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CLINICA PSICANALITICA COM CRIANCAS Carlos Blinder Joseph Knobel Maria Luisa Siquier ‘ EDITORA sanalitica com criangas IDEIAS& mar eae aD Digitalizado com CamScanner O processo diagnostico [1 Primeas ences) . Primeir: i 1, Primeiras entrevistas ) A entrevistas iniciais com as criangas e€ seus pais sao as primei- Tas aproximacoes a uma situagao u es que os preocupa e que acon- tece de estar disfarcada como o contetido manifesto de um sonho. Como no trabalho do sonho, 0 trabalho da procura implicara abrir outras vias ao contetido manifesto remetendo-se ao latente, no desejo que se move na propria historia e ao Edipo como orga- nizador e estruturante. ane Trata-se de chegar mais além do sintoma, ao que nao se vé a primeira vista. Havera que determinar se € possivel ‘ssa_passagem do ma- Anifesto ao latente e se 0 narcisismo dos pais 0 permite, pois na psicandlise com criancas a situacdo se torna mais complexa, ja que se esclarecem as historias, os desejos e os Edipos dos pais que sobredeterminam o do filho. Se vé com maior crueza 0 que 0 condiciona como humano: estar sujeito aos demais, aos outros. O que marcara a atitude do tratamento € 0 desejo de saber da crianga e de seus pais sobre o que ocorre. Nestas primeiras entrevistas tera de avaliar a permeabilidade da palavra do psicana- “aparentemente aceitar o que foi dito e depois rebaté-lo, critica-lo, racionaliz4-lo, defendendo-se de uma intensa perseguicdo e até confundir-se. A problematica da crianca pode estar condensando e deslo- cando um conflito familiar latente.)As vezes se encontram casos “em que as enirevistas iniciais tém permitido desdobrar um fun- Digitalizado com CamScanner Clinica psicanalitica com crianga co, substrato de fantasias e mitos fa. i geni » familiar patoge > 0 m ser as mais saudaveis da familia m .s, Estas criangas pode liares. Estas crt a mi a sera considerar s¢ @ crianga € quem realmente prec Atarefa sera tratamento, OU bem orientar um tratamento pare 0 pai, a mae, oy um irmao, ou tratamento do casal ou da familia. E preciso des. tacar essa questao ja que acontece de orientar tratamentos para criancas cuja situacdo familiar é incapaz de sustentar as mudancas na subjetividade do pequeno paciente e, oe bem o retiram muito rapidamente do tratamento, para decepcao e frustracao dos pro- fissionais, ou bem o tratamento nao consegue ajudar a crianca desprender-se dos lacos que a unem 4 situacdo familiar e esse amento € vivenciado como um verdadeiro fracasso. cionament trat Caso Montserrat Montserrat tem 12 anos. Os pais foram encaminhados pela pediatra porque a menina “se fecha em casa, também no banheiro, onde passa ho- ras, ha muito papel no banheiro e nao sabemos se se masturba, ¢ viciada em TV, ndo quer sair da sua infancia (nao quer crescer) e dorme mal”. A mae‘conta que em casa o ambiente nao é bom. Montserrat tem uma irma, dois anos mais velha, que € muito agressiva: a agride, cospe, quebra portas e cristais. Outro dia, a irma Ihe deu um tapa. Montserrat disse que com sua irma maior ndo se pode conviver, que tem que ir embora de casa. A mie justifica: “Sempre foi assim, é sua forma de ser... e ndo ha nada a fazer”. Voltando a Montserrat, contam que nela tudo foi atrasado: nao enga- tinhou, andou aos dois anos, é timida, ¢ “um furgio, € daquelas criangas desajeitadas”. Passa horas olhando-se frente ao espelho, e pelas manhas a mae precisa ajuda-la a se vestir. Todas as noites a mae Ihe conta historias antes de dormir, “é um momento fntimo das duas, a sés e sem testemu- has”. Comegou a falar aos oito anos, quando parou de chupar o dedo. Deixaram que continuasse com esse comportamento porque, quando sua irma foi proibida de chupar o dedo, mudou e ficou agressiva, sem regis- tar que a esta idade, aos dois anos, nasce Montserrat. Sobre as relacoes do casal, a mae conta que cuida de tudo, se queixa se BY Saad pte revista e delimita: “Falo comigo mesmo antes ae me mostrar ao mundo... Ja se perfilam certas entre eles. Digitalizado com CamScanner da filha maior. Nao Ihes parece oportuno consultar sobre a filha maior pois o fize- ram hé anos ¢ a filha nao 5 quis prosseguir no tratamento, e provavelmente eles ndo insistiram, E evidente a alta Patologia familiar. Alem da problematica de Montserrat, destaca-se a violéncia da filha maior, a negacdo da mae frente 2 seu possivel cancer e a desconexao do pai, que logo acusara a mae de que ela responde com a mesma violencia da filha maior. Montserrat conta que vem ao consultorio porque vai mal nos estu- dos e seus pais se aborrecem com ela porque nao se importa com isso Relaciona-se mal com a irmé, discute com ela e a contesta. Também me conta que é muito lenta em tudo... “minha mae me veste, por costume...” E pedido a ela que faa o teste House, Tree and Person (HTP), cujos desenhos nao se apresentarao aqui, mas cujas historias so: Da CASA dira: “Ai vive uma familia muito numerosa, muito aventu- reira; a casa esta em um povoado e uns senhores querem derrubé-la, mas eles nao deixam, dizem que é outra casa, lhes dao outra direcao e 0 pai faz a voz do chefe e lhes diz que derrubem a outra casa. Depois ver um que fala muito, um vendedor, com outro que diz que tem um detergente que € muito bom e que deve experimenta-lo. Mas destréi a roupa, Ihe faz furos como a agua sanitdria. Se queixam ao vendedor, mas ele ja se foi do povoado e nao tem mais remédio sendo esquecer 0 assunto”. Ha uma forte referencia transferencial: o terapeuta parece ser este ven- dedor que pode destrocar suas roupas, deix-la com buracos e abandons. la... no havera remédio? O pai “tem” a voz do chefe nesta casa, mas 0 chefe na casa verdadeira, aquele que supervisiona tudo, parece que éa mae Da ARVORE dira: “Af vivem animais: dois passaros que lutam por- que querem ter uma drvore s6 para eles... tem inveja, aaa que se vivessem juntos viveriam pior, mas ao final pensam que ¢ melhor com- partilhar as coisas’. R © Processo Diagnéstico Digitalizado com CamScanner & © conflito com a irmé, a5 lutas em que parecem disputar a atvore: g . tencao de compartilhé-la parece projetar-se nessa historia, mie 2 eM AESSOA que desenha é umn menino:"..E muito travesy oath es ninguém aceita 0 cabelo dele, fs ele aceitae gosta, Vin, fazendo brincadeiras pesadas com as pessoas a asa, ndo gosta de ay. dar, porque Ihe pedem que ajude em coisas pesadas para ele, Ele gostaria de cer muitos globos para ira Lua, nao, melhor dizendo, para joga Parece representar arma com suas ‘rincadeias pesadas”. Outro dg vr ocachorro no forno, E expressa seu desejo de ir Lu, avelmente realiza ao fechar-se em seu ica psicanalitica com criangas conta que colocot distante, que € sew intento que prov: ci uarto e no banheiro 7 aoe pedir que desenhe uma MENINA, diz: “Ela € muito simpatica mas as vezes se aborrece e € egoista. E muito fragil, fraquinha, nao quer que ninguém a toque porque fica muito nervosa”. : Parece alertar da sua extrema fragilidade, que nao a toque, que ela também pode aborrecer-se muito. Depois das entrevistas diagnésticas se vé que, além do tratamento psicoterapéutico para Montserrat, € indicado encaminhar sua irma mais velha para uma consulta e trabalhar também com os pais para apoiar a si- tuagdo familiar, e em especial com a mae para enfrentar sua enfermidade. Encaminha-se a filha maior para um servico de psiquiatria infantil de um hospital da rede publica, com um relatério para que seja orientada a uma “agao terapéutica muito intensa e urgente, um tipo de ‘hospital dia’, devido ao grave quadro de descompensagao comportamental com graves crises de agressividade”. Aconselham que esse tratamento nio seja subs- tituido por uma psicoterapia ambulatorial, que seria insuficiente pelas caracteristicas e pela gravidade do caso. A resposta dos pais ¢ ambigua: negam a gravidade do transtorno da filha maior, assim como negam a gravidade da enfermidade da mae a quem ja tinha sido sugerido ha varios meses que fizesse uma biépsia pré-operatoria, mas ela consulta um especialista em medicina natural que lhe aconselha “uma medicacdo para dissolver as células cancerigenas € eliminé-las pela urina”. Aliada a essa negacdo, Montserrat Ihe diz: “Voce sera eterna, ndo morterd nunca”, Sua filha mais velha comenta: “Tomara que voce mora de um cancer maligno” Os pais aceitam a indicacao da proposta terapéutica para Montserrat, ‘mas se fixam na resisténcia da filha mais velha e, depois de uma série de entrevistas, decidem interromper: “Deixamos ela chorando, ndo quer Vit mais...”, Digitalizado com CamScanner g Em uma entrevista anterior, Montserrat havia anunciado isso, rela- tando um sonho: “O ministro da Educacio diz que vio fechar os colégios por um ano. E vem uma escavadeira para derrubar 0 colégio... e tolos os colégios da Espanha. E acontece que tinham sequestrado o ministto O malfeitor era jovem, de uns 40 anos, com barba. € outro mais valho, de 60 anos, calvo. O sequestro foi para pedir dinheiro, porque o eure nao Ihe havia deixado fazer coisas ou porque ele havia feito algo com sua mulher”. © Processo Diagnéstico Associa que esta contente porque ndo vai mais a0 colégio (sua anéli- se?), mas se assusta quando tudo foi derrubado. Parece ser o temor diante da fragilidade da estrutura familiar, qualquer movimento de mudanca é recebido como uma escavadeira que derruba tudo. Entao tem de se considerar o grau de tolerancia dos pais frente afuturas mudancas, quando as coisas comecam a se modificar. Asm ‘as sofrem desestabilizacoes de esteredtipos que vezes implicam em varias geracdes. Consultar pode ser coloca-los Entretanto, haverd outro critério a considerar, e € assim que o analista em questo € 0 indicado a levar esse processo em frente, suportando as transferéncias que surgem e 0 mobilizam nesses en- contros, transferéncias com a crianga e com seus pais e, as vezes, até com os que os encaminham, como 0 professor ou o pediatra. Para isso tem que se dar um tempo; fixar-se um periodo de espera para chegar a orientagdo diagndstica correta da crianga, de seus pais e do analista frente a eles. Um | autodiagnostico que_ Jogo de intertransferencias trata de-uma transferéncia, mas de um’ miultiplas e muito variadas. ae 4 Trata-se realmente de um duplo diagnéstico. 5, nesse sent, P. Aulagnier disse que € desejavel que 0 diagnostico esteja estabe- lecido inclusive sob forma de vagas presuncoes: j todo Na época do diagnéstico se colocara em jogo a eraes ‘do analista ja que o inicio de um tratamento também depende . as con- critérios que ele maneja; critérios que s¢ articularao com Digitalizado com CamScanner ceituagdes metapsicolégicas sobre as que vao re ea oriet vate {jo subjetiva, das compl Ure historia ¢ < Cons. as atticulagdes enue Inconsclente e Tepressio, 0 lugar = gute ocupa o conifito pstquico, 0 par tesistencia/repressi, HEcg dicdes do transferencial durante as primeiras entrevisiag” “Con. do desejo no processo de cura, assim como 6 vinctile mee demanda com a interpretacao. _ Baa ~~ Os critérios para estabelecer a andlise tm variad, : A razao da analisabilidade nao coincide com eti graficas, Nos tltimos anos tém surgido novas formas Clinicas ¢ complexidade supera 0 imaginado por Freud em sug €Poca wa Muitas vezes os pais chegam a consultar um Psicoterapey. ta quase como ultimo recurso. Ha muito trabalho Por fazer em telacao a difusio dessa especialidade, ja que desde 0 imaginario social tudo o que € relacionado com o psicol6gico cai para 9 lado da loucura, incrementando assim 0 temor da consulta, Esse medo de se consultar esta muito relacionado com a fe- rida narcisica que representa o reconhecimento de algo que nao funciona bem no filho. E 0 temor de ser culpados em suas fungdes parentais por um profissional, o qual supdem um saber que os vai ratificar ou verificar tudo 0 que fizeram de errado. Esse temor aparece normalmente por meio da pergunta: “Em que nés erra- mos?”, “o que fizemos de mal?”, ou ainda relatando veladamente uma historia a cerca de seu filho, na qual se descreve um passado “impecavel”, sem fissuras de nenhum tipo, ao estilo de “tudo ia tao bem até agora”. Como vemos, estamos falando de sentimentos de culpa no primeiro exemplo, ou da negagdo, no segundo. O terapeuta que esta revendo com os pais a historia dos fi- tho, quer dizer, que os est colocando frente a suas fungdes come Pais, precisa ser extremamente Tespeitoso com tais fungdes j4 ae as mesmas estdo ligadas a uma historia pessoal que abrang® o muitos casos mais de uma geracdo e, sobretudo, inclui a esse Ee que foram filhos de um determinado sistema psico-sécio-cultu Pousar Ja cura, Quer dizer, qual ¢ Sua ¢, to da cura. Q qual € seu Modelg qe “Sta exas relagoes eni ‘© Muito, quetas Noso- Digitalizado com CamScanner Tudo SSO compoe um trabalho especialmente complicado na escuta dos pals que nos consultam. A diffeil tarefa sera nao se dei- xar aprisional por esses limites ¢ ajuda-los a articular sua pendén- cia, incluindo-os sempre que for preciso no tratamento da crian- ca. Nas entrevistas que se tem com eles, pode-se desdobrar os conflitos dos pais como pais, quer dizer, presos a questdes do seu proprio passado que se repetem nos sintomas que o filho apresen- ta, como a €co que provém de sua historia e recordam aquilo que acreditavam superado, reprimido ou simplesmente negado. Caso Pedro Apresenta-se uma mulher acompanhada de um homem. Ela conta que na escola aconselharam que se consultasse sobre seu filho de oito anos porque “deixa-nos [professoras] loucas; nao brinca, toda a atividade que realiza € improdutiva, nao para, ndo tem amigos, s6 esté com uma crianga a qual domina. Perde o controle e esta agressivo. Quando era pe- queno aterrorizava as meninas, as perseguia e tentava dar-lhes um beijo de Iingua” A mie conta que Pedro “nasceu prematuro, teve transtornos de sono ¢ alimentacao. Durante o ano planejava me separar, pois meu ex-marido aterrorizava a crianga, um pai anormal. Agora quer o filho, me assustam 05 contatos de meu filho com ele. Esta desequilibrando a personalidade de meu filho, e ele est agressivo na escola”. Aqui ela chora ¢ 0 homem. aproveita para falar: “nos conhecemos ha cinco anos...”. Ela replica: “Ah, havia me esquecido de vocé...”. Ele aponta que a crianga esta sempre molestando: “Da pontapés e logo pede desculpa, como do nada; me faz pensar que nao € normal, é mentiroso, nao assume nenhuma responsabilidade”. A mae acrescenta’ “Inteirei-me da agressivi- dade de meu filho pela escola, Seu pai é um estorvo, o menino ¢ igual, € isso me assusta, O pai ¢ egocéntrico, desconfiado, psicopata e paranoico. meu filho é a imagem do pai, tem uma carga genética, vejo nele um adul- to... sto parecidos, gémeos. Tem um instinto natural, se compra fazendo danos aos fracos, ele ¢ o senhor”. ‘Ao perguntar como conheceu o pai da crianca ela responde: “Nao me deixava nem ao sol nem A sombra, me deu pena. Fiquei gravida, mas ele nndo me interessava como homem, cheirava mal, Tinka pensaco em deixi- -lo e planejei abortar, mas minha familia ndo me apoiou. Nos casamos & ‘ no como wm rival, como vi como apareciam suas estranhezas... via o meni BS © Processo Diagnéstico Digitalizado com CamScanner & € 8 8 eu inimigo. Decidi me sepatar¢ ele usava 0 menino, dig q in que eu era ma, falava que ia me matar. Ameacava e chegou a md EU Filho Agora, ele ve o pai aos domingos, alternadamente; 9 idea} setia aBrediy. visitas acabassem. Mas Pedro no quer, tem muita vontade qq ae sag Nesses quatro anos de separacao, conheci meu novo companheitg Hy Pai grandes amigos, anes, mas 350 0 Pedro nto se. Eapeme SS trés, Ele nao se incumbiu de alterar os papéis, é um companh aoe preocupa que o pai o veja como um rival”, . Me O hiomem conta “Fago as vezes de pai sem s8-10” Sou soley ( 40 anos) e vivo com meus pais. Se ndo nos casamos 6 devido a exe ™ blema ea fato de os pats dela serem muito religiosos e muito mere che ¢ ela nto querer thes dar um desgosto, casando-se sem a anulaan fe matrimonio anterior. Ela € tao cautelosa que nao faz nada com medo de complicar as coisas. O menino me quer como se eu fosse seu pai”, A mie acrescenta: “Pedro tem medo do pai, mas tem muita avidez de pai. Cada vez que o vé, volta pior, outra pessoa. Quando volta, nes pergunta se € verdade que quando ele sai nds nos metemos na cama, Sey, pai disse a ele, seria importante que nao o visse mais. A semana que vem tem uma audiéncia...” porque da pendéncia nesses momentos parece agora se esclarecer: ante a proximidade de um julgamento contra o pai, a mae quer que 0 terapeuta certifique que os encontros com o pai so contraproducentes, que o menino que “jd esté separado do pai” tem que ser preservado nao indo mais as visitas. Nao obstante, chama a atencao a mae argumentar no comeco das entrevistas que foi informada pela escola sobre 0 mau comportamento do filho, pois logo confirma que em casa ele também atua assim, mas isso nao foi o motivo da consulta, Como seu companheiro afirma, “€ to cautelosa que no faz nada com medo de complicar as coisas”. Parece que © tratamento pode ser uma complicagdo para a mae, e que sera melhor que Pedro nao o faca. ‘Tera que ir trabalhando esta demanda para que ela reconheca 0 mal- ~estar de seu filho, ¢ ajudé-la a diferencid-lo de seu ex-marido, e que eles no esto “unidos, nem sto gemeos”. Ser gemeo ao seu pai € pretender Fomper a sequéncia de filiagao: o filho nao é irmao de seu pai. A avides de Pedro pelo pai, sua necessidade de restituir a funcao de pal 0 ft identificarse com estes tracos psicopaticos do pai, E uma forma de ae Seu pal a0 cendrio familiar, para que possa separi-lo de suua mae. Part el © ex-marido “ndo Ihe interessava como homem; lhe despertava pen® Tampouco parece interessar-se por esse outro home que @ acomparh® ad Digitalizado com CamScanner 4 | aquem nem sequer apresenta, J seencarego de alter os pape para “havia me esquecido de voce", e que “nao nie ae is". Seus proprios pais esto tdo presentes ateve tampouco a apresenti-lo como seu novo companheiro. Também 0 oculta de seu filho: “somos grandes ami- gos, amantes, mas Pedro nao sabe...". Mas o filho sabe sim e provavel- mente nao s6 porque seu pai o denuncia. Ha um mecanismo de renegacdo familiar: todos sabem, mas agem como se nao soubessem. E isto tem um alto efeito patolégico para a crianca... “da um pontapé e logo depois pede desculpas, como se nada tivesse acontecido”; “antes aterrorizava as meni- nas, queria dar nelas um beijo de lingua”. A lei esta transgredida, e Pedro Tepete a transgressiio com seu mau comportamento. Nas entrevistas posteriores, a mulher vai dando mais espaco a seu atual companheiro, € ambos se vao perguntando se esto se comportando bem... “é dificil educar uma crianca. Pedro necessita de terapia”. Também vao dando mais espaco ao terapeuta ao dar-lhe um lugar de saber e de au- toridade. A mae aceita que se convoque o ex-marido para uma entrevista com 0 terapeuta. © pai do menino comenta: “Era muito jovem quando me casei € Pedro nasceu. Tinha s6 21 anos, cinco menos que ela. Com esta mulher nao deu certo. Agora tenho outra familia, um filo pequeno. Eu quero bem ao Pedro, mas sua mae sempre coloca tantos obstaculos para que eu o veja que eu desisto”. Ele aceita — embora sem assumir 0 encargo econd- rico ~ que o filho se trate, Isso ¢ muito importante, pois supde certa pre- senga do pai na terapia do filho no sentido de que nao € algo escondido, como é a relagao da mae com 0 companheiro, nem que possa favorecer a resisténcia de Pedro, que poderia argumentar que nao quer vir porque seu pai nao sabe ou que nao esta de acordo. © Processo Diagnéstico Retomando o que foi dito anteriormente, a demanda nao cos- tuma aparecer de forma clara e precisa, chega getalmente carre- gada de disfarces, na maioria das vezes disfargada de’ ‘grandes en- tusiasmos”. Procura a consulta por sugest4o da pediatra, porque 0 professor da escola recomendou, ou também porque oe mentou de tudo, ou, como no caso anterior, para pedir um laudo para a audiéncia de separacao. Semataaen Sao os pediatras € 0s professores que 0s Pale aes dE primeiro lugar sobre o problema de satide, as aesope aprendizagem, ou os transtornos de conduta e qu Digitalizado com CamScanner Clinica psicanalitica com criangas > Oa consideradas caracterfsticas de criancas Preguicosas, dj acomodadas. Em alguns casos nao oferecem uma escuta adequa. da ao problema ou se espera que a solucao apareca com 9 des correr do tempo sem orientagao de profissionais €specializadog Em outras ocasiées, a consulta que recomendam nem sempre 2 realiza, seja por medo, preconceito ou incompreensio dos pais, A peticao inicial, que ndo se deve apressar a homologar a de. manda, tem a oportunidade de ser transformada Por meio do cip. cuito wansferencial. Sob o subterfiigio da transference: tantes chegardo a tomar uma decisao que sera a sua. esta via € possivel suscitar neles, as vezes pela prim escuta diferente dos sintomas da crianca. Quer dizer, que nao s, mente a escuta é diferente da forma hal mas que também ¢ por Ineia da situacao analitica que eles se ouvem de outra forma, dando uma nova dimensao para suas proprias palavras, Portanto,. beno®e esdObrados por wa panicular Some AG eo > ta tem de ter a disposicao de fazer varias entrevistas com a propria crian¢a, a quem escutarae observara, respeitando-a como sujeito. Nessas entrevistas com as. criangas se registra a an- Guistia que sentem, os sentimentos de amor € Odio, as proprias Aantasias que tém a tespeito de si mesmas e do a istraidas ou 1a, OS consul. Somente por eira vez, uma mbiente familiar, ‘social JA escuta permitira, tanto aos ais como as criangas, que _ um pedido inicial, quando se esta disposto a ouvi-lo em sua com- plexidade, se diversificara, se ramificara, se deslocar , constituin- imprescindivel que os pais comparecani As entrevistas, € nao s6 3 mie, Porque “o pai tem muito trabalho e nao tem tempo”. E, no caso de pais separados, também é importante escutar os dois, ainda que a demanda seja somente de um dos dois. E indicado ve-los em separado, mas no caso de haver cordialidade pode-se ve-los juntos, E muito importante diferenciar quando sao os pais que pet cebem que algo funciona mal com seu filho ou quando sao 0u- Digitalizado com CamScanner a tras pessoas fora da familia. Nesse tiltimo caso, ha uma acentuada negacdo do conflito, Podem ficar surpreendidos, nao entenden- do porque tém de consultar, com uma da visio do ani visdo da crianga diferente talista ¢ de quem encaminhou. Os pais que con- sultam desmotivados, Por obrigacao, em uma atitude passiva ou desconfiada, geralmente assistem somente A primeira entrevista ou concluem a etapa do diagnéstico e nao aceitam continuar 0 uatamento. Vém por respeito ao princfpio de autoridade de duas instituigdes de grande peso autoritario: a escola ou o hospital. Nesses casos, deve haver um tratamento prévio para que eles possam assumir a propria demanda e que sejam eles que pecam ajuda. E dificil para os pais aceitar um contflito do filho que se manifesta em outro lugar, por exemplo na escola, jé que podem ser criancas inibidas que foram consideradas como “boas e tran- quilas e que em casa nao tém problemas”. Atribui-se as escolas as dificuldades da crianga: “Nao ensinam bem, sao exigentes, eles 0 perseguem”. Tera de discriminar até onde o problema é da escola, da crianca ou de ambos. Ha um grande preconceito de que os problemas de aprendi- zagem sao circunscritos a area cognitiva, e que devem ser resolvi- dos na escola. Por isso, € muito frequente a indicagdo genérica de tratamento pelo(a) psicopedagogo(a), que pode ser necessario em muitos casos, mas nao se deve esquecer que muitos transtornos de aprendizagem sao apenas sintomas neuréticos ou psicsticos. Qs sintomas so a forma como se apresenta a doenca, mas nao ade Sintomias sao ja-lomacone + constituem sua causa. Em algumas derivacdes feitas pelo médico, os pais podem fi car fora do discurso sintomatico, reduzindo o problema ao corpo endo a um sujeito, nao incluindo a relagio intersubjetiva na causa dos conflitos emocionais. Entao se prescrevem psicofarmacos ou se avaliam os comportamentos com clichés: capricho, quer cha- mar a atencao, faz birra, € egocéntrico, sem apontar para a singu- laridade do sintoma da crianga, porém, ao contrario, rotulando a crianca com o tracado de um perfil. © Processo Diagnéstico Digitalizado com CamScanner & Nao se escuta o sintoma como sinal de algo que nao funciona mas 0 que se tenta encobrir com ele, € tenta-se ficar forg desta implicagao: mene do a consulta € pedida diretamente pelos Pais, € um indicador de que sofrem e que eles se dao conta da dificuldade da crianca. Implica em uma primeira ruptura da homeostase familiar nas regulacées narcisicas ¢ leva a inevitavel comparacao entre a crianca ideal e a crianca real, que sofre de algo. Nos sintomas da crianca havera que se determinar 0 quanto ha de retorno do reprimido de seus pais, de desejos insatisfeitos e nao elaborados. Pode-se estar reprimindo algo de outra historia nao simbolizada, ocupando personagens dos pais ou de seus in- terlocutores, como no caso de uma mie que sofreu o abandono de seus pais e cuja historia se repete com sua filha, seja abando- nando a filha ou sentindo-se abandonada quando sua filha quer separar-se dela. Se o sofrimento da crianga toca algo do discurso familiar — acontecido e nao simbolizado na historia dos pais -, pode-se por prova o desejo de inclui-lo como sintoma proprio ou distancin- do-se dele, dissociando-o como 0 estranho. A problematica da crianca devera dar conta daquilo nao resolvido por eles, evitando sua implicacao. As vezes pode atingir 0 grotesco quando a sinto- matologia ¢ especular e parece estar frente a um dos pais. Ha de se esclarecer a relacdo entre a patologia da crianca com a de seus pais e com o lugar designado em seu discurso. Esse € o momento de trabalhar com os pais a situaca4o, relacionando-a com seus proprios aspectos infantis nao elaborados que a crianca, com seu sintoma, lhes faz reviver. A paternidade e a maternidade esta marcadas pelo que se recebeu: existe um entrecruzamento edipico e trés geracdes em jogo. E 0 momento em que o narcisismo dos pais pode sentir-se enfraquecido, com as consequéncias que isso pode acarretar, poT exemplo o abandono das entrevistas, § 5 € 8 ica psicanal Digitalizado com CamScanner O fantasma infa ma infantil ¢ ocupado pela historia dos pais que dé lugar ‘ sintomatologia neurotica na crianca. O sintoma mostra a forga de uma repeticao da historia familiar da qual nao se pode sair. Tem melhor pro; i gnostico quando exi i I a existe wl dos PST co_quan ma identificacao Ee Trequente-quevs uldade —— A _——— em, Sse identifi Tl a exige gem, Se identihquem mais coma exigéncia escolar do que com. gsofrimento ¢ a ferida harcisica que a familia produz na crianca. Quando se identificam coma exigéncia duplicam a exigencia su- _Peregoica; quando se identificam com o sofrimento, po ydem escu- taro que impede a crianca de aprender.) A historia que os pais trazem constitui “sua historia”, € 0 pri- meiro relato de como eles vivem e sentem o que se passa com seu filho. Esse primeiro encontro abre um lugar de reflexio para eles. A partir do cédigo dos pais, que inclui as relacdes com seus proprios pais e ancestrais, € posstvel acessar a trama projetada no filho. Nao se trata de construir grandes e tediosas historias clinicas nem baterias de testes interminaveis, que podem ter como objeti- vo acalmar a ansiedade do terapeuta, pretendendo assim conhe- cer todos os dados, que “nao Ihe escape nada”. Tem de aceitar que a falta, a castracdo, também esta presente no psicanalista, que nao pode saber tudo do paciente e da familia. As primeiras entrevistas sio uma primeira aproximacdo que materializam uma primeira decorrer do tratamento pelo desdobramento das transferencias. ~~ —Tatase de poder olhar € esctitar de pert conr-atencto-fie- tuante. Nem téo perto para nao ficar prisioneiro da problematica que se desdobra nas entrevistas perder uma distancia operativa, nem tao distante como o estar olhando escutando com a teoria, ja que esta forma paralisa assim a atencio flutuante. Foucault cha- Tha e escuta em. ma a esta atitude de “duplo silencio": o de quem 0 siléncio e do silencio das teorias. — Um objetivo dessas entrevistas ~ ao tratamento — € desdobrar a novela © Proceso Diagnéstico que podem ser preliminares familiar e os lugares e as Digitalizado com CamScanner & Clinica psicanalitica com criangas li entre os distintos componentes da familia. Ali se incluem jangas . A 5 ‘ A ; oes estruturais dos pais: a funcdo materna, a funcao pater. as fun ‘ as as dos avés, tios ¢ o lugar da crianca pela qual todos na, a a “ * fazem a consulta ¢ de seus irmaos em relacdo a esta Constelacag fazem a consulta familiar. Nas pti entrevista a tido a miltiplas transferéncias, que apesar de pS devem ser levadas em conta. Por exemplo, quando o pai aceita a indicacio terapéutica, outorgando ao analista um lugar de saber eautoridade, enquanto o outro a repele, pela transferéncia de sua tivalidade para as figuras parentais. _Ou quando um dos pais mini- miza o sintoma eo outra.o-sofre, porque se identifica com o sin- toma ja que o sofreu na infancia e se confunde imaginariamente com a crianca. E preciso diferenciar a consulta de uma crianca pequena, pois af é ainda posstv ar sobre 0s Pi sobre os pais favorecendo fa crianca a aborar as diversas castracées: oral, anal, falica e elaborar as diversas castra ou anal. Em uma crianca maior j4 Se encontra a constituigao de um Fantasma resultante de sua elaboracio edipic No caso de uma crianca pequena pode-se trabalhar com os pais, intervindo pontualmente com a crianga. Quando a consulta € por perturbacées nas funcdes: de enurese, encoprese, transtor- nos do sono, em menores de cinco anos, a entrevista com a crian- 6a € os pais pode esclarecer a dificuldade que impede o transito para o crescimento, a propria obsti i vara a consulta, P strucdo no caminho pé Digitalizado com CamScanner a Nessas prim i duane a was entrevistas com os pais e com a crianga se in ae ° estes projetivos, considerando que a palavra ao € a via ni © acesso a problemética da crianga. Dai o uso do jogo (brincar)—a mas: sa de modelar e 0 desenho -, plemento diagnéstico ho —, como com- Nas primei i Z =P a entrevistas se propde conhecer o modo de re- ico que estabelece o sujeito crianca com seus obj jetos, como é vivid fantasmaticamente sua relagio com a castracao e se avaliam também os recursos criativo: © Processo Diagnéstico l s ¢ sublimatorios que tém a ver com a crianga como um sujeito desejante e nao como objeto de desejo_ do outro = quando uma atividade ¢ criativa, sublimat6ria =, ou” quando é um mandado superegoico ao qual se submete a aah, Por exemplo, a crianca que estuda, que deve ser bem-sucedida como 0 pai nao péde ser. Nesse caso, no lugar de ser o ideal do ego ela se converte em uma identificagdo maciga com o progeni- tor, 0 que pode ocasionar os transtornos de aprendizagem. Gps entrevistas devolutivas A devolutiva do processo das primeiras entrevistas tem que set realizada com quem participou do diagndstico, a crianca e os ‘Pais. Cada um deles usando sua propria linguagem, aproveitando o material exposto através da liguagem nas primeiras entrevistas, nas historias que a crianca relatou, a relacdo com os testes proje- tivos, a hora do jogo e o relato dos pais. Faz-se a tentativa de-promover nos pais a possibilidade de, relletire de se posicionar de forma diferente do modelo estereo- quentemente se consulta: “nosso filho tem se problema e deve ser por tal causa, ou leia do porque ele faz isso; no restante esta tipado com o qual fre Ou dizem que tem es nao temos nenhuma id muito bem”. pergunta sobre os i faca Com a crianca pretende-se que ela ae ie cdo de sair dessa sintomas, seu mal-estar e de propiciar a intent Digitalizado com CamScanner ma alianga terapéutica. Sao bons indicadores, a situagdo a te a crianca tem sobre 0 que se passa com ela ¢ oe eutats ts tolerar exploracdes e mudancas. Também a cq. pacidade para tolerar 0s lutos. ie gi Mo importante a perda da onipoténcia, de seus aspectos idealizados, 0 sacves seu natci- sismo, que implica no necessitar do outro que 0 aju © a resolver seu mal-estar, E um luto também importante o de aceitar a perda destes pais onipotentes que tudo podiam, mas que agora neces- sitam de ajuda. As entrevistas iniciais dao um indicador prognostico a Tespei to das possibilidades que a familia tera para apolar 6 tratamento- Nao se trata de dar aos pais uma informacao como se fosse uma aula de psicopatologia ou como uma lista descritiva de sinto- mas, senao de trabalhar sobre a significacao do problema que ori- ginou a consulta e a estreita relacéo que tem com a dinamica fami- liar. Tem de localizar 0 sintoma como o que fala do inconsciente, fora da vontade, do consciente, separa-lo do comportamento ou da critica sobre a crianga: vagal. reguicoso, ndo quer estudar. As entrevista devolutivas também tem © lugar de orientacao ee ena terapeutica: se o tratamento €sia indicado pais, 0U para a crianca com os palsy Nessas entrevistas comeca-se a trabalhar com prudéncia Certas caracteristicas da vida familiar que provocam a patologia, como pode ser a indiscri Para a crianga, para os minacao entre os membros, a confusdo Digitalizado com CamScanner A propésito, no momento Oportuno para interpretar, convém recordar algumas palavras de Racker: “A interpretagdo deve ser dada quando o analista sabe o que o analisando sabe, necesita sa- Lr ber”. Ai informacao ow a interpretacdo precoce, fora do lugar, tem um efeito traumatico. natin Nem tudo 0 que € elaborado pelo analista pode ser transmi- aprofundar um assunto e com que ritmo faze-lo, para evitar que A buissola para nao cair em excesso ou em faltaéa capacidade de escutar Os pais e ver até onde podem ir metabolizando o que se transmite e quais associacdes ou novas vias vao se abrindo com o que esta sendo falado. 2 g 8 2 < ° Deve-se estar atento as transferéncias reciprocas que se es- tabelecem. Se aparece 0 “conio ir digo? Nao tenho coragem”, pode estar representando, na transferéncia, os aspectos infantis, indecisos e temerosos depositados pelos pais. Ou estar em funcio- namento uma exigéncia superegoica dos pais. As respostas dos pais frente ao processo de devolucao permi- tem perceber a quantidade de dano narcisista que implica toda_ intelectualizacdo e a rigidez obsessiva que lhes estorvam a riqueza €a capacidade de pensar, Nas entrevistas devolutivas pode-se come¢ar a pontuar e tra- balhar certos aspectos das relagées familiares que tem a ver com as vicissitudes das funcGes paternas e maternas e que dificultam a colocacao do filho como um terceiro na estrutura, A familia pode se apresentar como um grupo grudado, indi- ferenciado, sem distincdo nem diferencas entre pais e filhos, nem intimidade. As relages podem ser invasoras ¢ isso pode também traduzir-se em aliancas entre um dos pais e os filhos. : Também € perversa a exibigao da sexualidade dos pais, dei- xando os filhos como espectadores, voyeurs da Gena primar, com o argumento intelectual de que nao devem reprimir a sexua- Digitalizado com CamScanner 3s ica psicanalitica com criangas 0 ducaca rovavelmente sucedeu na educacao deles, pais, ny, lo lidade, como P | que os filhos saibam que 0s pais t¢m vida sexy. aural ” slidade nao € pecaminosa, ja que esse exibicionismg ea sexualide . pe. al, que feito excitatorio ¢ traumatico. Rompem-se espacos de am cl x 7 : tem on Je ¢ passam a tralar’ sexo com uma naturalidade que intimidade ¢ pas entanto, € 1 nao tem. Como exemple, vejamos Martin, um jovem de 21 anos, que se consul. ta porque ests obcecado coma ideia de ser homossextal Tem uma noiva ha dois anos e numa viagem com elaa Amsterda, vis a.um bar gay ¢ essa ideia se acende e atormenta, Nunca tinha tido relages homossexuais. Conta que tem duas irmas, uma de 23 ¢ outra de 24 anos, e que sio muito bonitas. Martin ¢ filho de pais do “maio francés”.’ Em sua casa tem “muita liberdade sexual”. “Sempre estive obcecado por sexo, por ver a mi- nha mae de calcinha. Vi minha mae nua infinitas vezes... as vezes sonhava que fazia amor com ela. Acordava mal, muito culpado, nao podia olhé-la no rosto. Minhas irmas também ficam nuas e sao tao bonitas... Eu tenho me masturbado bastante, obcecado por sexo. As vezes estou com minha noiva € penso que é um tio € isto me deixa péssimo”. Suas obsessoes de ser homossexual atuam como uma defesa frente aos seus desejos heterossexuais que sdo vividos incestuosamente por ele. Estar com uma mulher é estar com sua mae ou com suas irmas. O exibicionismo familiar teve um efeito excitatorio e altamente traumatico para ele. © que se procura nas enuevistas devolutivas é esclarecer, 4 me- dida do posstvel, os mitos familiares, com possibilidade de repeticio, desencadeando rigidase patologicas estereotipias. Os filhos com seus ea podem converter-se em porta-vozes de seus pais. seat biomes que os pais tenham sofrido e que milo €m seus filhos, Pais ma . ie momar de forma ativa ou Lecal fears com apres ae softido maus-tratos podem ident » Convertendo-se em pais tiranicos € sadicos, 'Refere-se a Muay © a Maio de 19, fam as bases d, 68 na Franca, is - fa revoluca, 8, Ocasia: nunciat espalhoi evolugao sexual, iO em que os estudantes a! 4 entre os joy ens de tod eriniPalmente a liberdade sexval qu® °° © mundo. Digitalizado com CamScanner colocando 0 filho no lugar que eles estavam quando Ppequenos. Ou ao contrario, nao colocar limites em seus filhos, mantendo-se como, pais fracos, pelo temor de que ocorra o mesmo com eles, Pode-se comentar como vinheta clinica 0 caso de uma mulher de 34 anos que conta ter sido uma menina maltratada pelo paielimitou-se aficar calada, “Aos oito anos ele me causou muitos danos, meu pai me obrigava a masturba-lo. Minha mae me Pedia para que me deitasse com ele na hora do descanso (sesta). E ela fingia que mao via. Meu pai me dava um beijo nna boca ¢ eu afastava o rosto, Minha mae se dava conta, mas nos dizia que Unhamos que querer a nosso pai.” Mas agora acontece “uma coisa terrivel que no posso superar... tem ocorrido algo parecido com minha filha, ela me contou muito pouco”. As vezes, essa mulher deixava sua filha dormir na casa de seus pais e sua filha contava que em algumas noites “ele tentava ‘coisas’ Ela nao deixava,¢ ele dizia que ia se masturbar pensando nela”, Tentou penetrécla trés vezes, entte 05 oito e os dez anos. E dramitica a repeticao: como sua mae, entrega sua filha ao avo, como sua propria mae “fazia como se ndo visse”. Justifica-se dizendo: “Eu acre- ditava que, com a idade, meu pai tivesse se transformado em uma pessoa” As entrevistas devolutivas permitem também reintegrar uma imagem do filho, dos pais e do grupo familiar corrigida, atuali- zada e ampliada, que nem sempre coincide com o que trazem a consulta. Mostrando-as ao filho diferente do que eles acreditam. ou desejam, quer dizer, questionando as imagens refletidas nar- cisicamente, pode-se ajudar a perceber outra identidade do filho. Ospais sao responsaveis pelaefetivacao do tratamento. Deve-se Mostrar os perigos que se corre se nao se aceitar a Tecomenda- Gao. Em casos graves o silencio pode significar uma alianca im- plicita com os aspectos mais negativos € descuidados Sosinale, Tampouco deve cair na fé cega ao supor que © watamento ‘vaci- nara” contra situagdes graves, para evitar 0 macico depésito na analise do filho e seus conflitos. Se a resisténcia dos pais for muito forte e se considerar egos- sintonico o mal-estar do filho, a devolutiva requer maior espaco a > 2 8 § 2g é ° Digitalizado com CamScanner 82 Clinica psican ‘canalista pode converter-se Para ele em um ol Sieh ecomo tal deve ser evitado, tag ganham em riqueza quando surgem recordg, reprimidas, © quando ha certo proceso de elaboracag dos abalho das primeiras entrevistas. / pais ere 0 objetivo dessas entrevistas € tentar esclarecer na ae do possivel, a presenca de tnitos imprescindives ae asobrevivencia familiar, quais s40 os distintos Papeis © como eles sao desempenhados, de forma complementar ou nao, com os da a, assim como as resistencias € defesas que a familia utiliza bjeto crianc : para manter seu equilibrio. Digitalizado com CamScanner

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