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Título: Mascarados
Revisão: Ana Ferreira, Hanna Câmara e Raquel Moreno.
Leitura Crítica: Ana Ferreira
Capa: Danieli Tavares
Diagramação: Nathalia Santos
Bruna Pallazzo.
Sejam bem-vindos(as) novamente à Universidade de
Crownford.
Primeiro, preciso te dizer que estou imensamente grata por
você estar aqui. Segundo, preciso relembrá-lo(a), caro aluno(a), que
as coisas que acontecem aqui em nossa universidade são fictícias, e
que qualquer semelhança com a realidade é uma mera coincidência.
Os alunos seguem sendo as mesmas pestes de sempre. Creio
que você já deva ter compreendido como eles funcionam, mas seja
como eu e sempre espere que a qualquer momento eles possam te
surpreender.
No semestre passado, o runningback emocionado – finalmente
– encontrou sua princesa. Quem me dera se todos eles tivessem
problemas apenas em encontrar sua outra metade. Aparentemente,
Matteo Azzaro é o único dentro do seu bando que tinha esse desejo.
Mas sabe, eu não costumo pensar apenas no que os meus alunos
querem, eu também penso no que eles precisam. Viram como eu sou
ótima?
Aqueles ingratos não acham, mas eu não ligo. Quando
finalmente conseguem seus estimados finais felizes, não escuto
nenhuma reclamação.
Esse semestre vamos observar mais atentamente Logan
Gauthier, o surubeiro – mas eu o chamo de mascarado –, um dos
meus piores alunos. Aquele ali desconhece a palavra limite e não tem
muito o que eu possa fazer além de aguentar todo o seu poder de
destruição. Quem organiza uma orgia na sala de química? Preciso
de alguém que consiga adestrar esse menino o mais rápido possível.
Dizem por aí que ele sempre foge quando o assunto é
relacionamento. Ai, Logan, você já devia saber que ninguém
consegue fugir quando o assunto é destino, e muito menos quando
estamos falando sobre sentimentos.
Bom, meu aviso a você, caro estudante, é que esteja disposto
a conhecer a ferinha da Universidade de Crownford. Pela minha
experiência, nem tudo é exatamente como parece ser.
Boa sorte nesse novo semestre.
Bruna Pallazzo.
Diretora da Crownford University.
(Também conhecida como destino ou agente do caos).
Um ano e meio antes.
— Você vai nessa merda de churrasco! — Sebastian jogou a
camiseta que segurava em suas mãos na minha cara. — Nem que eu
tenha que te levar pelos cabelos, mas você vai!
— Seb, eu já tenho outra festa para ir. — Passei a mão pelos
meus cabelos que deviam estar um completo caos, já que eu tinha
passado a manhã deitado, descansando da noite anterior.
Eu odiava qualquer coisa que envolvesse família. Aguentar a
minha já era um enorme suplício. Ter que aguentar a de outra
pessoa, que eu nem gostava tanto assim, estava fora de questão
para mim.
Entre uma festa na república e uma na casa do Azzaro, eu não
precisava pensar muito para decidir a minha preferência.
O futuro runningback titular do nosso time parecia ser um cara
legal, isso não tinha como negar. Fazia algumas semanas que nos
conhecíamos, e ele tinha se mostrado extremamente amigável e
receptivo, mas isso não me dizia muita coisa. Pessoas boas também
eram capazes de serem terríveis, ainda mais quando elas eram tão
certinhas como Matteo. Mesmo sendo um pouco difícil não gostar
do garoto, eu não tinha facilidade de confiar nas pessoas, muito
menos de deixá-las realmente se aproximarem de mim.
Sebastian sempre foi mais reservado, porém, de uma forma
bem contraditória, era mais aberto a novas relações. Eu não era
babaca. Não tratava as pessoas mal, só realmente não queria que
elas entrassem na minha vida. E Matteo parecia ser um cara
sorrateiro, quando eu desse por mim ele já estaria grudado no meu
pescoço.
— Para com isso, Logan! O cara nos convidou para conhecer
a família dele. Falando assim, até parece que você não almoça,
treina e estuda com ele todos os dias. Ele é nosso amigo. —
Sebastian disse, procurando algo na minha gaveta de calças.
Odiava que mexessem no meu closet, minhas roupas eram
algo praticamente sagrado para mim. Minha mãe sempre me dizia
que as pessoas que se arrumavam muito por fora geralmente
estavam completamente desarrumadas por dentro. A mulher não
poderia estar mais certa, porque meu interior era tão sujo e
desarrumado que eu o tinha desligado há alguns anos.
— Você sabe que eles não são meus amigos, e pare de
bagunçar minhas calças! — Acham que ele me escutou? Lógico
que não. Sebastian só fazia as coisas quando queria e se queria.
— Não entendo qual o problema de se abrir para o Thompson
e o Azzaro. — Sebastian prendeu seus cabelos em um coque frouxo.
Sebastian, meu melhor e único amigo, era um homem alto de
pele branca, com rosto irritantemente simétrico e o maxilar bem-
marcado. Sua obsessão com futebol o levava a malhar ainda mais do
que qualquer um naquele time, o proporcionando o melhor físico
também. Mesmo ele sendo menor do que eu, preciso admitir que ele
era ainda mais trincado e malhado, ou seja, mais gostoso.
— Quer mesmo que eu responda essa pergunta? — Arqueei
as sobrancelhas.
— Logan, para ser amigo de alguém, você não precisa contar
exatamente tudo da sua vida. Eles não precisam saber do seu
passado.
Senti até os músculos das minhas costas ficarem tensos com
sua afirmação.
Eu não acreditava nisso.
Para que alguma pessoa permaneça na minha vida, ela
precisava primeiro me aceitar com toda a merda que vem junto. E
acredite, não era pouca. Eu duvidava muito que o príncipe perfeito e
o kicker[1], que mais parecia um gato acuado, iriam conseguir essa
proeza que até hoje apenas Sebastian conseguiu. Permanecer na
minha vida não era para qualquer um. Não nego que escolho a dedo
quem entra no meu coração e conhece meus segredos.
— Não estou entendendo o motivo de toda essa investida em
ser amigo desses meninos.
Sebastian suspirou e empertigou as costas.
Ok, isso era realmente importante para ele, então talvez
realmente merecesse a minha atenção.
— Eu realmente gosto deles, Logan. Eles são completamente
diferentes das pessoas que estamos acostumados. Matteo é muito
participativo, e o Noah… — Ele não completou.
— O que tem o bad boy? — Tentei brincar, mas Sebastian me
conhecia bem demais para cair em qualquer zoação que nos tirasse
do foco principal.
Seb cruzou os braços e me olhou com um semblante sério.
— Não sei, eu só gosto deles. Se abre pelo menos um pouco.
Os dois não me parecem ser do tipo babacas. — Seb pediu.
Sebastian, mesmo sendo muito seguro de si, sempre teve
problemas por não conseguir se enturmar com as pessoas na nossa
bolha social. Óbvio que isso era por escolha dele, porque eu
conhecia algumas pessoas que se matariam para estar ao lado do
meu melhor amigo. Já eu era tranquilo com isso. Estava acostumado
com a podridão da elite nova-iorquina, e não me afeiçoar a eles
deixava tudo ainda mais fácil.
Sebastian e eu crescemos praticamente juntos. Eu nem me
lembrava de uma vida em que ele não estivesse ao meu lado. Foi por
isso que, ao perceber o quanto era importante para ele se aproximar
desses novos amigos, eu decidi que iria.
Apenas por ele.
— O que eu não faço por você? — Resmunguei levantando-me
da cama.
— É o que fazem os amigos, então não precisa ficar mal-
humorado. — Seb falou sorrindo.
Era impressionante o poder dele de persuasão. O idiota, que
provavelmente seria o mais novo capitão dos Crownford Kings,
sempre conseguia tudo o que queria. Quer dizer, nem tudo. Harmony,
sua melhor amiga de infância, era uma pessoa que nunca conseguiu
dar o que ele tanto desejava.
Sabia exatamente o que meu amigo sentia. E jurei para mim
mesmo que não sentiria essa merda nunca mais na minha vida.
Ciúmes.
Um sentimento filho da puta que nos consome, adoece as
estranhas e faz querer jogar qualquer coisa que tenhamos nas mãos
na cara de alguém. Eu odiava sentir ciúmes, mas era algo tão mais
forte que eu que me dava vontade de gritar comigo mesma.
Eu não era tonta. Era óbvio que sabia que era problemático ser
tão possessiva com as minhas coisas — e pessoas —, mas alguém
poderia me julgar? Eu dividi até o útero com outra pessoa. Se tinha
uma coisa que eu não queria mais era dividir, mas aparentemente o
melhor a ser feito era começar a aprender, porque ter um melhor
amigo que mais parecia uma piranha estava começando a me afetar.
Há exatos sete minutos ele saiu com um cara tão gostoso para
fora do bar e, pelo jeito que ele segurava a cintura do branquelo
sarado, ele ia transar.
E eu odiava saber que ele ia transar.
Queria dizer que era por inveja, como eu sentia quando
Donatella arrumava uma foda e eu não. Mas era a porra dos ciúmes.
Isso me incomodava mais do que palavras conseguem expressar.
Eu não sentia ciúmes dele como eu sentia de Matt, e lógico
que ninguém percebia isso exatamente.
Ninguém percebia de verdade o que se passava comigo.
Sabe o problema das pessoas fortes? Geralmente, ninguém
presta muita atenção nos sentimentos delas. E aí que morava a
minha saída perfeita. Se eu continuasse sendo apenas Isabella
Azzaro, com toda a pose e personalidade que isso acarretava, o
meu maior segredo — e mentira — estaria a salvo.
Eu estava apaixonada por Logan há um ano. Não me pergunte
como aconteceu, eu também não sei. Um dia eu estava sentada ao
seu lado na praia e ele tinha me feito rir com alguma de suas
brincadeiras, e então eu senti: o frio na barriga, o coração acelerado
e a porra toda que meus pais sempre advertiram que iríamos sentir
quando encontrássemos a tal pessoa certa.
Eu lutei muito tempo para não admitir para mim mesma que
não era apenas tesão o que eu sentia pelo meu melhor amigo. Era
paixão. E então se tornou amor.
Isso ia passar.
Tinha que passar.
Eu, que odiava mentiras, era a maior mentirosa de todos.
Eu mentia todos os dias quando levantava, colocava um sorriso
no rosto e via Logan foder com metade de Crownford, e fingia com
uma habilidade invejável que tudo que eu queria dele era a amizade.
Sorri sozinha.
Amizade foi a única coisa que eu consegui dele, mas, apenas
pelas batidas do meu coração, eu sabia que não era o que eu
precisava.
Era por isso que eu tive tanto medo por Matteo.
Era exatamente por isso que eu desconfiei de Zoella.
Eu não queria que Matteo se enfiasse em uma relação em que
não iria conseguir o que tanto desejava. Eu sabia como era isso, e
era uma merda.
— Você viu o Logan? — Minha prima perguntou.
Estávamos em uma roda, todos juntos. Minha prima tinha vindo
de Londres com o namorado para as festas de finais de ano e o
casamento de Antonella, que era sua prima preferida. Nella e Liz
eram uma dupla inseparável, e eu podia dizer que muitas vezes
Antonella mais parecia mãe de Liz do que qualquer outra coisa.
Sorri para minha prima antes de respondê-la, tentando fazer
meu coração parar de doer.
Era ótimo ser forte e fodona. Super recomendo a todos.
— Saiu com um gostoso há uns 8 minutos. — Respondi,
tentando fazer uma voz tranquila.
— Que precisão, amiga. — Zoella rebateu risonha.
A menina loira, que parecia mais uma modelo do que qualquer
outra coisa, me olhou com ironia, como se desconfiasse de alguma
coisa. Sustentei o olhar dela, não queria que ela descobrisse. Essa
era uma parte da minha vida que eu não deixaria nem minha gêmea
ter acesso.
Admito que peguei muito pesado com Zoella no começo, mas
não posso dizer que eu me arrependo. Eu tive medo por ele e jamais
vou me arrepender de tentar proteger meus irmãos, nem que isso
soe chato e irritante. Hoje em dia, eu amava Zoella. Além de minha
amiga, ela se tornou uma bênção da vida do meu irmão.
Zoella, com muito custo, entrou no meu coração, e agora ela
também era uma das pessoas que eu mantinha sob meu radar para
proteger. Era eu, inclusive, que tinha dado o gin que ela estava
tomando agora, mas que seria o único da noite.
Na minha cabeça, era isso que pessoas que amavam as outras
faziam, elas protegiam.
E por que você não está se protegendo da bomba atômica
que é sua amizade com Logan?
Minha consciência me questionou.
Mas eu ignorei. Como sempre.
— Quando seu melhor amigo te troca assim, é difícil não
prestar atenção. — Resmunguei.
Apenas uma amiga ciumenta, era isso que todos deveriam
perceber.
— Eu não te troquei, bocuda. — Logan chegou dando um tapa
na minha bunda.
Sorri imediatamente, o observando. Quem o via com essas
roupas de playboy não imaginava como de fato ele era. Eu
costumava rir da dificuldade que ele tinha em decidir suas próprias
roupas. Como se alguém ligasse se ele estivesse usando Giorgio
Armani ou Gucci. Talvez o melhor amigo dele, Sebastian, ligaria. Os
dois meninos criados na elite nova-iorquina faziam companhia para
Zoe não só quando iam assistir futebol, mas também quando saíam
para fazer compras.
E depois ainda tinham a ousadia de dizer que a mimada era eu!
— Logan, oito minutos e você já voltou? De duas uma, ou você
brochou, ou está precisando ir ao médico porque está com
ejaculação precoce. — Falei irônica, tomando um gole do meu
whisky.
— Cala a boca, Isabella! — Logan sibilou, tomando o copo da
minha mão.
— Ai, meu Deus! — Gargalhei — Você brochou? Com aquele
gostoso?
— Se você quer saber, isso não tem problema nenhum para
mim, Isabella. Homens têm direito de brochar, assim como as
mulheres. — Logan me olhou, puto da vida. Mas eu não podia ligar
menos.
Em alguns momentos, eu era agraciada com bênçãos do
destino. Não era comum, mas eu não estava reclamando. Hoje eu
poderia dormir sem uma lágrima no rosto por saber que o babaca
que tinha meu coração não tinha passado à noite com outra pessoa.
— Eu sei, lindo. O problema é que você vive pagando de
comedor por toda à cidade, então desculpa se é engraçado que o
surubeiro dos Reis de Crownford tenha brochado. — Argumentei.
— Só ignora isso, aconteceu e pronto. — Logan tentou mudar
de assunto, mas percebi o rastro de dor que passou em seus olhos.
Era sempre assim quando eu o chamava de lindo.
Será que era assim que o seu ex o chamava?
Um misto de pânico e compreensão tomou meu corpo. Não o
chamaria mais assim, não queria causar dor alguma em Logan, mas
percebi com certa angústia o medo que eu tinha de Logan ainda ser
apaixonado pelo ex. Mesmo que ele afirmasse categoricamente que
não, eu tinha minhas dúvidas.
Em alguns momentos, Logan parecia continuar sofrendo por
Callum, e quem sofre é porque ama.
Noah se aproximou de nós. O menino que foi praticamente
adotado pelos meus pais parecia feliz.
Enruguei a testa, confusa.
Isso era novo.
— Oi, Noah. — Zoe foi a primeira a sair do torpor.
— Oi... — Ele respondeu enrolado. Nunca tinha visto Noah tão
bêbado.
Liz o observou e, ao contrário de mim, minha prima não tinha
habilidade alguma para esconder os sentimentos.
— Como você está, Noah? — Liz perguntou com os malditos
olhinhos brilhando.
Não sabia por que ela ainda tentava, ele nunca respondia.
Ainda iria ter uma conversinha com ele sobre ter machucado
minha prima e seguir machucando todos esses anos. Meus pais e
Matteo podiam passar a mão na cabeça dele porque ele tinha um
passado difícil e tudo mais, porém passado nenhum te dava o direito
de tratar os outros como lixo.
— Ótimo. Desde quando eu consigo ficar mal quando você
está no mesmo lugar que eu, Elizabeth?
Eu me virei como o exorcista para olhar Noah.
O que caralho ele estava fazendo?
— Você sabe que eu odeio quando me chamam de Elizabeth!
— Liz respondeu sorrindo, mas ainda em choque.
Óbvio que ela iria responder. A mulher não tinha um pingo de
rancor no coração ou talvez de amor-próprio, ainda não tinha me
decidido.
— E você sabe que eu não ligo, Elizabeth. — O babaca
respondeu e depois olhou para o ruivo que tinha o braço no ombro de
Liz. — Cuida bem dela. Você tem a melhor namorada que alguém
poderia ter.
Ok. Eu tinha que admitir, ele era fofo.
Mas jura? Logo agora que a menina estava seguindo em frente
— ou pelo menos tentando —, ele resolve falar com ela.
Eu gostava do Noah, mas ele também não me ajudava.
As outras pestes pareciam em completo choque.
— Que porra foi essa? — Logan murmurou.
Isso foi seu amigo confundindo ainda mais a pobre cabeça da
minha prima.
Respondi apenas com um olhar, mas fui ignorada por Logan.
— Então, esse é o Noah? — Roman, namorado de Liz,
perguntou.
— Sim, é ele. — Liz engoliu em seco, olhando para Matteo,
como se ele tivesse a solução de algum problema.
Óbvio que ele não tinha. Não teve por todo esse tempo e não
teria agora.
— Vou ao banheiro. — Falei para todos e saí.
Fui rumo à porta que dava para o beco, que eu sabia que era
conhecido por ser uma putaria tremenda.
Noah estava lá parado com o pé na parede, dando um trago no
cigarro, que dessa vez parecia ser apenas um cigarro comum. Suas
mãos tremiam, mas seu rosto não mostrava nada. A jaqueta de
couro e os cabelos descoloridos passavam uma imagem de perigo,
mas era quando olhávamos para seu rosto que essa imagem se
contrastava com um semblante quase infantil.
— Você não tem vergonha de mexer com a cabeça dela desse
jeito? Liz está tentando seguir em frente. — Falei calma, mas firme.
— Você não tem vergonha de fingir que é apenas amiga do
Logan quando, na verdade, é apaixonada por ele? — Ele rebateu, e
tirou o meu chão no processo.
Noah me olhava, e parecia que nesse ato podia ver minha
alma.
Todas as sirenes de pânico dentro de mim foram acionadas,
mas eu precisava manter a calma. A lealdade de Noah não estava
comigo, mas, sim, com Logan.
Meu medo não era apenas as pessoas saberem dos meus
sentimentos patéticos, mas Logan ficar sabendo. Tinha certeza de
que ele não ia conseguir ficar próximo de mim sabendo disso. Eu via
como ele se fechava e se afastava das pessoas que já tinham se
declarado para ele.
Logan era o típico cara irritante e babaca que era fechado
para o amor e tinha plena convicção que passaria a vida sozinho.
— Um dia você disse para Matteo que pessoas que usam
máscara se reconhecem, lembra? — Ele deu um trago novamente no
cigarro — Um mentiroso reconhece o outro, Bella.
Eu me encostei na parede tentando manter a calma. Ele não
podia saber a verdade.
Não queria que ninguém tivesse acesso a essa merda. Não
estava preparada para isso.
— Que sentimentos, Noah? — Questionei — Está tentando
mudar de assunto por que tem medo de admitir que você sabe
exatamente o que está fazendo com ela?
Ele engoliu em seco, mas não recuou.
Inferno de moleque teimoso.
— E você está tentando mudar de assunto por que tem medo
de admitir a verdade? Eu, pelo menos, já passei dessa fase de
correr dos sentimentos.
— E passou para qual fase agora? Foder com a cabeça dela?
— Olhei para os olhos chocolates de Noah — Matteo pode passar a
mão na sua cabeça por causa das suas merdas, mas eu não vou.
Fica longe dela. Deixa a menina viver em paz.
— Ela está vivendo em paz, Isabella. Eu só não vou mais
ignorá-la.
— Então é assim com você? Agora que você decidiu ter a boa
vontade e falar com ela, pronto? Liz que resolva a confusão que você
deixou na cabeça dela? — Cruzei meus braços, com a raiva já me
consumindo. — Você está fazendo uma merda gigante.
Noah deu mais um trago e soltou a fumaça pelos lábios antes
de me responder.
— Sabe quem está fazendo uma grande merda? Você. Ele não
quer ser amado desse jeito, Isabella. Relacionamentos então, são
definitivamente um tópico sensível para o Logan. Você deveria dar a
chance para ele lidar com isso.
— Eu o amo como meu melhor amigo! — Insisti, elevando o
tom de voz — Você não me conhece, Noah, mas eu não sou como
você, que consegue se afastar das pessoas que eu amo. — Soltei.
Mas logo me arrependi.
Esse era um problema. Quando eu me sentia acuada, eu
atacava. Sem nem me perguntar exatamente se eu estava certa ou
não.
Pelo rosto de dor que Noah fez, eu tinha passado dos limites.
— Bella, às vezes o melhor que fazemos é nos afastarmos
para não causarmos mal à pessoa. Foi por isso que eu me afastei da
Liz. E já que estamos sendo sinceros, eu posso até ser covarde,
mas você é egoísta e sabe disso. — Noah respondeu sério.
Engoli em seco. Completamente sem palavras.
Noah olhou para frente, eu perguntei baixinho:
— Por que ele não quer amar ninguém? Por que ele não pode
ser amado dessa forma, Noah?
— Essa é uma resposta que só ele pode te dar.
— Logan esconde coisas de mim, não esconde?
Noah se desencostou da parede e me olhou sob os ombros.
— Não é como se você pudesse julgá-lo, já que também
esconde coisas dele.
Meu respeito por ele tinha aumentado e muito depois dessa
conversa. No final das contas, eu sentia que Noah era muito mais
corajoso do que eu jamais seria capaz de ser.
Encostei minha cabeça na parede, tentando respirar fundo.
Eu gostava de desafios, mas algo dentro de mim tinha certeza
de que eu havia encontrado o primeiro desafio que eu não tinha
nenhuma chance de ganhar.
O casamento de Antonella estava sendo uma festa digna de
princesa. A decoração tinha rosas brancas e tecidos lilás por todo o
espaço, além, é claro, de uma iluminação feita por lustres e algumas
velas espalhadas. Era notório como esse dia era importante para a
irmã de Isabella e para seu noivo, John.
Engoli em seco quando observei Matteo dando um beijo na
testa de sua amada, seguido por Harry, cunhado de Isabella,
passando a mão na barriga da Stella, sua noiva.
Eram raros os momentos que eu sentia àquela velha dor no
peito. Geralmente, era quando eu me lembrava que não era como
todos e que, no final das contas, eu veria todos se encontrando e
seguiria tendo um coração paralisado no meu peito.
Eu tinha escolhido isso, era o melhor para mim, mas, ainda
assim, em momentos como esse, era difícil.
Parecia uma outra vida onde Logan Gauthier já tinha sido
emocionado como Matteo Azzaro, mas esse tempo tinha passado, e
era melhor assim.
Bem mais seguro.
— Casamentos são uma bosta. — Noah disse ao meu lado
com o seu humor habitual.
— Eu até gosto. É bonito ver a felicidade dos noivos. —
Rebati, mentindo.
— Uhum, gosta sim. Pelo semblante de dor que está fazendo
agora, eu percebo o quanto está feliz em perceber que o final feliz
para alguns é uma realidade, e para outros é uma fantasia.
— Eu já tenho o meu final feliz, Noah. Eu consegui vocês. —
Olhei sorrindo para ele.
Eu genuinamente acreditava nisso.
Em alguns momentos da minha história, eu achei que acabaria
sozinho e fodido, então ter ao meu lado meus três melhores amigos
e Isabella era mais do que eu poderia desejar. Estava em paz com
meu futuro.
— Esse castelo que você construiu é de cartas. Você sabe,
não é? — Noah disse, enigmático.
Odiava quando ele falava essas frases de efeito e não
desenvolvia.
— O que você está tentando me dizer? — Perguntei, sem
paciência.
— Logan, você não é como Sebastian. Só tenta se convencer
que é.
— Desapegado?
Noah balançou a cabeça positivamente.
— Eu sou apegado a vocês, Noah. — Suspirei — Não estou
entendendo essa conversa. Eu sou feliz. Está tudo indo bem.
Noah olhou para Isabella, que brincava com Thommy e Tia
Grace na pista de dança.
— Essa sua amizade com Isabella não é um pouco estranha?
— Você está com isso agora. — Passei os dedos no arco do
nariz — Vai me dizer que é aquele tipo de babaca que não acredita
em amizade entre homem e mulher? Até Matteo já passou dessa
fase.
— Vocês se aproximaram ainda mais depois do término dela,
Logan. — Por que Noah parecia preocupado? Era ele que,
justamente, nunca ficava preocupado com nada.
— Noah, você estaria me falando essas coisas se ela fosse um
homem? Porque, pelo que eu me lembro, eu sou bissexual, então o
gênero da pessoa pouco me importa. Você nunca questionou minha
amizade com você ou com os meninos. — O cortei.
Noah colocou o cigarro entre os lábios e o acendeu, tragando
profundamente. Eu amava meu amigo, sempre quis protegê-lo do
mundo e, principalmente, de si mesmo. Noah não estava fumando
apenas por recreação, ele buscava alívio. O cigarro já estava se
tornando uma muleta para ele, e isso me preocupava demais.
Éramos todos atletas, o nosso corpo era uma ferramenta de
trabalho. Tudo bem que o camisa treze dos Crownford Kings não
tinha uma posição que precisava correr nem nada do tipo, mas,
ainda assim, ele precisava se cuidar se quisesse continuar jogando.
Às vezes, eu tinha a sensação de que Noah não queria nada
mais da vida. E essa porra me assustava mais do que eu conseguia
colocar em palavras.
— Você não acha que está fumando demais? O que está
acontecendo com você? — Perguntei, preocupado.
Ele levantou os olhos e apontou com o olhar para Liz e seu
namorado que se beijavam na pista de dança.
— Noah...
— Sem lição de moral, você sabe que não tem esse direito.
Vive preso ao passado tanto quanto eu!
— Ok. — Levantei minhas mãos em sinal de rendição.
— É foda para caralho vê-la com outro. Dói como o inferno, e
eu passei anos escondendo a dor que é ver essa menina longe de
mim. Não acho justo, principalmente agora que preciso lidar com
essa enxurrada de sentimentos, que eu não possa conversar nem
com os melhores amigos.
Me encolhi envergonhado.
— É que não sabemos como te ajudar, cara. Você que abriu
mão dela.
— E eu faria novamente. Olha para mim, Logan. Você acha
que eu daria conta de ter um relacionamento com Elizabeth? Eu sou
um fodido.
Eu sabia o que era viver preso ao passado. Era exatamente
por isso que eu fugia de relacionamentos.
— Você foi um idiota com Liz, não preciso te dizer isso. Mas
sempre estarei aqui ao seu lado.
Noah expulsou a fumaça dos seus pulmões e me olhou. Se
você quisesse mesmo entender a dor que Noah carregava dentro de
si, era apenas olhar em seus olhos. Eu já tinha conhecido muita
gente fodida, mas ninguém tão triste quanto Noah.
— Passei quatro anos em silêncio, e agora estou me
permitindo sentir toda a merda. E eu preciso de vocês, porque a
culpa... cara... — Ele suspira.
— Eu sei. A culpa é excruciante.
— Parece que foi eu sair da casa dos meus pais e vê-la ir para
o outro lado do país que tudo que eu falei para ela caiu em cima da
minha cabeça. — Noah virou a sua bebida como se ali estivesse a
cura das suas dores internas.
Que situação de merda.
Quando eu conheci Elizabeth, ela já era uma estrela que não
brilhava em toda sua potência. Eu a consolei em meu colo, dei
conselhos a ela e pedi até mesmo para Deus que deixasse essa
menina ser feliz. Ela não merecia toda aquela dor.
A culpa da dor dela era de Noah, mas eu compreendia meu
amigo como ninguém. Tem coisas que simplesmente não
conseguimos fazer, e ele ficar com Elizabeth era uma delas.
Ele olhou para Liz, que gargalhava segurando o ombro do
namorado.
— Aquele sorriso um dia foi meu. — Noah riu irônico. — Eu os
odeio ainda mais por saber que é por culpa deles que perdi
Elizabeth.
— Falando nisso, depois daquele montante que eles te deram,
nunca mais teve notícias?
— Eles se mudaram semana passada. Nova Iorque.
— Nem fodendo.
— Parece que agora todos os pais escrotos estão
concentrados naquele lugar. — Noah respondeu sarcasticamente.
— Que Deus abençoe a grande maçã [2]— Bati meu copo
com o dele. — O que os cretinos foram fazer lá?
— Meu pai recebeu uma promoção na empresa e decidiram se
mudar. Me sinto mais livre sem eles aqui em Crownford.
— Eu me sinto aliviado sem eles aqui, acredite. Cada vez que
eu topava com seu pai, era uma tortura ter que me controlar para
não encher aquela cara convencida de porrada. — Falei com
sinceridade.
— Estou orgulhoso do seu autocontrole. — Noah me deu um
soquinho na mão.
Meu celular apitou, peguei ele do bolso e olhei para a tela.
— Sebastian? — Noah questionou.
— Aham. — Murmurei.
Sebastian: Bem que você me avisou que não era uma boa
ideia vir aqui sozinho. Eu preferia enfiar garfos nos meus olhos.
Logan: Você é um idiota. Vai embora logo. Já levou a mulher
até o altar, já segurou a mão dela e tudo mais. Sua parte de melhor
amigo está finalizada.
Sebastian: Ela vai ficar puta se eu for embora, você a
conhece.
Logan: Então já avisa para ela que estou mandando ela ir à
merda. Você está sofrendo, não é obrigado a passar por essa
tortura por mais tempo que o necessário. Vai embora, come alguém
e dorme. Pronto, amanhã você vai estar novo.
Sebastian: Por que tudo com você tem que envolver sexo?
Logan: Por que é bom? Sério, tem coisa mais prazerosa do
que trepar?
Sebastian: Lógico que não.
Logan: Então pronto. Vai transar, Sebastian! Isso é uma
ordem.
Sebastian: Idiota! Dá um abraço nos meninos. Chego aí
amanhã. E manda o Noah não fazer nenhuma merda, como, por
exemplo, usar drogas.
Chegava a ser irritante a superproteção que os meninos tinham
com Noah. Eles achavam que ele era o que? Um bebê?
Olhei para o lado, e o idiota ainda estava observando a menina
que ele deixou para trás.
Tudo bem, admito. Ele era um bebê.
Logan: Eu estou cuidando do precioso. Fica tranquilo.
— Sebastian está irritado lá no casamento. — Comentei com
Noah.
— Caralho, achei que não ia conseguir chegar até vocês
nunca... — Matteo se aproximou de nós — Nunca vi uma família tão
viciada em fotos como a minha.
— Cadê a Cinderela? — Noah perguntou.
— Sentada com o pai. — Matteo respondeu apontando para a
mesa onde Zoe conversava alegremente com Oliver Harlow.
Um apontamento muito importante sobre o pai de Zoe: o
homem sabia como vestir um terno. Eu nunca achei homens mais
velhos atraentes, mas ele, porra, precisava admitir que era
impecavelmente bonito. Assim como os irmãos da Zoella, mas ali era
um território mais problemático.
Zach Harlow era professor — e muito gostoso — e obviamente
eu já havia lançado alguns olhares para ele, e fui prontamente
ignorado. O homem era muito certinho e ético, mas não custava
nada tentar.
— E então Sebastian está fodido lá no casamento da Harmony.
Até aí nada de novo sob a luz do sol. — Matteo seguiu a conversa.
— Noah reclamando do namoro de Liz, também nada de novo.
— Comentei e Noah me lançou um olhar de reprovação.
Eu não podia fazer nada. Errado eu não estava.
— Talvez algumas coisas simplesmente não mudem. — Noah
resmungou.
Matteo olhou para o céu de forma dramática e pediu:
— Deus, não o escute, faça algumas coisas mudarem. Por
favor, eu imploro.
— Ele está todo engraçadinho agora, não é? — Perguntei
virando meu rosto para Noah.
— Eu nunca fui mal-humorado. — Matteo deu de ombros.
— Mas agora você está praticamente rasgando o rosto com o
seu sorriso. Chega a ser irritante. — Falei.
— Disse o próprio Golden — Ele arqueou a sobrancelha, e
prosseguiu — O que eu posso fazer? Estou vivendo algo que eu
sempre quis. Estou feliz, meninos, de um jeito completamente novo.
— Matt tomou o meu copo e bebeu um gole.
— Você é folgado demais.
— Eu tenho créditos, Golden. Você pegou minha irmã como
melhor amiga.
— Falando nisso, preciso ficar um pouco com ela e Thommy.
— Olhei para pista de dança onde eles seguiram dançando.
— O garoto está bem feliz de estar aqui. — Noah comentou.
— Ele está. — Respondi satisfeito.
Deu um soquinho nas mãos dos meus amigos e fui até Isabella
e Thommy.
Eu queria conseguir tirar Thommy daquele maldito colégio
interno e criá-lo. Daqui uns anos talvez isso seria possível, mas hoje
eu sabia que o melhor para ele era permanecer no lugar onde eu
mesmo já tinha vivido e onde conheci o meu primeiro amor.
Coloquei um sorriso no rosto, mesmo que as memórias de
Callum que tomavam minha cabeça me fizessem querer chorar.
Como eu iria conseguir criar meu irmão se não conseguia nem
cuidar das minhas próprias dores e angústias? Já bastava ter fodido
com a minha vida, não foderia com a dele também.