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Direito Empresarial

Prof. Renildo Dorow

2013
Copyright © UNIASSELVI 2013

Elaboração:
Prof. Renildo Dorow

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

347.721
D715d Dorow, Renildo
Direito Empresarial / Renildo Dorow Indaial : Uniasselvi,
2013.
219 p. : il

ISBN 978-85-7830-810-0

1. Direito Empresarial.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Apresentação
Prezado(a) acadêmico(a)!

Iniciamos os estudos de Direito Empresarial. Além de ser uma


disciplina fascinante, ela é fundamental para quem pretende entender a
dinâmica do funcionamento jurídico das empresas, assim como das relações
consumeristas no Brasil.

Na tentativa de traduzir os objetivos desta disciplina, faremos uma


abordagem do tema desde os tempos que remontam ao início da civilização
humana, como forma de compreendermos o presente.

É importante salientar que, no sistema eminentemente capitalista em


que nós vivemos, ao lado do eixo central da atividade econômica ocupada
pela empresa, existe o mercado de consumo, liderado pelo consumidor, que
é a principal força propulsora da economia mundial.

O Direito Empresarial representa duas grandes forças motrizes da


ordem financeira e econômica brasileira, cujos fundamentos estão previstos
no art. 170 da Constituição Federal do Brasil. A força empresarial é a
geradora de riquezas e emprego. Já a força consumerista é a responsável
pela sobrevivência das próprias empresas, pela aquisição e fornecimento de
produtos e serviços.

Nesse sentido, imagine um mercado de consumo em que os consumidores


não tenham direitos. Esta experiência vivida pelas pessoas, no período
do Estado Liberal, revelou grandes tensões entre as próprias pessoas e a
máquina econômica do capital. O Estado Social surgiu como uma solução
para compatibilizar os interesses entre as empresas e os consumidores,
ao passo que o Estado passou a estabelecer regras de conduta, de modo
que determinou direitos e deveres de ambas as partes, com o objetivo de
restabelecer o equilíbrio.

Desta forma, como o tema em questão é de suma importância para a


nossa vida, o abordaremos em três unidades. A primeira com enfoque nas
formas de como se estabelecem as obrigações comerciais, utlizando-se da
visão sistêmica do Direito Empresarial, assim como identificar as relações
comerciais e empresariais com suas respectivas obrigações, a ponto de
facilitar no seu dia a dia profissional.

Já a segunda unidade, iniciará os estudos inerentes ao Direito do


Consumidor, com enfoque nos aspectos históricos, conceitos básicos inerentes
às relações consumeristas e à proteção destas relações no Brasil.

III
Por fim, a terceira unidade será reservada ao estudo das quatro
tutelas concedidas ao consumidor, nesta ordem: civil, administrativa, penal
e jurisdicional.

Ajudá-lo(a) a entender a dinâmica de funcionamento do Direito


Empresarial dentro da dinâmica estabelecida pelo Novo Código Civil
Brasileiro, assim como a amplitude da atuação do Código de Defesa do
Consumidor, é o nosso objetivo, pois entendemos serem essenciais à
formação de gestores capacitados a enfrentar os desafios de um mercado
globalizado.

Bons estudos e sucesso na sua vida acadêmica!

Prof. Renildo Dorow

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
VI
Sumário
UNIDADE 1 – DIREITO EMPRESARIAL........................................................................................... 1

TÓPICO 1 – DADOS HISTÓRICOS DO DIREITO EMPRESARIAL........................................... 3


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 3
2 SURGIMENTO DO COMÉRCIO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ................................................. 3
2.1 A CODIFICAÇÃO NAPOLEÔNICA E A TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO................... 6
2.2 O CÓDIGO CIVIL ITALIANO DE 1942 E A TEORIA DA EMPRESA..................................... 9
2.3 O DIREITO COMERCIAL NO BRASIL......................................................................................... 9
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 11
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 13
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 14

TÓPICO 2 – CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO................................. 15


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 15
2 CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL..................................................................................... 15
3 O EMPRESÁRIO.................................................................................................................................... 16
3.1 CONCEITO DE EMPRESÁRIO...................................................................................................... 16
3.2 REQUISITOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DO EMPRESÁRIO............................................ 18
3.3 TIPOS DE EMPRESÁRIO................................................................................................................ 19
3.4 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL......................................................................................................... 20
3.4.1 Composição de firma individual........................................................................................... 21
3.4.2 Da capacidade para a atividade de empresário individual............................................... 21
3.4.3 Requisitos para o exercício da atividade de empresário individual................................ 22
3.4.3.1 Absolutamente incapazes........................................................................................... 22
3.4.3.2 Relativamente incapazes............................................................................................ 23
3.4.3.3 Emancipação................................................................................................................ 23
3.4.3.4 Dos impedimentos ao exercício da atividade empresarial................................... 24
3.4.3.5 Responsabilidade do empresário individual.......................................................... 25
3.4.3.6 Perda da qualidade de empresário individual........................................................ 26
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 28

TÓPICO 3 – DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA................................................................................... 29


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 29
2 CONCEITO............................................................................................................................................. 29
3 CONSTITUIÇÃO DE UMA SOCIEDADE....................................................................................... 30
4 DISTINÇÃO ENTRE SOCIEDADE E ASSOCIAÇÃO.................................................................. 31
5 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS....................................................................................... 31
5.1 ESPÉCIES DE SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS........................................................... 32
6 SOCIEDADES PERSONIFICADAS.................................................................................................. 33
6.1 SOCIEDADE SIMPLES.................................................................................................................... 33
6.2 SOCIEDADE EMPRESÁRIA........................................................................................................... 34
6.3 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS........35
6.4 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO........................................................................................... 36

VII
6.5 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES.................................................................................. 37
6.6 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES............................................................................ 37
6.7 DA SOCIEDADE COOPERATIVA................................................................................................. 38
6.8 DA SOCIEDADE LIMITADA......................................................................................................... 39
6.8.1 Constituição da sociedade...................................................................................................... 40
6.8.2 Formação do seu nome social................................................................................................ 40
6.8.3 Da administração..................................................................................................................... 41
6.8.4 Das quotas e sua transferência............................................................................................... 41
6.8.5 Conselho fiscal......................................................................................................................... 42
6.9 DA SOCIEDADE ANÔNIMA......................................................................................................... 42
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 43
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 44

TÓPICO 4 – DA SOCIEDADE ANÔNIMA........................................................................................ 47


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 47
2 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS.................................................................................................. 47
2.1 DO CAPITAL SOCIAL . .................................................................................................................. 47
2.2 RESPONSABILIDADE DOS ACIONISTAS.................................................................................. 48
3 OBJETO SOCIAL................................................................................................................................... 48
4 NOME EMPRESARIAL........................................................................................................................ 48
5 ESPÉCIES DE SOCIEDADE ANÔNIMA......................................................................................... 49
6 OS VALORES MOBILIÁRIOS............................................................................................................ 50
7 AÇÕES..................................................................................................................................................... 50
8 ESPÉCIES DE AÇÕES........................................................................................................................... 51
8.1 QUANTO ÀS VANTAGENS QUE AS AÇÕES CONFEREM AOS SEUS TITULARES......... 51
8.1.1 Ações ordinárias...................................................................................................................... 51
8.1.2 Ações preferenciais.................................................................................................................. 51
8.1.3 Ações de fruição....................................................................................................................... 52
8.2 QUANTO À FORMA DE SUA CIRCULAÇÃO........................................................................... 52
8.3 DEBÊNTURES................................................................................................................................... 53
9 CONSTITUIÇÃO DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS................................................................... 53
9.1 CONSTITUIÇÃO POR SUBSCRIÇÃO PARTICULAR OU SIMULTÂNEA............................ 53
9.2 CONSTITUIÇÃO SUCESSIVA OU POR SUBSCRIÇÃO PÚBLICA.......................................... 54
10 ACIONISTAS....................................................................................................................................... 54
10.1 DIREITOS DOS ACIONISTAS...................................................................................................... 54
10.2 O ACIONISTA CONTROLADOR................................................................................................ 55
10.3 DEVERES E RESPONSABILIDADES DO ACIONISTA CONTROLADOR.......................... 55
11 ÓRGÃOS SOCIAIS............................................................................................................................. 56
12 ASSEMBLEIA GERAL........................................................................................................................ 56
12.1 Espécies de assembleias........................................................................................................... 57
12.1.1 Assembleia geral ordinária................................................................................................... 57
12.1.2 Assembleia geral extraordinária.......................................................................................... 57
12.2 PROCEDIMENTO.......................................................................................................................... 57
12.3 QUORUM DE INSTALAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL...................................................... 59
13 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO............................................................................................. 59
13.1 COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO...................................................... 59
13.2 COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO................................................... 59
14 DIRETORIA.......................................................................................................................................... 60
15 CONSELHO FISCAL.......................................................................................................................... 60
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 62
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 63

VIII
TÓPICO 5 – TÍTULOS DE CRÉDITO.................................................................................................. 65
1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 65
2 DO SURGIMENTO DO CRÉDITO................................................................................................... 65
3 TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO............................................................................ 67
3.1 CONCEITO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO DE CRÉDITO...................... 67
3.1.2 Principais características (ou princípios) dos títulos de crédito....................................... 67
3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO........................................................................ 69
3.3 CONCEITOS IMPORTANTES........................................................................................................ 69
3.3.1 Endosso..................................................................................................................................... 70
3.3.2 Aval............................................................................................................................................ 71
3.3.3 Protesto...................................................................................................................................... 72
3.3.4 Prescrição.................................................................................................................................. 73
4 TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE............................................................................................. 73
4.1 LETRA DE CÂMBIO........................................................................................................................ 74
4.2 NOTA PROMISSÓRIA..................................................................................................................... 76
4.3 CHEQUE............................................................................................................................................ 77
4.4 DUPLICATA...................................................................................................................................... 82
RESUMO DO TÓPICO 5........................................................................................................................ 84
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 85

TÓPICO 6 – RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA......................................................... 87


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 87
2 DA RECUPERAÇÃO DA EMPRESA................................................................................................ 87
2.1 DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL...................................................................................... 87
2.2 DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL.................................................................................................... 88
3 FALÊNCIA............................................................................................................................................... 89
3.1 CONCEITO........................................................................................................................................ 89
3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO DE FALÊNCIA................................................................... 89
4 DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS......................................................................................... 93
RESUMO DO TÓPICO 6........................................................................................................................ 96
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 97

UNIDADE 2 – DIREITO DO CONSUMIDOR................................................................................... 99

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR.............................. 101


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 101
2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA................................................................................................................... 101
2.1 O SURGIMENTO DO DIREITO DO CONSUMIDOR COMO PARTE DA EVOLUÇÃO DO
ESTADO LIBERAL............................................................................................................................ 104
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 108
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 110
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 111

TÓPICO 2 – O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 113
2 A LEGISLAÇÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ANTES E DEPOIS DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988............................................................................................... 113
2.1 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR............................................................................. 118
2.2 ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS DO CÓDIGO E DEFESA DO CONSUMIDOR.................... 119
3 DA POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO.................................................... 121
3.1 VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR................................................................................. 122
3.2 DEVER DO ESTADO........................................................................................................................ 123

IX
3.3 HARMONIZAÇÃO DE INTERESSES........................................................................................... 124
3.4 INFORMAÇÃO................................................................................................................................. 124
3.5 QUALIDADE.................................................................................................................................... 124
3.6 COIBIÇÃO DE ABUSOS.................................................................................................................. 125
3.7 SERVIÇO PÚBLICO......................................................................................................................... 126
3.8 MERCADO........................................................................................................................................ 127
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 128
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 129
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 130

TÓPICO 3 - CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR....................................................... 133


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 133
2 CONCEITO DE CONSUMIDOR....................................................................................................... 133
2.1 DA COLETIVIDADE DE PESSOAS............................................................................................... 135
2.2 DAS VÍTIMAS DO ACIDENTE DE CONSUMO......................................................................... 135
2.3 DAS PESSOAS EXPOSTAS ÀS PRÁTICAS ABUSIVAS.............................................................. 136
3 CONCEITO DE FORNECEDOR, PRODUTOR E PRESTADOR DE SERVIÇOS.................... 137
3.1 BANCO COMO FORNECEDOR DOS SERVIÇOS BANCÁRIOS DE CONSUMO................ 138
4 CONCEITOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS.................................................................................. 140
4.1 PRODUTO......................................................................................................................................... 140
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 141
4.2 SERVIÇO............................................................................................................................................ 143
4.2.1 Serviço bancário, financeiro, de crédito e securitário......................................................... 143
4.2.2 Serviço sem remuneração....................................................................................................... 143
4.2.3 Serviço Público......................................................................................................................... 143
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 146
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 147

TÓPICO 4 – DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR................................................................. 149


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 149
2 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR..................................................................................... 149
3 DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES.............................................................................. 151
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 154
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 157
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 158

UNIDADE 3 – TUTELAS JURÍDICAS................................................................................................. 161

TÓPICO 1 – TUTELA CIVIL.................................................................................................................. 163


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 163
2 DA QUALIDADE DOS PRODUTOS E SERVIÇOS...................................................................... 163
3 DA RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR PELO FATO DO PRODUTO E DO
SERVIÇO................................................................................................................................................. 164
3.1 DO PRAZO PARA REPARAÇÃO.................................................................................................. 166
4 RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO..................................... 166
4.1 DA GARANTIA LEGAL E CONTRATUAL................................................................................. 169
4.1.1 Garantia do fornecedor........................................................................................................... 169
4.1.2 Dos prazos de reclamação...................................................................................................... 170
4.1.3 Da prescrição e da decadência............................................................................................... 170
4.2 RECALL.............................................................................................................................................. 171
5 PRÁTICAS COMERCIAIS.................................................................................................................. 172

X
5.1 DA OFERTA...................................................................................................................................... 172
5.2 DA PUBLICIDADE.......................................................................................................................... 173
5.2.1 Publicidade enganosa............................................................................................................. 173
5.2.2 Publicidade abusiva................................................................................................................ 174
5.2.3 Responsabilidades em caso de publicidade enganosa ou abusiva................................... 174
5.3 DAS PRÁTICAS ABUSIVAS........................................................................................................... 174
5.3.1 Da cobrança de dívidas........................................................................................................... 178
5.3.2 Banco e cadastros de dados.................................................................................................... 178
6 DA PROTEÇÃO CONTRATUAL....................................................................................................... 180
6.1 DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS....................................................................................................... 180
6.2 REVISÃO CONTRATUAL.............................................................................................................. 182
6.3 DOS CONTRATOS DE ADESÃO................................................................................................... 182
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 184
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 185

TÓPICO 2 – TUTELA ADMINISTRATIVA........................................................................................ 187


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 187
2 SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR.......................................................... 187
3 PRÁTICAS INFRATIVAS.................................................................................................................... 190
4 SANÇÕES ADMINISTRATIVAS...................................................................................................... 191
5 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA............................................................... 193
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 195
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 196
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 197

TÓPICO 3 – TUTELA PENAL................................................................................................................ 199


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 199
2 DIREITO PENAL DO CONSUMIDOR............................................................................................ 199
3 DOS CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO........................................................... 200
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 205
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 206

TÓPICO 4 – TUTELA JURISDICIONAL............................................................................................. 207


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 207
2 DA ATUAÇÃO DO CONSUMIDOR EM JUÍZO............................................................................ 207
2.1 AÇÕES DE OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER........................................................... 209
2.2 AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR DE PRODUTOS E
SERVIÇOS................................................................................................................................................ 209
2.3 AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA.................................................................................. 210
3 O ÔNUS DA PROVA............................................................................................................................ 210
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................ 211
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 213
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................................. 214
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 215

XI
XII
UNIDADE 1

DIREITO EMPRESARIAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender as formas de como se estabelecem as obrigações comerciais


utilizando-se da visão sistêmica do Direito Empresarial;

• identificar as relações comerciais e empresariais, com suas respectivas


obrigações, a ponto de facilitar no seu dia a dia profissional.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em seis tópicos. Ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – DADOS HISTÓRICOS DO DIREITO EMPRESARIAL

TÓPICO 2 – CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO

TÓPICO 3 – DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

TÓPICO 4 – DA SOCIEDADE ANÔNIMA

TÓPICO 5 – TÍTULOS DE CRÉDITO

TÓPICO 6 – RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

DADOS HISTÓRICOS DO DIREITO EMPRESARIAL

1 INTRODUÇÃO
O comércio nasceu da própria necessidade dos seres humanos
conviverem harmoniosamente na sociedade. O seu desenvolvimento deveu-
se, inequivocamente, ao surgimento da moeda, pois, com seu uso, as riquezas
começaram a circular muito mais rapidamente, pois o seu transporte tornou-se
muito mais simples e prático do que transportar mercadorias para troca.

Nasceu, assim, a economia de mercado e, com ela, a figura do comerciante,


que se coloca entre o produtor e o consumidor, ou seja, torna-se aquele que compra
e vende mercadorias, cujas diferenças de valores atingem seu objetivo: o lucro.

A evolução dos conceitos levou à remodelação do Direito Comercial.


Ou seja, no auge da Segunda Guerra Mundial, com o advento do Código Civil
Italiano, unificou-se o direito privado, juntando em uma única codificação o
Direito Civil e o Direito Comercial, dando origem ao que chamamos, atualmente,
de Direito Empresarial.

2 SURGIMENTO DO COMÉRCIO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA


Se nós fizermos uma breve pesquisa aos achados pré-históricos, veremos
que os homens viviam em completa bruteza, aproximando-se do estado irracional,
vagando em famílias ou em bandos, comandados por um chefe, em constante
combate pela sobrevivência.

Nessa forma primitiva de sociedade, devido à agressividade então


reinante, não havia ambiente propício para que se desenvolvesse o fenômeno
que, hoje, chamamos de comércio.

Após muitos séculos, a humanidade chegou ao entendimento de que


cada ser humano necessitou do seu semelhante para pôr em execução grandes
expedições de caça e para defender-se de animais, conforme nos dá notícias a
Paleontologia.

Os estudos históricos demonstram que os grupos menos agressivos foram


se aproximando cada vez mais, e passaram a se juntar em torno de templos e outros
lugares considerados sagrados, para a celebração de eventos festivos e religiosos. Em
decorrência desses encontros, começou a ganhar espaço a concepção de trocarem,
uns com os outros aqueles bens que lhes eram desnecessários ou excedentes.
3
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

E foi assim que surgiu o que podemos considerar a forma embrionária do


comércio: a troca direta.

Mas as negociações realizadas pela simples troca eram muito limitadas.


O possuidor de determinado produto tinha de encontrar alguém que detinha
aquele outro bem de que ele precisava, na qualidade e na quantidade desejada.
Porém, havia o problema em determinar o valor dos bens a serem trocados.

Era preciso, portanto, achar um meio que permitisse uma facilitação nas
trocas e simplificasse o cálculo das mercadorias a serem trocadas, ou seja, algo
que fosse tanto um instrumento de troca e medida comum de valor, além de ser
facilmente transportável.

Não demorou muito para que tal elemento, chamado moeda, surgisse.

Desde que surgiu a moeda, mesmo em sua forma rudimentar e primitiva,


medindo e determinando valores, sobrepondo a troca direta, iniciou-se uma
nova atividade: a dos intermediários entre o produtor e o consumidor, ou seja,
a atividade do comerciante, cujo trabalho passou a ser exercido habitualmente,
com intuito de lucro.

Na Idade Antiga, povos primitivos, como os fenícios, destacaram-se pelo


exercício da atividade comercial, porém sem poder ainda falar-se na existência de
um direito comercial, com regras e princípios próprios.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a)! Rodrigues (2004, p. 15) explica sobre o assunto:

O comércio desenvolveu-se em larga escala entre as civilizações


primitivas, mas, a despeito disso, não se pode afirmar, pela escassez
de elementos históricos, haver nas remotas sociedades um direito
autônomo, com princípios, normas e institutos sistematizados, voltado
à regulamentação da atividade mercantil.

Foi durante a Idade Média, contudo, que o comércio já atingira um nível


mais avançado, e já era uma característica de praticamente todos os povos. É neste
período da história que se costuma apontar o surgimento do Direito Comercial,
juntamente com o renascimento das cidades (burgos) e, principalmente, do
comércio marítimo. Surgem as chamadas Corporações de Ofício, que logo
assumiram relevante papel na sociedade da época, conseguindo obter, inclusive,
uma certa autonomia em relação à nobreza feudal.

4
TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS DO DIREITO EMPRESARIAL

Esta primeira fase do Direito Comercial compreende os usos e


costumes mercantis, observados na disciplina das relações jurídico-comerciais.
E na elaboração deste direito não havia ainda nenhuma participação do Estado.
Cada corporação tinha seus próprios usos e costumes, e os aplicava através de
cônsules, que eram os magistrados escolhidos/eleitos pelos próprios associados
para reger as relações entre os seus membros. Daí por que alguns autores usam
a expressão “codificação privada” do Direito Comercial.

FONTE: Adaptado de: <http://conhecendodireitos.blogspot.com.br/2011/11/direito-comercial-


ou-direito.html>. Acesso em: 18 fev. 2013.

E
IMPORTANT

Ainda sobre a primeira fase do Direito Comercial, Requião (2003, p. 10-11)


esclarece:

É nessa fase histórica que começa a se cristalizar o Direito Comercial,


deduzido das regras corporativas e, sobretudo, dos assentos
jurisprudenciais das decisões dos cônsules, juízes designados
pela corporação para, em seu âmbito, dirimirem as disputas entre
comerciantes. Diante da precariedade do direito comum para
assegurar e garantir as relações comerciais, fora do formalismo que o
direito romano remanescente impunha, foi necessário, de fato, que os
comerciantes organizados criassem entre si um direito costumeiro,
aplicado internamente na corporação por juízes eleitos pelas suas
assembleias: era o juízo consular, ao qual tanto deve a sistematização
das regras do mercado.

Outra característica marcante desta fase inicial do Direito Comercial é o seu


caráter subjetivista, ou seja, era o direito dos membros das corporações. Comentando
o assunto, Coelho (2003, p.13) assim se manifesta: “Resultante da autonomia
corporativa, o Direito Comercial de então se caracteriza pelo acento subjetivo e
somente se aplica aos comerciantes associados à corporação. [...] Adota-se, assim,
um critério subjetivo para definir seu âmbito de incidência”.

Desse modo, era necessário que uma das partes de determinada relação
fosse comerciante para que fosse a mesma disciplinada pelo Direito Comercial -
ius mercatorum -, em detrimento dos demais direitos.

As fontes do ius mercatorum eram os estatutos das corporações


mercantis, o costume mercantil e a jurisprudência da cúria dos
mercadores. [...] O costume nascia da constante prática contratual dos
comerciantes: as modalidades consideradas vantajosas convertiam-
se em direito; as cláusulas contratuais transformavam-se, uma
vez generalizadas, no conteúdo legal dos contratos. Por último, os
comerciantes designados pela corporação compunham os tribunais
que decidiam as controvérsias comerciais. (GALGANO, 1990, p. 40).
5
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Sobre o ius mercatorum, Galgano (1990, p. 39) muito bem destaca:

O ius mercatorum nasce, portanto, como um direito diretamente criado


pela classe mercantil, sem a mediação da sociedade política; nasce
como um direito imposto em nome de uma classe, e não em nome
da comunidade no seu conjunto. É imposto aos eclesiásticos, aos
nobres, aos militares, aos estrangeiros. Pressuposto da sua aplicação é
o mero fato de se haverem estabelecido relações com um comerciante.

Por fim, é interessante notar a revolução que o Direito Comercial, nesta


fase, provocou na doutrina contratualista, rompendo com a teoria contratual,
até o momento disciplinada pelo direito romano. Isto ocorreu em Roma, com
os ideais de segurança e estabilidade da classe dominante, atrelando o contrato
ao instituto da propriedade. O contrato era apenas um instrumento através do
qual se adquiria ou se transferia a propriedade de uma coisa.
FONTE: Adaptado de:<pt.scribd.com/.../Andre-Luiz-Santa-Cruz-Ramos-Direito-Empresarial-...>.Acesso
em: 18 fev. 2013.

Esta concepção de estabilidade das relações jurídicas pelo contrato,


inerente ao direito romano, obviamente, entrava em choque com os ideais da classe
mercantil em ascensão, que tinha preferência oposta, ou seja, pela mudança, pela
instabilidade, ganhando espaço o princípio da liberdade na forma de celebração
dos contratos.

DICAS

Estimado(a) acadêmico(a)!
Após tanta informação, para descansarmos um pouco, convido-o(a) para assistir a um filme
chamado “O Mercador de Veneza”, lançado no ano de 2004 e estrelado pelo ator Al Pacino.
Este está baseado numa peça de William Shakespeare que foi escrita entre os anos de 1594 e
1597 e retrata muito bem a primeira fase do Direito Comercial.
Vale a pena ver!

2.1 A CODIFICAÇÃO NAPOLEÔNICA E A TEORIA DOS


ATOS DE COMÉRCIO
Com o fim do período medieval, surgem no cenário geopolítico
mundial os grandes Estados Nacionais Monárquicos que, representados na
figura do monarca absoluto, vão submeter os seus súditos, incluindo a classe
dos comerciantes, a um direito posto através do controle estatal das relações
comerciais, que outrora eram reguladas por parte dos próprios mercadores,
através das corporações de ofício e seus juízos consulares.
6
TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS DO DIREITO EMPRESARIAL

Tal assim foi que, em 1804 e 1808, respectivamente, foram editados na


França o Código Civil e o Código Comercial, inaugurando assim a segunda
fase do Direito Comercial, marcado por um sistema jurídico estatal destinado a
disciplinar as relações jurídico-comerciais.

E
IMPORTANT

Prezado(a) acadêmico(a)!
Sobre este período da história do comércio, Galgano (1990, p. 43) relata que: “A classe
mercantil deixa de ser artífice do seu próprio direito. O Direito Comercial experimenta uma
dupla transformação: o que foi direito de classe transforma-se em direito do Estado; o que
foi direito universal converte-se em direito nacional”.

A codificação napoleônica divide claramente o direito privado: de um


lado, o Direito Civil, regido pelo Código Civil, um corpo de leis que atendia aos
interesses da burguesia fundiária, pois estava centrado no direito de propriedade;
e de outro, o Direito Comercial, regulado pelo Código Comercial, que seguia o
espírito da burguesia comercial e industrial, valorizando a riqueza mobiliária.

A divisão do direito privado em duas grandes partes cria a necessidade de


estabelecimento de um critério que delimitasse a incidência de cada uma destas
legislações nas diversas relações ocorridas no dia a dia dos cidadãos. Para tanto,
criou-se a Teoria dos Atos de Comércio, que tinha como atribuição principal
aplicar as normas do Código Comercial a quem praticasse os denominados “atos
de comércio”.

Por outro lado, não envolvendo a relação jurídica à prática destes atos,
seria ela regida então pelas normas do Código Civil.

DICAS

Caro(a) acadêmico(a)! Como sugestão de leitura, para maior


aprofundamento do tema convido à leitura da obra:
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2003.
A partir da página 7, o autor retrata de modo claro e sucinto essas mudanças
ocorridas no Direito Comercial, no início do século XIX, na França, o que
acabou originando a divisão do direito privado em dois códigos: o Código
Civil e o Código Comercial (Code de Commerce).

7
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Contudo, o sistema francês passou a apresentar deficiências, uma vez que


trazia dificuldades ao intérprete da lei, ao avaliar a aplicabilidade do Direito
Comercial ou do Direito Civil no caso concreto, até pela própria ausência de uma
definição satisfatória do que são atos de comércio.

Ademais, outras atividades econômicas, tão importantes quanto o comércio,


não se encontravam na enumeração legal dos atos de comércio. Algumas delas
desenvolveram-se posteriormente, como, por exemplo, a prestação de serviços.

Há ainda outras delas, como bem atesta Coelho (2003, p. 15-16):

A exclusão da negociação de imóveis do âmbito de incidência do Direito


Comercial pelo Code de Commerce - que não se reproduz em outras
legislações adeptas da Teoria dos Atos de Comércio, a exemplo do
código italiano de 1882, é, por vezes, relacionada a um caráter sacro de
que se revestiria a propriedade imobiliária ou pela tardia distinção entre
circulação física e econômica dos bens. Porém, esta exclusão só pode ser
satisfatoriamente explicada à luz de considerações políticas e históricas,
ou seja, a partir da necessidade de a burguesia francesa preservar a sua
identidade na luta contra o feudalismo.

Outro problema detectado na época, em virtude da aplicação da Teoria dos


Atos de Comércio, referia-se aos chamados atos mistos, ou seja, aqueles que eram
comerciais para apenas uma das partes (na venda de produtos aos consumidores, por
exemplo, o ato era comercial para o comerciante vendedor e civil para o consumidor
adquirente). Nestes casos, aplicavam-se as normas do Código Comercial para a
solução de eventual litígio. Por esta razão, alguns estudiosos denunciaram o retorno
ao corporativismo do direito mercantil, como na época de vigência das chamadas
corporações de ofício, fazendo o cidadão se submeter às normas distintas em razão,
simplesmente, da qualidade da pessoa com quem contratava.

Apesar da existência de tais críticas, a teoria francesa dos atos de comércio foi
adotada por quase todas as codificações mercantis modernas, inclusive a do Brasil,
através do Código Comercial de 1850.

Contudo, em virtude do modelo francês não abranger atividades


econômicas tão ou mais importantes que o comércio de bens, tais como: a
prestação de serviços, a agricultura, a pecuária e a negociação imobiliária. Tal
fato fez surgir um novo critério, mais de cem anos após a edição dos códigos
napoleônicos e em plena Segunda Guerra Mundial.

8
TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS DO DIREITO EMPRESARIAL

2.2 O CÓDIGO CIVIL ITALIANO DE 1942 E A TEORIA DA


EMPRESA
Em 1942, a Itália editou um novo Código Civil, trazendo um novo sistema
delimitador da incidência do regime jurídico comercial: a teoria da empresa.

Além disso, o Código Civil Italiano promoveu uma unificação formal


do direito privado, disciplinando, em uma única lei, as relações civis e
comerciais. O Direito Comercial entrou, assim, na sua terceira fase, passando
a adotar o conceito da empresarialidade.

Na teoria da empresa, o Direito Comercial não se limita a regular apenas


as relações jurídicas em que ocorra a prática de um determinado ato definido em
lei como ato de comércio, ou com alguns atos, mas com uma forma específica de
exercer uma atividade econômica: a forma empresarial.

Vejamos ainda o ensinamento de Bulgarelli (2000, p. 19): “Nos dias


que correm, transmudou-se (o Direito Comercial) de mero regulador dos
comerciantes e dos atos de comércio, passando a atender à atividade sob a forma
de empresa, que é o atual fulcro do Direito Comercial”.

Assim, restou superada a dificuldade existente na teoria francesa,


passando a teoria da empresa a enquadrar qualquer atividade econômica, desde
que exercida profissionalmente e destinada a produzir ou fazer circular bens ou
serviços.

2.3 O DIREITO COMERCIAL NO BRASIL


No Brasil Colônia, o Direito Comercial Brasileiro estava intrinsecamente
ligado ao Direito Português. Foi somente em 18 de agosto de 1769, através da
edição da Lei da Boa Razão, que foi permitida a aplicação de leis e normas de
nações cristãs para resolver litígios de natureza mercantil.

Assim, ao longo da história brasileira, o ramo do Direito Empresarial já recebeu


três diferentes denominações:

1- Direito Mercantil: sendo o primeiro nome usado a partir de 1553, quando


surgiu a primeira obra sobre o assunto, através dos jesuítas.

2 - Direito Comercial: foi o segundo, adotado a partir da publicação da Lei nº 556,


de 25 de junho de 1850, qual seja, o Código Comercial Brasileiro.

3 - Direito Empresarial: seu nome atual, que passou a ser empregado mediante
a publicação da Lei nº 10.406, em 10 de janeiro de 2002, o atual Código Civil,
que revogou a Primeira Parte (Arts. 1º a 456) do Código Comercial.

9
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Assim, o Código Civil de 2002 unifica parcialmente o Direito Comum e o


Direito Comercial, da mesma forma que o Código Civil Italiano, trazendo em seu
âmago o denominado “Direito de Empresa”.

Quanto à denominação no Brasil, de uma forma bem resumida podemos


afirmar que, ao longo da história, o Direito Empresarial já recebeu três diferentes
denominações:

FIGURA 1 - DENOMINAÇÕES DO DIREITO COMERCIAL

FONTE: O autor

10
TÓPICO 1 | DADOS HISTÓRICOS DO DIREITO EMPRESARIAL

LEITURA COMPLEMENTAR

DIREITO EMPRESARIAL

Luiz Braz Mazzafera

Pela primeira vez, de certa feita, dois seres humanos trocaram bens entre
si. Nessa primeira troca, observam-se claramente dois aspectos: um social e outro
econômico. O aspecto social decorre da utilização mútua dos objetos permutados,
e o econômico, o primeiro passo dado no sentido de fazer circular riquezas. Da
generalização desse hábito de permutar bens nasceu a economia de troca ou
escambo.

Nos primórdios da fundação de Roma, cidade que virá a tornar-se um dos


grandes centros do poder e da cultura da humanidade, o comércio era proibido
aos cidadãos. Já ao tempo de Numa, os comerciantes se uniam em corporações,
embora a agricultura continuasse a ser considerada profissão honrosa do cidadão
romano.

A evolução impôs, por final, o conceito Commercium est emendi


vendedique invicem jus (o comércio é o direito de comprar e vender mutuamente).
O desenvolvimento do comércio deveu-se inequivocamente ao surgimento
da moeda, porque, com seu uso, as riquezas começaram a circular muito mais
rapidamente e o transporte de moedas é muito mais simples e prático do que
transportar mercadorias para troca.

Nasceu, assim, a economia de mercado, e com ela a figura do comerciante,


que se coloca entre o produtor e o consumidor, ou seja, torna-se aquele que compra
e vende mercadorias e de cujas diferenças de valores atinge seu objetivo: o lucro.

A palavra comércio tem sua origem no latim, composta de cum


(preposição) e de merx (substantivo), de onde, comércio, comerciar, comercial
e comerciante.

A economia de mercado referida, cada vez mais ágil e dinâmica, passa


a exigir proteção àqueles que dela participavam. Surgem, então, as regras,
obrigações, direitos e penalidades e, como seria natural, o Direito Comercial.

Com todo este lastro histórico, chegamos à Idade Média, quando, então, o
Direito Comercial floresce, notadamente na Itália. A maioria dos autores acorda
que nesta época se encontram os primórdios, as origens reais, dos títulos de
crédito, quando, em face dos riscos decorrentes dos roubos durante o transporte
de dinheiro e de outros valores, surge a necessidade da transferência desse
encargo a terceiros.

11
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Significa isso a troca (câmbio) de dinheiro presente (pecúnia proesenti),


no ato, com dinheiro ausente, futuro (pecúnia absenti) e, nessa troca de valor
presente com o valor futuro, era essencial a existência de uma distância entre
os locais da entrega e do recebimento (distancia loci). Sem esta distância, que
necessariamente implicava risco, o câmbio era considerado um empréstimo
usurário e, como tal, condenado pelas leis eclesiásticas.

Em 1808 começa a vigorar o Código de Napoleão e, posterior a ele, firma-se


o Liberalismo Econômico, segundo o qual até pessoas não comerciantes podiam
responder judicialmente por atos de comércio.

Finalmente, vamos nos referir ao que já é uma aceitação unânime, ou seja,


não mais falar-se em Direito Comercial e sim em Direito Empresarial, denominação
muito mais abrangente, uma verdadeira imposição de nosso tempo.

Exige-se, hoje, a inclusão, entre as atribuições decorrentes do exercício


do comércio e da indústria, de obrigações pertinentes às leis do trabalho, da
previdência social, da saúde do transporte, do seguro, etc.

Fala-se, então, no Direito Empresarial, o qual abrange as disciplinas de


Direito Comercial, de Direito Tributário, de Direito Previdenciário, estendendo-se
até parte do Direito Civil, notadamente no capítulo dos contratos e da insolvência
civil.

No sistema em que se vive, sistema capitalista, a parte central da atividade


econômica é ocupada pela empresa, e nela fulgura o empresário, cujo objetivo
principal é o lucro. Com este lucro, o empresário faz reaplicações e reinvestimentos
geradores de mais empregos, mais arrecadação de impostos, maior e melhor
consumo através da livre concorrência, resultando isto tudo, como consequência,
na melhoria de vida da população.

Em resumo, o verdadeiro empresário é um decisivo fator de progresso


e bem-estar social, cabendo-lhe, ainda, o inteiro risco por todas as iniciativas
tomadas. Aliás, saliente-se, o risco lhe é inerente, pois que, nas atividades
comerciais e industriais, é o empresário o único cidadão contemplado com a
falência.

Dentro desta concepção, mercê, portanto, ao verdadeiro empresário, todo


respeito pelo patriótico trabalho que desempenha.

FONTE: MAZZAFERA, Luiz Braz. Notas introdutórias do Capítulo I. In: Curso Básico de Direito
Empresarial. Bauru: EDIPRO, 2003.

12
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você viu que:

• O Direito Empresarial de hoje, na forma adotada pelo Direito brasileiro, é


originado de uma evolução histórica, marcada por três fases:

• A primeira fase atingiu o seu auge na Idade Média, com o surgimento do


D ireito Comercial, juntamente com o renascimento das cidades e principalmente
do comércio marítimo, quando surgiram as chamadas Corporações de Ofício.

• A segunda fase, tendo como marco inicial os anos de 1804 e 1808, quando,
respectivamente, foram editados na França o Código Civil e o Código Comercial,
um sistema jurídico estatal destinado a disciplinar as relações jurídico-
comerciais.

• A terceira fase, que iniciou em 1942, na Itália, com a edição de um novo


Código Civil, trazendo a teoria da empresa, unindo formalmente o direito
privado, disciplinando, em uma única lei, as relações civis e comerciais.

13
AUTOATIVIDADE

Considerando a Leitura Complementar ao final deste tópico, respondam


em grupo às seguintes questões:

1 Explique os aspectos social e econômico das primeiras trocas de objetos.

2 Como nasceu a economia de mercado?

3 Por que se diz que o desenvolvimento do comércio deveu-se inequivocamente


ao surgimento da moeda?

4 O que poderá ser apontado atualmente como o foco da atividade econômica?

5 Aponte o principal objetivo da atividade do empresário.

6 Explique a afirmação do autor de que “o verdadeiro empresário é um


decisivo fator de progresso e bem-estar social”.

14
UNIDADE 1
TÓPICO 2

CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO

1 INTRODUÇÃO
Com a publicação do Código Civil Brasileiro em 2002, não mais se utiliza
a denominação “Direito Comercial”, mas sim “Direito Empresarial”. Neste
tópico estudaremos o conceito deste importante ramo do Direito Civil e também
as condições necessárias para ser empresário.

Também serão analisadas neste tópico as quatro condições para


caracterizar o empresário, as quais são:

● O exercício de atividade econômica.

● Atividade organizada.

● Profissionalismo

● A finalidade do lucro.

Vamos em frente?

2 CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL


O Direito Empresarial é um ramo do Direito Privado que “disciplina sobre
a vida do empresário e das empresas, com nova estrutura aos diversos tipos de
sociedades empresariais contidas no novo Código Civil”. (OLIVEIRA, 2003, p.
111).

Assim, o Direito Empresarial é um ramo do Direito Privado que consiste


de um conjunto de normas referentes à pessoa do empresário, seja ele individual
ou coletivo, disciplinando sua atividade, economicamente organizada para a
produção ou circulação de bens ou de serviços, de forma a atender ao mercado
consumidor.

15
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

3 O EMPRESÁRIO
Como o Direito Empresarial é relativo à pessoa do empresário,
abordaremos a seguir os principais aspectos a ela relacionados e relevantes para
melhor estudo do Direito Empresarial.

3.1 CONCEITO DE EMPRESÁRIO


Na nova modalidade legislativa adotada pelo D ireito brasileiro, sempre
que alguém explora atividade econômica privada para habitual exercício da
produção ou circulação de bens ou de serviços, é considerado um empresário.
Este exerce sua atividade através do estabelecimento comercial ou industrial,
do qual é o titular e no qual se encontram os bens para o seu comércio ou para
sua indústria.

Contudo, para o empresário exercer sua atividade é preciso um mínimo


de organização dos fatores da produção de bens ou de serviços para o mercado
em geral.

E
IMPORTANT

Vejamos o conceito dado pelo Artigo 966 do Código Civil Brasileiro: “Considera-
se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a
produção ou circulação de bens ou de serviços”.

Em decorrência do conceito dado pelo código civilista, são identificadas


quatro condições para caracterizar o empresário:

1. Exercício de atividade econômica: consiste na geração de riqueza através


da produção e circulação de bens ou serviços. A sua função essencial é a de
produzir bens ou serviços para atender ao mercado de consumo.

2. Atividade organizada: o empresário é aquele que organiza a empresa,


articulando os três fatores da produção: capital, trabalho e tecnologia. Neste
entendimento, considera-se que alguém dirige e ordena o trabalho próprio
ou de terceiras pessoas e organiza bens de capital, que também podem ser
próprios ou de terceiros, para exercer determinada atividade econômica.

3. Profissionalismo: é o exercício da atividade econômica de forma habitual, de


forma pessoal ou por sua conta, com o objetivo de lucro. Pessoas que agem em
nome do empresário são apenas seus prepostos ou auxiliares.

16
TÓPICO 2 | CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO

4. Finalidade do lucro: a finalidade do lucro é o quarto elemento do conceito


de empresário. O Código Civil menciona apenas atividade econômica, sem
referir-se expressamente ao objeto lucrativo. No entanto, interpretando-
se sistematicamente o Código Civil, verifica-se que a atividade econômica
significa, na realidade, atividade com fim lucrativo.

FONTE: Adaptado de: <www.cursomarcato.com.br/admin/mod.../oempresrionocdigocivil.do...>.


Acesso em: 19 fev. 2013.

Portanto, o empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade


econômica organizada, através do estabelecimento empresarial, para o efetivo
exercício da produção ou circulação de bens ou de serviços. Ou seja, é o titular
da empresa, que possui a iniciativa da sua criação e que a dirige, correndo o risco
inerente à atividade empresarial.

FIGURA 2 - CONDIÇÕES PARA CARACTERIZAÇÃO DO EMPRESÁRIO

FONTE: O autor (2012), com base na legislação.

Do conceito de empresário são excluídos aqueles que exercem profissão


intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o auxílio de
colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa,
conforme determina o parágrafo único do art. 966, a saber:

Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão


intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento
de empresa.

Desta forma, o legislador estabelece que os que exercem atividade


econômica de natureza intelectual não são considerados empresários, como, por
exemplo, os profissionais liberais.

17
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

3.2 REQUISITOS PARA A CARACTERIZAÇÃO DO


EMPRESÁRIO
Além do exercício da atividade econômica organizada, do profissionalismo
e do fato de visar ao lucro, há o requisito da inscrição do empresário no Registro
Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, o qual o próprio
Código Civil determina a observância desta regra.

E
IMPORTANT

Vejamos o art. 967 do Código Civil: É obrigatória a inscrição do empresário no


Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

Essa inscrição concede o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo


Estado ou do próprio Distrito Federal, conforme determina o art. 1.166 do CC: A
inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas, ou as respectivas
averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites
do respectivo Estado.

Assim, antes de iniciar a atividade empresarial, é obrigatória a inscrição,


que é feita na sede do órgão responsável pela inscrição, notadamente no Estado
onde está a sede da empresa, mediante requerimento que contenha:

1. o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o regime de


bens;

2. a firma, com a respectiva assinatura;

3. o capital;

4. o objeto e a sede da empresa.

O artigo 971 do Código Civil garante tratamento favorecido, diferenciado


e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário (art. 971 do CC).

Por sua vez, o empresário individual que deseja abrir uma filial, sucursal
ou agência em outro Estado da Federação ou no Distrito Federal, deverá também,
primeiramente, providenciar a averbação no respectivo Registro Público de
Empresas Mercantis daquela jurisdição.

18
TÓPICO 2 | CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO

UNI

É o que determina o artigo 969 do Código Civil e seu parágrafo único:

O empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro
Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da
inscrição originária.

Parágrafo único: Em qualquer caso, a constituição do estabelecimento secundário deverá


ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede. (BRASIL, 2013).

Agora que você já entendeu as condições para que alguém seja considerado
empresário, vamos conhecer as espécies de empresário que existem em nosso
ordenamento: empresário individual e empresários reunidos na forma de
sociedade de pessoas, a qual denominamos de sociedade empresária.

3.3 TIPOS DE EMPRESÁRIO


No Direito Empresarial Brasileiro há dois tipos de empresários:

1 Empresário Individual.

2 Empresário na forma de sociedade de pessoas (sociedade empresária).

Como mencionamos acima, no Direito Empresarial Brasileiro há dois


tipos de empresários:

O empresário individual: que é representado pela pessoa física, através


de seu nome civil, completo ou abreviado. Quando for uma pessoa física, o
empresário deverá ter plena capacidade civil e estar legalmente livre para praticar
atividades empresariais.

O segundo tipo de empresário é o organizado na forma de sociedade de


pessoas (sociedade empresária). Quando se tratar de uma sociedade de pessoas,
os atos empresariais serão praticados em nome da pessoa jurídica.

Vejamos cada um destes tipos, em separado.

19
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

3.4 EMPRESÁRIO INDIVIDUAL


Como visto, o empresário é a pessoa que organiza uma atividade
econômica a fim de produzir ou fazer circular bens ou serviços. Contudo, tal
exercício realizado na pessoa física, de forma única e exclusiva, recebe o nome de
“individual”.

Portanto, o empresário individual é a própria pessoa física, que utiliza o


seu próprio nome no exercício de sua atividade empresarial.

E
IMPORTANT

É o que determina o art. 1.156 do Código Civil:

O empresário opera sob firma constituída por seu nome completo


ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua
pessoa ou do gênero de atividade. (BRASIL, 2013).

Por outro lado, “firma” é o nome que este empresário adota para ser
conhecido na sua atividade empresarial. Em consequência, a firma individual
utilizada pela pessoa física em seu estabelecimento empresarial não pode ser
diferente da forma de seu nome civil.

Portanto, denomina-se o empresário individual a pessoa física capaz,


que atua em seu próprio nome civil, abreviado ou completo e que explora
com habitualidade (profissionalmente) atividade econômica organizada para a
produção de bens ou de serviços, tendo como objetivo o lucro.

Contudo, a lei não considera empresário individual quem exerce


profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que
com o auxílio de colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.
FONTE: Adaptado de: <http://www.univercidade.br/cursos/graduacao/direito/pdf/
sumulasdeaulas/TEORIA_GERAL_DO_DIREITO_CIVIL.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2013.

Ou seja, se esses profissionais constituírem uma sociedade, uma empresa


para explorar sua atividade, como no caso de sociedade de advogados, de médicos,
de engenheiros, de contadores, passam a ser considerados também empresários.

20
TÓPICO 2 | CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO

3.4.1 Composição de firma individual


O já mencionado artigo 1.156 do Código Civil permite ao empresário
individual o uso de seu nome civil, completo ou abreviado, e, se desejar, a adição de
determinado qualificativo que melhor o identifique, ou que realce sua atividade.

Assim, a firma, o nome pelo qual o empresário passa a ser conhecido,


será sempre o próprio nome civil do titular da empresa, podendo adotar o nome
abreviado, mas mantendo o sobrenome. Portanto, um empresário que se chama
José dos Anzóis poderá ter como firma José dos Anzóis ou J. Anzóis. Esse nome
poderá, ainda, ser acrescido de uma palavra capaz de identificar a si próprio ou
a sua atividade, especialmente nos casos em que já existir cadastrado na Junta
Comercial um nome empresarial idêntico.

Se, por exemplo, o empresário for um indivíduo magro, poderá adotar a


firma J. Anzóis, o magrela. Mas se for atividade de açougue, poderá utilizar na
firma o nome J. Anzóis, o açougueiro.

E
IMPORTANT

O próprio parágrafo único do art. 1.163 do Código Civil determina que o nome
de empresário individual deve ser distinto de qualquer outro já inscrito no mesmo registro:
“Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação
que o distinga”. (BRASIL, 2013).

3.4.2 Da capacidade para a atividade de empresário


individual
Para iniciar a exploração de atividade empresarial, a capacidade da pessoa
é condição essencial para que o negócio jurídico seja válido. Se praticado por
pessoa incapaz civilmente, não será juridicamente válido.

E
IMPORTANT

Assim dispõe o art. 972 do C.C.: “Podem exercer atividade de empresário os que
estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos”. (BRASIL,
2013).

21
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

3.4.3 Requisitos para o exercício da atividade de


empresário individual
De acordo com o artigo anteriormente citado, são dois os requisitos para
o exercício da atividade empresarial:

1. Capacidade para o exercício da profissão.

2. Não estar legalmente impedido de exercer sua atividade.

Neste sentido, podem ser empresários aquelas pessoas que estiverem


no pleno gozo da capacidade civil, que são os maiores de 18 anos. Em resumo:
atualmente, os maiores de 18 anos de idade, que não forem legalmente impedidos,
podem ser empresários individuais.

Como a atividade empresarial implica a prática de negócios jurídicos, é


fundamental que quem os realize esteja em pleno gozo da capacidade civil. As
pessoas têm capacidade plena com 18 anos completos e os emancipados.

Não têm capacidade civil os absolutamente e os relativamente incapazes,


nos termos da legislação civil.

3.4.3.1 Absolutamente incapazes


O art. 3º do C.C. enumera os absolutamente incapazes:

São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida


civil:

I – Os menores de dezesseis anos.

II – Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o


necessário discernimento para a prática desses atos.
III – Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade. (BRASIL, 2013).

Por conseguinte, a lei civil não admite que o absolutamente incapaz exerça
atividade empresarial. Contudo, há exceções à regra dada pelo artigo 974 do
Código Civil:

Poderá, o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido,


continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo
autor de herança. (BRASIL, 2013).

Continua o artigo em seu parágrafo 1º:

22
TÓPICO 2 | CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO

Nos casos deste artigo, procederá autorização judicial após exame das
circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em
continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os
pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem
prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros. (BRASIL, 2013).

Assim, o exercício empresarial pelo incapaz, mesmo sua continuidade da


atividade antes exercida por ele mesmo, quando era capaz, poderá ser realizado
quando autorizado por ordem judicial, com a assistência de seus pais, pelo autor
da herança ou por representante legal.

Contudo, ficam protegidos dos riscos da atividade empresarial os bens


que o incapaz já possuía ao tempo da sucessão ou da interdição, nos termos do
artigo 974, parágrafo 2º do Código Civil.

3.4.3.2 Relativamente incapazes


O art. 4.º do Código Civil enumera os relativamente incapazes:

São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de exercê-los:

I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência


mental, tenham o discernimento reduzido;

III – os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV – os pródigos. (BRASIL, 2013).

As considerações descritas em relação ao absolutamente incapaz valem


também para o relativamente incapaz.

3.4.3.3 Emancipação
Antes de completar 18 anos de idade, pode o menor tornar-se plenamente
capaz. É o que se verifica por meio da emancipação, conforme determina o artigo
5º do Código Civil, em seu parágrafo único:

Cessará, para os menores, a incapacidade:

I – pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante


instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou
por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos
completos;

II – pelo casamento;

III – pelo exercício de emprego público efetivo;

23
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

IV – pela colação de grau em curso de ensino superior;

V – pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de


relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis
anos completos tenha economia própria. (BRASIL, 2013).

O emancipado continua menor, mas se torna capaz para o exercício da


atividade empresarial. Evidentemente, se o menor se estabelecer sem economia
própria, necessitará da autorização paterna ou materna para obter a emancipação.

3.4.3.4 Dos impedimentos ao exercício da atividade


empresarial
O Direito Brasileiro enumera as pessoas impedidas de exercer atividades
de empresário individual, embora sejam elas capazes. Eis algumas:

1 Os funcionários públicos, estaduais e municipais.

2 O Presidente da República.

3 O governador do Estado.

4 O prefeito.

5 Os magistrados vitalícios e membros do Ministério Público.

6 Os falidos (enquanto não forem legalmente reabilitados, tendo sido declaradas


extintas todas as suas obrigações).

7 Os médicos, na exploração de farmácia.

E
IMPORTANT

O Código Civil, no seu art. 973, trata do assunto abordado:

A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de empresário, se a exercer,


responderá pelas obrigações contraídas. (BRASIL, 2013).

24
TÓPICO 2 | CONCEITO DE DIREITO EMPRESARIAL E EMPRESÁRIO

Os magistrados, quais sejam, os juízes, desembargadores e ministros dos


tribunais superiores, não podem exercer a atividade de empresário ou participar
de sociedade empresária, inclusive de economia mista, exceto como acionista ou
cotista. Não podem, no entanto, exercer cargo de direção, tais como gerentes,
diretores, nem serem membros de Conselho Fiscal.

Já os médicos são proibidos de exercer a profissão com interação


ou dependência de farmácia, indústria farmacêutica, óptica ou qualquer
organização destinada à fabricação, manipulação, promoção ou comercialização
de produtos de prescrição médica, qualquer que seja sua natureza. Também
não podem os médicos exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia, tal
como determina a Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1.931/2009.

FONTE: Disponível em: <www.portalmedico.org.br/notasdespachos/CFM/2012/1_2012.pdf>.


Acesso em: 19 fev. 2013.

Os funcionários públicos não podem exercer individualmente a atividade


empresarial, mas podem ser acionistas, cotistas ou comanditários, não podendo,
em hipótese alguma, assumir a gerência ou a administração de uma sociedade.
A desobediência a essa proibição da Lei nº 1.711, de 1952, art. 195, incisos VI e VII,
não invalida os atos praticados, mas sujeita os infratores a penas administrativas,
tais como sua demissão.

3.4.3.5 Responsabilidade do empresário individual


Conforme decisões dos tribunais, em empresas individuais a
responsabilidade por obrigações contraídas recai sobre os patrimônios
individuais dos respectivos titulares.

E
IMPORTANT

Vejamos a decisão do Superior Tribunal de Justiça no Acórdão proferido no


Recurso Especial nº 227393/PR (DJ 29/11/1999):

Tratando-se de firma individual, há identificação entre empresa e pessoa


física, posto não constituir pessoa jurídica, não existindo distinção para
efeito de responsabilidade entre a empresa e seu único sócio.

25
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Tratando-se de empresário individual, não é possível separar sua firma de


sua pessoa civil, para fins de responsabilidade patrimonial.

Contudo, com a edição da Lei n◦ 12.441/2011, passou a ser permitida a


criação da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI), a qual
autoriza a uma única pessoa física ser titular de todo o capital, devidamente
integralizado.

Esse capital não poderá ser inferior a cem vezes o valor do maior salário
mínimo vigente no país, sendo que a quantia deve estar disponível em dinheiro,
bens ou direitos.

A nova modalidade jurídica restringe a responsabilidade do empresário


individual ao capital da empresa, não comprometendo a totalidade de seu
patrimônio pessoal.

3.4.3.6 Perda da qualidade de empresário individual


Em várias situações pode cessar a qualidade de empresário singular:

1 Pela morte.

2 Pela desistência voluntária ou abandono da profissão.

3 Pela falência.

A morte, além de simbolizar o fim da vida da pessoa humana, para fins


de direito também causa a extinção do empresário individual, tendo em vista que
não pode haver a transferência de sua qualidade para seus herdeiros.

Por sua vez, a desistência voluntária ou abandono da profissão é causa


de extinção da qualidade de empresário individual, justamente porque a
própria pessoa física do empresário é a força motriz que impulsiona a atividade
empresarial.

Por fim, a falência é uma das formas de extinção, a qual será objeto de
estudo no final desta unidade, precisamente no Tópico 6.

26
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, a respeito do Direito Empresarial, você viu que:

 Como advento do Novo Código Civil brasileiro, não se fala mais em “Direito
Comercial”, mas, sim, em “Direito Empresarial”, sendo este um conjunto de
normas referentes à pessoa do empresário, seja ele individual ou coletivo.

Para
 que a pessoa possa ser empresário, deve possuir capacidade civil e não
estar legalmente impedida. Além do mais, a fim de caracterizar o empresário,
há a necessidade de preenchimento de quatro condições básicas, tais como: o
exercício de atividade econômica, atividade organizada, o profissionalismo e a
finalidade lucratividade.

27
AUTOATIVIDADE

Para melhor fixação do que estudamos neste tópico, classifique V para as


sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Para ser empresário, não é necessária a inscrição na Junta Comercial.


( ) Existem limitações ao exercício da atividade empresarial.
( ) A firma é o nome pelo qual o empresário individual será conhecido.
( ) O patrimônio do empresário individual não responde por dívidas da
empresa.
( ) Uma das condições para a caracterização do empresário é o profissionalismo.
( ) O lucro é o principal objetivo da atividade empresarial.
( ) A morte do empresário individual não significa a perda de sua qualidade
de empresário individual.
( ) O empresário individual poderá acrescentar à sua firma uma designação,
caso já exista firma igual registrada.
( ) Para que uma pessoa possa ser empresária, ela deve ter capacidade civil e
não estar legalmente impedida de exercer esta atividade.
( ) O juiz de Direito pode ser empresário.
( ) A firma deve coincidir com o nome civil do empresário individual.
( ) No requerimento a ser encaminhado à Junta Comercial para o registro
da firma individual não é necessário estar apontado o valor do capital da
empresa.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V – F – V – V – F – V – V – F – V – F .
b) ( ) F – V – F – V – F – F – F – V – V – F – V – F.
c) ( ) V – V – V – V – F – F – F – F – F – V – F – F .
d) ( ) F – F –F – F – V – V – V – F – F – F – V – V.

28
UNIDADE 1
TÓPICO 3

DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

1 INTRODUÇÃO
Este tópico é dedicado às sociedades empresariais, que nascem do esforço
de várias pessoas em nome de um objetivo comum, o lucro. Iniciaremos pelo
conceito legal deste tipo de sociedade.

Também estudaremos como são celebrados os contratos de sociedade e os


requisitos do contrato social, assim como o requisito essencial para que ganhe a
personalidade jurídica.

Vamos aos estudos!

2 CONCEITO
Sobre as sociedades empresariais, determina o artigo 981 do Código Civil:
Celebram contrato de sociedade as pessoas que, reciprocamente, se
obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si, dos resultados. (BRASIL, 2013).

Da leitura deste dispositivo legal podemos afirmar que uma sociedade


empresarial se forma quando duas ou mais pessoas se reúnem com o propósito
de combinarem esforços e bens, objetivando repartir entre si os proveitos obtidos.
Para alcançarem seus objetivos, exercem atividade de natureza econômica,
voltada para a produção e circulação de bens ou para a prestação de serviços.

Para uma sociedade ganhar personalidade jurídica é necessária a


inscrição de seu contrato ou estatuto social (ato constitutivo) no registro que lhe
é peculiar.

Todas as sociedades que possuem seu ato constitutivo inscrito no órgão


competente são reconhecidas pelo ordenamento jurídico como sujeitos de direito e
equiparadas às pessoas físicas.

29
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

3 CONSTITUIÇÃO DE UMA SOCIEDADE


Uma sociedade, na forma empresarial ou simples, é constituída mediante
contrato social.

E
IMPORTANT

Prezado(a) acadêmico(a)! Segundo o artigo 997 do Código Civil:

“A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público. [...]”. (BRASIL, 2013).

O contrato social, por sua vez, deve conter, necessariamente, as seguintes


cláusulas:

I – nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios,


se pessoas naturais, e a firma ou denominação, nacionalidade e sede
dos sócios, se jurídicas;

II – denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

III – capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo


compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação
pecuniária;

IV – quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V – prestações a que se obriga o sócio cuja contribuição consista em


serviços;

VI – pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, bem


como seus poderes e atribuições;

VII – a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII – se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas


obrigações sociais.
(BRASIL, 2013).

A sociedade somente adquire personalidade jurídica (sujeito de direitos)


quando seu contrato social estiver arquivado nos registros próprios.

30
TÓPICO 3 | DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

4 DISTINÇÃO ENTRE SOCIEDADE E ASSOCIAÇÃO


Uma sociedade empresária é formada por duas ou mais pessoas, que se
comprometem a juntar capital ou trabalho para a realização de um fim lucrativo.
Seu objetivo é, portanto, econômico. Por outro lado, a lei prevê também a sociedade
sem fins lucrativos ou econômicos. São as chamadas associações.

E
IMPORTANT

Conforme o artigo 53 do Código Civil:

Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não
econômicos. (BRASIL, 2013).

Mesmo não tendo finalidade lucrativa, nada impede que uma associação
de caráter cultural, ou altruísta, mantenha uma atividade econômica apenas para
sobreviver.

A questão está na destinação dos lucros, ou seja, na associação os lucros


são destinados à consecução dos objetivos ideais dos associados. Na sociedade
empresária, por sua vez, os lucros são repartidos entre os sócios.

A sociedade, assim como a associação, tem início com a inscrição dos


seus atos constitutivos no órgão correspondente.

5 SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS


Aquelas sociedades que não possuem seu contrato inscrito (depositado)
no Registro Público competente são chamadas de não personificadas. São
exemplos: as sociedades em comum ou por conta de participação que, por
consequência, não são pessoas jurídicas.

Essa publicidade decorrente da sua inscrição no órgão competente é para


que terceiros tomem conhecimento de sua existência, do grau de responsabilidade
dos sócios e do conteúdo do seu contrato social.

31
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

E
IMPORTANT

Por isso, o art. 987 do Código Civil determina: “Os sócios, nas relações entre
si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a existência da sociedade, mas os
terceiros podem prová-la de qualquer modo”. (BRASIL, 2013).

Além disso, as sociedades não personificadas estão impossibilitadas de


participar de licitações, nas modalidades de concorrência pública (Lei nº 8.666/93).
E mais: não é permitido a ela contratar com o poder público (CF, art.195, & 3º),
abrir conta bancária, ter patrimônio em seu nome etc.

5.1 ESPÉCIES DE SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS


São duas as espécies de sociedades não personalizadas:

● Sociedade em comum: é a sociedade irregular ou de fato, cuja principal


consequência de sua existência é a responsabilidade ilimitada das pessoas
físicas/jurídicas dos sócios pelas obrigações sociais, sendo que os bens e dívidas
sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em
comum. Além do mais, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente
pelas obrigações sociais.

● Sociedade em conta de participação: numa sociedade em conta de participação,


conforme artigo 990 do Código Civil, sua constituição independe de qualquer
formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito, sem contar que
o contrato social produz efeito somente entre os sócios e a eventual inscrição
de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à
sociedade.

A sociedade em conta de participação constitui-se de duas ou mais


pessoas, uma delas, necessariamente, em cujo nome girarão os negócios, também
denominada de sócio ostensivo, que aparece perante terceiros como empresário.
O outro sócio é o oculto, que não aparece nem trata com terceiros. Toda a
responsabilidade pelos negócios é do sócio ostensivo.

32
TÓPICO 3 | DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

E
IMPORTANT

Como determina o artigo 991 do Código Civil: na sociedade em conta de


participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio
ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando
os demais dos resultados correspondentes.
(BRASIL, 2013).

“A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e


a liquidação da respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário”.
(BRASIL, 2013).

6 SOCIEDADES PERSONIFICADAS
O surgimento das primeiras sociedades foi em decorrência da evolução
histórica do empresário individual, tendo em vista a necessidade do agrupamento
de comerciantes com a finalidade de enfrentar a concorrência.

Com a evolução dos conceitos, as sociedades passaram também a adquirir


personalidade jurídica, pelo registro do seu ato constitutivo (contrato social) no
órgão público competente, sendo, portanto, um sujeito de direito.

As sociedades que possuem seu ato constitutivo devidamente inscrito no


órgão competente são chamadas de sociedades personificadas.

Há duas espécies de sociedades personificadas:

1 A sociedade simples.

2 A sociedade empresária.

6.1 SOCIEDADE SIMPLES


O art. 982 do Código Civil Brasileiro faz a delimitação entre as sociedades
empresárias e as sociedades simples: salvo as exceções expressas, considera-se
empresária a sociedade que tem por objetivo o exercício de atividade própria
de empresário sujeita a registro (art. 967); e, simples, as demais. (BRASIL, 2013).

Portando, a sociedade empresária é a pessoa jurídica que exerce,


profissionalmente, atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens ou de serviços. Porém, deve, antes do início de sua atividade, ter
obrigatoriamente inscrito seus atos constitutivos no Registro Público competente.

33
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Já as sociedades simples não são estruturadas empresarialmente e


decorrem das antigas sociedades civis que visam ao lucro.

Sobre as sociedades simples, assim explica Fiúza (2004, p. 888):

A sociedade simples é aquela constituída para o exercício de atividades


que não sejam estritamente empresariais, como ocorre nos casos das
atividades rurais, educacionais, médicas ou hospitalares, de exercício
de profissões liberais nas áreas de engenharia, arquitetura, ciências
contábeis, consultoria, auditoria, pesquisa científica, artes, esportes e
serviço social.

Inclusive, de acordo com o que determina o artigo 1150 do Código Civil,


o registro da sociedade simples é efetuado em lugar diverso das sociedades
empresariais. Ou seja, perante o Registro Civil das Pessoas Jurídicas:

O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro


Público de Empresas Mercantis, a cargo das Juntas Comerciais, e a
sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual
deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade
simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. (BRASIL, 2013).

É importante salientar que também são exemplos de sociedades simples


as cooperativas, conforme determina o artigo 982 do Código Civil.

6.2 SOCIEDADE EMPRESÁRIA


Sociedade empresária é a pessoa jurídica que exerce, profissionalmente,
atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de
serviços.

Há vários tipos de sociedade empresária a serem escolhidos pelos sócios,


dentro de suas adequações e objetivos.

1 Da sociedade em nome coletivo.

2 Da sociedade em comandita simples.

3 Da sociedade limitada.

4 Da sociedade anônima.

5 Da sociedade em comandita por ações.

Veja a figura a seguir.

34
TÓPICO 3 | DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

FIGURA 3 - TIPOS DE SOCIEDADES EMPRESARIAIS

FONTE: O autor

6.3 CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES QUANTO À


RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS
Quanto ao critério da classificação dos sócios em face à sua responsabilidade
perante a sociedade empresária, estas recebem a seguinte classificação:

● Sociedade ilimitada: quando os sócios respondem ilimitadamente pelas


obrigações sociais. Significa que, se o patrimônio social não for suficiente para
o pagamento dos credores da sociedade, o saldo poderá ser exigido dos sócios,
nos seus patrimônios particulares.

● Sociedade mista: é aquela em que uma parte dos sócios tem responsabilidade
limitada e outra tem responsabilidade ilimitada.

● Sociedade limitada: todos os sócios têm responsabilidade limitada ao capital


social integralizado na sociedade, não respondendo com seus patrimônios
particulares pelas obrigações sociais.

Estes tipos de sociedade, quanto à responsabilidade dos sócios, podem


ser assim subdivididas:

1 Sociedade Ilimitada: sociedade em nome coletivo.

35
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

2 Sociedade Mista: a) sociedade em comandita simples.


b) sociedade em comandita por ações.

3 Sociedade Limitada: a) Sociedade limitada.


b) Sociedade anônima.

E
IMPORTANT

Dentre essas sociedades, são importantes apenas: a sociedade limitada, em


primeiro plano, e a sociedade anônima, em segundo. Conforme observa Borba (1997, p. 62):

As demais praticamente inexistem, pois, envolvendo a responsabilidade


ilimitada de todos ou de alguns sócios, perderam a preferência do meio
comercial. [...] Assim, as que existiam foram transformadas, e novas não
se constituíram. Restam pouquíssimas, sendo sempre citada, como
exemplo remanescente de sociedade em nome coletivo, “Klabin Irmãos
& Cia”, mantida como tal por apreço à tradição.

6.4 SOCIEDADE EM NOME COLETIVO


A sociedade em nome coletivo é o tipo societário em que todos os sócios
têm obrigações ilimitadas, respondendo particularmente com seus bens pelos
compromissos sociais. Porém, é importante frisar que esta responsabilidade é
subsidiária, uma vez que os bens pessoais dos sócios somente serão utilizados
para pagamento de dívidas quando inexistirem bens suficientes da própria
sociedade.

UNI

É o que diz o art. 1.024 do Código Civil: “Os bens particulares dos sócios não
podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens
sociais”. (BRASIL, 2013).

Além do mais, somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade


em nome coletivo.

36
TÓPICO 3 | DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

6.5 SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES


Numa sociedade em comandita simples há duas categorias de sócios: os
comanditados, que são pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente
com seus patrimônios particulares pelas obrigações sociais, de forma subsidiária;
e os comanditários, obrigados somente pelo valor de suas quotas, devendo o
contrato social discriminar a qual categoria os sócios pertencem.

Os sócios comanditados são os administradores da sociedade e somente


eles podem usar a firma ou a razão social, integrando inclusive o seu nome na firma
da sociedade. Desse modo, a firma ou a razão social será composta do nome, por
extenso ou abreviadamente, de um, alguns ou de todos os sócios comanditados.

Ao sócio comanditário, por sua vez, é vedado utilizar o seu nome na


razão social ou até mesmo praticar qualquer ato de gestão interna ou externa da
sociedade, sob pena deste assumir responsabilidade solidária e ilimitada.

UNI

Os comanditários limitam-se ao direito de fiscalizar os negócios sociais. Diz o


art. 1021 do C.C.: Salvo estipulação que determine época própria, o sócio pode, a qualquer
tempo, examinar os livros e documentos, e o estado da caixa e da carteira da sociedade.
(BRASIL, 2013).

6.6 SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES


De acordo com o artigo 1.090 do Código Civil: A sociedade em comandita
por ações tem o capital dividido por ações, regendo-se pelas normas relativas à
sociedade anônima, sem prejuízo das modificações constantes deste Capítulo, e
opera sob firma ou denominação. (BRASIL, 2013).

Neste tipo de sociedade há duas categorias de sócios:

a) Diretores: que têm responsabilidade subsidiária e ilimitada pelas obrigações


sociais.

b) Acionistas: que respondem apenas pelo valor das ações subscritas ou


adquiridas.

Portanto, a sociedade possui sócios de responsabilidade limitada e de


responsabilidade ilimitada.

37
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar


denominações designativas do objeto social, aditada da expressão “comandita
por ações”. Esta sociedade não tem conselho de administração, mas precisa ter
assembleia geral e conselho fiscal.

Por fim, a assembleia geral não pode, sem o consentimento dos


diretores, mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de
duração, aumentar ou diminuir o capital social, criar debêntures ou partes
beneficiárias.
FONTE: Disponível em: <www.procon.sp.gov.br/texto.asp?id=671>. Acesso em: 26 fev. 2013.

6.7 DA SOCIEDADE COOPERATIVA


As sociedades cooperativas são criadas para a prestação de serviços aos
seus associados, sendo esta sua característica básica.

Bulgarelli (2000, p. 34) afirma sobre o propósito básico da cooperativa o


seguinte:

Encontra-se e se exprime na formação de uma empresa comum,


formada pelos que têm as mesmas necessidades, empresa, essa,
capaz de atendê-los proporcionalmente. [...] Sociologicamente (a
cooperativa), adotou como fundamento a lei da cooperação, e não a
da concorrência; economicamente, tem como finalidade a melhoria das
condições econômicas através da criação de uma empresa de interesse
comum, destinada a prestar serviços a seus associados, afastando os
intermediários, que encarecem indevidamente os custos.

Atua, assim, a cooperativa no mercado, eliminando intermediários e


obtendo, em razão disto, maiores vantagens patrimoniais. É próprio destas
sociedades realizarem negócios, embora em seu nome, para o sócio, a quem
irão defluir os resultados positivos, chamados de “sobras”.
FONTE: Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/.../djsp-judicial-1a-instancia-capital-04-07-201...>.
Acesso em: 26 fev. 2013.

Em apoio a este entendimento, explica Ricardo Mariz de Oliveira (1996,


p. 65) que “(as cooperativas) existem para trabalhar por seus associados, e, por
isto mesmo, os lucros que são gerados por seu intermédio não lhes pertencem,
nem originalmente, porque originalmente eles já se destinam aos que atuam em
atividades econômicas de forma cooperada”.

Desta feita, a Lei nº 5.764, de 16.11.1971, que é a lei federal que trata
especialmente das sociedades cooperativas, adotou os princípios doutrinários
do cooperativismo, aprovados em 1966, pelo Congresso de Viena. Ou seja,

38
TÓPICO 3 | DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

adesão livre, gestão democrática, retorno dos excedentes aos associados


proporcionalmente às operações realizadas junto à cooperativa, juros limitados
sobre o capital e desenvolvimento da educação cooperativa.

Reconheceu, outrossim, o princípio da cooperação e a finalidade não


lucrativa da sociedade.

O capital é ilimitado e variável, em conformidade com o número de


associados que entrem ou saiam. Há impossibilidade do ingresso na cooperativa
de quem opere no mesmo campo econômico (art. 29, § 4º da Lei Cooperativista).

O retorno das sobras na proporção às operações realizadas (o que implica


rigoroso controle dessas operações), a igualdade de direitos entre os associados
(arts. 37, 38, § 3º e 42) e a impossibilidade de distribuição de qualquer espécie
de benefício às quotas-partes do capital, ou estabelecer outras vantagens ou
privilégios, financeiros ou não, em favor de quaisquer associados ou terceiros,
impossibilita que se utilize a cooperativa como fachada para evasão fiscal.

FONTE: Adaptado de: <https://www.plenum.com.br/plenum_jp/lpext.dll/.../14bb?...>. Acesso


em: 26 fev. 2013.

O retorno das sobras líquidas é atribuído, em proporção, às operações


que o associado tiver efetuado com a sociedade e não em função do valor ou
quantidade das quotas que possuir. Isto quer dizer que, como regra, o produto
econômico do trabalho dos associados a eles retorna (deduzidos, por exemplo, os
custos da cooperativa).

FONTE: Disponível em: <www.iob.com.br/bibliotecadigitalderevistas/bdr.dll?f...>. Acesso em: 26


fev. 2013

Aqui temos importante aspecto a diferenciar as cooperativas de outras


sociedades que costumam remunerar os sócios, de acordo com sua participação
no capital. Por isso é que o associado não passa a usufruir de qualquer vantagem
diretamente pelo fato de possuir quotas-partes. Estas servem, basicamente, para
injetar capital social que possibilite o funcionamento da cooperativa. O associado
não passa a exercer qualquer outro direito pelo fato de ser quotista.

6.8 DA SOCIEDADE LIMITADA


A sociedade limitada surgiu tendo como garantia aos sócios a não afetação
de seu patrimônio particular pelas dívidas da sociedade, salvo se o sócio praticou
ato com excesso de poderes ou infração da lei, do contrato social ou estatutos.

39
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

A lei exige que os sócios-quotistas apenas integralizem o capital social.


É o que determina o art. 1.052 do Código Civil: Na sociedade limitada,
a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social. (BRASIL, 2013).

Assim, uma vez integralizado o capital social, cessa a responsabilidade


dos sócios, e os seus bens particulares não respondem pelas obrigações sociais.

Contudo, se não houver a integralização do total do capital social, previsto


no contrato social, a responsabilidade entre os sócios será solidária até que seja
completado o montante do capital que falta, mesmo que um deles já tenha
completado a sua parte no capital.

6.8.1 Constituição da sociedade


A sociedade poderá ser constituída através de instrumento particular
ou por instrumento público, sendo que em qualquer hipótese será inscrito
(depositado) no “registro público competente”, dentro dos 30 dias subsequentes
à sua constituição.

No caso do socioquotista não integralizar a sua parte no capital social,


os outros sócios podem tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o
primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros de
mora, as prestações estabelecidas no contrato e as despesas.

6.8.2 Formação do seu nome social


A sociedade pode adotar tanto firma social ou denominação. Ambas
devem sempre ser seguidas da palavra Limitada, que pode ser usada
abreviadamente: Ltda. (C.C., art. 1.158). A omissão da palavra Limitada determina
a responsabilidade solidária e ilimitada.

a) Firma ou razão social: conforme o § 1º do art. 1.158 do Código Civil: A firma


será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas,
de modo indicativo da relação social. (BRASIL, 2013).

Deverá ser acrescida da palavra LTDA, ou Limitada. Sempre que se


omitir o nome de pelo menos um deles, acrescentam-se as palavras & Cia. Ltda.
Por exemplo, se José dos Anzóis e Ambrósio de Abreu constituem uma sociedade
limitada, esta poderá ter como nome empresarial: José dos Anzóis & Cia. Ltda.,
ou Anzóis & Abreu Ltda.

Caso ocorra o falecimento, exclusão ou retirada do sócio que emprestou


seu nome para a formação do nome social, deverá ser procedida uma alteração do

40
TÓPICO 3 | DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

contrato social. Uma vez que, de acordo com o art. 1.165 do Código Civil: o nome
de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado
na firma social. (BRASIL, 2013).

b) Denominação: pode ser composta por uma expressão fantasia, sendo permitido
nela figurar o nome de um ou mais sócios. Deve designar o objeto da sociedade.
Seu nome deve sempre ser acrescido da palavra limitada. Por exemplo: Anzóis
Oficina Mecânica Ltda.

6.8.3 Da administração
O contrato social deve determinar quem possui os poderes de
representação da sociedade, ou seja, o administrador. Terceiros, não sócios,
podem ser administradores da sociedade, como acontece nas sociedades
anônimas, desde que o contrato permita e haja a aprovação unânime dos sócios.

E
IMPORTANT

Dispõe o art. 1.061 do Código Civil que:

se o contrato permitir administradores não sócios, a designação deles


dependerá da aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o
capital não estiver integralizado, e de dois terços, no mínimo, após a
integralização. (BRASIL, 2013).

Importante salientar que, havendo excesso de mandato ou atos praticados


com violação do contrato ou da lei, o sócio-gerente responde, perante a sociedade
e perante terceiros, limitadamente, com os seus bens particulares.

6.8.4 Das quotas e sua transferência


Numa sociedade limitada, o capital social divide-se em: quotas, iguais ou
desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.

Em caso de omissão do contrato, segundo o artigo 1.057 do Código Civil


Brasileiro, um dos sócios pode ceder suas quotas a terceiros, sem a anuência dos
demais sócios, desde que não haja oposição de titulares de mais de um quarto do
capital social.

41
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

6.8.5 Conselho fiscal


O contrato social ou o estatuto social pode instituir conselho fiscal composto
de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no
país, eleitos na assembleia anual. Os sócios minoritários que representarem um
quinto do capital social poderão indicar pelo menos um membro do conselho
fiscal.

A função deste órgão social, além daquelas estipuladas no próprio


contrato social, é a de fiscalizar a atuação dos administradores da sociedade,
exigindo destes a prestação de informações, além do exame de livros e papéis da
sociedade.

6.9 DA SOCIEDADE ANÔNIMA


As sociedades anônimas ou companhias são uma espécie de sociedade
empresarial, reguladas por lei especial, qual seja, a Lei nº 6.404/1976. São
formadas, a maior parte das vezes, com o objetivo de realização de grandes
empreendimentos e que necessitam do emprego de elevado valor para a
formação de seu capital social, o que geralmente necessita da participação de
muitas pessoas, os chamados acionistas.

TUROS
ESTUDOS FU

Prezado(a) acadêmico(a)! Tendo em vista a grande importância que o tema


Sociedade Anônima possui no Direito Empresarial, vamos abordá-lo com profundidade no
Tópico 4.

42
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico apresentamos conceitos de sociedades não personificadas
e personificadas.

• Aprendemos que as sociedades não personificadas são aquelas que não


possuem seus atos constitutivos (contrato social) depositados (inscritos) no
registro público competente. Temos como exemplos as sociedades em comum
ou por conta de participação, que, por consequência, não são pessoas jurídicas.

• Por sua vez, as sociedades personificadas são aquelas que estão legalmente
constituídas. São exemplos: a sociedade em nome coletivo, a sociedade em
comandita simples, a sociedade limitada, a sociedade anônima, a sociedade
em comandita por ações e as sociedades cooperativas.

43
AUTOATIVIDADE

Responda às questões:

1 Sobre a Sociedade Empresária, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se


obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de atividade
econômica e a partilha entre si dos resultados.
b) ( ) Celebram contrato de sociedade somente as pessoas físicas.
c) ( ) Numa sociedade empresária de responsabilidade ilimitada, o capital
social é dividido em ações.
d) ( ) A sociedade empresária é formada por uma pessoa, que se compromete
a juntar capital ou trabalho para a realização de um fim lucrativo.

2 Sobre as Sociedades Empresariais, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Aquelas sociedades que não possuem seu contrato inscrito (registrado


e arquivado) no registro público competente são chamadas de não
personificadas.
b) ( ) A sociedade anônima é a sociedade irregular ou de fato, cuja principal
consequência de sua existência é a responsabilidade ilimitada das pessoas
físicas/jurídicas dos sócios pelas obrigações sociais, sendo que os bens
e dívidas sociais constituem patrimônio especial do qual os sócios são
titulares em comum. Além do mais, todos os sócios respondem solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais.
c) ( ) Numa sociedade em comandita por ações, sua constituição independe
de qualquer formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito,
sem contar que o contrato social produz efeito somente entre os sócios, e
a eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere
personalidade jurídica à sociedade.
d) ( ) As sociedades anônimas não são estruturadas empresarialmente, e
decorrem das antigas sociedades civis que visam ao lucro.

3 Quanto ao critério da classificação dos sócios em face da sua responsabilidade


perante a sociedade empresária, assinale as alternativas CORRETAS:

a) ( ) Sociedade mista: todos os sócios têm responsabilidade limitada ao capital


social integralizado na sociedade, não respondendo com seus patrimônios
particulares pelas obrigações sociais.
b) ( ) Sociedade ilimitada: quando os sócios respondem ilimitadamente pelas
obrigações sociais. Significa que, se o patrimônio social não for suficiente
para o pagamento dos credores da sociedade, o saldo poderá ser exigido
dos sócios, nos seus patrimônios particulares.

44
c) ( ) Sociedade mista: é aquela em que parte dos sócios tem responsabilidade
limitada e outra tem responsabilidade ilimitada.
d) ( ) Sociedade limitada: todos os sócios têm responsabilidade limitada ao
capital social integralizado na sociedade, não respondendo com seus
patrimônios particulares pelas obrigações sociais.

4 Com relação às regras que disciplinam a situação do socioquotista da


sociedade limitada, assinale a alternativa CORRETA.

a) ( ) Todos os sócios têm responsabilidade limitada ao capital social


integralizado na sociedade, não respondendo com seus patrimônios
particulares pelas obrigações sociais.
b) ( ) As quotas podem ser integralizadas pelos sócios por valores
representados em dinheiro, bens ou prestação de serviços,
respondendo solidariamente todos os sócios pela exata estimação
dessas contribuições.
c) ( ) Mesmo sendo integralizado o capital social, a responsabilidade dos
sócios e os seus bens particulares continuam respondendo pelas obrigações
sociais.
d) ( ) As quotas representam a necessária divisão do capital social em partes
iguais, sendo as deliberações consideradas de acordo com o número de
quotas de cada sócio.

45
46
UNIDADE 1
TÓPICO 4

DA SOCIEDADE ANÔNIMA

1 INTRODUÇÃO
A sociedade anônima ou companhia é uma sociedade de capitais, regida
por um “estatuto social”. É regulada por lei especial, qual seja, a Lei nº 6.404, de
15 de dezembro de 1976, com as alterações sofridas pela Lei nº 9.457, de 5 de maio
de 1997 e Lei nº 10.303, de 31 de outubro de 2001.

O próprio Código Civil de 2002, em seu artigo 1.089, determina que a


sociedade anônima seja regida por lei especial, aplicando-se somente nos casos
omissos as disposições do código.

2 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS
A sociedade anônima caracteriza-se por:

1 Divisão do capital social em ações.

2 Limitação da responsabilidade dos acionistas ao valor das ações subscritas ou


adquiridas.

3 Livre acessibilidade das ações.

2.1 DO CAPITAL SOCIAL


A sociedade anônima tem o seu capital dividido em parcelas iguais, a que
se convencionou chamar de ações, obrigando-se, cada sócio ou acionista, somente
pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir.

É importante salientar que a cessão ou transferência das ações ao


novo acionista não afeta a estrutura da sociedade. Por serem ações livremente
negociáveis (característica básica), nenhum dos acionistas pode impedir o ingresso
de quem quer que seja no quadro associativo de uma sociedade anônima aberta.
As sociedades anônimas de capital fechado já possuem outra dinâmica.

47
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

2.2 RESPONSABILIDADE DOS ACIONISTAS


Pago o valor da subscrição, termina a responsabilidade do acionista.

UNI

Lembremos que:
- Subscrição é uma promessa de compra de ações.
- Integralização é o pagamento da subscrição.

A garantia de terceiros, de credores da sociedade, estará, então,


unicamente no capital social. É por isso que a companhia é eminentemente de
capital, justamente porque vive em torno dele.

Vale salientar que, enquanto na sociedade limitada a responsabilidade do


sócio é considerada em função do valor de sua cota no capital social, na sociedade
anônima a responsabilidade não se limita ao valor de mercado das ações subscritas
ou adquiridas (cotação em bolsa de valores), mas, sim, ao preço de sua emissão.

3 OBJETO SOCIAL
A sociedade anônima tem o seu objeto social determinado no seu estatuto
social, sendo que este deve ter um fim lucrativo, desde que não seja contrário
à lei e à ordem pública. Por isso, a sociedade anônima é sempre empresária,
independentemente de seu objeto.

4 NOME EMPRESARIAL
Toda sociedade anônima deve adotar um nome sob o qual exerce sua
atividade comercial. A denominação pode conter nomes de pessoas, como o do
fundador, ou de quem tenha auxiliado para o êxito da sociedade.

UNI

Vejamos o artigo 3º da Lei nº 6.404: A sociedade será designada por


denominação acompanhada das expressões ‘companhia’ ou sociedade anônima’, expressas
por extenso ou abreviadamente, mas vedada a utilização da primeira ao final. (BRASIL, 2013).

48
TÓPICO 4 | DA SOCIEDADE ANÔNIMA

Por exemplo: Casa José dos Anzóis S/A, Anzóis Cia. de Seguros ou, ainda,
Cia. Rhodia do Brasil.

A proibição do uso da palavra companhia no final da denominação visa


evitar qualquer confusão com a firma ou razão social da “sociedade em nome
coletivo”.

Por fim, a lei não permite usar ao mesmo tempo as expressões companhia
e sociedade anônima no seu nome social.

5 ESPÉCIES DE SOCIEDADE ANÔNIMA


Há duas espécies de sociedade anônima:

a) A companhia aberta.
b) A companhia fechada.

A companhia aberta é aquela que capta recursos junto ao público, tendo


seus valores mobiliários ou ações negociados em bolsa de valores.

UNI

Diz a Lei nº 6.404/76, art. 4º: Para os efeitos desta lei, a companhia é aberta
ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à
negociação no mercado de valores mobiliários. (BRASIL, 2013).

Contudo, para que uma sociedade anônima tenha suas ações ou valores
mobiliários de sua emissão admitidos na Bolsa de Valores ou no mercado de
valores mobiliários, é necessário que ela obtenha do Governo Federal a devida
autorização, qual seja, da Comissão de Valores Mobiliários.

A aberta ao público tem livre acessibilidade de suas ações. Tem as suas


ações negociadas no mercado de valores mobiliários, por intermédio das Bolsas
de Valores.

A fechada, por sua vez, não tem suas ações negociadas no referido
mercado de valores mobiliários, ou não as coloca à venda ao público.

49
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

E
IMPORTANT

Vejamos o que determina o art. 36 da Lei nº 6.404: O estatuto da companhia


fechada pode impor limitações à circulação das ações nominativas, contanto que regule
minuciosamente tais limitações.

6 OS VALORES MOBILIÁRIOS
Há, portanto, duas espécies de sociedade anônima: a companhia aberta e
a companhia fechada. Somente a aberta é que procura captar recursos financeiros
no mercado pela emissão de papéis. Estes representam valores mobiliários. São
eles: as ações, partes beneficiárias, debêntures, ou bônus de subscrição, e as notas
promissórias.

7 AÇÕES
O capital social de uma sociedade anônima é formado pelas ações. Quem
as adquire passa a ser sócio da sociedade. O preço de emissão das ações não se
confunde com o valor nominal ou de mercado.

As ações são representadas por documentos que têm a natureza de títulos


de crédito. Como títulos de crédito, elas podem ser negociadas e transferidas,
sem que isso venha a modificar o ato constitutivo ou a organização da sociedade.

Formou-se, então, um verdadeiro mercado concernente, principalmente


às ações. É o denominado mercado de capitais ou mobiliários. Ou seja, um
mercado especial em que são realizados contratos de compra e venda de ações,
debêntures e demais valores emitidos pelas companhias, realizado geralmente por
intermédio das Bolsas de Valores, que é uma pessoa jurídica de direito privado,
constituída por diversas sociedades corretoras e que tem por objeto manter um
local de encontro adequado para os negócios de seus associados. A sua principal
finalidade é negociar os títulos emitidos pelas sociedades anônimas abertas.

50
TÓPICO 4 | DA SOCIEDADE ANÔNIMA

8 ESPÉCIES DE AÇÕES
As ações se apresentam sob diversas categorias e, de acordo com a lei,
podem ser assim classificadas:

1 Quanto às vantagens oferecidas ao seu titular.

2 Quanto à forma de sua circulação.

8.1 QUANTO ÀS VANTAGENS QUE AS AÇÕES


CONFEREM AOS SEUS TITULARES
Quanto às vantagens que as ações conferem a seus titulares, elas podem
ser de três espécies: ordinárias, preferenciais e de fruição.

8.1.1 Ações ordinárias


As ações ordinárias são aquelas que conferem ao titular os direitos de
participar nos dividendos e de participar das assembleias de uma companhia
aberta, deliberando a respeito da vida societária por intermédio de seu voto. Tem
ele, pois, o direito de votar e ser votado para eleger ou se eleger presidente, vice-
presidente, um dos diretores ou a outro cargo qualquer.

Não é demais lembrar que, em regra, cada ação dá direito a um voto. Se


o acionista for titular de 100 ações ordinárias, por exemplo, terá ele 100 votos nas
assembleias, deliberando a respeito da vida da sociedade. Vale dizer, os votos
não são tomados pelo número de pessoas, mas pelo número de ações.

8.1.2 Ações preferenciais


As ações preferenciais são aquelas que atribuem ao titular determinados
privilégios ou preferências. Esses privilégios podem, por exemplo, consistir
na prioridade, na distribuição dos lucros ou dividendos da sociedade ou no
reembolso do capital quando a sociedade tiver de ser liquidada.

As ações preferenciais podem ou não conferir o direito de voto aos seus


titulares. A ação preferencial só dará direito de voto se o estatuto assim o dispuser.
Basta a omissão no Estatuto para que cada ação corresponda a um voto.

O número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas à


restrição no exercício desse direito, não pode ultrapassar 50% do total das
ações emitidas. É o que prescreve a Lei de Sociedade Anônima nº § 2, do art. 15.
(BRASIL, 2013).

51
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Se a sociedade prevê expressamente no estatuto o não direito de voto,


o titular das ações preferenciais poderá adquirir: o exercício desse direito se a
companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a 3 (três) exercícios
consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou mínimos a que fizerem jus,
direito que conservarão até o pagamento [...], conforme determina o § 1º do art.
111 da Lei de Sociedade Anônima. Essa tomada de posição do nosso legislador é
para evitar abusos por parte dos administradores da sociedade.

8.1.3 Ações de fruição


As ações de fruição são aquelas emitidas em substituição às ações
ordinárias ou preferenciais que tiverem sido totalmente amortizadas pela
sociedade. Melhor explicando, quando uma sociedade anônima vai entrar em
liquidação, ela antecipa aos acionistas as importâncias do valor das ações.

Uma vez pagas as importâncias das ações, em seu lugar a sociedade poderá
distribuir aos sócios outras espécies, denominadas ações de fruição, de posse das
quais os acionistas continuarão a ter os seus direitos na sociedade, fazendo jus
aos dividendos e tomando parte nas deliberações sociais se, neste último caso, as
ações substituídas lhe derem direito a voto.

Evidentemente, por ocasião da liquidação da sociedade, os acionistas


não mais receberão as importâncias correspondentes ao valor das ações. Essas já
foram pagas antecipadamente, por ocasião da amortização. Trata-se, portanto, de
uma operação excepcional.

8.2 QUANTO À FORMA DE SUA CIRCULAÇÃO


Era a classificação utilizada anteriormente à Lei nº 8.021/1990, que
extinguiu as ações ao portador e as endossáveis, criando as ações nominativas e
escriturais.

São nominativas as ações registradas em um livro da sociedade emissora,


denominado “Registro de Ações Nominativas”. Tais ações só podem ser
transferidas por meio de um termo de cessão no referido livro, ocasião em que
haverá a assinatura do cedente e do cessionário.

Portanto, as nominativas circulam mediante registro no livro próprio


da companhia, diferentemente das ações escriturais, que são representadas por
certificados.

52
TÓPICO 4 | DA SOCIEDADE ANÔNIMA

8.3 DEBÊNTURES
Quando uma companhia necessita de empréstimo, talvez para
desenvolver-se, e não deseja um empréstimo bancário, pratica a emissão de títulos
negociáveis, as debêntures, colocando-as em circulação à disposição do público.
Quem as adquire passa a ser credor da sociedade. Caso esta deixe de pagá-las, o
credor poderá propor ação de execução com base nesse título.

Para a companhia poder negociar no mercado, as debêntures podem ter


garantia real, conter cláusula de correção monetária com base nos coeficientes
fixados para correção de título de dívida pública, participação nos lucros da
companhia, render juros fixos ou variáveis de reembolso.

As debêntures podem ser convertidas em ações. Assim, há duas espécies


de debêntures: as debêntures simples e as debêntures conversíveis em ações.

9 CONSTITUIÇÃO DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS


A sociedade anônima é constituída por dois modos diferentes:

a) Pela subscrição do capital por pessoa que deseja constituí-la, dando-se a essa
espécie de constituição de simultânea ou por subscrição particular.

b) Pela subscrição do capital do apelo ao público, havendo, neste caso, a


constituição sucessiva ou por subscrição pública.

9.1 CONSTITUIÇÃO POR SUBSCRIÇÃO PARTICULAR OU


SIMULTÂNEA
Ocorre quando dois ou mais subscritores de todo o capital social se reúnem
em assembleia de fundação, deliberam a constituição por subscrição particular e,
ao cabo da subscrição de todo o capital, dão por constituída definitivamente a
sociedade. Além da constituição por meio de assembleia geral dos subscritores,
poderá processar-se também por escritura pública.

Entretanto, para constituir-se, deve atender a três requisitos:

1 Subscrição, por pelo menos duas pessoas naturais e/ou jurídicas, de todo o
capital social fixado no estatuto da companhia.

2 Realização, como entrada, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das ações


subscritas em dinheiro.

3 Depósito, no Banco do Brasil S/A, ou em outro estabelecimento bancário


autorizado pela CVM, da parte do capital realizado em dinheiro. Se o subscritor
entrar com bens, fica isento do depósito.
53
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

O depósito de 10% no estabelecimento bancário deverá ser feito em nome


do subscritor e a favor da sociedade em organização, que só o levantará depois de
haver adquirido personalidade jurídica.

Constituída a companhia, por deliberação da assembleia geral, a diretoria


eleita ou nomeada providenciará o arquivamento dos documentos constitutivos
(um exemplar do estatuto social, prova do depósito bancário, duplicata da ata em
que se deliberou a constituição da sociedade etc.) na Junta Comercial, para fins de
aquisição da personalidade jurídica e funcionamento regular.

9.2 CONSTITUIÇÃO SUCESSIVA OU POR SUBSCRIÇÃO


PÚBLICA
Ocorre quando uma ou mais pessoas, denominadas fundadoras da
companhia, elaboram o “projeto do estatuto e o prospecto e contratam uma
financeira para servir de intermediária” no lançamento das ações na bolsa de
valores ou no mercado de balcão.

Assinado o prospecto pelos fundadores e pela financeira, faz-se, então, o


registro da constituição perante a CVM, que fará um estudo sobre a viabilidade
econômica e financeira do empreendimento, sobre o projeto do estatuto e sobre
o prospecto.

Se a CVM estiver de acordo, publica-se a oferta de subscrição das ações.

10 ACIONISTAS
O acionista é sócio da sociedade anônima. Não o sócio que se associa a
outrem para constituir uma sociedade empresária de natureza contratual, mas
apenas o possuidor de ações integrantes do capital social da sociedade anônima.

10.1 DIREITOS DOS ACIONISTAS


No momento em que uma pessoa adquire ações de uma companhia, passa
a participar da sociedade, tendo os seguintes direitos:

• Participar dos lucros sociais.

• Participar do acervo da companhia, em caso de liquidação.

• Preferência para adquirir novas ações, quando houver aumento de capital.

• Fiscalizar a gestão dos negócios sociais, comparecendo nas assembleias.

54
TÓPICO 4 | DA SOCIEDADE ANÔNIMA

• Votar nas deliberações sociais, desde que seja possuidor de ações que lhe deem
esse direito.

• Retirar-se da sociedade nos casos previstos em lei.

10.2 O ACIONISTA CONTROLADOR


Acionista controlador é a pessoa física ou jurídica, ou um grupo
de pessoas vinculadas por acordo de voto, que tem a maioria de votos nas
deliberações da assembleia geral, podendo eleger os administradores e,
assim, dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos órgãos da
companhia.
FONTE: Adaptado de: <xa.yimg.com/kq/groups/.../AULA+PODER+DE+CONTROLE.ppt>.
Acesso em: 27 fev. 2013.

10.3 DEVERES E RESPONSABILIDADES DO ACIONISTA


CONTROLADOR
Ao acionista controlador, a lei impõe deveres e responsabilidades para
com os demais acionistas da sociedade, respondendo ele pelos danos causados
por atos praticados com abuso de poder.

São modalidades de exercício abusivo de poder:

• Orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou levá-la a favorecer


outra sociedade, brasileira ou estrangeira, em prejuízo da participação dos
acionistas minoritários nos lucros, no acervo da companhia ou na economia
nacional.

• Promover a liquidação de companhia próspera com o fim de obter, para si


ou para outrem, vantagens indevidas.

• Promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção


de políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da companhia
e visem causar prejuízo aos acionistas minoritários, aos investidores em
valores mobiliários emitidos pela companhia.

• Eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente.

• Induzir ou tentar induzir administrador ou fiscal a praticar ato ilegal.

• Contratar com a companhia, diretamente ou através de outrem, ou de


sociedade na qual tenha interesse, em condições de favorecimento.

55
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

• Aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, para


favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse
saber procedente.

FONTE: Adaptado de: <www.idevanlopes.com.br/.../Aula%205%20-%20Sociedades%20Estat...>.


Acesso em: 27 fev. 2013.

11 ÓRGÃOS SOCIAIS
O funcionamento de uma sociedade anônima depende de sua
organização, que é composta por diversos órgãos sociais. Se for uma companhia
aberta terá:

• Assembleia geral.

• Conselho de Administração.

• Diretoria.

• Conselho Fiscal.

O Conselho de Administração é facultativo nas companhias fechadas.

12 ASSEMBLEIA GERAL
A assembleia geral é a reunião dos acionistas que deliberam sobre matéria
de interesse geral da sociedade. É um órgão deliberativo.

O art. 121 da Lei das S.A. dispõe o seguinte:

A assembleia geral, convocada e instalada de acordo com a lei e o estatuto,


tem poderes para decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia
e tomar as resoluções que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento.
(BRASIL, 2013).

Portanto, é o órgão máximo da organização, pois tem o poder para


resolver todos os negócios relativos ao objeto da companhia.

É de competência privativa da assembleia geral:

• Reformar o estatuto social.

• Eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e fiscais da


companhia.

56
TÓPICO 4 | DA SOCIEDADE ANÔNIMA

• Tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as


demonstrações financeiras por eles apresentadas.

• Autorizar os administradores a confessar a falência e pedir concordata.

12.1 Espécies de assembleias


As assembleias gerais poderão ser de duas espécies: ordinárias e
extraordinárias.

12.1.1 Assembleia geral ordinária


A assembleia geral ordinária é obrigatória uma vez ao ano e deve ser
realizada nos quatro primeiros meses após o término do exercício social, para:

• Tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as


demonstrações financeiras.

• Deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de


dividendos.

• Eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o caso.

• Aprovar a correção da expressão monetária do capital social. (art.167).

12.1.2 Assembleia geral extraordinária


A assembleia geral extraordinária será convocada para os fins
destinados no edital de convocação. Como o próprio nome diz, a assembleia
geral extraordinária é reservada a deliberações excepcionais, podendo até
aprovar ou discutir assunto da alçada da ordinária, desde que a reunião seja
fora da época legal destinada à ordinária.

12.2 PROCEDIMENTO
A convocação da assembleia geral compete, em primeiro lugar, ao conselho
de administração, se houver. Não existindo esse órgão, caberá aos diretores.

A convocação também pode ser feita:

57
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

• Pelo conselho fiscal, quando o órgão de administração retardar a convocação


da assembleia geral ordinária por mais de um mês ou, no caso de assembleia
geral extraordinária, sempre que motivos graves ou urgentes a justificarem.

• Por qualquer acionista, quando os administradores retardarem por mais de


sessenta dias a convocação.

• Por acionistas que representem 5%, no mínimo, do capital votante, quando


os administradores não atenderem, no prazo de oito dias, ao pedido de
convocação que apresentarem devidamente fundamentado, com indicação
das matérias a serem tratadas.
FONTE: Adaptado de: <www.camara.gov.br/.../prop_mostrarintegra;jsessionid...PL>. Acesso em:
27 fev. 2013.

Para se realizar uma assembleia, deve-se fazer a convocação por


intermédio de anúncios publicados, por três vezes no mínimo, no órgão oficial
do Estado ou da União, conforme o lugar da sede social, ou em outro jornal de
grande circulação editado no local da sede da companhia.
FONTE: Adaptado de: <www.conjur.com.br/.../normas_publicacoes_legais_sociedades_anoni...>.
Acesso em: 27 fev. 2013.

A primeira convocação na companhia aberta deverá ser feita com


quinze dias de antecedência, no mínimo, contando o prazo da publicação do
primeiro anúncio. Não se realizando a assembleia por falta de quorum, será
publicado novo anúncio. A segunda convocação com antecedência mínima de
oito dias.
FONTE: Disponível em: <www.sitesa.com.br/contabil/biblioteca/contratos/sa/53.rtf>. Acesso em:
4 mar. 2013.

Os acionistas sem direito de voto podem comparecer à assembleia geral e


discutir a matéria submetida à deliberação.

Durante o funcionamento da assembleia, as deliberações devem seguir


a disciplina prevista na “ordem do dia”, conforme consta da convocação e
publicação. Em livro próprio, será lavrada uma ata, que consiste no registro
sucinto dos acontecimentos ocorridos na reunião.

A assembleia terá um presidente e um secretário escolhidos pelos


acionistas presentes, salvo disposição do estatuto. As deliberações da assembleia
geral são, em regra, tomadas por minoria absoluta (50% mais um) de votos de
acionistas com direito a voto.

58
TÓPICO 4 | DA SOCIEDADE ANÔNIMA

12.3 QUORUM DE INSTALAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL


Ressalvadas as exceções legais, a assembleia geral instalar-se-á,
em primeira convocação, com a presença de acionistas que representem no
mínimo ¼ do capital social com direito de voto. Em segunda convocação,
instalar-se-á com qualquer número, conforme determina a Lei de Sociedade
Anônima, no art.125.
FONTE: Adaptado de: <www.jucemg.mg.gov.br ›... › Informações › Documentação para Registro>.
Acesso em: 4 mar. 2013.

13 CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
As companhias abertas terão, obrigatoriamente, conselho de administração,
conforme determina o art. 138 da Lei de Sociedade Anônima.

O conselho de administração é um órgão de deliberação colegiado e tem a


função precípua de fixar a orientação geral dos negócios da companhia.

Compete à assembleia geral dos acionistas votantes, geralmente ao


acionista controlador, eleger ou destituir o conselho de administração; a este, por
sua vez, cabe o direito de eleger ou destituir os diretores.

13.1 COMPOSIÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO


Os membros do conselho de administração precisam ser obrigatoriamente
acionistas da sociedade e pessoas naturais residentes no país.

O conselho de administração será composto, no mínimo, por três membros.


O estatuto deve estabelecer o número de conselheiros. O prazo de gestão não
poderá ser superior a três anos, permitida a reeleição.

13.2 COMPETÊNCIA DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO


Além da competência de fixar a orientação geral dos negócios sociais,
destaca-se a de fiscalizar a gestão de diretores, examinar, a qualquer tempo, os
livros e papéis da companhia, solicitar informações sobre contatos celebrados, ou
em vias de celebração, e quaisquer outros atos, de acordo com o estabelecido no
item III do art. 142.

59
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

14 DIRETORIA
A diretoria tem a função de representar a sociedade. É um órgão
executivo das deliberações da assembleia geral dos acionistas ou do conselho de
administração, conforme o caso.

Será a diretoria composta de dois ou mais diretores, conforme o


estabelecido no estatuto social. O prazo de gestão não será superior a três anos,
permitida a reeleição.

Os membros do conselho de administração, até o máximo de 1/3, poderão


ser eleitos para os cargos de diretores.

Só podem ser nomeadas para a diretoria pessoas naturais residentes no


país, podendo ser acionistas ou não da sociedade.

15 CONSELHO FISCAL
Nas sociedades anônimas, a fiscalização dos negócios sociais é feita
através do Conselho Fiscal. É o órgão incumbido de examinar a marcha dos
negócios da companhia e de manifestar-se sobre os atos da administração.
Assim, ao menos um dos membros do conselho fiscal deverá comparecer
às reuniões da assembleia geral e responder aos pedidos de informações
formulados pelos acionistas.

Os pareceres de seus membros poderão ser apresentados e lidos na


assembleia geral dos acionistas, independentemente de publicação e ainda
que a matéria não conste da ordem do dia, de acordo com a Lei de Sociedade
Anônima no art. 164 e parágrafo único. Enfim, a função precípua do conselho é a
de fiscalizar os atos da administração social, tanto do conselho como da diretoria.

O Conselho Fiscal será composto de, no mínimo, 3 (três) e, no máximo,


5 (cinco) membros, e suplentes em igual número, acionistas ou não, eleitos pela
assembleia geral, é o que determina o § 1º do art. 161.(BRASIL, 2013).

Na constituição do conselho fiscal serão observadas as seguintes normas:

• Os titulares de ações preferenciais sem direito a voto terão direito de


eleger, por votação em separado, um membro e seu respectivo suplente.
Igual direito terão os acionistas minoritários, desde que representem, em
conjunto, 10% (dez por cento) ou mais das ações com direito a voto.

FONTE: Disponível em: <www.cvm.gov.br/port/descol/respdecis.asp?File=5633-2.HTM>. Acesso


em: 4 mar. 2013.

60
TÓPICO 4 | DA SOCIEDADE ANÔNIMA

• O acionista controlador tem o direito de eleger um membro a mais em relação


aos grupos minoritários e titulares de ações preferenciais. Assim, se o conselho
fiscal possuir cinco membros, os grupos minoritários elegem um. O grupo dos
titulares das ações preferenciais, os grupos minoritários têm o direito de eleger
um e o controlador dois.

Somente poderão fazer parte do conselho fiscal as pessoas naturais,


residentes no país, diplomadas em curso de nível superior, ou que tenham
exercido, pelo prazo mínimo de três anos, cargo de administrador de empresa
ou de conselheiro fiscal, exceto nas localidades em que não houver pessoas
habilitadas, em número suficiente, para o exercício da função.

61
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico apresentamos os seguintes conceitos inerentes às
sociedades anônimas:

• Aprendemos que as sociedades anônimas, ou companhias, são regidas por lei


especial, e que podem ser de capital aberto ou fechado.

• Identificamos que o capital social das companhias é constituído por ações que,
se forem de capital aberto, poderão ser negociadas no mercado mobiliário, com
a prévia autorização da Comissão de Valores Mobiliários.

• Verificamos que, para o seu funcionamento, existem vários órgãos sociais,


como a assembleia geral, conselho de administração, diretoria, conselho fiscal,
todos com responsabilidades e atribuições bem definidas por lei.

62
AUTOATIVIDADE

Responda às questões:

1 Considerando a doutrina relativa às espécies de nomes comerciais, assinale


a alternativa CORRETA:

a) ( ) Toda sociedade anônima deve adotar um nome sob o qual exerce sua
atividade comercial.
b) ( ) A omissão do termo “limitada” na denominação social não implica
necessariamente a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores
da firma.
c) ( ) A utilização da expressão “sociedade anônima” pode indicar a firma de
sociedade por comandita ou empresária.
d) ( ) O registro do nome comercial na Junta Comercial de um estado garante
à sociedade constituída a exclusividade da utilização internacional da
denominação registrada.

2 Sobre a Sociedade Anônima, classifique V para as sentenças verdadeiras e


F para as falsas:

( ) Nas companhias de capital fechado a responsabilidade pessoal e ilimitada


do acionista termina com o pagamento do valor da subscrição do capital
social.
( ) A cessão e transferência das ações ao novo acionista afeta a estrutura da
sociedade.
( ) As S/A são regidas legalmente e exclusivamente pelo Código Civil brasileiro.
( ) A S/A também pode ter fins não lucrativos.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


( ) F – F – V – F.
( ) V – F – F – F.
( ) F – V – F – F.
( ) F – F – F – V.

3 Sobre a Sociedade Anônima, classifique V para as sentenças verdadeiras e F


para as falsas:

( ) A Sociedade Anônima é uma sociedade empresária.


( ) O capital social das companhias é dividido em cotas sociais.
( ) A partir do registro do seu Estatuto Social na Junta Comercial, a sociedade
ganha personalidade jurídica.
( ) As sociedades anônimas, quanto à responsabilidade dos sócios, podem ser
limitadas ou ilimitadas.

63
Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
( ) V – F – V – F.
( ) F – F – V – V.
( )V–V–F–F.
( ) V – F – F – V.

4 Sobre a Sociedade Anônima, classifique V para as sentenças verdadeiras e


F para as falsas:

( ) As Sociedades Anônimas são classificadas em duas espécies: abertas ou


fechadas.
( ) As S/A de capital fechado são aquelas que têm suas cotas negociadas no
mercado mobiliário.
( ) O preço de emissão de uma ação não se confunde com o valor nominal ou
de mercado.
( ) Para uma companhia negociar suas ações na bolsa de valores, é necessária
prévia autorização da CVM.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) F – V – V - V.
b) ( ) V – V – V – F.
c) ( ) v – F – v – v.
d) ( ) V – F – V – V.

64
UNIDADE 1
TÓPICO 5

TÍTULOS DE CRÉDITO

1 INTRODUÇÃO
Você certamente já recebeu ou já assinou um cheque, uma nota promissória
ou outro documento que representa um crédito. Estes títulos de crédito são
bastante comuns em nosso dia a dia.

Neste tópico você estudará os principais títulos de crédito e entenderá a


função e o funcionamento de cada um deles.

Iniciaremos nosso estudo pelo surgimento do crédito.

2 DO SURGIMENTO DO CRÉDITO
O crédito, inegavelmente, tem um papel muito importante na história do
homem. Para isso, basta uma rápida retrospectiva em suas relações econômicas.

Já mencionamos antes que, nos primórdios de nossa civilização, toda


relação econômica movia-se com base na troca, no escambo. Mais tarde, porém,
percebeu-se o interesse comum das pessoas em determinados bens, que passaram
a servir como base das trocas, como produtos de intermediação, como, por
exemplo: o sal, o gado, as argolas, os fios e bambus.

Posteriormente, chegou-se à fase do metalismo, na qual o ouro, a prata e


o bronze eram utilizados para servir como instrumentos de troca, sendo aceitos
por todos.

Após esse período, criou-se o dinheiro, o instrumento de troca por


excelência, que, no dizer de Carvalho de Mendonça (apud ALMEIDA, 1998, p. 1):

é a mercadoria por todos voluntariamente aceita para desempenhar


as funções intermediárias nas aquisições de outras mercadorias e na
obtenção de serviços indispensáveis, satisfazendo as necessidades
humanas no convívio social. É ainda o meio normal de pagamento.

65
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Porém, a evolução dos instrumentos de troca não parou por aí, pois
a engenhosidade humana, frente às necessidades que surgiram, criou uma
"nova moeda", que permitiria trocar dinheiro presente por dinheiro futuro. De
fato, fruto do intelecto do homem, surgiu o crédito.

FONTE: Adaptado de: <utjurisnet.tripod.com/artigos/080.html>. Acesso em: 4 mar. 2013.

E para que servia este crédito? Servia para suprir a falta de dinheiro das
pessoas que não dispunham do capital necessário no momento da conclusão do
negócio, mas que o teriam futuramente. Com base nisso, geralmente o outro
contratante dava-lhe um crédito. Isto é, acreditava em sua palavra e concluía o
negócio, tendo em vista o dinheiro futuro, ou lhe emprestava a quantia necessária
para depois recebê-la. O crédito era, como ainda o é, baseado na confiança, na
crença na palavra do outro (daí também a origem etimológica da palavra, que,
segundo Requião, vem de "credere", de "creditum", ato de confiança, fé, crença).

Por isso pode-se conceituar crédito como sendo "a confiança que uma
pessoa inspira à outra cumprir, no futuro, obrigação atualmente assumida”.
(REQUIÃO, 1995, p. 318).

Este crédito, geralmente em dinheiro, passou a ser representado por


um papel, um título, que dava mais segurança ao credor de que efetivamente o
devedor honraria a palavra e pagaria o débito.

Porém, este título ou cártula era simplesmente representativo do crédito,


não tendo a mesma força de troca, por exemplo, que tem o dinheiro.

Assim, o crédito não tinha grande função prática senão na relação


em que havia sido originado, na qual permitia, repita-se, a troca de dinheiro
presente por dinheiro futuro. Porém, não podia tal título ser transferido
a outrem de forma rápida, por estar vinculado à causa originária de sua
existência. Não servia, pois, como útil instrumento de troca, como forma de
pagamento.

FONTE: Adaptado de: <utjurisnet.tripod.com/artigos/080.html>. Acesso em: 4 mar. 2013.

Com relação a esse período, relata-nos Waldemar Ferreira (1962, p. 181)


que "esses entraves para a circulação de tais títulos se fizeram sentir sobremodo
no mundo dos negócios. Havia a necessidade de suprimir a exigência da causa
para que eles se pudessem transmitir”.

E complementa:

66
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

Para o homem de negócios, nada de maior utilidade haveria do


que obter certificado ou título que pudesse transferir, com a mesma
facilidade que qualquer bem móvel, e lhe conferisse direito próprio,
justificado pela exibição do título à prestação, nele de qualquer maneira
incluída, sem necessidade de fazer descer sua perquirição até o credor
primitivo, em cujos direitos se houvesse investido. (FERREIRA, 1962).

3 TEORIA GERAL DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

3.1 CONCEITO E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DO


TÍTULO DE CRÉDITO

3.1.1 Conceito
Cesare Vivante (1981, p. 1981) conceitua título de crédito:

E
IMPORTANT

O Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406/2002), em seu art. 887, também conceitua
o título de crédito: Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito
literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os requisitos da
lei. (BRASIL, 2013).

O Código Civil de 2002 trata especificamente sobre os títulos de crédito,


do artigo 887 ao artigo 926.

3.1.2 Principais características (ou princípios) dos títulos


de crédito
Um documento, para ser um título de crédito, deve apresentar duas
características: a literalidade e a autonomia. Além disso, há também a cartularidade,
que é a materialização do título em uma cártula, ou seja, em um papel.

67
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

DICAS

Releia o conceito de título de crédito que vimos acima. Neste conceito você
pode reconhecer o princípio da cartularidade, quando se diz que ele é um documento
necessário para o exercício do direito nele contido.

O princípio da cartularidade é, pois, o próprio documento para representar


o crédito. Sem o título, seria totalmente impossível exigir o direito nele contido.
O credor, para exercer seu direito de cobrança, necessita do título. Sem ele, o
devedor não estará obrigado a pagar.

A literalidade refere-se ao conteúdo do texto, significando que tudo


o que consta no título de crédito não mais se discute. Uma nota promissória,
por exemplo, é um título de crédito desde o seu nascedouro, e o devedor,
subscrevendo-a, não pode, posteriormente, por em dúvida o seu conteúdo, que
passa a valer pelo que nele está contido. Não se discute, por exemplo, o valor
e o prazo contidos no título, porque o devedor, ao emitir a nota promissória,
reconheceu o seu conteúdo.

A autonomia do título de crédito refere-se à sua circulação e à segurança


de quem o recebe. De uma forma bem simplificada, pode-se explicar que o título
circula e aquele que o possuir terá o direito de receber o crédito nele representado
de quem nele consta como devedor. Ou seja, não ficará o credor exposto ao risco
de não receber o crédito em razão de circunstâncias ocorridas anteriormente
entre o devedor e o credor anterior. Por exemplo, se o título estiver com o credor,
o devedor não poderá eximir-se do pagamento, alegando que já pagou ao credor
anterior ou que foi coagido a assiná-lo, por o título ser autônomo.

Trata-se, pois, a autonomia de um fator de segurança das relações


econômicas travadas por meio de títulos de crédito. Se estiver de boa-fé, poderá,
sim, o credor, exercitar seu direito creditório, posto que o direito constituído na
cártula seja autônomo, independe das relações entre seus anteriores possuidores.
É como se, ao se adquirir de boa-fé um título de crédito, passassem a inexistir
todas as relações anteriores que o envolveram.

E
IMPORTANT

Esta característica é expressamente prevista na Lei nº 2.044/1908, em seu art. 43:


As obrigações cambiais são autônomas e independentes umas das outras. [...] (BRASIL, 2013).

68
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

3.2 CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO


Os títulos de crédito podem ser classificados quanto: à causa, ao emitente,
à emissão, à circulação. Veja o quadro a seguir, que traz as principais classificações:

QUADRO 1 - CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Abstratos: deles não se interroga a origem. São exemplos:


Letra de Câmbio, Nota Promissória, Cheque.
A – Quanto à Causa Causais: ligam-se à origem (dizem respeito à compra e venda
de mercadorias e prestação de serviço). São exemplos: as
duplicatas e ações.
Públicos: são emitidos por pessoas jurídicas de Direito
Público: União, Estados, Municípios, Territórios, Autarquias.
B – Quanto ao Emitente
Privados: compreendem os títulos emitidos por particulares,
civil ou comerciante.
Individuais ou singulares: são títulos acessórios que se
contrapõem ao título principal ao qual se referem. Ex.:
C – Quanto à Emissão cheques e duplicatas.
Em série ou em massa: emitidos em geral a longo prazo
(prestações periódicas, juros, dividendos etc.).
Ao portador: os títulos de crédito ao portador são os
transferíveis por tradição. O proprietário presume-se ser
o portador do título. Não obedece a formalidade alguma.
Transfere-se de forma simples e rápida. Entretanto, o devedor
poderá opor exceção ao seu portador fundando-se em direito
pessoal ou em nulidade de sua obrigação. É o que determina
o artigo 906 do Código Civil Brasileiro.
D – Quanto à Circulação
Nominativos: são os títulos cuja propriedade se transfere por
endosso, portanto diferem dos nominativos.
À ordem: se um título de crédito tiver inserido, pelo seu
emitente, a cláusula à ordem, perderá sua condição de
simples título nominativo, passando a circular pelo endosso
que, sendo em branco, fará com que circule como título ao
portador.
FONTE: Os autores (2009), com base na doutrina de Rubens Requião (1995)

3.3 CONCEITOS IMPORTANTES


Também são bastante usuais nos títulos de crédito institutos como o
endosso, o aval, o protesto, entre outros. Também é importante que entendamos
os mecanismos de apresentação e algumas medidas judiciais necessárias para o
recebimento do crédito. Iniciaremos pelo endosso.

69
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

3.3.1 Endosso
Conforme Amador Paes de Almeida (2005, p. 23), “o endosso é o meio
pelo qual se transfere a propriedade de um título [...]”, sendo que, em havendo a
entrega do título transfere-se a posse deste, conforme dispõe o art. 893 do Código
Civil: a transferência do título de crédito implica a de todos os direitos que lhe
são inerentes. (BRASIL, 2013).

O endosso é efetuado com a assinatura do endossante ou de alguém com


poderes especiais para assinar em seu lugar (mandatário), no verso da letra,
conforme dispõe o art. 8º do Decreto nº 2.044/1908. Ou seja, para “a validade do
endosso é bastante a assinatura do próprio punho do endossante no verso da
letra [...] ou em folha ligada a este, sob pena de não produzir efeitos cambiais”.
(ALMEIDA, 2005, p. 40).

De uma forma bem simplificada, podemos classificar o endosso em


próprio e impróprio.

Quando aquele que endossa o título, chamado endossante, transfere a


propriedade do título, e sua titularidade, este fica co-obrigado pelo pagamento
do título, ou seja, caso o sacado não o pague, o beneficário ou o tomador poderá
cobrar dele. Este é o endosso próprio.

O endosso próprio é subdividido em endosso em preto, que é aquele:

que menciona expressamente o nome do endossatário, isto é, do


beneficiário do endosso. É indispensável a assinatura de próprio
punho do endossante ou de mandatário especial, como indispensável
é a indicação do endossatário [...] No endosso em branco, omite-se o
nome do endossatário, limitando-se o endossante a firmar de próprio
punho a sua assinatura no verso do título. (ALMEIDA, 2005, p. 42- 43).

Já o endosso impróprio, “sem privar o titular dos seus direitos cambiais,


transfere ao mandatário o exercício e a conservação destes direitos”. (ALMEIDA,
2005, p. 42). Não transfere a titularidade do crédito, mas apenas possibilidade ao
detentor do exercício de seus direitos.

São espécies de endosso impróprio o endosso-mandato, também


conhecido como “endosso procuração”, é aquele que confere ao endossatário a
possibilidade de agir como representante do endossante, exercendo os direitos
inerentes ao título; e o endosso-caução, em que o título fica em garantia (penhor)
em favor do credor do endossante.

Por fim, vejamos um exemplo de endosso:

70
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

FIGURA 4 - ENDOSSO

FONTE: Cartório de Distribuição Rui Barbosa do Distrito Federal. Disponível em: <http://
www.distribuidordf.com.br/exec/default_1.asp?idp=44>. Acesso em: 15 fev. 2013.

3.3.2 Aval
Da doutrina de Amador Paes de Almeida colhe-se que “Aval é garantia de
pagamento firmada por terceiro”. (ALMEIDA, 2005, p. 48).

Ao avalizar um título, o avalista garante o pagamento do título. Caso o


devedor não o faça, assumindo obrigações cambiais iguais às do mesmo, como
dispõe expressamente o art. 32 da Lei Uniforme de Genebra, adotado pelo Brasil
através do Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro de 1966, sendo, porém, autônoma.
Ou seja, o “avalista, dado o aval, se obriga ainda que nula, inexistente ou ineficaz
a obrigação principal. Daí não ser lícito ao avalista arguir em sua defesa falta de
causa na origem do título”. (ALMEIDA, 2005, p. 48).

71
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

ATENCAO

Aval e fiança não se confundem! O aval é concedido nos títulos de crédito e a


fiança nos contratos. O aval é obrigação autônoma, como vimos acima, o que não acontece
com a fiança, que é obrigação acessória. Nulo o contrato, nula a fiança. Porém, em ambos
será necessária a autorização do cônjuge (outorga uxória ou autorização marital), conforme
exige o Código Civil de 2002.

3.3.3 Protesto
O protesto é o “ato formal extrajudicial que objetiva conservar e ressalvar
direitos”, podendo assim ser caraterizado como uma providência que o credor
toma para tornar público que o título foi apresentado para aceite ou para
pagamento sem que o devedor ou o aceitante tenham tomado esta providência.
Com o protesto, o credor torna público, inclusive aos demais co-obrigados pelo
título, que nem uma nem outra providência foi tomada por parte do sacado ou
aceitante, respectivamente. Assim, com o protesto, o portador prova aos demais
co-obrigados que não recebeu a quantia representada no título, ou ainda, que o
título não foi aceito ou devolvido.

O protesto não é obrigatório contra o devedor principal para que se possa


entrar na justiça, a fim de obter o pagamento. “Todavia, conquanto facultativo
relativo aos obrigados principais: aceitante e seu respectivo avalista, que lhe é
equiparado para todos os efeitos – o protesto se faz indispensável quando se trata
de coobrigados: sacador, endossantes e seus avalistas”. (ALMEIDA, 2005, p. 388).

É importante salientar que a falta do protesto obrigatório gerará a perda


do direto de regresso contra o sacador, endossadores e avalistas, conforme o art.
32 do Decreto nº 2.044/1908.

O protesto deve ser realizado no lugar onde a obrigação deve ser satisfeita
encaminhando-se o título a um cartório que se chama Tabelionato. É este que
encaminha ao devedor um aviso de que o título foi apontado para protesto.

O devedor ou coobrigado disporá de três dias a contar da notificação


para pagar ou sustar o protesto, sendo que esta última providência é tomada
judicialmente, como através de advogado que precisará provar porque o protesto
não deverá ser lavrado (ex.: a duplicata é nula porque não está vinculada a uma
compra e venda).

O cancelamento do protesto somente acontecerá mediante pagamento com


entrega do título em cartório ou com a concessão pelo credor de um documento
formal, chamado “carta de anuência”, ou ainda mediante decisão judicial, como
mencionamos acima.
72
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

3.3.4 Prescrição
Como mencionamos acima, o título cambial vincula o devedor e seus
obrigados à obrigação nele representada. Porém, esta vinculação não poderá ser
eterna. Em não havendo o adimplemento, o credor deverá ir a juízo para receber
o valor constante do título. O meio legal posto à sua disposição se chama “ação
executiva”. Porém, quando o credor fica inerte, ou seja, não toma as providências
necessárias ao recebimento do crédito, diz-se que seu direito “prescreveu”, e o
título se transforma em um título comum, que perde esta força. Restarão ao credor
caminhos um pouco “mais longos”, como a ação de cobrança e a ação monitória.

Os prazos prescricionais estão previstos em lei e dependem do tipo de


título, como veremos a seguir.

4 TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE


Agora que conhecemos a Teoria Geral dos Títulos de Crédito, estudaremos
especificamente os títulos de crédito em espécie. Para nosso estudo vamos nos
limitar aos mais comumente usados no dia a dia das empresas.

Inicialmente, veja o quadro a seguir, que traz os títulos e a legislação que


os regulamenta:

QUADRO 2- ESPÉCIES DE TÍTULO DE CRÉDITO

- Letra de Câmbio: Decreto n° 2.044, de 31/08/1908;


Decreto n° 57.663, de 24/01/1966.
- Nota Promissória: Decreto n° 2.044, de
1. Títulos mais comumente usados 31/08/1908; Decreto n° 57.663, de 24/01/1966.
- Duplicata Mercantil: Lei n° 5.474, de 18/07/1968;
Resolução MF/BACEN n° 102, de 1968.
- Cheque: Lei n° 7.357, de 02/09/1985.
- Cédula de Crédito Industrial.
2. Títulos de Crédito Industrial - Nota de Crédito Industrial.
Decreto-Lei n° 413, de 09/01/1969.
- Nota Promissória Rural.
- Duplicata Rural.
- Cédula Rural Pignoratícia.
3. Títulos de Crédito Rural - Cédula Rural Hipotecária.
- Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária.
- Nota de Crédito Rural.
Decreto-Lei n° 167, de 14.02.1967.
Decreto n° 578, de 24 de junho de 1992 – Dá nova
4. Títulos da Dívida Agrária regulamentação ao lançamento dos Títulos da
Dívida Agrária.
- Cédula de Crédito Comercial.
5. Títulos de Crédito Comercial
Lei n° 6.840, de 3 de novembro de 1980.

73
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Cédula de Crédito Bancário.


Lei n° 4.728, de 14/07/1965 (disciplina o mercado
de capitais e estabelece medidas para o seu
6. Títulos de Crédito Bancário
desenvolvimento), e a Medida Provisória n°
2.160-25, de 23/08/2001, que dispõe sobre a
Cédula de Crédito Bancário.
- Cédula de Crédito à Exportação.
7.Títulos de Crédito à Exportação - Nota de Crédito à Exportação.
Lei n° 6.313, de 16.12.1975.
- Cédula de Crédito Comercial.
8. Títulos de Crédito Comercial - Nota de Crédito Comercial.
Lei n° 6.840, de 03.11.1980.
Debêntures, ações, letras imobiliárias, warrants,
conhecimento de transporte, títulos da dívida
pública, cédula hipotecária, partes beneficiárias,
bilhete de mercadoria, certificados de depósitos,
9. Outros títulos de Crédito
certificados de investimentos, nota de crédito
comercial etc. Os títulos societários têm seu
fundamento legal na Lei n◦ 6.404/1976 (dispõe
sobre as sociedades por ações).
FONTE: O autor, com base na legislação brasileira.

UNI

Será interessante que você tenha em mãos a legislação apontada como


reguladora de cada um dos títulos de crédito. Você pode obtê-la no seguinte endereço:
<http://www. planalto.gov.br>.

4.1 LETRA DE CÂMBIO


É o Decreto n◦ 2.044/1908 que regulamenta a Letra de Câmbio e a Nota
Promissória, trazendo o conceito e os requisitos deste título:

Art. 1º A letra de câmbio é uma ordem de pagamento e deve conter


requisitos, lançados, por extenso, no contexto:

I. A denominação “letra de câmbio” ou a denominação equivalente na


língua em que for emitida.
II. A soma de dinheiro a pagar e a espécie de moeda.

III. O nome da pessoa que deve pagá-la. Esta indicação pode ser
inserida abaixo do contexto.

74
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

IV. O nome da pessoa a quem deve ser paga. A letra pode ser ao
portador e também pode ser emitida por ordem e conta de terceiro. O
sacador pode designar-se como tomador.

V. A assinatura de próprio punho do sacador ou do mandatário


especial. A assinatura deve ser firmada abaixo do contexto. (BRASIL,
2013).

A letra de câmbio é, pois, um título à ordem, que se cria mediante o saque.


Como salienta Amador Paes de Almeida (2005, p. 23):

O sacador cria a letra. Conhecido também como doador, ele saca o título
dando ordem ao sacado, na qual se consigna o valor a pagar e o dia do
vencimento. Este, o sacado, é o devedor, aquele que aceitando a letra
virá pagá-la na ocasião do vencimento. [...] o tomador é o beneficiário,
que poderá ser um terceiro ou confundir-se com o próprio sacador, o
que não é raro ocorrer.

A letra de câmbio é, assim, uma ordem que o emitente, chamado sacador,


dá ao sacado para que pague o valor constante do título ao beneficiário ou tomador.
A emissão deste título se chama saque. Assim, para entender seu mecanismo,
suponha que: A deve para C e tem crédito com B. Ao invés de B pagar para A,
através da letra de câmbio, A (sacador) dá uma ordem de pagamento para B
(sacado) pagar para C (beneficiário). Por isso, se diz que a letra de câmbio é uma
ordem de pagamento. O título pode circular e ser transferido de uma pessoa
para a outra através do endosso, como vimos acima, devendo haver o aceite do
sacador. O pagamento poderá ser garantido por aval.

Veja um modelo de letra de câmbio:

75
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

FIGURA 5 - MODELO DE LETRA DE CÂMBIO

FONTE: Disponível em: <http://www.marcoevangelista.com.br/titulos_de_credito.htm>. Acesso


em: 5 mar. 2013.

4.2 NOTA PROMISSÓRIA


O conceito e os requisitos da nota promissória também são trazidos pelo
art. 54 do Decreto nº 2.044/1908. Observe:

Art. 54. A nota promissória é uma promessa de pagamento e deve


conter estes requisitos essenciais, lançados, por extenso, no contexto:
I. a denominação de “Nota Promissória” ou termo correspondente, na
língua em que for emitida;
II. a soma de dinheiro a pagar;
III. o nome da pessoa a quem deve ser paga;
IV. a assinatura do próprio punho do emitente ou do mandatário
especial. (BRASIL, 2013).

Estes requisitos são essenciais, ou seja, são indispensáveis para a validade


do título. Outros requisitos são apontados pela doutrina como não essenciais:

a) a data e o lugar da emissão;


b) a época do vencimento;
c) o lugar do pagamento.

Na ausência dos requisitos não essenciais mencionados, obedece-se às


seguintes regras:
I - pode o portador inserir a data e o lugar da emissão;
II - será pagável à vista;
III - será pagável no domicílio do emitente. (ALMEIDA, 2005, p. 104)

Veja um modelo de Nota Promissória.

76
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

FIGURA 6 - MODELO DE NOTA PROMISSÓRIA

FONTE: Disponível em: <http://www.bigleilao.com.br/utilitarios/promissoria/form-promissoria.


htm>. Acesso em: 5 mar. 2013.

A prescrição da Nota Promissória, conforme determinado no art. 70 da


Lei Uniforme de Genebra, disciplinado pelo Decreto nº 57.663, de 24 de janeiro
de 1966, o qual definiu para as ações contra o aceitante dessas letras de crédito,
ocorre nos seguintes prazos:

- 3 anos: do portador contra o emitente ou avalista;


- 1 ano: do portador contra o endossante(s);
- 6 meses: dos endossantes uns contra os outros. (BRASIL, 2013).

4.3 CHEQUE
Pode-se conceituar o cheque como sendo “o título revestido de
determinadas formalidades legais, contendo uma ordem de pagamento à vista,
passada em favor próprio ou de terceiro”. (ALMEIDA, 2005, p. 111).

Esta ordem pressupõe a existência de fundos em um banco denominado


sacado que cumprirá a ordem do emitente, pagando a quantia representada no
cheque ao beneficiário. Desde 1990, o cheque não pode ser ao portador, ou seja,
deverá ser nominal.

No Brasil, aplica-se ao cheque a Lei Uniforme de Genebra (Decreto nº


57663/66), além da Lei n◦ 7.357/85, que o regulamenta e que dispõe em seu art. 1º.

77
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Que são requisitos do cheque:

I – a denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa


na língua em que é regido;
II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III – o nome do banco ou instituição financeira que deve pagar (sacado);
IV – a indicação do lugar de pagamento;
V – a indicação da data e do lugar de emissão;
VI – a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com
poderes especiais. (BRASIL, 2013).

Dos requisitos mencionados, na verdade não são essenciais o do


lugar do pagamento e o da emissão. Já que na falta de tais indicações
é considerado o lugar designado junto ao nome do sacado (banco);
designados vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles;
inexistindo indicação, o cheque é pagável no lugar de sua emissão.
Não indicando o lugar da emissão, considera-se emitido o cheque
no lugar indicado junto ao nome do emitente (sacador). (ALMEIDA,
2005, p. 116).

O cheque tem implícita a causa “à ordem”, significa dizer que se transmite


normalmente mediante endosso, conforme dispõe o art. 17 da Lei nº 7.357/85, que
pode ser feito no verso ou anverso do cheque. A figura do avalista também é
possível no cheque, sendo que esta garantia poderá ser lançada no verso (com a
expressão “por aval”) ou anverso do título.

Quanto às espécies de cheque, em resumo, podemos destacar as seguintes:


a) cheque visado; b) cheque administrativo; c) cheque cruzado; d) cheque para ser
creditado em conta.

a) Cheque visado: é aquele em que há uma confirmação da existência de fundos


para compensá-lo através de um visto, certificado ou declaração equivalente
(BRASIL, 2013) do banco sacado colocado no verso do título. Em razão deste
visto, o dinheiro correspondente fica reservado na conta do emitente ou
sacador do cheque, durante o prazo de apresentação do cheque.

b) Cheque administrativo: o cheque administrativo é o “cheque emitido pelo


próprio banco, contra si mesmo”. “Passado (emitido ou sacado) contra o
próprio sacador (o banco)”. (ALMEIDA, 2005, p. 159). O cheque administrativo
deverá ser necessariamente nominal, por expressa exigência legal. (art. 9º. III
da Lei do Cheque).

c) Cheque cruzado: é aquele em que são colocadas duas linhas paralelas em seu
anverso, o que determina que o cheque só poderá ser depositado, não sendo
assim possível seu saque em dinheiro, mas apenas o depósito em banco. Se
houver o nome de um banco entre as duas linhas, somente no banco indicado
é que o cheque poderá ser depositado.

78
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

d) Cheque para se apresentar em conta: neste tipo de cheque, o emitente


identifica a conta do credor para depósito, não sendo possível seu pagamento
em dinheiro.

Para que seja liquidado, o cheque deverá ser apresentado ao banco, dentro
de um determinado prazo, de acordo com o tipo de cheque. Conforme o art. 11 da
Resolução nº 1.682 do Banco Central de 31 de janeiro de 1990, são os seguintes os
prazos, a contar do saque:

• Cheque da “mesma praça”  30 dias

• Cheque de “praças diferentes”  60 dias

Vejamos um modelo de cheque.

FIGURA 7 - MODELO DE CHEQUE

FONTE: Cartório de Distribuição Rui Barbosa do Distrito Federal. Disponível em:


<http://www.distribuidordf.com.br/exec/default_1.asp?idp=44>. Acesso em: 15 fev. 2013.

79
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

E
IMPORTANT

A Resolução nº 1.682 do Banco Central de 31 de janeiro de 1990, em seu art. 06,


estabelece os motivos pelos quais o cheque pode ser devolvido pela instituição financeira:

Art. 6º O cheque poderá ser devolvido por um dos motivos a seguir


classificados:

Cheque sem provisão de fundos

11 - Cheque sem fundos - 1ª apresentação.


12 - Cheque sem fundos - 2ª apresentação.
13 - Conta encerrada.
14 - Prática espúria.

Impedimento ao pagamento

21 - Contraordem (ou revogação) ou oposição (ou sustação) ao pagamento


pelo emitente ou pelo portador.
22 - Divergência ou insuficiência de assinatura.
23 - Cheques emitidos por entidades e órgãos da administração pública
federal direta e indireta, em desacordo com os requisitos constantes do
artigo 74, 2º, do Decreto-Lei nº 200, de 25.02.67.
24 - Bloqueio judicial ou determinação do Banco Central do Brasil.
25 - Cancelamento de talonário pelo banco sacado.
26 - Inoperância temporária de transporte.
27 - Feriado municipal não previsto.

Cheque com irregularidade

31 - Erro formal (sem data de emissão, com o mês grafado numericamente,


ausência de assinatura, não registro do valor por extenso).
32 - Ausência ou irregularidade na aplicação do carimbo de compensação.
33 - Divergência de endosso.
34 - Cheque apresentado por estabelecimento bancário que não o indicado
no cruzamento em preto, sem o endosso-mandato.
35 - Cheque fraudado, emitido sem prévio controle ou responsabilidade do
estabelecimento bancário ("cheque universal"), ou ainda com adulteração
da praça sacada.

80
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

Apresentação indevida

41 - Cheque apresentado a banco que não o sacado.


42 - Cheque não compensável na sessão ou sistema de compensação em que
apresentado.
43 - Cheque devolvido anteriormente pelos motivos 21, 22, 23, 24 e 31,
não passível de reapresentação em virtude de persistir o motivo da
devolução.
44 - Cheque prescrito.
45 - Cheque emitido por entidade obrigada a realizar movimentação e
utilização de recursos financeiros do Tesouro Nacional mediante ordem
bancária.
49 - Remessa nula, caracterizada pela reapresentação de cheque devolvido
pelos motivos 12, 13, 14, 43, 44 e 45, podendo a devolução ocorrer a
qualquer tempo.

(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013).

Após o prazo de seis meses, não será mais possível receber o cheque. Após
este prazo, o cheque perde sua força executiva, cabendo apenas ao beneficário
cobrá-lo judicialmente através de ação monitória ou de cobrança.

E
IMPORTANT

O cheque pós-datado, que na prática se chama “pré-datado”, muito usado no


dia a dia, desvirtua o cheque como “ordem de pagamento à vista”. É por isso que o art. 32
da Lei no 7.357/85 é claro ao dispor que o cheque apresentado antes da data indicada como
de emissão é pagável no dia da apresentação. Apesar disso, já existem decisões judiciais
reconhecendo que o cheque, neste caso, se transforma em uma promessa de pagamento,
uma espécie de nota promissória, porque decorrente de um acordo entre as partes e, assim
sendo, deve ser respeitado o prazo de apresentação nele constante. (BRASIL, 2013).

O pagamento do cheque pode ser impedido através da sustação, que deve


ser requerida diretamente ao banco sacado.

81
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

4.4 DUPLICATA
A duplicata é um título de crédito emitido em razão de uma compra e
venda mercantil, representada em uma fatura. A fatura “é uma nota do vendedor,
descrevendo a mercadoria, discriminando a sua qualidade e quantidade, fixando-
lhe o preço. É, portanto, uma prova do contrato de compra e venda mercantil”.
(ALMEIDA, 2005, p. 183).

Do exposto acima é possível entender que a duplicata é um título causal,


ou seja, depende da existência de uma fatura que legitima sua omissão. Se isso não
acontecer, estaremos diante do que se conhece como “duplicata fria”, tecnicamente
chamada de “duplicata simulada”, que inclusive é crime. A duplicata também se
transmite por endosso e seu pagamento pode ser garantido por aval.

Na emissão da duplicata, segundo a Lei nº 5.474/68 e Resolução 102


do Conselho Monetário Nacional que a disciplina, devem ser observados os
seguintes requisitos:

- A denominação “duplicata”.
- A data de emissão.
- O número de ordem.
- O número da fatura da qual foi extraída.
- Data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista.
- O nome e o domicílio do vendedor e do comprador.
- A importância a pagar, em algarismos e por extenso.
-  A praça de pagamento.
- A cláusula à ordem (a cláusula “não à ordem” somente pode ser
inserida no título por endossante, e, como o vendedor saca a seu favor,
ele, necessariamente, é o primeiro endossante do título).
- A declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação
de pagá-la. A ser assinada pelo comprador, como aceite cambial (o
comprador deve ser identificado com nome, domicílio e documento:
RG, CPF etc.) e a assinatura do emitente (seguindo, a indicação de seu
nome e domicílio). (BRASIL, 2013).

A duplicata deverá, segundo a lei, ser enviada para “aceite” do sacado, o


que corresponde ao reconhecimento da existência da dívida, e sua falta poderá
ser motivo de protesto, assim como a falta de devolução do título e a falta de
pagamento.

Para a cobrança judicial através de ação executiva, a duplicata sem aceite


deverá ser acompanhada do comprovante de entrega de mercadoria e do protesto,
e a ação ajuizada nos prazos máximos previstos na Lei nº 5.474/68, em seu art. 18:

Em 3 anos, contados da data do vencimento do título, contra o sacado


e respectivos avalistas.
Em 1 ano, contando da data do protesto, contra os endossantes e
respectivos avalistas.
Em 1 ano, contando da data em que haja sido efetuado o pagamento
do título, de qualquer dos co-obrigados, uns contra os outros. A
duplicata poderá também ser referente a uma prestação de seviços.
(BRASIL, 2013).
82
TÓPICO 5 | TÍTULOS DE CRÉDITO

Veja um modelo de duplicata.

FIGURA 8 – MODELO DE DUPLICATA

FONTE: Cartório de Distribuição Rui Barbosa do Distrito Federal. Disponível em: <http://www.
distribuidordf.com.br/exec/default_1.asp?idp=44#duplicata>. Acesso em: 5 mar. 2013.

83
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico você viu que:

• A história do surgimento do crédito no mundo, como instrumento necessário a


suprir a falta de dinheiro das pessoas que não dispunham do capital necessário
no momento da conclusão do negócio, mas que o teriam futuramente.

• O conceito e as características dos títulos de crédito: autonomia, literalidade e


carturalidade.

• Os conceitos de endosso, aval e protesto.

• As características, requisitos e os vários títulos de crédito em espécie, admitidos


pelo Direito Brasileiro, quais sejam: a Letra de Câmbio, Nota Promissória,
Duplicata Mercantil, Cheque, Cédula de Crédito Industrial, Nota de Crédito
Industrial, Nota Promissória Rural, Duplicata Rural, Cédula Rural Pignoratícia,
Cédula Rural Hipotecária, Cédula Rural Pignoratícia e Hipotecária e a Nota de
Crédito Rural.

84
AUTOATIVIDADE

Para a fixação do conteúdo deste tópico, assinale a alternativa CORRETA:

1 A nota promissória é uma:

a) ( ) Ordem de pagamento.
b) ( ) Promessa de pagamento.
c) ( ) Forma de pagamento.

2 Sobre o protesto de título é correto afirmar:

a) ( ) É dispensável contra o devedor principal como regra geral.


b) ( ) É sempre indispensável.
c) ( ) É condição essencial para cobrança perante o devedor.

3 O aval:

a) ( ) É uma obrigação acessória.


b) ( ) É uma obrigação autônoma.
c) ( ) É uma obrigação principal.

4 A nota promissória em que não consta a data do vencimento:

a) ( ) Não é válida.
b) ( ) Considera-se com vencimento à vista.
c) ( ) Considera-se com vencimento no exercício financeiro seguinte ao da sua
emissão.

5 Esta característica do título de crédito refere-se ao fato de que o título vale


pelo que nele está escrito:

a) ( ) Autonomia.
b) ( ) Literalidade.
c) ( ) Exigibilidade.

6 Sobre o cheque administrativo, pode-se dizer que:

a) ( ) É o cheque passado pela administração pública a seus fornecedores.


b) ( ) É o cheque emitido pelo banco sacado contra si mesmo.
c) ( ) É o cheque emitido pelo administrador de uma empresa pública.

85
7 Tratando-se um cheque de cheque cruzado:

a) ( ) Este somente poderá ser depositado.


b) ( ) Este somente poderá ser sacado no caixa do banco.
c) ( ) Perde sua validade, pois está rasurado.

8 Sobre a duplicata é correto afirmar:

a) ( ) É título causal, porque depende da existência de uma fatura.


b) ( ) Não depende de fatura para ser emitida.
c) ( ) Para a cobrança judicial através de ação executiva, a duplicata sem aceite
não precisa estar acompanhada do comprovante de entrega de mercadoria
e do protesto.

86
UNIDADE 1
TÓPICO 6

RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA

1 INTRODUÇÃO
Neste último tópico nos dedicaremos ao estudo da situação de insolvência
que pode acometer as sociedades empresárias quando estas deixam de cumprir
seus compromissos financeiros.

A Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, traz as disposições legais que


regulamentam esta situação, concedendo aos empresários instrumentos para
que sua situação seja revertida através da recuperação da empresa. Caso não seja
possível esta recuperação, haverá a liquidação forçada dos ativos da empresa, a
que comumente denominamos de falência.

Não sendo possível obter esse benefício, prevê a lei a liquidação forcada
de seu patrimônio para que, com o saldo apurado, sejam pagos os credores. Essa
última denomina-se falência.

2 DA RECUPERAÇÃO DA EMPRESA
Como dissemos acima, trata-se de um instrumento legal que permite
à sociedade convocar seus credores, propondo-lhes um plano de recuperação.
Existem duas espécies de recuperação da empresa: a extrajudicial e a judicial.

2.1 DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL


Por este sistema, a Lei nº 11.101/1995 permite à sociedade-devedora que
convoque seus credores ou parte destes (por classe) - exceto empregados e fisco
-, propondo-lhes um plano de recuperação. Este plano será materializado em um
documento, uma espécie de contrato particular e que será assinado pela devedora
e credores. Também poderá ser objeto de aprovação em assembleia geral de
credores que vier a ser convocada extrajudicialmente, para tal fim. Este plano,
que determinará a ordem dos pagamentos, privilegiando os trabalhistas, depois
de aprovado poderá ser apresentado à homologação judicial, passando a obrigar
todos os credores, mesmo os dissidentes. Os juízes devem relutar em decretar
falência, para evitar desemprego e destruição de ativos. Se o plano for rejeitado
pelo juiz, devolve-se aos credores signatários o direito de exigir seus créditos (§2º.
do art.165 da Lei de Falência).

87
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

2.2 DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL


A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação de
crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores,
promovendo assim a preservação da empresa.

FONTE: Disponível em: <www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista..>. Acesso


em: 5 mar. 2013.

O empresário negocia o plano de recuperação com todos os seus credores,


inclusive trabalhadores e fisco, visando, principalmente, à concessão de prazos e
condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou vincendas. Se
em 180 dias não houver acordo, o Judiciário poderá decretar a falência.

A empresa devedora peticionará ao juiz, requerendo a recuperação,


expondo as causas concretas de sua situação patrimonial e as razões da crise
econômico-financeira que atravessa. Estando cumpridas as exigências legais,
o juiz defere, permite o processamento de pedido da recuperação judicial,
nomeando um administrador judicial.

E
IMPORTANT

Conforme ensina Amador Paes de Almeira (2009, p. 200), “o administrador não é


um simples representante do falido, mas um órgão ou agente auxiliar da justiça. Serve a bem
do interesse público e para consecução da finalidade do processo da falência. Age por direito
próprio em seu nome, no cumprimento dos deveres que a lei lhe impõe”.

Após esta decisão, o devedor deverá apresentar o plano de recuperação


em juízo, no prazo improrrogável de 60 dias, a contar da data da concessão do
processamento, sob pena de decretação da falência.

Veja então estas fases na figura a seguir.

FIGURA 9 – NOME

FONTE: O autor

88
TÓPICO 6 | RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA

Esta fórmula legal só poderá ser utilizada se o empresário estiver em dia


com as obrigações legais e se, no momento do pedido, a empresa estiver exercendo
regularmente suas atividades há mais de dois anos. Na fase de recuperação não
poderá haver pedido de falência por parte dos credores.

As microempresas e as empresa de pequeno porte poderão apresentar


plano especial de recuperação judicial no prazo improrrogável de 60 dias da
publicação da decisão que deferir o processamento da recuperação judicial,
sob pena de convolação em falência.
FONTE: Adaptado de: <www.viajus.com.br/viajus.php?pagina=artigos&id=1617...>. Acesso em: 5
mar. 2013.

O plano abrangerá exclusivamente os créditos quirografários, os


quais serão pagos em até 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas, corrigidas
monetariamente e acrescidas de juros de 12% a.a. Preverá, ainda, o pagamento
da primeira parcela no prazo máximo de 180 dias, contados da distribuição do
pedido de recuperação judicial.

FONTE: Adaptado de: <www.douglasfreitas.adv.br/dl_file.php?arquivo=down/arq..>. Acesso em:


5 mar. 2013.

3 FALÊNCIA

3.1 CONCEITO
Falência é o processo judicial através do qual o empresário é obrigado a
liquidar o seu patrimônio em benefício dos credores, ocasião em que se arrecada
o patrimônio do falido e são verificados os créditos, apurando-se o ativo e
procurando solver o passivo, porque a situação de insolvência é irreversível. É o
que se chama popularmente de “bancarrota”.

3.2 CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO DE FALÊNCIA


Quando o empresário não tem condições de solver suas obrigações,
está caracterizada a sua insolvência. Mas, para instalar-se o estado de falência,
é necessária a concorrência de três pressupostos: 1) a qualidade de empresário
devedor; 2) a insolvência do devedor; 3) a declaração judicial da falência.

89
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

1. A qualidade de empresário devedor: a falência só cabe contra o empresário


individual e conta com a sociedade empresária. Não conta a empresa pública,
sociedade de economia mista, instituição financeira pública ou privada,
cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar,
sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora,
sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às
anteriores (LF, art. 2º, I E II).
FONTE: Disponível em: <www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=250164>.
Acesso em: 5 mar. 2013.

1. A insolvência do devedor: dispõe o art. 94 da Lei das Falências que será


detectada falência do devedor que:

I. sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação


líquida materializada em título ou títulos executivos protestados,
cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do
pedido de falência. Os credores podem reunir-se em litisconsórcio a
fim de perfazer este limite;
II. executado por qualquer quantia líquida não paga, não deposita e
não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
III. prática qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte do plano
de recuperação judicial:
a. procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de
meios ruinosos ou fraudulentos para realizar pagamentos;
b. realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo
de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou
alienação de parte ou totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c. transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o
consentimento de todos os credores e sem ficar com os bens suficientes
para solver o passivo;
d. simula a transferência de seu principal estabelecimento com o
objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar
credor;
e. dá ou reforça garantia ao credor por dívida contraída anteriormente,
sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar o
seu passivo;
f. ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos
suficientes para pagar os credores; abandona estabelecimento ou tenta
ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal
estabelecimento;
g. deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no
plano de recuperação judicial. (BRASIL, 2013).

Esses são os casos especiais de caracterização dos chamados atos de


falência.

2. A declaração judicial da falência: normalmente, a falência é requerida


por um dos credores quirografários, que exibe títulos da dívida vencida
(nota promissória, duplicata, cheque etc.) e a prova de caracterização da
impontualidade do devedor, para o que junta a certidão de protesto. É feito,

90
TÓPICO 6 | RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA

então, um requerimento que diz o motivo da falência. O pedido de falência,


seja qual for a sua fundamentação, deverá ser convenientemente instruído
para servir de base à decisão do juiz.

Em seguida, é dada ao devedor a oportunidade de defender-se:

a. Se o fundamento do pedido de falência for o da impontualidade (art.


94, I), dentro do prazo de contestação o empresário devedor poderá
suspender a falência depositando o valor da dívida acompanhada da
defesa. Evidentemente, feito o depósito, não haverá a declaração da
falência, ocasião em que a ação se converte em cobrança individual.
De qualquer maneira, poderá o requerido pagar a dívida dentro
desse prazo ou promover a devida defesa. Ainda dentro do prazo de
contestação, o devedor poderá pleitear sua recuperação judicial (LF,
art. 95).
b. Se fundado o pedido na ocorrência do chamado ato de falência
(art. 94, III), a defesa do devedor empresário, que recebe o nome
de embargos, deverá ser apresentada também dentro do prazo de
contestação. Será uma defesa com produção mais ampla de prova,
devido à complexidade do fato apresentado. (BRASIL, 2013).

Finalmente, cabe ao juiz decretar ou não a falência. Se decretar através de


sentença fundamentada, nomeará o administrador judicial e marcará prazo para
que os credores se habilitem, prazo esse que deverá ser de 15 dias. Não observado
esse prazo, as habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias.

A decretação de falência determina o vencimento antecipado das dívidas


do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis. O juízo da
falência é indivisível e competente (todas as ações deverão ser necessariamente
julgadas pelo mesmo juiz) para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e
negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas e fiscais.

Todas as ações terão prosseguimento com o administrador judicial, que


deverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do
processo.

Vejamos o que dispõe o artigo 81 da Lei nº 11.101/1995:

Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios


ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que
ficam sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação
à sociedade falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar
contestação, se assim o desejarem. (BRASIL, 2013).

91
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

Aplica-se ao sócio que tenha se retirado voluntariamente ou que tenha


sido excluído da sociedade, há menos de dois anos. Quanto às dívidas existentes
na data do arquivamento da alteração do contrato, no caso de não terem sido
solvidas até a data da alteração do contrato, no caso de não terem sido solvidas
até a data da decretação da falência.

FONTE: Adaptado de: <www.mp.ce.gov.br/esmp/.../14_Pedro.Thiago.Costa.de.Freitas.pdf>.


Acesso em: 5 mar. 2013.

A sentença que acolhe o pedido do credor encerra a primeira fase do


processo falencial, conhecida como etapa pré-falencial. Ato contínuo, desencadeia-
se a segunda fase, a do processo de execução propriamente dito, chamada etapa
falencial, que é constituída por uma série de atos destinados à expropriação dos
bens do devedor, a fim de satisfazer seus credores.

A partir do momento em que a sentença transita em julgado (ou seja,


quando dela não cabe mais recurso), ingressa-se no terreno da execução coletiva,
ocasião em que o juiz nomeia o administrador judicial.

O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente


advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa
jurídica especializada. A ele será atribuída a missão especial de arrecadar todos
os bens do empresário falido. Todos os credores quirografários deverão vir ao
juízo da falência, provando os seus direitos, seus créditos.

Finalmente, o administrador judicial promoverá a venda dos bens da


massa, através do leilão público, e pagará os credores.

Primeiramente, paga-se a dívida aos credores privilegiados, tais como:


os credores trabalhistas, os tributários, os credores com direitos reais de garantia
etc. Do que sobrar, recebem os credores quirografários. Com isso, fica encerrada
definitivamente a insolvência.

Pelo exposto, tem-se que a falência é um processo de execução coletiva em


que são apurados o ativo e o passivo, pagando-se os credores na preferência de
seus créditos.

O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a


partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações,
respeitando o disposto no §1º do art.181 da Lei de Falência. (Os efeitos da falência
perdurarão até cinco anos após a extinção da punibilidade, podendo, contudo,
cessar antes pela reabilitação penal), e poderá ser condenado pela prática de
crime falimentar previsto na Lei de Falências em seus arts. 168 a 178.

92
TÓPICO 6 | RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA

4 DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS


A Lei de Falências estabelece as diferentes espécies de créditos, preferências
e privilégios a alguns credores, determinados pela própria natureza da respectiva
obrigação.

A Lei nº 11.101/2005, em seus artigos 83 e 84, dispõe sobre os créditos na


falência, classificando-os em:

a) créditos derivados da legislação do trabalho;


b) créditos com garantia real;
c) créditos tributários;
d) créditos com privilégio especial;
e) créditos com privilégio geral;
f) créditos quirografários;
g) as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis
penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;
h) créditos subordinados;
i) créditos extraconcursais. (BRASIL, 2013).

UNI

Os artigos 83 e 84 da Lei nº 11.101/2005 dispõem sobre a classificação dos


créditos.

Seção II

Da Classificação dos Créditos

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:

I- os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150 (cento e


cinquenta) salários mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes de
trabalho;

II- créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;

III- créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo de


constituição, excetuadas as multas tributárias;

IV- créditos com privilégio especial, a saber:


a) os previstos no art. 964 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002;

93
UNIDADE 1 | DIREITO EMPRESARIAL

b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição


contrária desta lei;
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa
dada em garantia;
V- créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição
contrária desta lei;

VI- créditos quirografários, a saber:


a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens
vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem
o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;

VII- as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais
ou administrativas, inclusive as multas tributárias;

VIII- créditos subordinados, a saber:


a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.

§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como


valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada
com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do
bem individualmente considerado.
§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao
recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as
obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
§ 4º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados
quirografários.

Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com


precedência sobre os mencionados no art. 83 desta lei, na ordem a seguir, os
relativos a:

I- remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e


créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes
de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência;

II- quantias fornecidas à massa pelos credores;

94
TÓPICO 6 | RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E FALÊNCIA

III- despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição


do seu produto, bem como custas do processo de falência;

IV- custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha
sido vencida;

V- obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a


recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta lei, ou após a decretação
da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a
decretação da falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta
lei. (BRASIL, 2013).

FONTE: Disponível em: <www.senado.gov.br/sf/senado/advocacia/pdf/ADI3424.pdf>. Acesso


em: 5 mar. 2013.

ALMEIDA (2010, p. 251-253), referenciando Sampaio de Lacerda, sobre o


assunto explica:

Se na falência os bens do devedor constituem a garantia comum


dos credores, evidentemente que o produto da venda deles deve ser
dividido proporcionalmente ao valor dos créditos. A falência é, de
fato, processo igualitário, isto é, que visa colocar todos os credores na
mesma igualdade (pars conditio creditorum). Essa igualdade, todavia,
não deve ser considerada de modo absoluto. Corresponde a uma
igualdade de credores dentro de cada classe. De fato, como a falência
não altera os direitos materiais dos credores, para que esses direitos
sejam respeitados na execução coletiva, impõe-se a sua classificação,
a fim de que cada credor receba o que legitimamente lhe é devido.
Há, portanto, créditos que, por sua natureza ou qualidade, fogem à
repartição proporcional e gozam de prioridade no pagamento.

95
RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico você aprendeu:

• Que a Lei nº 11.101/2005 regula o processo de recuperação judicial e falência no


Brasil.

• A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação de crise


econômico-financeira da empresa, a fim de permitir a manutenção da fonte
produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores.

• A falência é o processo judicial através do qual o empresário é obrigado a


liquidar o seu patrimônio em benefício dos credores, ocasião em que se arrecada
o patrimônio do falido e são verificados os créditos, apurando-se o ativo e
procurando solver o passivo, porque a situação de insolvência é irreversível.
A Lei nº 11.101/2005 classifica os créditos dos credores na recuperação judicial
e falência em: créditos derivados da legislação do trabalho; créditos com
garantia real; créditos tributários; créditos com privilégio especial; créditos
com privilégio geral; créditos quirografários; as multas contratuais e as penas
pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive as multas
tributárias; créditos subordinados e créditos extraconcursais.

96
AUTOATIVIDADE

Responda às questões a seguir:

1 Cite as formas de recuperação das empresas.

2 Cite qual o efeito da falência em relação às dívidas do falido.

3 Qual o prazo de inabilitação do empresário falido para exercer qualquer


atividade empresarial?

4 Como se caracteriza o estado de insolvência?

97
98
UNIDADE 2

DIREITO DO CONSUMIDOR

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender os conceitos básicos e fundamentais com relação aos direi-


tos dos consumidores, produtores, fornecedores e os prestadores de servi-
ço;

• reconhecer os principais aspectos técnicos práticos inerentes à relação ju-


rídica consumerista;

• identificar as relações comerciais e empresariais, com suas respectivas


obrigações.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No final de cada tópico, você
encontrará atividades que possibilitarão a apropriação de conhecimentos na
área.

TÓPICO 1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

TÓPICO 2 – O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

TÓPICO 3 – CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

TÓPICO 4 – DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

99
100
UNIDADE 2
TÓPICO 1

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história humana são encontrados alguns dispositivos
que, direta ou indiretamente, objetivaram proteger o consumidor. Contudo,
foi somente com o surgimento dos mercados de massa que a consciência de
necessidade de proteção dos direitos do consumidor começou a se fortalecer. O
movimento consumerista iniciou nos Estados Unidos e depois pela Europa.

No Brasil, especificamente, o surgimento do movimento pela defesa do


consumidor foi marcado pela criação, no ano de 1976, em São Paulo, do “Sistema
Estadual de Defesa do Consumidor”, com instalação do primeiro Procon.

Porém, foi somente com a Constituição Federal de 1988 que o Direito


do Consumidor foi levado ao nível constitucional e assegurada, através da
promulgação do Código de Defesa do Consumidor, a definição de uma Política
Nacional das Relações de Consumo.

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Segundo renomados juristas, já no antigo Código de Hamurábi havia
certas regras que, mesmo indiretamente, visavam proteger o consumidor.

E
IMPORTANT

Khammu-rabi, rei da Babilônia no século XVIII a. C., estendeu grandiosamente o


seu império e governou uma confederação de cidades-estado. Erigiu, no final do seu reinado,
uma enorme estela em diorito, na qual ele é retratado recebendo a insígnia do reinado e
da justiça do rei Marduk. Abaixo, mandou escrever, em 21 colunas, 282 leis (cláusulas) que
ficaram conhecidas como Código de Hamurábi.
Este código referia-se, entre outros, ao comércio (no qual o caixeiro-viajante ocupava lugar
importante), à família (inclusive o divórcio, o pátrio poder, a adoção, o adultério, o incesto),
ao trabalho (precursor do salário mínimo, das categorias profissionais, das leis trabalhistas), à
propriedade. Quanto às leis criminais, vigorava a Lex Talionis: a pena de morte era largamente
aplicada, seja na fogueira, na forca, seja por afogamento ou empalação. A mutilação era
infligida de acordo com a natureza da ofensa.

101
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

Temos como exemplos a Lei nº 233 e a Lei nº 235, que assim dispunham:

• Lei nº 233: se um arquiteto constrói para alguém uma casa e não leva ao fim, se
as paredes são viciosas, o arquiteto deverá, à sua custa, consolidar as paredes.

• Lei nº 235: se um bateleiro constrói para alguém um barco e não o faz


solidamente, se no mesmo ano o barco é expedido e sofre avaria, o bateleiro
deverá desfazer o barco e refazê-lo solidamente à sua custa, o barco sólido ele
deverá dá-lo ao proprietário.

A Lei nº 235 traz a noção já bem delineada do “vício redibitório”, adotado


no regime jurídico romano.

Vê-se claramente que as consequências de desabamentos com vítimas


fatais eram extremas. O empreiteiro da obra, além de ser obrigado a reparar
todos os danos causados ao empreitador, sofria punição severa, caso houvesse o
mencionado desabamento vitimado o chefe de família.

Caso morresse o filho do dono da obra, pena de morte para o respectivo


parente do empreiteiro, e assim por diante. Da mesma forma, o cirurgião que
“operasse alguém com bisturi de bronze” e lhe causasse a morte por imperícia,
além da indenização, estava sujeito à pena de morte.

Já na Índia do século XVIII a. C., o Código Sagrado de Massú previa


multa e punição, além de ressarcimento dos danos, àqueles que adulterassem
gêneros ou entregassem coisa de espécie inferior àquela acertada, ou vendessem
bens de igual natureza por preços diferentes.

FONTE: Adaptado de: <www.leondeniz.com/monografia.doc>. Acesso em: 5 mar. 2013.

No Direito Romano Clássico, inicialmente, o vendedor era responsável


pelos vícios da coisa, a não ser que estes fossem por ele ignorados. Porém, já no
Período Justiniano, a responsabilidade era atribuída ao vendedor, mesmo que
desconhecesse o defeito. As ações redibitórias eram mecanismos que ressarciam
o consumidor nos casos de vícios ocultos na coisa vendida. Se o vendedor tivesse
ciência do vício, deveria, então, devolver o que recebeu em dobro.

FONTE: Disponível em: <www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/K204623.pdf>.


Acesso em: 5 mar. 2013.

102
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

Indiretamente, no período romano, outras leis também atingiam


o consumidor: a Lei Sempcônia, de 123 a.C., encarregando o Estado da
distribuição de cereais a seguir o preço de mercado. A Lei Clódia, do ano de
58 a.C., reservando beneficiar os indigentes, e a Lei Aureliana, do ano de 270
da nossa era, determinando que fosse feita a distribuição do pão diretamente
pelo Estado, ante as dificuldades de abastecimento havidas nessa época em
Roma.
FONTE: Disponível em: <www.avm.edu.br/.../MARLON%20GONÇALVES%20SANCHES.pdf>.
Acesso em: 5 mar. 2013.

Já na Europa Medieval, na França do ano de 1481, o rei Luiz XI baixou


um edito que punia com banho escaldante “quem vendesse manteiga com pedra
no interior para aumentar o seu peso, ou leite com água para inchar o volume”.
(GLÓRIA, 2003, p. 11).

Em 1914, nos Estados Unidos, foi criada a Federal Trade Commission,


que tinha o objetivo de aplicar a lei antitruste e proteger os interesses do
consumidor.
FONTE: Disponível em: <jus.com.br/revista/texto/.../evolucao-historica-do-direito-do-
consumi...>. Acesso em: 5 mar. 2013.

No Brasil, o Direito do Consumidor surgiu entre as décadas de 40 e


60, quando foram sancionados diversas leis e decretos federais, legislando sobre
saúde, proteção econômica e comunicações.

Dentre todas, pode-se citar: a Lei nº 1221/51, denominada Lei de


Economia Popular; a Lei Delegada nº 4/62; a Constituição de 1967 com a
emenda nº 1/69, que consagrou a defesa do consumidor. E a Constituição
Federal de 1988, que apresenta a defesa do consumidor como princípio
da ordem econômica (art. 170) e no artigo 48 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias (ADCT) que, expressamente, determinou a
criação do Código de Defesa do Consumidor.
FONTE: Adaptado de: <www.ambito-juridico.com.br/pdfsGerados/artigos/8032.pd>. Acesso
em: 5 mar. 2013.

103
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

2.1 O SURGIMENTO DO DIREITO DO CONSUMIDOR


COMO PARTE DA EVOLUÇÃO DO ESTADO LIBERAL
A concepção do Estado Liberal fundou-se política e filosoficamente da
Revolução Francesa, que pretendia a aquisição de direitos individuais como
fatores de limitação ao poder supremo e arbitrário do Estado. Economicamente,
através das ideias difundidas por Adam Smith e pelos fisiocratas franceses
contemporâneos, negando o papel do Estado no contexto econômico, libertando-o
da atividade privada, que deveria ser deixada de lado por ele, uma vez que o
próprio mercado iria eleger suas leis espontaneamente.

E
IMPORTANT

Adam Smith marcou suas ideias liberais com o seguinte pensamento:


É suficiente que deixemos o homem abandonado em sua iniciativa para que, ao perseguir
seu próprio interesse, promova o dos demais. O interesse privado é o motor da vida
econômica.

Noronha (1994, p. 64) explica que “a mão invisível de Adam Smith era
Proclamada como a verdadeira mão da justiça”. Os ideais de liberdade foram
levados às suas últimas consequências e, na verdade, ao invés de conduzirem à
verdadeira justiça, o fizeram em sentido oposto.

Foi com o advento da Revolução Industrial (que primeiramente surgiu,


na Inglaterra e logo após, experimentado pelos demais países da Europa) que
o quadro se deteriorou, em decorrência da substancial mudança do modo de
produção manufatureira para industrial, a partir do desenvolvimento tecnológico.

Toda essa evolução gerou imensas mudanças no quadro social e cultural,


criando impasses e desequilíbrio de forças entre a mão de obra operária e os
empresários industriais que, evidentemente, se aproveitavam da falta de
intervenção do Estado para abusar de sua posição de vantagem.

Os valores humanos estavam sendo colocados em segundo plano sob


a falsa justificativa de justiça e liberdade. Foi quando surgiu o manifesto de
resgate da dignidade humana proclamado pelo padre francês Lacordaire (apud
OLIVEIRA, 2007, p. 57): “Entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o
mestre e o servo, é a liberdade que oprime e a lei que liberta”.

Na crise do liberalismo econômico, não se pode esquecer o fato de que os


direitos advindos, por exemplo, da Declaração Francesa dos Direitos do Homem
e do Cidadão foram provenientes do Liberalismo, onde a ausência do Estado era
o padrão a ser seguido.

104
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

Isto porque o povo francês acabara de sair de um absolutismo em que


havia a concentração total de poder nas mãos de um rei, ou de alguns por ele
delegados. Porém, ingressar numa nova realidade totalmente oposta não seria
o mais conveniente, mas a atmosfera reinante se deu nesse sentido e o Estado,
como ente que governa, acabou por não interferir mais nas relações privadas.

O homem, em dado momento, tendo em vista as constantes crises e


desalinhamentos sociais provenientes da ausência de regras, de ingerência e
de fiscalização do Estado, demonstrou que o individualismo possessivo não
permitia a igualdade por si só, carecendo de um elemento que fizesse retornar a
estabilidade e a ordem jurídica e social.

E
IMPORTANT

É diante desse panorama que o Estado é chamado a intervir para regulamentar


as situações nos diversos níveis de sua atuação, principalmente nas questões trabalhistas
e econômicas. Surgiu, então, outra gama de princípios sociais e econômicos da existência
humana, privilegiando as condições de uma sobrevivência mais de acordo com sua situação
de ser humano, e não apenas como um elemento da economia. (MARSHALL, 2000, p. 94-95).

O Estado Social surge no século XX como resposta à miséria e à


exploração que grande parte da população sofria na época. O Estado Social
tem como características o poder limitado, a garantia aos direitos individuais e
políticos, acrescentando a estes os direitos sociais e econômicos. Logo, o Estado
passou a intervir na Economia para promover justiça social.

FONTE: Adaptado de: <www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/.../24064-24066-1-PB.htm..>.


Acesso em: 5 mar. 2013.

Nos Estados Unidos, através de uma iniciativa do próprio presidente


americano John Kennedy, na década de 60, houve a consolidação do Direito do
Consumidor. Por meio de uma mensagem especial ao Congresso americano,
Kennedy identificou os pontos mais importantes em torno da questão:

Os bens e serviços colocados no mercado devem ser sadios e seguros


para o uso, promovidos e apresentados de uma maneira que permita
ao consumidor fazer uma escolha satisfatória. [...] a voz do consumidor
seja ouvida no processo de tomada de decisão governamental que
detenha o tipo, a qualidade e o preço de bens e serviços colocados no
mercado. [...] tenha o consumidor o direito de ser informado sobre as
condições e serviços. [...] o direito a preços justos. (SOUZA, 1996. p.
56).

105
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

A exemplo dos Estados Unidos, a Comissão de Direitos Humanos da


Organização das Nações Unidas (ONU), na sua 29ª Sessão em 1973, em Genebra,
também reconheceu os princípios e chamou-os de Direitos Fundamentais do
Consumidor.

Por sua vez, o programa Preliminar da Comunidade Europeia para


uma Política de Proteção e Informação dos Consumidores dividia os direitos
fundamentais em cinco categorias:

1) proteção da saúde e da segurança;


2) proteção dos interesses econômicos;
3) reparação dos prejuízos;
4) informação e educação;
5) representação (ou direito de ser ouvido).

FONTE: Disponível em: <http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/anexos/24064-


24066-1-PB.html>. Acesso em: 5 mar. 2013.

Mas o avanço ainda mais importante se deu através da Resolução nº


39/248/85, de 16/04/1985, através da qual a ONU estabeleceu objetivos, princípios
e normas para que os governos membros desenvolvam ou reforcem políticas
firmes de proteção ao consumidor, reconhecendo categoricamente que os
consumidores se deparam com desequilíbrios em termos econômicos, níveis
educacionais e poder aquisitivo.

Desta forma, houve o efetivo reconhecimento e aceitação dos direitos


básicos do consumidor em nível mundial, com a adoção dos seguintes objetivos:

a) auxiliar países a atingir ou manter uma proteção adequada para a sua


população consumidora;

b) oferecer padrões de consumo e distribuição que preencham as necessidades


e desejos dos consumidores;

c) incentivar altos níveis de conduta ética, para aqueles envolvidos na produção


e distribuição de bens e serviços para os consumidores;

d) auxiliar países a diminuir práticas comerciais abusivas usando de todos os


meios, tanto em nível nacional como internacional, que estejam prejudicando
os consumidores;

e) ajudar no desenvolvimento de grupos independentes de consumidores;

f) promover a cooperação internacional na área de proteção ao consumidor; e

106
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

g) incentivar o desenvolvimento das condições de mercado que ofereçam aos


consumidores maior escolha, com preços mais baixos.
FONTE: Disponível em: <sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/dimensao.pdf>.
Acesso em: 5 mar. 2013.

O anexo 03 da Resolução mostra ainda quais são os princípios gerais que


serão tomados como padrões mínimos pelos governos, conforme aponta Souza
(1996, p. 57):

(a) proteger o consumidor quanto a prejuízos à sua saúde e segurança;


(b) fomentar e proteger os interesses econômicos dos consumidores;
(c) fornecer aos consumidores informações adequadas para capacitá-
los a fazer escolhas acertadas, de acordo com as necessidades e desejos
individuais;
(d) educar o consumidor;
(e) criar possibilidade de real ressarcimento ao consumidor;
(f) garantir a liberdade para formar grupos de consumidores e
outros grupos e organizações de relevância e oportunidade para que
estas organizações possam apresentar seus enfoques nos processos
decisórios a elas referentes.

De tamanha relevância é a Resolução da ONU supracitada, que vários


ordenamentos jurídicos a adotaram como referência em seus países. No Brasil,
com a Constituição Federal de 1988, o referido tema teve especial atenção quando
passou a dispor textualmente que: o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
do consumidor.

Portanto, a Constituição Federal de 1988 exigiu que o Estado


abandonasse a sua posição de mero espectador da sorte do consumidor,
para adotar um modelo jurídico e uma política de consumo que efetivamente
protegesse o consumidor. Isso porque o Código Civil, formulado segundo
o pensamento liberal, trouxe o vício redibitório como meio de proteção do
consumidor. Esse meio mostrou-se ineficaz para a proteção do consumidor.

FONTE: Disponível em: <www.avm.edu.br/.../TATHIANE%20DANTAS%20MESQUITA%20...>.


Acesso em: 5 mar. 2013.

107
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

LEITURA COMPLEMENTAR

ENTIDADES DE CONSUMIDORES E ONU SE UNEM EM CAMPANHA


CONTRA O
DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS

"Pense. Coma. Economize. Reduza o uso de alimentos” é dirigida à comida


desperdiçada pelos consumidores e varejistas.

Campanha é direcionada ao consumidor final.

FOTO: Kiyoshi Ota / Bloomberg

RIO — Simples iniciativas dos consumidores e dos varejistas de alimentos


podem reduzir drasticamente a quantidade de comida desperdiçada e ajudar a
construir um futuro sustentável. É o que prega a nova campanha mundial da
Organização das Nações Unidas (ONU), apoiada pela organização internacional
de defesa dos direitos dos consumidores Consumers International (CI), batizada
“Pense. Coma. Economize. Reduza o uso de alimentos”.

Cerca de um terço do total de alimentos produzidos em todo o mundo são


perdidos ou desperdiçados na produção de alimentos e no consumo, segundo
dados publicados pela Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO, na
sigla original) da ONU.

— Em um mundo de sete bilhões de pessoas, que passará a nove


bilhões em 2050, o desperdício de alimentos não faz sentido economicamente,
ambientalmente e eticamente — declarou o subsecretário geral e diretor executivo
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner.

Para a CI, a iniciativa da organização é louvável.

108
TÓPICO 1 | EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

— Esta é uma grande iniciativa para levar consumidores e empresas a


pensarem mais sobre a comida que jogamos fora. Ninguém gosta de desperdiçar
alimentos, por isso devemos fazer o possível para que seja mais fácil comprar,
consumir e descartar só o que é realmente necessário — disse o chefe de
Comunicação e Assuntos Externos da CI, Luke Upchurch.

A nova campanha é dirigida especificamente à comida desperdiçada pelos


consumidores, varejistas e pela indústria hospitalar e é organizada pelo PNUMA,
FAO e entidades colaboradoras e associadas.

Publicado: 23/01/13 - 14h19


Atualizado: 24/01/13 - 10h13

FONTE: JORNAL O GLOBO. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/defesa-do-


consumidor/entidades-de-consumidores-onu-se-unem-em-campanha-contra-desperdicio-de-
alimentos-7376433>. Acesso em: 15 fev. 2013.

E
IMPORTANT

Adam Smith marcou suas ideias liberais com o seguinte pensamento:


É suficiente que deixemos o homem abandonado em sua iniciativa para que, ao perseguir
seu próprio interesse, promova o dos demais. O interesse privado é o motor da vida
econômica.

109
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico você:

• Conheceu conceitos acerca dos direitos do consumidor.

• Verificamos que o movimento de defesa do consumidor teve início nos Estados


Unidos, através do surgimento do chamado Estado Social.

• Através da Resolução nº 39/248/85, de 16/04/1985, a Organização das Nações


Unidas estabeleceu objetivos, princípios e normas para que os governos
membros desenvolvam ou reforcem políticas firmes de proteção ao consumidor.

110
AUTOATIVIDADE

Considerando o texto “Entidades de consumidores e ONU se unem em


campanha contra o desperdício de alimentos”, que medidas podem ser tomadas
pelos consumidores, em suas próprias casas, para reduzir o desperdício de
alimentos?

111
112
UNIDADE 2 TÓPICO 2
O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Como já foi visto, o Brasil, a partir das diretrizes estabelecidas pela
Organização das Nações Unidas, passou a adotar, a nível constitucional, a defesa do
consumidor. No Brasil, ao longo da história, são encontrados alguns dispositivos
legais que, direta ou indiretamente, objetivaram proteger o consumidor.

Porém, foi somente com a introdução do Código de Defesa do Consumidor


que se passou a determinar uma eficaz política nacional das relações de consumo,
com a efetiva participação e intervenção do Estado nas relações de consumo.

Hoje, o consumidor brasileiro está legislativamente bem amparado, em


condições de poder comparar-se às nações mais avançadas do planeta.

2 A LEGISLAÇÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ANTES


E DEPOIS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Antes da Constituição de 1988 havia apenas normas esparsas, legislação
complementar, que tratava de alguma matéria de maneira isolada referente ao
direito do consumidor. Após a promulgação da Constituição Federal houve grande
desenvolvimento legislativo no âmbito do direito consumerista, principalmente
com a instituição do Código de Defesa do Consumidor.

Vejamos as principais leis e decretos federais sobre o assunto:

LEIS

113
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

QUADRO 3 - LEIS
• Lei nº 11.800, de 29 de outubro de 2008
Acrescenta parágrafo único ao art. 33 da Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código
de Defesa do Consumidor, para impedir que os fornecedores veiculem publicidade ao
consumidor que aguarda, na linha telefônica, o atendimento de suas solicitações.
• Lei nº 11.785, de 22 de setembro de 2008
Altera o § 3º do art. 54 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa
do Consumidor – CDC, para definir tamanho mínimo da fonte em contratos de adesão.

• Lei nº 10.962, de 11 de outubro de 2004


Dispõe sobre a oferta e as formas de afixação de preços de produtos e serviços para o
consumidor.

• Lei nº 9.870, de 23 de novembro de 1999


Dispõe sobre o valor total das anuidades escolares e dá outras providências.

• Lei nº 9.791, de 24 de março de 1999


Dispõe sobre a obrigatoriedade de as concessionárias de serviços públicos estabelecerem
ao consumidor e ao usuário datas opcionais para o vencimento de seus débitos.

• Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999


Regula o processo administrativo no âmbito da administração pública federal.

• Lei nº 8.979, de 13 de janeiro de 1995


Altera a redação do art. 1º da Lei nº 6.463, de 9 de novembro de 1977.

• Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990


Define crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo, e
dá outras providências.

• Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990


Código de Defesa do Consumidor - CDC  (última atualização em 23/09/2008)

• Lei nº 7.089, de 23 de março de 1983


Veda a cobrança de juros de mora sobre título cujo vencimento se dê em feriado, sábado
ou domingo.

• Lei nº 6.463, de 09 de novembro de 1977


Torna obrigatória a declaração de preço total nas vendas a prestação, e dá outras
providências.

FONTE: Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/presidencia/legislacao>. Acesso em: 15


fev. 2013.

114
TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

QUADRO 4 - DECRETOS

DECRETOS

• Decreto nº 6.523, de 31 de julho de 2008


Regulamenta a Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de 1990, para fixar normas gerais sobre
o Serviço de Atendimento ao Consumidor - SAC.

• Decreto nº 5.903, de 20 de setembro de 2006


Regulamenta a Lei nº 10.962, de 11 de outubro de 2004, e a Lei nº 8.078, de 11 de
setembro de 1990

• Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006


Dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições
de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal
de ensino.

• Decreto nº 5.440, de 04 de maio de 2005


Estabelece definições e procedimentos sobre o controle de qualidade da água de
sistemas de abastecimento e institui mecanismos e instrumentos para divulgação de
informação ao consumidor sobre a qualidade da água para consumo humano.

• Decreto nº 4.680, de 24 de abril de 2003


Regulamenta o direito à informação, assegurado pela Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de
1990, quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano
ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente
modificados, sem prejuízo do cumprimento das demais normas aplicáveis.

• Decreto n° 2.181, de 20 de março de 1997


Dispõe sobre o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor.

• Decreto nº 22.626, de 7 de abril de 1933 (Lei de Usura)


Dispõe sobre os juros nos contratos e dá outras providências.
Ver também Súmulas do STF: nº 596, de 15/12/1976 e nº 121, de 16/12/1963.

FONTE: Disponível em: <http://www2.planalto.gov.br/presidencia/legislacao>. Acesso em: 25


mar. 2013.

O Brasil também assinou acordos internacionais no âmbito do Mercosul,


visando a cooperação entre os países do bloco na defesa do consumidor, quais
sejam:

115
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

• Acordo Brasil e Argentina, de 28 de junho de 2005

Acordo interinstitucional de entendimento entre os órgãos de defesa do


consumidor do Brasil e da Argentina para criação de uma rotina de intercâmbio
de informações sobre produtos enganosos e produtos piratas e elaboração de
quadro comparativo das leis de defesa do consumidor de ambos os países.
FONTE: Disponível em: <portal.mj.gov.br/main.asp?View=%7B39C8F036-8621-4EB9...>. Acesso
em: 6 mar. 2013.

• Acordo interinstitucional Mercosul, de 03 de junho de 2004

Acordo interinstitucional de entendimento entre os órgãos de defesa


do consumidor dos estados partes do Mercosul para a defesa do consumidor
visitante.

Assim, com o crescimento da sociedade consumerista, verificou-se a


necessidade de uma legislação que regulamentasse todos os aspectos da relação
de consumo, equilibrando a posição do consumidor, parte mais fraca da relação,
seja proibindo ou limitando certas práticas de mercado.

Antes da Constituição Federal de 1988, os passos importantes na defesa


do consumidor foram dados somente a partir de 1985, com a promulgação, em 24
de julho, da Lei nº 7.347.

Na mesma data foi assinado o Decreto Federal nº 91.469, que criou


o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (CNDF), com o objetivo de
assessorar o Presidente da República na elaboração da política nacional de defesa
do consumidor. Porém, tal órgão foi substituído, no governo do ex-presidente
Fernando Collor de Mello, pelo Departamento Nacional de Proteção e Defesa do
Consumidor, subordinado ao Ministério da Justiça.

Em 1987, no VII Encontro das entidades de defesa do consumidor,


realizado estrategicamente em Brasília, em abril, foram extraídas novas propostas
consubstanciadas em anteprojeto formalmente protocolado junto à Assembleia
Nacional Constituinte, fazendo sugestões de modificações da redação dos
art. 36 e 74 do anteprojeto elaborado pela chamada Comissão Afonso Arinos,
merecendo destaque a menção expressa já aos direitos fundamentais ou básicos
do consumidor, como o relativo ao consumo de produtos e serviços, à segurança,
à escolha, à informação etc.

Também tem grande destaque o trabalho desenvolvido pelo Ministério


Público Brasileiro, em dois simpósios nacionais. Ou seja, o VI Congresso
Nacional de São Paulo, em junho de 1985, e o VII, em Belo Horizonte, quando
foram oferecidas teses que defendiam não apenas a instituição de promotorias
de justiça especializadas na proteção e defesa do consumidor, como também pela
consagração daquelas preocupações no texto constitucional.

116
TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

E
IMPORTANT

Assim, com a instituição na Constituição Federal de 1988, a defesa do consumidor


foi tratada com a devida importância e relevância, dispondo em seu art. 5º, XXXII, que: “O
Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. (BRASIL, 2013).

Tal norma constitucional significa que o Estado tem a obrigação de


defender o consumidor, de acordo com o que estiver estabelecido nas leis.

Na ordem econômica, a preocupação com a defesa do consumidor


também é encontrada no texto do art. 170, que trata da “ordem econômica,
fundado na valorização do trabalho e da livre iniciativa”, cujo fim é “assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,” com observância a
determinados princípios fundamentais, encontrando-se, entre eles, exatamente a
“defesa do consumidor”. (BRASIL, 2013).

O art. 150, que trata das limitações de tributar por parte do poder público e
no âmbito da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, estabelece em seu §5º
que: a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos
acerca dos impostos que incidem sobre mercadorias e serviços. (BRASIL, 2013).

Ainda no plano constitucional, a preocupação e a preservação dos interesses


e direitos dos consumidores aparecem no art. 175, II, que alude aos “usuários” de
serviços públicos por intermédio de concessão ou permissão do poder público,
dizendo que: incumbe ao poder público, na forma de lei, diretamente ou sob
regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de
serviços públicos. (BRASIL, 2013).

E seu parágrafo único dispõe sobre “os direitos dos usuários”, no caso,
e à evidência, “usuários-consumidores”, dos mencionados serviços públicos
concedidos ou permitidos.

Por fim, o art. 48 dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias


(ADCT) dispõe de forma categórica que: o Congresso Nacional, dentro de cento
e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará Código de Defesa do
Consumidor. (BRASIL, 2013). Prazo esse esgotado da confecção de vários projetos,
mas que culminou, após longa tramitação de dois anos, com a Lei nº 8.078, de 11
de setembro de 1990. Estes dispositivos constitucionais são mencionados no art.
1º do CDC.

117
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

2.1 O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


Em 11 de setembro de 1990 foi promulgado o texto da Lei nº 8.078/90,
que entrou em vigor em 11 de março de 1991, que dispõe sobre a proteção do
consumidor e dá outras providências.

Temos claro que a intenção do constituinte era a concepção da codificação,


tendo em vista que um modelo privado ou leis esparsas não seriam eficientes
para a proteção eficiente do consumidor. No entanto, a Constituição optou pela
criação de um Código.

Porém, durante a tramitação do Código, o lobby dos empresários,


principalmente os da construção civil, dos consórcios e dos supermercados,
prevendo o sucesso e o fortalecimento dos direitos dos consumidores, buscava
impedir a votação do texto ainda naquela legislatura.

Contudo, o Código foi votado, transformando-se na Lei nº 8.078, de 11


de setembro de 1990, tornando o Brasil o pioneiro da codificação do Direito do
Consumidor em todo o mundo.

E
IMPORTANT

Dentre as finalidades do Código de Defesa do Consumidor (CDC), podemos


destacar, resumidamente, que são:
• Evitar que os consumidores sofram prejuízos.
• Informar quais os direitos e deveres, compromissos e obrigações atinentes às relações de consumo.
• Fixar a ação governamental e privada no sentido de efetivamente proteger o consumidor.
• Estabelecer responsabilidades, determinar procedimentos e fixar sanções.

Disponível em: <ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/.../Implicacoes-juridicas.pdf>.


Acesso em: 6 mar. 2013.

Sempre tendo por objetivo o atendimento às necessidades dos


consumidores, reconhecendo sua vulnerabilidade no mercado de consumo,
o CDC é uma norma de ordem pública e de interesse social, que não pode ser
contrariada nem por acordo entre as partes, isto é, entre o fornecedor de produtos,
serviços e o consumidor.

É também uma lei de caráter inter e multidisciplinar, uma vez que se


relaciona com outros ramos do direito, ao mesmo tempo em que atualiza e dá
nova roupagem a antigos institutos jurídicos.

118
TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

Tem o caráter de um verdadeiro microssistema jurídico, uma vez que cuida


de questões inseridas no Direito Constitucional, Civil, Penal, Processual Civil,
Penal e Administrativo, mas sempre tendo como fundamento a vulnerabilidade
do consumidor frente ao fornecedor e sua condição de destinatário final de
produtos e serviços, ou desde que não visem o uso profissional.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a)! Como vimos, o Código de Defesa do Consumidor é


um marco no rompimento de tradições no Direito brasileiro a partir do momento em que,
desprezando a antiga tradição individualista, adotou uma visão mais socializante nas relações
contratuais, trazendo várias inovações. Dentre elas, destacamos:
• Quebrou o princípio do pacta sunt servanda (autonomia da vontade das partes), no que diz
respeito à onerosidade do contrato.
• Quebrou o princípio da relatividade dos contratos, facultando ao consumidor reclamar
diretamente contra o causador ou responsável pelo evento danoso, mesmo que não fez
parte da relação inicial do consumo.
• Quebrou o princípio da culpa no campo da responsabilidade civil objetiva.
• Quebrou o princípio da separação patrimonial entre pessoa física e jurídica, acolhendo a
doutrina da desconsideração da personalidade jurídica para reparar os danos de consumo.
• Quebrou a teoria do risco ao inverter o ônus da prova.

2.2 ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS DO CÓDIGO E DEFESA


DO CONSUMIDOR
Desde que o Código de Defesa do Consumidor entrou em vigor, sofreu
alterações por cinco leis e várias medidas provisórias. Vejamos:

a) Lei nº 8.656, de 21/05/1993 – alterou o texto do artigo 57 e determinou que o


Poder Executivo:

• regulamentasse o procedimento das sanções administrativas em 45 dias;


• atualizasse periodicamente a pena de multa, respeitando os parâmetros
vigentes à época da promulgação do código consumerista.

b) Lei nº 8.703, de 06/09/1993 – alterou o parágrafo único do artigo 57, determinando


que: a multa será em montante não inferior a duzentas e não superior a três
milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de Referência (UFIR) ou índice
equivalente que venha a substituí-lo. (BRASIL, 2013).

c) Lei nº 8.884, de 13/06/1994 – alterou o artigo 39, tornando exemplificativa


a relação das práticas comerciais consideradas abusivas e inseriu, nessa
categoria, as condutas de: recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,

119
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento,


ressalvados os casos de intermediação regulados por leis especiais (Inciso IX)
e elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. (Inciso X). (BRASIL,
2013).

d) Lei nº 9.008, de 21/03/1995 – decorrente da conversão da Medida Provisória


nº 683, de 31/10/1994, reeditada sucessivamente até a de nº 854, de 26/01/1995,
incluiu como prática abusiva no art. 39 a conduta de: deixar de estipular prazo
para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial
a seu exclusivo critério. (Inc. XII). (BRASIL, 2013).

e) Lei nº 9.298, de 1º/08/1996 – alterou o § 1º do art. 52 do CDC, que passou a


ter a seguinte redação: as multas e mora decorrentes do inadimplemento de
obrigações no seu termo não poderão ser superiores a 2% (dois por cento) do
valor da prestação. (BRASIL, 2013).

f) Lei nº 9.870, de 23/11/1999 – alterou o art. 39 do CDC e inseriu, também, como


prática abusiva, a aplicação de índice ou fórmula de reajuste diverso do legal
ou contratualmente estabelecido (Inc. XI).

g) Lei nº 10.962, de 11 de outubro de 2004 - dispõe sobre a oferta e as formas de


afixação de preços de produtos e serviços para o consumidor.

h) Lei nº 11.785, de 22 de setembro de 2008 - altera o § 3º do art. 54 da Lei nº 8.078,


de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor – CDC, para
definir tamanho mínimo da fonte em contratos de adesão.

i) Lei nº 11.800, de 29 de outubro de 2008 - acrescenta parágrafo único ao art. 33


da Lei n◦ 8.078, de 11 de setembro de 1990 – Código de Defesa do Consumidor,
para impedir que os fornecedores veiculem publicidade ao consumidor que
aguarda, na linha telefônica, o atendimento de suas solicitações. (BRASIL.
2013).

As alterações legislativas sofridas pelo Código de Defesa do Consumidor


beneficiaram o consumidor, ampliando suas garantias.

120
TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

3 DA POLÍTICA NACIONAL DE RELAÇÕES DE CONSUMO


O Código de Defesa do Consumidor, antes de tratar da Política
Nacional de Proteção e Defesa do Consumidor, no seu artigo 4º, cuidou da
Política de Relações de Consumo, dispondo sobre os objetivos e princípios que
devem nortear o setor. Dentre os objetivos, o CDC dispôs o atendimento das
necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança,
a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida,
bem como a transparência e harmonia das relações de consumo.

FONTE: Adaptado de: <jus.com.br/.../a-importancia-da-boa-fe-como-norma-de-conduta-e-...>.


Acesso em: 6 mar. 2013.

Contudo, para atingir estes objetivos devem ser atendidos os seguintes


princípios:

I- reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

II- ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor:


a) por iniciativa direta;
b) por incentivos à criação e desenvolvimento de associações representativas;
c) pela presença do Estado no mercado de consumo;
d) pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade,
segurança, durabilidade e desempenho.

III- harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo


e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de
desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômica (artigo 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e
fornecedores;

IV- educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus


direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

V- incentivo à criação, pelos fornecedores, de meios eficientes de controle de


qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos
alternativos de solução de conflitos de consumo;

VI- coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de


consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos,
criações industriais das marcas, nomes comerciais e signos distintivos, que
possam causar prejuízos aos consumidores;

121
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

VII- racionalização e melhoria dos serviços públicos;

VII- estudo constante das modificações do mercado de consumo.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078compilado.htm>.


Acesso em: 6 mar. 2013.

Estes princípios, como dito no “caput” do mesmo artigo 4º, visariam


proporcionar: o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à
sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das
relações de consumo. (BRASIL, 2013)

Faremos, a seguir, uma análise dos princípios mais importantes

3.1 VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR


Pressupõe que o consumidor é hipossuficiente, ou seja, carente de
proteção. Conforme entendimento da lei, o consumidor, individualmente, não
está em condições de fazer valer as suas exigências em relação aos produtos e
serviços que adquire, pois tem como característica carecer de meios adequados
para se relacionar com as empresas com quem contrata. É tamanha a
desproporção entre os meios que dispõem as empresas e o consumidor normal,
que este tem imensas dificuldades de fazer respeitar os seus direitos.
FONTE: Disponível em: <http://www.ambitjuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_
artigos_leitura&artigo_id=2113>. Acesso em: 6 mar. 2013.

Até mesmo quando se fala no direito de “escolha” do consumidor,


ela já nasce reduzida. O consumidor só pode optar por aquilo que existe e
foi oferecido no mercado. E essa oferta foi decidida unilateralmente pelo
fornecedor, visando seus interesses empresariais, que são, evidentemente, o de
obtenção de lucro.

FONTE: Adaptado de: <bonilhaeruella.com/.../126-principios-basilares-do-codigo-de-defesa-..>.


Acesso em: 6 mar. 2013.

Assim, torna-se fundamental uma atuação direta do Estado a fim de


proteger os consumidores e estabelecer o equilíbrio.

122
TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

3.2 DEVER DO ESTADO


Este princípio está expresso no artigo 5º, inciso XXXII, da Constituição
Federal:

O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.

Desse modo, a Constituição Brasileira dispõe que haja atuação do Estado


na defesa do consumidor, competindo, conforme reza o artigo 24 da Constituição
Federal, à União, aos Estados e ao Distrito Federal, legislar concorrentemente
sobre o inciso VIII - responsabilidade por dano [...], ao consumidor [...] (BRASIL,
2013).

A Constituição da República de 1988 diz ainda no Artigo 150, § 5º:

A lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos


acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços. (BRASIL, 2013).

Já no artigo 175, § único, inciso II, a mesma Constituição Federal estabelece


que nas concessões e permissões do serviço público, a lei deverá dispor acerca
“dos direitos dos usuários”, que são os consumidores da prestação de serviços.
(BRASIL, 2013).

Enfatiza-se que a defesa do consumidor perante a atividade econômica


vem sendo efetivada através de lei federal (Código do Consumidor), leis estaduais,
normas correlatas, BACEN (consórcios, financeiras, bancos), IRB, INMETRO,
Conselhos Profissionais, que fiscalizam e disciplinam o relacionamento do
consumidor perante a atividade econômica em geral.

Do ponto de vista extrajudicial, existem entidades governamentais e não


governamentais atuando diretamente na defesa do consumidor, como:

E
IMPORTANT

• Ministério da Justiça (Secretaria dos Direitos Econômicos).


Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ5E813CF3PTBRIE.htm>.

• Secretaria Nacional do Consumidor - Senacon


Disponível em: <http://www.mj.gov.br/senacon>.
• Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC)
Disponível em: <http://www.mj.gov.br/senacon>.
SISTECON/PROCONS ESTADUAIS:

• DECON - Polícia Civil (tem origem na Delegacia de Ordem Econômica, na Lei Delegada nº
4 - tem 30 anos).

123
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

• Ministério Público.
• Associações Comunitárias.
• IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
Disponível em: <http://www.idec.org.br/>.

• Associações de Vítimas de Fornecedor Determinado. Estas agem quando solicitadas ou por


iniciativa própria.
• Poder Judiciário - que age se provocado, como um meio judicial de defesa do consumidor.

3.3 HARMONIZAÇÃO DE INTERESSES


Para permitir a harmonização dos interesses das partes envolvidas nas
relações de consumo, há necessidade de nivelá-los, tratando com igualdade os
diferentes, alcançando assim o equilíbrio.

Para que isso aconteça é preciso que haja consciência da existência de uma
terceira força no mercado, além da indústria e do trabalho: o consumidor. Quando
este passar a interferir no mercado, com repercussões sobre a produção, seja sob
o ponto de vista da qualidade, da quantidade ou da necessidade, o mercado se
tornará mais eficiente, sem desperdício econômico. Dessa forma, a diminuição
das desigualdades é condição essencial para a harmonização e equiparação entre
consumidor e produtor.

3.4 INFORMAÇÃO
Na Resolução nº 39/248/85, de 16/04/1985, a ONU estabeleceu, entre os
princípios para que os governos membros desenvolvam ou reforcem políticas
firmes de proteção ao consumidor, o direito à informação.

Adotado expressamente pelo Código de Defesa do Consumidor, este


princípio não implica apenas informações sobre o produto ou serviço, mas
também quanto aos direitos e deveres enquanto consumidor. O consumidor deve
saber como ressarcir-se, pois isto é importante para garantir justiça individual.

O consumidor, portanto, deve ser informado e educado sobre seu próprio


poder frente aos produtores e prestadores de serviços, para equiparar-se a estes
em seu relacionamento.

3.5 QUALIDADE
É o princípio que manda incentivar o desenvolvimento de meios eficientes
de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços. O produtor deve
garantir que as mercadorias, além de uma performance adequada aos fins a que se
destinam, tenham duração e confiabilidade.

124
TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

A própria ONU tem elaborado diretrizes que preveem os direitos do


consumidor no que toca à qualidade e segurança dos produtos. Um desempenho
adequado destes é uma exigência inerente à sua existência, aliada à necessidade
de durabilidade e confiabilidade dos produtos colocados à disposição do
consumidor.

A qualidade não deve se restringir apenas ao produto e serviço prestado,


mas também no atendimento ao consumidor pela colocação de mecanismos
alternativos (viáveis e rápidos) na solução de conflitos que porventura surjam
na relação de consumo.
FONTE: Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/24438-24440-1-PB.htm>.
Acesso em: 6 mar. 2013.

3.6 COIBIÇÃO DE ABUSOS


É o princípio que reprime abusos no mercado de consumo. O Código
de Defesa do Consumidor criou o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor
(SNDC), integrado pelos órgãos federais, estaduais, do Distrito Federal e
municipais e as entidades de defesa do consumidor.
FONTE: Adaptado de: <www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista..>. Acesso
em: 6 mar. 2013.

O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) congrega


Procons, Ministério Público, Defensoria Pública e entidades civis de defesa
do consumidor, que atuam de forma articulada e integrada com a Secretaria
Nacional do Consumidor (Senacon).

O SNDC se reúne trimestralmente para analisar conjuntamente os


desafios enfrentados pelos consumidores e para a formulação de estratégias
de ação, tais como: fiscalizações conjuntas, harmonização de entendimentos e
elaboração de políticas públicas de proteção e defesa do consumidor.

Os órgãos do SNDC têm competência concorrente e atuam de forma


complementar para receber denúncias, apurar irregularidades e promover a
proteção e defesa dos consumidores.

FONTE: Disponível em: <portal.mj.gov.br/.../...>. Acesso em: 6 mar. 2013.

Os Procons são órgãos estaduais e municipais de proteção e defesa do


consumidor, criados especificamente para este fim, com competências, no âmbito
de sua jurisdição, para exercer as atribuições estabelecidas pela Lei n° 8.078, de 11
de setembro de 1990, e pelo Decreto nº 2.181/97.

125
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

Os Procons são, portanto, os órgãos que atuam no âmbito local,


atendendo diretamente os consumidores e monitorando o mercado de
consumo local. Têm papel fundamental na execução da Política Nacional de
Defesa do Consumidor.

O Ministério Público e a Defensoria Pública, no âmbito de suas


atribuições, também atuam na proteção e na defesa dos consumidores e na
construção da Política Nacional das Relações de Consumo. O Ministério
Público, de acordo com sua competência constitucional, além de fiscalizar a
aplicação da lei, instaura inquéritos e propõe ações coletivas. A Defensoria,
além de propor ações, defende os interesses dos desassistidos, promove
acordos e conciliações.

A Secretaria Nacional do Consumidor, por sua vez, tem por atribuição


legal a coordenação do SNDC e está voltada à análise de questões que tenham
repercussão nacional e interesse geral, além do planejamento, elaboração,
coordenação e execução da Política Nacional de Defesa do Consumidor.
FONTE: Disponível em: <portal.mj.gov.br/.../...>. Acesso em: 6 mar. 2013.

O Código de Defesa do Consumidor também instituiu a Convenção


Coletiva de Consumo, para regular, por escrito, as relações de consumo.

Em seu artigo 107, o CDC prevê que: as entidades civis de consumidores,


as associações de fornecedores ou sindicatos de categoria econômica podem
regular, por convenção escrita, relações de consumo [...]. (BRASIL, 2013).

Estes dois: SNDC e Convenção Coletiva de Consumo, além dos demais


existentes e já descritos, colaboram e implementam a coibição e repressão
necessárias contra os abusos praticados no mercado: pelo uso do poder econômico;
pela introdução de produtos que iludam sobre a qualidade do consumidor na sua
boa-fé; utilização indevida de marcas e patentes; pela utilização de publicidade
enganosa ou constrangedora para determinados grupos etários, sociais ou
econômicos e de cláusulas contratuais abusivas.

3.7 SERVIÇO PÚBLICO

Este princípio prevê a racionalização e melhoria dos serviços públicos.


Em termos de serviço público, a isonomia dos usuários é a mais absoluta
possível. Qualquer pessoa do povo pode exigir a prestação correta do serviço
público, porque é uma obrigação da administração pública e um direito de
qualquer pessoa.

FONTE: Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br/revistas/files/anexos/24438-24440-1-PB.htm>.


Acesso em: 6 mar. 2013.

126
TÓPICO 2 | O DIREITO DO CONSUMIDOR NO BRASIL

É um dever da administração pública: a prestação de serviços corretos,


configurando-se esta obrigação do Estado de bem-servir, sem favor para
qualquer pessoa, como um direito público subjetivo do povo. Deve haver uma
igualdade no atendimento à população com um atendimento satisfatório,
inclusive dos permissionários e concessionários.

FONTE: Disponível em: <www.tvimagem.com.br/gilbertodebarrosbasilefilho/principios.htm>.


Acesso em: 6 mar. 2013.

Estes, no atendimento à população, devem tomar todas as medidas


que se fizerem necessárias para agilizar a prestação dos serviços dos quais se
incumbirem.

3.8 MERCADO
Este princípio propõe o estudo constante das modificações do mercado de
consumo. Deve haver uma política que privilegie as necessidades de demanda
e não as conveniências da oferta. Produtores e consumidores devem adotar um
conjunto de decisões sobre o que produzir. A demanda deve ser privilegiada
ao se analisar a produção e não se avaliar a necessidade de produção pelas
conveniências da oferta.

Este é um dos pontos importantes para uma justa relação de consumo.


Ou seja, satisfazer os interesses mais modestos de faixas menos privilegiadas
economicamente da população e, com isso, trazendo-as ao mercado de
consumo numa relação equânime.

Estaremos, assim, tornando mais correta a aplicação de seu dinheiro


em produtos de qualidade que estejam realmente necessitando adquirir, e não
induzindo-as a consumirem produtos desnecessários, através de técnicas de
marketing sedutoras e agressivas.

127
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

LEITURA COMPLEMENTAR

“NOTÍCIA - SINDEC: EM 292 CIDADES, DOIS MILHÕES DE


CONSUMIDORES ATENDIDOS”

Ministério da Justiça divulga balanço dos atendimentos dos Procons em 2012

O número de atendimentos registrados pelos Procons integrados ao


Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec) foi de 2,03
milhões de consumidores em 2012. Essa quantidade representa um aumento de
19,7% em relação aos 1,6 milhão do ano de  2011.

Entre os assuntos mais demandados pelos consumidores ao longo de 2012


destacam-se: telefonia celular (9,17%); banco comercial (9,02%); cartão de crédito
(8,23%); telefonia fixa (6,68%) e financeira (5,17%). A publicação mostra que a
empresa Oi lidera o ranking com 120.374 demandas. Em seguida, estão a Claro-
Embratel (102.682), o Grupo Itaú (97.578), Bradesco (61.257) e Vivo-Telefônica
(44.022).

O setor mais demandado pelos consumidores que procuram os Procons é


o financeiro (banco comercial, cartão de crédito, financeira e cartão de loja), com
23,85%. Além disso, foi possível constatar um aumento de demandas  no setor de
telecomunicações (telefonia celular, telefonia fixa, TV por assinatura e internet),
que saltou de 17,46%, em 2011, para 21,7% dos registros em 2012.

As informações fazem parte do Boletim Sindec 2012, divulgado nesta


quarta-feira (16/10) pela Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da
Justiça (Senacon/MJ).

Os principais problemas enfrentados pelos consumidores em 2012 foram:


37,42% relativos a cobranças (falta de informação sobre valores, cobranças
duplicadas etc.); 17,31% relativos à oferta de produtos e serviços; 13,21% problemas
com contrato (alterações unilaterais, descumprimento de ofertas e publicidades
enganosas), 17,57% referentes à qualidade de produtos (vício ou má qualidade de
produto/serviço, defeitos e garantia de produtos).

Ao analisar o perfil do consumidor, a publicação mostra que


as mulheres representam 52,97% das pessoas que procuraram os
Procons em 2012. A maioria dos consumidores tem entre 21 e 50 anos.

O Boletim Sindec 2012, que reúne os atendimentos realizados pelos


Procons integrados ao SINDEC em 292 cidades brasileiras, visa incentivar
a melhoria do atendimento prestado ao consumidor e o aprimoramento da
qualidade de produtos e serviços comercializados no Brasil.

FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br>. Acesso em: 16 jan. 2013.

128
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico expomos a evolução histórica do direito do consumidor no
Brasil.

• Aprendemos que, com o advento da Constituição Federal de 1988, o Brasil,


efetivamente, colocou a defesa do consumidor como dever do Estado brasileiro.

• Foi com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990)


que se estabeleceu a Política Nacional das Relações de Consumo, dispondo
quanto ao atendimento das necessidades dos consumidores. O respeito à sua
dignidade, saúde, segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das
relações de consumo.

129
AUTOATIVIDADE

Considerando o conteúdo do Tópico 2, responda às seguintes questões:

1 No sistema protetivo do consumidor, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os serviços públicos são excluídos, já que há objeto de leis próprias.


b) ( ) Haverá, sempre, a inversão do ônus probatório em benefício do
consumidor, em face de sua presumida hipossuficiência, que é absoluta.
c) ( ) As cláusulas de eleição de foro são tidas por inexistentes em qualquer
hipótese, não gerando efeitos jurídicos.
d) ( ) É garantido o direito de modificação das cláusulas contratuais que
estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos
supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.

2 Entre os instrumentos com os quais o poder público conta para a execução


da Política Nacional das Relações de Consumo inclui-se:

a) ( ) A instituição de promotorias de justiça de defesa do consumidor, no âmbito


do MP.
b) ( ) A assistência jurídica integral e gratuita a todos os consumidores.
c) ( ) A criação do balcão de atendimento ao consumidor, no âmbito municipal.
d) ( ) A instituição de associações de defesa do consumidor.

3 O Código de Defesa do Consumidor estabelece os objetivos e princípios da


Política Nacional de Relações de Consumo. Nesse contexto, pode-se afirmar
que existe:

a) ( ) Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de


consumo.
b) ( ) Ação governamental no sentido de proteger o fornecedor através da
presença do Estado no mercado de consumo
c) ( ) Incentivo à criação de mecanismos de arbitragem entre consumidores e
fornecedores.
d) ( ) Estabelecimento de regras que excluem a atividade estatal dos casos de
concorrência desleal.

4 O desenvolvimento pelos Estados da Federação de órgãos de defesa do


consumidor, como os PROCONs, traduz, no âmbito da Política Nacional de
Relações de Consumo, a:

a) ( ) Ação dos particulares.


b) ( ) Ação governamental.
c) ( ) Intervenção federal.
d) ( ) Atuação legislativa.

130
5 Considerando o texto “NOTÍCIA - SINDEC: Em 292 cidades, dois milhões
de consumidores atendidos”, faça uma análise e descreva quais foram os
principais problemas encontrados pelos consumidores brasileiros.

131
132
UNIDADE 2 TÓPICO 3

CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

1 INTRODUÇÃO
O Código de Defesa do Consumidor foi elaborado em linguagem simples
e direta, direcionado para que todos os brasileiros, independentemente de sua
condição cultural, pudessem ter acesso ao seu conteúdo.

Além do mais, traz em seu texto vários conceitos importantes e necessários


para configurar a existência de uma relação consumerista, justamente para se evitar
debates jurídicos intermináveis, que poderiam amenizar as responsabilidades
dos fornecedores de produtos e serviços e/ou excluir determinadas relações
comerciais da seara consumerista.

2 CONCEITO DE CONSUMIDOR
O artigo 2º do Código de Defesa do Consumidor conceitua o consumidor
da seguinte maneira:

Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produtos ou serviços como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se o consumidor à coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo. (BRASIL, 2013).

É preciso destacar, inicialmente, que o conceito de consumidor há que


ser definido mediante uma análise estruturada entre os artigos 2º e § único, 17 e
29 do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/90), de forma a interpretar
adequadamente a vontade protetiva que advém da norma legal.

Isto porque o mencionado artigo 2º traz uma redação que deixa a desejar
quanto à especificação e fixação de regras claras a respeito de conceituação da
figura do consumidor.

Tomemos como exemplo a simples referência da expressão “destinatário


final”, a qual não é suficiente para identificarmos todos os tipos de consumidores
em todas as relações de compra de produtos e de prestação de serviços.

Um exemplo é o fato de que, quando uma empresa compra uma máquina


utilizada em sua linha de produção para industrialização de outros bens de
consumo ou produtos, esta máquina é um produto, sim, mas não é típico de

133
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

consumo, não é comprado em qualquer lugar na rua. Portanto, é um bem, um


produto típico de produção e não de consumo.

Dessa forma, a empresa que compra a referida máquina, apesar de


ser destinatária final deste produto (máquina industrial para fabricar outros
produtos, então, bens de consumo), não é consumidora pelos parâmetros legais e
interpretativos jurídicos do Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

Portanto, a ideia de ser o comprador de um bem, ser destinatário final, é o


início de uma análise mais cautelosa, é uma referência para buscarmos entender
se estamos diante de uma relação de consumo. Todavia, não define a questão.

O que serve de maior ênfase é entendermos, ao mesmo tempo, se o comprador


é destinatário final, mas também compreendermos a natureza do tipo de bem
adquirido. Se este tem uma natureza típica de ser consumida, como uma roupa, um
alimento, uma bicicleta, um sapato, bens típicos de consumo. Ou se o bem adquirido
será meio de elaboração e de produção de outros bens, então, de consumo.

O Código de Defesa do Consumidor não define o conceito dos chamados


bens de produção, tampouco os chamados bens típicos de consumo, ficando a
cargo dos profissionais do Direito, como juízes, promotores e advogados, a busca
sincera da compreensão e identificação destes conceitos, a fim de entendermos se
a relação é de direito civil comum ou de consumo, para então sabermos quais são
as leis e conceitos que serão aplicados em um julgamento. Ou seja, se são leis de
Direito Civil Comum pelos Códigos Civis ou o Código de Defesa do Consumidor,
que são bem diferentes.

Por outro lado, para a exata qualificação figurada do consumidor, é


necessário que se amplie a conceituação dada pelo legislador no caput do artigo
2º. Pois o parágrafo único do mesmo artigo criou a figura do consumidor por
equiparação, ao prever expressamente que a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, desde que tenham intervindo nas relações de consumo,
deve ser equiparada a consumidores.

FONTE: Disponível em: <jus.com.br/revista/texto/4984/do-conceito-ampliado-de-consumidor>.


Acesso em: 7 mar. 2013.

Nesse passo, o artigo 17 da lei em análise também equipara à condição


de consumidor todas as pessoas que possam ter sido vitimadas pelos acidentes
decorrentes do fato de produto ou serviço. Ainda neste sentido, o Código,
quando regula as chamadas práticas comerciais, inicia o capítulo pelo artigo
29 que, mais uma vez, utiliza-se da locução “equipara-se” para aí estender a
proteção consumerista a todas as pessoas determináveis ou não que tenham
sido expostas às práticas que o referido capítulo regula.
FONTE: Adaptado de: <www.boletimjuridico.com.br › doutrina › Direito do Consumidor>.
Acesso em: 7 mar. 2013

134
TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

Tendo sido feitas estas considerações iniciais, abordaremos de maneira


distinta as três situações em que o Código trata dos consumidores por equiparação:
art. 2º (consumidor stricto sensu); art. 2º, § único (coletividade de pessoas); art.
17 (vítimas do acidente de consumo) e art. 29 (das pessoas expostas às práticas
abusivas). (BRASIL, 2013).

2.1 DA COLETIVIDADE DE PESSOAS


A equiparação determinada pelo parágrafo único do art. 2º do CDC visa
proteger toda a coletividade de pessoas sujeitas às práticas decorrentes da relação
de consumo.

Desta forma, conseguiu-se viabilizar uma rede protetora dos interesses


difusos e coletivos da massa consumidora, dotando os órgãos que detenham
legitimidade para atuar em sua defesa, de mecanismo de prevenção para obtenção
de uma justa reparação para a eventualidade de existência de dano.

José Geraldo Brito Filomeno (1999, p. 38-39), coparticipante da elaboração


do anteprojeto que resultou no Código de Defesa do Consumidor, ao comentar
referido parágrafo, expressamente diz:

O que se tem em mira no parágrafo único do art. 2º é a universalidade,


conjunto de consumidores de produtos e serviços, ou mesmo grupo,
classe ou categoria deles, e desde que relacionados a um determinado
produto ou serviço. Perspectiva essa extremamente relevante e
realista, porquanto é natural que se previna, por exemplo, o consumo
de produtos ou serviços perigosos ou então nocivos, beneficiando-
se, assim, abstratamente, as referidas universalidades e categorias de
potenciais consumidores.

2.2 DAS VÍTIMAS DO ACIDENTE DE CONSUMO


Vejamos o que dispõe o artigo 17 do Código de Defesa do Consumidor:
Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as
vítimas do evento. (BRASIL, 2013).

Sobre o mencionado dispositivo legal, ensina Roberto Senise Lisboa (2001,


p. 163) que:

Além do próprio consumidor, o terceiro prejudicado recebeu a atenção


do legislador, ante o dano sofrido, decorrente da relação de consumo
da qual não participou. Concluiu o raciocínio afirmando que estendeu-
se a proteção concedida pela lei ao destinatário final dos produtos ou
serviços, em favor de qualquer sujeito de direito, inclusive daquele
que ordinariamente não seria consumidor na relação de consumo a
partir da qual ocorreu o prejuízo.

135
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

Paulo de Tarso Vieira Sanseverino (2002, p. 41), ao discorrer sobre o


assunto, assim ensina:

Toda e qualquer vítima de acidente de consumo equipara-se ao


consumidor para efeito da proteção conferida pelo CDC. Passam a ser
abrangidos os chamados bystander, que são terceiros que, embora não
estejam diretamente envolvidos na relação de consumo, são atingidos
pelo aparecimento de um defeito no produto ou no serviço.

Cabe aqui destacar que a regra contida no art. 17 do CDC engloba a


proteção ao terceiro que não faz parte da relação direta de consumo. Assim,
conclui-se que, se do acidente de consumo restou prejuízo para qualquer pessoa,
mesmo aquelas que não estariam enquadradas no conceito de consumidor, o
dever de indenizar estará presente.

Neste aspecto, Jaime Marins (1993, p. 70-71):

nos fornece um exemplo bem ilustrativo do que seja o chamado


bystander, ao relatar o caso de um comerciante de defensivos agrícolas
que se vê seriamente intoxicado pelo simples ato de estocagem em
decorrência de defeito no acondicionamento do produto - defeito de
produção.

Neste caso, embora o comerciante não seja consumidor stricto sensu,


poderá se socorrer da proteção consumerista.

2.3 DAS PESSOAS EXPOSTAS ÀS PRÁTICAS ABUSIVAS


Para delinearmos o estudo deste tópico, primeiramente vejamos o
que dispõe o artigo 29 do Capítulo V – Das práticas comerciais, Seção I – Das
Disposições Gerais do Código Consumerista: Para os fins deste Capítulo e do
seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou
não, expostas às práticas nele previstas. (BRASIL, 2013).

Incluem-se nesse ponto o conjunto de pessoas, consumidoras ou não,


determináveis ou não, que possam, de qualquer forma, estarem expostas às
práticas comerciais que vão desde a oferta de produtos (art. 30 a 35), à publicidade
enganosa ou abusiva (art. 36 a 38), às práticas abusivas (art. 39 a 41), à forma de
cobrança de dívidas (art. 42), à inclusão de seus nomes em bancos de dados (art.
43 e 44), assim como das cláusulas abusivas (art. 51).

Vê-se, desde logo, que a abrangência do art. 29 do CDC é bem maior


que os já tratados (art. 2º, § único e 17), porquanto, basta que a relação seja de
consumo para que a proteção consumerista seja estendida a qualquer pessoa,
independentemente da conceituação legal de consumidor.

FONTE: Adaptado de: <jus.com.br/revista/texto/4984/do-conceito-ampliado-de-consumidor>.


Acesso em: 7 mar. 2013.

136
TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

Nesse sentido, enfatiza Roberto Senise Lisboa (2001, p.169) que:

O legislador conferiu a defesa dos direitos de todos, consumidores


por definição ou não, e não apenas da coletividade de consumidores.
Assim, a expressão todas as pessoas abrange a vítima do evento
referido no art. 17, a coletividade de consumidores à qual alude o
art. 2º, § único. E mesmo as pessoas que normalmente não seriam
consumidoras na relação de consumo, a partir da qual se principiou
o dano.

Evidentemente que a equiparação de qualquer pessoa à condição de


consumidor, no sentido de que a mesma possa ser beneficiária da legislação
consumerista, há que decorrer de uma relação de consumo. Isto é, é preciso haver
num dos polos um fornecedor, seja de serviços, seja de produtos e, de outro, um
consumidor como alvo a ser atingido pelo apelo do fornecedor. Se assim não for,
não há que se falar em consumidor por equiparação, porque nem mesmo relação
de consumo haverá.

Assim, conclui-se que consumidor não é apenas aquele que adquire


ou utiliza produtos, mas também as pessoas expostas às práticas previstas no
Código. No primeiro caso, exige- se que haja ou que esteja por haver a aquisição
ou utilização de um produto ou serviço. Já no segundo, o que se exige é a simples
exposição à prática, mesmo que não se consiga apontar concretamente um
consumidor que esteja em vias de adquirir ou utilizar o produto ou serviço.

3 CONCEITO DE FORNECEDOR, PRODUTOR E


PRESTADOR DE SERVIÇOS
É no artigo 3º do CDC que encontramos as definições destas figuras,
como partes integrantes do outro lado da relação jurídica de consumo, pessoas
ou entes que produzem, montam, constroem, criam, transformam, importam
ou exportam, distribuem e comercializam produtos ou prestam serviços. Sejam
pessoas físicas ou jurídicas, brasileiras ou estrangeiras, do governo (públicas) ou
empresas privadas, particulares.

Vejamos o teor do artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista. (BRASIL, 2013).

137
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

A definição legal praticamente esgotou todas as formas de atuação


no mercado de consumo. Nesse sentido, são compreendidos todos quantos
propiciem a oferta de bens e serviços no mercado de consumo, de modo a atender
às suas necessidades, pouco importando a que título, tendo relevância a distinção
apenas, como se verá, quando se cuidar da responsabilidade de cada “fornecedor”
em casos de danos aos consumidores.

Ou então para os próprios fornecedores na via regressiva e em cadeia


das mesmas responsabilidades, eis que é vital a solidariedade para a obtenção
efetiva da proteção que almejam aqueles mesmos consumidores.

FONTE: Adaptado de: <jus.com.br/.../a-responsabilidade-civil-das-agencias-de-turismo-nas-re...>.


Acesso em: 7 mar. 2013.

Fornecedor não é apenas quem produz ou fabrica, industrial ou


artesanalmente, em estabelecimentos industriais centralizados ou não, como
também quem vende. Ou seja, comercializa produtos nos milhares de pontos
de venda espalhados por todo o território brasileiro.

FONTE: Disponível em: <www.mp.to.gov.br/cint/cesaf/arqs/020209030547.pdf>. Acesso em: 7


mar. 2013.

O fornecedor, inclusive, pode ser o fabricante originário, o intermediário


ou o comerciante. O conceito dado pela lei engloba também as atividades de
montagem, as de criação, construção, transformação, bem como as de importação,
exportação e distribuição.

No que concerne à configuração de fornecedor de serviços, é importante


frisar que tal prestação será remunerada e não subordinada ao vínculo trabalhista.
Sendo gratuita, como ocorre nos atos de camaradagem, como os favores, não será
classificado como serviço protegido pelo Código de Defesa do Consumidor.

Prestadores de serviços são também as concessionárias de serviço público,


estando incluídos os serviços de transporte, saúde, telefonia, correios, sejam
prestados por empresas ou entidades governamentais ou através de empresas
privadas ou privatizadas.

3.1 BANCO COMO FORNECEDOR DOS SERVIÇOS


BANCÁRIOS DE CONSUMO
Abordaremos, neste passo, um tema que, desde a entrada em vigor
do Código de Defesa do Consumidor, foi palco de exaustivo debate no Poder
Judiciário Brasileiro, que culminou na Ação Direta de Inconstitucionalidade
(ADIN) nº 2591-1 perante o Supremo Tribunal Federal.

138
TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

De um lado, os bancos, representados pela Confederação Nacional das


Instituições Financeiras (Consif), que pedia a inconstitucionalidade do § 2º do art.
3º do Código de Defesa do Consumidor (CDC) na parte em que inclui no conceito
de serviço, abrangido pelas relações de consumo, as atividades de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária. E de outro lado, os consumidores,
sustentando pela plena legalidade da norma.

O placar do julgamento definitivo da ADIN ficou assim: votaram pela


improcedência do pedido formulado pela Consif os Ministros: Néri da Silveira,
Eros Grau, Carlos Ayres Britto, Joaquim Barbosa, Sepúlveda Pertence, Cezar
Peluso, Marco Aurélio, Celso de Mello e Ellen Gracie. Ficaram parcialmente
vencidos os Ministros Carlos Velloso, relator, e Nelson Jobim.

FONTE: Disponível em: <gerencia.policiacivil.go.gov.br/noticias/busca_id.php?publicacao...>.


Acesso em: 7 mar. 2013.

Para elucidarmos a questão, devemos partir do princípio de que


o Código de Defesa do Consumidor preceitua critérios específicos para o
funcionamento dos contratos e serviços bancários, pois estes devem estar
sujeitos às normas de ordem pública e de interesse social previstas no referido
diploma legal.

FONTE: Disponível em: <gerencia.policiacivil.go.gov.br/noticias/busca_id.php?publicacao...>.


Acesso em: 7 mar. 2013.

E o § 2º do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor retrata que, em se


tratando de serviços, os bancários são incluídos como sendo: qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de
natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista. (BRASIL, 2013).

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula 297:

Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.

A importância da aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos


contratos de serviços bancários é a de que estes são formulados por cláusulas
pré-elaboradas ou utilizados na forma de adesão, sem influência do cliente no
respectivo conteúdo. Se, por um lado, permitem a racionalização da contratação
em massa com milhares de pessoas, ganhando tempo e poupando incômodos aos
clientes que desejam ser atendidos pelas instituições financeiras, podem, muitas
vezes, não serem justas, equitativas e razoáveis.

139
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

4 CONCEITOS DE PRODUTOS E SERVIÇOS


Os parágrafos 1º e 2º do artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor
conceituam produto e serviço, como sendo:

Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados,
que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação,
construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1º. Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2º. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista. (BRASIL, 2013).

O Código de Defesa do Consumidor divide os produtos e serviços em


duas categorias:

• DURÁVEIS: que são aqueles que normalmente sobrevivem a muitos usos


(eletrodomésticos, roupas, imóveis etc.).

• NÃO DURÁVEIS: que, normalmente, são consumidos em um ou em alguns


poucos usos (alimentos, produtos de higiene, corte de cabelo, consertos etc).

4.1 PRODUTO
Quando definiu produto, o legislador designou como sendo “qualquer
bem”, podendo este ser “móvel ou imóvel”, e ainda, “material ou imaterial”.

Na definição de produto “móvel ou imóvel”, o Novo Código Civil


Brasileiro traz, nos seus artigos 79 a 91, a conceituação e uma ampla classificação
das diferentes classes desses bens.

No sentido da lei, bens imóveis são aqueles que se aderem ao solo e tudo
aquilo que lhe for incorporado natural ou artificialmente. Temos como exemplo
de bem imóvel: um terreno ou até mesmo o conjunto do terreno mais uma casa
posta à venda ao consumidor por uma empresa incorporadora.

Já os bens móveis são aqueles suscetíveis de movimento próprio ou


de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação
econômico-social. Temos como exemplo de bem móvel: a bicicleta e o
automóvel.

FONTE: Adaptado de: <jus.com.br/.../consideracoes-acerca-da-disciplina-dos-crimes-de-


furto...>. Acesso em: 7 mar. 2013.

140
TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

Os animais que são comercializados são chamados de bens semoventes.

O Código Civil de 2002 (Lei nº 10.406/2002) traz os conceitos e a classificação


das diferentes classes de bens. Veja na Leitura Complementar a seguir.

LEITURA COMPLEMENTAR

SEÇÃO I

DOS BENS IMÓVEIS

Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


I- os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II- o direito à sucessão aberta.

Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:


I- as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local;
II- os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem.

Seção II

Dos Bens Móveis

Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção


por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social.

Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham
valor econômico;
II- os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes; III - os
direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem


empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os
provenientes da demolição de algum prédio.

Seção III

Dos Bens Fungíveis e Consumíveis

Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade.
141
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da
própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

Seção IV

Dos Bens Divisíveis

Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se
destinam.

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por


determinação da lei ou por vontade das partes.

Seção V

Dos Bens Singulares e Coletivos

Art. 89. São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si
independentemente dos demais.

Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,


pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária.

Parágrafo único. Os bens que formam essa universalidade podem ser objeto de
relações jurídicas próprias.

Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas de


uma pessoa, dotadas de valor econômico

FONTE: Disponível em: <www.diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?numlink=1-96...>.


Acesso em: 7 mar. 2013.

O produto material ou imaterial diz respeito à própria materialidade do


produto. Se for um produto que pode ser manuseado pelo ser humano, ou seja,
passível de tato, é considerado material.

A imaterialidade diz respeito a uma preocupação da lei em garantir que


a relação jurídica de consumo esteja assegurada para toda e qualquer compra
e venda realizada, fixando, assim, o legislador, os conceitos mais genéricos
possíveis.

Como exemplo de produtos imateriais temos as atividades bancárias de


mútuo, aplicação em renda fixa, caução de títulos. É claro que estes produtos
sempre estão acompanhados de serviços fornecidos pelas instituições financeiras.

142
TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

4.2 SERVIÇO
O Código de Defesa do Consumidor definiu serviço da forma mais
completa possível. Porém, é importante salientar que a lista apresentada pelo
código é meramente exemplificativa, uma vez que utilizou o pronome “qualquer”.
Assim sendo, serviço é qualquer atividade fornecida, ou melhor dizendo, prestada
no mercado de consumo.

4.2.1 Serviço bancário, financeiro, de crédito e securitário


Com a finalidade de se evitar discussões conceituais futuras perante o
Poder Judiciário, o legislador consumerista tratou de enumerar todas as hipóteses
possíveis de fornecimento de serviços pelas instituições financeiras e de seguro.
Apesar da clareza do texto legal, os bancos tentaram judicialmente obter uma
decisão em sentido oposto.

4.2.2 Serviço sem remuneração


Pela leitura do § 2º do art. 3º, tem-se o aspecto da “remuneração” lá inserido
e da exclusão do serviço de caráter trabalhista. A lei acertadamente excluiu da
abrangência de serviços aqueles relacionados ao vínculo trabalhista, uma vez que
poderia haver debates jurídicos acirrados no âmbito da Justiça do Trabalho, de
forma a caracterizar o empregado como fornecedor de serviços ao empregador.

O Código de Defesa do Consumidor define também serviço como aquela


atividade fornecida mediante “remuneração”. Nesse ponto, é necessário partir-
se do pressuposto de que nada é gratuito no mercado de consumo. Mesmo o
cafezinho servido “gratuitamente” ao consumidor, seja no supermercado ou
no restaurante, o seu custo já está embutido direta ou indiretamente no preço
cobrado pelos demais produtos.

Assim, quando a lei fala em “remuneração”, não está necessariamente


se referindo a preço ou valor cobrado. A interpretação do termo “remuneração”
deve ser entendida sob o aspecto de qualquer tipo de cobrança ou repasse, direto
ou indireto. Dessa forma, o direito do consumidor também alcança aqueles
consumidores que sofrem danos pelo consumo de produtos muitas vezes cedidos
“gratuitamente” pelos fornecedores.

4.2.3 Serviço Público


Por determinação do Código de Defesa do Consumidor, foi inclusa no rol
de fornecedores a pessoa jurídica de direito público, incluindo, via de regra, todos
aqueles que em nome dela, direta ou indiretamente, prestam serviços públicos.

143
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

Contudo, conforme já salientado anteriormente, e conforme disposição


do § 2º do artigo 3º do CDC, excluem-se deste rol os serviços prestados sem
remuneração.

Dessa forma, para se evitar discussões judiciais, no sentido de que os


entes estatais, assim como suas concessionárias ou permissionárias que prestam
serviços públicos, tentassem se eximir de suas responsabilidades em face à
inexistência de contraprestação remuneratória por parte do consumidor, o artigo
22 do mesmo diploma legal tratou de enquadrar tais pessoas jurídicas como
partes da relação jurídica de consumeristas.

Vejamos o que dispõe o artigo 22 do Código de Defesa do Consumidor:


os órgãos públicos, por si ou suas empresas concessionárias, permissionárias,
ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer
serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
(BRASIL, 2013).

Além do mais, o artigo 22 determina que os serviços públicos prestados


sejam “adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos”. Isto
significa que a concessionária não poderá interromper o fornecimento de serviços
essenciais, tais como: o de abastecimento de água, energia elétrica, telefone,
recolhimento de lixo, mesmo havendo inadimplência do usuário, quando existir
o interesse da coletividade.

A Lei de Greve (Lei nº 7.783, de 28 de junho de 1989), em seu artigo 10,


define quais os serviços considerados indispensáveis e inadiáveis à sociedade, ou
seja, essenciais:

São considerados serviços ou atividades essenciais:

I- tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia


elétrica, gás e combustíveis;
II- assistência médica e hospitalar;
III- distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
IV- funerários;
V- transporte coletivo;
VI- captação e tratamento de esgoto e lixo;
VII- telecomunicações;
VIII- guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais
nucleares;
IX- processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X- controle de tráfego aéreo;
XI- compensação bancária. (BRASIL, 2013).

144
TÓPICO 3 | CONCEITOS DE DIREITO DO CONSUMIDOR

A lei ainda determina que, nos serviços ou atividades essenciais, os


sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum
acordo, a garantir, durante a greve, a prestação de serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade. Ou seja, aquelas
que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou
a segurança da população.
FONTE: Disponível em: <www.jurisway.org.br › ... › Leonardo Tadeu>. Acesso em: 7 mar. 2013.

Por fim, é importante salientar que nos casos de descumprimento, total


ou parcial, do que é determinado pelo Código de Defesa do Consumidor, mesmo
nos casos de greve, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar
os danos causados (§ único do art. 22 da Lei nº 8.078/90).

145
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico expomos os conceitos básicos inerentes ao Direito do
Consumidor e aprendemos que:

• Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto


ou serviço como destinatário final, equiparando-se, inclusive, à coletividade
de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.

• Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades
de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços.

• Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

• Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante


remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

• Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias


ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer
serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

146
AUTOATIVIDADE

Mediante pesquisa no conteúdo deste tópico e no Código de Defesa do


Consumidor, responda às seguintes questões:

1 Sobre o Direito do Consumidor, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produto ou serviço como destinatário final.
b) ( ) As multas de mora decorrentes de inadimplemento de obrigação no seu
termo poderão ser de 10% do valor da prestação em atraso.
c) ( ) Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial, ou
serviço.
d) ( ) O produto é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor
qualidade ter sido colocado no mercado.

2 Sobre o Direito do Consumidor, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não deverão


acarretar riscos à saúde ou segurança do consumidor, exceto os considerados
normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando
o fornecedor, em qualquer hipótese, dar as informações necessárias e
adequadas a seu respeito.
b) ( ) O fornecedor poderá colocar no mercado de consumo produto ou
serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança, quando expressamente informar aos
consumidores.
c) ( ) O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação
caduca em 90 dias, tratando-se de serviços ou produtos não duráveis.
d) ( ) A garantia legal de adequação do produto ou serviço depende de termo
expresso.

147
148
UNIDADE 2
TÓPICO 4

DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

1 INTRODUÇÃO
O Código Brasileiro de Defesa do Consumidor estabeleceu os direitos
básicos do consumidor, quais sejam, o direito à segurança, à escolha, à informação,
de ser ouvido, à indenização, à educação para o consumo e um meio ambiente
saudável, direitos estes que são universalmente aceitos.

Os referidos direitos foram estabelecidos de forma a possibilitar o


equilíbrio nas relações de consumo entre o consumidor e o fornecedor de produtos
e serviços.

2 DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR


Os direitos básicos do consumidor, conforme já visto no Tópico 1
desta unidade de estudo, são universalmente reconhecidos, através da ONU
(Organização das Nações Unidas), por meio da Resolução nº 32/248, de 10/04/1985,
e também pela IOCU, hoje conhecida por International Consumers, que considera
sete direitos, tidos como básicos a qualquer consumidor em todo o mundo, quais
sejam, o direito à segurança, à escolha, à informação, de ser ouvido, à indenização,
à educação para o consumo e um meio ambiente saudável.

O jurista João Batista de Almeida explica de forma clara e objetiva o


significado de cada um destes direitos básicos consagrados pela ONU:

a) Direito à segurança: outorga garantia contra produtos ou serviços


que possam ser nocivos à vida, à saúde e à segurança.
b) Direito à escolha: assegurar ao consumidor opção entre
vários produtos e serviços com qualidade satisfatória e preços
competitivos.
c) Direito à informação: o consumidor deve conhecer os dados
indispensáveis sobre produtos ou serviços para atuar no mercado de
consumo e decidir com consciência.
d) Direito de ser ouvido: o consumidor deve ser participante da política
de defesa respectiva, sendo ouvido e tendo assento nos organismos
de planejamento e execução das políticas econômicas e nos órgãos
colegiados de defesa.
e) Direito à indenização: é indispensável buscar-se a reparação
financeira por danos causados por produtos ou serviços.
f) Direito à educação para o consumo: o consumidor deve ser educado
formal e informalmente para exercitar conscientemente sua função no
mercado, restabelecendo-se, por esse meio, na medida do possível, o
equilíbrio que deve haver nas relações de consumo.

149
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

g) Direito a um meio ambiente saudável – à medida que o equilíbrio


ecológico reflete na melhoria da qualidade de vida do consumidor,
de nada adiantaria cuidar dele isoladamente, enquanto o ambiente
que o cerca se deteriora e traz efeitos ainda mais nocivos à sua saúde.
(ALMEIDA, 2003, p. 42-43).

Estes direitos universalmente aceitos foram adotados pelo legislador


brasileiro quando da promulgação do Código de Defesa do Consumidor.

Vejamos o teor do artigo 6º:

I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados


por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos
e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas
contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e
serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que
apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos
comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que
as tornem excessivamente onerosas;
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à
prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos ou difusos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e
técnica aos necessitados.
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão
do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério
do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,
segundo as regras ordinárias de experiências.
IX - (Vetado).
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.
(BRASIL, 2013).

Importante salientar que o “direito do consumidor a ser ouvido” nas


discussões das políticas relacionadas ao tema de seu interesse, consagrado
como direito básico do consumidor pela Organização das Nações Unidas,
sofreu o veto presidencial no inciso IX da Lei nº 8.078/90, apesar de aprovado
pelo Congresso Nacional, sob o argumento de que o dispositivo contrariava o
princípio da democracia representativa, usurpando dos parlamentares as funções
constitucionalmente já asseguradas de representação do povo em assuntos
legislativos.

Além dos direitos básicos previstos no artigo 6º, o artigo 7º do mesmo


diploma legal abre a possibilidade de ampliação desta lista em face de tratados
ou convenções internacionais em que o Brasil seja signatário da legislação

150
TÓPICO 4 | DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas


competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito,
analogia, costumes e equidade.

3 DIREITOS BÁSICOS DOS CONSUMIDORES


a) Satisfação das necessidades básicas

O consumidor tem direito à garantia ao acesso dos bens necessários para


a sua manutenção, no mercado de consumo, de ter atendidas as necessidades
básicas, tais como: saúde, moradia, alimentação, vestuário, diversão.

Portanto, é dever do Estado dar acesso às necessidades básicas do


cidadão, bem como de fiscalizar o mercado para garantir que as mercadorias não
estejam sendo escondidas ou superfaturadas. É para isto que existem os órgãos
públicos, que são mantidos através dos impostos pagos através do consumo de
mercadorias.

b) Segurança no consumo (art. 6º, Inciso I, CDC)

O consumidor tem direito a que os produtos e serviços colocados à venda


sejam testados, a fim de não ser utilizado como cobaia. Além de atenderem às
condições mínimas de qualidade e quantidade, bem como ser protegido contra
produtos que possam ser perigosos.

É dever dos órgãos de fiscalização controlar o que é posto à venda, através


da sociedade, de forma organizada, na figura de organizações não governamentais/
ONGs, como o IDECON, ou do consumidor individual, com denúncias sobre
a má qualidade de um produto ou serviço aos órgãos de fiscalização. Ou seja,
Procon, Idecon, Promotoria de Justiça responsável pela Curadoria do Direito do
Consumidor, existente em todos os Fóruns das Comarcas.

c) Proteção à vida e à saúde - Meio Ambiente saudável (art. 6º, Incso I, CDC)

Antes de comprar um produto ou utilizar um serviço, o consumidor deve


ser avisado pelo fornecedor dos possíveis riscos que podem oferecer à sua saúde
ou segurança. Se você for adquirir um produto que tem riscos de afetar a sua
saúde, como remédios com efeitos colaterais, obrigatoriamente o consumidor
deve ser avisado sobre eventuais riscos e danos, através da bula ou da embalagem.
A proteção à vida também está ligada ao meio ambiente.

d) Educação para o consumo (art. 6º, Inciso II, CDC)

O consumidor tem direito de receber orientação correta e adequada


de consumo, os meios de compra, de uso e como se desfazer adequadamente
dos produtos e serviços. Isso é dever do Estado e dos fornecedores. Exemplo: o

151
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

consumidor tem direito à orientação e informação de como encerrar corretamente


a sua conta corrente do banco, de como operar um eletrodoméstico etc.

e) Direito do consumidor à livre escolha (art. 39, Inciso I, CDC)

Ninguém pode exigir ou coagir o consumidor a adquirir produtos que


não queira ou não necessite. Quer dizer, o fornecedor não pode condicionar a
venda de produto à compra de outro produto. Por exemplo, é ilegal promover
a conhecida “venda casada”, como a maioria dos bancos faz, para abrir conta
corrente. O correntista é obrigado a adquirir um seguro. Isto é proibido: previsto
no CDC.

f) Direito à informação completa sobre o produto (art. 8º, 9º e 10º, CDC)

A completa informação é direito do consumidor para que possa identificar


o que está adquirindo, e se satisfaz suas necessidades. Ela é obrigatória, deve ser
a mais completa possível, como a forma de uso, prazo de duração e validade,
qual sua destinação, seus riscos à saúde e ao meio ambiente, seu modo de
armazenamento etc. Estas informações devem ser de fácil identificação e
entendimento ao consumidor. Exemplo: quando você adquire um produto de
limpeza, deve vir escrito com destaque e bem visível que faz mal se ingerido, ou
se coloca em risco a vida das crianças. Quando referida informação não constar
na embalagem, o consumidor lesado requerer indenização por perdas e danos.

g) Proteção contra publicidade enganosa e abusiva (art. 6º, Inciso IV, 36, 37, e
67, CDC)

O consumidor tem o direito de exigir e obter informações completas sobre


qualquer anúncio de venda de bens e serviços. Se o que foi anunciado não for
cumprido, o consumidor tem direito de cancelar o contrato e receber a devolução
da quantia que havia pago e, caso tenha prejuízo pelo evento, terá direito a
indenização. A publicidade enganosa e a abusiva são proibidas pelo Código de
Defesa do Consumidor, sendo consideradas crime.

h) Proteção dos contratos (art. 6º, Inciso V, 46 a 53, CDC)

Contrato é um acordo em que as pessoas assumem obrigações entre si.

O Código garante a igualdade nas contratações, possibilitando


modificação ou suspensão de cláusulas contratuais desproporcionais, que
provoquem desequilíbrio entre o consumidor e o fornecedor.

FONTE: Disponível em: <www.ebah.com.br/content/ABAAAA0NoAD/direito-empresarial>. Acesso


em: 7 mar. 2013.

152
TÓPICO 4 | DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

Protege o consumidor quando as cláusulas do contrato não forem


cumpridas ou quando forem prejudiciais ao consumidor. Exemplo: você,
ao entrar numa empresa, lhe é fornecido contrato de Plano de Seguro Saúde,
aderido e preenchido automaticamente pela empresa quando da contratação,
cujo pagamento é efetuado diretamente da sua folha de pagamento, sem que lhe
seja exigido qualquer exame ou documentação referente ao seu estado de saúde.
Se você vier a utilizar o Plano de Saúde, este não pode alegar falta de cobertura
porque você já tinha a doença antes do contrato. Esta cláusula pode ser anulada
pelo juiz, pois ela é considerada abusiva. O contrato não obriga o consumidor, se
ele não teve prévio conhecimento do que nele está escrito.

i) Direito a indenização – Reparação dos danos (art. 6º, Inciso VI, CDC)

O fornecedor ou prestador de serviços tem o dever de corrigir e indenizar


o consumidor de eventuais prejuízos e danos que tiver causado por produto
adquirido ou serviço contratado, sejam os danos de ordem material, física ou
moral. Se for comprado um liquidificador em uma loja, e pelo fato de o fabricante
não ter tomado o devido cuidado na hora da fabricação, ao ser colocado em uso,
se soltar uma peça e ferir uma pessoa, o fabricante deverá pagar todas as despesas
médicas e todos os gastos referentes ao acidente. Ou seja, se a pessoa trabalhava
e ficou sem trabalho, tem que pagar os salários; se ficaram cicatrizes ou acarretou
defeitos, há necessidade de indenização pelos danos estéticos e morais sofridos.

j) Direito de procurar a Justiça (art. 6º, Inciso VII, CDC)

O consumidor tem o direito de encontrar disponíveis os meios para serem


respeitados seus direitos, seja recorrendo ao Poder Judiciário, aos órgãos de
proteção aos direitos dos consumidores ou às delegacias do consumidor.

l) Facilitação da defesa de seus direitos (art. 6º, Inciso VIII, CDC)

O CDC facilitou a prova dos direitos dos consumidores, por serem estes
as partes mais fracas da relação de consumo. Seja invertido, portanto, em certos
casos, o ônus de provar os fatos. Exemplo: se o fornecedor do produto diz que
determinada fatura não foi paga e colocou o nome do consumidor no SPC, é ele
quem tem que provar se a fatura não estava paga, e não o consumidor que pagou.
Outro exemplo: se o consumidor alegar que o produto contém defeito, cabe ao
fornecedor provar o contrário.

m) Direito de receber os serviços públicos com qualidade (art. 6º, Inciso X,


CDC)

Os serviços públicos, por serem na sua maioria essenciais à manutenção


da vida, não podem ter interrompido seu fornecimento. Ex.: é ilegal o corte da
energia elétrica ou da água sem comunicação prévia. Não pode haver a suspensão
da coleta de lixo ou tratamento de esgoto, sob pena do administrador público
responder judicialmente por omissão.

153
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

E
IMPORTANT

Leia o Decreto nº 7.963, de 15 de março de 2013. Institui o Plano Nacional de


Consumo e Cidadania e cria a Câmara Nacional das Relações de Consumo. Leia o novo Decreto
na íntegra. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/
D7963.htm>. Caro(a) acadêmico(a), conheça e se atualize, conhecendo seus diretos.

LEITURA COMPLEMENTAR

O CONSUMIDOR E O CONSUMO

1 Considerações psicossociais

O que nos leva a consumir tanto nos dias de hoje? Talvez possamos
considerar os apelos dos meios de comunicação, que nos bombardeiam
diariamente com propostas que podem ser consideradas indecentes.

Indecentes, sim, já que apelam para o nosso lado emocional, demonstrando


artigos que não podem faltar em nossas vidas porque são “indispensáveis”. Afinal,
são mercadorias que são modernas, estão em ótimas condições de aquisição, pois
o consumidor pode parcelar em inúmeras vezes, sem contar que a entrada é só
depois de 30, 60, 90,..., dias.

A ausência de um produto anunciado pela mídia na vida do consumidor


pode demonstrar que este não tem o status social desejado, já que o mesmo não
acompanha os avanços sociais e econômicos.

A ausência de tais produtos – “tão fáceis de serem adquiridos” –, como


querem fazer crer, pode demonstrar que o consumidor é, em suma, um perdedor,
um fracassado.

Mas a pergunta que fica é: será mesmo necessário consumir tantos


produtos?

O consumir – sem sombras de dúvidas – é uma necessidade humana,


pois não se pode viver sem consumir comida, água, luz, vestimentas, bens de
consumo em geral.

A diferença está em um consumo consciente, quando o consumidor sabe


que está consumindo por uma real necessidade e não apenas para atender aos
chamados da mídia.

154
TÓPICO 4 | DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

O consumo consciente faz com que o homem evite a exploração do trabalho


humano, minimize a degradação do meio ambiente e, acima de tudo, preserve a
sua integridade moral, porque consome somente aquilo que lhe é importante e
dentro dos seus limites financeiros.

O consumidor consciente tem mais poder de barganha; tem o poder de


reclamar quando o produto não lhe foi entregue na forma anunciada, na forma
contratada. O consumidor consciente tem mais poder, pois faz com que o mercado
se ajuste às suas necessidades, não produzindo bens de pouca qualidade em
grande escala e a preços aviltantes, e explorando indiscriminadamente o trabalho
humano e os recursos naturais.

Assim, para finalizar, conclui-se que o consumo é um mal necessário,


mas se assim o é, importante que o consumidor tenha em mente o seu poder de
controlar o que consome, não só em quantidade, mas também, e principalmente,
também, em qualidade.

2 O reconhecimento da vulnerabilidade

O reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor que orienta a Política


Nacional das Relações de Consumo, no artigo 4º do Código do Consumidor,
corresponde à igualdade constitucional, vale dizer, princípio constitucional
isonômico, segundo o qual todos são iguais perante a lei.

Com isso, a lei vem garantir instrumentos, meios, que tornem possível
atingir a igualdade real, uma vez que as diferenças sociais e de outras naturezas
por certo podem existir.

Assim, o tratamento desigual na medida da desigualdade permite o


atendimento da isonomia, já que, nas relações de consumo que comentamos, o
equilíbrio nos contratos de toda a natureza é o que se quer alcançar.

Trata-se, assim, da correspondência ao princípio constitucional isonômico,


na medida em que ao ser reconhecida a vulnerabilidade do consumidor no
mercado de consumo, vê-se aplicados, ao longo de todo o Código, instrumentos
e novas formas de tratamento diante da relação jurídica de consumo tutelada, a
fim de dar efetividade ao seu conjunto normativo.

Nesse sentido e na mesma medida do princípio da igualdade assegurado


constitucionalmente, o tratamento desigual dado ao consumidor, já reconhecido
vulnerável, vale dizer, sujeito às regras do mercado de consumo, e não só dos
contratos nessa seara estabelecidos, tem a finalidade de atingir o tratamento igual
daqueles sabidamente desiguais.

O sistema de proteção inspirado pelos contratos de massa ressalta as


relações jurídicas que na maioria dos casos apresenta regras preestabelecidas aos
consumidores que a estas se sujeitam, podendo meramente aceitá-las ou não, mas
dificilmente modificá-las.
155
UNIDADE 2 | DIREITO DO CONSUMIDOR

Com isso, o código elenca o conjunto de normas que visa buscar um


sistema de proteção, não mais admitindo que as cláusulas de um contrato sejam
livremente pactuadas por ambas as partes.

A partir desse sistema de proteção, que tem como regra norteadora e,


portanto, expressamente tratada como princípio, ao reconhecer a vulnerabilidade,
o sistema admite previamente que o consumidor está sujeito à maior parte das
regras, justificando, por assim dizer, a proteção máxima que será estabelecida em
todo o sistema de proteção às relações de consumo de que trata: direitos básicos,
saúde e segurança do consumidor, responsabilidade pelo fato do produto e
serviço e por vício, práticas comerciais – oferta, publicidade e propaganda,
proteção contratual, crime contra o consumo, da defesa do consumidor em juízo.

Valendo-se, assim, de um conjunto de normas a princípio lógicas, que


informam todo o microssistema de proteção em que se consubstancia o Código do
Consumidor, tem-se verdadeira harmonia entre as mesmas, visando sua efetividade
e, sobretudo, refletindo e reiterando as garantias constitucionais dispostas no artigo
5º, caput, e inciso XXXII, da Constituição Federal, tal sua importância e relevância.

3 Reflexões conclusivas

É certo que o consumidor está sujeito a toda ordem de convites para o


consumo. Com isso, o sistema de proteção do Código do Consumidor pode e deve
ajudá-lo, no sentido de propiciar um conjunto de regras que possam efetivamente
protegê-lo, seja diante das práticas comerciais como um todo – alcançando a
publicidade, inclusive –, seja em razão de contratos e obrigações assumidas.

O desejo de consumir, adquirir, tenta ocupar em nossos dias o lugar do ser.


Por outras palavras, ter parece mais fácil do que ser. Coisas do mundo moderno,
que prefere ser chamado de globalizado, ainda que efetivamente não o seja, uma
vez que cada país paga um preço, e alto, pela sua condição econômica, pior, social.

O respeito ao consumidor alça um voo muito maior do que sugere a


questão econômica, embora a ordem econômica seja relevante nos dois pilares
constitucionais de sua proteção.

Trata-se de cidadania, de dignidade da pessoa humana, de crianças,


idosos, vulneráveis, trata-se da humanidade, da sua sustentabilidade, do que
adquirem, usam, compram, ganham e comem.

Trata-se da coletividade. São os direitos difusos e coletivos, são as pessoas


tomadas quanto à indeterminação dos sujeitos. Somos todos nós. Respeito e
consumo precisam caminhar juntos. Porém, a partir da educação, também para o
consumo, para a vida.

FONTE: CUNHA, Belinda Pereira da, WAGNER, Daniela Moraes. O Consumidor e o Consumo. Revista
Jurídica Eletrônica Última Instância. Disponível em: <http://ultimainstancia.uol.com.br/colunas/ler_
noticia.php?idNoticia=43055&kw=consumidor+e+o+consumo>. Acesso em: 5 out. 2012.

156
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico apresentamos os principais conceitos de direito
empresarial.

• Os direitos básicos e universais do consumidor, que são direitos: à segurança, à


escolha, à informação, de ser ouvido, à indenização, à educação para o consumo
e um meio ambiente saudável.

• Além dos direitos básicos previstos do Código de Defesa do Consumidor,


podem também ser considerados aqueles advindos de tratados ou convenções
internacionais em que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de
regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem
como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e
equidade.

157
AUTOATIVIDADE

Considerando o conteúdo o qual aprendemos neste Tópico 4, responda às


seguintes questões:

1 Classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas, considerando


os direitos básicos do consumidor:

( ) Proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por


práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos e
nocivos.
( ) Informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços.
( ) Proteção contra a publicidade enganosa e abusiva.
( ) Efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,
coletivos e difusos.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V - V – F - F.
b) ( ) V - F - V – F.
c) ( ) V – V – V – F.
d) ( ) V – V – V – V.

2 Quanto aos direitos básicos dos consumidores, assinale a alternativa


CORRETA:

a) ( ) O consumidor tem direito à informação adequada e clara sobre os


diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço; contudo, não há qualquer
direito a conhecimento a respeito dos riscos que os produtos ou serviços
apresentem.
b) ( ) O consumidor não tem direito à proteção contra a publicidade enganosa
e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e
serviços.
c) ( ) O consumidor tem direito à facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo
civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação e quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
d) ( ) O consumidor tem direito à revisão das cláusulas contratuais que se
tornaram excessivamente onerosas em razão de fatos supervenientes à
contratação.

158
3 De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, assinale a alternativa
CORRETA:

a) ( ) É considerado consumidor o microempresário que se utiliza do produto


ou serviço como insumo para o exercício de sua atividade.
b) ( ) Nas ações judiciais que envolvam a relação jurídica consumerista, será
obrigatória a inversão do ônus da prova em benefício do consumidor
c) ( ) Quando a ofensa aos direitos do consumidor tiver mais de um autor, cada
um deles responderá pela reparação, considerados os danos que causou.
d) ( ) É direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como riscos que
apresentem.

4 Quando ocorre a determinação para que um produto estampe no seu rótulo


os possíveis riscos que ele pode causar ao consumidor, pretende-se com isso
realizar o direito básico do consumidor quanto à:

a) ( ) Saúde.
b) ( ) Educação.
c) ( ) Reparação.
d) ( ) Contratação.

5 Considerando o texto “O CONSUMIDOR E O CONSUMO”, discorra sobre


a importância de um consumo consciente.

159
160
UNIDADE 3

TUTELAS JURÍDICAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• conhecer os conceitos inerentes à defesa do consumidor contra as práticas


comerciais abusivas e enganosas, tanto nas relações eminentemente co-
merciais, quanto na relação contratual;

• identificar uma série de medidas administrativas adotadas pelos órgãos


componentes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, para coibir
as práticas abusivas cometidas pelos fornecedores no mercado de consu-
mo, as relações comerciais e empresariais, com suas respectivas obriga-
ções;

• reconhecer na Tutela Penal as medidas adotadas pelo Estado para com-


bater as principais condutas criminosas adotadas pelos fornecedores no
mercado de consumo;

• compreender, na Tutela Jurisdicional, uma série de medidas judiciais dis-


ponibilizadas ao consumidor pelo Estado, para facilitação da defesa de
seus direitos.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos e ao final de cada um deles você
encontrará atividades que o(a) ajudarão a fixar os conhecimentos adquiridos.

TÓPICO 1 – TUTELA CIVIL

TÓPICO 2 – TUTELA ADMINISTRATIVA

TÓPICO 3 – TUTELA PENAL

TÓPICO 4 – TUTELA JURISDICIONAL

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UNIDADE 3
TÓPICO 1

TUTELA CIVIL

1 INTRODUÇÃO
Conforme determinação do Código de Defesa do Consumidor, como
direito básico do consumidor temos: a efetiva prevenção e reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos. (BRASIL, 2013).

Com o objetivo de dar efetividade a esse direito, o Código traz três


importantes capítulos:

• Capítulo IV: Da Qualidade de Produtos e Serviços, Da Prevenção e da Reparação


dos Danos.
• Capítulo V: Das Práticas Comerciais.
• Capítulo VI: Da Proteção Contratual.

Em virtude da complexidade do tema, abordaremos os vários aspectos


da tutela civil no desenrolar deste tópico, versando respectivamente quanto à
qualidade dos produtos e serviços sob a responsabilidade civil do fornecedor, as
práticas comerciais e a proteção contratual.

2 DA QUALIDADE DOS PRODUTOS E SERVIÇOS


Por disposição de lei, os produtos e serviços colocados no mercado de
consumo não poderão acarretar riscos à saúde ou segurança dos consumidores,
exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza
e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as
informações necessárias e adequadas a seu respeito.
FONTE: Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078compilado.htm>. Acesso em:
8 mar. 2013.

Especificamente em relação aos produtos e serviços potencialmente


nocivos ou perigosos à saúde ou segurança, o fornecedor deverá informar, de
maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade,
sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.

É importante salientar que a qualidade de um produto ou serviço está


relacionada com a observância das normas técnicas correspondentes expedidas
pelos órgãos oficiais competentes ou, se tais normas inexistirem, deverão ser

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UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

observadas aquelas determinadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas


(ABNT) ou outra credenciada perante o Conselho Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (CONMETRO).

Contudo, quando observamos a responsabilidade dos fornecedores


pelos produtos e serviços disponibilizados no mercado de consumo, o Código
de Defesa do Consumidor resolveu tratá-lo em seções diferentes. Ou seja, na
Seção II a “responsabilidade pelo fato do produto e do serviço”, e na Seção III, a
responsabilidade por vício, impondo a estes regimes jurídicos próprios. É o que
veremos a seguir.

3 DA RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR PELO


FATO DO PRODUTO E DO SERVIÇO
Parte-se do princípio de que os fornecedores, de modo geral, buscam
produzir produtos e serviços adequados ao consumo, seguros, eficientes e
livres de defeitos, utilizando-se, para tanto, de testes e controle de produção
e qualidade, com a finalidade de eliminar ou ao menos reduzir a inserção no
mercado de consumo de produtos e serviços defeituosos.

Por outro lado, para aqueles casos em que o uso do produto defeituoso ou,
em face da ausência de informações suficientes e adequadas sobre a utilização do
produto e riscos que ele oferece, vier a causar danos ao consumidor: o fabricante,
o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro e o importador são responsáveis
pela sua reparação, independentemente de terem culpa.

Em matéria de responsabilidade pelo fato do produto e do serviço, há três


modalidades de defeitos que geram a responsabilização do fornecedor:

a) Defeitos de fabricação: aqueles que decorrem de fabricação, produção,


montagem, manipulação, construção ou acondicionamento de produtos.

b) Defeitos de concepção: aqueles decorrentes de falha de projeto ou de fórmula.

c) Defeitos de comercialização: por insuficiência ou inadequação de informações


sobre sua utilização e riscos.

O defeito, portanto, é toda a anomalia que, comprometendo a segurança


que se espera do uso dos produtos e serviços, acaba por causar danos físicos
ou patrimoniais aos consumidores. Contudo, se essa anomalia apenas
compromete o funcionamento do produto ou serviço, não apresentando riscos
à saúde e segurança do consumidor, trata-se de vício, onde serão analisadas as
circunstâncias da responsabilidade do fornecedor no item seguinte.

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TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

Com relação aos serviços, é considerado defeituoso quando não fornece a


segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:

I- O modo de seu fornecimento.


II- O resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam.
III- A época em que foi fornecido.

O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar


que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou que a culpa pelo defeito é
exclusiva do consumidor ou de terceiro.

FONTE: Disponível em: <www.almeidalaw.com.br/almeidalaw/.../detNoticia.php?...104...3...>.


Acesso em: 8 mar. 2013.

Vejamos o que o Código de Defesa do Consumidor dispõe sobre o assunto:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro,


e o importador respondem, independentemente da existência de
culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus
produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua utilização e riscos.
§ 1º. O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele
legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação. (BRASIL, 2013).

No caso dos defeitos dos produtos, o comerciante será igualmente


responsável quando o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador:

I- não puder ser identificado;


II - quando o produto for fornecido sem identificação clara do seu
fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - quando não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
(BRASIL, 2013).

Por outro lado, o Código Consumerista também prevê um rol de causas de


exclusão da responsabilidade do fornecedor, do fabricante, produtor, construtor e
do importador de produtos, que serão aceitas somente quando este efetivamente
provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. (BRASIL, 2013).

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UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

3.1 DO PRAZO PARA REPARAÇÃO


Para reparação de danos causados pelo fato do produto ou do serviço, o
Código de Defesa do Consumidor prevê o prazo de cinco anos para se interpor
a ação judicial, iniciando-se a contagem do prazo do conhecimento que teve do
defeito e de sua autoria. É o que determina o artigo 27:

Art. 27. Prescreve em 5 (cinco) anos a pretensão à reparação pelos danos


causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste
Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento
do dano e de sua autoria. (BRASIL, 2013).

4 RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO E DO


SERVIÇO
Neste item estudaremos a responsabilidade dos fornecedores pelos
produtos e serviços que possuem defeitos de qualidade e quantidade, que a lei
chama de vício. Por sua vez, esse vício pode ser aparente ou oculto. Vício aparente
é o de fácil constatação, que só ao olhar ou ao fazer o primeiro uso, já é percebido.
Temos como exemplo um chuveiro elétrico que, ao ser ligado, simplesmente o
sistema de aquecimento não funciona.

Já o vício oculto é aquele de difícil constatação ou de ser percebido, como,


por exemplo, o defeito na parte elétrica de um computador.

João Batista de Almeida (2003, p. 69-70) explica com propriedade os


diversos tipos de vícios:

a) Vícios de qualidade dos produtos: são aqueles que tornam os produtos


impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam
o valor, entendendo-se por:

impróprios ao consumo os produtos cujos prazos de validade estejam


vencidos, os deteriorados, os alterados, adulterados, falsificados, corrompidos,
fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou em desacordo com as
normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação, bem
como os produtos que, por qualquer motivo, se revelam inadequados ao fim
a que se destinam.

FONTE: Disponível em: <www.rkladvocacia.com/.../art_srt_arquivo20100728191840.pdf>. Acesso


em: 8 mar. 2013.

A inadequação, no vício de qualidade, pode ocorrer, portanto, por


impropriedade do produto, diminuição de seu valor ou por disparidade
informativa.
FONTE: Disponível em: <ienomat.com.br/revista/index.php/judicare/rt/printerFriendly/.../168>.
Acesso em: 8 mar. 2013.
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TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

Considera-se inadequado o produto quando for incapaz de satisfazer


os tipos determinantes de sua aquisição. Ou seja, a legítima expectativa do
consumidor, bem como quando não se mostra conforme outros produtos no
mercado ou quando não são observadas normas ou padrões estabelecidos
para a aferição da qualidade.

FONTE: Disponível em: <www.mp.mg.gov.br/portal/public/interno/arquivo/id/6714>. Acesso


em: 8 mar. 2013.

b) Vícios de quantidade dos produtos: são aqueles em que, respeitadas as


variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior
às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de
mensagem publicitária (art. 19). Há disparidade entre o conteúdo e o peso ou
medida indicados pelos fornecedores, sendo que a quantidade inferior causa
prejuízos ao consumidor, sem, no entanto, alterar a qualidade do produto.

c) Vícios de qualidade dos serviços: são os que tornam os serviços impróprios


à sua fruição ou lhes diminuem o valor, considerando-se impróprios os
serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles
se esperam, bem como, aqueles que não atendam às normas regulamentares
de prestabilidade. Incluem-se também aqueles em que se verifica disparidade
qualitativa entre serviço ofertado e o executado.

FONTE: Disponível em: <www.nacionaldedireito.com.br/doutrina/.../aplicabilidade-do-c-


digo-...>. Acesso em: 8 mar. 2013.

d) Vícios de quantidade dos serviços: decorrem da disparidade quantitativa


com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária. Não há
correspondência entre o serviço efetivamente prestado e aquele ofertado
ao consumidor, diretamente ou mediante publicidade. (arts. 18, caput, e
20).

No caso dos vícios, os fornecedores de produtos de consumo duráveis


ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se
destinam ou lhes diminuam o valor. Assim como, por aqueles decorrentes
da disparidade com as indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitárias, respeitadas as variações decorrentes de
sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
FONTE: Disponível em: <www.alerj.rj.gov.br/cdc/codigo_defesa/tit1_cap4_sec3.htm>. Acesso
em: 8 mar. 2013.

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UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

Por derradeiro, o Código Consumerista elenca os casos em que produtos


são considerados impróprios para o consumo. São eles:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;


II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, revelem-se inadequados ao
fim a que se destinam. (BRASIL, 2013).

Quando um determinado produto apresentar defeito de fabricação,


o fornecedor tem 30 dias para arrumá-lo. Depois desse prazo, se o produto
ficar ainda com problemas ou não tiver solução, o consumidor pode exigir,
alternativamente e à sua escolha:

• a troca do produto por outro em perfeitas condições, da mesma espécie, e, caso


inexista, deve ser trocado por outro de melhor qualidade sem pagar qualquer
valor a mais;
• a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos;
• o abatimento proporcional do preço.

Quando o defeito se refere à prestação do serviço, é possível o consumidor


exigir, alternativamente e à sua escolha:

• que o serviço seja feito novamente sem pagar nada;


• o abatimento no preço; ou
• a devolução do que foi pago, em dinheiro, com correção monetária.

Quando o defeito relaciona-se à quantidade do produto, respeitadas


as variações decorrentes de sua natureza. Se o conteúdo líquido for inferior às
indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem
publicitária, pode o consumidor exigir também do comerciante, alternativamente
e à sua escolha:

• O abatimento proporcional do preço.


• Complementação do peso ou medida.
• A substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem
os aludidos vícios.
• A restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos.

Nesse caso, temos o seguinte exemplo: se você comprar um produto


cuja embalagem anuncia conter 10 kg e na verdade só contém 94,5 kg, pode
exigir a troca deste produto, o complemento do produto conforme anunciado, o
abatimento do preço ou a devolução do dinheiro.

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TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

4.1 DA GARANTIA LEGAL E CONTRATUAL


O artigo 24 do Código de Defesa do Consumidor estabeleceu a garantia
legal de adequação dos produtos e serviços, independentemente de termo
expresso em contrato. Ou seja, independentemente de qualquer manifestação do
fornecedor, inclusive no seu silêncio, prevalecerá a garantia de lei, sendo nulo de
pleno direito qualquer escrito exonerando o fornecedor de tal obrigação.

Contudo, além da garantia legal, há também a garantia contratual,


aspectos estes que também devem ser observados quanto ao direito de garantia e
os prazos de reclamação a serem observados pelos consumidores.

4.1.1 Garantia do fornecedor


O fornecedor de produtos de consumo duráveis ou não duráveis, e
de serviços, deve colocá-los à disposição dos consumidores garantindo-lhes
a qualidade e quantidade, próprias e adequadas para o consumo a que foram
destinados, de acordo com as informações constantes dos recipientes, da
embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária.

A garantia aludida decorre do disposto no art. 23 do Código de Defesa


do Consumidor, que retira do fornecedor a justificativa de sua ignorância sobre
os vícios de qualidade e de quantidade por inadequação e impropriedade dos
produtos e serviços que se comprometeu a repassar ao destinatário final. Esta
responsabilidade decorre da solidariedade legal.

A garantia legal pode, no entanto, ser complementada pelo fabricante,


produtor, construtor e importador, oferecendo-se outras, que serão firmadas mediante
termo, no qual constará no que consistem. A garantia será entregue ao consumidor,
no ato do fornecimento do produto, acompanhada do manual de instrução, de
instalação e uso do produto em linguagem didática com ilustração.

A Lei Protetora do Consumidor, no art. 50, parágrafo único, possibilitou


ao fabricante, produtor, construtor e importador, unilateralmente, estabelecer o
prazo de garantia.

Assim, dispõe o artigo 50 do Código de Defesa do Consumidor:

A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante


termo escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser


padronizado e esclarecer, de maneira adequada, em que consiste a
mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser
exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue,
devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento,
acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso de produto
em linguagem didática, com ilustrações. (BRASIL, 2013).

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UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

O dispositivo legal acima citado dispõe que a garantia contratual é


complementar à legal e será conferida mediante termo escrito que, por sua vez,
vem descrito no parágrafo único.

Tratando-se de defeitos, o prazo de garantia não pode ser inferior ao prazo


prescricional, que é de 5 (cinco) anos, nos exatos termos do art. 27 do aludido
diploma legal.

Estipulado pelo fabricante, produtor, construtor e importador, o prazo


de garantia de 1 (um) ano, por exemplo, subentende-se que se refere aos vícios
de qualidade e quantidade e nunca sobre o fato do produto (defeito), cujo prazo
legal é de 5 (cinco) anos.

O prazo mínimo legal para reclamar de defeito é de 5 (cinco) anos, salvo


se prazo maior estipular o fabricante, produtor, construtor e importador.

4.1.2 Dos prazos de reclamação


Na hipótese de vícios, o legislador estabeleceu o prazo para reclamação
diretamente ao fornecedor.

Pelos vícios aparentes ou de fácil constatação, o direito de reclamar por


estes caduca (decai) em:

I- 30 (trinta) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto não


duráveis.
II- 90 (noventa) dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produto
duráveis.

Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do


produto ou do término da execução dos serviços.

No caso de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que


ficar evidenciado o defeito.

4.1.3 Da prescrição e da decadência


É a partir do momento em que se conheça o dano e possa-se relacioná-lo
com o defeito do produto ou do serviço, que o consumidor tem consciência de
que aquilo que observa é, de fato, um dano.

Analisando o Código de Defesa do Consumidor, constatam-se regras


especiais no que tange aos institutos de decadência e da prescrição.

170
TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

Tais regras são atinentes aos prazos mais dilatados ao termo inicial e
ao termo final, hipóteses de interrupção e suspensão etc. Todas elas partindo
do pressuposto fundamental da hipossuficiência do consumidor nesta classe
de relações.
FONTE: Disponível em: <jus.com.br/.../a-prescricao-e-a-decadencia-no-codigo-de-defesa-do-..>.
Acesso em: 8 mar. 2013.

A decadência atinge o direito de reclamar pelo vício. Inicia-se a contagem


do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da
execução dos serviços. Contudo, há casos que obstam a decadência. São eles:

I - A reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor


perante o fornecedor de produtos e serviços até a resposta negativa
correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca.
II - A instauração do inquérito civil, até seu encerramento.

Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em


que ficar evidenciado o defeito.

Já a prescrição afeta a pretensão à reparação pelos danos causados pelo


fato do produto ou do serviço através de uma ação judicial. Prescreve em 05
(cinco) anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou
do serviço, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e
de sua autoria.

4.2 RECALL
Recall é uma palavra inglesa que significa “recordar”. Trata-se de uma
chamada que um fornecedor faz aos consumidores que adquiriram determinado
produto com defeito de fabricação, para substituí-lo em parte ou no todo ou
corrigir o problema. Ao mesmo tempo em que chama os consumidores, também
recolhe produtos, esclarece fatos e apresenta soluções.

No Brasil, Portaria MJ nº 487/12 disciplina o procedimento de chamamento


dos consumidores ou recall de produtos e serviços.

É uma prática geralmente feita pelas montadoras de automóveis, tratando-


se de um chamamento coletivo que a empresa realiza para corrigir os problemas.

Considera-se uma atitude de respeito aos direitos dos consumidores, que


é uma prevenção de danos materiais e morais que poderão ocorrer. Através do
recall, o fornecedor se previne de futuras indenizações e multas. Além de ajudar
a manter a boa imagem dos seus produtos. Exemplo: um fabricante de automóvel
anuncia o recall para corrigir defeito na caixa de embreagem.

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UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

Importante salientar que, enquanto persistir o risco que originou o recall,


o consumidor poderá exigir o reparo ou a troca da peça defeituosa junto ao
fornecedor.

Assim, o recall só finaliza quando o risco à saúde e segurança for eliminado


do mercado de consumo, ou seja, quando todos os produtos afetados pelo defeito
forem reparados ou recolhidos.

5 PRÁTICAS COMERCIAIS

A finalidade do Código de Defesa do Consumidor foi a de proteger


todas as pessoas envolvidas e eventualmente prejudicadas por prática comercial
ou contratual abusiva. Com isso, buscou-se abranger não só o adquirente do
produto ou serviço, mas todas as pessoas, determináveis ou não, expostas às
práticas nele previstas, como acontece nas publicidades enganosas e abusivas,
que ofendem a uma coletividade indeterminável de pessoas.

FONTE: Disponível em: <books.google.com.br/books?isbn=8525034428>. Acesso em: 8 mar.


2013.

5.1 DA OFERTA
As ofertas de produtos e serviços podem ser feitas de qualquer modo. O
modo mais comum é através da publicidade em anúncios, cartazes e avisos. É
comum, no entanto, a oferta constante em cartões e talões de pedidos, os quais
são geralmente passados pelos vendedores ou representantes. Em qualquer dos
modos, o fornecedor fica obrigado a cumprir a oferta.

A oferta é uma modalidade de pré-contrato e faz parte integrante do


contrato principal, cujos compromissos nela assumidos devem ser cumpridos.
A oferta e a apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações
corretas, claras, precisas, ostensivas em Língua Portuguesa sobre: suas
características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de
validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam
à saúde e segurança dos consumidores. A mensagem veiculada pelo anúncio
deve ser também examinada mais detidamente, para se caracterizar a publicidade
enganosa.

Anote-se que o potencial de indução em erro deve necessariamente
decorrer do exame da peça publicitária como um todo.

172
TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve


constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em
todos os impressos utilizados na transação comercial.

FONTE: Disponível em: <www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista...>. Acesso


em: 8 mar. 2013.

Caso ocorra divulgação errônea da oferta, o fornecedor dos produtos ou


serviços somente se exonerará da proposta se, oportunamente, e com o mesmo
destaque e o mesmo veículo de divulgação, pelo menos, fizer retratação da
proposta.

5.2 DA PUBLICIDADE
Publicidade é a divulgação de um produto ou serviço. Toda publicidade
deve ser fácil de entender, clara e adequada ao produto anunciado. O fornecedor
não pode se utilizar da publicidade como isca para atrair o consumidor. As ofertas
devem conter informações verdadeiras, reais e compatíveis com o produto ou
serviços anunciados, pois tudo que estiver na publicidade deverá ser cumprido e
fornecido ao consumidor.

A publicidade que causa prejuízos aos consumidores é identificada


através de duas maneiras: publicidade enganosa e abusiva.

5.2.1 Publicidade enganosa


É a divulgação que contém informações falsas e também a que esconde ou
deixa de dizer algo importante sobre um produto ou serviço. É assim considerada
quando o consumidor for levado a cometer erro por falsidade ou por falta de
informação do produto, como quantidade, origem, preço, propriedades.

Sobre a publicidade enganosa, assim conceitua o § 1º do art. 37 do Código


Consumerista:

É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de


caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir ao erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços.

Quando a publicidade leva o consumidor ao erro por não conter informações


importantes, esta será chamada de publicidade enganosa por omissão. Exemplo:
uma empresa anuncia que os telefones vendidos serão instalados “no prazo
máximo de seis meses”. O consumidor, então, ao ler o contrato para compra do

173
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

produto, constata uma cláusula, com letras pequenas, através da qual constata
que os telefones só serão instalados em seis meses se não ocorrer “motivo técnico
ou de outra espécie”. Ou seja, o anúncio omitiu a informação. É, então, enganosa
por omissão.

5.2.2 Publicidade abusiva


Sobre a publicidade abusiva, assim conceitua o § 2º do art. 37 do Código
Consumerista:

É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer


natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição,
se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança,
desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua
saúde ou segurança. (BRASIL, 2013).

Como exemplo de publicidade abusiva, temos um anúncio para vender


produtos ou serviços que mostra que as pessoas magras são mais sadias do que
as pessoas gordas, ou que as pessoas negras são mais produtivas que as brancas.

5.2.3 Responsabilidades em caso de publicidade


enganosa ou abusiva
Quando o fornecedor anuncia uma coisa e não cumpre com o que
prometeu ou anunciou, o consumidor deve se dirigir ao gerente ou responsável
da loja ou empresa e poderá, alternativamente e à sua livre escolha:
I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta,
apresentação ou publicidade;
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e
danos. (BRASIL, 2013).

É importante salientar que o ônus da prova da veracidade e correção da


informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.

5.3 DAS PRÁTICAS ABUSIVAS


As práticas abusivas são trazidas nos arts. 39, 40, 41 e 42 da Lei do
Consumidor:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras


práticas abusivas:
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa,
a limites quantitativos;

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TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata


medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade
com os usos e costumes;
III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer
produto, ou fornecer qualquer serviço;
IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo
em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impingir-lhe seus produtos ou serviços;
V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e
autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de
práticas anteriores entre as partes;
VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo
consumidor no exercício de seus direitos;
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço
em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes, ou, se normas específicas não existirem, pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo
Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial – CONMETRO;
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente
a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento,
ressalvados os casos de intermediação regulada sem leis especiais;
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços;
XI - (Suprimido pela Lei nº 9.870, de 23.11.1999, DOU 24.11.1999);
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação
ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério;
XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou
contratualmente estabelecido;
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos
ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.
(BRASIL, 2013).

O caso previsto no inciso I diz respeito à chamada "venda casada", onde o


consumidor, ao adquirir um produto ou serviço, leva conjuntamente outro, seja
da mesma espécie ou não. Esta prática, por exemplo, é utilizada pelas instituições
financeiras e de crédito que impõem, como condições para aprovarem a liberação
de crédito ao consumidor, obrigam-no a contratar um empréstimo.

Em relação ao inciso II, trata-se de prática comercial utilizada por


empresas que retêm as mercadorias em seus estoques, aguardando, por exemplo,
um aumento de preço, seja por conta do fabricante ou do governo que anuncia
aumento futuro da carga tributária.

O inciso III é utilizado por empresas varejistas (magazines) e de cartões de


crédito que, com base em informações cadastrais de consumidores, enviam a seus
domicílios cartões fidelidade ou de crédito, buscando a fidelização e cobrança de
anuidades e taxas de administração.

175
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

A prática abusiva prevista no inciso IV é aquela adotada por comerciantes


que, na ânsia de vender seus produtos, aproveitam-se da falta de conhecimento de
seus clientes e, com base em promessas sem qualquer base científica, promovem
a venda de produtos aproveitando-se da esperança e credulidade das pessoas. É
o caso da venda de alguns produtos que prometem o nascimento de cabelos em
pessoas calvas, com base em fórmulas miraculosas, sem amparo técnico.

O inciso V diz respeito a contratos bancários ou financiamento de veículos,


imóveis, onde o fornecedor exige taxas e juros excessivos para a liberação de
crédito. O Poder Judiciário vem coibindo tais práticas abusivas nas revisões
judiciais de contratos.

A prática prevista no inciso VI proíbe, por exemplo, empresas de


assistência técnica a executarem determinado serviço de reparo em um produto
ou serviço, sem que o consumidor tenha acesso prévio a orçamento e o aprove.

O inciso VII proíbe ao fornecedor de produtos ou serviços de expor o


consumidor em situações constrangedoras, tais como: de colocar em exibição
ao público determinado cheque emitido e que foi devolvido sem provisão de
fundos. Outra prática proibida é a publicação em jornais ou periódicos de "listas
negras" de consumidores considerados "maus pagadores".

No caso do inciso VIII, tal fiscalização é executada pelo INMETRO


(Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), uma autarquia
federal, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior que atua como Secretaria Executiva do Conselho Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro), colegiado interministerial,
que é o órgão normativo do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Sinmetro).

Sua missão é prover confiança à sociedade brasileira nas medições e nos


produtos, através da metrologia e da avaliação da conformidade, promovendo a
harmonização das relações de consumo, a inovação e a competitividade do país.

Outra prática abusiva prevista é aquela do inciso IX que proíbe o


fornecedor de produtos ou serviços de recusar a venda a determinado consumidor
interessado na sua aquisição, seja por algum desafeto ou em razão de qualquer
motivo injustificado. É importante salientar que a partir do momento em que o
produto ou serviço é colocado à disposição de venda ou contratação, ele pode ser
adquirido pelo consumidor, salvo impedimentos de ordem técnica ou legal.

A hipótese prevista no inciso X é praticada ilegalmente, por exemplo,


por alguns postos de gasolina, que em dias de feriados ou em alta temporada,
aumentam abusivamente os preços dos combustíveis. Tais práticas também são
registradas por restaurantes e lanchonetes em determinados pontos turísticos.

176
TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

O caso previsto no inciso XII diz respeito ao fornecedor que deixa a seu
exclusivo arbítrio convencionar o preço de determinado produto ou serviço após
assinado o contrato pelo consumidor, sob a alegação da existência de eventuais
custos que poderão surgir. A mesma prática se observa quando o fornecedor não
determina o prazo de entrega de determinado produto, ou o início de execução
de um serviço.

Por fim, a hipótese do inciso XIII aplica-se principalmente às instituições


financeiras e de crédito, proibindo-as de onerar as taxas já previamente
convencionadas em contrato.

As hipóteses arroladas pelo art. 39 do CDC não são taxativas e, portanto,


não esgotam os atos de fornecimento considerados práticas abusivas. Mesmo que
não haja previsão legal no que diz respeito a uma determinada prática, ela pode
ser enquadrada no contexto como abusiva, inclusive, por analogia. É certo que
onde o legislador não restringiu, não cabe ao intérprete fazê-lo, de modo que não
resta dúvida de que a lei ordinária alcança toda e qualquer prática abusiva contra
o consumidor, pois é ele o titular do direito de proteção.

Para finalizar, vejamos, por sua vez, o que está previsto nos arts. 40 e 41
do CDC:

Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao


consumidor orçamento prévio, discriminando o valor da mão de obra,
dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de
pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.
§ 1º. Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo
prazo de 10 (dez) dias, contado de seu recebimento pelo consumidor.
§ 2º. Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os
contraentes e somente pode ser alterado mediante livre negociação
das partes.
§ 3º. O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos
decorrentes da contratação de serviços de terceiros, não previstos no
orçamento prévio.
Art. 41. No caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos
ao regime de controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores
deverão respeitar os limites oficiais sob pena de, não o fazendo,
responderem pela restituição da quantia recebida em excesso,
monetariamente atualizada, podendo, o consumidor, exigir, à sua
escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo de outras sanções
cabíveis. (BRASIL, 2013).

O art. 40 visa coibir o fornecedor que não cumpre o orçamento


preestabelecido com o consumidor, sendo que este terá o prazo de 10 (dez) dias de
validade. Já o art. 41 prevê as regras no fornecimento de produtos ou de serviços
sujeitos ao tabelamento de preço pelo governo. O tabelamento de preços foi uma
prática utilizada durante muitos anos no Brasil, principalmente nas décadas de
80 e 90, em virtude da alta inflação.

177
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

5.3.1 Da cobrança de dívidas


O artigo 42 do Código de Defesa do Consumidor disciplina a forma que
deve ser adotada pelo fornecedor na cobrança de dívidas perante o consumidor
inadimplente.

Contudo, a cobrança se torna abusiva quando exponha o consumidor ao


ridículo ou o submeta a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Caso o consumidor inadimplente ou em mora tiver sido submetido a


qualquer tipo de constrangimento ou ameaça, deverá dirigir-se à delegacia de
polícia mais próxima e dar a notícia de crime à autoridade policial, pela prática
do crime constante no art. 71 do Código do Consumidor, independentemente de
indenização por eventuais perdas e danos, sejam morais, sejam materiais.

Na hipótese em que o consumidor pagar indevidamente o débito, este terá


direito de repetição de indébito (devolução do valor), por valor igual ao dobro
do que pagou em excesso, corrigido monetariamente, acrescido de juros legais,
independente de indenização por eventuais prejuízos morais. O fornecedor ficará
salvo da repetição do indébito em dobro, se justificado o engano com a entrega do
excesso cobrado ao consumidor. Importante salientar que, ainda que justificado
o engano, o fornecedor não ficará imune de indenização decorrente de eventuais
prejuízos de ordem moral.

5.3.2 Banco e cadastros de dados


Os artigos 43 e 44 do Código de Defesa do Consumidor disciplinam a
forma que deve ser adotada pelo fornecedor na cobrança de dívidas perante o
consumidor inadimplente.

São órgãos mantidos e usados pelos fornecedores para não correrem o risco
de vender seus produtos ou serviços a consumidores que denominam de “maus
pagadores”. São cadastros que todas as lojas, empresas, bancos, financiadoras,
seguradoras e o comércio em geral filiados ao serviço têm acesso.

Os órgãos dos Sistemas de Proteção de Crédito ou congêneres poderão


inscrever em cadastro dados pessoais, de consumos e informações objetivas,
claras, verdadeiras, em linguagem de fácil compreensão (não conterá siglas
nem códigos), do consumidor pelo período de 05 (cinco) anos, aos quais o
consumidor terá acesso.
FONTE: Disponível em: <www.orkut.com › ... › Outros › Direito do Consumidor › Fórum>.
Acesso em: 8 mar. 2013.

178
TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

A abertura do cadastro, ficha ou registro será comunicada por escrito ao


consumidor, quando não solicitada.

Sempre que o consumidor encontrar inexatidão nos seus dados e


cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo
de 05 (cinco) dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das
informações incorretas.

O consumidor tem direito ao acesso às informações existentes em


cadastros, fichas, registros com dados pessoais, com garantia de identificação da
fonte da informação. Os serviços de créditos não poderão informar sobre débitos
prescritos.

Na hipótese do consumidor estar sendo impedido ou dificultado de acessar


informações constantes de cadastro ou tomar conhecimento de inexatidões não
devidamente corrigidas, poderá levar o caso ao conhecimento das autoridades
competentes (Delegado de Polícia, Ministério Público), para a abertura de
inquérito policial ou ajuizamento de ação penal pela prática dos crimes constantes
nos arts. 72 e 73 do Código do Consumidor.

Além da notícia-crime às autoridades competentes, o consumidor poderá


ingressar na justiça com ação de responsabilidade civil para ser indenizado por
eventuais perdas e danos.

A ofensa à honra do consumidor pode gerar responsabilidade tanto de


ordem material quanto de ordem moral, dependendo da extensão do dano ou do
prejuízo.

E
IMPORTANT

Caro(a) acadêmico(a)! Em resumo, os principais direitos do consumidor em


relação a esses cadastros são:
• Antes de colocar o nome do consumidor nestes cadastros, a loja ou empresa credora tem
obrigação de comunicar por escrito ao consumidor com antecedência.
• O consumidor tem direito de saber as informações cadastradas a seu respeito.
• As informações nestes arquivos de consumo devem ser claras, objetivas e verdadeiras e de
fácil compreensão.
• O consumidor que constatar erro e inexatidão nos dados e cadastros em seu nome poderá
exigir a imediata correção.
• O prazo máximo de permanência do nome de um consumidor em um banco de dados é
de cinco anos, que são contados da data do fato que originou sua inscrição, ou seja, do dia
em que o pagamento deveria ser efetuado.

179
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

Os bancos de dados mais conhecidos são:

• SERASA: é um banco de dados administrados pelo grupo SERASA


EXPERIAN. É o maior bureau de crédito do mundo fora dos Estados Unidos,
detendo o mais extenso banco de dados da América Latina sobre consumidores,
empresas e grupos econômicos. É uma empresa que reúne informações sobre os
consumidores inadimplentes e informa aos seus associados, que são os bancos.

• SPC (Serviço de Proteção ao Crédito): é um banco de dados ligado à


Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL). Arrecada informações
do comércio local e regional sobre os consumidores que não pagam e as fornece
às lojas e empresas.

6 DA PROTEÇÃO CONTRATUAL
O contrato é o acordo de vontades que tem o fim de adquirir, conservar,
resguardar, modificar e extinguir direitos, devendo as partes estar em pé de
igualdade. Cada uma ditará regras que poderão ser receptivas ou não.

Acontece, na maioria das vezes, que um dos contratantes resolve apresentar


o contrato com cláusulas preestabelecidas, sem que o outro tenha oportunidade de
modificá-lo (contratos de adesão). Estes contratos, geralmente, possuem cláusulas
que beneficiam apenas uma das partes, em detrimento de outra.

No caso de existência de cláusulas abusivas ou aliciadoras nos contratos


de adesão, estas serão tidas como não escritas e deverão ser levados tais contratos
à apreciação do juiz para considerar tais práticas como não escritas. Pois nem
tudo o que consta num contrato de fornecimento de produtos e serviços tem
validade plena para o consumidor.

6.1 DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS


O art. 51 do CDC apresenta o rol exemplificativo de cláusulas abusivas,
considerando-as como nulas de pleno direito, pois, em caráter geral, presumem-se
abusivas todas as cláusulas que: se aceitas, poderiam colocar o consumidor num
plano de inferioridade na relação contratual, prejudicando ou inviabilizando o
exercício pleno de seus direitos.

Isto se dá, em regra, segundo a lei, quando a vantagem contratual


conferida ao fornecedor ofende os princípios fundamentais do sistema
jurídico a que pertence. Restringe direitos ou obrigações fundamentais
inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou o
equilíbrio contratual. Mostra-se excessivamente onerosa para o consumidor,
considerando-se a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e
outras circunstâncias peculiares ao caso.
FONTE: Disponível em: <http://www.idec.org.br/consultas/codigo-de-defesa-do-consumidor/
capitulo-vi>. Acesso em: 8 mar. 2013.
180
TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

Segundo o art. 51 do Código de Defesa do Consumidor, são nulas de


pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do


fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços
ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações
de consumo entre o fornecedor e o consumidor, pessoa jurídica, a
indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já
paga, nos casos previstos neste Código;
III - transfiram responsabilidades a terceiros;
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou seja,
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
V - (vetado);
VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;
VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;
VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro
consumidor;
IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,
embora obrigando o consumidor;
X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do
preço de maneira unilateral;
XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem
que igual direito seja conferido ao consumidor;
XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua
obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;
XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo
ou a qualidade do contrato, após sua celebração;
XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;
XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias
necessárias. (BRASIL, 2013).

Contudo, procurando preservar um contrato e delimitar a interferência no


domínio nas relações comerciais privadas, o Código de Defesa do Consumidor
ressalta em seu art. 51, §1º, que: a nulidade de uma cláusula contratual abusiva
não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de
integração, decorrem ônus excessivos a qualquer das partes.

Desse modo, se for possível isolar a cláusula abusiva do contexto


contratual, sua nulidade fica restrita a seu próprio conteúdo.

Ao eliminar a cláusula abusiva, cabe ao juiz proceder a uma revisão do


contrato para preservá-lo, sempre que possível. Somente quando, pela eliminação
da parcela abusiva, se tornar desequilibrada de uma forma irremediável a relação
contratual, é que se terá de optar pela completa resolução do negócio. (CC, art.
478).

Considera-se integração a operação pela qual se substitui a cláusula


abusiva pelas regras comuns dispositivas do direito contratual, a fim de conservar-
se o vínculo negocial eficaz entre as partes.

181
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

6.2 REVISÃO CONTRATUAL


O Código de Defesa do Consumidor valoriza o aspecto ético das relações
negociais de massa, reconhecendo ao consumidor, dentre os seus “direitos
básicos”, o de revisão de contrato.

O objetivo do legislador não foi o de fragilizar ou inutilizar o instituto


do contrato, tornando-se simplesmente rompível unilateralmente pelo
consumidor. Em nome do “princípio da boa-fé” o que se visou foi, antes de tudo,
aperfeiçoar o negócio jurídico, revendo sua base para torná-lo equitativo, seja por
reequacionamento das prestações, seja por eliminação das cláusulas abusivas.
Somente em último caso, quando a eliminação da cláusula abusiva conduzir
a uma total frustração da finalidade contratual, é que a intervenção judicial
resultará, excepcionalmente, na ruptura ou desconsideração de todo o contrato.

Nesse sentido, o inciso V do art. 6º do CDC não prevê a rescisão


do contrato, mas a “modificação das cláusulas que estabeleçam prestações
desproporcionais” (lesão) ou “sua revisão em razão de fatos supervenientes que
as tornem excessivamente onerosas”. (BRASIL, 2013).

Da mesma forma, o § 2º do art. 51 do CDC dispõe, textualmente, que “a


nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto de
quando sua ausência, apesar dos reforços de integração, decorrer ônus excessivo
a qualquer uma das partes”. (BRASIL, 2013).

Está expressamente autorizada a revisão judicial do contrato em que a


prestação entre as partes não se mostre equilibrada, segundo os próprios termos da
convenção ajustada entre fornecedor e consumidor. (art. 6º, V do CDC).

Mas a revisão não se estabelece por qualquer divergência entre obrigações


e vantagens recíprocas, mesmo porque, na atividade comercial, em que se
realizam os negócios de consumo, a busca do lucro é natural, o que impõe sempre
uma razoável diferença entre o que uma parte presta e a outra contrapresta.

O juiz só interferirá na economia do contrato se detectar o abuso de direitos


e deveres, em detrimento do consumidor, na relação contratual vista como um
todo, o que passa a ser indício de abuso, a chamar a ação reequilibradora do novo
direito contratual em sua visão social.

6.3 DOS CONTRATOS DE ADESÃO


As sociedades modernas evoluíram para um tipo de comportamento
econômico que exigiu do Estado uma política de maior intervenção no plano
do contrato, principalmente em defesa dos consumidores. Surgiu um autêntico
direito do consumo.

182
TÓPICO 1 | TUTELA CIVIL

Esses novos rumos do Direito não podem evitar a constatação de que


os tempos atuais são comandados pelo consumo de massas, cuja exigência de
organização empresarial não pode prescindir de padrões uniformizados de
negociação e contratação. E, nesses novos hábitos negociais, os contratos de
massa, em regra, são frutos de estipulação unilateral dos fornecedores, que, pela
própria conjuntura, não ensejam aos consumidores uma discussão individual
das cláusulas e condições de cada operação, como deveria ocorrer segundo os
padrões clássicos do “princípio da autonomia plena de vontades”.

Dessa forma, nas sociedades atuais, determinadas pelo regime das


operações de massa, a adoção pelos fornecedores de contratos uniformes ou
submetidos a condições gerais unilateralmente estipuladas é um imperativo da
ordem econômica vigente.

Nenhuma lei proíbe semelhante prática negocial. O que as leis de proteção


ao consumidor fazem é apenas impedir que o contrato de adesão sirva para
imposição de cláusulas abusivas e iníquas.

Ou seja, se de um lado os contratos de adesão desempenham uma função


econômico- jurídica importante no mercado de consumo, por corresponderem a
instrumento vital para a planificação econômica da empresa, portanto sendo um
meio dinamizador dos consumos de massa, é também inegável que os benefícios
econômicos do sistema não impedem abuso de fornecedores que se aproveitam
do instrumento para promover abusos.

Isto porque as condições econômicas exigem a uniformidade das cláusulas


que, por sua vez, impedem a natural discussão dos termos negociais.

Uma vez, porém, que o consumidor aderente fica privado de discutir os


termos do contrato, a lei interfere nessa prática de negócio definido unilateralmente
para verificar se o fornecedor se prevalece e abusa de sua condição de predomínio
econômico-social.

Assim, os contratos de adesão são o palco mais propício à estipulação das


condições abusivas de que cogita o Código de Defesa do Consumidor. Como já se
expôs, embora essas condições ilícitas sejam nulas de pleno direito, não acarretam
necessariamente a nulidade de todo o contrato, de modo que, se retirando a
cláusula abusiva e procedendo-se, se necessária, a “integração do negócio” por
meio de revisão das principais prestações previstas, poderá perfeitamente ser
mantido eficaz.

183
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico vimos:

• Que a Tutela Civil envolve vários conceitos inerentes à defesa do consumidor


contra as práticas comerciais abusivas e enganosas, tanto nas relações
eminentemente comerciais, quanto na relação contratual.

• Aprendemos que o fornecimento de produtos e serviços defeituosos obriga os


fornecedores a reparar aos consumidores os prejuízos por estes sofridos.

• O direito de reclamação é legalmente assegurado ao consumidor, dentro dos


prazos estabelecidos no Código de Defesa do Consumidor.

184
AUTOATIVIDADE

Responda às questões, como base no conhecimento adquirido neste tópico e


no Código de Defesa do Consumidor.

1 Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) É abusiva qualquer modalidade de informação ou comunicação de


caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro
modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a
respeito da natureza do produto.
b) ( ) É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer
natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se
aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita
valores ambientais. Ou que seja capaz de induzir o consumidor a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
c) ( ) É permitido ao fornecedor de produtos deixar de estipular prazo para
o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a
seu exclusivo critério.
d) ( ) O consumidor responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes
da contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.

2 Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo poderão


acarretar riscos à saúde ou segurança do consumidor, pois são previsíveis
em decorrência de sua natureza e fruição, sendo que o consumidor deve ter
responsabilidade no seu uso.
b) ( ) O fornecedor poderá colocar no mercado de consumo produto ou
serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou
periculosidade à saúde ou segurança.
c) ( ) Prescreve em 90 (noventa) dias a pretensão à reparação pelos danos
causados por fato do produto ou do serviço, iniciando-se a contagem do
prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.
e) ( ) O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação
caduca em 30 dias tratando-se de serviços ou produtos não duráveis.

3 Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela


autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor
de produtos ou serviços.
b) ( ) As infrações das normas de defesa do consumidor ficam somente
sujeitas às sanções administrativas.

185
c) ( ) O consumidor tem direito ao acesso às informações existentes em
cadastros, fichas, registros com dados pessoais, com garantia de identificação
da fonte da informação, porém tal requisição somente poderá ser efetuada
judicialmente.
d) ( ) No fornecimento de produtos ou serviços que envolvam outorga de
crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor
deverá obrigatoriamente informar ao consumidor o preço final de venda.
As informações referentes ao montante dos juros de mora e da taxa efetiva
anual de juros possuem caráter meramente informativo, não obrigando
constar tal informação no encarte/panfleto.

186
UNIDADE 3
TÓPICO 2

TUTELA ADMINISTRATIVA

1 INTRODUÇÃO
A tutela administrativa envolve a mais extensa e complexa rede de
mecanismos e órgãos de defesa do consumidor, seja em nível municipal, estadual
ou federal. Ocorre, especificamente, através de uma ampla legislação protetiva;
através do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e por meio da fiscalização,
do controle e da aplicação de sanções administrativas aos infratores.

2 SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR


O Código de Defesa do Consumidor prevê a participação de diversos
órgãos públicos e entidades privadas, bem como o incremento de vários
institutos como instrumentos para a realização da política de consumo. Quis
o Código que o esforço fosse nacional, integrando os mais diversos segmentos
que têm contribuído para a evolução da defesa do consumidor no Brasil.

FONTE: Disponível em: <www.sejus.ce.gov.br/index.php/downloads/category/7-?...base..>.


Acesso em: 8 mar. 2013.

Integram o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) a


Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da Justiça e os demais órgãos
federais, estaduais, do Distrito Federal, municipais e as entidades civis de defesa
do consumidor, para a implementação efetiva dos direitos do consumidor e para
o respeito da pessoa humana na relação de consumo.

O SNDC foi estabelecido no artigo 105 do Código de Defesa do


Consumidor e regulamentado através do Decreto nº 2181, de 20-03-1997.

Conforme o Código Consumerista, integram o SNDC a Secretaria de Direito


Econômico – SDE, do Ministério da Justiça, por meio do seu Departamento de
Proteção e Defesa do Consumidor - DPDC, e os demais órgãos federais, estaduais,
do Distrito Federal, municipais e entidades civis de defesa do consumidor.

O DPDC é o organismo de coordenação da política do SNDC e tem como


atribuições principais coordenar a política e ações do SNDC, bem como atuar
concretamente naqueles casos de relevância nacional e nos assuntos de maior
interesse para a classe consumidora. Além de estabelecer as normas gerais de

187
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

aplicação das sanções administrativas previstas na Lei nº 8.078, de 11 de setembro


de 1990, desenvolver ações voltadas ao aperfeiçoamento do sistema, à educação
para o consumo e para melhor informação e orientação dos consumidores.

Estimado(a) acadêmico(a)! Conforme determinação expressa do artigo 3º


do Decreto nº 2181, de 20-03-1997, compete à Secretaria Nacional do Consumidor
do Ministério da Justiça a coordenação da política do Sistema Nacional de Defesa
do Consumidor:

I - planejar, elaborar, propor, coordenar e executar a política nacional


de proteção e defesa do consumidor;
II - receber, analisar, avaliar e apurar consultas e denúncias
apresentadas por entidades representativas ou pessoas jurídicas de
direito público ou privado ou por consumidores individuais;
III - prestar aos consumidores orientação permanente sobre seus
direitos e garantias;
IV - informar, conscientizar e motivar o consumidor, por intermédio
dos diferentes meios de comunicação;
V - solicitar à polícia judiciária a instauração de inquérito para apuração
de delito contra o consumidor, nos termos da legislação vigente;
VI - representar ao Ministério Público competente, para fins de adoção
de medidas processuais, penais e civis, no âmbito de suas atribuições;
VII - levar ao conhecimento dos órgãos competentes as infrações de
ordem administrativa que violarem os interesses difusos, coletivos ou
individuais dos consumidores;
VIII - solicitar o concurso de órgãos e entidades da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem como auxiliar
na fiscalização de preços, abastecimento, quantidade e segurança de
produtos e serviços;
IX - incentivar, inclusive com recursos financeiros e outros programas
especiais, a criação de órgãos públicos estaduais e municipais de
defesa do consumidor e a formação, pelos cidadãos, de entidades com
esse mesmo objetivo;
X - fiscalizar e aplicar as sanções administrativas previstas na Lei nº
8.078, de 1990, e em outras normas pertinentes à defesa do consumidor;
XI - solicitar o concurso de órgãos e entidades de notória especialização
técnico-científica para a consecução de seus objetivos;
XII - celebrar convênios e termos de ajustamento de conduta, na forma
do § 6o do art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985; (Redação
dada pelo Decreto nº 7.738, de 2012).
XIII - elaborar e divulgar o cadastro nacional de reclamações
fundamentadas contra fornecedores de produtos e serviços, a que se
refere o art. 44 da Lei nº 8.078, de 1990.
XIV - desenvolver outras atividades compatíveis com suas finalidades.
(BRASIL, 2013)

Os Procons são órgãos estaduais e municipais de defesa do


consumidor, criados na forma da lei, especificamente para este fim. Com
competências, no âmbito de sua jurisdição, para exercitar as atividades
contidas no CDC e no Decreto nº 2.181/97, visando garantir os direitos dos
consumidores.

188
TÓPICO 2 | TUTELA ADMINISTRATIVA

Verifica-se, dessa forma, que as competências são concorrentes entre


União, Estados e Municípios no que se refere aos direitos dos consumidores,
não havendo, portanto, relação hierárquica entre o DPDC e os Procons ou
entre Procons.

Estes são, portanto, os órgãos oficiais locais, que atuam junto à


comunidade, prestando atendimento direto aos consumidores, tendo, desta
forma, papel fundamental na atuação do SNDC. Outro importante aspecto
da atuação dos Procons diz respeito ao papel de elaboração, coordenação
e execução da política local de defesa do consumidor, concluindo as
atribuições de orientar e educar os consumidores, dentre outras.

FONTE: Disponível em: <www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/4/.../cartilha_procons_


municipais.p...>. Acesso em: 8 mar. 2013.

Em nível estadual, tem-se 27 Procons no total, um para cada unidade da


Federação.

Conforme mencionado, os Procons estaduais têm no âmbito de sua


jurisdição competência para planejar, coordenar e executar a política estadual de
proteção e defesa do consumidor.

Assim, para o melhor funcionamento do sistema estadual de defesa do


consumidor, faz-se necessário que exista um estreito relacionamento entre os
Procons municipais e o estadual, bem como entre os próprios órgãos municipais.

Ressalta-se que aos Procons é dado o poder de polícia, que se constitui em


fiscalizar o mercado de consumo e inclusive aplicar penalidades a fornecedores
em razão de infração às normas de proteção do consumidor. Pois sempre
que condutas praticadas no mercado de consumo atingirem diretamente os
consumidores, é legítima sua atuação na aplicação das sanções administrativas
previstas em lei, decorrentes do poder de polícia que lhe é conferido.

Contudo, a atuação do Procon não inviabiliza, nem exclui, a atuação de


outros órgãos fiscalizadores, como, por exemplo, o BACEN, autarquia que possui
competência privativa para fiscalizar e punir as instituições bancárias quando
agirem em descompasso com a lei, e a vigilância sanitária quanto ao aspecto
sanitário dos estabelecimentos comerciais.

Outras duas entidades merecem destaque pela sua importante atuação


na defesa dos direitos dos consumidores: o Ministério Público e as entidades
organizadas da sociedade civil.

As entidades civis de defesa do consumidor, além da participação nos


colegiados e da parceria com órgãos públicos em projetos e atividades, poderão:

189
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

Encaminhar denúncias aos órgãos públicos de proteção e defesa do


consumidor, para as providências legais cabíveis.

Representar o consumidor em juízo, observado o disposto no inciso IV do


artigo 82 da Lei nº 8078, de 1990.

Exercer outras atividades correlatas. (BRASIL, 2013).

Já o Ministério Público tem tanto atuação de natureza administrativa ou


extrajudicial na defesa do consumidor.

3 PRÁTICAS INFRATIVAS
A fiscalização das relações de consumo de que tratam a Lei nº 8078,
de 1990, será exercida em todo o território nacional pela Secretaria de Direito
Econômico do Ministério da Justiça, por meio do DPDC, pelos órgãos federais
integrantes do SNDC, pelos órgãos conveniados com a Secretaria e pelos órgãos
de proteção e defesa do consumidor.

Criados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios, em suas


respectivas áreas de atuação e competência através de agentes fiscais,
oficialmente designados, vinculados aos respectivos órgãos de proteção e defesa
do consumidor, no âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e municipal,
devidamente credenciados mediante Cédula de Identificação Fiscal, admitidos
à delegação mediante convênio.

FONTE: Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2181.htm>. Acesso em:


8 mar. 2013.

As práticas consideradas infrativas estão previstas no art. 12 do Decreto


nº 2.181, de 20 de março de 1997.   Dentre estas podemos destacar a falta de
informações claras e precisas sobre os produtos e serviços expostos à venda.
Por exemplo, nos bares e restaurantes, estas informações devem estar expostas
através de cardápio e tabela de preços afixada em local de fácil visualização
para o consumidor, inclusive sobre a exigência do pagamento de taxa de 10% do
garçom.

Também o comerciante não pode diferenciar valores para pagamento


à vista, em dinheiro ou no cartão de crédito, nem determinar um valor mínimo
para pagamento com cartão. Também não poderá exigir tempo mínimo de
abertura de conta para pagamento com cheques. O comerciante não é obrigado
a aceitar estas modalidades de pagamento (cartão ou cheque), mas, à medida
que o faz, não poderá criar dificuldades para aceitação dos mesmos. 
FONTE: Disponível em: <www.proconcg.com/geral/layout.php?subaction=showfull&id...>.
Acesso em: 8 mar. 2013.

190
TÓPICO 2 | TUTELA ADMINISTRATIVA

Também constitui prática infrativa a publicidade enganosa ou


abusiva.

As práticas infrativas classificam-se em leves: aquelas em que forem


verificadas somente circunstâncias atenuantes, e graves: são aquelas em que
forem verificadas circunstâncias agravantes.

4 SANÇÕES ADMINISTRATIVAS
O artigo 55 do Código de Defesa do Consumidor determina que é de
competência da União e dos Estados-membros, além do Distrito Federal, nas
respectivas áreas de atuação administrativa, editar, em caráter concorrente,
normas jurídicas relativas à produção, industrialização, distribuição e consumo
de produtos e serviços.

O §1º do referido artigo, por sua vez, atribui também aos municípios a
competência para fiscalizar e controlar o fornecimento de bens ou serviços, no
interesse da preservação da vida, saúde, segurança, informação e bem-estar
do consumidor, baixando as normas que se fizerem necessárias.

FONTE: Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8078compilado.htm>. Acesso em:


9 mar. 2013.

Nesse sentido, verificamos que as associações de defesa do consumidor


não têm legitimidade para editar normas de consumo e aplicação de multas,
porém podem ajudar na efetiva fiscalização, enviando aí a devida comunicação
aos órgãos competentes, para que estes apliquem as medidas necessárias.

Verificamos que a competência suplementar do município para suprir


omissões e lacunas das legislações federais e estaduais, previstas no art. 30, II da
CF/88, deve ser acionada sempre que presente o requisito do interesse local ou
quando se tratar de matéria de peculiar interesse do município. Como exemplo,
tomemos a edição por vários municípios de lei que regula o tempo máximo de
permanência nas filas para atendimento bancário.

O § 4º do art. 55 do Código de Defesa do Consumidor ainda concede


à União, aos Estados e municípios prerrogativa da mais alta importância,
permitindo a expedição de notificação aos fornecedores, com vistas à obtenção
de informações no interesse dos consumidores, sob pena de desobediência.

Segundo o Código Consumerista, as infrações das normas de defesa do


consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas,
sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas
(art. 56).

191
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

I. multa;
II. apreensão do produto;
III. inutilização do produto;
IV. cassação do registro do produto junto ao órgão competente;
V. proibição de fabricação do produto;
VI. suspensão de fornecimento de produtos ou serviços;
VII. suspensão temporária de atividade;
VIII. revogação de concessão ou permissão de uso;
IX. cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;
X. interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de
atividade;
XI. intervenção administrativa;
XII. imposição de contrapropaganda.(BRASIL, 2013).

É importante salientar que: as sanções previstas serão aplicadas pela


autoridade administrativa, no âmbito de sua atribuição, podendo ser aplicadas,
cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de
procedimento administrativo. (BRASIL, 2013).

Desse modo, o Código distingue, basicamente, três modalidades de


sanções administrativas:

1. Sanções pecuniárias: representadas pelas multas aplicadas em razão do


inadimplemento dos deveres de consumo.

2. Sanções administrativas: são aquelas que envolvem bens ou serviços


colocados no mercado de consumo e compreendem: a apreensão, inutilização,
cassação do registro, proibição de fabricação ou suspensão do fornecimento
de produtos ou serviços.

3. Sanções subjetivas: referidas à atividade empresarial ou estatal dos


fornecedores de bens ou serviços, compreendem a suspensão temporária
da atividade, cassação de licença do estabelecimento ou de atividade,
interdição total ou parcial de estabelecimento, obra ou atividade, intervenção
administrativa, inclusive a imposição de contrapropaganda.

FONTE: Disponível em: <uj.novaprolink.com.br/.../das_sancoes_administrativas_no_


codigo_d...>. Acesso em: 9 mar. 2013.

A pena de multa é graduada de acordo com a gravidade da infração,


a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor. Será aplicada
mediante procedimento administrativo, revertendo para o Fundo de que trata
a Lei nº 7347, de 24 de julho de 1985, os valores cabíveis à União, ou para os
fundos estaduais ou municipais de proteção ao consumidor nos demais casos.

FONTE: Disponível em: <www.jusbrasil.com.br/.../peticao-de-recurso-especial-resp-1229957-st...>.


Acesso em: 9 mar. 2013.

192
TÓPICO 2 | TUTELA ADMINISTRATIVA

Quanto à sua quantificação, a multa será em montante não inferior a


duzentas e não superior a três milhões de vezes o valor da Unidade Fiscal de
Referência (UFIR), ou índice equivalente que venha a substituí-lo.

FONTE: Disponível em: <jus.com.br/.../apelacao-aumento-do-valor-da-indenizacao-por-


danos-...>. Acesso em: 9 mar. 2013.

Já as penas de apreensão, de inutilização de produtos, de proibição de


fabricação de produtos, de suspensão do fornecimento de produto ou serviço,
de cassação do registro do produto e revogação da concessão ou permissão de
uso serão aplicadas pela administração, mediante procedimento administrativo,
assegurada ampla defesa, quando forem constatados vícios de quantidade ou
de qualidade por inadequação ou insegurança do produto ou serviço. (BRASIL,
2013).

Nas penas de cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensão


temporária da atividade, bem como a de intervenção administrativa, serão
aplicadas mediante procedimento administrativo, assegurada ampla defesa,
quando o fornecedor reincidir na prática das infrações de maior gravidade
previstas neste Código e na legislação de consumo.

FONTE: Disponível em: <www.conteudojuridico.com.br/artigo,das-sancoes-administrativas-


no-...>. Acesso em: 9 mar. 2013.

A pena de cassação da concessão será aplicada à concessionária de serviço


público, quando violar obrigação legal ou contratual. A pena de intervenção
administrativa será aplicada sempre que as circunstâncias de fato desaconselharem
a cassação de licença, a interdição ou suspensão da atividade. (BRASIL, 2013).

Art. 60 - A imposição de contrapropaganda será cominada quando o


fornecedor incorrer na prática de publicidade enganosa ou abusiva,
sempre às expensas do infrator, e será divulgada pelo responsável da
mesma forma, frequência e dimensão e, preferencialmente, no mesmo
veículo, local, espaço e horário, de forma capaz de desfazer o malefício
da publicidade enganosa ou abusiva. (BRASIL, 2013).

5 COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA


Os órgãos públicos (Procons, Ministério Público) que exercem a defesa do
consumidor poderão celebrar compromissos nos quais os infratores se submetem
a certas condutas e comportamentos, ou a prestar certos fatos, ou mesmo a deixar
de prestá-los, sempre em favor dos consumidores.

O compromisso de ajustamento de conduta está definitivamente instituído


como instrumento para composição de conflitos em matéria de interesses difusos

193
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

e coletivos. Segundo o art. 6 º do Decreto nº 2.181, de 20 de março de 1997, o


compromisso de ajustamento conterá, entre outras, cláusulas que estipulem
condições sobre:
I - Obrigação do fornecedor de adequar sua conduta às exigências
legais, no prazo ajustado.
II - pena pecuniária, diária, pelo descumprimento do ajustado,
levando-se em conta os seguintes critérios:
a) o valor global da operação investigada;
b) o valor do produto ou serviço em questão;
c) os antecedentes do infrator;
d) a situação econômica do infrator;
III - ressarcimento das despesas de investigação da infração e instrução
do procedimento administrativo. (BRASIL, 2013).

Além da correção da conduta futura, é possível afirmar-se, com certeza, que


o fornecedor pode corrigir – ou ajustar – sua conduta passada, comprometendo-
se a uma série de obrigações positivas ou negativas para sanar as lesões já
causadas aos consumidores, coletiva ou individualmente considerados. Para isso,
o termo de compromisso de ajustamento de condutas se transforma em valioso
instrumento para composição de conflitos dessa natureza.

A possibilidade de se ajustarem a condições de modo, tempo e lugar do


cumprimento das obrigações evitará maior dispêndio de tempo e dinheiro em
ações judiciais, que devem ser deixadas como último recurso para composição
de conflitos.

FONTE: Disponível em: <www.mp.rn.gov.br/cpj/.../2503-08-CSMP-HOMOLOGAÇÃO.pdf>.


Acesso em: 9 mar. 2013.

194
TÓPICO 2 | TUTELA ADMINISTRATIVA

LEITURA COMPLEMENTAR

NOTÍCIA: MINISTÉRIO DA JUSTIÇA MULTA PEUGEOT POR


PUBLICIDADE ENGANOSA

17/12/2012

A empresa Peugeot Citroën do Brasil Automóveis Ltda. foi multada nesta


segunda-feira (17/12) em mais R$ 300 mil reais por induzir consumidores a
adquirir veículos pelo valor anunciado, mas não incluir os outros valores que
deveriam ser pagos ao adquirir o produto.

As multas por publicidade enganosa foram aplicadas pela Secretaria Nacional


do Consumidor do Ministério da Justiça (Senacon/MJ), por meio do Departamento
de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC). A Peugeot Citroën tem dez dias, a
contar da data da intimação, para apresentar recurso à Senacon.

De acordo com o DPDC, a primeira multa foi por causa da campanha


publicitária “Demorou, Dançou”, em que o produto Pegeout 206 era anunciado
pelo valor de “parcelas a partir de R$ 206”.  A empresa não mencionou a existência
do valor de entrada e das parcelas intermediárias na mesma proporção visual do
valor chamativo.

A segunda multa foi aplicada também por falta de informação essencial ao


consumidor sobre o custo efetivo total da operação de crédito na promoção “Eu
e Peugeot, Peugeot e eu”. A informação “câmbio typtronic grátis”, seguido de “+
3 anos de garantia” e “3 anos de seguro” induziu o consumidor a acreditar que
além do câmbio grátis, também ganharia três anos de garantia e seguro, mas os
serviços adicionais eram embutidos no valor das parcelas.

O diretor do DPDC, Amaury Oliva, avalia que o mercado de consumo maduro


pressupõe relações de consumo pautadas na boa-fé, transparência, lealdade e
respeito ao consumidor. “É dever de o fornecedor garantir a informação clara e
ostensiva sobre o preço e a composição dos produtos e serviços que comercializa.
Essas informações são fundamentais para o consumidor exercer efetivamente seu
direito de escolha”, ressalta.

O valor das multas no total de R$ 373.136 deve ser depositado em favor do


Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça e será aplicado em
ações voltadas à proteção do meio ambiente, do patrimônio público e de defesa
dos consumidores.

FONTE: Ministério da Justiça. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br>. Acesso em: 5 fev. 2013

195
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

• A Tutela Administrativa compreende uma série de medidas administrativas


adotadas pelos órgãos componentes do Sistema Nacional de Defesa do
Consumidor, para coibir as práticas abusivas cometidas pelos fornecedores no
mercado de consumo.

• As sanções podem ser de três naturezas distintas:

• Sanções pecuniárias: representadas pelas multas aplicadas em razão do


inadimplemento dos deveres de consumo.

• Sanções administrativas: que são aquelas que envolvem bens ou serviços


colocados no mercado de consumo e compreendem a apreensão, inutilização,
cassação do registro, proibição de fabricação ou suspensão do fornecimento de
produtos ou serviços.

• Sanções subjetivas: que se referem à atividade empresarial ou estatal dos


fornecedores de bens ou serviços, compreendendo a suspensão temporária
da atividade, cassação de licença do estabelecimento ou de atividade,
interdição total ou parcial de estabelecimento, obra ou atividade, intervenção
administrativa, inclusive a imposição de contrapropaganda.

196
AUTOATIVIDADE

Reflita sobre o conteúdo aprendido neste tópico e responda às seguintes


questões:

1 Dentre as sanções administrativas previstas no Código de Defesa do


Consumidor, não se inclui:

a) ( ) Revogação de concessão de uso.


b) ( ) Cassação de licença do estabelecimento.
c) ( ) Intervenção administrativa.
d) ( ) Divulgação de direito de resposta.

2 No caso de sanção administrativa pela prática de propaganda enganosa, a


punição adequada, nos termos do Código de Defesa do Consumidor será:

a) ( ) Resposta.
b) ( ) Panfleto.
c) ( ) Nota.
d) ( ) Contrapropaganda.

3 Constituem sanções administrativas, previstas no Código de Defesa do


Consumidor, aplicáveis às infrações das normas de defesa do consumidor,
entre outros, os de:

a) ( ) Cassação de licença do estabelecimento, prisão dos gerentes da empresa


e apreensão do produto.
b) ( ) Intervenção administrativa, multa e prisão dos gerentes da empresa.
c) ( ) Cassação do registro do produto junto ao órgão competente, obrigação
de indenizar e intervenção administrativa.
d) ( ) Suspensão temporária de atividade, inutilização do produto e revogação
de concessão ou permissão de uso.

4 Reflita sobre o texto indicado para Leitura Complementar e comente se os


órgãos administrativos de defesa do consumidor estão, de forma eficaz,
coibindo as práticas infrativas cometidas pelos fornecedores no mercado de
consumo. Como fonte de pesquisa, acesse a internet no site do Ministério da
Justiça, em Direito do consumidor.
FONTE: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJ5E813CF3PTBRIE.htm>.
Acesso em: 9 mar. 2013.

197
198
UNIDADE 3
TÓPICO 3

TUTELA PENAL

1 INTRODUÇÃO
Além dos âmbitos administrativos e civis de defesa do consumidor, assume
relevante papel nas diretrizes traçadas pelo Código de Defesa do Consumidor
sua tutela no âmbito penal, até como forma de assegurar a efetividade das demais
normas insertas no referido Código.

Cabe ao consumidor em geral denunciar os abusos, irregularidades


e infrações constatadas aos órgãos de defesa do consumidor, às delegacias do
consumidor ou ao Ministério Público, para que os mesmos possam tomar as
medidas necessárias para aplicação das sanções penais competentes e, assim, os
que atentam contra as relações de consumo venham a ser punidos efetivamente,
não apenas porque praticaram infrações, mas também para que não continuem
a praticá-las.

O desinteresse do consumidor, aliado sempre ao dano individualizado e,


muitas vezes, pequeno do ponto de vista econômico, porém relevante no sentido
coletivo, bem como a impunidade nos chamados “crimes econômicos”, é que
levam a uma sensação de desproteção do consumidor e desalento quanto a ver
seus interesses ou direitos efetivamente assegurados.

2 DIREITO PENAL DO CONSUMIDOR


O Direito Penal do Consumidor tem por finalidade o estudo de toda a
forma de proteção penal à relação de consumo, como bem jurídico imaterial,
supraindividual e difuso.

O Direito Penal do Consumidor circula em torno dos crimes contra o


consumidor, os quais são formas de abuso de poder econômico que atentam
contra a ordem econômica geral e devem ser coibidos. Portanto, trata-se de um
conjunto de normas que se desenvolvem em torno das infrações cometidas nas
relações de consumo.

A identificação de condutas praticadas por fornecedores como crimes


visam proteger, de forma imediata, além da relação de consumo, outros objetos,
tais como: o direito à vida, à saúde, ao patrimônio.

Considerando os princípios gerais do Direito Penal, no Direito Penal do


Consumidor observam-se os seguintes princípios específicos:
199
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

• Princípio da Integridade ou da Intangibilidade da Relação de Consumo. Isto


é, através das normas penais do consumidor, visa assegurar a integridade
daquela relação, sua seriedade, importância e retidão.

• Princípio da Informação Verdadeira, Adequada e Séria: significa que o


fornecedor pode ser apenado criminalmente pela omissão da informação
ao consumidor. Este princípio praticamente domina os delitos relativos às
infrações de consumo.

FONTE: Disponível em: <http://www.idecrim.com.br/index.php/direito/15-consumidor>. Acesso


em: 9 mar. 2013.

A ação penal é, geralmente, pública e incondicionada. Porém, observem-


se as regras contidas na Lei nº 9.099/95, nas quais vigora o princípio da
oportunidade, em substituição ao princípio da obrigatoriedade.

Elementos comuns dos crimes contra as relações de consumo:

• Sujeito Ativo: é o fornecedor.


• Sujeito Passivo: principal, a coletividade, secundário, o consumidor.
• Objeto Material: é o produto.
• Elemento Subjetivo: é o dolo de perigo (vontade livremente dirigida no
sentido de expor o objeto jurídico a perigo de dano).

3 DOS CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO


O Código de Defesa do Consumidor optou por criminalizar 12 condutas
contra o consumidor, em correspondência com o desrespeito aos seus direitos,
abrangendo as áreas de nocividade e periculosidade de produtos e serviços,
fraude em oferta, publicidade enganosa e abusiva, fraudes e práticas abusivas.

Vejamos as condutas delituosas previstas no Código Consumerista e suas


respectivas penas, sem prejuízo do disposto no Código Penal e leis especiais:

• Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de


produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade:

Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.


§ 1º. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante
recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço
a ser prestado.
§ 2º- Se o crime é culposo:
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. (BRASIL, 2013).

A omissão de dados técnicos em rótulos ou embalagens de produtos que,


por consequência, deixam de alertar o consumidor quanto aos riscos à segurança
e à saúde em virtude do seu consumo, caracteriza a prática criminosa tipificada.

200
TÓPICO 3 | TUTELA PENAL

• Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a


nocividade ou periculosidade de produtos cujo conhecimento seja posterior
à sua colocação no mercado:

Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.


Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar
do mercado, imediatamente quando determinado pela autoridade
competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo.
(BRASIL, 2013).

Neste caso, temos o fato do mercado manter em sua gôndola iogurtes


impróprios para o consumo, o que, por si só, ocasiona perigo ao consumidor,
quanto mais se o ingere, resultando, destarte, em crime de perigo comum, contido
no artigo 64, parágrafo único da Lei n◦ 8.078/90.

• Executar serviço de alto grau de periculosidade, contrariando determinação


de autoridade competente:

Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.


Parágrafo único. As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das
correspondentes à lesão corporal e à morte. (BRASIL, 2013).

A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no uso de suas


atribuições legais, tendo constatado que a utilização de câmaras de bronzeamento,
para fins meramente estéticos, oferece efetivo risco à saúde de seus usuários,
editou a norma restritiva/proibitiva, nos termos do art. 196, caput, da Constituição
Federal e 2º, § 1º, da Lei nº 8.080/90. (BRASIL, 2013).

• Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a


natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,
durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços:

Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1º. Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
§ 2º. Se o crime é culposo:
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa. (BRASIL, 2013).

Constitui dever jurídico do fornecedor, nos contratos de natureza


consumerista, esclarecer o consumidor quanto a todos os aspectos da relação
jurídica, até porque a informação integra o negócio jurídico e a falha na prestação
define defectibilidade do serviço, viabilizando a rescisão do contrato por vício,
quanto a elemento essencial do ato jurídico. Tais como: sua natureza, característica,
qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia
de produtos ou serviços.

• Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou


abusiva:
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

201
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

A publicidade de produtos e serviços promovidos por fornecedores


envolvendo o anúncio falso de preços, com a omissão de acréscimos de valores
que somente são percebidos no momento final da negociação pelo consumidor, é
uma das condutas que podem ser tipificadas nesta prática criminosa.

• Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser capaz de


induzir o consumidor e se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua
saúde ou segurança:
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

A publicidade de veículos automotores demonstrando manobras arriscadas


e de alta velocidade tem sido palco de intervenções do Ministério Público, que vem
obrigando as empresas a assinarem o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta),
com a finalidade de coibirem tais anúncios que possam induzir o consumidor a se
comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

• Deixar de organizar dados fáticos, técnicos e científicos que dão base à


publicidade:
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.

• Empregar, na reparação de produtos, peças ou componentes de reposição


usados, sem autorização do consumidor:
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

Este crime é praticado por algumas oficinas de automóveis que utilizam,


ao invés de peças novas previstas e aprovados pelo consumidor em orçamento,
peças usadas dos conhecidos "ferro-velhos" ou recondicionadas. Tal conduta
criminosa pode ocasionar acidentes automobilísticos graves.

• Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça, coação, constrangimento físico


ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, ao ridículo ou
interfira com seu trabalho, descanso ou lazer:
Pena - Detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e multa.

Neste caso, estamos diante de situações que envolvem, por exemplo, a


cobrança de dívidas de maneira truculenta, através de ameaça física ou moral.
Tais práticas são proibidas no mercado de consumo.

• Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às informações que sobre ele


constem em cadastros, banco de dados, fichas e registros:
Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano ou multa.

A inclusão do consumidor em banco de dados de inadimplentes é


permitida pelo Código de Defesa do Consumidor, desde que feita dentro das
normas legais. Contudo, a inclusão impõe ao administrador do banco de dados
fornecer ao consumidor, quando solicitado por este, todas as informações

202
TÓPICO 3 | TUTELA PENAL

requisitadas, tais como: o nome e endereço do fornecedor que procedeu sua


negativação, assim como o montante da dívida inscrita e sua origem, sob pena de
incorrer na prática de crime.

• Deixar de corrigir imediatamente informação sobre consumidor constante


de cadastro, banco de dados, fichas ou registros que sabe ou deveria saber ser
inexata:
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.

• Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia adequadamente


preenchido e com especificação clara de seu conteúdo:
Pena - Detenção de 1 (um) a 6 (seis) meses ou multa.

Art.75. Quem, de qualquer forma, concorrer para os crimes referidos


neste Código, incide nas penas a esses cominadas na medida de sua
culpabilidade, bem como o diretor, administrador ou gerente da
pessoa jurídica que promover, permitir ou por qualquer modo aprovar
o fornecimento, oferta, exposição à venda ou manutenção em depósito
de produtos ou a oferta e prestação de serviços nas condições por ele
proibidas. (BRASIL, 2013).

São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados no Código de Defesa


do Consumidor:

I - serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião


de calamidade;
II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo;
III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;
IV - quando cometidos:
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social
seja manifestamente superior à da vítima;
b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de 18 (dezoito) ou
maior de 60 (sessenta) anos ou de pessoas portadoras de deficiência
mental, interditadas ou não.
V - serem praticados em operações que envolvam alimentos,
medicamentos ou quaisquer outros produtos ou serviços essenciais.
(BRASIL, 2013).

A pena de pagamento em dinheiro será fixada em dias-multa,


correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de duração da pena privativa da
liberdade cominada ou crime.

Na individualização desta multa, o juiz observará o disposto no artigo 60,


§ 1º, do Código Penal.

Além das penas privativas de liberdade e de multa, ainda podem ser


impostas, cumulativa ou alternadamente, observado o disposto nos artigos 44 a
47, do Código Penal:

203
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

I. a interdição temporária de direitos;


II. a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou
audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a
condenação; III. a prestação de serviços à comunidade. (BRASIL,
2013).

O valor da fiança, nas infrações de que trata o Código de Defesa do


Consumidor, será fixado pelo juiz, ou pela autoridade que presidir o inquérito,
entre 100 (cem) e 200.000 (duzentas mil) vezes o valor do Bônus do Tesouro
Nacional (BTN), ou índice equivalente que venha substituí-lo.

Dependendo da situação econômica do indiciado ou réu, a fiança poderá


ser reduzida até a metade de seu valor mínimo, ou aumentada pelo juiz até vinte
vezes.

Art. 80 - No processo penal atinente aos crimes previstos no Código


Consumerista, bem como a outros crimes e contravenções que
envolvam relações de consumo, poderão intervir como assistentes do
Ministério Público os legitimados indicados no artigo 82, incisos III e
IV, aos quais também é facultado propor ação penal subsidiária, se a
denúncia não for oferecida no prazo legal. (BRASIL, 2013).

204
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você pôde aprender que:

• A Tutela Penal consiste numa série de medidas adotadas pelo Estado para
combater as principais condutas criminosas adotadas pelos fornecedores no
mercado de consumo.

• Caracteriza-se por condutas contra o consumidor, em correspondência


com o desrespeito aos seus direitos, abrangendo as áreas de nocividade e
periculosidade de produtos e serviços, fraude em oferta, publicidade enganosa
e abusiva, fraudes e práticas abusivas.

205
AUTOATIVIDADE

Reflita quanto à relevância de denunciar à polícia e aos órgãos


governamentais de proteção ao consumidor os crimes praticados contra
o consumidor, principalmente na venda de produtos falsificados, também
chamados de “piratas”.

206
UNIDADE 3
TÓPICO 4

TUTELA JURISDICIONAL

1 INTRODUÇÃO
O consumidor deve utilizar-se de todos os meios para a sua defesa. O
primeiro passo é tentar resolver pela via extrajudicial, isto é, de forma amigável.

A maioria dos fabricantes, construtores, importadores e fornecedores tem


consciência da sua responsabilidade, e a tendência é não deixar que o consumidor
tenha prejuízo, até porque o bom atendimento cria situações satisfatórias para a
boa fama e, consequentemente, o aumento da clientela.

O indivíduo pode ser protegido por associação da classe ou


individualmente, utilizando-se de quaisquer meios de defesa, como, por
exemplo, o boicote. Ou seja, represália, a fim de obrigar o fornecedor a modificar
a atitude. Além da represália, o consumidor pode utilizar-se do meio judicial
para defender o seu direito.

Antes, porém, de ingressar em juízo, o consumidor deverá tentar solucionar


o litígio de forma amigável, diretamente com o fornecedor. Se não obtiver o
resultado pretendido, dirigir-se a um dos postos do Procon, órgão destinado à
mediação dos litígios.

Infrutíferas as propostas extrajudiciais amigáveis de solução de litígios, o


consumidor, então, fará uso da máquina judiciária para ver tutelado seu direito.

2 DA ATUAÇÃO DO CONSUMIDOR EM JUÍZO


Dispõe o art. 83 do CDC que, para defesa dos direitos e interesses dos
consumidores, são admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar
sua adequada e efetiva tutela.

Tendo em vista que o desrespeito ao consumidor pode caracterizar uma


lesão individual ou coletiva, as ações em defesa do consumidor em juízo podem
ser individuais ou coletivas.

São individuais aquelas destinadas à reparação do dano de um consumidor,


cabendo a este buscar o Judiciário e propor a demanda, apontando o nexo e o
dano.

207
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

Se o dano for individual, o consumidor deverá contratar advogado, ou


procurar a assistência judiciária gratuita, quando se tratar de consumidor sem
recursos, ou ainda, procurar uma entidade pública de defesa e proteção aos
direitos do consumidor.

São coletivas quando abrangem três hipóteses de direitos tutelados:

• Interesses difusos: número indeterminado de pessoas (universo não


conhecido), como, por exemplo, o caso de publicidade enganosa ou abusiva,
veiculada através de imprensa falada, escrita ou televisionada, afeta uma
multidão incalculável de pessoas, sem que entre elas exista uma relação-
base. O bem jurídico tutelável é indivisível, no sentido de que basta uma
única ofensa para que todos os consumidores sejam atingidos, e também
no sentido de que a satisfação de um deles, pela cessação da publicidade
ilegal, beneficia contemporaneamente todos eles.

FONTE: Disponível em: <www.revistadir.mcampos.br/.../marcelinopereiramarquesdanomoralc...>.


Acesso em: 9 mar. 2013.

• Interesses coletivos: direitos de um grupo/classe/associação de atingidos. Por


exemplo, se uma ação coletiva é proposta por um sindicato, por exemplo, e ela
é julgada procedente, a coisa julgada beneficiará não somente os seus filiados,
como também todos os demais membros da mesma categoria, ainda que alguns
deles não sejam filiados ao sindicato autor.

• Interesses Individuais homogêneos: origem comum quanto ao dano. É o


caso de uma ação coletiva ajuizada por Associação de Pais de Alunos contra
uma escola, objetivando a devolução das quantias pagas a mais pelos alunos.
A demanda coletiva será para tutela de interesses ou direitos individuais
homogêneos.

Em se tratando de causas de menor complexidade ou de valor inferior


a 20 salários mínimos, o consumidor poderá recorrer ao Juizado Especial Cível,
sem assistência de advogado e independentemente de pagamento de custas, o
qual informará (via secretaria) como proceder para o ingresso da ação. Sendo a
causa superior a 20 salários mínimos, a assistência do advogado é obrigatória.

Na hipótese de competência do Juízo Comum Cível, o consumidor pode


utilizar-se da gratuidade das despesas processuais, através da Defensoria Pública
ou de advogado indicado se economicamente pobre, desde que requeira nos
termos da Lei nº 1060/50.

O consumidor não pode esquecer que o direito não acolhe aqueles que
dormem. Todos sabem que o normal é a paz social e que os litígios não devem
protrair, procrastinar no tempo. Ou seja, não devem ser eternos. Para tanto, o

208
TÓPICO 4 | TUTELA JURISDICIONAL

Estado estipulou prazos razoáveis para os titulares de direitos não atendidos na


sua pretensão amigável irem a juízo pedirem tutela jurisdicional. A inobservância
de tais prazos pode incorrer na decadência ou na prescrição, conforme a hipótese.

A defesa dos interesses e direitos dos consumidores poderá ser feita pelas
entidades de consumidores, pelo Ministério Público, pelos Procons, entre outros.
Mas, para o movimento de defesa do consumidor, é fundamental a força que o
Código de Defesa do Consumidor atribuiu às associações civis.

Elas poderão defender, em um só processo, alguns ou todos os seus filiados


ou até mesmo todos os consumidores, filiados ou não, que tenham sofrido uma
determinada lesão.

Segundo o art. 87 do Código Consumerista, as associações estão isentas


das despesas do processo e, inclusive, se perderem causas, não terão de pagar
honorários de sucumbência à empresa que foi parte no processo. As associações
só não poderão agir de má-fé, pois, nesse caso, perderão o direito à isenção e os
seus diretores poderão ter de pagar indenização.

2.1 AÇÕES DE OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER


Art. 84 - Contempla, ainda, o Código de Defesa do Consumidor, que,
nas ações que tenham por objeto o cumprimento da obrigação de
fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela antecipada específica da
obrigação ou determinará as providências necessárias que assegurem
o resultado prático equivalente ao do adimplemento. (BRASIL, 2013).

A ação de indenização com obrigação de fazer, por exemplo, pode ser


proposta contra empresa de plano de saúde, requerendo o cumprimento do
contrato de seguro de saúde, mediante a garantia de atendimento médico e/ou
hospitalar, além do reembolso das despesas efetuadas pelo consumidor.

2.2 AÇÃO DE RESPONSABILIDADE CIVIL DO


FORNECEDOR DE PRODUTOS E SERVIÇOS
Já o art. 101 do CDC também traz a possibilidade de se interpor ação de
responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços e o art. 102 estabelece
os legitimados a agir na forma do CDC. Dentre eles, as associações de consumidores
poderão propor ação visando compelir o poder público competente a proibir,
em todo o território nacional, a produção, divulgação, distribuição ou venda, ou
a determinar alteração da composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento
de produto, cujo uso ou consumo regular se revele nocivo ou perigoso à saúde
pública e à incolumidade pessoal.

209
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

2.3 AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA


Dispõe o art. 85 do Código de Defesa do Consumidor que caberá ação
mandamental contra atos ilegais ou abusivos de pessoas físicas ou jurídicas que
lesem direito líquido e certo, individual, coletivo ou difuso, previsto no Código.

Por exemplo, com o objetivo de garantir a distribuição de sacolas


plásticas pelos supermercados no Estado de São Paulo, o Instituto Nacional
de Defesa do Consumidor (IDECON), juntamente com a Plastivida Instituto
Socioambiental do Plástico e a Associação Brasileira da Indústria de
Embalagens Plásticas Flexíveis (ABIEF), ingressou em 16 de abril de 2012 com
mandado de segurança na Vara Privativa da Fazenda do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo.

FONTE: Disponível em: <www.plastivida.org.br/infos/158.html>. Acesso em: 9 mar. 2013.

As entidades entendem que o direito do consumidor às sacolas


plásticas e o dever dos supermercadistas em distribuí-las estão respaldados
pelo Código de Defesa do Consumidor em seu artigo 39, incisos V e X, que
veda ao fornecedor de produtos ou serviços práticas abusivas, tais como:
“exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva” e incisos que
se aplicam na prática de banimento voluntário das sacolinhas proposto pela
APAS (Associação Paulista de Supermercados).

FONTE: Disponível em: <http://www.plastivida.org.br/2009/Releases_064.aspx>. Acesso em: 27


fev. 2013.

3 O ÔNUS DA PROVA
O ônus da prova, ou seja, o dever de provar, é daquele que alega a
existência de um fato constitutivo do direito ou da existência de um fato
impeditivo, modificativo ou extintivo de direito. Ou seja, o autor fará a prova
do fato constitutivo de seu direito. O réu, por sua vez, da existência de fato
impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

Contudo, o Código de Defesa do Consumidor garante a facilitação da


defesa dos direitos do consumidor com inversão do ônus da prova, seja ele autor
ou réu em uma ação.

A inversão da prova, no entanto, ficará a critério do juiz quando for


verossímil a alegação ou quando for o consumidor hipossuficiente, segundo
as regras de experiência. Assim, tendo a alegação do consumidor a aparência
da verdade, ou sendo ele economicamente fraco, o juiz, a seu critério, pode
determinar a inversão do ônus da prova.

210
TÓPICO 4 | TUTELA JURISDICIONAL

No campo da informação ou publicidade, o ônus da prova de veracidade


e correção será sempre de quem as patrocina. Neste caso, não se aplica a regra do
art. 6º, VIII, do Código do Consumidor.

Nas relações de consumo, segundo a regra do art, 6º, VIII, da Lei Protetiva
do Consumo, constitui direito básico do consumidor a inversão da prova. Neste
caso, o consumidor apenas alega a existência do fato ou do direito. O produtor,
fabricante, construtor, importador, comerciante e/ou fornecedor de serviços terão
de fazer a prova contrária.

LEITURA COMPLEMENTAR

NOTÍCIA: "TELEMAR É CONDENADA A PAGAR R$ 10 MIL POR


INCLUSÃO INDEVIDA EM LISTAS RESTRITIVAS DE CRÉDITO"

A Telemar Norte Leste S/A foi condenada a pagar indenização de R$


10 mil para a estudante S.M.B.M., que teve o nome incluído indevidamente no
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e no Serasa. A decisão é do juiz Josias Nunes
Vidal, titular da 18ª Vara Cível do Fórum Clóvis Beviláqua.
 
Conforme os autos, em 27 de julho de 2005 ela descobriu que constava nos
cadastros de inadimplentes. O motivo era suposto débito com a Telemar, no valor
de R$ 4.316,35, relativo ao período de fevereiro a agosto de 2002.
 
Ao entrar em contato com a empresa de telefonia, foi informada de que a
quantia se referia à linha localizada na Praia do Icaraí, Região Metropolitana de
Fortaleza. No entanto, a estudante assegurou desconhecer o endereço, além de
não ter contratado ou autorizado qualquer serviço para essa localidade.
 
Em março de 2007, a juíza Elizabeth Passos Rodrigues Martins, do 7º
Juizado Especial Cível e Criminal (JECC) da Comarca de Fortaleza, determinou
o cancelamento dos débitos e a retirada do nome de S.M.B.M. das listas de
devedores. A exclusão somente ocorreu em junho daquele ano.
 
Alegando ter passado por constrangimentos, entrou com ação (nº 96813-
69.2008.06.0001/0), requerendo indenização por danos morais. Na contestação,
a Telemar defendeu que a inclusão nos órgãos de restrição é legítima, pois a
estudante não cumpriu as obrigações. Sustentou ainda a falta de comprovação
dos eventuais danos supostamente sofridos.

211
UNIDADE 3 | TUTELAS JURÍDICAS

Na sentença, o juiz condenou a operadora ao pagamento de R$ 10 mil.


Segundo o magistrado, nesse caso estão presentes os elementos essenciais à
responsabilidade civil da prestadora de serviço, que gerou o abalo moral ao
proceder à negativação indevida. A decisão foi publicada no Diário da Justiça
Eletrônico dessa quinta-feira (13/09/2012).

FONTE: Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Disponível em: <http://www.idec.org.br/em-


acao/noticia-consumidor/telemar-e-condenada-a-pagar-r-10-mil-por-incluso-indevida-em-listas-
restritivas-de-credito>. Acesso em: 1 fev. 2013.

212
RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você:

• Pôde perceber que a Tutela Jurisdicional compreende uma série de medidas


judiciais disponibilizadas ao consumidor pelo Estado, para facilitação da
defesa de seus direitos.

• Conforme estudado neste módulo, os consumidores, quando da sua atuação


em juízo, possuem os seguintes instrumentos:

- A facilitação da defesa dos direitos do consumidor através da inversão do


ônus da prova no processo judicial.

- A facilitação de acesso do consumidor ao Judiciário, através dos juizados


especiais cíveis.

- A facilitação da defesa dos interesses e direitos dos consumidores do


Ministério Público, pelos Procons e pelas associações civis, que poderão
defender, em um só processo, alguns ou todos os consumidores, filiados ou
não, que tenham sofrido uma determinada lesão.

213
AUTOATIVIDADE

Considerando a notícia veiculada sobre a condenação do fornecedor de


serviços de telefonia por inclusão indevida nos órgãos de proteção ao crédito,
descreva, com base no Código de Defesa do Consumidor, quais são os direitos
conferidos ao consumidor quanto à utilização por parte do fornecedor, de seus
dados cadastrais e pessoais de crédito.

214
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de valores mobiliários e cria a Comissão de Valores Mobiliários. Disponível em: <
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