AS FACES DO DIABO, DO DISCURSO TEOLÓGICO AO IMAGINÁRIO POPULAR
A pesquisa se constitui da relação entre as representações do diabo, construídas no período
medieval, e o imaginário cristão de católicos, protestantes e espíritas. A pesquisa terá como recorte espacial a cidade de São João do Jaguaribe, interior do Ceará. É fato que o diabo, paradoxalmente, representa uma das figuras principais das religiões ditas cristãs. Mas, ao observarmos, brevemente, as representações desse mesmo personagem, em diferentes temporalidades, poderemos constatar as diversas nomenclaturas, faces e funções que, historicamente, foi sendo construída imagética e discursivamente sobre a personalidade do diabo. Pretendo, portanto, escavar as imagens e discursos através dos quais a Igreja Católica medieval representou e disseminou no imaginário dos cristãos a figura do diabo como uma entidade poderosa que habita as trevas e se manifesta no cotidiano dos homens/mulheres através de uma moral dualista que se baseia no conflito primordial entre o bem e o mal. Buscarei entender quais as intencionalidades da Igreja Católica medieval ao construir as diversas representações do diabo? Tomando como referência os cristãos de São João do Jaguaribe, através de quais imagens e sentidos a figura desse personagem se faz presente no imaginário popular? A importância dessa pesquisa se justifica pelo fato do diabo ainda ser, na nossa contemporaneidade, um personagem imagética e discursivamente presente nas relações sociais cotidianas, seja através de um simples e jocoso ditado popular, seja através de uma relação de poder através do mistério e do medo, ou por está presente em mídias de entretenimento como filmes, músicas, jogos, entre outros, o que se torna inegável é que ele se faz presente ainda no nosso cotidiano e a sua imagem encontra um ponto de convergência entre todos os imaginários dos sujeitos, o elo com o que é mal por excelência, sejam esses males os mais diferentes possíveis. No primeiro capítulo é onde mais usarei pinturas e artes em geral como fonte, pois pretendo trazer para palco de reflexão o fato comum e muito bem esmiuçado pela revista inspiração, de que a maioria, quiçá todas as religiões, independente de sua época parecem ter essa necessidade em comum de construir uma figura que de alguma forma representa e habita mal, o responsável pelos males que afligem os homens, pelas secas, pelas pragas, pelas mortes, pelas doenças e etc. porém meu objeto de pesquisa não abarca todas essas compreensões das figuras do mal, e como me quero me ater a figura ocidental e cristã do mal, o Anjo caído Lúcifer, me desfaço da sua importância para moral e a hagiografia cristã e me atenho às representações construídas sobre o mesmo, indagando possibilidades dessas representações terem sido construídos com um fim não aleatório, mas guiado e com um sentido lógico pela instituições religiosas que detinham o conhecimento da bíblia, a igreja católica. Pretendo trazer referências da própria bíblia cristã que narra tempos diferentes e assim também narra o diabo como personagens diferentes, com funções, sentidos e temperamentos diferentes. no segundo capitulo nesse capitulo pretendo trazer a debater problematica central da pesquisa que é a construção deste personagem do medo, do mal como instrumento de controle da propria igreja, tendo como principal fonte até o momento o livro “ o martelo das feiticeiras” escrito em 1487 por dois inquisidores, que por mais tenha sido um livro condenado pela universidade ao qual foi submetido, o livro foi esscrito com a intencionalidade para ser um manual de combate as forças do mal e aos agentes de satã, nas praticas de repressão a aqueles que a igreja condenava como ameaças aos dogmas da igreja, dessa forma os discursos que compõe o martelo das feiticeiras, foram foram adiquiridos mediante a tortura que era legitimada pela propria inquisição, partindo de uma premissa talvez um pouco cética, indago se a maioria desses discursos mirabolantes que são realmente demasiadamente mirabolantes, não seriam mentiras contadas pelos torturados afim de saciar a sede justiça dos inquisidores e sessar as praticas de tortura e interrogatório ou até mesmo se não era sensacionalismo de algumas seitas religiosas consideradas hereticas pela igreja, independente de qual alternativa responda minha indagação, .prossigo a afirmar que esses discursos contribuiram bastante para construir toda uma mentalidade naquela sociedade sobre qualquer coisa que fizesse referencia ao sobrenatural, uma mentalidade do medo, da repulsa, da angustia, não só sobre a imagem do diabo, mas também aqueles grupos que a igreja condenava como agentes de satã que também terão suas relações caóticas com a igreja analisadas. No terceiro e último capítulo, construído um debate sobre a construção desse personagem da maneira como foi na idade média, buscarei reminiscências desses pensamentos no cotidiano atual de sujeitos religiosos de São João do Jaguaribe, que tem uma população idosa majoritariamente católica, e em contrapartida o protestantismo se faz incrivelmente presente nos sujeitos mais jovens e adultos, tendo também a presenças dos sujeitos espíritas nesses sujeitos mais jovens. Dessa forma podemos concluir, uma cidade dita religiosa, onde a presença do dualismo fundamental cristão (conflito entre o bem eo mal) se faz presente bem como suas representações finais, o Deus e o Diabo cristão.