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RESUMO: Este trabalho tem como principal objetivo apresentar o estudo da arte para monitoramento de
barragens de terra e correlacionar os propósitos de auscultação aos os principais modos de falhas associados.
Para tanto, a metodologia compreende: (i) revisão literaria dos modos de falha e instrumentação para barragens
de terra; e (ii) correlação entre modos de falha, propositos de monitoramento, instrumentações sugeridas e
recomendações. Foram avaliados os principais critérios para definição da instrumentação, os possíveis modos
de falha associados e parâmetros de saída fornecido pelos insrumentos avaliados. Portanto, este trabalho
possibilita entender a funcionalidade e propósitos da instrumentação, a fim de direcionar a uma escolha mais
acertiva dos instrumentos e tecnologias aplicáveis.
ABSTRACT: The aim of this work is to present the state of the art for monitoring earth dams and to correlate
the auscultation purposes with the main associated failure modes. Thus, the methodology covers: (i) literature
review of failure modes and instrumentation for earth dams; and (ii) correlation between failure modes,
monitoring purposes, suggested instrumentation and recommendations. Were assessed the main criteria for
defining the instrumentation, the possible associated failure modes and output parameters provided by the
evaluated instruments. Therefore, this work allows to understand the functionality and purposes of the
instrumentation in order to lead to a more accurate choice of the applicable instruments and technologies.
1 Introdução
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Conforme Dunnicliff (2017), todo instrumento em um projeto deve ser selecionado e alocado para auxiliar em
responder perguntas específicas: se não há pergunta, não deverá existir instrumentação.
Tendo em vista a necessidade e importância de monitoramento de barragens de terra, este trabalho tem
como principal objetivo apresentar o estudo da arte dos principais instrumentos de auscultação e dos modos
de falhas associados a barragens de terra e através da consolidação do estudo da arte apresentar uma correlação
entre os modos de falhas de barragens de terra, propóositos de monitoramento, instrumentos de auscultação e
recomendações quanto à instrumentação. Assim, este trabalho apresenta orientações quanto à definição da
instrumentação de barragens de terra que deve ser avaliada conforme criticidade de cada estrutura.
2 Metodologia
A metodologia para realização deste trabalho compreende as seguintes etapas: (i) revisão literária dos
principais mecanismos de falhas associados a barragens de terra; (ii) revisão literária dos principais
instrumentos tradicionais de monitoramento de barragens de terra; (iii) correlação entre os modos de falha
associados a barragens de terra, proposito de monitoramento, instrumentos indicados, recomendações e níveis
de controle e referência, a luz do estudo da arte definido nas etapas (i) e (ii).
Os principais modos de falha recorrentes em barragens são: galgamento, instabilização, erosão interna
e, menos frequente, liquefação. Em barragens de terra, o modo de falha galgamento é a causa predominante
de ruptura. A instabilização também é um modo de falha representativo para barragens de terra devido ao
material não apresentar elevado ângulo de atrito e, consequentemente, menor resistência, se comparadas a
barragens de terra e enrocamento e de concreto.
A erosão interna é o modo de falha que merece atenção, já que seu monitoramento se torna difícil devido
à dificuldade em instrumentá-la. A seguir são feitas algumas considerações sobre esse modo de falha em
diferentes regiões de uma barragem de terra: (i) Erosão interna pelo barramento: há necessidade de
implantação de filtros e transições adequados para a estrutura. Deve ser dada atenção para não criar zonas mais
permeáveis no interior do maciço, o que pode ser feito por meio de controle da compactação e tratamento de
juntas construtivas; (ii) Erosão interna do maciço devido a trincas transversais: estas trincas podem ocorrer
devido a recalque diferenciais ao longo do eixo da barragem; (iii) Erosão interna do maciço para a fundação:
deve ser dada atenção para a execução da fundação no maciço em trechos com descontinuidades abertas na
rocha de fundação; (iv) Erosão por fluxo concentrado no contato com as ombreiras: devido ao recalque do
maciço, podem surgir trincas de tração no contato com as ombreiras, criando caminhos de percolação
montante-jusante; (v) Erosão interna no fundo de vales: também ocorre devido ao recalque do maciço, podendo
ocorrer o arqueamento de tensões no fundo do vale e gerando regiões de tensão efetiva reduzida ou até mesmo
nula.
As barragens de terra também são alvo do modo de falha por liquefação, em menor proporção e a
depender do material utilizado e do modo de construção, sendo mais comum a ocorrência em barragens
construídas com rejeitos de mineração e alteadas pelo método de montante. De todo modo, vale destacar que
esse modo de falha consiste na redução abrupta da resistência efetiva e rigidez do solo quando da ação de
forças cíclicas ou monotônicas. Esse fenômeno se manifesta geralmente em materiais saturados com tendência
de contração de volume quando submetidos a tensões cisalhantes. Como os poros encontram-se totalmente
preenchidos de água durante o esforço, o tempo para ocorrer a drenagem é maior do que o tempo de aplicação
do carregamento. Desse modo, a contração do material nessa condição não-drenada ocasiona no aumento da
poropressão e consequente diminuição da tensão efetiva.
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Os medidores de nível d’água permitem a determinação do nível freático, ou seja, a superfície que
delimita a zona de saturação da zona de aeração do solo, na qual a pressão corresponde à atmosférica. Trata-
se de um tubo perfurado em toda sua extensão, envolto por um material filtrante e outro drenante e um “selo”
para vedação do espaço entre o tubo e o furo, conforme a Figura 1a. A leitura pode ser efetuada com o auxílio
de um dispositivo constituído de um sensor que emite som quando em contato com a água, denominado pio
elétrico. Tal instrumento também pode ter as leituras realizadas por meio de sistema automatizado. Deve-se
tomar cuidado na alocação desse tipo de instrumento em maciços heterogêneos, pois, quando as camadas da
estrutura não são homogêneas, seus coeficientes de permeabilidade serão diferentes e o nível d’água indicado
no instrumento pode não ser tão representativo. Segundo Silveira (2006), a instalação de uma tubulação
perfurada através de duas ou mais camadas, mesmo que protegidas por toda a extensão da tubulação, criará
uma conexão vertical indesejável entre essas camadas, e o nível d’água no interior do tubo indicará usualmente
um valor errôneo.
Os piezômetros são instrumentos empregados na medição das poropressões no interior de um maciço
ou de pressões na fundação. Existem diversos tipos de piezômetros que foram desenvolvidos ao longo do
tempo para o monitoramento de barragens, porém os mais usuais, conforme apresentado por Silveira (2006),
são listados a seguir: (i) piezômetros de tubo aberto (também denominados tipo Casagrande ou Standpipe):são
instrumentos mais robustos (Figura 1b), de simples instalação e leitura, baixo custo de instalação e vida útil
compatível com a da barragem. Trata-se de um tubo inserido em um furo de sondagem, possuindo uma célula
perfurada na sua porção inferior. Suas principais vantagens são a confiabilidade dos dados fornecidos e longa
durabilidade. A sua principal desvantagem está relacionada ao alto tempo de resposta quando instalados em
solos com baixa permeabilidade; (ii) Piezômetros de resistência elétrica (PE): instrumentos que possuem um
diafragma onde são fixados extensômetros elétricos de resistência, que, quando submetido a uma pressão
externa, sofre flexão provocando deformações nos extensômetros e variação da resistência, emitindo um sinal
elétrico. São instrumentos que têm como característica a possibilidade de realização de medições dinâmicas,
com registro contínuo de dados, já que apresentam tempo de resposta à pressão aplicada praticamente
instantâneo. A vida útil informada pelos fabricantes é usualmente de 30 anos e podem ser utilizados na
automação de piezômetros de tubo aberto; (iii) Piezômetros de corda vibrante (PW): esses instrumentos medem
a poropressão a partir da deformação de um diafragma interno, cuja deflexão é medida por um sensor de corda
vibrante. São instrumentos precisos, sensíveis, e podem ser lidos à distância e integrados a sistemas
automáticos de aquisição de dados. No entanto, possuem vida útil limitada (também informado pelos
fabricantes como em torno de 30 anos) e estão suscetíveis à alteração dos parâmetros de calibração que ocorre
ao longo do tempo.
(c)
(a) (b)
Figura 1. Instrumentos de monitoramento de percolação. (a) Indicador de Nível d'Água; (b) piezômetro de
tubo aberto; (c) Piezômetros de corda vibrante. Fonte: Cruz (1996) e Geokon, disponível em
https://www.geokon.com/content/datasheets/4500_Series_VW_Piezometers.pdf.
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Os medidores de vazão tem como principal finalidade medir as vazões dos drenos e determinar as vazões
de percolação pelo maciço e fundação. É uma das primeiras observações realizadas para supervisão da
condição de segurança de uma barragem. Sabe-se que, embora uma barragem tenha como objetivo barrar um
fluxo natural e reservar grandes volumes de fluidos, ela não é uma estrutura estanque. Portanto, a medição e o
controle das percolações a que esse tipo de estrutura está suscetível são de extrema relevância para o
monitoramento de seu desempenho. Conforme Silveira (2006), há dois principais tipos de medidores de vazão,
a saber: medidor de vazão de chapa delgada e calha tipo Parshall. Segundo Melo Porto (2001), os medidores
de vazão triangulares e retangulares não são recomendados para condições de cargas altas, em geral superiores
a 50 cm. Para a medição de grandes vazões os instrumentos mais indicados são os medidores trapezoidais de
vazão e a calha tipo Parshall.
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5 Resultados e Discussões
Como resultado deste trabalho é apresentado na Tabela 1 a Tabela 4 os modos de falha susceptíveis à
barragens de terra, a instrumentação recomendada para controle e os respectivos níveis de medição e controle.
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Para o monitoramento de processos físicos que podem estar vinculados à possível ocorrência do modo
de falha erosão interna recomenda-se a avaliação contínua das condições indicativas de perda de sólidos do
maciço ou variações de rígidez. A avaliação comparativa entre as leituras definidas pelos instrumentos
piezômetros permitem definir a variação de carga piezometrica em função do comprimento de percolação e,
consequentemente, a variação de gradiente hidráulico entre as linhas de instrumentação. Por sua vez, através
da avaliação dos valores de gradiente hidráulico, é possível estimar a força associada ao carreamento de sólidos
no corpo do maciço. Para estas avaliações recomenda-se a instalação de piezômetros com a célula (região
permeável) localizadas no corpo do maciço de montante para jusante, na fundação de montante para jusante e
nas ombreiras, para que seja possível a avaliação de contribuições das ombreiras e carga piezométrica na
fundação e maciço. Os instrumentos de medição de deslocamentos como marcos topográficos, prismas, radares
orbitais e terrestres permitem avaliação de abatimentos acentuados do maciço onde pode estar relacionado
com processos de erosão interna. Apesar da instrumentação apresentar indícios de ocorrência de erosão interna,
a análise sistemática da tendência de comportamento da instrumentação deve ser aliada a inspeções visuais
constantes, sendo as inspeções o método mais eficaz para identificação de processos vinculados a este modo
de falha.
Modos de Orientação de
Propósito de Monitoramento Medidas de Controle e Referência
Falha Auscultação
Monitoramento da dissipação do
excedente de poro-pressão durante
e logo após ocorrência de eventos Piezômetro Leitura automática e de resposta rápida e avaliação
Liquefação
de gatilhos relacionados com o (PZ) da tendência de comportamento.
aumento brusco do excedente de
poro-pressão.
Os processos de liquefação, quando é dado o gatilho, ocorrem de forma instântanea, não possibilitando,
por vezes, o monitoramento preventivo. Entretanto, durante e após a ocorrência do evento os instrumentos
piezômetros permitem o monitoramento abrupto das variações de poropressão no maciço. Estes instrumentos,
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quando automatizados e vinculados à níveis de controle para condições abruptas de variação, permitem uma
melhor e mais ágil tomada de decisão para o acionamento de sistemas de sinalização para evacuação de
eventuais pessoas a jusante.
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5 Conclusões
Este trabalho permite concluir que para definição dos instrumentos e tecnologias para monitoramento
de barragens de terra é necessário entender os propósitos de monitoramento, modos de falha associados à
estrutura e os níveis de controle e leituras, para uma escolha mais assertiva dos instrumentos a serem utilizados.
Cabe salientar que o desenvolvimento de novos instrumentos e tecnologias é ativo e constante, portanto este
trabalho apresenta os instrumentos e tecnologias usuais utilizados atualmente, mas a escolha não deve se
limitar a eles, sendo necessário avaliação de novas tecnologias a depender da complexidade e criticidade da
estrutura avaliada.
O monitoramento através dos dados de instrumentação permite avaliar a segurança da barragem e
gerenciar os riscos associados quanto aos principais modos de falha. Conclui-se, ainda, que o monitoramento
em tempo integral através de instrumentos automatizados é necessário principalmente em períodos em que o
acesso à estrutura não é possível. É possível concluir, ainda, que tecnologias como radares terrestres e orbitais
são ferramentas essenciais para uma avaliação global da estrutura quanto a deslocamentos e deformações.
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