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arts. 432.º, n.º 1, 801.º, n.º 2, e 808.º, n.º 1, do CC), uma vez estando a parte
(dono da obra) que a declara em mora quanto ao cumprimento parcial do
preço correspondente às prestações de trabalho feito pela outra parte em
contrato de empreitada (pago em parcelas de acordo com o “uso” admitido
nos contratos de empreitada), e tendo esta parte (empreiteiro) invocado
previamente a falta de pagamento como “excepção de não cumprimento” à luz
do art. 428.º, n.º 1, do CC, não podem, em face de uma declaração ineficaz por
ilícita, ser desencadeados os efeitos desvinculativos – retroactivos,
restitutórios e liberatórios – da resolução (tal como previstos nos arts. 433.º e
ss. do CC e na medida admitida pelos arts. 801.º, n.º 2, e 434.º, n.º 2, do CC)
para recuperar as prestações sinalagmáticas e correspectivas, já executadas
(como preço) antes da declaração resolutiva e exigíveis em função dessa
natureza, nem para a exoneração do pagamento, restante e em falta, das
prestações executadas pela contraparte empreiteira.
Decisão Texto Integral:
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19/09/22, 16:38 Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
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21. A autora emitiu as faturas n.os 59, 171, 172, 173 e 174, datadas e vencidas
a primeira em 23/3/2015 e as restantes em 17/7/2015, nas quantias de,
respetivamente, 12.300,00€, 24.600,00€, 30.455,05€, 12.644,40€ e 5.043,00€,
todas com IVA incluído, perfazendo o total de 85.042,45€.
22. As quais foram recebidas pelo Réu.
23. O Réu pagou à Autora a quantia de €32.300,00, por conta do preço.
24. Dos trabalhos referidos no orçamento mencionado no ponto 3 não foram
concluídos, os seguintes:
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j) Autora e Réu acordaram que a obra seria concluída no mês de Junho 2015,
dado este ter orientado toda a sua vida familiar e profissional no sentido de
começar a desfrutar o uso daquela moradia no início do Verão de 2015.
k) As faturas referidas no ponto 21 foram aceites pelo Réu.
l) O Réu só teve conhecimento da carta referida no ponto 26, em Agosto de
2015.
m) O custo estimado de trabalhos já realizados na obra é de €31.805,52.
n) Com exceção do referido no ponto 34 dos factos provados, a obra apresenta
os vícios/anomalias referidos no ponto 28 dos factos provados.
o) O Réu despendeu quantia não inferior a €10.000,00 com a reparação dos
vícios elencados no ponto 19 dos factos provados.
p) O réu irá despender quantia não inferior a €5.000,00 com o preço dos
materiais e mão de obra necessários à conclusão da obra.
q) O réu tinha urgência na remodelação da moradia em causa, devido ao facto
mesma se localizar na aldeia onde nasceu e junto da casa do seu pai, pessoa já
de avançada idade.
r) Em consequência da conduta da Autora, o Réu ficou triste e amargurado.
s) A autora, na sua petição inicial, invocou propositadamente factos, que sabia
serem falsos.
3. O direito aplicável
3.1. Vício na reapreciação da matéria de facto
O Recorrente alega que a valoração da prova feita pelo acórdão recorrido,
uma vez impugnada a matéria de facto retratada na sentença de 1.ª instância,
revela omissões censuráveis e vícios de valoração, nomeadamente em face de
prova documental e da prova pericial junto aos autos (“relatório técnico de
vistoria”). Destaca-se, no âmbito da impugnação, as faltas na reapreciação dos
pontos provados 4., 5., 24., 25., 28., 32., 33. e 34 e dos factos não provados a),
b), c), e), f), g), h) e k).
Vejamos a fundamentação do acórdão recorrido:
“Quanto à referida contradição entre os pontos 3, 4 e 5, confessamos não
entender a alegada contradição entre esses factos ou eventualmente com
outros, tal a clareza e objetividade dos ditos factos, antes se nos afigurando
que se completam e estão até em conformidade com o alegado nos pontos 9º,
10º, 11º e 12º da contestação e que não mereceram oposição direta e frontal da
A. no seu articulado de réplica, pese embora tenha aqui a A. impugnado tudo
quanto foi alegado pelo Réu em sede de contestação.
Seja como for, não se descortina a apontada oposição ou contradição.
No ponto 24 dos factos provados referem-se trabalhos previstos no clausulado
orçamental inicial apresentado pela A. e tidos como não executados ou não
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concluídos; enquanto que na al. i) dos factos considerados como factos não
provados apenas é dito que não ficou provado que ‘para além dos trabalhos
efetivamente efetuados ou dados como efetuados e constantes dos pontos 10 a
20, e para além dos trabalhos dados como não executados e referidos nos
pontos 24 e 25, quaisquer outros trabalhos – referidos nos orçamentos dos
pontos 3, 8 e 9 – foram efetivamente concluídos pela A.’, pelo que, com o
devido respeito, não se alcança que possa haver qualquer contradição entre
tais pontos, mas antes que tais pontos até se completam.
No que diz respeito aos pontos de facto provados e impugnados, os pontos 4 e
5 foram assim considerados com base nas declarações prestadas pelo R. em
audiência de julgamento, o que foi efetivamente dito pelo R., não havendo
prova em contrário, pelo que se aceita esse entendimento do Tribunal
recorrido, no sentido de que entre as partes foi acordada a realização da obra
em causa pelo preço global de €95.045,70 + IVA, mas que não houve
aceitação pelo R. sobre a descrição de trabalhos e respetivos valores
constantes do orçamento referido no ponto 3.
Donde termos de aceitar como provados os pontos 4 e 5 dados como
provados.
No que respeita aos pontos dados como provados sob os nºs 29, 30 e 31, os
mesmos resultam do teor da carta de fls. 60, datada de 30/09/2015 e enviada
pela A. ao ilustre mandatário forense do Réu, conjugada com as declarações
prestadas pelo R. e pela testemunha Eng.ª BB, que acompanhou a obra em
causa ao serviço da A., tendo mesmo sido quem elaborou o orçamento inicial
para essa obra, tendo referido que os trabalhos na obra terão decorrido até
Junho ou Julho de 2015.
Face ao que se aceita a data referida no ponto 29, bem como os referidos
pontos de facto.
No que diz respeito aos pontos de facto não apurados e cuja alteração se
pretende para factos provados, na sua fundamentação escreveu-se o seguinte
na sentença recorrida:
‘Quanto aos pontos a) a c), e e) a g), os mesmos foram assim considerados,
atenta a ausência de prova segura da sua verificação.
Com efeito, o Réu desmentiu categoricamente tal factualidade.
Por outro lado, nenhuma prova carreada para os autos ou produzida em
audiência logrou firmar convicção em sentido contrário, pois que nenhuma
das testemunhas inquiridas em audiência referiu ter presenciado as
negociações tidas entre o legal representante da Autora (ou alguém a seu
mando ou em sua representação), sendo que o depoimento da testemunha BB
mereceu algumas reservas no que à sua credibilidade diz respeito (conforme
iremos melhor explanar adiante) e, portanto, na perspetiva do Tribunal, e de
acordo com a sua livre-convicção, não assumiu peso probatório suficiente que
permitisse sanar a dúvida sobre a veracidade da factualidade em questão.
Por outro lado, o facto de tais trabalhos constarem de documento diverso do
orçamento, por si só não lhes confere a natureza de trabalhos aditados ao
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dos factos provados, como anteriormente se entendeu, sendo certo que nada se
provou sobre um qualquer eventual acordo firmado entre as partes sobre as
condições e modo de pagamento da obra pelo R..
Mas também importa e impõe-se referir que a circunstância de tais factos
terem sido dados ou considerados como não provados, tal não implica que o
seu contrário seja verdadeiro, pelo que sempre cumprirá fazer uma
reapreciação de toda a prova dada como provada, designadamente para se
inferir se os trabalhos referidos nos pontos 8 e 9 devem ou não ser
considerados como trabalhos a mais ou alterações à obra inicialmente
acordada, e se devem ou não ser pagos e de que modo.
As alíneas h) e i), a que já antes nos referimos, não tiveram prova bastante, e
não se provou que o R. alguma vez tenha aceite as faturas referidas no ponto
21 (al. k)), embora as tenha recebido – ponto 22 –, o que também não exclui
uma eventual responsabilidade do R. pelo seu pagamento, o que já é uma
questão de direito, não uma questão de facto.
Face ao que se conclui pela confirmação da totalidade da decisão de facto
proferida no tribunal recorrido. [sublinhado nosso]”
Ora (no que respeita à circunscrição da revista quando aprecia e intervém na
decisão da matéria de facto ainda enquanto erro de direito):
O Tribunal não se moveu nos terrenos de prova legalmente vinculada nem de
prova com força legalmente vinculativa. Só nesses termos poderia o STJ, em
revista e nos termos restritos do art. 674º, 3 (em conjugação com o art. 682º,
2), do CPC, apreciar o «erro na apreciação das provas e na fixação dos factos
materiais da causa». O Recorrente imputa erros na apreciação crítica de
provas produzidas e valoradas em regime de prova livre – em esp., os arts.
376º, 389º e 396º, do CCiv. –, fundada no âmbito e na esfera de intervenção e
dos poderes de cognição do erro de facto proporcionados amplamente pelo art.
662º, 1 («A Relação deve alterar a decisão proferida sobre a matéria de facto,
se os factos tidos como assentes, a prova produzida ou um documento
superveniente impuserem decisão diversa.»), 2 e 3, do CPC.
A discordância do recorrente radica, essencialmente, no modo como foi
valorada a matéria de facto e decidida em conformidade com a decisão de 1.ª
instância. Todavia, estando em causa prova não vinculada ou “não tabelada”
nem se sustentando a ofensa de disposição legal que fixe a força probatória de
meio de prova, está vedado ao tribunal de revista a sindicação do acórdão
recorrido quanto ao modo como a 2.ª instância julgou a impugnação da
matéria de facto e, portanto, firmou o seu juízo probatório quanto aos factos
provados e não provados na apreciação de provas não tabeladas – assim
dispõe, por último e decisivamente, o art. 662º, 4, do CPC («Das decisões da
Relação previstas nos n.os 1 e 2 não cabe recurso para o Supremo Tribunal de
Justiça.»)[2].
Conclui-se, pelo exposto, que não é admissível a apreciação da questão
concentrada nas Conclusões recursórias D)[3] a N) e P (em parte), tal como
delimitadas, que assim improcedem.
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IV. DECISÃO
Pelo exposto, acorda-se em julgar improcedente a revista, confirmando-se o
acórdão recorrido.
*
Custas pelo Recorrente.
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[1] Antes, a fls. 291 e ss, foi proferida decisão de indeferimento das nulidades (art. 615º, 1, do CPC)
invocadas no recurso.
[2] V., por todos, ABRANTES GERALDES, Recursos no novo Código de Processo Civil, 5.ª ed., Almedina,
Coimbra, 2018, sub art. 662º, págs. 286 e ss, 312 sub art. 674º, págs. 406 e ss, sub art. 682º, págs. 431-432,
433-434, com jurisprudência de suporte; FRANCISCO FERREIRA DE ALMEIDA, Direito processual
civil, Volume II, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, 2019, págs. 594-595.
[3] Embora se refira nesta Conclusão a questão “B – Reapreciação da decisão de mérito”, das Conclusões se
retira inequivocamente que o âmbito do objecto recursivo se reconduz ao segmento do acórdão recorrido
(identificado na Conclusão “B”) em que se analisou a questão “B – Impugnação da decisão de facto”.
[4] Sobre a legitimidade de invocação do benefício da excepção de não cumprimento no contrato de
empreitada, sempre que há “pagamento escalonado do preço, em prestações sucessivas, à medida que a
execução da obra progride, a fim de ser o dono da obra, e não o empreiteiro, a entidade financiadora do
empreendimento”, situações em que “o empreiteiro pode, legitimamente, recusar o prosseguimento da obra,
das fases da obra em falta, se e enquanto o dono não saldar as prestações em dívida”, v. PIRES DE
LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil anotado, Volume II (Artigos 762.º a 1250.º), 4.ª ed., Coimbra
Editora, Coimbra, 1997, sub art. 1211º, págs. 875, 877.
[5] Portanto, sem a “convicção de obrigatoriedade que é essencial ao costume”: OLIVEIRA ASCENSÃO, O
Direito. Introdução e teoria geral, 13.ª ed., Almedina, Coimbra, pág. 279.
[6] Assim, JOÃO BAPTISTA MACHADO, “Tutela da confiança e ‘venire contra factum proprium’”, Obra
dispersa, Volume I, Studia Juridica, Braga, 1991, págs. 382-383 (“usos particulares”, “constantes e
consentidos”, até capazes de poder “derrogar cláusulas do contrato originário”).
[7] V. PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil anotado, Volume II cit., sub art. 1210º, pág.
872, em conjugação com PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, Código Civil anotado, Volume I (Artigos
1.º a 761.º), com a colaboração de M. Henrique Mesquita, 4.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 1987, sub art.
3º, pág. 54.
[8] Referindo-se neste caso às empreitadas de “grande dimensão”, v. LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das
obrigações, Volume III, 9.ª ed., Almedina, Coimbra, 2014, pág. 470.
[9] LUÍS MENEZES LEITÃO, Direito das obrigações, Volume III cit., pág. 462.
[10] V., por ex., o Ac. do STJ de 6/9/2016, processo n.º 6514/12.2TCLRS.L1.S1, Rel. GARCIA CALEJO,
in www.dgsi.pt.
[11] V., inequivocamente, ANTUNES VARELA, Das obrigações em geral, Vol. II, Almedina, Coimbra,
1997 (reimp. 2009), pág. 116, falta de ilicitude essa que se consolida “enquanto o credor não tiver efectuado
a contraprestação ou oferecido o seu cumprimento simultâneo”.
[12] INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Direito das obrigações, 7.ª ed., Coimbra Editora, Coimbra, 2010
(reimp. 2014), pág. 452.
[13] V. BAPTISTA MACHADO, “Pressupostos da resolução por incumprimento”, Obra dispersa, Vol. I,
Scientia Juridica, Braga, 1991, págs. 130-131 (“precisa de se verificar um facto que crie este direito –
melhor, um facto ou situação a que a lei liga como consequência a constituição (o surgimento) desse direito
potestativo. Tal facto ou fundamento é aqui (…) o facto de incumprimento ou situação de inadimplência”);
ANTUNES VARELA, Das obrigações em geral, Vol. II cit., pág. 125 (“só a falta (definitiva) de
cumprimento legitima a resolução do contrato”); INOCÊNCIO GALVÃO TELLES, Direito das obrigações
cit., págs. 454-457, 459-460 (“torna-se necessário que o não cumprimento seja imputável ao devedor”).
Justamente por isso se designou, no Ac. do STJ de 4/4/2006, processo n.º 06A205, Rel. ALVES VELHO, in
www.dgsi.pt, haver aqui um “direito potestativo vinculado” nos termos do art. 432º, 1, do CCiv., ficando “a
parte que invoca o direito à resolução, e suas consequências, obrigada a demonstrar o fundamento que
justifica a destruição do vínculo contratual” (sublinhado nosso).
[14] Quanto à sua invocação, com recurso também ao art. 428º, 1, do CCiv., do cumprimento defeituoso
pelo empreiteiro das prestações executadas – cfr. factos provados 28. e 33., assim como facto não provado n)
–, essa é questão decidida em 1.ª instância na apreciação do pedido reconvencional (como sublinhou o
acórdão recorrido) e que não foi levada à impugnação recursiva junto das instâncias superiores (ainda que
fosse lógica e cronologicamente posterior à prioritária questão da exceptio levantada pelo empreiteiro).
[15] Neste sentido, JORGE RIBEIRO DE FARIA, Lições de cumprimento e não cumprimento das
obrigações, 2.ª ed., Universidade Católica Editora, Porto, 2017, págs. 363-364 (se a resolução “tiver
resultado exclusiva ou preponderantemente da sua conduta”).
[16] Convergentes: PAULO MOTA PINTO, Interesse contratual negativo e interesse contratual positivo,
Volume II, Coimbra Editora, Coimbra, 2008, nt. 4861 – págs. 1674 e ss (“A resolução sem fundamento (sem
o direito potestativo que a fundamente) é, pois, ineficaz. (…) sob pena de se estar a conceder directa
prevalência, sobre a inequívoca força do Direito, ao facto ilícito”); NUNO PINTO OLIVEIRA, Princípios
de direito dos contratos, Coimbra Editora, Coimbra, 2011, págs. 890 e ss, em esp. 891, 896-897.
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[17] Favorável, no âmbito de uma compreensão mitigada, que, partindo do princípio do não reconhecimento
do efeito extintivo quanto à resolução sem fundamento, que “traduz um exercício ilícito do respectivo
direito” em ordem a “obter o resultado pretendido, em violação da lei”, conclui pela não manutenção da
relação contratual e (para além de conversão em denúncia sem pré-aviso com indemnização no contrato de
agência) equiparação a declaração de não cumprimento definitivo, v. ANTÓNIO PINTO MONTEIRO,
Direito comercial. Contratos de distribuição comercial. Relatório, Almedina, Coimbra, 2002, págs. 147-148
e nt. 282, Contrato de agência, 8.ª ed., Almedina, Coimbra, 2017, sub art. 30º, págs. 136 e ss. Quanto a este
último ponto, v. o Ac. do STJ de 12/5/2016, processo n.º 2470/08.0TVLSB.L1.S1, Rel. MARIA DA
GRAÇA TRIGO, in www.dgsi.pt.
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