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Unidade 1
Metodologia Científica
1ª edição
2019
Produção do Material Didático - Pedagógico
Delinea Tecnologia Educacional
Diretoria Executiva
Charlie Anderson Olsen
Larissa Kleis Pereira Design Educacional
Margarete Lazzaris Kleis
Cristiane Lima
Gestão de Produção
Coordenação de Design Gráfico
Camila Sayury Nakahara
Edison Valim
Coordenação de Produção
Projeto Gráfico
Fátima Satsuki de Araujo Iino
Hortência Granair
Professor Conteudista
Diagramação
Antônio Feliciano Clara
Bruna Flôr
Mendonça Daniel Lipparelli
Fernandez Rangel Max Lima
Vidal
Sumário
1.1 Considerações sobre o conhecimento ���������������������������������������������������� 7
Objetivos de Aprendizagem
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
Segundamente, é importante compreender que o conhecimento não é individual (e nem pode ser).
Isso porque ninguém sabe tudo sobre determinado assunto. Cada pessoa sabe um pouco sobre algo
e esse pouco individual se junta com outros para formar um conhecimento ainda maior.
O conhecimento que a sociedade tem hoje dos diversos setores que a forma foi construído com o
tempo. Lembre-se de que nossos antepassados desenvolveram as tecnologias aos poucos. No iní-
cio, não existia nem mesmo o fogo, e esse foi um dos primeiros conhecimentos fundamentais para o
desenvolvimento da humanidade.
Hoje, a humanidade domina uma grande gama de conhecimentos. O de um padre ou o de um pastor,
por exemplo, é totalmente diferente do conhecimento de um médico. Para curar uma doença, o médico
vai pedir exames, receitar uma medicação, já o padre ou o pastor podem realizar uma oração em bene-
fício da cura do doente. Qual deles é o melhor conhecimento? Nenhum, pois não há juizo de valor para
isso. Nos dois casos, pressupõe-se que tanto o médico quanto o pastor ou o padre sejam estudiosos
de suas áreas de conhecimento. O diferencial entre uma área e outra é a linguagem e a metodologia
aplicada por quem constrói o conhecimento. Quando o estudioso vai a fundo em seus estudos, pode
ser considerado um pesquisador.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
Atenção
Sendo assim, o conhecimento aparece como:
[...] a abertura para o mundo, a cristalização (ou enquadramento) do mundo. Conhecer significa
voltar-se para a realidade, “deixar falar” o nosso objeto; mas conhecer significa também apreen-
der o mundo através de esquemas já conhecidos, identificar no novo a permanência de algo já
existente ou reconhecível. O predomínio de uma ou outra dessas tendências tem efeitos negati-
vos, e é através de seu equilíbrio que se pode alcançar o conhecimento ao mesmo tempo atento
ao novo e enriquecido pelas experiências cognitivas anteriores. (FRANÇA, 2011, p. 43)
Perceba, portanto, que em todos os tempos históricos a humanidade sempre construiu conhecimento,
de uma forma ou de outra, como colocam Bastos e Keller (2000):
A história humana é a história das lutas pelo conhecimento da natureza para interpretá-la e para
dominá-la. Cada geração recebe um mundo interpretado por gerações anteriores. Esta história
está constituída por interpretações místicas, proféticas, filosóficas, científicas, enfim, por ideolo-
gias. Cada indivíduo que vem ao mundo já o encontra pensado, pronto: regras morais estabele-
cidas, sociedade organizada, religiões estruturadas, leis codificadas, classificações preparadas.
No entanto, tal estruturação do mundo não justifica a alguém se sentir dispensado de repensar
este mundo, porque caso contrário tem-se o lugar comum, a mediocridade e, o que é pior, a alie-
nação. (BASTOS; KELLER, 2000, p. 54).
Cervo e Bervian (2010) lembram que por meio do conhecimento o homem acessa várias áreas da
realidade, porém, é preciso ressaltar que a própria realidade apresenta natureza diferenciada.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
A seguir, para que você amplie as suas aprendizagens sobre os tipos de conhecimento, vamos explo-
rar cada um deles.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
Consideramos que o senso comum é um tipo de conhecimento. Ele recebe vários nomes, como, bom
senso, conhecimento popular, conhecimento empírico, conhecimento espontâneo e conhecimento
vulgar.
Você já deve ter ouvido essas frases: não passe debaixo da escada que dá azar; mulher quando ganha
bebê, só deve lavar os cabelos após o resguardo. E você já leu algum estudo científico comprovando
que passar por debaixo da escada dá azar? Ou que lavar o cabelo depois de ter um bebê causa algum
mal? Certamente não, pois esses conhecimentos não têm fundamentos científicos; contudo, muitas
vezes o senso comum pode estar certo.
Durante a sua infância, por exemplo, alguém deve ter lhe avisado para não colocar o dedo na tomada
elétrica, pois daria choque. O alerta pode ter sido dado por uma pessoa que já teve a experiência ou
vivenciou a situação. Daí vem o nome empirismo, que é uma teoria em que se acredita que o conheci-
mento advém da experiência prática, do contato direto e concreto com os fatos do mundo.
Mezzaroba e Monteiro (2017) lembram que o senso comum é resultado de informações trocadas
entre as pessoas com o passar do tempo. São conhecimentos que passam diferentes gerações sendo
adaptados e assimilados pela cultura popular. Esse conhecimento é acessível a qualquer pessoa, pois
ninguém precisa ser especialista no assunto.
A fragilidade desse tipo de conhecimento é que ele é destituído de teor crítico. Os fatos são simples-
mente aceitos do jeito que são enunciados. Os mesmos autores alertam que conhecimento desse tipo
podem gerar preconceitos, ou transformar-se em verdades absolutas.
Reflita
Esta forma de construção do conhecimento não é científica, não é filosófica. Ela tem
a particularidade de, muitas vezes, estar isenta de argumentações. O senso comum,
atende às necessidades imediatas da sociedade. Todos nós possuímos conheci-
mentos de senso comum. Quais são os seus?
É importante destacar que os conhecimentos de senso comum são usados, também, para resolver
problemas do cotidiano. É um conhecimento limitado, posto que «não é sistemático, nem eficiente,
e não permite identificar conhecimentos complexos ou relações abstratas» (GRESSLER, 2003, p. 27).
Para Lakatos e Marconi (2009, p. 18, grifos nossos) o senso comum “não se distingue do conheci-
mento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a
forma, o modo ou o método e os instrumentos do ‘conhecer”. Todavia, recebe pejorativamente a deno-
minação de conhecimento vulgar ou popular. Para Petrin (2014), senso comum é:
[...] aquele tipo de conhecimento que se estende a todos os indivíduos e vem, inclusive, sem que
percebamos, como uma herança genética de geração em geração. Isso é usado diariamente
mesmo que a gente não se dê conta, em atividades comuns como por exemplo o uso das ervas
para confecção de chás e cura de doenças. Nós simplesmente confiamos, mesmo sem nos per-
guntar porque funcionam, apenas acreditando em tudo que ouvimos a respeito, principalmente
dos mais velhos.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
O senso comum também é capaz de produzir aquilo que as ciências chamam de dogma, ou seja, uma
crença em que as verdades impostas são consideradas inquestionáveis. Mezzaroba e Monteiro (2017)
definem dogmas como algo que se aceita como verdade, sem a presença de questionamentos. Os
autores trazem como exemplo as ações dos terroristas islâmicos, que se vestem de bombas e sacri-
ficam sua vida para matas muitas outras que não sigam a sua religião.
O modo de se combater o dogmatismo é a atitude crítica. Conversar, debater e pesquisar sobre ide-
ologias e crenças são formas salutares de combater as intolerâncias que o dogma pode acarretar.
Vejamos agora outro nível de conhecimento.
Outro tipo de conhecimento abordado por França (2011) é o conhecimento artístico. Desde a história
primitiva, os homens utilizam desenhos (pinturas rupestres) com a finalidade de se comunicarem e de
se expressarem. Registravam suas apreensões, desejos e conhecimentos, como trilhas, onde estavam
determinados animais para caça, para onde poderiam fugir caso fossem atacados por predadores,
entre outros.
Assim, a Arte Rupestre tornou-se uma fonte de registro do conhecimento: os homens primitivos a
utilizavam como fonte de inspiração, confiança e para formular estratégias para abater animais muito
mais fortes e maiores do que eles.
Outra hipótese para a origem deste tipo de conhecimento é que os homens primitivos buscavam uma
sensação de poder sobre o mundo ao seu redor: ao desenhar uma cena de caça, desejavam antecipar
um resultado vitorioso. O conhecimento artístico também apresenta métodos e técnicas próprios,
como aponta Araújo (2016, p. 127-142):
Ela [a arte] possui métodos e técnicas, mas é, por definição (embora tal característica seja ideal
e não ocorra necessariamente na maioria das situações) espontânea, dinâmica e aberta. A arte
não apresenta discursos fechados e definitivos sobre a realidade, mas, antes, formula enunciados
abertos às diferentes interpretações, convoca os sujeitos para, com o uso da imaginação, produ-
zirem diferentes representações daquilo que lhes é apresentado. A arte, assim, está muito mais
voltada para a primeira dinâmica do processo de conhecer, para o “descobrimento” do mundo.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
Portanto, a arte traduz a visão subjetiva de um determinado autor para o mundo, ela espelha a rea-
lidade vista apenas pela sua experiência, e aquele que a vê pode interpretar o que o autor-artista
colocou de uma maneira completamente diferente do original. Como você verá, isto não ocorre com o
conhecimento científico.
O conhecimento artístico engloba diferentes formas de expressão: música, literatura, teatro, cinema,
artes plásticas, dança etc. Todas essas formas de conteúdos artísticos também espelham a vida em
sociedade. Aristóteles (1989), dizia que “a arte é a mimese da vida”, ou seja, que a arte imita as ações
humanas.
Vamos dar sequência ao nosso estudo sobre os níveis do conhecimento, agora enfatizando o teoló-
gico.
Esse tipo de conhecimento tem como fundamento a religião e a fé. O princípio que o orienta é que não
é necessário ver para crer. Mezzaroba e Monteiro (2017) lembram que esse conhecimento pressupõe
a existência de forças que estão além da capacidade de explicação do homem. São instâncias divi-
nas e criadoras de tudo o que existe. No conhecimento religioso, também chamado de teológico, pelo
caráter sobrenatural que assume, as verdades são inquestionáveis e entendidas como revelações da
divindade.
O conhecimento religioso apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas. Ele pode ser visto
como:
• Valorativo: atribui o conceito de certo e de errado.
• Inspiracional: dadas pela divindade, e, por esse motivo, tais verdades são consideradas indis-
cutíveis.
• Infalível e exato: por ter origem divina.
• Não verificados: Não podem ser comprovados e dependem da aceitação, de uma atitude de fé
perante um conhecimento revelado.
Vejamos, na sequência, uma explicação para o conhecimento filosófico.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
Mattar (2014) argumenta que um dos grandes patrimônios da Filosofia é a sua própria história, que
teve início na Grécia antiga. De acordo com o autor, é a partir da Filosofia que nasce a própria Ciência.
Logo, os dois níveis de conhecimento, Filosófico e Científico, se relacionam pelo rigor, que se traduz
pela presença do método e pela busca da verdade.
Para Cervo e Bervian (2010), a principal tarefa da filosofia é a reflexão sobre os fatos e problemas que
cercam o ser humano, sempre na tentativa de compreender e problematizar, mas tem a intenção de
resolvê-los.
A filosofia está sempre procurando o que é mais geral, procurando a formação de um ponto de vista
unificado. Procura sempre responder as questões do espírito humano, buscando pelas leis mais uni-
versais que envolvem a conformização e as conclusões da ciência.
O conhecimento filosófico pode ser caracterizado como:
• Valorativo – consiste em possiblidades filosóficas baseadas na experiência, e não na desco-
berta.
• Não verificável – pressupostos filosóficos não podem ser confirmados nem recusados.
• Racional – conjunto de enunciados logicamente ligados.
• Sistemático – as possibilidades e enunciados visam a uma interpretação harmoniosa da reali-
dade estudada, numa tentativa de entender em sua totalidade.
• Infalível e exato – as possibilidades e postulados não são submetidas a experimentações.
Por fim, vamos estudar o último tipo de conhecimento, mas muito importante para os estudantes de
todos os níveis de ensino: o conhecimento científico.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
O desenvolvimento da ciência a partir do século XVI foi tão expressivo que o homem começou a
estudar e entender profundamente os objetos, fatos e coisas existentes no mundo, de modo que ele
se tornou capaz de prever acontecimentos e melhorar a vida da sociedade em diversos setores, tais
como saúde, transporte e educação.
Importa também compreender que o conhecimento sobre determinado assunto sempre pode ser revi-
sitado, pois a tecnologia permite que novos fatos sejam descobertos. Na biologia, por exemplo, os
primeiros estudos sobre as células não apontaram a existência de organelas celulares. Com o advento
de microscópios mais modernos, descobriu-se a existência das organelas celulares e a intrincada
arquitetura dessas minúsculas estruturas.
Podemos elencar algumas características do conhecimento científico:
• Factual – pois estuda ocorrências, fatos e tudo aquilo que é real.
• Sistemático – seu conjunto de saberes é organizado sistematicamente, formando um sistema
de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e desconexos.
• Verificável - as hipóteses que explicam os fenômenos podem ou não ser comprovadas.
• Falível - em virtude de não ser definitivo e estar em constante redescoberta.
O conhecimento científico, portanto, é pautado na reflexão crítica sobre determinado objeto e suas
conclusões são resultados de um processo que envolve: exploração e descoberta, hipóteses (ideias
explicativas), análise pelos pares (outros pesquisadores) e conclusões (benefícios e resultados).
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
Hipótese
Conhecimento
Cientifico
Conclusões/
Teste/Validação
Aplicações
É com o conhecimento científico que você, aluno, vai lidar durante todo o seu percurso acadêmico.
Durante o seu curso serão apresentadas as bases científicas que fundamentam a sua futura profis-
são. Também durante os seus estudos, você será orientado para compreender e aplicar os métodos
e técnicas de pesquisa da sua área, o que culminará com a escrita de artigos ou do seu trabalho de
conclusão de curso. Porém, o pensamento científico vai acompanhá-lo durante toda a sua vida pro-
fissional, pois é por meio do pensamento organizado, direcionado e lógico, que você vai resolver os
desafios que toda profissão apresenta.
O caminho da pesquisa é extremamente organizado. A própria comunidade científica trata de fazer
essa organização por meio de normas e orientações para escrita dos trabalhos acadêmicos e conse-
quente exposição do conhecimento aprendido e desenvolvido.
Saiba mais
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
Com relação à pesquisa que você irá realizar durante sua vida acadêmica e profissional, é preciso
tomar cuidado com as fontes, isso é, o local de onde você retira a informação. É esse o tema que o
próximo e último tópico da unidade abordará.
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Metodologia Científica | Unidade 1 - A produção do conhecimento científico
É importante saber que existem softwares gratuitos que permitem abrir em PDF um texto, grifar, anotar
e até mesmo resumir. Essa é uma ferramenta que agiliza o estudo. O Mendeley e o Zotero são exem-
plos de programas que auxiliam os estudos e pesquisas.
Chegamos ao final da primeira unidade da disciplina Metodologia Científica. Esperamos que você
tenha ampliado as suas aprendizagens e ficado curioso pelo que ainda está por vir!
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Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural. 1989.
ARAUJO, C. A. A. A ciência como forma de conhecimento. Science as a kind of knowledge. Ciênc. cogn.
[online]. 2006, v. 8, p. 127-142. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1806-
-58212006000200014&script=sci_abstract> Acesso em: 09 fev. 2018.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Makron Books do Brasil, 2010.
DIEHL, A. A. TATIM, D. C. Pesquisa em ciências sociais aplicadas: métodos e técnicas. São Paulo:
Pearson, 2014.
FRANÇA, J. L. et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 8. ed. Belo Hori-
zonte: UFMG, 2011.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A. Metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
MATTAR, João. Metodologia científica na era da informática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de metodologia da pesquisa em direito. São Paulo: Saraiva,
2017.
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