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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.

0135 ISBN: 978-65-89463-30-6

XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica


IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

ESTUDO DA ARTE DE INSTRUMENTAÇÃO GEOTÉCNICA,


MODOS DE FALHA E RECOMENDAÇÕES PARA
AUSCULTAÇÃO

Davidson Miguel Avelar de Oliveira


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, eng.davidson@hotmail.com

Camila Aparecida Lebron Xavier da Silva


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, camila.lebron@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem como principal objetivo apresentar o estudo da arte para monitoramento de
barragens de terra e correlacionar os propósitos de auscultação aos os principais modos de falhas associados.
Para tanto, a metodologia compreende: (i) revisão literaria dos modos de falha e instrumentação para barragens
de terra; e (ii) correlação entre modos de falha, propositos de monitoramento, instrumentações sugeridas e
recomendações. Foram avaliados os principais critérios para definição da instrumentação, os possíveis modos
de falha associados e parâmetros de saída fornecido pelos insrumentos avaliados. Portanto, este trabalho
possibilita entender a funcionalidade e propósitos da instrumentação, a fim de direcionar a uma escolha mais
acertiva dos instrumentos e tecnologias aplicáveis.

PALAVRAS-CHAVE: Instrumentação, Modos de Falha, Recomendações

ABSTRACT: The aim of this work is to present the state of the art for monitoring earth dams and to correlate
the auscultation purposes with the main associated failure modes. Thus, the methodology covers: (i) literature
review of failure modes and instrumentation for earth dams; and (ii) correlation between failure modes,
monitoring purposes, suggested instrumentation and recommendations. Were assessed the main criteria for
defining the instrumentation, the possible associated failure modes and output parameters provided by the
evaluated instruments. Therefore, this work allows to understand the functionality and purposes of the
instrumentation in order to lead to a more accurate choice of the applicable instruments and technologies.

KEYWORDS: Instrumentation, Failure Modes, Recommendations

1 Introdução

O monitoramento de barragens de terra é uma atividade essencial para avaliação contínua da


performance de estruturas geotécnicas e permite definir de forma rotineira a segurança de barragens de
mineração. Neste sentido, a Portaria nº 70.389/2017 da Agência Nacional de Mineração (ANM) estabelece a
necessidade de monitoramento de barragens e, ainda, a obrigatoriedade de monitoramento em tempo integral
para estruturas com Dano Potencial Associado (DPA) alto, características técnicas das estruturas e/ou
existência de população a jusante. Segundo Cerqueira (2017), o monitoramento é, de forma geral, estruturada
no controle dos deslocamentos de superfície e em profundidade, no controle da variação dos níveis d’água,
vazões e pressões da água represada em reservatórios e percolada através dos maciços, dos aterros, do solo
natural e das diversas formações geológicas no subsolo, e no controle das variações em tensões e deformação
às quais estas estruturas estão submetidas ao longo do tempo.
Segundo Peck (1984), a instrumentação não deve ser utilizada a não ser que haja uma razão lógica para
tal. É sabido que a instrumentação de uma barragem por si só não diminui seus riscos inerentes, porém, a
instrumentação bem concebida, de modo a permitir confirmar parâmetros estabelecidos em projeto e observar
incertezas existentes permite a tomada de decisões que auxiliam na segurança de uma estrutura geotécnica.

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Conforme Dunnicliff (2017), todo instrumento em um projeto deve ser selecionado e alocado para auxiliar em
responder perguntas específicas: se não há pergunta, não deverá existir instrumentação.
Tendo em vista a necessidade e importância de monitoramento de barragens de terra, este trabalho tem
como principal objetivo apresentar o estudo da arte dos principais instrumentos de auscultação e dos modos
de falhas associados a barragens de terra e através da consolidação do estudo da arte apresentar uma correlação
entre os modos de falhas de barragens de terra, propóositos de monitoramento, instrumentos de auscultação e
recomendações quanto à instrumentação. Assim, este trabalho apresenta orientações quanto à definição da
instrumentação de barragens de terra que deve ser avaliada conforme criticidade de cada estrutura.

2 Metodologia

A metodologia para realização deste trabalho compreende as seguintes etapas: (i) revisão literária dos
principais mecanismos de falhas associados a barragens de terra; (ii) revisão literária dos principais
instrumentos tradicionais de monitoramento de barragens de terra; (iii) correlação entre os modos de falha
associados a barragens de terra, proposito de monitoramento, instrumentos indicados, recomendações e níveis
de controle e referência, a luz do estudo da arte definido nas etapas (i) e (ii).

3 Modos de Falha de Barragens de Terra

Os principais modos de falha recorrentes em barragens são: galgamento, instabilização, erosão interna
e, menos frequente, liquefação. Em barragens de terra, o modo de falha galgamento é a causa predominante
de ruptura. A instabilização também é um modo de falha representativo para barragens de terra devido ao
material não apresentar elevado ângulo de atrito e, consequentemente, menor resistência, se comparadas a
barragens de terra e enrocamento e de concreto.
A erosão interna é o modo de falha que merece atenção, já que seu monitoramento se torna difícil devido
à dificuldade em instrumentá-la. A seguir são feitas algumas considerações sobre esse modo de falha em
diferentes regiões de uma barragem de terra: (i) Erosão interna pelo barramento: há necessidade de
implantação de filtros e transições adequados para a estrutura. Deve ser dada atenção para não criar zonas mais
permeáveis no interior do maciço, o que pode ser feito por meio de controle da compactação e tratamento de
juntas construtivas; (ii) Erosão interna do maciço devido a trincas transversais: estas trincas podem ocorrer
devido a recalque diferenciais ao longo do eixo da barragem; (iii) Erosão interna do maciço para a fundação:
deve ser dada atenção para a execução da fundação no maciço em trechos com descontinuidades abertas na
rocha de fundação; (iv) Erosão por fluxo concentrado no contato com as ombreiras: devido ao recalque do
maciço, podem surgir trincas de tração no contato com as ombreiras, criando caminhos de percolação
montante-jusante; (v) Erosão interna no fundo de vales: também ocorre devido ao recalque do maciço, podendo
ocorrer o arqueamento de tensões no fundo do vale e gerando regiões de tensão efetiva reduzida ou até mesmo
nula.
As barragens de terra também são alvo do modo de falha por liquefação, em menor proporção e a
depender do material utilizado e do modo de construção, sendo mais comum a ocorrência em barragens
construídas com rejeitos de mineração e alteadas pelo método de montante. De todo modo, vale destacar que
esse modo de falha consiste na redução abrupta da resistência efetiva e rigidez do solo quando da ação de
forças cíclicas ou monotônicas. Esse fenômeno se manifesta geralmente em materiais saturados com tendência
de contração de volume quando submetidos a tensões cisalhantes. Como os poros encontram-se totalmente
preenchidos de água durante o esforço, o tempo para ocorrer a drenagem é maior do que o tempo de aplicação
do carregamento. Desse modo, a contração do material nessa condição não-drenada ocasiona no aumento da
poropressão e consequente diminuição da tensão efetiva.

4 Instrumentação de Barragens de Terra

Os principais parâmetros a serem monitorados em uma barragem de terra se relacionam com as


deformações e com a percolação de água pelo maciço/ombreiras e fundação. A seguir serão apresentados os
principais instrumentos para monitorar essas grandezas.

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4.1 Instrumentação para monitoramento de nível de água e piezometria

Os medidores de nível d’água permitem a determinação do nível freático, ou seja, a superfície que
delimita a zona de saturação da zona de aeração do solo, na qual a pressão corresponde à atmosférica. Trata-
se de um tubo perfurado em toda sua extensão, envolto por um material filtrante e outro drenante e um “selo”
para vedação do espaço entre o tubo e o furo, conforme a Figura 1a. A leitura pode ser efetuada com o auxílio
de um dispositivo constituído de um sensor que emite som quando em contato com a água, denominado pio
elétrico. Tal instrumento também pode ter as leituras realizadas por meio de sistema automatizado. Deve-se
tomar cuidado na alocação desse tipo de instrumento em maciços heterogêneos, pois, quando as camadas da
estrutura não são homogêneas, seus coeficientes de permeabilidade serão diferentes e o nível d’água indicado
no instrumento pode não ser tão representativo. Segundo Silveira (2006), a instalação de uma tubulação
perfurada através de duas ou mais camadas, mesmo que protegidas por toda a extensão da tubulação, criará
uma conexão vertical indesejável entre essas camadas, e o nível d’água no interior do tubo indicará usualmente
um valor errôneo.
Os piezômetros são instrumentos empregados na medição das poropressões no interior de um maciço
ou de pressões na fundação. Existem diversos tipos de piezômetros que foram desenvolvidos ao longo do
tempo para o monitoramento de barragens, porém os mais usuais, conforme apresentado por Silveira (2006),
são listados a seguir: (i) piezômetros de tubo aberto (também denominados tipo Casagrande ou Standpipe):são
instrumentos mais robustos (Figura 1b), de simples instalação e leitura, baixo custo de instalação e vida útil
compatível com a da barragem. Trata-se de um tubo inserido em um furo de sondagem, possuindo uma célula
perfurada na sua porção inferior. Suas principais vantagens são a confiabilidade dos dados fornecidos e longa
durabilidade. A sua principal desvantagem está relacionada ao alto tempo de resposta quando instalados em
solos com baixa permeabilidade; (ii) Piezômetros de resistência elétrica (PE): instrumentos que possuem um
diafragma onde são fixados extensômetros elétricos de resistência, que, quando submetido a uma pressão
externa, sofre flexão provocando deformações nos extensômetros e variação da resistência, emitindo um sinal
elétrico. São instrumentos que têm como característica a possibilidade de realização de medições dinâmicas,
com registro contínuo de dados, já que apresentam tempo de resposta à pressão aplicada praticamente
instantâneo. A vida útil informada pelos fabricantes é usualmente de 30 anos e podem ser utilizados na
automação de piezômetros de tubo aberto; (iii) Piezômetros de corda vibrante (PW): esses instrumentos medem
a poropressão a partir da deformação de um diafragma interno, cuja deflexão é medida por um sensor de corda
vibrante. São instrumentos precisos, sensíveis, e podem ser lidos à distância e integrados a sistemas
automáticos de aquisição de dados. No entanto, possuem vida útil limitada (também informado pelos
fabricantes como em torno de 30 anos) e estão suscetíveis à alteração dos parâmetros de calibração que ocorre
ao longo do tempo.

(c)
(a) (b)
Figura 1. Instrumentos de monitoramento de percolação. (a) Indicador de Nível d'Água; (b) piezômetro de
tubo aberto; (c) Piezômetros de corda vibrante. Fonte: Cruz (1996) e Geokon, disponível em
https://www.geokon.com/content/datasheets/4500_Series_VW_Piezometers.pdf.

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Os medidores de vazão tem como principal finalidade medir as vazões dos drenos e determinar as vazões
de percolação pelo maciço e fundação. É uma das primeiras observações realizadas para supervisão da
condição de segurança de uma barragem. Sabe-se que, embora uma barragem tenha como objetivo barrar um
fluxo natural e reservar grandes volumes de fluidos, ela não é uma estrutura estanque. Portanto, a medição e o
controle das percolações a que esse tipo de estrutura está suscetível são de extrema relevância para o
monitoramento de seu desempenho. Conforme Silveira (2006), há dois principais tipos de medidores de vazão,
a saber: medidor de vazão de chapa delgada e calha tipo Parshall. Segundo Melo Porto (2001), os medidores
de vazão triangulares e retangulares não são recomendados para condições de cargas altas, em geral superiores
a 50 cm. Para a medição de grandes vazões os instrumentos mais indicados são os medidores trapezoidais de
vazão e a calha tipo Parshall.

4.2 Instrumentação para monitoramento de deslocamentos, deformações e inclinações

Os principais instrumentos e tecnologias usualmente utilizados para monitoramento de deslocamentos,


deformações e inclinações são: (i) marcos topográficos; (ii) prismas; (iii) radares terrestres; (iv) radares
orbitais; (v) inclinômetros; e (vi) medidores de recalque. Para a observação dos recalques e deslocamentos da
estrutura, os marcos superficiais e/ou prismas são instalados ao longo de suas bermas e crista e as leituras dos
recalques e deslocamentos são realizadas em relação a uma referência indeslocável (benchmark) por meio de
estações topográficas. O monitoramento através de marcos topográficos apresentam baixo custo e facilidade
de instalação e manutenção, porém há a necessidade da presença de equipe de topografia para a realização das
leituras, a impossibilidade de acompanhamento em tempo real, a imprecisão das leituras em dias ensolarados,
a impossibilidade do monitoramento em dias chuvosos e a facilidade de danos, por acidentes ou vandalismo,
uma vez que o instrumento fica exposto. O monitoramento através de prismas tem como benefício a
possibilidade de instalação de Estação Total Robotizada (ETR) o que permite o monitoramento em tempo
integral.
O medidor de recalque é um instrumento empregado para a medição dos recalques internos de maciços.
O tipo mais empregado atualmente é o medidor de recalque magnético. É constituído basicamente por anéis
magnéticos instalados sobre uma mesma guia vertical (tubo de PVC rígido), que serve de guia para a sonda ou
torpedo que realiza as leituras. Os anéis são confeccionados em aço imantado de modo a permitir a geração de
campos magnéticos necessários para que a sonda ou torpedo determine sua localização. As placas são
instaladas durante a obra, com a subida do aterro, e deve ser instalada uma âncora inferior, em ponto
considerado indeslocável, que será a referência para as medidas.As leituras são realizadas por meio de trena
graduada acoplada ao torpedo de leitura introduzido dentro do tubo guia e que, ao atingir a posição de uma
placa, faz com que o campo magnético do imã ali instalado acione um contado dentro do sensor de leituras.
Desse modo, a trena de leituras na superfície emite um sinal sonoro e luminoso, permitindo a realização das
medições. Os deslocamentos verticais das placas são definidos por comparação entre as leituras e é possível
determinar o deslocamento em cada trecho entre placas subtraindo os deslocamentos entre placas consecutivas.
Os inclinômetros são utilizados no monitoramento de movimentos horizontais, permitindo a avaliação
da estabilidade de taludes em barragens e demais obras. São normalmente utilizados em maciços onde haja
necessidade de se monitorar movimentos cisalhantes ou de tombamento. O instrumento é composto por tubos
guias, providos de ranhuras posicionadas perpendicularmente. Os tubos são adequadamente direcionados
durante a instalação, de forma que as ranhuras do eixo sejam posicionadas na direção do movimento esperado.
As leituras são realizadas por meio do posicionamento de um torpedo no tubo guia até sua base e erguido
lentamente, de modo a realizar as leituras dos deslocamentos angulares a cada intervalo desejado, sendo
usualmente L = 0,5 m. Nos modelos atuais, a inclinação do torpedo é determinada por meio de dois
acelerômetros, sendo que um deles mede o deslocamento angular ao longo da direção A (em barragens
geralmente montante-jusante, que é a direção esperada dos maiores movimentos), e o outro mede o
deslocamento ao longo da direção B (em barragens, geralmente direção ombreira direita-ombreira esquerda).
Deve-se cuidar para que os tubos sejam instalados o mais verticalmente possível e com as ranhuras alinhadas,
a fim de se reduzir a possibilidade de erro. Na análise dos deslocamentos, deve-ser considerar a necessidade
de correção dos vários erros de medida, que são atribuídos principalmente ao bias shift error (erro de
polarização), erro rotacional e erro de profundidade (devido ao posicionamento da sonda).

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Os instrumentos supramencionados - marcos topográficos, prismas, medidores de recalque e


inclinômetros – realizam o monitoramento pontual da estrutura limitado a sua região de instalação. Para
monitoramento glogal e em tempo integral de deformações e deslcamentos da estrutura usualmente são
utilizados os radares terrestres e radares orbitais. O Radar Orbital de Abertura Sintética – SAR utiliza a técnica
de imageamento de superfície na qual a estrutura é iluminada com ondas eletromagnéticas na frequência de
micro-ondas e o sinal refletido fornece informações sobre a barragem. A técnica mais utilizada no
complemento do monitoramento de barragens é a técnica de interferometria SAR (InSAR) orbital. Segundo
Pinto et al (2017), “InSAR é uma técnica de sensoriamento remoto que explora a diferença de fase entre pixels
análogos de imagens SAR adquiridas sobre a mesma área em tempos distintos para detectar possíveis
deformações na linha da visada do sensor (LOS – Line of sight) em um determinado período. Isso é possível
uma vez que a fase corresponde a uma grandeza angular que fornece a distância entre o sensor e o alvo
localizado na superfície. Nesse sentido, a principal vantagem da técnica InSAR é fornecer a visão global da
deformação de todo o empreendimento, com alta resolução espacial e precisão, monitorando assim todas as
estruturas mineiras, inclusive as barragens, sem a necessidade de instalação de equipamentos no local. O radar
de monitoramento terrestre é instalado a jusante da barragem e deve ser localizado em ponto estratégico para
maior abrangência do campo de visão. Este equipamento tem precisão milimétrica e funciona mesmo em
condições atmosféricas adversas com a emissão de ondas eletromagnéticas, onde o sinal refletido é utilizado
para avaliar deslocamentos de estruturas geotécnicas. Como desvantagem, para pequenos deslocamentos, a
vegetação alta e/ou variações atmosféricas muito intensas podem provocar ruídos nos dados. Tanto a
tecnologia de radar terrestre quanto a tecnologia de radar orbital devem ser complementares ao monitoramento
por outros instrumentos como prismas e marcos topográficos a fim de calibrar os dados coletados.

5 Resultados e Discussões

5.1 Correlações entre Modos de Falha e Monitoramento Através da Instrumentação e Orientações

Como resultado deste trabalho é apresentado na Tabela 1 a Tabela 4 os modos de falha susceptíveis à
barragens de terra, a instrumentação recomendada para controle e os respectivos níveis de medição e controle.

Tabela 1. Orientações quanto a modos de falha, propósito de monitoramento, instrumento recomendado e


medidas de controle e referência - Galgamento.
Modos de Propósito de Orientação de Auscultação e
Medidas de Controle e Referência
Falha Monitoramento Levantamentos
Controle: ocupação do reservatório.
Monitoramento da Levantamento
Referência: avaliação do trânsito de cheias
ocupação do reservatório. Topobatimétrico
e/ou tendência de comportamento.
Monitoramento da
Galgamento Régua Linimétrica,
variação do nível de água Controle: ocupação do reservatório.
medidores de pluviometria e
no reservatório e Referência: avaliações de trânsito de cheias
Medidor de Vazão no sistema
funcionalidade do sistema e/ou tendência de comportamento.
extravasor.
extravasor.

Para monitoramento quanto a probabilidade de ocorrência do modo de falha galgamento é essencial a


avaliação frequente quanto a ocupação do reservatório e trânsito de cheias. Os levantamentos topobatimétricos
são essenciais, principalmente para barragens com a finalidade de contenção de sedimentos, para
monitoramento dos volumes de sólidos e água atuais no reservatório, assim como volumes remanescentes e
de trânsito de cheias, e indicam a necessidade de planejamento de dragagem de sedimentos no reservatório.
O monitoramento do nível do reservatório, pluviometria e vazão no sistema extravasor, permitem,
quando associados, avaliar a integridade de funcionamento do sistema de estravasão e calibração dos estudos
de trânsito de cheias. Estes instrumentos quando são automatizados apresentam como benefício o
monitoramento remoto e em tempo integral o que permite, principalmente em períodos chuvosos em que o
acesso em campo, por vezes, não é possível uma avaliação do pleno funcionamento do sistema de extravasão

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associado ao nível do reservatório e pluviometria. A avaliação em conjunto destes instrumentos permite


identificar condições anomalas como a obstrução do sistema extravasor em períodos chuvosos.

Tabela 2. Orientações quanto a modos de falha, propósito de monitoramento, instrumento recomendado e


medidas de controle e referência – Erosão Interna.
Modos de Orientação de
Propósito de Monitoramento Medidas de Controle e Referência
Falha Auscultação
Monitoramento da qualidade
funcional da drenagem Leitura de vazões e comparativo com vazões de
interna, assim como Medidor de Vazão referência determinada pela modelagem de
quantidade e qualidade da (MV) percolação por elementos finitos e/ou tendência
água que percola pelo maciço de comportamento.
e/ou fundação.
Monitoramento de recalques
Marco Superficial,
Erosão pontuais elevados, que Leituras de deslocamentos verticais.
Radares, Radares
Interna possam representar um Comparativo com os resultados de modelagem
Obritais Terrestres
indício de perda interna de tensão-deformação e/ou análise da tendência de
e/ou Medidor de
solo pelo processo de erosão comportamento.
Recalque
interna.
Leituras de carga hidráulica e correspondente
Monitoramento de variações definição do gradiente hidráulico. Definição dos
Piezômetro (PZ)
de gradientes hidráulicos. níveis de controle e/ou análise de tendência de
comportamento.

Para o monitoramento de processos físicos que podem estar vinculados à possível ocorrência do modo
de falha erosão interna recomenda-se a avaliação contínua das condições indicativas de perda de sólidos do
maciço ou variações de rígidez. A avaliação comparativa entre as leituras definidas pelos instrumentos
piezômetros permitem definir a variação de carga piezometrica em função do comprimento de percolação e,
consequentemente, a variação de gradiente hidráulico entre as linhas de instrumentação. Por sua vez, através
da avaliação dos valores de gradiente hidráulico, é possível estimar a força associada ao carreamento de sólidos
no corpo do maciço. Para estas avaliações recomenda-se a instalação de piezômetros com a célula (região
permeável) localizadas no corpo do maciço de montante para jusante, na fundação de montante para jusante e
nas ombreiras, para que seja possível a avaliação de contribuições das ombreiras e carga piezométrica na
fundação e maciço. Os instrumentos de medição de deslocamentos como marcos topográficos, prismas, radares
orbitais e terrestres permitem avaliação de abatimentos acentuados do maciço onde pode estar relacionado
com processos de erosão interna. Apesar da instrumentação apresentar indícios de ocorrência de erosão interna,
a análise sistemática da tendência de comportamento da instrumentação deve ser aliada a inspeções visuais
constantes, sendo as inspeções o método mais eficaz para identificação de processos vinculados a este modo
de falha.

Tabela 3. Orientações quanto a modos de falha, propósito de monitoramento, instrumento recomendado e


medidas de controle e referência – Liquefação.

Modos de Orientação de
Propósito de Monitoramento Medidas de Controle e Referência
Falha Auscultação
Monitoramento da dissipação do
excedente de poro-pressão durante
e logo após ocorrência de eventos Piezômetro Leitura automática e de resposta rápida e avaliação
Liquefação
de gatilhos relacionados com o (PZ) da tendência de comportamento.
aumento brusco do excedente de
poro-pressão.

Os processos de liquefação, quando é dado o gatilho, ocorrem de forma instântanea, não possibilitando,
por vezes, o monitoramento preventivo. Entretanto, durante e após a ocorrência do evento os instrumentos
piezômetros permitem o monitoramento abrupto das variações de poropressão no maciço. Estes instrumentos,

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quando automatizados e vinculados à níveis de controle para condições abruptas de variação, permitem uma
melhor e mais ágil tomada de decisão para o acionamento de sistemas de sinalização para evacuação de
eventuais pessoas a jusante.

Tabela 4. Orientações quanto a modos de falha, propósito de monitoramento, instrumento recomendado e


medidas de controle e referência - Instabilização.
Propósito de Orientação de
Modos de Falha Medidas de Controle e Referência
Monitoramento Auscultação
Medida de Controle: leituras de carga piezométrica.
Monitoramento da
Medida de referência: comparativo com os
poro-pressão ou
Piezômetro (PZ) resultados de modelagens de percolação, análise de
subpressão no corpo
estabilidade e/ou análise da tendência de
do maciço.
comportamento.
Medidade de controle: leituras da linha freática.
Monitoramento da Medida de referência: comparativo com os
Indicador de Nível
linha freática no corpo resultados de modelagens de percolação, análise de
de Água (INA)
do maciço. estabilidade e/ou análise da tendência de
comportamento.
Monitoramento da
poro-pressão e linha Medidade de controle: leituras de carga piezométrica
freática para Medidor de Nível ou linha freática. Medida de referência: comparativo
verificação do correto de Água (INA) e com os resultados de modelagens de percolação,
funcionamento e Piezômetros (PZ) análise de estabilidade e/ou análise da tendência de
dimensionamento da comportamento.
drenagem interna.
Medidade de controle: leituras de deslocamentos
Monitoramento dos
Marco Superficial horizontais e verticais (recalques). Medida de
deslocamentos
e/ou Radar e/ou referência: comparativo com os resultados de
verticais e horizontais
GPS integrado modelagem tensão-deformação e/ou análise da
(x, y e z).
tendência de comportamento.
Monitoramento de
Medida de controle: leituras de deslocamentos
deslocamentos
horizontais. Medida de referência: comparativo com
horizontais, Inclinômetro (IN)
os resultados de modelagem tensão-deformação e/ou
superficiais e em
análise da tendência de comportamento.
subsuperfície.
Medida de controle: leitura dos comprimentos da
Monitoramento do praia de rejeitos. Medida de referência: comparativo
comprimento da praia Medida com drones com resultados de modelagem computacional e
de rejeitos. correlação destes com os respectivos níveis de
controle e/ou tendência de comportamento.
Medida de controle: leituras de deslocamentos
Monitoramento da
Medidor de verticais. Medidade de referência: omparativo com
deformação em
Recalque os resultados de modelagem tensão-deformação e/ou
profundidade.
análise da tendência de comportamento.

Os instrumentos piezômetros e indicadores de nível de água permitem o monitoramento da variação da


poropressão e nível freático no interior do maciço e correlação com as regiões de saturação para avaliação da
estabilidade da estrutura. Estes instrumentos, quando a base é localizada logo acima do tapete drenante da
barragem, permitem avaliar a performance de funcionamento do sistema de drenagem interna, o que pode
indicar uma eventual colmatação do sistema de drenagem, evento também relacionado com os processos de
instabilização. Para o monitoramento dos processos físicos de deslocamentos, deformações e inclinações
recomenda-se avaliar a utilização dos instrumentos marcos topográficos, prismas, medidores de recalque e/ou
inclinômetros. O monitoramento remoto e em tempo integral pode ser realizado através da utilização de radares
terrestres, radares orbitais, estações robóticas, inclinômetros automatizados ou marcos superficiais com GPS
integrado ou outras tecnologias.

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5 Conclusões

Este trabalho permite concluir que para definição dos instrumentos e tecnologias para monitoramento
de barragens de terra é necessário entender os propósitos de monitoramento, modos de falha associados à
estrutura e os níveis de controle e leituras, para uma escolha mais assertiva dos instrumentos a serem utilizados.
Cabe salientar que o desenvolvimento de novos instrumentos e tecnologias é ativo e constante, portanto este
trabalho apresenta os instrumentos e tecnologias usuais utilizados atualmente, mas a escolha não deve se
limitar a eles, sendo necessário avaliação de novas tecnologias a depender da complexidade e criticidade da
estrutura avaliada.
O monitoramento através dos dados de instrumentação permite avaliar a segurança da barragem e
gerenciar os riscos associados quanto aos principais modos de falha. Conclui-se, ainda, que o monitoramento
em tempo integral através de instrumentos automatizados é necessário principalmente em períodos em que o
acesso à estrutura não é possível. É possível concluir, ainda, que tecnologias como radares terrestres e orbitais
são ferramentas essenciais para uma avaliação global da estrutura quanto a deslocamentos e deformações.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CERQUEIRA, H.M.L. (2017). Critérios de Projeto para Instrumentação Piezométrica de Diversas Estruturas
Geotécnicas em Mineração. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto, 2017.166 p.
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