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CURVA DO SISTEMA E PONTO DE OPERAÇÃO

Ana Paula Teixeira, Maria Luiza Garcia Pelisson

Resumo: O presente relatório tem o como objetivo a construção da curva


característica do sistema composto por tubulações de aço e PVC e uma bomba
centrífuga. Para isso será calculado o head da bomba por meio de uma
simplificação da equação fundamental do balanço de energia.

1. Introdução

Em um sistema de bombeamento são apresentas tubulações, reservatórios,


e máquina de fluxo que doa energia responsável para o escoamento. Nas
tubulações estão presentes acessórios que auxiliam no escoamento do fluido,
esses podem ser válvulas, desvios e bocais.

O escoamento sofre uma perda de energia causado pelas tubulações e


acessórios, chamada perda de carga. A perda de carga é classificada como
distribuída e localizada, cuja primeira é causada pelos trechos retilíneos da
tubulação, e a segunda pelos acessórios. Por razão dessas perdas de energia
no sistema é necessária uma adequação da bomba requerida no sistema. A
escolha da bomba adequada pode ser realizada através de uma análise gráfica
da curva característica da bomba, que demonstra a carga da bomba em função
da vazão.

Para o sistema, é calculado a carga necessária através do balanço de


energia do sistema, sendo consideradas as perdas de cargas, a velocidade do
fluido e vazão. Considerando diversas vazões podemos encontrar as cargas
correspondentes e plotar a curva característica do sistema avaliado.

Combinando as duas curvas (sistema e bomba), temos uma intersecção


aparente, chamado ponto de operação, no qual a quantidade de energia
necessária do sistema é suprida pela energia fornecida pela bomba. Como o
representado pela Figura 1.
FIGURA 1 – PONTO DE OPERAÇÃO

Fonte: [1].

O ponto de operação é característico de cada situação de sistema


bomba, além disso, conforme o uso das tubulações do sistema a rugosidade
aumenta e consequentemente a perda de carga é aumentada. Sendo assim,
maiores cargas da bomba são necessárias para vazões menores.

2. Objetivos

Cálculo das perdas de cargas distribuídas e localizadas do sistema e obter a


curva característica. Além disso, é esperado a comparação da curva adquirida
com a curva característica obtida em experimento anterior, determinando o ponto
de operação e a vazão estimada pelo cruzamento das curvas.

3. Metodologia

Para a obtenção da curva característica do sistema avaliado, é necessário


o cálculo da carga necessária para a bomba, head da bomba (H). A partir do
balanço de energia, o head é calculado. A Figura 2 representa o sistema
estudado.
FIGURA 2 – SISTEMA ESTUDADO

Fonte: As autoras (2022).

O balanço de energia nos pontos A e B é dado por:

𝑃𝐵 − 𝑃𝐴 𝑣𝐵2 − 𝑣𝐴2 ℎ𝑇
+ + (𝑧𝐵 − 𝑧𝐴 ) + −𝐻 =0
𝜌𝑔 2𝑔 𝑔

Como o ponto A está na superfície do fluido a velocidade nesse ponto


será nula. E, como o tanque e tubulação estão abertos, ambos possuem
pressão atmosféricas. Sendo assim a equação é simplificada e isolando o H:

𝑣𝐵2 ℎ𝑇
𝐻= + (𝑧𝐵 − 𝑧𝐴 ) +
2𝑔 𝑔

Em que, a velocidade no ponto B é calculada através da vazão, velocidade


e área da tubulação.

4𝑄
𝑣𝐵 = 𝑄
𝜋𝐷2

Temos que a perda de carga total do sistema é a soma da perda de carga


distribuídas, geradas nos trechos de escoamento retilíneos da tubulação, e
perdas de cargas localizadas, associadas aos acessórios da tubulação.

ℎ𝑡 = ℎ𝑑 + ℎ𝑙

Sendo que, cada uma é calculada pelas equações:


𝑣𝐵2 𝐿
ℎ𝑑 = 𝑓
2 𝐷

𝑣𝐵2 𝐿𝑒
ℎ𝑙 = 𝑓 ∑
2 𝐷

O termo 𝐿𝑒 está associado a perda de carga de cada acessório e os


valores de 𝐿𝑒 /𝐷 estão dispostos na Tabela 1.

TABELA 1 – COMPRIMENTOS EQUIVALENTES

Acessório Le/D
Junção 16
Válvula gaveta aberta 8
Válvula esférica aberta 3
Cotovelo 90° 30
T de saída lateral 60
T de entrada latera 80
Bocal de entrada 15
Fonte: As autoras (2022).

O fator de atrito 𝑓é necessário para os cálculos das perdas de cargas. Ele


é obtido a partir da equação de Miller.

𝜀 5,74
𝑓 = 0,25[log ( + 0,9 )]−2
3,7𝐷 𝑅𝑒

Com isso, todos os valores são então substituídos na equação


simplificada do balanço de energia para o cálculo do Head e realização da curva
característica do sistema.

4. Resultados

Primeiramente foi calculado o comprimento equivalente (𝐿𝑒 ) para as duas


tubulações. Esse cálculo foi realizado multiplicando a perda de carga equivalente
(𝐿𝑒 /𝐷) de cada componente pela quantidade de cada componente presente nas
tubulações. Os resultados estão dispostos na Tabela 2.

TABELA 2 – COMPRIMENTO EQUIVALENTE

Tub. AÇO Tub. PVC


Acessório Le/D qtd Le/D eq qtd Le/D eq
junção 16 3 48 2 32
vál. Gav 8 0 1 8
vál. Esf 3 0 1 3
cotov. 90° 30 1 30 0
T saída 60 0 1 60
T entrada 80 1 80 0
Bocal ent. 15 1 15 0
Soma 173 103
Fonte: As autoras (2022).

Sabendo que o diâmetro da tubulação é constante e igual à 0,0415m foi


determinada a velocidade com que a água saía no ponto B utilizando a vazão
medida de 3,09 kg/s. Para isso, foi considerada a densidade da água como
sendo 1kg/L.

𝑘𝑔 𝑘𝑔 1𝑚3 (𝜋 × 0,0415𝑚)2
𝑣𝐵 = 3,09 ÷1 × ÷ = 2,284401332 𝑚/𝑠
𝑠 𝐿 1000𝐿 4

Em seguida foi determinado o fator de perda de atrito 𝑓 pela Eq. De Miller.


Para isso foi necessário calcular o número de Reynolds pela seguinte equação:

𝑣∙𝐷
𝑅𝑒 =
𝛾

Em que 𝛾 é a viscosidade dinâmica da água. Para determinar esse valor, foi


considerado que o experimento foi realizado à 25°C e 1 atm. Na literatura
encontrou-se os valores de 𝛾 à 20° e 30° dispostos na Tabela 3.

TABELA 3 – VISCOSIDADE CINEMÁTICA

Temperatura (°C) 𝛾 (𝑚2 ⁄𝑠)


20 0,000001
30 0,000000801
Fonte: [2]

Fazendo-se uma interpolação linear desses valores encontra-se


𝛾𝐻2 𝑂 (25°𝐶) = 9,005 ∙ 10−7 𝑚2 /𝑠. Substituindo os valores, encontra-se o 𝑅𝑒 =
8,53698 ∙ 10−8 .

Abaixo estão listadas as rugosidades relativas dos materiais das tubulações


[3]:
 𝜖𝐴Ç𝑂 = 0,046 𝑚𝑚
 𝜖𝑃𝑉𝐶 = 0,001𝑚𝑚
Calcula-se então o fator de atrito. Os resultados obtidos estão dispostos na
Tabela 4.
TABELA 4 – FATOR DE ATRITO

𝑓𝐴Ç𝑂 0,0049
𝑓𝑃𝑉𝐶 0,0049
Fonte: As autoras (2022).

Com esses valores é possível calculas as perdas de carga localizada e


distribuída conforme as equações apresentadas anteriormente. Os resultados
para as perdas de carga localizada nas duas tubulações estão dispostos na
Tabela 5.
TABELA 5 – PERDA DE CARGA LOCALIZADA

ℎ𝑙𝐴Ç𝑂 2,2256
ℎ𝑙𝑃𝑉𝐶 1,3251
ℎ𝑙𝑡𝑜𝑡 3,5507
Fonte: As autoras (2022).

Para o cálculo das perdas de carga distribuída, foi utilizado os valores das
seções das tubulações medidas. A seção de aço possui L = 454,8cm e a seção
de PVC possui L = 906,7cm. Os resultados para as perdas de carga distribuída
nas duas tubulações estão dispostos na Tabela 6.
TABELA 6 – PERDA DE CARGA DISTRIBUÍDA

ℎ𝑑𝐴Ç𝑂 1,4099
ℎ𝑑𝑃𝑉𝐶 2,8107
ℎ𝑑𝑡𝑜𝑡 4,2206
Fonte: As autoras (2022).

E com isso foi possível calcular a perda de carga total, somando-se.


Assim, obteve-se.
Como o head da bomba é uma função da velocidade de saída do líquido,
e o experimento não foi realizado utilizando vazões diferentes, para a construção
da curva característica do sistema foram utilizados os valores da curva da bomba
obtidos no experimento de Curva Característica de Bomba Centrifuga. Isso foi
possível de se fazer pois a bomba utilizada foi a mesma nos dois experimentos.
Para o cálculo foi utilizada a diferença de altura (𝑍𝐵 − 𝑍𝐴 ) igual à 47,5cm (medida
no dia da realização do experimento). Os valores do experimento de Curva
Característica de Bomba Centrifuga estão dispostos na Tabela 7.
TABELA 7 – DADOS DA CURVA CARACTERÍSTICA DA BOMBA CENTRÍFUGA

ω (L/min) H (m)
180,14989 9,715
170,90519 10,59
164,45359 11,794
139,5435 12,825
127,38521 13,31
113,93679 13,799
87,020663 14,844
50,954083 15,511
Fonte: As autoras (2022).

Dessa forma foi calculado o head da bomba para a construção da curva


característica do sistema. Os resultados estão dispostos na Tabela 8.
TABELA 8 – HEAD DA BOMBA NO SISTEMA ESTUDADO

VB (m/s) H(m)
2,3307 3,984
2,2111 3,7124
2,1276 3,5314
1,8053 2,8976
1,648 2,626
1,4741 2,3544
1,1258 1,9017
0,6592 1,4853
Fonte: As autoras (2022).

Por fim, foram plotadas as curvas características da bomba e do sistema


e feita a regressão polinomial das duas curvas. A Figura 3 apresenta as curvas
e as regressões.
FIGURA 2 – CURVA CARACTERÍSTICA DOS SISTEMA ESTUDADO

Fonte: As autoras (2022).

Em virtude da pequena quantidade de dados experimentais, não é possível


obter o ponto de operação via análise gráfica, por isso o ponto de operação será
calculado igualando-se as equações das curvas. Fazendo-se isso, encontra-se
x = 223,40018 L/min.

5. Conclusões

Comparando as curvas construídas com os dados experimentais com as


curvas teóricas pode-se concluir que ambas as curvas características, da bomba
e do sistema apresentaram o comportamento esperado.

Como os dados experimentais eram insuficientes para a construção do


gráfico completo, não foi possível determinar o ponto de operação experimental.

Contudo, era esperado que o termo independente da regressão da curva


característica do sistema fosse igual à diferença de altura (𝑍𝐴 − 𝑍𝐵 ), o que não
foi observado. Essa divergência entre a previsão teórica e o valor experimental
pode ter ocorrido devido a utilização de dados coletados de outro experimento.
Essa teoria se justifica ao constatar que o coeficiente de determinação das duas
curvas não é igual.
Por isso, é plausível supor que o ponto de operação teórico calculado
apresenta um elevado desvio em relação ao que deveria ser obtido
experimentalmente.

Essa discordância entre os valores experimentais e os valores teóricos


ocorrem em razão da utilização de dados teóricos que não condizem com a
realidade. Para os cálculos foram utilizados valores específicos dos elementos e
material das tubulações que se referem à uma tubulação recém-adquirida
enquanto que a tubulação utilizada já apresenta muitos desgastes.

Também não é possível garantir que a água utilizada no experimento


apresenta a densidade utilizada nos cálculos. E isso (o valor da densidade da
água) seria outro propagador de erro.

6. Referências Bibliográficas

[1] ELGER, Donald F. Mecânica dos Fluidos para Engenharia, 11ª edição. São
Paulo: Grupo GEN, 2019. E-book. 9788521636168. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521636168/. Acesso em: 01 set.
2022.

[2] POST, Scott. Mecânica dos Fluidos Aplicada e Computacional. São Paulo: Grupo
GEN, 2013. E-book. 9788521635263. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521635263/. Acesso em: 06 set.
2022.

[3] VOLL, F. A. P.: Curva do Sistema e Ponto de Operação. [Roteiro do Experimento


da disciplina TQ083 - Fenômenos de Transporte Experimental I Experimental, lecionada
na UFPR]. 2022.

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