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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Atualizado em 04/12/2020: julgados + questões de concurso.

Pontos atualizados: nº 15 (Info 962); nº 12 Info 963); nº 15 (Info 964 – 2 julgados); nº 35 (Info
964); nº 15 (Info 992)

1. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
1.1. AUTOTUTELA: Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração
Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência de perseguição
política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já
recebidas – (Info 956) – IMPORTANTE!!! Repercussão Geral!!!

No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de


concessão de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se
comprovar a ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao
anistiado, em procedimento administrativo, o devido processo legal e a não devolução das
verbas já recebidas.
Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por meio de
portaria do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica fazendo alguns
questionamentos sobre a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas,
dentre elas a que foi outorgada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem
revistas as concessões de anistia de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto
processo administrativo para examinar a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação
da anistia política. Mesmo tendo-se passado mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja
por força da parte final do art. 54 da Lei 9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54 da
Lei 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente a Constituição
Federal.
STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/10/19 (repercussão geral – Tema 839)
(Info 956).

1.2. PRINCÍPIO DA MORALIDADE: NEPOTISMO: O STF tem afastado a aplicação da SV 13


a cargos públicos de natureza política, como são os cargos de Secretário Estadual e Municipal –
(Info 952) – IMPORTANTE!!!

O STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política, como são os
cargos de Secretário Estadual e Municipal.
Mesmo em caso de cargos políticos, será possível considerar a nomeação indevida nas hipóteses
de:
• nepotismo cruzado;
• fraude à lei e
• inequívoca falta de razoabilidade da indicação, por manifesta ausência de qualificação
técnica ou por inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª T. Rcl 29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/9/2019 (Info 952).

1.3. Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União somente


poderá inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC após o término do processo de prestação
de contas especial, observados os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório –
(Info 951)

O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla defesa e ao
contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de motivação meramente
financeira, razões políticas.
Assim, ao poder central (União) é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou a
execução de convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a
verificação da veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro tem
consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas
voluntárias.
A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual se alcança o reconhecimento
definitivo das irregularidades, com a devida observância do contraditório e da ampla defesa,
tem suas regras definidas em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e
certa, e a decisão tem eficácia de título executivo extrajudicial.
STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 11/9/19 (Info 951).

1.4. PRINCÍPIO DA MORALIDADE: NEPOTISMO: A nomeação da esposa do prefeito como


Secretária Municipal não configura, por si só, nepotismo e ato de improbidade administrativa –
(Info 914) – IMPORTANTE!!!

A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal, por se tratar de cargo
público de natureza política, por si só, não caracteriza ato de improbidade administrativa.
STF. 2ª T. Rcl 22339 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, j. 4/9/18
(Info 914).

Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como,
por exemplo, Secretário Municipal.
Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido a
permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que
tal prática não configura nepotismo.
Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político caso
fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de
qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª T. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
OBS: Vale ressaltar que a simples dissonância entre a área de formação e a área fim do cargo não é
suficiente, por si só, para se afirmar a inequívoca ausência de razoabilidade da nomeação. Em
outras palavras, o simples fato de a pessoa nomeada não ser daquela área não é motivo, por si só,
para se considerar que tenha havido nepotismo.

1.5. AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA: Inconstitucionalidade de lei que preveja plantão


criminal para escritório de prática jurídica da Universidade estadual – (Info 840) –
IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019)

É inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de prática jurídica da Universidade
Estadual deverá manter plantão criminal nos finais de semana e feriados para atender pessoas
hipossuficientes que sejam presas em flagrante.
Esta lei viola a autonomia administrativa, financeira, didática e científica assegurada às
universidades no art. 207 da CF/88 (inconstitucionalidade material).
Além disso, contém vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal), na medida em que foi
usurpada a iniciativa privativa do Governador (art. 61, § 1º, II, "c", da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3792/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 (Info 840).
(TJBA-2019-CESPE): Considerando a pouca quantidade de defensores públicos
indispensáveis ao atendimento adequado dos necessitados na forma da lei, determinado
estado da Federação aprovou o respectivo projeto e sancionou a lei Y, que criou a
obrigatoriedade de estágio curricular no atendimento da assistência jurídica gratuita por
núcleo de prática jurídica integrante do departamento de direito de universidade estadual,
estabelecendo sua organização, seu funcionamento e seus horários, inclusive determinando
sua atuação em regime de plantão, bem como vinculando a certificação da conclusão do curso
de bacharelado pelos alunos ao cumprimento do referido estágio. Conforme a CF, a doutrina e
a jurisprudência do STF, a lei Y é inconstitucional por ferir a autonomia didático-científica e
administrativa da universidade. BL: Info 840, STF.

OBS: Foi editada uma lei estadual prevendo que o escritório de prática jurídica da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) deveria manter plantão criminal, nos finais de semana
e feriados, para atender pessoas hipossuficientes que fossem presas em flagrante.

Essa previsão é constitucional? NÃO.


Autonomia universitária: Essa lei viola a autonomia universitária, prevista no art. 207 da CF/88:
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e
de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão.

A autonomia universitária é dividida em três dimensões:


a) Autonomia didático-científica: consiste na liberdade conferida à Universidade
para ensinar, divulgar suas ideias, comunicar seus pensamentos etc.
b) Autonomia administrativa: consiste na liberdade para administrar seus assuntos
internos e para disciplinar suas relações com os professores, alunos e funcionários.
c) Autonomia financeira: trata-se do direito que as Universidades possuem de gerir,
dispor e aplicar seus próprios bens e recursos.

Essa autonomia não significa, obviamente, independência, atributo que é próprio dos Poderes
constituídos. No entanto, a autonomia assegura às Universidades a garantia de que não haverá
indevida ingerência no âmago (essência) de suas funções.

A determinação imposta pela lei para que o escritório de prática jurídica preste serviço aos
finais de semana, para atender hipossuficientes presos em flagrante delito, implica
necessariamente a criação ou, ao menos, a modificação das atribuições conferidas ao corpo
administrativo do curso de Direito da Universidade. Além disso, como os atendimentos são
realizados pelos acadêmicos de Direito matriculados no estágio obrigatório, para atender a Lei, a
Universidade teria que alterar as grades curriculares e horárias dos estudantes para que estes
pudessem desenvolver essas atividades em regime de plantão, ou seja, aos sábados, domingos e
feriados. Assim, a referida lei fere a autonomia administrativa, financeira e didático-científica
da instituição, pois não há anuência para criação ou modificação do novo serviço a ser prestado.

Tentativa de suprir as deficiências da Defensoria Pública: Vale ressaltar, ainda, que o objetivo
desta legislação é resolver, ainda que parcialmente, a deficiência do poder público em assegurar
aos hipossuficientes o direito à assistência judiciária integral e gratuita, bem como o amplo
acesso à justiça. Em outras palavras, com esta Lei busca-se mitigar as deficiências da Defensoria
Pública em desempenhar seu dever fundamental (art. 134, CF) impondo essa função a estudantes
de universidades estaduais. Desse modo, em vez de fortalecer a Defensoria Pública, o legislador
procurou transferir parcela de suas atribuições para a Universidade. Tal instituição tem como
objetivo principal as atividades de ensino superior e não pode ser obrigada a desempenhar, por
meio de seu corpo de alunos e professores, funções de assistência jurídica integral e gratuita aos
hipossuficientes.

Assistência jurídica pelas Universidades é permitida, mas se trata de matéria ligada à sua
autonomia: Vale ressaltar que o STF não proíbe o exercício do serviço de assistência jurídica
gratuita aos necessitados por meio dos escritórios de prática jurídica, o que é uma realidade de
relevante valor social. Ressalte-se, no entanto, que se trata de atividade desenvolvida pelos
acadêmicos do Curso de Direito em decorrência do estágio curricular obrigatório, e, por isso, diz
respeito à autonomia didático-científica da universidade, e não como imposição pelo Estado.
Importante também esclarecer que não há impedimento que o Estado-Membro realize convênio
com a universidade para viabilizar a prestação de serviço de assistência judiciária aos
necessitados. O que não se pode é transferir o exercício prioritário dessa atividade à
universidade.

Inconstitucionalidade formal: Além de tudo que já foi exposto, a norma impugnada contém vício
de iniciativa (inconstitucionalidade formal), considerando que a iniciativa para propor leis que
imponham atribuições para órgãos ou entidades públicas estaduais é privativa do Governador
do Estado e, no caso, a lei foi proposta por um Deputado (iniciativa parlamentar). Houve,
portanto, violação ao art. 61, § 1º, II, "c", da CF/88, aplicável ao âmbito estadual por força do
princípio da simetria:
Art. 61 (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria;

1.6. AUTOTUTELA: Recebimento de auxílio-moradia com má-fé e inexistência de decadência


– (Info 839)

Servidor que recebeu auxílio-moradia apresentando declaração falsa de que havia se mudado
para outra cidade terá que ressarcir o erário e devolver os valores recebidos mesmo que já se
tenha passado mais de 5 anos desde a data em que o pagamento foi autorizado.
STF. 1ª T. MS 32.569/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j. 13/09/16
(Info 839).

1.7. Princípio da intranscendência e atos praticados pelas gestões anteriores – (Info 825) -
ATENÇÃO!!! = CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)

Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo
gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o
erário e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou
ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não
poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores.
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito
democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que
acarretaram a inscrição combatida”. Penso que seja a posição que prevalece no STF.
A própria AGU admite esta tese: Súmula 46-AGU: Será liberada da restrição decorrente da
inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada pelo prefeito que
sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando o
ressarcimento ao erário.
Nesse sentido: STF. 1ª T. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 23/6/15
(Info 791).

Vale ressaltar, no entanto, que o Min. Marco Aurélio recentemente manifestou-se


contrariamente à tese afirmando que: A inscrição do nome do Estado-Membro em cadastro
federal de inadimplentes em face de ações e/ou omissões de gestões anteriores não configura
ofensa ao princípio da intranscendência. Vigora, no âmbito da Administração Pública, o
princípio da impessoalidade, previsto no art. 37, CF/88. A relação jurídica envolve a União e o
ente federal, e não a União e certo Governador ou outro agente. O governo se alterna
periodicamente nos termos da soberania popular, mas o Estado é permanente. A mudança de
comando político não exonera o Estado das obrigações assumidas. No caso concreto (ACO
732/AP), o STF julgou o pedido de forma favorável ao Estado porque a União não havia
respeitado o devido processo legal. Dessa forma, esta argumentação do Min. Marco Aurélio não
foi adotada pela Turma como razão de decidir. Por isso, penso que a posição do referido
Ministro é minoritária e, em concursos públicos, acredito que ainda se deve adotar o
entendimento no sentido de que é possível aplicar o princípio da intranscendência para esta
situação.
STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 10/5/16 (Info 825).
(TCEPR-2016-CESPE): Quando a União firma um convênio com um estado da Federação, a
relação jurídica envolve a União e o ente federado e não a União e determinado governador ou
outro agente. O governo se alterna periodicamente nos termos da soberania popular, mas o
estado federado é permanente. A mudança de comando político não exonera o estado das
obrigações assumidas. Nesse sentido, o STF tem entendido que a inscrição do nome de
estado-membro em cadastro federal de inadimplentes devido a ações e (ou) omissões de gestões
anteriores não configura ofensa ao princípio da administração pública denominado princípio
da intranscendência. BL: Info 825, STF.

OBS:

O que é o princípio da intranscendência subjetiva das sanções? Significa que não podem ser
impostas sanções e restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam
pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito. Na jurisprudência do STF encontramos
dois exemplos de aplicação desse princípio em casos envolvendo inscrição de Estados e
Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:

1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior: Existem julgados do STF
afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão atual,
depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas (exs:
apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o
antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros
de inadimplentes da União. Segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por
administrações anteriores. Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções, impedindo que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos
convênios ou recebimento de repasses federais. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC
781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info 791).

2ª acepção: quando a irregularidade foi praticada por uma entidade do Estado/Município ou


pelos outros Poderes que não o Executivo: O princípio da intranscendência subjetiva das sanções
pode ser aplicado também nas situações em que uma entidade estadual/municipal (ex: uma
autarquia) descumpriu as regras do convênio e a União inscreve não apenas essa entidade, como
também o próprio ente (Estado/Município) nos cadastros restritivos. (STF. Plenário. ACO 1848
AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 06/11/2014)

Também viola o princípio da intranscendência quando o Estado-membro é incluído nos cadastros


de inadimplentes da União por irregularidades praticadas pelos outros Poderes que não o
Executivo: O Estado só pode sofrer restrições nos cadastros de devedores da União por atos
praticados pelo Poder Executivo. Dessa forma, atos do Legislativo, Judiciário, Ministério
Público, Tribunal de Contas e dos entes da Administração Pública indireta (como as autarquias
e as empresas públicas) não podem gerar sanções da União contra o Estado, diante da ausência
de ingerência direta do Executivo sobre eles. (STF. Plenário. ACO 1.612-AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, DJe 13/2/2015; STF. Plenário. ACO 2099 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 18/12/2015).

1.8. Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão de
entes federativos nos cadastros federais de inadimplência – (Info 825) – ATENÇÃO!!!
CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)

É necessária a observância da garantia do devido processo legal, em especial, do contraditório e


da ampla defesa, relativamente à inscrição de entes públicos em cadastros federais de
inadimplência.
Assim, a União, antes de incluir Estados-membros ou Municípios nos cadastros federais de
inadimplência (exs: CAUC, SIAF) deverá assegurar o devido processo legal, o contraditório e a
ampla defesa.
STF. 1ª Turma. ACO 732/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 10/5/16 (Info 825).
STF. Plenário. ACO 1995/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26/3/15 (Info 779).

1.9. PRINCÍPIO DA MORALIDADE: NEPOTISMO: Não haverá nepotismo se a pessoa


nomeada possui um parente no órgão, mas sem influência hierárquica sobre a nomeação – (Info
815)

Não há nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de assessor de controle externo
do Tribunal de Contas mesmo que seu tio (parente em linha colateral de 3º grau) já exerça o
cargo de assessor-chefe de gabinete de determinado Conselheiro, especialmente pelo fato de
que o cargo do referido tio não tem qualquer poder legal de nomeação do sobrinho.
A incompatibilidade da prática enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não decorre
diretamente da existência de relação de parentesco entre pessoa designada e agente político ou
servidor público, mas de presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia ou
assessoramento tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco com quem tenha
potencial de interferir no processo de seleção.
STF. 2ª T. Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, j.
23/2/16 (Info 815).
OBS: Não há nepotismo se a pessoa que será nomeada para o órgão público possui ali um parente,
mas este não detém competência legal para selecioná-la ou nomeá-la para o cargo de chefia,
direção ou assessoramento pleiteado, ou não exerce ascendência hierárquica sobre quem possui
essa competência. Vedar o acesso de qualquer cidadão a cargo público apenas por conta de relação
de parentesco com servidor público que não tenha competência para selecionar ou nomear para o
cargo pleiteado é, em alguma medida, negar o princípio constitucional da impessoalidade. Além
disso, não existia, no caso concreto, nenhum indício de a autoridade nomeante tivesse algum
parentesco com o nomeado nem suspeita de que estaria havendo designações recíprocas mediante
ajuste ("nepotismo cruzado"). Por fim, importante esclarecer que, ao se analisar a estrutura
administrativa da Corte de Contas não se verifica a existência de hierarquia entre os cargos de
chefe de gabinete e de assessor de controle externo.

1.10. Princípio da intranscendência subjetiva na inscrição de unidade federativa em cadastro


de inadimplentes – (Info 791) – ATENÇÃO!!! ADVOCACIA PÚBLICA!!!

O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu
determinadas verbas para realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o
compromisso de prestar contas da utilização de tais valores perante a União e o TCU. Ocorre
que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a União o inserisse no CAUC.
Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas
importantes conclusões:
1) Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de
inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da
União. Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e sua respectiva
conclusão, a fim de reconhecer que houve realmente irregularidades. Só a partir disso é
possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela
União.

2) O princípio da intranscendência subjetiva impede que sanções e restrições superem a


dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as
causadoras do ato ilícito. Assim, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores. A inscrição do Estado de Pernambuco no CAUC ocorreu em razão do
descumprimento de convênio celebrado por gestão anterior, ou seja, na época de outro
Governador. Ademais, ficou demonstrado que os novos gestores estavam tomando as
providências necessárias para sanar as irregularidades verificadas. Logo, deve-se aplicar, no
caso concreto, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo que a
Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou
recebimento de repasses federais.
STF. 1ª T. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 23/6/2015 (Info 791).

1.11. PRINCÍPIO DA MORALIDADE: NEPOTISMO: Norma que impede nepotismo no


serviço público não alcança servidores de provimento efetivo – (Info 786)

A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao servidor
público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”.
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição,
no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos de provimento
em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em outras palavras, o STF
afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia
aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso
poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da
CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em
concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, j. 20/5/2015 (Info 786).

1.12. Princípio da Publicidade: Divulgação de vencimentos dos servidores públicos com


relação nominal – (Info 782) – (TJSP-2015)

É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos
nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias.
STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 23/4/15 (repercussão geral) (Info 782)
(TJSP-2015-VUNESP): A divulgação, nos sites dos respectivos órgãos administrativos, de
nomes e vencimentos de servidores públicos, observado o decidido pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento do ARE 652.777, é medida que deve ser reconhecida como legítima
diante dos princípios constitucionais que regulam a atividade pública e da Lei federal nº
12.527/11. BL: Info 782, STF.

OBS: Lembrando de outro julgado em que o Supremo exarou o seguinte:


(...) "Não cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto
da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes
públicos mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes estatais agindo
“nessa qualidade” (§ 6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos
servidores, seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou
quanto fragilizada com a divulgação nominalizada dos dados em debate, mas é um
tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com a proibição de se revelar o
endereço residencial, o CPF e a CI de cada servidor. No mais, é o preço que se paga
pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano" (STF – SS
3902 AgR-segundo)

É dizer, deve-se haver alguns cuidados para não se revelar CPF, RG e endereço dos servidores,
mas não pode haver negativa do nome do servidor e do seu subsídio ou remuneração.

1.13. Princípio da autotutela e necessidade de se garantir contraditório e ampla defesa – (Info


732 e Info 763) – IMPORTANTE!!! – (TJSP-2018)

A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No
entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais,
faz-se necessária a instauração de processo administrativo que assegure o devido processo legal
e a ampla defesa.
Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a
observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.
STF. 2ª T. RMS 31661/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 10/12/13 (Info 732).
STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/10/14 (Info 763).
(TJSP-2018-VUNESP): O princípio da autotutela administrativa é decorrência do princípio da
legalidade e, a seu respeito, é correto afirmar que a anulação do ato administrativo que tenha
produzido efeitos no campo dos interesses individuais não prescinde de prévio contraditório
que garanta o exercício da defesa da legitimidade do ato por aqueles que serão por ela
atingidos. BL: Súmula 473, STF e Infos 732 e 763 do STF.

2. PODER DE POLÍCIA
2.1. Poder de polícia de trânsito e guardas municipais – (Info 793) – IMPORTANTE!!! –
(MPSP-2015)

As guardas municipais podem realizar a fiscalização de trânsito?


SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência
para fiscalizar o trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do
exercício do poder de polícia de trânsito, inclusive para a imposição de sanções
administrativas legalmente previstas (ex: multas de trânsito).
STF. Plenário.RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 6/8/15 (Info 793).

(MPSC-2016): A fiscalização do trânsito, com aplicação das sanções administrativas


legalmente previstas, embora possa se dar ostensivamente, constitui mero exercício de
poder de polícia, não havendo, portanto, óbice ao seu exercício por entidades não policiais.

3. ATOS ADMINISTRATIVOS
3.1. O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão
administrativa proferida pelo CADE – (Info 942)
O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa
proferida pelo CADE.
A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação
econômica exige que o Poder Judiciário tenha uma postura deferente (postura de respeito)
ao mérito das decisões proferidas pela Autarquia.
A análise jurisdicional deve se limitar ao exame da legalidade ou abusividade do ato
administrativo.
O CADE é quem detém competência legalmente outorgada para verificar se a conduta de
agentes econômicos gera efetivo prejuízo à livre concorrência.
As sanções antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial,
dependem das consequências ou repercussões negativas no mercado analisado, sendo
certo que a identificação de tais efeitos anticompetitivos reclama acentuada expertise.
Assim, o Poder Judiciário não deve substituir o juízo valorativo e ingressar no mérito da
decisão administrativa do CADE.
STF. 1ª T. RE 1083955/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 28/5/2019 (Info 942).

3.2. MP que confere status de Ministro de Estado ao chefe da Secretaria-Geral da


Presidência da República não é inconstitucional por desvio de finalidade – (Info 935)

Não é inconstitucional medida provisória que, ao tratar sobre os órgãos vinculados à


Presidência da República, confere status de Ministro de Estado ao chefe da
Secretaria-Geral da Presidência da República, ainda que seu titular a ser nomeado, venha
a ter foro por prerrogativa de função no STF.
Não há desvio de finalidade na edição deste ato.
A norma, ao estabelecer a organização básica dos Ministérios e demais órgãos ligados à
Presidência da República, é matéria que está no âmbito decisório do chefe do Poder
Executivo da União.
Não se sustenta, do ponto de vista jurídico, o argumento de que a criação da
Secretaria-Geral com status de Ministério de Estado implicaria burla aos postulados
constitucionais de moralidade e probidade na Administração, porque a criação ou
extinção de ministérios e órgãos da Presidência também está no campo de decisão do
chefe do Poder Executivo.
A nomeação de determinada pessoa para o cargo de Ministro de Estado é um ato
subsequente e que, em princípio, está na alçada político-administrativa do Presidente da
República (art. 84), desde que presentes os requisitos do art. 87 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, j. 27/3/19 (Info 935).

4. LICITAÇÃO
4.1. Correios podem ser contratados sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei
8.666/93, para a prestação de serviços de logística – (Info 934) – IMPORTANTE!!!

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal, pode ser
contratada sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei nº 8.666/93, para a
prestação de serviços de logística:
Art. 24 (...) VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens
produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração
Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta
Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado;
A ECT preenche todos os requisitos legais necessários à possibilidade de sua contratação
direta, haja vista integrar a Administração e ter sido criada em data anterior à da Lei nº
8.666/93 para prestação de serviços postais, dentre os quais se incluem os serviços de
logística integrada.
STF. 2ª Turma. MS 34939/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/3/2019 (Info 934).
4.2. É inconstitucional lei estadual que exige nova certidão negativa não prevista na Lei
8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com
órgãos e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).

OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou
assinar contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela
deveria apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo
com a lei, a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido
condenada, administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos
últimos 5 anos.

Essa Lei estadual é constitucional? NÃO.

Estados, DF e Municípios podem suplementar normas gerais fixadas pela União: A


Constituição previu que compete privativamente à União fixar as normas gerais sobre
licitações e contratos:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para
as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e
para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art.
173, § 1°, III;

Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, §
2º, 25, §1º, e 30, II:
Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.

Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas
por esta Constituição.

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Assim, a ordem constitucional reconhece, em favor dos Estados-membros, autonomia para


criar direito em matéria de licitações e contratos independentemente de autorização formal
da União. Todavia, essa autonomia não é incondicionada, devendo ser exercida apenas para a
suplementação das normas gerais expedidas pela União.

Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o tema
são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.
Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais
sobre o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e
trabalhista (art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações
relacionadas com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do
MS criou novas condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de
habilitação obrigatório para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou
na condição de intérprete primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou,
ainda, uma presunção legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de
registros desabonadores nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo
suficiente para justificar o impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela
Administração local. A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e
inteiramente novo para habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação
estadual afrontou as normas gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se
apropriou de competência da União.

4.3. É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública irá,
preferencialmente, utilizar “softwares” livres – (Info 780)

O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a
administração pública do Estado, assim como os órgãos autônomos e empresas sob o
controle do Estado utilizarão preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de
informática programas abertos, livres de restrições proprietárias quanto à sua cessão,
alteração e distribuição (“softwares” livres).
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que a lei é constitucional.
A preferência pelo “software” livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da
impessoalidade, da eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados,
além de viabilizar a autonomia tecnológica do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos
porque a competência da União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às
normas gerais, podendo os Estados complementar as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, II, “b”, da CF/88 porque a competência para
legislar sobre “licitação” não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo,
podendo ser apresentada por um parlamentar, como foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 9/4/2015 (Info 780).

5. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
5.1. O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não
transfere automaticamente ao Poder Público a responsabilidade pelo seu pagamento – (Info
862) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019) (TJSC-2019)

O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não transfere


automaticamente ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu pagamento,
seja em caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93.

Obs: a tese acima foi a fixada pelo STF. No entanto, penso que é importante um
esclarecimento revelado durante os debates: é possível sim, excepcionalmente, que a
Administração Pública responda pelas dívidas trabalhistas contraídas pela empresa
contratada e que não foram pagas, desde que o ex-empregado reclamante comprove, com
elementos concretos de prova, que houve efetiva falha do Poder Público na fiscalização do
contrato.
STF. Plenário. RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosá Weber, red. p/ o ác. Min. Luiz Fux, j.
26/4/17 (repercussão geral) (Info 862).
(TJBA-2019-CESPE): A respeito da responsabilidade civil do Estado, julgue o item a
seguir: A responsabilidade do Estado, em regra, será afastada quando se tratar da
obrigação de pagamento de encargos trabalhistas de empregados terceirizados que tenham
deixado de receber salário da empresa de terceirização. BL: Info 862, STF.
(TJSC-2019-CESPE): Um empregado de empresa contratada pelo poder público para
prestar serviços ligados à atividade-fim do órgão contratante comprovou, em demanda
trabalhista, o inadimplemento da empresa em relação ao pagamento de suas verbas
rescisórias. Nessa ação, foi reconhecida a existência da dívida trabalhista. Com referência a
essa situação, assinale a opção correta a partir do entendimento majoritário e atual do STF:
A responsabilidade pelo pagamento das dívidas trabalhistas não é transferida
automaticamente da empresa contratada para o poder público, seja em caráter solidário ou
subsidiário. BL: Info 862, STF.

6. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR


6.1. A Súmula Vinculante 5 continua válida – (Info 849)

A Súmula Vinculante 5 continua válida.


O STF rejeitou proposta da OAB que pretendia o cancelamento do verbete.
Após a edição da SV 5, não houve mudança na legislação, na jurisprudência ou na
percepção da sociedade a justificar a revisão ou o cancelamento do enunciado.
A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser cancelada
ou revista em caso de superveniência de fatos suficientemente relevantes.
Assim, a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não
ofende a CF.
STF. Plenário. PSV 58/DF, j. 30/11/16 (Info 849).
(PGEMS-2014): Servidor público estatutário de autarquia estadual, em sede de recurso
administrativo manejado em face de decisão proferida em processo administrativo
disciplinar (PAD) que lhe aplicou pena de “advertência”; alegou, exclusivamente, que
mesmo sendo-lhe garantido direito à informação, à manifestação e à consideração de tal
manifestação, não foi assistido por advogado durante todo o PAD. Você, na condição de
Procurador(a) do Estado, com fundamento na jurisprudência vinculante sobre o tema,
acaso tivesse que realizar parecer, pugnaria: Pelo indeferimento do recurso administrativo,
pois não há nulidade a ser reconhecida exclusivamente por ausência de advogado
constituído no processo administrativo em análise. BL: SV 5, STF.

(DPEPR-2014) O verbete sumular vinculante de n. 5, que dispõe que “a falta de defesa


técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição”
somente é aplicável ao procedimento disciplinar na esfera cível-administrativa, não sendo
aplicável no procedimento disciplinar no âmbito da execução penal.

OBS:
SV 5-STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo
disciplinar não ofende a Constituição.

A OAB tem legitimidade para propor o cancelamento de SV? SIM. A CF/88 determina que a
proposta de cancelamento da súmula vinculante poderá ser provocada pelas mesmas
autoridades e entidades que podem propor a ADI. Em outras palavras, quem pode propor
ADI pode também pedir o cancelamento de súmula vinculante. No caso, a OAB encontra-se
no rol de legitimados da ADI (art. 103, VII, da CF/88) e, consequentemente, pode requerer o
cancelamento de súmula vinculante.

STF continua entendendo que a falta de defesa técnica no PAD não ofenda a CF: O
precedente que deu origem à SV 5 foi o RE 434.059/DF (DJe 12.9.2008). Neste julgamento, o
STF concluiu que a falta de defesa técnica por advogado no PAD não ofende a CF. Após a
edição da SV 5, não houve mudança na legislação, na jurisprudência ou na percepção da
sociedade a justificar a revisão ou o cancelamento do verbete.
Estabilidade: A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser
cancelada ou revista em caso de superveniência de fatos suficientemente relevantes, sob pena
de se negar autoridade e se transformar o verbete vinculante num precedente qualquer,
eliminando sua função no sistema, principalmente a de dar estabilidade e segurança às
decisões da Corte.

A participação do advogado no PAD é permitida e até recomendável, só não é obrigatória:


Os Ministros ressaltaram que não é proibida a participação dos advogados nos processos
administrativos disciplinares. Pelo contrário, a Administração Pública deve viabilizar a
presença de advogado nesses procedimentos administrativos, devendo também cientificar os
servidores públicos que eles possuem o direito de contratar um profissional para fazer a sua
defesa. Isso não significa, contudo, que, não havendo advogado, o PAD seja nulo. Para o Min.
Roberto Barroso, o PAD deve observar cautelas inerentes ao processo penal, mas não se pode
fazer uma equiparação plena entre um e outro porque, após o PAD, haverá ainda a
possibilidade de revisão judicial da decisão que lá for tomada.

Existem processos judiciais que dispensam advogado: Importante relembrar que, caso se
reconheça que a SV 5 viola a Constituição, também deveria ser reconhecida a
inconstitucionalidade das normas que, em processo judicial, dispensam a presença de
advogado (exs: processos trabalhistas, juizados especiais etc.).

SV 5 não se aplica para processos disciplinares que apuram falta grave no sistema prisional:
Vale ressaltar que a SV 5 refere-se ao típico processo administrativo disciplinar, ou seja,
aquele que tramita no âmbito da Administração Pública. Este enunciado não se aplica para o
processo administrativo que apura infrações cometidas no sistema penitenciário. Assim,
mesmo havendo precedentes do STF exigindo advogado nos processos de apuração de falta
grave do condenado, estes não podem ser invocados para justificar o cancelamento da SV 5.

6.2. Ausência de transcrição integral de dados obtidos por meio de interceptação


telefônica não gera nulidade – (Info 834)

Mesmo em matéria penal, a jurisprudência do STF e do STJ é no sentido de que não é


necessária a degravação integral das escutas, sendo bastante que dos autos constem
excertos suficientes a embasar o oferecimento da denúncia.
O servidor processado, que também é réu no processo criminal, tem acesso à integralidade
das interceptações e, se entender necessário, pode juntar no processo administrativo os
eventuais trechos que considera pertinentes ao deslinde da controvérsia.
O acusado em processo administrativo disciplinar não possui direito subjetivo ao
deferimento de todas as provas requeridas nos autos, ainda mais quando consideradas
impertinentes ou meramente protelatórias pela comissão processante (art. 156, §1º, Lei nº
8.112/90).
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/16 (Info 834).

6.3. Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD – (Info
834) – (MPGO-2013)

A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo


criminal pode ser utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo.
Assim, é possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas
judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo
disciplinar.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/2016 (Info 834).
(MPMG-2013): As provas colhidas no bojo de instrução processual penal, desde que
obtidas mediante interceptação telefônica devidamente autorizada por juízo competente,
admitem compartilhamento para fins de instruir procedimento criminal ou mesmo
procedimento administrativo disciplinar contra outros agentes.
OBS:

É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada


validamente produzida em processo criminal? SIM. A jurisprudência do STJ e do STF são
firmes no sentido de que é admitida a utilização no processo administrativo de “prova
emprestada” do inquérito policial ou do processo penal, desde que autorizada pelo juízo
criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa (STJ. 1ª Seção. MS 17.472/DF, Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 13/6/2012).

Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha
transitado em julgado? SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar,
de prova emprestada validamente produzida em processo criminal, independentemente do
trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da
sentença proferida no processo criminal não repercute na instância administrativa, tendo em
vista a independência existente entre as instâncias (STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min.
Humberto Martins, j. 2/4/13. Info 521).

É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova


emprestada”, a interceptação telefônica produzida em ação penal? SIM, desde que a
interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das
demais exigências contidas na Lei nº 9.296/1996 (STJ. 3ª Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min.
Laurita Vaz, julgado em 26/9/2012).

Ex.: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal,
conseguiu captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar
certo ato relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do
inquérito, o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por sua
vez, instaura processo administrativo disciplinar.

O STF também decidiu no mesmo sentido.

6.4. Desnecessidade de intimação do servidor após o relatório final – (Info 834)

Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o


relatório final de processo administrativo disciplinar. Inexiste previsão na Lei 8.112/90 de
intimação do acusado após a elaboração do relatório final da comissão processante.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/2016 (Info 834).
STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, j. 8/5/2013 (Info 523).

6.5. Inexistência de impedimento de que os membros da comissão do primeiro PAD, que


foi anulado, participem da segunda comissão – (Info 834) – IMPORTANTE!!!

Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos


membros da Comissão Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer
impedimento ou prejuízo material na convocação dos mesmos servidores que
anteriormente tenham integrado Comissão Processante, cujo relatório conclusivo foi
posteriormente anulado (por cerceamento de defesa), para comporem a segunda Comissão
de Inquérito.
Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo
administrativo disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que
havia sido anulada.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 9/8/2016 (Info 834).
STJ. 1ª Seção. MS 16.192/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 10/04/2013.
OBS:

O STF e o STJ, ao interpretarem este dispositivo, entendem que, quando ele diz "constituição
de outra comissão", não exige que nesta outra comissão os membros sejam diferentes
daqueles que compuseram a primeira. Em outras palavras, se o motivo pelo qual o primeiro
PAD foi anulado não está relacionado com a isenção da comissão, não existe impedimento
legal para que os membros da primeira participem da comissão que irá conduzir o segundo
processo.
Aplica-se aqui a mesma lógica que é utilizada no processo judicial: a anulação de uma
decisão/sentença judicial não impede que o juiz que decidiu aprecie novamente a causa,
salvo se o vício estava relacionado com ele.

7. CONCURSOS PÚBLICOS
7.1. É inconstitucional dispositivo legal que preveja a possibilidade de o indivíduo aprovado
no concurso tomar posse e entrar em exercício, de imediato, na classe final da carreira – (Info 932)

É inconstitucional lei que preveja a possibilidade de o indivíduo aprovado no concurso público


ingressar imediatamente no último padrão da classe mais elevada da carreira. Essa disposição
afronta os princípios da igualdade e da impessoalidade, os quais regem o concurso público.
Por essa razão, o STF declarou a inconstitucionalidade do § 1º do art. 18 da Lei 8.691/93.
STF. Plenário. ADI 1240/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 28/2/2019 (Info 932).

7.2. A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer a prova em
uma nova data no futuro – (Info 706 e Info 924) – (TRF2-2018) (MPPI-2019)

Os candidatos possuem direito à segunda chamada nos testes físicos em concursos públicos?
REGRA: NÃO.
Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de
aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força
maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.
STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/5/13 (repercussão geral) (Info 706).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.597.570/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/10/18
STJ. 2ª Turma REsp 1.721.068/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/5/18.
(MPPI-2019-CESPE): Edital de concurso público para o cargo de policial civil de determinado
estado da Federação vedou a possibilidade de remarcação de teste de aptidão física dos
candidatos em razão de eventual problema temporário de saúde. De acordo com o
entendimento jurisprudencial do STF, a referida cláusula editalícia coaduna-se com a
Constituição Federal de 1988. BL: Info 706 do STF.

EXCEÇÃO: as candidatas gestantes possuem.


É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época
de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público.
STF. Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/11/18 (repercussão geral) (Info 924).
(TRF2-2018-IBFC): A proteção constitucional à maternidade e à gestante autoriza o tratamento
diferenciado à candidata gestante, com designação de outra data para a realização do teste de
aptidão física, especialmente se comprovado que a realização da prova na condição em que se
encontra pode prejudicar a saúde do feto. BL: Info 924, STF.

OBS: O STF entendeu que a situação da candidata grávida merece tratamento diferente do caso de
candidatos doentes ou que não compareceram ao teste por motivo de força maior. Assim,
justifica-se fazer um distinguishing em relação ao que foi decidido no RE 630733/DF (Info 706).

7.3. Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por
força de provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser
reformada – (Info 911)

Em regra, não produzem fato consumado a posse e o exercício em cargo público decorrentes de
decisão judicial tomada à base de cognição não-exauriente.
Em outras palavras, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o
cargo público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. Trata-se do
entendimento firmado no RE 608482/RN (Tema 476).
A situação é diferente, contudo, se a pessoa, após permanecer vários anos no cargo (21 anos),
conseguiu a concessão de aposentadoria. Neste caso, em razão do elevado grau de estabilidade
da situação jurídica, o princípio da proteção da confiança legítima incide com maior
intensidade. Trata-se de uma excepcionalidade que autoriza a distinção (distinguish) quanto ao
leading case do RE 608482/RN (Tema 476).
STF. 1ª Turma. RE 740029 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 14/8/18 (Info 911).

Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se
aposentou, antes do julgamento final do mandado de segurança, por tempo de contribuição
durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da
segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a
cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/2/17 (Info 600).
OBS:

Situação não contemplada no leading case: No julgamento do RE 608482/RN, o STF não tratou
sobre as hipóteses em que o servidor, em razão do decurso do tempo no exercício do cargo, tem a
aposentadoria concedida pela Administração Pública. Logo, este entendimento não afronta o que
decidiu o STF na repercussão geral.

Princípio da segurança jurídica: O princípio da segurança jurídica, em sua perspectiva subjetiva,


protege a confiança legítima, procurando preservar fatos pretéritos de eventuais modificações
na interpretação jurídica, bem como resguardando efeitos jurídicos de atos considerados
inválidos por qualquer razão. Em última análise, o princípio da confiança legítima destina-se
precipuamente a proteger expectativas legitimamente criadas em indivíduos por atos estatais. A
aplicação do princípio da proteção da confiança, portanto, pressupõe a adoção de atos
contraditórios pelo Estado que frustrem legítimas expectativas nutridas por indivíduos de
boa-fé. Naturalmente, tais expectativas podem ser frustradas não apenas por decisões
administrativas contraditórias, mas também por decisões judiciais dessa natureza.

Vínculo previdenciário consolidou-se: O impetrante já estava aposentado quando veio a decisão


desfavorável. Assim, embora o vínculo de trabalho fosse precário, o autor da ação pagou
mensalmente as contribuições previdenciárias e completou todos os requisitos necessários para a
aposentadoria, de forma que o vínculo previdenciário foi consolidado.

Legislação não prevê cassação de aposentadoria por esse motivo: A Lei dos Servidores Públicos
federais (Lei n. 8.112/90), assim como as demais leis de servidores públicos dos demais entes,
preveem a cassação da aposentadoria apenas em duas hipóteses:
a) demissão do servidor público (art. 134); e
b) acumulação ilegal de cargos (art. 133, § 6º).

Dessa forma, não há fundamento na lei para se cassar a aposentadoria nesta hipótese.

7.4. POSSE TARDIA EM CARGO PÚBLICO POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL: A


nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à promoção
retroativa – (Info 868) – IMPORTANTE!!!

A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público, por meio de ato judicial, à
qual atribuída eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou progressões funcionais que
alcançariam se houvesse ocorrido, a tempo e modo, a nomeação.
STF. Plenário. RE 629392 RG/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/6/17 (repercussão geral) (Info
868).
OBS:

Imagine a seguinte situação hipotética: João foi aprovado em todas as provas teóricas do concurso
de Defensor Público, no entanto, foi eliminado no exame psicotécnico, fato ocorrido no ano de
2013. O candidato ingressou com ação ordinária questionando os critérios utilizados no teste
psicotécnico aplicado. O pedido de tutela provisória antecipada, contudo, foi negado. Todos os
demais candidatos aprovados tomaram posse. A ação foi julgada procedente em todas as
instâncias, mas a Fazenda Pública sempre recorria e João ainda não havia tomado posse. Somente
em 2017, quando houve o trânsito em julgado, ele foi nomeado e empossado. Significa que,
enquanto os demais candidatos foram nomeados e estavam trabalhando desde 2013, João, mesmo
tendo direito, só conseguiu ingressar no serviço público 5 anos mais tarde. Inconformado com a
situação, João propôs ação de indenização contra o Poder Público alegando que teria direito de
receber, a título de reparação, o valor da remuneração do cargo referente ao período de 2013 até
2017.
O pedido de indenização formulado por João encontra amparo na jurisprudência? O candidato
que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito a
receber a remuneração retroativa?
⮚ Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o
argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a
cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à indenização.
⮚ Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor
não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.

O tema foi decidido pelo STF em sede de recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão
geral:
Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o servidor
não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em
momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. STF. Plenário. RE
724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

Por que o candidato não terá direito ao pagamento da remuneração retroativa? O direito à
remuneração é consequência do exercício de fato do cargo. Dessa forma, inexistindo o efetivo
exercício, a pessoa não faz jus à percepção de qualquer importância, a título de ressarcimento
material, sob pena de enriquecimento sem causa.

E quanto aos efeitos funcionais, o candidato terá direito? Suponhamos o seguinte: os candidatos
que tomaram posse em 2013 já passaram do estágio probatório e foram promovidos de Defensores
Públicos de 3ª classe para Defensores Públicos de 2ª classe. João deveria ter tomado posse em 2013
juntamente com eles, mas isso só acabou ocorrendo em 2017 por erro da Administração Pública. A
sentença reconheceu que João tem direito à nomeação com eficácia retroativa à data em que os
demais candidatos na mesma situação foram nomeados (2013). Isso significa que João terá direito
de assumir já como Defensor Público de 2ª classe (“promovido”), assim como os outros estão
atualmente? NÃO. A promoção ou a progressão funcional, a depender do caráter da
movimentação, se vertical ou horizontal, não se resolve apenas mediante o cumprimento do
requisito temporal. Pressupõe a aprovação em estágio probatório e a confirmação no cargo, bem
como o preenchimento de outras condições indicadas na legislação ordinária. Diante disso, uma
vez empossado, cumpre ao servidor cumprir todas as regras relacionados com o regime jurídico
do cargo, incluídas aquelas relativas ao estágio probatório e as específicas de cada carreira. Assim,
somente considerado o desempenho do agente, por meio de atuação concreta a partir da entrada
em exercício, é possível alcançar a confirmação no cargo e eventuais promoções.

7.5. Inconstitucionalidade de permuta de serventia sem concurso público após a CF/88 – (Info
841)

O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição
da Lei 8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição
não apenas para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos casos de
remoção ou permuta.
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro
independentemente de prévio concurso público são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
O prazo decadencial de 5 anos, de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica à revisão de
atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a CF/88, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236. Assim, se uma pessoa assumiu uma serventia notarial ou
registral sem concurso público após a CF/88, este ato poderá ser anulado mesmo que já se
tenham passado mais de 5 anos.
A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso público
não viola o direito adquirido nem a segurança jurídica.
STF. 1ª Turma. MS 29415/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j.
27/09/16 (Info 841).

7.6. Restrição a candidatos com tatuagem – (Info 835) – IMPORTANTE!!! – (MPRR-2017)


(PGEPE-2018)

Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo
situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/8/16 (repercussão geral) (Info 835).
(MPRR-2017-CESPE): De acordo com o entendimento do STF, no que se refere à inscrição de
candidatos que possuam tatuagens gravadas na pele, não havendo lei que disponha sobre o
tema, os editais de concursos públicos estão impedidos de restringi-la, com exceção dos casos
em que essas tatuagens violem valores constitucionais. BL: Info 835, STF.

OBS:

Imagine a seguinte situação hipotética: João prestou concurso para soldado da Polícia Militar. O
edital do certame previa restrições para candidatos que possuem tatuagens. Segundo o edital,
seriam excluídos do concurso candidatos que possuíssem tatuagens localizadas em regiões do
corpo que ficassem visíveis quando o indivíduo estivesse usando short e camisa (ex: antebraço).
João foi aprovado em todas as fases, mas eliminado do concurso porque possui uma tatuagem
tribal, medindo 14 por 13 cm na panturrilha.

É possível que o edital do concurso preveja a eliminação do candidato pelo simples fato de ter
uma tatuagem? Essa previsão é válida?
✔ Regra: NÃO. Em regra, os editais de concurso não podem estabelecer restrição a pessoas
com tatuagem.
✔ Exceção: é possível que o edital imponha restrições a candidatos que possuam tatuagens
cujo conteúdo viole valores constitucionais.

Restrições a cargos públicos somente podem estar relacionadas com o exercício das funções:
Qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício das
funções como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções específicas.
A criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos públicos fere os
princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade.

No passado, a tatuagem foi associada a setores marginais da sociedade: A tatuagem, no passado,


especialmente durante o século XIX, era uma prática associada a determinados grupos sociais que
viviam à margem da sociedade, sendo conhecida como "flor do presídio". Desse modo, durante
muitos anos, no imaginário social a tatuagem foi vista como marca da marginalidade e da
delinquência. Segundo os sociólogos, no entanto, o sentido estigmatizador do uso da tatuagem
começou a mudar a partir da década de 80.

Tatuagem é forma de liberdade de manifestação: O certo é que, atualmente, a tatuagem, por si só,
não pode ser confundida como uma transgressão ou conduta atentatória aos bons costumes. Não
há qualquer ligação objetiva e direta entre o fato de um cidadão possuir tatuagens em seu corpo e
uma suposta conduta atentatória à moral, aos bons costumes ou ao ordenamento jurídico. A
decisão do indivíduo fazer uma tatuagem está diretamente relacionada com a sua liberdade de
pensamento e de expressão (art. 5º, IV e IX, da CF/88).

Restringir o acesso de candidato tatuado é forma de discriminação arbitrária: Não é razoável


restringir o acesso do candidato a uma função pública pelo simples fato de possuir tatuagem. Esta
restrição é flagrantemente discriminatória e carente de qualquer justificativa racional que a
ampare. O fato de uma pessoa possuir tatuagens, visíveis ou não, não pode ser tratado pelo Estado
como parâmetro discriminatório quando do deferimento de participação em concursos de provas
e títulos para ingresso em carreira pública. Isso porque o fato de o candidato possuir tatuagem não
macula, por si, sua honra pessoal, o profissionalismo, o respeito às Instituições e, muito menos, lhe
diminui a competência. O respeito à democracia não se dá apenas na realização de eleições livres,
mas também quando se permite aos cidadãos se manifestarem da forma que quiserem, desde que
isso não represente ofensa direta a grupos ou princípios e valores éticos. O desejo de se expressar
por meio de pigmentação definitiva não pode ser obstáculo a que um cidadão exerça cargo
público. Um policial não se torna melhor ou pior em suas funções apenas por ter tatuagem. O
Estado não pode querer representar o papel de adversário da liberdade de expressão, impedindo
que candidatos em concurso ostentem tatuagens ou marcas corporais que demonstrem simpatia
por ideais que não sejam ofensivos aos preceitos e valores protegidos pela Constituição Federal.

Exceções: Vale ressaltar, entretanto, que é possível que a Administração Pública impeça o acesso
do candidato se a tatuagem que ele possui tiver um conteúdo que viole os valores previstos na
Constituição Federal. É o caso, por exemplo, de tatuagens que contenham obscenidades,
ideologias terroristas, que sejam discriminatórias, que preguem a violência e a criminalidade, a
discriminação de raça, credo, sexo ou origem. Isso porque tais temas são, inegavelmente,
contrários às instituições democráticas. Se a Administração proibir tatuagens como essa, não será
uma prática desarrazoada ou desproporcional.

Voltando ao exemplo dado: No caso concreto, o STF considerou que a conduta da Administração
Pública de eliminar João não foi correta porque a tatuagem tribal não se mostra contrária aos
valores previstos na Constituição Federal, sendo legítima manifestação de expressão do indivíduo.

7.7. Surgimento de vaga durante o período validade do concurso e abertura de novo certame
logo depois do primeiro concurso expirar – (Info 834) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)
(DPEDF-2019)

Determinado candidato foi aprovado fora do número de vagas. Todos os aprovados dentro do
número de vagas foram nomeados e empossados. Durante o prazo de validade do concurso, um
servidor se aposentou, mas não houve autorização do Ministério do Planejamento para que o
órgão federal fizesse o provimento desta vaga. Um mês após o fim do prazo de validade do
concurso, a Administração Pública abriu novo concurso para este cargo.
O STF entendeu que este candidato não possui direito líquido e certo à nomeação porque:
● foi aprovado fora do número de vagas previsto no edital; e
● o prazo de validade do concurso em que ele foi aprovado expirou antes da abertura do
novo certame.
● realmente surgiu uma vaga decorrente da aposentadoria, mas não houve manifestação
do órgão competente se havia disponibilidade orçamentária para que este cargo fosse
imediatamente provido.

O mero surgimento de vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo não gera
direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado fora do número de vagas, cabendo a ele
demonstrar, de forma inequívoca, que houve preterição arbitrária e imotivada por parte da
administração pública. No caso concreto, o STF entendeu que isso não ficou comprovado.
Assim, para o Tribunal, a situação não se enquadra nas hipóteses previstas no RE 837311/PI.
STF. 1ª T. RMS 31478/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, j.
9/8/16 (Info 834).

7.8. Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação (Info 811) –
IMPORTANTE!!! - (TJPA-2019) (DPEDF-2019)

O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o
prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição
arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por comportamento tácito ou
expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado
durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo candidato.
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas
seguintes hipóteses:
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de
classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada
por parte da administração nos termos acima.
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 09/12/2015 (repercussão geral) (Info 811).
(DPEDF-2019-CESPE): Considerando as disposições da CF/1988 e a jurisprudência do STF a
respeito de agentes públicos, julgue o item a seguir: Segundo o STF, o surgimento de novas
vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo de certame anterior cujo prazo de
validade ainda não tenha terminado, em regra, não gera automaticamente o direito à nomeação
dos candidatos aprovados no certame anterior fora das vagas previstas no edital. BL: Info 811,
STJ.

7.9. Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público (Info 753 e Info 808) –
IMPORTANTE!!! (MPDFT-2015) (Anal. Judic./TRF1-2017) (TJCE-2018)
O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária assume
o risco de posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito “ex tunc”, inviabiliza a
aplicação da teoria do fato consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não
implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia
aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera sobre
o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção
da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo
público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. 1ª T. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 17/11/2015 (Info 808).
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/8/14 (repercussão geral) (Info 753).
(TJCE-2018-CESPE): O princípio da proteção da confiança legítima não autoriza a manutenção
em cargo público de servidor público empossado por força de decisão judicial de caráter
provisório posteriormente revista, ainda que decorridos mais de cinco anos da investidura no
cargo. BL: Info 753, STF.

7.10. Momento para comprovação do limite de idade – (Info 791)

O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso


público, há de ser comprovado no momento da inscrição no certame.
STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, j. 23/6/2015 (Info 791).

7.11. Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário – (Info 782) – IMPORTANTE!!!
(TJPR-2017)

É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada
de maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na questão
sob o argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?
● Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não
podem ser revistos pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato
administrativo que corrige questões de concurso público. Não compete ao Poder
Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os
critérios de correção utilizados.

● Exceção: apenas em casos de flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade, a Justiça


poderá ingressar no mérito administrativo para rever critérios de correção e de avaliação
impostos pela banca examinadora.

Portanto, não compete ao Poder Judiciário, no controle de legalidade, substituir banca


examinadora para avaliar respostas dadas pelos candidatos e notas a elas atribuídas.
Excepcionalmente, é permitido ao Judiciário juízo de compatibilidade do conteúdo das
questões do concurso com o previsto no edital do certame.
STF. Plenário. RE 632853/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 23/4/15 (repercussão geral) (Info 782).
(TJPR-2017-CESPE): No que se refere à discricionariedade administrativa e ao controle judicial
dos atos administrativos, assinale a opção correta: Segundo o entendimento do STF, não
havendo flagrante ilegalidade ou inconstitucionalidade, o Poder Judiciário não pode interferir
em critérios fixados por banca examinadora de concurso público. BL: art. Info 782, STF.

7.12. É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual –
(Info 780)

O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse Militar
Voluntário Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as
pessoas poderiam se alistar para trabalhar “voluntariamente” como soldado na Polícia Militar
ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espécie de seleção (menos rigorosa que um
concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela receberia, como contraprestação pelo
trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como se fosse um soldado. Esse contrato seria
por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.
O SIMVE viola a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata sobre
prestação voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma diametralmente oposta
ao que diz a Lei federal 10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 780 e 781).

7.13. Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90 – (Info 779)

É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia


aprovação em concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em
relação aos empregados eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção dos
salários referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, ao
levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço — FGTS.
Neste julgado, o STF declarou que o art. 19-A da Lei 8.036/90 é CONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. ADI 3127/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

7.14. Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão corretas
– (Info 778)

Determinada candidata impetrou mandado de segurança questionando três questões da prova


objetiva do concurso para Procurador da República. As questões impugnadas foram formuladas
da seguinte forma: eram apresentadas quatro afirmações; após essas assertivas, existiam quatro
alternativas; a letra “A” dizia: “apenas uma está correta”; letra “B”: “duas estão corretas”; letra
“C”: “três estão corretas”; letra “D”: “todas estão corretas”.
Segundo a autora, essa forma de questão objetiva estaria em desacordo com as Resoluções do
CNMP e do CNJ sobre concursos públicos.
O STF concordou com a tese da impetrante? Essa forma de questão objetiva violou a resolução
do CNMP?
NÃO. Apesar de as referidas questões apresentarem realmente uma estrutura objetiva diversa
das demais perguntas normalmente feitas em prova objetiva, isso não significa qualquer
nulidade, sendo apenas uma forma de dificultar o nível da prova igualmente a todos os
candidatos e condizente com o objetivo de um concurso destinado a medir conhecimentos de
vários tipos, ou seja, não só jurídicos, mas também lógicos e gramaticais.
Ademais, entendeu-se que não se poderia invocar a Resolução 57/2009 do CNJ porque, embora
o CNJ e o CNMP possuam estruturas semelhantes e mesma origem constitucional, são órgãos
autônomos, de forma que o CNMP disciplinou o tema na forma que entendeu melhor e não
vedou esse tipo de questão.
STF. 1ª Turma. MS 31323 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 17/3/2015 (Info 778).

7.15. Critério de desempate em concursos de remoção de serventias notariais e registrais – (Info


777)

A lei estadual do Estado “X” prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de
remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério de
desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada
(art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de registro,
quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis em caso de
empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior
tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).

7.16. Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar – (Info 775) –
IMPORTANTE!!! – (DPEPR-2017) (TJMG-2018)
O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração
tem direito a receber a remuneração retroativa?
● Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o
argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação
tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à
indenização.
● Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o
servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.

Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão
judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido
em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante.”
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
(TJMG-2018-Consulplan): Com relação à responsabilidade civil do Estado, assinale a
alternativa correta: O Supremo Tribunal Federal reconheceu a existência de repercussão geral
e firmou a tese de que, na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão
judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido
investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. BL: Info 775, STF.

7.17. Sociedade de economia mista que contrata escritório de advocacia em vez de convocar
advogados aprovados – (Info 763) – IMPORTANTE!!!

Se existem candidatos aprovados para advogado da sociedade de economia mista e esta, no


entanto, em vez de convocá-los, contrata escritório de advocacia, tal contratação é ilegal,
surgindo o direito subjetivo de que sejam nomeados os aprovados.
Segundo entende o STF, a ocupação precária por terceirização para desempenho de atribuições
idênticas às de cargo efetivo vago, para o qual há candidatos aprovados em concurso público
vigente, configura ato equivalente à preterição da ordem de classificação no certame, ensejando
o direito à nomeação.
A competência para julgar essa ação é da Justiça do Trabalho. Isso porque essa Justiça laboral
especializada é competente para julgar não apenas as demandas relacionadas com o contrato de
trabalho já assinado, mas também para as questões que envolvam o período pré-contratual.
STF. 2ª Turma. ARE 774137 AgR/BA, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/10/2014 (Info 763).

7.18. Serviços sociais autônomos não precisam realizar concurso público – (Info 759) –
IMPORTANTE!!! – (Auditor Fisc. Munic.-Cuiabá/MT-2016) (DPEAC-2017) (DPEAL-2017)

Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso público para contratar seu pessoal?
NÃO. Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e não
integrarem a Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse público
em cooperação com o ente estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de concurso
público (art. 37, II, da CF/88) para contratação de seu pessoal.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão geral)
(Info 759).
(DPEAC-2017-CESPE): Conforme entendimento do STF, as entidades de serviços sociais
autônomos integrantes do sistema “S” não se submetem à exigência do concurso público para a
contratação de pessoal. BL: Info 759, STF.

(Auditor Fisc. Munic.-Cuiabá/MT-2016-FGV): Edinaldo e Pedro, estudantes de direito,


travaram intenso debate a respeito da sujeição, ou não, dos serviços sociais autônomos à
exigência constitucional de que a investidura em cargo ou emprego público dependa de
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos. À luz da sistemática
constitucional e da interpretação que lhe vem sendo dispensada pelo Supremo Tribunal
Federal, é correto afirmar que os serviços sociais autônomos, na medida em que não integram a
Administração Pública, não devem observar a referida exigência constitucional. BL: Info 759,
STF.
7.19. Concurso público e natureza classificatória da prova de títulos – (Info 757)

As provas de títulos em concurso público para provimento de cargos públicos efetivos na


Administração Pública, em qualquer dos Poderes e em qualquer nível federativo, não podem
ter natureza eliminatória.
A finalidade da prova de títulos é, unicamente, a de classificar os candidatos, sem jamais
justificar sua eliminação do certame.
STF. 1ª Turma. MS 31176/DF e MS 32074/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 2/9/2014 (Info 757).

7.20. Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos
trabalhistas – (Info 756)

É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia


aprovação em concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em
relação ao empregado eventualmente contratado, ressalvados:
● o direito de ele receber os salários referentes ao período trabalhado; e
● o direito de ele levantar os depósitos do FGTS (art. 19-A da Lei 8.036/90).

STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 28/8/14 (repercussão geral) (Info 756).

7.21. CLÁUSULA DE BARREIRA EM CONCURSO PÚBLICO É CONSTITUCIONAL – (Info


736) – IMPORTANTE!!!

É constitucional a regra denominada “cláusula de barreira”, inserida em edital de concurso


público, que limita o número de candidatos participantes de cada fase da disputa, com o intuito
de selecionar apenas os concorrentes mais bem classificados para prosseguir no certame.
STF. Plenário. RE 635739/AL, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

7.22. Inconstitucionalidade de dispositivo da CE que amplie as hipóteses do art. 19 do ADCT


da CF/88 – (Info 734)

É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que preveja estabilidade para


servidores públicos admitidos sem concurso público fora das hipóteses previstas na CF/88.
O STF, contudo, decidiu modular os efeitos de uma decisão que julgou determinado artigo da
CE/AC, determinando que ela somente terá eficácia a partir de 12 meses contados da data da
publicação da ata de julgamento.
STF. Plenário. ADI 3609/AC, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 5/2/2014 (Info 734).

7.23. INCONSTITUCIONALIDADE DO PREENCHIMENTO DE CARGOS POR CONCURSO


INTERNO – (Info 727)

É inconstitucional a lei estadual que prevê que determinados cargos da Administração Pública
serão preenchidos mediante concurso do qual somente participarão servidores públicos
(concurso interno).
Essa espécie de “promoção interna” viola o princípio da ampla acessibilidade aos cargos
públicos (art. 37, II, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 917/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki,
julgado em 6/11/2013 (Info 727).

7.24. VEDAÇÃO PARA MULHERES DEVE SER JUSTIFICADA, PROPORCIONAL E


PREVISTA EM LEI – (Info 718)

A imposição de discrímen de gênero para fins de participação em concurso público somente é


compatível com a Constituição nos excepcionais casos em que demonstradas a fundamentação
proporcional e a legalidade da imposição, sob pena de ofensa ao princípio da isonomia.
STF. 2ª Turma. RE 528684/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/9/2013 (Info 718).

7.25. Contagem do termo inicial para impetração de mandado de segurança a fim de impugnar
critérios de aprovação e de classificação de concurso público – (Sem Info) – (DPERN-2015)
O termo inicial para impetração de mandado de segurança a fim de impugnar critérios de
aprovação e de classificação de concurso público conta-se do momento em que a cláusula do
edital causar prejuízo ao candidato.
STF. 2ª Turma. RMS 23586, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2011.

8. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
8.1. Constitucionalidade da Lei 9.637/98 – (Info 781) – IMPORTANTE!!! – (TJMS-2015)
(Anal. Judic./TREPE-2017) (TJMT-2018) (Anal. Judic./STJ-2018) (TJMT-2018) (TJRO-2019)

Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos,
prestadoras de atividades de interesse público e que, por terem preenchido determinados
requisitos previstos na Lei 9.637/98, recebem a qualificação de “organização social”.
A pessoa jurídica, depois de obter esse título de “organização social”, poderá celebrar com
o Poder Público um instrumento chamado de “contrato de gestão” por meio do qual
receberá incentivos públicos para continuar realizando suas atividades.
Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art.
24, XXIV, da Lei 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de
organizações sociais.
O Plenário do STF não declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação
conforme a Constituição para deixar explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF,
e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei
9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF;
c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas
devem ser conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios do “caput” do art. 37 da CF;
d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública,
objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos
termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e
e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal
de Contas da União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada.
STF. Plenário. ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, j.
15 e 16/4/15 (Info 781)
(TJSC-2019-CESPE): A respeito de organizações sociais, assinale a opção correta
considerando o entendimento do STF em sede de controle concentrado: A qualificação
da entidade como organização social configura hipótese de simples credenciamento, o
qual não exige licitação em razão da ausência de competição. BL: Info 781, STF. (vide
Item 10, abaixo)
##Atenção: Item 10 da Ementa: A atribuição de título jurídico de legitimação da
entidade através da qualificação configura hipótese de credenciamento, no qual não
incide a licitação pela própria natureza jurídica do ato, que não é contrato, e pela
inexistência de qualquer competição, já que todos os interessados podem alcançar o
mesmo objetivo, de modo includente, e não excludente.
##Atenção: Item 11 da Ementa: 11. A previsão de competência discricionária no art. 2º,
II, da Lei nº 9.637/98 no que pertine à qualificação tem de ser interpretada sob o influxo
da principiologia constitucional, em especial dos princípios da impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (CF, art. 37, caput). É de se ter por vedada, assim,
qualquer forma de arbitrariedade, de modo que o indeferimento do requerimento de
qualificação, além de pautado pela publicidade, transparência e motivação, deve
observar critérios objetivos fixados em ato regulamentar expedido em obediência ao
art. 20 da Lei nº 9.637/98, concretizando de forma homogênea as diretrizes contidas nos
inc. I a III do dispositivo.
##Atenção: Item 12 da Ementa: 12. A figura do contrato de gestão configura hipótese de
convênio, por consubstanciar a conjugação de esforços com plena harmonia entre as
posições subjetivas, que buscam um negócio verdadeiramente associativo, e não
comutativo, para o atingimento de um objetivo comum aos interessados: a realização de
serviços de saúde, educação, cultura, desporto e lazer, meio ambiente e ciência e
tecnologia, razão pela qual se encontram fora do âmbito de incidência do art. 37, XXI, da
CF.
##Atenção: Item 15 da Ementa: 15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro
Setor, não fazem parte do conceito constitucional de Administração Pública, razão pela
qual não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao dever de licitar, o que
consistiria em quebra da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade por detrás
de todo o marco regulatório instituído pela Lei. Por receberem recursos públicos, bens
públicos e servidores públicos, porém, seu regime jurídico tem de ser minimamente
informado pela incidência do núcleo essencial dos princípios da Administração Pública
(CF, art. 37, caput), dentre os quais se destaca o princípio da impessoalidade, de modo
que suas contratações devem observar o disposto em regulamento próprio (Lei nº
9.637/98, art. 4º, VIII), fixando regras objetivas e impessoais para o dispêndio de recursos
públicos.
##Atenção: Item 17 da Ementa: 17. Inexiste violação aos direitos dos servidores públicos
cedidos às organizações sociais, na medida em que preservado o paradigma com o cargo
de origem, sendo desnecessária a previsão em lei para que verbas de natureza privada
sejam pagas pelas organizações sociais, sob pena de afronta à própria lógica de eficiência
e de flexibilidade que inspiraram a criação do novo modelo.
(TJRO-2019-VUNESP): De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as
áreas da saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente
configuram serviços sociais, para os quais a Constituição Federal autoriza que
particulares atuem, por direito próprio, sem que, para tanto, seja necessária delegação
pelo poder público. BL: Info 781, STF. (vide Item 2, abaixo)
(TJMT-2018-VUNESP): De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
os serviços públicos sociais admitem a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem
que para tanto seja necessária delegação pelo poder público sob regime de concessão ou
permissão. BL: Info 781, STF. (vide Item 2, abaixo)
##Atenção: Item 2 da Ementa: 2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF,
art. 209, caput), cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia
(CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225) configuram serviços públicos sociais, em
relação aos quais a Constituição, ao mencionar que “são deveres do Estado e da
Sociedade” e que são “livres à iniciativa privada”, permite a atuação, por direito próprio,
dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder público, de
forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da Constituição.
##Atenção: Item 3 da Ementa: 3. A atuação do poder público no domínio econômico e
social pode ser viabilizada por intervenção direta ou indireta, disponibilizando
utilidades materiais aos beneficiários, no primeiro caso, ou fazendo uso, no segundo
caso, de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares executem atividades
de interesses públicos através da regulação, com coercitividade, ou através do fomento,
pelo uso de incentivos e estímulos a comportamentos voluntários.
##Atenção: Item 7 da Ementa: 7. Na essência, preside a execução deste programa de
ação institucional a lógica que prevaleceu no jogo democrático, de que a atuação privada
pode ser mais eficiente do que a pública em determinados domínios, dada a agilidade e a
flexibilidade que marcam o regime de direito privado.
##Atenção: Item 9 da Ementa: 9. O procedimento de qualificação de entidades, na
sistemática da Lei, consiste em etapa inicial e embrionária, pelo deferimento do título
jurídico de “organização social", para que Poder Público e particular colaborem na
realização de um interesse comum, não se fazendo presente a contraposição de
interesses, com feição comutativa e com intuito lucrativo, que consiste no núcleo
conceitual da figura do contrato administrativo, o que torna inaplicável o dever
constitucional de licitar (CF, art. 37, XXI).
(Anal. Judic./TREPE-2017-CESPE): Pessoa jurídica de direito privado sem fins
lucrativos, não integrante da administração pública, que atua na área de ensino e pode
contratar diretamente com o poder público por dispensa de licitação, para a prestação de
serviços contemplados no contrato de gestão firmado com o ente público, é denominada
organização social. BL: STF, Infos 628 e 781 e art. 1º da Lei 9637.
(TJMS-2015-VUNESP): Considerando a recente decisão do STF em relação à Lei Federal
no 9.637/98, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais e
suas atividades, assinale a alternativa correta: O afastamento do certame licitatório não
exime o administrador público da observância dos princípios constitucionais, de modo
que a contratação direta das Organizações Sociais deve observar critérios objetivos e
impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados. BL:
Info 781, STF.

9. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
9.1. FUNDAÇÕES: A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou
privado, a depender do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas – (Info 946) –
IMPORTANTE!!! – (TJRO-2019)

A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou
privado depende:
i) do estatuto de sua criação ou autorização e
ii) das atividades por ela prestadas.
As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como
objetos de dada fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem
se submeter ao regime jurídico de direito privado.
STF. Plenário.RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 1º e 7/8/19 (repercussão geral) (Info 946).
(TJRO-2019-VUNESP): O ente personalizado, integrante da Administração Pública indireta,
cuja criação é autorizada por lei, mas adquire existência jurídica após o registro dos seus
estatutos, é fundação de direito privado. BL: art. 37, XIX, CF e Info 946, STF.
##Atenção: ##DOD: É possível identificar duas espécies de fundação pública (fundação
instituída pelo Estado):
Fundação pública de direito PÚBLICO Fundação pública de direito PRIVADO
Estão sujeitas ao regime público. Estão sujeitas ao regime privado.
São criadas por lei específica (são uma espécie Deve ser editada uma lei específica autorizando
de autarquia, por isso também chamadas de que o Poder Público crie a fundação. Em
“fundações autárquicas”). seguida, será necessário fazer a inscrição do
estatuto dessa fundação no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas, quando, então, ela adquire
personalidade jurídica.

##Atenção: Pelas características trazidas no enunciado, é possível concluir que trata-se de uma
fundação pública de direito privado. O entendimento da doutrina majoritária é no sentido de
que as fundações públicas podem possuir personalidade jurídica de direito público ou de
direito privado, conforme definido na lei instituídora. Assim, o legislador pode optar por uma
lei criando ou autorizando a criação de uma fundação pública. Caso a criação emane
diretamente da lei, teremos fundação pública de direito público. Na hipótese de a lei
simplesmente autorizar a sua criação, os seus atos constitutivos deverão ser inscritos no
registro civil das pessoas jurídicas e, a partir de então, nascerá uma fundação pública de
direito privado.

9.2. Decreto não pode extinguir colegiado previsto em lei – (Info 944)

É proibida a extinção, por ato unilateralmente editado pelo chefe do Poder Executivo, de
colegiado cuja existência encontre menção em lei em sentido formal, ainda que ausente a
expressa referência “sobre a competência ou a composição”.
Caso concreto: o Presidente da República editou o Decreto 9.759/19 extinguindo uma série de
colegiados existentes na Administração Pública federal. O art. 1º, § 2º deste Decreto previu que
ficariam extintos os colegiados que sejam mencionados em lei, mas sem que esta tenha
definido a competência ou a composição. O STF, em medida cautelar, declarou a
inconstitucionalidade dessa previsão, considerando que a extinção desses colegiados
mencionados em lei somente poderia ocorrer também mediante lei (e não por decreto).
STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12 e 13/6/19 (Info 944).
10. EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA
10.1. A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia
mista exige autorização legislativa e licitação – (Info 943) – IMPORTANTE!!!

A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia mista


exige autorização legislativa e licitação.
Por outro lado, não se exige autorização legislativa para a alienação do controle de suas
subsidiárias e controladas. Nesse caso, a operação pode ser realizada sem a necessidade de
licitação, desde que siga procedimentos que observem os princípios da administração
pública inscritos no art. 37 da CF/88, respeitada, sempre, a exigência de necessária
competitividade.
STF. Plenário. ADI 5624 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 5 e 6/6/19 (Info
943).

10.2. É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? – (Info


858 e 920) - IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2015) (TRF2-2017)

É aplicável o regime dos precatórios às sociedades de economia mista prestadoras de


serviço público próprio do Estado e de natureza não concorrencial.
STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 23/3/2017 (Info 858).
(TRF2-2017): Pagamentos devidos pela fazenda pública federal, estadual, distrital e
municipal em virtude de sentença judiciária deverão ser feitos exclusivamente na ordem
cronológica de apresentação dos precatórios. Conforme o entendimento do STF, é
aplicável o regime de precatório apenas à União, aos estados, ao Distrito Federal, aos
municípios, às autarquias, às fundações públicas, às empresas públicas e às sociedades de
economia mista prestadoras de serviço público próprio do Estado. BL: art. 100 da CF e
Entendimento do STF.

É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de


economia mista prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de
pagamento de débitos trabalhistas.
Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita
ao regime de precatórios (art. 100, CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição
judicial de seus bens, rendas e serviços, em respeito ao princípio da legalidade
orçamentária (art. 167, VI, CF/88) e da separação funcional dos poderes (art. 2º c/c art. 60, §
4º, III).
STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 17/10/18 (Info 920).

OBS:

Regime de precatórios: O art. 100 da CF/88 prevê que, se a Fazenda Pública Federal,
Estadual, Distrital ou Municipal for condenada por sentença judicial transitada em julgado a
pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime especial
chamado de “precatório”:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais,
Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

O regime de precatórios é um privilégio instituído em favor da Fazenda Pública,


considerando que ela não terá que pagar imediatamente o valor para o qual foi condenada,
ganhando, assim, um "prazo" maior.

Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. Essa expressão
abrange:
⮚ União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
⮚ Autarquias;
⮚ Fundações;
⮚ Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
⮚ Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.

Aplicação do regime dos precatórios às sociedades de economia mista: As sociedades de


economia mista são pessoas jurídicas de direito privado formadas majoritariamente com
capital público, mas possuindo também capital privado. Em virtude dessas características,
havia divergência se o regime dos precatórios poderia ser aplicado para as sociedades de
economia mista. O STF pacificou o tema no sentido de que é possível, mas desde que essa
sociedade de economia mista seja prestadora de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial. É o que foi decidido no Plenário da Corte,
publicados no Info 858 e 920.

Não atuar em regime de concorrência e não objetivar lucro: Segundo o STF, para que a
sociedade de economia mista goze dos privilégios da Fazenda Pública, é necessário que ela
não atue em regime de concorrência com outras empresas e que não tenha objetivo de
lucro. Confira:
(...) Os privilégios da Fazenda Pública são inextensíveis às sociedades de
economia mista que executam atividades em regime de concorrência ou que
tenham como objetivo distribuir lucros aos seus acionistas. Portanto, a
empresa Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte não pode se
beneficiar do sistema de pagamento por precatório de dívidas decorrentes de
decisões judiciais (art. 100 da Constituição). (...) (STF. Plenário. RE 599628, Rel.
Min. Ayres Britto, Relator p/ Acórdão Min. Joaquim Barbosa, j. 25/5/11).

Assim, se a sociedade de economia mista atuar em mercado sujeito à concorrência ou


permitir a acumulação ou a distribuição de lucros, neste caso ela se submeterá ao regime de
execução comum aplicável às demais empresas do setor privado.

Exemplos: Você pode estar com alguma dificuldade de visualizar o que seria uma sociedade
de economia mista prestadora de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial. Por isso, vejamos três exemplos já enfrentados pelo STF:
 
1) Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL): Trata-se de uma sociedade de economia
mista prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que presta serviço
público primário e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta
sociedade de economia mista corresponde à própria atuação do Estado, já que ela não tem
objetivo de lucro e o capital social é majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o
Supremo reconheceu que ela tem direito ao processamento da execução por meio de
precatório. STF. 2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/12/15 (Info 812).
 
2) Empresa de Gestão de Recursos do Estado do Piauí S/A (EMGERPI): A EMGERPI é uma
sociedade de economia mista voltada à capacitação e redistribuição de servidores para
órgãos e entidades da Administração Pública estadual. Tem como finalidade prioritária
gerenciar recursos humanos da Administração Pública estadual, na medida em que seu
objeto social é capacitar, aperfeiçoar, absorver, redistribuir e ceder pessoal para órgãos e
entidades da Administração Pública do Piauí. Neste caso, o STF entendeu que a EMGERPI
não exerce atividade econômica em regime de concorrência, devendo, portanto, ser
submetida ao regime de precatório. STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 23/3/2017 (Info 858). No caso concreto envolvendo a EMGERPI, a Justiça do
Trabalho condenou a empresa a pagar determinadas dívidas trabalhistas e, como estas não
foram quitadas, o magistrado determinou a penhora de valores contidos na conta única do
Estado do Piauí (sócio majoritário da EMGERPI). O STF cassou a decisão afirmando que a
execução deveria seguir o rito dos precatórios e que a penhora efetuada poderia
comprometer as finanças do Estado, além de acarretar dificuldades na execução de políticas
públicas. O Min. Gilmar Mendes destacou que a decisão do magistrado afrontava
diretamente o regime de precatórios estabelecido no art. 100 da CF/88 e também os
princípios constitucionais da atividade financeira estatal, em especial o da legalidade
orçamentária (art. 167, VI, da CF/88). Além disso, a referida ordem de bloqueio constituía
interferência indevida, em ofensa aos princípios da independência e da harmonia entre os
Poderes (art. 2º, da CF/88).
 
3) Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba (CDRM/PB): Trata-se
de sociedade de economia mista que tem por finalidade executar programas e projetos de
desenvolvimento de recursos minerais e hídricos no Estado da Paraíba. STF. Plenário.
ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 17/10/18 (Info 920).

10.3. EMPRESAS PÚBLICAS: Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal,
a demissão de seus empregados – (Info 919) – IMPORTANTE!!!

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em


ato formal, a demissão de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/10/18 (repercussão geral)
(Info 919).
OBS:

Em que consiste a estabilidade do art. 41 da CF/88?


- É a garantia constitucional
- conferida ao servidor público estatutário,
- nomeado em virtude de concurso público
- para cargo de provimento efetivo,
- de permanecer no serviço público,
- desde que tenha completado mais de três anos de efetivo exercício e
- tenha sido aprovado em avaliação especial de desempenho realizada por comissão
instituída para essa finalidade.
 
Veja o texto constitucional:
Art. 41. São estáveis após três anos de efetivo exercício os servidores nomeados
para cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público. (...)
§ 4º Como condição para a aquisição da estabilidade, é obrigatória a avaliação
especial de desempenho por comissão instituída para essa finalidade.
 
Os servidores de empresas públicas e sociedades de economia mista, admitidos por concurso
público, gozam da estabilidade do art. 41 da CF/88? NÃO. A estabilidade do art. 41 da CF/88
é conferida apenas aos servidores estatutários. Os agentes públicos que atuam nas
empresas públicas e sociedades de economia mista são servidores celetistas (empregados
públicos). Logo, não gozam de estabilidade.
 
Os empregados das empresas públicas e sociedades de economia mista podem ser demitidos
sem motivação? Em 2013, o STF, ao analisar um caso envolvendo um empregado dos
Correios que havia sido demitido sem motivação, decidiu que NÃO.
Em outras palavras, o STF afirmou que a conduta da empresa pública foi errada e que a ECT
(Correios) tem o dever de motivar formalmente o ato de dispensa de seus empregados. STF.
Plenário. RE 589998, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/3/13 (Info 699).
 
Principais argumentos para essa conclusão:
⮚ Os servidores dos Correios, mesmo admitidos por concurso público, não gozam da
estabilidade preconizada no art. 41 da CF/88. No entanto, apesar de não possuírem
estabilidade, somente podem ser demitidos por meio de um procedimento formal,
assegurado ao empregado o direito ao contraditório e à ampla defesa, e ao final, esta
demissão deverá ser sempre motivada.
⮚ Os Correios possuem natureza jurídica de direito privado, mas se submetem a um
regime híbrido, ou seja, sujeitam-se a um conjunto de limitações que tem por
objetivo a realização do interesse público. Explicando de outra forma, esta entidade
submete-se a regras de direito privado, mas tais normas sofrem uma derrogação
parcial (mitigação) em favor de certas regras de direito público. Logo, o regime
aplicável à ECT não é inteiramente privado.
⮚ Exemplos de derrogações das normas de direito privado em favor de normas de
direito público: teto remuneratório, proibição de acumulação de cargos, empregos e
funções, exigência de concurso etc.
⮚ Assim, o regime dos empregados públicos não está sujeito integralmente às regras
da CLT, havendo uma derrogação (mitigação) em favor de regras de normas de
direito público, dentre elas os princípios administrativos contemplados no art. 37
da CF/88.
⮚ No caso, a motivação da demissão é justificada com base nos princípios da
isonomia e impessoalidade, evitando favorecimento ou perseguição de
empregados públicos.
⮚ Além disso, como os empregados são admitidos por concurso público, não é razoável
que sejam dispensados de forma imotivada, ou seja, sem que se observe um
paralelismo entre a admissão e a dispensa.

 Sobre o tema, vale mencionar os seguintes entendimentos do TST:


Súmula nº 390
I – O servidor público celetista da administração direta, autárquica ou
fundacional é beneficiário da estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988.
II – Ao empregado de empresa pública ou de sociedade de economia mista,
ainda que admitido mediante aprovação em concurso público, não é garantida
a estabilidade prevista no art. 41 da CF/1988.
 
OJ nº 247 SDI-I
I – A despedida de empregados de empresa pública e de sociedade de
economia mista, mesmo admitidos por concurso público, independe de ato
motivado para sua validade;
II – A validade do ato de despedida do empregado da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos (ECT) está condicionada à motivação, por gozar a
empresa do mesmo tratamento destinado à Fazenda Pública em relação à
imunidade tributária e à execução por precatório, além das prerrogativas de
foro, prazos e custas processuais.
 
Redação ampla da ementa: Conforme já dito, o caso concreto no qual o STF decidiu esse tema
envolvia um empregado dos Correios. Ocorre que a ementa do julgado ficou extremamente
genérica, especialmente o item II. Confira:
EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS – ECT. DEMISSÃO
IMOTIVADA DE SEUS EMPREGADOS. IMPOSSIBILIDADE. NECESSIDADE
DE MOTIVAÇÃO DA DISPENSA. RE PARCIALEMENTE PROVIDO.
I - Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da
CF, salvo aqueles admitidos em período anterior ao advento da EC nº 19/1998.
Precedentes.
II - Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e isonomia, que
regem a admissão por concurso público, a dispensa do empregado de
empresas públicas e sociedades de economia mista que prestam serviços
públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que tais princípios,
observados no momento daquela admissão, sejam também respeitados por
ocasião da dispensa.
III – A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de
uma possível quebra do postulado da impessoalidade por parte do agente
estatal investido do poder de demitir.
IV - Recurso extraordinário parcialmente provido para afastar a aplicação, ao
caso, do art. 41 da CF, exigindo-se, entretanto, a motivação para legitimar a
rescisão unilateral do contrato de trabalho.
STF. Plenário. RE 589998, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/03/2013.
 
Além disso, se você ler o voto do Min. Ricardo Lewandoski, vai perceber que ele fala de
forma também genérica, incluindo indistintamente todas as empresas públicas e sociedades
de economia mista. Diante disso, os livros e os professores passaram a dizer que a decisão do
STF no RE 589998 valeria para todas as empresas públicas e sociedades de economia mista.
 
Inconformismo de outras empresas públicas e sociedades de economia mista: Ocorre que
outras empresas públicas e sociedades de economia mista que exploram atividade econômica
não se conformaram com isso dizendo que elas são diferentes dos Correios e que a ECT
recebe tratamento muito parecido com o de Fazenda Pública, tanto que goza de imunidade
tributária (STF RE 601392, Rel. p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/02/2013).
Assim, o Banco do Brasil (sociedade de economia mista federal que explora atividade
econômica) ingressou com embargos de declaração dizendo o seguinte: olha, há uma
obscuridade no acórdão. Isso porque só se discutiu a questão dos Correios e a tese ficou
muito genérica. Seria bom o STF esclarecer essa questão.
 
Decisão dos embargos: Em 2018, o STF, ao julgar os embargos de declaração, afirmou que a
referida decisão (RE 589998/PI) só se aplica realmente para os Correios, considerando que o
caso concreto envolvia um empregado da ECT. Quanto às demais empresas públicas e
sociedades de economia mista, o STF afirmou que ainda não decidiu o tema, ou seja, terá
que ser analisado caso a caso. Assim, por enquanto, essa decisão, ao menos formalmente,
só se aplica para os Correios. O STF retificou a tese genérica que havia fixado anteriormente
e agora afirmou que:
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de
motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados. STF. Plenário.
RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (Info 919).

10.4. EMPRESAS PÚBLICAS: É possível aplicar o regime de precatórios às empresas


públicas? – (Info 910)

Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de personalidade


jurídica de direito privado com patrimônio próprio e autonomia administrativa que
exerçam atividade econômica sem monopólio e com finalidade de lucro.
STF. 1ª T. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, j.
7/8/18 (Info 910).
OBS:

Regime de precatórios: O art. 100 da CF/88 prevê que, se a Fazenda Pública Federal,
Estadual, Distrital ou Municipal for condenada por sentença judicial transitada em julgado a
pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime especial
chamado de “precatório”:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais,
Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta
dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
 
O regime de precatórios é um privilégio instituído em favor da Fazenda Pública,
considerando que ela não terá que pagar imediatamente o valor para o qual foi condenada,
ganhando, assim, um "prazo" maior.
 
Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais.
Essa expressão abrange:
⮚ União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
⮚ Autarquias;
⮚ Fundações;
⮚ Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
⮚ Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.

 
Empresas públicas: Empresa pública é...
- a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,
- com criação autorizada por lei e
- com patrimônio próprio,
- cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo DF ou pelos
Municípios.
 
Observação importante: É permitido que uma empresa pública seja formada por mais de
um ente (ex: União e Estado-membro) ou entidade (ex: Estado-membro e empresa pública
federal). Veja o que diz a Lei nº 13.303/2016:
Art. 3º (...)
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça em
propriedade da União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município, será
admitida, no capital da empresa pública, a participação de outras pessoas
jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da administração
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
 
Finalidade das empresas públicas e sociedades de economia mista: As empresas públicas e as
sociedades de economia mista podem:
a) Explorar atividades de natureza econômica;
b) Executar serviços públicos.
 
O objetivo precípuo do Poder Público não é a realização de atividades econômicas, mas sim a
prestação de serviços públicos. Por essa razão, a Constituição Federal (art. 173) prevê que o
Estado somente deverá fazer a exploração direta da atividade econômica quando isso for
necessário por razões de:
⮚ Segurança nacional ou
⮚ Relevante interesse coletivo.

 
A Lei nº 13.303/2016 determina que:
Art. 2º A exploração de atividade econômica pelo Estado será exercida por meio
de empresa pública, de sociedade de economia mista e de suas subsidiárias.
 
Desse modo, se o Poder Público decide desenvolver determinada atividade econômica, ele
precisará fazer isso por meio de uma empresa pública ou sociedade de economia mista.
 
Bens: Como são pessoas jurídicas de direito privado, os bens das empresas públicas e das
sociedades de economia mista são classificados como bens privados (art. 98 do Código
Civil). Assim, em regra, as normas que regem esses bens são de direito privado, ou seja,
recebem o mesmo tratamento de bens privados. No entanto, apesar disso, existem algumas
mitigações a essa regra, isto é, situações nas quais se aplicam normas de direito público
para esses bens quando tais entidades forem prestadoras de serviços públicos. Ex:
proibição da penhora dos bens que sejam necessários à continuidade dos serviços.
 
O regime de precatórios é aplicável para as empresas públicas? Depende:
1) Se for uma empresa pública prestadora de serviços públicos: SIM. Embora, em regra, as
sociedades de economia mista e as empresas públicas estejam submetidas ao regime próprio
das pessoas jurídicas de direito privado, o STF tem estendido algumas prerrogativas da
Fazenda Pública a determinadas empresas estatais prestadoras de relevantes serviços
públicos. Exemplos: Correios (ECT), Casa da Moeda, Infraero e companhias estaduais de
saneamento básico (nas hipóteses em que o capital social seja majoritariamente público e o
serviço seja prestado em regime de exclusividade e sem intuito de lucro). Nesse sentido:
A Casa da Moeda do Brasil executa e presta serviço público mediante outorga
da União. A CF/88 conferiu a ela, em regime de monopólio, o encargo de emitir
moeda (art. 21, VII). Em razão disso, o STF atribuiu à Casa da Moeda as
prerrogativas de Fazenda Pública, como imunidade tributária e execução pelo
regime de precatórios. STF. 1ª Turma. RE 1009828 AgR, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 24/08/2018.
 
2) Se for uma empresa pública que desenvolva atividade econômica sem monopólio e com
finalidade de lucro: NÃO.
Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de
personalidade jurídica de direito privado com patrimônio próprio e autonomia
administrativa que exerçam atividade econômica sem monopólio e com
finalidade de lucro. STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de
Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/8/2018 (Info 910).

10.5. É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? – (Info


812) – IMPORTANTE!!! ATENÇÃO!!! ADVOCACIA PÚBLICA!!! – (MPSC-2016)

As sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do


Estado e de natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.
O caso concreto no qual o STF decidiu isso envolvia uma sociedade de economia mista
prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que prestava serviço
público primário e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta
sociedade de economia mista correspondia à própria atuação do Estado, já que ela não
tinha objetivo de lucro e o capital social era majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o
STF reconheceu que ela teria direito ao processamento da execução por meio de
precatório.
STF. 2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/12/15 (Info 812).
(MPSC-2016): Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, as sociedades de
economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de
natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.

10.6. CE não pode ampliar a abrangência do art. 19 do ADCT da CF/88 – (Info 759)

É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição estadual que amplia a abrangência do


art. 19 do ADCT da CF/88 e confere estabilidade para servidores das empresas públicas e
sociedades de economia mista que ingressaram sem concurso público até cinco anos antes
da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1808/AM, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/9/14 (Info 759).

10.7. Nomeação de dirigentes de entidades e prévia aprovação da ALE – (Info 755) –


IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2016)

O STF já pacificou o entendimento de que não padece de nenhum vício constitucional a


previsão de participação do Poder Legislativo na nomeação de dirigentes de autarquias ou
fundações públicas.
É constitucional lei estadual que condiciona a nomeação dos dirigentes de AUTARQUIAS
e FUNDAÇÕES à prévia aprovação da Assembleia Legislativa.
Por outro lado, é inconstitucional exigir essa prévia aprovação da ALE se os dirigentes
forem de EMPRESAS PÚBLICAS e SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA.
É inconstitucional a exigência de que os dirigentes de entidades da administração indireta
forneçam à ALE a declaração atualizada de seus bens e de suas ocupações para serem
fiscalizados pelo Parlamento. Tal situação viola a separação de poderes.
STF. Plenário. ADI 2225/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/8/14 (Info 755).

11. AGÊNCIAS REGULADORAS


11.1. AGÊNCIAS REGULADORAS E FUNÇÃO NORMATIVA: É constitucional a
previsão de que a ANVISA pode proibir produtos e insumos em caso de violação da
legislação ou de risco iminente à saúde, inclusive cigarros com sabor e aroma – (Info 889)

É constitucional o art. 7º, III e XV, da Lei 9.782/99, que preveem que compete à ANVISA:
III - estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as
diretrizes e as ações de vigilância sanitária;
XV - proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a distribuição e a
comercialização de produtos e insumos, em caso de violação da legislação
pertinente ou de risco iminente à saúde;
Entendeu-se que tais normas consagram o poder normativo desta agência reguladora,
sendo importante instrumento para a implementação das diretrizes, finalidades, objetivos
e princípios expressos na Constituição e na legislação setorial.
Além disso, o STF, após empate na votação, manteve a validade da Resolução RDC
14/2012-ANVISA, que proíbe a comercialização no Brasil de cigarros com sabor e aroma.
Esta parte do dispositivo não possui eficácia erga omnes e efeito vinculante. Significa dizer
que, provavelmente, as empresas continuarão ingressando com ações judiciais, em 1ª
instância, alegando que a Resolução é inconstitucional e pedindo a liberação da
comercialização dos cigarros com aroma. Os juízes e Tribunais estarão livres para, se assim
entenderem, declararem inconstitucional a Resolução e autorizar a venda. Existem,
inclusive, algumas decisões nesse sentido e que continuam valendo.
STF. Plenário. ADI 4874/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 1º/2/18 (Info 889).

11.2. Lei estadual que trata sobre a nomeação e destituição de dirigentes de agências
reguladoras – (Info 759) – (Anal. Previdência/IPERON-2017)

É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de determinada agência


reguladora somente poderão ser nomeados após previamente aprovados pela Assembleia
Legislativa.
Por outro lado, é INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes de
agência reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva
da Assembleia Legislativa, sem qualquer participação do Governador do Estado. Essa
previsão viola o princípio da separação dos poderes (at. 2º da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/9/14 (Info 759).
(Anal. Previdência/IPERON-2017-IBADE): As Agências Reguladoras tomaram um espaço
de destaque no cenário do Direito Administrativo brasileiro, especialmente a partir da
Constituição de 1988. São autarquias em regime especial, sendo dotadas de algumas
características especiais. Identifique a alternativa correta acerca das Agências Reguladoras:
Será considerada inconstitucional lei estadual que venha estabelecer que os dirigentes de
agência reguladora estadual somente possam ser destituídos de seus cargos por decisão
exclusiva da respectiva Assembleia Legislativa estadual, sem qualquer participação do
Governador desse Estado. BL: Info 759, STF.

12. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO


12.1. CASOS CONCRETOS: A União não tem responsabilidade pelos prejuízos supostamente
causados à indústria de brinquedos nacional pela redução do imposto de importação de
brinquedos na década de 1990 – (Info 963)

O Ministério da Fazenda editou a Portaria nº 492/94, reduzindo de 30% para 20% a alíquota do
imposto de importação dos brinquedos em geral. Com a redução da alíquota, houve a entrada
de um enorme volume de brinquedos importados no Brasil, oriundos especialmente da China,
sendo estes bem mais baratos que os nacionais. Como resultado, várias indústrias de
brinquedos no Brasil foram à falência e, mesmo as que permaneceram, sofreram grandes
prejuízos. Uma famosa indústria de brinquedos ingressou com ação contra a União afirmando
que a Portaria, apesar de ser um ato lícito, gerou prejuízos e que, portanto, o Poder Público
deveria ser condenado a indenizá-la. O STJ não concordou com o pedido.
Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais prejuízos financeiros do setor privado
decorrentes da alteração de política econômico-tributária no caso de o ente público não ter se
comprometido, formal e previamente, por meio de determinado planejamento específico.
A referida Portaria tinha finalidade extrafiscal e a possibilidade de alteração das alíquotas do
imposto de importação decorre do próprio ordenamento jurídico, não havendo que se falar em
quebra do princípio da confiança.
O impacto econômico-financeiro sobre a produção e a comercialização de mercadorias pelas
sociedades empresárias causado pela alteração da alíquota de tributos decorre do risco da
atividade próprio da álea econômica de cada ramo produtivo.
Não havia direito subjetivo da indústria quanto à manutenção da alíquota do imposto de
importação.
STJ. 1ª T. REsp 1492832-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 04/09/18 (Info 634).
STF. 1ª T. ARE 1175599 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 10/12/19 (Info 963).

12.2. TESE DA DUPLA GARANTIA: A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização
contra o Estado; se este for condenado, poderá acionar o servidor que causou o dano em caso de
dolo ou culpa; o ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra o agente público –
(Info 947) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

A teor do disposto no art. 37, § 6º, da CF/88, a ação por danos causados por agente público deve
ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço
público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra
o responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/8/19 (repercussão geral) (Info 947).
OBS:

Imagine a seguinte situação hipotética: Jomar, auditor de tributos estaduais, estava dirigindo o
veículo oficial da SEFAZ, indo em direção a uma empresa onde iria realizar uma fiscalização.
Como já estava atrasado, Jomar empreendeu alta velocidade e não viu quando Cristina
atravessava na faixa, razão pela qual acabou atropelando a pedestre, que sofreu inúmeras lesões
corporais. Cristina deseja ajuizar uma ação de indenização pelos danos materiais e morais que
sofreu em decorrência do acidente.

A vítima poderá propor a ação contra o Estado? SIM. O Estado possui responsabilidade civil
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros. Trata-se de previsão expressa
do art. 37, § 6º, da CF/88:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.

A responsabilidade do Estado, nesse caso, é OBJETIVA. Assim, a vítima somente terá que
provar:
• O fato do serviço (conduta do agente público, sem precisar provar dolo ou culpa);
• O dano sofrido;
• O nexo de causalidade entre o fato e o dano.

A vítima poderá propor a ação diretamente contra o servidor causador do dano? Cristina poderá
ajuizar a ação de indenização contra Jomar? NÃO. A vítima somente poderá ajuizar a ação
contra o Estado (Poder Público). Se este for condenado, poderá acionar o servidor que causou o
dano em caso de dolo ou culpa. O ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra o
agente público. Da leitura do § 6º do art. 37 da CF/88, é possível perceber que o dispositivo
consagrou duas garantias:
• a primeira, em favor do particular lesado, considerando que a CF/88 assegura que
ele poderá ajuizar ação de indenização contra o Estado, que tem recursos para
pagar, sem ter que provar que o agente público agiu com dolo ou culpa;
• a segunda garantia é em favor do agente público que causou o dano. A parte
final do § 6º do art. 37, implicitamente, afirma que a vítima não poderá ajuizar a
ação diretamente contra o servidor público que praticou o ato. Este servidor
somente pode ser responsabilizado pelo dano se for acionado pelo próprio Estado,
em ação regressiva, após o Poder Público já ter ressarcido o ofendido.

Outro argumento invocado é o princípio da impessoalidade. O agente público atua em nome do


Estado (e não em nome próprio). Logo, quem causa o dano ao particular é o Estado (e não o
servidor). Por isso, o prejudicado só pode acionar o Poder Público. É a opinião, por exemplo, de
José Afonso da Silva (Curso de Direito Constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 1998).

Tese fixada pelo STF: Já existiam alguns julgados do STF sustentando o entendimento acima
exposto. A novidade é que agora o STF reafirmou a posição, fixando a seguinte tese sob a
sistemática da repercussão geral:
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados
por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do
ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/8/19 (repercussão geral)
(Info 947).

Caso concreto julgado pelo STF: Um servidor público do Município de Tabapuã (SP) que ocupava
o cargo de motorista de ambulância ajuizou ação indenizatória por danos materiais e morais
contra a Prefeita, à qual fazia oposição política. Ele alegou que, após ter sido eleito Vereador,
passou a ser alvo de perseguição política e sofreu sanção administrativa sem observância do
devido processo legal. Sustentou ainda que, sem justificativa, foi removido da Diretoria Municipal
de Saúde para um posto a 30km de sua residência, em contrariedade a uma lei municipal que
veda a transferência de servidores ocupantes de cargos eletivos. A Prefeita contestou a demanda
alegando, dentre outros argumentos, que praticou os atos na condição de agente política, o que
levaria à responsabilização objetiva da administração. Logo, afirmou que não poderia ser incluída
no polo passivo desta ação. O caso chegou até o STF, que concordou com a argumentação da ré. A
ação de indenização deve ser ajuizada sempre contra o Estado e este tem o direito de,
regressivamente, no caso de dolo ou culpa, acionar o servidor. No caso específico, a ação foi
proposta diretamente contra a Prefeita, embora ela devesse ser acionada pelo Município apenas
em caráter regressivo.

Teoria da dupla garantia: Apesar de o Min. Marco Aurélio não ter mencionado isso
expressamente em seu voto, a posição acima exposta ficou conhecida no meio jurídico como
“teoria da dupla garantia”. Essa expressão foi cunhada pelo então Min. Carlos Ayres Britto, no RE
327904, j. 15/08/2006:
O § 6º do art. 37 da Magna Carta autoriza a proposição de que somente as pessoas
jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem
serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos
a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na
qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Esse mesmo
dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do
particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de
direito público, ou de direito privado que preste serviço público, dado que bem
maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente
sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente
responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro
funcional se vincular. STF. 1ª T. RE 327904, Rel. Min. Carlos Britto, j. 15/8/06.

12.3. O Estado responde, objetivamente, pelos danos causados por notários e registradores –
(Info 932) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no
exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o
responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que notários e
oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j. 27/2/19 (repercussão geral) (Info 932).
OBS:

Ação de regresso: Vale ressaltar que, se o Estado for condenado e pagar a indenização à vítima, ele
tem o dever de cobrar de volta do tabelião ou registrador o valor que pagou. Em outras palavras,
depois de pagar a indenização, o Estado deve, obrigatoriamente, ajuizar ação de regresso contra
o responsável pelo dano. Se o Estado não ajuizar a ação de regresso, os agentes públicos
responsáveis por isso (exs: Governador, Procurador-Geral do Estado, Secretário de Fazenda, a
depender do caso concreto e da organização administrativa do ente) poderão responder por ato
de improbidade administrativa.
Nesta ação de regresso, o Estado, para ser indenizado, deverá comprovar que o tabelião ou
registrador agiu com dolo ou culpa? Qual é o tipo de responsabilidade civil dos notários e
registradores? SIM. Trata-se de responsabilidade SUBJETIVA.

 Ação de indenização proposta por pessoa que sofreu


dano em razão de ato de notário ou registrador
Se for proposta contra o Estado: Se for proposta contra o tabelião ou registrador:
Responsabilidade objetiva. Responsabilidade subjetiva
Prazo prescricional: 5 anos. Prazo prescricional: 3 anos
Receberá por precatório ou RPV. Receberá por execução comum.
 
A Lei 13.286/16 alterou o art. 22 da Lei nº 8.935/94 prevendo que a responsabilidade civil dos
notários e registradores é subjetiva. Essa opção do legislador é válida ou viola o art. 37, § 6º da
CF/88? O legislador poderia ter estipulado a responsabilidade subjetiva? Esse dispositivo é
constitucional? A maioria dos Ministros entendeu que sim, ou seja, trata-se de dispositivo
constitucional. O art. 236, § 1º, da CF/88 é uma norma de eficácia limitada na qual o constituinte
outorgou competência para o legislador infraconstitucional definir qual seria o regime de
responsabilidade dos notários e registradores. Veja:
Art. 236 (...)
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos
notários, dos oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus
atos pelo Poder Judiciário.

Assim, a responsabilidade civil dos notários e registradores não precisa ser, necessariamente,
objetiva, tal qual prevê o art. 37, § 6º, da CF/88, considerando que o constituinte facultou ao
legislador a opção de estipular regra diversa. Em outras palavras, a própria Constituição Federal
retirou o assento constitucional da regulação da responsabilidade civil e criminal dos notários,
relegando-a à autoridade legislativa.

A disciplina conferida à matéria pelo legislador consagra a responsabilidade civil subjetiva dos
notários e oficiais de registro. Portanto, não compete ao STF fazer interpretação analógica e
extensiva, a fim de equiparar o regime jurídico da responsabilidade civil de notários ao das
pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos (art. 37, § 6º, da CF/88).
Ademais, o art. 37, § 6º, da CF/88 se refere a “pessoas jurídicas” prestadoras de serviços públicos,
ao passo que notários e tabeliães respondem civilmente como “pessoas naturais” delegatárias de
serviço público, nos termos do referido dispositivo legal.

Jurisprudência do STF: Vale ressaltar que a conclusão acima exposta já era o entendimento do STF.
No entanto, o STJ possuía inúmeros julgados em sentido diferente (ex: AgRg no REsp 1377074/RJ)
e agora aquele Tribunal terá que se adequar à posição do STF, tendo em vista que a tese foi fixada
sob a sistemática da repercussão geral.

Como o tema já foi cobrado em concursos:


⮚ (Analista Judiciário - TRF 2 - CONSUPLAN - 2017) A Administração Pública responde
objetivamente pelos atos cometidos por notários e oficiais de registro que, no exercício de
sua função, causem prejuízos a terceiros (Gabarito da Banca: Errado; Gabarito Atualizado:
CORRETO)

12.4. CASOS CONCRETOS: Responsabilidade civil da concessionária que administra a


rodovia por furto ocorrido em seu pátio – (Info 901)

A pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público possui responsabilidade


civil em razão de dano decorrente de crime de furto praticado em suas dependências, nos
termos do art. 37, § 6º, da CF/88.
Caso concreto: Em 1997, o caminhão de uma empresa transportadora foi parado na balança de
pesagem na Rodovia Anhanguera (SP), quando se constatou excesso de peso. Vale ressaltar que
esta rodovia era administrada pela DERSA. Os agentes da concessionária determinaram que o
condutor estacionasse o veículo no pátio da concessionária e, em seguida, conduziram-no até o
escritório para ser autuado.
Aproximadamente 10 minutos depois, ao retornar da autuação para o caminhão, o condutor
observou que o veículo havia sido furtado.
O STF condenou a Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A, empresa concessionária
responsável pela rodovia a indenizar a transportadora.
O Supremo reconheceu a responsabilidade civil da prestadora de serviço público, ao considerar
que houve omissão no dever de vigilância e falha na prestação e organização do serviço.
STF. 1ª Turma. RE 598356/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/5/2018 (Info 901).
OBS: Com base no art. 37, § 6º, da CF/88, o Min. Marco Aurélio entendeu que há
responsabilidade civil objetiva do Estado, ou da empresa prestadora do serviço público, em
razão de dano decorrente de crime de furto praticado em posto de pesagem, considerada a
omissão no dever de vigilância e falha na prestação e organização do serviço. Vamos relembrar o
que diz o art. 37, § 6º da CF/88:

Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.
 
Repare que o STF reconheceu a responsabilidade objetiva da concessionária pela omissão no dever
de vigilância e falha na prestação e organização do serviço. O Min. Marco Aurélio considerou que
o Estado, por ter maior quantidade de poderes e prerrogativas, deve suportar o ônus das
atividades desenvolvidas. “Não há espaço para afastar responsabilidade independentemente de
culpa, mesmo sob a ótica da omissão, ante o princípio da legalidade, presente a teoria do risco
administrativo”.

Ainda segundo o Ministro Relator, o STF, no RE 841526, consolidou o entendimento de que o art.
37, § 6º da CF/88 aplica-se também para as omissões administrativas.

12.5. Estado deve indenizar preso que se encontre em situação degradante – (Info 854) –
IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!! (TJPB-2015) (TJDFT-2015) (DPERS-2018)
(TJBA-2019)

Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os
danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento.
Portanto, a violação a direitos fundamentais causadora de danos pessoais a detentos em
estabelecimentos carcerários não pode ser simplesmente relevada ao argumento de que a
indenização não tem alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente
considerado, que depende da definição e da implantação de políticas públicas específicas,
providências de atribuição legislativa e administrativa, não de provimentos judiciais.
STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, j.
16/2/17 (repercussão geral) (Info 854).
(DPERS-2018-FCC): Em uma unidade prisional brasileira, superlotada e na qual ocorrem
violações diárias de direitos humanos pela ausência de condições mínimas de saúde, higiene,
segurança e preservação da intimidade, um preso cumpriu integralmente o tempo
correspondente de privação de liberdade de determinada pena. No período, foi assediado
moral e fisicamente de várias formas, ficou diversas vezes privado de sol e de banho, não
dormiu por muitas noites por falta de colchões, desenvolveu doença pulmonar e ficou
viciado em crack, substância com a qual jamais havia tido contato antes da privação de
liberdade. O Estado em que situada a unidade prisional passa por gravíssima crise financeira
e atrasa salários de seus servidores, mas aplica na gestão da saúde, educação e segurança
pública os percentuais constitucionais e legais mínimos previstos, além de gastar nos limites
de sua lei orçamentária, o que foi respeitado durante todo o período em que o apenado
cumpriu pena. Considerando a situação acima e a jurisprudência recente do STF, decidida em
sede de repercussão geral, que se assemelha ao fato narrado, considerada a Teoria da Reserva
do Possível, os danos experimentados pelo preso deverão ser indenizados pelo Estado, tanto
os danos materiais como os morais, independentemente de comprovação de culpa na
fiscalização das condições de saúde e higiene da unidade prisional, sendo irrelevante
conhecer se foram aplicados todos os recursos previstos na lei orçamentária nas áreas da
segurança e saúde prisional. BL: STF, Info 854.

OBS:
Estado é responsável guarda e segurança dos presos: O Estado é responsável pela guarda e
segurança das pessoas submetidas a encarceramento, enquanto ali permanecerem detidas. Assim,
é dever do Poder Público mantê-las em condições carcerárias com mínimos padrões de
humanidade estabelecidos em lei, bem como, se for o caso, ressarcir os danos que daí decorrerem.
A jurisprudência do STF entende que o Estado possui responsabilidade objetiva pela integridade
física e psíquica daqueles que estão sob sua custódia.
“A negligência estatal no cumprimento do dever de guarda e vigilância dos detentos
configura ato omissivo a dar ensejo à responsabilidade objetiva do Estado, uma vez
que, na condição de garante, tem o dever de zelar pela integridade física dos
custodiados” (trecho do voto do Min. Gilmar Mendes no ARE 662563 AgR, julgado
em 20/03/2012).

Dever imposto pelo ordenamento nacional e internacional: O dever do Estado de garantir a


segurança pessoal, física e psíquica dos detentos é imposto não apenas no ordenamento nacional,
mas também por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
Vejamos o fundamento constitucional, legal e convencional:
✔ Constituição Federal, art. 5º, XLVII, “e”; XLVIII; XLIX;
✔ Lei 7.210/84 (LEP), arts. 10; 11; 12; 40; 85; 87; 88;
✔ Lei 9.455/97 (Lei de tortura);
✔ Lei 12.874/2013 (Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura);
✔ Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos das Nações Unidas, de 1966, arts. 2; 7; 10;
e 14;
✔ Convenção Americana de Direitos Humanos, de 1969, arts. 5º; 11; 25;
✔ Princípios e Boas Práticas para a Proteção de Pessoas Privadas de Liberdade nas Américas
– Resolução 01/08, aprovada em 13 de março de 2008, pela Comissão Interamericana de
Direitos Humanos;
✔ Convenção da ONU contra Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, de 1984; e
✔ Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros – adotadas no 1º Congresso das
Nações Unidas para a Prevenção ao Crime e Tratamento de Delinquentes, de 1955.

Péssimas condições do sistema prisional: Como é do conhecimento de todos, o sistema prisional


brasileiro vive uma grande crise. São observados inúmeros problemas, como a superlotação e a
falta de condições mínimas de saúde e de higiene.

O STF, inclusive, já reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas
Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas
privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas. A
ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma
verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do
agravamento da situação. Nesse sentido: STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, j. 9/9/15 (Info 798).

Responsabilidade civil do Estado: A Constituição Federal determina que cabe ao Estado


responder pelos danos causados por ação ou omissão de seus agentes, em face da
autoaplicabilidade do art. 37, § 6º:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.

O Estado possui o dever de manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade


previstos no ordenamento jurídico. Se esse dever é descumprido, surge para o Poder Público a
responsabilidade de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento. Assim,
ocorrido o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus
agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.

Não aplicação do princípio da reserva do possível: Não há como acolher o argumento que invoca
o "princípio da reserva do possível". Segundo este princípio, os recursos públicos são limitados e
as necessidades ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado atender a todas
as demandas sociais. Ocorre que só faz sentido considerar este princípio em ações judiciais nas
quais está sendo pedida a implementação de direitos fundamentais a prestações, especialmente
direitos de natureza social (ex: saúde, educação etc.). Em tais casos, discute-se se é possível
conceder o direito pleiteado mesmo que não haja, em tese, capacidade financeira do Estado. Aqui,
contudo, a situação é diferente. Neste caso, a matéria jurídica se situa no âmbito da
responsabilidade civil do Estado de responder pelos danos causados por ação ou omissão de seus
agentes, nos termos previstos no art. 37, § 6º, da CF/88. Trata-se de dispositivo autoaplicável (de
eficácia plena), que não depende de lei ou de qualquer outra providência administrativa.
Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus
agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.

A criação de subterfúgios teóricos, tais como a separação dos Poderes, a reserva do possível e a
natureza coletiva dos danos sofridos, para afastar a responsabilidade estatal pelas calamitosas
condições da carceragem afronta não apenas o sentido do art. 37, § 6º, da CF, como também gera o
esvaziamento dos dispositivos constitucionais, convencionais e legais que impõem ao Estado o
dever do Estado de garantir a integridade física e psíquica dos detentos.

Quem deverá pagar esta indenização? O Estado-membro responsável pela unidade prisional. Se as
péssimas condições forem verificadas em presídio federal (o que não se tem verificado na prática),
neste caso a indenização seria paga pela União.

Como é o pagamento desta indenização? Pode ser de outra forma que não seja dinheiro? NÃO.
Durante os debates do julgamento, o Min. Barroso propôs que a indenização não fosse em
dinheiro, mas sim por meio de remição da pena. Em vez de receber uma reparação pecuniária, os
presos que sofrem danos morais por cumprirem pena em presídios com condições degradantes
teriam direito ao "abatimento" de dias da pena. Vale ressaltar que esta solução do Ministro Barroso
não tem previsão na lei e seria feita por meio da aplicação, por analogia, do art. 126 da LEP:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá
remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

Pela proposta do Ministro, os danos morais causados a presos por superlotação ou condições
degradantes deveriam ser reparados, preferencialmente, pela remição de parte do tempo da pena
– à razão de um dia de remição para cada 3 a 7 dias cumpridos sob essas condições adversas, a
critério do juiz da Vara de Execuções Penais competente. Barroso argumentou que, com a solução,
ganha o preso, que reduz o tempo de prisão, e ganha o Estado, que se desobriga de despender
recursos com indenizações, dinheiro que pode ser, inclusive, usado na melhoria do sistema.

O voto do Min. Barroso foi acompanhado por Luiz Fux e Celso de Mello, sendo, portanto,
minoritário (vencido).

Assim, a maioria do STF decidiu que a indenização deve ser mesmo em pecúnia.

Valor da condenação: O Estado do Mato Grosso do Sul foi condenado a indenizar o preso em R$ 2
mil.

12.6. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO: Prazo prescricional da ação de ressarcimento ao erário –


(Info 813 e Info 830) – (MPSC-2016) (TJSC-2017)

É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil.


Dito de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao erário decorrente de um ilícito civil
e deseja ser ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em lei.
Vale ressaltar, entretanto, que essa tese não alcança prejuízos que decorram de ato de
improbidade administrativa que são considerados imprescritíveis (art. 37, § 5º).
STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 3/2/16 (repercussão geral) (Info 813).

Em embargos de declaração opostos contra esta decisão, o STF afirmou que:


a) O conceito de ilícito civil deve ser buscado pelo método de exclusão: não se consideram
ilícitos civis aqueles que decorram de infrações ao direito público, como os de natureza penal,
os decorrentes de atos de improbidade e assim por diante.
b) As questões relacionadas com o início do prazo prescricional não foram examinadas no
recurso extraordinário porque estão relacionadas com matéria infraconstitucional, que devem
ser decididas segundo a interpretação da legislação ordinária.
c) Não deveria haver modulação dos efeitos, considerando que na jurisprudência do STF não
havia julgados afirmando que as pretensões de ilícito civil seriam imprescritíveis. Logo, o
acórdão do STF não frustrou a expectativa legítima da Administração Pública.
STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 3/2/16 (repercussão geral) (Info 813).
STF. Plenário. RE 669069 ED/MG, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 16/6/16 (Info 830).

12.7. RESPONSABILIDADE CIVIL: CASOS CONCRETOS: Constitucionalidade do art. 1ºC da


Lei 9.494/97 – (Info 824)

A fixação do prazo prescricional de 5 anos para os pedidos de indenização por danos causados
por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos, constante do art. 1º-C da Lei 9.494/97, é constitucional.
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).
OBS:

MP 2.102-27/2001 e o art. 1ºC da Lei nº 9.494/97: A MP 2.102-27/01 inseriu o art. 1º C na Lei nº


9.494/97 prevendo o seguinte:
Art. 1º-C. Prescreverá em cinco anos o direito de obter indenização dos danos
causados por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas
de direito privado prestadoras de serviços públicos.

Esse dispositivo inserido é constitucional? SIM. Em verdade, esse preceito apenas reproduz o que
já era previsto no art. 1º do Decreto 20910/32. A única novidade foi incluir, entre os destinatários
da norma, as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público, atribuindo-lhes
o mesmo regime prescricional das pessoas jurídicas de direito público.

Essa equiparação se justifica em razão do disposto no § 6º do art. 37 da CF/88, que expressamente


equipara essas entidades às pessoas de direito público relativamente ao regime de
responsabilidade civil pelos atos praticados por seus agentes. Vale ressaltar que, em razão da
previsão específica do art. 1º C da Lei nº 9.494/97, o prazo prescricional para ações de indenização
contra a Fazenda Pública e contra as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços
públicos é de 5 anos, não se aplicando o prazo de 3 anos previsto no art. 206, § 3º, V, do Código
Civil.

12.8. Responsabilidade civil do Estado em caso de morte de detento – (Info 819) –


IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2014/2016) (TJPR-2017) (Anal.-CRBio/1ªRegião-2017) (TJCE-2018)
(TJMG-2018) (TJBA-2019) (TJCE-2018) (TJMS-2020)

Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX,
da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento.
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 30/3/16 (repercussão geral) (Info 819).

Não haverá responsabilidade civil do Estado se o Tribunal de origem, com base nas provas
apresentadas, decide que não se comprovou que a morte do detento foi decorrente da omissão
do Poder Público e que o Estado não tinha como montar vigilância a fim de impedir que o preso
ceifasse sua própria vida.
Tendo o acórdão do Tribunal de origem consignado expressamente que ficou comprovada causa
impeditiva da atuação estatal protetiva do detento, rompeu-se o nexo de causalidade entre a
suposta omissão do Poder Público e o resultado danoso.
STJ. 2ª T. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 08/02/2018.
(TJMS-2020-FCC): Em conhecido acórdão proferido em regime de repercussão geral, versando
sobre a morte de detento em presídio − Recurso Extraordinário n° 841.526 (Tema 592) – o STF
confirmou decisão do TJRS, calcada em doutrina que, no tocante ao regime de
responsabilização estatal em condutas omissivas, distingue-a conforme a natureza da omissão.
Segundo tal doutrina, em caso de omissão específica, deve ser aplicado o regime de
responsabilização objetiva; em caso de omissão genérica, aplica-se o regime de
responsabilização subjetiva. BL: Info 819, STF (vide trechos destacados ema amarelo na nota
de rodapé). 1
##Atenção: ##Em resumo: No julgamento do RE nº 841.526 (Tema 592), firmado em sede de
repercussão geral, o STF solucionou a questão a partir da contraposição entre omissão genérica, em
que o Estado responde subjetivamente, sendo necessário demonstrar a culpa do serviço, e omissão
específica, na qual a responsabilidade é objetiva, em virtude de o Estado ter descumprido um dever
jurídico específico e, assim, causado um dano certo, especial e anormal. Vale a pena a leitura da
ementa do julgado. Portanto, temos o seguinte: a) Omissão específica: responsabilidade
civil objetiva; b) Omissão genérica: responsabilidade civil subjetiva.

(TJPR-2017-CESPE): Em recente decisão, o STF entendeu que, quando o poder público


comprovar causa impeditiva da sua atuação protetiva e não for possível ao Estado agir para
evitar a morte de detento (que ocorreria mesmo que o preso estivesse em liberdade), não haverá
responsabilidade civil do Estado, pois o nexo causal da sua omissão com o resultado danoso
terá sido rompido. BL: Info 819, STF (obs.: leia nota de rodapé – Ementa integral do julgado).

##Atenção: ##Em resumo: Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela morte de


detento. Isso porque houve inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art.
5º, inciso XLIX, da CF/88. - Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ele
conseguir provar que a morte do detento não podia ser evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de
causalidade entre o resultado morte e a omissão estatal.

(Anal.-CRBio/1ªR.-2017-VUNESP): A condenação dos Estados ao pagamento de indeniza­ção


às famílias de detentos, ainda que mortos por outros presos, encontra fundamento na
responsabilidade objetiva, prevista na Constituição Federal. BL: Info 819, STF.

OBS:

Responsabilidade civil do Estado: É a obrigação que a Administração Pública tem de indenizar os


danos patrimoniais ou morais que seus agentes, atuando nesta qualidade, causarem a terceiros.

Qual é o tipo de responsabilidade civil do Estado? Responsabilidade objetiva. Isso está previsto
no art. 37, § 6º da CF/88 e no art. 43 do Código Civil:
Art. 37 (...)
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

ATENÇÃO: O §6º acima não está escrito expressamente que a responsabilidade é objetiva. A
doutrina e a jurisprudência, no entanto, de forma pacífica assim entendem por um motivo: o
dispositivo exige dolo ou culpa para que o agente público responda regressivamente, mas não faz

1
Trecho da Ementa: “A responsabilidade civil estatal, segundo a CF/1988, em seu art. 37, § 6º, subsume-se à teoria
do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas, posto rejeitada a teoria
do risco integral. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima
nos casos em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o
resultado danoso. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que a execução da pena se dê de forma humanizada,
garantindo-se os direitos fundamentais do detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e moral (artigo 5º,
inciso XLIX, da CF/1988). O dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando
possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto inafastável para a
configuração da responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. Ad
impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em que não é possível ao Estado agir para evitar a morte do detento
(que ocorreria mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade, afastando-se a
responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio doctorum a teoria do risco integral,
ao arrepio do texto constitucional. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como, v. g., homicídio, suicídio,
acidente ou morte natural, sendo que nem sempre será possível ao Estado evitá-la, por mais que adote as precauções
exigíveis. A responsabilidade civil estatal resta conjurada nas hipóteses em que o Poder Público comprova
causa impeditiva da sua atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão
com o resultado danoso. Repercussão geral constitucional que assenta a tese de que: em caso de
inobservância do seu dever específico de proteção previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição
Federal, o Estado é responsável pela morte do detento. In casu, o tribunal a quo assentou que inocorreu a
comprovação do suicídio do detento, nem outra causa capaz de romper o nexo de causalidade da sua omissão com o
óbito ocorrido, restando escorreita a decisão impositiva de responsabilidade civil estatal. Recurso extraordinário
DESPROVIDO. (STF. Plenário. RE 841526, Rel. Min. Luiz Fux, j. 30/03/16).
esta mesma exigência para que o Estado tenha que indenizar. Logo, interpreta-se que a exigência
de dolo ou culpa é unicamente para a ação regressiva.

Requisitos para que haja a responsabilidade civil do Estado: Quando se fala que a
responsabilidade do Estado é objetiva, isso significa que a pessoa que sofreu um dano causado por
um agente público terá que provar apenas três elementos:
a) conduta praticada por um agente público, nesta qualidade;
b) dano;
c) nexo de causalidade (demonstração de que o dano foi causado pela conduta).

Teorias do risco administrativo e do risco integral: A responsabilidade civil do Estado é objetiva,


ou seja, o lesado não precisa comprovar a culpa da Administração Pública. No entanto, ainda
persiste uma dúvida: o Estado deverá sempre indenizar? Ele poderá alegar excludentes de
responsabilidade para se isentar da indenização? Sobre este tema, destacamos a existência de duas
teorias principais:

Teoria que rege a teoria da responsabilidade civil do Estado:


● Regra: teoria do risco administrativo (o Estado pode invocar causas excludentes de
responsabilidade).
● Exceção: em alguns poucos casos, acolhe-se a teoria do risco integral.

Qual é o tipo de responsabilidade civil aplicável nos casos de omissão do Estado? Se a


Administração Pública causa um dano ao particular em virtude de uma conduta omissa, a
responsabilidade nesta hipótese também será objetiva? Existe intensa divergência sobre o tema:

Veja alguns precedentes reconhecendo a responsabilidade objetiva:


(...) Responsabilidade objetiva prevista no art. 37, § 6º, da CF/88 abrange também os
atos omissivos do Poder Público. (...) STF. 2ª Turma. RE 677283 AgR, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 17/04/2012.

(...) A jurisprudência da Corte firmou-se no sentido de que as pessoas jurídicas de


direito público respondem objetivamente pelos danos que causarem a terceiros, com
fundamento no art. 37, § 6º, da CF/88, tanto por atos comissivos quanto por atos
omissivos, desde que demonstrado o nexo causal entre o dano e a omissão do Poder
Público. (...) STF. 2ª T. ARE 897890 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2015.

ADVERTÊNCIA: o Estado responde de forma objetiva pelas suas omissões. No entanto, o nexo de
causalidade entre essas omissões e os danos sofridos pelos particulares só restará caracterizado
quando o Poder Público tinha o dever legal específico de agir para impedir o evento danoso e
mesmo assim não cumpriu essa obrigação legal. Assim, o Estado responde de forma objetiva pelas
suas omissões, desde que ele tivesse obrigação legal específica de agir para impedir que o
resultado danoso ocorresse. A isso se chama de "omissão específica" do Estado. Dessa forma,
para que haja responsabilidade civil no caso de omissão, deverá haver uma omissão específica do
Poder Público (STF. Plenário. RE 677139 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
22/10/2015).

Se um detento é morto dentro da unidade prisional, haverá responsabilidade civil do Estado? SIM.
A CF/88 determina que o Estado se responsabiliza pela integridade física do preso sob sua
custódia:
Art. 5º (...) XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Logo, o Poder Público poderá ser condenado a indenizar pelos danos que o preso venha a sofrer.
Esta responsabilidade é objetiva. Assim, a morte de detento gera responsabilidade civil objetiva
para o Estado em decorrência da sua omissão específica em cumprir o dever especial de proteção
que lhe é imposto pelo art. 5º, XLIX, da CF/88.

Ressalta-se, no entanto, que a responsabilidade civil neste caso, apesar de ser objetiva, é regrada
pela teoria do risco administrativo. Desse modo, o Estado poderá ser dispensado de indenizar se
ficar demonstrado que ele não tinha a efetiva possibilidade de evitar a ocorrência do dano. Nas
exatas palavras do Min. Luiz Fux: "(...) sendo inviável a atuação estatal para evitar a morte do
preso, é imperioso reconhecer que se rompe o nexo de causalidade entre essa omissão e o dano.
Entendimento em sentido contrário implicaria a adoção da teoria do risco integral, não acolhida
pelo texto constitucional (...)".

Em suma:
● Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela morte de detento. Isso porque houve
inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da
CF/88.
● Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ele conseguir provar que a
morte do detento não podia ser evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de causalidade entre
o resultado morte e a omissão estatal.

Exemplo: Imagine que um detento está doente e precisa de tratamento médico. Ocorre que este
não lhe é oferecido de forma adequada pela administração penitenciária. Há claramente uma
violação ao art. 14 da LEP. Neste caso, se o preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado,
considerando que houve uma omissão específica e o óbito era plenamente previsível. Suponha, no
entanto, que o preso estivesse bem e saudável e, sem qualquer sinal anterior, sofre um mal súbito
no coração e cai morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda hipótese, o Poder
Público não deverá ser responsabilizado por essa morte, já que não houve omissão estatal e este
óbito teria acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.

O Estado pode ser responsabilizado pela morte do detento mesmo que ele se suicide? SIM.
Existem precedentes do STF e do STJ nesse sentido: STF. 2ª T. ARE 700927 AgR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, j. 28/8/12. Todavia, aqui também, como se adota a teoria do risco administrativo, o
Estado poderá provar alguma causa excludente de responsabilidade. Assim, nem sempre que
houver um suicídio, haverá responsabilidade civil do Poder Público.

O Min. Luiz Fux exemplifica seu raciocínio com duas situações:


● Se o detento que praticou o suicídio já vinha apresentando indícios de que poderia agir
assim, então, neste caso, o Estado deverá ser condenado a indenizar seus familiares. Isso
porque o evento era previsível e o Poder Público deveria ter adotado medidas para evitar
que acontecesse.
● Por outro lado, se o preso nunca havia demonstrado anteriormente que poderia praticar
esta conduta, de forma que o suicídio foi um ato completamente repentino e imprevisível,
neste caso o Estado não será responsabilizado porque não houve qualquer omissão
atribuível ao Poder Público.

Vale ressaltar que é a Administração Pública que tem o ônus de provar a causa excludente de
responsabilidade.

Obs: Durante os debates o Min. Marco Aurélio defendeu que a responsabilidade do Estado em
caso de violações a direitos dos detentos seria baseada no risco integral. Trata-se, contudo, de
posicionamento minoritário.

12.9. Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges de todos os
falecidos por crimes hediondos – (Info 773)

É inconstitucional lei estadual (distrital) que preveja o pagamento de pensão especial a ser
concedida pelo Governo do Estado (Distrito Federal) em benefício dos cônjuges de pessoas
vítimas de crimes hediondos, independentemente de o autor do crime ser ou não agente do
Estado. Tal lei amplia, de modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do Estado
prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).

12.10. “Caso Varig”: responsabilidade da União por plano econômico que determinou o
congelamento das tarifas – (Info 738)

STF reconheceu que a União deve indenizar companhia aérea, que explorava os serviços de
aviação, sob o regime de concessão, pelos prejuízos causados decorrentes de plano econômico
que determinou o congelamento das tarifas de aviação.
STF. Plenário. RE 571969/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 12/3/2014 (Info 738).

13. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA


13.1. Imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário em caso de atos de improbidade
praticados dolosamente – (Info 910) – IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018) (TJBA-2019) (MPCE-2020)

São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso


tipificado na Lei de Improbidade Administrativa.
STF. Plenário. RE 852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson
Fachin, j. 08/08/2018 (repercussão geral) (Info 910).
OBS:

Prescrição e atos de improbidade administrativa: Os atos de improbidade administrativa, assim


como ocorre com as infrações penais, também estão sujeitos a prazos prescricionais. Logo, caso
os legitimados ativos demorem muito tempo para ajuizar a ação de improbidade administrativa
contra o responsável pelo ato ímprobo, haverá a prescrição e a consequente perda da pretensão
punitiva.
 
Qual é o prazo prescricional para a propositura de ações de improbidade administrativa? Como
regra, 5 anos. Isso está previsto no art. 23 da Lei 8.429/92:
Art. 23. As ações destinadas a levar a efeitos as sanções previstas nesta lei podem ser
propostas:
I - até cinco anos após o término do exercício de mandato, de cargo em comissão ou
de função de confiança;
II - dentro do prazo prescricional previsto em lei específica para faltas disciplinares
puníveis com demissão a bem do serviço público, nos casos de exercício de cargo
efetivo ou emprego.
III - até cinco anos da data da apresentação à administração pública da prestação de
contas final pelas entidades referidas no parágrafo único do art. 1o desta Lei.
 
Exceção: ressarcimento ao erário em casos de atos de improbidade praticados dolosamente: A Lei
8.429/92 prevê, em seu art. 12, uma lista de sanções que podem ser aplicadas às pessoas
condenadas por ato de improbidade administrativa. São elas:
• perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente;
• perda da função pública;
• suspensão dos direitos políticos;
• multa civil; e
• proibição de contratar com o poder público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios;
• ressarcimento integral do dano.

Uma das sanções acima é imprescritível: o ressarcimento integral do dano. O fundamento para
isso está na parte final do § 5º do art. 37 da CF/88:
Art. 37 (...)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas
ações de ressarcimento.
 
Tese contrária à imprescritibilidade: Apesar da redação do § 5º do art. 37, muitas vozes se
levantavam contra a tese da imprescritibilidade. Argumentavam que a intenção do Poder
Constituinte não foi a de fixar a imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário. Segundo
essa tese, a correta interpretação dos §§ 4º e 5º do art. 37 deveria ser a seguinte:
• o constituinte deu um comando ao legislador infraconstitucional: faça uma lei prevendo atos de
improbidade administrativa (§ 4º).
• as sanções para os atos de improbidade são a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário (§ 4º);
• a lei deverá prever prazos prescricionais para a imposição dessas sanções (§ 5º);
• enquanto não houver lei prevendo quais são os atos de improbidade administrativa, não
poderão ser ajuizadas ações de improbidade administrativa pedindo a aplicação das sanções
previstas no § 4º;
• ficam ressalvadas dessa proibição as ações de ressarcimento (parte final do § 5º), ou seja, mesmo
sem lei expressa, as ações de ressarcimento já poderiam ser propostas.
 
Desse modo, para essa tese, o que a parte final do § 5º quis dizer foi unicamente que, mesmo sem
Lei de Improbidade Administrativa, poderiam ser ajuizadas ações pedindo o ressarcimento ao
erário. Isso porque o § 5º deve ser interpretado em conjunto com o § 4º. Como reforço a esse
argumento, alegaram que a Lei de Improbidade somente foi editada em 1992 (Lei nº 8.429/92).
Logo, o objetivo do constituinte foi o de evitar que se alegasse que o ressarcimento ao erário
somente poderia ser exigido com a edição de lei. Por fim, argumentavam que a Constituição
Federal, quando quis, determinou a imprescritibilidade de forma expressa. Ex: art. 5º, XLII
(racismo) e XLIV (ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático).

Veja as palavras do Min. Alexandre de Moraes, um dos adeptos dessa tese:


“A preocupação do legislador constituinte foi legítima, pois, em virtude da exigência
do § 4º de edição de lei específica para a definição dos “atos de improbidade
administrativa”, bem como da forma e gradação da aplicação das sanções de
suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos
bens e o ressarcimento ao erário, poderiam surgir dúvidas sobre a recepção do
ordenamento jurídico que, desde a década de 1940, permitia ações de ressarcimento
no caso de improbidade administrativa, apesar da inexistência de conceituação e de
tipificação específica dos denominados “atos de improbidade administrativa”.
Em outras palavras, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, que
ampliou a possibilidade de sanções por atos de improbidade administrativa, e em
respeito aos princípios da reserva legal e da anterioridade, passou-se a exigir a
edição de lei específica para tipificar as condutas correspondentes a atos de
improbidade administrativa. Nesse momento, houve o justo receio do legislador
constituinte quanto à ocorrência de interpretações que passassem a impossibilitar
ações de ressarcimento ao erário pela prática de atos ilícitos tradicionalmente
entendidos como improbidade administrativa, desde a década de 1940, mas ainda
não tipificados pela nova legislação, que somente foi editada em 1992.
A ressalva prevista no § 5º do art. 37 da CF não pretendeu estabelecer uma
exceção implícita de imprescritibilidade, mas obrigar constitucionalmente a
recepção das normas legais definidoras dos instrumentos processuais e dos prazos
prescricionais para as ações de ressarcimento do erário, inclusive referentes a
condutas ímprobas, mesmo antes da tipificação legal de elementares do
denominado “ato de improbidade” (Decreto 20.910/1932, Lei 3.164/1957, Lei
3.502/1958, Lei 4.717/1965, Lei 7.347/1985, Decreto-Lei 2.300/1986); mantendo,
dessa maneira, até a edição da futura lei e para todos os atos pretéritos, a ampla
possibilidade de ajuizamentos de ações de ressarcimento. (...)
Portanto, a ressalva do § 5º do art. 37 permitiu a recepção dos prazos prescricionais
existentes para as ações de ressarcimento decorrentes de graves condutas de
enriquecimento ilícito, por influência ou com abuso de cargo ou função pública pela
legislação então em vigor, até que fosse editada a lei específica exigida pelo §4º do
mesmo artigo; não tendo, portanto, estabelecido qualquer hipótese implícita de
imprescritibilidade.”
 
O STF concordou com essa tese? O ressarcimento ao erário em caso de atos de improbidade
administrativa também prescreve da mesma forma que as demais sanções? NÃO. O STF entendeu
que a ação de ressarcimento decorrente de ato doloso de improbidade é realmente
imprescritível.
 
A regra no ordenamento jurídico é, de fato, a prescritibilidade: A prescrição é um instituto
pensado para garantir a estabilização das relações sociais, sendo, portanto, uma expressão do
princípio da segurança jurídica, que faz parte da estrutura do Estado de Direito.

Prescrição → estabilização das relações sociais → segurança jurídica → Estado de Direito


 
Justamente por isso, a regra geral no ordenamento jurídico é a de que as pretensões devem ser
exercidas dentro de um marco temporal limitado. Em outras palavras, a regra geral é que exista
prescrição. Há, no entanto, algumas exceções explícitas no texto constitucional, nas quais se
reconhece a imprescritibilidade em determinadas situações. É o caso, por exemplo, dos crimes
de racismo (art. 5º, XLII, CF/88) e da ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático (art. 5º, XLIV).
 
O art. 37, § 5º da CF/88 é uma dessas exceções: Vamos relembrar a redação do art. 37, § 5º:
Art. 37 (...)
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas
ações de ressarcimento.
 
Em sua primeira parte, o dispositivo prevê que:
- a lei deverá estabelecer os prazos de prescrição para ilícitos
- praticados por qualquer pessoa (servidor ou não)
- que gerem prejuízo ao erário.

Na segunda parte, o constituinte disse o seguinte: não se aplica o que eu falei antes para as ações
de ressarcimento. O que isso quer dizer? Que a lei não poderá estabelecer prazos de prescrição
para tais ações, sendo elas, portanto, imprescritíveis. Assim, o texto constitucional é expresso ao
prever a ressalva da imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário.
 
Imprescritibilidade não vale para ressarcimento decorrente de outros ilícitos civis: O § 5º do art.
37 da CF/88 deve ser lido em conjunto com o § 4º, de forma que ele se refere apenas aos casos de
improbidade administrativa. Se fosse realizada uma interpretação ampla da ressalva final contida
no § 5º, isso faria com que toda e qualquer ação de ressarcimento movida pela Fazenda Pública
fosse imprescritível, o que seria desproporcional. A prescrição é um instituto importante para se
garantir a segurança e estabilidade das relações jurídicas e da convivência social. É uma forma de
se assegurar a ordem e a paz na sociedade. Desse modo, a ressalva contida na parte final do § 5º
do art. 37 da CF/88 deve ser interpretada de forma estrita e não se aplica para danos causados ao
Poder Público por força de ilícitos civis. Foi como decidiu o STF ainda em 2016:
É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito
civil. Dito de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao erário decorrente
de um ilícito civil e deseja ser ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo
prescricional previsto em lei. STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 03/02/2016 (repercussão geral).
 
Ex: João dirigia seu carro quando, por imprudência, acabou batendo no carro de um órgão público
estadual em serviço. Ficou provado, por meio da perícia, que o particular foi o culpado pelo
acidente. O órgão público consertou o veículo, tendo isso custado R$ 10 mil. Sete anos depois do
acidente, o Estado ajuizou ação de indenização contra João cobrando os R$ 10 mil gastos com o
conserto do automóvel. A defesa de João alegou que houve prescrição. A alegação da defesa está
correta. Isso porque o prejuízo ao erário não decorreu de um ato de improbidade administrativa,
mas foi decorrente de um ilícito civil. Logo, incide prazo prescricional neste caso.
 
Desse modo, podemos fazer a seguinte distinção:
Ação de reparação de danos à Fazenda Pública é PRESCRITÍVEL
decorrentes de ilícito civil (STF RE 669069/MG).
é PRESCRITÍVEL
Ação de ressarcimento decorrente de
(devem ser propostas no
ato de improbidade administrativa praticado com CULPA
prazo do art. 23 da LIA).
Ação de ressarcimento decorrente de é IMPRESCRITÍVEL
ato de improbidade administrativa praticado com DOLO (§ 5º do art. 37 da CF/88).
 
Imprescritibilidade somente vale para atos de improbidade praticados com DOLO: O STF
entendeu, portanto, que as ações de ressarcimento ao erário envolvendo atos de improbidade
administrativa são imprescritíveis. No entanto, o Tribunal fez uma “exigência” a mais que não
está explícita no art. 37, § 5º da CF/88. O Supremo afirmou que somente são imprescritíveis as
ações de ressarcimento envolvendo atos de improbidade administrativa praticados
DOLOSAMENTE. Assim, se o ato de improbidade administrativa causou prejuízo ao erário, mas
foi praticado com CULPA, então, neste caso, a ação de ressarcimento será prescritível e deverá ser
proposta no prazo do art. 23 da LIA.
 
E existem atos de improbidade administrativa CULPOSOS que causam prejuízo ao erário?: SIM.
Isso é possível, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...)
 
Vale ressaltar que apenas o art. 10 da Lei nº 8.429/92 admite a prática de ato CULPOSO de
improbidade administrativa. Relembre:
Critério objetivo Critério subjetivo
Art. 9º — Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do
Exige DOLO
agente público
Pode ser DOLO ou,
Art. 10 — Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário
no mínimo, CULPA
Art. 10-A — Atos de improbidade administrativa decorrentes de
Exige DOLO
concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário
Art. 11 — Atos de improbidade que atentam contra princípios da
Exige DOLO
administração pública

Tese fixada pelo STF: O STF fixou a seguinte tese para fins de repercussão geral:
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato
doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa. STF. Plenário. RE
852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 08/08/2018(Info 910).
 
Placar: Vale ressaltar que o placar de votação foi bem apertado, com resultado de 6 x 5 em favor
da tese vencedora.

Votaram pela prescritibilidade:


• Alexandre de Moraes
• Dias Toffoli
• Ricardo Lewandowski
• Gilmar Mendes
• Marco Aurélio.
 
Votaram pela imprescritibilidade:
• Edson Fachin
• Rosa Weber
• Cármen Lúcia
• Celso de Mello
• Luiz Fux
• Roberto Barroso

Uma peculiaridade está no fato de que os Ministros Luiz Fux e Roberto Barroso inicialmente
votaram em favor da prescritibilidade. Ocorre que, uma semana depois, revisaram o
posicionamento e alteraram o entendimento, votando em favor da tese da imprescritibilidade.

13.2. Ação de improbidade administrativa: ministro de estado e foro competente – (Info 901) –
IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018) (TJAL-2019)

Os agentes políticos, com exceção do Presidente da República, encontram-se sujeitos a duplo


regime sancionatório, de modo que se submetem tanto à responsabilização civil pelos atos de
improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa por crimes de
responsabilidade.
O foro especial por prerrogativa de função previsto na Constituição Federal em relação às
infrações penais comuns não é extensível às ações de improbidade administrativa.
STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
10/5/18 (Info 901).
OBS:

Dois temas geravam muita polêmica no Direito Administrativo:


1) A Lei de improbidade administrativa aplica-se ou não aos agentes políticos?
2) Existe ou não foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”) nas ações de improbidade
administrativa?

Vamos entender com calma.


 
Crimes de responsabilidade: Os agentes políticos estão sujeitos à prática de crimes de
responsabilidade. Os crimes de responsabilidade são infrações político-administrativas
praticadas por pessoas que ocupam determinados cargos públicos. Caso o agente seja condenado
por crime de responsabilidade, ele não receberá sanções penais (prisão ou multa), mas sim sanções
político-administrativas (perda do cargo e inabilitação para o exercício de função pública).
 
Crimes de responsabilidade x improbidade administrativa: Como nos crimes de responsabilidade
as infrações são muito próximas (parecidas) com os atos de improbidade administrativa, surgiu a
tese de que se o agente político fosse condenado por crime de responsabilidade e também
improbidade administrativa, haveria bis in idem. Assim, defendeu-se o argumento de que os
agentes políticos deveriam estar sujeitos apenas e tão somente aos crimes de responsabilidade
(não sendo a eles aplicados os atos de improbidade administrativa).
 
Essa tese prevalece atualmente? NÃO. O entendimento atual é o de que, em regra, os agentes
políticos podem sim responder por ato de improbidade administrativa. Vigora aquilo que a
jurisprudência chamou de “duplo regime sancionatório”, ou seja, o fato de o agente estar sujeito
a:
• crime de responsabilidade e
• improbidade administrativa.
 
Constituição prevê crime de responsabilidade e improbidade como institutos autônomos: Fazendo
uma interpretação sistemática do texto constitucional, conclui-se que há nítida distinção entre os
conceitos de improbidade administrativa e de crime de responsabilidade. A Lei de Improbidade
Administrativa (Lei 8.429/92) foi editada com fundamento no art. 37, §4º, da CF:
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
 
Por outro lado, a CF/88 trata sobre os crimes de responsabilidade em outros dispositivos:
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de
responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha,
do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;
(Redação dada pela EC 23/99) [...]
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que
atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra: [...]
V - a probidade na administração;[...]

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: [...]
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de
Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o
disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente; (Redação
dada pela EC 23/99)
 
Assim, a tentativa de imunizar os agentes políticos das sanções da ação de improbidade
administrativa a pretexto de que essas seriam absorvidas pelo crime de responsabilidade não
tem fundamento constitucional. É plenamente possível a concorrência de esferas de
responsabilização distintas.

Eu entendo que há, no Brasil, uma dupla normatividade em matéria de


improbidade, com objetivos distintos: em primeiro lugar, existe aquela específica
da Lei 8.429/1992, de tipificação cerrada mas de incidência sobre um vasto rol de
possíveis acusados, incluindo até mesmo pessoas que não tenham qualquer vínculo
funcional com a Administração Pública (Lei 8.429/1992, art. 3º); e uma outra
normatividade relacionada à exigência de probidade que a Constituição faz em
relação aos agentes políticos, especialmente ao chefe do Poder Executivo e aos
ministros de Estado, ao estabelecer no art. 85, inciso V, que constituem crime de
responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a probidade
da administração. No plano infraconstitucional essa segunda normatividade se
completa com o art. 9º da Lei 1.079/1950.
Trata-se de disciplinas normativas diversas, as quais, embora visando, ambas, à
preservação do mesmo valor ou princípio constitucional, – isto é, a moralidade na
Administração Pública – têm, porém, objetivos constitucionais diversos. (...)
Não há impedimento à coexistência entre esses dois sistemas de responsabilização
dos agentes do Estado.
STF. Plenário. Pet 3923 QO, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 13/06/2007.
 
Desse modo, o que prevalece atualmente é que os agentes políticos, em regra, submetem-se às
punições por ato de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), sem prejuízo de também
poderem ser punidos por crimes de responsabilidade. Nesse sentido:
(...) O Superior Tribunal de Justiça firmou o entendimento de que os agentes
políticos se submetem aos ditames da Lei de Improbidade Administrativa, sem
prejuízo da responsabilização política e criminal. (...) STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp
1607976/RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, j. 17/10/2017.
 
Por que se falou “em regra”? Existe algum caso em que o agente político não responderá por
improbidade administrativa (devendo ser punido apenas por crime de responsabilidade)? SIM. O
Presidente da República. Os agentes políticos, com exceção do presidente da República,
encontram-se sujeitos a um duplo regime sancionatório, e se submetem tanto à responsabilização
civil pelos atos de improbidade administrativa quanto à responsabilização político-administrativa
por crimes de responsabilidade.
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PREFEITO MUNICIPAL.
DUPLO REGIME SANCIONATÓRIO DOS AGENTES POLÍTICOS:
LEGITIMIDADE. PRECEDENTES. 1. A jurisprudência assentada no STJ, inclusive
por sua Corte Especial, é no sentido de que, "excetuada a hipótese de atos de
improbidade praticados pelo Presidente da República (art. 85, V), cujo julgamento
se dá em regime especial pelo Senado Federal (art. 86), não há norma
constitucional alguma que imunize os agentes políticos, sujeitos a crime de
responsabilidade, de qualquer das sanções por ato de improbidade previstas no
art. 37, § 4º. Seria incompatível com a Constituição eventual preceito normativo
infraconstitucional que impusesse imunidade dessa natureza" (Rcl 2.790/SC, DJe de
4/3/10). (...) STJ. 1ª T. AgRg no REsp 1099900/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki,
j. 16/11/2010.
 
E quanto ao foro competente? Existe foro por prerrogativa de função nas ações de improbidade
administrativa? NÃO. A ação de improbidade administrativa possui natureza cível. Em outras
palavras, é uma ação civil e não uma ação penal. Em regra, somente existe foro por prerrogativa
de função no caso de ações penais (e não em demandas cíveis).
Ex1: se for proposta uma ação penal contra um Deputado Federal por crime que ele tenha
cometido durante o seu mandato e que esteja relacionado com as suas funções, esta deverá ser
ajuizada no STF.
Ex2: se for ajuizada uma ação de cobrança de dívida contra esse mesmo Deputado, a demanda
será julgada por um juízo de 1ª instância.
 
Por que existe essa diferença? Porque a Constituição assim idealizou o sistema. Com efeito, as
competências do STF e do STJ foram previstas pela CF/88 de forma expressa e taxativa. Nos arts.
102 e 105 da CF/88, que estabelecem as competências do STF e do STJ, existe a previsão de que as
ações penais contra determinadas autoridades serão julgadas por esses Tribunais. Não há,
contudo, nenhuma regra que disponha que as ações de improbidade serão julgadas pelo STF e
STJ.
 
Lei 10.628/12 previu foro por prerrogativa de função para a ação de improbidade: Em 24/12/02,
foi editada a Lei 10.628, que acrescentou o § 2º ao art. 84 do CPP, prevendo foro por prerrogativa
de função para as ações de improbidade. Veja:
Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal,
do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de
Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam
responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. (...)
§ 2º A ação de improbidade, de que trata a Lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, será
proposta perante o tribunal competente para processar e julgar criminalmente o
funcionário ou autoridade na hipótese de prerrogativa de foro em razão do exercício
de função pública, observado o disposto no § 1º.
 
Diante dessa alteração legislativa, foi proposta a ADI 2797 contra a Lei 10.628/02 e o STF julgou
inconstitucional o referido § 2º do art. 84 do CPP, decisão proferida em 15/09/2005. O Supremo
decidiu que:
“no plano federal, as hipóteses de competência cível ou criminal dos tribunais da
União são as previstas na Constituição da República ou dela implicitamente
decorrentes. (...) Quanto aos Tribunais locais, a Constituição Federal — salvo as
hipóteses dos seus arts. 29, X e 96, III —, reservou explicitamente às Constituições
dos Estados-membros a definição da competência dos seus tribunais, o que afasta a
possibilidade de ser ela alterada por lei federal ordinária.”
STF. Plenário. ADI 2797, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgado em 15/09/2005.
 
Em suma, o STF afirmou que, como a Constituição não estabeleceu foro por prerrogativa de
função para as ações de improbidade administrativa, a lei ordinária assim não poderia prever.
Desse modo, com a decisão da ADI 2797, ficou prevalecendo o entendimento de que as ações de
improbidade administrativa deveriam ser julgadas em 1ª instância.
 
O STF reafirmou esse entendimento e fixou a seguinte tese:
Não existe foro por prerrogativa de função em ação de improbidade
administrativa proposta contra agente político. O foro por prerrogativa de função
é previsto pela Constituição Federal apenas para as infrações penais comuns, não
podendo ser estendido para ações de improbidade administrativa, que têm
natureza civil. STF. Plenário. Pet 3240 AgR/DF, rel. Min. Teori Zavascki, red. p/ o
ac. Min. Roberto Barroso, j. 10/5/18 (Info 901).

14. MINISTÉRIO PÚBLICO


14.1. Ilegitimidade ativa do MP para impetrar MS questionando decisão administrativa que
reconheceu a prescrição em processo administrativo – (Info 831) – IMPORTANTE!!!

O Procurador-Geral da República não possui legitimidade ativa para impetrar mandado de


segurança com o objetivo de questionar decisão que reconheça a prescrição da pretensão
punitiva em processo administrativo disciplinar.
A legitimidade para impetrar mandado de segurança pressupõe a titularidade do direito
pretensamente lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade pública.
O Procurador-Geral da República não tem legitimidade para a impetração, pois não é o titular
do direito líquido e certo que afirmara ultrajado.
Para a impetração do MS não basta a demonstração do simples interesse ou atuação como
custos legis, uma vez que os direitos à ordem democrática e à ordem jurídica não são de
titularidade do Ministério Público, mas de toda a sociedade.
STF. 2ª Turma. MS 33736/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 21/6/16 (Info 831).

OBS:

E o § 6º do art. 103-B da CF/88? Quando o § 6º do art. 103-B da CF/88 prevê que o PGR oficiará
junto ao CNJ, esta atuação restringe-se ao âmbito interno do conselho, não significando que ele
tenha legitimidade para impetrar mandado de segurança contra as decisões ali proferidas.

14.2. Conselho Superior do MPE ou Colégio de Procuradores poderão anular questão de


concurso público do MP, mesmo sem previsão no edital – (Info 740)

É válido recurso contra a decisão da comissão examinadora do concurso de Promotor de Justiça,


mesmo que não tenha previsão no edital, desde que seja previsto na Lei Orgânica da carreira.
O julgamento do recurso pelos órgãos internos do MP é válido mesmo sem a participação da
OAB. Isso porque tal decisão nada mais é do que o exercício do princípio da autotutela.
STF. 1ª Turma. MS 32176/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 18/3/14 (Info 740)

15. SERVIDORES PÚBLICOS


15.1. APOSENTADORIA: (Im) possibilidade de conversão do tempo especial em tempo
comum – (Info 992) – IMPORTANTE!!!

Até a edição da EC nº 103/19, o direito à conversão, em tempo comum, do prestado sob


condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física de servidor público
decorre da previsão de adoção de requisitos e critérios diferenciados para a jubilação daquele
enquadrado na hipótese prevista no então vigente inciso III do § 4º do art. 40 da CF/88, devendo
ser aplicadas as normas do regime geral de previdência social relativas à aposentadoria especial
contidas na Lei 8.213/91 para viabilizar sua concretização enquanto não sobrevier lei
complementar disciplinadora da matéria.
Após a vigência da EC nº 103/19, o direito à conversão em tempo comum, do prestado sob
condições especiais pelos servidores obedecerá à legislação complementar dos entes federados,
nos termos da competência conferida pelo art. 40, § 4º-C, da CF/88.
STF. Plenário.RE 1014286, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão Edson Fachin, j. 31/08/20
(Repercussão Geral – Tema 942) (Info 992 – clipping).

15.2. REMUNERAÇÃO: É inconstitucional o pagamento de subsídio mensal e vitalício a


ex-Vereadores, assim, como o pagamento de pensão por morte aos dependentes dos ex-ocupantes
deste cargo – (Info 964) – IMPORTANTE!!!

Algumas leis municipais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Vereador fará jus,
após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação,
outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível
com a CF/88?
NÃO. O STF fixou a seguinte tese a respeito do tema:
Lei municipal a versar a percepção, mensal e vitalícia, de “subsídio” por ex-vereador e a
consequente pensão em caso de morte não é harmônica com a Constituição Federal de 1988.
Lei municipal versando subsídio vitalício considerado o exercício de mandatos de vereador e a
consequente pensão em caso de morte é incompatível com a Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 638307/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/12/19 (Tema 672 – repercussão geral)
(Info 964).

15.3. REMUNERAÇÃO: STF modulou os efeitos da decisão que afirmou que os servidores
públicos federais não possuem direito aos quintos no período de 08/04/1998 a 04/09/2001; com isso,
o Tribunal resguardou a situação daqueles que recebiam as verbas por força de decisão judicial ou
administrativa – (Info 964)

Os servidores públicos federais, quando desempenhavam funções gratificadas tinham direito


de incorporar, em sua remuneração, a vantagem decorrente do cargo em comissão ou da função
de direção, chefia e assessoramento. Isso estava previsto na redação original do art. 62 da Lei
8.112/90. Isso ficou conhecido como incorporação de quintos em razão do exercício de funções
gratificadas.
Houve uma discussão se os servidores públicos federais tiveram direito à incorporação dos
quintos no período que vai de 08/04/1998 a 04/09/2001.
Após várias decisões favoráveis aos servidores, o STF decidiu em sentido contrário. Em 2015, o
STF decidiu que não era permitida a incorporação dos quintos nesse período e que essa
possibilidade acabou com a edição da MP 1.595-14 (convertida na Lei nº 9.527/97).
Ocorre que muitos servidores estavam recebendo os quintos referentes ao período de 08/04/98 a
04/09/01 por força de decisões judiciais ou administrativas. Como ficou a situação dessas
pessoas?
O STF, em embargos de declaração, decidiu modular os efeitos da decisão e afirmou o seguinte:
• é indevida a cessação imediata do pagamento dos quintos quando houve uma decisão judicial
transitada em julgado em favor do servidor. Neste caso, o servidor já incorporou
definitivamente os quintos ao seu patrimônio jurídico;
• se o servidor estava recebendo os quintos em razão de decisão administrativa ou de decisão
judicial não definitiva, o pagamento dos quintos é indevido. No entanto, os efeitos da decisão
foram modulados, de modo que aqueles que recebem a parcela até a data de hoje terão o
pagamento mantido até a sua absorção integral por quaisquer reajustes futuros concedidos aos
servidores. Em outras palavras, a remuneração ou os proventos não diminuirão de valor
imediatamente. No entanto, quando houver um aumento, esse valor dos quintos sumirá, sendo
absorvido pelo aumento.
STF. Plenário. RE 638115 ED-ED/CE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/12/19 (Info 964).

15.4. REMUNERAÇÃO: É inconstitucional o pagamento de subsídio mensal e vitalício a


ex-Governadores de Estado, assim, como o pagamento de pensão às viúvas dos ex-ocupantes deste
cargo; contudo, as pessoas beneficiadas com o pagamento não terão que devolver as quantias
recebidas – (Info 962) – IMPORTANTE!!!

Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A
previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. A instituição de prestação pecuniária mensal e vitalícia a ex-governadores corresponde à
concessão de benesse que não se compatibiliza com a Constituição Federal (notadamente com
o princípio republicano e o princípio da igualdade, consectário daquele), por configurar
tratamento diferenciado e privilegiado sem fundamento jurídico razoável, em favor de quem
não exerce função pública ou presta qualquer serviço à administração.
Os ex-Governadores (ou as viúvas) que foram beneficiados com esse “subsídio” ou com a
“pensão” dela decorrente terão que devolver as quantias que receberam antes do STF declarar
inconstitucional a previsão da Constituição Estadual?
NÃO. Não é necessária a devolução dos valores percebidos até o julgamento da ação. Isso por
conta dos princípios da boa-fé, da segurança jurídica e, ainda, da dignidade da pessoa
humana.
STF. Plenário. ADI 4545/PR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 5/12/19 (Info 962).

15.5. REMUNERAÇÃO: Revisão anual de vencimentos não é obrigatória, mas chefe do


Executivo deve justificar – (Info 953) – IMPORTANTE!!!

O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores
públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização.
Deve o Poder Executivo, no entanto, se pronunciar, de forma fundamentada, acerca das razões
pelas quais não propôs a revisão.
STF. Plenário. RE 565089 /SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
25/9/19 (repercussão geral – Tema 19) (Info 953).

15.6. REMUNERAÇÃO: É possível o pagamento de terço de férias e de décimo terceiro salário


aos Vereadores, mas desde que isso esteja previsto em lei municipal – (Info 950) –
IMPORTANTE!!!
O STF decidiu que o art. 39, § 4º, da CF/88 não é incompatível com o pagamento de terço de
férias e décimo terceiro salário (Tema 484 da Repercussão Geral). Cumpre registrar que a CF/88
prevê, em seu art. 39, § 3º, que os servidores públicos gozam de terço de férias e 13º salário,
não sendo vedado o seu pagamento de forma cumulada com o subsídio.
Assim, os Vereadores, mesmo recebendo sua remuneração por meio de subsídio (parcela
única), podem ter direito ao pagamento de terço de férias e de décimo terceiro salário.
Vale ressaltar, no entanto, que o pagamento de décimo terceiro e do terço constitucional de
férias aos agentes políticos com mandato eletivo não é um dever, mas sim uma opção, que
depende do legislador infraconstitucional.
Assim, a definição sobre a adequação de percepção dessas verbas está inserida no espaço de
liberdade de conformação do legislador infraconstitucional. Em outras palavras, o legislador
municipal decide se irá ou não conceder tais verbas aos Vereadores. Se não houver lei
concedendo, eles não terão direito.
Desse modo, é possível o pagamento de terço de férias e de décimo terceiro salário aos
Vereadores, mas desde que a percepção de tais verbas esteja prevista em lei municipal.
STF. 1ª T. Rcl 32483 AgR/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 3/9/2019 (Info 950).

15.7. APOSENTADORIA: Na falta de lei específica que regulamente a aposentadoria especial


dos servidores públicos portadores de deficiência (art. 40, § 4º, I, da CF/88), deve ser aplicada a LC
142/2013, que trata sobre a aposentadoria especial de pessoas com deficiência no RGP – (Info 947)
– IMPORTANTE!!!

O art. 40, § 4º, I, da CF/88 prevê que o servidor público com deficiência possui direito à
aposentadoria com requisitos e critérios diferenciados (aposentadoria especial). Ocorre que o
dispositivo constitucional exige que uma lei complementar regulamente essa aposentadoria,
sendo, portanto, uma norma constitucional de eficácia limitada.
Até o presente momento, não foi editada essa lei complementar, havendo, portanto, uma
omissão inconstitucional.
Diante disso, a LC nº 142/2013, que regulamentou a aposentadoria especial de pessoas com
deficiência no Regime Geral de Previdência Social, deve ser aplicada aos pedidos de
aposentadoria de servidores públicos com deficiência, por se tratar de diploma mais adequado
para suprir a omissão na regulamentação do art. 40, § 4º, I, da CF/1988.
Assim, o servidor público com deficiência possui o direito de ver analisado o requerimento de
aposentadoria especial apresentado com base no art. 40, § 4º, I, da CF/88 utilizando-se das
normas da LC 142/2013.
STF. 1ª T. MI 6818/DF e MI 6988/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 13/8/19 (Info 947).

15.8. REMUNERAÇÃO: Lei estadual pode prever o pagamento de gratificação para servidores
mesmo que estes já recebam subsídio caso essa gratificação sirva para remunerar atividades que
extrapolem aquelas que são normais do cargo – (Info 947) – IMPORTANTE!!!

O § 4º do art. 39 da CF/88 prevê que os servidores remunerados pelo regime de subsídio


recebem “parcela única” mensal, sendo “vedado o acréscimo de qualquer gratificação,
adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória”.
Vale ressaltar, no entanto, que o art. 39, § 4º, da CF/88 não estabelece uma vedação absoluta ao
pagamento de outras verbas além do subsídio.
O modelo de remuneração por subsídio tem por objetivo evitar que atividades “normais”
exercidas pelo servidor público, ou seja, atividades que são inerentes ao cargo que ele ocupa (e
que já são remuneradas pelo subsídio) sejam também remuneradas com o acréscimo de outras
parcelas adicionais.
Dito de outra forma: o subsídio remunera o servidor pelas atividades que ele realiza e que são
inerentes ao seu cargo, ou seja, as atividades “normais” de seu cargo. O art. 39, § 4º proíbe que
este servidor receba outras verbas (além do subsídio) para exercer essas atividades “normais”.
Contudo, o art. 39, § 4º, não proíbe que o servidor receba:
a) valores que não ostentam caráter remuneratório, como os de natureza indenizatória; e
b) valores pagos como retribuição por eventual execução de encargos especiais não incluídos
no plexo das atribuições normais e típicas do cargo considerado.
O que o art. 39, § 4º, da CF/88 impede é a acumulação do subsídio com outras verbas
destinadas a retribuir o exercício de atividades próprias e ordinárias do cargo.
Justamente por isso, é constitucional lei estadual que preveja o pagamento de gratificação para
servidores que já recebem pelo regime de subsídio quando eles realizarem atividades que
extrapolam as funções próprias e normais do cargo.
Essas atividades, a serem retribuídas por esta parcela própria, detêm conteúdo ocupacional
estranho às atribuições ordinárias do cargo e, portanto, podem ser remuneradas por
gratificação além da parcela única do subsídio, sem que isso afronte o art. 39, § 4º, da CF/88.
Essa gratificação somente seria inconstitucional se ficasse demonstrado que estaria havendo
um duplo pagamento pelo exercício das mesmas funções normais do cargo.
STF. Plenário. ADI 4941/AL, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j. 14/8/19
(Info 947).

15.9. FUNDAÇÕES: A estabilidade especial do art. 19 do ADCT não se aplica para empregados
das fundações públicas de direito privado (abrange apenas os servidores das pessoas jurídicas de
direito público) – (Info 946) – IMPORTANTE!!!

A estabilidade especial do art. 19 do ADCT não se estende aos empregados das fundações
públicas de direito privado, aplicando-se tão somente aos servidores das pessoas jurídicas de
direito público.
O termo “fundações públicas”, utilizado pelo art. 19 do ADCT, deve ser compreendido como
fundações autárquicas, sujeitas ao regime jurídico de direito público.
Ex: empregados da Fundação Padre Anchieta não gozam dessa estabilidade do art. 19 do
ADCT em razão de se tratar de uma fundação pública de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 1º e 7/8/19 (repercussão geral) (Info 946).

15.10. ACUMULAÇÃO DE CARGOS: É possível a acumulação de cargos mesmo que a jornada


semanal ultrapasse 60h – (Info 937) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da
CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional,
pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício
das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª T. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 9/4/19 (Info 937).
STF. 2ª T. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.
STJ. 1ª S. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 27/3/19 (Info 646).

OBS:

É possível que a pessoa acumule mais de um cargo ou emprego público?


REGRA: NÃO. A CF/88 proíbe a acumulação remunerada de cargos ou empregos
públicos.

EXCEÇÕES: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:

XVI - é vedada a acumulação remunerada de cargos públicos, exceto, quando


houver compatibilidade de horários, observado em qualquer caso o disposto no
inciso XI:
a) a de dois cargos de professor;
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico;
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas;
No caso dos servidores públicos federais, importante mencionar que o tema foi regulamentado
pela Lei nº 8.112/90:
Art. 118. Ressalvados os casos previstos na Constituição, é vedada a acumulação
remunerada de cargos públicos. (...)
§ 2º A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica condicionada à comprovação da
compatibilidade de horários

Parecer-AGU nº GQ-145/98: Com o objetivo de disciplinar a matéria, a Advocacia Geral da União


(AGU) emitiu o parecer nº GQ-145, vinculante, afirmando que o servidor somente poderá
acumular cargos se houver compatibilidade de horário e desde que a jornada máxima não
ultrapasse 60 horas semanais. Assim, para a AGU, mesmo que exista compatibilidade de
horários, se a jornada semanal ficar acima de 60 horas, a acumulação não será permitida,
considerando que o servidor estaria muito cansado e isso atrapalharia seu desempenho funcional,
em prejuízo ao princípio constitucional da eficiência.

Obs: esse parecer foi revogado em abril/2019.

Os servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para que pudessem
manter a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas. A
jurisprudência acolhe o pedido dos servidores? É possível que o servidor acumule dois cargos
públicos mesmo que a soma das jornadas ultrapasse 60 horas semanais? SIM. É possível a
acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h. É o que foi decidido no Info
937 do STF.

O fundamento é constitucional. Ora, a CF/88 em nenhum momento exigiu que a jornada


semanal dos dois cargos fosse de até 60 horas. O texto constitucional exigiu apenas que haja
compatibilidade de horários. Logo, essa exigência feita por norma infraconstitucional de que a
jornada seja de até 60 horas está além daquilo que a Constituição impôs, sendo, portanto,
indevida.

Posição do TCU: A jurisprudência atual do TCU é no sentido de que a questão da


incompatibilidade de horários entre os cargos acumuláveis deve ser estudada caso a caso, sem a
limitação objetiva de 60 horas semanais. Nesse sentido: Acórdãos 1.338/2011-TCU-Plenário, de
relatoria do Ministro Augusto Nardes, e 1.168/2012-TCU-Plenário, de relatoria do Ministro José
Jorge.

Como o tema já foi cobrado em concursos:


(Juiz Federal Substituto - TRF2 - IBFC - 2018) É lícita a acumulação de dois cargos privativos da
área de saúde, bastando a demonstração concreta da compatibilidade de horários, mesmo que a
soma das horas semanais trabalhadas ultrapasse o limite de jornada estipulado em ato
administrativo (CERTO)

Revogação do Parecer-AGU nº GQ-145/98: Em abril de 2019, a AGU exarou novo parecer


revogando o Parecer-AGU nº GQ-145/98. A nova posição institucional da AGU é a seguinte:
É inválida a regulamentação administrativa que impõe limitação de carga horária
semanal como empecilho para a acumulação de cargos públicos.

15.11. TETO CONSTITUCIONAL REMUNERATÓRIO: Teto remuneratório de Procuradores


Municipais é o subsídio de Desembargador de TJ – (Info 932) – IMPORTANTE!!!

A expressão "Procuradores", contida na parte final do inciso XI do art. 37 da CF/88,


compreende os procuradores municipais, uma vez que estes se inserem nas funções essenciais
à Justiça, estando, portanto, submetidos ao teto de 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento) do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF.
STF. Plenário. RE 663696/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/2/2019 (Info 932).

OBS:

Teto remuneratório: A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o
valor máximo que os agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de
evitar que alguns agentes públicos recebessem os chamados “supersalários”, que são
incompatíveis com o serviço público. Além de um teto geral (nacional), o dispositivo
constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos Estados e Municípios (chamados de
subtetos). O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que,
atualmente, está em R$ 39.293,32 (bruto), conforme prevê a Lei 13.752/18.
 
A quem se aplica o teto? O teto é aplicado aos agentes públicos independentemente do tipo de
vínculo: estatutário, celetista, temporário, comissionado, político.
 
O teto vale também para a Administração direta e indireta?
• Agentes públicos da administração direta: SEMPRE

• Agentes públicos das autarquias e fundações: SEMPRE

• Empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista: o teto somente
se aplica se a empresa pública ou a sociedade de economia mista receber recursos da União, dos
Estados, do DF ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
geral (art. 37, § 9º).
 
Quais as parcelas incluídas nesse limite?
Regra: o teto abrange todas as espécies remuneratórias e todas as parcelas integrantes do valor
total percebido, incluídas as vantagens pessoais ou quaisquer outras.
 
Exceções: Estão fora do teto as seguintes verbas:
a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88,
tais como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc.;
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art.
40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos (STF RE 612975/MT). Ex.: se
determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu subsídio integral
como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o teto seria
considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do limite
previsto no art. 37, XI da CF/88, se considerarmos seus ganhos globais.
 
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto? SIM.
A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
 
Redação do inciso XI: A redação do inciso XI do art. 37 é muito grande e um pouco confusa: A
partir da sua interpretação, podemos construir a seguinte tabela:
 
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas podem
fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão respeitar o teto
nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do
Ministros Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos Poderes): Prefeito
do STF Executivo: subsídio do Governador.
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais.
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria): subsídio
dos Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do STF.*
 
Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): o valor
máximo seria o subsídio dos Desembargadores do TJ,
limitado a 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do STF.*
 
O subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais seguirá
regras próprias (§ 2º do art. 27), não estando sujeito ao
subsídio dos Desembargadores mesmo que se adote esta 2ª
opção.
 
Vale ressaltar que quem define se o Estado-membro
adotará subtetos diferentes ou único é a Constituição
estadual.
 
* A CF/88 dá a entender que o subsídio dos
Desembargadores e dos juízes estaduais não poderia ser
maior que 90,25% do subsídio do Ministro do STF. O STF,
contudo, declarou que esta interpretação é inconstitucional
(STF ADI 3.854). O teto para os Desembargadores e juízes
estaduais é 100% do subsídio dos Ministros do STF, ou seja,
eles podem, em tese, receber o mesmo que os Ministros do
STF. Vale ressaltar, no entanto, que o limite de 90,25% do
subsídio dos Ministros do STF aplica-se sim para os
servidores do Poder Judiciário estadual (na opção 1) e para
os servidores dos três Poderes estaduais (na opção 2).
 
 
Membros do MP, Defensoria Pública e Procuradoria: O legislador constituinte decidiu que os
membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Procuradoria, para fins de teto
remuneratório, não deveriam estar submetidos aos limites impostos aos servidores do Poder
Executivo. Explicando melhor. Conforme vimos na opção 1 do quadro acima, a remuneração dos
servidores do Poder Executivo está limitada ao subsídio do Governador (esse é o subteto dos
servidores do Executivo). O inciso XI do art. 37 disse, contudo, o seguinte: o subsídio dos
membros do MP, da Defensoria Pública e da Procuradoria não precisa respeitar o teto imposto
ao Poder Executivo. Os membros dessas três carreiras deverão estar vinculados ao teto imposto
ao Poder Judiciário. Em outras palavras, como essas três funções são também essenciais à Justiça,
para fins de teto remuneratório, o inciso XI decidiu vinculá-los à Magistratura. Assim, o teto para
o membro do MP estadual, para o Defensor Público estadual e para os Procuradores é o
subsidio dos Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do STF. É o que prevê a parte final do inciso XI. Veja:
Art. 37 (...)
XI –(...)aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder
Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder
Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a
noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos
Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41/2003)
 
Essa regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se
também aos Procuradores do Município? A interpretação puramente literal não resolve a dúvida,
havendo argumentos para as duas soluções:
• Argumento favorável à aplicação aos Procuradores do Município: o fato de o inciso XI utilizar
uma expressão genérica “Procuradores”, não restringindo aos Procuradores do Estado e do DF.
• Argumento contrário: o fato de essa regra estar na parte em que o inciso está tratando do teto
nos Estados-membros.
 
Diante dessa polêmica, o STF foi chamado a dar a resposta ao tema. O que decidiu a Corte? Essa
regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se também
aos Procuradores do Município? SIM. É o que foi decidido no Info 932 do STF. O termo
“Procuradores”, na axiologia do STF, engloba:
• os Procuradores do Estado e do DF;
• os procuradores autárquicos (que ainda existam validamente);
• assim como os procuradores municipais.

É indiscutível que os Procuradores Municipais integram a categoria da advocacia pública a que


a Constituição denomina de “funções essenciais à Justiça” e, quanto ao teto remuneratório,
devem estar sujeitos ao subsídio dos desembargadores dos tribunais de justiça estaduais.

Assim, é inconstitucional a hermenêutica que exclua da categoria “Procuradores” os


“defensores dos municípios” *, que desempenham idênticas atribuições dos procuradores
congêneres no âmbito da União, dos Estados e do Distrito Federal. Desse modo, não haveria
fundamento para referido discrímen (discriminação) entre os procuradores. Ao assim proceder,
os procuradores municipais estariam sujeitos às mais diversas contingências políticas, distantes do
subteto de 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF.
Assim, o teto dos Procuradores Municipais não é o subsídio do Prefeito, mas sim o teto de
90,25% do subsídio mensal dos Ministros do STF.

* “defensores dos municípios”: essa expressão foi utilizada no voto do Min. Fux no
sentido de “advogados” (“procuradores”) dos municípios. Não tem nada a ver com
Defensoria Pública municipal que, segundo a maioria da doutrina, não pode existir.
 
Essa decisão do STF significa que os Procuradores do Município devem receber, obrigatoriamente,
90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF? NÃO. O constituinte não obriga
que os Municípios estipulem como subsídio dos Procuradores do Município o valor de 90,25% do
subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF. Trata-se de um teto (e não de um piso). Logo,
talvez, em Municípios pequenos do interior do Estado, com baixa arrecadação, esse valor seja alto,
o que não se verifica, por outro lado, em grandes capitais. A definição do subsídio dos
Procuradores Municipais é feita por meio de lei cujo projeto é de iniciativa privativa do Prefeito,
nos termos do art. 61, §1º, II, “c”, da CF/88. Dessa forma, cabe ao Prefeito avaliar politicamente,
diante das circunstâncias orçamentárias e da sua política de recursos humanos, a conveniência
de permitir que um procurador de município receba mais do que o chefe do Poder Executivo
municipal.
 
Tabela atualizada: Diante dessa importante decisão do STF, podemos atualizar a tabela do teto
remuneratório:
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas podem
fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão respeitar o teto
nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do Prefeito
Ministros do Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos  
STF Poderes): Obs: os procuradores
Executivo: subsídio do Governador. municipais estão
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais. submetidos ao teto de
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria): 90,25% do subsídio
subsídio dos Desembargadores do TJ, limitado a mensal, em espécie,
90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos dos ministros do STF.
Ministros do STF.*
 
Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): o
valor máximo seria o subsídio dos
Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
STF.*
 
O subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais
seguirá regras próprias (§ 2º do art. 27), não
estando sujeito ao subsídio dos Desembargadores
mesmo que se adote esta 2ª opção.
 
Vale ressaltar que quem define se o
Estado-membro adotará subtetos diferentes ou
único é a Constituição estadual.
 
* A CF/88 dá a entender que o subsídio dos
Desembargadores e dos juízes estaduais não
poderia ser maior que 90,25% do subsídio do
Ministro do STF. O STF, contudo, declarou que esta
interpretação é inconstitucional (STF ADI 3.854). O
teto para os Desembargadores e juízes estaduais é
100% do subsídio dos Ministros do STF, ou seja,
eles podem, em tese, receber o mesmo que os
Ministros do STF. Vale ressaltar, no entanto, que o
limite de 90,25% do subsídio dos Ministros do STF
aplica-se sim para os servidores do Poder
Judiciário estadual (na opção 1) e para os
servidores dos três Poderes estaduais (na opção 2).
 
 
Concursados e organizados em carreira: Apesar de não ter constado na tese fixada, no voto do
Relator foi feita menção a um aspecto muito importante. Para o Min. Luiz Fux, essa equiparação
entre o teto dos Procuradores do Estado/DF com os Procuradores Municipais somente é
permitida se, naquele Município, os Procuradores forem concursados e organizados em
carreira. Assim, pelo voto do Relator, não seria admitido o teto de 90,25% dos Ministros do STF
para advogados contratados, sem concurso público, para o exercício de funções de defesa jurídica
do Município.

Essa ressalva também foi feita pelo Min. Gilmar Mendes: “Apesar de a Constituição não fazer menção
expressa aos procuradores municipais, há que se reconhecer que, quando organizados em carreira,
também exercem a atribuição de advogados públicos, realizando as atividades congêneres àquelas
desempenhadas pelos advogados da União e pelos procuradores federais, estaduais e distritais, prestando
consultoria jurídica e representando judicial e extrajudicialmente a municipalidade”.
 
Ganha força a tese de concurso para as Procuradorias Municipais: Existe uma polêmica se a
CF/88 exige ou não que os Municípios tenham Procuradorias Municipais, organizadas em
carreira, mediante concurso público, para o desempenho das funções de representação judicial e
consultoria jurídica. Há, inclusive, uma PEC tramitando para incluir as Procuradorias Municipais
no art. 132 da CF/88. A conclusão do STF no RE 663696/MG, ao equiparar as Procuradorias
Municipais às Procuradorias do Estado/DF, reforça a tese de que os Municípios devem ter
Procuradorias Municipais, organizadas em carreira mediante concurso público. Esperamos que
seja esse o entendimento a prevalecer.

15.12. REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL: Inconstitucionalidade das sanções


decorrentes da negativa de expedição de CRP (Certificado de Regularidade Previdenciária) – (Info
928) – Pouca Relevância!

Ao editar o art. 7º da Lei 9.717/98 e o Decreto 3.788/01, a União extravasou a competência


legislativa para a edição de normas gerais sobre previdência social.
A União extrapolou os limites de sua competência legislativa na edição da Lei 9.717/98, ao
impor sanções decorrentes da negativa de expedição de Certificado de Regularidade
Previdenciária (CRP).
STF. 1ª T. ACO 3134 TP-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, red. p/ ac. Min. Marco Aurélio, j.
18/12/18 (Info 928).

15.13. TETO CONSTITUCIONAL REMUNERATÓRIO: Os substitutos interinos dos cartórios


extrajudiciais devem receber limitado ao teto do funcionalismo público (art. 37, XI, da CF/88) –
(Info 923)

Incide o teto remuneratório constitucional aos substitutos interinos de serventias


extrajudiciais.
STF. 2ª Turma. MS 29039/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 13/11/18 (Info 923).

OBS: O titular interino não pode ser equiparado ao titular da serventia, considerando que ele
não preenche os requisitos para tanto. Assim, ele está atuando como um preposto do Poder
Público e, nessa condição, deve submeter-se aos limites remuneratórios previstos para os
agentes públicos. Esse é a posição pacífica de ambas as Turmas do STF:
O titular interino não atua como delegado do serviço notarial e de registro porque
não preenche os requisitos para tanto; age, em verdade, como preposto do Poder
Público e, nessa condição, deve-se submeter aos limites remuneratórios previstos
para os agentes estatais, não se lhe aplicando o regime remuneratório previsto para
os delegados do serviço público extrajudicial (art. 28 da Lei nº 8.935/1994). STF. 1ª
Turma. MS 30180 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/10/14.

Aplica-se a quem detém interinamente a serventia extrajudicial a limitação do teto


prevista no art. 37, XI, da Constituição. STF. 2ª Turma. MS 29083 ED-ED-AgR, Rel.
Min. Teori Zavascki, Rel. p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, j. 16/5/17.

15.14. Não devolução dos valores recebidos de boa-fé por servidor público por força de decisão
liminar revogada – (Info 923)

Não deve ser determinada a devolução de valores recebidos de boa-fé por servidor público,
percebidos a título precário no período em que liminar produziu efeitos.
É desnecessária a devolução dos valores recebidos por liminar revogada, em razão de mudança
de jurisprudência. Também é descabida a restituição de valores recebidos indevidamente,
circunstâncias em que o servidor público atuou de boa-fé.
Essa orientação ampara-se na confiança legítima que o beneficiário da decisão tem no sentido
de que a sua pretensão será acolhida.
Assim, os princípios da boa-fé e da segurança jurídica afastam o dever de restituição de
parcelas recebidas por ordem liminar revogada.
STF. 1ª Turma. MS 32185/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 13/11/2018 (Info 923).

OBS:

Veja outros precedentes no mesmo sentido:


(...) 1. Quando da publicação da decisão que deferiu o pedido de medida liminar, a
jurisprudência hegemônica do STF era no sentido de que a glosa, pelo TCU, de
percentuais pagos em virtude de decisões judiciais transitadas em julgado importava
em afronta à garantia prevista no art. 5º, XXXVI, da Magna Carta. Esse contexto, sem
dúvida, alimentou no impetrante justificada expectativa por provimento final
favorável, ou seja, pela concessão da ordem, com a confirmação da liminar deferida.
2. Houve, contudo, alteração da jurisprudência desta Suprema Corte, que passou a
rechaçar a tese de afronta à coisa julgada, ao fundamento de que o Tribunal de
Contas da União, em casos como o presente, apenas identifica o exaurimento da
eficácia de comandos judiciais transitados em julgado, ante a superveniência de
alterações legislativas que promovem reestruturações remuneratórias e absorvem
parcelas judicialmente reconhecidas.
3. A mudança jurisprudencial solapou projeção razoavelmente nutrida pelo
impetrante e descortinou cenário suscetível de afastar, de modo pontual e
excepcional, considerados os princípios da boa-fé, da segurança jurídica e da
proteção da confiança, a regra do art. 46, § 3º, da Lei nº 8.112/1990. (...) STF. 1ª
Turma. MS 30556 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 26/05/2017.

(...) 3. Desnecessidade de restituição das parcelas recebidas por força de medida


liminar deferida com fundamento em jurisprudência consolidada do STF, cassada
em virtude da recente mudança de entendimento. Projeção do postulado da
confiança assentada pelo plenário deste Supremo Tribunal no julgamento do
mandado de segurança n. 25.430 (...) STF. 2ª T. MS 26132 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 18/11/2016.

(...) Quando do julgamento do MS 25.430, o STF assentou, por 10 votos a 1, que as


verbas recebidas em virtude de liminar deferida por este Tribunal não terão que ser
devolvidas por ocasião do julgamento final do mandado de segurança, em função
dos princípios da boa-fé e da segurança jurídica e tendo em conta expressiva
mudança de jurisprudência relativamente à eventual ofensa à coisa julgada de
parcela vencimental incorporada à remuneração por força de decisão judicial. (...)
STF. 1ª T. MS 31543 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 14/10/16.

O STJ possui o mesmo entendimento acima exposto? NÃO. O STJ, sem enfrentar expressamente o
tema referente à mudança na jurisprudência, em regra, afirma que é devida a devolução. Confira:
Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial posteriormente
revogada, tal quantia poderá ser exigida pela Administração Pública? SIM. É devida
a restituição ao erário dos valores de natureza alimentar pagos pela Administração
Pública a servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária
posteriormente revogada. O STJ entende que, neste caso, não se pode falar em
boa-fé do servidor, considerando que ele sabia que poderia haver alteração da
decisão que tinha caráter precário (provisório). STJ. 1ª Seção. EAREsp 58.820-AL,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/10/2014.

O servidor público recebe valores por sentença judicial transitada em julgado.


Posteriormente, esta sentença é desconstituída em ação rescisória. O servidor deverá
devolver as quantias percebidas? NÃO. A jurisprudência do STJ firmou o
entendimento no sentido de que não é devida a restituição dos valores que, por força
de decisão transitada em julgado, foram recebidos de boa-fé, ainda que
posteriormente tal decisão tenha sido desconstituída em ação rescisória (STJ. 1ª T.
AgRg no AREsp 2.447/RJ, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, j. 17/4/12).

O entendimento consolidado segundo o qual é legítimo o desconto de valores


pagos em razão do cumprimento de decisão judicial precária, posteriormente
revogada, não tem aplicação neste caso porque aqui o pagamento decorreu de
sentença judicial definitiva, que só depois foi desconstituída em ação rescisória.
STJ. 1ª T. AgRg no AREsp 463.279/RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, j. 02/09/2014.

DOD PLUS: Outros entendimentos jurisprudenciais que são importantes sobre o tema:

Servidor público que recebe, administrativamente, valores que, posteriormente, se mostram


indevidos, é obrigado a restituir a quantia?
As quantias percebidas pelos servidores em razão de decisão administrativa
dispensam a restituição quando:
a) auferidas de boa-fé;
b) há ocorrência de errônea interpretação da Lei pela Administração;
c) ínsito o caráter alimentício das parcelas percebidas, e
d) constatar-se o pagamento por iniciativa da Administração Pública, sem
participação dos servidores.
STF. 1ª Turma. MS 33976 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 24/11/2017.

Servidor que recebe indevidamente valores por meio de decisão administrativa (posição do STJ
não exige esses mesmos requisitos do STF):
Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa
posteriormente revogada, tal quantia poderá ser exigida de volta pela
Administração Pública?
NÃO. É incabível a restituição ao erário dos valores recebidos de boa-fé pelo
servidor público em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei
por parte da Administração Pública.
Em virtude do princípio da legítima confiança, o servidor público, em regra, tem a
justa expectativa de que são legais os valores pagos pela Administração Pública,
porque jungida à legalidade estrita.
Assim, diante da ausência da comprovação da má-fé no recebimento dos valores
pagos indevidamente por erro de direito da Administração, não se pode efetuar
qualquer desconto na remuneração do servidor público, a título de reposição ao
erário.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
10/10/2012 (recurso repetitivo).

Súmula 249 do TCU: É dispensada a reposição de importâncias indevidamente


percebidas, de boa-fé, por servidores ativos e inativos, e pensionistas, em virtude de
erro escusável de interpretação de lei por parte do órgão/entidade, ou por parte de
autoridade legalmente investida em função de orientação e supervisão, à vista da
presunção de legalidade do ato administrativo e do caráter alimentar das parcelas
salariais.

Súmula 34-AGU: Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos de boa-fé pelo
servidor público, em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei por
parte da Administração Pública.
Servidor que recebe indevidamente valores em decorrência de erro operacional da Administração:
A 1ª Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial Representativo da
Controvérsia 1.244.182/PB, firmou o entendimento de que não é devida a
restituição de valores pagos a servidor público de boa-fé, por força de
interpretação errônea ou má aplicação da lei por parte da Administração. O
mesmo entendimento tem sido aplicado pelo STJ nos casos de mero equívoco
operacional da Administração Pública. Assim, não é devida a devolução de verba
paga indevidamente a servidor em decorrência de erro operacional da
Administração Pública, quando se constata que o recebimento pelo beneficiado se
deu de boa-fé. STJ. 1ª T. AgRg no REsp 1447354/PE, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, j. 16/9/14. STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1560973/RN, Rel. Min. Humberto
Martins, j. 05/04/16.

Restituição à Administração Pública de proventos depositados a servidor público falecido:


Os herdeiros devem restituir os proventos que, por erro operacional da
Administração Pública, continuaram sendo depositados em conta de servidor
público após o seu falecimento. STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1.387.971-DF, Rel. Min.
Mauro Campbell Marques, julgado em 15/3/2016 (Info 579).

Quadro-resumo:

SITUAÇÃO TERÁ QUE DEVOLVER?


1) Servidor recebe por decisão ADMINISTRATIVA NÃO
depois revogada
2) Servidor que recebe indevidamente valores em NÃO
decorrência de erro operacional da Administração
3) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não SIM
definitiva depois reformada (posição do STJ)
4) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não NÃO
definitiva depois reformada (obs: a reforma da liminar (posição do STF)
foi decorrência de mudança na jurisprudência).
4) Servidor recebe por sentença TRANSITADA EM NÃO
JULGADO e que posteriormente é rescindida
5) Herdeiro que recebe indevidamente proventos do SIM
servidor aposentado depois que ele morreu

15.15. O aumento de 45% concedido aos militares pela Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral
da remuneração, não podendo ser estendida para os servidores públicos civis – (Info 922) – Baixa
relevância!

Não é possível a extensão a servidores públicos civis da majoração de vencimentos, no


percentual de 45%, concedida a servidores militares, a título de reestruturação de cargos, com
base na Lei 8.237/91 e no princípio da isonomia dos índices revisionais disciplinados na
redação original do art. 37, X, da CF/88.
O reajuste de vencimentos concedido aos integrantes das Forças Armadas, à base de 45%, pela
Lei 8.237/91, não configurou um aumento geral na remuneração dos servidores militares que
autorizasse, com fundamento no art. 37, X, CF/88, a extensão aos servidores civis.
STF. 2ª Turma. RE 229637/ SP, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Gilmar Mendes, j.
6/11/18 (Info 922).

OBS: A Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da remuneração para os militares. Esta Lei foi
uma restruturação das Forças Armadas, sendo, portanto, específica para os militares. Assim, tendo
em vista tratar-se de reestruturação remuneratória da carreira militar, redefinindo remuneração,
soldo, gratificações, adicionais, auxílios, indenizações e proventos, não há que se falar em extensão
aos servidores públicos civis.

15.16. Correios devem motivar a demissão de seus empregados – (Infos 699 e 919) –
IMPORTANTE!!!
Em 2013, o STF decidiu, de forma genérica, que:
Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF/88, salvo
aqueles admitidos em período anterior ao advento da EC 19/98.
Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a admissão
por concurso público, a dispensa do empregado de empresas públicas e sociedades de
economia mista que prestam serviços públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que
tais princípios, observados no momento daquela admissão, sejam também respeitados por
ocasião da dispensa.
A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de uma possível quebra
do postulado da impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de demitir.
STF. Plenário. RE 589998/PI, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/3/13 (repercussão geral)
(Info 699).

Diante disso, imaginou-se que essa decisão valeria para todas as empresas públicas e
sociedades de economia mista.
No entanto, em 2018, o STF, em embargos de declaração, afirmou que esta decisão (RE
589998/PI) só se aplica para os Correios considerando que o caso concreto envolvia um
empregado da ECT).
Quanto às demais empresas públicas e sociedades de economia mista, o STF afirmou que
ainda não decidiu o tema, ou seja, terá que ser analisado caso a caso.
Assim, por enquanto, essa decisão só se aplica para os Correios.
A tese fixada foi a seguinte:
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em ato
formal, a demissão de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/10/18 (Info 919).

15.17. A contribuição previdenciária paga pelo servidor não deve incidir sobre parcelas que não
são incorporadas à sua aposentadoria – (Info 919)

Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de
aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários (horas
extras), adicional noturno e adicional de insalubridade.
STF. Plenário. RE 593068/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/10/18 (repercussão geral) (Info
919).

Em adequação ao entendimento do STF, não incide contribuição previdenciária sobre verba


não incorporável aos proventos de aposentadoria do servidor público, tais como terço de
férias, serviços extraordinários, adicional noturno e adicional de insalubridade.
STJ. 1ª T. EDcl no AgInt no REsp 1659435-SC, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 03/09/19
(Info 656).

15.18. Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem
direito a matrícula em universidade pública, se não existir instituição privada congênere no
destino – (Info 915) – IMPORTANTE!!!

É constitucional a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de


servidor, a matrícula em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem.
Ex: Paulo é servidor público federal, lotado em Recife (PE), onde faz faculdade de Medicina
em uma universidade particular. Ele é transferido, de ofício, para Rio Branco (AC).
Suponhamos, hipoteticamente, que, em Rio Branco, as universidades privadas lá existentes
não possuem o curso de medicina. Neste caso, Paulo teria direito a uma vaga no curso de
Medicina da universidade pública.
Fundamento legal: art. 1º da Lei nº 9.536/97.
STF. Plenário. RE 601580/RS, Rel. Min. Edson Fachin, j. 19/9/18 (repercussão geral) (Info 916).
OBS: A transferência ex officio é um direito assegurado pela Lei nº 9.536/97, que regulamentou o
parágrafo único do art. 49, parágrafo único, da Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação):

Lei nº 9.394/96
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a transferência de alunos
regulares, para cursos afins, na hipótese de existência de vagas, e mediante processo
seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei.
 
Lei nº 9.536/97
Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do art. 49 da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a
qualquer sistema de ensino, em qualquer época do ano e independente da existência
de vaga, quando se tratar de servidor público federal civil ou militar estudante, ou
seu dependente estudante, se requerida em razão de comprovada remoção ou
transferência de ofício, que acarrete mudança de domicílio para o município onde
se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima desta.
Parágrafo único. A regra do caput não se aplica quando o interessado na
transferência se deslocar para assumir cargo efetivo em razão de concurso público,
cargo comissionado ou função de confiança.

15.19. STF decide modular os efeitos de decisão que mandou afastar Delegados de Polícia do
cargo por ofensa à regra do concurso público – (Info 909)

Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil do Estado
do Amazonas.
Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de Polícia
e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI.
Em 2015, o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à
exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que
eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi
criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação, mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
Foram opostos embargos de declaração contra a decisão.
Em 2018, o STF acolheu os embargos e aceitou modular os efeitos da decisão proferida na ADI
3415. Além disso, o Tribunal determinou ao Estado do Amazonas que promova, no prazo
máximo de 18 meses, a contar da publicação da ata de julgamento (07/08/2018), a abertura de
concurso público para o cargo de Delegado de Polícia.
O Ministro Relator Alexandre de Moraes afirmou que mais de 70 delegacias de polícia
ficariam sem delegados e que a população amazonense é que sofreria as consequências.
Além disso, na decisão dos embargos, os Ministros esclareceram que são plenamente válidos
os atos praticados nos cargos de Delegado de Polícia que serão afastados.
STF. Plenário. ADI 3415 ED-segundos/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 1º/8/18 (Info 909).

15.20. Não é compatível com a CF/88 a norma de CE que estabelece que o servidor público
inativo deverá receber obrigatoriamente a mais do que percebia na ativa – (Info 907)
A Constituição do Estado do Ceará previa que o servidor, ao se aposentar, deveria receber,
como proventos, o valor pecuniário correspondente ao padrão de vencimento imediatamente
superior ao da sua classe funcional, e, se já ocupasse o ultimo escalão, faria jus a uma
gratificação adicional de 20% sobre a sua remuneração.
O STF decidiu que essa previsão não era considerada materialmente inconstitucional à época
da edição da Carta, uma vez que a superação da remuneração em atividade era tolerada na
redação original da CF. Porém, essa regra não foi recepcionada pela EC 20/98 que proibiu a
superação do patamar remuneratório da atividade e a impossibilidade de incorporação da
remuneração do cargo em comissão para fins de aposentadoria (art. 40, §§ 2º e 3º, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).

15.21. Inconstitucionalidade de normas da Constituição Estadual que tratam sobre remuneração


e direitos dos servidores públicos sem que existam previsões semelhantes na CF/88 – (Info 907)

São inconstitucionais os arts. 154, § 2º; 167, XII e XIII, §§ 1º e 2º; e 174, da Constituição do
Estado do Ceará, e os arts. 27 e 28 do seu ADCT. Tais dispositivos tratam de remuneração e
direitos de servidores públicos, que, por não encontrarem similares na CF/88, somente
poderiam ser veiculados por meio de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo.
São previsões específicas que não tratam da organização e estruturação do Estado-membro ou
de seus órgãos, mas que versam sobre o regime jurídico de servidores públicos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).

15.22. Constitucionalidade de norma da CE que assegura equiparação salarial para professores


com igual titulação, respeitando-se o grau de ensino em que estiverem atuando – (Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará prevê que deverá ser assegurada isonomia salarial para
docentes em exercício, com titulação idêntica, respeitando-se o grau de ensino em que
estiverem atuando.
O STF decidiu que essa regra é constitucional e que não ofende o art. 37, XIII, da CF/88. Isso
porque não há, no caso, equiparação salarial de carreiras distintas, considerando que se trata
especificamente da carreira de magistério público e de docentes com titulação idêntica.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).

15.23. Inconstitucionalidade de norma que equipara remuneração de servidores públicos – (Info


907)

A Constituição do Estado do Ceará previa que deveria ser assegurado “aos servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações, isonomia de vencimentos para
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas
à natureza ou ao local de trabalho.”
O STF decidiu que é inconstitucional a expressão “das autarquias e das fundações”. Isso
porque a equiparação remuneratória entre servidores, a teor da redação originária do art. 39, §
1º, da CF/88, restringiu-se aos servidores da administração direta, não mencionando os entes
da administração indireta, como o faz a norma impugnada.
Além disso, o dispositivo estadual não foi recepcionado, em sua integralidade, pela redação
atual do art. 39 da Constituição Federal, na forma EC 19/1998.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).

OBS:

Essa previsão era incompatível com a redação originária do art. 39, § 1º da CF/88. Isso porque
este dispositivo constitucional afirmava que se deveria assegurar isonomia de vencimentos
apenas para os servidores da administração direta, não se mencionando os entes da
administração indireta. Veja:
Art. 39. (...)
§ 1º - A lei assegurará, aos servidores da administração direta, isonomia de
vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhados do mesmo Poder ou
entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as
vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
(Redação originária).

Após a EC 19/98, não há mais qualquer dúvida de que é proibida a equiparação de vencimentos
entre servidores de cargos diferentes. Veja o que diz o art. 37, XIII, da CF/88:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias
para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público; (Redação dada pela EC
19/98)

O art. 39, § 1º da CF/88, também alterado pela EC 19/98, não fala mais nada sobre isonomia de
vencimentos:
Art. 39 (...)
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema
remuneratório observará: (Redação dada pela EC/98)
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes
de cada carreira; (Incluído pela EC 19/98)
II - os requisitos para a investidura; (Incluído pela EC 19/98)
III - as peculiaridades dos cargos. (Incluído pela EC 19/98)

15.24. Decisão que concede a gratificação de 13,23% viola a SV 37 – (Infos 884 e 886)

A decisão judicial que concede a servidor público a gratificação de 13,32% prevista na Lei
10.698/03 afronta a súmula vinculante 37, mesmo que o julgador fundamente sua decisão no
art. 37, X, da CF/88 e no art. 6º da Lei 13.317/16.
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. 1ª Turma. Rcl 25927 AgR/SE e Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, j. 31/10/17 (Info 884).
STF. 1ª Turma. Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 28/11/17 (Info 886).

OBS:
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de
isonomia.

Para o Supremo, o objetivo do juiz e do Tribunal, ao fundamentar a decisão com base no art. 37, X,
da CF/88 e no art. 6º da Lei nº 13.317/2016, foi apenas o de tentar afastar a incidência da SV 37.
No entanto, o raciocínio adotado pelo Tribunal, em última análise, é fundamentado na igualdade,
razão pela qual se aplica a proibição da súmula vinculante.

15.25. Jornada de trabalho diferenciada para servidores médicos e dentistas – (Info 869)

A jornada de trabalho do MÉDICO servidor público é de 4 horas diárias e de 20 horas


semanais, nos termos da Lei nº 12.702/2012.
A jornada de trabalho do ODONTÓLOGO servidor público é de 6 horas diárias e de 30 horas
semanais, nos termos do DL 2.140/84.
Essas regras acima explicadas não se aplicam no caso de médicos e odontólogos que ocupem
cargo em comissão ou função de confiança, considerando que, neste caso, terão que cumprir a
jornada normal de trabalho.
STF. 2ª Turma. MS 33853/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 13/6/17 (Info 869).

15.26. Se a pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber acima do teto –
(Info 862) – IMPORTANTE!!!

Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e funções, a


incidência do art. 37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos
vínculos formalizados, afastada a observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos
ganhos do agente público.
Ex: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu subsídio
integral como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o teto seria
considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele receba acima do limite
previsto no art. 37, XI da CF se considerarmos seus ganhos globais.
STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26 e 27/4/17
(repercussão geral) (Info 862).

15.27. EC 70/2012 produz efeitos financeiros somente a partir da data de sua promulgação – (Info
860)

Os efeitos financeiros das revisões de aposentadoria concedida com base no art. 6º-A da EC
41/2003, introduzido pela EC 70/2012, somente se produzirão a partir da data de sua
promulgação (30/3/2012).
STF. Plenário. RE 924456/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
j. 5/4/17 (Info 860).

15.28. Magistrado que estava recebendo abono de permanência e foi promovido terá direito de
continuar percebendo o benefício – (Info 859)

A ocupação de novo cargo dentro da estrutura do Poder Judiciário, pelo titular do abono de
permanência, não implica a cessação do benefício.
Ex: determinada pessoa ocupa o cargo de Desembargador do Trabalho e está recebendo abono
de permanência; se ela for promovida ao cargo de Ministro do TST, terá direito de continuar
recebendo o abono, não sendo necessário completar cinco anos no cargo de Ministro para
requerer o benefício.
STF. 1ª Turma. MS 33424/DF e MS 33456/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 28/3/17 (Info 859).

15.29. Regime de subsídio e pagamento de 13º e férias a Prefeito e Vice-Prefeito – (Info 852)

O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de terço de férias
e décimo terceiro salário.
STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
1º/2/17 (repercussão geral) (Info 852).

OBS:

Segundo o Min. Luís Roberto Barroso, o regime de subsídio é incompatível apenas com o
pagamento de outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso do décimo
terceiro e das férias, que são verbas pagas a todos os trabalhadores e servidores, com
periodicidade anual.
A Constituição Federal prevê, em seu art. 39, § 3º, que os servidores públicos gozam de terço de
férias e 13º salário, não sendo vedado o seu pagamento de forma cumulada com o subsídio.
Os agentes políticos, como é o caso dos Prefeitos e Vice-Prefeitos, não devem ter um tratamento
melhor, mas também não podem ter uma situação pior do que a dos demais trabalhadores. Se
todos os trabalhadores em geral têm direito a um terço de férias e têm direito a décimo terceiro
salário, não se mostra razoável que isso seja retirado da espécie de servidores públicos (Prefeitos e
Vice-Prefeitos).
Assim, não é inconstitucional o pagamento de terço de férias e 13º salário a Prefeitos e
Vice-Prefeitos.

E a previsão do pagamento de verba de representação? Aqui temos uma situação de


inconstitucionalidade. Esta verba de representação não é uma quantia paga a todos os
trabalhadores e servidores, não havendo, portanto, razão para que seja excepcionada do regime de
subsídio (parcela única).

Assim, o STF julgou constitucional a previsão de terço de férias e 13º salário e, por outro lado,
inconstitucional o pagamento da chamada "verba de representação".

15.30. Aposentadoria compulsória não se aplica a cargos comissionados – (Info 851) –


IMPORTANTE!!! – (TJMS-2020)

Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da


aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os
ocupantes de cargo de provimento efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para
fins de nomeação a cargo em comissão.
Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional, não há óbice constitucional a que o
servidor efetivo, aposentado compulsoriamente, permaneça no cargo comissionado que já
desempenhava ou a que seja nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma vez
que não se trata de continuidade ou criação de vínculo efetivo com a Administração.
STF. Plenário. RE 786540/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/12/16 (repercussão geral) (Info 851).

15.31. Inconstitucionalidade de norma estadual que amplie as hipóteses do art. 19 do ADCT da


CF/88 – (Info 840)

O art. 19 do ADCT da CF/88 previu que os servidores públicos que estavam em exercício há
pelo menos 5 anos quando a Constituição Federal foi promulgada, deveriam ser considerados
estáveis, mesmo não tendo sido admitidos por meio de concurso público. Desse modo, quem
ingressou no serviço público, sem concurso, até 05/10/1983 e assim permaneceu, de forma
continuada, tornou-se estável com a edição da CF/88.
É inconstitucional Constituição estadual ou lei estadual que amplie a abrangência do art. 19 do
ADCT e preveja estabilidade para servidores públicos admitidos sem concurso público
mesmo após 05/10/1983 (5 anos antes da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1241/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 (Info 840).

OBS:

Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em
exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos
continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da
Constituição, são considerados estáveis no serviço público. (...)
§ 2º — O disposto neste artigo não se aplica aos ocupantes de cargos, funções e
empregos de confiança ou em comissão, nem aos que a lei declare de livre
exoneração, cujo tempo de serviço não será computado para os fins do "caput" deste
artigo, exceto se se tratar de servidor.
§ 3º — O disposto neste artigo não se aplica aos professores de nível superior, nos
termos da lei.
15.32. A questão dos 13,23% e as súmulas vinculantes 10 e 37 – (Info 829)

O art. 1º da Lei nº 10.698/2003 concedeu reajuste aos servidores públicos federais de todos os
Poderes, porém em percentuais diferentes. A diferença entre o maior e o menor reajuste foi de
13,23%.
Os servidores que receberam o menor percentual alegaram que o mencionado art. 1º
representou uma revisão geral anual, tendo, no entanto, violado o art. 37, X, da CF/88,
considerando que foi feita com índices diferentes, o que não é permitido por esse dispositivo
constitucional. Diante disso, pediram que fosse concedida a incorporação dos 13,23% em sua
remuneração.
A 1ª Turma do TRF1 (órgão fracionário do Tribunal) concedeu a incorporação pedida.
Para o STF, esta decisão violou as súmulas vinculantes 10 e 37.
A 1ª Turma do TRF1, mesmo sem dizer isso expressamente, fez um controle de
constitucionalidade do art. 1º da Lei 10.698/03 concluindo que este dispositivo incidiu em
inconstitucionalidade por omissão parcial. No entanto, como se trata de órgão fracionário do
TRF, houve violação ao art. 97 da CF/88 e da SV 10: "Viola a cláusula de reserva de plenário (CF,
art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no
todo ou em parte."
Além disso, houve violação da SV 37: "Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia."
STF. 2ª Turma. Rcl 14872, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 31/5/2016 (Info 828).

15.33. Revogação de lei que concedeu aumento sem que tenham se iniciado seus efeitos
financeiros – (Info 819)

Lei estadual de 2007 fixou aumento na remuneração dos servidores públicos estaduais. A Lei
entrou em vigor na data de sua publicação, mas estabeleceu que os efeitos financeiros desse
aumento seriam contados somente a partir do primeiro dia do ano seguinte.
Ocorre que, antes que chegasse a data prevista como início do reajuste, a referida Lei foi
revogada por uma outra.
O STF entendeu que esta Lei revogadora é inconstitucional por violar o direito adquirido (art.
5º, XXXVI, da CF/88) e o princípio da irredutibilidade dos vencimentos (art. 37, XV).
A Lei que concedeu o reajuste entrou em vigor na data de sua publicação. Apenas os efeitos
financeiros é que foram postergados para o dia 1º/1/2008.
No momento em que a Lei entrou em vigor, os servidores passaram a ter direito adquirido ao
reajuste, ainda que os efeitos financeiros somente fossem em data futura.
STF. Plenário. ADI 4013/TO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/3/2016 (Info 819).

15.34. Declaração de inconstitucionalidade de lei que efetuou transposição e exoneração do


servidores – (Info 810)

No julgamento da ADI 3819, o STF declarou inconstitucional lei estadual, posterior à CF/88,
que transformou ocupantes de determinado cargo público em Defensores Públicos.
Entendeu-se que houve violação ao princípio do concurso público.
Os servidores foram, então, exonerados pelo Governador do Estado, mas conseguiram ser
reintegrados por decisão do STJ, que entendeu que, antes da exoneração, deveria a eles ser
garantido devido processo legal, com contraditório e ampla defesa.
O STF, em reclamação, cassou essa decisão do STJ por entender que ela contrariou a
autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI 3.819/MG.
STF. 2ª Turma. Rcl 16950/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1º/12/2015 (Info 810).

15.35. Adicional por tempo de serviço e direito adquirido – (Info 809)


Não há garantia à continuidade de recebimento de adicional por tempo de serviço em
percentual superior àquele previsto em legislação posterior sob o fundamento de direito
adquirido.
STF. Plenário. MS 22423/RS, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, j.
26/11/15 (Info 809).

15.36. TETO CONSTITUCIONAL REMUNERATÓRIO: As vantagens pessoais do servidor


também devem respeitar o teto, mesmo que sejam anteriores à EC 41/03 (Info 808) –
IMPORTANTE!!!

Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam
adquirido antes da EC 41/03 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo).
Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada de
direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/03 fossem
por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anteriores à EC 41/03
estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da CF/88,
também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/03 a título de vantagens
pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores eventualmente recebidos em
excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).

15.37. Remunerações acima do teto constitucional e base de cálculo para incidência do IR e da


contribuição previdenciária – (Info 781)

Existem determinados servidores, especialmente aposentados, que, por terem vantagens


pessoais incorporadas em seus vencimentos (ex: quintos), “no papel”, deveriam receber mais
do que o teto. Ex: João, Desembargador aposentado, incorporou diversas gratificações pessoais
ao longo de sua carreira. Assim, a remuneração bruta de João é de R$ 50 mil, mas ele só
receberá, de fato, até o valor do teto, devendo ser ressaltado que a quantia que superar o limite
constitucional não lhe será paga. O valor que, no momento do pagamento, é descontado da
remuneração total do servidor por estar superando o teto constitucional é chamado de
“abate-teto”.
O servidor público, antes de receber sua remuneração líquida, é obrigado a pagar imposto de
renda e contribuição previdenciária. Esse valor já é descontado na folha pela entidade
pagadora. Assim, o Tribunal de Justiça, antes de pagar a remuneração de um Desembargador,
já desconta os valores que ele deverá pagar de IR e contribuição previdenciária. As alíquotas
do IR e da contribuição previdenciária incidem sobre o valor da remuneração do servidor
público. Ex: valor do IR = 27,5% multiplicado pela remuneração do servidor. Em termos
tributários, podemos dizer que a base de cálculo do IR e da contribuição previdenciária é a
remuneração do servidor.
Se o servidor tem uma remuneração “no papel” superior ao teto, o imposto de renda e a
contribuição previdenciária incidirão sobre essa remuneração total ou sobre a remuneração total
menos o abate-teto? Em outras palavras, a remuneração de João é 50 mil; ocorre que o teto do
funcionalismo é 33 mil; João pagará IR e CP sobre 50 mil ou sobre 33 mil?
Sobre os 33 mil. A base de cálculo para se cobrar o IR e a contribuição previdenciária é o valor
da remuneração do servidor depois de ser excluída a quantia que exceder o teto.
Como o recurso extraordinário foi julgado sob a sistemática de repercussão geral, o STF
definiu, em uma frase, a tese que será aplicada em todos os demais casos idênticos. A tese
firmada foi a seguinte: “Subtraído o montante que exceder o teto e subteto previsto no artigo 37,
inciso XI, da Constituição Federal, tem-se o valor que vale como base para o Imposto de Renda e
para a contribuição previdenciária”.
STF. Plenário. RE 675978/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/4/15 (repercussão geral) (Info 781).

15.38. Aposentadoria dos policiais civis e militares – (Info 781)


Foi ajuizada ação direta de inconstitucionalidade por omissão contra o Governador e a
Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo afirmando que eles estavam sendo omissos
porque ainda não haviam editado lei complementar estadual prevendo critérios diferenciados
para aposentadoria de policiais civis e militares do sexo feminino nos termos do art. 40, §§ 1º e
4º, da CF/88. O STF julgou a ação improcedente por dois motivos:
● Quanto às policiais civis, o pleito formulado na ação já foi atendido com a edição, pelo
Congresso Nacional, da Lei Complementar federal 144/2014, de abrangência nacional,
que deu à policial civil o direito de se aposentar voluntariamente, com proventos
integrais, independentemente de idade, após 25 anos de contribuição, desde que conte
pelo menos 15 anos de exercício em cargo de natureza estritamente policial.
● Quanto às policiais militares, o STF entendeu que não se aplica a regra de
aposentadoria especial do art. 40, § 4º, da CF/88, porque os militares não podem ser
considerados, atualmente, como servidores públicos, sendo a eles aplicável um regime
jurídico próprio disciplinado pelo art. 142, § 3º, X (e não pelo art. 40, § 4º). Não
havendo determinação constitucional expressa, a decisão de conceder aposentadoria
com critérios facilitados para policiais militares mulheres é uma escolha discricionária
de cada Estado-membro.
STF. Plenário. ADO 28/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/4/2015 (Info 781).

15.39. Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador – (Info 780)

Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A
previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que seja
prevista genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, configurando um
tratamento privilegiado sem haver fundamento legítimo.
STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

15.40. TETO REMUNERATÓRIO: É inconstitucional lei estadual que fixa teto remuneratório
para servidores do Poder Judiciário – (Info 774)

Lei do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder
Judiciário.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional.
O teto para o funcionalismo estadual somente pode ser fixado por meio de emenda à
Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual.
Além disso, a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da CF/88)
e a lei viola a sistemática escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores do Poder
Judiciário, excluindo-o para os demais Poderes.
STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 11/2/15 (Info 774).

15.41. Pensão por morte e menor sob guarda (Lei 8.112/90) – (Info 766)

O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).
STF. 2ª Turma. MS 31770/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/11/2014 (Info 766).
15.42. A ampliação de jornada de trabalho sem alteração da remuneração do servidor viola a
regra constitucional da irredutibilidade de vencimentos – (Info 765) – IMPORTANTE!!!

O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem direito
adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no serviço
público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua
remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da irredutibilidade
dos vencimentos.
No caso concreto, os servidores de determinado órgão público tinham jornada de trabalho de
20 horas semanais. Foi editada, então, uma Lei aumentando a jornada de trabalho para 40
horas semanais, sem, contudo, majorar a remuneração paga. O STF entendeu que a lei que
alterou a jornada de trabalho não poderia ser aplicada aos servidores que, antes de sua edição,
já estivessem legitimamente subordinados à carga horária inferior. Isso porque se fossem
obrigados a trabalhar mais sem aumento da remuneração, haveria uma redução proporcional
dos vencimentos recebidos.
Assim, nas hipóteses em que houver aumento de carga horária dos servidores, essa só será
válida se houver formal elevação proporcional da remuneração; caso contrário, a regra será
inconstitucional, por violação da norma constitucional da irredutibilidade vencimental.
STF. Plenário. ARE 660010/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2014 (repercussão geral)
(Info 762).
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).

15.43. Aumento da remuneração de servidores públicos por meio de decisão judicial – (Info 763
e 756) – IMPORTANTE!!!

Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014.

(...) O Poder Judiciário não tem poder para conceder aumentos para servidores regidos pelo
regime estatutário com base no princípio da isonomia.
STF. Plenário. RE 592317/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/8/14 (repercussão geral) (Info 756).

15.44. Impossibilidade de mudança no regime jurídico do servidor se houver redução da


remuneração – (Info 762)

O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem direito
adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no serviço
público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua
remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da irredutibilidade
dos vencimentos.
No caso concreto, a lei duplicou a jornada de trabalho dos servidores públicos e permitiu que
eles continuassem a prestar a jornada menor, desde que recebessem apenas a metade da
remuneração. O STF entendeu que essa modificação da jornada de trabalho não foi válida para
os médicos que já eram servidores do órgão antes da Lei. Isso porque se eles continuassem a
trabalhar na mesma jornada de trabalho anterior, iriam receber apenas a metade da
remuneração. Logo, houve, indiretamente, uma redução do valor dos vencimentos.
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).

15.45. TETO CONSTITUCIONAL REMUNERATÓRIO: A instituição do teto teve eficácia


imediata e todas as remunerações tiveram que se submeter a ele – (Info 761)

O teto de retribuição fixado pela EC 41/03 é de eficácia imediata e todas as verbas de natureza
remuneratória recebidas pelos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo com regime legal
anterior.
A aplicação imediata da EC 41/03 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o
princípio da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.
Em outras palavras, com a EC 41/03, quem recebia acima do teto fixado, teve a sua remuneração
reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.
STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 2/10/14 (Info 761).

1.1. Licença para acompanhamento de cônjuge – (Info 760) – Atenção! Concursos Federais!

A Lei n. 8.112/90 prevê que poderá ser concedida licença ao servidor público federal para
acompanhar seu cônjuge ou companheira que foi deslocado para outro ponto do território
nacional, podendo ali exercer provisoriamente atividade compatível com seu cargo em órgão
ou entidade da Administração Federal direta, autárquica ou fundacional. Tal licença
remunerada está prevista no § 2º do art. 84.
Contudo, o servidor não terá direito a essa licença remunerada se o cônjuge se mudou para
outro Município para assumir um cargo público decorrente de concurso público para o qual
foi aprovado.
Em suma, a licença para o acompanhamento de cônjuge ou companheiro de que trata o § 2º do
art. 84 da Lei n. 8.112/90 não se aplica aos casos de provimento originário de cargo público.
STF. 1ª Turma. MS 28620/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/9/2014 (Info 760).

1.2. Instituição de gratificação por ato infralegal – (Info 757)

É inconstitucional ato normativo interno de tribunal que institua gratificação remuneratória


aos seus servidores.
STF. Plenário. ADI 1776/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/9/2014 (Info 757).

1.3. Vedação à vinculação ou equiparação de espécies remuneratórias – (Info 755)

É incompatível com a CF/88 (art. 37, XIII e art. 39, § 1º) a lei estadual que equipara a
remuneração de uma carreira a de outra distinta.
STF. Plenário. ADPF 97/PA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

1.4. Servidor público em inatividade não goza do adicional de férias – (Info 755)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que o servidor público, mesmo quando for
para a inatividade, continuará tendo direito, todos os anos, ao adicional de férias (terço de
férias).
Essa lei viola o princípio da razoabilidade já que o servidor público em inatividade não pode
gozar de férias, porquanto deixou de exercer cargo ou função pública, razão pela qual a ele não
se estende adicional de férias concedido a servidores em atividade.
STF. Plenário. ADI 1158/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).

1.5. Gratificação de desempenho genérica deve ser estendida aos aposentados e pensionistas –
(Info 755) – IMPORTANTE!!!
a) as vantagens remuneratórias legítimas e de caráter geral conferidas a determinada categoria,
carreira ou, indistintamente, a servidores públicos, por serem vantagens genéricas, são
extensíveis aos servidores inativos e pensionistas;
b) nesses casos, a extensão alcança os servidores que tenham ingressado no serviço público
antes da publicação da EC 20/1998 e da EC 41/2003 e se aposentado ou adquirido o direito à
aposentadoria antes da EC 41/2003;
c) com relação aos servidores que se aposentaram após a EC 41/2003, devem ser observados os
requisitos estabelecidos na regra de transição contida em seu art. 7º, em virtude da extinção da
paridade integral entre ativos e inativos contida no art. 40, § 8º, da CF, redação original, para os
servidores que ingressaram no serviço público após a publicação da EC 41/2003; e
d) com relação aos servidores que tivessem ingressado no serviço público antes da EC 41/2003
e se aposentaram ou adquiriram o direito à aposentadoria após a sua edição, é necessário
observar a incidência das regras de transição fixadas pela EC 47/2005, a qual estabeleceu
efeitos retroativos à data de vigência da EC 41/2003.
STF. Plenário. RE 596962/MT, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
STJ. STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.372.058-CE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
4/2/2014 (Info 534).

1.6. Aposentadoria por invalidez com proventos integrais – (Info 755) – IMPORTANTE!!!

A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem
aposentados caso se tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da
chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição. Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa invalidez for
decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a doença
incapacitante esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias que
ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve ser
tido como exaustivo (taxativo).
STF. Plenário. RE 656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

1.7. Ajuda de custo para transporte e mudança de magistrados – (Info 753)

A LC 35/1979 (Loman) prevê, em seu art. 65, I, o pagamento de indenização para custeio de
despesas com transporte e mudança:
Apesar de a Loman falar que a matéria será regulada em lei, esse diploma legal nunca foi
editado. Por conta disso, o STF afirmou que é possível aplicar, de forma subsidiária, a norma
que rege os servidores públicos federais (Lei 8.112/1990) que, em seu arts. 53 e 54, disciplina a
ajuda de custo para transporte e mudança.
STF. 2ª Turma. AO 1656/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).

1.8. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 748)

A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88, deverá especificar as hipóteses
emergenciais que justificam as medidas de contratação excepcional. Caso não o faça, ela será
tida por inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3649/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2014 (Info 748)

1.9. CONCEITO DE CARGO TÉCNICO PARA OS FINS DO ART. 37, XVI, “B”, DA CF/88 –
(Info 747) – IMPORTANTE!!!
A CF/88 permite a acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou científico (art.
37, XVI, “b”).
Somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele exigir, no desempenho
de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de alguma área do saber.
Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades
meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica.
Nesse sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível médio,
não se enquadram no conceito constitucional.
STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia,
julgado em 20/5/2014 (Info 747).

1.10. Inconstitucionalidade de dispositivo da CE que preveja modos de investidura derivada –


(Info 746)

É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que assegure ao servidor público


estadual que, na data da promulgação da Constituição, estivesse à disposição de órgão
diferente daquele de sua lotação de origem, o direito de optar pelo enquadramento definitivo
no órgão em que estivesse servindo.
É também inconstitucional o artigo da CE que permita que o servidor que ocupasse um cargo
de nível médio fosse reenquadrado em um de nível superior quando concluísse curso de nível
superior.
STF. Plenário. ADI 351/RN, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/5/2014 (Info 746)

1.11. O art. 170 da Lei 8.112/1990 é inconstitucional – (Info 743)

O art. 170 da Lei n. 8.112/90 prevê que, mesmo estando prescrita a infração disciplinar, é
possível que a prática dessa conduta fique registrada nos assentos funcionais do servidor.
O STF decidiu que esse art. 170 é INCONSTITUCIONAL por violar os princípios da
presunção de inocência e da razoabilidade.
STF. Plenário. MS 23262/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/4/2014 (Info 743).

1.12. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 742)

A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público.
Além disso, essa lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de
emergência.
STF. Plenário. RE 658026/MG, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 9/4/2014 (Info 742).

1.13. Lei que efetivava servidores sem concurso público e modulação dos seus efeitos – (Info
740)

Lei mineira transformava diversos servidores com vínculo precário com a Administração em
servidores efetivos.
STF julgou inconstitucional a referida Lei por violação à regra do concurso público.
A corte decidiu, contudo, modular os efeitos da decisão.
Com relação aos cargos para os quais não há concurso público em andamento ou em vigor: a
lei continuará produzindo efeitos por um período de até 12 meses.
Com relação aos cargos para os quais há concurso em andamento ou em vigor: os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade são imediatos.
Servidores já aposentados (ou que preencheram os requisitos para jubilação), bem como para
aqueles que foram aprovados em concurso público ou que foram beneficiados pela
estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT da CF/88: não se submetem aos efeitos da decisão
(continuarão em seus cargos com a aposentadoria).
STF. Plenário. ADI 4876/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2014 (Info 740).

1.14. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 740)

O STF entende que o art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate
pessoas, sem concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter eventual,
temporário ou excepcional, como também para o desempenho das funções de caráter regular e
permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de necessidade temporária de
excepcional interesse público.
No caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do Maranhão
que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para os ensinos
fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso público e
devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá ocorrer pelo
prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que esse prazo seja
contado do último concurso realizado para a investidura de professores. Desse modo, durante
o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que justificaria a contratação sem
concurso até que fosse concluído o certame.
STF. Plenário. ADI 3247/MA, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).

1.15. O menor sob guarda tem direito à pensão temporária por morte na Lei 8.112/90 – (Info 738)
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O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).

1.16. Administração pode suspender cautelarmente, no curso de processo administrativo,


pagamento de gratificação supostamente indevida – (Info 737)

Durante o processo administrativo instaurado para apurar a legalidade de determinada


gratificação, a Administração Pública pode determinar, com fundamento no poder cautelar
previsto no art. 45 da Lei n. 9784/99, a suspensão do pagamento da verba impugnada até a
decisão definitiva do órgão sobre a sua validade no âmbito do procedimento aberto.
STF. 2ª Turma. RMS 31973/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/2/2014 (Info 737).

1.17. Lei estadual pode passar a exigir nível superior para cargo público, aumentando sua
remuneração – (Info 734)

É CONSTITUCIONAL Lei estadual que passa a exigir nível superior para determinado cargo
público (que antes era de ensino médio), determinando ainda o aumento da remuneração paga
para os ocupantes desse cargo, que irão agora receber como servidores de nível superior.
STF. Plenário. ADI 4303/RN, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/2/2014 (Info 734).

2. GREVE NO SERVIÇO PÚBLICO


2.1. Constitucionalidade de Decreto estadual que regulamenta as providências a serem
adotadas em caso de greve – (Info 906)

O Governador da Bahia editou um decreto prevendo que, em caso de greve, deverão ser
adotas as seguintes providências:
a) convocação dos grevistas a reassumirem seus cargos;
b) instauração de processo administrativo disciplinar;
c) desconto em folha de pagamento dos dias de greve;
d) contratação temporária de servidores;
e) exoneração dos ocupantes de cargo de provimento temporário e de função gratificada
que participarem da greve.
O STF decidiu que este Decreto é constitucional.
Trata-se de decreto autônomo que disciplina as consequências — estritamente
administrativas — do ato de greve dos servidores públicos e as providências a serem
adotadas pelos agentes públicos no sentido de dar continuidade aos serviços públicos.
A norma impugnada apenas prevê a instauração de processo administrativo para se
apurar a participação do servidor na greve e as condições em que ela se deu, bem como o
não pagamento dos dias de paralisação, o que está em consonância com a orientação
fixada pelo STF no julgamento do MI 708.
É possível a contratação temporária excepcional (art. 37, IX, da CF/88) prevista no decreto
porque o Poder Público tem o dever constitucional de prestar serviços essenciais que não
podem ser interrompidos, e que a contratação, no caso, é limitada ao período de duração
da greve e apenas para garantir a continuidade dos serviços.
STF. Plenário. ADI 1306/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/6/2017 (Info 906).

OBS:

Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37,
VII, da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica;

Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. O STF decidiu que,
mesmo sem ter sido ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores
públicos podem fazer greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para
os trabalhadores da iniciativa privada (Lei nº 7.701/88 e Lei nº 7.783/89). Nesse sentido: STF.
Plenário. MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.

Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda
comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração Pública a
que a categoria se encontre vinculada e à população, com antecedência mínima
de 72 horas (uma vez que todo serviço público é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades dos administrados (usuários ou destinatários dos
serviços) e à sociedade.
Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da
remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
✔ Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
✔ Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.

STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).

Para que seja realizado o desconto dos dias não trabalhados, exige-se a instauração de
processo administrativo? NÃO. Não há necessidade de processo administrativo prévio
para realizar descontos na remuneração do servidor, em razão de dias parados
decorrentes de greve (STJ. 2ª T. AgInt no AREsp 780.209/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, j.
24/5/2016).

2.2. Compete à Justiça Comum (estadual ou federal) decidir se a greve realizada por
servidor público é ou não abusiva – (Info 871)

A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade de greve de


servidores públicos celetistas da Administração pública direta, autarquias e fundações
públicas.
STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 1º/8/17 (repercussão geral) (Info 871).

OBS:

Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37,
VII, da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica;

Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda
comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração Pública a
que a categoria se encontre vinculada e à população, com antecedência mínima
de 72 horas (uma vez que todo serviço público é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades dos administrados (usuários ou destinatários dos
serviços) e à sociedade.

Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da


remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
✔ Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
✔ Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.

STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).

Suponhamos que ocorra divergência entre os servidores e a Administração Pública sobre a


abusividade da greve realizada e a questão acabe chegando ao Judiciário. Neste caso, de
quem será a competência para decidir se a greve é legal ou não? Trata-se de competência da
Justiça Comum ou da Justiça do Trabalho? Justiça Comum. No julgamento do MI 708, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/07, o STF já havia definido que a competência para
julgar questões relativas à greve dos servidores públicos é da Justiça Comum.

A Justiça Comum será competente mesmo que se trate de empregado público (vínculo
celetista)? SIM. A Justiça Comum será competente mesmo que o vínculo do servidor com a
Administração Pública seja regido pela CLT, ou seja, ainda que se trate de empregado
público.
Sobre o tema, o STF fixou a seguinte tese:
A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade
de greve de servidores públicos celetistas da Administração pública direta,
autarquias e fundações públicas. STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min.
Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 1º/8/2017 (repercussão
geral) (Info 871).

Assim, a Justiça Comum é sempre competente para julgar causa relacionada ao direito de
greve de servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional, pouco
importando se se trata de celetista ou estatutário.

Vale fazer, contudo, uma importante ressalva: se a greve for de empregados públicos de
empresa pública ou sociedade de economia mista, a competência será da Justiça do
Trabalho.

Estadual ou Federal
⮚ Se os servidores públicos que estiverem realizando a greve forem municipais ou
estaduais, a competência será da Justiça Estadual.
⮚ Se os servidores públicos grevistas forem da União, suas autarquias ou fundações, a
competência será da Justiça Federal.

E se a greve abranger mais de um Estado?


⮚ Se a greve for de servidores estaduais ou municipais e estiver restrita a uma
unidade da Federação (um único Estado), a competência será do respectivo
Tribunal de Justiça (por aplicação analógica do art. 6º da Lei 7.701/88).
⮚ Se a greve for de servidores federais e estiver restrita a uma única região da Justiça
Federal (ex: greve dos servidores federais de PE, do CE, do RN e da PB): a
competência será do respectivo TRF (neste exemplo, o TRF5) (por aplicação
analógica do art. 6º da Lei 7.701/88).
⮚ Se a greve for de âmbito nacional, ou abranger mais de uma região da Justiça
Federal, ou ainda, compreender mais de uma unidade da federação, a competência
para o dissídio de greve será do STJ (por aplicação analógica do art. 2º, I, "a", da Lei
7.701/88).

2.3. Policiais são proibidos de fazer greve – (Info 860) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019)

O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais
civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.
É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas
das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para vocalização dos
interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 5/4/17 (repercussão geral) (Info 860).

OBS:

A greve é um direito de todos os servidores públicos? NÃO. Existem determinadas categorias


para quem a greve é proibida.

Os policiais militares podem fazer greve? NÃO. A CF/88 proíbe expressamente que os
Policiais Militares, Bombeiros Militares e militares das Forças Armadas façam greve (art. 142,
3º, IV c/c art. 42, § 1º).

O art. 142, § 3º, IV, da CF/88 não menciona os policiais civis. Em verdade, não existe nenhum
dispositivo na Constituição que proíba expressamente os policiais civis de fazerem greve.
Diante disso, indaga-se: os policiais civis possuem direito de greve? NÃO. Apesar de não
haver uma proibição expressa na CF/88, o STF decidiu que os policiais civis não podem fazer
greve. Aliás, o Supremo foi além e afirmou que nenhum servidor público que trabalhe
diretamente na área da segurança pública pode fazer greve.

Carreira policial é carreira de Estado, essencial para a segurança pública: A carreira policial,
disciplinada pelo art. 144 da CF/88, tem como função exercer a segurança pública,
garantindo a “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
A carreira policial é o braço armado do Estado para realizar a segurança pública e as Forças
Armadas são o braço armado do Estado para garantir a segurança nacional. Diante da
relevância de suas funções e considerando que se trata de uma atividade que não pode ser
exercida pela iniciativa privada, considera-se que a atividade policial é uma "carreira de
Estado". A atividade policial diferencia-se, contudo, de outras atividades essenciais, como
educação e saúde, porque ela não pode ser exercida por particulares. A segurança pública é,
portanto, atividade privativa do Estado. Vale ressaltar que, diante de suas peculiaridades, a
Constituição disciplinou as carreiras policiais de forma diferenciada, tratando delas em um
capítulo específico, distinto do capítulo dos servidores públicos.

Direito de greve é incompatível com a carreira policial: Não é possível compatibilizar que o
braço armado do Estado faça greve porque isso colocaria em risco a segurança pública, a
ordem e a paz social. Os integrantes das carreiras policiais possuem o dever de fazer
intervenções e prisões em flagrante, sendo isso inconciliável com o exercício da greve. Como
já afirmado, não há possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir a
atividade policial. Se esta entra em greve, não há como sua função ser substituída. Vale
ressaltar que a atividade policial, além de ser importantíssima por si só, se for paralisada,
afetará também as atribuições do Ministério Público e do próprio Poder Judiciário.

Greve não é direito absoluto: A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito
um balanceamento entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à segurança
pública e à manutenção da ordem pública e paz social. Neste caso, há a prevalência do
interesse público e do interesse social sobre o interesse individual de uma categoria. Por essa
razão, em nome da segurança pública, os policiais não podem fazer greve. Importante
destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito de greve X continuidade do
serviço público. A greve dos policiais é proibida não por causa do princípio da continuidade
do serviço público (o que seria muito pouco), mas sim por conta do direito de toda a
sociedade à garantia da segurança pública, à garantia da ordem pública e da paz social.

Não se trata de aplicar por analogia o art. 142, § 3º, IV: É importante destacar que o STF
afirmou expressamente que, ao decidir que os policiais civis não possuem direito de greve,
não estava aplicando o art. 142, § 3º, IV, da CF/88 por analogia a eles. Não se trata, portanto,
de analogia. A greve é proibida por força dos princípios constitucionais que regem os órgãos
de segurança pública.

Carreira policial possui tratamento diferenciado: A pessoa que ingressa na carreira policial
sabe que estará integrando um órgão com regime especial, que possui regime de trabalho
diferenciado, escala, hierarquia e disciplina. Deve saber também que se trata de uma carreira
cuja atividade é incompatível com o direito de greve.
Estado de defesa e estado de sítio: Eventuais movimentos grevistas de carreiras policiais
podem levar à ruptura da segurança pública, o que é tão grave a ponto de permitir a
decretação do estado de defesa (art. 136 da CF/88) e se o estado de defesa, em 90 dias, não
responder ao anseio necessário à manutenção e à reintegração da ordem, será possível a
decretação do estado de sítio (art. 137, I).

Além dos policiais civis, os policiais federais também estão proibidos de fazer greve? SIM. O
STF entendeu que o exercício de greve é vedado a todas as carreiras policiais previstas no art.
144, ou seja, não podem fazer greve os integrantes da:
⮚ Polícia Federal;
⮚ Polícia Rodoviária Federal;
⮚ Polícia Ferroviária Federal;
⮚ Polícia Civil;
⮚ Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros militar.

Mediação: Apesar de os policiais não poderem exercer o direito de greve, é indispensável que
essa categoria possa vocalizar (expressar) as suas reivindicações de alguma forma. Pensando
nisso, o STF afirmou, como alternativa, que o sindicato dos policiais possa acionar o Poder
Judiciário para que seja feita mediação com o Poder Público, nos termos do art. 165 do CPC:
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de
conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e
mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a autocomposição.

Nesta mediação, os integrantes das carreiras policiais serão representados pelos respectivos
órgãos classistas (ex: sindicatos, no caso de polícia civil, federal etc.; associações, no caso de
polícia militar) e o Poder Público é obrigado a participar.

2.4. Administração Pública deve descontar os dias não trabalhados por servidor público em
greve – (Info 845) – IMPORTANTE!!! – (TJSP-2017) (TJBA-2019)

A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do


exercício do direito de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo
funcional que dela decorre. É permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será,
contudo, incabível se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder
Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).
(TJBA-2019-CESPE): Se os servidores estatutários de uma autarquia ambiental deflagrarem
greve e pararem de trabalhar, a greve poderá ser declarada legal, porém a administração
pública deverá, em regra, descontar da remuneração dos servidores os dias parados. BL: Info
845, STF.
(TJSP-2017-VUNESP): O direito de greve reconhecido constitucionalmente aos servidores
públicos implica que do seu exercício, todavia, poderá resultar o desconto dos dias
paralisados a ser efetuado pela Administração Pública, com possibilidade de compensação na
hipótese de acordo. BL: Info 845, STF.

OBS:

Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37,
VII, da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica;
Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. Mesmo sem ter sido
ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores públicos podem fazer
greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para os trabalhadores da
iniciativa privada (Lei 7.701/88 e Lei 7.783/89). Nesse sentido: STF. Plenário. MI 708, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.

Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda
comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração Pública a
que a categoria se encontre vinculada e à população, com antecedência mínima
de 72 horas (uma vez que todo serviço público é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades dos administrados (usuários ou destinatários dos
serviços) e à sociedade.

Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da


remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
✔ Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
✔ Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.

STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).

Greve é considerada pela lei como suspensão do contrato de trabalho: Os dias em que o
trabalhador fica afastado do serviço com o objetivo de participar da greve são considerados
pela legislação como período de suspensão do contrato de trabalho. Veja o que diz a Lei nº
7.783/89:
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve
suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o
período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça
do Trabalho.

O STF, no julgamento do MI 708, afirmou que este art. 7º deve ser aplicado nas greves
envolvendo servidores públicos.

O contrato de trabalho pode sofrer a paralisação temporária de seus efeitos, embora


mantenha a sua vigência. Essa paralisação pode ser classificada como suspensão ou
interrupção.
Suspensão não há trabalho
(total) não há pagamento de salários
não há contagem do tempo de serviço
não há recolhimento fundiário ou mesmo previdenciário
Interrupção não há trabalho
(parcial) há pagamento de salários
há contagem do tempo de serviço
há recolhimento fundiário ou mesmo previdenciário

Quando a Lei classifica a greve como hipótese de suspensão do contrato de trabalho, ela está
dizendo que não haverá trabalho, mas que também não haverá pagamento de salários.
Greve é um direito, mas que possui consequências: Segundo o STF, embora a grave seja
possível, porque é um direito constitucional, ela tem consequências. O desconto dos dias de
paralisação é o ônus inerente à greve, assim como a paralisação parcial dos serviços públicos
imposta à sociedade é consequência natural do movimento. Esse desconto dos dias parados
não tem finalidade disciplinar punitiva. Trata-se de um “afastamento” não remunerado do
servidor, na medida em que, embora autorizado pela CF/88, esta não lhe garantiu o
pagamento integral dos vencimentos. Assim, em razão da ausência de prestação específica do
serviço por parte do grevista, os descontos devem ser realizados.

O administrador público poderá deixar de descontar da remuneração do servidor os dias em


que ele ficou sem trabalhar fazendo greve? NÃO. Ele é obrigado a tomar esta atitude, não
podendo dispor sobre isso. Caso não haja o desconto dos dias paralisados, isso representará:
✔ enriquecimento sem causa dos servidores que não trabalharam;
✔ violação ao princípio da indisponibilidade do interesse público;
✔ violação ao princípio da legalidade.

O fato de ser permitido o desconto da remuneração, não faz com que, na prática, o STF esteja
dizendo que a greve no serviço público é proibida? NÃO. Ao admitir o desconto dos dias
paralisados, o STF não está negando o exercício do direito do servidor público de realizar
greve. A participação do servidor público em um movimento paredista é um direito seu, mas
esse direito possui limites e ônus, em especial, por se tratar o serviço público de atividade de
importância estratégica para o Estado em prol da sociedade.

Experiência de outros países: Na maioria dos países onde a greve no serviço público é
permitida, também ocorre o desconto da remuneração dos grevistas, o que tem mobilizado a
criação, inclusive, de fundos de greve, como é o caso do Reino Unido (“strike fund”), da
França e do Canadá (“fonds de grève”), da Espanha e de diversos países de língua espanhola
(“fondo de huelga”) e de Portugal (“fundos de maneio”).

É possível que a lei que venha a regulamentar o inciso VII do art. 37 preveja a greve no
serviço público como hipótese de interrupção (autorizando o pagamento da remuneração)?
SIM. O Min. Dias Toffoli afirmou que não existe vedação para que o Poder Legislativo
preveja na lei que vier a ser editada que o movimento grevista seja hipótese de interrupção
do vínculo.

Este entendimento de que deverá haver desconto na remuneração dos servidores grevistas já
era a posição do STF? SIM. Existem inúmeros julgados anteriores do STF no mesmo sentido.
Como exemplo, cite-se:
(...) Inexiste direito à restituição dos valores descontados decorrentes dos dias de
paralisação. Precedente. MI 708/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes. (...) STF. 2ª
Turma. AI 824949 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
23/08/2011.

TST: O TST também vem considerando a greve como hipótese de suspensão contratual (art.
7º da Lei 7.783/89), de forma que os dias de paralisação não devem ser remunerados, salvo
situações excepcionais, tais como aquelas em que o empregador contribui, mediante conduta
recriminável, para que a greve ocorra, ou quando há acordo entre as partes. (TST, RO nº
1000229-73.2014.5.02.0000, Relatora a Ministra Dora Maria da Costa, Seção Especializada em
Dissídios Coletivos, DEJT 19/12/14).

Não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público: Considera-se assim aquelas circunstâncias em que o ente da
administração tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para que a greve ocorresse.
Ex: não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos
servidores públicos ou se houver outras circunstâncias excepcionais que justifiquem o
afastamento da premissa da suspensão da relação funcional ou de trabalho.

Em vez de realizar o desconto, é possível que os servidores públicos façam a compensação


dos dias parados (ex: trabalhando duas horas a mais por dia)? SIM. A compensação dos dias
e horas paradas ou mesmo o parcelamento dos descontos poderão ser objeto de negociação,
uma vez que se encontram dentro das opções discricionárias do administrador. Ressalte-se,
contudo, que não há uma obrigatoriedade de a Administração Pública aceitar a compensação.

3. CONCESSÃO DE SERVIÇO PÚBLICO


3.1. A concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão –
(Info 885) – IMPORTANTE!!!

A concessionária não tem direito adquirido à renovação do contrato de concessão de usina


hidrelétrica.
A União possui a faculdade de prorrogar ou não o contrato de concessão, tendo em vista o
interesse público, não se podendo invocar direito líquido e certo a tal prorrogação.
Dessa forma, a prorrogação do contrato administrativo insere-se no campo da
discricionariedade.
A Lei 12.783/13 subordinou a prorrogação dos contratos de concessão de geração,
transmissão e distribuição de energia elétrica à aceitação expressa de determinadas
condições. Se estas são recusadas pela concessionária, a Administração Pública não é
obrigada a renovar a concessão.
A Lei 12.783/13 pode ser aplicada para a renovação de contratos ocorrida após a sua
vigência mesmo que a assinatura do pacto original tenha ocorrido antes da sua edição.
STF. 2ª Turma. RMS 34203/DF e AC 3980/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/11/17 (Info 885).

OBS:

Possibilidade de incidência da nova legislação sobre o contrato em curso: ausência de direito


adquirido: No caso concreto, não se trata de alteração legislativa com impacto em contrato
em curso. O prazo contratual definido tinha seu término previsto para 28/8/13. Após essa
data não havia qualquer garantia de continuidade do contrato, salvo por meio de
prorrogação contratual, se assim fosse do interesse público (discricionariedade
administrativa).

Por escolha governamental, definiu-se novo rumo ao sistema de fornecimento de energia


elétrica por meio da Lei 12.783/13. Essa legislação trouxe novas disposições para as
concessões de energia elétrica, que deviam ser observadas pela Administração Pública no
momento de avaliar a renovação dos contratos de concessão. A lei era expressa nesse sentido.
Também a mesma lei estipulou a necessidade de manifestação das concessionárias quanto ao
interesse de permanecer sob a contratação nas novas bases legais, respeitando-se, assim, não
apenas a discricionariedade administrativa na renovação do contrato, mas também a
bilateralidade, igualmente característica dessa forma de ajuste.

O princípio do equilíbrio financeiro do contrato, que assegura a equivalência entre as


vantagens e os custos tal como calculados no momento da celebração do contrato, deve ser
aplicado durante o período de vigência do ajuste.
Todo contrato possui um prazo definido e é durante esse período que se exige o equilíbrio da
relação contratual. O princípio do equilíbrio do contrato não é obrigatório em caso de
prorrogação do ajuste considerando que, neste caso, a Administração Pública poderá impor
novas condições assim definidas na lei.

Dessa forma, quando uma legislação nova surge, ela deverá respeitar as cláusulas do contrato
que estão em vigor até que o ajuste chegue ao seu termo final. Em caso de prorrogação,
contudo, é possível já exigir as novas condições, estando o concessionário livre para aceitar
ou não os novos termos contratuais. Não se pode falar neste caso que haja violação ao
equilíbrio econômico-financeiro do contrato considerando que ele já chegou ao fim e o que
se está discutindo é a sua prorrogação.

4. ANISTIADO POLÍTICA
4.1. O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores
devidos a anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária –
(Info 940)

Não é necessário o ajuizamento de ação autônoma para o pagamento dos consectários


legais inerentes à reparação econômica devida (juros de mora e correção monetária) a
anistiado político e reconhecida por meio de Portaria do Ministro da Justiça, a teor do
disposto no art. 8º do ADCT e no art. 6º, § 6º, da Lei 10.559/02.
STF. 1ª T. RMS 36182/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/5/19 (Info 940).

É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação mandamental


para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos,
independentemente de decisão expressa nesse sentido.
STJ. 1ª Seção. AgInt no MS 24212-DF, Rel. Min. Og Fernandes, j. 26/06/19 (Info 652)

Os juros de mora e a correção monetária constituem consectários legais da condenação, de


modo que incidem independentemente de expresso pronunciamento judicial.
STF. Plenário. RE 553710 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 01/08/2018.

4.2. Pagamento dos valores retroativos a anistiados políticos – (Info 847 e Info 917) –
REPERCUSSÃO GERAL!!!

1 - Reconhecido o direito à anistia política, a falta de cumprimento de requisição ou


determinação de providências por parte da União, por intermédio do órgão competente,
no prazo previsto nos arts. 12, § 4º, e 18, caput, § único, da Lei 10.559/02, caracteriza
ilegalidade e violação de direito líquido e certo.
2 - Havendo rubricas no orçamento destinadas ao pagamento das indenizações devidas
aos anistiados políticos, e não demonstrada a ausência de disponibilidade de caixa, a
União há de promover o pagamento do valor ao anistiado no prazo de 60 dias.
3 - Na ausência ou na insuficiência de disponibilidade orçamentária no exercício em
curso, cumpre à União promover sua previsão no projeto de lei orçamentária
imediatamente seguinte.
STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/11/16 (repercussão geral) (Info
847).
STF. 1ª Turma. RMS 28201/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 25/9/18 (Info 917).

5. PROVIMENTO DERIVADO
5.1. É inconstitucional lei estadual que transforma cargo de Comissário de Polícia em
Delegado de Polícia – (Info 800)

Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de
determinado Estado. Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria
cargos de Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial,
juntamente com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de
Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são
INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem
que eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia
foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800).

5.2. Inconstitucionalidade de lei que preveja provimento derivado – (Info 771)

É materialmente inconstitucional lei estadual que possibilite o provimento derivado de


servidores investidos em cargos de outras carreiras no cargo de auditor de saúde. Isso
constitui provimento derivado, o que viola o art. 37, II, da CF/88, que exige a prévia
aprovação em concurso para a investidura em cargo público (Súmula 685-STF).
STF. Plenário. ADI 2940/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

5.3. INCONSTITUCIONALIDADE DA ASCENSÃO E TRANSPOSIÇÃO – (Info 748)

A ascensão e a transposição constituem formas inconstitucionais de provimento derivado


de cargos por violarem o princípio do concurso público.
STF. Plenário. ADI 3341/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/5/14 (Info 748).

6. PENSÃO POR MORTE


6.1. Condição de companheira pode ser provada mesmo sem sentença judicial – (Info 824)

Não constitui requisito legal para a concessão de pensão por morte à companheira que a
união estável seja declarada judicialmente, mesmo que vigente formalmente o casamento.
Assim, é possível o reconhecimento de união estável de pessoa casada que esteja
comprovadamente separada judicialmente ou de fato, para fins de concessão de pensão
por morte, sem necessidade de decisão judicial neste sentido.
STF. 1ª Turma. MS 33008/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/5/2016 (Info 824).

6.2. Adoção de descendente maior com o único objetivo de deixar pensão por morte –
(Info 785)

Não é legítima a adoção de descendente maior de idade, sem a constatação de suporte


moral ou econômico, com o fim de induzir o deferimento de benefício previdenciário.
No caso concreto, militar reformado do Exército, antes de falecer, adotou sua própria neta,
que na época tinha 41 anos de idade e era professora do ensino público estadual. Quando
faleceu, a neta habilitou-se para receber a pensão por morte como dependente do militar.
O Exército fez a concessão inicial do benefício, mas o TCU negou registro à pensão.
O STF considerou que a decisão do TCU foi correta porque a adoção não tinha suporte
moral nem econômico e tinha sido feita com o objetivo de induzir o deferimento do
benefício previdenciário. Logo, não foi legítima, tendo sido praticada com simulação e
fraude à lei.
STF. 1ª Turma. MS 31383/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 12/5/2015 (Info 785).
6.3. PENSÃO POR MORTE NO SERVIÇO PÚBLICO: Paridade e integralidade – (Info
786)

Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 terão direito à paridade e


à integralidade?

PARIDADE
● Em regra, eles não têm direito à paridade com servidores em atividade;
● Exceção: terão direito à paridade caso se enquadrem na regra de transição prevista
no art. 3º da EC 47/2005.

INTEGRALIDADE
● Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 não possuem
direito à integralidade (CF, art. 40, § 7º, I), não havendo regra de transição para
isso.

A tese firmada pelo STF em sede de repercussão geral foi a seguinte:


“Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à Emenda Constitucional 41/2003 têm
direito à paridade com servidores em atividade (artigo 7º EC 41/2003), caso se enquadrem na
regra de transição prevista no artigo 3º da EC 47/2005. Não têm, contudo, direito à
integralidade (artigo 40, parágrafo 7º, inciso I, CF).”
STF. Plenário. RE 603580/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2015
(repercussão geral) (Info 786).

7. APOSENTADORIA ESPECIAL
7.1. Guardas municipais não têm direito à aposentadoria especial – (Info 907) –
IMPORTANTE!!!

Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são


mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à
aposentadoria especial, segundo requisitos e condições previstas em lei complementar
(art. 40, § 4º, II, “b”).
Diante da ausência de legislação específica, não cabe ao Poder Judiciário garantir
aposentadoria especial (art. 40, § 4º, II, da CF/88) às guardas municipais.
A aposentadoria especial não pode ser estendida aos guardas civis, uma vez que suas
atividades precípuas não são inequivocamente perigosas e, ainda, pelo fato de não
integrarem o conjunto de órgãos de segurança pública relacionados no art. 144, I a V, da
CF/88.
STF. Plenário. MI 6515/DF, MI 6770/DF, MI 6773/DF, MI 6780/DF, MI 6874/DF, Rel. Min.
Roberto Barroso, j. 20/6/2018 (Info 907).

7.2. Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial – (Info 789)

Aposentadoria especial é aquela cujos requisitos e critérios exigidos do beneficiário são


mais favoráveis que os estabelecidos normalmente para as demais pessoas.
A CF/88 prevê que os servidores que exerçam atividades de risco têm direito à
aposentadoria especial, segundo requisitos e condições previstas em lei complementar
(art. 40, § 4º, II, “b”).
O sindicato dos Oficiais de Justiça ajuizou, no STF, mandado de injunção coletivo
alegando que os oficiais de justiça exercem atividades de risco, nos termos do art. 40, § 4º,
II, da CF/88 e que, apesar disso, até agora, não foi editada uma lei complementar nacional
prevendo aposentadoria especial para eles. Argumentou, então, que estaria havendo
omissão legislativa.
O STF concordou com o pedido formulado?
NÃO. Os Oficiais de Justiça, no exercício de suas funções, até sofrem, eventualmente,
exposição a situações de risco, mas isso, por si só, não confere a eles o direito subjetivo à
aposentadoria especial.
Os Oficiais de Justiça podem até, a depender do caso concreto, estar sujeitos a situações
de risco, notadamente quando no exercício de suas funções em áreas dominadas pela
criminalidade, ou em locais marcados por conflitos fundiários. No entanto, o STF
entendeu que esse risco é contingente (eventual), e não inerente ao serviço. Não se pode
dizer que as funções dos Oficiais de Justiça são perigosas (isso não está na sua essência).
Elas podem ser eventualmente perigosas.
Se uma atividade é eventualmente perigosa, o legislador pode prever que os servidores
que a desempenham tenham direito à aposentadoria especial com base no art. 40, § 4º, II,
da CF/88. Se o legislador não fizer isso, não haverá omissão de sua parte porque o texto
constitucional não exige. Ex: Oficiais de Justiça. Reconhecer ou não o direito à
aposentadoria especial é uma escolha da discricionariedade legislativa.
Se uma atividade é perigosa por sua própria natureza, o legislador tem o dever de prever
que os servidores que a desempenham terão direito à aposentadoria especial com base no
art. 40, § 4º, II, da CF/88. Se o legislador não fizer isso, haverá omissão inconstitucional de
sua parte porque o texto da CF/88 exige. Aqui não existe discricionariedade, mas sim um
dever do legislador. Ex: carreira policial.
STF. Plenário. MI 833/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 11/6/2015 (Info 789).

8. REGIME PRÓPRIO DE PREVIDÊNCIA SOCIAL


8.1. Lei estadual não pode incluir os titulares de serventias extrajudiciais no regime
próprio de Previdência Social – (Info 777) – (TJMG-2018)

Duas Leis estaduais incluíram no regime próprio de Previdência Social os titulares de


serventias extrajudiciais (notários e registradores).
Tais leis foram declaradas inconstitucionais.
Os titulares de serventias notariais e registrais exercem atividade estatal, entretanto não
são titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são
servidores públicos. Logo, a eles não se aplica o regime próprio de Previdência Social
previsto para os servidores públicos (art. 40 da CF/88).
Desse modo, a lei estadual não poderia tê-los incluído no regime próprio de previdência
social. As leis estaduais acima desviaram-se do modelo previsto na CF/88 e usurparam a
competência da União para legislar sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 4639/GO e ADI 4641/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 11/3/2015 (Info
777).

8.2. Lei estadual não pode conceder isenção de contribuição previdenciária para todos os
servidores aposentados e pensionistas que tiverem doença incapacitante – (Info 776)

O Estado-membro pode tratar sobre o regime próprio de previdência social de seus


servidores por meio de lei, não sendo necessário que tal regulamentação seja feita na
Constituição estadual.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas
previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas
que fossem portadores de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição
previdenciária (seriam isentos). O STF afirmou que essa regra estadual está em confronto
com o § 21 do art. 40 da CF/88, considerando que a Carta Federal previu que os servidores
públicos aposentados e pensionistas que sejam portadores de doenças incapacitantes
devem pagar contribuição previdenciária se o valor dos proventos por eles recebidos
superar o dobro do teto do RGPS (dobro do maior valor de aposentadoria do INSS).
Assim, a norma da lei estadual deve receber interpretação conforme para que respeite
essa previsão do art. 40, § 21 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 4/3/2015 (Info 776).

9. SERVIDORES TEMPORÁRIOS
9.1. É constitucional a quarentena para recontratação de servidores temporários prevista
no art. 9º, III, da Lei 8.745/93 – (Info 869)

No âmbito da administração pública federal, é vedada a contratação temporária do


mesmo servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento do contrato anterior. Tal
regra está prevista no art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93:
Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá:
III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de
decorridos 24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato
anterior, salvo nas hipóteses dos incisos I e IX do art. 2º desta Lei, mediante
prévia autorização, conforme determina o art. 5º desta Lei.

O STF, ao analisar um caso concreto envolvendo a contratação temporária de professores,


decidiu que essa regra é constitucional e fixou a seguinte tese:
“É compatível com a Constituição Federal a previsão legal que exija o
transcurso de 24 (vinte e quatro) meses, contados do término do contrato,
antes de nova admissão de professor temporário anteriormente contratado.”
STF. Plenário. RE 635648/CE, Rel. Min. Edson Fachin, j. 14/6/17 (repercussão geral) (Info
869).

OBS:
Exceção ao princípio do concurso público: A CF/88 instituiu o “princípio do concurso
público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou
emprego público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na
verdade é uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional.

Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).

Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).

Redação do art. 37, IX: O art. 37, IX, prevê o seguinte:


IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;
O inciso IX do art. 37 consiste em uma norma constitucional de eficácia limitada,
dependendo, portanto de lei para produzir todos os seus efeitos. Mais abaixo veremos que lei
é essa.

Servidores temporários: Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são
chamados de servidores temporários.

Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.

Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização
de prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os
melhores candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às
necessidades decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências
em saúde pública prescindirá de processo seletivo.

Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por
tempo determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se
respeite a autonomia administrativa dos entes.
⮚ Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
⮚ Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
⮚ Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.

ATENÇÃO: Ao prestar concursos estaduais/municipais, é importante verificar se o edital


exige a lei de contratação por tempo determinado. A lei de cada ente irá prever as regras
sobre essa contratação, ou seja, as hipóteses em que ela ocorre, seu prazo de duração, direitos
e deveres dos servidores, atribuições, responsabilidades etc. Vale ressaltar que a referida lei
não poderá contrariar a moldura (os limites) que o inciso IX do art. 37 da CF/88 deu ao tema.

Atividades de caráter regular e permanente: No serviço público, há algumas atividades que


são regulares e permanentes. Exs.: servidores das áreas de saúde, educação e segurança
pública.
Por outro lado, existem atividades que possuem caráter eventual, temporário ou excepcional.
Ex.: servidores para a realização do censo pelo IBGE.

É possível que, com fundamento no inciso IX, a Administração Pública contrate servidores
temporários para o exercício de atividades de caráter regular e permanente ou isso somente é
permitido para atividades de natureza temporária (eventual)? SIM.
O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate pessoas,
sem concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter
eventual, temporário ou excepcional, como também para o desempenho das
funções de caráter regular e permanente, desde que indispensáveis ao
atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público. STF.
Plenário. ADI 3068, Rel. p/ Ac. Min. Eros Grau, j. 25/08/04. STF. Plenário. ADI
3247/MA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 26/3/14 (Info 740).

A natureza da atividade a ser desempenhada (se permanente ou eventual) não será o fator
determinante para se definir se é possível ou não a contratação de servidor com base no art.
37, IX, da CF/88.
Para saber se é legítima a contratação com base no art. 37, IX, deverão ser analisados dois
aspectos:
a) a necessidade da contratação deve ser transitória (temporária);
b) deve haver um excepcional interesse público que a justifique.

Ex.1: a atividade de um médico em um Estado possui natureza permanente (regular),


considerando que é dever do ente estadual prestar saúde à população (art. 196 da CF/88). Em
regra, os médicos devem ser selecionados por meio de concurso público. Ocorre que é
possível imaginar situações em que haja uma necessidade temporária de médicos em número
acima do normal e de forma imediata, o que justifica, de forma excepcional, a contratação
desses profissionais sem concurso público, por um prazo determinado, com base no inciso IX.
É o caso de uma epidemia que esteja ocorrendo em determinada região do Estado, na qual
haja a necessidade de médicos especialistas no tratamento daquela moléstia específica para
tentar erradicar o surto. Logo, será permitida a contratação de tantos médicos quantos sejam
necessários para solucionar aquela demanda (exemplo da Min. Cármem Lúcia).

Ex.2: no caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do
Maranhão que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para
os ensinos fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso
público e devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá
ocorrer pelo prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que
esse prazo seja contado do último concurso realizado para a investidura de professores.
Desse modo, durante o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que
justificaria a contratação sem concurso até que fosse concluído o certame. STF. Plenário. ADI
3247/MA, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).

Em resumo, mesmo em atividades públicas de natureza permanente, como as desenvolvidas


nas áreas de saúde, educação e segurança pública, é possível, em tese, a contratação por
prazo determinado para suprir uma demanda eventual ou passageira.

Regra do art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93: No âmbito da administração pública federal, é vedada
a contratação temporária do mesmo servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento
do contrato anterior. Tal regra está prevista no art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93:
Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá:
III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de decorridos
24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato anterior, salvo nas
hipóteses dos incisos I e IX do art. 2º desta Lei, mediante prévia autorização,
conforme determina o art. 5º desta Lei.

O STF, ao analisar um caso concreto envolvendo a contratação temporária de professores,


decidiu que essa regra é constitucional e fixou a seguinte tese:
É compatível com a Constituição Federal a previsão legal que exija o transcurso
de 24 (vinte e quatro) meses, contados do término do contrato, antes de nova
admissão de professor temporário anteriormente contratado. STF. Plenário. RE
635648/CE, Rel. Min. Edson Fachin, j. 14/6/17 (repercussão geral) (Info 869).

A regra do art. 9º, III, da Lei 8.745/93 é salutar porque evita que uma função temporária seja
transformada em algo ordinário. Dessa forma, o referido dispositivo é necessário e adequado
para preservar a impessoalidade do concurso público.
Assim, não configura ofensa à isonomia a previsão legal de proibição, por prazo
determinado, de nova contratação de candidato já anteriormente admitido em processo
seletivo simplificado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.

Obs1: apesar de a redação da tese mencionar apenas “admissão de professor”, o certo é que o
art. 9º, III, é constitucional, razão pela qual a vedação existe para outros cargos. O que o STF
fez foi declarar constitucional o art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93. Constou a menção expressa aos
professores porque o caso concreto julgado no RE abrangia essa categoria.

Obs2: vale ressaltar que inúmeras leis estaduais e municipais repetem a redação do art. 9º, III,
da Lei nº 8.745/93. Tais leis também são constitucionais.
9.2. Lei de contratação temporária não pode prever hipóteses genéricas nem a prorrogação
indefinida dos contratos – (Info 858)

São inconstitucionais, por violarem o art. 37, IX, da CF/88, a autorização legislativa
genérica para contratação temporária e a permissão de prorrogação indefinida do prazo de
contratações temporárias.
STF. Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 23/3/17 (Info 858).

OBS:
Exceção ao princípio do concurso público: A CF/88 instituiu o “princípio do concurso
público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou
emprego público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na
verdade é uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional.

Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).

Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).

Redação do art. 37, IX: O art. 37, IX, prevê o seguinte:


IX — a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para
atender a necessidade temporária de excepcional interesse público;

O inciso IX do art. 37 consiste em uma norma constitucional de eficácia limitada,


dependendo, portanto de lei para produzir todos os seus efeitos. Mais abaixo veremos que lei
é essa.

Servidores temporários: Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são
chamados de servidores temporários.

Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.

Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização
de prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os
melhores candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às
necessidades decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências
em saúde pública prescindirá de processo seletivo.

Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por
tempo determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se
respeite a autonomia administrativa dos entes.
⮚ Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
⮚ Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
⮚ Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.

ATENÇÃO: Ao prestar concursos estaduais/municipais, é importante verificar se o edital


exige a lei de contratação por tempo determinado. A lei de cada ente irá prever as regras
sobre essa contratação, ou seja, as hipóteses em que ela ocorre, seu prazo de duração, direitos
e deveres dos servidores, atribuições, responsabilidades etc. Vale ressaltar que a referida lei
não poderá contrariar a moldura (os limites) que o inciso IX do art. 37 da CF/88 deu ao tema.

Lei que institua hipóteses abrangentes e genéricas é inconstitucional: O STF entende que a lei
do ente federativo regulamentando o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público. Além disso, essa
lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de emergência.
Exemplo: em um caso concreto, o STF analisou a constitucionalidade da LC 4/90, do Estado
do Mato Grosso, que dizia o seguinte:
Art. 263 Para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público,
poderão ser efetuadas contratações de pessoal por tempo determinado.
Art. 264 Consideram-se como de necessidade temporária de excepcional
interesse público as contratações que visem a: (...)
VI - atender as outras situações motivadamente de urgência.

Os Ministros entenderam que o referido inciso VI desse art. 264 permite, de forma muito
genérica, a contratação temporária de servidores, o que se mostra inconstitucional. STF.
Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/3/2017 (Info 858).

Lei que permita a prorrogação indefinida do prazo das contratações é inconstitucional: O


art. 37, IX, da CF/88 afirma que a contratação deverá ocorrer por tempo determinado. Apesar
disso, algumas leis municipais e estaduais burlam essa regra e estabelecem a possibilidade de
os contratos temporários serem prorrogados indefinidamente, ou seja, sem limite de vezes.
Essa prática é considerada inconstitucional pelo STF.
Exemplo: veja o que prevê o § 1º do art. 264 da LC 4/90:
Art. 264. Consideram-se como de necessidade temporária de excepcional
interesse público as contratações que visem a: (...)
§ 1º As contratações de que trata este artigo terão dotação específica e não
poderão ultrapassar o prazo de 06 (seis) meses, exceto nas hipóteses dos incisos
II, IV e VI, cujo prazo máximo será de 12 (doze) meses, e inciso V, cujo prazo
máximo será de 24 (vinte e quatro) meses, prazos estes somente prorrogáveis se
o interesse público, justificadamente, assim o exigir ou até a nomeação por
concurso público.

O STF julgou inconstitucional essa parte final (em amarelo) do § 1º acima transcrito. Isso
porque ela permite a prorrogação indefinida do prazo de contratações temporárias, o que não
se coaduna com o art. 37, IX, da CF/88.

ATENÇÃO: neste caso concreto, o STF julgou inconstitucionais o inciso VI e o § 1º do art. 264
da LC 4/90-MT, mas modulou os efeitos da declaração de forma que somente irá surtir
efeitos um ano após a data da publicação da ata de julgamento. Em outras palavras, até lá, as
pessoas que estão contratadas temporariamente com base nesses dispositivos poderão
continuar trabalhando.

9.3. Contratação por tempo determinado para atendimento de necessidade temporária de


excepcional interesse público e possíveis efeitos jurídicos decorrentes de tal contratação –
(Sem Info) – (TJMG-2018)

Reafirma-se, para fins de repercussão geral, a jurisprudência do Supremo Tribunal


Federal no sentido de que a contratação por tempo determinado para atendimento de
necessidade temporária de excepcional interesse público realizada em desconformidade
com os preceitos do art. 37, IX, da CF/88 não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em
relação aos servidores contratados, com exceção do direito à percepção dos salários
referentes ao período trabalhado e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/1990, ao
levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço –
FGTS.
STF. Plenário. RE 765320 RG, Rel. Min. Teori Zavaski, j. 15/9/16 (repercussão geral).

(TJMG-2018-Consulplan): O STF firmou a tese de que a contratação por tempo


determinado para atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse
público em desconformidade com os preceitos do art. 37, IX, da CF/88, não gera
quaisquer efeitos jurídicos válidos, com exceção do direito à percepção dos salários
referentes ao período trabalhado e ao levantamento dos depósitos efetuados no FGTS.

9.4. Lei que prevê hipóteses genéricas de contratação temporária é inconstitucional. Lei
que autoriza contratação temporária para projetos educacionais ordinários é inconstitucional
– (Info 829)

A LC 22/2000, do Estado do Ceará, autoriza a contratação de professores, por tempo


determinado, para atender necessidade temporária de excepcional interesse público nas
escolas estaduais. O art. 3º da referida Lei prevê diversas hipóteses nas quais é possível a
referida contratação.
O STF afirmou que, em tese, é possível a contratação temporária por excepcional interesse
público (art. 37, IX, da CF/88) mesmo para atividades permanentes da Administração
(como é o caso de professores). No entanto, o legislador tem o ônus de especificar, em
cada circunstância, os traços de emergencialidade que a justificam.
As alíneas "a, b, c, d, e" preveem a contratação temporária caso o titular se afaste para
gozar de licenças ou para fazer cursos de capacitação. O STF reputou que tais hipóteses
são constitucionais já que elas descrevem situações que são alheias ao controle da
Administração Pública, ou seja, hipóteses que estão fora do controle do Poder Público e
que, se este não tomasse nenhuma atitude, poderia resultar em desaparelhamento
transitório do corpo docente. Logo, para tais situações está demonstrada a
emergencialidade.
A alínea "f" previa que poderia haver a contratação temporária para suprir "outros
afastamentos que repercutam em carência de natureza temporária". O STF entendeu que
esta situação é extremamente genérica, de forma que não cumpre o art. 37, IX, da CF/88.
O parágrafo único do art. 3º autoriza a contratação temporária para que a Administração
Pública pudesse implementar "projetos educacionais, com vista à erradicação do
analfabetismo, correção do fluxo escolar e qualificação da população cearense". O STF
entendeu que esta previsão também é inconstitucional porque estes são objetivos
corriqueiros (normais, ordinários) da política educacional. Desse modo, esse tipo de ação
não pode ser implementado por meio de contratos episódicos (temporários), já que não
constitui contingência especial a ser atendida.
STF. Plenário. ADI 3721/CE, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 9/6/16 (Info 829).

9.5. Competência da Justiça Comum (Info 807) - IMPORTANTE!!!

A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade
de vínculo jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores
temporários (art. 37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM
(estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que
houve desvirtuamento do vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na
CLT ou na lei do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).

9.6. CONTRATO DE TRABALHO TEMPORÁRIO DECLARADO NULO E


INAPLICABILIDADE DO ART. 19-A DA LEI 8.036/90

O art. 19-A da Lei nº 8.036/90 deve ser aplicado também nas hipóteses em que a pessoa foi
contratada temporariamente, nos termos do art. 37, IX da CF/88?
A 1ª Turma do STF decidiu que SIM. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
devido aos servidores temporários, nas hipóteses em há declaração de nulidade do contrato
firmado com a Administração Pública, consoante decidido pelo Plenário do STF, na análise
do RE 705.140-RG, Rel. Min. Teori Zavascki (STF. 1ª Turma. ARE 839606 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 11/11/2014).
É importante, no entanto, ressaltar que o STJ possui precedente mais antigo em sentido
contrário: STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 45.467-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgado em 5/3/2013 (Info 518).

10. TRIBUNAL DE CONTAS


10.1. Fiscalização do TC sobre pessoas jurídicas de direito privado que recebem recursos
públicos – (Info 768)

Os Tribunais de Contas possuem competência para fiscalizar pessoas jurídicas de direito


privado que recebam recursos públicos. Ex: associações. Todo aquele que administra
recursos e bens públicos está sujeito à fiscalização perante o Tribunal de Contas,
independentemente de ser pessoa jurídica de direito público ou privado. Essa
competência sempre esteve prevista de forma implícita no inciso II do art. 71 da CF/88.
Em 1998, o parágrafo único do art. 70 foi alterado pela EC 18 para deixar isso ainda mais
explícito.
O simples fato de a associação que recebeu recursos públicos estar sendo processada por
improbidade administrativa não impede que ela seja condenada pelo Tribunal de Contas
a ressarcir o erário se constatada alguma irregularidade. Isso porque as instâncias
administrativa (TCU) e judicial (improbidade) são independentes (arts. 12 e 21, II, da Lei
8.429/92).
STF. 1ª Turma. MS 26969/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/11/2014 (Info 768).

10.2. Desnecessidade de intimação pessoal do julgamento pelo TCU – (Info 754)

Nos processos que tramitam no TCU não é necessária a intimação pessoal da data em que
será realizada a sessão de julgamento, bastando que essa informação seja publicada em
veículo de comunicação oficial (imprensa oficial).
STF. 2ª Turma. MS 28644/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 12/8/14 (Info 752).

11. INTERVENÇÃO ESTATAL NA PROPRIEDADE PRIVADA


11.1. DESAPROPRIAÇÃO: Análise da constitucionalidade da MP 2.183-56/2001, que
alterou o DL 3.365/1941 – (Info 902)
O DL 3.365/41 dispõe sobre desapropriações por utilidade pública. Veja o que diz o art.
15-A, que foi incluído pela MP 2.183-56/2001:
“Art. 15-A No caso de imissão prévia na posse, na desapropriação por
necessidade ou utilidade pública e interesse social, inclusive para fins de
reforma agrária, havendo divergência entre o preço ofertado em juízo e o
valor do bem, fixado na sentença, expressos em termos reais, incidirão juros
compensatórios de até seis por cento ao ano sobre o valor da diferença
eventualmente apurada, a contar da imissão na posse, vedado o cálculo de
juros compostos.
§ 1º Os juros compensatórios destinam-se, apenas, a compensar a perda de
renda comprovadamente sofrida pelo proprietário.
§ 2º Não serão devidos juros compensatórios quando o imóvel possuir
graus de utilização da terra e de eficiência na exploração iguais a zero.
§ 3º O disposto no caput deste artigo aplica-se também às ações ordinárias
de indenização por apossamento administrativo ou desapropriação indireta,
bem assim às ações que visem a indenização por restrições decorrentes de
atos do Poder Público, em especial aqueles destinados à proteção
ambiental, incidindo os juros sobre o valor fixado na sentença.
§ 4º Nas ações referidas no § 3º, não será o Poder Público onerado por juros
compensatórios relativos a período anterior à aquisição da propriedade ou
posse titulada pelo autor da ação.”

O STF analisou a constitucionalidade do art. 15-A do DL 3.365/41 e chegou às seguintes


conclusões:
1) em relação ao “caput” do art. 15-A do Decreto-Lei 3.365/41: reconheceu a
constitucionalidade do percentual de juros compensatórios de 6% ao ano para
remuneração do proprietário pela imissão provisória do ente público na posse de seu
bem;
1.a) declarou a inconstitucionalidade do vocábulo “até”;
1.b) deu interpretação conforme a Constituição ao “caput” do art. 15-A, de maneira a
incidir juros compensatórios sobre a diferença entre 80% (oitenta por cento) do preço
ofertado em juízo pelo ente público e o valor do bem fixado na sentença;
2) declarou a constitucionalidade dos §§ 1º e 2º do art. 15-A do DL 3.365/41;
3) declarou a constitucionalidade do § 3º do art. 15-A do DL 3.365/41;
4) declarou a inconstitucionalidade do § 4º do art. 15-A do DL 3.365/41;
5) declarou a constitucionalidade da estipulação de parâmetros mínimo e máximo para a
concessão de honorários advocatícios e a inconstitucionalidade da expressão “não
podendo os honorários ultrapassar R$ 151.000,00 (cento e cinquenta e um mil reais)”
prevista no § 1º do art. 27 do DL 3.365/41.
STF. Plenário. ADI 2332/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 17/5/18 (Info 902).

11.2. DESAPROPRIAÇÃO: CONFISCO DO ART. 243 DA CF/88: Possibilidade de o


proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa – (Info 851) –
IMPORTANTE!!!

A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o
proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/16 (repercussão geral)
(Info 851).

OBS:

Art. 243 da CF/88: O art. 243 da CF/88 prevê o seguinte:


Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde
forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de
trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma
agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao
proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no
que couber, o disposto no art. 5º.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em
decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de
trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação
específica, na forma da lei.

Confisco constitucional: Parte da doutrina denomina este art. 243 de "desapropriação


confiscatória" em virtude de não conferir ao proprietário direito à indenização, como ocorre
com as demais espécies de desapropriação (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de
Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 2016, p. 1044).

Outros autores preferem falar em "confisco" (MORAES, Alexandre. Constituição do Brasil


interpretada e legislação constitucional. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 2135).

O STF também reafirmou que se trata de confisco. Veja o que disse o Ministro Gilmar
Mendes:
"O instituto previsto no art. 243 da CF não é verdadeira espécie de
desapropriação, mas uma penalidade imposta ao proprietário que praticou a
atividade ilícita de cultivar plantas psicotrópicas, sem autorização prévia do
órgão sanitário do Ministério da Saúde. Portanto, a expropriação é espécie de
confisco constitucional e tem caráter sancionatório."

Pressupostos: Existem dois motivos que geram esse confisco:


a) o fato de no imóvel estarem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas; ou
b) o fato de no imóvel haver exploração de trabalho escravo.

Extensão da expropriação: A expropriação irá recair sobre a totalidade do imóvel, ainda que
o cultivo ilegal ou a utilização de trabalho escravo tenham ocorrido em apenas parte dele.
Nesse sentido: STF. Plenário. RE 543974, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 26/03/2009.

Procedimento: As regras e o procedimento para essa expropriação estão disciplinados na Lei


8.257/91 e no Decreto 577/92. Trata-se de um rito muito célere, no qual a Lei estipula poucos
dias para a realização de cada ato processual. Veja abaixo o resumo do procedimento:
1. Processo judicial. Para haver a desapropriação confiscatória, é necessário processo judicial
que tramita na Justiça Federal.
2. Petição inicial. A União deverá propor uma demanda chamada de "ação expropriatória"
contra o proprietário do imóvel (expropriado). Vale ressaltar que apenas a União é
competente para realizar a expropriação de que trata o art. 243 da CF/88, não podendo ser
feita pelos outros entes federativos.
3. Citação. Recebida a inicial, o juiz determinará a citação do expropriado, no prazo de 5 dias.
4. Perito. Ao ordenar a citação, o Juiz já nomeará um perito para fazer a avaliação do imóvel.
Este deverá entregar o laudo em 8 dias.
5. Audiência. O juiz determinará audiência de instrução e julgamento, que deverá ser
realizada no prazo máximo de 15 dias, a contar da data da contestação.
6. Mandado de imissão na posse. O juiz poderá imitir, liminarmente, a União na posse do
imóvel expropriando, garantindo-se o contraditório pela realização de audiência de
justificação. Em outras palavras, o magistrado poderá conceder tutela provisória de urgência
determinando que o proprietário saia do imóvel e este fique na posse da União. Vale ressaltar
que o INCRA é quem irá imitir-se em nome da União (art. 6º do Decreto nº 577/92).
7. Prova testemunhal. Na audiência de instrução e julgamento, cada parte poderá indicar até
5
testemunhas.
8. Oitiva do Ministério Público. A Lei nº 8.257/91 não prevê, mas o Procurador da República
deverá ser ouvido como fiscal da ordem jurídica, nos termos do art. 178, I, do CPC/2015.
9. Sentença. Encerrada a instrução, o Juiz prolatará a sentença em cinco dias.
10. Haverá expropriação mesmo que o imóvel esteja em garantia. A expropriação prevalece
sobre direitos reais de garantia, não se admitindo embargos de terceiro fundados em dívida
hipotecária, anticrética ou pignoratícia.
11. Recurso. Da sentença, caberá apelação.
12. Trânsito em julgado. Transitada em julgado a sentença expropriatória, o imóvel será
incorporado ao patrimônio da União. Em seguida, a gleba será destinada à reforma agrária e
a programas de habitação popular.

Não se exige que o proprietário tenha participado: Para que haja a sanção do art. 243, não se
exige a participação direta do proprietário no cultivo ilícito. No entanto, apesar disso, trata-se
de medida sancionatória, exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterização. Assim,
mesmo que o proprietário não tenha participado diretamente, mas se agiu com culpa, deverá
ser expropriado. Isso porque a função social da propriedade gera para o proprietário o dever
de zelar pelo uso lícito do seu imóvel, ainda que não esteja na posse direta.

Mesmo tendo esse dever, poderá provar que não teve como evitar: Esse dever de zelar pelo
correto uso da propriedade não é ilimitado, só podendo ser exigido do proprietário que evite
o ilícito quando estiver ao seu alcance. Assim, o proprietário pode afastar sua
responsabilidade demonstrando que não incorreu em culpa. Ele pode provar, por exemplo,
que foi esbulhado ou até enganado pelo possuidor ou pelo detentor.

Se agiu com culpa, aplica-se o art. 243: Vale ressaltar, mais uma vez, que, se o proprietário
agiu com culpa, deverá ser expropriado. Essa culpa pode ser in vigilando ou in eligendo:
✔ Culpa in vigilando é a falta de atenção com a conduta de outra pessoa. Ocorre
quando não há uma fiscalização efetiva.
✔ Culpa in eligendo consiste na má escolha daquele a quem se confia a prática de um
ato. Também chamada de “responsabilidade pela má eleição”.

Desse modo, se o proprietário agiu com culpa in vigilando ou in eligendo, deverá incidir o
art. 243 da CF/88.

A responsabilidade do proprietário é subjetiva ou objetiva? A responsabilidade do


proprietário é subjetiva, no entanto bastante próxima da objetiva.

E se houver mais de um proprietário, o que fazer neste caso? Se o imóvel pertencer a dois ou
mais proprietários (condomínio), haverá a expropriação mesmo que apenas um deles tenha
participação ou culpa. Restará apenas ao proprietário inocente buscar reparação daquele que
participou ou teve culpa.

Ônus da prova: Importante destacar que cabe ao proprietário (e não à União) o ônus da
prova. Em outras palavras, caberá ao proprietário provar que não agiu com culpa.

11.3. DESAPROPRIAÇÃO: Desconsideração das conclusões do laudo pericial com base


em outras provas – (Info 817)

A preferência do julgador por determinada prova insere-se no livre convencimento


motivado e não cabe compelir o magistrado a colher com primazia determinada prova em
detrimento de outras pretendidas pelas partes se, pela base do conjunto probatório tiver
se convencido da verdade dos fatos.
STF. Plenário. RE 567708/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Cármen
Lúcia, julgado em 8/3/2016 (Info 817).

OBS: O magistrado, com base no livre convencimento motivado, tem a liberdade de deixar
de considerar as conclusões do laudo pericial desde que faça isso de forma fundamentada.
Isso está previsto no art. 479 do CPC 2015:
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371,
indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de
considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo
perito.
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do
sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de
seu convencimento.

Ao tecer comentários sobre este art. 479, Daniel Amorim Assumpção Neves explica que:
"O sistema de valoração das provas, adotado pelo sistema processual brasileiro,
é o da persuasão racional, também chamado de livre convencimento motivado.
Significa dizer que não existem cargas de convencimento pré-estabelecidas dos
meios de prova, sendo incorreto afirmar abstratamente que determinado meio
de prova é mais eficaz no convencimento do juiz do que outro. Com inspiração
nesse sistema de valoração das provas, o art. 479 do Novo CPC prevê que o juiz
não está adstrito ao laudo pericial, podendo se convencer com outros elementos
ou fatos provados no processo." (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo
CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 784).

11.4. TOMBAMENTO: Ato do Poder Legislativo que efetiva o tombamento e que pretenda
alterar as condições de tombamento regularmente instituído pelo Poder Executivo

O Supremo Tribunal Federal - STF - no julgamento da ADI no 1.706-4, publicada no


"Diário da Justiça" de 12/9/2008, posicionou-se no sentido de que o tombamento é
constituído mediante ato do Poder Executivo, que, observada a legislação pertinente,
estabelece o alcance da limitação ao direito de propriedade. Dessa forma, ato do Poder
Legislativo que efetive o tombamento e, de igual modo, aquele que pretenda alterar as
condições de tombamento regularmente instituído pelo Poder Executivo são
inconstitucionais, dada a sua incompatibilidade com o princípio da harmonia entre os
Poderes.
STF, ADI no 1.706-4, publicada no "Diário da Justiça" de 12/9/2008.
(TJPI-2015-FCC): O tombamento é constituído mediante ato do Poder Executivo que, observada a
legislação pertinente, estabelece o alcance da limitação ao direito de propriedade, ato emanado do
Poder Legislativo não podendo alterar essas restrições. De acordo com o ordenamento jurídico
brasileiro vigente, tal como compreendido pelo Supremo Tribunal Federal, a afirmação
está correta, eis que o ato do Poder Legislativo, alterando tombamento concretamente
fixado por ato do Poder Executivo, seria incompatível com o princípio da harmonia entre
os Poderes. BL: ADI 1706-4 do STF.

12. BENS PÚBLICOS


30.1. Não se pode caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como devolutas – (Info
873)

As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União (art. 20, XI, da CF/88)
e, portanto, não podem ser consideradas como terras devolutas de domínio do
Estado-membro.
STF. Plenário. ACO 362/MT e ACO 366/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16/8/17 (Info 873).

OBS:

Desapropriação indireta: A desapropriação indireta ocorre quando o Estado (Poder Público)


se apropria de um bem sem observar as formalidades previstas em lei para a desapropriação,
dentre as quais a declaração indicativa de seu interesse e a indenização prévia. Trata-se de um
verdadeiro esbulho possessório praticado pelo Poder Público. A desapropriação indireta é
também chamada de apossamento administrativo.

O que a pessoa faz no caso de desapropriação indireta?


⮚ Se o bem expropriado ainda não está sendo utilizado em nenhuma finalidade
pública: pode ser proposta uma ação possessória visando a manter ou retomar a
posse do bem.
⮚ Se o bem expropriado já está afetado a uma finalidade pública: considera-se que
houve fato consumado e somente restará ao proprietário ajuizar uma “ação de
desapropriação indireta” a fim de ser indenizado. Nesse sentido é o art. 35 do
Decreto-Lei 3.365/41.

Terras devolutas: Terras devolutas são aquelas que não tem nenhuma utilização pública
específica e que não se encontram, por qualquer título, integradas ao domínio privado. As
terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
federais de comunicação e à preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20,
II).

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: O Estado de Mato Grosso ajuizou
contra a União e a Funai ação ordinária de indenização por desapropriação indireta, sob a
alegação de que as rés teriam incluído, dentro do perímetro de áreas indígenas, terras
devolutas que pertenceriam ao Estado autor. Em outras palavras, Mato Grosso alegou que a
União, no momento de fazer a demarcação de terras indígenas, utilizou parte de terras
devolutas que pertenceriam ao Estado, razão pela qual ele deveria ser indenizado por isso.

O pedido foi aceitou pelo STF? NÃO. O STF julgou improcedente a ação.

Os laudos antropológicos juntados aos autos deixaram claro que as áreas em questão eram
habitadas historicamente por indígenas. Diante disso, o STF reconheceu que a titularidade
das terras não é do Estado do Mato Grosso, sendo indevida, portanto, a indenização
pleiteada.
Vale ressaltar que, desde a Constituição de 1934 é reconhecida a proteção da posse dos
indígenas das terras que tradicionalmente ocupam. Assim, desde a Carta de 1934, não se
pode caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como devolutas.

30.2. Continuam pertencendo à União os terrenos de marinha situados em ilha costeira


que seja sede de Município – (Info 862) – IMPORTANTE!!!

A EC 46/05 não interferiu na propriedade da União, nos moldes do art. 20, VII, da
Constituição Federal, sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados em ilhas
costeiras sede de Municípios.
STF. Plenário. RE 636199/ES, Rel. Min. Rosa Weber, j. 27/4/17 (repercussão geral) (Info
862).

31. REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA


31.1. ADI proposta contra a Lei nº 11.952/2009 – (Info 882)

A Lei 11.952/2009 trata sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras
situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal.
O STF deu intepretação conforme ao art. 4º, § 2º da Lei para dizer que é inconstitucional
qualquer interpretação que permita a regularização fundiária das terras ocupadas por
quilombolas e outras comunidades tradicionais da Amazônia Legal em nome de terceiros
ou de forma a descaracterizar o modo de apropriação da terra por esses grupos. Em outras
palavras, os quilombolas e outras comunidades tradicionais não podem perder suas terras
em caso de regularização fundiária.
O STF também deu intepretação conforme ao art. 13 da Lei para afastar quaisquer
interpretações que concluam pela desnecessidade de fiscalização dos imóveis rurais até
quatro módulos fiscais, devendo o ente federal utilizar-se de todos os meios referidos em
suas informações para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização dos
propósitos da norma para, somente então, ser possível a dispensa da vistoria prévia, como
condição para a inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal. Em outras palavras, a União deve
utilizar-se de todos os meios para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização
dos propósitos da norma, para somente então ser possível a dispensa da vistoria prévia
como condição para inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal.
STF. Plenário. ADI 4269/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 18/10/2017 (Info 882).

OBS:

Art. 4º (...)
§ 2º As terras ocupadas por comunidades quilombolas ou tradicionais que
façam uso coletivo da área serão regularizadas de acordo com as normas
específicas, aplicando-se-lhes, no que couber, os dispositivos desta Lei.

Art. 13. Os requisitos para a regularização fundiária dos imóveis de até 4


(quatro) módulos fiscais serão averiguados por meio de declaração do ocupante,
sujeita a responsabilização nas esferas penal, administrativa e civil, dispensada a
vistoria prévia.

32. ACORDO DE LENIÊNCIA E COMPARTILHAMENTO DE PROVAS


32.1. É possível o compartilhamento das provas obtidas no acordo de leniência, desde que
sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes – (Info 913)

É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas


obtidas no acordo de leniência, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no
acordo em relação aos aderentes.
Assim, por exemplo, se uma empresa celebra acordo de leniência com o MPF aceitando
fornecer provas contra si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que
foram ajustadas no acordo.
No entanto, nada impede que tais provas sejam fornecidas (compartilhadas) para os
órgãos de apuração para que sejam propostas medidas contra as outras pessoas
envolvidas nos ilícitos e que fizeram parte do acordo.
STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/8/18 (Info 913)

OBS:

Acordo de leniência: A Lei 12.846/13 prevê a possibilidade de a pessoa jurídica que praticar
ato lesivo à administração pública celebrar um “acordo de leniência” para abrandar a sua
punição. O acordo de leniência é uma espécie de “colaboração premiada”.
 
Quais são os requisitos para que o acordo seja celebrado? Para que o acordo de leniência seja
celebrado deverão ser preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em
cooperar para a apuração do ato ilícito;
II - a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na infração
investigada a partir da data de propositura do acordo;
III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e
permanentemente com as investigações e o processo administrativo,
comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos
processuais, até seu encerramento.
 
A colaboração da pessoa jurídica precisa ser eficaz? SIM. É necessário que a pessoa jurídica
colabore efetivamente com as investigações e com o processo e dessa colaboração deve
resultar:
I - a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e
II - a obtenção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob
apuração.
 
No acordo de leniência serão estipuladas as condições necessárias para que seja assegurada a
efetividade da colaboração e o resultado útil do processo.
 
O Ministério Público pode celebrar acordo de leniência? Existe uma polêmica sobre isso. O
art. 16, § 10 da Lei 12.846/13 afirma que “a Controladoria-Geral da União - CGU é o órgão
competente para celebrar os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo federal, bem como no
caso de atos lesivos praticados contra a administração pública estrangeira.” A posição que
prevalece, contudo, é a de que, mesmo no silêncio da Lei, o Ministério Público pode sim
fazer o acordo de leniência porque isso decorre do art. 129 da CF/88.
 
Cuidado para não confundir: Existe um acordo de leniência que é previsto na Lei
12.529/2011. Ele é diferente do que estamos estudando aqui. O acordo de leniência da Lei
12.529/11 “é um instrumento de defesa da concorrência por meio do qual um ou mais
agentes que praticaram infração à ordem econômica cooperam voluntariamente com as
investigações em troca de redução da pena ou até mesmo do perdão total. Trata-se de
instituto equivalente à delação premiada do direito penal." (RAMOS, André Luiz Santa
Cruz; GUTERRES, Thiago Martins. Lei Antitruste. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 163).

É interessante fazer a leitura da ementa do julgado:


Penal e Processual Penal. 2. Compartilhamento de provas e acordo de leniência.
3. A possibilidade de compartilhamento de provas produzidas
consensualmente para outras investigações não incluídas na abrangência do
negócio jurídico pode colocar em risco a sua efetividade e a esfera de direitos
dos imputados que consentirem em colaborar com a persecução estatal. 4. No
caso em concreto, o inquérito civil investiga possível prática de ato que
envolve imputado que não é abrangido pelo acordo de leniência em questão.
5. Contudo, deverão ser respeitados os termos do acordo em relação à agravante
e aos demais aderentes, em caso de eventual prejuízo a tais pessoas. 6. Nego
provimento ao agravo, mantendo a decisão impugnada e o compartilhamento
de provas, observados os limites estabelecidos no acordo de leniência em relação
à agravante e aos demais aderentes. STF. 2ª T. Inq 4420 AgR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 28/08/2018.

33. CONSELHOS PROFISSIONAIS


33.1. Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios – (Info 861) –
IMPORTANTE!!!

Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de


Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios.
STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio,
j. 19/4/17 (repercussão geral) (Info 861).

33.2. Constitucionalidade da Lei 12.514/2011 – (Info 842)

A Lei 12.514/11, que trata sobre as contribuições (anuidades) devidas aos Conselhos
Profissionais, é constitucional.
Sob o ponto de vista formal, esta Lei, apesar de ser fruto de uma MP que originalmente
dispunha sobre outro assunto, não pode ser declarada inconstitucional porque foi editada
antes de o STF declarar ilegítima a prática do “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF).
Ainda quanto ao aspecto formal, esta Lei não trata sobre normas gerais de Direito
Tributário, motivo pelo qual não precisava ser veiculada por lei complementar.
Sob o ponto de vista material, a Lei respeitou os princípios da capacidade contributiva, da
vedação ao confisco e da legalidade.
STF. Plenário. ADI 4697/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 06/10/16 (Info 842).

OBS:
Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO
etc.)? Os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de autarquias federais. Exceção:
a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria
ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.

Anuidades: Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que
integram a sua categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei 12.514/11). Veja o
que diz também a Lei nº 11.000/2004:
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são
autorizados a fixar, cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por
pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas e os preços de serviços,
relacionados com suas atribuições legais, que constituirão receitas próprias de
cada Conselho.

Exercem atividade tipicamente pública: Esses Conselhos são criados por lei e possuem
personalidade jurídica de direito público, exercendo uma atividade tipicamente pública, qual
seja, a fiscalização do exercício profissional. Os Conselhos são dotados de poder de polícia e
poder arrecadador. STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015.

Qual é a natureza jurídica dessas anuidades? Tais contribuições são consideradas tributo,
sendo classificadas como “contribuições profissionais ou corporativas”, estando prevista no
art. 149 da CF/88:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de
intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais
ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas,
observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto
no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.

Fato gerador: O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que
por tempo limitado, ao longo do exercício (art. 5º da Lei nº 12.514/2011).

Execução fiscal: Como a anuidade é um tributo e os Conselhos profissionais são autarquias,


em caso de inadimplemento, o valor devido é cobrado por meio de uma execução fiscal.

Competência: A execução fiscal, nesse caso, é de competência da Justiça Federal, tendo em


vista que os Conselhos são autarquias federais (Súmula 66 do STJ).

33.3. Os Conselhos de Fiscalização Profissional estão isentos de custas processuais? – (Sem


Info) – (TRF4-2014)

Os Conselhos Profissionais, apesar de sua natureza autárquica, não estão isentos do


pagamento de custas judiciais, conforme previsão expressa do art. 4º, parágrafo único, da
Lei nº 9.289/96.
Assim, o benefício da isenção do preparo conferido aos entes públicos previstos no art. 4º,
caput, da Lei 9.289/1996 é inaplicável aos Conselhos de Fiscalização Profissional.
STF. 1ª Turma. RMS 33572 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 09/08/2016.
STJ. 1ª Seção. REsp 1338247/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 10/10/12 (recurso
repetitivo)
(TRF4-2014): O benefício da isenção do preparo, conferido aos entes públicos previstos
no art. 4º, caput, da Lei nº 9.289/96, é inaplicável aos conselhos de fiscalização
profissional. BL: STF, RMS 33572 AgR e STJ, Resp 1338247/RS.

33.4. Os Conselhos Profissionais, para contratarem "funcionários", precisam fazer


concurso público? – (Sem Info) – (MPGO-2016) (PGMSP-2014)

Como os Conselhos Profissionais são autarquias exercendo uma atividade tipicamente


pública (fiscalização do exercício profissional), precisam respeitar a regra do art. 37, II, da
CF/88, que exige concurso público para a contratação de servidores.
Assim, quando os Conselhos de Fiscalização Profissional vão fazer a contratação de seu
pessoal é imprescindível a realização de concurso público.
STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, j. 09/06/15.
STF. 2ª Turma. RE 758168 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 24/06/14.

Exceção: OAB. O STF decidiu que a OAB, quando vai contratar seus empregados, não
precisa realizar concurso público (STF ADI 3026).
(MPGO-2016): Os Conselhos de fiscalização profissional, por possuírem natureza jurídica
de autarquia corporativa, devem se submeter aos princípios constitucionais concernentes
à Administração Pública, inclusive o da exigência de realização de concurso público para
contratação de pessoal. BL: STF, MS 28469 e RE 758168 AgR.

33.5. Para o exercício de toda e qualquer profissão, é necessário que a pessoa se inscreva
no respectivo Conselho Profissional (ex: o músico é obrigado a se inscrever na Ordem dos
Músicos do Brasil)? – (Sem Info) – (MPDFT-2013)

Nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados ao cumprimento de


condições legais para o seu exercício.
Na verdade, a regra é a liberdade. Assim, apenas quando houver potencial lesivo na
atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional (exs:
advogado, médico etc.).
A atividade de músico prescinde de controle. Constitui, ademais, manifestação artística
protegida pela garantia da liberdade de expressão. Logo, para que o músico exerça sua
profissão não é indispensável a sua prévia inscrição na Ordem dos Músicos do Brasil.
STF. Plenário. RE 414426, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado em 01/08/2011.
(MPDFT-2013): Apenas quando houver potencial lesivo na atividade é que pode ser
exigida inscrição em conselho de fiscalização profissional. BL: STF, RE 414426.

34. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO


34.1. Resolução do CONTRAN não pode estabelecer penalidades, devendo as sanções ser
previstas em lei em sentido formal e material – (Info 937)
O art. 161 do CTB prevê que:
Art. 161. Constitui infração de trânsito a inobservância de qualquer preceito deste Código, da
legislação complementar ou das resoluções do CONTRAN, sendo o infrator sujeito às
penalidades e medidas administrativas indicadas em cada artigo, além das punições previstas
no Capítulo XIX.
Parágrafo único. As infrações cometidas em relação às resoluções do CONTRAN terão suas
penalidades e medidas administrativas definidas nas próprias resoluções.
O STF conferiu interpretação conforme a Constituição, para declarar inconstitucional a
possibilidade do estabelecimento de sanção por parte do CONTRAN, como se órgão
legislativo fosse, visto que as penalidades têm de estar previstas em lei em sentido formal e
material.
Além disso, o Tribunal declarou a nulidade da expressão “ou das Resoluções do Contran”
presente neste artigo.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, j.
10/4/19 (Info 937).

34.2. CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos e multas como condição
para que o veículo possa circular – (Info 937)

O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo
certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos a
tributos, encargos e multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade
pelas infrações cometidas (arts. 124, VIII, 128, e 131, § 2º). Tais dispositivos são constitucionais
e não limitam o direito de propriedade. Além disso, não se constituem em sanções políticas.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, j.
10/04/2019 (Info 937).

35. FUNDEF
35.1. União deverá indenizar Estados prejudicados com o cálculo incorreto do VMNA – (Info
964)

O valor da complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino


Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) deve ser calculado com base no valor
mínimo nacional por aluno extraído da média nacional.
A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em
desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos,
mantida a vinculação constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do ensino. Em
outras palavras, os Estados prejudicados com o cálculo incorreto do valor mínimo nacional por
aluno deverão ser indenizados por conta do montante pago a menor a título de
complementação pela União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos exercícios
financeiros de 1998 a 2007.
O tema acima foi definido pelo STJ (no REsp 1101015/BA) e pelo STF nas ACO 648/BA, ACO
660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, jugadas em 6/9/2017.
Diante disso, é possível que o Ministro do STF, Relator de ações com pedidos semelhantes,
decida monocraticamente e julgue procedente os pedidos formulados por outros
Estados-membros contra a União. Não haverá, neste caso, violação ao princípio da
colegialidade.
STF. Plenário. ACO 701 AgR/AL, Rel. Min. Edson Fachin, j. 18/12/2019 (Info 964).

35.2. União deverá indenizar Estados prejudicados com o cálculo incorreto do VMNA – (Info
876)
O valor da complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) deve ser calculado com base no valor
mínimo nacional por aluno extraído da média nacional.
A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em
desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos,
mantida a vinculação constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do ensino. Em
outras palavras, os Estados prejudicados com o cálculo incorreto do valor mínimo nacional por
aluno deverão ser indenizados por conta do montante pago a menor a título de
complementação pela União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos exercícios
financeiros de 1998 a 2007.
Essa indenização abrange apenas os danos materiais, não sendo devidos danos morais
coletivos por conta desse repasse a menor.
STF. Plenário. ACO 648/BA, ACO 660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j. 6/9/2017 (Info 876).

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