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DIREITO ADMINISTRATIVO
Pontos atualizados: nº 15 (Info 962); nº 12 Info 963); nº 15 (Info 964 – 2 julgados); nº 35 (Info
964); nº 15 (Info 992)
1. PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS
1.1. AUTOTUTELA: Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração
Pública pode anular a anistia política concedida quando se comprovar a ausência de perseguição
política, desde que respeitado o devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já
recebidas – (Info 956) – IMPORTANTE!!! Repercussão Geral!!!
O STF tem afastado a aplicação da SV 13 a cargos públicos de natureza política, como são os
cargos de Secretário Estadual e Municipal.
Mesmo em caso de cargos políticos, será possível considerar a nomeação indevida nas hipóteses
de:
• nepotismo cruzado;
• fraude à lei e
• inequívoca falta de razoabilidade da indicação, por manifesta ausência de qualificação
técnica ou por inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª T. Rcl 29033 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/9/2019 (Info 952).
O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla defesa e ao
contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de motivação meramente
financeira, razões políticas.
Assim, ao poder central (União) é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou a
execução de convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a
verificação da veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro tem
consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas
voluntárias.
A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual se alcança o reconhecimento
definitivo das irregularidades, com a devida observância do contraditório e da ampla defesa,
tem suas regras definidas em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e
certa, e a decisão tem eficácia de título executivo extrajudicial.
STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 11/9/19 (Info 951).
A nomeação do cônjuge de prefeito para o cargo de Secretário Municipal, por se tratar de cargo
público de natureza política, por si só, não caracteriza ato de improbidade administrativa.
STF. 2ª T. Rcl 22339 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, j. 4/9/18
(Info 914).
Em regra, a proibição da SV 13 não se aplica para cargos públicos de natureza política, como,
por exemplo, Secretário Municipal.
Assim, a jurisprudência do STF, em regra, tem excepcionado a regra sumulada e garantido a
permanência de parentes de autoridades públicas em cargos políticos, sob o fundamento de que
tal prática não configura nepotismo.
Exceção: poderá ficar caracterizado o nepotismo mesmo em se tratando de cargo político caso
fique demonstrada a inequívoca falta de razoabilidade na nomeação por manifesta ausência de
qualificação técnica ou inidoneidade moral do nomeado.
STF. 1ª T. Rcl 28024 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/05/2018.
OBS: Vale ressaltar que a simples dissonância entre a área de formação e a área fim do cargo não é
suficiente, por si só, para se afirmar a inequívoca ausência de razoabilidade da nomeação. Em
outras palavras, o simples fato de a pessoa nomeada não ser daquela área não é motivo, por si só,
para se considerar que tenha havido nepotismo.
É inconstitucional lei estadual que preveja que o escritório de prática jurídica da Universidade
Estadual deverá manter plantão criminal nos finais de semana e feriados para atender pessoas
hipossuficientes que sejam presas em flagrante.
Esta lei viola a autonomia administrativa, financeira, didática e científica assegurada às
universidades no art. 207 da CF/88 (inconstitucionalidade material).
Além disso, contém vício de iniciativa (inconstitucionalidade formal), na medida em que foi
usurpada a iniciativa privativa do Governador (art. 61, § 1º, II, "c", da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3792/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 (Info 840).
(TJBA-2019-CESPE): Considerando a pouca quantidade de defensores públicos
indispensáveis ao atendimento adequado dos necessitados na forma da lei, determinado
estado da Federação aprovou o respectivo projeto e sancionou a lei Y, que criou a
obrigatoriedade de estágio curricular no atendimento da assistência jurídica gratuita por
núcleo de prática jurídica integrante do departamento de direito de universidade estadual,
estabelecendo sua organização, seu funcionamento e seus horários, inclusive determinando
sua atuação em regime de plantão, bem como vinculando a certificação da conclusão do curso
de bacharelado pelos alunos ao cumprimento do referido estágio. Conforme a CF, a doutrina e
a jurisprudência do STF, a lei Y é inconstitucional por ferir a autonomia didático-científica e
administrativa da universidade. BL: Info 840, STF.
OBS: Foi editada uma lei estadual prevendo que o escritório de prática jurídica da Universidade
do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) deveria manter plantão criminal, nos finais de semana
e feriados, para atender pessoas hipossuficientes que fossem presas em flagrante.
Essa autonomia não significa, obviamente, independência, atributo que é próprio dos Poderes
constituídos. No entanto, a autonomia assegura às Universidades a garantia de que não haverá
indevida ingerência no âmago (essência) de suas funções.
A determinação imposta pela lei para que o escritório de prática jurídica preste serviço aos
finais de semana, para atender hipossuficientes presos em flagrante delito, implica
necessariamente a criação ou, ao menos, a modificação das atribuições conferidas ao corpo
administrativo do curso de Direito da Universidade. Além disso, como os atendimentos são
realizados pelos acadêmicos de Direito matriculados no estágio obrigatório, para atender a Lei, a
Universidade teria que alterar as grades curriculares e horárias dos estudantes para que estes
pudessem desenvolver essas atividades em regime de plantão, ou seja, aos sábados, domingos e
feriados. Assim, a referida lei fere a autonomia administrativa, financeira e didático-científica
da instituição, pois não há anuência para criação ou modificação do novo serviço a ser prestado.
Tentativa de suprir as deficiências da Defensoria Pública: Vale ressaltar, ainda, que o objetivo
desta legislação é resolver, ainda que parcialmente, a deficiência do poder público em assegurar
aos hipossuficientes o direito à assistência judiciária integral e gratuita, bem como o amplo
acesso à justiça. Em outras palavras, com esta Lei busca-se mitigar as deficiências da Defensoria
Pública em desempenhar seu dever fundamental (art. 134, CF) impondo essa função a estudantes
de universidades estaduais. Desse modo, em vez de fortalecer a Defensoria Pública, o legislador
procurou transferir parcela de suas atribuições para a Universidade. Tal instituição tem como
objetivo principal as atividades de ensino superior e não pode ser obrigada a desempenhar, por
meio de seu corpo de alunos e professores, funções de assistência jurídica integral e gratuita aos
hipossuficientes.
Assistência jurídica pelas Universidades é permitida, mas se trata de matéria ligada à sua
autonomia: Vale ressaltar que o STF não proíbe o exercício do serviço de assistência jurídica
gratuita aos necessitados por meio dos escritórios de prática jurídica, o que é uma realidade de
relevante valor social. Ressalte-se, no entanto, que se trata de atividade desenvolvida pelos
acadêmicos do Curso de Direito em decorrência do estágio curricular obrigatório, e, por isso, diz
respeito à autonomia didático-científica da universidade, e não como imposição pelo Estado.
Importante também esclarecer que não há impedimento que o Estado-Membro realize convênio
com a universidade para viabilizar a prestação de serviço de assistência judiciária aos
necessitados. O que não se pode é transferir o exercício prioritário dessa atividade à
universidade.
Inconstitucionalidade formal: Além de tudo que já foi exposto, a norma impugnada contém vício
de iniciativa (inconstitucionalidade formal), considerando que a iniciativa para propor leis que
imponham atribuições para órgãos ou entidades públicas estaduais é privativa do Governador
do Estado e, no caso, a lei foi proposta por um Deputado (iniciativa parlamentar). Houve,
portanto, violação ao art. 61, § 1º, II, "c", da CF/88, aplicável ao âmbito estadual por força do
princípio da simetria:
Art. 61 (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
II - disponham sobre:
c) servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria;
Servidor que recebeu auxílio-moradia apresentando declaração falsa de que havia se mudado
para outra cidade terá que ressarcir o erário e devolver os valores recebidos mesmo que já se
tenha passado mais de 5 anos desde a data em que o pagamento foi autorizado.
STF. 1ª T. MS 32.569/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j. 13/09/16
(Info 839).
1.7. Princípio da intranscendência e atos praticados pelas gestões anteriores – (Info 825) -
ATENÇÃO!!! = CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)
Segundo a posição que prevalece no STF, se a irregularidade no convênio foi praticada pelo
gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o
erário e corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou
ações de ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não
poderá ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União.
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a
aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações
anteriores.
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito
democraticamente e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que
acarretaram a inscrição combatida”. Penso que seja a posição que prevalece no STF.
A própria AGU admite esta tese: Súmula 46-AGU: Será liberada da restrição decorrente da
inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada pelo prefeito que
sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando o
ressarcimento ao erário.
Nesse sentido: STF. 1ª T. AC 2614/PE, AC 781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 23/6/15
(Info 791).
OBS:
O que é o princípio da intranscendência subjetiva das sanções? Significa que não podem ser
impostas sanções e restrições que superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam
pessoas que não tenham sido as causadoras do ato ilícito. Na jurisprudência do STF encontramos
dois exemplos de aplicação desse princípio em casos envolvendo inscrição de Estados e
Municípios nos cadastros de inadimplentes da União:
1ª acepção: quando a irregularidade foi praticada pela gestão anterior: Existem julgados do STF
afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo gestor anterior e a gestão atual,
depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e corrigir as falhas (exs:
apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de ressarcimento contra o
antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser incluído nos cadastros
de inadimplentes da União. Segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções proíbe a aplicação de sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por
administrações anteriores. Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das
sanções, impedindo que a Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos
convênios ou recebimento de repasses federais. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. AC 2614/PE, AC
781/PI e AC 2946/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 23/6/2015 (Info 791).
1.8. Observância do devido processo legal, contraditório e ampla defesa antes da inclusão de
entes federativos nos cadastros federais de inadimplência – (Info 825) – ATENÇÃO!!!
CONCURSOS FEDERAIS!!! – (TCEPR-2016)
Não há nepotismo na nomeação de servidor para ocupar o cargo de assessor de controle externo
do Tribunal de Contas mesmo que seu tio (parente em linha colateral de 3º grau) já exerça o
cargo de assessor-chefe de gabinete de determinado Conselheiro, especialmente pelo fato de
que o cargo do referido tio não tem qualquer poder legal de nomeação do sobrinho.
A incompatibilidade da prática enunciada na SV 13 com o art. 37 da CF/88 não decorre
diretamente da existência de relação de parentesco entre pessoa designada e agente político ou
servidor público, mas de presunção de que a escolha para ocupar cargo de direção, chefia ou
assessoramento tenha sido direcionado à pessoa com relação de parentesco com quem tenha
potencial de interferir no processo de seleção.
STF. 2ª T. Rcl 18564/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, j.
23/2/16 (Info 815).
OBS: Não há nepotismo se a pessoa que será nomeada para o órgão público possui ali um parente,
mas este não detém competência legal para selecioná-la ou nomeá-la para o cargo de chefia,
direção ou assessoramento pleiteado, ou não exerce ascendência hierárquica sobre quem possui
essa competência. Vedar o acesso de qualquer cidadão a cargo público apenas por conta de relação
de parentesco com servidor público que não tenha competência para selecionar ou nomear para o
cargo pleiteado é, em alguma medida, negar o princípio constitucional da impessoalidade. Além
disso, não existia, no caso concreto, nenhum indício de a autoridade nomeante tivesse algum
parentesco com o nomeado nem suspeita de que estaria havendo designações recíprocas mediante
ajuste ("nepotismo cruzado"). Por fim, importante esclarecer que, ao se analisar a estrutura
administrativa da Corte de Contas não se verifica a existência de hierarquia entre os cargos de
chefe de gabinete e de assessor de controle externo.
O Estado de Pernambuco celebrou convênio com a União por meio do qual recebeu
determinadas verbas para realizar projetos de interesse público no Estado, assumindo o
compromisso de prestar contas da utilização de tais valores perante a União e o TCU. Ocorre
que o Estado não prestou contas corretamente, o que fez com que a União o inserisse no CAUC.
Ao julgar uma ação proposta pelo Estado-membro contra a União, o STF exarou duas
importantes conclusões:
1) Viola o princípio do devido processo legal a inscrição de unidade federativa em cadastros de
inadimplentes antes de iniciada e julgada tomada de contas especial pelo Tribunal de Contas da
União. Em casos como esse, mostra-se necessária a tomada de contas especial e sua respectiva
conclusão, a fim de reconhecer que houve realmente irregularidades. Só a partir disso é
possível a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao crédito organizados e mantidos pela
União.
A Constituição do Estado do Espírito Santo prevê, em seu art. 32, VI, que é “vedado ao servidor
público servir sob a direção imediata de cônjuge ou parente até segundo grau civil”.
Foi proposta uma ADI contra esta norma.
O STF julgou a norma constitucional, mas decidiu dar interpretação conforme à Constituição,
no sentido de o dispositivo ser válido somente quando incidir sobre os cargos de provimento
em comissão, função gratificada, cargos de direção e assessoramento. Em outras palavras, o STF
afirmou que essa vedação não pode alcançar os servidores admitidos mediante prévia
aprovação em concurso público, ocupantes de cargo de provimento efetivo, haja vista que isso
poderia inibir o próprio provimento desses cargos, violando, dessa forma, o art. 37, I e II, da
CF/88, que garante o livre acesso aos cargos, funções e empregos públicos aos aprovados em
concurso público.
STF. Plenário. ADI 524/ES, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min. Ricardo
Lewandowski, j. 20/5/2015 (Info 786).
É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos
nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias.
STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 23/4/15 (repercussão geral) (Info 782)
(TJSP-2015-VUNESP): A divulgação, nos sites dos respectivos órgãos administrativos, de
nomes e vencimentos de servidores públicos, observado o decidido pelo Supremo Tribunal
Federal no julgamento do ARE 652.777, é medida que deve ser reconhecida como legítima
diante dos princípios constitucionais que regulam a atividade pública e da Lei federal nº
12.527/11. BL: Info 782, STF.
É dizer, deve-se haver alguns cuidados para não se revelar CPF, RG e endereço dos servidores,
mas não pode haver negativa do nome do servidor e do seu subsídio ou remuneração.
A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No
entanto, se a invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais,
faz-se necessária a instauração de processo administrativo que assegure o devido processo legal
e a ampla defesa.
Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a
observância do contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.
STF. 2ª T. RMS 31661/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 10/12/13 (Info 732).
STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/10/14 (Info 763).
(TJSP-2018-VUNESP): O princípio da autotutela administrativa é decorrência do princípio da
legalidade e, a seu respeito, é correto afirmar que a anulação do ato administrativo que tenha
produzido efeitos no campo dos interesses individuais não prescinde de prévio contraditório
que garanta o exercício da defesa da legitimidade do ato por aqueles que serão por ela
atingidos. BL: Súmula 473, STF e Infos 732 e 763 do STF.
2. PODER DE POLÍCIA
2.1. Poder de polícia de trânsito e guardas municipais – (Info 793) – IMPORTANTE!!! –
(MPSP-2015)
3. ATOS ADMINISTRATIVOS
3.1. O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão
administrativa proferida pelo CADE – (Info 942)
O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa
proferida pelo CADE.
A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação
econômica exige que o Poder Judiciário tenha uma postura deferente (postura de respeito)
ao mérito das decisões proferidas pela Autarquia.
A análise jurisdicional deve se limitar ao exame da legalidade ou abusividade do ato
administrativo.
O CADE é quem detém competência legalmente outorgada para verificar se a conduta de
agentes econômicos gera efetivo prejuízo à livre concorrência.
As sanções antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial,
dependem das consequências ou repercussões negativas no mercado analisado, sendo
certo que a identificação de tais efeitos anticompetitivos reclama acentuada expertise.
Assim, o Poder Judiciário não deve substituir o juízo valorativo e ingressar no mérito da
decisão administrativa do CADE.
STF. 1ª T. RE 1083955/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 28/5/2019 (Info 942).
4. LICITAÇÃO
4.1. Correios podem ser contratados sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei
8.666/93, para a prestação de serviços de logística – (Info 934) – IMPORTANTE!!!
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), empresa pública federal, pode ser
contratada sem licitação, com fundamento no art. 24, VIII, da Lei nº 8.666/93, para a
prestação de serviços de logística:
Art. 24 (...) VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens
produzidos ou serviços prestados por órgão ou entidade que integre a Administração
Pública e que tenha sido criado para esse fim específico em data anterior à vigência desta
Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no mercado;
A ECT preenche todos os requisitos legais necessários à possibilidade de sua contratação
direta, haja vista integrar a Administração e ter sido criada em data anterior à da Lei nº
8.666/93 para prestação de serviços postais, dentre os quais se incluem os serviços de
logística integrada.
STF. 2ª Turma. MS 34939/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/3/2019 (Info 934).
4.2. É inconstitucional lei estadual que exige nova certidão negativa não prevista na Lei
8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com
órgãos e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou
assinar contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela
deveria apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo
com a lei, a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido
condenada, administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos
últimos 5 anos.
Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, §
2º, 25, §1º, e 30, II:
Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas
por esta Constituição.
Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o tema
são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.
Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais
sobre o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e
trabalhista (art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações
relacionadas com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do
MS criou novas condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de
habilitação obrigatório para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou
na condição de intérprete primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou,
ainda, uma presunção legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de
registros desabonadores nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo
suficiente para justificar o impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela
Administração local. A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e
inteiramente novo para habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação
estadual afrontou as normas gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se
apropriou de competência da União.
4.3. É constitucional lei estadual que determina que a Administração Pública irá,
preferencialmente, utilizar “softwares” livres – (Info 780)
O Governo do Rio Grande do Sul editou uma lei estadual determinando que a
administração pública do Estado, assim como os órgãos autônomos e empresas sob o
controle do Estado utilizarão preferencialmente em seus sistemas e equipamentos de
informática programas abertos, livres de restrições proprietárias quanto à sua cessão,
alteração e distribuição (“softwares” livres).
Determinado partido político ajuizou uma ADI contra essa lei afirmando que ela teria
inconstitucionalidades materiais e formais.
O STF julgou improcedente a ADI e afirmou que a lei é constitucional.
A preferência pelo “software” livre, longe de afrontar os princípios constitucionais da
impessoalidade, da eficiência e da economicidade, promove e prestigia esses postulados,
além de viabilizar a autonomia tecnológica do País.
Não houve violação à competência da União para legislar sobre licitações e contratos
porque a competência da União para legislar sobre licitações e contratos fica restrita às
normas gerais, podendo os Estados complementar as normas gerais federais.
A referida lei também não viola o art. 61, II, “b”, da CF/88 porque a competência para
legislar sobre “licitação” não é de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo,
podendo ser apresentada por um parlamentar, como foi o caso dessa lei.
STF. Plenário. ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux,
julgado em 9/4/2015 (Info 780).
5. CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
5.1. O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado não
transfere automaticamente ao Poder Público a responsabilidade pelo seu pagamento – (Info
862) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019) (TJSC-2019)
Obs: a tese acima foi a fixada pelo STF. No entanto, penso que é importante um
esclarecimento revelado durante os debates: é possível sim, excepcionalmente, que a
Administração Pública responda pelas dívidas trabalhistas contraídas pela empresa
contratada e que não foram pagas, desde que o ex-empregado reclamante comprove, com
elementos concretos de prova, que houve efetiva falha do Poder Público na fiscalização do
contrato.
STF. Plenário. RE 760931/DF, rel. orig. Min. Rosá Weber, red. p/ o ác. Min. Luiz Fux, j.
26/4/17 (repercussão geral) (Info 862).
(TJBA-2019-CESPE): A respeito da responsabilidade civil do Estado, julgue o item a
seguir: A responsabilidade do Estado, em regra, será afastada quando se tratar da
obrigação de pagamento de encargos trabalhistas de empregados terceirizados que tenham
deixado de receber salário da empresa de terceirização. BL: Info 862, STF.
(TJSC-2019-CESPE): Um empregado de empresa contratada pelo poder público para
prestar serviços ligados à atividade-fim do órgão contratante comprovou, em demanda
trabalhista, o inadimplemento da empresa em relação ao pagamento de suas verbas
rescisórias. Nessa ação, foi reconhecida a existência da dívida trabalhista. Com referência a
essa situação, assinale a opção correta a partir do entendimento majoritário e atual do STF:
A responsabilidade pelo pagamento das dívidas trabalhistas não é transferida
automaticamente da empresa contratada para o poder público, seja em caráter solidário ou
subsidiário. BL: Info 862, STF.
OBS:
SV 5-STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo
disciplinar não ofende a Constituição.
A OAB tem legitimidade para propor o cancelamento de SV? SIM. A CF/88 determina que a
proposta de cancelamento da súmula vinculante poderá ser provocada pelas mesmas
autoridades e entidades que podem propor a ADI. Em outras palavras, quem pode propor
ADI pode também pedir o cancelamento de súmula vinculante. No caso, a OAB encontra-se
no rol de legitimados da ADI (art. 103, VII, da CF/88) e, consequentemente, pode requerer o
cancelamento de súmula vinculante.
STF continua entendendo que a falta de defesa técnica no PAD não ofenda a CF: O
precedente que deu origem à SV 5 foi o RE 434.059/DF (DJe 12.9.2008). Neste julgamento, o
STF concluiu que a falta de defesa técnica por advogado no PAD não ofende a CF. Após a
edição da SV 5, não houve mudança na legislação, na jurisprudência ou na percepção da
sociedade a justificar a revisão ou o cancelamento do verbete.
Estabilidade: A súmula vinculante deve ter certo grau de estabilidade, somente devendo ser
cancelada ou revista em caso de superveniência de fatos suficientemente relevantes, sob pena
de se negar autoridade e se transformar o verbete vinculante num precedente qualquer,
eliminando sua função no sistema, principalmente a de dar estabilidade e segurança às
decisões da Corte.
Existem processos judiciais que dispensam advogado: Importante relembrar que, caso se
reconheça que a SV 5 viola a Constituição, também deveria ser reconhecida a
inconstitucionalidade das normas que, em processo judicial, dispensam a presença de
advogado (exs: processos trabalhistas, juizados especiais etc.).
SV 5 não se aplica para processos disciplinares que apuram falta grave no sistema prisional:
Vale ressaltar que a SV 5 refere-se ao típico processo administrativo disciplinar, ou seja,
aquele que tramita no âmbito da Administração Pública. Este enunciado não se aplica para o
processo administrativo que apura infrações cometidas no sistema penitenciário. Assim,
mesmo havendo precedentes do STF exigindo advogado nos processos de apuração de falta
grave do condenado, estes não podem ser invocados para justificar o cancelamento da SV 5.
6.3. Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD – (Info
834) – (MPGO-2013)
Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha
transitado em julgado? SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar,
de prova emprestada validamente produzida em processo criminal, independentemente do
trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da
sentença proferida no processo criminal não repercute na instância administrativa, tendo em
vista a independência existente entre as instâncias (STJ. 2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min.
Humberto Martins, j. 2/4/13. Info 521).
Ex.: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal,
conseguiu captar conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar
certo ato relacionado com suas atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do
inquérito, o MPF oferece denúncia contra esse servidor. A Administração Pública, por sua
vez, instaura processo administrativo disciplinar.
O STF e o STJ, ao interpretarem este dispositivo, entendem que, quando ele diz "constituição
de outra comissão", não exige que nesta outra comissão os membros sejam diferentes
daqueles que compuseram a primeira. Em outras palavras, se o motivo pelo qual o primeiro
PAD foi anulado não está relacionado com a isenção da comissão, não existe impedimento
legal para que os membros da primeira participem da comissão que irá conduzir o segundo
processo.
Aplica-se aqui a mesma lógica que é utilizada no processo judicial: a anulação de uma
decisão/sentença judicial não impede que o juiz que decidiu aprecie novamente a causa,
salvo se o vício estava relacionado com ele.
7. CONCURSOS PÚBLICOS
7.1. É inconstitucional dispositivo legal que preveja a possibilidade de o indivíduo aprovado
no concurso tomar posse e entrar em exercício, de imediato, na classe final da carreira – (Info 932)
7.2. A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer a prova em
uma nova data no futuro – (Info 706 e Info 924) – (TRF2-2018) (MPPI-2019)
Os candidatos possuem direito à segunda chamada nos testes físicos em concursos públicos?
REGRA: NÃO.
Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de
aptidão física em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força
maior, salvo se houver previsão no edital permitindo essa possibilidade.
STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/5/13 (repercussão geral) (Info 706).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.597.570/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 25/10/18
STJ. 2ª Turma REsp 1.721.068/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/5/18.
(MPPI-2019-CESPE): Edital de concurso público para o cargo de policial civil de determinado
estado da Federação vedou a possibilidade de remarcação de teste de aptidão física dos
candidatos em razão de eventual problema temporário de saúde. De acordo com o
entendimento jurisprudencial do STF, a referida cláusula editalícia coaduna-se com a
Constituição Federal de 1988. BL: Info 706 do STF.
OBS: O STF entendeu que a situação da candidata grávida merece tratamento diferente do caso de
candidatos doentes ou que não compareceram ao teste por motivo de força maior. Assim,
justifica-se fazer um distinguishing em relação ao que foi decidido no RE 630733/DF (Info 706).
7.3. Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por
força de provimento judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser
reformada – (Info 911)
Em regra, não produzem fato consumado a posse e o exercício em cargo público decorrentes de
decisão judicial tomada à base de cognição não-exauriente.
Em outras palavras, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o
cargo público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. Trata-se do
entendimento firmado no RE 608482/RN (Tema 476).
A situação é diferente, contudo, se a pessoa, após permanecer vários anos no cargo (21 anos),
conseguiu a concessão de aposentadoria. Neste caso, em razão do elevado grau de estabilidade
da situação jurídica, o princípio da proteção da confiança legítima incide com maior
intensidade. Trata-se de uma excepcionalidade que autoriza a distinção (distinguish) quanto ao
leading case do RE 608482/RN (Tema 476).
STF. 1ª Turma. RE 740029 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 14/8/18 (Info 911).
Quando o exercício do cargo foi amparado por decisões judiciais precárias e o servidor se
aposentou, antes do julgamento final do mandado de segurança, por tempo de contribuição
durante esse exercício e após legítima contribuição ao sistema, a denegação posterior da
segurança que inicialmente permitira ao servidor prosseguir no certame não pode ocasionar a
cassação da aposentadoria.
STJ. 1ª Seção. MS 20558-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 22/2/17 (Info 600).
OBS:
Situação não contemplada no leading case: No julgamento do RE 608482/RN, o STF não tratou
sobre as hipóteses em que o servidor, em razão do decurso do tempo no exercício do cargo, tem a
aposentadoria concedida pela Administração Pública. Logo, este entendimento não afronta o que
decidiu o STF na repercussão geral.
Legislação não prevê cassação de aposentadoria por esse motivo: A Lei dos Servidores Públicos
federais (Lei n. 8.112/90), assim como as demais leis de servidores públicos dos demais entes,
preveem a cassação da aposentadoria apenas em duas hipóteses:
a) demissão do servidor público (art. 134); e
b) acumulação ilegal de cargos (art. 133, § 6º).
Dessa forma, não há fundamento na lei para se cassar a aposentadoria nesta hipótese.
A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público, por meio de ato judicial, à
qual atribuída eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou progressões funcionais que
alcançariam se houvesse ocorrido, a tempo e modo, a nomeação.
STF. Plenário. RE 629392 RG/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/6/17 (repercussão geral) (Info
868).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João foi aprovado em todas as provas teóricas do concurso
de Defensor Público, no entanto, foi eliminado no exame psicotécnico, fato ocorrido no ano de
2013. O candidato ingressou com ação ordinária questionando os critérios utilizados no teste
psicotécnico aplicado. O pedido de tutela provisória antecipada, contudo, foi negado. Todos os
demais candidatos aprovados tomaram posse. A ação foi julgada procedente em todas as
instâncias, mas a Fazenda Pública sempre recorria e João ainda não havia tomado posse. Somente
em 2017, quando houve o trânsito em julgado, ele foi nomeado e empossado. Significa que,
enquanto os demais candidatos foram nomeados e estavam trabalhando desde 2013, João, mesmo
tendo direito, só conseguiu ingressar no serviço público 5 anos mais tarde. Inconformado com a
situação, João propôs ação de indenização contra o Poder Público alegando que teria direito de
receber, a título de reparação, o valor da remuneração do cargo referente ao período de 2013 até
2017.
O pedido de indenização formulado por João encontra amparo na jurisprudência? O candidato
que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito a
receber a remuneração retroativa?
⮚ Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o
argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a
cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à indenização.
⮚ Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor
não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.
O tema foi decidido pelo STF em sede de recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão
geral:
Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o servidor
não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em
momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. STF. Plenário. RE
724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso,
julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
Por que o candidato não terá direito ao pagamento da remuneração retroativa? O direito à
remuneração é consequência do exercício de fato do cargo. Dessa forma, inexistindo o efetivo
exercício, a pessoa não faz jus à percepção de qualquer importância, a título de ressarcimento
material, sob pena de enriquecimento sem causa.
E quanto aos efeitos funcionais, o candidato terá direito? Suponhamos o seguinte: os candidatos
que tomaram posse em 2013 já passaram do estágio probatório e foram promovidos de Defensores
Públicos de 3ª classe para Defensores Públicos de 2ª classe. João deveria ter tomado posse em 2013
juntamente com eles, mas isso só acabou ocorrendo em 2017 por erro da Administração Pública. A
sentença reconheceu que João tem direito à nomeação com eficácia retroativa à data em que os
demais candidatos na mesma situação foram nomeados (2013). Isso significa que João terá direito
de assumir já como Defensor Público de 2ª classe (“promovido”), assim como os outros estão
atualmente? NÃO. A promoção ou a progressão funcional, a depender do caráter da
movimentação, se vertical ou horizontal, não se resolve apenas mediante o cumprimento do
requisito temporal. Pressupõe a aprovação em estágio probatório e a confirmação no cargo, bem
como o preenchimento de outras condições indicadas na legislação ordinária. Diante disso, uma
vez empossado, cumpre ao servidor cumprir todas as regras relacionados com o regime jurídico
do cargo, incluídas aquelas relativas ao estágio probatório e as específicas de cada carreira. Assim,
somente considerado o desempenho do agente, por meio de atuação concreta a partir da entrada
em exercício, é possível alcançar a confirmação no cargo e eventuais promoções.
7.5. Inconstitucionalidade de permuta de serventia sem concurso público após a CF/88 – (Info
841)
O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição
da Lei 8.935/94, ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição
não apenas para ingresso na atividade notarial e de registro, como também nos casos de
remoção ou permuta.
As normas estaduais que admitem a remoção na atividade notarial e de registro
independentemente de prévio concurso público são incompatíveis com o art. 236, § 3º, da
Constituição, razão pela qual não foram por essa recepcionadas.
O prazo decadencial de 5 anos, de que trata o art. 54 da Lei nº 9.784/99, não se aplica à revisão de
atos de delegação de serventias extrajudiciais editados após a CF/88, sem o atendimento das
exigências prescritas no seu art. 236. Assim, se uma pessoa assumiu uma serventia notarial ou
registral sem concurso público após a CF/88, este ato poderá ser anulado mesmo que já se
tenham passado mais de 5 anos.
A decisão que anula o ato de investidura em serventia notarial e registral sem concurso público
não viola o direito adquirido nem a segurança jurídica.
STF. 1ª Turma. MS 29415/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j.
27/09/16 (Info 841).
Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo
situações excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/8/16 (repercussão geral) (Info 835).
(MPRR-2017-CESPE): De acordo com o entendimento do STF, no que se refere à inscrição de
candidatos que possuam tatuagens gravadas na pele, não havendo lei que disponha sobre o
tema, os editais de concursos públicos estão impedidos de restringi-la, com exceção dos casos
em que essas tatuagens violem valores constitucionais. BL: Info 835, STF.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João prestou concurso para soldado da Polícia Militar. O
edital do certame previa restrições para candidatos que possuem tatuagens. Segundo o edital,
seriam excluídos do concurso candidatos que possuíssem tatuagens localizadas em regiões do
corpo que ficassem visíveis quando o indivíduo estivesse usando short e camisa (ex: antebraço).
João foi aprovado em todas as fases, mas eliminado do concurso porque possui uma tatuagem
tribal, medindo 14 por 13 cm na panturrilha.
É possível que o edital do concurso preveja a eliminação do candidato pelo simples fato de ter
uma tatuagem? Essa previsão é válida?
✔ Regra: NÃO. Em regra, os editais de concurso não podem estabelecer restrição a pessoas
com tatuagem.
✔ Exceção: é possível que o edital imponha restrições a candidatos que possuam tatuagens
cujo conteúdo viole valores constitucionais.
Restrições a cargos públicos somente podem estar relacionadas com o exercício das funções:
Qualquer obstáculo a acesso a cargo público deve estar relacionado unicamente ao exercício das
funções como, por exemplo, idade ou altura que impossibilitem o exercício de funções específicas.
A criação de barreiras arbitrárias para impedir o acesso de candidatos a cargos públicos fere os
princípios constitucionais da isonomia e da razoabilidade.
Tatuagem é forma de liberdade de manifestação: O certo é que, atualmente, a tatuagem, por si só,
não pode ser confundida como uma transgressão ou conduta atentatória aos bons costumes. Não
há qualquer ligação objetiva e direta entre o fato de um cidadão possuir tatuagens em seu corpo e
uma suposta conduta atentatória à moral, aos bons costumes ou ao ordenamento jurídico. A
decisão do indivíduo fazer uma tatuagem está diretamente relacionada com a sua liberdade de
pensamento e de expressão (art. 5º, IV e IX, da CF/88).
Exceções: Vale ressaltar, entretanto, que é possível que a Administração Pública impeça o acesso
do candidato se a tatuagem que ele possui tiver um conteúdo que viole os valores previstos na
Constituição Federal. É o caso, por exemplo, de tatuagens que contenham obscenidades,
ideologias terroristas, que sejam discriminatórias, que preguem a violência e a criminalidade, a
discriminação de raça, credo, sexo ou origem. Isso porque tais temas são, inegavelmente,
contrários às instituições democráticas. Se a Administração proibir tatuagens como essa, não será
uma prática desarrazoada ou desproporcional.
Voltando ao exemplo dado: No caso concreto, o STF considerou que a conduta da Administração
Pública de eliminar João não foi correta porque a tatuagem tribal não se mostra contrária aos
valores previstos na Constituição Federal, sendo legítima manifestação de expressão do indivíduo.
7.7. Surgimento de vaga durante o período validade do concurso e abertura de novo certame
logo depois do primeiro concurso expirar – (Info 834) – IMPORTANTE!!! – (TJPA-2019)
(DPEDF-2019)
Determinado candidato foi aprovado fora do número de vagas. Todos os aprovados dentro do
número de vagas foram nomeados e empossados. Durante o prazo de validade do concurso, um
servidor se aposentou, mas não houve autorização do Ministério do Planejamento para que o
órgão federal fizesse o provimento desta vaga. Um mês após o fim do prazo de validade do
concurso, a Administração Pública abriu novo concurso para este cargo.
O STF entendeu que este candidato não possui direito líquido e certo à nomeação porque:
● foi aprovado fora do número de vagas previsto no edital; e
● o prazo de validade do concurso em que ele foi aprovado expirou antes da abertura do
novo certame.
● realmente surgiu uma vaga decorrente da aposentadoria, mas não houve manifestação
do órgão competente se havia disponibilidade orçamentária para que este cargo fosse
imediatamente provido.
O mero surgimento de vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo não gera
direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado fora do número de vagas, cabendo a ele
demonstrar, de forma inequívoca, que houve preterição arbitrária e imotivada por parte da
administração pública. No caso concreto, o STF entendeu que isso não ficou comprovado.
Assim, para o Tribunal, a situação não se enquadra nas hipóteses previstas no RE 837311/PI.
STF. 1ª T. RMS 31478/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, j.
9/8/16 (Info 834).
7.8. Surgimento de novas vagas e discussão sobre direito subjetivo à nomeação (Info 811) –
IMPORTANTE!!! - (TJPA-2019) (DPEDF-2019)
O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o
prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos
candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição
arbitrária e imotivada por parte da administração, caracterizada por comportamento tácito ou
expresso do Poder Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado
durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal pelo candidato.
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas
seguintes hipóteses:
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de
classificação; e
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do
certame anterior, e ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada
por parte da administração nos termos acima.
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 09/12/2015 (repercussão geral) (Info 811).
(DPEDF-2019-CESPE): Considerando as disposições da CF/1988 e a jurisprudência do STF a
respeito de agentes públicos, julgue o item a seguir: Segundo o STF, o surgimento de novas
vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo de certame anterior cujo prazo de
validade ainda não tenha terminado, em regra, não gera automaticamente o direito à nomeação
dos candidatos aprovados no certame anterior fora das vagas previstas no edital. BL: Info 811,
STJ.
7.9. Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público (Info 753 e Info 808) –
IMPORTANTE!!! (MPDFT-2015) (Anal. Judic./TRF1-2017) (TJCE-2018)
O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária assume
o risco de posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito “ex tunc”, inviabiliza a
aplicação da teoria do fato consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não
implica a manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia
aprovação em concurso público (art. 37, II, da CF/88), valor constitucional que prepondera sobre
o interesse individual do candidato, que não pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção
da confiança legítima, pois conhece a precariedade da medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo
público por força de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. 1ª T. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
em 17/11/2015 (Info 808).
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/8/14 (repercussão geral) (Info 753).
(TJCE-2018-CESPE): O princípio da proteção da confiança legítima não autoriza a manutenção
em cargo público de servidor público empossado por força de decisão judicial de caráter
provisório posteriormente revista, ainda que decorridos mais de cinco anos da investidura no
cargo. BL: Info 753, STF.
7.11. Controle de questões de concurso pelo Poder Judiciário – (Info 782) – IMPORTANTE!!!
(TJPR-2017)
É possível que o Poder Judiciário anule questão objetiva de concurso público que foi elaborada
de maneira equivocada? É possível que seja alterada a pontuação dada ao candidato na questão
sob o argumento de que a correção feita pela banca foi inadequada?
● Regra: NÃO. Os critérios adotados por banca examinadora de concurso público não
podem ser revistos pelo Poder Judiciário. Não é possível controle jurisdicional sobre o ato
administrativo que corrige questões de concurso público. Não compete ao Poder
Judiciário substituir a banca examinadora para reexaminar o conteúdo das questões e os
critérios de correção utilizados.
7.12. É inconstitucional lei estadual que cria Serviço de Interesse Militar Voluntário Estadual –
(Info 780)
O Estado de Goiás editou uma lei criando algo que ele chamou de Serviço de Interesse Militar
Voluntário Estadual (SIMVE). Esse SIMVE funcionaria, em linhas gerais, da seguinte forma: as
pessoas poderiam se alistar para trabalhar “voluntariamente” como soldado na Polícia Militar
ou no Corpo de Bombeiros Militar. Haveria uma espécie de seleção (menos rigorosa que um
concurso público) e, se a pessoa fosse escolhida, ela receberia, como contraprestação pelo
trabalho desempenhado, um subsídio e atuaria como se fosse um soldado. Esse contrato seria
por um prazo determinado.
O STF entendeu que esse SIMVE é formal e materialmente inconstitucional.
O SIMVE viola a regra do concurso público (art. 37, II, da CF/88).
Além disso, o STF afirmou ainda que a Lei estadual possui um vício formal, já que trata sobre
prestação voluntária de serviços na PM e Corpo de Bombeiros de forma diametralmente oposta
ao que diz a Lei federal 10.029/2000.
STF. Plenário. ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/3/2015 (Infos 780 e 781).
7.14. Questão da prova objetiva que exige do candidato saber quantas afirmações estão corretas
– (Info 778)
A lei estadual do Estado “X” prevê que, em caso de empate entre os candidatos em concurso de
remoção para serventias notariais e registrais, o primeiro critério de desempate é o maior
tempo de serviço público.
Ocorre que a Lei Federal 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) determina que o primeiro critério de
desempate em concurso público será a idade, dando-se preferência ao de idade mais elevada
(art. 27, parágrafo único).
Qual das duas legislações deverá prevalecer no caso?
A legislação estadual. O Estatuto do Idoso, por ser lei geral, não se aplica como critério de
desempate, no concurso público de remoção para outorga de delegação notarial e de registro,
quando existir lei estadual específica que regule o certame e traga regras aplicáveis em caso de
empate. Desse modo, em nosso exemplo, a vaga deve ficar com o candidato que tiver maior
tempo de serviço público (e não necessariamente com o mais idoso).
STF. 1ª Turma. MS 33046/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/3/2015 (Info 777).
7.16. Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar – (Info 775) –
IMPORTANTE!!! – (DPEPR-2017) (TJMG-2018)
O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração
tem direito a receber a remuneração retroativa?
● Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o
argumento de que houve demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação
tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à
indenização.
● Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o
servidor não foi nomeado logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.
Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão
judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido
em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante.”
STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
(TJMG-2018-Consulplan): Com relação à responsabilidade civil do Estado, assinale a
alternativa correta: O Supremo Tribunal Federal reconheceu a existência de repercussão geral
e firmou a tese de que, na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão
judicial, o servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido
investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. BL: Info 775, STF.
7.17. Sociedade de economia mista que contrata escritório de advocacia em vez de convocar
advogados aprovados – (Info 763) – IMPORTANTE!!!
7.18. Serviços sociais autônomos não precisam realizar concurso público – (Info 759) –
IMPORTANTE!!! – (Auditor Fisc. Munic.-Cuiabá/MT-2016) (DPEAC-2017) (DPEAL-2017)
Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso público para contratar seu pessoal?
NÃO. Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e não
integrarem a Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse público
em cooperação com o ente estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de concurso
público (art. 37, II, da CF/88) para contratação de seu pessoal.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão geral)
(Info 759).
(DPEAC-2017-CESPE): Conforme entendimento do STF, as entidades de serviços sociais
autônomos integrantes do sistema “S” não se submetem à exigência do concurso público para a
contratação de pessoal. BL: Info 759, STF.
7.20. Contratação pela Administração Pública sem concurso público e ausência de efeitos
trabalhistas – (Info 756)
STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 28/8/14 (repercussão geral) (Info 756).
É inconstitucional a lei estadual que prevê que determinados cargos da Administração Pública
serão preenchidos mediante concurso do qual somente participarão servidores públicos
(concurso interno).
Essa espécie de “promoção interna” viola o princípio da ampla acessibilidade aos cargos
públicos (art. 37, II, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 917/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki,
julgado em 6/11/2013 (Info 727).
7.25. Contagem do termo inicial para impetração de mandado de segurança a fim de impugnar
critérios de aprovação e de classificação de concurso público – (Sem Info) – (DPERN-2015)
O termo inicial para impetração de mandado de segurança a fim de impugnar critérios de
aprovação e de classificação de concurso público conta-se do momento em que a cláusula do
edital causar prejuízo ao candidato.
STF. 2ª Turma. RMS 23586, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2011.
8. ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
8.1. Constitucionalidade da Lei 9.637/98 – (Info 781) – IMPORTANTE!!! – (TJMS-2015)
(Anal. Judic./TREPE-2017) (TJMT-2018) (Anal. Judic./STJ-2018) (TJMT-2018) (TJRO-2019)
Organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos,
prestadoras de atividades de interesse público e que, por terem preenchido determinados
requisitos previstos na Lei 9.637/98, recebem a qualificação de “organização social”.
A pessoa jurídica, depois de obter esse título de “organização social”, poderá celebrar com
o Poder Público um instrumento chamado de “contrato de gestão” por meio do qual
receberá incentivos públicos para continuar realizando suas atividades.
Foi ajuizada uma ADI contra diversos dispositivos da Lei 9.637/98 e também contra o art.
24, XXIV, da Lei 8.666/93, que prevê a dispensa de licitação nas contratações de
organizações sociais.
O Plenário do STF não declarou os dispositivos inconstitucionais, mas deu interpretação
conforme a Constituição para deixar explícitas as seguintes conclusões:
a) o procedimento de qualificação das organizações sociais deve ser conduzido de forma
pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF,
e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei
9.637/98;
b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e
impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF;
c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e
outorga de permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas
devem ser conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos
princípios do “caput” do art. 37 da CF;
d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública,
objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos
termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e
e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal
de Contas da União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada.
STF. Plenário. ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, j.
15 e 16/4/15 (Info 781)
(TJSC-2019-CESPE): A respeito de organizações sociais, assinale a opção correta
considerando o entendimento do STF em sede de controle concentrado: A qualificação
da entidade como organização social configura hipótese de simples credenciamento, o
qual não exige licitação em razão da ausência de competição. BL: Info 781, STF. (vide
Item 10, abaixo)
##Atenção: Item 10 da Ementa: A atribuição de título jurídico de legitimação da
entidade através da qualificação configura hipótese de credenciamento, no qual não
incide a licitação pela própria natureza jurídica do ato, que não é contrato, e pela
inexistência de qualquer competição, já que todos os interessados podem alcançar o
mesmo objetivo, de modo includente, e não excludente.
##Atenção: Item 11 da Ementa: 11. A previsão de competência discricionária no art. 2º,
II, da Lei nº 9.637/98 no que pertine à qualificação tem de ser interpretada sob o influxo
da principiologia constitucional, em especial dos princípios da impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (CF, art. 37, caput). É de se ter por vedada, assim,
qualquer forma de arbitrariedade, de modo que o indeferimento do requerimento de
qualificação, além de pautado pela publicidade, transparência e motivação, deve
observar critérios objetivos fixados em ato regulamentar expedido em obediência ao
art. 20 da Lei nº 9.637/98, concretizando de forma homogênea as diretrizes contidas nos
inc. I a III do dispositivo.
##Atenção: Item 12 da Ementa: 12. A figura do contrato de gestão configura hipótese de
convênio, por consubstanciar a conjugação de esforços com plena harmonia entre as
posições subjetivas, que buscam um negócio verdadeiramente associativo, e não
comutativo, para o atingimento de um objetivo comum aos interessados: a realização de
serviços de saúde, educação, cultura, desporto e lazer, meio ambiente e ciência e
tecnologia, razão pela qual se encontram fora do âmbito de incidência do art. 37, XXI, da
CF.
##Atenção: Item 15 da Ementa: 15. As organizações sociais, por integrarem o Terceiro
Setor, não fazem parte do conceito constitucional de Administração Pública, razão pela
qual não se submetem, em suas contratações com terceiros, ao dever de licitar, o que
consistiria em quebra da lógica de flexibilidade do setor privado, finalidade por detrás
de todo o marco regulatório instituído pela Lei. Por receberem recursos públicos, bens
públicos e servidores públicos, porém, seu regime jurídico tem de ser minimamente
informado pela incidência do núcleo essencial dos princípios da Administração Pública
(CF, art. 37, caput), dentre os quais se destaca o princípio da impessoalidade, de modo
que suas contratações devem observar o disposto em regulamento próprio (Lei nº
9.637/98, art. 4º, VIII), fixando regras objetivas e impessoais para o dispêndio de recursos
públicos.
##Atenção: Item 17 da Ementa: 17. Inexiste violação aos direitos dos servidores públicos
cedidos às organizações sociais, na medida em que preservado o paradigma com o cargo
de origem, sendo desnecessária a previsão em lei para que verbas de natureza privada
sejam pagas pelas organizações sociais, sob pena de afronta à própria lógica de eficiência
e de flexibilidade que inspiraram a criação do novo modelo.
(TJRO-2019-VUNESP): De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, as
áreas da saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente
configuram serviços sociais, para os quais a Constituição Federal autoriza que
particulares atuem, por direito próprio, sem que, para tanto, seja necessária delegação
pelo poder público. BL: Info 781, STF. (vide Item 2, abaixo)
(TJMT-2018-VUNESP): De acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
os serviços públicos sociais admitem a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem
que para tanto seja necessária delegação pelo poder público sob regime de concessão ou
permissão. BL: Info 781, STF. (vide Item 2, abaixo)
##Atenção: Item 2 da Ementa: 2. Os setores de saúde (CF, art. 199, caput), educação (CF,
art. 209, caput), cultura (CF, art. 215), desporto e lazer (CF, art. 217), ciência e tecnologia
(CF, art. 218) e meio ambiente (CF, art. 225) configuram serviços públicos sociais, em
relação aos quais a Constituição, ao mencionar que “são deveres do Estado e da
Sociedade” e que são “livres à iniciativa privada”, permite a atuação, por direito próprio,
dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo poder público, de
forma que não incide, in casu, o art. 175, caput, da Constituição.
##Atenção: Item 3 da Ementa: 3. A atuação do poder público no domínio econômico e
social pode ser viabilizada por intervenção direta ou indireta, disponibilizando
utilidades materiais aos beneficiários, no primeiro caso, ou fazendo uso, no segundo
caso, de seu instrumental jurídico para induzir que os particulares executem atividades
de interesses públicos através da regulação, com coercitividade, ou através do fomento,
pelo uso de incentivos e estímulos a comportamentos voluntários.
##Atenção: Item 7 da Ementa: 7. Na essência, preside a execução deste programa de
ação institucional a lógica que prevaleceu no jogo democrático, de que a atuação privada
pode ser mais eficiente do que a pública em determinados domínios, dada a agilidade e a
flexibilidade que marcam o regime de direito privado.
##Atenção: Item 9 da Ementa: 9. O procedimento de qualificação de entidades, na
sistemática da Lei, consiste em etapa inicial e embrionária, pelo deferimento do título
jurídico de “organização social", para que Poder Público e particular colaborem na
realização de um interesse comum, não se fazendo presente a contraposição de
interesses, com feição comutativa e com intuito lucrativo, que consiste no núcleo
conceitual da figura do contrato administrativo, o que torna inaplicável o dever
constitucional de licitar (CF, art. 37, XXI).
(Anal. Judic./TREPE-2017-CESPE): Pessoa jurídica de direito privado sem fins
lucrativos, não integrante da administração pública, que atua na área de ensino e pode
contratar diretamente com o poder público por dispensa de licitação, para a prestação de
serviços contemplados no contrato de gestão firmado com o ente público, é denominada
organização social. BL: STF, Infos 628 e 781 e art. 1º da Lei 9637.
(TJMS-2015-VUNESP): Considerando a recente decisão do STF em relação à Lei Federal
no 9.637/98, que dispõe sobre a qualificação de entidades como organizações sociais e
suas atividades, assinale a alternativa correta: O afastamento do certame licitatório não
exime o administrador público da observância dos princípios constitucionais, de modo
que a contratação direta das Organizações Sociais deve observar critérios objetivos e
impessoais, com publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados. BL:
Info 781, STF.
9. ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
9.1. FUNDAÇÕES: A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou
privado, a depender do estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas – (Info 946) –
IMPORTANTE!!! – (TJRO-2019)
A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou
privado depende:
i) do estatuto de sua criação ou autorização e
ii) das atividades por ela prestadas.
As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como
objetos de dada fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem
se submeter ao regime jurídico de direito privado.
STF. Plenário.RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 1º e 7/8/19 (repercussão geral) (Info 946).
(TJRO-2019-VUNESP): O ente personalizado, integrante da Administração Pública indireta,
cuja criação é autorizada por lei, mas adquire existência jurídica após o registro dos seus
estatutos, é fundação de direito privado. BL: art. 37, XIX, CF e Info 946, STF.
##Atenção: ##DOD: É possível identificar duas espécies de fundação pública (fundação
instituída pelo Estado):
Fundação pública de direito PÚBLICO Fundação pública de direito PRIVADO
Estão sujeitas ao regime público. Estão sujeitas ao regime privado.
São criadas por lei específica (são uma espécie Deve ser editada uma lei específica autorizando
de autarquia, por isso também chamadas de que o Poder Público crie a fundação. Em
“fundações autárquicas”). seguida, será necessário fazer a inscrição do
estatuto dessa fundação no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas, quando, então, ela adquire
personalidade jurídica.
##Atenção: Pelas características trazidas no enunciado, é possível concluir que trata-se de uma
fundação pública de direito privado. O entendimento da doutrina majoritária é no sentido de
que as fundações públicas podem possuir personalidade jurídica de direito público ou de
direito privado, conforme definido na lei instituídora. Assim, o legislador pode optar por uma
lei criando ou autorizando a criação de uma fundação pública. Caso a criação emane
diretamente da lei, teremos fundação pública de direito público. Na hipótese de a lei
simplesmente autorizar a sua criação, os seus atos constitutivos deverão ser inscritos no
registro civil das pessoas jurídicas e, a partir de então, nascerá uma fundação pública de
direito privado.
9.2. Decreto não pode extinguir colegiado previsto em lei – (Info 944)
É proibida a extinção, por ato unilateralmente editado pelo chefe do Poder Executivo, de
colegiado cuja existência encontre menção em lei em sentido formal, ainda que ausente a
expressa referência “sobre a competência ou a composição”.
Caso concreto: o Presidente da República editou o Decreto 9.759/19 extinguindo uma série de
colegiados existentes na Administração Pública federal. O art. 1º, § 2º deste Decreto previu que
ficariam extintos os colegiados que sejam mencionados em lei, mas sem que esta tenha
definido a competência ou a composição. O STF, em medida cautelar, declarou a
inconstitucionalidade dessa previsão, considerando que a extinção desses colegiados
mencionados em lei somente poderia ocorrer também mediante lei (e não por decreto).
STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12 e 13/6/19 (Info 944).
10. EMPRESAS PÚBLICAS E SOCIEDADES DE ECONOMIA MISTA
10.1. A alienação do controle acionário de empresas públicas e sociedades de economia
mista exige autorização legislativa e licitação – (Info 943) – IMPORTANTE!!!
OBS:
Regime de precatórios: O art. 100 da CF/88 prevê que, se a Fazenda Pública Federal,
Estadual, Distrital ou Municipal for condenada por sentença judicial transitada em julgado a
pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime especial
chamado de “precatório”:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais,
Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à
conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. Essa expressão
abrange:
⮚ União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
⮚ Autarquias;
⮚ Fundações;
⮚ Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
⮚ Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.
Não atuar em regime de concorrência e não objetivar lucro: Segundo o STF, para que a
sociedade de economia mista goze dos privilégios da Fazenda Pública, é necessário que ela
não atue em regime de concorrência com outras empresas e que não tenha objetivo de
lucro. Confira:
(...) Os privilégios da Fazenda Pública são inextensíveis às sociedades de
economia mista que executam atividades em regime de concorrência ou que
tenham como objetivo distribuir lucros aos seus acionistas. Portanto, a
empresa Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - Eletronorte não pode se
beneficiar do sistema de pagamento por precatório de dívidas decorrentes de
decisões judiciais (art. 100 da Constituição). (...) (STF. Plenário. RE 599628, Rel.
Min. Ayres Britto, Relator p/ Acórdão Min. Joaquim Barbosa, j. 25/5/11).
Exemplos: Você pode estar com alguma dificuldade de visualizar o que seria uma sociedade
de economia mista prestadora de serviço público próprio do Estado e de natureza não
concorrencial. Por isso, vejamos três exemplos já enfrentados pelo STF:
1) Companhia de Saneamento de Alagoas (CASAL): Trata-se de uma sociedade de economia
mista prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que presta serviço
público primário e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta
sociedade de economia mista corresponde à própria atuação do Estado, já que ela não tem
objetivo de lucro e o capital social é majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o
Supremo reconheceu que ela tem direito ao processamento da execução por meio de
precatório. STF. 2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/12/15 (Info 812).
2) Empresa de Gestão de Recursos do Estado do Piauí S/A (EMGERPI): A EMGERPI é uma
sociedade de economia mista voltada à capacitação e redistribuição de servidores para
órgãos e entidades da Administração Pública estadual. Tem como finalidade prioritária
gerenciar recursos humanos da Administração Pública estadual, na medida em que seu
objeto social é capacitar, aperfeiçoar, absorver, redistribuir e ceder pessoal para órgãos e
entidades da Administração Pública do Piauí. Neste caso, o STF entendeu que a EMGERPI
não exerce atividade econômica em regime de concorrência, devendo, portanto, ser
submetida ao regime de precatório. STF. Plenário. ADPF 387/PI, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 23/3/2017 (Info 858). No caso concreto envolvendo a EMGERPI, a Justiça do
Trabalho condenou a empresa a pagar determinadas dívidas trabalhistas e, como estas não
foram quitadas, o magistrado determinou a penhora de valores contidos na conta única do
Estado do Piauí (sócio majoritário da EMGERPI). O STF cassou a decisão afirmando que a
execução deveria seguir o rito dos precatórios e que a penhora efetuada poderia
comprometer as finanças do Estado, além de acarretar dificuldades na execução de políticas
públicas. O Min. Gilmar Mendes destacou que a decisão do magistrado afrontava
diretamente o regime de precatórios estabelecido no art. 100 da CF/88 e também os
princípios constitucionais da atividade financeira estatal, em especial o da legalidade
orçamentária (art. 167, VI, da CF/88). Além disso, a referida ordem de bloqueio constituía
interferência indevida, em ofensa aos princípios da independência e da harmonia entre os
Poderes (art. 2º, da CF/88).
3) Companhia de Desenvolvimento de Recursos Minerais da Paraíba (CDRM/PB): Trata-se
de sociedade de economia mista que tem por finalidade executar programas e projetos de
desenvolvimento de recursos minerais e hídricos no Estado da Paraíba. STF. Plenário.
ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 17/10/18 (Info 920).
10.3. EMPRESAS PÚBLICAS: Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal,
a demissão de seus empregados – (Info 919) – IMPORTANTE!!!
Regime de precatórios: O art. 100 da CF/88 prevê que, se a Fazenda Pública Federal,
Estadual, Distrital ou Municipal for condenada por sentença judicial transitada em julgado a
pagar determinada quantia a alguém, este pagamento será feito sob um regime especial
chamado de “precatório”:
Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais,
Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão
exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta
dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas
dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.
O regime de precatórios é um privilégio instituído em favor da Fazenda Pública,
considerando que ela não terá que pagar imediatamente o valor para o qual foi condenada,
ganhando, assim, um "prazo" maior.
Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos
precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais.
Essa expressão abrange:
⮚ União, Estados, DF e Municípios (administração direta);
⮚ Autarquias;
⮚ Fundações;
⮚ Empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios);
⮚ Sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do
Estado e de natureza não concorrencial.
Empresas públicas: Empresa pública é...
- a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado,
- com criação autorizada por lei e
- com patrimônio próprio,
- cujo capital social é integralmente detido pela União, pelos Estados, pelo DF ou pelos
Municípios.
Observação importante: É permitido que uma empresa pública seja formada por mais de
um ente (ex: União e Estado-membro) ou entidade (ex: Estado-membro e empresa pública
federal). Veja o que diz a Lei nº 13.303/2016:
Art. 3º (...)
Parágrafo único. Desde que a maioria do capital votante permaneça em
propriedade da União, do Estado, do Distrito Federal ou do Município, será
admitida, no capital da empresa pública, a participação de outras pessoas
jurídicas de direito público interno, bem como de entidades da administração
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Finalidade das empresas públicas e sociedades de economia mista: As empresas públicas e as
sociedades de economia mista podem:
a) Explorar atividades de natureza econômica;
b) Executar serviços públicos.
O objetivo precípuo do Poder Público não é a realização de atividades econômicas, mas sim a
prestação de serviços públicos. Por essa razão, a Constituição Federal (art. 173) prevê que o
Estado somente deverá fazer a exploração direta da atividade econômica quando isso for
necessário por razões de:
⮚ Segurança nacional ou
⮚ Relevante interesse coletivo.
A Lei nº 13.303/2016 determina que:
Art. 2º A exploração de atividade econômica pelo Estado será exercida por meio
de empresa pública, de sociedade de economia mista e de suas subsidiárias.
Desse modo, se o Poder Público decide desenvolver determinada atividade econômica, ele
precisará fazer isso por meio de uma empresa pública ou sociedade de economia mista.
Bens: Como são pessoas jurídicas de direito privado, os bens das empresas públicas e das
sociedades de economia mista são classificados como bens privados (art. 98 do Código
Civil). Assim, em regra, as normas que regem esses bens são de direito privado, ou seja,
recebem o mesmo tratamento de bens privados. No entanto, apesar disso, existem algumas
mitigações a essa regra, isto é, situações nas quais se aplicam normas de direito público
para esses bens quando tais entidades forem prestadoras de serviços públicos. Ex:
proibição da penhora dos bens que sejam necessários à continuidade dos serviços.
O regime de precatórios é aplicável para as empresas públicas? Depende:
1) Se for uma empresa pública prestadora de serviços públicos: SIM. Embora, em regra, as
sociedades de economia mista e as empresas públicas estejam submetidas ao regime próprio
das pessoas jurídicas de direito privado, o STF tem estendido algumas prerrogativas da
Fazenda Pública a determinadas empresas estatais prestadoras de relevantes serviços
públicos. Exemplos: Correios (ECT), Casa da Moeda, Infraero e companhias estaduais de
saneamento básico (nas hipóteses em que o capital social seja majoritariamente público e o
serviço seja prestado em regime de exclusividade e sem intuito de lucro). Nesse sentido:
A Casa da Moeda do Brasil executa e presta serviço público mediante outorga
da União. A CF/88 conferiu a ela, em regime de monopólio, o encargo de emitir
moeda (art. 21, VII). Em razão disso, o STF atribuiu à Casa da Moeda as
prerrogativas de Fazenda Pública, como imunidade tributária e execução pelo
regime de precatórios. STF. 1ª Turma. RE 1009828 AgR, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 24/08/2018.
2) Se for uma empresa pública que desenvolva atividade econômica sem monopólio e com
finalidade de lucro: NÃO.
Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de
personalidade jurídica de direito privado com patrimônio próprio e autonomia
administrativa que exerçam atividade econômica sem monopólio e com
finalidade de lucro. STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de
Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 7/8/2018 (Info 910).
10.6. CE não pode ampliar a abrangência do art. 19 do ADCT da CF/88 – (Info 759)
É constitucional o art. 7º, III e XV, da Lei 9.782/99, que preveem que compete à ANVISA:
III - estabelecer normas, propor, acompanhar e executar as políticas, as
diretrizes e as ações de vigilância sanitária;
XV - proibir a fabricação, a importação, o armazenamento, a distribuição e a
comercialização de produtos e insumos, em caso de violação da legislação
pertinente ou de risco iminente à saúde;
Entendeu-se que tais normas consagram o poder normativo desta agência reguladora,
sendo importante instrumento para a implementação das diretrizes, finalidades, objetivos
e princípios expressos na Constituição e na legislação setorial.
Além disso, o STF, após empate na votação, manteve a validade da Resolução RDC
14/2012-ANVISA, que proíbe a comercialização no Brasil de cigarros com sabor e aroma.
Esta parte do dispositivo não possui eficácia erga omnes e efeito vinculante. Significa dizer
que, provavelmente, as empresas continuarão ingressando com ações judiciais, em 1ª
instância, alegando que a Resolução é inconstitucional e pedindo a liberação da
comercialização dos cigarros com aroma. Os juízes e Tribunais estarão livres para, se assim
entenderem, declararem inconstitucional a Resolução e autorizar a venda. Existem,
inclusive, algumas decisões nesse sentido e que continuam valendo.
STF. Plenário. ADI 4874/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 1º/2/18 (Info 889).
11.2. Lei estadual que trata sobre a nomeação e destituição de dirigentes de agências
reguladoras – (Info 759) – (Anal. Previdência/IPERON-2017)
O Ministério da Fazenda editou a Portaria nº 492/94, reduzindo de 30% para 20% a alíquota do
imposto de importação dos brinquedos em geral. Com a redução da alíquota, houve a entrada
de um enorme volume de brinquedos importados no Brasil, oriundos especialmente da China,
sendo estes bem mais baratos que os nacionais. Como resultado, várias indústrias de
brinquedos no Brasil foram à falência e, mesmo as que permaneceram, sofreram grandes
prejuízos. Uma famosa indústria de brinquedos ingressou com ação contra a União afirmando
que a Portaria, apesar de ser um ato lícito, gerou prejuízos e que, portanto, o Poder Público
deveria ser condenado a indenizá-la. O STJ não concordou com o pedido.
Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais prejuízos financeiros do setor privado
decorrentes da alteração de política econômico-tributária no caso de o ente público não ter se
comprometido, formal e previamente, por meio de determinado planejamento específico.
A referida Portaria tinha finalidade extrafiscal e a possibilidade de alteração das alíquotas do
imposto de importação decorre do próprio ordenamento jurídico, não havendo que se falar em
quebra do princípio da confiança.
O impacto econômico-financeiro sobre a produção e a comercialização de mercadorias pelas
sociedades empresárias causado pela alteração da alíquota de tributos decorre do risco da
atividade próprio da álea econômica de cada ramo produtivo.
Não havia direito subjetivo da indústria quanto à manutenção da alíquota do imposto de
importação.
STJ. 1ª T. REsp 1492832-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, j. 04/09/18 (Info 634).
STF. 1ª T. ARE 1175599 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 10/12/19 (Info 963).
12.2. TESE DA DUPLA GARANTIA: A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização
contra o Estado; se este for condenado, poderá acionar o servidor que causou o dano em caso de
dolo ou culpa; o ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra o agente público –
(Info 947) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da CF/88, a ação por danos causados por agente público deve
ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço
público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra
o responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/8/19 (repercussão geral) (Info 947).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: Jomar, auditor de tributos estaduais, estava dirigindo o
veículo oficial da SEFAZ, indo em direção a uma empresa onde iria realizar uma fiscalização.
Como já estava atrasado, Jomar empreendeu alta velocidade e não viu quando Cristina
atravessava na faixa, razão pela qual acabou atropelando a pedestre, que sofreu inúmeras lesões
corporais. Cristina deseja ajuizar uma ação de indenização pelos danos materiais e morais que
sofreu em decorrência do acidente.
A vítima poderá propor a ação contra o Estado? SIM. O Estado possui responsabilidade civil
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros. Trata-se de previsão expressa
do art. 37, § 6º, da CF/88:
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.
A responsabilidade do Estado, nesse caso, é OBJETIVA. Assim, a vítima somente terá que
provar:
• O fato do serviço (conduta do agente público, sem precisar provar dolo ou culpa);
• O dano sofrido;
• O nexo de causalidade entre o fato e o dano.
A vítima poderá propor a ação diretamente contra o servidor causador do dano? Cristina poderá
ajuizar a ação de indenização contra Jomar? NÃO. A vítima somente poderá ajuizar a ação
contra o Estado (Poder Público). Se este for condenado, poderá acionar o servidor que causou o
dano em caso de dolo ou culpa. O ofendido não poderá propor a demanda diretamente contra o
agente público. Da leitura do § 6º do art. 37 da CF/88, é possível perceber que o dispositivo
consagrou duas garantias:
• a primeira, em favor do particular lesado, considerando que a CF/88 assegura que
ele poderá ajuizar ação de indenização contra o Estado, que tem recursos para
pagar, sem ter que provar que o agente público agiu com dolo ou culpa;
• a segunda garantia é em favor do agente público que causou o dano. A parte
final do § 6º do art. 37, implicitamente, afirma que a vítima não poderá ajuizar a
ação diretamente contra o servidor público que praticou o ato. Este servidor
somente pode ser responsabilizado pelo dano se for acionado pelo próprio Estado,
em ação regressiva, após o Poder Público já ter ressarcido o ofendido.
Tese fixada pelo STF: Já existiam alguns julgados do STF sustentando o entendimento acima
exposto. A novidade é que agora o STF reafirmou a posição, fixando a seguinte tese sob a
sistemática da repercussão geral:
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados
por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito
privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do
ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 14/8/19 (repercussão geral)
(Info 947).
Caso concreto julgado pelo STF: Um servidor público do Município de Tabapuã (SP) que ocupava
o cargo de motorista de ambulância ajuizou ação indenizatória por danos materiais e morais
contra a Prefeita, à qual fazia oposição política. Ele alegou que, após ter sido eleito Vereador,
passou a ser alvo de perseguição política e sofreu sanção administrativa sem observância do
devido processo legal. Sustentou ainda que, sem justificativa, foi removido da Diretoria Municipal
de Saúde para um posto a 30km de sua residência, em contrariedade a uma lei municipal que
veda a transferência de servidores ocupantes de cargos eletivos. A Prefeita contestou a demanda
alegando, dentre outros argumentos, que praticou os atos na condição de agente política, o que
levaria à responsabilização objetiva da administração. Logo, afirmou que não poderia ser incluída
no polo passivo desta ação. O caso chegou até o STF, que concordou com a argumentação da ré. A
ação de indenização deve ser ajuizada sempre contra o Estado e este tem o direito de,
regressivamente, no caso de dolo ou culpa, acionar o servidor. No caso específico, a ação foi
proposta diretamente contra a Prefeita, embora ela devesse ser acionada pelo Município apenas
em caráter regressivo.
Teoria da dupla garantia: Apesar de o Min. Marco Aurélio não ter mencionado isso
expressamente em seu voto, a posição acima exposta ficou conhecida no meio jurídico como
“teoria da dupla garantia”. Essa expressão foi cunhada pelo então Min. Carlos Ayres Britto, no RE
327904, j. 15/08/2006:
O § 6º do art. 37 da Magna Carta autoriza a proposição de que somente as pessoas
jurídicas de direito público, ou as pessoas jurídicas de direito privado que prestem
serviços públicos, é que poderão responder, objetivamente, pela reparação de danos
a terceiros. Isto por ato ou omissão dos respectivos agentes, agindo estes na
qualidade de agentes públicos, e não como pessoas comuns. Esse mesmo
dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia: uma, em favor do
particular, possibilitando-lhe ação indenizatória contra a pessoa jurídica de
direito público, ou de direito privado que preste serviço público, dado que bem
maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente
sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente
responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurídica a cujo quadro
funcional se vincular. STF. 1ª T. RE 327904, Rel. Min. Carlos Britto, j. 15/8/06.
12.3. O Estado responde, objetivamente, pelos danos causados por notários e registradores –
(Info 932) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!
O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no
exercício de suas funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o
responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena de improbidade administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que notários e
oficiais de registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j. 27/2/19 (repercussão geral) (Info 932).
OBS:
Ação de regresso: Vale ressaltar que, se o Estado for condenado e pagar a indenização à vítima, ele
tem o dever de cobrar de volta do tabelião ou registrador o valor que pagou. Em outras palavras,
depois de pagar a indenização, o Estado deve, obrigatoriamente, ajuizar ação de regresso contra
o responsável pelo dano. Se o Estado não ajuizar a ação de regresso, os agentes públicos
responsáveis por isso (exs: Governador, Procurador-Geral do Estado, Secretário de Fazenda, a
depender do caso concreto e da organização administrativa do ente) poderão responder por ato
de improbidade administrativa.
Nesta ação de regresso, o Estado, para ser indenizado, deverá comprovar que o tabelião ou
registrador agiu com dolo ou culpa? Qual é o tipo de responsabilidade civil dos notários e
registradores? SIM. Trata-se de responsabilidade SUBJETIVA.
Assim, a responsabilidade civil dos notários e registradores não precisa ser, necessariamente,
objetiva, tal qual prevê o art. 37, § 6º, da CF/88, considerando que o constituinte facultou ao
legislador a opção de estipular regra diversa. Em outras palavras, a própria Constituição Federal
retirou o assento constitucional da regulação da responsabilidade civil e criminal dos notários,
relegando-a à autoridade legislativa.
A disciplina conferida à matéria pelo legislador consagra a responsabilidade civil subjetiva dos
notários e oficiais de registro. Portanto, não compete ao STF fazer interpretação analógica e
extensiva, a fim de equiparar o regime jurídico da responsabilidade civil de notários ao das
pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos (art. 37, § 6º, da CF/88).
Ademais, o art. 37, § 6º, da CF/88 se refere a “pessoas jurídicas” prestadoras de serviços públicos,
ao passo que notários e tabeliães respondem civilmente como “pessoas naturais” delegatárias de
serviço público, nos termos do referido dispositivo legal.
Jurisprudência do STF: Vale ressaltar que a conclusão acima exposta já era o entendimento do STF.
No entanto, o STJ possuía inúmeros julgados em sentido diferente (ex: AgRg no REsp 1377074/RJ)
e agora aquele Tribunal terá que se adequar à posição do STF, tendo em vista que a tese foi fixada
sob a sistemática da repercussão geral.
Art. 37 (...)
§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de
serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,
causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.
Repare que o STF reconheceu a responsabilidade objetiva da concessionária pela omissão no dever
de vigilância e falha na prestação e organização do serviço. O Min. Marco Aurélio considerou que
o Estado, por ter maior quantidade de poderes e prerrogativas, deve suportar o ônus das
atividades desenvolvidas. “Não há espaço para afastar responsabilidade independentemente de
culpa, mesmo sob a ótica da omissão, ante o princípio da legalidade, presente a teoria do risco
administrativo”.
Ainda segundo o Ministro Relator, o STF, no RE 841526, consolidou o entendimento de que o art.
37, § 6º da CF/88 aplica-se também para as omissões administrativas.
12.5. Estado deve indenizar preso que se encontre em situação degradante – (Info 854) –
IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!! (TJPB-2015) (TJDFT-2015) (DPERS-2018)
(TJBA-2019)
Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus
presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua
responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os
danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em decorrência da falta ou
insuficiência das condições legais de encarceramento.
Portanto, a violação a direitos fundamentais causadora de danos pessoais a detentos em
estabelecimentos carcerários não pode ser simplesmente relevada ao argumento de que a
indenização não tem alcance para eliminar o grave problema prisional globalmente
considerado, que depende da definição e da implantação de políticas públicas específicas,
providências de atribuição legislativa e administrativa, não de provimentos judiciais.
STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, j.
16/2/17 (repercussão geral) (Info 854).
(DPERS-2018-FCC): Em uma unidade prisional brasileira, superlotada e na qual ocorrem
violações diárias de direitos humanos pela ausência de condições mínimas de saúde, higiene,
segurança e preservação da intimidade, um preso cumpriu integralmente o tempo
correspondente de privação de liberdade de determinada pena. No período, foi assediado
moral e fisicamente de várias formas, ficou diversas vezes privado de sol e de banho, não
dormiu por muitas noites por falta de colchões, desenvolveu doença pulmonar e ficou
viciado em crack, substância com a qual jamais havia tido contato antes da privação de
liberdade. O Estado em que situada a unidade prisional passa por gravíssima crise financeira
e atrasa salários de seus servidores, mas aplica na gestão da saúde, educação e segurança
pública os percentuais constitucionais e legais mínimos previstos, além de gastar nos limites
de sua lei orçamentária, o que foi respeitado durante todo o período em que o apenado
cumpriu pena. Considerando a situação acima e a jurisprudência recente do STF, decidida em
sede de repercussão geral, que se assemelha ao fato narrado, considerada a Teoria da Reserva
do Possível, os danos experimentados pelo preso deverão ser indenizados pelo Estado, tanto
os danos materiais como os morais, independentemente de comprovação de culpa na
fiscalização das condições de saúde e higiene da unidade prisional, sendo irrelevante
conhecer se foram aplicados todos os recursos previstos na lei orçamentária nas áreas da
segurança e saúde prisional. BL: STF, Info 854.
OBS:
Estado é responsável guarda e segurança dos presos: O Estado é responsável pela guarda e
segurança das pessoas submetidas a encarceramento, enquanto ali permanecerem detidas. Assim,
é dever do Poder Público mantê-las em condições carcerárias com mínimos padrões de
humanidade estabelecidos em lei, bem como, se for o caso, ressarcir os danos que daí decorrerem.
A jurisprudência do STF entende que o Estado possui responsabilidade objetiva pela integridade
física e psíquica daqueles que estão sob sua custódia.
“A negligência estatal no cumprimento do dever de guarda e vigilância dos detentos
configura ato omissivo a dar ensejo à responsabilidade objetiva do Estado, uma vez
que, na condição de garante, tem o dever de zelar pela integridade física dos
custodiados” (trecho do voto do Min. Gilmar Mendes no ARE 662563 AgR, julgado
em 20/03/2012).
O STF, inclusive, já reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas
Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As penas
privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e desumanas. A
ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa uma
verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da perpetuação e do
agravamento da situação. Nesse sentido: STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco
Aurélio, j. 9/9/15 (Info 798).
Não aplicação do princípio da reserva do possível: Não há como acolher o argumento que invoca
o "princípio da reserva do possível". Segundo este princípio, os recursos públicos são limitados e
as necessidades ilimitadas, de forma que não há condições financeiras de o Estado atender a todas
as demandas sociais. Ocorre que só faz sentido considerar este princípio em ações judiciais nas
quais está sendo pedida a implementação de direitos fundamentais a prestações, especialmente
direitos de natureza social (ex: saúde, educação etc.). Em tais casos, discute-se se é possível
conceder o direito pleiteado mesmo que não haja, em tese, capacidade financeira do Estado. Aqui,
contudo, a situação é diferente. Neste caso, a matéria jurídica se situa no âmbito da
responsabilidade civil do Estado de responder pelos danos causados por ação ou omissão de seus
agentes, nos termos previstos no art. 37, § 6º, da CF/88. Trata-se de dispositivo autoaplicável (de
eficácia plena), que não depende de lei ou de qualquer outra providência administrativa.
Ocorrendo o dano e estabelecido o seu nexo causal com a atuação da Administração ou dos seus
agentes, nasce a responsabilidade civil do Estado.
A criação de subterfúgios teóricos, tais como a separação dos Poderes, a reserva do possível e a
natureza coletiva dos danos sofridos, para afastar a responsabilidade estatal pelas calamitosas
condições da carceragem afronta não apenas o sentido do art. 37, § 6º, da CF, como também gera o
esvaziamento dos dispositivos constitucionais, convencionais e legais que impõem ao Estado o
dever do Estado de garantir a integridade física e psíquica dos detentos.
Quem deverá pagar esta indenização? O Estado-membro responsável pela unidade prisional. Se as
péssimas condições forem verificadas em presídio federal (o que não se tem verificado na prática),
neste caso a indenização seria paga pela União.
Como é o pagamento desta indenização? Pode ser de outra forma que não seja dinheiro? NÃO.
Durante os debates do julgamento, o Min. Barroso propôs que a indenização não fosse em
dinheiro, mas sim por meio de remição da pena. Em vez de receber uma reparação pecuniária, os
presos que sofrem danos morais por cumprirem pena em presídios com condições degradantes
teriam direito ao "abatimento" de dias da pena. Vale ressaltar que esta solução do Ministro Barroso
não tem previsão na lei e seria feita por meio da aplicação, por analogia, do art. 126 da LEP:
Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá
remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.
Pela proposta do Ministro, os danos morais causados a presos por superlotação ou condições
degradantes deveriam ser reparados, preferencialmente, pela remição de parte do tempo da pena
– à razão de um dia de remição para cada 3 a 7 dias cumpridos sob essas condições adversas, a
critério do juiz da Vara de Execuções Penais competente. Barroso argumentou que, com a solução,
ganha o preso, que reduz o tempo de prisão, e ganha o Estado, que se desobriga de despender
recursos com indenizações, dinheiro que pode ser, inclusive, usado na melhoria do sistema.
O voto do Min. Barroso foi acompanhado por Luiz Fux e Celso de Mello, sendo, portanto,
minoritário (vencido).
Assim, a maioria do STF decidiu que a indenização deve ser mesmo em pecúnia.
Valor da condenação: O Estado do Mato Grosso do Sul foi condenado a indenizar o preso em R$ 2
mil.
A fixação do prazo prescricional de 5 anos para os pedidos de indenização por danos causados
por agentes de pessoas jurídicas de direito público e de pessoas jurídicas de direito privado
prestadoras de serviços públicos, constante do art. 1º-C da Lei 9.494/97, é constitucional.
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).
OBS:
Esse dispositivo inserido é constitucional? SIM. Em verdade, esse preceito apenas reproduz o que
já era previsto no art. 1º do Decreto 20910/32. A única novidade foi incluir, entre os destinatários
da norma, as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público, atribuindo-lhes
o mesmo regime prescricional das pessoas jurídicas de direito público.
Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX,
da CF/88, o Estado é responsável pela morte de detento.
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 30/3/16 (repercussão geral) (Info 819).
Não haverá responsabilidade civil do Estado se o Tribunal de origem, com base nas provas
apresentadas, decide que não se comprovou que a morte do detento foi decorrente da omissão
do Poder Público e que o Estado não tinha como montar vigilância a fim de impedir que o preso
ceifasse sua própria vida.
Tendo o acórdão do Tribunal de origem consignado expressamente que ficou comprovada causa
impeditiva da atuação estatal protetiva do detento, rompeu-se o nexo de causalidade entre a
suposta omissão do Poder Público e o resultado danoso.
STJ. 2ª T. REsp 1305259/SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 08/02/2018.
(TJMS-2020-FCC): Em conhecido acórdão proferido em regime de repercussão geral, versando
sobre a morte de detento em presídio − Recurso Extraordinário n° 841.526 (Tema 592) – o STF
confirmou decisão do TJRS, calcada em doutrina que, no tocante ao regime de
responsabilização estatal em condutas omissivas, distingue-a conforme a natureza da omissão.
Segundo tal doutrina, em caso de omissão específica, deve ser aplicado o regime de
responsabilização objetiva; em caso de omissão genérica, aplica-se o regime de
responsabilização subjetiva. BL: Info 819, STF (vide trechos destacados ema amarelo na nota
de rodapé). 1
##Atenção: ##Em resumo: No julgamento do RE nº 841.526 (Tema 592), firmado em sede de
repercussão geral, o STF solucionou a questão a partir da contraposição entre omissão genérica, em
que o Estado responde subjetivamente, sendo necessário demonstrar a culpa do serviço, e omissão
específica, na qual a responsabilidade é objetiva, em virtude de o Estado ter descumprido um dever
jurídico específico e, assim, causado um dano certo, especial e anormal. Vale a pena a leitura da
ementa do julgado. Portanto, temos o seguinte: a) Omissão específica: responsabilidade
civil objetiva; b) Omissão genérica: responsabilidade civil subjetiva.
OBS:
Qual é o tipo de responsabilidade civil do Estado? Responsabilidade objetiva. Isso está previsto
no art. 37, § 6º da CF/88 e no art. 43 do Código Civil:
Art. 37 (...)
§ 6º - As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços
públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.
ATENÇÃO: O §6º acima não está escrito expressamente que a responsabilidade é objetiva. A
doutrina e a jurisprudência, no entanto, de forma pacífica assim entendem por um motivo: o
dispositivo exige dolo ou culpa para que o agente público responda regressivamente, mas não faz
1
Trecho da Ementa: “A responsabilidade civil estatal, segundo a CF/1988, em seu art. 37, § 6º, subsume-se à teoria
do risco administrativo, tanto para as condutas estatais comissivas quanto paras as omissivas, posto rejeitada a teoria
do risco integral. A omissão do Estado reclama nexo de causalidade em relação ao dano sofrido pela vítima
nos casos em que o Poder Público ostenta o dever legal e a efetiva possibilidade de agir para impedir o
resultado danoso. É dever do Estado e direito subjetivo do preso que a execução da pena se dê de forma humanizada,
garantindo-se os direitos fundamentais do detento, e o de ter preservada a sua incolumidade física e moral (artigo 5º,
inciso XLIX, da CF/1988). O dever constitucional de proteção ao detento somente se considera violado quando
possível a atuação estatal no sentido de garantir os seus direitos fundamentais, pressuposto inafastável para a
configuração da responsabilidade civil objetiva estatal, na forma do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal. Ad
impossibilia nemo tenetur, por isso que nos casos em que não é possível ao Estado agir para evitar a morte do detento
(que ocorreria mesmo que o preso estivesse em liberdade), rompe-se o nexo de causalidade, afastando-se a
responsabilidade do Poder Público, sob pena de adotar-se contra legem e a opinio doctorum a teoria do risco integral,
ao arrepio do texto constitucional. A morte do detento pode ocorrer por várias causas, como, v. g., homicídio, suicídio,
acidente ou morte natural, sendo que nem sempre será possível ao Estado evitá-la, por mais que adote as precauções
exigíveis. A responsabilidade civil estatal resta conjurada nas hipóteses em que o Poder Público comprova
causa impeditiva da sua atuação protetiva do detento, rompendo o nexo de causalidade da sua omissão
com o resultado danoso. Repercussão geral constitucional que assenta a tese de que: em caso de
inobservância do seu dever específico de proteção previsto no artigo 5º, inciso XLIX, da Constituição
Federal, o Estado é responsável pela morte do detento. In casu, o tribunal a quo assentou que inocorreu a
comprovação do suicídio do detento, nem outra causa capaz de romper o nexo de causalidade da sua omissão com o
óbito ocorrido, restando escorreita a decisão impositiva de responsabilidade civil estatal. Recurso extraordinário
DESPROVIDO. (STF. Plenário. RE 841526, Rel. Min. Luiz Fux, j. 30/03/16).
esta mesma exigência para que o Estado tenha que indenizar. Logo, interpreta-se que a exigência
de dolo ou culpa é unicamente para a ação regressiva.
Requisitos para que haja a responsabilidade civil do Estado: Quando se fala que a
responsabilidade do Estado é objetiva, isso significa que a pessoa que sofreu um dano causado por
um agente público terá que provar apenas três elementos:
a) conduta praticada por um agente público, nesta qualidade;
b) dano;
c) nexo de causalidade (demonstração de que o dano foi causado pela conduta).
ADVERTÊNCIA: o Estado responde de forma objetiva pelas suas omissões. No entanto, o nexo de
causalidade entre essas omissões e os danos sofridos pelos particulares só restará caracterizado
quando o Poder Público tinha o dever legal específico de agir para impedir o evento danoso e
mesmo assim não cumpriu essa obrigação legal. Assim, o Estado responde de forma objetiva pelas
suas omissões, desde que ele tivesse obrigação legal específica de agir para impedir que o
resultado danoso ocorresse. A isso se chama de "omissão específica" do Estado. Dessa forma,
para que haja responsabilidade civil no caso de omissão, deverá haver uma omissão específica do
Poder Público (STF. Plenário. RE 677139 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em
22/10/2015).
Se um detento é morto dentro da unidade prisional, haverá responsabilidade civil do Estado? SIM.
A CF/88 determina que o Estado se responsabiliza pela integridade física do preso sob sua
custódia:
Art. 5º (...) XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
Logo, o Poder Público poderá ser condenado a indenizar pelos danos que o preso venha a sofrer.
Esta responsabilidade é objetiva. Assim, a morte de detento gera responsabilidade civil objetiva
para o Estado em decorrência da sua omissão específica em cumprir o dever especial de proteção
que lhe é imposto pelo art. 5º, XLIX, da CF/88.
Ressalta-se, no entanto, que a responsabilidade civil neste caso, apesar de ser objetiva, é regrada
pela teoria do risco administrativo. Desse modo, o Estado poderá ser dispensado de indenizar se
ficar demonstrado que ele não tinha a efetiva possibilidade de evitar a ocorrência do dano. Nas
exatas palavras do Min. Luiz Fux: "(...) sendo inviável a atuação estatal para evitar a morte do
preso, é imperioso reconhecer que se rompe o nexo de causalidade entre essa omissão e o dano.
Entendimento em sentido contrário implicaria a adoção da teoria do risco integral, não acolhida
pelo texto constitucional (...)".
Em suma:
● Em regra: o Estado é objetivamente responsável pela morte de detento. Isso porque houve
inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da
CF/88.
● Exceção: o Estado poderá ser dispensado de indenizar se ele conseguir provar que a
morte do detento não podia ser evitada. Neste caso, rompe-se o nexo de causalidade entre
o resultado morte e a omissão estatal.
Exemplo: Imagine que um detento está doente e precisa de tratamento médico. Ocorre que este
não lhe é oferecido de forma adequada pela administração penitenciária. Há claramente uma
violação ao art. 14 da LEP. Neste caso, se o preso falecer, o Estado deverá ser responsabilizado,
considerando que houve uma omissão específica e o óbito era plenamente previsível. Suponha, no
entanto, que o preso estivesse bem e saudável e, sem qualquer sinal anterior, sofre um mal súbito
no coração e cai morto instantaneamente no pátio do presídio. Nesta segunda hipótese, o Poder
Público não deverá ser responsabilizado por essa morte, já que não houve omissão estatal e este
óbito teria acontecido mesmo que o preso estivesse em liberdade.
O Estado pode ser responsabilizado pela morte do detento mesmo que ele se suicide? SIM.
Existem precedentes do STF e do STJ nesse sentido: STF. 2ª T. ARE 700927 AgR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, j. 28/8/12. Todavia, aqui também, como se adota a teoria do risco administrativo, o
Estado poderá provar alguma causa excludente de responsabilidade. Assim, nem sempre que
houver um suicídio, haverá responsabilidade civil do Poder Público.
Vale ressaltar que é a Administração Pública que tem o ônus de provar a causa excludente de
responsabilidade.
Obs: Durante os debates o Min. Marco Aurélio defendeu que a responsabilidade do Estado em
caso de violações a direitos dos detentos seria baseada no risco integral. Trata-se, contudo, de
posicionamento minoritário.
12.9. Inconstitucionalidade de lei estadual que preveja pensão para cônjuges de todos os
falecidos por crimes hediondos – (Info 773)
É inconstitucional lei estadual (distrital) que preveja o pagamento de pensão especial a ser
concedida pelo Governo do Estado (Distrito Federal) em benefício dos cônjuges de pessoas
vítimas de crimes hediondos, independentemente de o autor do crime ser ou não agente do
Estado. Tal lei amplia, de modo desmesurado (irrazoável), a responsabilidade civil do Estado
prevista no art. 37, § 6º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1358/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 4/2/2015 (Info 773).
12.10. “Caso Varig”: responsabilidade da União por plano econômico que determinou o
congelamento das tarifas – (Info 738)
STF reconheceu que a União deve indenizar companhia aérea, que explorava os serviços de
aviação, sob o regime de concessão, pelos prejuízos causados decorrentes de plano econômico
que determinou o congelamento das tarifas de aviação.
STF. Plenário. RE 571969/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 12/3/2014 (Info 738).
Uma das sanções acima é imprescritível: o ressarcimento integral do dano. O fundamento para
isso está na parte final do § 5º do art. 37 da CF/88:
Art. 37 (...)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos
políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível.
§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer
agente, servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas
ações de ressarcimento.
Tese contrária à imprescritibilidade: Apesar da redação do § 5º do art. 37, muitas vozes se
levantavam contra a tese da imprescritibilidade. Argumentavam que a intenção do Poder
Constituinte não foi a de fixar a imprescritibilidade das ações de ressarcimento ao erário. Segundo
essa tese, a correta interpretação dos §§ 4º e 5º do art. 37 deveria ser a seguinte:
• o constituinte deu um comando ao legislador infraconstitucional: faça uma lei prevendo atos de
improbidade administrativa (§ 4º).
• as sanções para os atos de improbidade são a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário (§ 4º);
• a lei deverá prever prazos prescricionais para a imposição dessas sanções (§ 5º);
• enquanto não houver lei prevendo quais são os atos de improbidade administrativa, não
poderão ser ajuizadas ações de improbidade administrativa pedindo a aplicação das sanções
previstas no § 4º;
• ficam ressalvadas dessa proibição as ações de ressarcimento (parte final do § 5º), ou seja, mesmo
sem lei expressa, as ações de ressarcimento já poderiam ser propostas.
Desse modo, para essa tese, o que a parte final do § 5º quis dizer foi unicamente que, mesmo sem
Lei de Improbidade Administrativa, poderiam ser ajuizadas ações pedindo o ressarcimento ao
erário. Isso porque o § 5º deve ser interpretado em conjunto com o § 4º. Como reforço a esse
argumento, alegaram que a Lei de Improbidade somente foi editada em 1992 (Lei nº 8.429/92).
Logo, o objetivo do constituinte foi o de evitar que se alegasse que o ressarcimento ao erário
somente poderia ser exigido com a edição de lei. Por fim, argumentavam que a Constituição
Federal, quando quis, determinou a imprescritibilidade de forma expressa. Ex: art. 5º, XLII
(racismo) e XLIV (ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático).
Na segunda parte, o constituinte disse o seguinte: não se aplica o que eu falei antes para as ações
de ressarcimento. O que isso quer dizer? Que a lei não poderá estabelecer prazos de prescrição
para tais ações, sendo elas, portanto, imprescritíveis. Assim, o texto constitucional é expresso ao
prever a ressalva da imprescritibilidade da ação de ressarcimento ao erário.
Imprescritibilidade não vale para ressarcimento decorrente de outros ilícitos civis: O § 5º do art.
37 da CF/88 deve ser lido em conjunto com o § 4º, de forma que ele se refere apenas aos casos de
improbidade administrativa. Se fosse realizada uma interpretação ampla da ressalva final contida
no § 5º, isso faria com que toda e qualquer ação de ressarcimento movida pela Fazenda Pública
fosse imprescritível, o que seria desproporcional. A prescrição é um instituto importante para se
garantir a segurança e estabilidade das relações jurídicas e da convivência social. É uma forma de
se assegurar a ordem e a paz na sociedade. Desse modo, a ressalva contida na parte final do § 5º
do art. 37 da CF/88 deve ser interpretada de forma estrita e não se aplica para danos causados ao
Poder Público por força de ilícitos civis. Foi como decidiu o STF ainda em 2016:
É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito
civil. Dito de outro modo, se o Poder Público sofreu um dano ao erário decorrente
de um ilícito civil e deseja ser ressarcido, ele deverá ajuizar a ação no prazo
prescricional previsto em lei. STF. Plenário. RE 669069/MG, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 03/02/2016 (repercussão geral).
Ex: João dirigia seu carro quando, por imprudência, acabou batendo no carro de um órgão público
estadual em serviço. Ficou provado, por meio da perícia, que o particular foi o culpado pelo
acidente. O órgão público consertou o veículo, tendo isso custado R$ 10 mil. Sete anos depois do
acidente, o Estado ajuizou ação de indenização contra João cobrando os R$ 10 mil gastos com o
conserto do automóvel. A defesa de João alegou que houve prescrição. A alegação da defesa está
correta. Isso porque o prejuízo ao erário não decorreu de um ato de improbidade administrativa,
mas foi decorrente de um ilícito civil. Logo, incide prazo prescricional neste caso.
Desse modo, podemos fazer a seguinte distinção:
Ação de reparação de danos à Fazenda Pública é PRESCRITÍVEL
decorrentes de ilícito civil (STF RE 669069/MG).
é PRESCRITÍVEL
Ação de ressarcimento decorrente de
(devem ser propostas no
ato de improbidade administrativa praticado com CULPA
prazo do art. 23 da LIA).
Ação de ressarcimento decorrente de é IMPRESCRITÍVEL
ato de improbidade administrativa praticado com DOLO (§ 5º do art. 37 da CF/88).
Imprescritibilidade somente vale para atos de improbidade praticados com DOLO: O STF
entendeu, portanto, que as ações de ressarcimento ao erário envolvendo atos de improbidade
administrativa são imprescritíveis. No entanto, o Tribunal fez uma “exigência” a mais que não
está explícita no art. 37, § 5º da CF/88. O Supremo afirmou que somente são imprescritíveis as
ações de ressarcimento envolvendo atos de improbidade administrativa praticados
DOLOSAMENTE. Assim, se o ato de improbidade administrativa causou prejuízo ao erário, mas
foi praticado com CULPA, então, neste caso, a ação de ressarcimento será prescritível e deverá ser
proposta no prazo do art. 23 da LIA.
E existem atos de improbidade administrativa CULPOSOS que causam prejuízo ao erário?: SIM.
Isso é possível, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92:
Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades
referidas no art. 1º desta lei, e notadamente: (...)
Vale ressaltar que apenas o art. 10 da Lei nº 8.429/92 admite a prática de ato CULPOSO de
improbidade administrativa. Relembre:
Critério objetivo Critério subjetivo
Art. 9º — Atos de improbidade que importam enriquecimento ilícito do
Exige DOLO
agente público
Pode ser DOLO ou,
Art. 10 — Atos de improbidade que causam prejuízo ao erário
no mínimo, CULPA
Art. 10-A — Atos de improbidade administrativa decorrentes de
Exige DOLO
concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário
Art. 11 — Atos de improbidade que atentam contra princípios da
Exige DOLO
administração pública
Tese fixada pelo STF: O STF fixou a seguinte tese para fins de repercussão geral:
São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato
doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa. STF. Plenário. RE
852475/SP, Rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, Rel. para acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 08/08/2018(Info 910).
Placar: Vale ressaltar que o placar de votação foi bem apertado, com resultado de 6 x 5 em favor
da tese vencedora.
Uma peculiaridade está no fato de que os Ministros Luiz Fux e Roberto Barroso inicialmente
votaram em favor da prescritibilidade. Ocorre que, uma semana depois, revisaram o
posicionamento e alteraram o entendimento, votando em favor da tese da imprescritibilidade.
13.2. Ação de improbidade administrativa: ministro de estado e foro competente – (Info 901) –
IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018) (TJAL-2019)
OBS:
E o § 6º do art. 103-B da CF/88? Quando o § 6º do art. 103-B da CF/88 prevê que o PGR oficiará
junto ao CNJ, esta atuação restringe-se ao âmbito interno do conselho, não significando que ele
tenha legitimidade para impetrar mandado de segurança contra as decisões ali proferidas.
Algumas leis municipais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Vereador fará jus,
após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação,
outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível
com a CF/88?
NÃO. O STF fixou a seguinte tese a respeito do tema:
Lei municipal a versar a percepção, mensal e vitalícia, de “subsídio” por ex-vereador e a
consequente pensão em caso de morte não é harmônica com a Constituição Federal de 1988.
Lei municipal versando subsídio vitalício considerado o exercício de mandatos de vereador e a
consequente pensão em caso de morte é incompatível com a Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 638307/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/12/19 (Tema 672 – repercussão geral)
(Info 964).
15.3. REMUNERAÇÃO: STF modulou os efeitos da decisão que afirmou que os servidores
públicos federais não possuem direito aos quintos no período de 08/04/1998 a 04/09/2001; com isso,
o Tribunal resguardou a situação daqueles que recebiam as verbas por força de decisão judicial ou
administrativa – (Info 964)
Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A
previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. A instituição de prestação pecuniária mensal e vitalícia a ex-governadores corresponde à
concessão de benesse que não se compatibiliza com a Constituição Federal (notadamente com
o princípio republicano e o princípio da igualdade, consectário daquele), por configurar
tratamento diferenciado e privilegiado sem fundamento jurídico razoável, em favor de quem
não exerce função pública ou presta qualquer serviço à administração.
Os ex-Governadores (ou as viúvas) que foram beneficiados com esse “subsídio” ou com a
“pensão” dela decorrente terão que devolver as quantias que receberam antes do STF declarar
inconstitucional a previsão da Constituição Estadual?
NÃO. Não é necessária a devolução dos valores percebidos até o julgamento da ação. Isso por
conta dos princípios da boa-fé, da segurança jurídica e, ainda, da dignidade da pessoa
humana.
STF. Plenário. ADI 4545/PR, Rel. Min. Rosa Weber, j. 5/12/19 (Info 962).
O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores
públicos, previsto no inciso X do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização.
Deve o Poder Executivo, no entanto, se pronunciar, de forma fundamentada, acerca das razões
pelas quais não propôs a revisão.
STF. Plenário. RE 565089 /SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
25/9/19 (repercussão geral – Tema 19) (Info 953).
O art. 40, § 4º, I, da CF/88 prevê que o servidor público com deficiência possui direito à
aposentadoria com requisitos e critérios diferenciados (aposentadoria especial). Ocorre que o
dispositivo constitucional exige que uma lei complementar regulamente essa aposentadoria,
sendo, portanto, uma norma constitucional de eficácia limitada.
Até o presente momento, não foi editada essa lei complementar, havendo, portanto, uma
omissão inconstitucional.
Diante disso, a LC nº 142/2013, que regulamentou a aposentadoria especial de pessoas com
deficiência no Regime Geral de Previdência Social, deve ser aplicada aos pedidos de
aposentadoria de servidores públicos com deficiência, por se tratar de diploma mais adequado
para suprir a omissão na regulamentação do art. 40, § 4º, I, da CF/1988.
Assim, o servidor público com deficiência possui o direito de ver analisado o requerimento de
aposentadoria especial apresentado com base no art. 40, § 4º, I, da CF/88 utilizando-se das
normas da LC 142/2013.
STF. 1ª T. MI 6818/DF e MI 6988/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 13/8/19 (Info 947).
15.8. REMUNERAÇÃO: Lei estadual pode prever o pagamento de gratificação para servidores
mesmo que estes já recebam subsídio caso essa gratificação sirva para remunerar atividades que
extrapolem aquelas que são normais do cargo – (Info 947) – IMPORTANTE!!!
15.9. FUNDAÇÕES: A estabilidade especial do art. 19 do ADCT não se aplica para empregados
das fundações públicas de direito privado (abrange apenas os servidores das pessoas jurídicas de
direito público) – (Info 946) – IMPORTANTE!!!
A estabilidade especial do art. 19 do ADCT não se estende aos empregados das fundações
públicas de direito privado, aplicando-se tão somente aos servidores das pessoas jurídicas de
direito público.
O termo “fundações públicas”, utilizado pelo art. 19 do ADCT, deve ser compreendido como
fundações autárquicas, sujeitas ao regime jurídico de direito público.
Ex: empregados da Fundação Padre Anchieta não gozam dessa estabilidade do art. 19 do
ADCT em razão de se tratar de uma fundação pública de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 1º e 7/8/19 (repercussão geral) (Info 946).
A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de saúde, prevista no art. 37, XVI, da
CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas semanais previsto em norma infraconstitucional,
pois inexiste tal requisito na Constituição Federal.
O único requisito estabelecido para a acumulação é a compatibilidade de horários no exercício
das funções, cujo cumprimento deverá ser aferido pela administração pública.
STF. 1ª T. RE 1176440/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 9/4/19 (Info 937).
STF. 2ª T. RMS 34257 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.
STJ. 1ª S. REsp 1767955/RJ, Rel. Min. Og Fernandes, j. 27/3/19 (Info 646).
OBS:
EXCEÇÕES: a própria CF/88 prevê exceções a essa regra. Veja o que dispõe o art. 37, XVI:
Os servidores não concordaram com este entendimento e recorreram à Justiça para que pudessem
manter a acumulação de cargos mesmo se a jornada semanal for superior a 60 horas. A
jurisprudência acolhe o pedido dos servidores? É possível que o servidor acumule dois cargos
públicos mesmo que a soma das jornadas ultrapasse 60 horas semanais? SIM. É possível a
acumulação de cargos mesmo que a jornada semanal ultrapasse 60h. É o que foi decidido no Info
937 do STF.
OBS:
Teto remuneratório: A CF/88 prevê, em seu art. 37, XI, o chamado “teto remuneratório”, ou seja, o
valor máximo que os agentes públicos podem receber no país. O objetivo do constituinte foi o de
evitar que alguns agentes públicos recebessem os chamados “supersalários”, que são
incompatíveis com o serviço público. Além de um teto geral (nacional), o dispositivo
constitucional prevê limites específicos para o âmbito dos Estados e Municípios (chamados de
subtetos). O teto geral do serviço público no Brasil é o subsídio dos Ministros do STF que,
atualmente, está em R$ 39.293,32 (bruto), conforme prevê a Lei 13.752/18.
A quem se aplica o teto? O teto é aplicado aos agentes públicos independentemente do tipo de
vínculo: estatutário, celetista, temporário, comissionado, político.
O teto vale também para a Administração direta e indireta?
• Agentes públicos da administração direta: SEMPRE
• Empregados públicos das empresas públicas e sociedades de economia mista: o teto somente
se aplica se a empresa pública ou a sociedade de economia mista receber recursos da União, dos
Estados, do DF ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em
geral (art. 37, § 9º).
Quais as parcelas incluídas nesse limite?
Regra: o teto abrange todas as espécies remuneratórias e todas as parcelas integrantes do valor
total percebido, incluídas as vantagens pessoais ou quaisquer outras.
Exceções: Estão fora do teto as seguintes verbas:
a) parcelas de caráter indenizatório previstas em lei (§ 11 do art. 37);
b) verbas que correspondam aos direitos sociais previstos no art. 7º c/c o art. 39, § 3º da CF/88,
tais como 13º salário, 1/3 constitucional de férias etc.;
c) quantias recebidas pelo servidor a título de abono de permanência em serviço (§ 19 do art.
40);
d) remuneração em caso de acumulação legítima de cargos públicos (STF RE 612975/MT). Ex.: se
determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu subsídio integral
como Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o teto seria
considerado especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele recebesse acima do limite
previsto no art. 37, XI da CF/88, se considerarmos seus ganhos globais.
Os proventos recebidos pelo agente público aposentado também estão submetidos ao teto? SIM.
A redação do art. 37, XI, menciona expressamente os proventos.
Redação do inciso XI: A redação do inciso XI do art. 37 é muito grande e um pouco confusa: A
partir da sua interpretação, podemos construir a seguinte tabela:
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas podem
fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão respeitar o teto
nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do
Ministros Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos Poderes): Prefeito
do STF Executivo: subsídio do Governador.
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais.
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria): subsídio
dos Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do subsídio
mensal, em espécie, dos Ministros do STF.*
Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): o valor
máximo seria o subsídio dos Desembargadores do TJ,
limitado a 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do STF.*
O subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais seguirá
regras próprias (§ 2º do art. 27), não estando sujeito ao
subsídio dos Desembargadores mesmo que se adote esta 2ª
opção.
Vale ressaltar que quem define se o Estado-membro
adotará subtetos diferentes ou único é a Constituição
estadual.
* A CF/88 dá a entender que o subsídio dos
Desembargadores e dos juízes estaduais não poderia ser
maior que 90,25% do subsídio do Ministro do STF. O STF,
contudo, declarou que esta interpretação é inconstitucional
(STF ADI 3.854). O teto para os Desembargadores e juízes
estaduais é 100% do subsídio dos Ministros do STF, ou seja,
eles podem, em tese, receber o mesmo que os Ministros do
STF. Vale ressaltar, no entanto, que o limite de 90,25% do
subsídio dos Ministros do STF aplica-se sim para os
servidores do Poder Judiciário estadual (na opção 1) e para
os servidores dos três Poderes estaduais (na opção 2).
Membros do MP, Defensoria Pública e Procuradoria: O legislador constituinte decidiu que os
membros do Ministério Público, da Defensoria Pública e da Procuradoria, para fins de teto
remuneratório, não deveriam estar submetidos aos limites impostos aos servidores do Poder
Executivo. Explicando melhor. Conforme vimos na opção 1 do quadro acima, a remuneração dos
servidores do Poder Executivo está limitada ao subsídio do Governador (esse é o subteto dos
servidores do Executivo). O inciso XI do art. 37 disse, contudo, o seguinte: o subsídio dos
membros do MP, da Defensoria Pública e da Procuradoria não precisa respeitar o teto imposto
ao Poder Executivo. Os membros dessas três carreiras deverão estar vinculados ao teto imposto
ao Poder Judiciário. Em outras palavras, como essas três funções são também essenciais à Justiça,
para fins de teto remuneratório, o inciso XI decidiu vinculá-los à Magistratura. Assim, o teto para
o membro do MP estadual, para o Defensor Público estadual e para os Procuradores é o
subsidio dos Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos
Ministros do STF. É o que prevê a parte final do inciso XI. Veja:
Art. 37 (...)
XI –(...)aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder
Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais e Distritais no âmbito do Poder
Legislativo e o subsidio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a
noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos
Procuradores e aos Defensores Públicos; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 41/2003)
Essa regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se
também aos Procuradores do Município? A interpretação puramente literal não resolve a dúvida,
havendo argumentos para as duas soluções:
• Argumento favorável à aplicação aos Procuradores do Município: o fato de o inciso XI utilizar
uma expressão genérica “Procuradores”, não restringindo aos Procuradores do Estado e do DF.
• Argumento contrário: o fato de essa regra estar na parte em que o inciso está tratando do teto
nos Estados-membros.
Diante dessa polêmica, o STF foi chamado a dar a resposta ao tema. O que decidiu a Corte? Essa
regra do inciso XI que diz que o teto dos Procuradores é o do Poder Judiciário, aplica-se também
aos Procuradores do Município? SIM. É o que foi decidido no Info 932 do STF. O termo
“Procuradores”, na axiologia do STF, engloba:
• os Procuradores do Estado e do DF;
• os procuradores autárquicos (que ainda existam validamente);
• assim como os procuradores municipais.
* “defensores dos municípios”: essa expressão foi utilizada no voto do Min. Fux no
sentido de “advogados” (“procuradores”) dos municípios. Não tem nada a ver com
Defensoria Pública municipal que, segundo a maioria da doutrina, não pode existir.
Essa decisão do STF significa que os Procuradores do Município devem receber, obrigatoriamente,
90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF? NÃO. O constituinte não obriga
que os Municípios estipulem como subsídio dos Procuradores do Município o valor de 90,25% do
subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF. Trata-se de um teto (e não de um piso). Logo,
talvez, em Municípios pequenos do interior do Estado, com baixa arrecadação, esse valor seja alto,
o que não se verifica, por outro lado, em grandes capitais. A definição do subsídio dos
Procuradores Municipais é feita por meio de lei cujo projeto é de iniciativa privativa do Prefeito,
nos termos do art. 61, §1º, II, “c”, da CF/88. Dessa forma, cabe ao Prefeito avaliar politicamente,
diante das circunstâncias orçamentárias e da sua política de recursos humanos, a conveniência
de permitir que um procurador de município receba mais do que o chefe do Poder Executivo
municipal.
Tabela atualizada: Diante dessa importante decisão do STF, podemos atualizar a tabela do teto
remuneratório:
Teto NACIONAL: subsídio dos Ministros do STF
Ninguém poderá receber acima desse valor; as Constituições estaduais e leis orgânicas podem
fixar subtetos para Estados/DF e Municípios; tais subtetos também deverão respeitar o teto
nacional.
Subteto Subteto nos
Subteto nos Estados/DF
na União Municípios
Subsídio dos Existem duas opções: Subsídio do Prefeito
Ministros do Opção 1 (subtetos diferentes para cada um dos
STF Poderes): Obs: os procuradores
Executivo: subsídio do Governador. municipais estão
Legislativo: subsídio dos Deputados Estaduais. submetidos ao teto de
Judiciário (inclui MP, Defensoria e Procuradoria): 90,25% do subsídio
subsídio dos Desembargadores do TJ, limitado a mensal, em espécie,
90,25% do subsídio mensal, em espécie, dos dos ministros do STF.
Ministros do STF.*
Opção 2 (subteto único para todos os Poderes): o
valor máximo seria o subsídio dos
Desembargadores do TJ, limitado a 90,25% do
subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
STF.*
O subsídio dos Deputados Estaduais/Distritais
seguirá regras próprias (§ 2º do art. 27), não
estando sujeito ao subsídio dos Desembargadores
mesmo que se adote esta 2ª opção.
Vale ressaltar que quem define se o
Estado-membro adotará subtetos diferentes ou
único é a Constituição estadual.
* A CF/88 dá a entender que o subsídio dos
Desembargadores e dos juízes estaduais não
poderia ser maior que 90,25% do subsídio do
Ministro do STF. O STF, contudo, declarou que esta
interpretação é inconstitucional (STF ADI 3.854). O
teto para os Desembargadores e juízes estaduais é
100% do subsídio dos Ministros do STF, ou seja,
eles podem, em tese, receber o mesmo que os
Ministros do STF. Vale ressaltar, no entanto, que o
limite de 90,25% do subsídio dos Ministros do STF
aplica-se sim para os servidores do Poder
Judiciário estadual (na opção 1) e para os
servidores dos três Poderes estaduais (na opção 2).
Concursados e organizados em carreira: Apesar de não ter constado na tese fixada, no voto do
Relator foi feita menção a um aspecto muito importante. Para o Min. Luiz Fux, essa equiparação
entre o teto dos Procuradores do Estado/DF com os Procuradores Municipais somente é
permitida se, naquele Município, os Procuradores forem concursados e organizados em
carreira. Assim, pelo voto do Relator, não seria admitido o teto de 90,25% dos Ministros do STF
para advogados contratados, sem concurso público, para o exercício de funções de defesa jurídica
do Município.
Essa ressalva também foi feita pelo Min. Gilmar Mendes: “Apesar de a Constituição não fazer menção
expressa aos procuradores municipais, há que se reconhecer que, quando organizados em carreira,
também exercem a atribuição de advogados públicos, realizando as atividades congêneres àquelas
desempenhadas pelos advogados da União e pelos procuradores federais, estaduais e distritais, prestando
consultoria jurídica e representando judicial e extrajudicialmente a municipalidade”.
Ganha força a tese de concurso para as Procuradorias Municipais: Existe uma polêmica se a
CF/88 exige ou não que os Municípios tenham Procuradorias Municipais, organizadas em
carreira, mediante concurso público, para o desempenho das funções de representação judicial e
consultoria jurídica. Há, inclusive, uma PEC tramitando para incluir as Procuradorias Municipais
no art. 132 da CF/88. A conclusão do STF no RE 663696/MG, ao equiparar as Procuradorias
Municipais às Procuradorias do Estado/DF, reforça a tese de que os Municípios devem ter
Procuradorias Municipais, organizadas em carreira mediante concurso público. Esperamos que
seja esse o entendimento a prevalecer.
OBS: O titular interino não pode ser equiparado ao titular da serventia, considerando que ele
não preenche os requisitos para tanto. Assim, ele está atuando como um preposto do Poder
Público e, nessa condição, deve submeter-se aos limites remuneratórios previstos para os
agentes públicos. Esse é a posição pacífica de ambas as Turmas do STF:
O titular interino não atua como delegado do serviço notarial e de registro porque
não preenche os requisitos para tanto; age, em verdade, como preposto do Poder
Público e, nessa condição, deve-se submeter aos limites remuneratórios previstos
para os agentes estatais, não se lhe aplicando o regime remuneratório previsto para
os delegados do serviço público extrajudicial (art. 28 da Lei nº 8.935/1994). STF. 1ª
Turma. MS 30180 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 21/10/14.
15.14. Não devolução dos valores recebidos de boa-fé por servidor público por força de decisão
liminar revogada – (Info 923)
Não deve ser determinada a devolução de valores recebidos de boa-fé por servidor público,
percebidos a título precário no período em que liminar produziu efeitos.
É desnecessária a devolução dos valores recebidos por liminar revogada, em razão de mudança
de jurisprudência. Também é descabida a restituição de valores recebidos indevidamente,
circunstâncias em que o servidor público atuou de boa-fé.
Essa orientação ampara-se na confiança legítima que o beneficiário da decisão tem no sentido
de que a sua pretensão será acolhida.
Assim, os princípios da boa-fé e da segurança jurídica afastam o dever de restituição de
parcelas recebidas por ordem liminar revogada.
STF. 1ª Turma. MS 32185/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 13/11/2018 (Info 923).
OBS:
O STJ possui o mesmo entendimento acima exposto? NÃO. O STJ, sem enfrentar expressamente o
tema referente à mudança na jurisprudência, em regra, afirma que é devida a devolução. Confira:
Se o servidor público recebe valores por força de decisão judicial posteriormente
revogada, tal quantia poderá ser exigida pela Administração Pública? SIM. É devida
a restituição ao erário dos valores de natureza alimentar pagos pela Administração
Pública a servidores públicos em cumprimento a decisão judicial precária
posteriormente revogada. O STJ entende que, neste caso, não se pode falar em
boa-fé do servidor, considerando que ele sabia que poderia haver alteração da
decisão que tinha caráter precário (provisório). STJ. 1ª Seção. EAREsp 58.820-AL,
Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/10/2014.
DOD PLUS: Outros entendimentos jurisprudenciais que são importantes sobre o tema:
Servidor que recebe indevidamente valores por meio de decisão administrativa (posição do STJ
não exige esses mesmos requisitos do STF):
Se o servidor público recebe valores por força de decisão administrativa
posteriormente revogada, tal quantia poderá ser exigida de volta pela
Administração Pública?
NÃO. É incabível a restituição ao erário dos valores recebidos de boa-fé pelo
servidor público em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei
por parte da Administração Pública.
Em virtude do princípio da legítima confiança, o servidor público, em regra, tem a
justa expectativa de que são legais os valores pagos pela Administração Pública,
porque jungida à legalidade estrita.
Assim, diante da ausência da comprovação da má-fé no recebimento dos valores
pagos indevidamente por erro de direito da Administração, não se pode efetuar
qualquer desconto na remuneração do servidor público, a título de reposição ao
erário.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
10/10/2012 (recurso repetitivo).
Súmula 34-AGU: Não estão sujeitos à repetição os valores recebidos de boa-fé pelo
servidor público, em decorrência de errônea ou inadequada interpretação da lei por
parte da Administração Pública.
Servidor que recebe indevidamente valores em decorrência de erro operacional da Administração:
A 1ª Seção do STJ, no julgamento do Recurso Especial Representativo da
Controvérsia 1.244.182/PB, firmou o entendimento de que não é devida a
restituição de valores pagos a servidor público de boa-fé, por força de
interpretação errônea ou má aplicação da lei por parte da Administração. O
mesmo entendimento tem sido aplicado pelo STJ nos casos de mero equívoco
operacional da Administração Pública. Assim, não é devida a devolução de verba
paga indevidamente a servidor em decorrência de erro operacional da
Administração Pública, quando se constata que o recebimento pelo beneficiado se
deu de boa-fé. STJ. 1ª T. AgRg no REsp 1447354/PE, Rel. Min. Napoleão Nunes
Maia Filho, j. 16/9/14. STJ. 2ª T. AgRg no REsp 1560973/RN, Rel. Min. Humberto
Martins, j. 05/04/16.
Quadro-resumo:
15.15. O aumento de 45% concedido aos militares pela Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral
da remuneração, não podendo ser estendida para os servidores públicos civis – (Info 922) – Baixa
relevância!
OBS: A Lei nº 8.237/91 não foi uma revisão geral da remuneração para os militares. Esta Lei foi
uma restruturação das Forças Armadas, sendo, portanto, específica para os militares. Assim, tendo
em vista tratar-se de reestruturação remuneratória da carreira militar, redefinindo remuneração,
soldo, gratificações, adicionais, auxílios, indenizações e proventos, não há que se falar em extensão
aos servidores públicos civis.
15.16. Correios devem motivar a demissão de seus empregados – (Infos 699 e 919) –
IMPORTANTE!!!
Em 2013, o STF decidiu, de forma genérica, que:
Os empregados públicos não fazem jus à estabilidade prevista no art. 41 da CF/88, salvo
aqueles admitidos em período anterior ao advento da EC 19/98.
Em atenção, no entanto, aos princípios da impessoalidade e isonomia, que regem a admissão
por concurso público, a dispensa do empregado de empresas públicas e sociedades de
economia mista que prestam serviços públicos deve ser motivada, assegurando-se, assim, que
tais princípios, observados no momento daquela admissão, sejam também respeitados por
ocasião da dispensa.
A motivação do ato de dispensa, assim, visa a resguardar o empregado de uma possível quebra
do postulado da impessoalidade por parte do agente estatal investido do poder de demitir.
STF. Plenário. RE 589998/PI, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 20/3/13 (repercussão geral)
(Info 699).
Diante disso, imaginou-se que essa decisão valeria para todas as empresas públicas e
sociedades de economia mista.
No entanto, em 2018, o STF, em embargos de declaração, afirmou que esta decisão (RE
589998/PI) só se aplica para os Correios considerando que o caso concreto envolvia um
empregado da ECT).
Quanto às demais empresas públicas e sociedades de economia mista, o STF afirmou que
ainda não decidiu o tema, ou seja, terá que ser analisado caso a caso.
Assim, por enquanto, essa decisão só se aplica para os Correios.
A tese fixada foi a seguinte:
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em ato
formal, a demissão de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/10/18 (Info 919).
15.17. A contribuição previdenciária paga pelo servidor não deve incidir sobre parcelas que não
são incorporadas à sua aposentadoria – (Info 919)
Não incide contribuição previdenciária sobre verba não incorporável aos proventos de
aposentadoria do servidor público, tais como terço de férias, serviços extraordinários (horas
extras), adicional noturno e adicional de insalubridade.
STF. Plenário. RE 593068/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 11/10/18 (repercussão geral) (Info
919).
15.18. Servidor que fazia faculdade particular e é removido, de ofício, para outra cidade tem
direito a matrícula em universidade pública, se não existir instituição privada congênere no
destino – (Info 915) – IMPORTANTE!!!
Lei nº 9.394/96
Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a transferência de alunos
regulares, para cursos afins, na hipótese de existência de vagas, e mediante processo
seletivo.
Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na forma da lei.
Lei nº 9.536/97
Art. 1º A transferência ex officio a que se refere o parágrafo único do art. 49 da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a
qualquer sistema de ensino, em qualquer época do ano e independente da existência
de vaga, quando se tratar de servidor público federal civil ou militar estudante, ou
seu dependente estudante, se requerida em razão de comprovada remoção ou
transferência de ofício, que acarrete mudança de domicílio para o município onde
se situe a instituição recebedora, ou para localidade mais próxima desta.
Parágrafo único. A regra do caput não se aplica quando o interessado na
transferência se deslocar para assumir cargo efetivo em razão de concurso público,
cargo comissionado ou função de confiança.
15.19. STF decide modular os efeitos de decisão que mandou afastar Delegados de Polícia do
cargo por ofensa à regra do concurso público – (Info 909)
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil do Estado
do Amazonas.
Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria cargos de Delegado de Polícia
e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial, juntamente
com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI.
Em 2015, o STF decidiu que elas são INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à
exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem que
eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia foi
criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação, mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
Foram opostos embargos de declaração contra a decisão.
Em 2018, o STF acolheu os embargos e aceitou modular os efeitos da decisão proferida na ADI
3415. Além disso, o Tribunal determinou ao Estado do Amazonas que promova, no prazo
máximo de 18 meses, a contar da publicação da ata de julgamento (07/08/2018), a abertura de
concurso público para o cargo de Delegado de Polícia.
O Ministro Relator Alexandre de Moraes afirmou que mais de 70 delegacias de polícia
ficariam sem delegados e que a população amazonense é que sofreria as consequências.
Além disso, na decisão dos embargos, os Ministros esclareceram que são plenamente válidos
os atos praticados nos cargos de Delegado de Polícia que serão afastados.
STF. Plenário. ADI 3415 ED-segundos/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 1º/8/18 (Info 909).
15.20. Não é compatível com a CF/88 a norma de CE que estabelece que o servidor público
inativo deverá receber obrigatoriamente a mais do que percebia na ativa – (Info 907)
A Constituição do Estado do Ceará previa que o servidor, ao se aposentar, deveria receber,
como proventos, o valor pecuniário correspondente ao padrão de vencimento imediatamente
superior ao da sua classe funcional, e, se já ocupasse o ultimo escalão, faria jus a uma
gratificação adicional de 20% sobre a sua remuneração.
O STF decidiu que essa previsão não era considerada materialmente inconstitucional à época
da edição da Carta, uma vez que a superação da remuneração em atividade era tolerada na
redação original da CF. Porém, essa regra não foi recepcionada pela EC 20/98 que proibiu a
superação do patamar remuneratório da atividade e a impossibilidade de incorporação da
remuneração do cargo em comissão para fins de aposentadoria (art. 40, §§ 2º e 3º, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
São inconstitucionais os arts. 154, § 2º; 167, XII e XIII, §§ 1º e 2º; e 174, da Constituição do
Estado do Ceará, e os arts. 27 e 28 do seu ADCT. Tais dispositivos tratam de remuneração e
direitos de servidores públicos, que, por não encontrarem similares na CF/88, somente
poderiam ser veiculados por meio de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo.
São previsões específicas que não tratam da organização e estruturação do Estado-membro ou
de seus órgãos, mas que versam sobre o regime jurídico de servidores públicos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
A Constituição do Estado do Ceará prevê que deverá ser assegurada isonomia salarial para
docentes em exercício, com titulação idêntica, respeitando-se o grau de ensino em que
estiverem atuando.
O STF decidiu que essa regra é constitucional e que não ofende o art. 37, XIII, da CF/88. Isso
porque não há, no caso, equiparação salarial de carreiras distintas, considerando que se trata
especificamente da carreira de magistério público e de docentes com titulação idêntica.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
A Constituição do Estado do Ceará previa que deveria ser assegurado “aos servidores da
administração pública direta, das autarquias e das fundações, isonomia de vencimentos para
cargos de atribuições iguais ou assemelhadas do mesmo Poder ou entre servidores dos Poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as vantagens de caráter individual e as relativas
à natureza ou ao local de trabalho.”
O STF decidiu que é inconstitucional a expressão “das autarquias e das fundações”. Isso
porque a equiparação remuneratória entre servidores, a teor da redação originária do art. 39, §
1º, da CF/88, restringiu-se aos servidores da administração direta, não mencionando os entes
da administração indireta, como o faz a norma impugnada.
Além disso, o dispositivo estadual não foi recepcionado, em sua integralidade, pela redação
atual do art. 39 da Constituição Federal, na forma EC 19/1998.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
Essa previsão era incompatível com a redação originária do art. 39, § 1º da CF/88. Isso porque
este dispositivo constitucional afirmava que se deveria assegurar isonomia de vencimentos
apenas para os servidores da administração direta, não se mencionando os entes da
administração indireta. Veja:
Art. 39. (...)
§ 1º - A lei assegurará, aos servidores da administração direta, isonomia de
vencimentos para cargos de atribuições iguais ou assemelhados do mesmo Poder ou
entre servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, ressalvadas as
vantagens de caráter individual e as relativas à natureza ou ao local de trabalho.
(Redação originária).
Após a EC 19/98, não há mais qualquer dúvida de que é proibida a equiparação de vencimentos
entre servidores de cargos diferentes. Veja o que diz o art. 37, XIII, da CF/88:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias
para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público; (Redação dada pela EC
19/98)
O art. 39, § 1º da CF/88, também alterado pela EC 19/98, não fala mais nada sobre isonomia de
vencimentos:
Art. 39 (...)
§ 1º A fixação dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema
remuneratório observará: (Redação dada pela EC/98)
I - a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos cargos componentes
de cada carreira; (Incluído pela EC 19/98)
II - os requisitos para a investidura; (Incluído pela EC 19/98)
III - as peculiaridades dos cargos. (Incluído pela EC 19/98)
15.24. Decisão que concede a gratificação de 13,23% viola a SV 37 – (Infos 884 e 886)
A decisão judicial que concede a servidor público a gratificação de 13,32% prevista na Lei
10.698/03 afronta a súmula vinculante 37, mesmo que o julgador fundamente sua decisão no
art. 37, X, da CF/88 e no art. 6º da Lei 13.317/16.
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de
servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. 1ª Turma. Rcl 25927 AgR/SE e Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, j. 31/10/17 (Info 884).
STF. 1ª Turma. Rcl 24965 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 28/11/17 (Info 886).
OBS:
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de
isonomia.
Para o Supremo, o objetivo do juiz e do Tribunal, ao fundamentar a decisão com base no art. 37, X,
da CF/88 e no art. 6º da Lei nº 13.317/2016, foi apenas o de tentar afastar a incidência da SV 37.
No entanto, o raciocínio adotado pelo Tribunal, em última análise, é fundamentado na igualdade,
razão pela qual se aplica a proibição da súmula vinculante.
15.25. Jornada de trabalho diferenciada para servidores médicos e dentistas – (Info 869)
15.26. Se a pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber acima do teto –
(Info 862) – IMPORTANTE!!!
15.27. EC 70/2012 produz efeitos financeiros somente a partir da data de sua promulgação – (Info
860)
Os efeitos financeiros das revisões de aposentadoria concedida com base no art. 6º-A da EC
41/2003, introduzido pela EC 70/2012, somente se produzirão a partir da data de sua
promulgação (30/3/2012).
STF. Plenário. RE 924456/RJ, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
j. 5/4/17 (Info 860).
15.28. Magistrado que estava recebendo abono de permanência e foi promovido terá direito de
continuar percebendo o benefício – (Info 859)
A ocupação de novo cargo dentro da estrutura do Poder Judiciário, pelo titular do abono de
permanência, não implica a cessação do benefício.
Ex: determinada pessoa ocupa o cargo de Desembargador do Trabalho e está recebendo abono
de permanência; se ela for promovida ao cargo de Ministro do TST, terá direito de continuar
recebendo o abono, não sendo necessário completar cinco anos no cargo de Ministro para
requerer o benefício.
STF. 1ª Turma. MS 33424/DF e MS 33456/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 28/3/17 (Info 859).
15.29. Regime de subsídio e pagamento de 13º e férias a Prefeito e Vice-Prefeito – (Info 852)
O art. 39, § 4º, da Constituição Federal não é incompatível com o pagamento de terço de férias
e décimo terceiro salário.
STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
1º/2/17 (repercussão geral) (Info 852).
OBS:
Segundo o Min. Luís Roberto Barroso, o regime de subsídio é incompatível apenas com o
pagamento de outras parcelas remuneratórias de natureza mensal, o que não é o caso do décimo
terceiro e das férias, que são verbas pagas a todos os trabalhadores e servidores, com
periodicidade anual.
A Constituição Federal prevê, em seu art. 39, § 3º, que os servidores públicos gozam de terço de
férias e 13º salário, não sendo vedado o seu pagamento de forma cumulada com o subsídio.
Os agentes políticos, como é o caso dos Prefeitos e Vice-Prefeitos, não devem ter um tratamento
melhor, mas também não podem ter uma situação pior do que a dos demais trabalhadores. Se
todos os trabalhadores em geral têm direito a um terço de férias e têm direito a décimo terceiro
salário, não se mostra razoável que isso seja retirado da espécie de servidores públicos (Prefeitos e
Vice-Prefeitos).
Assim, não é inconstitucional o pagamento de terço de férias e 13º salário a Prefeitos e
Vice-Prefeitos.
Assim, o STF julgou constitucional a previsão de terço de férias e 13º salário e, por outro lado,
inconstitucional o pagamento da chamada "verba de representação".
O art. 19 do ADCT da CF/88 previu que os servidores públicos que estavam em exercício há
pelo menos 5 anos quando a Constituição Federal foi promulgada, deveriam ser considerados
estáveis, mesmo não tendo sido admitidos por meio de concurso público. Desse modo, quem
ingressou no serviço público, sem concurso, até 05/10/1983 e assim permaneceu, de forma
continuada, tornou-se estável com a edição da CF/88.
É inconstitucional Constituição estadual ou lei estadual que amplie a abrangência do art. 19 do
ADCT e preveja estabilidade para servidores públicos admitidos sem concurso público
mesmo após 05/10/1983 (5 anos antes da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1241/RN, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/09/2016 (Info 840).
OBS:
Art. 19. Os servidores públicos civis da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, da administração direta, autárquica e das fundações públicas, em
exercício na data da promulgação da Constituição, há pelo menos cinco anos
continuados, e que não tenham sido admitidos na forma regulada no art. 37, da
Constituição, são considerados estáveis no serviço público. (...)
§ 2º — O disposto neste artigo não se aplica aos ocupantes de cargos, funções e
empregos de confiança ou em comissão, nem aos que a lei declare de livre
exoneração, cujo tempo de serviço não será computado para os fins do "caput" deste
artigo, exceto se se tratar de servidor.
§ 3º — O disposto neste artigo não se aplica aos professores de nível superior, nos
termos da lei.
15.32. A questão dos 13,23% e as súmulas vinculantes 10 e 37 – (Info 829)
O art. 1º da Lei nº 10.698/2003 concedeu reajuste aos servidores públicos federais de todos os
Poderes, porém em percentuais diferentes. A diferença entre o maior e o menor reajuste foi de
13,23%.
Os servidores que receberam o menor percentual alegaram que o mencionado art. 1º
representou uma revisão geral anual, tendo, no entanto, violado o art. 37, X, da CF/88,
considerando que foi feita com índices diferentes, o que não é permitido por esse dispositivo
constitucional. Diante disso, pediram que fosse concedida a incorporação dos 13,23% em sua
remuneração.
A 1ª Turma do TRF1 (órgão fracionário do Tribunal) concedeu a incorporação pedida.
Para o STF, esta decisão violou as súmulas vinculantes 10 e 37.
A 1ª Turma do TRF1, mesmo sem dizer isso expressamente, fez um controle de
constitucionalidade do art. 1º da Lei 10.698/03 concluindo que este dispositivo incidiu em
inconstitucionalidade por omissão parcial. No entanto, como se trata de órgão fracionário do
TRF, houve violação ao art. 97 da CF/88 e da SV 10: "Viola a cláusula de reserva de plenário (CF,
art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no
todo ou em parte."
Além disso, houve violação da SV 37: "Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função
legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob fundamento de isonomia."
STF. 2ª Turma. Rcl 14872, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 31/5/2016 (Info 828).
15.33. Revogação de lei que concedeu aumento sem que tenham se iniciado seus efeitos
financeiros – (Info 819)
Lei estadual de 2007 fixou aumento na remuneração dos servidores públicos estaduais. A Lei
entrou em vigor na data de sua publicação, mas estabeleceu que os efeitos financeiros desse
aumento seriam contados somente a partir do primeiro dia do ano seguinte.
Ocorre que, antes que chegasse a data prevista como início do reajuste, a referida Lei foi
revogada por uma outra.
O STF entendeu que esta Lei revogadora é inconstitucional por violar o direito adquirido (art.
5º, XXXVI, da CF/88) e o princípio da irredutibilidade dos vencimentos (art. 37, XV).
A Lei que concedeu o reajuste entrou em vigor na data de sua publicação. Apenas os efeitos
financeiros é que foram postergados para o dia 1º/1/2008.
No momento em que a Lei entrou em vigor, os servidores passaram a ter direito adquirido ao
reajuste, ainda que os efeitos financeiros somente fossem em data futura.
STF. Plenário. ADI 4013/TO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/3/2016 (Info 819).
No julgamento da ADI 3819, o STF declarou inconstitucional lei estadual, posterior à CF/88,
que transformou ocupantes de determinado cargo público em Defensores Públicos.
Entendeu-se que houve violação ao princípio do concurso público.
Os servidores foram, então, exonerados pelo Governador do Estado, mas conseguiram ser
reintegrados por decisão do STJ, que entendeu que, antes da exoneração, deveria a eles ser
garantido devido processo legal, com contraditório e ampla defesa.
O STF, em reclamação, cassou essa decisão do STJ por entender que ela contrariou a
autoridade da decisão proferida pelo STF no julgamento da ADI 3.819/MG.
STF. 2ª Turma. Rcl 16950/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 1º/12/2015 (Info 810).
Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam
adquirido antes da EC 41/03 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo).
Argumentavam que a garantia da irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada de
direito adquirido, impediria que as vantagens percebidas antes da vigência da EC 41/03 fossem
por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As vantagens pessoais anteriores à EC 41/03
estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da CF/88,
também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/03 a título de vantagens
pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores eventualmente recebidos em
excesso e de boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).
Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de
Governador do Estado fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício.
Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A
previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que seja
prevista genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, configurando um
tratamento privilegiado sem haver fundamento legítimo.
STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).
15.40. TETO REMUNERATÓRIO: É inconstitucional lei estadual que fixa teto remuneratório
para servidores do Poder Judiciário – (Info 774)
Lei do Estado da Bahia fixava um teto remuneratório exclusivo para os servidores do Poder
Judiciário.
O STF entendeu que essa lei é inconstitucional.
O teto para o funcionalismo estadual somente pode ser fixado por meio de emenda à
Constituição estadual, não sendo permitido mediante lei estadual.
Além disso, a Constituição do Estado da Bahia adotou subteto único (§ 12º do art. 37 da CF/88)
e a lei viola a sistemática escolhida porque fixou um teto apenas para os servidores do Poder
Judiciário, excluindo-o para os demais Poderes.
STF. Plenário. ADI 4900/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 11/2/15 (Info 774).
15.41. Pensão por morte e menor sob guarda (Lei 8.112/90) – (Info 766)
O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).
STF. 2ª Turma. MS 31770/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/11/2014 (Info 766).
15.42. A ampliação de jornada de trabalho sem alteração da remuneração do servidor viola a
regra constitucional da irredutibilidade de vencimentos – (Info 765) – IMPORTANTE!!!
O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem direito
adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no serviço
público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua
remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da irredutibilidade
dos vencimentos.
No caso concreto, os servidores de determinado órgão público tinham jornada de trabalho de
20 horas semanais. Foi editada, então, uma Lei aumentando a jornada de trabalho para 40
horas semanais, sem, contudo, majorar a remuneração paga. O STF entendeu que a lei que
alterou a jornada de trabalho não poderia ser aplicada aos servidores que, antes de sua edição,
já estivessem legitimamente subordinados à carga horária inferior. Isso porque se fossem
obrigados a trabalhar mais sem aumento da remuneração, haveria uma redução proporcional
dos vencimentos recebidos.
Assim, nas hipóteses em que houver aumento de carga horária dos servidores, essa só será
válida se houver formal elevação proporcional da remuneração; caso contrário, a regra será
inconstitucional, por violação da norma constitucional da irredutibilidade vencimental.
STF. Plenário. ARE 660010/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2014 (repercussão geral)
(Info 762).
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).
15.43. Aumento da remuneração de servidores públicos por meio de decisão judicial – (Info 763
e 756) – IMPORTANTE!!!
Súmula vinculante 37-STF: Não cabe ao poder judiciário, que não tem função legislativa,
aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia.
STF. Plenário. Aprovada em 16/10/2014.
(...) O Poder Judiciário não tem poder para conceder aumentos para servidores regidos pelo
regime estatutário com base no princípio da isonomia.
STF. Plenário. RE 592317/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/8/14 (repercussão geral) (Info 756).
O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem direito
adquirido de manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no serviço
público. No entanto, as mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua
remuneração, considerando que o art. 37, XV, da CF/88 assegura o princípio da irredutibilidade
dos vencimentos.
No caso concreto, a lei duplicou a jornada de trabalho dos servidores públicos e permitiu que
eles continuassem a prestar a jornada menor, desde que recebessem apenas a metade da
remuneração. O STF entendeu que essa modificação da jornada de trabalho não foi válida para
os médicos que já eram servidores do órgão antes da Lei. Isso porque se eles continuassem a
trabalhar na mesma jornada de trabalho anterior, iriam receber apenas a metade da
remuneração. Logo, houve, indiretamente, uma redução do valor dos vencimentos.
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).
O teto de retribuição fixado pela EC 41/03 é de eficácia imediata e todas as verbas de natureza
remuneratória recebidas pelos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios devem se submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo com regime legal
anterior.
A aplicação imediata da EC 41/03 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o
princípio da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.
Em outras palavras, com a EC 41/03, quem recebia acima do teto fixado, teve a sua remuneração
reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.
STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 2/10/14 (Info 761).
1.1. Licença para acompanhamento de cônjuge – (Info 760) – Atenção! Concursos Federais!
A Lei n. 8.112/90 prevê que poderá ser concedida licença ao servidor público federal para
acompanhar seu cônjuge ou companheira que foi deslocado para outro ponto do território
nacional, podendo ali exercer provisoriamente atividade compatível com seu cargo em órgão
ou entidade da Administração Federal direta, autárquica ou fundacional. Tal licença
remunerada está prevista no § 2º do art. 84.
Contudo, o servidor não terá direito a essa licença remunerada se o cônjuge se mudou para
outro Município para assumir um cargo público decorrente de concurso público para o qual
foi aprovado.
Em suma, a licença para o acompanhamento de cônjuge ou companheiro de que trata o § 2º do
art. 84 da Lei n. 8.112/90 não se aplica aos casos de provimento originário de cargo público.
STF. 1ª Turma. MS 28620/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/9/2014 (Info 760).
É incompatível com a CF/88 (art. 37, XIII e art. 39, § 1º) a lei estadual que equipara a
remuneração de uma carreira a de outra distinta.
STF. Plenário. ADPF 97/PA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
1.4. Servidor público em inatividade não goza do adicional de férias – (Info 755)
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que o servidor público, mesmo quando for
para a inatividade, continuará tendo direito, todos os anos, ao adicional de férias (terço de
férias).
Essa lei viola o princípio da razoabilidade já que o servidor público em inatividade não pode
gozar de férias, porquanto deixou de exercer cargo ou função pública, razão pela qual a ele não
se estende adicional de férias concedido a servidores em atividade.
STF. Plenário. ADI 1158/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).
1.5. Gratificação de desempenho genérica deve ser estendida aos aposentados e pensionistas –
(Info 755) – IMPORTANTE!!!
a) as vantagens remuneratórias legítimas e de caráter geral conferidas a determinada categoria,
carreira ou, indistintamente, a servidores públicos, por serem vantagens genéricas, são
extensíveis aos servidores inativos e pensionistas;
b) nesses casos, a extensão alcança os servidores que tenham ingressado no serviço público
antes da publicação da EC 20/1998 e da EC 41/2003 e se aposentado ou adquirido o direito à
aposentadoria antes da EC 41/2003;
c) com relação aos servidores que se aposentaram após a EC 41/2003, devem ser observados os
requisitos estabelecidos na regra de transição contida em seu art. 7º, em virtude da extinção da
paridade integral entre ativos e inativos contida no art. 40, § 8º, da CF, redação original, para os
servidores que ingressaram no serviço público após a publicação da EC 41/2003; e
d) com relação aos servidores que tivessem ingressado no serviço público antes da EC 41/2003
e se aposentaram ou adquiriram o direito à aposentadoria após a sua edição, é necessário
observar a incidência das regras de transição fixadas pela EC 47/2005, a qual estabeleceu
efeitos retroativos à data de vigência da EC 41/2003.
STF. Plenário. RE 596962/MT, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
STJ. STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.372.058-CE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
4/2/2014 (Info 534).
1.6. Aposentadoria por invalidez com proventos integrais – (Info 755) – IMPORTANTE!!!
A CF/88 prevê, em seu art. 40, § 1º, I, a possibilidade de os servidores públicos serem
aposentados caso se tornem total e permanentemente incapazes para o trabalho. Trata-se da
chamada aposentadoria por invalidez.
Em regra, a aposentadoria por invalidez será paga com proventos proporcionais ao tempo de
contribuição. Excepcionalmente, ela será devida com proventos integrais se essa invalidez for
decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou
incurável, especificada em lei.
Assim, a concessão de aposentadoria por invalidez com proventos integrais exige que a doença
incapacitante esteja prevista em rol taxativo da legislação de regência.
O art. 41, § 1º, I, da CF/88 é bastante claro ao exigir que a lei defina as doenças e moléstias que
ensejam aposentadoria por invalidez com proventos integrais. Logo, esse rol legal deve ser
tido como exaustivo (taxativo).
STF. Plenário. RE 656860/MT, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 21/8/2014 (Info 755).
A LC 35/1979 (Loman) prevê, em seu art. 65, I, o pagamento de indenização para custeio de
despesas com transporte e mudança:
Apesar de a Loman falar que a matéria será regulada em lei, esse diploma legal nunca foi
editado. Por conta disso, o STF afirmou que é possível aplicar, de forma subsidiária, a norma
que rege os servidores públicos federais (Lei 8.112/1990) que, em seu arts. 53 e 54, disciplina a
ajuda de custo para transporte e mudança.
STF. 2ª Turma. AO 1656/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).
1.8. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 748)
A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88, deverá especificar as hipóteses
emergenciais que justificam as medidas de contratação excepcional. Caso não o faça, ela será
tida por inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3649/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2014 (Info 748)
1.9. CONCEITO DE CARGO TÉCNICO PARA OS FINS DO ART. 37, XVI, “B”, DA CF/88 –
(Info 747) – IMPORTANTE!!!
A CF/88 permite a acumulação de um cargo de professor com outro técnico ou científico (art.
37, XVI, “b”).
Somente se pode considerar que um cargo tem natureza técnica se ele exigir, no desempenho
de suas atribuições, a aplicação de conhecimentos especializados de alguma área do saber.
Não podem ser considerados cargos técnicos aqueles que impliquem a prática de atividades
meramente burocráticas, de caráter repetitivo e que não exijam formação específica.
Nesse sentido, atividades de agente administrativo, descritas como atividades de nível médio,
não se enquadram no conceito constitucional.
STF. 1ª Turma. RMS 28497/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia,
julgado em 20/5/2014 (Info 747).
O art. 170 da Lei n. 8.112/90 prevê que, mesmo estando prescrita a infração disciplinar, é
possível que a prática dessa conduta fique registrada nos assentos funcionais do servidor.
O STF decidiu que esse art. 170 é INCONSTITUCIONAL por violar os princípios da
presunção de inocência e da razoabilidade.
STF. Plenário. MS 23262/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/4/2014 (Info 743).
1.12. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 742)
A lei do ente federativo que regulamente o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público.
Além disso, essa lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de
emergência.
STF. Plenário. RE 658026/MG, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 9/4/2014 (Info 742).
1.13. Lei que efetivava servidores sem concurso público e modulação dos seus efeitos – (Info
740)
Lei mineira transformava diversos servidores com vínculo precário com a Administração em
servidores efetivos.
STF julgou inconstitucional a referida Lei por violação à regra do concurso público.
A corte decidiu, contudo, modular os efeitos da decisão.
Com relação aos cargos para os quais não há concurso público em andamento ou em vigor: a
lei continuará produzindo efeitos por um período de até 12 meses.
Com relação aos cargos para os quais há concurso em andamento ou em vigor: os efeitos da
declaração de inconstitucionalidade são imediatos.
Servidores já aposentados (ou que preencheram os requisitos para jubilação), bem como para
aqueles que foram aprovados em concurso público ou que foram beneficiados pela
estabilidade excepcional do art. 19 do ADCT da CF/88: não se submetem aos efeitos da decisão
(continuarão em seus cargos com a aposentadoria).
STF. Plenário. ADI 4876/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2014 (Info 740).
1.14. Contratação por tempo determinado do art. 37, IX, da CF/88 – (Info 740)
O STF entende que o art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate
pessoas, sem concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter eventual,
temporário ou excepcional, como também para o desempenho das funções de caráter regular e
permanente, desde que indispensáveis ao atendimento de necessidade temporária de
excepcional interesse público.
No caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do Maranhão
que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para os ensinos
fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso público e
devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá ocorrer pelo
prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que esse prazo seja
contado do último concurso realizado para a investidura de professores. Desse modo, durante
o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que justificaria a contratação sem
concurso até que fosse concluído o certame.
STF. Plenário. ADI 3247/MA, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).
1.15. O menor sob guarda tem direito à pensão temporária por morte na Lei 8.112/90 – (Info 738)
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O menor que, na data do óbito do servidor, esteja sob a guarda deste último, tem direito à
pensão temporária até completar 21 anos de idade (art. 217, II, "b" da Lei nº 8.112/90).
Vale ressaltar que é irrelevante o fato de a guarda ser provisória ou definitiva.
STF. 1ª Turma. MS 31687 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/3/2014 (Info 738).
1.17. Lei estadual pode passar a exigir nível superior para cargo público, aumentando sua
remuneração – (Info 734)
É CONSTITUCIONAL Lei estadual que passa a exigir nível superior para determinado cargo
público (que antes era de ensino médio), determinando ainda o aumento da remuneração paga
para os ocupantes desse cargo, que irão agora receber como servidores de nível superior.
STF. Plenário. ADI 4303/RN, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/2/2014 (Info 734).
O Governador da Bahia editou um decreto prevendo que, em caso de greve, deverão ser
adotas as seguintes providências:
a) convocação dos grevistas a reassumirem seus cargos;
b) instauração de processo administrativo disciplinar;
c) desconto em folha de pagamento dos dias de greve;
d) contratação temporária de servidores;
e) exoneração dos ocupantes de cargo de provimento temporário e de função gratificada
que participarem da greve.
O STF decidiu que este Decreto é constitucional.
Trata-se de decreto autônomo que disciplina as consequências — estritamente
administrativas — do ato de greve dos servidores públicos e as providências a serem
adotadas pelos agentes públicos no sentido de dar continuidade aos serviços públicos.
A norma impugnada apenas prevê a instauração de processo administrativo para se
apurar a participação do servidor na greve e as condições em que ela se deu, bem como o
não pagamento dos dias de paralisação, o que está em consonância com a orientação
fixada pelo STF no julgamento do MI 708.
É possível a contratação temporária excepcional (art. 37, IX, da CF/88) prevista no decreto
porque o Poder Público tem o dever constitucional de prestar serviços essenciais que não
podem ser interrompidos, e que a contratação, no caso, é limitada ao período de duração
da greve e apenas para garantir a continuidade dos serviços.
STF. Plenário. ADI 1306/BA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 13/6/2017 (Info 906).
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37,
VII, da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica;
Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. O STF decidiu que,
mesmo sem ter sido ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores
públicos podem fazer greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para
os trabalhadores da iniciativa privada (Lei nº 7.701/88 e Lei nº 7.783/89). Nesse sentido: STF.
Plenário. MI 708, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.
Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda
comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração Pública a
que a categoria se encontre vinculada e à população, com antecedência mínima
de 72 horas (uma vez que todo serviço público é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades dos administrados (usuários ou destinatários dos
serviços) e à sociedade.
Caso os servidores públicos realizem greve, a Administração Pública deverá descontar da
remuneração os dias em que eles ficaram sem trabalhar?
✔ Regra: SIM. Em regra, a Administração Pública deve fazer o desconto dos dias de
paralisação decorrentes do exercício do direito de greve pelos servidores públicos.
✔ Exceção: não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi
provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).
Para que seja realizado o desconto dos dias não trabalhados, exige-se a instauração de
processo administrativo? NÃO. Não há necessidade de processo administrativo prévio
para realizar descontos na remuneração do servidor, em razão de dias parados
decorrentes de greve (STJ. 2ª T. AgInt no AREsp 780.209/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, j.
24/5/2016).
2.2. Compete à Justiça Comum (estadual ou federal) decidir se a greve realizada por
servidor público é ou não abusiva – (Info 871)
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37,
VII, da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica;
Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda
comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração Pública a
que a categoria se encontre vinculada e à população, com antecedência mínima
de 72 horas (uma vez que todo serviço público é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades dos administrados (usuários ou destinatários dos
serviços) e à sociedade.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).
A Justiça Comum será competente mesmo que se trate de empregado público (vínculo
celetista)? SIM. A Justiça Comum será competente mesmo que o vínculo do servidor com a
Administração Pública seja regido pela CLT, ou seja, ainda que se trate de empregado
público.
Sobre o tema, o STF fixou a seguinte tese:
A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade
de greve de servidores públicos celetistas da Administração pública direta,
autarquias e fundações públicas. STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min.
Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 1º/8/2017 (repercussão
geral) (Info 871).
Assim, a Justiça Comum é sempre competente para julgar causa relacionada ao direito de
greve de servidor público da Administração direta, autárquica e fundacional, pouco
importando se se trata de celetista ou estatutário.
Vale fazer, contudo, uma importante ressalva: se a greve for de empregados públicos de
empresa pública ou sociedade de economia mista, a competência será da Justiça do
Trabalho.
Estadual ou Federal
⮚ Se os servidores públicos que estiverem realizando a greve forem municipais ou
estaduais, a competência será da Justiça Estadual.
⮚ Se os servidores públicos grevistas forem da União, suas autarquias ou fundações, a
competência será da Justiça Federal.
2.3. Policiais são proibidos de fazer greve – (Info 860) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019)
O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais
civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.
É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas
das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do CPC, para vocalização dos
interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 5/4/17 (repercussão geral) (Info 860).
OBS:
Os policiais militares podem fazer greve? NÃO. A CF/88 proíbe expressamente que os
Policiais Militares, Bombeiros Militares e militares das Forças Armadas façam greve (art. 142,
3º, IV c/c art. 42, § 1º).
O art. 142, § 3º, IV, da CF/88 não menciona os policiais civis. Em verdade, não existe nenhum
dispositivo na Constituição que proíba expressamente os policiais civis de fazerem greve.
Diante disso, indaga-se: os policiais civis possuem direito de greve? NÃO. Apesar de não
haver uma proibição expressa na CF/88, o STF decidiu que os policiais civis não podem fazer
greve. Aliás, o Supremo foi além e afirmou que nenhum servidor público que trabalhe
diretamente na área da segurança pública pode fazer greve.
Carreira policial é carreira de Estado, essencial para a segurança pública: A carreira policial,
disciplinada pelo art. 144 da CF/88, tem como função exercer a segurança pública,
garantindo a “preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
A carreira policial é o braço armado do Estado para realizar a segurança pública e as Forças
Armadas são o braço armado do Estado para garantir a segurança nacional. Diante da
relevância de suas funções e considerando que se trata de uma atividade que não pode ser
exercida pela iniciativa privada, considera-se que a atividade policial é uma "carreira de
Estado". A atividade policial diferencia-se, contudo, de outras atividades essenciais, como
educação e saúde, porque ela não pode ser exercida por particulares. A segurança pública é,
portanto, atividade privativa do Estado. Vale ressaltar que, diante de suas peculiaridades, a
Constituição disciplinou as carreiras policiais de forma diferenciada, tratando delas em um
capítulo específico, distinto do capítulo dos servidores públicos.
Direito de greve é incompatível com a carreira policial: Não é possível compatibilizar que o
braço armado do Estado faça greve porque isso colocaria em risco a segurança pública, a
ordem e a paz social. Os integrantes das carreiras policiais possuem o dever de fazer
intervenções e prisões em flagrante, sendo isso inconciliável com o exercício da greve. Como
já afirmado, não há possibilidade de nenhum outro órgão da iniciativa privada suprir a
atividade policial. Se esta entra em greve, não há como sua função ser substituída. Vale
ressaltar que a atividade policial, além de ser importantíssima por si só, se for paralisada,
afetará também as atribuições do Ministério Público e do próprio Poder Judiciário.
Greve não é direito absoluto: A greve não é um direito absoluto e, neste caso, deverá ser feito
um balanceamento entre o direito de greve e o direito de toda a sociedade à segurança
pública e à manutenção da ordem pública e paz social. Neste caso, há a prevalência do
interesse público e do interesse social sobre o interesse individual de uma categoria. Por essa
razão, em nome da segurança pública, os policiais não podem fazer greve. Importante
destacar que a ponderação de interesses aqui não envolve direito de greve X continuidade do
serviço público. A greve dos policiais é proibida não por causa do princípio da continuidade
do serviço público (o que seria muito pouco), mas sim por conta do direito de toda a
sociedade à garantia da segurança pública, à garantia da ordem pública e da paz social.
Não se trata de aplicar por analogia o art. 142, § 3º, IV: É importante destacar que o STF
afirmou expressamente que, ao decidir que os policiais civis não possuem direito de greve,
não estava aplicando o art. 142, § 3º, IV, da CF/88 por analogia a eles. Não se trata, portanto,
de analogia. A greve é proibida por força dos princípios constitucionais que regem os órgãos
de segurança pública.
Carreira policial possui tratamento diferenciado: A pessoa que ingressa na carreira policial
sabe que estará integrando um órgão com regime especial, que possui regime de trabalho
diferenciado, escala, hierarquia e disciplina. Deve saber também que se trata de uma carreira
cuja atividade é incompatível com o direito de greve.
Estado de defesa e estado de sítio: Eventuais movimentos grevistas de carreiras policiais
podem levar à ruptura da segurança pública, o que é tão grave a ponto de permitir a
decretação do estado de defesa (art. 136 da CF/88) e se o estado de defesa, em 90 dias, não
responder ao anseio necessário à manutenção e à reintegração da ordem, será possível a
decretação do estado de sítio (art. 137, I).
Além dos policiais civis, os policiais federais também estão proibidos de fazer greve? SIM. O
STF entendeu que o exercício de greve é vedado a todas as carreiras policiais previstas no art.
144, ou seja, não podem fazer greve os integrantes da:
⮚ Polícia Federal;
⮚ Polícia Rodoviária Federal;
⮚ Polícia Ferroviária Federal;
⮚ Polícia Civil;
⮚ Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros militar.
Mediação: Apesar de os policiais não poderem exercer o direito de greve, é indispensável que
essa categoria possa vocalizar (expressar) as suas reivindicações de alguma forma. Pensando
nisso, o STF afirmou, como alternativa, que o sindicato dos policiais possa acionar o Poder
Judiciário para que seja feita mediação com o Poder Público, nos termos do art. 165 do CPC:
Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de
conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e
mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e
estimular a autocomposição.
Nesta mediação, os integrantes das carreiras policiais serão representados pelos respectivos
órgãos classistas (ex: sindicatos, no caso de polícia civil, federal etc.; associações, no caso de
polícia militar) e o Poder Público é obrigado a participar.
2.4. Administração Pública deve descontar os dias não trabalhados por servidor público em
greve – (Info 845) – IMPORTANTE!!! – (TJSP-2017) (TJBA-2019)
OBS:
Os servidores públicos possuem direito de greve? SIM. Isso se encontra previsto no art. 37,
VII, da CF/88:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei
específica;
Este inciso VII afirma que o direito de greve dos servidores públicos será exercido nos termos
e nos limites definidos em lei específica. Esta lei, até o presente momento, não foi editada.
Mesmo sem haver lei, os servidores públicos podem fazer greve? SIM. Mesmo sem ter sido
ainda editada a lei de que trata o art. 37, VII, da CF/88, os servidores públicos podem fazer
greve, devendo ser aplicadas as leis que regulamentam a greve para os trabalhadores da
iniciativa privada (Lei 7.701/88 e Lei 7.783/89). Nesse sentido: STF. Plenário. MI 708, Rel.
Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2007.
Quais são os requisitos para que os servidores públicos possam fazer greve? São requisitos
para a deflagração de uma greve no serviço público:
a) tentativa de negociação prévia, direta e pacífica;
b) frustração ou impossibilidade de negociação ou de se estabelecer uma agenda
comum;
c) deflagração após decisão assemblear;
d) comunicação aos interessados, no caso, ao ente da Administração Pública a
que a categoria se encontre vinculada e à população, com antecedência mínima
de 72 horas (uma vez que todo serviço público é atividade essencial);
e) adesão ao movimento por meios pacíficos; e
f) a garantia de que continuarão sendo prestados os serviços indispensáveis ao
atendimento das necessidades dos administrados (usuários ou destinatários dos
serviços) e à sociedade.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/10/16 (repercussão geral) (Info 845).
Greve é considerada pela lei como suspensão do contrato de trabalho: Os dias em que o
trabalhador fica afastado do serviço com o objetivo de participar da greve são considerados
pela legislação como período de suspensão do contrato de trabalho. Veja o que diz a Lei nº
7.783/89:
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve
suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o
período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça
do Trabalho.
O STF, no julgamento do MI 708, afirmou que este art. 7º deve ser aplicado nas greves
envolvendo servidores públicos.
Quando a Lei classifica a greve como hipótese de suspensão do contrato de trabalho, ela está
dizendo que não haverá trabalho, mas que também não haverá pagamento de salários.
Greve é um direito, mas que possui consequências: Segundo o STF, embora a grave seja
possível, porque é um direito constitucional, ela tem consequências. O desconto dos dias de
paralisação é o ônus inerente à greve, assim como a paralisação parcial dos serviços públicos
imposta à sociedade é consequência natural do movimento. Esse desconto dos dias parados
não tem finalidade disciplinar punitiva. Trata-se de um “afastamento” não remunerado do
servidor, na medida em que, embora autorizado pela CF/88, esta não lhe garantiu o
pagamento integral dos vencimentos. Assim, em razão da ausência de prestação específica do
serviço por parte do grevista, os descontos devem ser realizados.
O fato de ser permitido o desconto da remuneração, não faz com que, na prática, o STF esteja
dizendo que a greve no serviço público é proibida? NÃO. Ao admitir o desconto dos dias
paralisados, o STF não está negando o exercício do direito do servidor público de realizar
greve. A participação do servidor público em um movimento paredista é um direito seu, mas
esse direito possui limites e ônus, em especial, por se tratar o serviço público de atividade de
importância estratégica para o Estado em prol da sociedade.
Experiência de outros países: Na maioria dos países onde a greve no serviço público é
permitida, também ocorre o desconto da remuneração dos grevistas, o que tem mobilizado a
criação, inclusive, de fundos de greve, como é o caso do Reino Unido (“strike fund”), da
França e do Canadá (“fonds de grève”), da Espanha e de diversos países de língua espanhola
(“fondo de huelga”) e de Portugal (“fundos de maneio”).
É possível que a lei que venha a regulamentar o inciso VII do art. 37 preveja a greve no
serviço público como hipótese de interrupção (autorizando o pagamento da remuneração)?
SIM. O Min. Dias Toffoli afirmou que não existe vedação para que o Poder Legislativo
preveja na lei que vier a ser editada que o movimento grevista seja hipótese de interrupção
do vínculo.
Este entendimento de que deverá haver desconto na remuneração dos servidores grevistas já
era a posição do STF? SIM. Existem inúmeros julgados anteriores do STF no mesmo sentido.
Como exemplo, cite-se:
(...) Inexiste direito à restituição dos valores descontados decorrentes dos dias de
paralisação. Precedente. MI 708/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes. (...) STF. 2ª
Turma. AI 824949 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em
23/08/2011.
TST: O TST também vem considerando a greve como hipótese de suspensão contratual (art.
7º da Lei 7.783/89), de forma que os dias de paralisação não devem ser remunerados, salvo
situações excepcionais, tais como aquelas em que o empregador contribui, mediante conduta
recriminável, para que a greve ocorra, ou quando há acordo entre as partes. (TST, RO nº
1000229-73.2014.5.02.0000, Relatora a Ministra Dora Maria da Costa, Seção Especializada em
Dissídios Coletivos, DEJT 19/12/14).
Não poderá ser feito o desconto se ficar demonstrado que a greve foi provocada por conduta
ilícita do Poder Público: Considera-se assim aquelas circunstâncias em que o ente da
administração tenha contribuído, mediante conduta recriminável, para que a greve ocorresse.
Ex: não haverá desconto se a greve tiver sido provocada por atraso no pagamento aos
servidores públicos ou se houver outras circunstâncias excepcionais que justifiquem o
afastamento da premissa da suspensão da relação funcional ou de trabalho.
OBS:
Dessa forma, quando uma legislação nova surge, ela deverá respeitar as cláusulas do contrato
que estão em vigor até que o ajuste chegue ao seu termo final. Em caso de prorrogação,
contudo, é possível já exigir as novas condições, estando o concessionário livre para aceitar
ou não os novos termos contratuais. Não se pode falar neste caso que haja violação ao
equilíbrio econômico-financeiro do contrato considerando que ele já chegou ao fim e o que
se está discutindo é a sua prorrogação.
4. ANISTIADO POLÍTICA
4.1. O acórdão concessivo do MS que determina o pagamento retroativo dos valores
devidos a anistiado político deve incluir também os juros de mora e correção monetária –
(Info 940)
4.2. Pagamento dos valores retroativos a anistiados políticos – (Info 847 e Info 917) –
REPERCUSSÃO GERAL!!!
5. PROVIMENTO DERIVADO
5.1. É inconstitucional lei estadual que transforma cargo de Comissário de Polícia em
Delegado de Polícia – (Info 800)
Em 2001, foi editada uma lei estadual criando cargos e organizando a Polícia Civil de
determinado Estado. Nesta Lei foi previsto que, na estrutura da Polícia Civil, haveria
cargos de Delegado de Polícia e de Comissário de Polícia.
Ainda em 2001, foi realizado um concurso público, com provas específicas para cada um
desses cargos, e os aprovados nomeados e empossados.
Contudo, em 2004, houve duas leis modificando o cargo de Comissário de Polícia.
• a primeira delas afirmou que Comissário de Polícia seria autoridade policial,
juntamente com o Delegado de Polícia, equiparando a remuneração dos dois cargos.
• a segunda lei, transformando o cargo de "Comissário de Polícia" em "Delegado de
Polícia".
Essas duas leis foram impugnadas por meio de ADI e o STF decidiu que elas são
INCONSTITUCIONAIS porque representaram burla à exigência do concurso público.
As referidas leis fizeram uma espécie de ASCENSÃO FUNCIONAL dos Comissários de
Polícia porque transformaram os ocupantes desses cargos em Delegados de Polícia sem
que eles tivessem feito concurso público para tanto.
No caso concreto, os Ministros entenderam que, quando o cargo de Comissário de Polícia
foi criado, ele possuía diferenças substanciais em relação ao de Delegado de Polícia, o que
impediria a transformação mesmo sob o argumento de ser medida de racionalização
administrativa.
STF. Plenário. ADI 3415/AM, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 24/9/2015 (Info 800).
Não constitui requisito legal para a concessão de pensão por morte à companheira que a
união estável seja declarada judicialmente, mesmo que vigente formalmente o casamento.
Assim, é possível o reconhecimento de união estável de pessoa casada que esteja
comprovadamente separada judicialmente ou de fato, para fins de concessão de pensão
por morte, sem necessidade de decisão judicial neste sentido.
STF. 1ª Turma. MS 33008/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/5/2016 (Info 824).
6.2. Adoção de descendente maior com o único objetivo de deixar pensão por morte –
(Info 785)
PARIDADE
● Em regra, eles não têm direito à paridade com servidores em atividade;
● Exceção: terão direito à paridade caso se enquadrem na regra de transição prevista
no art. 3º da EC 47/2005.
INTEGRALIDADE
● Os pensionistas de servidor falecido posteriormente à EC 41/2003 não possuem
direito à integralidade (CF, art. 40, § 7º, I), não havendo regra de transição para
isso.
7. APOSENTADORIA ESPECIAL
7.1. Guardas municipais não têm direito à aposentadoria especial – (Info 907) –
IMPORTANTE!!!
7.2. Oficiais de justiça não têm direito à aposentadoria especial – (Info 789)
8.2. Lei estadual não pode conceder isenção de contribuição previdenciária para todos os
servidores aposentados e pensionistas que tiverem doença incapacitante – (Info 776)
9. SERVIDORES TEMPORÁRIOS
9.1. É constitucional a quarentena para recontratação de servidores temporários prevista
no art. 9º, III, da Lei 8.745/93 – (Info 869)
OBS:
Exceção ao princípio do concurso público: A CF/88 instituiu o “princípio do concurso
público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou
emprego público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na
verdade é uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional.
Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).
Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).
Servidores temporários: Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são
chamados de servidores temporários.
Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.
Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização
de prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os
melhores candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às
necessidades decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências
em saúde pública prescindirá de processo seletivo.
Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por
tempo determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se
respeite a autonomia administrativa dos entes.
⮚ Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
⮚ Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
⮚ Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.
É possível que, com fundamento no inciso IX, a Administração Pública contrate servidores
temporários para o exercício de atividades de caráter regular e permanente ou isso somente é
permitido para atividades de natureza temporária (eventual)? SIM.
O art. 37, IX, da CF/88 autoriza que a Administração Pública contrate pessoas,
sem concurso público, tanto para o desempenho de atividades de caráter
eventual, temporário ou excepcional, como também para o desempenho das
funções de caráter regular e permanente, desde que indispensáveis ao
atendimento de necessidade temporária de excepcional interesse público. STF.
Plenário. ADI 3068, Rel. p/ Ac. Min. Eros Grau, j. 25/08/04. STF. Plenário. ADI
3247/MA, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 26/3/14 (Info 740).
A natureza da atividade a ser desempenhada (se permanente ou eventual) não será o fator
determinante para se definir se é possível ou não a contratação de servidor com base no art.
37, IX, da CF/88.
Para saber se é legítima a contratação com base no art. 37, IX, deverão ser analisados dois
aspectos:
a) a necessidade da contratação deve ser transitória (temporária);
b) deve haver um excepcional interesse público que a justifique.
Ex.2: no caso concreto julgado pelo STF, estava sendo impugnada uma lei do Estado do
Maranhão que permite a contratação, com base no art. 37, IX, da CF/88, de professores para
os ensinos fundamental e médio, desde que não existam candidatos aprovados em concurso
público e devidamente habilitados. A Lei maranhense prevê que essa contratação deverá
ocorrer pelo prazo máximo de 12 meses e o STF conferiu interpretação conforme para que
esse prazo seja contado do último concurso realizado para a investidura de professores.
Desse modo, durante o período de 1 (um) ano, haveria necessidade temporária que
justificaria a contratação sem concurso até que fosse concluído o certame. STF. Plenário. ADI
3247/MA, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/3/2014 (Info 740).
Regra do art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93: No âmbito da administração pública federal, é vedada
a contratação temporária do mesmo servidor antes de decorridos 24 meses do encerramento
do contrato anterior. Tal regra está prevista no art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93:
Art. 9º O pessoal contratado nos termos desta Lei não poderá:
III - ser novamente contratado, com fundamento nesta Lei, antes de decorridos
24 (vinte e quatro) meses do encerramento de seu contrato anterior, salvo nas
hipóteses dos incisos I e IX do art. 2º desta Lei, mediante prévia autorização,
conforme determina o art. 5º desta Lei.
A regra do art. 9º, III, da Lei 8.745/93 é salutar porque evita que uma função temporária seja
transformada em algo ordinário. Dessa forma, o referido dispositivo é necessário e adequado
para preservar a impessoalidade do concurso público.
Assim, não configura ofensa à isonomia a previsão legal de proibição, por prazo
determinado, de nova contratação de candidato já anteriormente admitido em processo
seletivo simplificado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse
público.
Obs1: apesar de a redação da tese mencionar apenas “admissão de professor”, o certo é que o
art. 9º, III, é constitucional, razão pela qual a vedação existe para outros cargos. O que o STF
fez foi declarar constitucional o art. 9º, III, da Lei nº 8.745/93. Constou a menção expressa aos
professores porque o caso concreto julgado no RE abrangia essa categoria.
Obs2: vale ressaltar que inúmeras leis estaduais e municipais repetem a redação do art. 9º, III,
da Lei nº 8.745/93. Tais leis também são constitucionais.
9.2. Lei de contratação temporária não pode prever hipóteses genéricas nem a prorrogação
indefinida dos contratos – (Info 858)
São inconstitucionais, por violarem o art. 37, IX, da CF/88, a autorização legislativa
genérica para contratação temporária e a permissão de prorrogação indefinida do prazo de
contratações temporárias.
STF. Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 23/3/17 (Info 858).
OBS:
Exceção ao princípio do concurso público: A CF/88 instituiu o “princípio do concurso
público”, segundo o qual, em regra, a pessoa somente pode ser investida em cargo ou
emprego público após ser aprovada em concurso público (art. 37, II). Esse princípio, que na
verdade é uma regra, possui exceções que são estabelecidas no próprio texto constitucional.
Assim, a CF/88 prevê situações em que o indivíduo poderá ser admitido no serviço público
mesmo sem concurso. Podemos citar como exemplos:
a) cargos em comissão (art. 37, II);
b) servidores temporários (art. 37, IX);
c) cargos eletivos;
d) nomeação de alguns juízes de Tribunais, Desembargadores, Ministros de Tribunais;
e) ex-combatentes (art. 53, I, do ADCT);
f) agentes comunitários de saúde e agentes de combate às endemias (art. 198, § 4º).
Vamos estudar agora apenas a hipótese dos servidores temporários (art. 37, IX, da CF/88).
Servidores temporários: Os servidores que são contratados com base nesse fundamento são
chamados de servidores temporários.
Características: Para ser válida, a contratação com fundamento no inciso IX deve ser...
- feita por tempo determinado (a lei prevê prazos máximos);
- com o objetivo de atender a uma necessidade temporária; e
- que se caracterize como sendo de excepcional interesse público.
Processo seletivo simplificado: A contratação com base no inciso IX ocorre sem a realização
de prévio concurso público. A lei, no entanto, pode prever critérios e exigências a serem
observadas pelo administrador no momento de contratar. Ex.: a Lei 8.745/93, que rege o tema
em nível federal, exige, em regra, que os profissionais a serem contratados sejam submetidos
a uma espécie de processo seletivo simplificado (art. 3º), ou seja, um procedimento mais
simples que o concurso público, por meio do qual, no entanto, se possa selecionar os
melhores candidatos à função e de maneira impessoal. A contratação para atender às
necessidades decorrentes de calamidade pública, de emergência ambiental e de emergências
em saúde pública prescindirá de processo seletivo.
Lei de cada ente deverá reger o tema: Repare que o inciso IX fala que LEI estabelecerá os casos
de contratação. Não se trata de uma só lei. O que esse dispositivo está afirmando é que cada
ente da Federação deverá editar a sua própria lei prevendo os casos de contratação por
tempo determinado. Não poderia uma só lei dispor sobre o tema porque é preciso que se
respeite a autonomia administrativa dos entes.
⮚ Ex.1: no âmbito federal, a lei que rege o tema é a Lei 8.745/93.
⮚ Ex.2: em Goiás, quem traz as hipóteses é a Lei estadual 3.664/00.
⮚ Ex.3: em Manaus, a contratação por prazo determinado deverá observar a Lei
municipal 1.425/2010.
Lei que institua hipóteses abrangentes e genéricas é inconstitucional: O STF entende que a lei
do ente federativo regulamentando o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público. Além disso, essa
lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de emergência.
Exemplo: em um caso concreto, o STF analisou a constitucionalidade da LC 4/90, do Estado
do Mato Grosso, que dizia o seguinte:
Art. 263 Para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público,
poderão ser efetuadas contratações de pessoal por tempo determinado.
Art. 264 Consideram-se como de necessidade temporária de excepcional
interesse público as contratações que visem a: (...)
VI - atender as outras situações motivadamente de urgência.
Os Ministros entenderam que o referido inciso VI desse art. 264 permite, de forma muito
genérica, a contratação temporária de servidores, o que se mostra inconstitucional. STF.
Plenário. ADI 3662/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/3/2017 (Info 858).
O STF julgou inconstitucional essa parte final (em amarelo) do § 1º acima transcrito. Isso
porque ela permite a prorrogação indefinida do prazo de contratações temporárias, o que não
se coaduna com o art. 37, IX, da CF/88.
ATENÇÃO: neste caso concreto, o STF julgou inconstitucionais o inciso VI e o § 1º do art. 264
da LC 4/90-MT, mas modulou os efeitos da declaração de forma que somente irá surtir
efeitos um ano após a data da publicação da ata de julgamento. Em outras palavras, até lá, as
pessoas que estão contratadas temporariamente com base nesses dispositivos poderão
continuar trabalhando.
9.4. Lei que prevê hipóteses genéricas de contratação temporária é inconstitucional. Lei
que autoriza contratação temporária para projetos educacionais ordinários é inconstitucional
– (Info 829)
A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade
de vínculo jurídico-administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores
temporários (art. 37, IX, da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM
(estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que
houve desvirtuamento do vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na
CLT ou na lei do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).
O art. 19-A da Lei nº 8.036/90 deve ser aplicado também nas hipóteses em que a pessoa foi
contratada temporariamente, nos termos do art. 37, IX da CF/88?
A 1ª Turma do STF decidiu que SIM. O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS é
devido aos servidores temporários, nas hipóteses em há declaração de nulidade do contrato
firmado com a Administração Pública, consoante decidido pelo Plenário do STF, na análise
do RE 705.140-RG, Rel. Min. Teori Zavascki (STF. 1ª Turma. ARE 839606 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 11/11/2014).
É importante, no entanto, ressaltar que o STJ possui precedente mais antigo em sentido
contrário: STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no AREsp 45.467-MG, Rel. Min. Arnaldo Esteves
Lima, julgado em 5/3/2013 (Info 518).
Nos processos que tramitam no TCU não é necessária a intimação pessoal da data em que
será realizada a sessão de julgamento, bastando que essa informação seja publicada em
veículo de comunicação oficial (imprensa oficial).
STF. 2ª Turma. MS 28644/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 12/8/14 (Info 752).
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o
proprietário comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/16 (repercussão geral)
(Info 851).
OBS:
O STF também reafirmou que se trata de confisco. Veja o que disse o Ministro Gilmar
Mendes:
"O instituto previsto no art. 243 da CF não é verdadeira espécie de
desapropriação, mas uma penalidade imposta ao proprietário que praticou a
atividade ilícita de cultivar plantas psicotrópicas, sem autorização prévia do
órgão sanitário do Ministério da Saúde. Portanto, a expropriação é espécie de
confisco constitucional e tem caráter sancionatório."
Extensão da expropriação: A expropriação irá recair sobre a totalidade do imóvel, ainda que
o cultivo ilegal ou a utilização de trabalho escravo tenham ocorrido em apenas parte dele.
Nesse sentido: STF. Plenário. RE 543974, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 26/03/2009.
Não se exige que o proprietário tenha participado: Para que haja a sanção do art. 243, não se
exige a participação direta do proprietário no cultivo ilícito. No entanto, apesar disso, trata-se
de medida sancionatória, exigindo-se algum grau de culpa para sua caracterização. Assim,
mesmo que o proprietário não tenha participado diretamente, mas se agiu com culpa, deverá
ser expropriado. Isso porque a função social da propriedade gera para o proprietário o dever
de zelar pelo uso lícito do seu imóvel, ainda que não esteja na posse direta.
Mesmo tendo esse dever, poderá provar que não teve como evitar: Esse dever de zelar pelo
correto uso da propriedade não é ilimitado, só podendo ser exigido do proprietário que evite
o ilícito quando estiver ao seu alcance. Assim, o proprietário pode afastar sua
responsabilidade demonstrando que não incorreu em culpa. Ele pode provar, por exemplo,
que foi esbulhado ou até enganado pelo possuidor ou pelo detentor.
Se agiu com culpa, aplica-se o art. 243: Vale ressaltar, mais uma vez, que, se o proprietário
agiu com culpa, deverá ser expropriado. Essa culpa pode ser in vigilando ou in eligendo:
✔ Culpa in vigilando é a falta de atenção com a conduta de outra pessoa. Ocorre
quando não há uma fiscalização efetiva.
✔ Culpa in eligendo consiste na má escolha daquele a quem se confia a prática de um
ato. Também chamada de “responsabilidade pela má eleição”.
Desse modo, se o proprietário agiu com culpa in vigilando ou in eligendo, deverá incidir o
art. 243 da CF/88.
E se houver mais de um proprietário, o que fazer neste caso? Se o imóvel pertencer a dois ou
mais proprietários (condomínio), haverá a expropriação mesmo que apenas um deles tenha
participação ou culpa. Restará apenas ao proprietário inocente buscar reparação daquele que
participou ou teve culpa.
Ônus da prova: Importante destacar que cabe ao proprietário (e não à União) o ônus da
prova. Em outras palavras, caberá ao proprietário provar que não agiu com culpa.
OBS: O magistrado, com base no livre convencimento motivado, tem a liberdade de deixar
de considerar as conclusões do laudo pericial desde que faça isso de forma fundamentada.
Isso está previsto no art. 479 do CPC 2015:
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto no art. 371,
indicando na sentença os motivos que o levaram a considerar ou a deixar de
considerar as conclusões do laudo, levando em conta o método utilizado pelo
perito.
Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do
sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de
seu convencimento.
Ao tecer comentários sobre este art. 479, Daniel Amorim Assumpção Neves explica que:
"O sistema de valoração das provas, adotado pelo sistema processual brasileiro,
é o da persuasão racional, também chamado de livre convencimento motivado.
Significa dizer que não existem cargas de convencimento pré-estabelecidas dos
meios de prova, sendo incorreto afirmar abstratamente que determinado meio
de prova é mais eficaz no convencimento do juiz do que outro. Com inspiração
nesse sistema de valoração das provas, o art. 479 do Novo CPC prevê que o juiz
não está adstrito ao laudo pericial, podendo se convencer com outros elementos
ou fatos provados no processo." (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo
CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 784).
11.4. TOMBAMENTO: Ato do Poder Legislativo que efetiva o tombamento e que pretenda
alterar as condições de tombamento regularmente instituído pelo Poder Executivo
As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União (art. 20, XI, da CF/88)
e, portanto, não podem ser consideradas como terras devolutas de domínio do
Estado-membro.
STF. Plenário. ACO 362/MT e ACO 366/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16/8/17 (Info 873).
OBS:
Terras devolutas: Terras devolutas são aquelas que não tem nenhuma utilização pública
específica e que não se encontram, por qualquer título, integradas ao domínio privado. As
terras devolutas pertencem, em regra, aos Estados-membros, com exceção daquelas
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias
federais de comunicação e à preservação ambiental, que são de propriedade da União (art. 20,
II).
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: O Estado de Mato Grosso ajuizou
contra a União e a Funai ação ordinária de indenização por desapropriação indireta, sob a
alegação de que as rés teriam incluído, dentro do perímetro de áreas indígenas, terras
devolutas que pertenceriam ao Estado autor. Em outras palavras, Mato Grosso alegou que a
União, no momento de fazer a demarcação de terras indígenas, utilizou parte de terras
devolutas que pertenceriam ao Estado, razão pela qual ele deveria ser indenizado por isso.
O pedido foi aceitou pelo STF? NÃO. O STF julgou improcedente a ação.
Os laudos antropológicos juntados aos autos deixaram claro que as áreas em questão eram
habitadas historicamente por indígenas. Diante disso, o STF reconheceu que a titularidade
das terras não é do Estado do Mato Grosso, sendo indevida, portanto, a indenização
pleiteada.
Vale ressaltar que, desde a Constituição de 1934 é reconhecida a proteção da posse dos
indígenas das terras que tradicionalmente ocupam. Assim, desde a Carta de 1934, não se
pode caracterizar as terras ocupadas pelos indígenas como devolutas.
A EC 46/05 não interferiu na propriedade da União, nos moldes do art. 20, VII, da
Constituição Federal, sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados em ilhas
costeiras sede de Municípios.
STF. Plenário. RE 636199/ES, Rel. Min. Rosa Weber, j. 27/4/17 (repercussão geral) (Info
862).
A Lei 11.952/2009 trata sobre a regularização fundiária das ocupações incidentes em terras
situadas em áreas da União, no âmbito da Amazônia Legal.
O STF deu intepretação conforme ao art. 4º, § 2º da Lei para dizer que é inconstitucional
qualquer interpretação que permita a regularização fundiária das terras ocupadas por
quilombolas e outras comunidades tradicionais da Amazônia Legal em nome de terceiros
ou de forma a descaracterizar o modo de apropriação da terra por esses grupos. Em outras
palavras, os quilombolas e outras comunidades tradicionais não podem perder suas terras
em caso de regularização fundiária.
O STF também deu intepretação conforme ao art. 13 da Lei para afastar quaisquer
interpretações que concluam pela desnecessidade de fiscalização dos imóveis rurais até
quatro módulos fiscais, devendo o ente federal utilizar-se de todos os meios referidos em
suas informações para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização dos
propósitos da norma para, somente então, ser possível a dispensa da vistoria prévia, como
condição para a inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal. Em outras palavras, a União deve
utilizar-se de todos os meios para assegurar a devida proteção ambiental e a concretização
dos propósitos da norma, para somente então ser possível a dispensa da vistoria prévia
como condição para inclusão da propriedade no programa de regularização fundiária de
imóveis rurais de domínio público na Amazônia Legal.
STF. Plenário. ADI 4269/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 18/10/2017 (Info 882).
OBS:
Art. 4º (...)
§ 2º As terras ocupadas por comunidades quilombolas ou tradicionais que
façam uso coletivo da área serão regularizadas de acordo com as normas
específicas, aplicando-se-lhes, no que couber, os dispositivos desta Lei.
OBS:
Acordo de leniência: A Lei 12.846/13 prevê a possibilidade de a pessoa jurídica que praticar
ato lesivo à administração pública celebrar um “acordo de leniência” para abrandar a sua
punição. O acordo de leniência é uma espécie de “colaboração premiada”.
Quais são os requisitos para que o acordo seja celebrado? Para que o acordo de leniência seja
celebrado deverão ser preenchidos, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - a pessoa jurídica seja a primeira a se manifestar sobre seu interesse em
cooperar para a apuração do ato ilícito;
II - a pessoa jurídica cesse completamente seu envolvimento na infração
investigada a partir da data de propositura do acordo;
III - a pessoa jurídica admita sua participação no ilícito e coopere plena e
permanentemente com as investigações e o processo administrativo,
comparecendo, sob suas expensas, sempre que solicitada, a todos os atos
processuais, até seu encerramento.
A colaboração da pessoa jurídica precisa ser eficaz? SIM. É necessário que a pessoa jurídica
colabore efetivamente com as investigações e com o processo e dessa colaboração deve
resultar:
I - a identificação dos demais envolvidos na infração, quando couber; e
II - a obtenção célere de informações e documentos que comprovem o ilícito sob
apuração.
No acordo de leniência serão estipuladas as condições necessárias para que seja assegurada a
efetividade da colaboração e o resultado útil do processo.
O Ministério Público pode celebrar acordo de leniência? Existe uma polêmica sobre isso. O
art. 16, § 10 da Lei 12.846/13 afirma que “a Controladoria-Geral da União - CGU é o órgão
competente para celebrar os acordos de leniência no âmbito do Poder Executivo federal, bem como no
caso de atos lesivos praticados contra a administração pública estrangeira.” A posição que
prevalece, contudo, é a de que, mesmo no silêncio da Lei, o Ministério Público pode sim
fazer o acordo de leniência porque isso decorre do art. 129 da CF/88.
Cuidado para não confundir: Existe um acordo de leniência que é previsto na Lei
12.529/2011. Ele é diferente do que estamos estudando aqui. O acordo de leniência da Lei
12.529/11 “é um instrumento de defesa da concorrência por meio do qual um ou mais
agentes que praticaram infração à ordem econômica cooperam voluntariamente com as
investigações em troca de redução da pena ou até mesmo do perdão total. Trata-se de
instituto equivalente à delação premiada do direito penal." (RAMOS, André Luiz Santa
Cruz; GUTERRES, Thiago Martins. Lei Antitruste. Salvador: Juspodivm, 2015, p. 163).
A Lei 12.514/11, que trata sobre as contribuições (anuidades) devidas aos Conselhos
Profissionais, é constitucional.
Sob o ponto de vista formal, esta Lei, apesar de ser fruto de uma MP que originalmente
dispunha sobre outro assunto, não pode ser declarada inconstitucional porque foi editada
antes de o STF declarar ilegítima a prática do “contrabando legislativo” (ADI 5127/DF).
Ainda quanto ao aspecto formal, esta Lei não trata sobre normas gerais de Direito
Tributário, motivo pelo qual não precisava ser veiculada por lei complementar.
Sob o ponto de vista material, a Lei respeitou os princípios da capacidade contributiva, da
vedação ao confisco e da legalidade.
STF. Plenário. ADI 4697/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 06/10/16 (Info 842).
OBS:
Qual é a natureza jurídica dos Conselhos Profissionais (exs.: CREA, CRM, COREN, CRO
etc.)? Os Conselhos Profissionais possuem natureza jurídica de autarquias federais. Exceção:
a OAB que, segundo a concepção majoritária, é um serviço público independente, categoria
ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro.
Anuidades: Os Conselhos podem cobrar um valor todos os anos dos profissionais que
integram a sua categoria. A isso se dá o nome de anuidade (art. 4º, II, da Lei 12.514/11). Veja o
que diz também a Lei nº 11.000/2004:
Art. 2º Os Conselhos de fiscalização de profissões regulamentadas são
autorizados a fixar, cobrar e executar as contribuições anuais, devidas por
pessoas físicas ou jurídicas, bem como as multas e os preços de serviços,
relacionados com suas atribuições legais, que constituirão receitas próprias de
cada Conselho.
Exercem atividade tipicamente pública: Esses Conselhos são criados por lei e possuem
personalidade jurídica de direito público, exercendo uma atividade tipicamente pública, qual
seja, a fiscalização do exercício profissional. Os Conselhos são dotados de poder de polícia e
poder arrecadador. STF. 1ª Turma. MS 28469, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/06/2015.
Qual é a natureza jurídica dessas anuidades? Tais contribuições são consideradas tributo,
sendo classificadas como “contribuições profissionais ou corporativas”, estando prevista no
art. 149 da CF/88:
Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de
intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias profissionais
ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas,
observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto
no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo.
Fato gerador: O fato gerador das anuidades é a existência de inscrição no conselho, ainda que
por tempo limitado, ao longo do exercício (art. 5º da Lei nº 12.514/2011).
Exceção: OAB. O STF decidiu que a OAB, quando vai contratar seus empregados, não
precisa realizar concurso público (STF ADI 3026).
(MPGO-2016): Os Conselhos de fiscalização profissional, por possuírem natureza jurídica
de autarquia corporativa, devem se submeter aos princípios constitucionais concernentes
à Administração Pública, inclusive o da exigência de realização de concurso público para
contratação de pessoal. BL: STF, MS 28469 e RE 758168 AgR.
33.5. Para o exercício de toda e qualquer profissão, é necessário que a pessoa se inscreva
no respectivo Conselho Profissional (ex: o músico é obrigado a se inscrever na Ordem dos
Músicos do Brasil)? – (Sem Info) – (MPDFT-2013)
34.2. CTB pode exigir a quitação do pagamento dos tributos, encargos e multas como condição
para que o veículo possa circular – (Info 937)
O CTB prevê que só poderá ser expedido novo certificado de registro de veículo e novo
certificado de licenciamento anual se ficar comprovado o pagamento dos débitos relativos a
tributos, encargos e multas vinculadas ao veículo, independentemente da responsabilidade
pelas infrações cometidas (arts. 124, VIII, 128, e 131, § 2º). Tais dispositivos são constitucionais
e não limitam o direito de propriedade. Além disso, não se constituem em sanções políticas.
STF. Plenário. ADI 2998/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, j.
10/04/2019 (Info 937).
35. FUNDEF
35.1. União deverá indenizar Estados prejudicados com o cálculo incorreto do VMNA – (Info
964)
35.2. União deverá indenizar Estados prejudicados com o cálculo incorreto do VMNA – (Info
876)
O valor da complementação da União ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) deve ser calculado com base no valor
mínimo nacional por aluno extraído da média nacional.
A complementação ao Fundef realizada a partir do valor mínimo anual por aluno fixada em
desacordo com a média nacional impõe à União o dever de suplementação de recursos,
mantida a vinculação constitucional a ações de desenvolvimento e manutenção do ensino. Em
outras palavras, os Estados prejudicados com o cálculo incorreto do valor mínimo nacional por
aluno deverão ser indenizados por conta do montante pago a menor a título de
complementação pela União no período de vigência do FUNDEF, isto é, nos exercícios
financeiros de 1998 a 2007.
Essa indenização abrange apenas os danos materiais, não sendo devidos danos morais
coletivos por conta desse repasse a menor.
STF. Plenário. ACO 648/BA, ACO 660/AM, ACO 669/SE e ACO 700/RN, rel. orig. Min. Marco
Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j. 6/9/2017 (Info 876).