijou todos os seus irmãos e
terem me vendido para cá, pois foi chorou com eles. E só depois os seus
para salvar vidas que Deus me en- irmãos conseguiram conversar com
viou adiante de vocês” (Gn 45:3, 4). ele” (Gn 45:14, 15). Eles confessaram
Sentindo que já tinham sofrido o com muita humildade o seu pecado e
suficiente por sua crueldade para suplicaram que os perdoasse.
com ele, procurou com muita gene- A notícia do que tinha aconte-
rosidade aliviar seus temores e tirar cido foi rapidamente levada ao rei.
deles a amargura por continuarem Ele confirmou o convite do governa-
se condenando. dor à sua família, dizendo: “Eu lhes
“Deus me enviou à frente de darei o melhor da terra do Egito”
vocês para lhes preservar um rema- (Gn 45:18). Os irmãos de José foram
nescente nesta terra e para salvar- enviados com grande suprimento
lhes a vida com grande livramento! de alimentos e de tudo o que neces-
Assim, não foram vocês que me sitavam para trazer todas as famí-
mandaram para cá, mas sim o pró- lias e os servos para o Egito.
prio Deus. Ele me tornou ministro Os filhos de Jacó voltaram para
do Faraó, e me fez administrador de a casa de seu pai com estas alegres
José e seus Irmãos 151
de sua mãe, esses jovens estavam li- Não havia nenhuma queixa dos dias
gados à mais alta ordem do sacer- do passado. Ele não considerava mais
dócio egípcio e a posição de seu pai suas provações e tristezas coisas que
abria diante deles os caminhos da recaíram sobre ele. Em sua memó-
riqueza e da honra, caso preferis- ria guardava apenas as lembranças
sem se unir aos egípcios. Contudo, da misericórdia e amorável bondade
era desejo de José que eles se unis- de Deus, que estiveram com Jacó du-
sem ao povo do seu pai. Com isso, rante toda a sua peregrinação.
ele demonstrou sua fé na promessa Todos os filhos de Jacó foram
do concerto, renunciando em favor reunidos ao redor de seu leito de
de seus filhos todas as honras que a morte. “Então Jacó chamou seus
corte do Egito oferecia para ter um filhos e disse: Ajuntem-se a meu
lugar entre as menosprezadas tribos lado para que eu lhes diga o que
de pastores, às quais foram confia- lhes acontecerá nos dias que virão”
dos os oráculos de Deus. (Gn 49:1).
Disse Jacó a José: “Os seus dois
filhos que lhe nasceram no Egito, Jacó Prediz o Futuro
antes da minha vinda para cá, serão de seus Filhos
reconhecidos como meus; Efraim e O espírito de inspiração repou-
Manassés serão meus, como são sou sobre Jacó, e em visão profé-
meus Rúben e Simeão” (Gn 48:5). tica foi apresentado diante dele o
Deveriam ser reconhecidos como futuro de seus descendentes. Um
seus e se tornarem chefes de tribos após outro, os nomes de seus filhos
distintas. foram mencionados, foi descrito
Ao se aproximarem, o patriarca o caráter de cada um, e a história
os abraçou e os beijou, colocando so- futura da tribo foi também breve-
lenemente as mãos sobre a cabeça mente predita.
deles para abençoá-los. Então ele
orou: “Que o Deus a quem serviram Rúben, você é meu primogênito,
meus pais Abraão e Isaque, o Deus minha força, o primeiro sinal do
que tem sido o meu pastor em toda meu vigor, superior em honra,
a minha vida até o dia de hoje, o Anjo superior em poder (Gn 49:3).
que me redimiu de todo o mal, aben- Mesmo assim, o terrível pecado de
çoe estes meninos” (Gn 48:15, 16). Rúben em Edar fez com que ele
154 Os Escolhidos
se tornasse indigno da bênção da não recebeu nenhuma herança, ex-
primogenitura. Jacó continuou: ceto quarenta e oito cidades. Sua fi-
Turbulento como as águas, já não delidade, quando as outras tribos se
será superior (Gn 49:4). apostataram, assegurou sua indica-
ção para o sagrado serviço do san-
O sacerdócio foi dado a Levi, tuário. Dessa maneira, a maldição
tanto o reino quanto a promessa se transformou em bênção.
messiânica a Judá, enquanto que
a José coube a dupla porção da he- Judá, seus irmãos o louvarão, sua
rança. A tribo de Rúben nunca se mão estará sobre o pescoço dos
sobressaiu em Israel e não foi tão seus inimigos; os filhos de seu
numerosa quanto a de Judá, José pai se curvarão diante de você.
ou Dã, e estava entre as primeiras a […]
serem levadas para o cativeiro. O cetro não se apartará de Judá,
Os próximos foram Simeão e nem o bastão de comando de
Levi. Eles haviam se unido em seus seus descendentes, até que venha
atos de crueldade para com os sique- Aquele a quem ele pertence,
mitas e tinham sido os maiores cul- e a Ele as nações obedecerão
pados na venda de José. (Gn 49:8-10).
outro trabalho pode se igualar a esse. tornar seu neto adotivo seu sucessor
A mãe está lidando com o desenvolvi- ao trono, e o jovem Moisés foi edu-
mento da mente e caráter dos filhos, cado para ocupar essa elevada posi-
trabalhando não somente para a vida ção. “Moisés foi educado em toda a
neste mundo, mas para a eternidade. sabedoria dos egípcios e veio a ser po-
Ela está semeando as sementes que deroso em palavras e obras” (At 7:22).
vão brotar e produzir frutos, que Sua habilidade como líder militar fez
podem ser tanto para o bem, como com que se tornasse o favorito nos
para o mal. Sua obra não é pintar exércitos do Egito, e era geralmente
belas formas em uma tela ou fazer es- respeitado como uma alta persona-
culturas no mármore, mas imprimir lidade. Satanás tinha sido derrotado
na mente humana a imagem divina. em seu propósito. O mesmo decreto
As impressões produzidas na mente que condenava os filhos dos hebreus
permanecerão por toda a vida. Os fi- à morte foi revertido por Deus para
lhos são colocados aos cuidados dos possibilitar a educação e preparo do
pais para serem ensinados, não para futuro líder de Seu povo.
serem herdeiros de um trono de um Os anciãos de Israel foram ins-
império na Terra, mas para serem truídos por anjos de que o tempo
como reis e rainhas para Deus, e assim para a sua libertação estava pró-
reinarem por toda a eternidade. ximo e que Moisés era o homem que
No dia solene do juízo, os regis- Deus usaria para realizar essa obra.
tros revelarão que muitos crimes Os anjos instruíram Moisés também,
foram cometidos como resultado da revelando-lhe que Jeová o havia esco-
ignorância e da negligência daque- lhido para quebrar o cativeiro de Seu
les que tinham o dever de guiar os povo. Moisés tinha em mente que de-
filhos no caminho do bem. Os regis- veriam obter sua liberdade em uma
tros revelarão também que muitos batalha e esperava liderar as forças
que têm abençoado o mundo com hebreias contra os exércitos do Egito.
sua mente brilhante, com a verdade
e a santidade, devem seu sucesso a Como o Jovem Moisés
uma mãe cristã que por eles orava. foi Provado
Na corte de Faraó, Moisés rece- Pelas leis do Egito, todos aque-
beu a melhor educação social, po- les que ocupavam o trono dos fa-
lítica e militar. O monarca decidiu raós deveriam se tornar membros
162 Os Escolhidos
da classe sacerdotal. Moisés, como o grandes povos da Terra, para bri-
mais provável herdeiro, deveria ser lhar nas cortes do mais glorioso
formalmente iniciado nos mistérios reino e para empunhar o cetro do
da religião nacional. Contudo, ele poder. Como historiador, poeta, fi-
não estava convencido de que de- lósofo, general de exércitos e legis-
veria participar do culto aos deu- lador, ninguém se igualava a ele.
ses. Foi ameaçado com a perda da Apesar de ter o mundo a seus pés, ele
coroa e advertido de que poderia teve força moral para recusar toda ri-
ser deserdado pela princesa se per- queza, grandeza e fama, “preferindo
sistisse em praticar a fé professada ser maltratado com o povo de Deus”
por seu povo. Mesmo assim, ele es- (Hb 11:25).
tava inabalável em sua determina- O majestoso palácio de Faraó e
ção de não adorar a nenhum outro, o trono foram apresentados como
senão ao único Deus, o Criador do uma forma de sedução a Moisés;
céu e da Terra. Tentou convencer mas ele sabia que eram nas formas
os sacerdotes e adoradores, mos- e costumes das cortes que estavam
trando a eles como era sem sentido entronados os prazeres pecamino-
sua supersticiosa reverência a obje- sos que fazem o povo se esquecer
tos insensíveis. Por algum tempo, de Deus. Ele olhava para além do
sua resistência foi aceita devido à lindo palácio, para além da coroa,
elevada posição que possuía e pela podendo ver as mais altas honras
consideração que o rei e o povo ti- que os santos do Altíssimo recebe-
nham para com ele. rão em um reino incontaminado
“Pela fé Moisés, já adulto, recusou pelo pecado. Pela fé, ele viu uma
ser chamado filho da filha do Faraó, coroa que jamais se acabará e que
preferindo ser maltratado com o o Rei do Céu colocará na cabeça do
povo de Deus a desfrutar os prazeres vencedor. Essa fé o levou a se unir à
do pecado durante algum tempo. Por humilde, pobre e desprezada nação
amor de Cristo, considerou sua de- que preferiu obedecer a Deus em vez
sonra uma riqueza maior do que os te- de servir ao pecado.
souros do Egito, porque contemplava Moisés permaneceu na corte
a sua recompensa” (Hb 11:24-26). do palácio até os quarenta anos.
Moisés estava preparado para as- Visitava seus irmãos no cativeiro
sumir o primeiro posto entre os e os animava com a certeza de que
O Líder do Povo de Deus 163
Deus iria agir em favor do seu livra- imediatamente, mas Moisés, per-
mento. Certo dia, ao ver um egíp- cebendo o perigo que corria, fugiu
cio ferir um israelita, Moisés lutou para a Arábia.
contra ele e o matou. A não ser o is- O Senhor o dirigiu nessa cami-
raelita, ninguém mais testemunhou nhada, e ele encontrou um lar na
esse ato, e Moisés imediatamente casa de Jetro, o sacerdote e prín-
enterrou o corpo na areia. Ele mos- cipe de Midiã, que também era um
trou que estava pronto para assu- adorador de Deus. Passado algum
mir a causa de seu povo e esperava tempo, Moisés se casou com uma
vê-los se erguerem para recupe- das filhas de Jetro; e ali, como guar-
rar sua liberdade. “Ele pensava que dador de seus rebanhos, ele perma-
seus irmãos compreenderiam que neceu quarenta anos.
Deus o estava usando para salvá-los, Não era a vontade de Deus liber-
mas eles não o compreenderam” tar seu povo por meio da guerra,
(At 7:25). Ainda não estavam pre- como Moisés pensava, mas por Seu
parados para a liberdade. grande poder, para que a glória fosse
No dia seguinte, Moisés viu dois dada a Ele somente. Moisés não es-
hebreus brigando um com o outro. tava preparado para a sua grande
Um deles, naturalmente, estava er- obra. Ele ainda tinha que apren-
rado. Moisés chamou a atenção do der a mesma lição de fé que havia
ofensor, que no mesmo instante sido ensinada a Abraão e a Jacó –
revidou dizendo que ele não tinha não confiar na força nem na sabe-
direito algum de interferir, e rude- doria humana, mas no poder de
mente o acusou pelo crime: “Quem o Deus para cumprir Suas promes-
nomeou líder e juiz sobre nós? Quer sas. Na escola da abnegação e das
matar-me como matou o egípcio?” dificuldades, ele deveria aprender
(Êx 2:14). a exercer a paciência e a controlar
O caso logo chegou aos ouvi- seus instintos. Seu coração deveria
dos do Faraó. Disseram ao rei que estar completamente em harmonia
esse ato significava muito mais, que com Deus, antes de ensinar o conhe-
Moisés planejava liderar seu povo cimento da Sua vontade a Israel e
contra os egípcios, derrubar o go- demonstrar um cuidado paternal
verno e assentar-se no trono. O rei sobre todos aqueles que necessitas-
determinou que ele deveria morrer sem de seu auxílio.
164 Os Escolhidos
Às Vezes é Preciso solene, ele via a majestade do Deus
Desaprender Altíssimo e, em contraste, conse-
No Egito, Moisés aprendeu mui- guia compreender quão impoten-
tas coisas que precisava desaprender. tes eram os deuses do Egito. Ali, seu
As influências do ambiente em que orgulho e presunção foram esmaga-
havia crescido tinham deixado pro- dos. Os efeitos causados pelo luxo
fundas impressões em sua mente em do Egito desapareceram. Moisés
desenvolvimento e, até certo ponto, se tornou humilde, reverente e
haviam moldado seus hábitos e o “muito paciente, mais do que qual-
caráter. O tempo poderia remover quer outro que havia na Terra”
essas impressões. Renunciar ao erro (Nm 12:3), e também forte na fé.
e aceitar a verdade exigiria uma tre- Enquanto os anos se passavam,
menda luta por parte de Moisés. suas orações por Israel eram eleva-
Deus seria o seu Ajudador quando o das dia e noite. Ali, sob a inspira-
conflito se tornasse severo demais ção do Espírito Santo, ele escreveu
para a força humana suportar. o livro de Gênesis. Os longos anos
“Se algum de vocês tem falta passados na solidão do deserto
de sabedoria, peça-a a Deus, que a abençoaram ricamente o mundo
todos dá livremente, de boa von- em todas as épocas.
tade; e lhe será concedida” (Tg 1:5).
Entretanto, Deus não comunicará O Tempo de Libertação se
a luz divina aos homens enquanto Aproxima!
estiverem satisfeitos em permane- “Muito tempo depois, morreu o
cer nas trevas. Para receberem o au- rei do Egito. Os israelitas gemiam e
xílio divino, eles devem reconhecer clamavam debaixo da escravidão; e o
sua fraqueza e deficiências; devem seu clamor subiu até Deus. […] Deus
concentrar seus pensamentos na olhou para os israelitas e viu a si-
grande mudança que Deus deseja tuação deles” (Êx 2:23, 25). O tempo
realizar neles; devem despertar e se para a libertação tinha chegado.
esforçar para manter uma vida de Os propósitos de Deus se cum-
oração sincera e perseverante. pririam de tal forma que aca-
Cercado pelas encostas das altas bariam com o orgulho humano.
montanhas, Moisés estava sozi- O libertador se apresentaria
nho com Deus. Naquele cenário como um humilde pastor, levando
O Líder do Povo de Deus 165
somente uma vara em sua mão, mas não quis ir e disse: “Quem sou eu
Deus tornaria aquela vara o sím- para apresentar-me ao Faraó e tirar
bolo do Seu poder. os israelitas do Egito?” (Êx 3:11).
Enquanto pastoreava seus reba- Moisés pensou na cegueira, na
nhos, certo dia, perto de Horebe, “o ignorância e na incredulidade de seu
Monte de Deus” (Êx 3:1), Moisés viu povo. Muitos não conheciam quase
um arbusto em chamas; queimava, nada a respeito de Deus. “Quando
mas não se consumia. Quando se eu […] lhes disser: ‘O Deus dos seus
aproximou, uma voz que vinha do antepassados me enviou a vocês’,
fogo o chamou pelo nome. Com os lá- e eles me perguntarem: ‘Qual é o
bios trêmulos, ele respondeu: “Eis-me nome dEle? Que direi?’ Disse Deus
aqui.” Foi avisado para não se apro- a Moisés: ‘Eu Sou o que Sou. […] Eu
ximar de maneira irreverente: “‘Tire Sou me enviou a vocês” (Êx 3:13, 14).
as sandálias dos pés, pois o lugar em Deus ordenou a Moisés que reu-
que você está é terra santa. […] Eu sou nisse primeiramente os anciãos de
o Deus de seu pai, o Deus de Abraão, Israel que sofriam havia muito tempo
o Deus de Isaque, o Deus de Jacó’. por causa da escravidão e transmi-
Então Moisés cobriu o rosto por- tisse a eles a mensagem enviada por
que teve medo de olhar para Deus” Deus. Então ele deveria ir perante o
(Êx 3:4-6). rei e dizer: “O Senhor, o Deus dos he-
Com muita reverência por estar breus, veio ao nosso encontro. Agora,
diante de Deus, ele continuou ou- deixe-nos fazer uma caminhada de
vindo: “De fato tenho visto a opres- três dias, adentrando o deserto, para
são sobre o Meu povo no Egito, oferecermos sacrifícios ao Senhor, o
tenho escutado o seu clamor, por nosso Deus” (Êx 3:18).
causa dos seus feitores, e sei quanto Moisés foi avisado antecipada-
eles estão sofrendo. Por isso desci mente de que o Faraó iria resistir ao
para livrá-los das mãos dos egíp- apelo. A coragem do servo de Deus
cios e tirá-los daqui para uma terra não deveria falhar. O Senhor ma-
boa e vasta, onde manam leite e nifestaria Seu poder. “Por isso es-
mel […]. Vá, pois, agora; Eu o envio tenderei a Minha mão e ferirei os
ao Faraó para tirar do Egito o Meu egípcios com todas as maravilhas
povo, os israelitas” (Êx 3:7, 8, 10). que realizarei no meio deles. Depois
Admirado e aterrorizado, Moisés disso ele os deixará sair” (Êx 3:20).
166 Os Escolhidos
O Senhor declarou: “Quando a mão no peito e, quando a tirou,
vocês saírem, não sairão de mãos ele viu que estava como a outra. Por
vazias. Todas as israelitas pedirão meio desses sinais, seu povo e tam-
às suas vizinhas, e às mulheres que bém o Faraó ficariam convencidos
estiverem hospedando em casa, ob- de que um Ser mais poderoso do
jetos de prata e de ouro, e roupas, que o rei do Egito certamente es-
que vocês porão em seus filhos e em tava entre eles.
suas filhas” (Êx 3:21, 22). Os egíp-
cios tinham enriquecido pelo tra- Moisés Fica Relutante
balho injustamente exigido dos Cheio de angústia e medo, o
israelitas, e era justo que recebessem servo de Deus alegou que não se
a recompensa pelos anos de traba- expressava bem: “Ó Senhor! Nunca
lho que prestaram. Deus os ajudaria tive facilidade para falar […]. Não
para que os egípcios fossem genero- consigo falar bem!” (Êx 4:10).
sos para com eles. Os pedidos dos Moisés pediu que fosse esco-
escravos seriam atendidos. lhida outra pessoa. Depois que o
Que prova Moisés poderia dar Senhor prometeu remover todas
ao seu povo de que tinha sido ver- as dificuldades e que seria bem-su-
dadeiramente enviado por Deus? cedido, qualquer outra queixa sobre
“E se eles não acreditarem em mim”, sua incapacidade revelaria falta de
disse ele, “nem quiserem me ouvir e confiança em Deus. Envolvia um re-
disserem: ‘O Senhor não lhe apare- ceio de que Deus talvez não pudesse
ceu’?” (Êx 4:1). A voz lhe disse que capacitá-lo ou de que teria cometido
jogasse sua vara ao chão. Assim um erro na escolha da pessoa.
que a jogou, “ela se transformou Arão, seu irmão mais velho, que
numa serpente. Moisés fugiu dela” tinha usado diariamente a língua
(Êx 4:3). A voz lhe ordenou que a dos egípcios, era capaz de se expres-
pegasse, e ela se transformou em sar por meio dela perfeitamente.
vara na sua mão. Então a voz lhe Deus disse a Moisés que Arão viria
disse para colocar a mão no peito, para se encontrar com ele. As pa-
debaixo da roupa. Ele obedeceu e lavras a seguir, ditas pelo Senhor,
“quando a retirou, ela estava le- foram uma ordem incondicional:
prosa; parecia neve” (Êx 4:6). Depois “Você falará com ele e lhe dirá
lhe disse que colocasse novamente o que ele deve dizer. […] E ele será o
O Líder do Povo de Deus 167
seu porta-voz diante do povo. E leve revelou que seus inimigos já esta-
na mão esta vara; com ela você fará vam todos mortos.
os sinais milagrosos” (Êx 4:15-17). No caminho, quando vinha de
Moisés não pôde mais resistir, por- Midiã, um anjo apareceu a Moisés
que não tinha mais desculpas. de maneira assustadora, como se
Depois que aceitou a tarefa, quisesse destruí-lo. Nenhuma ex-
Moisés se dedicou a ela de todo o plicação foi dada, mas Moisés se
coração, depositando total con- lembrou de que não tinha dado a
fiança no Senhor. Deus abençoou devida importância a uma das or-
sua obediência imediata e ele se tor- dens divinas. Tinha negligenciado o
nou eloquente, cheio de esperança, rito da circuncisão de seu filho mais
autoconfiante e devidamente pre- novo. Essa negligência da parte do
parado para a maior obra já con- líder escolhido de Israel diminuiria
fiada a um ser humano. a importância das leis e conselhos
A pessoa adquirirá força e efi- de Deus diante do povo. Zípora, te-
ciência ao aceitar as responsabili- mendo que o marido fosse morto,
dades que Deus coloca sobre ela. realizou ela mesma esse ritual, e
Por mais humilde que seja sua po- o anjo permitiu que Moisés conti-
sição ou limitações que possua, nuasse sua viagem. Sua vida pode-
aquela que depositar sua confiança ria ser preservada unicamente por
na força divina e realizar seu traba- meio da proteção dos santos anjos.
lho com fidelidade alcançará a ver- Enquanto ele vivesse na negligência
dadeira grandeza. Sentir as próprias de um dever conhecido, não estaria
fraquezas já é um indício do reco- seguro, pois poderia não ser prote-
nhecimento da importância da obra gido pelos anjos de Deus.
a ela designada. Tal pessoa terá em No tempo de angústia, justa-
Deus seu conselheiro e sua força. mente antes da volta de Cristo, os
Lá no fundo, Moisés temia tanto fiéis serão mantidos e protegidos
o Faraó quanto os egípcios que ha- pela intervenção dos anjos, mas
viam projetado sua ira contra ele não haverá segurança para a pes-
quarenta anos antes; isso fez com soa que transgredir a lei de Deus.
que ficasse com receio de voltar ao Os anjos não podem proteger aque-
Egito. Depois que se dispôs a obe- les que estão desrespeitando qual-
decer à ordem divina, o Senhor lhe quer um dos mandamentos divinos.
23
*
As Dez Pragas do Egito
I nstruído por anjos, Arão
saiu ao encontro de seu
irmão, na solidão do deserto, pró-
“Quem é o Senhor, para que eu
Lhe obedeça e deixe Israel sair?”, per-
guntou o monarca. “Não conheço o
ximo a Horebe. Ali, Moisés contou Senhor, e não deixarei Israel sair”
a Arão “tudo o que o Senhor lhe (Êx 5:2).
tinha mandado dizer, e também fa- Em resposta, Moisés e Arão dis-
lou-lhe de todos os sinais milagro- seram: “O Deus dos hebreus veio ao
sos que lhe havia ordenado realizar” nosso encontro. Agora, permite-nos
(Êx 4:28). Juntos seguiram viagem caminhar três dias no deserto, para
para o Egito, a fim de se reunirem oferecer sacrifícios ao Senhor, o nosso
com os anciãos de Israel. “E eles cre- Deus; caso contrário, Ele nos atingirá
ram. Quando o povo soube que o com pragas ou com a espada” (Êx 5:3).
Senhor decidira vir em seu auxílio, A ira do rei se acendeu. “Moisés e
tendo visto a sua opressão, curvou- Arão, por que vocês estão fazendo o
se em adoração” (Êx 4:31). povo interromper suas tarefas?”, disse
Com uma mensagem para o rei, ele. “Voltem ao trabalho!” (Êx 5:4).
os dois irmãos entraram no palá- O reino acabou sofrendo grande
cio dos faraós como embaixadores perda pela interferência desses es-
do Rei dos reis: “Assim diz o Senhor, trangeiros. Ao pensar nisso, ele acres-
o Deus de Israel: ‘Deixe o Meu povo centou: “Essa gente já é tão numerosa,
ir para celebrar-Me uma festa no de- e vocês ainda os fazem parar de tra-
serto’” (Êx 5:1). balhar!” (Êx 5:5).
* Este capítulo é baseado em Êxodo 5-10.
As Dez Pragas do Egito 169
uma terra estranha; e os costumes tirasse Israel por meio de uma sur-
de alguns tinham se tornado tão se-preendente manifestação do Seu
melhantes aos dos egípcios que pre-poder. Antes que cada praga caísse,
feriam permanecer no Egito. Assim, Moisés deveria descrever como
o Senhor conduziu os acontecimen- seria e quais as consequências, para
tos para que o espírito tirano do rei
que o rei pudesse ter a escolha de se
do Egito fosse mais amplamente de- livrar dela. Cada castigo rejeitado
monstrado e Ele também pudesse seria seguido de outro mais severo,
Se revelar ao Seu povo. A tarefa deaté que seu orgulhoso coração se
Moisés teria sido muito menos es- humilhasse, e ele reconhecesse o
tressante se muitos dos israelitas Criador do céu e da Terra como o
não tivessem se tornado tão cor- Deus vivo e verdadeiro. O Senhor
rompidos, a ponto de não deseja- castigaria o povo do Egito por sua
rem deixar o Egito. A Bíblia afirmaidolatria e reduziria ao silêncio o
que “eles não lhe deram ouvidos, por
seu orgulho para que outras nações
causa da angústia e da cruel escra-pudessem ouvir a respeito de Seus
vidão que sofriam” (Êx 6:9). poderosos atos e tremessem diante
Novamente a mensagem divina deles, e para que Seu povo se afas-
veio a Moisés: “Vá dizer ao Faraó, rei
tasse da adoração aos ídolos e Lhe
do Egito, que deixe os israelitas saí-
prestasse um culto genuíno.
rem do país” (Êx 6:11). Desanimado, Mais uma vez, Moisés e Arão en-
ele respondeu: “Se os israelitas não
traram na sala do trono do rei do
me dão ouvidos, como me ouvirá o Egito. Ali estavam os dois repre-
Faraó?” (Êx 6:12). Ele foi instruído
sentantes da raça escravizada, ro-
a levar Arão consigo para falarem deados por altas colunas, adornos
com Faraó e novamente dizerem reluzentes, belos quadros e escultu-
que “tinham ordem para tirar do ras dos deuses pagãos. O rei pediu
Egito os israelitas” (Êx. 9:13). que realizassem algo sobrenatural
como prova de que sua missão era
O Egito Ainda Poderia divina. Arão pegou a vara e a lançou
Ser Salvo diante do Faraó. Ela se tornou uma
Moisés foi informado de que o serpente. O monarca mandou cha-
Faraó não cederia antes que Deus mar “os sábios e feiticeiros”, e “cada
enviasse os juízos sobre o Egito e um deles jogou ao chão uma vara, e
172 Os Escolhidos
estas se transformaram em serpen- verdadeiros os prodígios que Deus
tes. Mas a vara de Arão engoliu as realizou por meio de Moisés.
varas deles” (Êx 7:11, 12). O rei, mais Satanás deu a ele exatamente o que
decidido do que nunca, afirmou que ele desejava. Fez Moisés e Arão pare-
seus magos tinham tanto poder cerem apenas magos e encantadores
quanto Moisés e Arão. Ele acusou e que a mensagem que traziam não
os servos do Senhor de serem im- merecia ser considerada como vinda
postores; porém, pelo poder divino, de um Ser superior. Assim, a imita-
foi impedido de fazer mal a eles. ção de Satanás fez com que Faraó
endurecesse o coração e não ficasse
As Imitações de Satanás convencido. Satanás esperava tam-
Na verdade, não foram os fei- bém abalar a fé de Moisés e de Arão.
ticeiros que transformaram suas O príncipe do mal sabia muito
varas em serpentes; mas, por meio bem que Moisés prefigurava Cristo,
da mágica, ajudados pelo grande en- que viria para destruir o reinado
ganador, eles conseguiram produzir do pecado na família humana. Ele
esse efeito. O príncipe do mal possui sabia que quando Cristo aparecesse,
toda sabedoria e poder de um anjo grandes milagres seriam realizados
caído, mas não tem o poder de criar como prova de que Ele tinha sido
ou dar vida; esse é um atributo con- enviado por Deus.
ferido somente a Deus. Satanás pro- Ao imitar a obra de Deus, reali-
duziu uma imitação. zada por meio de Moisés, Satanás
Aos olhos humanos, as varas esperava não somente impedir o li-
foram transformadas em serpen- vramento de Israel, mas, no futuro,
tes. Faraó e sua corte acreditaram destruir a fé nos milagres de Cristo,
que isso tinha acontecido. Embora fazendo com que parecessem ape-
o Senhor tenha feito com que a ser- nas o resultado do poder humano.
pente verdadeira engolisse as serpen-
tes falsas, Faraó não considerou esse As Pragas
um ato realizado pelo poder de Deus, Moisés e Arão foram instruídos
mas uma espécie de mágica superior a ir até a margem do rio na manhã
à dos seus encantadores. seguinte. Como as cheias do Nilo
Faraó procurava alguma des- eram consideradas uma fonte de ali-
culpa para não aceitar como sendo mento e riqueza para todo o Egito,
As Dez Pragas do Egito 173
o rio era adorado como um deus, Quando Faraó viu que não con-
e o rei costumava ir diariamente às seguiam, ficou um tanto humi-
margens do rio para fazer suas de- lhado. Mandou chamar Moisés e
voções pessoais. Os dois irmãos re- Arão e disse: “Orem ao Senhor para
petiram novamente a mensagem que Ele tire estas rãs de mim e do
para ele, e então estenderam a vara meu povo; então deixarei o povo
e bateram com ela na água. Aquele ir e oferecer sacrifícios ao Senhor”
córrego, que para eles era sagrado, (Êx 8:8). Eles pediram ao rei que dis-
foi transformado em sangue. Os sesse quando deveriam orar para
peixes morreram e o rio cheirava que a praga fosse removida. O rei
mal. Da mesma forma, a água nas marcou para o dia seguinte, espe-
casas e nos poços foi transformada rando que as rãs desaparecessem
em sangue, mas “os magos do Egito por si mesmas; assim sofreu uma
fizeram a mesma coisa por meio de grande humilhação por ter que se
suas ciências ocultas. O coração de submeter ao Deus de Israel. A praga
Faraó se endureceu, […] deu-lhes continuou até o tempo especificado,
as costas e voltou para o seu palá- e então elas morreram em todo o
cio. Nem assim o Faraó levou isso Egito, mas logo começaram a apo-
a sério” (Êx 7:22, 23). Durante sete drecer e a poluir o ar.
dias a praga continuou, mas isso O Senhor poderia ter feito com
não mudou o pensamento do Faraó. que elas retornassem ao pó em um
Novamente Arão estendeu a instante, mas não fez isso para que o
vara, e rãs começaram a sair do rio. rei e seu povo não dissessem que era
Elas se espalharam pelas casas, en- algum tipo de encantamento feito
traram nos quartos onde dormiam por seus magos. Depois de mortas,
e até dentro dos fornos e amassa- eles fizeram grandes montes delas,
deiras. Os egípcios consideravam a uma prova de que esse trabalho não
rã um animal sagrado e não as des- havia sido realizado por obra de
truíram; mas essa praga repugnante magia, e que se tratava, na verdade,
e cheia de lodo enchia até o palá- de um juízo vindo do Deus do Céu.
cio do Faraó, e o rei estava desespe- “Mas quando o Faraó percebeu
rado para tirá-las de lá. Parecia que que houve alívio, obstinou-se em
os magos tinham produzido rãs, seu coração” (Êx 8:15). Por ordem de
mas não conseguiam removê-las. Deus, Arão estendeu a mão com a
174 Os Escolhidos
vara, e o pó da terra se tornou em pio- pediu que os servos de Deus interce-
lhos por toda a terra do Egito. Faraó dessem diante dEle para que a praga
chamou os magos para fazerem o fosse removida. Eles prometeram
mesmo, mas eles não conseguiram. fazer isso, mas o advertiram para
Os próprios magos reconheceram: que não lidasse com eles tentando
“Isso é o dedo de Deus” (Êx 8:19). enganá-los. A praga cessou, mas o
Apesar das evidências, o rei ainda coração rebelde do rei se endureceu,
permanecia inflexível. e ele ainda se recusou a ceder.
Outro juízo se seguiu. Moscas Um ataque mais terrível se se-
encheram as casas, e “e em todo o guiu – uma peste que atingiu todo
Egito a terra foi arruinada pelas o gado do Egito. Tanto os animais
moscas” (Êx 8:24). Essas moscas sagrados como os de carga – vacas,
eram grandes e venenosas, e sua bois e ovelhas, cavalos, camelos e ju-
picada era extremamente dolo- mentos – foram destruídos. Foi cla-
rosa. Como foi predito, essa praga ramente anunciado que os hebreus
não chegou à terra de Gósen. estavam livres dessa praga. Faraó,
depois que enviou mensageiros à
Faraó Endurece o Coração casa dos israelitas, constatou que
Faraó finalmente deu aos israe- era realmente verdade: “nenhum
litas a permissão para sacrificarem animal dos israelitas havia mor-
no Egito, mas eles se recusaram. rido” (Êx 9:7). Ainda assim o rei se
“Isso não seria sensato”, respondeu recusou a ceder.
Moisés. […] “Se oferecermos sacri- A seguir, o Senhor disse a Moisés
fícios que lhes pareçam sacrilégio, que tirasse um punhado de cinza
isso não os levará a nos apedrejar?” de um forno, dando-lhe a seguinte
(Êx 8:26). Os animais que os he- ordem: “Moisés a espalhará no ar,
breus deveriam sacrificar estavam diante do Faraó” (Êx 9:8). As mi-
entre aqueles que os egípcios consi- núsculas partículas se espalharam
deravam sagrados. Matar um deles, por toda a terra do Egito, e onde
mesmo que fosse por acidente, era quer que caíssem, produziam bo-
um crime punido com a morte. lhas que se arrebentavam em feri-
Moisés novamente fez a pro- das purulentas que “começaram a
posta de irem a caminho de três estourar nos homens e nos animais”
dias ao deserto. O rei concordou e (Êx 9:10). Até ali, os sacerdotes e os
As Dez Pragas do Egito 175
que estava para cair. Cada família, A Páscoa Aponta para Cristo
sozinha ou reunida com outras, de- A Páscoa deveria ser um ato
veria matar um cordeiro ou um ca- tanto comemorativo como sim-
brito “sem defeito”, e com um feixe de bólico, que apontava não somente
hissopo espalhar o sangue “nas late- para a libertação da escravidão
rais e nas vigas superiores das por- do Egito, mas para o maior livra-
tas das casas” (Ex 12:7) para que o mento que Cristo iria realizar no
anjo destruidor, ao vir à meia-noite, futuro, libertando Seu povo do ca-
não entrasse ali. Deveriam comer a tiveiro do pecado. O cordeiro do
carne assada, com pão sem fermento sacrifício representa “o Cordeiro de
e ervas amargas, naquela noite, con- Deus”, em quem está a nossa única
forme Moisés os orientou: “Cinto no esperança de salvação. O apóstolo
lugar, sandálias nos pés e cajado na Paulo assim escreveu: “Pois Cristo,
mão. Comam apressadamente. Esta é nosso Cordeiro pascal, foi sacrifi-
a Páscoa do Senhor” (Êx 12:11). cado” (1Co 5:7). Não bastava que o
O Senhor declarou ainda: cordeiro da Páscoa fosse morto; seu
“Naquela mesma noite passarei pelo sangue deveria ser aspergido nos
Egito e matarei todos os primogê- portais. Da mesma forma, os méri-
nitos, tanto dos homens como dos tos do sangue de Cristo devem ser
animais, e executarei juízo sobre aspergidos em nossa vida. Devemos
todos os deuses do Egito. Eu sou crer que Ele não somente morreu
o Senhor! O sangue será um sinal pelo mundo, mas que morreu por
para indicar as casas em que vocês nós, individualmente.
estiverem; quando Eu vir o sangue, O hissopo simbolizava purifica-
passarei adiante. A praga de destrui- ção. “Purifica-me com hissopo, e fi-
ção não os atingirá quando Eu ferir carei puro; lava-me e mais branco do
o Egito” (Êx 12:12, 13). que a neve serei” (Sl 51:7).
Para celebrar esse grande livra- O cordeiro deveria ser preparado
mento, Israel deveria realizar a festa inteiro; nenhum osso poderia ser
da Páscoa todos os anos, por todas quebrado; assim como nenhum osso
as gerações futuras – “É o sacrifício do Cordeiro de Deus, que morreu por
da Páscoa ao Senhor, que passou nós, seria quebrado (ver Jo 19:36).
sobre as casas dos israelitas no Egito A carne deveria ser comida. Não
e poupou nossas casas” (Êx 12:27). basta crermos em Cristo para o
182 Os Escolhidos
perdão dos pecados; pela fé, deve- a festa, não com o fermento velho,
mos receber constantemente a nu- nem com o fermento da maldade e
trição espiritual que dEle provém, da perversidade, mas com os pães
por meio de Sua Palavra. Cristo sem fermento, os pães da sinceri-
disse: “Se vocês não comerem a dade e da verdade” (1Co 5:7, 8).
carne do Filho do homem e não Antes de conseguirem a li-
beberem o Seu sangue, não terão berdade, os escravos precisavam
vida em si mesmos. Todo aquele demonstrar sua fé no grande livra-
que come a Minha carne e bebe o mento. Deveriam colocar o sangue
Meu sangue tem a vida eterna. […] em suas casas e separar-se dos egíp-
As palavras que Eu lhes disse são es- cios, cada um com a própria famí-
pírito e vida” (Jo 6:53, 54, 63). Os se- lia, e ficar reunidos dentro de suas
guidores de Cristo devem receber a casas. Todos os que deixassem de
Palavra de Deus em si mesmos para seguir as instruções do Senhor per-
que ela se torne a força que lhes deriam o seu primogênito pela mão
move a vida e as ações. Pelo poder do destruidor.
de Cristo devem ser transformados
à Sua semelhança e refletir os atri- Como a Fé Deve Ser
butos divinos. Demonstrada
O cordeiro tinha que ser comido O povo precisava dar prova
com ervas amargas, representando a de sua fé por meio da obediência.
amargura da escravidão no Egito. Da Assim, todos aqueles que esperam
mesma forma, quando nos alimen- ser salvos pelo sangue de Cristo
tamos de Cristo, devemos fazê-lo também devem compreender que
com arrependimento no coração têm algo a fazer para alcançar a sal-
por nossos pecados. O pão não le- vação. Necessitamos nos desviar do
vedado – pão sem fermento – tam- pecado para a obediência. Somos
bém tinha um significado. Todos salvos pela fé, e não pelas obras;
os que receberem vida e nutrição porém, nossa fé deve ser demons-
em Cristo devem se afastar do fer- trada por meio das obras. Devemos
mento do pecado. Paulo assim escre- apreciar e utilizar toda ajuda que
veu à igreja de Corinto: “Livrem-se Deus proveu para nós; precisamos
do fermento velho, para que sejam crer e obedecer a todas as reivindi-
massa nova […]. Por isso, celebremos cações divinas.
A Primeira Páscoa 183
e pão à vontade pela manhã”, e acres- teve demais, e não faltou a quem
centou: “Quem somos nós? Vocês tinha recolhido pouco” (Êx 16:18).
não estão reclamando de nós, mas
do Senhor” (Êx 16:8). Eles deveriam O Sábado Foi Honrado
saber que o Altíssimo era o seu Líder, No sexto dia, o povo colhia dois
e não somente Moisés. gômeres para cada pessoa. Os líde-
No fim do dia, o acampamento res perguntaram a Moisés por que
foi rodeado de vários bandos de co- estavam fazendo aquilo. Sua res-
dornizes, o suficiente para alimen- posta foi: “Foi isso que o Senhor
tar toda a multidão. Pela manhã, ordenou: ‘A manhã será dia de
havia sobre o solo do deserto uma descanso, sábado consagrado ao
pequena substância redonda: “Era Senhor. Assem e cozinhem o que
branco como semente de coen- quiserem. Guardem o que sobrar
tro” (Êx 16:31). Eles o chamaram até a manhã seguinte’” (Ex 16:23).
de “maná”. Então Moisés disse: Assim eles fizeram e viram que o ali-
“Este é o pão que o Senhor lhes mento não se deteriorou. ‘“Comam
deu para comer” (Ex 16:15). Os is- hoje’, disse Moisés, ‘pois hoje é o sá-
raelitas viram que havia alimento bado do Senhor. Hoje, vocês não o
em grande quantidade para todos. encontrarão no terreno”’ (Êx 16:25).
“O povo saía recolhendo o maná nas Deus ordena que Seu santo dia
redondezas, e o moía num moinho seja observado hoje de maneira
manual ou socava-o num pilão; de- tão sagrada como foi no tempo de
pois cozinhava o maná e com ele Israel. Devemos fazer do dia ante-
fazia bolos.” “[…] tinha gosto de bolo rior ao sábado um dia de preparação
de mel” (Nm 11:7, 8; Êx 16:31). a fim de que tudo esteja pronto para
Foi dito aos israelitas que juntas- as horas sagradas. Não devemos
sem um gômer [aproximadamente permitir que nossas ocupações ve-
três litros] por dia, para cada pes- nham a invadir esse tempo sagrado
soa, e que não deixassem nada para de forma alguma. Deus aconse-
a manhã seguinte. A quantidade lhou que se deve cuidar dos doen-
para o dia deveria ser recolhida pela tes nesse dia; que o trabalho que for
manhã, pois tudo o que ficasse no preciso ser feito para proporcionar
solo derreteria com o calor do sol. a eles conforto é uma obra de mise-
“Quem tinha recolhido muito não ricórdia e não uma transgressão do
194 Os Escolhidos
sábado; mas todo trabalho desne- chegarem às fronteiras de Canaã”
cessário deve ser evitado. O traba- (Êx 16:35). Durante quarenta anos,
lho que é negligenciado até o início foram diariamente lembrados do
do sábado deve ficar sem ser feito infalível e terno amor de Deus. O
até o pôr do sol desse dia. Senhor deu a eles “o pão dos Céus.
Os israelitas testemunhavam Os homens comeram o pão dos
um milagre triplo para impressio- anjos” (Sl 78:24, 25) – isto é, o ali-
nar a sua mente com relação à santi- mento que foi providenciado para
dade do sábado: porção dobrada da eles, pelos anjos. Eram ensinados
quantidade do maná caía no sexto cada dia que estavam tão ampara-
dia; no sétimo dia o maná não caía; dos em suas necessidades como se
e a porção necessária para o sábado estivessem rodeados pelos ondulan-
se conservava fresca e pura. tes campos de trigo das férteis pla-
nícies de Canaã.
O Sábado Antes do Sinai O maná era o símbolo dAquele
Dentro do contexto em que Deus que foi enviado por Deus para dar
fez cair o maná, temos provas cla- vida ao mundo. O próprio Senhor
ras de que o sábado não se origi- Jesus disse: “Eu sou o Pão da vida.
nou quando a lei foi dada no Sinai. Os seus antepassados comeram o
Antes de os israelitas chegarem ao maná no deserto, mas morreram.
Sinai, compreendiam que Deus es- Todavia, aqui está o pão que desce
perava que guardassem o sábado. do Céu [...]. Se alguém comer deste
A cada sexta-feira, quando eles re- pão, viverá para sempre. Este pão é a
colhiam porção dobrada do maná Minha carne, que Eu darei pela vida
como preparação para o sábado, a do mundo” (Jo 6:48-51).
natureza sagrada do dia de repouso Depois que partiram do de-
era fixada em sua mente. Quando serto de Sim, os israelitas se acam-
alguns deles saíram no sábado para param em Refidim. Lá não havia
colher o maná, o Senhor pergun- água. Então, mais uma vez, eles não
tou: “Até quando vocês se recusarão confiaram na providência de Deus.
a obedecer aos Meus mandamentos O povo foi se queixar a Moisés. “Dê-
e às Minhas instruções?” (Êx 16:28). nos água para beber”, gritavam ira-
“Os israelitas comeram maná dos. “Por que você nos tirou do Egito:
durante quarenta anos, […] até Foi para matar de sede a nós, aos
Israel Enfrenta Dificuldades 195
nossos filhos e aos nossos rebanhos?” Era o Filho de Deus que, velado
(Êx 17:2, 3). Quando a necessidade pela coluna de nuvem, estava ao
de alimentos foi suprida com abun- lado de Moisés e fez jorrar a fonte
dância, eles se lembraram, cheios de de água viva. Toda a congregação
vergonha, da sua incredulidade e pro- viu a glória do Senhor; mas, se a
meteram confiar no Senhor no fu- coluna de nuvem tivesse sido re-
turo; mas fracassaram na primeira movida, teriam sido mortos pelo
prova de fé. A coluna de nuvem que grande esplendor dAquele que nela
os guiava parecia esconder um terrí- Se ocultava.
vel mistério. “Quem Moisés pensava A incredulidade do povo era
que era?” “Qual era o seu objetivo ao tremendamente ofensiva e Moisés
tirá-los do Egito?” Tinham o coração tinha medo de que os juízos divinos
cheio de suspeita e desconfiança. recaíssem sobre eles. Ele deu àquele
No auge da indignação, os israelitas lugar o nome de Massá, “tentação”, e
ameaçaram apedrejar Moisés. Meribá, “contenda”, que ficou como
um marco para que o pecado deles
Água da Rocha fosse lembrado.
Em angústia, Moisés clamou ao
Senhor: “Que farei com esse povo?” A Guerra Contra Amaleque
(Êx 17:4). O Senhor lhe ordenou Um novo perigo ameaçava os
então que chamasse os anciãos de israelitas. Por terem murmurado
Israel, pegasse a vara com a qual tanto contra o Senhor, Ele permi-
tinha realizado maravilhas no Egito tiu que fossem atacados por seus
e passasse à frente do povo. Então inimigos. Os amalequitas saíram
o Senhor lhe disse: “Eu estarei à sua contra eles e atacaram os mais
espera no alto da rocha do monte fracos e cansados que tinham fi-
Horebe. Bata na rocha, e dela sairá cado para trás. Moisés deu ordens
água para o povo beber” (Êx 17:5, 6). a Josué para que escolhesse um
Ele obedeceu, e as águas brota- grupo de soldados de várias tribos e
ram em uma corrente viva que su- os guiasse na luta contra o inimigo,
priu todo o acampamento. Em Sua enquanto ele estaria em um monte
grande misericórdia, o Senhor fez mais próximo com a vara de Deus
da vara o Seu instrumento para li- em sua mão. Assim, no dia seguinte,
bertar o povo. Josué e seus soldados atacaram o
196 Os Escolhidos
inimigo, enquanto Moisés, Arão e os esforços para derrotar o inimigo
Hur ficaram na colina, observando de Israel e de Deus.
a batalha lá do alto. Com os braços Pouco antes de sua morte, Moi-
estendidos para o céu e segurando sés enviou ao povo este solene apelo:
a vara de Deus em sua mão direita, “Lembrem-se do que os amalequitas
Moisés orava para que os exérci- lhes fizeram no caminho, quando
tos de Israel vencessem. Eles per- vocês saíram do Egito. Quando
ceberam que, enquanto as mãos de vocês estavam cansados e exaus-
Moisés estavam estendidas para tos, eles se encontraram com vocês
cima, Israel estava vencendo; mas, no caminho e eliminaram todos os
quando ele baixava os braços, o ini- que ficaram para trás; não tiveram
migo vencia. Como Moisés estava temor de Deus. […] Vocês farão com
ficando muito cansado, Arão e Hur que os amalequitas sejam esqueci-
seguraram seus braços até o pôr do dos debaixo do céu. Não se esque-
sol, quando o inimigo foi derrotado. çam!” (Dt 25:17-19). Com relação a
O ato de Moisés foi muito sig- esse povo ímpio, o Senhor decla-
nificativo, pois mostra que Deus rou: “O Senhor fará guerra contra
tinha o destino de Israel em suas os amalequitas de geração em ge-
mãos. Enquanto mantivessem sua ração!” (Êx 17:16).
confiança no Senhor, Ele lutaria por Os amalequitas não ignoravam
eles, ajudando-os a vencer seus ini- o caráter de Deus e Sua suprema au-
migos. Por outro lado, sempre que toridade, mas decidiram desafiar o
deixassem de se apegar ao Senhor e Seu poder. As maravilhas realizadas
passassem a confiar em si mesmos, por Moisés diante dos egípcios se
ficariam fracos e o inimigo prevale- tornou assunto de zombaria entre
ceria contra eles. eles. Fizeram um voto, diante de
A força divina deve ser combi- seus deuses, de que destruiriam
nada com o esforço humano. Moisés os hebreus e se vangloriavam, di-
sabia que Deus não lutaria em favor zendo que Israel não tinha forças
de Israel enquanto o povo perma- suficientes para enfrentá-los. Eles
necesse inativo. Durante todo o não tinham recebido nenhuma
tempo em que o grande líder in- ameaça dos israelitas. A agressão
tercedia junto ao Senhor, Josué e que fizeram não foi motivada por
seus bravos soldados faziam todos qualquer provocação por parte dos
Israel Enfrenta Dificuldades 197
(2) “Não farás para ti nenhum punidos pela culpa de seus pais, a
ídolo, nenhuma imagem de qual- não ser que participem dos seus pe-
quer coisa no Céu, na Terra, ou nas cados. Mesmo assim, por herança e
águas debaixo da terra. Não te pros- exemplo, os filhos se tornam parti-
trarás diante deles nem lhes presta- cipantes dos pecados de seus pais.
rás culto” (Êx 20:4). Más tendências, apetite pervertido
e moral corrompida, assim como as
A Lei e o Comportamento enfermidades físicas e a degenera-
Humano ção são passadas de pai para filho
Muitas nações pagãs diziam até a terceira e quarta geração.
que suas imagens eram apenas “Mas trato com bondade até mil
símbolos por meio dos quais ado- gerações aos que Me amam e obe-
ravam a Divindade, mas Deus decem aos Meus mandamentos”
declarou que tal culto é pecado. (Êx 20:6). Para aqueles que são fiéis
A intenção de representar o Eterno em Seu serviço, Deus promete mi-
por meio de objetos materiais re- sericórdia, não somente até a ter-
baixa nossos conceitos de Deus. ceira e quarta geração, como a ira
Nossa mente é atraída para a cria- dirigida àqueles que O desprezam,
tura e não para o Criador. Quando mas a milhares de gerações.
os conceitos a respeito de Deus são (3) Não tomarás em vão o nome
rebaixados, da mesma forma o do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor
homem também é degradado. não deixará impune quem tomar o
“Eu, o Senhor, o teu Deus, sou Seu nome em vão” (Êx 20:7).
Deus zeloso” (Êx 20:5). A íntima re- Esse mandamento nos proíbe de
lação de Deus com Seu povo é re- usar o nome de Deus de maneira des-
presentada pela relação que há no cuidada. Ao mencionar Deus impen-
casamento. Sendo que a idolatria é sadamente na conversação comum
o adultério espiritual, o desagrado e pela frequente repetição irrefle-
de Deus contra ela é bem apropria- tida de Seu nome, nós O desonra-
damente chamado de ciúme. mos. “Santo e temível é o Seu nome!”
“Castigo os filhos pelos pecados (Sl 111:9). Devemos pronunciá-
de seus pais até a terceira e quarta lo com reverência e solenidade.
geração daqueles que Me despre- (4) “Lembra-te do dia de sábado,
zam” (Êx 20:5). Os filhos não são para santificá-lo. Trabalharás seis
202 Os Escolhidos
dias e neles farás todos os teus os cuidados de que necessitam; mas
trabalhos, mas o sétimo dia é o todo trabalho desnecessário deve
sábado dedicado ao Senhor, o teu ser estritamente evitado. Para san-
Deus. Nesse dia não farás trabalho tificar o sábado, não devemos nem
algum, nem tu, nem teus filhos ou mesmo permitir que nossa mente se
filhas, nem teus servos ou servas, fixe nas coisas do mundo. O man-
nem teus animais, nem os estran- damento inclui todos aqueles que
geiros que morarem em tuas cida- estão dentro das nossas “portas”.
des. Pois em seis dias o Senhor fez Os que fazem parte da família
os céus e a Terra, o mar e tudo o que devem deixar de lado suas ocupa-
neles existe, mas no sétimo dia des- ções diárias durante as horas sa-
cansou. Portanto, o Senhor aben- gradas. Todos devem se unir para
çoou o sétimo dia e o santificou” prestar a Ele um culto voluntário
(Êx 20:8-11). em Seu santo dia.
O sábado não é apresentado (5) Honra teu pai e tua mãe, a
como uma nova instituição, mas fim de que tenhas vida longa na
como um tempo que foi estabe- terra que o Senhor, o teu Deus,
lecido desde a criação. Ao apon- te dá” (Êx 20:12). Os pais têm o
tar para Deus como Aquele que direito a um grau de amor e res-
fez os céus e a Terra, distingue o peito que a nenhuma outra pessoa
verdadeiro Deus dos falsos deu- devem ser dados. Rejeitar a legí-
ses. Assim, o sábado é um sinal de tima autoridade dos pais é rejei-
nossa lealdade a Ele. O quarto man- tar também a autoridade de Deus.
damento é o único entre os dez que O quinto mandamento requer que
traz tanto o nome como o título do os filhos não somente respeitem,
Legislador, o único que mostra por sejam submissos e obedeçam aos
autoridade de quem a lei foi dada. seus pais, mas que deem a eles
Portanto, ele contém o selo de Deus. amor e ternura, aliviem suas preo-
O Senhor nos deu seis dias para cupações, tenham respeito pelo
trabalhar, e Ele pede que façamos seu nome, cuidem deles e os con-
nosso trabalho nesses seis dias. fortem na velhice. Pede também
Atos necessários e de misericórdia que seja dado o devido respeito aos
são permitidos no sábado. Os doen- pastores e àqueles a quem Ele deu
tes e os que sofrem precisam receber autoridade.
A Lei no Monte Sinai 203
o Senhor declarou, “a fim de que sai- pessoal do Rei dos reis. Deus os se-
bam que Eu sou o Senhor, que os parou do mundo, fez deles os guar-
santifica. […] Quem fizer algum tra- diães da Sua lei e, por meio deles, era
balho nesse dia será eliminado do Seu propósito preservar na Terra o
meio do seu povo” (Êx 31:17, 13, 14). conhecimento de Si mesmo.
A partir de então, o povo foi hon- Assim, a luz do Céu deveria res-
rado com a permanente presença de plandecer em um mundo em tre-
seu Rei. “E habitarei no meio dos is- vas. Uma voz apelando a todos os
raelitas e serei o seu Deus. […] E o povos para saírem da idolatria e ser-
lugar será consagrado pela Minha virem ao Deus vivo seria ouvida. Se
glória” (Êx 29:45, 43). os israelitas fossem fiéis no cumpri-
Depois de terem sido uma raça de mento da responsabilidade a eles
escravos por tanto tempo, os israeli- confiada, Deus seria a sua defesa e
tas foram exaltados acima de todos Ele os exaltaria acima de todas as
os povos, tornando-se o tesouro outras nações.
28
*
O Bezerro de Ouro
E nquanto esteve no
monte, a ausência de
Moisés causou um clima de espera
que Ele poderia fazer. Se tivessem
procurado obter uma compreen-
são mais clara das ordens dadas
e apreensão para Israel. O povo por Deus e, de coração humilde,
aguardava ansiosamente a sua O buscassem, teriam sido protegi-
volta. Como estavam acostuma- dos contra a tentação. Mas logo se
dos a representações materiais da tornaram descuidados, indiferentes
divindade no Egito, foi difícil para e sem consideração para com as leis;
eles confiar em um Ser invisível e isso aconteceu especialmente com
passaram a depender de Moisés a “mistura de gente”, aqueles que
para sustentar sua fé. Agora esta- saíram do Egito com eles. Estavam
vam sem ele. As semanas foram impacientes para retomar logo o ca-
se passando, e Moisés não voltava. minho para a terra que manava leite
Para muitos no acampamento, pa- e mel. Essa boa terra foi prometida
recia que seu líder teria desertado a eles sob a condição de obediência,
ou que havia sido consumido pelo mas se esqueceram desse compro-
fogo devorador. misso. Alguns sugeriram que a me-
Durante o período de espera, ti- lhor opção era voltar para o Egito;
veram tempo para meditar na lei mas, quer seguissem para Canaã
de Deus, de acordo com tudo o que ou voltassem para o Egito, a maior
tinham ouvido, e preparar o cora- parte do povo decidiu não mais es-
ção para receber novas revelações perar por Moisés.
* Este capítulo é baseado em Êxodo 32-34.
O Bezerro de Ouro 209
grande poder e forte mão”. Moisés nação. Deus Se agradou de sua fi-
ainda insistiu: “Por que diriam os delidade, de sua integridade e con-
egípcios: ‘Foi com intenção maligna fiou a ele a grande responsabilidade
que Ele os libertou, para matá-los de guiar Israel à Terra Prometida.
nos montes’?” (Êx 32:11, 12). Quando Moisés e Josué desce-
Durante os poucos meses desde ram do monte e se aproximaram
que Israel havia deixado o Egito, do acampamento, viram o povo gri-
a notícia de seu maravilhoso li- tando e dançando ao redor de seu
vramento tinha se espalhado por ídolo – era uma cena de verdadeira
todas as nações ao redor. O pavor orgia pagã, uma imitação das festas
repousava sobre esses povos pagãos. idólatras do Egito. Quão diferente
Todos observavam para ver o que o era do solene e reverente culto dedi-
Deus de Israel ia fazer por Seu povo. cado a Deus! Moisés ficou desolado.
Se fossem destruídos, seus inimigos Acabava de sair da presença da gló-
triunfariam. Os egípcios alegariam ria de Deus e não estava preparado
que suas acusações eram verdadei- para aquela abominável demonstra-
ras – em vez de levar Seu povo ao ção da degradada condição de Israel.
deserto para sacrificar, Ele fez com Para demonstrar o horror com que
que fossem sacrificados. A destrui- viu tamanha ofensa cometida, atirou
ção do povo a quem Ele tanto exal- as tábuas de pedra ao chão, e elas se
tou, traria difamação ao Seu nome. quebraram diante de todo o povo,
Que imensa responsabilidade têm mostrando com isso que eles tinham
aqueles que são altamente honra- quebrado a sua aliança com Deus e,
dos por Deus de tornar o Seu nome assim, Deus estava quebrando a Sua
um louvor aqui na Terra! aliança com eles também.
Enquanto Moisés intercedia por
Israel, o Senhor ouviu as suas súpli- Moisés Castiga os
cas e atendeu à sua abnegada oração. Transgressores
Deus provou o amor de Seu servo Moisés pegou o ídolo e o atirou
por aquele povo ingrato, e Moisés no fogo. A seguir, ele o reduziu a pó
resistiu nobremente à prova. A pros- e espalhou na corrente de água que
peridade do povo escolhido de Deus descia do monte. Assim, ele mos-
era mais importante para ele do que trou a completa inutilidade do deus
se tornar o pai de uma poderosa que eles estavam adorando.
212 Os Escolhidos
O grande líder convocou seu glória na imagem de um bezerro.
irmão culpado de permitir tão Deus havia confiado a ele o governo
grande pecado. Arão tentou se de- do povo na ausência de Moisés, mas
fender ao relatar os clamores do ele permitira a rebelião. “O Senhor
povo, alegando que, se não tivesse irou-Se contra Arão a ponto de que-
feito conforme pediram, teria sido rer destruí-lo” (Dt 9:20). Sua vida foi
morto. “Eles me disseram: ‘Faça para poupada em resposta à fervorosa in-
nós deuses que nos conduzam, pois tercessão de Moisés; Arão se arre-
não sabemos o que aconteceu com pendeu de seu grande pecado, e foi
esse Moisés, o homem que nos tirou restaurado ao favor de Deus.
do Egito.’ Então eu disse a eles: ‘Quem
tiver enfeites de ouro, traga-os Como Arão Estimulou
para mim.’ O povo trouxe-me o a Rebelião
ouro, eu o joguei no fogo e surgiu Se Arão tivesse tido a coragem
esse bezerro!’’’ (Êx 32:23, 24). Ele de permanecer do lado direito, po-
queria levar Moisés a acreditar que deria ter evitado a apostasia. Se
tinha acontecido um milagre, que o tivesse se mantido firme em sua
ouro havia se transformado em um lealdade a Deus e lembrado o povo
bezerro por um poder sobrenatu- da solene aliança que tinha feito
ral. Suas desculpas de nada adianta- com Ele, o mal teria sido evitado.
ram. Foi tratado, com justiça, como Sua tolerância em atender aos de-
o principal culpado. sejos do povo fez com que os israeli-
O próprio Arão, “que fora consa- tas se aventurassem a ir mais longe
grado ao Senhor” (Sl 106:16), tinha no pecado do que jamais poderiam
feito o ídolo e anunciara a festa. imaginar.
Ele não conseguiu impedir os idó- Para se justificar, Arão tentou
latras de desafiar o Céu. Ele não se responsabilizar o povo por sua fra-
abalou ao proclamarem diante da queza em ceder ao pedido deles;
imagem fundida: “Eis aí os seus deu- mesmo assim, enchiam-se de admi-
ses, ó Israel, que tiraram vocês do ração por sua bondade e paciência.
Egito” (Êx 32:4). Ele tinha estado O espírito condescendente de Arão e
com Moisés no monte e lá pôde con- o desejo de agradar o povo cegaram
templar a glória do Senhor. Havia seus olhos para que não visse a enor-
sido ele que transformara aquela midade da ofensa por ele permitida.
O Bezerro de Ouro 213
mundo, aquela mão “que transporta adorou” (Êx 34:8). O Senhor bon-
montanhas sem que elas o saibam” dosamente prometeu renovar Seu
(Jó 9:5), tirou essa criatura do pó favor a Israel e fazer maravilhas
e o colocou na fenda da rocha, en- como jamais tinham sido feitas “na
quanto a glória de Deus e toda a Sua presença de nenhum outro povo do
bondade passavam diante dele. mundo” (Êx 34:10). Durante todo
Para Moisés, essa experiência foi esse tempo, assim como no prin-
a certeza de que tudo aquilo era in- cípio, Moisés foi miraculosamente
finitamente de maior valor para ele sustentado. Por ordem de Deus, ele
do que toda a sabedoria do Egito ou preparou duas tábuas de pedra e as
todas as suas realizações como es- levou com ele ao topo do monte; e
tadista ou chefe militar. Nenhum uma vez mais o Senhor “escreveu
poder, habilidade ou conhecimento nas tábuas as palavras da aliança:
terrenos pode tomar o lugar da per- os Dez Mandamentos” (Êx 34:28,
manente presença de Deus. ver Apêndice, Nota 4).
Moisés ficou sozinho na pre- O rosto de Moisés resplandecia
sença do Eterno e não teve medo, com uma luz deslumbrante quando
pois sua vida estava em harmonia ele desceu do monte. Tanto Arão
com a vontade de seu Criador. “Se eu como o povo “tiveram medo de
acalentasse o pecado no coração, o aproximar-se dele” (Êx 34:30). Ao
Senhor não me ouviria” (Sl 66:18). ver como estavam com medo, trans-
Todavia, “o Senhor confia os Seus mitiu a eles a promessa de reconci-
segredos aos que O temem, e os leva liação com Deus. Ouviram em sua
a conhecer a Sua aliança” (Sl 25:14). voz todo o amor e simpatia e, final-
A Divindade passou por Moisés e mente, um dos homens teve coragem
proclamou sobre Si: “Senhor, Senhor, para se aproximar dele. Muito admi-
Deus compassivo e misericordioso, rado e sem conseguir falar, ele apon-
paciente, cheio de amor e de fideli- tou silenciosamente para o rosto de
dade, que mantém o Seu amor a mi- Moisés e então para o Céu. O grande
lhares e perdoa a maldade, a rebelião líder entendeu o que ele queria dizer.
e o pecado. Contudo, não deixa de Conscientes de sua culpa, não pode-
punir o culpado” (Êx 34:6, 7). riam suportar a luz celestial que os
“Imediatamente Moisés pros- teria enchido de alegria se tivessem
trou-se com o rosto em terra, e O sido obedientes a Deus.
218 Os Escolhidos
Moisés cobriu o rosto com um A glória que refletia no sem-
véu e continuou fazendo isso todas blante de Moisés é uma prova de
as vezes que voltava ao acampa- que, quanto mais íntima for a nossa
mento, depois de estar em comu- comunhão com Deus e mais claro
nhão com Deus. o conhecimento que temos de Seus
Pela presença dessa brilhante preceitos, mais plenamente estare-
luz, Deus tinha por objetivo im- mos em harmonia com a imagem
pressionar Israel com o exaltado divina.
caráter de Sua lei e com a glória Assim como Moisés, o interces-
do evangelho revelado por meio sor de Israel, escondeu o seu rosto,
de Cristo. Enquanto Moisés estava Cristo, o divino Mediador, também
no monte, Deus lhe apresentou não escondeu Sua divindade na huma-
somente as tábuas da lei, mas tam- nidade quando veio à Terra. Se Ele
bém o plano da salvação. Ele viu o tivesse vindo revestido do esplen-
sacrifício de Cristo prefigurado em dor do Céu, seres humanos pecado-
todos os tipos e símbolos da era ju- res não suportariam a glória de Sua
daica; e a luz celestial que irradiava presença. Por isso, Ele Se humilhou
do Calvário era nada menos do que e veio “à semelhança de homem pe-
a glória da lei de Deus que também cador” (Rm 8:3), para que pudesse
brilhava no rosto de Moisés. alcançar a raça caída e reerguê-la.
29
O Ódio de Satanás
Pela Lei de Deus
O primeiro esforço de Satanás
para derrubar a lei de Deus
– que ele iniciou entre os seres sem
Mais uma vez, Satanás foi derro-
tado; e, mais uma vez, ele recorreu ao
engano com a esperança de conver-
pecado no Céu – pareceu, por algum ter a derrota em vitória. Procurou
tempo, estar funcionando. Milhares retratar Deus como injusto por
de anjos foram seduzidos. O apa- ter permitido que nossos primei-
rente triunfo de Satanás resultou ros pais transgredissem a Sua lei.
em derrota e perda, separação de “Sendo que Deus sabia qual seria o
Deus e expulsão do Céu. resultado, por que Ele permitiu que
Quando o conflito foi reiniciado Suas criaturas fossem colocadas à
na Terra, parecia que Satanás havia prova e trouxessem sofrimento e
obtido vantagem de novo. Por morte?” Os filhos de Adão, volun-
causa da transgressão, o homem tariamente, deram ouvidos ao ten-
se tornou seu prisioneiro. Parecia tador e reclamaram contra o único
então estar aberto o caminho para Ser que poderia salvá-los do poder
Satanás estabelecer um reino inde- destruidor de Satanás.
pendente e desafiar a autoridade Ainda hoje, muitas pessoas
não apenas de Deus, mas de Seu repetem a mesma queixa de re-
Filho. O plano da salvação permi- volta contra Deus. Não percebem
tiu que o homem voltasse a viver que, se Deus privasse os seres hu-
em harmonia com Deus. manos da liberdade de escolha,
220 Os Escolhidos
Ele os tornaria nada mais do que Satanás começou a armar suas
robôs. Assim como os habitantes ciladas para seduzir e destruir
de todos os outros mundos, nós esse povo. Os filhos de Jacó foram
devemos passar pela prova da obe- tentados a se casar com pessoas
diência, mas nunca sermos colo- idólatras e a adorar seus ídolos.
cados em uma posição em que Entretanto, a fidelidade de José
seja necessário cedermos ao mal. foi um testemunho da verdadeira
Nenhuma tentação ou prova é per- fé. Satanás lutou para apagar essa
mitida além do que somos capazes luz por meio da inveja dos irmãos
de suportar. de José, fazendo com que ele fosse
Com o crescimento da popula- vendido como escravo, mas a von-
ção, quase o mundo todo se uniu tade de Deus prevaleceu.
em rebelião. Era como se Satanás Ao se manter fiel a Deus, tanto
tivesse conseguido sair vitorioso na casa de Potifar como na prisão,
mais uma vez; porém, a Terra foi José foi educado e preparado para
purificada de toda a sua contami- ocupar o cargo de primeiro-ministro
nação moral por meio do dilúvio. da nação. Sua influência foi sentida
em toda a terra do Egito e o conhe-
Por que Deus Escolheu Israel cimento do verdadeiro Deus se es-
Assim diz o profeta: “Ainda que palhou amplamente até os lugares
se tenha compaixão do ímpio, ele mais distantes. Os sacerdotes idóla-
não aprenderá a justiça; […] e não vê tras ficaram alarmados. Instigados
a majestade do Senhor” (Is 26:10). por Satanás, em sua hostilidade
Foi assim após o dilúvio. Os habi- para com o Deus do Céu, usaram de
tantes da Terra se rebelaram con- todos os meios para apagar essa luz.
tra o Senhor. Era a segunda vez Depois que Moisés fugiu do
que o mundo rejeitava a aliança Egito, a idolatria voltou a preva-
com Deus. Tanto o povo que viveu lecer. Ano após ano, as esperan-
antes do dilúvio como os descen- ças dos israelitas iam se acabando.
dentes de Noé rejeitaram a auto- O povo e o rei zombavam do Deus
ridade divina. Deus então fez uma de Israel. Esse espírito de oposição
aliança com Abraão e escolheu para foi aumentando até o ponto em que
Si um povo a fim de que este se tor- se revelou por meio do confronto
nasse o guardador da Sua lei. entre o Faraó e Moisés. Quando o
O Ódio de Satanás Pela Lei de Deus 221
era permitido servir como reais sa- e romãs nas cores azul, púrpura e
cerdotes diante do Senhor; os de- escarlate. O éfode, uma veste mais
mais que pertenciam à tribo eram curta, era preso por um cinto com
encarregados das responsabilidades as mesmas cores. O éfode não tinha
do tabernáculo e de seu mobiliário. mangas e em suas ombreiras bor-
Os sacerdotes usavam uma ves- dadas em ouro eram colocadas
timenta especial. A veste do sacer- duas pedras de ônix, que traziam
dote comum era de linho branco, os nomes das doze tribos de Israel.
tecida em uma só peça, amarrada à Sobre o éfode estava o peitoral,
cintura por um cinto branco, tam- colocado sobre os ombros e preso
bém de linho, bordado em azul, púr- por um cordão azul. As bordas eram
pura e vermelho. Na cabeça, usava formadas de várias pedras precio-
um turbante de linho, ou mitra, sas, as mesmas que formam os doze
completando seu traje exterior. fundamentos da cidade de Deus.
Os sacerdotes deveriam deixar seus O Senhor declarou: “Toda vez que
sapatos no pátio, antes de entrarem Arão entrar no Lugar Santo, levará
no santuário, e também lavar as os nomes dos filhos de Israel sobre o
mãos e os pés antes de iniciarem as seu coração no peitoral de decisões,
solenidades no tabernáculo. Dessa como memorial permanente pe-
maneira, ficava clara a lição de que rante o Senhor” (Êx 28:29). Assim,
aqueles que se aproximassem da Cristo, o grande Sumo Sacerdote, ao
presença de Deus deveriam remo- pleitear, com Seu sangue, em favor
ver toda contaminação. do pecador, traz sobre o coração o
As vestes do sumo sacerdote nome de todo crente arrependido.
foram feitas com muita dedicação À direita e à esquerda do peitoral
e cuidado, usando tecidos, metais havia duas grandes pedras conheci-
e pedras de grande valor. Assim re- das como Urim e Tumim. Quando
presentavam a elevada posição que levavam questões perante o Senhor
ocupava. Além do traje de linho para serem decididas, se a pedra da
usado pelo sacerdote comum, ele direita ficasse iluminada, era um
usava uma vestimenta azul, tam- sinal do consentimento ou apro-
bém confeccionada em uma só vação de Deus e, se uma nuvem co-
peça. Em toda a volta, a barra era brisse a pedra à esquerda, era prova
decorada com campainhas de ouro de negação ou reprovação.
232 Os Escolhidos
Todas as coisas ligadas à roupa temor por causa dos próprios peca-
e às vestes dos sacerdotes tinham dos ou por causa do próprio sacer-
por objetivo impressionar o povo dote, pois ele poderia ter sido morto
com a santidade de Deus e a pureza pela glória do Senhor.
requerida daqueles que iam à Sua
presença. O Ministério Diário
Toda manhã e toda tarde, um
Prefiguração das Coisas cordeiro de um ano era queimado
Celestiais sobre o altar, simbolizando a con-
Não somente o santuário, mas sagração diária da nação e sua
o ministério dos sacerdotes eram constante dependência do sangue
uma “cópia e sombra daquele que expiatório de Cristo. Somente “uma
está nos Céus” (Hb 8:5). O minis- oferta sem mácula” poderia ser um
tério consistia de duas partes: um símbolo da perfeita pureza de Jesus,
ministério diário e outro anual. que Se ofereceria como “um cor-
O ministério diário era realizado no deiro sem mancha e sem defeito”
altar dos holocaustos, no pátio do (1Pe 1:19). O apóstolo Paulo diz:
tabernáculo e no lugar santo; o mi- “Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas
nistério anual era realizado no lugar misericórdias de Deus que se ofe-
santíssimo. reçam em sacrifício vivo, santo e
Nenhum olho mortal, a não ser agradável a Deus; este é o culto ra-
o do sumo sacerdote, deveria ver o cional de vocês” (Rm 12:1). Aqueles
compartimento interno do san- que O amam de todo o coração de-
tuário. Somente uma vez ao ano, o sejarão prestar a Ele o melhor ser-
sumo sacerdote poderia entrar ali. viço de sua vida e buscarão colocar
Em reverente silêncio o povo aguar- toda a força de seu ser em harmo-
dava a sua volta, elevando em seu nia com a vontade divina.
coração fervorosas orações pelas Quando o sacerdote oferecia
bênçãos divinas. Diante do propi- o incenso, era levado mais direta-
ciatório, o sacerdote fazia a expia- mente à presença de Deus do que
ção por Israel, e Deus, na nuvem de em qualquer outro ato do minis-
glória, encontrava-Se com ele. Se o tério diário. A glória de Deus, que
sumo sacerdote demorasse mais do se manifestava sobre o propiciató-
que de costume, o povo se enchia de rio, ficava parcialmente visível no
A Habitação de Deus em Israel 233
lei, isso não apaga o pecado que fica o deserto e separados para sempre
registrado no santuário até a expia- da congregação.
ção final. Da mesma forma, nos ce- Como Satanás é o único respon-
rimoniais simbólicos do santuário sável por todos os pecados que cau-
terrestre, o sangue da oferta remo- saram a morte do Filho de Deus, a
via o pecado do penitente, mas ele justiça exige que ele sofra a puni-
permanecia no santuário até o dia ção final. A obra de Cristo para a
da expiação. redenção de homens e mulheres
No grande dia do juízo final, os e para a purificação do Universo
mortos serão “julgados segundo o da contaminação do pecado es-
que estava registrado nos livros” tará encerrada quando os pecados
(Ap 20:12). Então os pecados de forem colocados sobre Satanás,
todos aqueles que se arrependeram que receberá a condenação final.
serão eliminados dos livros do Céu. Igualmente, o ciclo anual do ceri-
Assim, o santuário está livre, ou pu- monial simbólico também se encer-
rificado, do registro do pecado. Nos rava com a purificação do santuário
serviços simbólicos do santuário e confissão dos pecados sobre a ca-
terrestre, essa grande obra realizada beça do bode emissário.
para apagar os pecados era repre- Nos serviços do tabernáculo, o
sentada pelas cerimônias do dia da povo era ensinado todos os dias a
expiação, a purificação do santuá- respeito das grandes verdades re-
rio pela remoção dos pecados que lacionadas à morte de Cristo e Seu
o contaminavam. ministério no santuário celestial.
Na expiação final, os pecados da- Uma vez ao ano, a mente de todos
queles que se arrependeram serão era levada a contemplar os aconte-
apagados dos registros do Céu, para cimentos finais do grande conflito
nunca mais ser lembrados. Assim entre Cristo e Satanás, a purificação
também, no cerimonial simbó- final do Universo tanto do pecado
lico, os pecados eram levados para como de pecadores.
31
O Pecado de Nadabe
*
e Abiú
D epois da dedicação do
tabernáculo, os sa-
cerdotes foram consagrados à sua
a ordem de Deus ao utilizarem “fogo
profano”. Pegaram o fogo comum e
não o fogo sagrado provido pelo
sagrada função. Essas cerimônias próprio Deus. Por causa desse pe-
duraram sete dias; no oitavo dia, cado, desceu fogo do Senhor e os de-
Arão ofereceu os sacrifícios que vorou diante de todo o povo.
Deus ordenou, e revelou a Sua glória Abaixo de Moisés e Arão, Na-
de maneira surpreendente – fogo dabe e Abiú eram os que ocupavam
desceu do céu e consumiu a oferta posição mais elevada em Israel.
que estava sobre o altar. Em uma Assim como os setenta anciãos, eles
só voz, o povo se ergueu em acla- haviam sido honrados de modo es-
mações de louvor e adoração, cur- pecial pelo Senhor por terem rece-
vando-se com o rosto em terra. bido permissão para contemplar
Pouco tempo depois, uma ter- a Sua glória no monte. Tudo isso
rível calamidade caiu sobre a fa- tornou o pecado deles mais grave.
mília de Arão, o sumo sacerdote. As pessoas que recebem maior luz e,
Seus dois filhos pegaram cada um como os príncipes de Israel, sobem
o seu incensário e queimaram in- o monte, recebendo o privilégio de
censo neles, como cheiro suave pe- manter comunhão com Deus na luz
rante o Senhor. Eles transgrediram de Sua glória, não devem pensar que
* Este capítulo é baseado em Levítico 10:1-11.
O Pecado de Nadabe e Abiú 239
podem pecar sem sofrer as conse- daquilo que determinou. Deus não
quências e que Deus não irá punir pôs em Sua Palavra ordem alguma
com rigor o seu pecado. Grandes pri- que possamos obedecer ou desobe-
vilégios requerem santidade e inte- decer, de acordo com a nossa von-
gridade à altura da luz recebida. tade, e não sofrer as consequências.
Grandes bênçãos jamais dão per- “Então Moisés disse a Arão e a
missão para pecar. seus filhos Eleazar e Itamar: ‘Não
Nadabe e Abiú não foram ensi- andem descabelados, nem rasguem
nados a ter domínio próprio. A falta as roupas em sinal de luto, senão
de firmeza de seu pai o levou a ser vocês morrerão […], porquanto o
desleixado com a disciplina dos fi- óleo da unção do Senhor está sobre
lhos. Permitiu que seus filhos se- vocês’” (Lv 10:6, 7). O grande líder
guissem a própria vontade. Eles se lembrou ao seu irmão as palavras
acostumaram tanto a fazer o que do Senhor: “À vista de todo o povo
bem entendiam que nem mesmo glorificado serei” (Lv 10:3). Arão
o desempenho da função mais sa- ficou em silêncio. A morte de seus
grada teve o poder de interromper filhos por tão terrível pecado – ele
seus hábitos errados. Eles não com- percebeu que aquele pecado era o re-
preenderam a necessidade da es- sultado da negligência dele mesmo
trita obediência às ordens de Deus. ao seu dever – esmagava de angús-
A equivocada tolerância de Arão tia o coração do pai. Ele não deveria
para com seus filhos os levou a se deixar transparecer, por qualquer
tornarem alvos dos juízos divinos. demonstração de tristeza, que sim-
patizava com o pecado. A congrega-
Obediência Parcial não ção não poderia ser levada a achar
é Aceita que a falha estava com Deus.
Deus não aceita uma obediên- O Senhor desejava ensinar Seu
cia parcial. Não era o bastante que povo a reconhecer a justiça de Suas
nessa hora solene, quase tudo esti- correções para que outros também
vesse de acordo com as Suas instru- temessem. Deus reprova aquela
ções. Ninguém se engane em pensar falsa simpatia que tenta desculpar o
que qualquer uma das ordens de pecado. Aqueles que erram não con-
Deus não seja tão essencial ou que seguem entender a enormidade de
Ele aceitará outra coisa no lugar sua transgressão e, sem o poder do
240 Os Escolhidos
Espírito Santo para convencê-los, aqueles que ocupavam posições
ficam quase cegos em relação ao seu de responsabilidade deveriam ser
pecado. Os servos de Cristo têm o muito temperantes a fim de man-
dever de mostrar aos que erram o ter a mente clara e distinguir entre
perigo que correm. Muitos são le- o certo e o errado.
vados à ruína como resultado dessa A mesma obrigação repousa
falsa e enganosa simpatia. sobre todo seguidor de Cristo.
Nadabe e Abiú jamais teriam “Vocês, porém, são geração eleita, sa-
cometido aquele pecado fatal se cerdócio real, nação santa, povo ex-
antes não estivessem sob o efeito clusivo de Deus” (1Pe 2:9). Quando
do vinho que tomavam livremente. se faz uso das bebidas alcoólicas,
Por sua intemperança, não estavam os resultados são os mesmos do
mais qualificados para o desempe- caso daqueles sacerdotes de Israel.
nho da função sagrada. Tinham a A mente perde a sensibilidade para
mente confusa e as percepções mo- o pecado e o coração fica insensível,
rais tão adormecidas que não con- até que a distinção entre o sagrado
seguiam fazer a diferença entre o e o comum perca a sua importância
sagrado e o comum. Deus fez então e não faça mais diferença. “Assim,
uma advertência a Arão e aos seus quer vocês comam, bebam ou façam
dois filhos vivos: “Você e seus filhos qualquer outra coisa, façam tudo
não devem beber […] antes de en- para a glória de Deus” (1Co 10:31).
trar na Tenda do Encontro, senão Uma séria e terrível advertência é
vocês morrerão” (Lv 10:9). O uso de dirigida à igreja de Cristo em todos
bebidas alcoólicas impede as pes- os tempos: “Se alguém destruir
soas de compreenderem a santidade o santuário de Deus, Deus o des-
das coisas sagradas ou o valor das truirá; pois o santuário de Deus,
exigências feitas por Deus. Todos que são vocês, é sagrado” (1Co 3:17).
32
A Graça de Cristo
e a Nova Aliança
A o serem criados, Adão
e Eva tinham conheci-
mento da lei de Deus. Estavam fa-
escolheu Abraão, de quem Ele de-
clarou: “Abraão Me obedeceu e
guardou Meus preceitos, Meus
miliarizados com suas exigências, mandamentos, Meus decretos e
e seus princípios estavam escritos Minhas leis” (Gn 26:5). Deus lhe deu
em seu coração. Quando caíram em o ritual da circuncisão, uma prática
pecado, a lei não foi mudada, mas que deveria ser mantida como um
Deus deu a eles a promessa de um sinal de que permaneceriam sepa-
Salvador. As ofertas sacrificais apon- rados da idolatria e obedeceriam
tavam para a morte de Cristo como à lei de Deus. A falha dos descen-
a grande oferta pelo pecado. dentes de Abraão em cumprir esse
A lei de Deus foi transmitida de compromisso foi a causa de sua
pai para filho por meio de sucessi- escravidão no Egito. Pela influên-
vas gerações, mas foram poucos cia de suas relações com os idóla-
os que lhe obedeceram. O mundo tras e por sua submissão forçada
se tornou tão mau que foi neces- aos egípcios, os princípios divinos
sário purificá-lo de sua corrupção se tornaram ainda mais corrompi-
por meio do dilúvio. Noé ensinou dos com os ensinos depravados do
os Dez Mandamentos aos seus des- paganismo. Foi por esse motivo que
cendentes. Como o homem nova- o Senhor desceu na nuvem sobre o
mente se afastou de Deus, o Senhor Sinai e proclamou Sua lei em tão
242 Os Escolhidos
grande majestade para que todo o Duas Leis: a Moral
povo ouvisse. e a Cerimonial
Mesmo então, Ele não confiou Muitos confundem esses dois sis-
Sua lei à memória de um povo que temas utilizando textos que falam
tão facilmente poderia esquecê-la, da lei cerimonial para provar que a
mas a escreveu em tábuas de pedra. lei moral foi abolida, mas essa é uma
Deus não parou ao dar a eles os Dez distorção da Bíblia. O sistema ceri-
Mandamentos. Ordenou a Moisés monial consistia de símbolos que
que escrevesse juízos e leis, dando apontavam para Cristo, para o Seu
instruções detalhadas sobre o que sacrifício e sacerdócio. Os hebreus
Ele requeria. Essas instruções ape- deveriam cumprir o ritual da lei ce-
nas ampliavam os princípios dos rimonial com seus sacrifícios e orde-
Dez Mandamentos, de maneira nanças até que o tipo encontrasse o
mais específica, para proteger sua antítipo – o símbolo se tornasse reali-
santidade. dade – na morte de Cristo. Então de-
Se os descendentes de Abraão ti- veria cessar todo o sistema de ofertas
vessem se mantido fiéis à aliança, sacrificais. É essa lei que Cristo “re-
que tinha a circuncisão como um moveu, pregando-a na cruz” (Cl 2:14).
sinal, não haveria necessidade de Referindo-se à lei dos Dez Man-
proclamar a lei no Sinai ou gravá-la damentos, o salmista escreveu: “A
em tábuas de pedra. Tua Palavra, Senhor, para sempre
O sistema sacrifical também foi está firmada nos Céus” (Sl 119:89).
pervertido. Por meio dos longos con- O próprio Cristo afirma: “Não pen-
tatos com os idólatras, Israel tinha sem que vim abolir a Lei. […] Digo-lhes
misturado muitos costumes pagãos a verdade: Enquanto existirem céus e
à sua forma de adoração; assim, o terra, de forma alguma desaparecerá
Senhor deu ao povo instruções pre- da Lei a menor letra ou o menor traço,
cisas a respeito do serviço sacrifi- até que tudo se cumpra” (Mt 5:17, 18).
cal. Toda a lei cerimonial foi dada Aqui Jesus ensina que os preceitos da
a Moisés, e ele a escreveu em um lei de Deus serão mantidos enquanto
livro. A lei dos Dez Mandamentos os céus e a Terra existirem.
foi escrita pelo próprio Deus, nas Com relação à lei proclamada no
tábuas de pedra, e guardadas den- Sinai, Neemias diz: “Tu desceste ao
tro da arca da aliança. Monte Sinai; dos céus lhes falaste.
A Graça de Cristo e a Nova Aliança 243
Deste-lhes ordenanças justas, leis raça caída tem sido feita por meio
verdadeiras, decretos e mandamen- de Cristo. Foi o Filho de Deus que
tos excelentes” (Ne 9:13). Paulo, “o fez a promessa da redenção a nossos
apóstolo dos gentios”, declara: “De primeiros pais. Adão, Noé, Abraão,
fato, a lei é santa, o mandamento é Isaque, Jacó e Moisés compreende-
santo, justo e bom” (Rm 7:12). ram a abrangência do evangelho.
Embora a morte de Cristo tenha Esses homens santos dos tempos
colocado um fim à lei dos tipos e passados mantinham comunhão
sombras, não diminuiu a obrigação com o Salvador que viria ao nosso
para com a lei moral. O próprio fato mundo em forma humana.
de que foi necessário Cristo mor- Cristo foi o guia dos hebreus no
rer para que se tornasse possível a deserto, o Anjo que ia adiante deles,
expiação da transgressão dessa lei encoberto pela coluna de nuvem.
prova que ela é imutável. Foi Ele quem deu a lei a Israel. (Ver
Apêndice, Nota 6.) Em meio à gló-
Cristo, o Mediador ria que desceu sobre o Sinai, Cristo
da Nova Aliança proclamou os Dez Mandamentos da
Alguns afirmam que Cristo veio lei de Seu Pai. Foi Ele que deu a lei a
para abolir o Antigo Testamento. Moisés, gravada em tábuas de pedra.
Apresentam a religião dos hebreus Cristo falou ao Seu povo por
como nada mais que meras for- meio dos profetas. O apóstolo Pedro
mas e cerimônias. Isso é um erro. declara que os profetas “que falaram
Ao longo de todos os séculos após da graça destinada a vocês investi-
a queda, “Deus em Cristo estava re- garam e examinaram, procurando
conciliando consigo o mundo” (2Co saber o tempo e as circunstâncias
5:19). Cristo era o fundamento e o para os quais apontava o Espírito
centro do sistema sacrifical. Desde de Cristo que neles estava, quando
que nossos primeiros pais peca- lhes predisse os sofrimentos de
ram, o Senhor entregou o mundo Cristo e as glórias que se seguiriam
nas mãos de Cristo para que, por àqueles sofrimentos” (1Pe 1:10, 11).
Sua obra como Mediador, redi- É a voz de Cristo que nos fala por
misse a humanidade perdida e con- meio do Antigo Testamento. “O tes-
firmasse a autoridade da lei de Deus. temunho de Jesus é o espírito de
Toda a comunicação entre o Céu e a profecia” (Ap 19:10).
244 Os Escolhidos
Enquanto esteve pessoalmente Desde que o Salvador derramou
na Terra, Jesus direcionou a mente Seu sangue e voltou para o Céu “para
do povo para o Antigo Testamento. [...] Se apresentar diante de Deus em
“Vocês estudam cuidadosamente nosso favor” (Hb 9:24), uma luz tem
as Escrituras, porque pensam que brilhado da cruz do Calvário e do
nelas vocês têm a vida eterna. E santuário celestial. O evangelho de
são as Escrituras que testemu- Cristo dá sentido à lei cerimonial.
nham a Meu respeito” (Jo 5:39). À medida que novas verdades são re-
Naquela época, os livros do Antigo veladas, podemos ver de forma mais
Testamento eram a única parte intensa o caráter e os propósitos de
existente da Bíblia. Deus. Cada novo raio de luz propor-
A lei cerimonial foi dada por ciona uma compreensão mais clara
Cristo. Mesmo depois que ela dei- do plano da redenção. Encontramos
xou de ser observada, o grande após- nova beleza e força na Palavra inspi-
tolo Paulo declarou ser ela gloriosa rada e estudamos suas páginas com
e digna de seu divino Originador. interesse cada vez maior.
A nuvem de incenso que subia ao Não era o propósito de Deus que
Céu com as orações de Israel re- Israel levantasse um muro de sepa-
presenta a Sua justiça, pois é ape- ração entre eles e seus semelhantes.
nas por meio dela que a oração do O coração do Amor Infinito circun-
pecador se torna aceitável a Deus. dava todos os habitantes da Terra,
A vítima sangrando sobre o altar procurando Se revelar a eles e torná-
testemunhava de um Redentor que los participantes de Seu amor e de
um dia viria. Assim, ao longo de sé- Sua graça. Sua bênção foi concedida
culos de trevas e apostasia, a fé foi ao povo escolhido para que pudesse
mantida viva no coração humano abençoar outros.
até a vinda do Messias prometido. Abraão não se excluiu do povo que
Jesus era a Luz do mundo antes vivia ao seu redor. Manteve relações
de vir à Terra em forma humana. de amizade com os reis das nações vi-
O primeiro raio de luz que pene- zinhas e, por meio dele e de sua in-
trou nas trevas do pecado veio de fluência, o Deus do Céu foi revelado.
Cristo, e dEle vem todo raio da luz Deus Se manifestou ao povo do
celestial que brilha sobre os mora- Egito por meio de José. Por que o
dores da Terra. Senhor desejou exaltar José de forma
A Graça de Cristo e a Nova Aliança 245
tão grandiosa entre os egípcios? luz, em vez de permitir que ela bri-
Ele o colocou no palácio do rei para lhasse entre os povos ao seu redor,
que a luz do Céu brilhasse longe e fechando-se em seu orgulhoso exclu-
perto. José foi um representante de sivismo como se o amor e o cuidado
Cristo. Os egípcios deveriam ver em de Deus fossem somente deles.
seu benfeitor o amor de seu Criador A aliança da graça foi feita a
e Redentor. Por meio de Moisés, Deus princípio no Éden. Após a queda do
também fez brilhar uma luz ao lado homem, Deus prometeu que a se-
do trono do maior reino da Terra mente da mulher feriria a cabeça
para que todos pudessem ter o conhe- da serpente. Essa aliança oferecia a
cimento do Deus vivo e verdadeiro. todos o perdão e a graça auxiliadora
Quando Israel foi libertado do de Deus para obedecer, por meio
Egito, o conhecimento do poder de da fé em Cristo. Prometia também
Deus se espalhou por toda a parte. a vida eterna sob a condição de fi-
Séculos após o êxodo, os sacerdotes delidade à lei de Deus. Assim, os
filisteus ainda lembravam o povo patriarcas receberam a esperança
das pragas do Egito e os advertia a da salvação, por intermédio dessa
não se oporem ao Deus de Israel. aliança feita com Ele.
Deus renovou essa mesma
Por que Deus Escolheu Israel aliança com Abraão, ao lhe fazer a
Deus chamou os filhos de Israel promessa: “Por meio dela, todos os
para Se revelar por meio deles a todos povos da Terra serão abençoados”
os habitantes da Terra. Para esse pro- (Gn 22:18). Abraão creu em Cristo
pósito, Ele ordenou que se conservas- para perdão dos pecados. Foi essa fé
sem como um povo diferente das que lhe foi atribuída como justiça.
nações idólatras ao seu redor. A aliança com Abraão mantinha
Tanto naquela época quanto hoje também a autoridade da lei de
era muito importante que o povo de Deus. O testemunho de Deus a
Deus se mantivesse puro e incontami- respeito de Seu servo foi: “Abraão
nado. Deus não desejava que Seu povo Me obedeceu e guardou Meus pre-
se excluísse do mundo e assim dei- ceitos, Meus mandamentos, Meus
xasse de exercer sua influência sobre decretos e Minhas leis” (Gn 26:5).
os outros. Foi seu coração perverso e Embora essa aliança tenha sido
incrédulo que os levou a esconder a feita com Adão e renovada com
246 Os Escolhidos
Abraão, não poderia ser confir- a amá-Lo e confiar nEle. Ele os ligou
mada até a morte de Cristo. Ela a Si ao libertá-los do cativeiro.
existia pela promessa feita por Na verdade, eles não compreen-
Deus; foi aceita pela fé, porém, ao diam muito bem a santidade de
ser garantida por Cristo, foi cha- Deus, a imensa maldade de seu cora-
mada de “a nova aliança”. A lei de ção, sua completa incapacidade para
Deus foi a base de Sua aliança, que obedecer à lei de Deus por si mes-
era simplesmente um pacto para mos e a necessidade de um Salvador.
levar os pecadores a viverem nova- Deus deu a eles a Sua lei com a
mente em harmonia com a vontade promessa de lhes conceder gran-
divina, colocando-os onde pode- des bênçãos sob a condição de obe-
riam obedecer à lei de Deus. diência: “Agora, se Me obedecerem
A outra aliança – chamada nas fielmente e guardarem a Minha
Escrituras de “a antiga aliança” – foi aliança, […] serão para Mim um reino
feita no Sinai, entre Deus e Israel, de sacerdotes e uma nação santa”
e foi confirmada pelo sangue de (Êx 19:5, 6). O povo não compreen-
um sacrifício. A aliança feita com dia quão maldoso era o seu coração e
Abraão, confirmada por meio do que, sem Cristo, era impossível guar-
sangue de Cristo, é chamada de dar a lei de Deus. Achando que conse-
“segunda aliança”, ou “nova aliança”, guiriam se manter fiéis pela própria
porque o sangue pelo qual foi selada força, o povo declarou: “Faremos fiel-
foi derramado depois do sangue da mente tudo o que o Senhor ordenou”
primeira aliança. (Êx 24:7). Sem duvidar, eles entraram
Se a aliança feita com Abraão em aliança com Deus. Contudo, pou-
oferecia a promessa da redenção, cas semanas se passaram até que-
por que foi feita outra aliança no brarem sua aliança e se curvarem
Sinai? Durante os anos de cati- em adoração ao bezerro de ouro. Ao
veiro, o povo havia perdido grande reconhecerem seu pecado e a neces-
parte do conhecimento que tinha sidade de perdão, foram levados a
de Deus e dos princípios da aliança sentir a necessidade do Salvador re-
feita com Abraão. Quando os liber- velado na aliança feita com Abraão e
tou do Egito, o propósito de Deus simbolizado pelas ofertas sacrificais.
era revelar a eles o Seu poder e mi- Estavam preparados para valorizar
sericórdia para que fossem levados as bênçãos da nova aliança.
A Graça de Cristo e a Nova Aliança 247
vez, Moisés suplicou em favor de vocês rejeitaram” (Nm 14:28, 29, 31).
seu povo: “Mas agora, que a força E quanto a Calebe, Ele declarou:
do Senhor se manifeste, segundo “Mas, como o Meu servo Calebe tem
prometeste: ‘O Senhor é muito pa- outro espírito e Me segue com inte-
ciente e grande em fidelidade.’ […] gridade, Eu o farei entrar na terra
Segundo a Tua grande fidelidade, que foi observar, e seus descenden-
perdoa a iniquidade deste povo, tes a herdarão” (Nm 14:24). Assim
como a este povo tens perdoado como os espiões passaram qua-
desde que saíram do Egito até agora” renta dias em sua jornada de reco-
(Nm 14:17-19). nhecimento naquela terra, o povo
O Senhor prometeu poupar de Israel vaguearia pelo deserto du-
Israel da destruição imediata; mas, rante quarenta anos.
por causa de sua incredulidade e
covardia, Ele não poderia exercer Falso Arrependimento
Seu poder para vencer os inimigos. Quando Moisés transmitiu ao
Portanto, em Sua misericórdia, or- povo a decisão divina, eles soube-
denou que voltassem para o Mar ram que sua punição era justa. Os
Vermelho. dez espiões infiéis, feridos pela praga
Em sua rebelião, o povo tinha enviada por Deus, morreram diante
exclamado: “Quem dera tivésse- dos olhos de todo o Israel e, diante
mos morrido no Egito! Ou neste do que aconteceu a eles, o povo en-
deserto!” (Nm 14:2). Agora a sua ora- tendeu qual seria a sua condenação.
ção seria atendida. “Diga-lhes: Juro Pareciam então que tinham se
pelo Meu nome, declara o Senhor, arrependido com sinceridade, mas
que farei a vocês tudo o que pedi- eles estavam mais tristes pelo re-
ram: Cairão neste deserto os cadá- sultado de sua má conduta do que
veres de todos vocês, de vinte anos pelo sentimento de ingratidão e
para cima, que foram contados no desobediência que demonstra-
recenseamento e que se queixa- ram. Quando viram que o Senhor
ram contra Mim. […] Mas, quanto não mudou a sentença que tinha
aos seus filhos, sobre os quais vocês dado, seu espírito rebelde se reve-
disseram que seriam tomados como lou novamente e disseram que não
despojo de guerra, Eu os farei en- voltariam mais para o deserto. Ao
trar para desfrutarem a terra que ordenar que voltassem, Deus estava
260 Os Escolhidos
testando sua aparente submissão tudo o que o Senhor, o nosso Deus,
e provou que ela não era real. Seu ordenou” (Dt 1:41). Ficaram terri-
coração não estava mudado, e eles velmente cegados por causa de sua
precisavam apenas de um pretexto transgressão. O Senhor nunca or-
para darem início a outra rebelião denou que “subissem e lutassem”.
semelhante. Se tivessem ficado sin- Não era Seu propósito que tomas-
ceramente tristes pelo pecado no sem posse da Terra Prometida pela
momento em que ele lhes foi apon- guerra, mas pela obediência estrita
tado, a sentença não teria sido pro- às Suas ordens.
nunciada; mas eles ficaram tristes “Pecamos”, disseram eles, reco-
apenas pelo castigo que receberam. nhecendo que a falta estava neles,
Sua tristeza não era uma demons- e não em Deus, a quem acusaram
tração de arrependimento sincero e com crueldade de ter deixado de
não podia liberá-los do castigo. cumprir Suas promessas. Embora
O povo passou aquela noite se la- essa confissão não significasse um
mentando; no entanto, pela manhã verdadeiro arrependimento, serviu
resolveu se redimir de sua covardia. para confirmar a justiça de Deus.
Quando Deus ordenou que se levan- O Senhor ainda age de modo se-
tassem e conquistassem a terra, eles melhante para que Seu nome seja
se recusaram; e agora, ao mandar glorificado, ao levar as pessoas a re-
que se retirassem daquele lugar, conhecerem Sua justiça. Deus usa
continuaram sendo rebeldes. a oposição e os obstáculos para re-
Deus havia lhes dado o privilé- velar as obras das trevas. Mesmo
gio e o dever de entrar na terra de que aqueles que instigam o mal não
Canaã no tempo por Ele indicado; estejam totalmente mudados, as
porém, devido à sua desobediên- confissões são feitas para vindicar
cia, essa permissão tinha sido ne- a honra do nome de Deus e justifi-
gada. Diante da proibição divina, car os fiéis que reprovam tais ações,
Satanás os instigou a fazer a mesma que sofrem oposição e são calunia-
coisa que haviam se recusado dos. Assim acontecerá quando a ira
quando Deus ordenou, levando-os de Deus for derramada no fim dos
a se rebelarem pela segunda vez. tempos. Cada pecador será levado
“Pecamos contra o Senhor. Nós a ver e reconhecer que sua conde-
subiremos e lutaremos, conforme nação é justa.
Doze Espiões em Canaã 261
coração, deu ao Seu povo o aviso e si mesmos e uns aos outros pen-
as instruções necessárias para que sando que Moisés e Arão tinham,
não fosse enganado por esses ho- por eles mesmos, assumido os car-
mens mal-intencionados. Os israe- gos que ocupavam, que esses dois
litas viram os juízos de Deus caírem líderes tinham se exaltado ao as-
sobre Miriã por causa de sua inveja e sumirem o sacerdócio e o governo.
queixas contra Moisés. O Senhor de- Diziam que eles não eram mais san-
clarou: “Com ele falo face a face. […] tos que o povo e que isso seria o sufi-
Por que não temeram criticar meu ciente para estarem no mesmo nível
servo Moisés?” (Nm 12:8). Essas ins- de seus irmãos que também eram
truções não foram dadas a Arão e favorecidos com a presença e pro-
Miriã somente, mas a todo Israel. teção de Deus.
Corá e seus companheiros que
participavam da conspiração esti- O Método de Corá:
veram entre aqueles que subiram ao Elogiar o Povo
monte com Moisés e viram a glória Corá e seus companheiros ape-
divina. Mas abrigaram em seu co- laram para o apoio da congregação.
ração uma tentação leve, a princí- Declararam ser um erro dizer que
pio, até que sua mente passou a ser as queixas do povo tinham trazido
controlada por Satanás. De início, a ira de Deus sobre eles. Diziam que
falavam em segredo uns com os ou- o povo não tinha cometido nenhum
tros sobre o seu descontentamento, erro, pois desejavam apenas fazer
e depois com os dirigentes de Israel. valer os seus direitos. Afirmavam
Por fim, acabaram realmente acre- que Moisés era um governador au-
ditando que estavam agindo moti- toritário, que considerava o povo
vados por seu zelo para com Deus. pecador, sendo que eles eram um
Conseguiram convencer du- povo santo.
zentos e cinquenta príncipes. Com Aqueles que deram ouvidos
o apoio desses homens influentes, a Corá passaram a acreditar que
eles se sentiram confiantes de que suas dificuldades teriam sido evi-
poderiam melhorar muito a admi- tadas se Moisés tivesse agido de
nistração de Moisés e Arão. maneira diferente. Concluíram que
O ciúme deu lugar à inveja, e tinham sido expulsos de Canaã em
a inveja à rebelião. Enganaram a consequência da má administração
264 Os Escolhidos
de Moisés e de Arão. Se Corá fosse Senhor está no meio deles. Então,
o seu líder e os animasse, estimu- por que vocês se colocam acima da
lando suas boas ações sem ficar assembleia do Senhor?” (Nm 16:3).
apontando seus pecados, eles te- Moisés não tinha suspeitado
riam uma jornada bem melhor. Em dessa trama planejada cuidado-
vez de ficarem vagueando pelo de- samente “e, quando ouviu isso,
serto, teriam seguido para a Terra prostrou-se com o rosto em terra”
Prometida. (Nm 16:4), apresentando a Deus
O sucesso de Corá ao falar com uma súplica silenciosa. Levantou-se
o povo aumentou a sua confiança. depois calmo e forte. Tinha acabado
Afirmava que Deus o havia autori- de receber a orientação divina. “Pela
zado a fazer uma mudança no go- manhã o Senhor mostrará quem
verno antes que fosse tarde demais. Lhe pertence e fará aproximar-se
dEle aquele que é santo, o homem
Acusação Injusta a quem Ele escolher” (Nm 16:5).
Muitos não aceitaram as acusa- Aqueles que pretendiam ser sacer-
ções de Corá contra Moisés. Lem- dotes deveriam vir cada um com
bravam-se de como esse líder seu incensário e oferecer incenso no
trabalhava de forma paciente e ab- tabernáculo. Até mesmo os sacerdo-
negada por todos, e a consciência os tes Nadabe e Abiú tinham sido des-
perturbava. Assim, Corá viu que era truídos por ousarem oferecer “fogo
necessário encontrar alguma ati- estranho”, desrespeitando a ordem
tude egoísta da parte do líder. Fez divina. Entretanto, Moisés desafiou
novamente a antiga acusação de que seus acusadores a levar a questão
ele os havia levado até ali para mor- perante Deus, caso desejassem se
rerem no deserto a fim de ficar com arriscar a seguir em frente com isso.
todos os seus bens. Em uma conversa particular com
Assim que o movimento ganhou Corá e seus companheiros levitas,
força suficiente para garantir uma Moisés disse: “Não lhes é suficiente
luta aberta, Corá acusou Moisés e que o Deus de Israel os tenha sepa-
Arão publicamente de roubarem a rado do restante da comunidade de
autoridade. “Basta!”, disseram os Israel e os tenha trazido para junto
conspiradores. “A assembleia toda de Si a fim de realizarem o traba-
é santa, cada um deles é santo, e o lho do tabernáculo do Senhor [...]?
Corá Lidera uma Rebelião 265
Ele trouxe você e todos os seus ir- Apelou solenemente a Deus, na pre-
mãos levitas para junto dEle, e agora sença da congregação, e implorou
vocês querem também o sacerdó- que Ele fosse o seu juiz.
cio? É contra o Senhor que você e
todos os seus seguidores se ajunta- A Grande Prova
ram! Quem é Arão para que se quei- No dia seguinte, os duzentos e
xem contra ele?” (Nm 16:9-11). cinquenta príncipes, liderados por
Datã e Abirão não tinham assu- Corá, apresentaram-se com seus in-
mido uma atitude tão ousada como censários, enquanto o povo estava
Corá, e Moisés os chamou para reunido do lado de fora, aguar-
comparecerem diante dele, a fim dando o resultado. Não foi Moisés
de ouvir as acusações que tinham que os reuniu para ver a derrota de
contra ele. Cheios de arrogância, re- Corá e seu grupo. Os rebeldes, em
cusaram-se a reconhecer sua autori- sua presunção cega, convocaram o
dade: “Não lhe basta nos ter tirado povo para testemunhar sua vitória.
de uma terra onde manam leite e Grande parte da congregação se po-
mel para matar-nos no deserto? sicionou ao lado de Corá.
E ainda quer se fazer chefe sobre Corá se retirou da assembleia
nós? Além disso, você não nos levou para se reunir com Datã e Abirão,
a uma terra onde manam leite e mel, quando Moisés, acompanhado dos
nem nos deu uma herança de cam- setenta anciãos, desceu com um úl-
pos e vinhas. Você pensa que pode timo aviso aos homens que tinham
cegar os olhos destes homens? Nós se recusado a ir até ele. Sob a dire-
não iremos!” (Nm 16:13, 14). ção de Deus, Moisés disse ao povo:
Assim, eles declararam que “Afastem-se das tendas desses ím-
não mais se submeteriam a ser pios! Não toquem em nada do que
guiados como homens cegos, ora pertence a eles, senão vocês serão
para Canaã, ora para o deserto, de eliminados por causa dos pecados
acordo com os ambiciosos planos deles” (Nm 16:26). O povo obedeceu,
de Moisés. Eles o retrataram como pois o sentimento de aproximação
o pior tirano e usurpador de todos. de um juízo repousava sobre todos.
Também o responsabilizaram por Os chefes dos rebeldes se viram aban-
sua expulsão de Canaã. donados por aqueles que tinham en-
Moisés não procurou se defender. ganado, mas permaneceram cada
266 Os Escolhidos
qual com sua família à porta de suas A congregação inteira teve sua
tendas, em desafio à ordem divina. culpa, pois, em maior ou menor
Moisés então declarou para que grau, todos demonstraram alguma
toda a congregação ouvisse: “Assim simpatia para com eles. Aqueles que
vocês saberão que o Senhor me en- se permitiram ser enganados ainda
viou para fazer todas essas coisas e tiveram tempo de se arrepender.
que isso não partiu de mim. Se estes Jesus, o Anjo que ia adiante dos
homens tiverem morte natural, […] hebreus, estava procurando salvá-los
então o Senhor não me enviou. Mas, da destruição. Os juízos de Deus
se o Senhor fizer acontecer algo to- tinham vindo muito perto, como
talmente novo, e a terra abrir a sua um apelo para se arrependerem.
boca e os engolir, junto com tudo o Se aceitassem a liderança divina po-
que é deles, e eles descerem vivos ao deriam ser salvos. Contudo, sua re-
Sheol [sepultura], então vocês sabe- belião não foi curada. Naquela noite,
rão que estes homens desprezaram eles voltaram aterrorizados para
o Senhor” (Nm 16:28-30). suas tendas, mas não arrependidos.
Assim que ele acabou de falar, a Tinham sido elogiados por Corá
terra se abriu e os rebeldes caíram até acreditarem que eram um povo
vivos no abismo, com tudo o que pos- muito bom, injustiçado e maltra-
suíam, e “pereceram, desaparecendo tado por Moisés. Alimentaram a
do meio da assembleia” (Nm 16:33). esperança de que uma nova ordem
O povo fugiu, condenando-se como de coisas estivesse para ser estabe-
participantes do pecado. lecida, na qual a reprovação seria
Os juízos ainda não tinham ter- substituída pelo elogio, e a ansie-
minado. Desceu fogo da nuvem e dade e o conflito pela comodidade.
consumiu os duzentos e cinquenta Os homens que morreram tinham
príncipes que tinham oferecido in- proferido palavras agradáveis e de-
censo. Esses homens não foram monstrado grande interesse e amor
destruídos com os líderes dos cons- por eles, e o povo concluiu que, de
piradores. Foi permitido que vissem alguma forma, Moisés tinha sido a
o seu fim e tivessem a oportunidade causa da destruição deles.
de se arrepender. Como eles concor- Os israelitas se propuseram
davam com os rebeldes, acabaram a matar Moisés e Arão. Aquela
partilhando de sua condenação. noite de prova não foi passada em
Corá Lidera uma Rebelião 267
que poderia ter permanecido firme a Deus, ele não poderia guiá-los
e abnegado até o fim de sua carreira à Terra Prometida. Pediu que refle-
foi vencido. tissem sobre a severa punição que
Dessa vez, Deus não pronunciou ele havia recebido e pensassem em
nenhum juízo sobre aqueles que como Deus considerava as murmu-
tanto provocaram Moisés e Arão; rações do povo, cada vez que um
toda a reprovação caiu sobre os líde- simples homem era acusado por eles
res. Moisés e Arão sentiram-se ofen- por causa dos juízos que recaíram
didos e perderam de vista o fato de sobre si mesmos devido aos pecados
que a murmuração do povo não que cometiam. Moisés contou aos is-
era contra eles, mas contra Deus. raelitas como havia suplicado a Deus
Ao olharem para si mesmos, caí- que voltasse atrás na sentença dada,
ram no pecado sem perceber e não mas seu pedido havia sido negado.
conseguiram levar as pessoas a ver Em todas as suas jornadas, ao
a grande ofensa que tinham come- se queixarem das dificuldades pelo
tido contra Deus. caminho, Moisés dizia a eles: “As
“O Senhor, porém, disse a Moisés suas murmurações não são contra
e a Arão: ‘Como vocês não confiaram nós, e sim contra o Senhor”. “Não
em Mim para honrar Minha santi- fui eu, mas sim Deus, que os liber-
dade à vista dos israelitas, vocês não tou.” Com as palavras precipita-
conduzirão esta comunidade para a das – “Será que teremos que tirar
terra que lhes dou’” (Nm 20:12). Eles água?” – Moisés praticamente ad-
morreriam antes de atravessar o mitiu as acusações feitas pelo povo.
Jordão. Eles não pecaram de forma Portanto, seu erro foi confirmá-los
voluntária ou premeditada; tinham em sua incredulidade e justificar
sido vencidos por uma tentação ines- suas murmurações. O Senhor ti-
perada, e o seu arrependimento foi raria para sempre essa impressão
imediato e sincero. O Senhor acei- de sua mente impedindo Moisés de
tou o seu arrependimento, mas, por entrar na Terra Prometida. Ali es-
causa do mal que seu pecado pode- tava a prova definitiva de que seu
ria causar entre o povo, Ele não po- líder não era Moisés, mas o pode-
deria remover a punição. roso Anjo de quem o Senhor disse:
Moisés então disse ao povo que, “Eis que envio um Anjo à frente de
por ter deixado de dar a glória devida vocês para protegê-los por todo o
276 Os Escolhidos
caminho e fazê-los chegar ao lugar com tão grande luz e conhecimento
que preparei. Prestem atenção e tornava o seu pecado ainda mais
ouçam o que Ele diz. […], pois nEle grave. A fidelidade do passado não
está o Meu nome” (Êx 23:20, 21). anula um ato errado sequer. Maior
luz e maiores privilégios recebidos
Deus não Age com somente tornam a falta menos des-
Parcialidade culpável e a punição mais severa.
“Todavia, por causa de vocês, O pecado de Moisés foi um pe-
o Senhor irou-Se contra mim” cado comum. O salmista diz que ele
(Dt 3:26), disse Moisés. Toda a con- “falou sem refletir” (Sl 106:33). De
gregação sabia da transgressão. Se acordo com o julgamento humano,
Deus a tivesse passado por alto, o pode parecer algo pequeno, mas se
povo teria pensado que a impaciên- Deus tratou com tanta severidade
cia de um líder, sob grande provo- esse pecado em Seu servo mais fiel
cação, poderia ser desculpada. e honrado, Ele não o desculpará em
Quando foi declarado que Moisés outros. O espírito de exaltação pró-
e Arão não poderiam entrar em pria e a tendência de culpar outros
Canaã por causa daquele único pe- desagrada a Deus. Quanto mais im-
cado, o povo entendeu que Deus não portante for a posição que a pessoa
age com parcialidade. ocupa, maior é a necessidade de cul-
Nos tempos futuros, todos deve- tivar a paciência e a humildade.
riam ver que o Deus do Céu é impar- Se aqueles que ocupam posições
cial, que jamais justifica o pecado. de responsabilidade tomam para si
A bondade e o amor de Deus O as honras devidas a Deus, Satanás
movem a lidar com o pecado como conquista uma vitória. Todo im-
um mal que é fatal à paz e felicidade pulso ligado à nossa natureza e
do Universo. toda tendência do coração neces-
Deus perdoou o povo por trans- sitam estar, momento a momento,
gressões maiores, mas não poderia sob a direção do Espírito de Deus.
proceder da mesma forma com o Portanto, quanto maior for a luz
pecado dos líderes e dos liderados. que recebemos, quanto mais des-
Moisés tinha sido honrado por Ele frutamos o favor divino, cada vez
acima de qualquer outra pessoa na mais humildemente devemos andar
Terra. O fato de ter sido abençoado diante do Senhor, suplicando com fé
O Fracasso de Moisés 277
que Ele dirija cada motivo, cada de- que sofremos, a transgressão é um
sejo que temos. ato nosso. Não está em nenhum
As responsabilidades colocadas poder da terra nem do inimigo e
sobre Moisés foram muito gran- seus anjos obrigar qualquer pessoa
des. Poucas pessoas serão tão pro- a praticar o mal. Por mais severa ou
vadas como ele foi. Mesmo assim, inesperada que seja a tentação, Deus
isso não desculpa o pecado dele. Não provê o auxílio, e nós podemos ven-
importa quão grande seja a pressão cer por Sua força.
38
*
Por que a Demora?
O acampamento de Israel
em Cades estava bem pró-
ximo das fronteiras de Edom, e
poderão passar por aqui; se tenta-
rem, nós os atacaremos com a es-
pada” (Nm 20:18).
tanto Moisés como o povo deseja- Os líderes de Israel enviaram um
vam muito seguir pelo caminho que segundo pedido para o rei, com uma
atravessava esse país para chegarem promessa: “Iremos pela estrada prin-
à Terra Prometida. Então enviaram cipal; se nós e os nossos rebanhos be-
uma mensagem ao rei edomita: bermos de tua água, pagaremos por
“Assim diz o teu irmão Israel: […] ela. Queremos apenas atravessar a
Agora estamos em Cades, cidade da pé, e nada mais” (Nm 20:19).
fronteira do teu território. Deixa- “Vocês não poderão atravessar”
nos atravessar a tua terra. Não pas- (Nm 20:20), foi a resposta. Bandos
saremos por nenhuma plantação ou armados de edomitas já estavam de
vinha, nem beberemos água de poço prontidão em pontos estratégicos, e
algum. Passaremos pela estrada do os hebreus estavam proibidos de re-
rei e não nos desviaremos nem para correr à força. Eles deveriam fazer
a direita nem para a esquerda, até a longa jornada ao redor da terra
que tenhamos atravessado o teu de Edom.
território” (Nm 20:14-17). Se o povo tivesse confiado em
A esse pedido feito com toda Deus, o Capitão do exército do
cortesia, o rei edomita enviou uma Senhor os teria guiado através de
resposta ameaçadora: “Vocês não Edom. Os habitantes da terra, em
* Este capítulo é baseado em Números 20:14-29; 21:1-9.
Por que a Demora? 279
da cobiça e à sede por poder. Muitos ele pudesse consultar a Deus mais
se gabam de serem capazes de dei- uma vez.
xar de lado a integridade completa À noite, o Senhor apareceu a
por um tempo e mudar de atitude Balaão e disse: “Visto que esses ho-
quando bem quiserem. Eles estão mens vieram chamá-lo, vá com eles,
se emaranhando na armadilha de mas faça apenas o que Eu lhe dis-
Satanás, e raramente escapam. ser” (Nm 22:20). Até esse ponto o
Quando os mensageiros conta- Senhor permitiria que Balaão se-
ram a Balaque sobre a resposta ne- guisse a própria vontade, pois es-
gativa do profeta, eles não deram a tava determinado em assim fazer.
entender que Deus o tinha proibido. Ele escolheu o próprio caminho e
Supondo que a demora de Balaão então tentou conseguir a aprovação
significava apenas conseguir uma do Senhor.
recompensa mais valiosa, o rei en- Hoje, milhares seguem um ca-
viou príncipes em maior número e minho semelhante. Seu dever está
mais dignos do que os primeiros, revelado de forma clara na Bíblia
com a autoridade de aceitar quais- ou indicado pelas circunstâncias e
quer condições que Balaão exigisse. pela razão; mas, como as evidências
A mensagem urgente de Balaque foi: são contrárias aos seus desejos, eles
“Que nada o impeça de vir a mim, as colocam de lado e apenas pare-
porque o recompensarei generosa- cem buscar a Deus para saber o seu
mente e farei tudo o que você me dever. Fazem orações longas e fervo-
disser. Venha, por favor, e lance rosas para receber luz. Entretanto,
para mim uma maldição contra este com Deus não se brinca. Ele mui-
povo” (Nm 22:16, 17). tas vezes permite que tais pessoas
Em resposta, Balaão decla- sigam os próprios desejos e sofram
rou ser muito honesto, íntegro e o resultado. “O Meu povo não quis
que nenhuma quantia de ouro ou ouvir-Me [...]. Por isso os entreguei
prata poderia convencê-lo a agir ao seu coração obstinado, para se-
contra a vontade de Deus. No en- guirem os seus próprios planos”
tanto, desejava atender ao pedido (Sl 81:11, 12). Quando alguém vê
do rei. Embora Deus já tivesse reve- claramente o dever, não tome a li-
lado a Sua vontade, ele insistiu que berdade de ir a Deus em oração para
os mensageiros ficassem para que ser dispensado de o cumprir.
294 Os Escolhidos
A Jumenta “Enxerga” e a pobre jumenta, tremendo de ter-
Mais do que o Profeta ror, deitou-se debaixo de Balaão.
Incomodados com a demora de A raiva de Balaão não teve limites,
Balaão e na expectativa de outra e com uma vara ele espancou o ani-
resposta negativa, os mensageiros mal com mais crueldade ainda do
de Moabe deram início à viagem de que antes. Deus abriu então a boca
volta para seu país sem mais con- do animal, e “por uma jumenta [...]
sultá-lo. Toda desculpa para aten- que falou com voz humana” Ele
der ao pedido de Balaque tinha sido “refreou a insensatez do profeta”
removida. Balaão estava decidido (2Pe 2:16). “Que foi que eu lhe fiz”,
a conseguir a recompensa. Com a disse a jumenta, “para você bater em
jumenta que costumava montar, mim três vezes?” (Nm 22:28).
partiu com pressa, ansioso para Furioso, Balaão respondeu ao
conquistar o cobiçado prêmio. animal como se falasse com um
No entanto, “o Anjo do Senhor ser racional: “Você me fez de tolo!
pôs-se no caminho para impedi-lo Quem dera eu tivesse uma espada
de prosseguir” (Nm 22:22). Balaão na mão; eu a mataria agora mesmo”
não viu o mensageiro divino, mas o (Nm 22:29).
animal viu e se desviou da estrada Os olhos de Balaão foram então
para o campo. Com pancadas cruéis, abertos, e ele viu o anjo de Deus
Balaão trouxe a jumenta de volta parado empunhando uma espada
para o caminho. Outra vez, em um pronto para o matar. Aterrorizado,
lugar estreito entre duas paredes, “Balaão inclinou-se e prostrou-se,
o anjo apareceu. A jumenta, pro- rosto em terra” (Nm 22:31). Disse
curando evitar a figura ameaçadora, o anjo: “Eu vim aqui para impedi-lo
apertou o pé de seu dono contra a de prosseguir porque o seu caminho
parede. Balaão não sabia que Deus me desagrada. A jumenta me viu e
estava bloqueando o caminho. Ficou se afastou de mim por três vezes.
furioso e surrou sem dó o animal, Se ela não se afastasse, certamente
forçando-o a continuar. eu já o teria matado; mas a jumenta
Novamente, “num lugar estreito, eu teria poupado” (Nm 22:32-33).
onde não havia espaço para desviar- Balaão devia a sua vida ao
se, nem para a direita nem para a es- pobre animal que ele tinha tra-
querda” (Nm 22:26), o anjo apareceu, tado de forma tão cruel. O homem
Balaão Tenta Amaldiçoar Israel 295
Aqueles que desonrarem a ima- dos descrentes. Não é ser rígido de-
gem de Deus e mancharem o templo mais excluir a companhia daque-
do próprio corpo não terão limites les que exercem influência para nos
para praticar qualquer desonra a desviar de Deus. Ao mesmo tempo
Deus que satisfaça o desejo do co- em que oramos: “Não nos deixes
ração depravado. É impossível ao es- cair em tentação” (Mt 6:13), deve-
cravo da paixão perceber a sagrada mos nos afastar da tentação tanto
obrigação imposta pela lei de Deus, quanto possível.
apreciar a obra da expiação, ou dar Quando os israelitas estavam
o devido valor à vida. Bondade, pu- em uma situação de comodidade e
reza, verdade, reverência para com segurança, foram atraídos pelo pe-
Deus e amor pelas coisas sagradas – cado. A comodidade e a condescen-
tudo isso é consumido pelo fogo da dência consigo mesmos deixaram a
imoralidade. O coração se torna um fortaleza do coração sem proteção,
deserto sombrio e desolado. Seres e pensamentos pervertidos encon-
formados à imagem de Deus são ar- traram passagem livre. Os traido-
rastados ao nível dos animais. res dentro dos muros destruíram as
fortalezas do princípio e atraíram
Os Perigos da Amizade com Israel ao poder de Satanás. É assim
os Ímpios que Satanás busca arruinar as pes-
Levando os seguidores de Cristo soas. Um longo processo de pre-
a se associarem com descrentes e se paração, desconhecido ao mundo,
unirem a eles em diversões, Satanás ocorre no coração antes de o cris-
é mais bem-sucedido em induzi-los tão cometer pecado aberto. A mente
ao pecado. Deus exige de Seu povo não desce de uma só vez da pureza
hoje uma distinção tão grande do e santidade para a depravação, cor-
mundo nos costumes, hábitos e rupção e crime. Ao alimentar pensa-
princípios da mesma forma que exi- mentos impuros, o pecado uma vez
giu de Israel no passado. As adver- odiado se torna prazeroso.
tências que fez aos hebreus para não Não podemos andar nas ruas
se misturarem com os descrentes de nossas cidades sem nos depa-
não eram mais explícitas do que as rar com notícias surpreendentes
que proíbem os cristãos de se con- de crimes, apresentadas em algum
formarem ao espírito e costumes romance ou a serem representadas
306 Os Escolhidos
em algum teatro. A atitude dos que cruéis da tentação. A oração de Davi
são imorais e pervertidos é mantida deve ser a súplica de toda pessoa:
diante do povo por meio de jornais e “Cria em mim um coração puro, ó
revistas, e tudo que pode estimular a Deus, e renova dentro de mim um
paixão lhe é apresentado em forma espírito estável” (Sl 51:10).
de histórias empolgantes. Ouvem No entanto, temos uma obra a
tanto sobre o crime e, com tanto in- fazer a fim de resistir à tentação.
teresse se demoram nessas coisas, Aqueles que não querem ser presas
que a consciência fica endurecida. das artimanhas de Satanás devem
Muitas diversões comuns entre guardar bem as avenidas do cora-
aqueles que professam ser cristãos ção; evitar ler, ver ou ouvir qual-
levam aos mesmos resultados da- quer coisa que sugira pensamentos
quelas praticadas pelos pagãos no impuros. Isso exigirá oração fervo-
passado. Por meio do teatro, Satanás rosa e vigilância constante. A in-
tem operado durante séculos para fluência permanente do Espírito
excitar a paixão e exaltar o vício. Ele Santo atrairá a mente para cima e
emprega o teatro, a dança e o jogo levará a pensar em coisas puras e
para abrir a porta à satisfação sen- santas. “Como pode o jovem man-
sual. Em todo ajuntamento por pra- ter pura a sua conduta? Vivendo de
zer em que se alimenta o orgulho ou acordo com a Tua palavra.” “Guardei
se satisfaz o apetite, onde a pessoa é no coração”, diz o salmista, “a Tua
levada a se esquecer de Deus e a per- palavra para não pecar contra Ti”
der de vista os interesses eternos, ali (Sl 119:9, 11).
está Satanás amarrando suas cor- O pecado de Israel em Bete-Peor
rentes ao redor da vítima. trouxe os juízos de Deus sobre a
nação. Os mesmos pecados podem
Como Vencer a Tentação não ser punidos de forma tão ime-
O coração deve ser renovado diata hoje, mas a natureza determi-
pela graça divina. Todo aquele que nou punições terríveis, punições que
busca desenvolver um caráter vir- virão sobre cada transgressor mais
tuoso longe da graça de Cristo está cedo ou mais tarde. Esses pecados,
construindo uma casa sobre a areia mais do que quaisquer outros, têm
movediça. Com certeza, ela será causado a terrível degradação física
destruída em meio às tempestades e moral de nossa raça e o peso da
Balaão Leva Israel a Pecar 307
que toda a comunidade de Israel lhe Senhor fez por vocês no Egito, como
obedeça” (Nm 27:18-20). vocês viram com os seus próprios
Josué, um homem de sabedoria, olhos?” (Dt 4:32-34).
habilidade e fé, foi escolhido para “Mas foi porque o Senhor os
ser o sucessor de Moisés. Ele foi es- amou e por causa do juramento que
colhido de forma muito solene para fez aos seus antepassados. Por isso
ser o líder de Israel. As palavras do Ele os tirou com mão poderosa e os
Senhor a respeito de Josué foram redimiu da terra da escravidão, do
transmitidas por meio de Moisés à poder do faraó, rei do Egito. Saibam,
congregação: “Toda a comunidade portanto, que o Senhor, o seu Deus, é
dos israelitas seguirá suas instru- Deus; Ele é o Deus fiel, que mantém a
ções” (Nm 27:21). aliança e a bondade por mil gerações
Moisés ficou em pé diante do daqueles que O amam e obedecem
povo para dar suas últimas adver- aos Seus mandamentos” (Dt 7:8, 9).
tências e admoestações; seu rosto O povo de Israel muitas vezes
estava iluminado com uma santa se sentiu impaciente e rebelde por
luz. Tinha os cabelos brancos por causa da longa peregrinação pelo
causa da idade, mas o corpo estava deserto, mas essa demora para
ereto e os olhos eram claros e for- tomar posse de Canaã não foi culpa
tes. Com profundo sentimento, des- de Deus. Ele lamentava mais do que
creveu o amor e a misericórdia do eles por não poder levá-los de ime-
Protetor todo-poderoso. diato à Terra Prometida e mostrar
“Perguntem de um lado ao outro Seu grande poder diante de todas
do céu: Já aconteceu algo tão gran- as nações. Por causa de sua falta
dioso ou já se ouviu algo parecido? de confiança em Deus, eles não es-
Que povo ouviu a voz de Deus fa- tavam preparados para entrar em
lando do meio do fogo, como vocês Canaã. Se seus pais tivessem obede-
ouviram, e continua vivo? Ou que cido pela fé às orientações de Deus,
deus decidiu tirar uma nação do seguido Suas instruções, teriam há
meio de outra para lhe perten- muito tempo se estabelecido em
cer, com provas, sinais, maravi- Canaã, como povo próspero, santo
lhas e lutas, com mão poderosa e e feliz. Essa demora desonrou a
braço forte, e com feitos temíveis e Deus e desmereceu a Sua glória à
grandiosos, conforme tudo o que o vista das nações ao redor.
310 Os Escolhidos
Moisés disse: “Eu lhes ensinei “Uma boa terra, cheia de riachos e
decretos e leis, como me ordenou o tanques de água, de fontes que jor-
Senhor, o meu Deus, para que sejam ram nos vales e nas colinas; terra de
cumpridos na terra na qual vocês trigo e cevada, videiras e figueiras,
estão entrando para dela tomar de romãzeiras, azeite de oliva e mel;
posse. Vocês devem obedecer-lhes terra onde não faltará pão e onde
e cumpri-los, pois assim os outros não terão falta de nada; terra onde
povos verão a sabedoria e o discer- as rochas têm ferro e onde vocês
nimento de vocês. Quando eles ou- poderão extrair cobre das colinas.”
virem todos estes decretos dirão: “É uma terra da qual o Senhor, o seu
‘De fato esta grande nação é um Deus, cuida; os olhos do Senhor, o
povo sábio e inteligente’” (Dt 4:5, 6). seu Deus, estão continuamente
Ele desafiou a multidão hebreia: sobre ela, do início ao fim do ano”
“Pois, que grande nação tem um (Dt 11:11; 8:7-9; 11:12).
Deus tão próximo como o Senhor, “O Senhor, o seu Deus, os con-
o nosso Deus, sempre que O invo- duzirá à terra que jurou aos seus
camos?” (Dt 4:7). As leis que Deus antepassados, Abraão, Isaque e
deu ao Seu povo antigo eram mais Jacó, dar a vocês, terra com gran-
sábias, melhores e mais humanas do des e boas cidades que vocês não
que aquelas das nações mais civili- construíram, com casas cheias de
zadas da Terra. As leis de Deus tra- tudo o que há de melhor, de coi-
zem a marca divina. sas que vocês não produziram, com
Essas palavras devem ter co- cisternas que vocês não cavaram,
movido muito o coração dos filhos com vinhas e oliveiras que vocês
de Israel ao se lembrarem de que não plantaram. Quando isso acon-
Moisés, aquele que descrevia as bên- tecer, e vocês comerem e ficarem
çãos da boa terra de forma tão ma- satisfeitos, tenham cuidado! Não
ravilhosa, tinha sido, por causa de esqueçam o Senhor.” “Tenham o
seu pecado, impedido de participar cuidado de não esquecer a aliança
da herança de seu povo: que o Senhor, o seu Deus, fez com
“Mas a terra em que vocês, atra- vocês [...]. Pois o Senhor, o seu Deus,
vessando o Jordão, vão entrar para é Deus zeloso; é fogo consumidor.”
dela tomar posse, é terra de mon- (Dt 6:10-12; 4:23, 24). Se fizessem
tes e vales, que bebe chuva do céu.” mal à vista do Senhor, então, disse
A Lei de Deus a uma Nova Geração 311
A sós, Moisés relembrou sua vida feito uma sábia decisão ao prefe-
de privação e sofrimento desde que rir suportar a aflição junto ao povo
havia deixado as honras da corte e de de Deus em vez de desfrutar por
um reino que poderia ter sido seu no algum tempo os prazeres do pecado.
Egito para arriscar seu futuro ao lado Ao recordar sua experiência,
do povo escolhido de Deus. Ele se uma ação errada manchava o re-
lembrou dos longos anos no deserto gistro. Se aquela transgressão pu-
com os rebanhos de Jetro, o apareci- desse ser apagada, sentia que estaria
mento do Anjo na sarça ardente e o pronto para morrer. A ele foi garan-
chamado para libertar Israel. Viu de tido que o arrependimento e a fé no
novo os grandes milagres do poder Sacrifício prometido eram tudo o
de Deus manifestados em favor do que Deus exigia, e mais uma vez
povo escolhido e Sua paciente mise- Moisés confessou seu pecado e su-
ricórdia durante os anos de peregri- plicou o perdão em nome de Jesus.
nação e rebelião. De todos os adultos Ali, Moisés teve uma vista pa-
do vasto exército que deixou o Egito, norâmica da Terra Prometida – não
apenas dois foram achados dignos de uma vista vaga, incerta e ofuscada
entrar na Terra Prometida. Sua vida pela distância, mas clara, distinta
de provação e sacrifício parecia ter e bela para a sua visão deslum-
sido quase em vão. brada. Naquele cenário, Moisés a
No entanto, sabia ter recebido contemplou não como se encon-
de Deus essa missão e trabalho. trava naquele momento, mas como
Quando foi chamado pela primeira se tornaria com a bênção de Deus.
vez para tirar Israel do cativeiro, ele Havia montanhas revestidas de ce-
teve receio de assumir essa respon- dros, colinas acinzentadas pelos oli-
sabilidade, mas não rejeitou o dever. vais e que exalavam o perfume das
Mesmo na ocasião em que o Senhor vinhas, grandes planícies verdejan-
propôs liberá-lo e destruir o rebelde tes que brilhavam com suas flores
Israel, Moisés não pôde aceitar. Ele e com seus frutos abundantes, pal-
tinha recebido evidências especiais meiras, campos ondulantes de trigo
do favor de Deus; tinha alcançado e cevada, vales ensolarados ao som
uma rica experiência na comunhão melodioso dos riachos e do cântico
com o amor de Deus durante a per- dos pássaros, belas cidades e lindos
manência no deserto. Sentiu ter jardins, lagos ricos “na abundância
316 Os Escolhidos
dos mares”, rebanhos a pastarem nas Seu ministério de amor e simpatia e
colinas e em meio às rochas os te- os milagres que realizaria. Viu-O ser
souros acumulados da abelha silves- rejeitado por uma nação orgulhosa
tre. Era na verdade uma terra como e incrédula. Espantado, ele ouviu a
a que ele, inspirado pelo Espírito de arrogante exaltação da lei de Deus,
Deus, tinha descrito a Israel. ao mesmo tempo em que despreza-
vam e rejeitavam Aquele por quem
Moisés Antevê a História a lei tinha sido dada. Viu Jesus no
de Israel Monte das Oliveiras Se despedindo
Moisés viu o povo escolhido em com lágrimas nos olhos da cidade
Canaã; cada uma das tribos em seu que Ele amava.
respectivo território. Teve uma visão Quando Moisés assistiu a rejei-
de sua história – a longa e triste his- ção final por parte daquele povo
tória de sua apostasia e punição. por quem tinha trabalhado, orado
Viu-os espalhados entre as nações, a e se sacrificado, por quem esteve
glória deixar Israel, sua bela cidade disposto a ter o próprio nome ris-
em ruínas e o povo levado cativo cado do livro da vida, ao ouvir as
para terras estrangeiras. Viu-os de terríveis palavras: “Eis que a casa
volta à terra de sua herança, e por de vocês ficará deserta” (Mt 23:38),
fim trazidos sob o domínio de Roma. seu coração ficou muito angustiado.
Recebeu permissão para ver o Lágrimas de amargura rolaram dos
primeiro advento de nosso Salvador. seus olhos, compartilhando da tris-
Viu Jesus como um bebê em Belém. teza do Filho de Deus.
Ouviu as vozes do coro angelical
entoar o alegre cântico de louvor Moisés Vê a Crucifixão
a Deus e paz na Terra. No céu da e a Terra Renovada
noite, Moisés viu a estrela a guiar Moisés seguiu o Salvador ao
os homens sábios do Oriente até Getsêmani. Viu a agonia no jardim,
Jesus, e uma grande luz lhe inun- a traição, a zombaria e açoites, e a
dou a mente ao recordar as palavras crucifixão. Viu que assim como ele
proféticas: “Uma estrela surgirá mesmo tinha levantado a serpente
de Jacó; um cetro se levantará de de bronze no deserto, o Filho de
Israel” (Nm 24:17). Testemunhou a Deus deveria ser levantado, para
vida humilde de Cristo em Nazaré, “que todo o que nEle crer tenha a
A Morte de Moisés 317
vida eterna” (Jo 3:15). Mágoa, indig- nas terras estrangeiras aceitarem a
nação e horror encheram o coração fé. Ele se alegrou com o crescimento
de Moisés ao testemunhar a hipo- e a prosperidade de Israel.
crisia e ódio satânico da nação ju- Agora outra cena passou diante
daica contra o Redentor. dele. Foi mostrado a Moisés de que
Ouviu o grito de agonia de maneira Satanás levaria os judeus
Cristo: “Meu Deus! Meu Deus! Por a rejeitarem a Cristo enquanto pro-
que Me abandonaste?” (Mc 15:34). fessavam honrar a lei de Seu Pai.
Viu-O deitado no túmulo novo de Agora viu o mundo sob um engano
José. As trevas do desespero pa- semelhante, declarando aceitar a
reciam envolver o mundo. Moisés Cristo enquanto rejeita a lei de Deus.
olhou novamente e viu Jesus sair Ouviu o grito furioso dos sacerdo-
como vencedor e subir ao Céu, es- tes e anciãos: “Fora”, “Crucifica-O,
coltado por anjos em adoração e li- crucifica-O”. Então ouviu dos pro-
derando uma multidão de cativos fessos ensinadores cristãos o pro-
resgatados da sepultura. testo: “Fora com a lei!”
Moisés contemplou os discípu- Viu o sábado ser pisado e ser
los de Jesus ao saírem para levar o substituído por outro dia de ado-
Seu evangelho ao mundo. Apesar de ração. Moisés se encheu de es-
Israel “segundo a carne” ter fracas- panto e horror. Como podiam
sado em ser a luz do mundo, apesar aqueles que confiavam em Cristo
de terem perdido as Suas bênçãos colocar de lado a lei que é o funda-
como povo escolhido, ainda assim mento de Seu governo no Céu e na
Deus não desprezou os filhos de Terra? Com alegria, Moisés viu a lei
Abraão. Todos os que por meio de de Deus ainda honrada e exaltada
Cristo se tornassem filhos da fé se- por uns poucos fiéis. Viu a última
riam contados como descendentes grande luta dos poderes terrestres
de Abraão, herdeiros das promes- para destruir aqueles que guardam
sas da aliança. Assim como Abraão, a lei de Deus. Ouviu Deus proferir,
eles eram chamados para tornar co- de Sua santa habitação, o concerto
nhecidos ao mundo a lei de Deus e o de paz entre Ele e os que guarda-
evangelho de Seu Filho. Moisés viu ram a Sua lei. Contemplou a se-
a luz do evangelho brilhar por meio gunda vinda de Cristo em glória, os
dos discípulos de Jesus e milhares justos mortos ressuscitarem para a
318 Os Escolhidos
vida imortal, e os santos vivos tras- mantido em segredo. Anjos de Deus
ladados sem ver a morte, e juntos enterraram o corpo de Seu servo fiel
subirem com cânticos de alegria e vigiaram o túmulo solitário.
para a cidade de Deus. Ele não deveria ficar por muito
Ainda outra cena se abriu diante tempo no túmulo. O próprio Cristo,
de seus olhos – a Terra livre da com os anjos que sepultaram Moisés,
maldição, mais linda do que a boa desceu do Céu para chamar o santo
Terra da Promessa que havia pouco que dormia. Satanás exultou por ter
lhe tinha sido apresentada. Ali não sido bem-sucedido em levar Moisés
havia pecado, e a morte não podia a pecar e assim se colocar sob o do-
entrar. Com inexplicável alegria, mínio da morte. O grande adversá-
Moisés contemplou a cena, um li- rio declarou que a sentença divina:
vramento ainda mais glorioso do “Porque você é pó, e ao pó voltará”
que jamais poderia imaginar em (Gn 3:19), dava a ele posse dos mor-
suas esperanças mais radiantes. O tos. O poder da sepultura nunca
Israel de Deus finalmente entrava tinha sido quebrado até então, e ele
na boa terra depois que as peregri- reclamava como seus cativos todos
nações terrestres haviam passado os que se achavam no túmulo, para
para sempre. nunca serem libertados.
Sua visão volta à realidade e Ao se aproximarem do túmulo o
seus olhos repousam sobre a terra Príncipe da vida e os seres resplan-
de Canaã ao longe. Então, como decentes, Satanás ficou apreensivo
um guerreiro cansado, ele se deita pelo seu domínio. Ele se levantou
para descansar. “Moisés, o servo para contestar a invasão do terri-
do Senhor, morreu ali, em Moabe, tório que alegava ser seu. Declarou
como o Senhor dissera. Ele o se- que até mesmo Moisés não tinha
pultou em Moabe, no vale que fica sido capaz de guardar a lei de Deus.
diante de Bete-Peor, mas até hoje Moisés havia tomado para si a gló-
ninguém sabe onde está localizado ria devida a Jeová, o mesmo pecado
seu túmulo” (Dt 34:5, 6). Se o povo que fez com que ele fosse banido do
soubesse onde se localizava o seu tú- Céu, e por essa transgressão estava
mulo, muitos teriam corrido perigo sob o seu domínio. O maior dos trai-
de cometer idolatria com o seu corpo dores repetiu as acusações originais
sem vida. Por essa razão, o local foi que fez, que Deus foi injusto com ele.
A Morte de Moisés 319
que leva o Meu nome, no qual vocês dos juízes. O vingador poderia
confiam, o lugar de adoração que dei perseguir o criminoso e matá-lo
a vocês e aos seus antepassados, o onde quer que fosse encontrado.
mesmo que fiz a Siló” (Jr 7:12, 14). O Senhor não aboliu esse costume,
“Quando terminaram de dividir mas tomou providências para ga-
a terra” (Js 19:49), Josué apresen- rantir a segurança daqueles que ti-
tou seu pedido. Ele não pediu um rassem a vida por acidente.
grande território, mas uma sim- As cidades de refúgio poderiam
ples cidade, Timnate-Sera, “a por- ser alcançadas dentro de meio dia
ção que resta”. O conquistador, em de viagem a partir de qualquer
vez de ser o primeiro a escolher os ponto do território. As estradas
despojos conquistados, esperou até que levavam até elas eram manti-
que os mais humildes dentre o povo das sempre em bom estado. Havia
tivessem sido servidos para então placas com a palavra Refúgio em le-
apresentar seu pedido. tras nítidas e legíveis, para que o
fugitivo não se demorasse nem por
Cidades de Refúgio um momento. O assassino deveria
Das cidades destinadas aos le- receber um julgamento justo pelas
vitas, seis foram escolhidas como devidas autoridades e receber a pro-
cidades de refúgio, “para onde po- teção da cidade de refúgio somente
derá fugir quem tiver matado al- se fosse inocente de assassinato in-
guém sem intenção. Elas serão tencional. O culpado era entregue
locais de refúgio [...], a fim de que ao vingador. Após a morte do sumo
alguém acusado de assassinato não sacerdote, porém, todos os que esti-
morra antes de apresentar-se para vessem refugiados nas cidades es-
julgamento perante a comunidade” tavam livres para voltar para casa.
(Nm 35:11, 12). Foi necessário No julgamento por assassinato,
tomar essa misericordiosa provi- o acusado não deveria ser conde-
dência porque a responsabilidade de nado pelo depoimento de apenas
punir o assassino recaía sobre o pa- uma testemunha, mesmo que a evi-
rente mais próximo ou sobre o her- dência da culpa fosse forte. “Quem
deiro imediato da vítima. Nos casos matar uma pessoa terá que ser
em que se provava a culpa, não era executado como assassino me-
preciso esperar pelo julgamento diante depoimento de testemunhas.
344 Os Escolhidos
Mas ninguém será executado me- da lei de Deus. Eles podem fugir
diante o depoimento de apenas uma para lá em busca de segurança con-
testemunha” (Nm 35:30). Foi Cristo tra a segunda morte. Poder algum
quem deu por intermédio de Moisés pode tirar das Suas mãos os que
essas instruções a Israel e, quando nEle buscam perdão.
esteve pessoalmente na Terra como A pessoa que fugia para a cidade
Grande Mestre, Ele repetiu a lição de de refúgio não poderia se demorar.
que o depoimento de uma só pes- Não havia tempo para dizer adeus
soa não deve livrar ou condenar. aos queridos. O cansaço era esque-
A opinião de uma única pessoa não cido, ignoravam-se as dificuldades.
deve resolver questões em debate. O fugitivo não ousava diminuir o
“Qualquer acusação seja confirmada passo até que estivesse seguro den-
pelo depoimento de duas ou três tes- tro dos limites da cidade.
temunhas” (Mt 18:16). A perda de tempo e o descuido
Nenhuma expiação ou resgate poderiam roubar dos fugitivos a sua
poderia livrar uma pessoa que se única chance de vida. Assim, a demora
provou ser culpada. “Não aceitem e a indiferença podem resultar na des-
resgate pela vida de um assassino; truição da vida. Satanás, o grande
ele merece morrer. Certamente adversário, persegue cada transgres-
terá que ser executado.” “Não pro- sor da santa lei de Deus, e todos os
fanem a terra onde vocês estão. que não buscarem abrigo no refúgio
O derramamento de sangue pro- eterno serão presa do destruidor.
fana a terra, e só se pode fazer pro- O prisioneiro que em qualquer
piciação em favor da terra em que se ocasião saísse da cidade de refúgio
derramou sangue, mediante o san- se tornava alvo fácil do vingador do
gue do assassino que o derramou” sangue. Assim, hoje, não basta que
(Nm 35:31, 33). A segurança e pureza os pecadores creiam em Cristo para
da nação exigiam que o pecado de obter o perdão do pecado; pela fé
assassinato fosse punido com rigor. e obediência, eles devem permane-
As cidades de refúgio eram um cer nEle.
símbolo do refúgio provido por
Cristo. Ao derramar o próprio san- Uma Guerra Civil Evitada
gue, o Salvador providenciou um re- Duas tribos, Gade e Rúben,
tiro seguro para os transgressores assim como a metade da tribo de
Enfim, no Lar 345
culto aos deuses deles será uma ar- instruções de Josué, a idolatria não
madilha para vocês” (Êx 23:27-33). avançou tanto, mas os pais prepara-
Deus colocou Seu povo em ram o caminho para a apostasia de
Canaã para deter a onda de imora- seus filhos. Os hábitos simples cul-
lidade, a fim de que esse mal não se tivados pelos hebreus mantinham a
espalhasse pelo mundo. Ele daria sua saúde física, mas o seu relacio-
em suas mãos nações maiores e namento com os pagãos levou-os à
mais poderosas que os cananeus. condescendência com o apetite e às
“E vocês despojarão nações maio- paixões, que pouco a pouco foram
res e mais fortes do que vocês. […] enfraquecendo suas forças morais.
O seu território se estenderá do de- Por causa de seus pecados, os is-
serto do Líbano e do Rio Eufrates raelitas foram separados de Deus e
ao Mar Ocidental” (Dt 11:23, 24). não conseguiram mais vencer seus
Eles preferiram a comodidade e a inimigos. Assim, eles foram domi-
satisfação própria. Deixaram esca- nados pelas próprias nações que de-
par as oportunidades para terminar veriam ter destruído.
de conquistar a terra, e por muitas “Abandonaram o Senhor, o Deus
gerações foram perturbados pelos dos seus antepassados, que os havia
sobreviventes desses povos idóla- tirado do Egito” (Jz 2:12). “Eles O ir-
tras, que eram como “farpas em ritaram com os altares idólatras;
seus olhos e espinhos em suas cos- com os seus ídolos Lhe provocaram
tas” (Nm 33:55). ciúmes”. Portanto, o Senhor “aban-
Os israelitas “misturaram-se donou o tabernáculo de Siló, a tenda
com as nações e imitaram as suas onde habitava entre os homens.
práticas”. Uniram-se em casamento Entregou o símbolo do Seu poder ao
com os cananeus, e a idolatria se es- cativeiro, e o seu esplendor nas mãos
palhou como praga por toda a terra. do adversário” (Sl 78:58, 60, 61).
“Sacrificaram seus filhos e suas fi- Mesmo assim, Deus não desam-
lhas aos demônios. […] E a terra foi parou completamente o Seu povo.
profanada pelo sangue deles. […] Por Houve sempre um grupo de pessoas
isso acendeu-se a ira do Senhor con- que se mantiveram fiéis ao Senhor; e
tra o Seu povo e Ele sentiu aversão de tempos em tempos Ele chamava
por Sua herança” (Sl 106:35, 37-40). homens fiéis e valentes para acabar
Até morrer a geração que recebeu com a idolatria e livrar os israelitas
366 Os Escolhidos
de seus inimigos. Quando o liber- os cereais nos campos começavam
tador morria, e o povo ficava sem a amadurecer e ficavam até que os
ter alguém que os guiasse, pouco a últimos frutos da terra fossem co-
pouco voltavam para os seus ídolos. lhidos. Saqueavam toda a colheita
Assim, a história de apostasias e de dos campos, roubavam e maltrata-
severas punições, de confissões e vam os moradores da terra. Assim,
de livramento, sempre se repetia. os israelitas que moravam em re-
giões abertas eram obrigados a bus-
A Triste História da car refúgio em fortalezas ou mesmo
Contínua Apostasia encontrar abrigo nas cavernas entre
O rei da Mesopotâmia, o rei de as montanhas. Essa opressão con-
Moabe, e depois deles os filisteus e tinuou por sete anos. Então, como
cananeus de Hazor, liderados por o povo em sua angústia confessou
Sísera, tornaram-se um por um os seus pecados, Deus levantou mais
perseguidores de Israel. Otoniel, uma vez um líder para lutar por eles.
Sangar, Eúde, Débora e Baraque Deus chamou a Gideão para
foram levantados como libertado- que libertasse seu povo. Nessa oca-
res de seu povo. Apesar disso, “de sião, ele estava ocupado em sepa-
novo os israelitas fizeram o que o rar o trigo. Com medo de bater o
Senhor reprova, e durante sete anos trigo onde todos o vissem, foi até
Ele os entregou nas mãos dos midia- um local próximo à prensa de vinho.
nitas” (Jz 6:1). A época da colheita das uvas ia de-
Os midianitas tinham sido quase morar, e ninguém ainda estava
destruídos pelos israelitas nos dias dando atenção às vinhas. Enquanto
de Moisés, mas desde aquela época Gideão trabalhava escondido ali,
haviam se tornado mais numero- pensava com tristeza na condição
sos e poderosos. Estavam sedentos de Israel e o que poderia ser feito
por vingança; e, quando a proteção para acabar com a opressão.
do Senhor foi retirada de Israel,
chegou então a oportunidade. Toda O Chamado de Gideão
a nação sofreu com a destruição que Inesperadamente, o “Anjo do
causaram. Como uma praga de ga- Senhor” apareceu e disse a Gideão
fanhotos, eles se espalharam por estas palavras: “O Senhor está com
toda a região. Chegavam assim que você, poderoso guerreiro” (Jz 6:12).
Os Libertadores de Israel 367
voltar para casa. Mais uma vez, a pa- O exército israelita estava no
lavra do Senhor veio a ele: “Ainda há topo de uma colina, observando
gente demais. Desça com eles à beira o vale onde os invasores estavam
d’água, e Eu separarei os que ficarão acampados, “numerosos como nu-
com você. Se Eu disser: ‘Este irá com vens de gafanhotos. Assim como
você, ele irá; mas, se Eu disser: Este não se pode contar a areia da praia,
não irá com você, ele não irá” (Jz 7:4). também não se podia contar os seus
O povo foi levado para perto da camelos” (Jz 7:12). Gideão tremeu
água, esperando atacar o inimigo o ao pensar no combate que acon-
mais rápido possível. Alguns, apres- teceria na manhã seguinte. Então
sados, pegaram um pouco de água o Senhor disse a ele para que des-
na mão e a beberam enquanto anda- cesse ao acampamento dos midia-
vam; mas quase todos se ajoelharam nitas. Lá, ele ouviria alguma coisa
e vagarosamente beberam a água. para ficar mais animado.
Aqueles que tomaram água com as Aguardando ali, na escuridão e
mãos eram apenas trezentos entre em silêncio, ele ouviu um soldado
os dez mil. Esses foram os escolhi- contar um sonho ao seu compa-
dos; todos os demais receberam per- nheiro: “‘Tive um sonho’, dizia ele.
missão para voltar para casa. ‘Um pão de cevada vinha rolando
Aqueles que estavam mais dentro do acampamento midianita,
preocupados em atender às pró- e atingiu a tenda com tanta força que
prias necessidades em tempos de ela tombou e se desmontou’” (Jz 7:13).
perigo não eram homens em quem O outro respondeu com palavras que
se poderia confiar em uma emer- mexeram com o coração do ouvinte
gência. Os trezentos homens esco- escondido: “Não pode ser outra coisa
lhidos, além de possuírem coragem senão a espada de Gideão, filho de
e domínio próprio, eram também Joás, o israelita. Deus entregou os mi-
homens de fé. Eles não se contami- dianitas e todo o acampamento nas
naram com a idolatria. Deus po- mãos dele” (Jz 12:14).
deria dirigi-los e, por meio deles, Gideão reconheceu a voz de
realizar o livramento de Israel. Deus Deus falando por meio daqueles
é mais honrado pelo caráter daque- estrangeiros midianitas. Ao vol-
les que O servem do que por gran- tar até onde estavam os poucos ho-
des números. mens sob seu comando, ele disse:
370 Os Escolhidos
“Levantem-se! O Senhor entregou o companheiros com os inimigos, co-
acampamento midianita nas mãos meçaram a matar uns aos outros.
de vocês” (Jz 7:15). Ao se espalhar a notícia da vitó-
ria, milhares de soldados israelitas
Plano Simples para que haviam voltado para casa retor-
o Combate naram e se uniram em perseguição
Com a orientação de Deus, foi feito ao inimigo que fugia. Gideão enviou
um plano de ataque. Os trezentos ho- mensageiros à tribo de Efraim pe-
mens foram divididos em três com- dindo que interceptassem os solda-
panhias. Cada um deles recebeu uma dos que fugiam. Enquanto isso, com
trombeta e uma tocha que deveria seus trezentos, exaustos, mas ainda
ficar escondida dentro de um jarro em perseguição, Gideão atravessou o
de barro. Eles ficaram posicionados rio atrás daqueles que já tinham pas-
de tal maneira que poderiam se apro- sado para a outra margem. Gideão
ximar do acampamento midianita de surpreendeu Zeba e Salmuna, os
várias direções. No meio da noite, ao dois príncipes que tinham escapado
sinal da trombeta de guerra de Gi- com quinze mil homens. Ele disper-
deão, as três companhias tocaram sou o exército por completo e os lí-
suas trombetas. Então, quebrando deres foram capturados e mortos.
os jarros e balançando as tochas ace- Nessa batalha, morreram cento
sas, correram na direção do inimigo e vinte mil invasores. O poder dos
com o poderoso grito de guerra: “Pelo midianitas foi quebrado. Eles nunca
Senhor e por Gideão!” (Jz 7:18). mais conseguiram fazer guerra
O exército que dormia desper- contra Israel. Não há palavras que
tou. De todos os lados, os soldados possam descrever o terror das na-
viram a luz das tochas brilhando no ções vizinhas quando souberam
escuro. Ouviram o som das trom- que meios simples foram utilizados
betas com o grito de guerra vindo para vencer o poder de um povo ou-
de todas as direções. Pensando que sado e guerreiro.
estavam sendo atacados por uma O líder que Deus escolheu para
força esmagadora, os midianitas derrotar os midianitas não era um
entraram em pânico. Com gritos príncipe, um sacerdote ou levita.
ferozes de alarme, fugiram deses- Ele se considerava o menos impor-
perados e, confundindo os próprios tante da casa de seu pai. Gideão não
Os Libertadores de Israel 371
confiava em si mesmo e tinha o de- tinha ficado para trás. Gideão não
sejo de seguir a direção do Senhor. enviou a eles nenhuma convoca-
Deus escolhe aqueles a quem ção especial, e tomaram isso como
Ele melhor pode usar. “A humil- uma desculpa para não se unirem
dade antecede a honra” (Pv 15:33). aos seus irmãos. Ao chegar a notí-
O Senhor os tornará fortes, unindo cia da vitória de Israel aos efraimi-
sua fraqueza ao Seu poder; e sábios, tas, eles ficaram cheios de inveja por
ligando sua falta de conhecimento não terem participado.
à Sua sabedoria. Após a extraordinária der-
Poucos são os que podem rece- rota dos midianitas, os homens de
ber uma grande responsabilidade Efraim se juntaram ao combate e
ou sucesso sem que acabem se es- ajudaram a completar a vitória. No
quecendo de sua dependência de entanto, ficaram com inveja e muito
Deus. Por isso, ao escolher instru- irados, como se Gideão tivesse se-
mentos para a Sua obra, o Senhor guido a própria vontade e decisão.
não leva em conta aqueles que o Eles não conseguiram ver a mão de
mundo considera grandes, talen- Deus na vitória de Israel, demons-
tosos e brilhantes. Muitos são or- trando com isso que eram indignos
gulhosos e sentem-se capazes para de ser escolhidos como Seus ins-
agir sem o conselho de Deus. trumentos especiais. Ao voltarem
A confiança em Deus e a obediên- com os troféus da vitória, repreen-
cia à Sua vontade são tão essenciais deram Gideão com grande ira: “Por
na batalha espiritual quanto foram que você nos tratou dessa forma?
para Gideão e Josué ao lutarem con- Por que não nos chamou quando foi
tra os cananeus. Deus está disposto a lutar contra Midiã?” (Jz 8:1).
agir da mesma forma hoje pelos inte-
resses de Seu povo e a realizar gran- Gideão Demonstra
des coisas por meio de instrumentos Humildade
frágeis. Deus é “capaz de fazer infini- “Que é que eu fiz, em comparação
tamente mais do que tudo o que pe- com vocês?”, disse Gideão. “O resto
dimos ou pensamos” (Ef 3:20). das uvas de Efraim não são melho-
Quando os homens de Israel res do que toda a colheita de Abiezer?
foram convocados para lutar con- Deus entregou os líderes midianitas
tra os midianitas, a tribo de Efraim Orebe e Zeebe nas mãos de vocês.
372 Os Escolhidos
O que pude fazer não se compara anjo apareceu, Gideão concluiu que
com o que vocês fizeram!” (Jz 8:2, 3). tinha sido indicado como sacer-
A resposta humilde de Gideão acal- dote. Sem esperar pela aprovação
mou a ira dos homens de Efraim, divina, decidiu instituir um sistema
e eles voltaram em paz para casa. de culto semelhante ao que era rea-
Gideão demonstrou um espírito de lizado no tabernáculo. Com o forte
cortesia que raramente é visto. sentimento popular a seu favor, ele
Em gratidão pelo livramento dos não encontrou dificuldade em exe-
midianitas, o povo de Israel propôs cutar seu plano. Diante do seu pe-
a Gideão que se tornasse seu rei. Isso dido, todas as joias de ouro tomadas
era uma transgressão direta dos dos midianitas foram entregues a
princípios da teocracia. Deus era o Gideão como sua participação no
Rei de Israel, e colocar um homem despojo. O povo juntou também ou-
no trono seria uma rejeição da so- tros materiais valiosos e vestes rica-
berania divina. Gideão reconheceu mente adornadas que pertenciam
esse fato. Sua resposta revela quão aos príncipes de Midiã. Com esses
verdadeiros e nobres eram os seus materiais, Gideão fez um éfode e
motivos: “‘Não reinarei sobre vocês’, um peitoral semelhante àqueles que
respondeu-lhes Gideão, ‘nem meu eram usados pelo sumo sacerdote.
filho reinará sobre vocês. O Senhor Sua atitude se tornou uma cilada
reinará sobre vocês’” (Jz 8:23). para ele mesmo, para sua família e
Mesmo assim, Gideão caiu em também para Israel. Aquele culto
outro erro que trouxe desgraça à não autorizado levou muitas pes-
sua família e a todo o Israel. Muitas soas a se afastarem do Senhor para
vezes, o período de inatividade que servir aos ídolos. Depois da morte
vem após uma grande batalha é de Gideão, um grande número de
mais perigoso do que o tempo de pessoas, incluindo alguns da família
conflito. Gideão estava exposto a do próprio Gideão, uniram-se a essa
esse perigo. Um sentimento de in- forma de apostasia. O povo se des-
quietação caiu sobre ele. Em vez de viou de Deus por meio do mesmo
esperar pela orientação divina, co- homem que uma vez acabou com
meçou ele mesmo a fazer os planos. a idolatria.
Como recebeu ordem para ofere- Aqueles que ocupam cargos im-
cer sacrifício sobre a rocha, onde o portantes podem levar outros a
Os Libertadores de Israel 373
eles; não podia defendê-los da ira o Céu providenciou para a nossa re-
de um Deus santo. De todos os pe- denção, pois estão “crucificando de
cadores, os mais culpados são aque- novo o Filho de Deus, sujeitando-O
les que menosprezam os meios que à desonra pública” (Hb 6:6).
57
*
Castigo à Vista
D eus deixou de Se co-
municar com o sumo
sacerdote Eli e seus filhos. A pre-
me chamou?” Eli respondeu: “Não
o chamei; volte e deite-se” (1Sm 3:5).
Por três vezes Samuel foi chamado
sença do Espírito Santo Se afastou e três vezes ele respondeu da mesma
deles por causa dos pecados que ha- forma. Então Eli compreendeu que
viam cometido. Todavia, o menino o misterioso chamado era a voz de
Samuel continuou fiel a Deus, e sua Deus. O Senhor deixara de falar com
primeira missão como profeta do o servo que Ele tinha escolhido, o
Senhor foi comunicar a mensagem homem de cabelos brancos, para falar
de reprovação à família de Eli. com uma criança. Apenas isso, por si
“Certa noite, Eli, cujos olhos es- só, já era uma amarga, mas merecida
tavam ficando tão fracos que já não repreensão a Eli e a sua família.
conseguia mais enxergar, estava Nem a inveja e nem o ciúme
deitado em seu lugar de costume. abalaram o coração de Eli. Disse
A lâmpada de Deus ainda não havia a Samuel que respondesse: “Fala,
se apagado, e Samuel estava deitado Senhor, pois o Teu servo está ou-
no santuário do Senhor, onde se en- vindo” (1Sm 3:9).
contrava a arca de Deus. Então o Samuel ouviu novamente a voz
Senhor chamou Samuel” (1Sm 3:2-4). e respondeu: “Fala, pois o Teu servo
Pensando ser a voz de Eli, o me- está ouvindo” (1Sm 3:10).
nino correu até a cama do sacerdote “E o Senhor disse a Samuel: ‘Vou
e lhe disse: “Estou aqui; o senhor realizar em Israel algo que fará tinir
* Este capítulo é baseado em 1 Samuel 3-7.
Castigo à Vista 393
para com os mandamentos e entris- até Eli, que estava ao lado do taber-
teceram o Espírito do Senhor, que Se náculo. O mensageiro foi até onde
retirou do meio deles. Quando o povo ele estava e disse: “Israel fugiu dos
deixou de fazer a vontade de Deus, filisteus, e houve uma grande ma-
não mais obedecendo à Sua lei, con- tança entre os soldados. Também
forme Ele revelou, a arca se tornou os seus dois filhos, Hofni e Fineias,
pouco mais que uma caixa comum estão mortos, e a arca de Deus foi to-
para eles. Olhavam para a arca como mada” (1Sm 4:17). Eli podia supor-
as nações idólatras olhavam para tar tudo, por mais terrível que fosse,
seus deuses. Transgrediram a lei que pois esperava que isso acontecesse.
estava guardada dentro dela, pois a No entanto, quando o mensageiro
sua adoração à arca os levou à falsi- acrescentou: “e a arca de Deus foi to-
dade e à idolatria. mada”, uma expressão de extrema
angústia tomou conta de seu rosto.
Notícias Trágicas e a Morte O pensamento de que o seu pecado
de Eli tinha desonrado a Deus e feito com
Quando o exército saiu para a que Ele retirasse a Sua presença de
batalha, Eli ficou em Siló. Ele aguar- Israel foi mais do que ele podia su-
dava com grande preocupação o re- portar. Eli caiu para trás, “quebrou o
sultado do conflito, “pois em seu pescoço e morreu” (1Sm 4:18).
coração temia pela arca de Deus” A esposa de Fineias era fiel ao
(1Sm 4:13). Dia após dia, ele ficava Senhor. A morte de seu sogro e de
assentado do lado de fora do portão seu esposo, e, acima de tudo, a notí-
do tabernáculo, ao lado da estrada, cia de que a arca de Deus havia sido
esperando ansiosamente a chegada tomada, provocaram a sua morte
do mensageiro que traria notícias também. Ela sentiu que a última
do campo de batalha. esperança de Israel tinha desapa-
Finalmente um homem da tribo recido. Deu o nome de Icabode, ou
de Benjamim, “com as roupas rasga- “Inglório”, ao filho que nasceu nessa
das e terra na cabeça” (1Sm 4:12), hora de tanto sofrimento. Já quase
correu até a cidade e repetiu as no- morrendo, ela repetia com tris-
tícias da derrota para a multidão teza as palavras: “‘A glória se foi de
que aguardava impaciente. Os gri- Israel!’ porque a arca de Deus foi to-
tos de choro e de tristeza chegaram mada” (1Sm 4:21).
396 Os Escolhidos
Apesar de tudo, o Senhor não era semelhante a um homem e a
rejeitou Seu povo completamente e de baixo parecia um peixe. Todas
usou a arca para castigar os filisteus. as partes que se pareciam com o
A presença divina, embora invisí- homem tinham sido quebradas, fi-
vel, acompanharia a arca para ater- cando inteiro só o corpo do peixe. Os
rorizar e destruir os transgressores sacerdotes e o povo ficaram horrori-
da Sua santa lei. Os maus poderiam zados; acharam que isso era um mau
vencer por algum tempo, enquanto sinal, anunciando a destruição que
viam Israel ser castigado, mas viria viria sobre eles e seus ídolos, diante
o tempo em que eles também de- do Deus dos hebreus. Tiraram a arca
veriam enfrentar a condenação de do templo e a colocaram em outro
um Deus santo, que odeia o pecado. local, onde permaneceria sozinha.
Os moradores de Asdode foram
Deuses Pagãos não Resistem atingidos por uma doença muito do-
à Arca de Deus lorosa e mortal. Quando se lembra-
Comemorando sua vitória, os fi- ram das pragas que caíram no Egito,
listeus levaram a arca para Asdode disseram que era porque a arca es-
e a deixaram no templo do deus tava entre eles e por isso estavam
Dagom. Eles imaginavam que o sofrendo tanto. Decidiram então
poder que acompanhava a arca pas- levar a arca para Gate, mas a praga
saria para eles e que, unido ao poder foi para lá também. Então os mo-
de Dagom, seria impossível serem radores da cidade a enviaram para
derrotados. Ecrom. Nesse lugar, o povo a recebeu
Quando entraram no templo no aterrorizado e gritando: “Eles trou-
dia seguinte, viram uma cena que xeram a arca do Deus de Israel para
os deixou aterrorizados. Dagom es- cá a fim de matar a nós e a nosso
tava caído diante da arca do Senhor. povo” (1Sm 5:10). A obra do destrui-
Os sacerdotes ergueram o ídolo com dor continuou até que “o clamor da
toda a reverência e o colocaram de cidade subiu até o Céu” (1Sm 5:12).
volta no lugar. Como estavam com medo de
Na manhã seguinte, porém, eles ficar com a arca por mais tempo
o encontraram quebrado, de forma perto de suas casas, o povo a co-
muito estranha, caído diante da locou em um campo aberto. Uma
arca. A parte de cima desse ídolo praga de ratos invadiu a terra e
Castigo à Vista 397
destruiu toda a colheita nos campos praga atingiu vocês e todos os seus
e nos celeiros. Completa destruição governantes” (1Sm 6:4).
ameaçava toda a nação. Aqueles homens sábios reco-
A arca ficou na terra dos filis- nheciam que um poder misterioso
teus por sete meses. Os israelitas acompanhava a arca, mas não acon-
não fizeram esforço algum para re- selharam o povo a abandonar a ido-
cuperá-la, mas os filisteus estavam latria para servir ao Senhor. Eles
ansiosos para se livrar dela. Em vez ainda odiavam o Deus de Israel, em-
de ser uma fonte de poder, ela se bora os juízos que o Senhor tinha
tornou um pesadelo e uma grande lhes enviado os obrigassem a se sub-
maldição para eles. Os filisteus meter à Sua autoridade. Essa forma
não sabiam o que fazer com a arca. de submissão não salva o pecador.
O povo apelou aos líderes da nação, Devemos entregar o coração a Deus
sacerdotes e adivinhos e pergun- – ele deve ser dominado pela graça
tou: “O que faremos com a arca do divina – para que Deus aceite o
Senhor? Digam-nos com o que deve- nosso arrependimento.
mos mandá-la de volta a seu lugar.” Como é grande a paciência de
Eles foram aconselhados a devolvê- Deus para com os pecadores! Mi-
la juntamente com uma oferta de lhares de bênçãos, que nem mesmo
grande valor. “Então”, disseram os foram notadas, caíram no caminho
sacerdotes, “vocês serão curados” de pessoas ingratas e rebeldes. Ao
(1Sm 6:2, 3). se recusarem a ouvir a voz de Deus
por meio das obras que Ele criou e
A Arca é Enviada pelos avisos e conselhos de Sua Pa-
a Bete-Semes lavra, Ele foi forçado a falar a elas
Por causa de uma superstição por meio de Seus juízos.
bastante comum que existia entre Os sacerdotes e adivinhos insis-
eles, os líderes filisteus recomen- tiram com o povo para que não fi-
daram ao povo que fizesse imita- zessem como Faraó e os egípcios e
ções das pragas que os afligiam acabassem trazendo maiores sofri-
– “cinco tumores de ouro e cinco mentos sobre eles. Esses líderes reli-
ratos de ouro, de acordo com o nú- giosos apresentaram um plano que
mero de governantes filisteus, por- foi aceito por todos. A arca e os ob-
quanto”, eles disseram, “a mesma jetos feitos de ouro, que eles tinham
398 Os Escolhidos
enviado como oferta para reparar a cortaram a madeira da carroça e
culpa, foram colocados em um carro ofereceram as vacas como holo-
novo, para evitar qualquer perigo de causto ao Senhor” (1Sm 6:13, 14).
contaminação. Duas vacas com cria Os filisteus seguiram a arca “até a
que nunca tinham usado o jugo foram fronteira de Bete-Semes” (1Sm 6:12)
amarradas ao carro. Os bezerros fica- e viram como foi recebida. A praga
ram presos no curral e eles soltaram cessou e eles se convenceram de que
as vacas para irem pelo caminho que as calamidades que caíram sobre
desejassem. Se a arca fosse devolvida eles haviam sido castigos enviados
aos israelitas dessa maneira, pelo ca- pelo Deus de Israel.
minho de Bete-Semes, a cidade que
ficava mais próxima dos levitas, os Pior que os Filisteus
filisteus aceitariam isso como prova O povo de Bete-Semes espalhou
de que o Deus de Israel teria causado rapidamente a notícia de que a arca
esse grande mal a eles. “Mas, se ela estava com eles, e muitos morado-
não for”, eles disseram, “então sabe- res das regiões ao redor se reuniram
remos que não foi a Sua mão que nos para celebrar sua volta. Eles ofere-
atingiu e que isso aconteceu conosco ceram sacrifícios e, se os adorado-
por acaso” (1Sm 6:9). res tivessem se arrependido de seus
Quando as vacas foram soltas, pecados, Deus os teria abençoado.
elas largaram seus bezerros e se di- Embora comemorassem a volta da
rigiram para a estrada que levava arca como sendo um bom sinal,
direto a Bete-Semes. Mesmo não não tinham a verdadeira noção
sendo guiados por mãos huma- de sua santidade. Permitiram que
nas, os animais seguiram por esse ela ficasse no campo de colheita.
caminho. A presença divina acom- Como ficavam olhando a todo ins-
panhou a arca com segurança até o tante para a arca sagrada, começa-
lugar exato a que ela deveria chegar. ram a imaginar de onde poderia vir
Os homens de Bete-Semes esta- o poder especial que ela possuía. Por
vam fazendo a colheita no vale “e, fim, não suportando mais a curiosi-
quando viram a arca, alegraram-se dade, eles removeram os tecidos que
muito. A carroça chegou ao campo a cobriam e se aventuraram a abri-la.
de Josué, de Bete-Semes, e ali parou Israel tinha sido ensinado a olhar
ao lado de uma grande rocha. Então para a arca com respeito e reverência.
Castigo à Vista 399
Somente uma vez ao ano o sumo sa- cumprissem. Todo o Israel, desde Dã
cerdote tinha permissão para olhar até Berseba, reconhecia que Samuel
para a arca de Deus. Mesmo os filis- estava confirmado como profeta do
teus, que eram pagãos, não se atreve- Senhor” (1Sm 3:19, 20).
ram a remover sua cobertura. Anjos Samuel visitou as cidades e al-
do Céu, invisíveis aos olhos huma- deias em todo o país, pois esperava
nos, sempre a acompanhavam em que o povo convertesse o seu cora-
todas as suas viagens. A ousadia e a ção ao Deus de seus pais, e seus es-
irreverência do povo de Bete-Semes forços trouxeram bons resultados.
foi imediatamente castigada. Muitos Depois de sofrer com a opressão de
morreram na hora. seus inimigos por vinte anos, todo
Esse castigo não levou aqueles o povo de Israel “buscava ao Senhor
que sobreviveram a se arrepender com súplicas”. Samuel os aconselhou:
de seu pecado, mas apenas a olhar “Se vocês querem voltar-se para o
para a arca com medo e supersti- Senhor de todo o coração, livrem-se
ção. Ansiosos para ficar livres da então dos deuses estrangeiros e das
presença da arca, os moradores de imagens de Astarote, consagrem-se
Bete-Semes enviaram uma mensa- ao Senhor e prestem culto somente
gem ao povo de Quiriate-Jearim, a Ele” (1Sm 7:2, 3). A religião prática
pedindo que a levassem embora. era ensinada nos dias de Samuel da
O povo desse lugar recebeu a arca mesma maneira que Cristo ensinou
sagrada com muita alegria e a co- mais tarde quando esteve na Terra.
locou na casa de Abinadabe, um le- O arrependimento é o primeiro
vita. Esse homem escolheu seu filho passo que todos aqueles que dese-
Eleazar para cuidar dela, e nesse jam voltar para Deus devem dar.
lugar ela ficou por muitos anos. Devemos nos humilhar diante de
Toda a nação reconheceu o cha- Deus e jogar fora todos os nossos
mado de Samuel para ser profeta. Ele ídolos. Quando fizermos tudo o que
provou sua fidelidade ao transmitir pudermos, o Senhor nos mostrará a
fielmente os avisos divinos à famí- Sua salvação.
lia de Eli, por mais doloroso e difí-
cil que esse dever tenha sido para Samuel se Torna Juiz
ele. “O Senhor estava com ele e fazia Uma grande assembleia foi rea-
com que todas as suas palavras se lizada em Mispá, e ali eles fizeram
400 Os Escolhidos
um jejum solene. Com profunda de esperança. Quando viram
humildade de coração, o povo con- que seus inimigos estavam mor-
fessou seus pecados e concedeu a tos, compreenderam que Deus os
Samuel a autoridade de juiz. tinha perdoado. Embora não esti-
Os filisteus acharam que essa vessem preparados para a batalha,
reunião era um conselho de guerra e eles pegaram as armas dos filisteus
decidiram fazer com que os israelitas mortos e perseguiram o restante
se dispersassem antes que seus pla- do exército que estava fugindo.
nos chegassem a se concretizar. As Os israelitas ganharam essa vitó-
notícias da aproximação dos filisteus ria no mesmo campo onde vinte
causaram grande terror em Israel. anos antes tinham sido derrotados
O povo suplicou a Samuel: “Não pelos filisteus, quando os sacerdo-
pares de clamar por nós ao Senhor, tes foram mortos e a arca de Deus
o nosso Deus, para que nos salve das foi tomada. Os filisteus foram der-
mãos dos filisteus” (1Sm 7:8). rotados tão completamente que
Enquanto Samuel oferecia um entregaram todas as fortalezas que
cordeiro em sacrifício, os filisteus tinham tomado de Israel e evita-
se aproximavam cada vez mais para ram entrar em conflito com eles
a batalha. Então o Senhor todo-po- por muitos anos. Outras nações
deroso, que tinha dividido o Mar seguiram o exemplo dos filisteus,
Vermelho e aberto o caminho para e assim os israelitas desfrutaram
Israel passar através do Jordão, re- paz até o fim do governo de Samuel
velou Seu poder novamente. Uma como juiz.
terrível tempestade caiu sobre o Para que eles nunca mais se es-
exército que avançava, e aquela quecessem desses acontecimentos,
terra ficou coberta de corpos dos Samuel ergueu uma grande pedra
poderosos guerreiros, espalhados como lembrança. Ele lhe deu o nome
por toda a parte. de Ebenézer, “a pedra da ajuda”, e
Os israelitas ficaram com disse ao povo: “Até aqui o Senhor
muito medo, mas estavam cheios nos ajudou” (1Sm 7:12).
58
As Escolas dos Profetas
D eus ordenou que os he-
breus contassem aos fi-
lhos a maneira como Ele cuidou de
Timóteo aprendeu com sua avó Loide
e sua mãe Eunice (2Tm 1:5; 3:15).
As escolas dos profetas ofere-
seus antepassados. Deveriam sempre ciam mais recursos para a instrução
falar de Suas poderosas obras e da dos jovens. Se um deles desejasse se
promessa da vinda de um Redentor. aprofundar mais na verdade para
As ilustrações e símbolos fixavam se tornar mestre em Israel, essas es-
as lições na memória de maneira colas estavam abertas para ele. Sa-
que não fossem esquecidas. A mente muel fundou as escolas dos profetas
ainda jovem era ensinada a ver Deus para servir de barreira contra a cor-
nas cenas da natureza e nas palavras rupção que se espalhava por toda
da revelação. As estrelas, as árvores e a parte, proporcionar bem-estar
as flores, as montanhas, os riachos, moral e espiritual aos jovens e pro-
tudo falava do Criador. O culto no mover a prosperidade da nação com
santuário e as mensagens dos profe- líderes e conselheiros qualificados.
tas eram a revelação de Deus. Ele reuniu jovens que eram consa-
Essa foi a educação recebida por grados, inteligentes e estudiosos.
Moisés na terra de Gósen, a que Esses eram chamados de filhos dos
Samuel recebeu de sua mãe Ana, de profetas. Os instrutores possuíam
Davi, em Belém, de Daniel antes grande conhecimento das verdades
de ser separado de seus pais pelo ca- divinas e muitos deles tinham des-
tiveiro, de Cristo em Nazaré. Foi por frutado a comunhão com Deus e re-
meio dessa educação que o menino cebido o Seu Espírito.
402 Os Escolhidos
Nos dias de Samuel existiam apresentadas pelos símbolos do
duas dessas escolas – em Ramá e em santuário eram trazidas à mente e,
Quiriate-Jearim. As outras foram pela fé, eles podiam compreender o
fundadas algum tempo depois. objetivo central de todo aquele sis-
Os alunos se mantinham cul- tema cerimonial – o Cordeiro de
tivando o solo ou fazendo algum Deus que tira o pecado do mundo.
trabalho manual. Em Israel era con- Os alunos eram ensinados não
siderado um crime permitir que as somente a orar, mas também a se
crianças crescessem sem conhe- aproximar de seu Criador, ter fé
cer a importância do trabalho útil. nEle e a entender e obedecer aos
Toda criança aprendia alguma pro- ensinos de Seu Espírito. A presença
fissão, mesmo se ela tivesse que ser do Espírito de Deus era constante-
educada para exercer a função sa- mente revelada por meio da profe-
grada no santuário. Muitos mestres cia e do cântico sagrado.
religiosos se mantinham com um
trabalho manual. Muito tempo de- O Edificante Ensino
pois, no tempo dos apóstolos, Paulo da Música
e Áquila também ganharam o sus- A música foi feita para dirigir
tento fazendo tendas. os pensamentos para tudo o que é
A lei de Deus, a história sagrada, puro e nobre, e despertar a devo-
a música sagrada e a poesia eram ção e a gratidão a Deus. Quantos
as principais matérias estudadas hoje usam esse dom para a exalta-
nessas escolas. O método de en- ção própria em vez de glorificar a
sino era diferente do que é ensi- Deus! Dessa forma, o amor à música
nado hoje nas escolas de Teologia, se torna uma das ferramentas mais
onde muitos alunos se formam co- poderosas de Satanás para desviar a
nhecendo menos sobre Deus e as mente do dever e das coisas eternas.
verdades religiosas do que quando A música faz parte da adoração a
entram. Nessas escolas, o objetivo Deus nas cortes do Céu, e em nossos
de todo estudo era aprender sobre cânticos de louvor devemos tentar
a vontade de Deus e o dever do nos aproximar o máximo possí-
homem para com Ele. Na história vel da harmonia do coro celestial.
sagrada os alunos seguiam as pe- Cantar se torna um ato de adoração
gadas de Deus. Grandes verdades tanto quanto a oração. O coração
As Escolas dos Profetas 403
autoridade. O Senhor deseja o me- por Aquele que sabe o que é me-
lhor para os Seus filhos e não pede lhor para nós.
que abandonem coisa alguma que Podemos aprender muito ao es-
seja para o bem deles. tudar tanto a educação física como
A ideia de que a religião não pro- a religiosa que era praticada nas es-
move a saúde ou a felicidade é um colas dos hebreus. Há uma íntima
dos erros mais perigosos. A Bíblia relação entre a mente e o corpo.
nos diz: “O temor do Senhor con- Para alcançar um padrão moral e
duz à vida: quem O teme pode des- intelectual elevado, devemos obe-
cansar em paz, livre de problemas” decer às leis que governam o nosso
(Pv 19:23). As palavras de sabedoria corpo físico.
“são vida para quem as encontra e Assim como foi nos dias do povo
saúde para todo o seu ser” (Pv 4:22). de Israel, hoje também todo jovem
A verdadeira religião nos leva a deve aprender e se dedicar a alguma
viver em harmonia com as leis de forma de trabalho manual. Moços e
Deus: física, mental e moral. Ela moças deveriam aprender a traba-
nos ensina o domínio próprio, a se- lhar, mesmo se eles tivessem a cer-
renidade, a temperança. A religião teza de que nunca necessitariam
enobrece a mente, refina o gosto recorrer ao trabalho manual para
e santifica a capacidade de julga- se sustentarem. Sem o exercício fí-
mento. A fé no amor de Deus e a sico, ninguém pode ter boa saúde.
confiança de que Ele dirige todas A disciplina de um trabalho reali-
as coisas alivia a carga gerada pela zado regularmente é essencial para
ansiedade e pelos cuidados da vida. manter a mente ativa e forte, como
Enche o coração de alegria e de feli- também um caráter nobre.
cidade, não importando se a pessoa Todo estudante deveria dedicar
é rica ou pobre. A religião colabora uma parte de cada dia para realizar
para promover a saúde, prolongar a um trabalho físico. Isso protegeria
vida e aumentar a alegria que des- os jovens de muitos males e práti-
frutamos em todas as suas bênçãos. cas degradantes que normalmente
Ela abre diante de nós uma fonte de são o resultado de viver na preguiça,
felicidade que nunca se acaba. Não sem ter o que fazer. E essa é uma ati-
há alegria verdadeira que possa ser tude que está de acordo com o obje-
encontrada no caminho proibido tivo principal da educação.
406 Os Escolhidos
Se os jovens pudessem sen- Sua graça, devem estabelecer seus
tir a bondade e o amor que o Pai alvos bem mais elevados do que os
do Céu tem por eles, a dignidade meros interesses terrenos e egoís-
e honra que deseja lhes conceder tas – tão altos quanto o Céu é mais
– a ponto de se tornarem filhos e alto que a Terra.
filhas de Deus – milhares se afas- A educação iniciada nesta vida
tariam decididamente dos objetivos continuará na vida futura. “Olho
egoístas e dos prazeres que atraí- nenhum viu, ouvido nenhum ouviu,
ram a sua atenção até o momento. mente nenhuma imaginou o que
Eles aprenderiam a odiar o pecado, Deus preparou para aqueles que O
não para receber uma recompensa amam” (1Co 2:9). Na vida futura,
ou por medo do castigo, mas pelo seremos completamente felizes e
sentimento de ser algo verdadeira- abençoados. Somente a eternidade
mente mau. pode revelar o futuro glorioso que
Deus não pede aos jovens que homens e mulheres restaurados à
deixem de ter suas aspirações. Por imagem de Deus podem alcançar.
59
*
O Primeiro Rei
I srael tinha um sistema de
governo que era adminis-
trado em nome de Deus. O traba-
O povo adotou muitos costumes de
seus vizinhos pagãos e não deram
mais valor ao privilégio que ti-
lho de Moisés, dos setenta anciãos, nham de ser o povo escolhido de
dos príncipes e juízes era simples- Deus. Foram atraídos pela pompa
mente garantir que as leis dadas por e luxo dos reis pagãos e se cansa-
Deus fossem cumpridas. Eles não ti- ram da simplicidade de seu governo.
nham autoridade para criar novas A inveja se espalhou entre as tribos.
leis. Essa foi a condição para que As brigas internas enfraqueceram a
Israel existisse como nação. nação. Tinham que enfrentar cons-
O Senhor sabia que Israel um tantemente as invasões de seus ini-
dia desejaria ter um rei, mas não migos pagãos, e o povo passou a crer
mudou os princípios sobre os quais que as tribos deveriam estar uni-
a nação foi fundada. O rei deveria das sob um forte governo central.
ser um representante do Altíssimo Queriam se libertar do governo de
e Deus era o líder da nação (ver seu Soberano divino. O pedido para
Apêndice, Nota 7). que fossem governados por um rei
No início, quando os israelitas se espalhou por todo o Israel.
se estabeleceram em Canaã, a nação Durante a administração de
prosperou sob o governo de Josué. Samuel a nação havia prosperado,
Entretanto, a interação com ou- a ordem tinha sido restaurada, a re-
tras nações causou uma mudança. ligiosidade promovida e o espírito
* Este capítulo é baseado em 1 Samuel 8-12.
408 Os Escolhidos
de descontentamento afastado por queixa contra Samuel. Todos re-
algum tempo. Quando ficou mais conheciam que ele tinha gover-
velho, o profeta indicou seus dois nado com honestidade e sabedoria.
filhos para trabalharem como seus O idoso profeta não fez nenhuma
auxiliares. Os moços ficaram em censura, mas levou o caso ao
Berseba como juízes entre o povo Senhor, em oração, e buscou o con-
que morava próximo à fronteira, no selho dEle somente.
sul do país.
Os dois mostraram não ser dig- O Senhor Adverte Israel
nos, pois “se tornaram gananciosos, O Senhor disse a Samuel: “Atenda
aceitavam suborno e perverteram a a tudo o que o povo está lhe pedindo;
justiça” (1Sm 8:3). Eles não procura- não foi a você que rejeitaram; foi a
ram imitar a vida pura e altruísta de Mim que rejeitaram como rei. Assim
seu pai. Ele foi, até certo ponto, bas- como fizeram comigo desde o dia em
tante tolerante com seus filhos e o que os tirei do Egito, até hoje, aban-
resultado foi visto de forma clara donando-Me e prestando culto a ou-
no caráter que revelavam. tros deuses, também estão fazendo
Isso deu ao povo um motivo com você” (1Sm 8:7, 8).
para insistir na mudança que fazia O tempo de maior prosperidade
muito tempo desejavam em se- de Israel foi quando o povo reconhe-
gredo. “Por isso, todas as auto- ceu o Senhor como seu Rei, quando
ridades de Israel reuniram-se e acreditaram que as leis e o governo
foram falar com Samuel em Ramá. que Ele estabeleceu eram superiores
E disseram-lhe: ‘Tu já estás idoso, e aos de outras nações. Ao se afasta-
teus filhos não andam em teus ca- rem da lei de Deus, os hebreus dei-
minhos; escolhe agora um rei para xaram de ser o povo que o Senhor
que nos lidere, à semelhança das ou- desejava fazer deles. Então culpa-
tras nações” (1Sm 8:4, 5). Se Samuel ram o governo de Deus por todos
soubesse da má conduta de seus fi- os males que resultaram das coisas
lhos, ele os teria removido imediata- erradas que fizeram.
mente, mas não era isso que o povo O Senhor permitiu que o povo
queria. Samuel viu que o verdadeiro fizesse o que escolheu, pois se
motivo era o descontentamento e recusou a ser guiado por Seu con-
o orgulho. Não fizeram nenhuma selho. Quando as pessoas decidem
O Primeiro Rei 409
seguir seu próprio caminho, Ele mui- tudo isso, o rei exigiria um dízimo
tas vezes concede o que desejam para de toda a renda, dos lucros de seu
que possam compreender o quanto trabalho ou dos produtos do solo,
estavam erradas. Qualquer desejo “e vocês se tornarão escravos dele”,
do coração que seja contrário à von- concluiu o profeta. “Vocês clama-
tade de Deus acabará se tornando rão, […] e o Senhor não os ouvirá”
em maldição em vez de bênção. (1Sm 8:11-18). Depois que a monar-
Deus orientou Samuel para que quia fosse estabelecida, eles não po-
atendesse ao pedido do povo, mas deriam depor seu governo quando
deveria adverti-los de que o Senhor bem entendessem.
não aprovava a ideia e dizer a eles
também qual seria o resultado O Povo Rejeita a Deus
dessa escolha. Ele apresentou fiel- como Rei
mente diante do povo os encar- O povo deu então a resposta:
gos que o rei colocaria sobre eles “Não! Queremos ter um rei. Seremos
e o contraste entre essa forma de como todas as outras nações; um rei
opressão e a liberdade e prosperi- nos governará, e sairá à nossa frente
dade que possuíam. O rei imitaria para combater em nossas batalhas”
a vida de pompa e luxo de outros (1Sm 8:19, 20).
monarcas. Seria necessária a arreca- “Como as outras nações.” Ser di-
dação de impostos caros sobre suas ferente das outras nações nesse sen-
propriedades. O rei exigiria para seu tido era um privilégio. Deus havia
serviço os melhores moços dentre o separado os israelitas de todos os
povo. Eles se tornariam cocheiros, outros povos para fazer deles Seu
cavaleiros e mensageiros para irem tesouro especial. Mesmo assim,
à frente dele. Deveriam encher as eles desejavam imitar os pagãos!
fileiras de seu exército e ele exigi- Quando aqueles que afirmam ser o
ria que cultivassem seus campos, fi- povo de Deus se afastam do Senhor,
zessem suas colheitas e fabricassem seu maior desejo é alcançar as hon-
instrumentos de guerra para o seu ras do mundo. Muitos insistem em
serviço. Para manter o palácio real, que, ao se unirem com as pessoas
ele exigiria o melhor de suas terras. do mundo e viverem de acordo com
Ele tomaria “para servi-lo” os melho- os seus costumes, podem exercer
res servos e o melhor gado. Além de maior influência sobre os descrentes.
410 Os Escolhidos
Todos aqueles que seguem esse cami- libertasse da opressão de seus ini-
nho separam-se da Fonte de sua força. migos, mas continuavam prati-
Ao fazerem amizade com o mundo, cando os mesmos pecados que os
passam a ser inimigos de Deus. levavam a ser dominados por eles.
Samuel ouviu o povo com pro- Se Cristo tivesse aceitado e elo-
funda tristeza. O Senhor disse a ele: giado a demonstração de religiosi-
“Dê-lhes um rei” (1Sm 8:22). O pro- dade dessas pessoas, elas O teriam
feta apresentou fielmente a adver- aceitado como seu rei, mas não su-
tência, e eles a rejeitaram. Com dor portavam as repreensões destemi-
no coração, ele se retirou para prepa- das que Ele fazia sobre seus hábitos
rar a grande mudança no governo. errados. Tem sido assim em todas as
A vida de pureza e devoção de épocas no mundo. Quando são re-
Samuel, sem qualquer forma de preendidos pelo exemplo daqueles
egoísmo, foi uma repreensão tanto que odeiam o pecado, os falsos cris-
para os sacerdotes que só pensa- tãos se tornam agentes de Satanás
vam neles mesmos, como para a para perseguir os fiéis.
congregação de Israel, orgulhosa e Deus decidiu que Ele mesmo es-
imoral. O trabalho realizado por colheria o rei de Israel. O escolhido
Samuel tinha a aprovação do Céu. foi Saul, filho de Quis, da tribo de
Ele foi honrado pelo Redentor do Benjamim.
mundo, e sob Sua direção governou “Sem igual entre os israelitas”
a nação hebreia. O povo, cansado de (1Sm 9:2). Como uma pessoa de
sua religiosidade, desprezou sua hu- porte nobre e digno, alto e de boa
milde autoridade e o rejeitou para aparência, dava a impressão de que
dar lugar a um homem que os go- tinha nascido para governar. Saul
vernasse como rei. não possuía nenhuma das altas
Podemos ver, no caráter de qualidades que constituem a verda-
Samuel, uma semelhança com o deira sabedoria. Não tinha apren-
caráter de Cristo. Foi a santidade dido a dominar seus impetuosos
de Cristo que provocou contra Ele impulsos. Nunca havia sentido o
os sentimentos e as atitudes mais poder renovador da graça divina.
cruéis por parte de pessoas falsas Saul era filho de um chefe rico,
que se diziam fiéis a Deus. Os judeus mas realizava os trabalhos humildes
esperavam por um Messias que os de um lavrador. Certa vez, quando
O Primeiro Rei 411
vida tivera sempre um único obje- ao Senhor, o teu Deus, em favor dos
tivo – a glória de Deus e o maior teus servos, para que não morra-
bem de Israel. mos, pois a todos os nossos peca-
Por causa do seu pecado, Israel dos acrescentamos o mal de pedir
havia perdido a fé em Deus e a con- um rei” (1Sm 12:19).
vicção que tinham de Seu poder e Samuel não deixou o povo desa-
sabedoria para governar a nação – nimado, pois isso os teria impedido
perderam a confiança em Sua habili- de fazer qualquer esforço para viver
dade para manter Sua causa. Antes de uma vida melhor. Se vissem a Deus
conseguir encontrar a verdadeira paz, como um Deus severo e não como
deveriam reconhecer e confessar o pe- um Deus perdoador estariam ex-
cado do qual se tornaram culpados. postos a muitas tentações. “Não te-
Samuel descreveu novamente nham medo”, foi a mensagem dada
toda a história de Israel, desde o por Deus por meio de Seu servo. “De
dia em que Deus os tirou do Egito. fato, vocês fizeram todo esse mal.
O Rei dos reis havia lutado por eles Contudo, não deixem de seguir o
em todas as suas batalhas. Muitas Senhor, mas sirvam o Senhor de
vezes, os pecados dos israelitas ti- todo o coração. Não se desviem, […]
nham mantido o povo sob o poder o Senhor não os rejeitará, pois o
de seus inimigos; mas, assim que se Senhor teve prazer em torná-los
desviavam de seus maus caminhos, o Seu próprio povo” (1Sm 12:20-22).
a misericórdia de Deus levantava um Samuel não disse nenhuma pa-
libertador. O Senhor enviou Gideão lavra de reprovação pela ingratidão
e Baraque, “e Jefté e Samuel e os li- com que Israel pagou sua longa vida
bertou das mãos dos inimigos que os de dedicação. Ao contrário, confirmou
rodeavam, de modo que vocês vive- o seu incansável interesse por eles.
ram em segurança”. Quando estavam “E longe de mim esteja pecar contra
ameaçados de perigo declararam: o Senhor, deixando de orar por
“‘Não! Escolha um rei para nós’, em- vocês. Também lhes ensinarei o ca-
bora o Senhor fosse o Rei”, disse o minho que é bom e direito. Somente
profeta (1Sm 12:11, 12). temam ao Senhor e sirvam-nO fiel-
Em humilhação, o povo confes- mente de todo o coração; e conside-
sou o seu pecado, o próprio pecado rem as grandes coisas que Ele tem
do qual tinham sido culpados. “Ora feito por vocês” (1Sm 12:23, 24).
60
*
O Terrível Erro de Saul
D epois da assembleia
realizada em Gilgal,
Saul dispensou o exército que havia
em tempo de paz, os hebreus ainda
se submetiam a fazer esse traba-
lho para as tropas dos filisteus.
convocado para derrotar os amo- Desmotivados pelo longo período
nitas. Esse foi um grave erro. Seu de opressão, acabaram se acomo-
exército estava cheio de esperança dando. Assim, os homens de Israel,
e coragem por causa da recente vi- em grande parte, não se preocupa-
tória. Se ele tivesse continuado a ba- ram em providenciar para eles as
talha contra os outros inimigos de armas de guerra. Os israelitas po-
Israel imediatamente, poderia ter deriam obter arcos e funda, mas ne-
promovido um ataque poderoso em nhum deles possuía lança ou espada,
favor da liberdade da nação. somente Saul e seu filho Jônatas.
Enquanto isso, os filisteus esta- Somente no segundo ano do rei-
vam ativos. Eles tomaram posse de nado de Saul foi feita uma tentativa
algumas fortalezas nas colinas em para dominar os filisteus. O primeiro
Israel e depois se instalaram bem ataque foi comandado por Jônatas,
no centro do país. Durante o longo que venceu as primeiras tropas dos
período de opressão, os filisteus filisteus em Geba. Enfurecidos, os
procuraram se fortalecer proibindo inimigos se prepararam para um ata-
os israelitas de trabalhar como fer- que imediato a Israel. Saul declarou
reiros, assim não poderiam fazer guerra pelo som da trombeta e con-
armas de guerra. Depois, mesmo vocou todos os homens de guerra da
* Este capítulo é baseado em 1 Samuel 13 e 14.
O Terrível Erro de Saul 417
de Deus provaram que ele não era encontrar com o rei que desobede-
digno de confiança para reinar cia constantemente às ordens divi-
como representante do Senhor. nas. Samuel ainda tinha a esperança
Enquanto Saul e seu exército mar- de que Saul se arrependesse e Deus
chavam de volta para Israel des- o aceitasse novamente. Humilhado
frutando as emoções da vitória, por sua desobediência, Saul foi se
havia grande angústia na casa de encontrar com Samuel com a men-
Samuel. Ele recebeu uma mensa- tira na ponta dos lábios: “O Senhor
gem do Senhor: “Arrependo-Me de te abençoe! Eu segui as instruções
ter posto Saul como rei, pois ele Me do Senhor” (1Sm 15:13).
abandonou e não seguiu as Minhas Quando o profeta lhe fez dire-
instruções” (1Sm 15:11). O profeta tamente a pergunta: “Então que
chorou e orou a noite toda pedindo balido de ovelhas é esse que ouço
que a sentença fosse retirada. com meus próprios ouvidos? Que
O arrependimento de Deus mugido de bois é esse que estou
não é como o arrependimento hu- ouvindo?” Saul respondeu: “Os sol-
mano. O arrependimento humano dados os trouxeram dos amalequi-
significa uma mudança de atitude. tas; eles pouparam o melhor das
O arrependimento de Deus envolve ovelhas e dos bois para sacrifica-
uma mudança das circunstâncias rem ao Senhor, o teu Deus, mas
e das relações. As pessoas podem destruímos totalmente o restante”
mudar sua relação com Deus cum- (1Sm 15:14, 15). Para se defender,
prindo as condições para receber o Saul estava disposto a culpar o povo
favor divino, ou podem ser coloca- pelo pecado da desobediência que
das fora de Sua graça por causa dos ele mesmo havia cometido.
atos que elas mesmas praticam. A mensagem da rejeição de Saul
A desobediência de Saul mudou foi transmitida a todo o exército
seu relacionamento com Deus, mas de Israel quando ainda estavam
as condições de aceitação da parte cheios de orgulho pela vitória que
de Deus não mudaram. Ele “não era atribuída ao heroísmo e à lide-
muda como sombras inconstantes” rança de seu rei como grande ge-
(Tg 1:17). neral, pois Saul não deu nenhum
Com muita tristeza, o profeta crédito a Deus pelo êxito de Israel
saiu na manhã seguinte para se nesse combate. Quando o profeta
426 Os Escolhidos
viu a prova da rebelião de Saul, se Pois a rebeldia é como o pecado da
encheu de indignação por Saul ter feitiçaria, e a arrogância como o mal
levado Israel ao pecado. Com um da idolatria. Assim como você rejei-
sentimento de tristeza e ira ao tou a palavra do Senhor, Ele o rejeitou
mesmo tempo, disse a Saul: “Fique como rei” (1Sm 15:22, 23).
quieto! Eu lhe direi o que o Senhor “Pequei”, Saul exclamou, ao ouvir
me falou esta noite. […] Embora essa terrível sentença. “Violei a ordem
pequeno aos seus próprios olhos, do Senhor e as instruções que tu me
você não se tornou líder das tribos deste. Tive medo dos soldados e os
de Israel? O Senhor o ungiu como atendi” (1Sm 15:24). Atemorizado,
rei sobre Israel” (1Sm 15:16, 17). Saul reconheceu sua culpa, mas con-
Ele repetiu a ordem do Senhor para tinuou culpando seus soldados.
destruir Amaleque e perguntou a Não foi a tristeza pelo pecado,
razão da desobediência do rei. mas o medo do castigo que levou
o rei de Israel a suplicar: “Agora im-
Saul Comprova sua Rebelião ploro, perdoa o meu pecado e volta
Saul continuava se justificando: comigo, para que eu adore o Senhor”
“Mas eu obedeci ao Senhor! Cumpri (1Sm 15:25). Se o arrependimento
a missão que o Senhor me designou. de Saul fosse verdadeiro, ele teria
Trouxe Agague, o rei dos amalequi- confessado seu pecado publica-
tas, mas exterminei os amalequitas. mente; mas a sua principal preo-
Os soldados tomaram ovelhas e bois cupação era manter sua autoridade
do despojo, o melhor do que estava e a fidelidade do povo. Ele desejava
consagrado a Deus para destruição, ter a honra da presença de Samuel
a fim de os sacrificarem ao Senhor para fortalecer sua influência.
seu Deus, em Gilgal” (1Sm 15:20, 21). “Não voltarei com você”, foi a
Com palavras solenes, o profeta resposta do profeta. “Você rejeitou
pronunciou a sentença irrevogá- a palavra do Senhor, e o Senhor
vel: “Acaso tem o Senhor tanto pra- o rejeitou como rei de Israel!”
zer em holocaustos e em sacrifícios (1Sm 15:26). Quando Samuel se
quanto em que se obedeça à Sua virou para sair, o rei, na angústia
palavra? A obediência é melhor do do medo, agarrou-se ao manto do
que o sacrifício, e a submissão é me- profeta para fazê-lo voltar, mas o
lhor do que a gordura de carneiros. manto se rasgou nas mãos dele.
Saul é Rejeitado 427
No caso de Saul, Deus deu a Israel seguir a vontade divina, mas a pró-
um rei de acordo com a vontade pria vontade. Portanto, Deus deu a
deles, conforme declarou o próprio eles o rei que desejavam – um rei
profeta Samuel: “Agora, aqui está que tinha um caráter que era o re-
o rei que vocês escolheram, aquele flexo deles mesmos.
que vocês pediram” (1Sm 12:13). Se Saul tivesse confiado em
Sua aparência física também es- Deus, o Senhor estaria com ele.
tava de acordo com o que pensa- Quando Saul escolheu agir sozinho,
vam a respeito da dignidade real. sem depender de Deus, o Senhor foi
Sua bravura e habilidade para li- obrigado a deixá-lo de lado. Então
derar os exércitos eram as quali- Ele chamou para ocupar o trono
dades que consideravam como as “um homem segundo o Seu cora-
mais prováveis para garantir o res- ção” (1Sm 13:14) – um homem que
peito de outras nações. Eles não pe- confiaria em Deus e seria guiado
diram um rei que tivesse nobreza por Seu Espírito; um homem que,
de caráter, que amasse e temesse quando pecasse, aceitaria a repreen-
a Deus. Não estavam procurando são e a correção.
62
*
Davi é Ungido Rei
N o vigor da adolescên-
cia, Davi cuidava de
seus rebanhos enquanto pastavam
tremendo de medo, e perguntaram:
‘Vens em paz?’ Respondeu Samuel:
‘Sim, venho em paz” (1Sm 16:1, 3-5).
nas colinas ao redor de Belém. O As autoridades aceitaram o convite
simples pastorzinho cantava as can- para o sacrifício, e Samuel chamou
ções compostas por ele mesmo e a Jessé e seus filhos. Toda a família
música de sua harpa acompanhava de Jessé estava presente, menos
suavemente a bela melodia de sua Davi, o filho mais novo, que ficou
voz juvenil. O Senhor estava prepa- cuidando das ovelhas.
rando Davi para a tarefa que dese- Antes de participarem do ban-
java lhe confiar alguns anos depois. quete de sacrifício, Samuel começou
“O Senhor disse a Samuel: ‘Até a fazer a inspeção profética dos fi-
quando você irá se entristecer por lhos de Jessé, todos de aparência
causa de Saul? Eu o rejeitei como rei nobre e bela. Eliabe era o mais velho
de Israel. Encha um chifre com óleo e o que mais se parecia com Saul, por
e vá a Belém; Eu o enviarei a Jessé. sua altura e beleza. Quando Samuel
Escolhi um de seus filhos para fazê-lo olhou para as suas formas de ver-
rei. […] Você irá ungir para Mim dadeiro príncipe, pensou: “Com cer-
aquele que Eu indicar.’ Samuel fez teza é este que o Senhor quer ungir”
o que o Senhor disse. Quando che- (1Sm 16:6), e aguardou a permissão
gou a Belém, as autoridades da ci- divina para ungi-lo.
dade foram encontrar-se com ele, Eliabe não temia ao Senhor.
* Este capítulo é baseado em 1 Samuel 16:1-13.
Davi é Ungido Rei 431
cantava: “Saul matou milhares”, en- sua vontade. Depois desses ataques
quanto o outro respondia: “E Davi, de loucura, caía em um estado de
dezenas de milhares” (1Sm 18:6, 7). desânimo e depressão, e o remorso
O rei ficou furioso porque Davi foi tomava conta de sua mente.
mais exaltado do que ele. Em vez de Ele gostava muito de ouvir Davi
dominar os sentimentos de inveja, tocar a harpa, e isso parecia afas-
ele exclamou: “Atribuíram a Davi de- tar o mau espírito por algum tempo.
zenas de milhares, mas a mim ape- Um dia, enquanto Davi estava to-
nas milhares. O que mais lhe falta cando uma música suave e cantando
senão o reino?” (1Sm 18:8). louvores a Deus, Saul, de repente,
O desejo de Saul pela exaltação atirou uma lança contra ele. Deus
pessoal era um sentimento que con- poupou a vida de Davi, e ele conse-
trolava todas as suas ações e pensa- guiu fugir do rei enfurecido.
mentos. Ele avaliava o que era certo Cada vez mais aumentava o ódio
ou errado de acordo com a aceita- de Saul contra Davi, e o rei ficava
ção popular. A ambição de Saul era atento a qualquer oportunidade
ser sempre o primeiro entre os mais para tirar sua vida, mas nenhum
queridos pelo povo. Tinha certeza de seus planos contra o ungido do
de que Davi queria conquistar o co- Senhor deu certo. Davi confiava
ração do povo e assumir o trono. nAquele que é poderoso para livrar.
“O temor do Senhor é o princípio da
A Inveja Entra no Coração sabedoria” (Pv 9:10), e a oração de
de Saul Davi era que pudesse andar de ma-
Saul permitiu que o pecado da neira perfeita diante de Deus.
inveja entrasse em seu coração e Em pouco tempo, o povo percebeu
envenenasse toda a sua vida. O rei que Davi era uma pessoa competente.
de Israel estava colocando a sua Administrava os negócios sob sua res-
vontade contra a vontade do Ser ponsabilidade com sabedoria e habi-
Infinito. Permitiu que as emoções lidade. Os conselhos dados por ele
controlassem suas decisões até podiam ser seguidos com segurança,
ser totalmente dominado pela ira. enquanto muitas vezes as decisões de
Tinha acessos de raiva, momentos Saul não eram confiáveis.
em que estava pronto para matar Saul tinha medo de Davi, pois
qualquer um que ousasse se opor à todos viam que o Senhor estava
440 Os Escolhidos
com ele. O rei sentia que a vida de “O plano de Saul era que Davi fosse
Davi era uma constante repreensão morto pelos filisteus” (1Sm 18:25),
para ele. Em contraste, ele mesmo mas Davi retornou vitorioso da ba-
revelava ter um caráter inferior. talha para se tornar genro do rei.
A inveja tornava a vida de Saul mi- “Mical o amava”, porém o rei estava
serável e infeliz. Que grande dano muito irado porque tinha mais cer-
esse mau traço de caráter tem cau- teza ainda de que esse era o homem
sado em nosso mundo! A inveja é que o Senhor dissera ser melhor
fruto do orgulho e, se ficar guar- do que ele e que reinaria em seu
dada no coração, dará lugar ao ódio lugar. Não conseguindo mais escon-
e, finalmente, levará ao assassinato. der seus sentimentos, o rei ordenou
O rei estava atento, esperando aos seus oficiais que tirassem a vida
encontrar algum motivo que ser- daquele a quem tanto odiava.
visse de desculpa para tirar a vida Jônatas disse mais uma vez ao
de Davi e não parecer culpado rei tudo o que Davi tinha feito para
diante da nação pelo mau ato co- manter a honra e a vida da nação,
metido. Ele armou uma cilada para e a culpa terrível que cairia sobre
Davi, insistindo para que este lide- qualquer um que assassinasse
rasse a guerra contra os filisteus aquele que Deus tinha usado para
com maior intensidade ainda, e dispersar seus inimigos. A consciên-
prometeu a filha mais velha da fa- cia do rei foi tocada e ele disse: “Juro
mília real em casamento, como re- pelo nome do Senhor que Davi não
compensa. A humilde resposta de será morto” (1Sm 19:6). Davi voltou
Davi a essa proposta foi: “Quem sou a trabalhar para Saul e o serviu di-
eu, e o que é minha família ou o clã retamente como antes.
de meu pai em Israel, para que eu
me torne genro do rei?” (1Sm 18:18). Davi Lidera o Exército
Entretanto, o rei revelou sua falta de à Vitória
sinceridade fazendo com que a prin- Mais uma vez a nação declarou
cesa se casasse com outro. guerra aos filisteus, e Davi liderou
Mical, a filha mais nova de Saul, o exército contra os inimigos. Os
foi oferecida a Davi com a condição hebreus conseguiram uma grande
de que apresentasse provas de ter vitória, e o povo fez grandes elo-
matado certo número de inimigos. gios à sabedoria e ao heroísmo de
A Fuga de Davi 441
apelou em favor de seu amigo: “Por sido enviado pelo rei em uma mis-
que ele deve morrer? O que ele fez?” são secreta.
(1Sm 20:32). Isso o enfureceu. Com
uma ira satânica, Saul atirou contra Fé Abalada
o próprio filho a lança que desejava Nessa situação, Davi demons-
usar para matar Davi. trou falta de fé em Deus, e seu pe-
O príncipe ficou muito triste e cado resultou na morte do sumo
ofendido. Saiu da presença de seu sacerdote. Se ele tivesse falado a ver-
pai e foi ao local combinado, onde dade, Aimeleque saberia o que fazer
Davi deveria saber das intenções para poupar sua vida. Deus ordena
do rei para com ele. Eles choraram que Seu povo fale a verdade, mesmo
amargamente. Essa tenebrosa ob- diante do maior perigo.
sessão do rei lançou uma sombra Doegue, chefe dos pastores de
sobre os jovens, e a dor que sen- Saul, estava cumprindo seus votos
tiam era intensa demais para que no templo. Quando viu esse homem,
pudesse ser expressa. As últimas pa- Davi decidiu encontrar outro lugar
lavras de Jônatas a Davi, quando em que pudesse se esconder. Pediu
se separaram, foi: “Vá em paz, pois uma espada para Aimeleque, mas
temos jurado um ao outro, em ele lhe disse que não tinha nada, a
nome do Senhor, quando dissemos: não ser a espada de Golias, que era
‘O Senhor para sempre é testemu- guardada como relíquia no taber-
nha entre nós e entre nossos des- náculo. Davi respondeu: “Não há
cendentes’” (1Sm 20:42). outra melhor; dê-me essa espada”
Davi se apressou para chegar a (1Sm 21:9).
Nobe. O tabernáculo tinha sido le- Davi fugiu dali e foi procurar
vado de Siló para esse local, e ali Aquis, rei de Gate, pois achou que
Aimeleque ministrava como sa- estaria mais seguro entre os ini-
cerdote. Ele olhou surpreso para migos de seu povo do que nas ter-
Davi, que chegou correndo e que ras dominadas por Saul. Disseram
parecia estar sozinho. Perguntou a Aquis que Davi era o homem que
então o que o havia levado até ali. havia matado o maior guerreiro fi-
Desesperado e com medo de ser listeu poucos anos antes. Davi, que
descoberto, Davi recorreu ao en- procurava um lugar seguro entre
gano. Disse ao sacerdote que tinha os inimigos de Israel, corria grande
444 Os Escolhidos
perigo. Então, fingindo estar louco, A família de Davi não se sentia se-
ele enganou os inimigos e conse- gura sabendo que a qualquer mo-
guiu escapar. mento as suspeitas injustas de Saul
O primeiro erro de Davi foi não poderiam se voltar contra eles por
confiar em Deus quando estava em causa de sua relação com Davi. Eles
Nobe, e o seu segundo erro foi en- agora sabiam que tinham se tornado
ganar Aquis. No momento em que conhecidos em todo o Israel, e que
teve que enfrentar provações, sua Deus tinha escolhido Davi como o
fé foi abalada, e a fraqueza humana futuro rei de Seu povo. Acreditavam
veio à tona. Para ele, todo mundo que estariam mais seguros com ele.
parecia ser um espião ou traidor. Na caverna de Adulão, a família
Ao ser caçado e perseguido, a dúvida estava unida em harmonia e amor.
e a angústia quase o fizeram perder O filho de Jessé podia agora com-
de vista seu Pai celestial. por suas melodias e tocar sua harpa.
Todo fracasso dos filhos de Deus Tinha provado a amarga tristeza da
ocorre por causa de sua falta de fé. desconfiança por parte de seus ir-
Quando as sombras nos envolvem, mãos, e a harmonia que tomou o
devemos olhar para cima; há luz lugar dessa discórdia trouxe ale-
além da escuridão. Davi não deve- gria ao coração daquele que se sen-
ria ter perdido a confiança em Deus. tia exilado em sua terra.
Ele era o ungido do Senhor. Se dei- Muitos tinham perdido a con-
xasse de pensar na situação difícil fiança no rei que governava Israel,
em que se encontrava e meditasse pois podiam ver que não era mais
no poder e na majestade de Deus, dirigido pelo Espírito do Senhor.
teria encontrado paz mesmo em “Também se juntaram a ele todos
meio às sombras da morte. os que estavam em dificuldades, os
Davi buscou abrigo e segurança endividados e os descontentes; e ele
nas montanhas de Judá. Fugiu para se tornou o líder deles. Havia cerca
a caverna de Adulão, um local em que de quatrocentos homens com ele”
com poucos homens poderia se de- (1Sm 22:2). Ali, Davi era dono de um
fender até mesmo de um grande exér- pequeno reino, comandado por ele,
cito. “Quando seus irmãos e a família onde a ordem e a disciplina preva-
de seu pai souberam disso, foram leciam. Estava longe de se sentir se-
até lá para encontrá-lo” (1Sm 22:1). guro, pois sempre tinha provas de
A Fuga de Davi 445
forte com o Céu que parecia ligar Davi e seus homens precisavam de
todo o Israel ao trono de Jeová. mantimentos, e o filho de Jessé en-
Samuel tinha lhes ensinado a amar viou dez jovens para falar com Nabal,
e a obedecer a Deus, mas agora es- instruindo-os a cumprimentá-lo em
tava morto. O povo sentiu estar nome de seu mestre: “Muita paz
abandonado à vontade de um rei para o senhor e sua família! E muita
ligado a Satanás e que os separaria prosperidade para tudo o que é seu!
de Deus e do Céu. Sei que você está tosquiando suas
Davi sabia que a morte de ovelhas. Quando os seus pastores
Samuel tinha quebrado outra bar- estavam conosco, nós não os mal-
reira que impedia as ações de Saul. tratamos, e durante todo o tempo
Ele se sentiu menos seguro do que em que estiveram em Carmelo [não
quando o profeta vivia. Então fugiu o Monte Carmelo, mas um lugar no
para o deserto de Parã. Com o pen- território de Judá] não se perdeu
samento de que o profeta estava nada que fosse deles. Pergunte a eles,
morto e de que o rei era seu inimigo, e eles lhe dirão. [...] Por favor, dê a nós,
cantou, naquelas regiões solitárias: seus servos, e a seu filho Davi o que
puder” (1Sm 25:6-8).
“O seu protetor se manterá alerta, Quando esse homem rico rece-
sim, o protetor de Israel não beu o pedido para separar parte de
dormirá; [...]. sua fartura para socorrer às neces-
O Senhor protegerá a sua saída e sidades dos homens que lhe pres-
a sua chegada, desde agora e taram um serviço tão valioso, a
para sempre” (Salmo 121:3-8). resposta de Nabal revelou seu ca-
ráter: “Quem é Davi? Quem é esse
O Fazendeiro Mesquinho filho de Jessé? Hoje em dia muitos
Davi e seus homens protege- servos estão fugindo de seus senho-
ram os rebanhos de um homem res. Por que deveria eu pegar meu
rico chamado Nabal. Esse homem pão e minha água, e a carne do gado
tinha muitas posses em Parã. Nabal que abati para meus tosquiadores,
era mal-humorado e tinha um cará- e dá-los a homens que vêm não se
ter mesquinho. sabe de onde?” (1Sm 25:10, 11).
Estava na época de tosar as ove- Davi ficou furioso. Ele decidiu
lhas, um período de hospitalidade. castigar o homem que negou o que
450 Os Escolhidos
era seu direito e não apenas o havia “O Senhor certamente fará um
prejudicado, mas insultado. Esse ato reino duradouro para ti, que travas
impulsivo se parecia mais com o ca- os combates do Senhor. E em toda a
ráter de Saul do que com o de Davi. tua vida, nenhuma culpa se ache em
O filho de Jessé ainda tinha que ti” (1Sm 25:28). Abigail quis dizer
aprender a ser paciente. que Davi deveria lutar nos comba-
tes do Senhor; ele não deveria bus-
A Sábia Esposa de Nabal car vingança por prejuízos pessoais,
Sem consultar o marido, Abigail mesmo que fosse perseguido como
preparou um grande suprimento um traidor. Continuou: “Quando o
de comida e o enviou sem demora Senhor tiver feito a meu senhor todo
aos cuidados dos servos. Enquanto o bem que prometeu e te tiver no-
isso, ela mesma se colocou a cami- meado líder sobre Israel, meu senhor
nho para se encontrar com Davi. não terá no coração o peso de ter
Quando Abigail viu Davi, “desceu derramado sangue desnecessaria-
depressa do jumento e prostrou- mente, nem de ter feito justiça com
se perante Davi, rosto em terra. tuas próprias mãos” (1Sm 25:30, 31).
Ela caiu a seus pés e disse: ‘Meu Como o perfume de uma flor, a
senhor, a culpa é toda minha. Por bondade de Abigail se revelou em seu
favor, permite que tua serva te rosto, palavra e ação. O Espírito de
fale; ouve o que ela tem a dizer’” Deus habitava em seu coração. Suas
(1Sm 25:23, 24). Abigail falou com palavras, temperadas com graça, car-
Davi com tanto respeito que pare- regavam a influência celestial. Davi
cia que estava falando com um rei tremeu ao refletir nas suas inten-
em seu trono. Com palavras bondo- ções precipitadas. “Bem-aventurados
sas, tentou acalmar a raiva que Davi os pacificadores, pois serão cha-
sentia. Cheia da sabedoria e do amor mados filhos de Deus” (Mt 5:9).
de Deus, deixou claro que a atitude Quem dera existissem muito mais
mal-educada de seu marido não foi pessoas como essa mulher de Israel,
planejada, mas era simplesmente o que acalmassem sentimentos de ira,
impulso de uma personalidade in- evitassem intenções precipitadas de
feliz e egoísta. Assim, apresentou o se realizar e impedissem grandes
rico suprimento como uma oferta de desgraças por palavras de calma
paz aos homens de Davi. Ela disse: sabedoria.
A Grandeza do Coração de Davi 451
A raiva de Davi passou por causa parábola: “Esta mesma noite a sua
do poder da influência e dos argu- vida lhe será exigida” (Lc 12:20).
mentos de Abigail. Ele se conven- Depois de algum tempo, Davi se
ceu de que tinha perdido o controle casou com Abigail. Ele já era casado
do próprio espírito. Com coração com uma mulher, mas o costume
humilde, aceitou a repreensão, em das nações de sua época havia de-
harmonia com suas próprias pala- turpado sua percepção do certo e
vras: “Fira-me o justo com amor leal do errado. Durante toda a sua vida,
e me repreenda, mas não perfume Davi sentiu os terríveis resultados
a minha cabeça o óleo do ímpio, de se casar com muitas mulheres.
pois a minha oração é contra as Os zifeus, na esperança de ga-
práticas dos malfeitores” (Sl 141:5). nhar o favor do rei, novamente
Ele agradeceu e a abençoou por informaram onde Davi estava es-
ter lhe dado bons conselhos. Quão condido. Mais uma vez, Saul con-
poucos se sentem agradecidos por vocou seu exército e os liderou na
receber uma repreensão e aben- busca por Davi. Espiões amigos
çoam os que tentam evitar que trouxeram uma mensagem ao filho
sigam um mau caminho. de Jessé. Com apenas alguns de seus
homens, Davi saiu para descobrir
Remorso e Medo Tiram onde estava o inimigo.
a Vida de Nabal Já estava escuro quando Davi
Quando Abigail voltou para e seus homens chegaram ao acam-
casa, encontrou Nabal e seus con- pamento do rei e seu exército. Sem
vidados numa festa em que havia serem percebidos, viram o acampa-
bebida alcoólica. Então, na manhã mento em silêncio, dormindo. Davi
seguinte, ela contou ao marido o perguntou: “Quem descerá comigo ao
que tinha acontecido ao se encon- acampamento de Saul?” (1Sm 26:6).
trar com Davi. Quando ele se deu Abisai respondeu imediatamente:
conta de quão perto da morte sua “Irei com você” (1Sm 26:6).
loucura o havia levado, ficou pa- Escondidos na sombra das co-
ralisado, horrorizado e desmaiou, linas, Davi e Abisai entraram no
sem forças. Dez dias depois, mor- acampamento. Eles foram até Saul,
reu. No meio de sua diversão, Deus que estava dormindo. Perto de sua
disse a ele, como ao homem rico da cabeça tinha uma lança fincada no
452 Os Escolhidos
chão e um jarro de água. Abner, o merecem morrer, pois não protege-
comandante do exército, estava ram o seu rei, o ungido do Senhor.
deitado ao seu lado, e vários outros Agora, olhem! Onde estão a lança
soldados dormiam em volta deles, e o jarro de água do rei, que esta-
em sono profundo. Abisai ergueu vam perto da cabeça dele?’ Saul
sua lança. “Hoje Deus entregou o reconheceu a voz de Davi e disse:
seu inimigo nas suas mãos. Agora ‘É você, meu filho Davi?’ Davi res-
deixe que eu crave a lança nele até pondeu: ‘Sim, ó rei, meu senhor.’
o chão, com um só golpe; não preci- E acrescentou: ‘Por que meu senhor
sarei de outro” (1Sm 26:8). Ele espe- está perseguindo este seu servo?
rou receber permissão, mas, em vez O que eu fiz, e de que mal sou
disso, ouviu o cochicho: “Não o mate! culpado?’” (1Sm 26:15-18).
Quem pode levantar a mão contra o
ungido do Senhor e permanecer ino- Novamente o Rei Saul
cente? Juro pelo nome do Senhor, Confessa seu Erro
[...] o Senhor mesmo o matará; [...] Mais uma vez, o rei admitiu:
ou ele irá para a batalha e perecerá. “Pequei! Volte, meu filho Davi!
O Senhor me livre de levantar a mão Como hoje você considerou pre-
contra o Seu ungido. Agora, vamos ciosa a minha vida, não lhe farei
pegar a lança e o jarro com água que mal de novo. Tenho agido como
estão perto da cabeça dele, e vamos um tolo e cometi um grande erro”
embora” (1Sm 26:9-11). “Ninguém os (1Sm 26:21).
viu, ninguém percebeu nada e nin- Davi respondeu: “Aqui está a
guém acordou [...], pois um sono pe- lança do rei. Venha um de seus ser-
sado vindo do Senhor havia caído vos pegá-la” (1Sm 26:22). Mesmo
sobre eles” (1Sm 26:12). Saul prometendo: “Não lhe farei mal
Quando Davi estava a uma dis- de novo”, Davi manteve uma distân-
tância segura do acampamento, gri- cia segura.
tou para Abner: “‘Você é homem, Ao irem embora, Saul disse:
não é? Quem é como você em Israel? “Seja você abençoado, meu filho Davi;
Por que você não protegeu o rei, seu você fará muitas coisas e em tudo
senhor? Alguém foi até aí para ma- será bem-sucedido” (1Sm 26:25).
tá-lo. Não é bom isso que você fez! Contudo, o filho de Jessé não tinha
Juro pelo Senhor que todos vocês nenhuma esperança de que o rei
A Grandeza do Coração de Davi 453
seus três filhos. Eles cortaram a ca- por aves de rapina. Lembrando do
beça de Saul e pegaram suas armas. livramento que receberam por meio
Enviaram a cabeça e as armas im- de Saul na época feliz dos primeiros
pregnadas de sangue ao país dos fi- anos de seu reinado, homens cora-
listeus como um troféu de vitória josos de Jabes-Gileade expressaram
“para proclamarem a notícia nos tem- sua gratidão tirando dali os corpos
plos de seus ídolos e entre o seu povo” do rei e dos príncipes, dando a eles
(1Sm 31:9). Assim, a glória da vitória um funeral digno. A nobre ação rea-
foi atribuída ao poder de deuses fal- lizada quarenta anos antes garan-
sos e o nome de Jeová foi desonrado. tiu que Saul e seus filhos fossem
Em Bete-Seã, os corpos de Saul sepultados por mãos gentis e pie-
e de seus filhos foram pendurados dosas naquele momento escuro de
em correntes, para serem comidos derrota e desonra.
67
Espiritismo Antigo
e Moderno
O registro bíblico sobre a vi-
sita de Saul à mulher de En-
Dor confunde muitos estudantes
origem. Seu propósito não era levar
Saul ao arrependimento, mas in-
duzi-lo à destruição. Essa não é
da Bíblia. Alguns se posicionam di- a obra de Deus, mas de Satanás.
zendo que Samuel realmente esteve Além disso, a Bíblia aponta para a
lá. A Bíblia apresenta muitas provas decisão de Saul de consultar a feiti-
para concluir o contrário. ceira como uma das razões de ele ter
Se Samuel estivesse no Céu, ele sido rejeitado por Deus: “Saul mor-
teria que ter sido chamado de lá, ou reu dessa forma porque foi infiel ao
por Deus ou por Satanás. Ninguém Senhor; não foi obediente à pala-
pode acreditar, nem sequer por um vra do Senhor e chegou a consultar
momento, que Satanás tenha poder uma médium em busca de orienta-
para chamar um profeta do Céu para ção, em vez de consultar o Senhor.
honrar os rituais de magia de uma Por isso o Senhor o entregou à morte
feiticeira. Também não é possível e deu o reino a Davi, filho de Jessé”
concluir que Deus tenha enviado (1Cr 10:13, 14). Saul não se comuni-
Samuel para a caverna da feiticeira, cou com Samuel, o profeta de Deus,
pois o Senhor já havia se recusado a mas com Satanás. O inimigo não
falar com Saul por meio de sonhos, tinha poder para apresentar o ver-
de Urim, ou dos profetas. dadeiro Samuel, mas uma falsificação
A própria mensagem revela sua que lhe serviu para praticar o engano.
Espiritismo Antigo e Moderno 461
nem filhas, nem bens, nem qualquer pertenciam aos amalequitas, que
outra coisa que fora levada. Davi re- foram chamados de “despojos de
cuperou tudo” (1Sm 30:18, 19). Davi” (1Sm 30:20). Voltando para
Se não fosse o poder de Deus, os Ziclague, ele enviou presentes de
amalequitas teriam matado todas seus despojos às autoridades de
as pessoas de Ziclague. Eles decidi- Judá, à sua tribo. Davi se lembrou
ram poupar os prisioneiros com a de todos os que ajudaram e sus-
intenção de aumentar seu triunfo tentaram seus seguidores e a ele
levando para casa um grande nú- na época em que se escondiam nas
mero de pessoas para venderem montanhas, depois que havia sido
como escravos. Sem querer, eles forçado a fugir para salvar a vida.
cumpriram o propósito de Deus, Enquanto Davi e seus soldados
guardando as pessoas que foram le- trabalhavam para reconstruir suas
vadas como prisioneiras para serem casas, aguardavam ansiosos para re-
devolvidas aos seus maridos e pais. ceber notícias da guerra entre Israel
e os filisteus. De repente, um men-
Combate ao Mal sageiro entrou na cidade, “com as
Com grande alegria, os guerrei- roupas rasgadas e terra na cabeça”
ros vencedores começaram a mar- (2Sm 1:2). Ele foi imediatamente le-
char de volta para casa. O soldado vado até Davi, curvando-se diante
mais egoísta e indisciplinado dos dele, como se Davi fosse um prín-
quatrocentos homens sugeriu que cipe poderoso de quem buscava au-
os soldados que não tinham parti- xílio. O mensageiro contou a ele não
cipado da batalha não recebessem apenas sobre a derrota e morte de
sua parte dos despojos. Davi não Saul, mas sobre a morte de Jônatas.
concordou nem permitiu que isso Entretanto, o mensageiro foi além
acontecesse. Ele disse: “Não, meus do simples relato dos fatos. Ele quis
irmãos! Não façam isso com o que o garantir honra para si mesmo como
Senhor nos deu. […] A parte de quem sendo o responsável pela morte do
ficou com a bagagem será a mesma rei. Com ar de orgulho, o homem
de quem foi à batalha. Todos rece- contou que tinha encontrado o rei
berão partes iguais” (1Sm 30:23, 24). de Israel ferido e o havia matado,
Davi e seus homens captura- atendendo seu pedido. Então entre-
ram grandes rebanhos e gados que gou a Davi a coroa e os braceletes de
468 Os Escolhidos
ouro de Saul. Ele tinha certeza de Israel pela ordem de Deus. Contudo,
que receberia uma grande recom- o amalequita acusou a si mesmo de
pensa pelo que tinha feito. um crime digno de morte. Davi disse:
“Você é responsável por sua própria
Davi Fica Triste por Saul morte. Sua boca testemunhou con-
“Davi rasgou suas vestes; e os ho- tra você, quando disse: ‘Matei o un-
mens que estavam com ele fizeram gido do Senhor’” (2Sm 1:16).
o mesmo. E se lamentaram, cho- A tristeza que Davi sentiu pela
rando e jejuando até o fim da tarde, morte de Saul era sincera e pro-
por Saul e por seu filho Jônatas, pelo funda, demonstrando a grandiosi-
exército do Senhor e pelo povo de dade de seu nobre caráter. Ele não
Israel, porque muitos haviam sido se alegrou com a derrota de seu ini-
mortos à espada” (2Sm 1:11, 12). migo. A barreira que o impedia de
Depois que passou o primeiro assumir o trono de Israel tinha sido
choque das terríveis notícias, Davi retirada, mas isso não lhe trouxe
voltou a pensar no estranho que nenhuma alegria. De toda a his-
tinha trazido as notícias e no crime tória de vida de Saul, ele apenas se
de que ele era culpado, segundo suas lembrava de sua nobreza e realeza.
próprias palavras. “‘De onde você é?’ O nome de Saul estava ligado ao de
E ele respondeu: ‘Sou filho de um es- Jônatas, que tinha sido um amigo
trangeiro, sou amalequita’. Davi lhe verdadeiro e abnegado.
perguntou: ‘Como você não temeu Davi expressou os sentimentos
levantar a mão para matar o un- do seu coração em forma de canção,
gido do Senhor?’” (2Sm 1:13, 14). que, mais tarde, tornou-se uma pre-
Duas vezes Davi havia se recusado ciosidade à nação de Israel e ao povo
a levantar a mão contra aquele que de Deus ao longo das eras futuras.
tinha sido consagrado a governar Ver 2 Samuel 1:19-27.
69
*
Davi é Coroado Rei
A morte de Saul acabou
com os perigos que ti-
nham feito Davi fugir de sua terra.
Quando Davi ficou sabendo da
atitude corajosa dos homens de
Jabes-Gileade, recolhendo os corpos
Agora, o caminho estava livre para de Saul e Jônatas e dando a eles um
ele voltar. “Davi perguntou ao funeral digno, enviou a mensagem:
Senhor: ‘Devo ir para uma das ci- “O Senhor os abençoe pelo seu ato de
dades de Judá?’ O Senhor respon- lealdade, dando sepultura a Saul, seu
deu que sim, e Davi perguntou para rei. Seja o Senhor leal e fiel para com
qual delas. ‘Para Hebrom’, respon- vocês. Também eu firmarei minha
deu o Senhor” (2Sm 2:1). amizade com vocês, por terem feito
Imediatamente, Davi e seus se- essa boa ação” (2Sm 2:5, 6).
guidores se prepararam para obe- Os filisteus não ficaram aborre-
decer. Quando a caravana entrou cidos com a decisão de Judá de fazer
na cidade, os homens de Judá já es- de Davi seu rei. Eles achavam que te-
tavam esperando para dar as boas- riam vantagens agora que Davi tinha
vindas a Davi como futuro rei de recebido mais poder, pois tinham
Israel. Sem perder tempo, providên- sido bondosos com ele. O reinado de
cias foram tomadas para sua coroa- Davi não estaria livre de problemas.
ção. “E ali ungiram Davi rei da tribo Deus escolheu Davi para ser rei
de Judá” (2Sm 2:4). Nenhum esforço de Israel. No entanto, o povo de Judá
foi feito para estabelecer sua autori- mal tinha aceitado sua autoridade
dade sobre as outras tribos. quando o filho de Saul, chamado
* Este capítulo é baseado em 2 Samuel 2 a 5:5.
470 Os Escolhidos
Is-Bosete, foi coroado rei em um Jordão, para ser a residência real.
trono rival em Israel. Is-Bosete era Ali foi realizada a coroação de Is-
um representante fraco e incompe- Bosete. Seu reinado abrangia todo
tente da casa de Saul, ao contrário o Israel, exceto Judá. Por dois anos, o
de Davi, que era extremamente qua- filho de Saul desfrutou as hon-
lificado. Abner, o principal respon- ras de rei, em sua capital afastada.
sável por levar Is-Bosete ao poder Abner se preparou para uma guerra
real, era o homem mais ilustre de violenta, pois tinha a intenção de
Israel. Ele sabia que o Senhor tinha estender seu poder sobre Judá tam-
indicado Davi para ocupar o trono, bém. E “houve uma violenta batalha
mas ele não queria que o filho de naquele dia, e Abner e os soldados
Jessé assumisse o reino. de Israel foram derrotados pelos sol-
Abner era ambicioso e não tinha dados de Davi” (2Sm 2:17).
princípios. Saul o havia influenciado Abner renunciou porque ficou
a detestar o homem que Deus esco- com raiva do incompetente Is-Bosete.
lhera para reinar sobre Israel. Seu Depois se ofereceu para servir a
ódio cresceu por causa da forte re- Davi, levando consigo todas as tri-
preensão que Davi havia lhe dado bos de Israel. Davi aceitou a proposta.
quando o jarro de água e a lança do Contudo, o fato de Davi ter aceitado
rei foram tirados de perto dele en- receber Abner, um guerreiro tão fa-
quanto dormia. moso, provocou ciúmes em Joabe,
Decidido a criar divisão em o comandante principal do exército
Israel para que ele mesmo pudesse de Davi. Havia uma vingança de san-
ser exaltado, Abner usou Is-Bosete, gue entre esses dois homens. Durante
o representante do rei anterior, para a guerra entre Israel e Judá, Abner
promover suas ambições egoístas. havia matado Asael, irmão de Joabe.
Sabia que o exército não tinha se Então Joabe cruelmente preparou
esquecido das primeiras batalhas uma emboscada e assassinou Abner.
bem-sucedidas sob o comando de Quando Davi soube desse ataque
Saul. Determinado, esse líder re- traiçoeiro, ele falou bem alto: “Eu e o
belde continuou a colocar seus pla- meu reino, perante o Senhor, somos
nos em prática. para sempre inocentes do sangue de
Primeiro, ele escolheu a cidade Abner, filho de Ner. Caia a respon-
de Maanaim, do outro lado do sabilidade pela morte dele sobre
Davi é Coroado Rei 471
a cabeça de Joabe” (2Sm 3:28, 29). Quando ouviu “que Abner havia
Por causa da condição instável em morrido em Hebrom, Is-Bosete,
que o reino se encontrava e do poder filho de Saul, perdeu a coragem,
dos assassinos, Davi não pôde punir e todo o Israel ficou alarmado”
o crime adequadamente, mas de- (2Sm 4:1). Pouco depois, outro ato de
monstrou publicamente seu abalo traição completou a queda do poder
e reprovação. Como o pranteador rival já enfraquecido. Is-Bosete foi
principal, o rei acompanhou o cai- assassinado por dois de seus capi-
xão que levava o corpo de Abner. tães. Eles cortaram sua cabeça e a le-
Junto à sepultura, cantou um la- varam depressa para o rei de Judá,
mento que foi uma forte repreen- esperando assim ganhar seu favor.
são aos assassinos:
Davi Castiga os Assassinos
“Por que morreu Abner como mor- de seu Inimigo
rem os insensatos? [...] Davi não queria esse tipo de
Você caiu como quem cai perante ajuda para estabelecer seu poder. Ele
homens perversos” (2 Samuel contou aos assassinos o que aconte-
3:33, 34). ceu com o homem que se orgulhou
de ter matado Saul. Ele disse mais:
A homenagem de Davi a al- “‘Muito mais agora, que homens ím-
guém que tinha sido um grande pios mataram um inocente em sua
inimigo seu conquistou a admira- própria casa e em sua própria cama!
ção de todo o Israel. “Todo o povo Vou castigá-los e eliminá-los da face
e todo o Israel reconheceram que da terra porque vocês fizeram cor-
o rei não tivera participação no as- rer o sangue dele!’ Então Davi deu
sassinato de Abner, filho de Ner” ordem a seus soldados, e eles os ma-
(2Sm 3:37). Em particular aos seus taram” (2Sm 4:11, 12).
conselheiros e assistentes de con- Depois da morte de Is-Bosete,
fiança, o rei reconheceu sua inca- houve um desejo geral entre os lí-
pacidade de castigar os assassinos deres de Israel para que Davi se tor-
como ele desejava. Ele os colocou nasse rei de todas as tribos. Eles
sob a justiça de Deus. “Que o Senhor disseram: “Eras tu quem liderava
retribua ao malfeitor de acordo com Israel em suas batalhas. E o Senhor
as suas más obras!” (2Sm 3:39) te disse: ‘Você pastoreará Israel, o
472 Os Escolhidos
Meu povo, e será o seu governante’” e soldados com lanças e capacetes
(2Sm 5:2). “Então todas as autori- brilhantes e estrangeiros vindos
dades de Israel foram ao encontro de longas distâncias se levantavam
do rei Davi em Hebrom; o rei fez para testemunhar a coroação.
um acordo com eles em Hebrom pe- Davi estava vestido com o manto
rante o Senhor” (2Sm 5:3). Assim, real. O sumo sacerdote colocou o
por meio da direção de Deus, o ca- óleo sagrado em sua testa, pois a
minho foi aberto para ele chegar unção anterior, feita por Samuel,
ao trono. havia sido profética em relação ao
A mudança no sentimento do que aconteceria na nomeação do
povo foi decisiva. A revolução foi rei. O tempo tinha chegado, e Davi
pacífica e digna, em harmonia com foi consagrado à sua função como
o trabalho que faziam. Quase meio representante de Deus. O cetro foi
milhão de pessoas, os antigos sú- posto em suas mãos. O juramento
ditos de Saul, lotou Hebrom e seus de seu justo domínio foi escrito, e o
arredores. O dia da coroação foi povo apresentou seus compromis-
marcado. Davi – o homem que tinha sos de fidelidade. Israel tinha um rei
sido expulso da corte de Saul, que indicado por Deus.
havia fugido para as montanhas Aquele que havia esperado pelo
e campinas e para as cavernas da Senhor com paciência viu as pro-
terra para preservar a vida – estava messas de Deus se cumprirem. Davi
prestes a receber a maior honra que “foi se tornando cada vez mais po-
os seres humanos podem dar a al- deroso, pois o Senhor, o Deus dos
guém. Sacerdotes e anciãos, oficiais Exércitos estava com ele” (2Sm 5:10).
70
*
O Reinado de Davi
A trinta quilômetros de
Hebrom foi escolhido
o local da futura capital do reino.
sob o comando de Joabe e, como
recompensa, ele foi posto como co-
mandante principal dos exércitos
Antigamente esse lugar era chamado de Israel. Jebus se tornou a capital
de Salém. Oitocentos anos antes, nacional e seu nome pagão foi mu-
tinha sido a casa de Melquisedeque, dado para Jerusalém.
o sacerdote do Altíssimo. Essa ci- Hirão, rei de Tiro, ofereceu-se
dade ficava quase no centro do país para ajudar Davi a construir um pa-
e era protegida por montanhas. lácio em Jerusalém. Mandou em-
Na divisa entre Benjamim e Judá, baixadores de Tiro, acompanhados
ficava perto de Efraim e era de fácil por arquitetos e operários e mate-
acesso às outras tribos. riais caros.
Para conseguir esse local, os he- Sob o comando de Davi, a força
breus precisavam expulsar de lá os de Israel aumentava cada vez mais,
últimos cananeus, que ocupavam o que provocou a inimizade dos fi-
um local fortificado nas montanhas listeus. Eles invadiram o país nova-
de Sião e Moriá. Essa fortaleza se mente e se posicionaram não muito
chamava Jebus, e seus habitantes longe de Jerusalém. Davi com seus
eram conhecidos como jebuseus. homens de guerra se retiraram para
Por séculos, todos achavam que a fortaleza de Sião. “Davi perguntou
Jebus jamais poderia ser conquis- ao Senhor: ‘Devo atacar os filisteus?
tada. Ela foi cercada e conquistada Tu os entregarás nas minhas mãos?’
* Este capítulo é baseado em 2 Samuel 5:6-25; 6; 7; 9; 10.
474 Os Escolhidos
O Senhor lhe respondeu: ‘Vá, Eu os seu coração – levar a arca de Deus
entregarei nas suas mãos’” (2Sm 5:19).
para Jerusalém. Era apropriado para
Imediatamente Davi os atacou, a capital da nação ser honrada com a
venceu e tomou os deuses deles, que arca, o sinal da Presença divina.
eles tinham levado para garantir a Davi tinha a intenção de fazer
vitória. Frustrados por causa da der-da ocasião uma cena de grande
rota, os filisteus reuniram um exército
alegria e impressionante apresen-
maior ainda e voltaram ao combate. tação. O povo correspondeu ale-
Mais uma vez, Davi pediu orientação gremente. O sumo sacerdote, os
a Deus, e o grande EU SOU assumiu o príncipes e os líderes das tribos
comando dos exércitos de Israel. se reuniram em Quiriate-Jearim.
Deus instruiu a Davi: “Não ata- Davi estava radiante de santo zelo.
que pela frente, […] ataque-os em A arca foi retirada da casa de Abi-
frente das amoreiras. Assim que você nadabe e posta numa carruagem
ouvir um som de passos por cima das nova, levada por bois, enquanto
amoreiras, saia rapidamente, pois o dois dos filhos de Abinadabe a
Senhor saiu à sua frente para ferir acompanhavam.
o exército filisteu” (2Sm 5:23, 24). O povo de Israel a seguia com
Se Davi tivesse escolhido seus pró- aclamações e cânticos de alegria; a
prios caminhos, como fez Saul, ele multidão de vozes se unia em me-
não teria sido bem-sucedido. Mas lodia, junto com o som dos instru-
ele agiu conforme o Senhor man- mentos musicais. “Davi e todos os
dou, e “derrotaram o exército filisteu
israelitas iam cantando […] perante
por todo o caminho, desde Gibeom o Senhor, ao som de […] harpas, liras,
até Gezer. Assim a fama de Davi es- tamborins, chocalhos e címbalos”
palhou-se por todas as terras, e o (2Sm 6:5). Com alegria solene, a
Senhor fez com que todas as nações grande comitiva seguia seu cami-
o temessem” (1Cr 14:16, 17). nho por entre as colinas e vales em
direção à Cidade Santa.
A Arca é Levada para Contudo, “quando chegaram à
Jerusalém eira de Nacom, Uzá esticou o braço
Agora que Davi estava estabele- e segurou a arca de Deus, porque
cido no trono, ele se dedicou a cum- os bois haviam tropeçado. A ira do
prir um propósito que já tinha em Senhor acendeu-se contra Uzá por
O Reinado de Davi 475
despertou sua consciência e trouxe Davi, esconder seu crime dos ou-
de seus próprios lábios a sentença de tros, enterrar o mau ato da vista hu-
morte sobre si. O profeta contou mana para sempre, mas “tudo está
uma história de maldade e injus- descoberto e exposto diante dos
tiça que precisava ser corrigida. olhos dAquele a quem havemos de
Ele disse: “Dois homens viviam prestar contas” (Hb 4:13).
numa cidade, um era rico e o outro, Natã disse: “Você matou Urias, o
pobre. O rico possuía muitas ove- hitita, com a espada dos amonitas
lhas e bois, mas o pobre nada tinha, e ficou com a mulher dele. Por isso,
senão uma cordeirinha que havia a espada nunca se afastará de sua
comprado. Ele cuidou dela, que cres- família. […] ‘De sua própria família
ceu com ele e com seus filhos. Comia trarei desgraça sobre você. Tomarei
junto dele, bebia do seu copo e até as suas mulheres diante dos seus
dormia em seus braços. Era como próprios olhos e as darei a outro. […]
uma filha para ele. Certo dia, um Você fez isso às escondidas, mas Eu
viajante chegou à casa do rico, e o farei diante de todo o Israel, em
este não quis pegar uma de suas plena luz do dia’” (2Sm 12:9-12).
próprias ovelhas ou de seus bois A repreensão do profeta tocou
para preparar-lhe uma refeição. Em o coração de Davi. A consciência foi
vez disso, preparou para o visitante despertada e ele viu quão grande
a cordeira que pertencia ao pobre” era sua culpa. Com lábios trêmulos,
(2Sm 12:1-4). ele disse: “Pequei contra o Senhor!”
O rei ficou com raiva. “Juro pelo (2Sm 12:13). Davi havia cometido
nome do Senhor que o homem que um pecado terrível tanto contra
fez isso merece a morte! Deverá Urias como contra Bate-Seba, mas
pagar quatro vezes o preço da cor- infinitamente maior era seu pecado
deira, porquanto agiu sem miseri- contra Deus.
córdia” (2Sm 12:5, 6).
Natã fixou seus olhos no rei Davi é Castigado por seu
e disse solenemente: “Você é esse Pecado
homem! […] Por que você despre- Davi tremeu, com medo de que
zou a palavra do Senhor, fazendo o fosse rejeitado, considerado culpado
que Ele reprova?” (2Sm 12:7-9). e não perdoado, pelo imediato juízo
O culpado pode tentar, como fez de Deus. Então uma mensagem
486 Os Escolhidos
foi enviada a ele pelo profeta: “O Palavra têm sido blasfemados e
Senhor perdoou o seu pecado. Você muitos têm se tornado ousados no
não morrerá” (2Sm 12:13). Ainda pecado dizendo ser religiosos.
assim, a justiça tinha de ser preser- A história de Davi mostra que
vada. A sentença de morte foi pas- não há desculpa para o pecado. Foi
sada de Davi para o filho de seu quando andava com o Senhor e se-
pecado. Desse modo, o rei teve opor- guia Seu conselho que Davi foi cha-
tunidade de se arrepender, embora mado o homem segundo o coração
o sofrimento e a morte da criança, de Deus. Quando ele pecou, isso dei-
como parte de sua punição, foi xou de ser verdade sobre ele, até que
muito mais amargo para ele do que se voltou ao Senhor por meio do ar-
sua própria morte teria sido. rependimento. “Mas o que Davi fez
Quando seu filho ficou doente, desagradou ao Senhor” (2Sm 11:27).
Davi suplicou por sua vida em jejum Apesar de Davi ter se arrepen-
e profunda humilhação. Noite após dido de seu pecado, colheu o fruto
noite, ele se prostrava com a dor de mortal da semente que plantara.
um coração quebrantado, interce- Os castigos que recebeu de Deus
dendo pelo inocente que sofria por deram testemunho do quanto Ele
culpa dele. Quando ouviu que o odeia o pecado.
filho havia morrido, Davi se subme- O próprio Davi ficou quebran-
teu, em silêncio, ao que Deus havia tado de espírito pela consciência
determinado. Foi dado o primeiro do seu pecado e de seus resultados
golpe da punição que ele mesmo de grande alcance. Ele se sentiu hu-
disse que era justa. milhado aos olhos de seus súditos.
Sobre a história da queda de Sua influência foi enfraquecida. Já
Davi, muitos perguntam: Por que que seus súditos sabiam de seu pe-
Deus achou necessário abrir ao cado, seriam levados a pecar com
mundo esse capítulo escuro da vida mais liberdade. A autoridade de
de alguém tão grandemente hon- Davi foi enfraquecida até mesmo
rado pelo Céu? Ateus e descrentes em sua casa. Sua culpa o manteve em
apontam para o caráter de Davi e silêncio quando deveria ter con-
dizem em tom de zombaria: “Esse denado o pecado. Seu mau exem-
é o homem segundo o coração de plo influenciou seus filhos, e Deus
Deus!” Dessa maneira, Deus e Sua não interferiria para impedir o
O Pecado e o Arrependimento de Davi 487
ali estará o seu servo, para viver ou e nem sacerdote nem rei tinha o di-
para morrer!” (2Sm 15:21). Esses reito de retirar da cidade o símbolo
homens tinham se convertido do da Sua presença. Além disso, Davi
paganismo, e agora provaram no- tinha constantemente diante de si
bremente sua lealdade a Deus e ao seu grande pecado. Ele não tinha o
rei. Davi aceitou a dedicação deles direito de retirar da capital da nação
à sua causa aparentemente per- os estatutos sagrados que repre-
dida, e todos atravessaram o vale sentavam a vontade de seu divino
de Cedrom, em direção ao deserto. Soberano, o fundamento da nação
e a razão de sua prosperidade.
Alguns Permanecem Fiéis Davi ordenou a Zadoque: “Leve a
a Davi arca de Deus de volta para a cidade.
A comitiva parou outra vez. Se o Senhor mostrar benevolência
“Zadoque também estava lá, e a mim, Ele me trará de volta e me
com ele todos os levitas que carre- deixará ver a arca e o lugar onde ela
gavam a arca da aliança de Deus” deve permanecer. Mas, se Ele disser
(2Sm 15:24). Para as pessoas que es- que já não sou do Seu agrado, aqui
tavam com Davi, a presença daquele estou! Faça Ele comigo a Sua von-
símbolo sagrado era uma garantia tade” (2Sm 15:25, 26).
de livramento e vitória. Os seguido-
res de Absalão ficariam aterroriza- A Oração de Davi
dos quando soubessem que a arca À medida que os sacerdotes vol-
não estava mais em Jerusalém. tavam para Jerusalém, uma sen-
Por um breve momento, a ale- sação terrível tomou conta das
gria e a esperança fizeram vibrar o pessoas que acompanhavam Davi.
coração de Davi ao avistar a arca. Seu rei era um fugitivo, eles mesmos
No entanto, logo vieram outros tinham sido desterrados e abando-
pensamentos. A glória de Deus e o nados até mesmo pela arca de Deus.
bem de seu povo deveriam ocupar O futuro estava cheio de trevas!
o primeiro lugar em sua mente, pois “Davi, porém, continuou subindo o
ele era o homem escolhido para go- monte das Oliveiras, caminhando
vernar a herança de Deus. Sobre e chorando, com a cabeça coberta
Jerusalém Deus disse: “Este será o e os pés descalços. E todos os que
Meu lugar de descanso” (Sl 132:14), iam com ele também tinham a
494 Os Escolhidos
cabeça coberta e subiam chorando” uma paisagem devastada, repleta
(2Sm 15:30). “Informaram a Davi de pedras e solitária, em direção ao
que Aitofel era um dos conspiradores rio Jordão. “Chegando o rei Davi a
que apoiavam Absalão” (2Sm 15:31). Baurim, um homem do clã da famí-
Mais uma vez, Davi foi forçado a re- lia de Saul chamado Simei, filho de
conhecer os resultados de seu pró- Gera [...] atirava pedras em Davi e
prio pecado. Aitofel, o líder político em todos os conselheiros do rei. [...]
mais talentoso, renunciou sua posi- Enquanto amaldiçoava, Simei dizia:
ção para vingar-se do erro cometido ‘Saia daqui, saia daqui! Assassino!
contra sua neta, Bate-Seba. Bandido! O Senhor retribuiu a você
“Davi orou: ‘Ó Senhor, trans- todo o sangue derramado na famí-
forma em loucura os conselhos de lia de Saul, em cujo lugar você rei-
Aitofel’” (2Sm 15:31). Ao chegar ao nou. O Senhor entregou o reino nas
topo do monte, o rei se curvou em mãos de seu filho Absalão. Você está
oração, entregando a Deus o fardo arruinado porque é um assassino!”
que carregava em seu coração e su- (2Sm 16:5-8)
plicando humildemente a miseri- Enquanto Davi prosperou, Simei
córdia divina. não demonstrou sua deslealdade. Ele
Nesse momento, o arquita tinha honrado Davi em seu trono,
Husai, um conselheiro sábio e capaz mas agora o amaldiçoava em sua hu-
e amigo fiel de Davi, chegou para milhação. Inspirado por Satanás, ele
partilhar da sorte do rei fugitivo e descarregou sua raiva sobre aquele a
destronado. Como que por uma ins- quem Deus tinha punido.
piração divina, Davi viu que Husai Davi não era culpado de fazer
era o homem que ele precisava para mal algum a Saul nem a qualquer
servir aos seus interesses nos con- pessoa de sua família. Ele passou
selhos da capital. A pedido de Davi, boa parte de sua vida em meio a
Husai voltou a Jerusalém para ofe- cenas de violência; mas, de todos os
recer seus serviços a Absalão e frus- que passaram por essa prova, pou-
trar os conselhos astutos de Aitofel. cos foram capazes de conservar em
Com esse raio de luz em meio grande medida a sensibilidade e a
às trevas, o rei e seus seguidores moral como Davi.
continuaram a descer a face leste Abisai, sobrinho de Davi, não
do monte das Oliveiras, em meio a suportou ouvir com paciência os
A Rebelião de Absalão 495
insultos de Simei. Ele disse: “Por que construir a casa de Deus. Será que o
esse cão morto amaldiçoa o rei, meu resultado de anos de dedicação e es-
senhor? Permite que eu lhe corte a forço passaria para as mãos de seu
cabeça” (2Sm 15:9). Mas o rei não filho imprudente e traidor?
lhe deu permissão. “Meu filho [...] Ele percebeu que o motivo de sua
procura matar-me. Quanto mais aflição era seu próprio pecado. Mas
este benjamita! Deixem-no em paz! o Senhor não abandonou Davi. Ele
Que amaldiçoe, pois foi o Senhor demonstrou ser humilde, altruísta,
que mandou fazer isso. Talvez o generoso e submisso mesmo em
Senhor considere a minha aflição e meio a injustiças e insultos cruéis.
me retribua com o bem a maldição Nunca o governante de Israel foi
que hoje recebo” (2Sm 15:11, 12). mais verdadeiramente grande aos
olhos do Céu do que nessa hora de
Davi Percebe o Resultado de sua mais profunda humilhação.
seu Pecado Por meio dessa experiência que
Os súditos fiéis do rei Davi se o Senhor fez Davi passar, Ele mos-
surpreenderam com a súbita mu- tra que não tolera nem justifica o pe-
dança de sua condição, mas isso cado. A história de Davi nos ajuda a
não era mistério algum para ele. enxergar de que maneira o Senhor
Ele pressentiu por diversas vezes coloca em prática Seu plano de mi-
uma crise como essa. Admirou-se sericórdia, mesmo através das mais
pelo fato de Deus ter tolerado seus sombrias punições. Ele castigou
pecados por tanto tempo. Naquele Davi, mas não o destruiu. A fornalha
momento, em sua fuga triste e ines- é para purificar, não para consumir.
perada, pensava na capital amada,
o lugar que tinha sido o cenário de Deus não Dá Sabedoria para
seu pecado. Ao recordar a paciência Absalão
de Deus, sentiu que o Senhor ainda Logo depois que Davi saiu de
o trataria com misericórdia. Jerusalém, Absalão e seu exército
Davi tinha confessado seu pe- ocuparam a fortaleza de Israel.
cado e tentado cumprir seu dever Husai estava entre os primeiros a
como um fiel servo de Deus. Ele saudar o rei recém-coroado, e o prín-
havia se dedicado para construir cipe ficou satisfeito em ver que o ex-
seu reino. Arrecadara material para amigo e conselheiro de seu pai tinha
496 Os Escolhidos
se juntado a ele. Absalão estava con- maligno. Assim se cumpriu a palavra
fiante no sucesso. Ansioso por garan- de Deus a Davi, dada pelo profeta: “De
tir a confiança da nação, recebeu de sua própria família trarei desgraça
bom grado Husai em sua corte. sobre você. Tomarei as suas mulhe-
Absalão tinha ao seu lado um res diante dos seus próprios olhos e
grande exército, mas a maioria dos as darei a outro. [...] Você fez isso às
soldados eram homens destrei- escondidas, mas Eu o farei diante de
nados para a guerra. Aitofel sabia todo o Israel, em plena luz do dia”
muito bem que grande parte da (2Sm 12:11, 12). Não que Deus tivesse
nação ainda era fiel a Davi e que provocado esses atos, mas Ele não
ele estava cercado de soldados ex- exerceu Seu poder para impedi-los.
perientes, comandados por gene- Aitofel não tinha qualquer ilu-
rais capazes e habilidosos. Aitofel minação divina, caso contrário, não
também sabia que, depois daquela teria usado o crime de incesto para
grande demonstração de entu- garantir o sucesso de sua traição.
siasmo em favor do novo rei, eles Pessoas de coração corrupto tra-
enfrentariam resistência. Se a rebe- mam a maldade como se não exis-
lião fracassasse, Absalão e seu pai tisse uma Providência suprema
talvez fizessem as pazes. Aitofel, para frustrar seus planos.
como conselheiro principal, seria Garantida a sua segurança,
considerado o mais culpado; e so- Aitofel sugeriu: “Permite-me esco-
freria os piores castigos. lher doze mil homens, e partirei
Para garantir que Absalão não esta noite em perseguição a Davi.
desistisse da rebelião, Aitofel mon- Eu o atacarei enquanto ele está
tou um plano que faria com que a exausto e fraco; vou causar-lhe pâ-
reconciliação com Davi fosse impos- nico, e seu exército fugirá. Depois
sível. Com astúcia diabólica, esse po- matarei somente o rei, e trarei todo
lítico sem escrúpulos insistiu que o exército de volta a ti” (2Sm 17:1-3).
Absalão acrescentasse o crime de in- Se esse plano tivesse se concreti-
cesto ao de rebelião. Diante de toda zado, Davi com certeza teria sido
a nação, ele deveria tomar para si as morto. No entanto, “o Senhor tinha
concubinas de seu pai, declarando decidido frustrar o eficiente conse-
assim que tinha tomado o trono de lho de Aitofel, a fim de trazer ruína
seu pai. Absalão seguiu esse conselho sobre Absalão” (2Sm 17:14).
A Rebelião de Absalão 497
Husai não foi chamado para o Israel, desde Dã até Berseba, tan-
conselho. Entretanto, depois que tos como a areia da praia, e que tu
o grupo se dispersou, Absalão lhe mesmo os conduzas na batalha.
apresentou os planos de Aitofel, Então o atacaremos onde quer que
pois tinha grande consideração pela ele se encontre, e cairemos sobre ele
opinião do conselheiro de seu pai. como o orvalho cai sobre a terra. Ele
Husai viu que Davi estaria per- e todos os seus homens não escapa-
dido se o plano fosse executado. rão. Se ele se refugiar em alguma
Então disse: “O conselho que cidade, todo o Israel levará cordas
Aitofel deu desta vez não é bom. para lá, e arrastaremos aquela ci-
Sabes que o teu pai e os homens que dade para o vale, até que não reste
estão com ele são guerreiros e estão ali sequer uma pequena pedra”
furiosos como uma ursa selvagem (2Sm 17:11-13).
da qual roubaram os filhotes. Além “Absalão e todos os homens de
disso, teu pai é um soldado expe- Israel consideraram o conselho de
riente e não passará a noite com o Husai, o arquita, melhor do que o
exército. Ele, agora, já deve estar es- de Aitofel” (2Sm 17:14).
condido numa caverna ou nalgum Uma pessoa, porém, percebeu
outro lugar” (2Sm 17:7-9). Se as tro- com clareza o resultado desse erro
pas de Absalão perseguissem Davi, fatal de Absalão. Aitofel sabia que
não capturariam o rei; e se eles so- a causa dos rebeldes estava perdida.
fressem um contra-ataque, ficariam Sabia que, qualquer que fosse a
desanimados e isso prejudicaria sorte do príncipe, não haveria espe-
muito a causa de Absalão. Ele disse: rança para o conselheiro que havia
“Pois todo o Israel sabe que teu pai arquitetado seus maiores crimes.
é um guerreiro valente e que seus Aitofel tinha encorajado Absalão
soldados são corajosos” (2Sm 17:10). na rebelião; o havia aconselhado
a praticar as maldades mais abo-
Husai Sugere um Plano mináveis, para a desonra de seu
Alternativo pai; tinha sugerido um plano para
Husai sugeriu um plano que ape- matar Davi; acabado com a última
lava para a vaidade e o egoísmo: “Por possibilidade de ele fazer as pazes
isso, dou o seguinte conselho: que com o rei e, agora, Absalão estava
se reúnam a ti todos os homens de confiando mais numa outra pessoa
498 Os Escolhidos
do que nele. Com ciúmes, com do Seu santo monte Ele me
raiva e desesperado, Aitofel “foi responde.
para casa [...] e depois se enforcou” Eu me deito e durmo, e torno a acor-
(2Sm 17:23). Esse foi o resultado da dar, porque é o Senhor que me
sabedoria de alguém que não fez de sustém.
Deus seu conselheiro. Não me assustam os milhares que
Husai não perdeu tempo em avi- me cercam” (Sl 3:1-6).
sar Davi para fugir depressa para
além do Jordão: “Não passe a noite Na escuridão da noite, Davi e
nos pontos de travessia do Jordão, todo o seu grupo atravessaram o
no deserto, mas atravesse logo o rio profundo e agitado. “Quando
rio, senão o rei e todo o seu exército
o sol nasceu, todos tinham atraves-
serão exterminados” (2Sm 17:16). sado o Jordão” (2Sm 17:22).
Davi, desgastado pelo cansaço Davi e suas tropas recuaram para
e pela tristeza depois do primeiro Maanaim, que tinha sido a sede real
dia de fuga, recebeu a mensagem de de Is-Bosete. Essa era uma cidade
que teria que atravessar o Jordão muito fortificada, localizada nas
naquela noite, pois seu filho buscava
montanhas, ideal para servir de re-
tirar-lhe a vida. Quais eram os sen-
fúgio em períodos de guerra. O ter-
timentos do pai e rei naquele mo- ritório tinha fartura de alimento e
mento terrível e perigoso? Na hora as pessoas eram amáveis com Davi.
de sua mais escura aflição, o cora- Absalão, o príncipe imprudente
ção de Davi se firmou em Deus; e e impulsivo, logo saiu em persegui-
ele cantou: ção ao pai. Seu exército era grande,
mas indisciplinado e despreparado
“Senhor, muitos são os meus para competir com os soldados de
adversários! seu pai, experientes na guerra.
Muitos se rebelam contra mim! Davi dividiu suas tropas em três
São muitos os que dizem a meu res- batalhões, sob o comando de Joabe,
peito: ‘Deus nunca o salvará!’ Abisai e Itai.
Mas Tu, Senhor, és o escudo que me
protege; és a minha glória e me A Batalha que Frustrou
fazes andar de cabeça erguida. a Rebelião
Ao Senhor clamo em alta voz, e As longas fileiras do exército de
A Rebelião de Absalão 499
precioso para construir e embe- aos Seus decretos, aos Seus manda-
lezar o templo. Tinha composto mentos, às Suas ordenanças e aos
hinos majestosos que no futuro Seus testemunhos’” (1Rs 2:1-3). Ele
ecoariam pelos pátios da casa de disse: “Assim você prosperará em
Deus. O coração de Davi se alegrava tudo o que fizer e por onde quer que
no Senhor. Os chefes dentre os pais for, e o Senhor manterá a promessa
e os príncipes de Israel ofertaram que me fez: ‘Se os seus descendentes
ainda mais, tirando dos seus bens cuidarem de sua conduta, e se Me
e levando à tesouraria do rei. Foi seguirem fielmente de todo o cora-
Deus que motivou o povo a ser ge- ção e de toda a alma, você jamais fi-
neroso. Apenas Ele deve ser glorifi- cará sem descendente no trono de
cado, e não o homem. Se o Seu amor Israel’” (1Rs 2:3, 4).
não tivesse atuado no coração das A queda de Davi foi grande,
pessoas, o templo jamais teria sido mas seu arrependimento foi pro-
construído. fundo, seu amor foi verdadeiro
Quando Davi sentiu a morte se e sua fé, forte. Os salmos de Davi
aproximar, seu coração ainda estava vão desde as profundezas da culpa
muito preocupado com Salomão e e condenação própria até a mais
Israel, porque a prosperidade do exaltada comunhão com Deus.
reino dependia muito da integri- O registro de sua vida declara que o
dade e lealdade do rei para com pecado apenas traz vergonha e tris-
Deus. “Davi deu instruções ao seu teza, mas o amor e a misericórdia
filho Salomão: ‘Estou para seguir o de Deus podem alcançar as maio-
caminho de toda a terra. Por isso, res profundezas.
seja forte e seja homem. Obedeça A fé erguerá o coração arrepen-
ao que o Senhor, o seu Deus, exige: dido para participar das bênçãos de
ande nos Seus caminhos e obedeça ser um filho ou filha de Deus!
Apêndice
Nota 1, página 169: Uma das dificultou a guarda do sábado. Da
principais razões por que o Senhor li- mesma forma, o livramento que re-
bertou Israel da escravidão no Egito foi ceberam da escravidão deveria des-
para que eles pudessem guardar Seu pertar para sempre em seu coração
santo sábado. Os egípcios não permi- a compaixão pelos pobres e oprimi-
tiam que os escravos hebreus tivessem dos, órfãos e viúvas: “Lembrem-se
liberdade religiosa. Assim, o Senhor de que vocês foram escravos no
“fez o Seu povo sair [...] para que obe- Egito [...]; por isso lhes ordeno que
decessem aos Seus decretos e guar- façam tudo isso” (Dt 24:18).
dassem as Suas leis” (Sl 105:43-45).
Evidentemente, Moisés e Arão res- Nota 2, página 178: As pragas
gataram o ensino a respeito da que o Senhor enviou sobre o Egito
santidade do sábado, porque Faraó re- humilharam os deuses pagãos e me-
clamou: “Vocês ainda os fazem parar nosprezaram a adoração de ídolos.
de trabalhar!” (Êx 5:5). Isso indica que Os egípcios reverenciavam o rio
Moisés e Arão começaram uma re- Nilo e ofereciam sacrifícios a ele
forma do sábado ainda no Egito. como se fosse um deus. A primeira
O Senhor disse aos israelitas praga foi lançada diretamente con-
que, ao guardarem o dia de sábado, tra ele (Êx 7:19).
eles deveriam lembrar que foram es- A segunda praga trouxe rãs
cravos “no Egito e que o Senhor, o (Êx 8:6). Heket, uma das divindades
teu Deus, te tirou de lá com mão po- egípcias, era uma deusa com cabeça
derosa e com braço forte. Por isso o de rã. As rãs eram consideradas sa-
Senhor, o teu Deus, te ordenou que gradas. O touro Ápis era dedicado
guardes o dia de sábado” (Dt 5:15). a Ptah; a vaca era sagrada a Hator;
A guarda do sábado não deveria e o carneiro representava Khnum e
ser uma comemoração de sua escra- Amon. A doença que atacou o gado
vidão no Egito. A observância desse e os animais dos egípcios afligiu os
dia em memória da criação incluía animais por eles considerados sa-
a alegre lembrança do livramento grados (Êx 9:3).
da opressão religiosa no Egito, que A nona praga atingiu um de
Apêndice 509
enio
Ligue
0800-9790606* Ou dirija-se a uma CPB livraria
*Horário de atendimento: Segunda a quinta, das 8h às 20h
/casapublicadora Acesse Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
www.cpb.com.br
enio
Além da Magia,
Enio Scheffel / Imagem: Fotolia
Ligue
0800-9790606* Ou dirija-se a uma CPB livraria
*Horário de atendimento: Segunda a quinta, das 8h às 20h
/casapublicadora Acesse Sexta, das 8h às 15h45 / Domingo, das 8h30 às 14h
www.cpb.com.br