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Giorgio Vasari

A Contra-Reforma transferiu a busca pela pureza da religião para a


arte, e, neste sentido, Giorgio Vasari pode ser considerado como o ‘pai da
história da arte moderna'.27
Em Le Vite Dei Piu Eccelenti Pittori Scultori ed Architettori trouxe a
teoria da história dos Espirituais Franciscanos para os novos
inconformistas na arte. O espiritualismo tornou-se purismo e classicismo
na esfera da crítica de arte.
A divisão tradicional franciscana da história em três idades
reaparece sob a forma de épocas na história de estilo artístico. Primeiro,
havia a pura grandeza do mundo antigo.
A maniera antica decaiu após a época de Constantino e foi
substituída pela escuridão da idade média, do infelice secolo. Tal aspereza
e estranheza arruinou a pureza do evangelho clássico.
O renascimento começou com Giotto e outros eleitos portadores
pela salvação da verdadeira arte. O progresso permitiu aumentar o
domínio do natural e a liberdade da maniera cresceu até a perfeição ser
alcançada na idade de ouro de Leão X - a recuperação contra Lutero - por
meio da trindade terrestre-celestial de Leonardo, Rafael e Michelangelo.

Vasari foi o Sebastian Franck e Gottfried Arnold da história da arte.


Assustado com a ameaça de declínio e queda de uma nova barbárie,
escreveu a sua história como guia para os poucos espíritos eleitos do
futuro. Deus - e este foi um milagre muito grande - começando por Giotto,
havia despertado a arte, a feliz notícia do belo, para a vida. Uma vez que
os renovadores da arte são chamados por Deus, Vasari ficava
especialmente feliz quando conseguiu descrever monges artistas, que,
como Giovanni da Fiesole, Don Lorenzo degli Angeli e Giovanni Agnolo
Montorsoli serviram a Cristo e à arte pura ao mesmo tempo.
Apreensivamente, notou como artistas individuais se afundaram nas
"sombras do pecado". Na introdução às vidas, observou com alegria as
virtudes e glorificou a pobreza que tantas vezes estimulou os artistas às
maiores realizações.
O terceiro reino (terza maniera), o moderno, foi inaugurado por
Leonardo, cujas marcas sagradas eram: buona regola, miglior ordine, retta
misura, disegno perfetto, e grazia divina. (Vite , p. 544) . Todas estas ideias
podem ser facilmente traduzidas nos principais conceitos do pensamento
calvinista, cartesiano e jansenista de ordem, regra, método, graça e
medida. Esta unidade espiritual interna ajuda incidentalmente a explicar o
prestígio de Vasari na Europa espiritual do séculos XVII ao século XIX.
Leonardo foi seguido por Rafael sobre quem Deus derramou todas
as graças da natureza. Vasari retratou-o como um novo Francisco; a sua
natureza genial era tão cheia de graciosidade e caridade que as feras e os
homens em adoração o admiravam. Quem quer que trabalhasse com ele
seria considerado abençoado, e bem-aventurados os que o seguem,
porque também serão recompensados em Céu. Vasari concluiu (como os
espirituais concluíram as Vidas de Francisco e de Olivi) com a despedida
de Castiglione: Rafael regenerou Roma.
Finalmente, na plenitude de tempo, Deus teve pena da
humanidade, mergulhada na escuridão, e decidiu enviar à terra um
espírito que, mais celestial do que terrestre, conduziu a pura arte ao auge
da perfeição: o divino Michelangelo.
Vasari criou uma ideologia da religião do gozo e da crítica de arte,
em grande medida, uma renovação do espiritualismo da antiguidade. A
arte foi salva do processo de condenação e permitiu satisfazer os corações
na dura e rígida Europa da Contra-Reforma e do Calvinismo.

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