*Doutora e mestre em psicologia da aprendizagem (Universidade de São Paulo), mestre em comunicação social
(Universidade Metodista de São Paulo); especialista em didática do ensino superior (Universidade São Judas) e
pedagoga (UNIABC). Professora de metodologia científica há 20 anos em cursos de especialização e MBA. E-mail:
<clanghi@faap.br> e <celi@uol.com.br>.
Produção de Conhecimento em Cursos de MBA: opções metodológicas para..., Celi Langhi, p. 68-81 69
Este artigo tem por objetivo apresentar soluções que auxiliem alunos e
professores na produção de monografias que sejam significativas para tais alunos,
tanto do ponto de vista pessoal como profissional e que estejam engajadas ao
objeto de estudo do curso. O objetivo geral é contribuir para que hajam mais
literaturas que demonstrem de forma prática, como os conteúdos de cunho teórico
podem ser aplicados.
Na organização geral desse artigo, são apresentados os principais conceitos
relacionados à produção de conhecimento, bem como sobre sua aplicação à
realidade corporativa. Na sequência são expostas as principais formas pelas
quais as monografias são apresentadas aos alunos e como os principais livros
de metodologia científica contribuem para essa finalidade. Finalmente são
propostas algumas sugestões para tornar a experiência de produção científica
mais significativa e mais prazerosa num curso de MBA.
Produção de Conhecimento em Cursos de MBA: opções metodológicas para..., Celi Langhi, p. 68-81 71
ordem metafísica, não sensíveis. Em outras palavras, parte-se do concreto material
para o concreto supramaterial; do particular ao universal (CERVO e BERVIAN,
2002).
O conhecimento teológico surge com a revelação de algo divino, aceito pela fé.
Ao adotar esse tipo de conhecimento pode-se ou não utilizar a razão. Não é preciso
ver para crer, e deve-se crer mesmo que as evidências apontem para o contrário
do que a religião ensina. Esse conhecimento geralmente acontece quando há um
mistério, ou seja, algo oculto, que provoca a curiosidade e que leva à busca. São
adquiridos nos livros sagrados e aceitos racionalmente pelas pessoas, depois de
terem passado pela crítica histórica mais exigente.
O quadro a seguir sintetiza as principais características dos tipos de
conhecimento.
2 Elaboração de monografias
Na produção de monografias é necessário ter capacidade de observação,
produção de teorias para explicar essa observação, teste dessas teorias e
aperfeiçoamento de idéias e teorias. A produção do conhecimento não deve ser
considerada como algo pronto, acabado ou definitivo, como era na época dos
filósofos gregos, em especial Aristóteles; ou na Renascença. Deve haver a busca
constante de explicações e de soluções, de revisão e de reavaliação de seus
resultados, apesar de sua falibilidade e de seus limites (CERVO e BERVIAN, 2002).
Em uma monografia o conhecimento deve ser renovado e reavaliado
continuamente. É isso que permite com que a elaboração do conhecimento seja
considerada um processo em construção. Para se aproximar cada vez mais da
verdade utiliza-se métodos que proporcionem controle, sistematização, revisão e
segurança maior do que possuem outras formas de saber não – científicas.
É nesse momento que se reconhece o papel da Metodologia Científica. Por
Produção de Conhecimento em Cursos de MBA: opções metodológicas para..., Celi Langhi, p. 68-81 73
meio dessa disciplina o aluno conhecerá uma série de métodos e técnicas que
poderão auxiliá-lo na produção geral de seu trabalho. Como não existem cursos
próprios para a formação de professores de Metodologia Científica, geralmente
são indicados para essas aulas profissionais que têm experiência com pesquisas
publicadas ou que desenvolveram dissertações de mestrado e teses de doutorado.
Muitas instituições separam os papéis entre os orientadores de metodologia e os
de conteúdo, uma vez que os professores de metodologia científica não dominam
todos os assuntos de um curso e nem sempre encontra-se no mercado nacional
profissionais devidamente titulados, conhecedores do conteúdo que é o objeto da
orientação e ainda com conhecimentos metodológicos suficientes para dominar
toda a cadeia da orientação e do desenvolvimento desses trabalhos. O papel do
professor de metodologia científica pode variar conforme as instituições de ensino,
mas geralmente é quem acompanha o desenvolvimento das monografias.
As aulas de Metodologia Científica, em sua grande maioria, são preparadas
conforme a experiência do professor e por meio de publicações disponíveis no
mercado. A experiência é fundamental para auxiliar os alunos na previsão de
dificuldades. Já as bibliografias especializadas auxiliam o professor a ter o suporte
teórico fundamental, que será o alicerce do trabalho científico. Aqui cabe, contudo,
um breve questionamento: será que as bibliografias disponíveis realmente auxiliam
os professores no preparo da aulas?
Para esse artigo foram estudados vinte e sete livros de metodologia científica,
publicados ou reeditados entre 2005 e 2010. Com base nesse levantamento
verificou-se que os livros de Metodologia Científica podem ser classificados de várias
formas: pelo conteúdo, formato, experiência do autor etc. Ao avaliar essa amostra,
optou-se por utilizar uma classificação própria, também fruto da experiência da
autora desse artigo, na orientação de mais de quinhentas monografias durante
sua carreira profissional.
Essa classificação comporta cinco etapas: conceitos gerais sobre ciência;
sugestões para a elaboração de projetos de pesquisa; classificação dos métodos
e técnicas de pesquisa; produção do relatório final e regras/ normalizações. Cada
uma dessas etapas será analisada a seguir.
a) Conceitos sobre ciência - dos vinte e sete livros analisados, seis fazem algum
tipo de referência aos conceitos em que se baseiam o desenvolvimento
científico como: aspectos gerais da filosofia da ciência (APPOLINÁRIO, 2006);
tipos de conhecimento, classificação da ciência, epistemologia, paradigmas e
modelos teóricos dentre outros (MARTINS e THEÓPHILO, 2009; MATTAR, 2008;
LAKATOS e MARCONI, 2007) e técnicas de aprendizagem, conhecimento,
ciência (SANTOS, 2010; BARROS e LEHFELD, 2007).
Produção de Conhecimento em Cursos de MBA: opções metodológicas para..., Celi Langhi, p. 68-81 75
Após essa análise fica evidente que se o professor de Metodologia Científica
optar pelar adoção um único livro, não oferecerá ao aluno uma visão global do
processo de produção científica do conhecimento. Algumas instituições de ensino
como a FAAP, o Mackenzie, o Instituto de Psicologia da USP e a PUCSP preferem
adotar seus próprios “Manuais de Monografias”. Mas, mesmo esses manuais
contemplam mais as questões de formatação e normalizações do que o processo
criativo, iniciando-se pelo tema do trabalho.
Por meio dessa ferramenta o aluno será convidado a pensar nos motivos
que o levaram a realizar um curso de MBA e a manter o foco em seus próprios
objetivos.
Sabe-se que a decisão por um tema de monografia não é algo simples. Isso
envolve uma tomada de decisão que, se for errônea, o aluno poderá ter que gastar
muito mais horas de estudos do que realmente esperava consumir para essa
atividade e ainda ficar satisfeito com o trabalho final. A apresentação da ferramenta
no início do curso visa permitir com que o aluno reveja várias vezes suas opções
para, então, tomar a decisão definitiva. Essa decisão geralmente é finalizada no
Produção de Conhecimento em Cursos de MBA: opções metodológicas para..., Celi Langhi, p. 68-81 77
informações sobre o tema específico com o qual se pretende trabalhar). Essas
fontes podem ser obtidas por meio de: Entrevistas pessoais - é uma boa
opção quando a fonte é muito rica e não muito numerosa e pode oferecer
informações não previstas. São classificadas em 3 tipos: estruturada (usa
questionário); semi-estruturada: (usa roteiro ou pauta) e não-estruturada
(conversa livre); Questionários - é bastante interessante quando as fontes
são numerosas e já se sabe bem as informações que se quer, ou seja, é
o mais adequado à pesquisa quantitativa e podem ter 2 tipos questões:
abertas (respostas livres), fechadas (com alternativas já estabelecidas, como
alternativas fixas (sim/não), múltipla escolha, com escala); Observações -
são os registros de comportamentos e atitudes que são importantes para o
assunto estudado. Estas podem ser: sistemática (sempre que a observação
for regulada por horários, intervalos de tempos, repetições e alternância de
estratégias e locais de observação todos anteriormente definidos em detalhe)
e assistemática (sempre que a observação não seja regulada por intervalos,
horários, repetições já definidos).
h) Sumário Preliminar - aqui deve-se apresentar a relação dos capítulos (quer,
dizer, o que será o títulos destes) e partes do trabalhos na ordem em que irão
se suceder. A sugestão é de que os capítulos sejam organizados passando
dos assuntos mais gerais para chegar à situação concreta analisada.
i) Plano de Trabalho - é a descrição das fases e do cumprimento das metas de
pesquisa durante o período de vigência e desenvolvimento da monografia. É
uma tabela onde se define, mês a mês, as atividades gerais desde a realização
da monografia até sua conclusão.
j) Breve Currículo do autor da pesquisa – esse documento é importante para
que os orientadores saibam qual é a experiência profissional e acadêmica
do aluno. O conhecimento desses dados facilita a orientação dos temas da
monografia bem como o seu desenvolvimento. O orientador poderá citar
exemplos, teorias e bibliografias que já são do conhecimento do aluno para
que, a partir daí, possam sugerir novos materiais. Deve-se escrever itens
como: nome completo, contato, local de trabalho e cargo, cursos que já fez,
perspectivas de futuro.
k) Referências Bibliográficas - indicar as referências bibliográficas que
foram utilizadas para a elaboração desse projeto: livros, sites, periódicos,
monografias, dissertações, teses, documentos técnicos etc., para que desde
a apresentação do projeto o aluno já siga um tipo de normalização, o texto
poderá ser formatado de acordo com os seguintes critérios propostos
pela ABNT: letras Arial ou Times New Roman, letra tamanho 12, com
espacejamento de 1,5 cm entre linhas.
Produção de Conhecimento em Cursos de MBA: opções metodológicas para..., Celi Langhi, p. 68-81 79
6º Passo: Análise final do trabalho – ocorre quando o trabalho está praticamente
pronto. Nesse momento se faz as devidas verificações ortográficas e metodológicas
para a entrega final e avaliação do trabalho.
Com esses seis passos propostos para a realização das monografias e tendo-
se em vista os conteúdos apresentados nos livros de Metodologia Científica,
verifica-se que tais publicações são pertinentes para auxiliar o aluno em algumas
das etapas da produção das monografias, mas geralmente uma única publicação
não é suficiente para esse tipo de orientação.
Considerações Finais
A produção de conhecimento científico é fundamental para a inovação
tecnológica e para o desenvolvimento das pessoas e das nações. A elaboração de
monografias nos cursos de MBA tem por função auxiliar na busca dessa inovação
e desse desenvolvimento. Contudo, sua imposição, e a falta de livros didáticos que
facilitem o desenvolvimento do trabalho, têm levado muitos alunos a desistirem
de cursos desse porte antes mesmo de iniciá-los.
Nesse trabalho se pretendeu apresentar os elementos que envolvem a
produção de uma monografia e promover uma reflexão a respeito de como os
livros poderão auxiliá-los tanto na orientação quanto na execução de monografias.
Cabe lembrar que não se teve o interesse de defender um modelo único para a
elaboração dessas monografias. Mas foram apresentados os principais itens que as
compõem e dentre esses itens quais são os mais trabalhados nos livros específicos
dessa área.
Espera-se que essa contribuição permita com que os alunos se sintam menos
angustiados no processo de elaboração de seus trabalhos quer pela visualização
global do que deverão elaborar, quer pela análise dos livros específicos que deverão
fazer e optar, com segurança, sobre como tais materiais poderão auxiliá-los.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, Maria Margarida de. Redação científica: elaboração do TCC passo a passo.
São Paulo: Factash, 2007.
APPOLINÁRIO, Fabio. Metodologia da ciência: filosofia e prática da pesquisa. São
Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.
AQUINO, Italo de Souza. Como escrever artigos científicos: sem “arrodeio” e sem
medo da ABNT. João Pessoa, PB: Universitária/ UFPB, 2008.
BARROS, Aidil Jesus da Silveira; Lehfeld, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de
metodologia científica. São Paulo: Pearson, 2007.
BERTUCCI, Janete Lara de Oliveira. Metodologia básica para elaboração de trabalhos
de conclusão de cursos: ênfase na elaboração de TCC de pós-graduação lato sensu. São
Paulo: Atlas, 2009.
BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da pesquisa.
São Paulo: Martins Fontes, 2005.
Produção de Conhecimento em Cursos de MBA: opções metodológicas para..., Celi Langhi, p. 68-81 81