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RESUMO
ABSTRACT
Agamben demands in the Carl Schmitt’s work, german jurist and social cientist,
questions that allows him to improve his thoughts on democracy. From the schmittian
concept state of exception, the Italian philosopher explains the current structure of so
call democratic countries, highlighting the sometimes purely formal aspect of the
democratic principle and authoritarian core of its actions. Thus, Agamben identifies the
current existence of a permanent state of exception, which defines the political
dynamics of the contemporary world. However, despite this penetrating analysis, some
restrictions may be placed before his theoretical formulation. This article proposes, thus,
a critical review of agambenian thought from the theoretical categories of Antonio
Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF
nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.
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Negri, who shares several intellectual references with Agamben. Negri never intensively
dealt with the agambenian construction of the state of exception. However, even without
many express references, his work confronts the issues proposed by Agamben, with his
definitions widely heterodox of democracy, constitutionalism and political power.
Therefore, this text aims, with focus on the dialogue between these two thinkers, a new
vision of concept of democracy.
Introdução
O presente artigo almeja contribuir para uma mais acurada análise do pensamento
agambeniano, a partir das consonâncias e dissonâncias existentes entre ele e Negri. De
fato, busca-se, com base no confronto de idéias, a construção de conceitos mais precisos
para a intervenção e compreensão da realidade.
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1- Negri e a crítica à mistificação constitucionalista
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As filosofias fundadas na transcendência, por sua vez, compreendem a existência
sempre a partir uma referência externa, que organiza o real. A busca por um centro é
incessante, sempre há um ponto fixo. Michel Serres assevera:
“Ele (o ponto fixo) é o lugar necessário do pensamento, quando este deseja a certeza, o
rigor, a harmonia...O ponto fixo torna-se ponto de vista. Agrupado em torno dele, todo
um sistema de pensamentos se constrói, que permite meditar sobre a aparência e a
realidade, a percepção e a razão, até mesmo sobre a natureza do espírito.”[3]
O pensamento kantiano é outro paradigma desta tradição teórica. Toda sua filosofia
decorre da busca pelos limites do conhecer, tanto em relação à natureza quanto no que
tange à moralidade. Nesta empreitada o autor determina referências que tornem seu
juízo seguro, tais como o sujeito cognoscente, em relação à razão pura, e a vontade
livre, em relação a razão prática. Estes são os centros que o permitem delinear os
contornos da razão.
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Portanto, o conceito de poder constituinte, compreendido como força que irrompe e se
faz expansiva, é um conceito ligado à pré-constituição da totalidade democrática.”.[5]
“Vale a pena, então, utilizar tal oposição para identificar no poder constituinte
(precisamente na medida em que ele é o contrário da idéia constitucionalista de “checks
and balances”) o signo de uma expressão radical da vontade democrática. Com efeito, a
práxis do poder constituinte foi a porta pela qual a vontade da multidão (multitudo) – e
consequentemente a questão social – entrou no sistema político, destruindo o
constitucionalismo, ou pelo menos debilitando-o intensamente.”[7]
1.3-Multidão
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Insta definir, entretanto, quem é o titular deste poder constituinte, qual é o sujeito
adequado para o procedimento absoluto. Negri refuta as opções historicamente
apresentadas pelo pensamento jurídico, sob o argumento de que todas objetivavam
limitar a expressão do poder constituinte. A nação resta insuficiente em virtude de sua
generalidade, possibilitando uma polissemia que proporciona manipulação. Este
problema pode ser contornado caso o termo seja analisado sob uma perspectiva
histórica, todavia é deste modo bloqueada a potência inovadora do poder constituinte. O
povo também padece da mesma questão no que tange a generalidade, além de restringir
a expressão constituinte condicionando-a a representação. A delimitação jurídica, por
sua vez, retira todo o caráter inovador do fenômeno, ao sempre enquadrá-lo em uma
perspectiva normativa. Destarte, ante os limites do pensamento jurídico tradicional,
Negri almeja formular, a partir da experiência histórica, um novo conceito que se
adeque a esta estrutura.
Não se trata, contudo, de um sujeito a ser inferido por de procedimentos racionais, mas
de uma subjetividade constantemente construída a partir da ontologia, da práxis. Negri,
não por acaso, recorre ao conceito espinosano de multidão para caracterizá-la. Ele
refuta, deste modo, a perspectiva necessariamente autoritária do uno, presente no povo e
na nação, em prol do múltiplo, recusando qualquer forma prestabelecida. O uno é o
modus operandi da transcendência, da modernidade hegemônica. O autor ressalta:
E ainda:
Negri afirma a democracia radical, incompatível com a categoria do uno que recai,
necessariamente, na perspectiva da soberania. Esta se identifica com o poder
constituído, não com o constituinte, com a opressão e não com a resistência. De fato, a
verdadeira democracia se vincula a singularidade e esta só é possível sob o viés
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democrático do poder constituinte. O constitucionalismo liberal opera com a categoria
de indivíduo, incongruente com a perspectiva do singular, já que parte da identidade,
não da diferença.
“Se duas pessoas concordam entre si e unem as suas forças, terão mais poder (potentia)
conjuntamente e, consequentemente, um direito superior sobre a natureza que cada uma
delas não possui sozinha e, quanto mais numerosos forem os homens que tenham posto
as suas forças em comum, mais direito terão eles todos.”[12]
Entretanto, mesmo ante este arquétipo dominante, Negri afirma o papel central da
multidão na dinâmica política. Isto decorre do aspecto necessariamente dual do poder
soberano, que não tem substância autônoma, ele depende da existência da classe
dominada. Com efeito:
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“A teoria da soberania leva muitos a entender o mundo da política como terreno do
próprio soberano, centrando-se por exemplo no Estado, mas esta é uma visão muito
estreita do político. A soberania tem necessariamente dois aspectos. O poder soberano
não é uma substância autônoma e nunca é absoluto, antes consistindo numa relação
entre governantes e governados, entre proteção e obediência, entre direitos e obrigações.
Sempre que tiranos tentaram transformar a soberania em algo unilateral, os governados
acabaram se revoltando e restabelecendo a natureza bipolar da relação. Os que
obedecem não são menos essenciais ao conceito e ao funcionamento da soberania do
que aquele que comanda.”(GRIFOS NOSSOS)[14]
Ademais, em outro aspecto, o Estado nada mais é do que seus cidadãos, é a partir deles
que o organismo estatal se constitui e funda sua autoridade. Deste modo, o poder
soberano sempre encontra um limite na vida dos súditos, não podendo eliminá-los sob
pena de sua própria extinção. Negri destaca: “O poder soberano só se sustenta se
preservar a vida de seus súditos, ou pelo menos sua capacidade de produção e consumo.
Se chegasse a destruir isso, qualquer poder soberano necessariamente destruiria a si
mesmo.”[15]
Dado este caráter fundador da multidão, que sempre constitui o Estado, o autor defende
a tese da anterioridade da resistência ante a opressão, o contrapoder antecede o poder.
De fato, não resta outra alternativa, visto que a fundação e a inovação sempre decorrem
do poder constituinte, em virtude da sua condição de forma formante. O poder
constituído é mera conseqüência deste processo. Todavia, quando o poder constituinte
transmuta-se em constituído, este se vê enredado nas teias do Estado e a multidão resta
subjugada pela máquina de captura da soberania. Toda vez que a expressão constituinte
cessa, que o movimento estanca, a democracia recebe limites. [16]
“No momento em que a potência se institucionaliza, ela deixa de ser potência, declara
jamais tê-lo sido. Só há uma condição adequada à definição de um conceito de
soberania ligado ao de poder constituinte, mas é paradoxal: que ela exista como práxis
de um ato constitutivo, renovado na liberdade, organizado na continuidade de uma
práxis livre. Entretanto, isto contraria toda a tradição do conceito de soberania e suas
possibilidades explicativas. Em conseqüência há uma contradição absoluta entre o
conceito de soberania e o de poder constituinte. Pode-se então concluir que, se existe
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uma via independente para o desenvolvimento do conceito de poder constituinte, ela
exclui todo recurso ao conceito de soberania: ela está posta, em termos absolutos, na
base do próprio poder constituinte, e tenta resolver a partir dele (e de nada mais) toda
conseqüência constitucional.”[17]
Carl Schmitt define o soberano como aquele que decide sobre o estado de exceção. Ele
utiliza este termo, que remete ao “estado de sítio” do termidor napoleônico, para afirmar
a soberania enquanto conceito limítrofe entre o direito e a política.
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“Toda norma geral exige uma configuração normal das condições de vida nas quais ela
deve encontrar aplicação segundo os pressupostos legais, e os quais ela submete à sua
regulação normativa. A normas necessita de um meio homogêneo. Essa normalidade
fática não é somente um “mero pressuposto” que o jurista pode ignorar. Ao contrário
pertence a sua validade imanente. Não existe norma que seja aplicável ao caos. Deve ser
criada uma situação normal...”[20].
Agamben identifica na exceção de Schmitt o mecanismo pelo qual o poder atua sobre a
vida. A soberania se funda através da afirmação de uma transcendência, de um fora. O
estado de exceção é esta zona entre o interno e o externo, o direito e o fato. Com efeito,
é a exceção que legitima o sistema, vinculando a norma ao contexto no qual esta se
insere. O autor ressalta:
“Não é a exceção que se subtrai à regra, mas a regra que, suspendendo-se, dá lugar à
exceção e somente deste modo se constitui como regra, mantendo-se em relação com
aquela. O particular “vigor” da lei consiste nessa capacidade de manter-se em relação
com uma exterioridade. Chamemos relação de exceção a essa forma extrema da relação
que inclui alguma coisa unicamente através de sua exclusão.”[22]:
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2.2-O soberano , o homo sacer e o campo.
O homo sacer é uma antiga figura do direito romano, representativa do homem que
pode ser impunemente morto por qualquer um da comunidade, mas cujo sacrifício é
terminantemente vedado. A morte somente pode encontrá-lo fora dos limites
ritualísticos. Impõe-se já neste ponto uma discussão sobre o caráter do sacro, à qual
Agamben oferece uma reposta distinta das célebres assertivas de Freud e da
antropologia clássica. O sagrado não seria uma etapa intermediária entre o profano e o
divino, mas um modo de expressão da exceção que caracteriza a vida nua, aquela que
não é zoe ou bios, mas que se encontra desterritorializada sob os moldes do bando
soberano. O homo sacer representa uma dupla exceção, que expressa a própria
estruturação do poder soberano. A ele não se aplica a ordem jurídica, o sacro não se
insere nela. Seu lugar é o fora, espaço em que o ordenamento jurídico não se imiscui, e
do qual ele só pode ser retirado pela ação do soberano, decidindo sobre a exceção. A
relação entre o homo sacer e a ordem estatal ocorre pela exceção soberana, constitui, na
verdade, uma não relação, na qual o ser sacro se inclui em virtude da exclusão.
Reiterando a afirmação supracitada de Agamben: “Chamemos relação de exceção a essa
forma extrema da relação que inclui alguma coisa unicamente através de sua
exclusão.”[25] De fato, soberano e homo sacer são, na verdade, figuras simétricas:
“Aqui a analogia estrutural entre exceção soberana e sacratio mostra todo o seu sentido.
Nos dois limites extremos do ordenamento, soberano e homo sacer apresentam duas
figuras simétricas, que têm a mesma estrutura e são correlatas, no sentido de que o
soberano é aquele em relação ao qual todos os homens são potencialmente homines
sacri e homo sacer é aquele em relação ao qual todos os homens agem como
soberanos”[26]
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Os dois corpos do rei representam, na verdade, mais do que a intuição de
Kantoriwicz[27] apontou. Não se trata somente de um corpo institucional e outro
pessoal, mas da existência, na figura do próprio soberano, da relação que constitui o
centro do poder estatal. O soberano possui, ao lado do seu corpo humano um corpo
sacro. Um corpo público e ritualizado ao extremo, que não mais lhe pertence, e sobre o
qual se funda a relação central da soberania. Mais do que a transcendência da realeza
ante a pessoa do rei, trata-se da afirmação do caráter radical, absoluto e não-humano da
soberania
O campo, por sua vez, é para Agamben o paradigma central da política moderna. Mais
do que um evento histórico específico, ele é uma lógica de ordenação da sociedade, que
se vincula à crescente abrangência da vida nua e ao novo conceito de territorialidade
imposto pela onipresença da exceção. O estado de direito, constituído a partir do
controle do território e da concessão de direitos como modo de vinculação dos
indivíduos, não subsiste na lógica desterritorializada do campo. O refugiado é a figura
central da contemporaneidade, um homo sacer sem direitos, uma vez que a validade dos
direito sempre se ateve estritamente relacionada aos limites dos Estados-Nacionais.
Com o progressivo esgarçamento do paradigma nacional ele passa a constituir a regra, o
modelo contemporâneo de cidadania. No campo todos são homines sacri e o estado de
exceção é permanente.
“Como ficará claro adiante, não podemos aceitar em sua generalidade a tese de
Agamben. O estado de exceção ou direito de exceção define apenas os atos dos que têm
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o poder, e não os atos daqueles que o buscam, querem-no ou pretendem destruí-lo ou
derrubá-lo. O poder constituinte provém apenas dessa segunda categoria, e não deve ser
confundido com os atos daqueles que detêm institucionalmente o poder de exceção, o
poder de suspender as garantias legais e o poder da ditadura.” [29].
Negri, por sua vez, não admite a hipótese de uma obediência irrestrita. A resistência
sempre virá, pela própria constituição da natureza humana. Com efeito, a disjunção
entre os autores pode ser remontada a suas referências intelectuais. Enquanto a
representação hobbesiana da soberania feita por Agamben, a partir do filtro de Schmitt,
reconhece a possibilidade de uma renúncia das potências individuais na constituição do
coletivo ou do público, Negri opta por vertente distinta. A partir de Spinoza,
especialmente o do capítulo XVI do Tratado Político, ele recusa a identidade entre
cessão e renuncia, afirmando a impossibilidade ontológica do fim da resistência. A
chave desta tese está no conceito spinozano de conatus. A despeito de suas formulações
racionais, o homem sempre tende a perseverar na existência, a atividade é inerente a
natureza humana, princípio basilar da filosofia spinozana.[31] Deste modo, mesmo
quando sob um regime de obediência e dominação, a resistência traça e traçará linhas de
fuga.
Bibliografia
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AGAMBEN, Giorgio, Estado de Exceção, São Paulo, Boitempo, 2003, 142 p.
__________________, Homo Sacer, Belo Horizonte: Editora UFMG, 2004, 207 p..
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editora, 2004.
KANT, Imanuel, Crítica da Razão Prática, São Paulo: Martins Fontes, 2002. 294p.
MORENTE, Manuel Garcia, Fundamentos da Filosofia, São Paulo: Mestre Jou, 1970.
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RAWLS, John, História da Filosofia Moral, São Paulo: Martins Fontes, 1995.
ROUANET, Sergio Paulo, Dilemas da Moral Iluminista, in Ética, org. Adauto Novaes.
São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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SCHMITT, Carl, O conceito do político. Petrópolis: Vozes, 1992. 151p.
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[11] Ibidem, pág. 416.
[24] A referência aqui é a distinção aristotélica entre bios, vida biológica, e zoe, vida
política ou submetida aos padrões culturais, utilizada por Agamben no início do Homo
sacer, com o escopo de afirmar uma nova distinção ontológica fundamental do político.
Mais do que a dicotomia schmittiana entre amigo e inimigo, a disjunção fundamental do
pensamento político ocidental se refere aos conceitos de inclusão e exclusão, presente já
nas referidas construções de Aristóteles e fundamental para compreender a problemática
do Estado de Exceção.
[27] KANTOROWICZ, Ernst Hartwig,. Os dois corpos do rei: um estudo sobre teologia
politica medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. 547 p.
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[31] Cabe ressaltar que a existência de um modo singular é para Spinoza sempre ativa e
de acordo com a sua essência que nada mais é do que potência atual. Como ele mesmo
afirma, não é preciso morrer para virar cadáver.
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