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DEBÊNTURES O GUIA DEFINITIVO

Escrito em 10 de março de 2014 Por Christian Fernandes

Introdução

Uma das opções mais interessantes que temos hoje em dia para turbinar nossos
investimentos em renda fixa certamente é através da aplicação em debêntures, mas
o que são elas? Neste artigo você vai aprender:

 O que são debêntures e sua importância para as empresas e investidores;


 Os tipos de debêntures e suas características;
 O processo de emissão até chegar nas mãos do investidor;
 Um ótimo benefício para o investidor provido por algumas debêntures;
 O processo de distribuição de debêntures
 Onde se encontram debêntures para comprar
 O valor da debênture ao longo do tempo (incluindo os efeitos do pagamento
de juros e amortização)
 Como comprar, de forma simples, uma debênture

O que são debêntures?

Debêntures são títulos de dívidas emitidos por empresas, ou seja um documento


que dá ao seu dono o direito de um crédito contra a empresa que emitiu o título.
Apesar de ser uma palavra meio “estranha” com um viés Inglês, sua origem vem da
palavra debentur do latim que significa “ser devido”. O investidor em debêntures
detentor do título de crédito é chamado de debenturista, termo que utilizarei ao
longo deste artigo. Recentemente a Vale fez uma emissão de debêntures então
utilizarei o exemplo da mesma para alguns conceitos abordados no artigo.
A Importância das Debêntures

As debêntures constituem-se em poderoso instrumento de captação de recursos


pelas empresas, já que, para grandes projetos e planos de expansão, o capital
proveniente de bancos pode não ser suficiente, e, além disso, geralmente os bancos
emprestam dinheiro a taxas de juros não convidativas. Exemplo: Enquanto as
debêntures podem pagam IPCA + 5% de juros ao ano o que daria menos de 1%
de juros ao mês, os bancos cobrariam, na melhora das hipóteses, de 1,5% a 2,5% de
juros por mês.

Outra vantagem das debêntures, principalmente em empresas bem administradas,


é que as mesmas (assim como outros mecanismos) podem criam uma relação
capital/divida “otimizada” de forma a gerar o maior valor para o acionista.

Quem pode emitir debêntures?

Somente Sociedades Anônimas (S/As) podem emitir debêntures, além disso só


as empresas abertas podem emitir debêntures para o público em geral (emissão
pública), as empresas fechadas só podem emitir debêntures para um grupo restrito
de investidores previamente contactados (emissão privada). Neste artigo focaremos
nas emissões dadas por empresas abertas pois são essas as que podemos investir.

Características distintas de Debêntures

As debêntures têm diversas características que ajudam a classificá-las, não é o


assunto mais interessante (para não dizer “chato”) mas não posso deixar de falar
sobre isso, para amenizar coloco uma opinião pessoal sobre cada característica.

– Conversíveis ou não: As debêntures podem ser conversíveis em ações da empresa,


neste caso as condições para a conversão estarão descritas na escritura de emissão,
neste caso é importante ler essas condições. As debêntures não conversíveis
funcionam exatamente como um título de dívida privado. Minha opinião: Eu
pessoalmente não gosto de debêntures conversíveis, se a empresa é boa, porque
os acionistas desejariam correr o risco de dividi-la com alguém? De qualquer forma
as debêntures conversíveis não são muito comuns.
– Quanto a garantia: Uma debênture pode ter 4 tipos de garantia: A real é a melhor
de todas já que são dados ativos da empresa ou de terceiros que ficam vinculados
aos títulos de crédito, qualquer movimentação desse ativo que a empresa
quiser efetuar deverá pedir autorização aos debenturistas. A flutuante não vincula
os ativos (ou seja, a empresa pode utilizá-los do jeito que entender sem pedir
autorização), mas dá preferência ao debenturista em caso de falência (naturalmente
após os créditos trabalhistas e garantias reais). A quirográfica não dá preferência
nenhuma em relação aos demais credores, ou seja, você vai para o “fim” da fila dos
credores. Finalmente a subordinada não dá preferência nenhuma, você só “ganha”
mesmo dos acionistas. Minha opinião: Se é uma empresa bem administrada, de
baixo risco (veremos isso mais adiante), não faz muito sentido a garantia ser real. As
recém-emitidas debêntures da Vale foram quirográficas.

– Prazos, pagamentos e resgate antecipado: A depender da debênture, a mesma


pode prever pagamentos dos rendimentos (juros) durante a duração da mesma,
esse pagamento é feito geralmente semestralmente ou anualmente. A debênture
pode também efetuar o pagamento total (principal+rendimentos) no vencimento.
A debênture também pode permitir (ou não) o regate antecipado por parte do
emissor se esta cláusula constar no regulamento da emissão, caso esta cláusula
esteja presente é normal que se tenha um prêmio de resgate para o investidor.

Minha Opinião: O mercado não vê com bons olhos cláusulas de resgate antecipado
de debêntures pois dificulta a precificação das mesas, além disso, um resgate
antecipado pode “estragar” o planejamento do investidor. Imagine o seguinte
cenário, você investiu em debêntures para se proteger da inflação e, na iminência
de um surto inflacionário, a empresa (com um bom caixa) resolve resgatar essas
debêntures para não pagar esse “extra”. O investidor recebe o dinheiro e “fica na
mão” pois, a essa altura, sua alternativa que seriam os títulos públicos NTN (que são
indexados pela inflação) provavelmente não estarão com as melhores condições de
preço. Convém então ler o prospeto e/ou perguntar a instituição que está lhe
oferecendo a debênture se há está cláusula.

A recente emissão de debêntures da Vale constituiu o melhor cenário na minha


opinião pois só autorizará o resgate antecipado via oferta facultativa ao mercado,
ou seja, a Vale pode oferecer o resgate antecipado (caso veja uma oportunidade
interessante para tomar tal decisão) mas o investidor só o faz se quiser.
O processo de emissão

O processo de emissão de debêntures é dado, de forma resumida, pelas seguintes


etapas.

 Se define em assembleia de acionistas ou reunião do conselho de


administração de uma empresa (se este tiver poder para tal) a emissão das
debêntures e sob quais condições (prazo, etc.) essa emissão será dada;
 A empresa então escolhe um banco ou corretora/distribuidora de valores para
coordenar a emissão das debêntures, o coordenador de encarregará de:
 Preparar toda a documentação necessária e registro junto a Comissão de
valores mobiliários (CVM);
 Fazer a análise da empresa emissora a fim de elaborar o prospecto de
emissão, afinal, o investidor que vai adquirir estas debêntures precisa conhecer
melhor a empresa e seus planos para uso dos recursos investidos;
 Fazer a apuração da demanda e dos preços que o mercado estaria disposto
a pagar pelos títulos (bookbuilding);
 Fazer as apresentações (roadshows) a fim de “vender o peixe” para os
investidores e mercado financeiro em geral;
 Toda emissão de debêntures pública tem a figura do “agente fiduciário” que
é o representante legal dos debenturistas, ele é o responsável por defender
os interesses dos debenturistas em qualquer alteração e/ou conflito que possa
ocorrer. Eventuais alterações nas características das debêntures ou outros
assuntos pertinentes (tipo um atraso no pagamento ou uma eventual
proposta de resgate antecipado) devem ser discutidos numa assembleia de
debenturistas que podem ser convocadas pelas diversas partes interessadas
(agente fiduciário, debenturistas, empresa e CVM).

Você pode estar se perguntando porque estou citando aqui este processo chato e
complicado. Qual é a importância disso para o investidor, especialmente o que está
começando? Resolvi colocar o processo aqui para mostrar a todos que uma emissão
de títulos privados é um processo sério que dá ao investidor a oportunidade de ver
“onde se está metendo”. Isso não significa que esteja livre de riscos, afinal muitos
desses procedimentos são idênticos aos do mercado de renda variável (ações). Que
eu me lembre a OGX também fez lindos “roadshows” e deu no que deu….
Classificação de Risco

As agências de classificação de risco têm importante função no processo de emissão


das debêntures já que as mesmas são responsáveis pela atribuição da “nota” (rating)
da dívida da empresa, assim sendo, empresas com boas notas pagarão juro mais
baixos pois o risco é menor. Como exemplo podemos citar a recente emissão de
debêntures da Vale teve uma atribuição de rating “Aaa.br” pela Moodys e “4 AAA”
pela Fitch o que são excelentes notas. Certamente essas notas contribuíram para
uma redução dos juros pagos pela mineradora na emissão.

Uma Oportunidade! Debêntures isentas de Imposto de Renda

Os juros pagos pelas debêntures emitidas pela Vale ficaram ligeiramente abaixo do
valor dos juros pagos num título público NTN de prazos semelhantes, lembrando
que os dois sofrem correção da inflação (IPCA). Um resultado espetacular para a
Vale que se deu por dois motivos: (1) A classificação de risco da empresa (citado no
paragrafo acima) e (2) O fato das debêntures serem para projetos de infraestrutura
fazendo com que os rendimentos pagos aos investidores serem isentos de
cobrança de imposto de renda (na minha opinião este motivo foi mais forte que o
primeiro). Existem diversas debêntures no mercado para tais projetos o que se
constitui numa ótima alternativa de investimento. Vale ressaltar, no entanto, que
esse benefício é valido somente para debêntures de longo prazo (com vencimento
no mínimo em 4 anos e carência mínima de resgate em 2 anos), isso significa, na
prática, que o benefício fiscal é de 15% em cima do rendimento já que essa é a
tributação atual para investimentos com duração acima de 2 anos.

O processo de distribuição das debêntures

A distribuição de debêntures é dividido em primária e secundária.

A distribuição primária é onde ocorre a primeira “venda” de debêntures, é feita por um


grupo (pool) de instituições financeiras coordenadas por uma instituição “líder” que foi
contratada pela empresa emissora para este fim.
Na distribuição secundária Investidores compram e vendem debêntures entre si em um
mercado de balcão organizado, o principal hoje é o SND – Sistema Nacional de
Debêntures administrado pela CETIP. O investidor deve procurar uma instituição
financeira autorizada para tal fim, inclusive, há corretoras de valores que tem a
infraestrutura tecnológica que permite a compra e venda de debêntures “online”
(veremos isso mais adiante).

O processo de bookbuilding visto anteriormente ajuda a coordenadora líder a definir a


estratégia a ser adotada na distribuição primária que pode ser feita em diferentes séries
com prazos e formas de amortização diferentes. No caso a recém-emissão da Vale a
mesma foi feita em 4 séries com as seguintes características:
Primeira Série

Vencimento: 15 de janeiro de 2021 (7 anos)

Amortização (em 2 parcelas): 50% em 2020 e resto no vencimento.

Atualização Monetária: IPCA

Remuneração: 6,46% ao ano pagos anualmente

Segunda Série

Vencimento: 15 de janeiro de 2024 (10 anos)

Amortização em 3 parcelas: 33,33% em 2022, 33,33% em 2023 e 33,33% no


vencimento.

Atualização Monetária: IPCA

Remuneração: 6,57% ao ano pagos anualmente

Terceira Série

Vencimento: 15 de janeiro de 2026 (12 anos)

Amortização (em 3 parcelas): 33,33% em 2024, 33,33% em 2025 e 33,33% no


vencimento.

Atualização Monetária: IPCA

Remuneração: 6,71% ao ano pagos anualmente

Quarta Série

Vencimento: 15 de janeiro de 2029 (15 anos)

Amortização (Em 6 parcelas): 16,66% em 2024, 16,66% em 2025, 16,66% em 2026,


16,66% em 2027, 16,66% em 2028, 16,66% no vencimento.

Atualização Monetária: IPCA

Remuneração: 6,78% ao ano pagos anualmente


Como pode se perceber acima, as debêntures com prazo mais longo oferecem juros
maiores, no entanto, só deve investir no longo prazo o investidor que faz um
planejamento adequado visando não necessitar resgatar os valores antecipadamente
já que este resgate pode comprometer a rentabilidade.

Como comprar debentures

O investidor pode adquirir debêntures através de uma corretora ou distribuidora de


valores mobiliários. As principais plataformas de negociação de debêntures são:

 Sistema Nacional de Debêntures que operacionalizado pela CETIP;


 Bovespa Fix e Soma Fix que são administradas pela BMF Bovespa;

O que importa, na verdade, é que quanto mais sistemas de negociação a corretora ou


distribuidora de valores tiver acesso mais títulos ela poderá oferecer a seus clientes.
Inclusive há corretoras que já tem sistemas totalmente eletrônicos e automatizados para
compra de debêntures, ou seja, você nem precisa conversar com o agente autônomo.

Como comprar debêntures na distribuição primária

É comum, numa distribuição primária, as corretoras participantes avisarem aos clientes


da iminência da emissão para que os mesmos façam suas reservas. No entanto, o que
observei na recente emissão da Vale, foi que algumas corretoras não fizeram
divulgação eletrônica em massa (via e-mail) para seus clientes, ou seja, o investidor
deve ficar atento nas emissões (que tem ampla divulgação pelos portais especializados
como o Infomoney) e entrar em contato com sua corretora para participar.

Preços e rentabilidade de debêntures adquiridas no mercado secundário

O mercado, baseado na lei da oferta e procura, irá determinar o preço de


compra/venda de uma debênture, nesse momento é importante saber o preço unitário
da curva (PU) que é o valor teórico de uma debênture em determinada data do ciclo
de vida de mesma. De posse deste valor (que é calculado utilizando uma formula
matemática baseada nas condições de emissão da debênture) pode-se determinar a
rentabilidade que será paga pela debênture adquirida no mercado secundário.
O gráfico abaixo mostra o ciclo de vida projetado das debêntures da Vale baseado nos
atuais valores do IPCA.

O gráfico acima ficou bem interessante e mostra algumas particularidades sobre a


evolução das diferentes séries de debêntures da Vale que cito a seguir.

 As pequenas quedas referem-se a pagamento de juros e as grandes quedas são


as amortizações programadas ;
 As “curvas” das diferentes séries são praticamente iguais até o momento da
amortização de cada série, isso ocorre por dois motivos:

o Os juros pagos das diferentes séries são bastante próximos (a menor paga
6,46% e a maior 6,78%);
o O único efeito que poderia afastar as “curvas” das diferentes séries seria a
“explosão” exponencial dos juros sobre juros o que não ocorre aqui pois,
no regulamento da debênture, é previsto o pagamento anual dos juros o
que impede dita “explosão”.
 O investidor deve ficar atento nos eventos de pagamentos de juros e
amortização das debêntures para efetuar o reinvestimento dos mesmos, essa
certamente é uma desvantagem em relação aos títulos públicos onde se permite
o reinvestimento automático.

→ Clique aqui para baixar a planilha com a memória de cálculo do valor unitário na
curva.

Vamos comprar uma debênture?

Ao comprar debêntures no mercado secundário, o valor da mesma seguirá a regras de


oferta/demanda do mercado o que gerará uma diferença sobre a rentabilidade do
lançamento primário.

No vídeo abaixo vamos comprar uma debênture da Vale pela internet no site da
corretora, você verá que o valor pago pela debênture é significativamente maior que o
valor na curva e, consequentemente, a rentabilidade prometida é sensivelmente menor.

https://www.youtube.com/watch?v=yygST9eULXg.

Declaração: Para fins deste estudo utilizei os serviços de uma corretora em que é
permitida a compra de debêntures pela internet. Isso não significa, de forma alguma,
qualquer recomendação de uso da mesma para vossas operações financeiras.

Conclusão

 Debênture é um título de dívida privada podendo ser emitido por S/As


 Debêntures são um ótimo instrumento de capitação pela empresa
 Debêntures têm características bastante distintas especialmente no tocante
das garantias e rating, isso influencia bastante na taxa de juros a ser paga pelo
emissor.
 As debêntures tem todo um processo formal de colocação no mercado que
vai desde uma assembleia de acionistas para aprovar a emissão até
apresentações (roadshows) para divulgar o produto.
 Há debêntures isentas de imposto de renda (ex: projetos de infraestrutura) o
que torna mais atraente o investimento;
 As debêntures podem ser distribuídas de forma primária (Empresa->Investidor)
ou secundária (Investidor<->Investidor);
 O principal mercado de distribuição de debêntures é o SND administrado pela
CETIP;
 Geralmente é mais vantajoso comprar a debentures na distribuição primária pois
a chance de obter uma maior rentabilidade no título é maior (especialmente
quando a emissora é uma empresa solida como a Vale).
 O preço unitário na curva é o valor teórico da debênture em determinado
momento do ciclo de vida da mesma;
 Já é possível comprar uma debênture facilmente pela internet.

As debêntures sempre foram ótimas alternativas para compor uma sólida carteira
de investimentos, e com a isenção de Imposto de Renda em alguns casos ficou
melhor ainda. As debêntures, durante muitos anos, eram restritas a investidores
“peso pesados” mas agora, com R$ 1.000,00 já se pode comprar um título, isso
contribuirá muito para a liquidez das mesmas.

Hoje as debêntures se tornaram um real alternativa de diversificação de investimentos


em renda-fixa podendo até em alguns casos atingir o tão almejado benchmark de
rendimento líquido de IR de 1% ao mês. Então recapitulando:

Quer saber mais de debêntures? Consulte os seguintes recursos:

Site da AMBIMA sobre debêntures.

Renda Fixa Bovespa

CETIP

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