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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc.

XV-XVIII

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA

MANUAL DE HISTÓRIA MODERNA DO SÉC. XV-XVII

ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO 2022

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTÓRIA

MANUAL DE HISTÓRIA MODERNA DO SÉC. XV-XVII

3º ANO : MANUAL DE ESPECIALIDADE

CÓDIGO

TOTAL HORAS/ SEMESTRE

CRÉDITOS (SNATCA) 4

NÚMERO DE TEMAS 5

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Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e contém reservados


todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou
outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Aberta ISCED (UnISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais


em vigor no País.

A Universidade Aberta ISCED

Vice-Reitoria Académica

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Beira - Moçambique

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Cel: +258 82 3055839

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Website:www.unisced.edu.mz

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Agradecimentos

A Universidade Aberta ISCED (UnISCED) agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e


instituições na elaboração deste manual:

Autor MSc. Luís Diogo Alberto

Coordenação Vice-reitoria Académica

Design Universidade Aberta ISCED (UnISCED)

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distância (IAPED)

Revisão Científica e XXXXX


Linguística

Ano de Publicação 2021

Ano de actualização 2022

Local de Publicação UnISCED – BEIRA

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Índice

Visão geral 1
Benvindo à Disciplina/Módulo de Contabilidade Geral ................................................... 1
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 2
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 7
Avaliação ........................................................................................................................... 7

TEMA – I: INTRODUÇÃO A HISTÓRIA MODERNA: DO SÉCULO XV-XVIII 9


UNIDADE TEMÁTICA 1.1. DECADÊNCIA DO MUNDO FEUDAL E O SURGIMENTO DA
ECONOMIA MERCANTIL.................................................................................................... 9
Introdução......................................................................................................................... 9
Sumário ........................................................................................................................... 16
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 17
Exercícios para AVALIAÇÃO ............................................................................................ 18

TEMA – II: O RENASCIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES 19


UNIDADE TEMÁTICA 2.1. O RENASCIMENTO: COMERCIAL E URBANO ......................... 19
Introdução....................................................................................................................... 19
Sumário ........................................................................................................................... 31
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 31
UNIDADE TEMÁTICA 2.2. O RENASCIMENTO CULTURAL E ARTÍSTICO .......................... 34
Introdução....................................................................................................................... 34
Sumário ........................................................................................................................... 45
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 45
Exercícios para AVALIAÇÃO ............................................................................................ 47

TEMA – III: A REVOLUÇÃO BURGUESA DA INGLATERRA NO SECULO XVII 48


UNIDADE TEMÁTICA 3.1. A REVOLUÇÃO BURGUESA DA INGLATERRA NO SECULO XVII
........................................................................................................................................ 48
Introdução....................................................................................................................... 48
Sumário ........................................................................................................................... 58
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 59
Exercícios para AVALIAÇÃO ............................................................................................ 62

TEMA – IV: A EMERGÊNCIA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA INGLATERRA 63

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UNIDADE TEMÁTICA 4.1. CAUSAS E FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA


INGLATERRA .................................................................................................................... 63
Introdução....................................................................................................................... 63
Sumário ........................................................................................................................... 75
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 75
Exercícios para AVALIAÇÃO ............................................................................................ 77

TEMA – V: A REVOLUÇÃO BURGUESA NA FRANÇA- SÉCULO XVIII 78


UNIDADE TEMÁTICA 1.1 A Revolução Burguesa Francesa e seus efeitos no mundo .... 78
Introdução....................................................................................................................... 78
Sumário ........................................................................................................................... 89
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ..................................................................................... 90
Exercícios para AVALIAÇÃO ............................................................................................ 92

TEMA – VI: A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA DO NORTE 93


UNIDADE TEMÁTICA 6.1. A Guerra De Independência na América Do Norte ............... 93
Introdução....................................................................................................................... 93
Sumário ......................................................................................................................... 103
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ................................................................................... 104
Exercícios para AVALIAÇÃO .......................................................................................... 107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 108

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Visão geral

Benvindo à Disciplina/Módulo de Contabilidade Geral

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de História Moderna: Do


Século XV-XVIII deverá ser capaz de: Apresentar a estrutura básica
da contabilidade, destacando seus objectivos, sua sistematização,
seus procedimentos concebidos para captar, registrar, acumular,
resumir e interpretar os fenômenos que afectam as situações
patrimoniais, financeiras e econômicas das organizações.

• Relatar o processo de decadência do mundo feudal e o


surgimento da economia mercantil na Europa
• Perceber o conceito de modernidade e os diversos
sentidos que teve ao longo do tempo, bem como as
Objectivos Específicos contradições que esse termo encerra;
• Descrever as características e os maiores marcos da
idade moderna
• Apresentar os elementos que caracterizam o começo do
renascimento como filosofia de vida e sua influência na
sociedade;
• Identificar as fases do renascimento;
• Identificar os principais percussionistas do movimento
renascentista;
• Perceber os movimentos renascentistas e seu papel no
desenvolvimento cultural e científico
• Perceber o contexto e os factores que influenciaram as
grandes revoluções na europa e a burguesa na
Inglaterra no Século XVII;
• Identificar as fases e etapas da revolução burguesa e
seus principais intervenientes;
• Entender a pertinência da Revolução Inglesa para a
história da humanidade;
• Perceber o início do renascimento cultural e artístico;
• Identificar as principais correntes e filosofias do
renascimento cultural;

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• Entender a pertinência do movimento renascentista e


os seus percursores.
• Perceber o contexto e os factores que influenciaram as
grandes revoluções na europa e a burguesa na
Inglaterra no Século XVII;
• Identificar as fases e etapas da revolução burguesa e
seus principais intervenientes;
• Entender a pertinência da Revolução Inglesa para a
história da humanidade;
• Apresentar as causas que determinaram a revolução
industrial;
• Demonstrar as fases, o processo e o papel da Inglaterra
na revolução industrial;
• Perceber as consequências da revolução industrial para
a humanidade.
• Apresentar as causas que determinaram a revolução
Burguesa Na Franca- Seculo XVIII;
• Apresentar os elementos que caracterizam o começo da
Revolução Burguesa Na Franca- Seculo XVIII;
• Identificar os efeitos da Revolução Francesa no mundo
• Apresentar os factores que influenciaram a guerra para
independência da América do Norte;
• Discutir o processo de independência dos povos do
continente americano tomando caso da américa anglo-
saxónica;

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


Licenciatura em Ensino de História da UnISCED e outros como
História Moderna do Século XV-XVIII. Poderá ocorrer, contudo,
que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de História Moderna do Século XV-XVIII, para


estudantes do 2º ano do curso de Licenciatura em Ensino de

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História, à semelhança dos restantes da UnISCED, e está


estruturado como se segue:
Páginas introdutórias

▪ Um índice completo.
▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,
resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer
para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia
esta secção com atenção antes de começar o seu estudo,
como componente de habilidades de estudos.
Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são
incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e
actividades práticas, incluído estudo de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos da UnISCED, pensando em


si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio
de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal a UnISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos.

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Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.
Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação
mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção
e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.
Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

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1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as


de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana?
Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio
barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada
hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada
ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando
achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume
de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por
fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em
insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

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Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento
e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes
(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante
– CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro
estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do UnISCED
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste

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período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza


pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%
do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que lhe permite situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


auto−avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.
Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os
mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.
O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma
transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante da UnISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor? Nós dissemos: sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e consistente.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de
avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e
aprendizagem no campo, pesam 40% e servem para a nota de
frequência para admitir aos exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou módulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 60%, o que adicionado aos 40% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 3 (três)
avaliações e 1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados
como ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação

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TEMA – I: INTRODUÇÃO A HISTÓRIA MODERNA: DO SÉCULO XV-XVIII


UNIDADE Temática 1.1. Decadência do mundo feudal e o surgimento
da economia mercantil.
UNIDADE Temática 1.2. O surgimento da Modernidade e suas
características
UNIDADE Temática 1.3. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE TEMÁTICA 1.1. DECADÊNCIA DO MUNDO FEUDAL E O SURGIMENTO


DA ECONOMIA MERCANTIL

Introdução

O presente Tema I, trata de aspectos gerais sobre a periodização da


história mundial, de forma geral, e da história do período moderno de
forma muito específica entre os seculos XV e XVIII. Neste capítulo tomar-
se-á em a decadência do mundo feudal e o surgimento da economia
mercantil e o surgimento da Modernidade e suas características.
A maior preocupação deste capítulo é contextualizar o estudante sobre
o conceito de modernidade e os diversos sentidos que teve ao longo do
tempo, bem como as contradições que esse termo encerra. Vale
ressaltar que a época moderna tem o seu princípio no processo de
transição do feudalismo para capitalismo as sequências de modificações
que ocorreram a partir do século XI na Europa feudal.
O marco “Idade Moderna” foi criado no século XVI, para dar nome ao
novo período histórico que se entendia que a Europa estaria
atravessando. Francesco Petrarca criou, em 1341, a distinção entre a
época antiga e a época nova, o seu próprio período. A partir do século
XVI, a época nova passou a ser chamada de moderna.
Portanto, caracteristicamente, a cultura moderna se criou
vagarosamente, se explicou e se afirmou sempre mais pelas revoluções
científicas, industrial, tecnológica e informática; pelo Renascimento,
Iluminismo, Liberalismo e Marxismo; pelas Revoluções Francesa,
Americana e Soviética
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Relatar o processo de decadência do mundo feudal e o


surgimento da economia mercantil na Europa
• Perceber o conceito de modernidade e os diversos sentidos que
Objectivos teve ao longo do tempo, bem como as contradições que esse
específicos termo encerra;

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• Descrever as características e os maiores marcos da idade


moderna

O Feudalismo foi uma 1.1.Decadência do Mundo Feudal e o Surgimento Da Economia


organização econômica, Mercantil
política e social baseada na Figura 1: Divisão periódica da história
posse da terra - o feudo -
que predominou na
Europa Ocidental durante
a Baixa Idade Média. As
terras e títulos de nobreza
eram doadas pelo rei como
recompensa aos líderes
por terem participado de
batalhas.

O feudo era uma grande


propriedade rural que
abrigava o castelo
fortificado, as aldeias, as Fonte: Autor, 2021
terras para cultivo, os
pastos e os bosques. A Idade Média, por se tratar de uma época historicamente longa,
geralmente é dividida em duas fases: Alta Idade Média (V ao XI), período
em que acontece a formação e consolidação do feudalismo, e Baixa
Idade Média (XII ao XV), quando acontece o apogeu, a decadência e a
crise do feudalismo. Já no final da Alta Idade Média sucederam
profundas modificações na estrutura feudal, que introduziram parte da
comunidade a uma dinâmica urbana e comercial. Sobre estas
modificações estabeleciam-se as principais causas da crise do sistema
feudal, que pouco a pouco, tomava formado capitalismo mercantil
dominante durante a Idade Moderna2.
Compreende-se como processo de transição do feudalismo para
capitalismo as sequências de modificações que ocorreram a partir do
século XI na Europa feudal. A partir do século X e XI, com o termo das
invasões bárbaras e com o surgimento de novas tecnologias no campo,
houve uma ampliação considerável na produção agrícola. Com uma
maior disponibilidade de alimentos houve, por consequência, um
aumento demográfico.
Figura 2: Estrutura administrativa do feudalismo

2
DAUWE, Fabiano. (2008). Caderno de estudos: história moderna. Centro
Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial: UNIASSELVI,

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Fonte: https://beduka.com/blog/materias/historia/principais-caracteristicas-
feudalismo/

Também no século XI inauguraram as Cruzadas. Com as idas e vindas do


Oriente, muitas rotas comerciais que haviam desaparecido com o fim
do Império Romano Ocidental ressurgiram, como também apareceram
novas rotas que ligavam o Ocidente do Oriente. O surgimento /
renascimento de rotas comerciais com o Oriente, aliada à existência de
um excedente agrícola comerciável permitiu que ocorresse um
importante fenômeno para o surgimento do capitalismo: a Revolução
Comercial3.
Figura 3: Cruzadas comerciais

3
HUBERMAN, Leo. (1986). História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro:
Guanabara

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Fonte:
https://www.educabras.com/enem/materia/historia/historia_geral/aulas/baixa_i
dade_media_formacao_dos_estados_nacionais_europeus

Em consequência desta revolução comercial ocorreu também a


Revolução Urbana, mais precisamente, o renascimento das cidades,
aliadas ao nascimento de novas, bem como a retomada de actividades
tipicamente urbanas. Sobre o povoamento das cidades medievais
entende-se que com a expansão demográfica ocorrida em detrimento
do aumento da produção agrícola, muitas pessoas passaram a habitar
as cidades, bem como as inovações tecnológicas no campo, que
requeriam menos mão-de-obra, expulsaram os camponeses4.
Estes dois factores aliadas criaram fluxos migratórios do campo para as
cidades. Com o crescente comércio e com o renascimento das
actividades urbanas surgia também uma nova classe de pessoas: os
burgueses. Inicialmente as cidades que cresciam perto dos castelos dos
senhores feudais eram chamadas de burgos, e o termo burguesia se
referia a todas as pessoas que habitavam os burgos. Mas com o tempo,
a burguesia passou a referenciar uma classe de pessoas que se
destacavam nas actividades comerciais urbanas, detendo domínio do
capital e dos meios de produção.
As actividades artesanais que se desenvolviam no início da Revolução
Comercial foram, pouco a pouco, se tornando dependentes da
burguesia. Neste ponto da história da humanidade ocorre o surgimento
de uma nova relação de produção muito importante para o surgimento
do capitalismo, o surgimento dos assalariados. O processo de
substituição dos laços servis por trabalho assalariado não ocorreu,
entretanto, em todos os lugares onde predominavam as relações
feudais.
Na Europa Oriental, afastada das rotas comerciais, as relações servis
não declinaram, ao contrário, se intensificaram. O senhor feudal
ampliava a apropriação da produção do servo, aumentando a sua
reserva comerciável. Uma vez que as forças produtivas materiais se
desenvolvam por completo, as relações de produção, que antes eram o
motor de tal desenvolvimento, passam a se tornar obstáculos, daí a
necessidade de uma mudança, geralmente sob forma de crises e/ou
revoluções.
Portanto, a contração de relações assalariadas, a revolução comercial e
o surgimento da burguesia, não significam só uma mudança na
formação social, mas também o surgimento de um novo modo de
produção, caracterizado por esta nova relação social de produção,
necessária ao desenvolvimento das novas forças produtivas materiais
que surgem na sociedade

4
HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. (1977). História do Pensamento
Econômico. Petrópolis: Vozes,

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Nos idos do século XII as revoluções comercial e urbana introduziram a


sociedade, dominada pela Igreja, novas relações e necessidades
materiais. A noção de capitalismo, entretanto já existia nas primeiras
civilizações.
Com o renascimento do comércio as terras perderam o ser caráter
autossuficiente, pois até então sua produção era voltada para suprir as
necessidades do feudo e do senhor feudal. Desta forma, o campo
deixou de produzir alimentos para produzir matéria-prima para
subordinar-se às necessidades da cidade. Com o campo despovoado
(consequência dos fluxos migratórios rumo as cidades), a estagnação
tecnológica, aqueda na produtividade do solo, as mudanças climáticas
e a expropriações das terras cultiváveis, a produção de alimentos caiu
consideravelmente.
Os senhores feudais passaram, desta forma, a explorar a massa servil e
o campesinato que habitavam o campo, gerando vários movimentos,
acompanhados de motins e revoltas que surgiam nas cidades em função
do desemprego. Toda esta situação de fome estava acentuada pelo
número de pessoas que habitavam a Europa na época. Além da fome, a
crise do sistema feudal acentuou-se pelas intensas pestes que se
alastravam pela Europa, dizimando boa parte da população. Estas
pestes vinham do comércio com o Oriente.
Desta forma, criou-se um ciclo de desgraças, chamado de trilogia de
catástrofes, mais conhecida pela fome, epidemias e guerras. Deve-se
lembrar que o período medieval foi marcado pela descentralização
política, ou seja, o poder estava na mão dos nobres senhores feudais,
sendo o rei uma figura quase que totalmente decorativa. Com o
surgimento da burguesia e a luta pela emancipação das cidades, o
monarca aliou-se a esta nova classe no objetivo de tirar a nobreza do
poder.
No período de crise do sistema, o monarca surge como uma figura
coletiva, centralizando o poder em suas mãos. A existência da nobreza
no período pós-medieval foi de grande importância para o
desenvolvimento do capitalismo mercantil.
Para o mercador do século XVI, a nobreza servia para financiar as
expedições ultramarinas. Parte da nobreza tomou posse das colônias
americanas tornando-se uma classe de aristocratas rurais que de
tinham de poder político e econômico. A burguesia surgida das ruínas
do feudalismo não suprimiu a luta de classes histórica, mas limitou-se a
substituir as antigas classes por novas, por novas condições de
opressão, por novas formas de luta .Sob a perspectiva materialista
histórica, a crise feudal e o esfacelamento de suas instituições é a
própria mudança na estrutura da sociedade e o reflexo desta sobre a
superestrutura.
Portanto, o surgimento de relações de produção assalariadas,
possibilitada pela existência de
13
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

condições materiais para tal, é o alicerce do processo que originou as


instituições predominantes na Idade Moderna, estruturadas sob o
desenvolvimento das forças produtivas e consequentemente sob o
novo modo de produção correspondente a este grau desenvolvimento.
O período histórico compreendido entre os séculos XV e XVIII é
conhecido pelos historiadores como Idade Moderna. Este período de
quatro séculos testemunhou, dentre outros fenômenos, a consolidação
do capitalismo mercantil, a descoberta de um enorme continente e a
exploração do mundo, o surgimento dos Estados Nacionais, o triunfo do
racionalismo e do antropocentrismo.

A Modernidade enquanto momento histórico caracteriza-se pela


Entre suas principais antitradição, pela derrubada das convenções, dos costumes e das
características, podemos crenças, pela saída dos particularismos e entrada no universalismo, ou
mencionar o humanismo, ainda pela entrada da idade da razão. Mas, muitas combinações do
o racionalismo, o moderno e do tradicional podem ainda ser encontradas nos cenários
desenvolvimento cultural sociais concretos.
e científico; Reformas Podemos perceber que existe uma certa congruência nos sentidos de
religiosas: no aspecto modernidade que foram desenvolvidos ao longo do tempo. Há sempre
religioso, a ascensão do uma valorização de determinados aspectos antigos e uma rejeição de
Humanismo, entre outros outros; poderíamos dizer que há sempre uma tomada de posição em
fatores, teve impacto nas relação ao passado, com base em critérios que, embora mudem a cada
críticas à Igreja Católica, momento, faziam muito sentido dentro do período histórico em que
que culminaram com a foram estabelecidos. Esses critérios são importantes para nós porque
Reforma Protestante no costumam ser usados para explicar não apenas o processo de
século XVI construção da “modernidade”, desde o final da Idade Média, mas
também a própria época em que cada um deles foi elaborado.

1.2.O surgimento da Modernidade e suas características


O termo “Idade Moderna” foi criado no século XVI, para dar nome ao
novo período histórico que se entendia que a Europa estaria
atravessando. Francesco Petrarca criou, em 1341, a distinção entre a
época antiga (greco-romana) e a época nova, o seu próprio período
(separados por um longo período de obscuridade, a Idade das Trevas).
A partir do século XVI, a época nova passou a ser chamada de moderna5.
A Idade Moderna representava, assim, o momento em que a Europa
despertava de sua “longa noite de mil anos” e dava os primeiros passos
para conquistar o mundo. Desta forma, o termo “moderno” ganhava
um sentido de transformação e de recuperação das antigas tradições,
em oposição aos tempos medievais. Ganhava sentidos mais incômodos,
reflexo das enormes contradições desse período histórico.

5
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1994.

14
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Teoricamente, “modernidade” refere-se a estilo, hábitos de vida ou


organização social que emergiram na Europa e que posteriormente se
tornaram mais ou menos mundiais em sua influência. A época moderna
ergueu-se com o descobrimento do Novo Mundo, o Renascimento e a
Reforma (século XV e XVI); fortaleceu-se com as Ciências Naturais no
século XVII, atinge seu auge político nas revoluções do século XVIII,
estende suas implicações gerais após a Revolução Industrial do século
XIX e acaba no limiar do século XX6.
Mas também a Modernização se refere a um combinado de processos
conjuntos e de fortalecimento recíproco: à criação de capital e
mobilização de meios; a evolução das forças produtivas e ao ampliação
do rendimento do trabalho; a determinação do poder político
centralizado e à formação de identidades nacionais; à expansão dos
direitos de participação política, das formas urbanas de vida e da
formação escolar formal e, à secularização de valores e normas7.
A Modernidade constitui-se a partir da pretensão de rejeitar a tradição,
submetendo tudo ao exame crítico da razão e à experimentação.
Embora esta mesma tradição tenha persistido em muitas esferas da
vida. Por isso, há uma tendência para um dinamismo e uma mudança
incessantes, questionando as suas próprias conquistas e buscando
continuamente inovações. No limiar da era moderna, três grandes
eventos lhe determinam o seu caráter: a descoberta da América, com
uma nova visão de mundo, a Reforma na Igreja e a invenção do
telescópio, que permitiu o desenvolvimento de uma nova ciência.
Com isto Azevedo8 afirma que a Modernidade é sinônimo de
colectividade moderna ou evolução industrial e está associada a um
conjunto de posturas perante o mundo, como a ideia de que:
▪ O mundo é passível de modificação pela intervenção humana;
um complexo de instituições económicas, em especial a
produção industrial e a economia de mercado;
▪ Toda uma gama de instituições políticas, como o estado nacional
e a democracia de massa;
▪ A primazia e a centralidade do indivíduo e não, do grupo como
sujeito de direitos e de decisões;
▪ O primado da subjetividade, o pluralismo e a ideologia;
▪ A concepção linear de história;

6
GIDDENS, A., As consequências da Modernidade. São Paulo: UNESP, p. 172;
7
LIBÂNIO, J. B., Teologia da revelação a partir da modernidade. São Paulo:
Loyola, 1995, p. 116.
8
AZEVEDO, M., Entroncamentos e entrechoques: vivendo a fé em um mundo
plural. São Paulo: Loyola, 1991, p. 73-74;

15
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▪ A realimentação mútua entre ciência e tecnologia, com a


hegemonia de sua racionalidade própria;
▪ O predomínio cada vez maior do simbolismo formal de cunho
numérico-matemático (informática);
▪ A pesquisa e industrialização em níveis diversos de qualidade
técnica (transformadora, inovadora, criadora);
▪ A burocratização e a organização política da sociedade.
É preciso lembrar que a cultura moderna se criou lentamente, se definiu
e se afirmou sempre mais pelas revoluções científicas, industrial,
tecnológica e informática; pelo Renascimento, Iluminismo, Liberalismo
e Marxismo; pelas Revoluções Francesa, Americana e Soviética; pela
filosofia a partir de Descartes e pelas ciências naturais e sociais; pela
ideologia econômica, a partir da revolução monetária e comercial-
mercantil; pelos sistemas sociopolíticos e econômicos em todas as suas
versões e modelos de concretização histórica; pela expansão
colonialista e pela pressão neocolonialista, de cunho econômico,
político ou ideológico9.
Certamente, a Modernidade trouxe grandes aquisições. Isto é
indubitável. Auxiliou a construção de um universo mais democrático,
onde os direitos humanos devem ser respeitados. Além disso, o enorme
avanço técnico-científico consentiu um melhor bem-estar à sociedade.
No entanto, com todos estes avanços houve, por consequente, uma
estruturação da vida humana que nem sempre trouxe uma realização
profunda do existir10.
Este período da História é caracterizado pelo Renascimento Cultural,
pela Reforma Protestante e Contra Reforma Católica, pelas Grandes
Navegações, pelo Colonialismo e Mercantilismo, pelo advento do
Capitalismo Comercial, com a formação do Regime Absolutista,
também denominado de Antigo Regime.

Sumário

Nesta Unidade temática 1 estudamos e discutimos fundamentalmente


os aspectos gerais da época moderna, relatou-se os factores que
influenciaram a transição da idade media para a idade moderna. Dos
factores influenciadores identificou-se o renascimento nas suas
diversas formas.

9
AZEVEDO, M., Entroncamentos e entrechoques: vivendo a fé em um mundo
plural. São Paulo: Loyola, 1991, p. 73-74;
10
AGOSTINI, N., Condicionamentos e manipulações: desafios morais. In: O
itinerário da fé na “iniciação cristã dos adultos”. Estudos da CNBB n. 82, São
Paulo: Paulus, 2001, p. 103.

16
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Apresentou-se de forma única as características do período moderno


com maior enfase o humanismo, o racionalismo, o desenvolvimento
cultural e científico; as Reformas religiosas: no aspecto religioso, a
ascensão do Humanismo, entre outros factores, teve impacto nas
críticas à Igreja Católica, que culminaram com a Reforma Protestante
no século XVI.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas de múltiplas escolhas

1. A Idade Média, por se tratar de uma época historicamente


longa, geralmente é dividida em duas fases:
a) Idade Média Moderna (V ao XI) e Idade Média (XII ao XV);
b) Alta Moderna (V ao XI) e Baixa Moderna (XII ao XV);
c) Alta Idade Média (V ao XI) e Baixa Idade Média (XII ao XV);
d) Todas alíneas corretas.
2. Alta Idade Média (V ao XI), período em que acontece:
a) a formação e consolidação do feudalismo
b) profundas modificações na estrutura feudal, que
introduziram parte da comunidade a uma dinâmica urbana
e comercial;
c) As principais causas da crise do sistema feudal;
d) Todas alíneas corretas
3. Compreende-se como processo de transição do feudalismo para
capitalismo as sequências de modificações que ocorreram a
partir:
a) Do seculo XI na América do Norte
b) Do século XI na Europa feudal
c) Do seculo IX na Europa Ocidental
d) Do Seculo X na Africa Ocidental
4. O surgimento / renascimento de rotas comerciais com o
Oriente, aliada à existência de um excedente agrícola
comerciável permitiu que ocorresse um importante fenômeno
para o surgimento do capitalismo:
a) Revolução industrial
b) Revolução Comercial
c) Revolução burguesa
d) Revolução Francesa
5. Com o renascimento do comércio as terras perderam o ser
caráter autossuficiente, pois até então sua produção era voltada
para:
a) Suprir as necessidades do feudo e do senhor feudal;
b) Para o comercio, pois, tudo estava para dinheiro;

17
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c) Responder as necessidades do povo;


d) Todas alíneas corretas
6. Com o campo despovoado, a estagnação tecnológica, aqueda na
produtividade do solo, as mudanças climáticas e a expropriações
das terras cultiváveis, a produção de alimentos.
a) Aumentou drasticamente;
b) Caiu consideravelmente;
c) Manteve-se em níveis satisfatórios;
d) Todas alíneas incorrectas

Das afirmações que se seguem assinale com V a verdadeira e F a Falsa.


7. Em consequência da revolução comercial ocorreu também a
Revolução Urbana, mais precisamente, o renascimento das
cidade
a. Verdade
b. Falso
8. As actividades artesanais que se desenvolviam no início da
Revolução Comercial foram, pouco a pouco, se tornando
independentes da burguesia.
a. Verdade b. Falso
9. No século XII as revoluções comercial e urbana introduziram a
sociedade, dominada pela Igreja, novas relações e necessidades
materiais. A noção de capitalismo, entretanto já existia nas
primeiras civilizações.
a. Verdade b. Falso
10. Os senhores feudais passaram, desta forma, a explorar a massa
servil e o campesinato que habitavam o campo, gerando vários
movimentos, acompanhados de motins e revoltas que surgiam
nas cidades em função do desemprego.
a. Verdade b. Falso

Exercícios para AVALIAÇÃO

Perguntas de desenvolvimentos
1. Em quantas fases ficou dividida historicamente a idade media?
2. Com o renascimento do comércio as terras perderam o ser
caráter autossuficiente. Justifique porquê?
3. O período histórico compreendido entre os séculos XV e XVIII é
conhecido pelos historiadores como Idade Moderna. Como se
caracterizou este período?
4. Quais são as principais características do período moderno?
5. Quando foi criado o termo idade moderna e quem foram os
seus percursores?

18
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

TEMA – II: O RENASCIMENTO E SUAS IMPLICAÇÕES


UNIDADE Temática 2.1. O Renascimento Comercial e Urbano.
UNIDADE Temática 2.2. O Renascimento Cultural e Artístico
UNIDADE Temática 2.3. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE TEMÁTICA 2.1. O RENASCIMENTO: COMERCIAL E URBANO

Introdução

Nesta unidade temática trataremos sobre o renascimento e suas


implicações na idade moderna. Antes de mais importa referir que
Renascimento foi um movimento cultural, econômico e científico
ocorrido na Itália e que se espalhou por toda a Europa, iniciando-se no
século XIV até o século XVI.
O movimento foi inspirado em resposta ao período conhecido como
"Idade das Trevas" da Idade Média, onde a Igreja escondia e combatia
os conhecimentos científicos, além dos antigos conhecimentos e
cultura dos romanos e gregos.
Neste capítulo aborda-se as fases, os marcos e os grandes percussores
deste grande movimento que mudou curso da história que estava
embrulhada nas rédeas religiosas.
Portanto, é grande preocupação desta unidade temática explicar a
génese dos movimentos renascentistas e seu papel no
desenvolvimento cultural e científico da idade moderna até a
actualidade.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:
• Apresentar os elementos que caracterizam o começo do
renascimento como filosofia de vida e sua influência na
sociedade;
• Identificar as fases do renascimento;
Objectivos • Identificar os principais percussionistas do movimento
específicos renascentista;

2.1. O RENASCIMENTO: FASES E ASPECTOS GERAIS

O renascer da civilização ocidental demandou concomitantemente às


inovações económicas, políticas e culturais que os estudiosos se
estimulassem para mostrar as novas demandas.

19
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Figura 4: Homem Vitruviano (ou homem de Vitrúvio)

Fonte: Ferreira (sd)

Era preciso uma “nova” explicação sobre menos como ela era ou como
sonhavam que fosse à luz de novos paradigmas. Os grandes filósofos
naturais, físicos, astrônomos, médicos, botânicos, cartógrafos,
navegantes, comerciantes, políticos e burgueses, ainda eram indivíduos
extremamente religiosos durante o Renascimento11.
Os primeiros “modernos” foram justamente clérigos intelectuais que
propunham uma nova visão interpretativa das escrituras sagradas que
rompesse com a lógica escolástica/aristotélica, buscando, assim,
modernizar e atualizar a Igreja de Cristo, que estava em xeque após a
reabertura do mar mediterrâneo, as invasões bárbaras e o consequente
contato com a cultura e as descobertas orientais .
Portanto, enquanto a ciência, a técnica, a quantidade, a observação e o
experimentalismo apreciavam-se e consolidavam-se na Europa
ocidental, e o sujeito cognoscente emergia como novo sujeito da
história, capaz de conhecer e se apropriar da natureza, a tentativa de
aproximar tais descobertas – de forma repaginada – como vontade de
Deus ou como revelação de sua própria existência não cessou.
Durante o Renascimento, sob a influência de Pitágoras, os autores
quiseram encontrar o “número de Deus”, ou a “harmonia divina dos
números”. É bastante conhecida, também, a tentativa de Copérnico e
Newton de encontrarem a plena união entre o movimento dos astros e
a vontade de Deus. Descartes, na filosofia, via apenas a sublime vontade
de Deus quando seu dedutivismo chegava à última parte.

11
DAMIÃO Abraão. O Renascimento e as origens da ciência moderna:
Interfaces históricas e epistemológicas. Revistas PUCSP, 2018

20
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Além disso, um dos maiores empenhos dos filósofos mecânicos, por


exemplo, era mostrar como Deus interagia com o mundo mecânico
uma vez que Deus havia dotado a matéria de um princípio interno de
movimento quando da criação.
O Renascimento foi, ao mesmo tempo, razão e sem-razão, sombra e luz.
Entusiasmou-se com a beleza, mas deixou-nos uma extraordinária
galeria de obras horríveis e malsãs. Pregou a paz, mas dilacerou-se em
guerras religiosas. Foi sorriso e ódio, delicadeza e grosseria, truculência
e austeridade, audácia e medo. Comparável ao adolescente em que
lutam fogosamente forças opostas e que ainda não encontrou o
equilíbrio, foi mais ambicioso que razoável, mais brilhante que
profundo, mais tenso que eficaz. O Renascimento foi variedade, jogo de
contrários, exploração ardente e, por vezes, apenas esboço de um
universo de novidades. Trouxe aos séculos seguintes uma imensa
herança, na qual eles fizeram sua escolha12.
No entanto, a filosofia moderna do Renascimento, mesmo com
diferenças individuais, apresenta uma característica primordialmente
unitária. Esta uniformidade decorre do compromisso dos autores com
certas premissas, das quais se pode destacar13:
• A busca pela autonomia da investigação filosófica em
relação à religião, a partir da qual a filosofia deve ser
examinada à luz de suas próprias regras, não como
instrumento para fornecer racionalidade à teologia;
• A diversidade das perspectivas filosóficas, principalmente de
conteúdo;
• A procura para propor e sustentar sistemas epistemológicos
inteiramente inovadores, desde que apresentassem
elementos de racionalidade;
• A relativa diminuição da relevância da metafísica em favor
de uma filosofia voltada para os problemas gnosiológicos,
morais e políticos, das questões práticas do cotidiano.
Com isso, a metafísica que ocupara espaço privilegiado entre os gregos
e escolásticos não foi a soberana nem mesmo entre seus maiores
discípulos modernos (Descartes, Spinoza, Leibniz, Vico e Malebranche).
Estes se dedicaram muito mais às questões epistemológicas e
metodológicas (graças à notoriedade das ciências naturais no período)
do que à introspecção genuína.

12
Jean Delumeau, A Civilização do Renascimento, trad. Manuel Ruas (Lisboa:
Estampa, 1994), 1:125.
13
DAMIÃO Abraão. O Renascimento e as origens da ciência moderna: Interfaces
históricas e epistemológicas. Revistas PUCSP, 2018

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Uma das consequências mais significativas do Renascimento para a


história do pensamento foi a autonomia da ciência em relação à
teologia e à filosofia.
O mérito desta separação pode ser creditado a F. Bacon (1561-1626) e
G. Galileu (1564-1642). Ambos deram à ciência uma finalidade distinta
daquela atribuída à filosofia e à teologia, e dotaram a epistemologia
moderna de uma crença absoluta no método. Por isso, muitos filósofos
modernos, tentados pelas inovações científicas e os progressos
metodológicos, repetidamente, buscaram imitar Bacon e Galileu14.
Bacon foi o primeiro grande filósofo a colocar o problema do método
próprio das ciências experimentais, do seu objeto e de sua finalidade. A
este respeito o autor planejou produzir uma grande obra intitulada
Instauratio magna, que seria como uma enciclopédia de todas as
ciências a partir de bases experimentais. Deste ousado projeto, Bacon
logrou produzir apenas dois fragmentos: De dignitate et augmentis
scientiarum e o Novum Organon. Do primeiro emergiram as questões
basilares da pesquisa científica, da segmentação da ciência em áreas,
objetos e propósitos15.
Além do objeto, filosofia, religião e ciência também se distinguem pelo
método: a filosofia baseia-se no raciocínio, na lógica ou na dialética, a
religião na metafísica e na especulação, enquanto que a ciência se limita
à experiência, pois é o testemunho da natureza.
Diferentemente de Bacon, Galileu diz que a experiência não engana. O
que distrai, na verdade, é o raciocínio (que serve para estender a
experiência). Por exemplo, quando se escreve o número seis em uma
mesa, dependendo do ângulo em que se vê, é possível considerá-lo um
nove. Isso não é um erro da visão, que percebe claramente a imagem
de fato, e sim um erro do raciocínio, que ignora o fato de a imagem
variar de acordo com o ângulo que se observa.
Ao contrário de muitos de seus sucessores, Galileu não acreditava no
poder ilimitado da ciência, já que ela apresentava limites muito
concretos decorrentes do seu principal instrumento: a experiência.
Como no exemplo acima, a experiência (não por sua culpa) pode
ludibriar e impedir de chegar à essentia dos fenômenos, fazendo com
que apreenda apenas certas qualidades das coisas. E mesmo as
qualidades apreendidas pela experiência devem limitar-se ao que ele
denomina de qualidades primárias: tamanho, movimento, distância
etc., que pertencem necessariamente às coisas e não às outras
qualidades, como odor, cor, som etc. Estas são qualidades secundárias,
e, portanto, não pertencem às coisas, mas sim aos órgãos do sentido
14
DAMIÃO Abraão. O Renascimento e as origens da ciência moderna: Interfaces
históricas e epistemológicas. Revistas PUCSP, 2018
15
Bacon, Novum Organum ou Verdadeiras Indicações Acerca da Interpretação
da Natureza, 3ª ed., trad. José A. R. de Andrade (São Paulo: Nova Cultural,
2005), p. 42

22
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

que percebem e, assim sendo, são subjetivas, enganosas. Segundo


Galileu, tirando os ouvidos, as línguas e os narizes, permanecem os
números, as figuras e os movimentos, mas não os cheiros, nem os
sabores, nem os sons, que, fora do animal vivente, acredito que sejam
só nomes, como nada mais é que nome a cócega, tiradas as axilas e a
pele ao redor do nariz16.
Galileu assegurou o mecanicismo metodológico e científico como
epicentro investigativo, bem como garantiu que o caminho do
verdadeiro conhecimento da natureza partiria da observação dos
fenômenos como tais, como ocorrem, e não como os explica a
especulação subjetiva.
Além da matemática, o desenvolvimento da anatomia, da fisiologia e da
botânica contribuiu profundamente para consolidar a abordagem
experimental à compreensão da realidade natural (natureza). Essas
inovações estimularam duas práticas científicas comuns à renascença:
a descrição (dos fatos e movimentos) e a prescrição (a possibilidade de
saber solucionar os problemas), e impulsionaram o estudo e a
compreensão da forma e função dos animais17.
Por outro lado, a Reforma Protestante foi importante para promover o
experimentalismo como nova prática epistêmica, sobretudo por duas
razões: os protestantes negaram o pressuposto de uma ordem fixa da
natureza que só poderia mudar por milagre, enquanto a relativa
autonomia religiosa e a das responsabilidades, no protestantismo,
impulsionaram a iniciativa própria e o empreendedorismo que se
beneficiavam de uma ciência útil e pragmática, de experimentos que
resultassem em coisas práticas. A essa ideia também subjaz a noção, em
uma sociedade em transformação, de que as descobertas úteis
ajudariam na estabilização e na paz social.
Outra díade do Renascimento, em termos epistemológicos, que não se
pode menosprezar, encontra-se na relação entre magia e prática
científica. Fontes relevantes do empirismo podem ser encontradas na
tradição mágica, por mais contraditório que isso possa soar. O
pensamento mágico – rico e complexo – teve forte influência na
consolidação do empirismo, uma vez que o saber mágico se versava
sobre a causalidade e os efeitos que as explorações de certos elementos
da vida natural possuíam. Ou seja, esta “magia natural” propagada
pelos gregos antigos fundiu-se ao empirismo da renascença à medida
que buscou exemplificar como certos elementos, animais ou vegetais,
em contato com outros elementos, geravam efeitos concretos18.

16
Galilei, O Ensaiador, 241. Esta teoria das qualidades, por exemplo, dará
base à filosofia empirista de Locke.
17
DAMIÃO Abraão. O Renascimento e as origens da ciência moderna:
Interfaces históricas e epistemológicas. Revistas PUCSP, 2018
18
Arendt, A Condição Humana, 10ª ed., trad. Roberto Raposo, rev. Adriano
Correia (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007),

23
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Neste sentido, era preciso um profundo conhecimento dos elementos


naturais e os resultados derivados da interação entre eles. Essa
explicação nada tem de sobrenatural para os naturalistas do
Renascimento, ela deriva, isso sim, da manipulação de objetos e
processos naturais concretos. Sem considerar tal fato, deixa-se escapar
um ponto fundamental para a compreensão da filosofia natural, pois a
visão científica do mundo se desenvolveu, pelo menos em parte, a partir
de um casamento da filosofia natural com a tradição pragmática e
empírica da magia natural.
A importância da magia para a mudança paradigmática do pensamento
renascentista explica-se pelo fato de as técnicas de manipulação dos
elementos naturais estarem diretamente ligadas a ela na Idade Média
e no Renascimento. O próprio telescópio, no início, foi visto como um
elemento mágico.
A influência da magia, contudo, estendeu-se além das questões
metodológicas e trouxe, também, inovações conceituais, como o átomo
(partícula de Deus) descrito por Demócrito e resgatado pelos
humanistas, a gravidade (força oculta de Deus) mencionada por
Aristóteles, mas que só foi exemplificada e sistematizada por Newton,
e o heliocentrismo, descrito por Ptolomeu como uma possibilidade
numérica, uma energia desconhecida que movia os planetas, mas que
só foi referendado por Copérnico e Galileu durante a renascença19.
Ademais, o íman, o poder de cura de alguns animais e plantas para
certas doenças, a regeneração celular, a influência dos planetas, das
marés, as mudanças corporais e as doenças eram envoltas de mistérios
considerados ocultos durante a renascença, já que não podiam ser
captados pelos órgãos dos sentidos ou compreendidos, em suas causas,
pela observação natural – sem a ajuda de instrumentos ainda não
inventados.
O ressurgimento da magia – para desvendar estas forças ocultas –
impulsionou o desenvolvimento de um pensamento crítico, que, sobre
outras bases epistêmicas (matemática, física e biologia), queria explicar
a realidade de uma forma diferente da metafísica, testando, na
realidade, a veracidade dos postulados alquímicos.
A filosofia natural, as ciências da natureza e as inovações matemáticas
tiveram um grande desenvolvimento nos séculos XV e XVI, mas foi
necessária uma inovação a mais para pôr em xeque a escolástica que
perdurara há, pelo menos, oito séculos na Europa ocidental. Esta
inovação veio com o surgimento da filosofia mecânica, que emergiu

19
DAMIÃO Abraão. O Renascimento e as origens da ciência moderna:
Interfaces históricas e epistemológicas. Revistas PUCSP, 2018

24
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

como nova chave analítica para compreender o mundo físico em sua


plenitude20.
A partir de então, os fenômenos deveriam ser entendidos à luz de
conceitos matemáticos, sobretudo os utilizados na análise mecânica
dos objetos e do mundo, em termos de forma, tamanho, movimento e
quantidade. O mote explicativo da realidade natural estaria na análise
analógica dos fenômenos com o maquinismo, ou seja, a engrenagem do
mundo natural dar-se-ia de modo correspondente ao funcionamento
de uma máquina complexa, em que o funcionamento corresponde ao
movimento e interação das partes em termos de ação-contato-reação.
Como concepção filosófica, o mecanicismo existia desde a Antiguidade
com os atomistas. A primeira fase da mecânica foi caracterizada pela
tentativa de explicar os fenômenos naturais reduzindo-os a inúmeras
ações a distância entre os átomos da matéria. A filosofia mecânica
desempenhou papel fundamental no desenvolvimento da
“engenharia”, da cinética, da cartografia, da anatomia, da botânica e da
fisiologia, ao trazer a explicação causal, negando o finalismo e a
exigência da análise quantitativa para a explicação das formas,
processos e funções dos elementos naturais e do ser humano, inclusive
de seu comportamento21.
A filosofia mecânica encontrou seu auge quando se fundiu,
especialmente na Inglaterra, com o experimentalismo de origem
baconiana e o anatomismo de Willian Harvey. A lógica epistêmica
resultante foi “um novo conceito das criaturas vivas, como bêtes-
machines, que atuavam sempre em estrita conformidade com as leis da
mecânica”, rejeitando definitivamente a explicação outrora
contemplativa do funcionamento dos seres vivos.
Outra contribuição fundamental ao desenvolvimento científico do
período veio dos enciclopedistas, que resgataram e aprimoraram a
compilação de dados e saberes. Estes humanistas revolucionaram a
história natural ao catalogar plantas e animais de várias partes do
mundo. Isso tudo aliado a um poderoso instrumento de divulgação das
descobertas e formas de saber: a impressora, que possibilitou ainda a
reprodução mais fidedigna das informações22.
A invenção da tipografia (1455) por Johannes Gutenberg (1398-1468),
além de uma revolução produtiva, proporcionou uma verdadeira
revolução cultural, assumindo papel fundamental no desenvolvimento
e consolidação da renascença, da Reforma Protestante, da Revolução
Científica e da Revolução Industrial, pois criou as bases materiais para

20
Arendt, A Condição Humana, 10ª ed., trad. Roberto Raposo, rev. Adriano
Correia (Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007)
21
Henry, A Revolução Científica, 78.
22
DAMIÃO Abraão. O Renascimento e as origens da ciência moderna:
Interfaces históricas e epistemológicas. Revistas PUCSP, 2018

25
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

uma economia fundamentada no conhecimento e na educação em


massa.
A revolução na produção e disseminação dos textos ocidentais veio ao
encontro da expansão do número de alunos e instituições universitárias
na Europa desde o século XIII, beneficiando, sobremaneira, a vida
intelectual e as exigências crescentes por consumo de cultura. A
imprensa fez disseminar amplamente reproduções de obras de arte e
filosofia, ora inovadoras, ora resgatadas de períodos anteriores, que
provocaram uma verdadeira transformação estética e epistemológica
na Europa e uma enorme alteração das relações artísticas e científicas.
A invenção de Gutenberg foi tão revolucionária que só pode ser
comparada à invenção do computador e da reprodução digital da
escrita.
Pode-se dizer que, mais culta e rica material e espiritualmente, a
sociedade renascentista foi tomada por um tipo específico de prática
epistemológica advinda da história e filosofia natural.
Os intelectuais naturalistas foram essencialmente deístas, acreditaram
na imanência da natureza (que possui em si seu próprio princípio e seu
fim) e desprezaram a visão transcendente do monoteísmo; para eles,
revelar a natureza era revelar o próprio Deus, que se manifestava
através da razão. Perder isso de vista é deixar escapar (talvez) a maior
motivação do naturalismo enquanto prática epistemológica23.

2.1.1. Fases do Renascimento


Três fases, correspondentes aos séculos XIV ao XVI.
a) Trecento24 (em referência ao século XIV)
• Manifesta-se predominantemente na Itália, mais
especificamente na cidade de Florença, pólo político,
econômico e cultural da região. Giotto, Dante Alighieri,
Boccaccio e Petrarca estão entre seus representantes.
• Características gerais: rompimento com o imobilismo e a
hierarquia da pintura medieval - valorização do
individualismo e dos detalhes humanos

23
DAMIÃO Abraão. O Renascimento e as origens da ciência moderna:
Interfaces históricas e epistemológicas. Revistas PUCSP, 2018
24
A primeira fase do renascimento recebe esse nome uma vez que foi
desenvolvido nos anos 1300 em Florença, Itália. É um momento de transição
entre a Idade Média e a Idade Moderna em que se nota o despontar de
questões humanistas, além das inspirações clássicas. Além disso, na pintura a
tridimensionalidade marca essa ruptura com o estilo anterior: o estilo gótico

26
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

b) Quattrocento25 (século XV)


• O Renascimento espalha-se pela península itálica, atingindo
seu auge. Neste período actuam Botticelli, Leonardo da
Vinci, Rafael e, no seu final, Michelangelo (que já prenuncia
certos ideais anti-clássicos utilizando-se da linguagem
clássica, o que caracteriza o Maneirismo, a etapa final do
Renascimento), considerados os três últimos o "trio
sagrado" da Renascença.
• Características gerais: inspiração grecoromana (paganismo e
línguas clássicas), racionalismo, experimentalismo
c) Cinquecento26 (séc. XVI)
• O Renascimento torna-se no século XVI um movimento
universal europeu, tendo, no entanto, iniciado sua
decadência.
• Ocorrem as primeiras manifestações maneiristas e a Contra
reforma instaura o Barroco como estilo oficial da Igreja
Católica.
• Na literatura atuaram Ludovico Ariosto, Torquato Tasso e
Nicolau Maquiavel.
• Já na pintura, continuam se destacando Rafael e
Michelangelo.

2.1.2. O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO


2.1.2.1. O Renascimento Comercial
Os primórdios dos séculos da Idade Média foram de desordens. A
confusão nas cidades, a crise do Estado Romano, os persistentes

25
O segundo período do renascimento foi desenvolvido durante os anos de
1400, daí surge seu nome. É uma fase de consolidação das artes, com a difusão
de diversas obras e artistas, dos quais se destacam Leonardo da Vinci, Sandro
Botticelli, Filippo Brunelleschi e Massacio. Representa o auge do
renascimento artístico e cultural na Itália e por isso, pode ser chamado de
Alta Renascença. Cada vez mais, outros países europeus começam a aderir ao
movimento, produzindo obras que aproximem do renascimento italiano. Além
do aprofundamento dos aspectos que envolvem o humanismo renascentista,
a busca da beleza e da perfeição das formas, inspirados na cultura greco-
romana, são uma marca do período.
26
O terceiro período do renascimento se desenvolveu durante os anos de
1500, e por isso recebe esse nome. Nessa fase, os artistas já começam a se
distanciar dos temas religiosos e assim, notamos a mescla dos temas religiosos
e profanos nas obras. Nessa época, o estilo renascentista se consolida em
diversas partes do continente europeu: Portugal, Espanha, França e
Alemanha. Destacam-se os artistas Rafael Sanzio e Michelangelo e na
literatura, Erasmo de Roterdã e Nicolau Maquiavel. Note que, nesse período,
o movimento renascentista começa a entrar em decadência e já começam a
surgir obras no estilo maneirista e barroco.

27
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

incursões de bárbaros, tudo colaborava para que a sociedade


retrocedesse, económica e demograficamente. Lentamente, porém,
um novo poder foi se constituindo, fundamentado na fidelidade a
senhores poderosos e na economia agrícola de subsistência. Esse novo
poder, o feudal, permitiu a segurança necessária para que a população
da Europa retomasse o seu crescimento, a partir do século X27.
Todavia, com o tempo, esse desenvolvimento demográfico passou a ser
um dilema. A necessidade de incremento da produção colidia nas
técnicas primitivas e não era possível alargar as terras cultivadas para
sempre. Entre os aristocráticos, realizou-se a distribuição dos feudos
entre muitos sucessores que resultou em propriedades cada vez
menores e menos capazes de autossustentação28.
Com o tempo, a distribuição dos feudos entre todos os sucessores se
tornou inexequível, e eles passaram a ser dados inteiros aos
primogênitos. Isso criou uma massa de aristocráticos sem terra; muitos
entraram para a Igreja, outros se tornaram os famosos cavaleiros
andantes, sempre em busca de um feudo sem senhor, ou de um senhor
poderoso a quem prestar sua lealdade.
Nesse clima de incertezas políticas e de crise da estrutura feudal
tradicional, organizaram-se expedições militares que tinham por
objetivo conquistar as terras da Palestina. Para a Igreja Católica, era
uma missão ditada pela necessidade de remover os infiéis muçulmanos
da região; para os cavaleiros, uma excelente oportunidade de
conseguirem terras e recuperarem, assim, sua condição de senhores
feudais29.
Incidentalmente, porém, quem mais viria a lucrar com as Cruzadas seria
um grupo econômico que sempre esteve um tanto fora de lugar dentro
da ordem feudal: os comerciantes. Convocada pelo papa Urbano II, em
1095, a I Cruzada conseguiu seu objetivo e estabeleceu um reino cristão
em Jerusalém em 1099. A conquista teve o efeito de abrir o mar
Mediterrâneo aos comerciantes das cidades italianas. No entanto, os
muçulmanos reagiram e, cerca de duzentos anos depois, todos os
domínios cristãos na Palestina haviam sido reconquistados.
Das oito Cruzadas oficialmente reconhecidas, nem todas tiveram como
destino a Palestina. A Quarta Cruzada (1202–1204), em vez de buscar
conquistar as terras da Palestina, foi desviada para o saque e o
enfraquecimento de Constantinopla. A cidade era a capital do Império
Bizantino, sobrevivente dos domínios do antigo Império Romano do
Oriente. Desde o início das Cruzadas, surgiram animosidades entre

27
DAUWE, Fabiano. Caderno de estudos : história moderna.Centro
Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial :UNIASSELVI, 2008.
28
Idem
29
HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do Pensamento Econômico.
Petrópolis: Vozes, 1977.

28
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Constantinopla e os Cruzados, que em vez de fortalecer as posições


bizantinas no Oriente, preferiam criar seus próprios domínios. Com o
enfraquecimento de Constantinopla, as cidades italianas se tornaram
hegemônicas no comércio do mar Mediterrâneo, e boa parte do ouro
bizantino voltou a circular no Ocidente30.
As Cruzadas passaram a ser favoráveis às expedições comerciais, ao
promover entre os europeus o interesse pelos novos produtos que
encontraram no mundo muçulmano. Fascinados pelos produtos
luxuosos que circulavam nos mercados das cidades muçulmanas, vindos
de todas as partes do mundo conhecido – marfim vindo do sul do Saara,
seda da China, especiarias da Índia e do Ceilão –, os cruzados se
tornaram ávidos consumidores quando retornaram para a Europa, o
que favoreceu ainda mais o desenvolvimento do comércio no
Mediterrâneo.

2.1.2.2. O Renascimento urbano


Essas feiras atraíam, também, diversos tipos de artesãos e
trabalhadores especializados. Nos locais próximos às feiras, ou em
pontos estratégicos de parada, começaram a surgir os burgos,
verdadeiras estruturas urbanas, com todos os serviços necessários para
abastecer as feiras, enquanto elas durassem, e para manterem-se por
conta própria no restante do ano. Por sua relação com as atividades
comerciais, as cidades desse tipo surgiram inicialmente na Itália, França
e Países Baixos (Bélgica e Holanda).
Mas o crescimento das novas cidades – os burgos – era dificultado pelas
antigas práticas feudais. O território onde as cidades surgiram estava,
inicialmente, sob os domínios de alguns senhores e, portanto, a cidade
devia obrigações feudais a eles. Eram eles que fixavam os impostos e
aplicavam a justiça, geralmente com base em séculos de tradição, que
agora mais atrapalhavam os negócios do que ajudavam.
Os moradores dos burgos, os burgueses, lutaram para alterar essas
regulamentações, adaptando-as aos seus interesses, em um processo
que em alguns lugares demorou séculos. Com o tempo, as cidades
conseguiram ampliar sua autonomia, e algumas se tornaram
completamente livres – como as cidades-Estado do norte da Itália
(Florença, Pisa) e de Flandres (Antuérpia, Bruges),poderosos centros
comerciais e financeiros que tinham seus governos próprios31.
O desenvolvimento do comércio esbarrava em mais alguns entraves da
sociedade medieval, como o entendimento que a Igreja tinha das

30
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro:
Guanabara,
1986.
31
DAUWE, Fabiano. Caderno de estudos : história moderna.Centro
Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial :UNIASSELVI, 2008.

29
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

relações comerciais. Este era um ponto essencial para a época, pois a


Igreja tinha um papel fundamental na regulação da vida diária das
pessoas, e muitos se sentiram desestimulados de realizar algumas
atividades porque a Igreja as condenava expressamente. Como
veremos, a oposição a essa visão da Igreja foi uma das razões para que
o movimento protestante tenha alcançado um sucesso tão grande em
algumas regiões da Europa32.
Durante o período feudal, as transações financeiras eram raras: o
dinheiro praticamente não circulava, nem era necessário, e os poucos
empréstimos eram tomados por absoluta necessidade. A Igreja Católica
considerava que, num caso desses, seria completamente imoral a
cobrança de juros sobre o empréstimo, pois fazer isso seria tirar
vantagem da desgraça alheia. Por esse motivo, a cobrança de juros,
denominada usura pela Igreja, era considerada um pecado muito grave.
Quando o comércio ressurgiu, a lógica econômica mudou. A partir desse
momento, o dinheiro não ficava mais guardado; muito pelo contrário,
era posto para circular, e assim permitia o surgimento de grandes
investimentos e enormes fortunas. Nesse novo cenário, o dinheiro se
tornou uma mercadoria tão valiosa que alguns passaram a viver de
negociar com ele, tornando-se banqueiros, agiotas e financistas. Os
grandes banqueiros do período eram credores até dos reis e do papa33.
Foi um pequeno banqueiro alemão, Jacob Fugger, chefe da grande casa
bancária de Fugger, quem decidiu a questão de a quem caberia usar a
coroa do Sagrado Império Romano: se Carlos V da Espanha ou Francisco
I da França. A coroa custou a Carlos 850 mil florins, dos quais 543 mil
foram emprestados por Fugger. E apenas devido a este tremendo poder
que lhe provinha de sua fortuna.
No entanto, embora a cobrança de juros, que sustentava os banqueiros,
fosse muito criticada pela Igreja, havia sentido nessa cobrança. As
justificativas para ela eram que o dinheiro emprestado, se tivesse ficado
na mão do credor, renderia dividendos, por isso era justo que o devedor
compensasse esse rendimento perdido quando pagasse o empréstimo.
Além disso, os empréstimos passaram a ser tomados para se criarem
negócios rentáveis, mas arriscados; por isso, para compensar o risco de
o credor perder todo o dinheiro investido por outra pessoa, ele
precisaria receber um valor maior do que o emprestado34.
A Igreja Católica demorou a aceitar essa prática, e em parte é por isso
que a maioria dos grandes comerciantes e banqueiros do final da Idade
Média eram judeus. Com o tempo, no entanto, a Igreja foi se rendendo

32
DAUWE, Fabiano. Caderno de estudos: história moderna.Centro
Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial :UNIASSELVI, 2008.
33
HUBERMAN, Leo. História da Riqueza do Homem. Rio de Janeiro:
Guanabara, 1986.
34
HUNT, E. K.; SHERMAN, Howard J. História do Pensamento Econômico.
Petrópolis: Vozes, 1977.

30
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

à nova lógica econômica, e a prática da cobrança de juros foi sendo cada


vez mais aceita35.

Sumário
Nesta Unidade temática 2.1. estudamos e discutimos
fundamentalmente o renascimento como uma filosofia de mudanças
radicais sobre o mundo velho (idade média).
Nesta secção identificou-se as fases os factores que influenciaram o
renascimento. Neste cenário referimos que Renascimento foi um
movimento cultural, econômico e científico ocorrido na Itália e que se
espalhou por toda a Europa, iniciando-se no século XIV até o século XVI.
Porem aprendemos que o renascimento foi inspirado em resposta ao
período conhecido como "Idade das Trevas" da Idade Média, onde a
Igreja escondia e combatia os conhecimentos científicos, além dos
antigos conhecimentos e cultura dos romanos e gregos.
Discutiu-se também a génese dos movimentos renascentistas e seu
papel no desenvolvimento cultural e científico da idade moderna até a
actualidade.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas de múltiplas escolhas

1. Os primeiros “modernos” que propunham uma nova visão


interpretativa das escrituras sagradas que rompesse com a
lógica escolástica/aristotélica, buscando, assim, modernizar e
atualizar a Igreja de Cristo
a) foram justamente clérigos intelectuais
b) foram a aristocracia grega
c) foram os homens da nobreza
d) foram escravos da corte

2. No entanto, a filosofia moderna do Renascimento, mesmo com


diferenças individuais, apresenta uma característica:
a) Primordialmente unitária.
b) Primordialmente conjunta
c) Simplista e antiquada
d) Todas alíneas correctas

35
DAUWE, Fabiano. Caderno de estudos: história moderna. Centro
Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial: UNIASSELVI, 2008.

31
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

3. Uma das consequências mais significativas do Renascimento


para a história do pensamento foi a autonomia da ciência em
relação à:
a) nobreza
b) a europa
c) teologia e à filosofia.
d) Todas alíneas incorrectas

4. Essas inovações estimularam duas práticas científicas comuns à


renascença:
a) a descrição e a prescrição
b) a renovação e o espiritualismo
c) a representação e o figurismo
d) todas alternativas incorretas

5. A filosofia mecânica encontrou seu auge quando se fundiu,


especialmente na Inglaterra, com o experimentalismo de
origem baconiana e o anatomismo de:
a) Willian Harvey
b) Bacon
c) Galileu
d) Todas alíneas corretas

6. Outra contribuição fundamental ao desenvolvimento científico


do período, que resgataram e aprimoraram a compilação de
dados e saberes veio dos:
a) Cronistas
b) Viajantes
c) Nobres
d) Enciclopedistas
Das afirmações que se seguem assinale com V a verdadeira e F a Falsa.
7. Durante o Renascimento, sob a influência de Pitágoras, os
autores quiseram encontrar o “número de Deus”, ou a
“harmonia divina dos números”.
a. Verdade
b. Falso
8. Além disso, um dos maiores empenhos dos filósofos mecânicos,
era mostrar como Deus interagia com o mundo mecânico uma
vez que Deus havia dotado a matéria de um princípio interno de
movimento quando da criação.
a. Verdade
b. Falso
9. O Renascimento foi, ao mesmo tempo, razão e sem-razão,
sombra e luz.
a. Verdade
b. Falso

32
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

10. Bacon foi o primeiro grande filósofo a colocar o problema do


método próprio das ciências experimentais, do seu objeto e de
sua finalidade.
a. Verdade
b. Falso

Exercícios para AVALIAÇÃO

Perguntas de desenvolvimentos
1. A Reforma Protestante foi importante para promover o
experimentalismo como nova prática epistêmica. Porquê?
2. A importância da magia para a mudança paradigmática do
pensamento renascentista explica-se pelo fato de as técnicas de
manipulação dos elementos naturais. Disserte sobre a magia como uma
barreira de desenvolvimento científico.
3. No processo de renascimento comercial, com o tempo, a distribuição
dos feudos entre todos os sucessores se tornou inexequível. Diga
porque?
Resposta 1
A Reforma Protestante foi importante para promover o
experimentalismo como nova prática epistêmica, sobretudo por duas
razões: os protestantes negaram o pressuposto de uma ordem fixa da
natureza que só poderia mudar por milagre, enquanto a relativa
autonomia religiosa e a das responsabilidades, no protestantismo,
impulsionaram a iniciativa própria e o empreendedorismo que se
beneficiavam de uma ciência útil e pragmática, de experimentos que
resultassem em coisas práticas. A essa ideia também subjaz a noção, em
uma sociedade em transformação, de que as descobertas úteis
ajudariam na estabilização e na paz social.

33
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

UNIDADE TEMÁTICA 2.2. O RENASCIMENTO CULTURAL E ARTÍSTICO

Introdução

A presente Unidade Temática vai retratar de forma prática e específica o


renascimento artístico cultural, de modo a perceber o inicio do renascimento
cultural e artístico e identificar as principais correntes e filosofias do
renascimento cultural.
Para este debate importa lembrar que o movimento renascentista negavam
os valores feudais como o teocentrismo, o misticismo, o geocentrismo e o
coletivismo. Na Idade Média, grande parte da produção intelectual e artística
estava ligada à religião. Portanto um dos traços marcantes do Renascimento
era o racionalismo.
Desta forma traremos toda a filosofia detrás do renascimento artístico
cultural: seus pros e contra, os seus percussores, a sua importância para o
mundo.
O Renascimento Científico foi o período de desenvolvimento da ciência
durante os séculos XV e XVI. O movimento renascentistas estava preocupado
em estudar a natureza através da experimentação e da segmentação de
informações. Vários homens e até mulheres realizaram pesquisas e, entre
tantos, podemos citar Leonardo da Vinci.
Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Perceber o início do renascimento cultural e artístico;


• Identificar as principais correntes e filosofias do renascimento cultural;
• Entender a pertinência do movimento renascentista e os seus percursores.
Objectivos
Específicos

34
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

2.2. O RENASCIMENTO CULTURAL E ARTÍSTICO


O Renascimento cultural foi um movimento artístico, cultural e
científico, ocorrido nos séculos XIV, XV e XVI, início da Idade Moderna.
O movimento foi marcado pela crítica a cultura religiosa medieval,
baseada na “fé cega”, quase que a rejeição da ideologia da Igreja
Católica Romana, apesar dos temas religiosos presentes em algumas de
suas manifestações artísticas. O movimento difundiu-se primeiramente
na Península Itálica devido à enriquecida burguesia da região que se
beneficiou sobremaneira com o comércio mediterrânico ocidente-
oriente. Além disso, após a Queda de Constantinopla, muitos
pensadores do antigo Império Bizantino fugiram para a Itália, auxiliando
na difusão dos saberes da cultura greco-romana clássica36.
Giorgio Vasari (1511-1574), italiano nascido na cidade de Arezzo
publicou em 1550 um importante livro sobre os artistas plásticos de sua
época. Em sua opinião, com a queda de Roma em 476, a arte entrou em
decadência, "renascendo" ao final do século XIII. Ele foi assim o primeiro
a empregar o termo renascimento. O humanista Petrarca tinha também
em mente a ideia de renascimento quando propôs uma nova
periodização para a história europeia. Ele chamava de Antiguidade o
período que terminava com a conversão do imperador Constantino ao
cristianismo, no ano de 337. O período seguinte constituía uma nova
era, que Petrarca chamou de Moderna, e estendia-se até a época em
que ele vivia: o século XIV.37
Com o tempo, entretanto, o termo “Moderno” foi sendo associado ao
renascimento da cultura antiga, ocorrido no mesmo século de Petrarca.
Sendo a época Moderna aquela em que os valores antigos estavam
renascendo, firmou-se a ideia de que o período compreendido entre
aqueles dois extremos constituía a época média, ou seja, a Idade Média,
entre duas épocas brilhantes: a Antiga e a Moderna.
Idade Moderna acabou virando, assim, sinônimo de Idade da
Renascença e Petrarca foi um dos primeiros a defender a revalorização
da cultura greco-romana.

36
FERREIRA, Danilo. Idade moderna. Colegio Gonzaga, p. 1
37
idem

35
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

2.2.1. Características do Renascimento

O Renascimento procurou fazer o resgate da cultura clássica de Grécia


e Roma ao passo que criticava a cultura católica medieval. Obviamente
não foi possível simplesmente apagar mil anos de influência religiosa, e
o Renascimento ficou marcado por obras de arte que eram humanistas,
porém com temáticas religiosas38.
• Individualismo39: valorização da capacidade do ser humano em
fazer escolhas livremente, valendo-se de suas próprias forças.
• Racionalismo40: ênfase na razão como principal instrumento
para compreender o Universo, a natureza e até mesmo Deus.
• Humanismo41 e Antropocentrismo42: perspectiva de que o
homem deveria ser o centro das indagações dos pensadores

38
SEVCENKO, Nicolau. O renascimento. Campinas : Editora da Universidade
Estadual de Campinas, 1986.
39
Representou uma das importantes características do renascimento
associados ao movimento humanista. O homem é colocado em posição central
e passa a ser regido, não somente pela igreja, mas também por suas emoções
e escolhas. Assim, ele torna-se um ser crítico e responsável por suas ações no
mundo.
40
Ao defender a razão humana, essa corrente filosófica foi importante para
desenvolver diversos aspectos do pensamento renascentista em detrimento
da fé medieval. Com ele, o empirismo ou a valorização da experiência, foram
essenciais para a mudança de mentalidade no período do renascimento. Esta
corrente afirmava que os fenômenos humanos e da natureza deveriam ser
comprovados diante de experiências racionais.
41
O movimento humanista surge como mote para a valorização do ser humano
e da natureza humana, onde o antropocentrismo (homem no centro do
mundo) foi sua principal característica. O humanismo foi uma corrente
intelectual que se destacou na filosofia e nas artes e que desenvolveu o
espírito crítico do ser humano.
42
Em detrimento do pensamento teocêntrico medieval, onde Deus estava no
centro do mundo, o antropocentrismo (homem como centro do mundo) surge
para valorizar diversos aspectos do ser humano. A razão torna-se o
instrumento pelo qual o ser humano deve pautar suas ações. Ainda que a
religião continue a ter muita importância, a inteligência humana foi exaltada
diante das diversas descobertas científicas da época. Desta maneira,

36
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

em detrimento do teocentrismo medieval, centrado na


natureza de Deus. Porém, o fato de os humanistas serem
antropocêntricos não quer dizer que fossem ateus. Ao
contrário, eles eram profundamente cristãos. Sem se
afastarem da religião cristã, os humanistas fizeram da
capacidade de conhecer as coisas através do uso da razão uma
das qualidades mais elevadas do homem. A fim de poder
empregar e desenvolver a inteligência humana eles
defenderam o livre exame dos textos sagrados, inclusive da
Bíblia. Foi essa imensa confiança nas qualidades humanas que
caracterizou o humanismo.
• Hedonismo43: busca do prazer individual.
• Naturalismo44: preocupações com a natureza, dentro de uma
perspectiva metafísica sobre as coisas e sobre as capacidades
da razão em moldar a realidade natural.
• Neoplatonismo45: ideia de que o homem deveria se elevar até
Deus.
• Influência da cultura Greco-Romana: o movimento se inspirou
na cultura da antiguidade clássica, adaptando-a de acordo com
os interesses da burguesia europeia da Idade Moderna.
• Mecenato: A Itália foi durante muito tempo apenas uma
expressão geográfica e não um país. Desde a Idade Média ela
era composta de uma multidão de cidades-estados
independentes e assim continuou até sua unificação no século
XIX. Na época do Renascimento, algumas cidades-estados,
como Florença, Milão e Veneza, destacavam-se não só pela
riqueza, mas também pela proteção que dispensavam aos
artistas e intelectuais. Os governantes dessas cidades
representavam certas famílias, como a Sforza, de Milão, e os

reforçado pelo individualismo, o homem passa a ter uma posição centralizada


e isso o impulsiona a ousar no aprendizado e em descobertas científicas ou de
novas terras.
43
O hedonismo é uma corrente da filosofia que compreende o prazer como
bem supremo e a finalidade da vida humana. Nesse sentido, o Hedonismo
encontra na busca pelo prazer e na negação do sofrimento os pilares para a
construção de uma filosofia moral em vista da felicidade.
44
As características do naturalismo seguem os ideais do realismo, ou seja,
estão relacionadas com a percepção da realidade. No entanto, trata-se de um
realismo mais exagerado e que abrange sobretudo, os problemas da realidade
social e de seus personagens.
45
O Neoplatonismo foi uma corrente filosófica, metafísica e epistemológica
de alento platônico, que se desenvolveu durante a crise Império Romano do
século III e IV e abordou questões filosóficas e religiosas.Com efeito, esta
ponderação teológica caracterizou "Deus" enquanto plenitude, estabelecendo
um monismo idealista que influenciou tanto as religiões pagãs quanto as
monoteístas, sobretudo o Cristianismo.

37
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Medici, de Florença, notabilizando-se como mecenas, isto é,


como protetores e financiadores de sábios e artistas.
O mais célebre entre os mecenas foi Lourenço, o Magnífico, da família
Medici. Em seu tempo, Florença se converteu no principal centro
renascentista e nela trabalharam os mais célebres artistas e intelectuais
da época, como Leonardo da Vinci e Michelangelo. Entre os papas
encontramos também grandes mecenas, a exemplo de Nicolau V,
Alexandre VI, Júlio II e Leão X, para os quais trabalharam os artistas
plásticos Rafael e Michelangelo46.
O Homem Vitruviano (ou homem de Vitrúvio) é um conceito
apresentado durante a antiguidade pelo arquiteto romano Marco
Vitruvio Polião. Tal conceito é considerado um cânone das proporções
do corpo humano, segundo um determinado raciocínio matemático. O
desenho mais famoso, no entanto, acompanha as notas que Leonardo
da Vinci fez num dos seus diários. Descreve uma figura masculina
desnuda separadamente e simultaneamente em duas posições
sobrepostas com os braços inscritos num círculo e num quadrado. A
cabeça é calculada como sendo um oitavo da altura total. Seriam
cálculos baseados em um ideal de perfeição, seguindo parâmetros
racionais, o que expressa os valores do movimento renascentista.

2.2.2. Invenção da Imprensa


Figura 8: Prensa tipográfica Gutemberg

46
SEVCENKO, Nicolau. O renascimento. Campinas: Editora da Universidade
Estadual de Campinas, 1986.

38
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

A Idade Moderna surge com grandes transformações político-sócio-


culturais contrapondo ao modelo de organização medieval vigente até
então. Entre estes fatores importantes pode se citar a engenhosa
invenção da imprensa por Johanes Gensfl Eisch Von Gutenberg. Esta
invenção foi fundamental para mudanças significativas na civilização do
século XV e causa influência até os dias actuais. A invenção da tipografia
transformou completamente, tanto em rapidez quanto em quantidade,
a circulação da informação escrita no seio da sociedade. Essa invenção
foi realmente uma das revoluções técnicas mais importantes da história
da humanidade47.
Com o surgimento dos impressos, os livros tornaram-se mais baratos e
portáteis, favorecendo a leitura silenciosa e solitária. Esta orientação
para a privacidade integra-se num movimento mais amplo, que seria
uma maneira de reivindicação de direitos e liberdades individuais, cujo
surgimento a imprensa estimulou e contribuiu para divulgar48
Em 1445, o germânico Johannes Gutenberg inventou o sistema de
impressão móvel, revolucionando o processo de produção de livros, até
então feitos à mão. Com tal invento foi possível propagar as ideias dos
renascentistas para um maior número de pessoas, o que fortaleceu
ainda mais o movimento49.
Na Idade Média, os livros eram copiados manualmente e por essa razão,
eram raros. No século XIV começou-se a utilizar a técnica da xilogravura,
isto é, esculpiam-se as letras numa chapa de madeira, sobre a qual se
passava tinta e se deitava o papel. No início do século seguinte, os tipos
(letras) passaram a ser esculpidos em separado e o livro era composto
pelo tipógrafo. Mas, qualquer que fosse a técnica, havia um problema
permanente: a madeira se desgastava rapidamente50.
Na verdade, Gutenberg ficou famoso por inventar os tipos móveis de
chumbo, que permitiam uma tiragem em número inimaginável,
comparativamente com os tipos de madeira. A nova técnica
proporcionou, em consequência o barateamento do livro, o que foi um
poderoso aliado na difusão do humanismo e permitiu a publicação de
obras antigas, colocando-as ao alcance de um público relativamente
amplo51.

47
VERGER, J. Os livros na idade média. Homens e saber na Idade Média.
Bauru: Edusc, 1999. cap 3. Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2021
48
BACELAR, J. Apontamentos sobre a história e desenvolvimento da imprensa.
Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação, Lisboa, 1999.
49
FERREIRA, Danilo. Idade moderna. Colegio Gonzaga, p. 1
50
RIBEIRO, G. M.; CHAGAS, R. L.; PINTO, S. L. O renascimento cultural a partir
da imprensa: o livro e sua nova dimensão no contexto social do século XV.
Akropólis, Umuarama, 2007.
51
Idem

39
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

As artes plásticas

A valorização da cultura antiga levou as artes plásticas a desenvolverem


novas características. A pintura medieval estava aparentemente
obcecada pelas divindades. Ao pintarem a Virgem Maria, por exemplo,
os pintores medievais pareciam estar perseguindo um único objetivo:
captar a sua divindade e não a sua humanidade ou feminilidade. Por
isso, tinham a predileção por fundos dourados ou azuis, sobre os quais
projetavam a sua imagem.
A pintura renascentista, ao contrário, caracterizou-se desde o início
pela preocupação em representar o espaço de maneira naturalista, em
três dimensões. Enquanto a pintura medieval era bidimensional —
levava em conta apenas a largura e a altura — os quadros renascentistas
eram tridimensionais – além da largura e altura, adotaram também a
profundidade.
Para obter esse efeito, os artistas do Renascimento utilizaram a
perspectiva: o que se encontrava em primeiro plano era maior do que
as figuras de segundo plano, com os elementos representados
diminuindo de tamanho proporcionalmente à distância a que na
realidade estariam do olhar do observador.
O uso da técnica da perspectiva imprimiu às obras dos pintores
renascentistas duas características especiais: naturalidade e
humanidade. Aqui uma pintura tipicamente renascentista, com
naturalismo, realismo e uso da perspectiva. A pintura chama-se
“Entrega das Chaves á São Pedro”, de Pietro Perugino, com temas
religiosos, mas caraterísticas tipicamente renascentistas.
As pinturas renascentistas eram realistas, o que significa que os pintores
procuravam representar os elementos com o máximo de fidelidade.
Isso é visível mesmo nas pinturas consagradas à representação de cenas
bíblicas. Outro aspecto bastante significativo à pintura renascentista foi
à manifestação do individualismo, como atesta a multiplicação dos
retratos, na maior parte de figuras públicas (nobres, príncipes, reis,
rainhas, etc.) ou de comerciantes abastados (burgueses).

40
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Em linhas gerais, as realizações artísticas e intelectuais do


Renascimento contribuíram decisivamente para emancipar a cultura da
tutela eclesiástica, ou seja, do domínio e dos interesses da Igreja. O
Renascimento foi um importante elo no processo de libertação da
razão, que culminaria, ao longo do século XVIII, na filosofia iluminista e
na constituição da moderna sociedade burguesa e capitalista.

2.2.3. Literatura
A imprensa foi uma descoberta que marcou a história, não só pelo novo
modo de disseminação da informação, mas como uma ferramenta que
proporcionou mudanças sociais, políticas e psicológicas. Isso alterou
todos os aspectos da cultura europeia do século XV. Como instrumento
de mudança, contribuiu consideravelmente para a emergência da
ciência, religião, cultura e política. Contribuiu, de certo modo, para o
surgimento de um novo modelo que surgia, a era moderna52.
Pode-se observar mudança significativa nos fins e nos métodos da
educação, em decorrência dessa nova tecnologia. A partir do século XV,
começou a desgastar-se o ponto de vista de que o fim principal da
educação escolar era transmitir informações, de um-para-um, ou de
um-para-poucos, num contexto presencial. Com a invenção de
Gutenberg tornou-se possível transmitir informações de um-para-
milhares/ milhões. Houve a disseminação da informação de forma mais
democrática, quando o conhecimento deixou de ser de poucos, para
abranger uma massa maior53.
Durante um longo período, o livro manuscrito foi ofício exclusivamente
monástico, pois eram os monges copistas que faziam as cópias dos
manuscritos. Apesar de todo zelo, os erros eram frequentes durante a
produção dos manuscritos. Quando desejavam obter várias cópias, os
monges ditavam a vários copistas simultaneamente, o que ocasionava
os erros, principalmente em citações gregas54.

52
BACELAR, J. Apontamentos sobre a história e desenvolvimento da imprensa.
Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação, Lisboa, 1999.
53
CHAVES, E. O. C. O desafio da tecnologia na educação. 2005.
54
RIBEIRO, G. M.; CHAGAS, R. L.; PINTO, S. L. O renascimento cultural a partir
da imprensa: o livro e sua nova dimensão no contexto social do século XV.
Akropólis, Umuarama, 2007.

41
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Os textos impressos do século XV foram, em sua grande maioria, os


textos “medievais” cujo mercado parecia assegurado. Mas não eram os
preferidos das bibliotecas eruditas. Eram encontrados, principalmente,
livros religiosos, constituídos de Bíblias, livros litúrgicos (missais,
breviários, livros de horas), tratados de espiritualidade, livros de
devoção, vidas de santos, etc., tanto em latim como em língua vulgar.
Outra categoria encontrada era a gramática, composta de obras
elementares (o Donato, o Doctrinale de Alexandre de Ville-Dieu, os
Dísticos de Catão, etc.), dirigidas aos alunos das escolas primárias e da
faculdade de artes, que contribuíram para a melhoria dos ensinamentos
de base e não para a renovação cultural das elites. E, finalmente, havia
a literatura profana, geralmente em língua vernácula, composta de
enciclopédias e florilégios, crônicas, versões um pouco modernizadas
das canções de gesta ou dos romances corteses, que visavam um
público aristocrático, cujo interesse era por obras mais populares, do
gênero dos almanaques e outros “calendários dos pastores55”
Maquiavel. Autor de “O Príncipe”. Trata-se de uma crítica à sociedade
medieval e uma defesa da centralização do poder na península itálica.
Maquiavel vivenciou invasões e tomadas do território italiano por
tropas francesas e por tropas de Carlos V, do Sacro Império Romano
Germânico, prescrevendo na obra como um governante deveria atuar
para manter a sustentabilidade do governo e do poder. A famosa frase,
“os fins justificam os meios”, apesar de não ter sido jamais escrita por
ele expressa sua visão de dissociar a política da moral, apregoando o
jogo da manutenção do poder como principal atribuição da política de
um governante.

2.2.4. Renascimento Cultural no restante da Europa


Como não poderia deixar de ser diferente, o movimento renascentista
logo se propagou para outras regiões da Europa. Vejamos as principais:
Na Inglaterra: O movimento renascentista ocorreu tardiamente. Seus
maiores representantes são Willian Shakespeare e Thomas More.
O primeiro é considerado um dos maiores dramaturgos de todos os
tempos. Suas peças, entretanto, foram desprezadas por seus
contemporâneos mais ilustrados, que as consideraram vulgares. Entre
seus trabalhos teatrais mais conhecidos destacam-se as tragédias,
Romeu e Julieta (1595), Júlio César (1599), Hamlet (1601), Rei Lear
(1605) e Macbeth (1606). Sua genialidade, entretanto, é hoje
reverenciada, uma vez que seus textos, mesmo tendo cerca de
quatrocentos anos, continuam atuais, por tratar essencialmente de
questões humanas. Nascido ao final do século XVI, o maior escritor e
dramaturgo do período elisabetano dotou seus personagens de grande
55
VERGER, J. Os livros na idade média. Homens e saber na Idade Média.
Bauru: Edusc, 1999

42
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

profundidade psicológica que traduziam dilemas da alma humana e


questões existenciais.
Thomas More, por sua vez, escreveu a obra, Utopia (Nenhum Lugar),
inspirado nos relatos de Américo Vespúcio sobre as Américas. Ele
descreveu uma fictícia sociedade igualitária e tolerante, governada pela
razão. Trata-se de uma critica a tirania de sua época, uma denúncia
contra a tirania do absolutismo, levando-o a ser decapitado por
Henrique VIII no ano de 1535.
Na França: O movimento é principalmente literário e filosófico. François
Rebelais é autor da obra “Gargantua e Pantagruel”, tratando-se de uma
sátira aos costumes da época e uma crítica à tirania e ao dogmatismo,
obra que tratava do riso e do grotesco como substituto da meditação e
do sofrimento religioso. Já Montaigne escreveu ensaios que eram
reflexões filosóficas sobre o equilíbrio do homem com o universo.
Flandres (Holanda): O principal expoente renascentista foi Erasmo
Desidério, mais conhecido como Erasmo de Roterdã. Em sua obra,
“Elogio a Loucura”, o autor escreveu ao amigo Thomas More. Tratava-
se de uma crítica ao pensamento eclesiástico, uma denúncia aos abusos
da Igreja contra os homens comuns, com sua moral carregada e
ascética. Roterdã afirmara que os antigos gregos antigos fizeram elogios
ao prazer, à arte, a memória. Da mesma forma caberia a ele fazer um
elogio a Moria, uma expressão antropomórfica da loucura. Com isso o
autor denunciou os Papas e a Igreja ao afirmar que deveriam parar de
julgar como loucos os que discordavam de suas crenças e sua moral,
além de defender que o clero deveria retomar a pobreza de Jesus e se
afastar das coisas terrenas e mundanas.
Erasmo de Roterdã ficou famoso pelo seu amplo conhecimento dos
mais diversos assuntos ligados ao conhecimento humano, além de um
dos maiores críticos do dogma católico romano e da imoralidade do
clero. Filho ilegítimo de um padre, ele acabou por ordenar-se monge.
Estudou na Holanda e na França antes de viajar para a Inglaterra, onde
estudou grego na Universidade de Oxford. Publica seu primeiro tratado
teológico em 1503, o Manual do Cavaleiro Cristão, e logo depois parte
para Veneza e Roma, para ser recebido pelo papa Júlio II. Em 1499
retorna à Inglaterra, e faz amizade com intelectuais locais, em especial
Thomas More. É nesta época que escreve sua obra-prima, O Elogio da
Loucura, onde defendia a tolerância e a liberdade de pensamento e
denuncia as ações da Igreja.
Espanha e Portugal: O movimento renascentista encontrou problemas
na península ibérica devido à intolerância da Igreja Católica e a força da
instituição diante dos reis, principalmente na Espanha. Nesse reino,
destaca-se Miguel de Cervantes, que escreveu “Dom Quixote”, obra
que coloca um fidalgo anacrônico percorrendo a Espanha ao lado de seu
fiel escudeiro, Sanso Panza. A obra satiriza os contos de cavalaria
medievais, relatando sobre as

43
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

aventuras de um nobre com sonhos de grandeza, que acredita ser um


cavaleiro medieval a enfrentar monstros para salvar lindas donzelas. Em
Portugal temos Luis De Camões, que escreveu seu famoso “Os
Lusíadas”, um poema épico sobre as conquistas marítimas lusitanas.

2.2.5. Renascimento Científico


Leonardo da Vinci sintetizou o tema com o seguinte enunciado:
“Minhas ideias nasceram da pura e simples
experiência, que é verdadeira mestra [...]. A
experiência é a única intérprete da natureza: é
preciso, pois consultá-la sempre e variá-la de mil
maneiras. [...] Sem experiência não há certeza
[...]. Antes de formular uma regra geral, repita a
experiência e veja se os resultados são
constantes. [...] Nenhuma investigação humana
pode se chamar verdadeira ciência, se ela não
passa pelas demonstrações matemáticas”.
Foi esse modo de pensar, calcado na experiência e na demonstração
matemática, que colocou Da Vinci na origem da ciência moderna, ao
lado do polonês Nicolau Copérnico, do alemão Kepler, e dos italianos,
Giordano Bruno e Galileu Galilei. Os quatro últimos ficaram famosos por
terem estabelecido, contra a vontade da Igreja Católica, a teoria
heliocêntrica, em contraposição à teoria geocêntrica, do astrônomo
grego Claúdio Ptolomeu.
Segundo a teoria, formulada inicialmente por Copérnico por meios
matemáticos, a terra e os demais astros giravam em torno do sol,
desmitificando a teoria geocêntrica, criada na antiguidade e defendida
pela Igreja. Galileu é considerado o pai da física moderna, construindo
um telescópio para observar os astros e referendar a teoria
heliocêntrica. Ele teve de negar suas teorias para não ser queimado pela
Inquisição, ao contrario de Giordano Bruno, acusado como herege e
condenado ao fogo.
Enorme importância também para o estabelecimento da ciência
moderna foi o inglês Isaac Newton, que coroou o trabalho dos cientistas
anteriores com a formulação da lei da gravitação universal. Algumas
outras descobertas podem ser atribuídas ao movimento científico
renascentista. A descoberta de circulação do sangue por Miguel Servet
e Willian Harvey é uma delas.

44
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Sumário

Nesta Unidade temática 2.2 estudamos e discutimos


fundamentalmente o renascimento cultural que foi um movimento
artístico cultural que a partir do século XV, que recusou o pensamento
religioso medieval, colocando o ser humano no centro de tudo. O
renascimento cultural foi um moção com particularidades próprias.
Uma delas foi o regresso à cultura greco-romana pois os renascentistas
achavam que eles tinham um conhecimento mais amplo da vida, outra
característica foi o humanismo e o antropocentrismo pois o homem
passou a ser o centro de todas as coisas.
O período de maior produção renascentista, na Itália, foi de 1450 a
1550. No restante da Europa, ele ocorreu durante todo o século XVI. Os
pensadores, escritores do Renascimento eram conhecidos como
humanistas, ou seja, grandes conhecedores da cultura clássica. Boa
parte destes representantes do Renascimento se destacou na Itália,
especialmente na pintura e na escultura. Outros, tiveram destaque fora
da Itália, principalmente na literatura e na filosofia.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas de múltiplas escolhas

1. O renascimento teve três fases, correspondentes aos séculos


XIV ao XVI.
a) Camponesa, industrial e capitalista
b) Antiga, moderna e contemporânea
c) Trecento, Quattrocento e Cinquecento
d) Judaica, Grega e Romana
2. O movimento foi marcado pela crítica a cultura religiosa
medieval, baseada
a) Na fé cega
b) Na Ideia de Deus no céu e homem na terra
c) Na Crença lucida
d) Na ciência bíblica
3. Idade Moderna acabou virando, assim, sinônimo de Idade da
Renascença e um dos primeiros a defender a revalorização da
cultura greco-romana foi:
a) Matraca
b) Petrarca
c) Johson
d) Todas alíneas correctas

45
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

4. O Renascimento cultural foi um movimento artístico, cultural e


científico, ocorrido nos séculos
a) XIV, XV e XVI, início da Idade Moderna.
b) XVI, XVII e XVIII, no fim da idade moderna
c) XIV, XVII e XIX, fim da idade media
d) Todas alíneas corretas
5. O germânico Johannes Gutenberg inventou o sistema de
impressão móvel, revolucionando o processo de produção de
livros, até então feitos à mão em:
a) 1445
b) 1455
c) 1465
d) 1475

Das afirmações que se seguem assinale com V a verdadeira e F a Falsa.


6. O movimento difundiu-se primeiramente na Península Itálica
devido à enriquecida burguesia da região que se beneficiou
sobremaneira com o comércio mediterrânico ocidente-oriente.
a. Verdade
b. Falso
6. A característica Individualismo do renascimento era valorização
da capacidade do ser humano em fazer escolhas livremente,
valendo-se de suas próprias forças.
a. Verdade
b. Falso
7. As pinturas renascentistas eram realistas, o que significa
que os pintores procuravam representar os elementos com o
máximo de fidelidade.
a. Verdade
b. Falso
8. Na literatura encontramos Maquiavel. Autor de “O
Príncipe”. Trata-se de uma crítica à sociedade medieval e uma
defesa da centralização do poder na península itálica.
a. Verdade
b. Falso
9. Na Inglaterra: O principal expoente renascentista foi
Erasmo Desidério, mais conhecido como Erasmo de Roterdã.
Em sua obra, “Elogio a Loucura”
a. Verdade
b. Falso
10. Na França: O movimento é principalmente literário e
filosófico. François Rebelais é autor da obra “Gargantua e
Pantagruel”,
a. Verdade b. Falso

46
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

11. Flandres (Holanda): O movimento renascentista ocorreu


tardiamente. Seus maiores representantes são Willian
Shakespeare e Thomas More.
a. Verdade
b. Falso
12. Espanha e Portugal: O movimento renascentista
encontrou problemas na península ibérica devido à
intolerância da Igreja Católica e a força da instituição diante dos
reis, principalmente na Espanha. Nesse reino, destaca-se
Miguel de Cervantes, que escreveu “Dom Quixote”
a. Verdade
b. Falso

Exercícios para AVALIAÇÃO

Perguntas de desenvolvimentos
1. A pintura renascentista, ao contrário, caracterizou-se desde o
início pela preocupação em representar o espaço de maneira
naturalista, em três dimensões. Qual foi a importância desta
técnica para a pintura?
2. O Renascimento procurou fazer o resgate da cultura clássica de
Grécia e Roma ao passo que criticava a cultura católica
medieval. Caracterize o renascimento cultural artístico na idade
moderna.

47
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

TEMA – III: A REVOLUÇÃO BURGUESA DA INGLATERRA NO SECULO XVII

UNIDADE Temática 3.1. As etapas da Revolução Inglesa


UNIDADE Temática 3.2. Pertinência da Revolução Inglesa para a
história da humanidade;
UNIDADE Temática 3.3. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE TEMÁTICA 3.1. A REVOLUÇÃO BURGUESA DA INGLATERRA NO SECULO


XVII

Introdução

Nesta secção sobre a Revolução Burguesa da Inglaterra no Seculo XVII


tratar-se-á das etapas Revolução Inglesa e sua Pertinência para a
história da humanidade.
Para que isso seja possível será feita uma revisão sobre a o absolutismo
limitado, o fortalecimento da burguesia, revolução puritana e a
revolução burguesa.
Portanto, a Revolução Gloriosa foi assim apelidada aos fenómenos que
levaram à destituição de Jaime II e à glorificação de Guilherme de
Orange e Maria Stuart como rei e rainha da Inglaterra. A Revolução
Gloriosa sucedeu em 1688 e foi uma das etapas da Revolução Inglesa,
além de ter sido responsável pela queda do absolutismo na Inglaterra.
A monarquia absolutista inglesa transformou-se em uma monarquia
constitucional, que consolidou o domínio da burguesia na Inglaterra.
Assim, a Revolução Inglesa que possibilitou a criação das condições para
o advento da Revolução Industrial e permitiu a Inglaterra tanto a
expansão do império colonial como o domínio do comércio mundial,
assegurando o controle dos mercados necessários à produção em série.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Perceber o contexto e os factores que influenciaram as grandes


revoluções na europa e a burguesa na Inglaterra no Século XVII;
• Identificar as fases e etapas da revolução burguesa e seus principais
Objectivos intervenientes;
específicos
• Entender a pertinência da Revolução Inglesa para a história da
humanidade;

2.1.1. Absolutismo Limitado

A Revolução Inglesa, ocorrida no século XVII, foi um dos principais


acontecimentos da Idade Moderna. Foi
48
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

considerada a primeira das grandes revoluções burguesas, isto é, as


revoluções encabeçadas por lideranças da burguesia europeia, que
havia se tornado expressivamente forte, do ponto de vista económico,
ao longo dos séculos XVI e XVII, e que precisava alcançar legitimidade
política.

A Inglaterra nunca teve uma autocracia acentuado. Ao contrário desde


1215 quando do início do processo de consolidação do poder real se
formou o parlamento na Inglaterra que passou a controlar a ação do rei.
Devido a questões sucessórias após a morte do Rei Ricardo e ascensão
de João-Sem-Terra. Também a Guerra dos Cem Anos 1337/1453
robusteceria o poder da nobreza, pois concentrou mais o poder nas
mãos do Rei. A Guerra das Duas Rosas (1455/1485) e resolução
encontrada para a sua conclusão permitiu a subida da Dinastia Tudor,
com Henrique VII que colocou fim a luta entre os York e os Lancaster56.

Todavia foi Henrique VIII que estabeleceu o absolutismo na Inglaterra


quando promoveu a Reforma Protestante concebendo a Igreja
Anglicana tornando-se também o chefe da Igreja. Além disto, se
apossou das terras da Igreja Católica “distribuindo-as” entre a burguesia
e a nobreza em troca de apoio político. No governo de Elizabeth I
(1558/1603) o mercantilismo inglês conquistou grande sucesso com o
progresso de uma poderosa frota naval e a ampliação e exploração do
império colonial. Mesmo com a consolidação da autocracia o
parlamento se manteve ativo e, ao determinar limitações ao poder real,
o que criou choques que eclodiram a revolução.

2.1.2. O Fortalecimento a burguesia

O comercialismo foi o mercantilismo perfilhado pelos ingleses, que se


preocupou com uma corrida abismal no mercado universal. Nisto, criou
corporações de comércio e navegação, auxiliou na edificação naval
constituindo por uma forte marinha de guerra além de segurar piratas
à serviço da Coroa. Os benefícios do comércio passaram a ser investidas
na indústria, particularmente do sector têxtil. Para além disto, a
mediocracia e a Gentry apoderaram-se dos solos antes referentes à
Igreja Católica promovendo os Cercamentos dos Campos, afugentando
os servos e desenvolvendo a criação de ovelhas para a produção de lã,
matéria-prima para a indústria têxtil em expansão. Rica e influente e
contando com o apoio da gentry, a burguesia se fazia representar
através do parlamento57.

Quanto aos movimentos envolvidos, a Inglaterra ao quartel vivia


profundas modificações religiosas e sociais que se incorporaram com os

56
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd
57
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd

49
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

assuntos ideológicas e estratégicas. Ao promover a Reforma


Protestante na Inglaterra e firmar a Igreja Anglicana, Henrique VIII
buscou fortificar o lado ritualista da religião, dando enfase a uma face
mais contígua do catolicismo objectivando o uso legislação religiosa,
fortalecer sua autoridade, procurando o ajuda dos bastiões católicos
comandados pela nobreza tradicional58.

Este fenómeno criou uma resistência dos calvinistas, que se separam


em duas correntes59:

• Os conservadores que reunia a burguesia e a gentry que


defendiam uma igreja separada do estado, onde seriam os
presbíteros que escolheriam os líderes de suas igrejas, não
aceitando a indicação de bispos pelo rei;
• Já os emancipados, mais radicais, não aceitam nenhuma
estrutura clerical pregando que cada fiel deve ser seu próprio
pastor. Este ideal de uma igreja mais democrática consegue
grande aceitação entre as camadas populares onde se originam
várias seitas (como os Ranters, Seekers e Quackers).

Aos emancipados unem grupos ainda mais radicais: os Levellers:


(Niveladores) grupo que exigiam o voto universal masculino e a fixação
de uma república constituída por pequenos senhores; Diggers:
(Escavadores), grupo composto por velhos servos afugentam das terras
que se designavam “verdadeiros niveladores” ao quererem a levar a
igualdade política proposta pelos Levellers à esfera económica,
promovendo o estabelecimento da propriedade coletiva da terra.

De acordo com Quites identificou-se três grupos envolvidos no processo


de fortalecimento da burguesia inglesa.

• A nobreza tradicional, que apoia o rei absolutista, que reúne


anglicanos e católicos,
• A burguesia e a gentry que se fazem representar pelo
parlamento seguindo orientação puritana e;
• As camadas populares radicais que são os independentes,
Levellers e Digger, sem, contudo, apresentarem unidade entre
eles.

2.1.3. As etapas da Revolução Inglesa

Por revoluções Burguesas compreendemos o procedimento pelo qual a


burguesia europeia arca o controle do estado em seus países visando
suprimir os vestígios da ordem feudal indicados como obstáculos para

58
idem
59
Op cite

50
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

o desenvolvimento das práticas capitalistas. A alusão para a vinda de


tais revoluções e o século XVIII, com o esplendor das ideias iluministas,
porém, na Inglaterra, o desenvolvimento das forças capitalistas no país,
delimitou a antecipação da Revolução Inglesa. Além disto, as Reformas
Protestantes e as modificações sociais em curso na Inglaterra
igualmente influenciaram para o começo da revolução60.

Na Inglaterra, a partir de 1601, teve um rei deveras estudioso chamado


Jaime I, o primeiro rei da dinastia da família real dos Stuart. Seguia os
ideias de São Thomás de Aquino, todavia interpretava muito os
conselhos políticos Maquiavel, apesar de em público o criticasse — foi
ele quem começou a criar o costume de se usar o termo “maquiavélico”
em sentido negativo. Apelidou Maquiavel de “Mac-Evil”, que
poderíamos traduzir como “Mac-mau”, “Mac-diabólico” ou “Mau-
quiavel”. Não gostava da filosofia de Maquiavel porque ela negava que
os reis fossem reis por direito divino: dizia que eram reis só pela sua
força, esperteza e falsidade, e porque com isso conseguiam se manter
aceitos pelo povo (senão seriam derrubados)61.

60
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd
61
BORBA João. A Revolução burguesa na Inglaterra e na França. SE, 2010

51
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Esse rei, durante o seu governo, entrou em conflito muitas vezes com o
Parlamento inglês, porque os parlamentares estavam defendendo com
suas leis uma nova força social que vinha crescendo na Inglaterra: a
burguesia. As terras estavam se tornando uma mercadoria, que era
cercada, vendida e comprada por ricos burgueses interessados também
na criação de ovelhas nessas terras para a fabricação de lã. Com isso,
tanto os nobres quanto os camponeses estavam perdendo suas terras,
os primeiros empobrecendo, e os segundos, que já eram servos pobres,
virando trabalhadores assalariados frequentemente desempregados, o
que foi desagregando as famílias deles e tornando-os politicamente
mais fracos e submissos62.

O Parlamento, que em outros tempos tinha sido formado só por nobres


e membros da Igreja além do próprio rei, nos governos anteriores
(dinastia da família Tudor) tinha passado a ser dividido entre os nobres
(a “direita” da época) e essa alta burguesia dona de terras e ovelhas e
produtora de lã (a “esquerda” da época). Essa burguesia queria cada vez
mais uma monarquia constitucional, com o rei obrigado a seguir leis
sobre o modo de governar. O rei Jaime I só era apoiado no parlamento
pelos nobres e por uns poucos bispos. Governou até 1625, sempre em
atrito com o Parlamento.

2.1.4. A Revolução Puritana (1640-1648)

Os choques entre o rei Carlos I que inaugurou a dinastia Stuart e o


parlamento, tornaram-se cada vez mais constantes seja pelas ações do
rei para conter a prática dos Cercamentos dos Campos, seja pelas
seguidas tentativas de aumentar impostos. Carlos I chega a dissolver o
parlamento, mas o novo parlamento que se forma, estabelece que só o
parlamento possa se autodissolver, tirando o poder do rei de fazê-lo. O
Rei aproveitando-se de formação de um exército para a guerra contra a
Irlanda, o Rei mobiliza tropas contra o parlamento dando início à
Revolução63.

O Parlamento forma seu exército para o enfrentamento ao Rei, dando


início à Guerra civil. O Exército Modelo (New Model Army) é
comandado por Oliver Cromwell que instituiu a promoção ao oficialato
por mérito, abrindo a possibilidade de ascensão dentro de uma
sociedade até então estamental. Tal incentivo favoreceu a vitória sobre
o Exército Real.

O novo rei, Carlos I, adotou uma política mais agressiva ainda contra o
Parlamento, e fez um governo muito autoritário, gerando revoltas em
apoio aos parlamentares. Em 1642, as revoltas se organizaram em uma

62
Idem
63
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

guerra civil, e em 1649 o rei Carlos I foi derrotado, condenado à morte


e decapitado.

2.1.5. A República de Cromwell (1648/1658)

Contando com o apoio das tropas, Cromwell promove um golpe militar,


implantando uma república ditatorial, ao expulsar os deputados
presbiterianos do parlamento e promover a execução do rei. Cromwell
fez um governo voltado para o atendimento da burguesia64:

• Sufoca os grupos radicais engajados no Exército Modelo cujos


ideais extrapolavam aqueles pretendidos pela burguesia.
• Libera a prática dos Cercamentos dos campos restringidos pelo
rei
• Edita os Atos de Navegação através dos quais favoreceu a
construção naval e instituiu que toda mercadoria destinada à
Inglaterra e às suas colônias só poderia ser transportada por
navios ingleses. Tais medidas levaram o país ao domínio do
comércio mundial, superando a Holanda, tornando a Inglaterra
a “Rainha dos Mares”.
• Obteve vitórias militares sobre a Holanda e Espanha
consolidando a hegemonia inglesa na Europa.
• Editou as leis de” combate ao ócio” impondo rígido controle
sobre a mão de obra.

64
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

O poder foi para as mãos do chefe do parlamento, Oliver Cromwell (que


também tinha poder entre os militares), e Cromwell começou uma
ditadura a favor da alta burguesia. Nessa época, um filósofo e professor
de matemática monarquista que tinha fugido do país — Thomas
Hobbes — voltou e publicou, em 1651, O Leviatã, reafirmando
corajosamente sua postura monarquista. Dizia que era necessário sim
um rei ou pelo menos algum poder soberano para evitar os conflitos no
país, e um que tivesse inclusive poderes absolutos, inquestionáveis e
vitalícios (por toda a vida). Mas ao mesmo tempo se mostrou um
monarquista bem diferente dos tradicionais, porque retomava a tese
de Maquiavel de que o rei não era rei por direito divino, e sim pela sua
força armada, que garantia a obediência. Só que considerava
claramente que o rei devia essa força armada ao próprio povo — o que
de certo modo também se pode dizer de Maquiavel, mas que nele é
uma ideia discreta, que aparece mais escondida. Hobbes é explícito e
direto65.

Essas ideias monarquistas não agradavam Cromwell, como chefe do


Parlamento — ou pareciam não agradar. Mas em 1653 o próprio
Cromwell fechou o Parlamento e, com sua força entre os militares,
passou a governar como ditador. Em outras palavras ele mesmo, na
prática, passou a atuar quase como um rei, parecendo confirmar o que
Hobbes havia dito. A grande diferença era que Hobbes imaginava o
poder armado do soberano como algo que nascia, ou se justificava, no
fundo, a partir de uma espécie de acordo ou contrato social entre todos
os cidadãos como iguais e livres. Era o início do contratualismo em
filosofia jurídica. Mas no caso de Cromwell, pode-se falar de uma
espécie de grande acordo apenas entre a alta burguesia e os militares,
que depois ficaram mais fortes nesse “acordo”, submetendo os
próprios burgueses. O povo ficava de fora66.

Cromwell morreu em 1658. Ele vinha conseguindo conter pela força


muitas resistências e revoltas contra seu governo. Com sua morte, o
poder voltou ao Parlamento, mas os novos parlamentares, que seguiam
a mesma linha de Cromwell, ficaram com medo de não conseguir conter
as revoltas, e de perderem o controle da unidade nacional inglesa (em
outras palavras, tinham medo que a Inglaterra se dividisse em guerras
civis e deixasse de existir), então resolveram trazer de volta a
monarquia, e dar amplos poderes ao rei para reprimir essas revoltas.
Coroaram o rei Carlos II em 166067.

Com a morte de Cromwell, seu filho Ricardo assumiu o poder, mas não
mostrou a mesma capacidade política do pai, fazendo um governo fraco

65
BORBA João. A Revolução burguesa na Inglaterra e na França. SE, 2010, p1
66
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd
67
BORBA João. A Revolução burguesa na Inglaterra e na França. SE, 2010, p2

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

que permitiu a rearticulação de alguns grupos populares. Isto favoreceu


a reação monárquica, o que determinou a restauração da monarquia
sendo o trono entregue a Carlos II, que foi sucedido por seu irmão Jaime
II. Os reis Stuart, além de tentarem governar de forma absolutista,
tentaram também restaurar o catolicismo.

Mas apesar da volta da monarquia, a alta burguesia continuou


crescendo e dominando o modo como a Inglaterra se organizava, às
vezes se rebelando contra o autoritarismo do governo. Nessa época, um
jovem filósofo chamado John Locke, igualmente assustado com esses
movimentos burgueses de rebeldia, se declarava firmemente
monarquista, politicamente de direita e autoritário. Mas não defendia
monarquia de direito divino: era um hobbesiano, um contratualista
como Hobbes, defensor da monarquia, mas também da igualdade de
direitos. Só mais tarde inverteu suas posições, e sem deixar de ser
contratualista, acabou se tornando o filósofo jurídico famoso que é tão
estudado hoje — um dos maiores defensores dos ideais de liberdade da
alta burguesia inglesa da época.

Com essa organização burguesa em todo o país, com uma mentalidade


voltada para o lucro acima de tudo, a Inglaterra começou a aumentar
rapidamente a sua produção de mercadorias, e a precisar de mercado
consumidor externo. Portugal, que tinha bons portos e muitos
comerciantes judeus e genoveses, era uma porta de entrada natural
para os produtos ingleses, principalmente tecidos de lã, que dali eram
vendidos para vários países da Europa.

Acompanhando essa grande transformação, com o fim da monarquia


sendo aclamado como uma nova era de liberdade política e o
crescimento da burguesia68.

Foi só em 1689 que John Locke publicou seus famosos dois tratados
sobre o governo civil mostrando que havia mudado suas posições. Nessa
obra, passava a defender um contratualismo diferente daquele de
Hobbes, radicalmente contrário à monarquia, propondo inclusive um
governo divisão de poderes. Mas a princípio só publicou metade da
obra. A segunda parte (Segundo tratado, que era a mais radical que o
primeiro), foi publicada por ele anonimamente e da maneira mais
discreta possível. Um dos principais fatores que levaram Locke a mudar
de posição foi a influência das ideias francesas sobre a igualdade de
direitos, que nessa época estavam se espalhando e que, mais adiante,
iam acabar oferecendo fundamentos filosóficos para a filosofia
iluminista e para a Revolução Francesa69.

68
BORBA João. A Revolução burguesa na Inglaterra e na França. SE, 2010, p2
69
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

Poucos anos depois da publicação dos Dois tratados sobre o governo


civil de Locke, um explorador inglês de minas de carvão (em 1698, final
do séc. XVII) começou a usar uma máquina a vapor em suas minas, e a
partir daí, começaram a surgir cada vez mais novas máquinas, capazes
de acelerar enormemente os serviços e a produção em diversos setores.
Ao longo do séc. XVII surgiram máquinas de semear, máquinas de tear
(transformar lã em tecido), motores a vapor para barcos de transporte
de mercadorias, e pouco mais tarde para trens (a partir de 1804, início
do séc. XIX). Era a Revolução Industrial — e com ela, a produção inglesa,
que já vinha se acelerando, se tornou incomparavelmente superior à de
todo o resto do mundo. Mas a necessidade de mercado consumidor
para todos esses produtos era cada vez maior, e difícil de satisfazer,
principalmente porque em boa parte do mundo (mais precisamente nas
colônias de países europeus) quase que só se usava mão de obra
escrava, e escravos não têm salário, portanto não têm dinheiro para
comprar nada.

2.1.6. A Revolução Gloriosa (1688)

Os eventos que marcaram a chamada Revolução Gloriosa fazem parte


do amplo processo revolucionário Inglês, assim, o período entre 1688 e
1689 sucedeu a chamada Revolução Puritana, que levou o rei Carlos I,
da dinastia Stuart, a ser decapitado. Durante esse processo, uma série
de conflitos entre as forças absolutistas e uma burguesia em ascensão,
defensora do parlamentarismo monárquico e do protestantismo,
desenrolaram-se levando a Inglaterra a uma Guerra Civil70.

70
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

A queda dos Stuarts, em 1649, mostrou o fim temporário do


absolutismo, estando nesse caso trocado pelo modelo republicano de
Oliver Cromwell que, apesar de ser uma república, mostrou uma
descrição excessivamente absolutista. Após a morte de Oliver Cromwell
em 1658, seu filho, Richard Cromwell assumiu brevemente o poder,
mas logo foi deposto, dando início em 1669 a um processo de
restauração monárquica protagonizado pelo próprio parlamento.

A volta dos Stuarts a soberania inglesa foi exequível graças às


concordâncias efectuadas entre o parlamento e o monarca, que abonou
a limitação dos poderes reais e o respeito às decisões e poderes do
exclusivo parlamento inglês. Carlos II permaneceu na soberania inglesa
até 1685, segurando uma conexão de constante pressão com o
parlamento e com vigorosas tendências absolutistas71.

A fundamental questão de Carlos II era seu posicionamento quanto ao


catolicismo, tendo contraído o matrimonio com Catarina de Portugal,
uma princesa católica. Esse acesso do rei a figuras católicas e a suspeita
de seu irmão, Jaime II, igualmente ser católico não era bem vista pelo
parlamento e pela burguesia protestante de uma forma geral.

Em 1673 Carlos II ainda tentou aprovar a Declaração de Indulgência,


permitindo a liberdade religiosa aos católicos, mas foi recusada pelo
parlamento, gerando ainda mais tensões. A crise se intensificou com as
disputas entre os partidos Whig (liberal) e Tory (conservador), levando
Carlos I a dissolver o parlamento em 1681 e a retomar o absolutismo,
governando sozinho, até sua morte em 1685. Como não deixou
herdeiros, seu irmão, o Duque de York, assume o trono como Jaime II,
aprofundando as tensões com o parlamento72.

Carlos II, (1660 – 1685) da família Stuart, é proclamado rei da Inglaterra


com poderes limitados. Por isso ele estreitou ligações com o rei francês
Luís XIV, isto logo manchou sua reputação com o parlamento. Carlos II
baixou novos Atos de Navegação favoráveis ao comércio inglês.
Envolveu-se na guerra contra a Holanda. Em 1673, o parlamento
aprovou a lei do teste: todo o funcionário público deveria professar o
anticatolicismo. Com essas atitudes o parlamento ficou dividido em dois
grupos: os whigs, que eram contra o rei e favoráveis às mudanças
revolucionárias além de serem ligados à burguesia, e os tories que eram
defensores feudais e ligados à antiga aristocracia feudal. Com a morte
de Carlos II, seu irmão Jaime II (1685 -1688) assume o governo. Este
tomou medidas drásticas, quis restaurar o absolutismo, o catolicismo,
também punia os revoltosos com a negação do hábeas corpus, proteção
à prisão sem motivo legal, o parlamento não tolerou esse

71
QUITES, Aulus. Ciências Humanas e suas tecnologias – História. Sd
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BORBA João. A Revolução burguesa na Inglaterra e na França. SE, 2010, p2

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

comportamento e convocou Maria Stuart, filha de Jaime II e esposa de


Guilherme de Orange, para ser a rainha, com isso o rei foge para a
França e Maria Stuart e seu esposo tornaram-se monarcas ingleses.

Este assinou a Declaração dos Direitos que assegurava as seguintes


determinações: (o rei não podia cancelar as leis parlamentares; o reino
poderia ser entregue a quem o parlamento quisesse, após a morte do
rei; inspetores controlariam as contas reais; e o rei não deveria manter
um exército em épocas de paz), o qual concedia amplos poderes ao
Parlamento. Esta foi à REVOLUÇÃO GLORIOSA, uma revolução sem
derramamento de sangue.

Em suma, a reação burguesa se deu através de um golpe do parlamento,


que derruba Jaime II e entrega o trono a Guilherme de Orange, que
concorda em submeter-se à Declaração de Direitos (1689. ”Bill Of
Rights”) que instituía o regime de Monarquia Constitucional, quando o
rei reina, mas não governa: o governo é exercido pelo primeiro ministro
que é indicado pelo parlamento. A Revolução Puritana ao assegurar de
forma definitiva, o controle do estado à burguesia.

2.1.7. A Importância da Revolução Inglesa

Foi a Revolução Inglesa que possibilitou a criação das condições para o


advento da Revolução Industrial:

• Permitiu a Inglaterra tanto a expansão do império colonial


como o domínio do comércio mundial, assegurando o controle
dos mercados necessários à produção em série.
• Com os Cercamentos dos Campos, além da produção de lã
(matéria prima para a indústria têxtil, que foi o “carro chefe”
da Revolução Industrial) liberou a mão de obra do campo para
a indústria.

Assim contribuiu para o avanço das características do Capitalismo ao


abolir a servidão, principal estrutura do mundo feudal, permitindo a
consolidação da propriedade privada da terra e a proletarização da
mão- de-obra. O Estado Liberal se afirmar com a independência dos
poderes e o regime constitucional.

Sumário

Nesta Unidade temática 3 estudamos e discutimos fundamentalmente


a revolução burguesa na Inglaterra.
Neste capitulo afirmou-se que durante grande parte do século XVI,
viveu-se grandes transformações no reino inglês e a marcante foi a a
reforma religiosa dirigida por Henrique VIII ofereceu enormes favores

58
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

económicos tanto para aristocráticos quanto para burgueses da


Inglaterra.

O primeiro monarca da dinastia Stuart foi Jaime I, que governou de 1603


a 1625. Para tentar adequar a Coroa à nova realidade financeira da
Inglaterra e controlar a ascensão da burguesia, Jaime I passou a tomar
duas medidas principais: 1) aumento de impostos e estabelecimento de
empréstimos forçados; e 2) a formação de monopólios estatais como
forma de participação nos rendimentos dos negócios burgueses. Além
disso, Jaime deflagrou uma perseguição religiosa aos puritanos.
Confrontado pela Câmara dos Comuns, dissolveu o Parlamento, que
ficou inativo de 1614 a 1622.

Um líder radical puritano chamado Oliver Cromwell organizou um


exército burguês conhecido como exército dos “Cabeças redondas” por
se recusarem a usar as perucas dos nobres. Esse exército deflagrou
guerra contra a Coroa, que foi defendida pelos “Cavaleiros”, isto é, o
exército tradicional da nobreza. Teve assim início a Revolução Puritana,
ou Guerra Civil Inglesa.

A guerra civil entre a burguesia puritana e a Coroa ficou mais intensa


quando, em 1642, Oliver Cromwell convocou a base da pequena
burguesia e de camponeses para formar o Novo Exército Modelo.
Em 19 de maio de 1649 foi proclamada a República, e Cromwell recebeu
do Parlamento o título de Lord Protector. Muitas transformações
políticas operadas por Cromwell beneficiaram a burguesia que foi por
ele liderada na Guerra Civil.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas de múltiplas escolhas


1. A Revolução Inglesa, foi um dos principais acontecimentos da
Idade Moderna. Foi considerada a primeira das grandes
revoluções burguesas, ocorrida no:
a) Seculo XVI
b) século XVII
c) seculo XVIII
d) seculo XIX
2. A Guerra das Duas Rosas (1455/1485) e resolução encontrada
para a sua conclusão permitiu a subida da Dinastia Tudor,
com Henrique VII que colocou fim a luta entre:
a) Gregos e troianos
b) Os York e os Lancaster
c) Romanos e Indios
d) Ingleses e Franceses

59
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

3. Todavia foi Henrique VIII que estabeleceu o absolutismo na


Inglaterra concebendo a Igreja Anglicana tornando-se também o
chefe da Igreja, promovendo
a) a Reforma Protestante
b) Reforma burguesa
c) Reforma gloriosa
d) Reforma industrial
4. A reforma criou uma resistência dos calvinistas, que se separam
em duas correntes:
a) Os insurgentes e os digladiadores
b) Os verdes e os brancos
c) Os conservadores e os emancipados
d) Todas alíneas correctas
5. De acordo com Quites identificou-se grupos envolvidos no
processo de fortalecimento da burguesia inglesa eles eram.
a) A nobreza tradicional, que apoia o rei absolutista, que reúne
anglicanos e católicos,
b) A burguesia e a gentry que se fazem representar pelo
parlamento seguindo orientação puritana e;
c) As camadas populares radicais que são os independentes,
Levellers e Digger, sem, contudo, apresentarem unidade
entre eles.
d) Todas alíneas correctas
6. Na Inglaterra, teve um rei deveras estudioso chamado Jaime I, o
primeiro rei da dinastia da família real dos Stuart. Seguia os ideias
de São Thomás de Aquino.
a) Desde 1550
b) a partir de 1601
c) a partir 1750
d) desde 1750
7. Jaime I seguia os ideias de São Thomás de Aquino mas lia muito
os conselhos políticos de Maquiavel, apesar de em público o
criticasse — foi ele quem começou a criar o costume de se usar o
termo “maquiavélico”
a) em sentido misto
b) em sentido positivo
c) em sentido sarcástico
d) em sentido negativo.
8. A Revolução Puritana aconteceu entre:
a) 1601-1620
b) 1640-1648
c) 1668-1680
d) Todas alíneas incorrectas
9. Contando com o apoio das tropas, Cromwell promove um golpe
militar, implantando uma república ditatorial, ao expulsar os
deputados presbiterianos do

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

parlamento e promover a execução do rei. Cromwell fez um


governo voltado para o atendimento da burguesia. Este periodo
ficou conhecido por:
a) A República de Cromwell (1648/1658)
b) A Revolução Puritana (1640-1648)
c) A Revolução Gloriosa (1668-1680)
d) Todas alíneas incorrectas
10. Cromwell vinha conseguindo conter pela força muitas
resistências e revoltas contra seu governo. Com sua morte, o
poder voltou ao Parlamento morreu
a) Em 1648
b) Em 1658
c) Em 1668
d) Em 1678
Das afirmações que se seguem assinale com V a verdadeira e F a Falsa.
1. Os conservadores que reunia a burguesia e a gentry que
defendiam uma igreja separada do estado, onde seriam os
presbíteros que escolheriam os líderes de suas igrejas, não
aceitando a indicação de bispos pelo rei;
a. Verdade*
b. Falso
2. Já os emancipados, mais radicais, não aceitam nenhuma
estrutura clerical pregando que cada fiel deve ser seu próprio
pastor. Este ideal de uma igreja mais democrática consegue
grande aceitação entre as camadas populares onde se originam
várias seitas (como os Ranters, Seekers e Quackers).
a. Verdade*
b. Falso
3. Esse rei, durante o seu governo, entrou em conflito muitas vezes
com o Parlamento inglês, porque os parlamentares estavam
defendendo com suas leis uma nova força social que vinha
crescendo na Inglaterra: a burguesia
a. Verdade*
b. Falso
4. As terras estavam se tornando uma mercadoria, que era cercada,
vendida e comprada por ricos burgueses interessados também
na criação de ovelhas nessas terras para a fabricação de lã.
a. Verdade*
b. Falso

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Exercícios para AVALIAÇÃO

Perguntas de desenvolvimento
1. Esse rei, durante o seu governo, entrou em conflito muitas
vezes com o Parlamento inglês. Porquê?
2. O Parlamento forma seu exército para o enfrentamento ao
Rei, dando início à Guerra civil. Como se deu a Revolução
Puritana?
3. Foi a Revolução Inglesa que possibilitou a criação das
condições para o advento da Revolução Industrial. Qual foi a
importância da Revolução Inglesa?

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

TEMA – IV: A EMERGÊNCIA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA INGLATERRA


UNIDADE Temática 4.1. Causas e Fases da Revolução Industrial
UNIDADE Temática 4.2. Consequências da Revolução Industrial para a
humanidade
UNIDADE Temática 4.3. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE TEMÁTICA 4.1. CAUSAS E FASES DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA


INGLATERRA

Introdução

Nesta unidade temática vai se tratar da Revolução Industrial, sua


génese, factores influenciadores, fases e suas consequências.

No século XVIII, a Inglaterra tornou-se uma autoridade económica


mundialmente dominante e empilhou enormes somas de capital. Mas
também o grande número de portos naturais e rios navegáveis, muitos
ligados por novos canais significava que o consumo interno e o
internacional estavam facilmente interligados.

Também tinha mão de obra abundante e barata foi também importante


para o desenvolvimento da indústria. Desde o início do século XVIII, com
a melhoria da produção agrícola, houve uma queda nas taxas de
mortalidade.

A burguesia inglesa pode contar ainda com o crescente império colonial.


Na segunda metade do século XVIII, depois de vencer os franceses, a
Inglaterra passou a ter a hegemonia naval. Por essa época as atividades
comerciais comandavam o ritmo da produção.

A Revolução Industrial Inglesa fez surgir uma classe operária, que se


caracterizou por ganhar baixos salários e por jornadas de trabalho que
chegava a 16 horas. Os operários que antes eram donos dos teares e
rocas, passaram a ser submetidos aos capitalistas (donos dos meios de
produção).

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Apresentar as causas que determinaram a revolução industrial;


• Demonstrar as fases, o processo e o papel da Inglaterra na
revolução industrial;
Objectivos
específicos • Perceber as consequências da revolução industrial para a
humanidade.

63
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

4.1. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

A Revolução Industrial tomou essa designação porque gerou uma


transformação radical em toda a capacidade produtiva do mundo, em
especial na Inglaterra, Europa e Estados Unidos, os primeiros lugares
onde ela aconteceu. A partir daqui passou-se de uma produção
artesanal para massa, de unidade para serie.
A mais importante dessas alterações, ocorridas em primeiro lugar na
Grã-Bretanha, foi a invenção de máquinas que produziam muito mais
que o trabalho manual. As primeiras foram as máquinas de fiação e
tecelagem. Homens, mulheres e até mesmo crianças trabalhavam nas
novas fábricas, onde grande parte das máquinas funcionavam, a
princípio, pela força hidráulica, passando depois a ser movida a vapor.
Newcomen inventou uma máquina a vapor, mais tarde aperfeiçoada
por James Watt.
No entanto, a revolução foi mais do que uma simples transformação
económica: foi um processo muito mais largo, que modificou
infindavelmente a organização social e praticamente todos os outros
aspectos dos países onde se sucedeu. Isso parece óbvio quando nas
classes operárias e nos industriais, mas mesmo os grupos
aparentemente não relacionados a eles, como camponeses, nobres,
artistas e escravos, tiveram seus modos de vida alterados de uma forma
ou de outra73.

73
DAUWE, Fabiano. Caderno de estudos: história moderna. Centro
Universitário Leonardo Da Vinci. – Indaial :UNIASSELVI, 2008.

64
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Várias formas novas de procedimento político foram concebidas sob


sua influência – liberalismo económico, marxismo, anarquismo entre
outras.
Simultaneamente com o outro grande movimento revolucionário que
acontecia no século XVIII, o Iluminismo, a Revolução Industrial ajudou a
criar uma sociedade bastante diferente da que existia até então, e
forneceu as condições materiais para que as ideias iluministas fossem
postas em prática. As novas necessidades criadas pela indústria pioneira
tornaram obsoletos alguns fundamentos da sociedade europeia dos
séculos anteriores, como o princípio da desigualdade, característico da
sociedade de nobreza, e a exploração colonial mercantilista.
Durante o século XIX, a nova sociedade liberal, comandada económica
e politicamente pela burguesia, rejeitou aos poucos essas práticas, e
estabeleceu uma nova ideologia, liberal, que prevaleceu sem grandes
contestações até o início do século XX.

4.1.1. Etapas da industrialização


Podem-se distinguir três períodos no processo de industrialização em
escala mundial:
1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a "oficina do
mundo". Preponderam a produção de bens de consumo, especialmente
têxteis, e a energia a vapor.
1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa, América e Ásia:
Bélgica, França, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão, Rússia. Cresce
a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as
ferrovias se expandem; surgem novas formas de energia, como a
hidrelétrica e a derivada do petróleo. O transporte também se
revoluciona, com a invenção da locomotiva e do barco a vapor.
1900 até hoje – Surgem conglomerados industriais e multinacionais. A
produção se automatiza; surge a produção em série; e explode a
sociedade de consumo de massas, com a expansão dos meios de
comunicação. Avançam a indústria química e eletrônica, a engenharia
genética, a robótica.

4.1.2. Artesanato, manufatura e maquinofatura


O artesanato, primeira forma de produção industrial, surgiu no fim da
Idade Média com o renascimento comercial e urbano e definia-se pela
produção independente; o produtor possuía os meios de produção:
instalações, ferramentas e matéria-prima. Em casa, sozinho ou com a
família, o artesão realizava todas as etapas da produção.
A manufatura resultou da ampliação do consumo, que levou o artesão
a aumentar a produção e o comerciante a dedicar-se à produção

65
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industrial. O manufatureiro distribuía a matéria-prima e o artesão


trabalhava em casa, recebendo pagamento combinado. Esse
comerciante passou a produzir. Primeiro, contratou artesãos para dar
acabamento aos tecidos; depois, tingir; e tecer; e finalmente fiar.
Surgiram fábricas, com assalariados, sem controle sobre o produto de
seu trabalho. A produtividade aumentou por causa da divisão social,
isto é, cada trabalhador realizava uma etapa da produção.
Na maquinofatura, o trabalhador estava submetido ao regime de
funcionamento da máquina e à gerência direta do empresário. Foi nesta
etapa que se consolidou a Revolução Industrial.

4.2. AS CAUSAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Uma enorme modificação nos meios produtivos, do alcance que teve a
Revolução Industrial, não é uma coisa que aconteça com facilidade.
Existe uma série de factores que devem ser preenchidos para que isso
seja possível, e a Inglaterra do século XVIII foi o primeiro lugar do
mundo em que isso aconteceu.

4.2.1. Os Grandes Avanços Tecnológicos


Na primeira metade do século os sistemas de transporte e de
comunicação desencadearam as primeiras inovações com os primeiros
barcos à vapor (Robert Fulton/1807) e locomotiva (Stephenson/1814),
revestimentos de pedras nas estradas McAdam/1819), telégrafos
(Morse/1836). As primeiras iniciativas no campo da eletricidade como
a descoberta da lei da corrente elétrica (Ohm/1827) e do
eletromagnetismo (Faraday/1831).
Dá para imaginar a quantidade de mudanças que estes sectores
promoveram ou mesmo promoveriam num futuro próximo. As
distâncias entre as pessoas, entre os países, entre os mercados se
encurtariam. Os contactos mais regulares e frequentes permitiriam
uma maior aproximação de mundos tão distintos como o europeu e o
asiático.
No sector têxtil a concorrência entre ingleses e franceses permitiu o
aperfeiçoamento de teares (Jacquard e Heilmann). O aço tornou-se
uma das mais valorizadas matérias-primas. Em 1856 os fornos de
Siemens-Martin, o processo Bessemer de transformação de ferro em
aço. A indústria bélica sofreu significativo avanço (como os Krupp na
Alemanha) acompanhando a própria tecnologia metalúrgica.

66
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A explosão tecnológica conheceu um ritmo ainda mais frenético com a


energia elétrica e os motores a combustão interna. A energia elétrica
aplicada aos motores, a partir do desenvolvimento do dínamo, deu um
novo impulso industrial. Movimentar máquinas, iluminar ruas e
residências, impulsionar bondes. Os meios de transporte se sofisticam
com navios mais velozes. Hidrelétricas aumentavam, o telefone dava
novos contornos à comunicação (Bell/1876), o rádio (Curie e
Sklodowska/1898), o telégrafo sem fio (Marconi/1895), o primeiro
cinematógrafo (irmãos Lumière/1894) eram sinais evidentes da nova
era industrial consolidada.
E, não podemos deixar de lado, a invenção do automóvel movido à
gasolina (Daimler e Benz/1885) que geraria tantas mudanças no modo
de vida das grandes cidades. O motor à diesel (Diesel/1897) e os
dirigíveis aéreos revolucionavam os limites da imaginação criativa e a
tecnologia avançava a passos largos.
A indústria química também tornou-se um importante sector de ponta
no campo fabril. A obtenção de matérias primas sintéticas a partir dos
subprodutos do carvão - nitrogênio e fosfatos. Corantes, fertilizantes,
plásticos, explosivos, etc. Entrava-se no século XX com a visão de
universo totalmente transformada pelas possibilidades que se
apresentavam pelo avanço tecnológico.

67
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A Inglaterra por exemplo tinha, além de todos esses recursos à


disposição, uma das melhores capacidades técnicas da época. Cientistas
do porte de Isaac Newton e Robert Hooke ajudaram inventores se
aproveitaram das descobertas para criar máquinas mais eficientes.
Houve melhorias na metalurgia, com a utilização de carvão mineral nas
forjas, que permite temperaturas mais altas. James Hargreaves
desenvolveu uma roca que fiava vários novelos de uma vez só; Richard
Arkwright criou a primeira fábrica desenhada para abrigar fiandeiras
movidas a água. Diversos tipos de máquinas a vapor vinham sendo
criadas, e Thomas Newcomen, em 1712, foi o primeiro a dar uma
utilidade comercial para elas.
Cerca de 50 anos depois, James Watt apresentou um modelo
aperfeiçoado da máquina de Newcomen, cinco vezes mais eficiente;
mais tarde, o invento foi aperfeiçoado com o uso de vapor a alta
pressão. A essa altura, o engenho já era eficiente o bastante para ser
utilizado para mover máquinas, realizando o serviço de várias pessoas
ao mesmo tempo.

4.2.2. A Acumulação Capitalista


A prosperidade das colónias e das manufaturas inglesas do final do
século XVIII havia transformado o país em uma grande potência. O
processo que levou a isso foi longo e bem administrado; a Inglaterra foi
o primeiro país a abandonar as estruturas feudais e, após as disputas
dos séculos XVI a XVIII, conseguiu sobressair-se e dominar o cenário
colonial.
Uma das principais transformações económicas da Inglaterra foram os
cercamentos dos campos, um processo que destruiu o sistema
tipicamente feudal de agricultura comunal inglesa.

68
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Desde o século XII, alguns proprietários de terras mais poderosos


cercavam as terras comunais e proibiam o acesso dos lavradores a elas,
passando a ter exclusividade sobre seu cultivo. Durante a dinastia Tudor
(século XVI), o processo de cercamento se tornou mais comum e mais
violento, e levou a uma enorme concentração de terras nas mãos de
poucos proprietários.
Os cercamentos eram alvos de duras críticas, principalmente por roubar
terras da agricultura e destiná-las à criação de ovelhas para produção
de lã, gerando como subproduto uma enorme massa de camponeses
sem recursos.
Leis foram banidas tentando evitar esse movimento e houve muitas
rebeliões camponesas em protesto. Mas a verdadeira causa do
processo só seria entendida mais tarde: buscando aumentar seus
rendimentos, o rei desvalorizava a moeda, diminuindo seu teor de ouro
e prata; os proprietários rurais, tentando evitar o prejuízo, trataram de
assegurar o controle sobre as terras comunais para garantir o
fornecimento da lã, que tinha um excelente mercado no exterior.
No século XVII, com a Revolução Gloriosa e a ideologia Whig no poder,
os cercamentos passaram a ser aceitos pelo Parlamento, fiel ao
objectivo de se acabar com a posse comunal de terras no país; foi a
época em que os cercamentos foram mais comuns. Desta vez, o destino
das terras cercadas não era mais a produção de lã, mas a agricultura
modernizada, que atingiu níveis de produtividade inimagináveis até
então.
O auge do processo de cercamentos foi o final do século XVIII até cerca
de 1830; a coincidência desse processo com a Revolução Industrial não
escapou a estudiosos como Marx e seus seguidores, que entenderam
que a intensa desigualdade social e o empobrecimento acentuado da
população do campo gerado pelos cercamentos teriam forçado os
camponeses a migrar para as cidades, onde se tornariam os operários
nas indústrias que surgiam.

4.2.3. As Primeiras Indústrias


Os engenhos foram utilizados inicialmente para extrair a água das minas
de carvão, o que aumentou consideravelmente o seu potencial de
expansão. Mas o motor a vapor logo se mostrou útil no
desenvolvimento industrial.
A primeira indústria a se beneficiar do motor a vapor foi a indústria
têxtil, cujo enorme mercado consumidor tornava-a bastante atraente
para uma produção em grande escala. Várias outras indústrias se
desenvolveram paralelamente a esta, como a mineração e metalurgia e
a indústria química, que contribuíram para um rápido aperfeiçoamento
da produção têxtil.

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Os subprodutos do carvão gaseificado eram usados para produção de


gás destinado à iluminação, e isso acabou por trazer efeitos notáveis
para a sociedade: permitiu o desenvolvimento da iluminação pública,
favoreceu a vida noturna e, claro, possibilitou o funcionamento das
fábricas em turnos ininterruptos. Outra área que se beneficiou da
utilização das novas tecnologias, e que também ajudou a desenvolvê-
las, foi a indústria de vidro, que, aperfeiçoado, possibilitou o projeto de
edifícios mais amplos.

4.2.4. O pioneirismo inglês


Quatro elementos essenciais concorreram para a industrialização:
capital, recursos naturais, mercado, transformação agrária.
Na base do processo, está a Revolução Inglesa do século XVII. Depois de
vencer a monarquia, a burguesia conquistou os mercados mundiais e
transformou a estrutura agrária. Os ingleses avançaram sobre esses
mercados por meios pacíficos ou militares. A hegemonia naval lhes dava
o controle dos mares. Era o mercado que comandava o ritmo da
produção, ao contrário do que aconteceria depois, nos países já
industrializados, quando a produção criaria seu próprio mercado.
Até a segunda metade do século XVIII, a grande indústria inglesa era a
tecelagem de lã. Mas a primeira a mecanizar-se foi a do algodão, feito
com matéria-prima colonial (Estados Unidos, Índia e Brasil). Tecido leve,
ajustava-se aos mercados tropicais; 90% da produção ia para o exterior
e isto representava metade de toda a exportação inglesa, portanto é
possível perceber o papel determinante do mercado externo,
principalmente colonial, na arrancada industrial da Inglaterra. As
colônias contribuíam com matéria-prima, capitais e consumo.
Os capitais também vinham do tráfico de escravos e do comércio com
metrópoles colonialistas, como Portugal. Provavelmente, metade do
ouro brasileiro acabou no Banco da Inglaterra e financiou estradas,
portos, canais. A disponibilidade de capital, associada a um sistema
bancário eficiente, com mais de quatrocentos bancos em 1790, explica
a baixa taxa de juros; isto é, havia dinheiro barato para os empresários.
Depois de capital, recursos naturais e mercado, vamos ao quarto
elemento essencial à industrialização, a transformação na estrutura
agrária após a Revolução Inglesa. Com a gentry no poder, dispararam os
cercamentos, autorizados pelo Parlamento. A divisão das terras
coletivas beneficiou os grandes proprietários. As terras dos
camponeses, os yeomen, foram reunidas num só lugar e eram tão
poucas que não lhes garantiam a sobrevivência: eles se transformaram
em proletários rurais; deixaram de ser ao mesmo tempo agricultores e
artesãos.

70
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Duas consequências se destacam:


i) diminuiu a oferta de trabalhadores na indústria doméstica
rural, no momento em que ganhava impulso 0 mercado,
tornando-se indispensável adotar nova forma de produção
capaz de satisfazê-lo;
ii) a proletarização abriu espaço para o investimento de capital
na agricultura, do que resultaram a especialização da
produção, o avanço técnico e o crescimento da
produtividade.
A população cresceu, o mercado consumidor também; e sobrou mão-
de-obra para os centros industriais.

4.2.5. Revolução Social


A Revolução Industrial concentrou os trabalhadores em fábricas. O
aspecto mais importante, que trouxe radical transformação no carácter
do trabalho, foi esta separação: de um lado, capital e meios de
produção (instalações, máquinas, matéria-prima); de outro, o trabalho.
Os operários passaram a assalariados dos capitalistas (donos do
capital).
Uma das primeiras manifestações da Revolução foi o desenvolvimento
urbano. Londres chegou ao milhão de habitantes em 1800. O progresso
deslocou-se para o norte; centros como Manchester abrigavam massas
de trabalhadores, em condições miseráveis. Os artesãos, acostumados
a controlar o ritmo de seu trabalho, agora tinham de submeter-se à
disciplina da fábrica. Passaram a sofrer a concorrência de mulheres e
crianças. Na indústria têxtil do algodão, as mulheres formavam mais de
metade da massa trabalhadora. Crianças começavam a trabalhar aos 6
anos de idade. Não havia garantia contra acidente nem indenização ou
pagamento de dias parados neste caso.
A mecanização desqualificava o trabalho, o que tendia a reduzir o
salário. Havia frequentes paradas da produção, provocando
desemprego. Nas novas condições, caíam os rendimentos, contribuindo
para reduzir a média de vida. Uns se entregavam ao alcoolismo. Outros
se rebelavam contra as máquinas e as fábricas, destruídas em Lancaster
(1769) e em Lancashire (1779). Proprietários e governo organizaram
uma defesa militar para proteger as empresas.
A situação difícil dos camponeses e artesãos, ainda por cima
estimulados por ideias vindas da Revolução Francesa, levou as classes
dominantes a criar a Lei Speenhamland, que garantia subsistência
mínima ao homem incapaz de se sustentar por não ter trabalho. Um
imposto pago por toda a comunidade custeava tais despesas. Havia
mais organização entre os trabalhadores especializados, como os
penteadores de lã. Inicialmente, eles se cotizavam para pagar o enterro
de associados; a associação passou a
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ter caráter reivindicatório. Assim surgiram as tradeunions, os


sindicatos. Gradativamente, conquistaram a proibição do trabalho
infantil, a limitação do trabalho feminino, o direito de greve.

4.2.6. O Proletariado
Os operários das fábricas tinham condições de vida e de trabalho
bastante precárias, para os padrões actuais. Não havia, na legislação
inglesa, qualquer tipo de regulamentação das relações de trabalho,
muito ao contrário: a ideologia liberal pregava que essas questões
deveriam ficar a cargo exclusivamente dos proprietários das fábricas.
Assim, as jornadas de trabalho chegavam facilmente a dezasseis ou
dezoito horas, os salários eram os mais baixos possíveis (o que muitas
vezes significava serem o mínimo estritamente necessário para permitir
ao trabalhador manter-se vivo) e as condições de trabalho eram
insalubres.
As fábricas comportavam centenas de trabalhadores, reunidos em um
ambiente mal iluminado, húmido, quente e barulhento. As doenças e
os acidentes de trabalho eram frequentes, e o trabalhador acidentado
era dispensado sumariamente.
Condições tão duras eram possíveis porque havia uma quantidade
enorme de pessoas empobrecidas pelos cercamentos e pela melhoria
da produção agrícola, que agora exigia menos braços para o cultivo.
Sem perspectivas no meio rural, essas pessoas não tinham escolha
senão irem para as cidades em busca da sobrevivência.
Karl Marx descreveu essa massa de pessoas como uma mercadoria
pouco valorizada: pessoas sem nenhuma qualificação ou produto para
vender a não ser sua capacidade de trabalho precisavam oferecer sua
“mercadoria” a preços irrisórios, e corriam sempre o risco de perderem
tudo. Mulheres e crianças, tidas como mais dóceis, recebiam salários
muito mais baixos que os homens. O processo de industrialização, que
gerava lucros fabulosos aos proprietários das fábricas e ao governo
inglês, criava, ao mesmo tempo, uma massa gigantesca de pessoas
empobrecidas, sem qualquer perspectiva de melhoria de vida.
A esse grupo de pessoas, no entendimento de Marx, havia pouquíssima
possibilidade de acumulação capitalista, ou seja, de aumento de sua
capacidade de ganhar dinheiro com o tempo. Sem condições de exigir
um pagamento maior pelo serviço que executavam, sem possibilidade
de melhorar a qualidade desse serviço e sem poderem mudar de
ocupação, a esses trabalhadores havia uma única possibilidade de
aumentar o rendimento: ter filhos (prole), e por isso Marx os chama de
proletários.

72
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4.2.7. Os Protestos contra as transformações


Mas é claro que os proletários não aceitavam passivamente a sua
situação. Sentiam a dificuldade de suas vidas, e sabiam a quem dirigir
sua revolta: a grande culpada de sua miséria só poderia ser a máquina
em que trabalhavam, que executava o serviço de dezenas de
trabalhadores e empregava um único para sua operação. A expressão
sabotage teria surgido quando trabalhadores colocaram seus tamancos
(em francês, sabot) nas engrenagens da máquina, destruindo-a. Na
Inglaterra, grupos de trabalhadores que destruíam as máquinas ficaram
conhecidos como Luditas, em uma referência a um certo Ned Ludd, que
teria inspirado o movimento (embora não haja provas de que Ludd
tenha de fato existido).
Mas esses protestos logo se mostraram ineficazes: os sabotadores eram
demitidos, presos ou mortos, a máquina era reposta e o trabalho
reiniciava. Não era a máquina a culpada pela miséria dos proletários,
mas sim a sua falta de proteção legal, que dava aos donos das fábricas
totais poderes para determinar as condições de trabalho. Para tentar
reverter a situação, os trabalhadores começaram a se reunir em
sindicatos e a organizar greves, reprimidas com grande violência.
Na década de 1830, o movimento Cartista chegou a reunir cerca de três
milhões de assinaturas para pedir reformas na legislação e contemplar
interesses dos trabalhadores, mas o Parlamento rejeitou as propostas
sem considerá-las. Em 1842, uma greve geral organizada pelos cartistas
parou a produção em toda a Inglaterra.
A partir de então, os trabalhadores começaram a conquistar
lentamente seus direitos, geralmente à custa de muitas greves, sempre
severamente reprimidas.

4.2.8. Os Efeitos do Colonialismo


Também o sistema colonial criado pela Inglaterra dava bons frutos e
contribuía para a prosperidade da Metrópole. Desde o início do século
XVII, a Inglaterra estabeleceu colônias na região do Caribe, onde se
produzia açúcar da mesma forma que no Brasil. O interesse em não
mais depender dos barcos holandeses para vender o produto e trazer
os escravos da África levou a uma série de confrontos entre os dois
países e terminou por garantir a supremacia inglesa no Atlântico. Mais
ao norte estabeleceram-se colônias com um formato diferente, que não
estavam necessariamente inseridas na lógica mercantilista e de
plantation.
Várias dessas colônias dariam origem, mais tarde, aos Estados Unidos.
De todas as colônias inglesas, no entanto, a Índia era a mais lucrativa. O
subcontinente indiano proporcionava aos ingleses um lucro fabuloso
com a venda de chá no mercado europeu e norte-americano, um posto
avançado para a intermediação de
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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

outros produtos do Oriente e um gigantesco mercado consumidor em


potencial.
O algodão indiano e o norte-americano também propiciavam um bom
lucro, pois alimentavam as manufaturas inglesas e, depois, passariam a
alimentar as fábricas.
A supremacia inglesa no mercado colonial do século XVIII foi
consolidada e evidenciada com os acordos feitos com Portugal no início
do século. O Tratado de Methuen, de 1703, colocou os portugueses
praticamente sob a tutela econômica da Inglaterra, e o déficit
português só era compensado pela boa quantidade de ouro que vinha
do Brasil nesse período. Ou seja, parte dos recursos utilizados para
promover a Revolução Industrial era ouro vindo do Brasil.

4.2.9. Os Recursos Naturais


Para completar, um pouco de sorte. Além de todos esses recursos, a
Inglaterra tinha, ainda, toda a matéria-prima necessária para fabricar e
operar máquinas. Carvão e ferro eram facilmente encontrados no
subsolo inglês em quantidade e qualidade adequadas. A produção têxtil
dependia de algodão ou lã, que eram amplamente produzidos no país;
produtos feitos de lã representavam cerca de 25% da exportação
britânica no século XVIII, e o beneficiamento de algodão, embora
tivesse uma escala muito menor, crescia assombrosamente.

4.3. AS CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO


Como se pode ver, a utilização do motor a vapor se tornou generalizada,
e diversas actividades foram facilitadas ou viabilizadas por ele.
Os transportes passaram por uma transformação radical: colocando-se
uma máquina a vapor sobre trilhos, surgiu a locomotiva, que era capaz
de transportar grandes quantidades de carga por terra, com rapidez e
segurança; os barcos a vapor livraram o transporte aquático da
dependência dos ventos, e o transporte podia ser feito com
regularidade e precisão.
Bombas d’água a vapor permitiram a drenagem de pântanos, e era
possível agora arar as terras melhor e mais rápido e construir canais
para irrigar terrenos com mais facilidade ou, ainda mais largos, para a
circulação de embarcações. A Inglaterra criou um sistema
extremamente intrincado de canais de navegação, que facilitaram os
transportes e a comunicação dentro do país e para o exterior. As
prensas a vapor baratearam muito o custo de impressão de
documentos, e jornais diários e livros se tornaram acessíveis à
população.
Outro efeito colateral da Revolução Industrial foi o desenvolvimento
acelerado das cidades, que passaram a
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concentrar enormes contingentes populacionais em bairros escuros,


sujos e perigosos. As chaminés das fábricas poluíam o ar com fuligem e
davam às grandes cidades industriais um aspecto assustador para as
pessoas da época. As casas dos operários eram precárias, e as péssimas
condições de higiene causavam epidemias frequentes de cólera, febre
tifoide e varíola. Os mineiros enfrentavam ainda o sério risco de
contraírem doenças pulmonares, que eram uma grande causa de
mortalidade até o século XX.

Sumário

Nesta Unidade temática 4, estudamos e discutimos fundamentalmente


a revolução industrial: Causas, fases e consequências.
Nesta unidade vimos que a Inglaterra se tornou uma autoridade
económica mundialmente dominante e empilhou enormes somas de
capital. Mas também o grande número de portos naturais e rios
navegáveis, muitos ligados por novos canais significava que o consumo
interno e o internacional estavam facilmente interligados.
A burguesia inglesa contou ainda com o crescente império colonial. Na
segunda metade do século XVIII, depois de vencer os franceses, a
Inglaterra passou a ter a hegemonia naval. Por essa época as actividades
comerciais comandavam o ritmo da produção.
Podem-se distinguir três períodos no processo de industrialização em
escala mundial: 1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a
"oficina do mundo". 1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa,
América e Ásia.1900 até hoje – Surgem conglomerados industriais e
multinacionais.
Como consequência da revolução industrial os transportes passaram
por uma transformação radical: colocando-se uma máquina a vapor
sobre trilhos, surgiu a locomotiva, que era capaz de transportar grandes
quantidades de carga por terra, com rapidez e segurança. Portanto um
efeito colateral de enfase da Revolução Industrial foi o desenvolvimento
acelerado das cidades, que passaram a concentrar enormes
contingentes populacionais em bairros escuros, sujos e perigosos.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas de múltiplas escolhas

1. A Revolução Industrial tomou essa designação porque gerou uma


transformação radical em toda a capacidade produtiva do mundo.
A mais importante dessas transformações, ocorridas em primeiro
lugar na Grã-Bretanha, foi:

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a) A invenção de máquinas que produziam muito mais que o


trabalho manual.
b) A invenção do computador
c) A invenção do
d) Todas alíneas correctas
2. As primeiras inventadas na revolução industrial foram as máquinas
de:
a) Produção agrícola
b) Corte de madeira
c) Fiação e tecelagem
d) Todas alíneas incorrectas
3. No sector têxtil a concorrência entre ingleses e franceses
permitiu o aperfeiçoamento de teares, com:
a) Jacquard e Heilmann
b) Bell/1876
c) Curie e Sklodowska/1898
d) irmãos Lumière/1894
4. Os meios de transporte se sofisticam com navios mais velozes.
Hidrelétricas aumentavam, o telefone dava novos contornos à
comunicação com:
a) Jacquard e Heilmann
b) Bell/1876
c) Curie e Sklodowska/1898
d) irmãos Lumière/1894
5. A invenção do rádio com:
a) Jacquard e Heilmann
b) Bell/1876
c) Curie e Sklodowska/1898
d) irmãos Lumière/1894
6. O primeiro cinematógrafo com:
a) Jacquard e Heilmann
b) Bell/1876
c) Curie e Sklodowska/1898
d) irmãos Lumière/1894
7. A invenção do automóvel movido à gasolina com:
a) Daimler e Benz/1885
b) Bell/1876
c) Curie e Sklodowska/1898
d) irmãos Lumière/1894

Das afirmações que se seguem assinale com V a verdadeira e F a Falsa.


1. Grande parte das máquinas funcionavam, a princípio, pela força
hidráulica, passando depois a ser movida a vapor. Newcomen
inventou uma máquina a vapor, mais tarde aperfeiçoada por
James Watt.
a. Verdade

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b. Falso
2. Na primeira metade do século os sistemas de transporte e de
comunicação desencadearam as primeiras inovações com os
primeiros barcos à vapor (Robert Fulton/1807) e locomotiva
(Stephenson/1814), revestimentos de pedras nas estradas
McAdam/1819), telégrafos (Morse/1836). As primeiras
iniciativas no campo da eletricidade como a descoberta da lei da
corrente elétrica (Ohm/1827) e do eletromagnetismo
(Faraday/1831).
a. Verdade
b. Falso
3. A Revolução Industrial concentrou os trabalhadores em fábricas.
O aspecto mais importante, que trouxe radical transformação no
carácter do trabalho, foi esta separação: de um lado, capital e
meios de produção de outro, o trabalho.
a. Verdade
b. Falso
4. Como consequência da revolução industrial os transportes
passaram por uma transformação radical: colocando-se uma
máquina a vapor sobre trilhos, surgiu a locomotiva, que era capaz
de transportar grandes quantidades de carga por terra, com
rapidez e segurança.
a. Verdade
b. Falso
5. Outro efeito colateral da Revolução Industrial foi o
desenvolvimento acelerado das cidades, que passaram a
concentrar enormes contingentes populacionais em bairros
escuros, sujos e perigosos.
a. Verdade
b. Falso

Exercícios para AVALIAÇÃO

Perguntas de desenvolvimentos
1. Nas fases da industrialização podem-se distinguir três períodos
no processo de industrialização em escala mundial. Apresente
as etapas da revolução.
2. Quatro elementos essenciais concorreram para a
industrialização no pioneirismo inglês: capital, recursos naturais,
mercado, transformação agrária. Apresente a importância de
cada uma deles.
3. Uma das primeiras manifestações da Revolução foi o
desenvolvimento urbano. Discuta a revolução urbana na
Inglaterra.

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TEMA – V: A REVOLUÇÃO BURGUESA NA FRANÇA- SÉCULO XVIII

UNIDADE Temática 1.1. A Revolução Burguesa Na Franca- Seculo XVIII


UNIDADE Temática 1.2. Os efeitos da Revolução Francesa no mundo
UNIDADE Temática 1.4. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE TEMÁTICA 1.1 A Revolução Burguesa Francesa e seus efeitos no mundo

Introdução

Nesta unidade temática vai se retratar a Revolução burguesa Francesa


no mundo, a partir do seculo XVIII. Tem como objectivos específicos
apresentar as causas que determinaram a revolução Burguesa Na
Franca- Seculo XVIII; e identificar os efeitos da Revolução Francesa no
mundo.

Antes de mais importa referir que a Revolução Francesa foi um


movimento social e político ocorrido na França entre 1789 e 1799, que
resultou no fim do Antigo Regime e, posteriormente, deu origem à
República Francesa. Foi uma revolução que impulsionou o poder
político da burguesia e, assim como em movimentos semelhantes,
como a Independência dos Estados Unidos, foi inspirada em ideias
iluministas.

Embora os acontecimentos aos quais nos referimos tenham se passado


na França, a Revolução Francesa afectou diretamente outros países
europeus e, inclusive, de outros continentes. Por essa razão, é
considerada por diversos historiadores o principal marco de transição
entre a Idade Moderna e a Idade Contemporânea.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

• Apresentar as causas que determinaram a revolução Burguesa Na


Franca- Seculo XVIII;
• Apresentar os elementos que caracterizam o começo da Revolução
Objectivos Burguesa Na Franca- Seculo XVIII;
específicos
• Identificar os efeitos da Revolução Francesa no mundo

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5.1. A Revolução Francesa: Panorama Histórico e seus Efeitos


Algumas conjunturas importantes dentro do processo da história
moderna geraram um cenário benéfico para que a Revolução Francesa
viesse a coincidir - com a dissolução do sistema feudal, o processo de
enfraquecimento da aristocracia feudal durante as Cruzadas e a gênese
do mercantilismo durante as expedições à Jerusalém; A ascensão da
revolução comercial e os processos de acumulação primitiva, os
cercamentos de terra e a nova ética social de trabalho e consumo
difundida pelo protestantismo, a Guerra dos Trinta Anos e os tratados
da Paz de Vestfália, eventos que foram resultados não somente de
movimentações religiosas, mas também de cunho político, econômico
e territorial, com a ascensão do conceito de soberania e os primeiros
aspectos do Direito Internacional.
As primeiras medidas da revolução foram delineadas, com Luís XIV,
unificadoras que envolveram o vigoroso processo de criação de um
sentimento de nacionalidade: a inauguração dos Liceus – e com eles, a
difusão de uma língua e cultura comum –, o rompimento com as
influências políticas da igreja católica e da aristocracia e a definição das
fronteiras74.
Segundo Oliveira (2006), é também indispensável observar neste
processo a reconstrução das ferramentas burocráticas do Estado e a
nova ética de comportamento entre o rei e seus validos (amigos). As
relações de amor e valimento entre o rei e seus conselheiros foram
repaginadas e, de “roupa nova” (burocratizada), apresentam-se aos
súditos como ministros e funcionários oficiais de Estado75
A ideia iluminista de Luís XVI, influenciaram de grande maneira a
revolução para um governo colectivo e com maior representatividade,
não só popular, mas que pudesse atender interesses voltados ao
liberalismo econômico – parte das necessidades de reparar as
debilidades estruturais do Estado que se acumularam desde os
primeiros passos deste processo de centralização: a corrupção, a
inflexibilidade comercial, o despotismo político e o escoamento
problemático dos tributos arrecadados76.
Esses ideais iluministas, a partir de meados do século XVII, se propagam
por quase toda Europa e se manifestam de maneiras diferentes em
resposta a cada especificidade:
(I) Na Inglaterra, com a oligarquia de Guilherme III, onde antes
fora dominada por Jaime II dos Stuart, deposto à força dos
eventos da Revolução Gloriosa;

74
NUNZIO, Mario di. A democracia americana e a tradição autoritária do
Ocidente. Rio de Janeiro: Nórdica, 1992, p. 72
75
OLIVEIRA, 2006, p.103
76
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Rio de Janeiro:
Campus, 1989. p.118

79
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(II) Na França, o “absolutismo ignorante” (BURNS, 1972, p.130)


com a administração frágil de Luiz XVI – devastada pela fome
e consequências do investimento imprudente em esforços
bélicos durante a Guerra dos Sete Anos – condenou a
população francesa à miséria (VISENTINI; PEREIRA, 2012,
p.35);
(III) Na Rússia, ainda atrasada pelo descaso dos sucessivos
governos despreocupados com questões “além da
aristocracia”, abrigava uma população extremamente
subordinada e pressionada pelos mecanismos arcaicos e
desinteressados do Czar.
Na França, o enérgico aumento de impostos era resultado da máquina
pública ineficaz e de uma burocracia desorganizada – altas quantias
tributárias recolhidas, vazavam com facilidade pelas brechas da má
organização administrativa e corrupção – isto somado aos efeitos dos
investimentos destravados e descuidados aplicados às actividades
militares na Guerra dos Sete Anos, disputas territoriais e económicas
travadas principalmente entre Grã-Bretanha e França na América do
Norte Dossiê Fronteiras e Migrações e algumas regiões da Ásia77.
Com os tratados de Paris (1763), as regiões disputadas são divididas,
mas ambas as forças saem esmorecidas, nos anos que sucedem os
eventos da Guerra dos Sete Anos, a França encararia problemas ainda
mais graves como a fome e a escassez de recursos – é aceso o pavio das
insurreições.

5.2. A Revolução Francesa (1789-1815)

A França do século XVIII era um Estado absolutista, o rei operava com


poderes absolutos a economia, a justiça, a política e até mesmo a

77
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Rio de Janeiro:
Campus, 1989, p.122.

80
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religião dos seus súditos. A sociedade encontrava-se estratificada e


hierarquizada. No topo da pirâmide social, estava o clero – tinha o
privilégio de não pagar impostos. Abaixo do clero estava a nobreza –
formada pelo rei, sua família, condes, duques, marqueses e outros
nobres. A base da sociedade era formada pelo “Terceiro Estado” -
trabalhadores, camponeses e burguesia - que, sustentava toda a
sociedade com sua força de trabalho e com o pagamento de altos
tributos cobrados pela coroa francesa78.
A vida dos trabalhadores e camponeses era de extrema miséria,
portanto desejavam melhorias na qualidade de vida e de trabalho. A
burguesia, mesmo tendo uma condição social mais abastada, aspirava
por maior participação política e liberdade econômica para conduzir
seus negócios interna e externamente, investir, produzir com maior
eficiência e escoar a produção. Nesse período, a França apoiou a
independência das antigas treze colônias inglesas (os Estados Unidos) -
que recebem como presente francês a Estátua da Liberdade79.
Segundo Hobsbawm80, essa foi uma das principais causas que
desencadeou a Revolução – por conta dos altos gastos com a Guerra
dos Sete Anos, jogando no poço a balança comercial e os cofres públicos
da França. Com a convocação dos Estados Gerais - que foi aclamada
para solucionar a crise financeira que a França se encontrava - o
Terceiro Estado teve a chance de mostrar o seu poder81.
Como não havia líderes que representassem o Terceiro Estado dentro
de suas estratificações sociais, o grupo social que teve maior destaque
foi a burguesia - que neste momento, já se encontrava organizada tanto
politicamente quanto socialmente. Essa burguesia era essencialmente
comercial e aspirava ao liberalismo económico82.
As exigências foram expressas na “Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão” – para Hobsbawm, foi um documento áspero contra a
sociedade hierárquica de privilégios de nobres, não apenas um
manifesto a favor de uma sociedade “democrática” e igualitária83.
Em Maio de 1789, a Assembleia dos Estados Gerais abriu seus trabalhos
e as discussões aconteciam isoladamente, dentro de cada Estado. O
Terceiro Estado, observando com preocupação essa situação e

78
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.245
79
BURNS, Edward M. A monarquia absoluta na França. In: BURNS, Edward M.
História da Civilização Ocidental (cap. 19). Porto Alegre: Globo, 1972., p,144
80
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.245
81
NUNZIO, Mario di. A democracia americana e a tradição autoritária do
Ocidente. Rio de Janeiro: Nórdica, 1992, p.75.
82
BURNS, Edward M. A monarquia absoluta na França. In: BURNS, Edward M.
História da Civilização Ocidental (cap. 19). Porto Alegre: Globo, 1972., p,146
83
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.245

81
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temerosos de que a nobreza e o clero pudessem obter vantagens,


solicitou que as votações fossem individuais, pois contavam com a
maioria entre os três Estados. Diante da rejeição a tal procedimento, o
Terceiro Estado desligou-se dos Estados Gerais e autoproclamou-se
Assembleia Nacional. A perseguição aos seus membros e anulação de
suas decisões não foram suficientes para conter o processo
revolucionário que se iniciava84.
A Revolução Francesa foi predominantemente burguesa porque mesmo
com a presença de outros grupos sociais, a burguesia teve presença
política e intelectual dentro do Terceiro Estado com expressividade e,
com o apoio das massas de camponeses e trabalhadores - que
ganhavam em maioria como representantes dentro da Assembleia
Nacional -, teve forças para convocar os Estados Gerais. Tal conjunto de
inquietações, que desafiavam o status quo e o modus operandi da
aristocracia, foi sem dúvida uma revolução social, pois os sujeitos
envolvidos estão longe de serem homogêneos.

Destacam-se nesses grupos os “Girondinos” - burguesia moderada que


tinha participação na Assembleia Constituinte com intenções liberais
(de conduta mais ideológica do que pragmática), eram contra o terror
e a execução do rei; os “Jacobinos” – burguesia liberal e radical,
apostavam no terror como a maior arma da revolução; os “Sem-culotes”
- Trabalhadores pobres, pequenos artesãos, lojistas, artífices, pequenos
empresários que estavam organizados por seções, sendo os
verdadeiros manifestantes, agitadores, construtores de barricadas; por
fim, os camponeses - homens que viviam nos campos que promoviam
movimentos vastos, disformes, anônimos, mas irreversíveis85

84
VISENTINI, Paulo Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. Manual do
Candidato: História Mundial Contemporânea (1776-1991). Brasília: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2ªed, 2012, p.37)
85
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.242

82
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A flagelo das rebeliões acionou a preocupação camponesa e espalhou


de forma obscura e eminente, levando o Estado francês ao Grande
Medo. Pode-se dizer que o Terceiro Estado tinha a todas as condições
para executar a revolução, pois, os burgueses moderados e radicais
eram os intelectuais e politizados que deram forma política ao
movimento, e com o apoio dos camponeses e os Sem-culotes - a grande
massa do movimento, mas de pouca consciência política - deram
espaço para que os burgueses controlassem todas as bandeiras da
revolução86.

Parte desse período que sucede a instalação do Terceiro Estado nas


Assembleias, caracterizado pelas movimentações mais violentas (após
a tomada da Bastilha) ficara conhecido como “O Grande Medo” ou “O
Grande Terror” que duraram em torno de dois anos – recuperou a
França da crise financeira na qual estava afundada. Robespierre, líder
jacobino, criou o Terror como único método efetivo de preservação de
seu país, ou seja, mandava para guilhotina todos e quaisquer suspeitos
que fossem contra aos "ideais revolucionários" - serviu como uma
espécie de extensão da revolução, pois controlava "traidores" e
opositores em potencial87.
Nesse período, Robespierre consegue estabilizar a situação financeira
da França, e também mantém sob controle os invasores - triunfando
militarmente. Deu-se ao povo o direito ao sufrágio, o direito à
insurreição, trabalho e subsistência, tendo uma Constituição

86
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.242
87
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.244

83
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genuinamente popular proclamada por um Estado Moderno. Foram


abolidos todos os direitos feudais remanescentes, aumentando assim,
as oportunidades para o pequeno comprador adquirir as terras
confiscadas dos emigrantes88.
Essas transformações deram base para o rápido desenvolvimento
económico - tais fatores serviriam como justificativa (dos jacobinos) da
durabilidade deste processo, apesar do excesso de pessoas mandadas
à guilhotina, como Danton, que foi um líder girondino e até mesmo o
próprio Robespierre, que foram tomados pela própria revolução.
A revolução transformou toda a Europa - por varrer grande parte dos
sistemas políticos absolutistas. O período revolucionário que perpassa
o Diretório e a Monarquia Constitucional deu bases para o sistema
liberal ser implantado e solidificado, entretanto até que tal fato se
tornasse perfeitamente concreto, os povos sob a luz dos iluministas que
colocavam as mãos no poder sofreram com grandes problemas
externos89.
O recrutamento de um exército fiel na França surge como solução para
resolver as guerras contra a Áustria e a Prússia. Napoleão I, como chefe
do exército, resgata o governo com grande superioridade militar - vence
brilhantemente as batalhas90. O exército era composto por uma massa
de cidadãos revolucionários com levas improvisadas de soldados e
recrutas mal treinados que se transformou numa força de combatentes
profissionais que, com o tempo, incorporaram a experiência de campo
e moral através de velhos e cansativos exercícios – os soldados eram
tratados como “homens de regras absolutas” e promovidos por mérito,
o que significava distinção na batalha, produzindo assim a simples
hierarquia de coragem.
O exército foi amparado por uma indústria de armamentos que
satisfazia minimamente as necessidades dos combatentes – das
necessidades comuns às mais triviais. Em resumo, foi este exército que
conquistou toda a Europa. Poderia ser como qualquer carreira aberta
para o talento na revolução burguesa, e os que nele obtiveram sucesso
- tinham um interesse investido na estabilidade interna como qualquer
outro burguês.
Com isso, Bonaparte tornou-se a pessoa adequada para concluir a
revolução. Sobrevivendo à morte de Robespierre, torna-se cônsul
(1799-1804) e depois imperador (1804-1815) - resolve os problemas do
Diretório, do Código Civil, fazendo também uma concordata com a
Igreja e cria o Banco Nacional, deixando a França numa estabilidade
política e econômica. Hobsbawm (1986) refere-se a Napoleão I como o
88
BORBA João. A Revolução burguesa na Inglaterra e na França. SE, 2010
89
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.244
90
(BURNS, Edward M. A monarquia absoluta na França. In: BURNS, Edward M.
História da Civilização Ocidental (cap. 19). Porto Alegre: Globo, 1972, p.143

84
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homem de mil virtudes e isso, sem dúvidas, se deve ao reflexo da


disseminação do mito Napoleônico.
5.3. As guerras napoleônicas
Entre 1794 e 1799 a França estava se reestruturando após o fim do
Terror e o afastamento dos Jacobinos, os girondinos remanescentes
reocuparam seus cargos e as ideias liberais voltaram a predominar, mas
a estabilidade política ainda não havia sido perfeitamente alcançada.
Estados europeus contrarrevolucionários seguiam com as investidas
contra a França enquanto grupos revolucionários como os sans-culottes
ainda arquitetavam revoltas internas. Então, dentro de um cenário que
ainda abrigava diversas disputas e precisava suprimir urgentemente
conflitos, tanto internos quanto externos, surgiu uma figura
emblemática que deu um novo rumo à revolução.
Napoleão Bonaparte, que havia retornado para a França como herói
nacional após seu êxito em batalhas travadas na Itália e na Grécia, se
deparou com apoio de grupos políticos internos que buscavam
organizar uma nova ordem social estável. Então, no dia 10 de novembro
de 1799, Napoleão toma o poder ao dar o golpe conhecido como “O 18
Brumário”, esvaziando toda a sala de sessões e criando um consulado
decenal de três membros. A partir de tal evento, Napoleão submete por
completo o sistema legislativo e corta pela raiz os problemas que
afligiam a burguesia que havia chegado ao poder com o Diretório.

Após o sucesso de diversas políticas monetárias, a criação do Banco da


França, políticas de “pacificação” através da supressão de grupos
rebeldes internos e um tratado de paz feito com a Inglaterra – que dura
pouco –, Napoleão expande seu poder e influência a ponto de tomar o
posto de cônsul vitalício em 1802.

85
UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

A expansão francesa no mar mediterrâneo acaba resultando no


rompimento do tratado de paz com a Inglaterra, acelerando no
processo de ascensão de Napoleão ao poder, mas desta vez como
imperador da França (em 1804) – tal evento ocorre pela necessidade
eminente de defender e expandir o poder e o território francês. Em
seguida a França mergulharia sucessivas vezes num mar de conflitos91
Após a formação do Grande Exército que contava com cerca de 600 mil
homens, Napoleão tem uma breve derrota marítima contra a Inglaterra,
mas logo depois obtém êxito na batalha de Austerlitz e toma a Áustria
como um Estado vassalo, seguindo assim uma sucessão de vitorias por
terra92.
A França havia alcançado o patamar de potência militar terrestre,
porém permanecia perceptível a impossibilidade de vitória marítima
contra a Inglaterra, então é estabelecido o “bloqueio continental”
embargo económico contra a potência rival – a França impedia a
comercialização entre seus países aliados ou ocupados e a Inglaterra.
No ano de 1811 o expansionismo napoleônico chega ao seu ápice após
anos de êxito militar93.
Logo, alguns países ocupados começam a se organizar em movimentos
de resistência inspirados nas ideias de nação, liberdade e igualdade –
dentro dos territórios espanhóis ocorreu a revolta popular onde 40 mil
civis renderam 10 mil soldados franceses. Dessa maneira desaparecia a
crença da invencibilidade do grande exército francês. Ainda em seu
auge, Napoleão empreende uma grandiosa campanha militar contra a
Rússia, o que mais tarde se mostraria um dos maiores fracassos da
história militar mundial94.
Ao perceber a estratégia da “terra arrasada” – acto de destruir
alojamentos, plantações e quaisquer possibilidades de sobrevivência e
recuar para o interior – aplicada pelos camponeses russos, o exército
francês se viu sem mantimentos, com o inverno a caminho e cercados
pelo exército russo, nada restava a fazer senão retornar para a França.
Dos 650 mil soldados apenas 100 mil retornaram – após tal
acontecimento, o império Francês entrou em estado de acelerado
declínio95.
Ocorreram sucessivos ataques contra a França financiados pela
Inglaterra, ataques estes que levaram Napoleão a um breve exílio, uma

91
BURNS, Edward M. A monarquia absoluta na França. In: BURNS, Edward M.
História da Civilização Ocidental (cap. 19). Porto Alegre: Globo, 1972, p.173).
92
idem
93
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986. p.252
94
BURNS, Edward M. A monarquia absoluta na França. In: BURNS, Edward M.
História da Civilização Ocidental (cap. 19). Porto Alegre: Globo, 1972, p.177.
95
KENNEDY, Paul. Ascensão e Queda das Grandes Potências. Rio de Janeiro:
Campus, 1989, p.134

86
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volta triunfal, um governo de cem dias e a batalha final em Waterloo,


quando as forças francesas foram enfim derrotadas e Napoleão foi
exilado na ilha de Santa Helena.

5.4. Os efeitos da Revolução Francesa no mundo


O expansionismo imperial francês chegava ao fim. Com os eventos e
reuniões conhecidas como “O Concerto Europeu” – Kissinger96 relata
que a necessidade de refazer a ordem internacional tornara-se ainda
mais urgente após o Congresso de Viena, a Europa gozou do mais longo
período de paz que jamais teve. Durante 40 anos, não houve guerra
sequer entre as Grandes Potências.
Que culminou no Tratado de Viena (1814-1815), os principais actores
europeus delimitaram medidas e normas para reestruturar a Europa e
reparar as consequências danosas causadas pela França. “A escolha da
cidade representava o perfil conservador do congresso, dada a aversão
da dupla monarquia danubiana ao liberalismo e ao nacionalismo”97.
Os Absolutistas temiam uma nova guerra de natureza internacional a
partir de novas insurreições e, num passe de comum acordo, decidem
por sufocar qualquer movimentação de natureza iluminista. Entretanto,
os efeitos da revolução francesa fizeram impulsionar com maior ênfase
os ideais iluministas e o emergente pensamento socialista – como
Hobsbawm (1983) a ele se refere “enquanto movimento social
moderno [socialismo], tem início com a corrente de esquerda da
Revolução Francesa”98
Com as guerras napoleônicas, o Código Civil e os novos pensamentos
que emergiram na revolução francesa se espalharam por toda a Europa
– pensamentos estes de nação, liberdade, igualdade e democracia
passaram a fazer parte do imaginário Europeu –, e mesmo após a
restauração da monarquia com a família Bourbon, a chama da
revolução continuava acesa em toda Europa e atravessara também o
atlântico rumo ao “novo” continente.
Por toda a Europa os soberanos que haviam sido destronados
retomaram suas posições através do Congresso de Viena. Entre 1815 e
1830 promoveram diversas tentativas de reestabelecer o Antigo
Regime por meio de políticas contrarrevolucionarias, porém não havia
mais solução aparente, os clubes jacobinos, os viajantes e os
intelectuais espalhados por toda Europa – e por fim as guerras

96
KISSINGER, Henry. A Diplomacia das Grandes Potências. Rio de Janeiro:
Francisco Alves Editora S.A. 3ªed, 2001.p.81
97
VISENTINI, Paulo Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. Manual do
Candidato: História Mundial Contemporânea (1776-1991). Brasília: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2ªed, 2012, p.45.
98
HOBSBAWM, Eric. A Literatura Comunista e Socialista. In: HOBSBAWM, Eric.
História do Marxismo. São Paulo: Paz e Terra. 2ªed, 1983, p.40).

87
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napoleônicas – haviam levado, irreversivelmente, a revolução para o


mundo.
A Revolução Francesa assinalou a etapa final do processo de
secularização das estruturas de poder inaugurando certa modernidade
ocidental. Pode-se identificar essa modernidade com a fundação da
sociedade burguesa, com novos padrões econômicos (liberalismo) e
com a passagem da condição de súdito a cidadão (modificações
ideológicas advindas do iluminismo)99.
Guiados pelo pensamento iluminista e socialista, novos movimentos de
caráter revolucionário e rebelde tomaram a Europa entre 1815 e 1848
em grandes “primaveras” – eclodindo como ondas que abalavam as
últimas estruturas políticas remanescentes da velha monarquia
absolutista100.
Segundo Hobsbawm, três principais ondas revolucionárias são
perceptíveis nesse período: As revoluções de 1820, primeira onda de
insurreições, se limitaram ao mediterrâneo e estenderam-se até o ano
de 1824, dentro de tal evento encontram-se Espanha, Nápoles e a
Grécia como focos revolucionários. A Grécia conquistou sua
independência enquanto os outros movimentos foram sufocados,
porém a revolução espanhola deu força ao movimento de libertação na
América Latina, que por volta de 1822 já se encontrava quase isenta das
rédeas europeias e, no Brasil, a separação de Portugal acontece, no
momento de debilidade para este último, quase sem resistência101.
A segunda onda revolucionária teve início em 1829 com a derrubada da
casa Bourbon na França, se estendendo até o ano de 1834. Após a
queda Bourbon, toda Europa ocidental entra em uma grande revolução
no ano de 1830, num evento de impacto ainda mais profundo que a
revolução anterior, de forma que a ela é creditado como o momento
em que os aristocratas de fato foram derrotados pelo poder burguês102.
A vitoriosa Inglaterra havia difundido o pensamento liberal por todo o
continente e, enquanto a nova classe governante se consolidava,
aconteciam os primeiros movimentos da classe operária como força
política na Grã-Bretanha e na França – acompanhados de movimentos
nacionalistas em larga escala. O ano de 1830 determina o início de duas
décadas de crise econômica e social – no desenvolvimento da nova
sociedade –, crise essa que se conclui apenas com o fim da terceira onda

99
VISENTINI, Paulo Fagundes; PEREIRA, Analúcia Danilevicz. Manual do
Candidato: História Mundial Contemporânea (1776-1991). Brasília: Fundação
Alexandre de Gusmão, 2ªed, 2012, p.35.
100
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986, p.258).
101
Idem, p.259
102
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986, p. 259

88
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revolucionária. Então, em 1848 eclode, como conhecida “Primavera dos


Povos”, a maior de todas as ondas de revoluções, surge como produto
da crise econômica e social que se manifestava massivamente sobre o
continente Europeu. Esta última toma proporções continentais ao se
alastrar rapidamente por quase todos os Estados – o movimento já
contava com uma participação ativa da classe operária e, de fato, sua
mobilização trouxe um vislumbre da tão sonhada revolução mundial103
No fim, o que se deu com uma classe de nação que reivindicara por
liberdade, igualdade e fraternidade agora era uma primavera de povos,
o levante de um continente, edificada sobre uma era de revoluções –
fazendo emergir uma nova estrutura social. Por mais que a Revolução
Francesa tenha findado, ainda se faz perceptível os reflexos das
mudanças sociais conquistadas através da grande insurreição – sejam
estes reflexos os métodos do caráter revolucionário, a natureza do
protesto e reivindicação e a necessidade do embate entre as classes
dominadas contra dominantes por ausência da eficiência do diálogo em
tais casos104 (NASCIMENTO, 2004).

Sumário

Nesta Unidade temática 5 estudamos e discutimos fundamentalmente


a revolução Francesa.
Vale lembrar que até 1789, a sociedade francesa, assim como as da
maior parte dos países europeus, estava organizada sob o Antigo
Regime. Ou seja: era dividida em estamentos (divisões determinadas
pelo nascimento que impediam a mobilidade social) e o poder político
era concentrado pelo rei. Esta organização social, de características
ainda feudais, beneficiava uma pequena parcela da população, que
fazia parte dos estamentos privilegiados.
Dentre os principais acontecimentos e informações relativos à
Revolução Francesa, podem ser destacados: A Revolução Francesa
retirou sua base ideológica dos ideais iluministas. Os principais partidos
eram girondinos, defensores de que medidas conservadoras fossem
realizadas, e jacobinos, defensores de que profundas transformações
sociais, econômicas e políticas acontecessem. Durante o período do
terror, os jacobinos, liderados por Maximilien Robespierre,
guilhotinaram milhares de opositores.
Os girondinos derrubaram os jacobinos do poder por meio de um golpe
conhecido como Reação Termidoriana. A Revolução Francesa encerrou-
se por meio do golpe organizado por Napoleão Bonaparte e conhecido
como Golpe do 18 de Brumário.

103
HOBSBAWM, Eric. A Revolução Francesa. In: HOBSBAWM, Eric. A Era das
Revoluções (cap. 3). São Paulo: Paz e Terra. 5ªed, 1986 p.262
104
NASCIMENTO, Milton Meira. “Reivindicar direitos segundo Rousseau”. In:
QUIRINO, C.G., VOUGA, V. E BRANDÃO, G.M. (ORG). São Paulo: Editora da
USP, 2004.

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UnISCED CURSO: Ensino de História; 30 Ano Disciplina/Módulo: História Moderna Séc. XV-XVIII

A Revolução Francesa estendeu-se por dez anos e, nesse período, uma


série de transformações aconteceu naquele país. As transformações
trazidas pela Revolução Francesa, porém, não se mantiveram apenas na
França e espalharam-se pelo mundo. Elas foram: Fim dos privilégios da
aristocracia (nobreza e clero) na França; Fim dos resquícios do
feudalismo e início da consolidação do capitalismo; Queda do
absolutismo em toda a Europa; inspirou os movimentos de
independência na América, sobretudo das nações colonizadas pela
Espanha.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas de múltiplas escolhas

11. As primeiras medidas da revolução Francesa foram delineadas,


com ideias iluministas unificadoras que envolveram o vigoroso
processo de criação de um sentimento de nacionalidade, por:
a) Luís VIII
b) Luís XIV
c) Luís XV
d) Luís XVI
12. A ideia iluminista de Luís XVI, influenciaram de grande maneira a
revolução para um governo colectivo e com maior
representatividade, não só popular, mas que pudesse atender
interesses voltados ao:
a) Liberalismo económico
b) Marxismo liberal
c) Capitalismo neoliberal
d) Todas alíneas correctas
13. A Revolução Francesa do século XVIII sucedeu-se entre os anos:
a) 1789-1815
b) 1815-1830
c) 1830 -1840
d) 1840-1880
14. A revolução francesa transformou toda a Europa - por varrer
grande parte dos sistemas.
a) Políticos absolutistas
b) Políticos socialistas
c) Políticos socialistas
d) Todas alíneas correctas
15. Então, Napoleão toma o poder ao dar o golpe conhecido como
“O 18 Brumário”, esvaziando toda a sala de sessões e criando um
consulado decenal de três membros.
a) No dia 15 de Novembro de 1750
b) No dia 10 de novembro de 1799
c) No dia 10 de outubro de 1799

90
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d) Todas alíneas incorrectas


16. A expansão francesa no mar mediterrâneo acaba resultando no
rompimento do tratado de paz com a Inglaterra, acelerando no
processo de ascensão de Napoleão ao poder, mas desta vez como
imperador da França
a) em 1779
b) em 1789
c) em 1804
d) em 1815
17. O expansionismo imperial francês chegava ao fim. Com os
eventos e reuniões conhecidas como
a) Tratado de Viena
b) O Concerto Francês
c) Terra arrasada
d) O Concerto Europeu
18. Que culminou no Tratado de Viena, os principais actores
europeus delimitaram medidas e normas para reestruturar a
Europa e reparar as consequências danosas causadas pela
França. Este tratado deu-se entre:
a) 1804-1805
b) 1809-1810
c) 1814-1815
d) 1914-1915
Das afirmações que se seguem assinale com V a verdadeira e F a Falsa.
1. Na Inglaterra, ainda atrasada pelo descaso dos sucessivos governos
despreocupados com questões “além da aristocracia”, abrigava uma
população extremamente subordinada e pressionada pelos
mecanismos arcaicos e desinteressados do Czar
a. Verdade
b. Falso
2. Na França, o “absolutismo ignorante” com a administração frágil de
Luiz XVI – devastada pela fome e consequências do investimento
imprudente em esforços bélicos durante a Guerra dos Sete Anos –
condenou a população francesa à miséria.
a. Verdade
b. Falso
3. Na Rússia, com a oligarquia de Guilherme III, onde antes fora
dominada por Jaime II dos Stuart, deposto à força dos eventos da
Revolução Gloriosa;
a. Verdade
b. Falso

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Exercícios para AVALIAÇÃO


Perguntas de desenvolvimentos
1. A França do século XVIII era um Estado absolutista, o rei operava
com poderes absolutos a economia, a justiça, a política e até mesmo a
religião dos seus súditos. Como estava estratificada no período da
revolução francesa?
2. A Revolução Francesa foi predominantemente burguesa porque
mesmo com a presença de outros grupos sociais, a burguesia teve
presença política e intelectual dentro do Terceiro Estado com
expressividade e, com o apoio das massas de camponeses e
trabalhadores Fale do papel dos Girondinos e Jacobinos na Revolução
Francesa.
3. A Revolução Francesa assinalou a etapa final do processo de
secularização das estruturas de poder inaugurando certa modernidade
ocidental. Fale das três principais ondas revolucionárias são perceptíveis
nesse período.

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TEMA – VI: A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA NA AMÉRICA DO NORTE


UNIDADE Temática 6.1. A Guerra De Independência na América Do
Norte
UNIDADE Temática 6.2.
UNIDADE Temática 6.3.
UNIDADE Temática 6.4. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE TEMÁTICA 6.1. A Guerra De Independência na América Do Norte

Introdução

Nesta unidade temática far-se-á um relato histórico sobre o processo


da guerra de independência na América do Norte, também identificar-
se-á os actores e factores que determinaram esta necessidade de
libertação dos povos da América.
Lembrar que durante o século XVIII, as colónias inglesas no Norte da
América em desenvolvimento criaram inevitavelmente uma identidade
diferente. Cresceram grandemente em termos económicos e culturais;
praticamente todas tinham muitos anos de autonomia.
Com isso nos anos 1760 a sua população ultrapassava 1.500.000 – ou
seis vezes a população de 1700. Contudo, a Inglaterra e a América só
iniciaram um processo explícito de separação em 1763, mais de um
século e meio após a fundação da primeira colónia permanente em
Jamestown, Virgínia.
Portanto, a independência da América do Norte influenciou de grande
maneira a libertação dos países da América Latina, particularmente os
de colonização espanhola e/ou portuguesa. O que levou a uma nova
forma de estar e ser do continente americano na história mundial, que
anteriormente era de hegemonia europeia.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:


• Apresentar os factores que influenciaram a guerra para
independência da América do norte;
• Discutir o processo de independência dos povos do continente
americano tomando caso da américa anglo-saxónica;
Objectivos
específicos

6.1. UM NOVO SISTEMA COLONIAL


No rescaldo da guerra com os franceses e os índios, os britânicos
concluíram que era essencial um novo plano do império que acarretaria
um controlo mais centralizado, uma
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partilha mais justa dos custos do império e que satisfaria os interesses


tanto dos canadianos de origem francesa como dos índios americanos.
Por outro lado, as colónias, há muito acostumadas a um alto grau de
independência, esperavam mais e não menos liberdade. E, eliminada a
ameaça francesa, sentiam muito menos necessidade de uma forte
presença britânica105.
Uma Coroa e um Parlamento pouco compreensivos do lado da
metrópole britânica viram-se a argumentar com colonos habituados à
autonomia e impacientes com a interferência. A organização do Canadá
e do Vale do Ohio requeria políticas que não alienassem os habitantes
franceses e índios. Em Londres estavam em conflito fundamental com
os interesses das colónias. Com uma população em rápida expansão,
estas sentiam a necessidade de mais terras para as povoações, e por
isso várias delas adoptaram o direito de estender suas fronteiras a oeste
até o Rio Mississippi106.
O governo britânico, temeroso de que a migração dos colonos para
novas terras desencadeasse novas guerras com os indígenas, acreditava
que os colonos deveriam ter acesso às terras obedecendo a um ritmo
mais gradual. A restrição dos movimentos constituía também uma
forma de garantir o controlo da coroa sobre as povoações existentes,
antes de permitir o surgimento de outras107.
A Proclamação Real de 1763 garantiu todo o território ocidental, entre
as Montanhas Allegheny, a Flórida, o Rio Mississippi e Quebec, para uso
dos americanos nativos. A Coroa quis assim desclassificar alguma
reivindicação das 13 colónias aos territórios a oeste, e impedir a
expansão naquela direção.
Embora a Proclamação nunca tenha sido efetivamente aplicada, a
iniciativa em si, aos olhos dos colonos, constituía uma arbitrariedade e
um desrespeito aos seus direitos elementares de ocuparem e
colonizarem o território a oeste. Mais séria nas suas repercussões foi a
nova política fiscal britânica. Londres precisava de mais recursos para
sustentar o seu império em expansão e enfrentava o crescente
descontentamento interno dos contribuintes.
Parecia bastante razoável que as colónias arcassem com todas as
despesas necessárias à sua própria defesa. Isso envolveria novos
impostos, cobrados pelo Parlamento – em detrimento da autonomia do
governo colonial. O primeiro passo na introdução do novo sistema foi a

105
HAMBY, Alonzo L. (ed) Um Esboço da História Americana, Departamento
De Estado Dos Estados Unidos Escritório de Assuntos Públicos, 2012
106
VIANA, Larissa. História da América I. v. 1. Rio de Janeiro: Fundação
CECIERJ, 2010.
107
ELLIOTT, John H. A Conquista Espanhola e a Colonização da América. In:
América Latina Colonial, volume 1. (Org.) Leslie Bethell. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão,
2004.

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substituição da Lei do Melaço, de 1733, que impunha tarifas proibitivas


sobre a importação de rum e melaço de áreas não britânicas108.
Em seu lugar, a Lei do Açúcar, de 1764, proibia a importação de rum,
impunha uma tarifa moderada sobre o melaço de todas as fontes e
cobrava impostos sobre vinho, seda, café e uma série de outros artigos
supérfluos. A expectativa era a de que a redução na tarifa sobre o
melaço desestimularia o contrabando do produto que era trazido das
Índias Ocidentais holandesas e francesas, para uso nas destilarias de
rum da Nova Inglaterra. Para fazer cumprir a Lei do Açúcar, os oficiais
da alfândega foram instruídos a ser mais enérgicos e eficazes.
Navios de guerra britânicos em águas americanas foram instruídos a
prender contrabandistas, e os oficiais da coroa receberam mandados
que os autorizavam a fazer buscas em locais suspeitos. Tanto os
impostos cobrados pela Lei do Açúcar quanto a forma como as
autoridades aplicaram a lei causaram grande consternação entre os
comerciantes da Nova Inglaterra. Eles alegavam que o pagamento da
tarifa, ainda que pequena, arruinaria seus negócios. Comerciantes,
legisladores e assembleias populares protestaram contra a Lei do
Açúcar, e os advogados coloniais encontraram no preâmbulo da lei o
primeiro indício de “tributação sem representação”, o brado que
atrairia muitos para a causa americana, contra a pátria-mãe109.
Mais tarde, em 1764, o parlamento britânico promulgou a Lei da
Moeda, para “impedir que títulos de crédito emitidos doravante em
qualquer das colónias da sua Majestade fossem aceitos como moeda de
curso legal”. Como as colónias apresentavam um défice comercial e
estavam sempre com falta de moeda corrente, a medida trouxe mais
um grave ônus para a economia colonial. As colónias também
opuseram-se à Lei de Aquartelamento, aprovada em 1765, que exigia
das colónias que providenciassem alojamentos e mantimentos para as
tropas reais110.

6.2. COMEÇA A REVOLUÇÃO


O General Thomas Gage, afável cavalheiro inglês casado com uma
senhora nascida na América, era o comandante da guarnição em
Boston, onde a actividade política havia quase que totalmente
substituído o comércio. A principal missão de Gage nas colónias fora a
de fazer cumprir os Atas Coercitivos. Quando recebeu notícias de que
os colonos de Massachusetts estavam recolhendo pólvora e
108
TODOROV, T. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
109
HAMBY, Alonzo L. (ed) Um Esboço da História Americana, Departamento
De Estado Dos Estados Unidos Escritório de Assuntos Públicos, 2012.
110
VIANA, Larissa. História da América I. v. 1 . Rio de Janeiro: Fundação
CECIERJ, 2010.

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armamentos na cidade de Concord, a 32 quilómetros de Boston, Gage


enviou um destacamento reforçado para confiscar essa munição.

Depois de marchar a noite toda, as tropas britânicas chegaram à aldeia


de Lexington no dia 19 de abril de 1775 e lá avistaram, em meio à névoa
da aurora, um bando de 70 milicianos conhecidos por Minutemen –
assim chamados porque diziam estar prontos para lutar em um minuto.
Os milicianos pretendiam apenas fazer um protesto silencioso, mas o
Major John Pitcairn, comandante das tropas britânicas, gritou:
“Dispersem, seus rebeldes malditos! Seus cachorros, corram!111”
O Capitão John Parker, líder dos Minutemen, ordenou que suas tropas
não atirassem, a menos que fossem atacados. Os americanos estavam
a retirar-se, quando alguém deu um tiro, induzindo os britânicos a atirar
nos milicianos e, depois, atacar com suas baionetas. Houve oito mortos
e dez feridos. Foi, nas palavras frequentemente citadas de Ralph Waldo
Emerson, “um tiro ouvido em todo o mundo”. Em seguida, os britânicos
avançaram até Concord. Os americanos já haviam retirado quase toda
a munição, mas os britânicos destruíram o que restava112.
Nesse meio tempo, as forças americanas naquela área mobilizaram-se,
foram até Concord e infligiram pesadas baixas nos britânicos. Estes
iniciaram a longa volta até Boston e, durante todo o trajeto, seus
casacos vermelhos serviram de alvo para milicianos de “toda aldeia e
fazenda de Middlesex”, que se tinham escondido atrás de muros de
pedra, morros e casas. Quando os pobres soldados finalmente
chegaram a Boston, mais de 250 haviam sido mortos ou feridos113.

111
HAMBY, Alonzo L. (ed) Um Esboço da História Americana, Departamento
De Estado Dos Estados Unidos Escritório de Assuntos Públicos, 2012
112
VIANA, Larissa. História da América I. v. 1 . Rio de Janeiro: Fundação
CECIERJ, 2010.
113
TODOROV, T. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.

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Os americanos perderam 93 homens. Em 10 de maio de 1775, o


Segundo Congresso Continental reuniu-se em Filadélfia, Pensilvânia. O
Congresso aprovou a declaração de guerra, alistando as milícias
coloniais para o serviço continental. Nomeou o Coronel George
Washington, da Virgínia, como comandante em chefe das forças
americanas a 15 de junho. Dentro de dois dias, os americanos sofreram
pesadas baixas em Bunker Hill, nos arredores de Boston. O Congresso
também ordenou que expedições americanas marchassem para o norte
e chegassem ao Canadá até o outono.
Embora os americanos tenham mais tarde capturado Montreal, não
conseguiram tomar Quebec no inverno, e acabaram recuando até Nova
Iorque. Apesar da deflagração do conflito armado, a ideia de uma
separação completa da Inglaterra era ainda repulsiva a alguns
integrantes do Congresso Continental. Em julho, John Dickinson redigiu
uma resolução, conhecida como a Petição do Ramo de Oliveira (Olive
Branch), implorando ao rei que impedisse novas ações hostis, até que
se chegasse a algum tipo de acordo. O rei George III, contudo,
desprezou o pedido e lançou uma proclamação no dia 23 de agosto de
1775, declarando as colónias em estado de rebelião114.
A Grã-Bretanha imaginava que as colónias do Sul permaneceriam leais,
em parte porque eram muito dependentes da escravatura. Muitos
colonos do Sul temiam que uma rebelião contra a pátria mãe
desencadeasse uma revolta dos escravos contra os donos de terras. Em
novembro de 1775, Lorde Dunmore, governador da Virgínia, ofereceu a
liberdade a todos os escravos que lutassem do lado dos britânicos. Mas
a proclamação de Dunmore teve o efeito de trazer para o lado dos
rebeldes muitos cidadãos da Virgínia que teriam normalmente
permanecido leais115.
O governador da Carolina do Norte, Josiah Martin, também insistiu com
os cidadãos da colónia para que permanecessem leais à Coroa. Quando
1.500 homens atenderam seu chamado, foram derrotados pelas forças
revolucionárias, antes que tropas britânicas pudessem chegar em seu
socorro. Navios de guerra britânicos continuaram descendo o litoral e,
ao chegar a Charlestown, Carolina do Sul, no início de junho de 1776,
abriram fogo na cidade. Mas os colonos tinham tido tempo de se
preparar e, ao final do mês, já tinham expulsado Um Esboço da História
Americana 66 67 os britânicos. Estes não voltariam ao Sul nos próximos
dois anos116.

114
ELLIOTT, John H. A Conquista Espanhola e a Colonização da América. In:
América Latina Colonial, volume 1. (Org.) Leslie Bethell. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão,
2004.
115
HAMBY, Alonzo L. (ed) Um Esboço da História Americana, Departamento
De Estado Dos Estados Unidos Escritório de Assuntos Públicos, 2012
116
VIANA, Larissa. História da América I. v. 1 . Rio de Janeiro: Fundação
CECIERJ, 2010.

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6.3. BOM SENSO E INDEPENDÊNCIA


Em janeiro e 1776, Thomas Paine, escritor e estudioso da política, que
tinha vindo da Inglaterra para a América em 1774, publicou um panfleto
de 50 páginas intitulado “Bom Senso”. Em apenas três meses, 100.000
cópias do panfleto haviam sido vendidas. Paine atacou a noção de uma
monarquia hereditária e declarou que um homem honesto tinha mais
valor para a sociedade que “todos os rufiões coroados que já viveram”.
Ele apresentou as alternativas disponíveis – submissão a um rei tirano
e a um governo desgastado, ou liberdade e felicidade como uma
república independente e autossuficiente.
A circulação do panfleto em todas as colónias ajudou a cristalizar o
desejo de separação. Permanecia, todavia, a tarefa de obter de cada
colónia a aprovação de uma declaração formal. No dia 10 de maio de
1776 – exatamente um ano depois da primeira reunião do Segundo
Congresso Continental – foi aprovada uma resolução pedindo a
separação. Agora, só faltava uma declaração formal. No dia 7 de junho,
Richard Henry Lee, da Virgínia, apresentou uma resolução declarando
que “Estas Colónias Unidas são, e têm o direito de ser estados livres e
independentes117.
Foi imediatamente instituída uma comissão de cinco homens, presidida
por Thomas Jefferson, da Virgínia, para preparar a declaração formal. A
Declaração de Independência foi fruto do trabalho sobretudo de
Jefferson. Ao ser aprovada no dia 4 de julho de 1776, não apenas
anunciou o nascimento de uma nova nação, como também lançou uma
filosofia de liberdade humana que tornaria-se uma força dinâmica em
todo o mundo. A Declaração baseou-se em grande medida na filosofia
política do iluminismo francês e inglês, mas há uma influência que
destaca-se das demais: “O Segundo Tratado sobre Governo”, de John
Locke118.
Este tomou os conceitos sobre os direitos tradicionais dos ingleses e os
universalizou, transformando-os em direitos naturais de toda a
humanidade. A conhecidíssima frase de abertura da Declaração ecoa o
conceito de contrato social sobre o qual Locke construiu sua teoria de
governo. Acreditamos serem evidentes as verdades de que todos os
homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos
direitos inalienáveis, que dentre estes estão o direito à vida, à liberdade
e à busca da felicidade. Que os Governos são instituídos pelos homens
para garantir esses direitos e que derivam sua autoridade do

117
ELLIOTT, John H. A Conquista Espanhola e a Colonização da América. In:
América Latina Colonial, volume 1. (Org.) Leslie Bethell. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão,
2004.
118
TODOROV, T. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.

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consentimento dos governados; que quando qualquer forma de


governo torna-se contrária a esses propósitos, o povo tem o direito de
alterá-lo ou até mesmo de aboli-lo, e instituir um novo governo
fundamentado nesses princípios, a e estruturar seus poderes da forma
que julgar melhor assegurará sua segurança e felicidade.
Na Declaração, Jefferson fez uma associação direta entre os princípios
de Locke e a situação das colónias. Lutar pela independência americana
era lutar por um governo fundamentado no consentimento popular, ao
invés de aceitar o governo de um rei que tinha “se unido a outros para
nos sujeitar a uma jurisdição incompatível com nossa Constituição e
desautorizada pelas nossas leis.
Só um governo fundamentado no consentimento popular poderia
assegurar os direitos naturais à vida, liberdade e busca da felicidade.
Portanto, lutar pela independência americana era lutar em defesa dos
próprios direitos naturais.

6.4. DERROTAS E VITÓRIAS


Embora, nos meses seguintes à declaração de independência, os
americanos tenham sofrido pesados reveses, acabaram vencendo,
graças à sua perseverança e tenacidade. Em agosto de 1776, na batalha
de Long Island, em Nova Iorque, a posição de Washington tornou-se
insustentável e ele executou uma retirada magistral, em pequenos
barcos, de Brooklyn até as margens de Manhattan. O general britânico,
William Howe, hesitou por duas vezes e acabou deixando os americanos
escapar. Em novembro, contudo, Howe havia capturado o Forte
Washington, na ilha de Manhattan119.
A cidade de Nova Iorque permaneceria sobre controlo britânico até o
final da guerra. Em dezembro, as forças de Washington estavam à beira
do colapso, já que os mantimentos e os reforços prometidos não se
materializaram. Mas Howe, ao decidir esperar a primavera para
retomar a luta, mais uma vez perdeu a oportunidade de esmagar os
americanos. Enquanto isso, Washington atravessou o Rio Delaware, ao
norte de Trenton, Nova Jersey.
Nas primeiras horas da manhã do dia 26 de dezembro, suas tropas
surpreenderam a guarnição em Trenton e fizeram mais de 900
prisioneiros. Uma semana depois, no dia 3 de janeiro de 1777,
Washington atacou os britânicos em Princeton e retomou a maior parte
do território formalmente ocupado pelos ingleses. As vitórias em
Trenton e Princeton reavivaram o ânimo esmorecido das tropas
americanas. No entanto, em setembro de 1777 Howe derrotou o
exército americano em Brandywine, Pensilvânia, e ocupou Filadélfia,

119
VIANA, Larissa. História da América I. v. 1 . Rio de Janeiro: Fundação
CECIERJ, 2010.

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forçando a fuga do Congresso Continental. Washington teve de


suportar o inverno extremamente rigoroso de 1777-1778 em Valley
Forge, Pensilvânia, e ainda a falta de alimentos, roupas e provisões120.
As tropas americanas sofreram devido à escassez desses produtos, mas
o sofrimento foi agravado pelo fato de que os agricultores e
comerciantes preferiam trocar suas mercadorias pelo ouro e pela prata
dos britânicos, ao invés do papel moeda emitido pelo Congresso
Continental e os estados. Valley Forge representou o ponto mais baixo
para o Exército Continental de Washington.
O ano de 1777 provou ser um ponto de inflexão na guerra. No final de
1776, o general britânico John Burgoyne arquitetou um plano para
invadir as colónias de Nova Iorque e da Nova Inglaterra, passando pelo
Lago Champlain e Rio Hudson. Infelizmente, trazia consigo muito
equipamento pesado e teve dificuldade em atravessar o terreno
florestado e pantanoso. Em Oriskany, Nova Iorque, um bando de
lealistas e índios, sob o comando de Burgoyne, defrontouse com forças
americanas móveis e experientes. Em Bennington, Vermont, outro
destacamento de Burgoyne, em busca de provisões, deparou-se com
tropas americanas121.
A batalha que se seguiu atrasou o exército de Burgoyne o tempo
suficiente para Washington poder enviar reforços do baixo Rio Hudson,
perto de Albany, Nova Iorque. Quando Burgoyne por fim retomou o
avanço, os americanos já o estavam esperando. Liderados por Benedict
Arnold – que mais tarde iria trair os americanos em West Point, Nova
Iorque – os americanos por duas vezes repeliram os britânicos.
Burgoyne recuou até Saratoga, Nova Iorque, onde forças americanas,
comandadas por Horatio Gates, cercaram as tropas britânicas. No dia
17 de outubro de 1777, Burgoyne rendeu-se juntamente com todo o
seu exército. Os britânicos perderam seis generais, 300 outros oficiais e
5.000 soldados alistados122.

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HAMBY, Alonzo L. (ed) Um Esboço da História Americana, Departamento
De Estado Dos Estados Unidos Escritório de Assuntos Públicos, 2012
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VIANA, Larissa. História da América I. v. 1 . Rio de Janeiro: Fundação
CECIERJ, 2010.
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De Estado Dos Estados Unidos Escritório de Assuntos Públicos, 2012

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6.5. VITÓRIA E INDEPENDÊNCIA

Em julho de 1780, Luís XVI, da França, mandou para a América uma


força expedicionária de 6.000 homens comandados pelo Conde Jean de
Rochambeau. Além disso, a frota francesa fustigou a marinha britânica
e impediu que uma frota britânica vinda da cidade de Nova Iorque
chegasse com reforços e mantimentos para as tropas na Virgínia.
Exércitos e marinhas americanas e franceses, no total 18.000 homens,
envolveram-se em pequenas batalhas com as tropas de Corn- -wallis
durante o verão e outono. Finalmente, em 19 de outubro de 1781, após
ter sido encurralado em Yorktown, perto da barra da Baía de
Chesapeake, Corn-wallis rendeu-se juntamente com seu exército de
8.000 homens. Embora a derrota de Corn-wallis não tenha significado o
fim imediato da guerra – que ainda se arrastaria de forma inconclusiva
por mais dois anos – um novo governo britânico resolveu iniciar
negociações de paz123.
As negociações realizaram-se em Paris, no início de 1782, estando o
lado americano representado por Benjamin Franklin, John Adams e
John Jay. No dia 15 de abril de 1783, o Congresso aprovou a redação
final do tratado e este foi assinado pela Grã-Bretanha e suas ex-
colónias, no dia 3 de setembro. Conhecido como o Tratado de Paris, o
acordo de paz reconheceu a independência, a liberdade e a soberania
das 13 excolónias, agora estados, às quais a Grã-Bretanha concedeu o
território a oeste do Rio Mississippi, no norte, até o Canadá e ao Sul, até
a Flórida, a qual foi devolvida à Espanha. As jovens colónias de que
Richard Henry Lee havia falado mais de sete anos antes haviam

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VIANA, Larissa. História da América I. v. 1 . Rio de Janeiro: Fundação
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finalmente se transformado em “estados livres e independentes”. Mas


ainda restava a tarefa de construir uma nação124.
A Revolução Americana teve um significado que ultrapassou as
fronteiras do continente americano. Chamou a atenção da intelligentsia
política em todo o continente europeu. Idealistas famosos como
Thaddeus Kosciusko, Friedrich von Steuben e o Marquês de Lafayette
cerraram fileiras para defender ideias liberais que esperavam transferir
para os seus próprios países. O seu sucesso reforçou o conceito de
direitos naturais por todo o mundo ocidental e promoveu a crítica
racionalista iluminista a uma ordem antiga construída em torno da
monarquia hereditária e de uma igreja estabelecida. Num sentido muito
real, foi a percursora da Revolução Francesa, mas não teve a violência
nem o caos da Revolução Francesa porque ocorreu numa sociedade que
já era essencialmente liberal125.
As ideias da revolução foram com frequência descritas como um triunfo
das teorias de contrato social/ direitos naturais de John Locke. Embora
correta, esta caracterização passa muito rapidamente por cima da
importância constante do Protestantismo dissidente do Calvinismo,
que, a partir dos Peregrinos e Puritanos, também passou a representar
os ideais do contrato social e da comunidade autónoma. Os intelectuais
discípulos de Locke e o clero protestante eram ambos importantes
defensores de classes compatíveis de liberalismo, que tinham florescido
nas colónias britânicas da América do Norte126.
Os intelectuais também argumentaram que outra convicção contribuiu
para a revolução: “republicanismo”. O republicanismo, afirmavam eles,
não negava a existência de direitos naturais, mas subordinava-os à
convicção de que manter uma república livre requeria um forte senso
de responsabilidade comunal e uma cultura de altruísmo entre os seus
líderes. A afirmação de direitos individuais, mesmo a busca de liberdade
individual, pareciam egoístas em comparação. Durante algum tempo o
republicanismo ameaçou substituir os direitos naturais como tema
principal da Revolução127.
Contudo, a maioria dos historiadores atuais concordam que a diferença
foi muito exagerada. A maior parte dos indivíduos que refletiam nestas
questões no século XVIII encaravam as duas ideias mais como lados
diferentes da mesma moeda intelectual. Uma revolução geralmente
implica agitação social e violência em larga escala. Segundo estes

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da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre Gusmão, 2004
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critérios, a Revolução Americana foi relativamente pacífica. Cerca de


100.000 lealistas partiram dos novos Estados Unidos. Alguns milhares
eram membros de antigas elites que tinham sido vítimas de
expropriação dos seus bens e expulsas; outros eram pessoas comuns
leais ao rei. A maioria que partiu para o exílio, fê-lo voluntariamente. A
revolução abriu e liberalizou ainda mais uma sociedade que já era
liberal. Em Nova Iorque e nas Carolinas, grandes estados lealistas,
estavam divididos entre pequenos agricultores128.
As ideias liberais tornaram-se a norma oficial da cultura política
americana. Contudo, a estrutura da sociedade mudou pouco.
Revolução ou não, a maior parte das pessoas continuou em segurança
quanto à sua vida, à sua liberdade e aos seus bens.

Sumário
Nesta Unidade temática 1.1 estudamos e discutimos
fundamentalmente a guerra de independência da AMÉRICA do Norte,
essencialmente os Estados Unidos da América.
A colonização e Independência dos Estados Unidos estão intimamente
ligadas, por isso é preciso entender que o país teve uma espécie de
dupla colonização, iniciado por sua chegada no continente americano
até sua expansão territorial.
Para começar, os Estados Unidos daquela época eram compostos por
treze colônias, todas localizadas na costa leste. Norte: colonizado por
muitos refugiados de perseguições religiosas na Europa. Sul: colonizado
a partir do modelo de produção agrícola em latifúndios, baseados na
mão de obra escrava, com produção voltada para o mercado externo
(Inglaterra).
A Independência dos EUA foi o movimento de libertação do país contra
a metrópole colonial, a Inglaterra. Os conflitos iniciaram em 1774 e se
estenderam até 1776, quando começou oficialmente uma guerra entre
Inglaterra e Estados Unidos, vencida pelos americanos em 1783.
Quando a guerra terminou, estes colonos acreditavam que seriam
recompensados pela ajuda, mas os ingleses tinham seus próprios
problemas e adotaram uma série de medidas muito impopulares, entre
elas: Aumento dos impostos sobre as colônias como forma de pagar os
custos da guerra: Lei do Chá; Lei do Selo; e a Lei do Açúcar. E assim,
desta insatisfação, surgiu a revolta que daria origem a Independência
dos Estados Unidos.
A declaração de Independência, assinada em 4 de julho de 1776, era
uma carta de intenção, ou seja, uma declaração de que surgiria um novo
país, livre da Inglaterra. A guerra que se seguiu foi intensa e durou até

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HAMBY, Alonzo L. (ed) Um Esboço da História Americana, Departamento
De Estado Dos Estados Unidos Escritório de Assuntos Públicos, 2012

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1783, sendo que os americanos venceram, em grande parte, porque


contaram com apoio francês e espanhol.
Portanto, apesar da data de 4 de julho de 1776 ficar marcada como o
dia da Independência, foi apenas após 1783 que o país teve condições
de se organizar, sendo que sua Constituição só ficou pronta em 1787.
A Independência americana teve influência direta sobre as demais lutas
no continente americano, pela libertação colonial, sendo que até o
início do século XIX (anos 1800), vários movimentos semelhantes
ocorreram na região.
Como consequência, a Independência americana também foi
responsável por dar o empurrão que acabaria com o sistema colonial
nas Américas. Por outro lado, a Independência trouxe à tona a divisão
interna dos Estados Unidos, entre norte e sul, com interesses
econômicos e políticos distintos. Essa divisão foi responsável por
provocar uma Guerra Civil décadas depois (entre 1861 e 1865)

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Perguntas de múltiplas escolhas

1. O primeiro passo na introdução do novo sistema foi a


substituição da Lei do Melaço, que impunha tarifas proibitivas
sobre a importação de rum e melaço de áreas não britânicas, foi
em:
a) 1723
b) 1733
c) 1776
d) 1833
2. A Lei do Açúcar, proibia a importação de rum, impunha uma
tarifa moderada sobre o melaço de todas as fontes e cobrava
impostos sobre vinho, seda, café e uma série de outros artigos
supérfluos. Foi de:
a) 1723
b) 1733
c) 1764
d) 1776
3. o parlamento britânico promulgou a Lei da Moeda, para “impedir
que títulos de crédito emitidos doravante em qualquer das
colónias da sua Majestade fossem aceitos como moeda de curso
legal
a) em 1954
b) em 1764
c) em 1774
d) em 1864

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4. Depois de marchar a noite toda, as tropas britânicas chegaram


à aldeia de Lexington e lá avistaram, em meio à névoa da
aurora um bando de 70 milicianos conhecidos por Minutemen
em:
a) no dia 19 de abril de 1764
b) no dia 19 de abril de 1775
c) no dia 19 de abril de 1777
d) no dia 19 de abril de 1784
5. O Segundo Congresso Continental reuniu-se em Filadélfia,
Pensilvânia. O Congresso aprovou a declaração de guerra,
alistando as milícias coloniais para o serviço continental.
a) Em 19 de abril de 1764
b) Em 19 de abril de 1775
c) Em 10 de maio de 1775
d) Em 19 de abril de 1784
6. Nomeou o Coronel George Washington, da Virgínia, como
comandante em chefe das forças americanas a:
a) 19 de abril
b) 10 de maio
c) 15 de junho
d) Todas alíneas incorretas
7. John Dickinson redigiu uma resolução, conhecida como a Petição
do Ramo de Oliveira (Olive Branch), implorando ao rei que
impedisse novas ações hostis, até que se chegasse a algum tipo
de acordo.
a) Em Abril
b) Em Maio
c) Em Junho
d) Em julho
8. O rei George III, contudo, desprezou o pedido e lançou uma
proclamação, declarando as colónias em estado de rebelião.
a) No dia 19 de abril de 1775
b) No 10 de maio de 1775
c) No dia 15 de junho 1775
d) No dia 23 de agosto de 1775
9. Lorde Dunmore, governador da Virgínia, ofereceu a liberdade a
todos os escravos que lutassem do lado dos britânicos
a) Em maio de 1775
b) Em novembro de 1775
c) Em junho 1775
d) Em agosto de 1775
10. Foi imediatamente instituída uma comissão de cinco homens,
da Virgínia, para preparar a declaração formal.
a) Presidida por John Dickinson
b) presidida por Thomas Jefferson
c) presidida por George Washington

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d) presidida por Richard Henry Lee


11. A Declaração de Independência foi fruto do trabalho sobretudo
de Jefferson. Ao ser aprovada no dia .
a) 10 de maio de 1775
b) 15 de junho 1775
c) 23 de agosto de 1775
d) 4 de julho de 1776
12. Luís XVI, da França, mandou para a América uma força
expedicionária de 6.000 homens comandados pelo Conde Jean
de Rochambeau.
a) Em julho de 1780
b) Em maio de 1775
c) Em junho 1775
d) Em agosto de 1775
13. As negociações sobre a paz e fim da guerra na América
realizaram-se, no início de 1782, estando o lado americano
representado por Benjamin Franklin, John Adams e John Jay.
a) em Paris
b) em Nova York
c) em Londres
d) em Virgínia
14. No dia 15 de abril de 1783, o Congresso aprovou a redação final
do tratado e este foi assinado pela Grã-Bretanha e suas ex-
colónias,
a) no dia 3 de setembro 1783
b) no 10 de maio de 1783
c) No 15 de abril de 1783
d) No dia 23 de agosto de 1775

Das afirmações que se seguem assinale com V a verdadeira e F a Falsa.


1. Os milicianos (Minutemen) pretendiam apenas fazer um
protesto silencioso, mas o Major John Pitcairn, comandante das
tropas britânicas.
a. Verdade
b. Falso
2. A expectativa a Lei do Açúcar, de 1764 era a de que a redução
na tarifa sobre o melaço desestimularia o contrabando do
produto que era trazido das Índias Ocidentais holandesas e
francesas, para uso nas destilarias de rum da Nova Inglaterra.
a. Verdade
b. Falso
3. No dia 10 de maio de 1775 – exatamente um ano depois da
primeira reunião do Segundo Congresso Continental – foi

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aprovada uma resolução pedindo a separação. Agora, só faltava


uma declaração formal.
a. Verdade
b. Falso
4. No dia 15 de Maio 1776, Richard Henry Lee, da Virgínia,
apresentou uma resolução declarando que “Estas Colónias
Unidas são, e têm o direito de ser estados livres e independentes.
a. Verdade
b. Falso

Exercícios para AVALIAÇÃO

Perguntas de desenvolvimentos
1. Parecia bastante razoável que as colónias arcassem com
todas as despesas necessárias à sua própria defesa. Isso
envolveria novos impostos, cobrados pelo Parlamento – em
detrimento da autonomia do governo colonial. Fale da lei do
melaço, do açúcar e da moeda.
2. Congresso aprovou a redação final do tratado e este foi
assinado pela Grã-Bretanha e suas ex-colónias. Como Ficou
conhecido este tratado?
3. A Revolução Americana teve um significado que ultrapassou
as fronteiras do continente americano. Fale do exercício dos
intelectuais no processo da independência da América.

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