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Tadeusz Jan Nowak, Secretário-Geral da Obra Pontifícia para a Propagação da Fé

«A diversidade da Igreja é um desafio»


O P.e Tadeusz Jan Nowak, secretário-geral da Obra Pontifícia para a Propagação da Fé,
uma das quatro Obras Missionárias Pontifícias (OMP) que promovem o impulso
missionário universal na Igreja, falou com a Além-Mar.

Texto: Enrique Bayo, missionário comboniano

Mantém algumas das suas raízes polacas?


Claro que sim. Embora eu tenha nascido na Polónia em 1956, quando tinha dois anos e
seis meses de idade a minha família mudou-se para o Canadá. Cresci entre duas
culturas, a do Canadá anglófono e a polaca, porque tudo na minha casa era polaco: a
língua, a cultura, a comida e até a religião católica. Fui ordenado sacerdote em 1984
como Missionário Oblato de Maria Imaculada e os meus primeiros serviços pastorais
foram em paróquias com imigrantes, porque o Canadá é um país de imigrantes.

E agora, há mais de 11 anos, que trabalha em Roma?


Sim, e sempre ao serviço da Congregação para a Evangelização dos Povos, cuja tarefa é
a propagação da fé em todo o mundo, mas especificamente nos chamados territórios ou
países de missão, que se encontram principalmente na Ásia, África e alguns vicariatos
apostólicos na América e Oceânia. No início, estava encarregue de acompanhar as ilhas
do Pacífico, as Caraíbas e a América do Norte, das quais o Alasca e alguns territórios
canadianos fazem parte.

Viaja muito...
Não, eu viajo muito pouco. O núcleo do nosso trabalho é a comunicação constante com
as nunciaturas; os núncios realizam o trabalho no terreno e depois enviam os seus
relatórios à Congregação para que os possamos estudar e propor propostas de acção ao
cardeal prefeito e à sua equipa, que os avaliam e tomam decisões.

É secretário-geral da Obra Pontifícia para a Propagação da Fé, cargo para o qual


foi nomeado a 1 de Julho de 2018. Em que consiste o seu serviço?
Consiste, sobretudo, em suster esta obra missionária, sendo fiel ao carisma que lhe deu a
sua fundadora, Pauline Jaricot [ver caixa], encorajando os católicos de todo o mundo a
serem sensíveis às necessidades da evangelização. Em segundo lugar, coordeno a
distribuição do Fundo de Solidariedade Universal e, finalmente, juntamente com os
outros três secretários-gerais das OMP, faço parte de um comité executivo onde
discutimos a situação das nossas obras no mundo e o modo como realizar o que
pensamos.

Como é promovida a animação missionária nas Igrejas?


De Roma vejo o mundo inteiro e estou consciente do desafio da grande diversidade da
Igreja. Cada país tem as suas próprias particularidades. Encorajo os directores nacionais
das OMP a descobrirem os elementos culturais mais importantes a partir dos quais se
pode encorajar as pessoas a estarem mais conscientes da missão da Igreja. Na Europa e
América do Norte existe uma grande secularização e não é fácil despertar o espírito
missionário, mas não nos devemos desencorajar.
Mencionou há pouco o Fundo de Solidariedade Universal, qual é a sua
importância?
O fundo simboliza a unidade da Igreja universal. É importante, porque cada cristão pode
ter a certeza de que quando contribui para ele, a sua contribuição, por mais pequena que
seja, faz parte dos projectos missionários que se realizam em todo o mundo. Este
dinheiro partilhado não é um acto de caridade, mas a acção de solidariedade da única
família que todos nós formamos. Por muito diversidade que possa haver dentro dela, a
Igreja tem uma unidade interna que nasce do mistério pascal de Cristo, fonte de toda a
animação e de toda a ajuda solidária.

Como é gerido o fundo?


Com muita responsabilidade, porque a angariação de fundos diminui todos os anos e
temos de ser muito prudentes na sua distribuição, exigindo aos bispos transparência e
relatórios que justifiquem a utilização do dinheiro. Nos dois últimos anos, devido à
pandemia, as igrejas estiveram encerradas, o que teve um impacto negativo nas colectas.
De acordo com os estatutos, o que é recebido num ano deve ser distribuído quase
inteiramente no ano seguinte, não se pode acumular, pelo que dependemos sempre da
Providência. Para a sua gestão, existem subsídios ordinários que os bispos de todos os
países ou territórios de missão recebem, um montante variável em função da situação
económica de cada um. Depois há os subsídios de manutenção para os bispos eméritos
que os solicitam e as despesas dos cinco colégios romanos dependentes da Congregação
para a Evangelização dos Povos. O resto do dinheiro é distribuído em subsídios
extraordinários respondendo aos pedidos dos bispos em todo o mundo.

Quais são os critérios para esta distribuição?


Não é uma tarefa fácil, mas tentamos apoiar, em primeiro lugar, os lugares mais pobres,
e os bispos que mostram a maior transparência e responsabilidade na gestão dos fundos.
Outro critério, é ajudar de forma prioritária os cristãos que vivem em situações de
minoria ou perseguição, a fim de fortalecer as Igrejas que mais sofrem. Quanto ao tipo
de projecto, damos prioridade aos que se concentram na evangelização. No mundo há
muitas ONG dispostas a financiar a construção de escolas ou hospitais, mas nenhuma
apoia projectos de construção de uma igreja onde se celebram os sacramentos e se
reúnem as comunidades cristãs. Na minha opinião, é melhor apoiar tais projectos, sem
descartar os projectos sociais.

O continente africano recebeu cerca de 70 milhões de euros das OMP em 2020?


Sim, a África foi o continente onde mais dinheiro se enviou, mas também é verdade que
as Igrejas africanas aumentam anualmente a sua contribuição para o Fundo de
Solidariedade Universal, com excepção do descenso devido à pandemia. O grande
trunfo da África é a sua juventude, a sua energia juvenil. Os africanos amam a vida e,
além disso, têm uma sensibilidade religiosa quase natural para a fé, para Deus e para a
dimensão espiritual. Isto pode ser desenvolvido, não digo explorado, mas desenvolvido,
para fortalecer o Evangelho, porque a sua mensagem atrai quando é proclamada a
pessoas com sensibilidade espiritual. Este dinamismo faz com que o cristianismo em
África esteja a crescer em todas as regiões.

Este dinamismo das Igrejas africanas traduz-se em vocações. O que pensa dos
padres africanos que trabalham na Europa?
Apesar das muitas dificuldades sociais e políticas que a assolam, vejo grande esperança
em África e, de facto, a vitalidade das suas Igrejas significa que há muitas vocações
para a vida sacerdotal e religiosa. Isto requer, antes de mais, uma boa formação. As
OMP, através da Obra Pontifícia de São Pedro Apóstolo, apoiam numerosos seminários
e casas de formação para religiosos e religiosas em África. A missão é universal e existe
a possibilidade de intercâmbio de agentes pastorais, pelo que vemos muitos padres
africanos na Europa que dão vitalidade às comunidades cristãs europeias. Isto é
positivo, mas deve haver sempre um acordo entre o bispo que envia e o bispo que
acolhe. A colaboração deve ser estreita, a fim de reforçar este esforço de comunhão na
Igreja. Se um padre quiser permanecer na Europa sem a permissão do seu bispo, o bispo
europeu que o recebe deve recusar e convidá-lo a regressar à sua diocese.

Para as OMP, 2022 não será um ano normal?


Não, não será. Este ano coincidiram vários centenários e eventos missionários
importantes: o quarto centenário da criação da Congregação para a Propagação da Fé,
hoje chamada Congregação para a Evangelização dos Povos, onde as OMP estão
integradas; o quarto centenário da canonização de São Francisco Xavier, santo
padroeiro das Missões; o segundo centenário da criação da Obra Pontifícia para a
Propagação da Fé e o primeiro centenário da sua designação como obra pontifícia
juntamente com outras duas, a Infância Missionária e São Pedro Apóstolo; também o
150.º aniversário do nascimento do beato Paolo Manna, fundador da quarta obra, a
União Missionária.

Como planeiam celebrá-los?


Estamos a encorajar os directores nacionais das OMP, juntamente com os directores
diocesanos, a organizar actividades que ajudem o povo cristão a compreender o
significado destes eventos missionários. Além disso, a assembleia internacional das
OMP, que se realiza habitualmente em Roma, em Maio, este ano terá lugar em Lyon, na
França, o lugar onde nasceu Pauline Jaricot, fundadora da Obra Pontifícia para a
Propagação da Fé. Aí participaremos na sua beatificação, no dia 22 deste mês.

Pauline Jaricot: beata missionária

Pauline-Marie Jaricot, nasceu a 22 de Julho de 1799, numa família abastada em Lyon,


França. Viveu uma infância marcada pelo afecto e pela fé viva dos seus pais. Enquanto
adolescente, era bonita, namoradeira e elegante, deixando-se seduzir pelas «ilusões do
mundo». Mas a jovem é testada por uma doença e pelo desaparecimento da sua mãe.
Depois de ouvir uma homilia sobre a vaidade na igreja de Saint-Nizier, em Lyon,
passou por uma transformação interior que mudou radicalmente a sua vida: abandonou
as suas jóias, decidiu vestir-se com simplicidade, como as trabalhadoras, e começou a
visitar e a servir os pobres.
Pauline tinha uma fé do tamanho do mundo. Ela disse: «Fui criada para amar e agir. O
meu claustro é o mundo!»  Assim, consagrou sua vida a Deus por voto privado na
capela de Nossa Senhora de Fourvière em Lyon. Depois, dedicou-se exclusivamente a
servir a Deus nos pobres e enfermos, visitando diariamente hospitais e incuráveis,
colocando ataduras nas suas feridas e oferecendo palavras de conforto.
A ajuda aos necessitados foi acompanhada por uma vida de intensa oração, recebendo a
Eucaristia diariamente, intercedendo pela conversão dos pecadores e pela evangelização
do mundo.
Informada da má situação das missões no mundo, decidiu dar a conhecer as suas
necessidades e ajudá-las através da oração e da assistência material. A leiga francesa
intuiu que o problema da cooperação missionária não era ajudar esta ou aquela missão,
mas todas, sem distinção. Com ela teve início o grande movimento de cooperação
missionária que gradualmente passou a envolver toda a Igreja.
Organizou a “angariação de fundos para a missão” e inventou a primeira rede social
missionária. Os doadores foram organizados, em “dezenas”, “centenas” de “secções”,
para entrar em contacto com os missionários, doar e partilhar as notícias da missão,
multiplicando assim os doadores. O sistema  institucionalizou-se, com a criação da Obra
da Propagação da Fé, em 1822, e rapidamente ganhou um alcance considerável em
França, na Europa e depois em todo o mundo.
Pauline Jaricot foi declarada venerável em 25 de Fevereiro de 1963, por São João
XXIII. Em 26 de Maio de 2020, o Papa Francisco autorizou a publicação do decreto que
reconhece o milagre atribuído à intercessão da venerável. Será beatificada no dia 22 de
Maio, durante a celebração eucarística presidida pelo prefeito da Congregação para a
Evangelização dos Povos, o cardeal Luis Antonio Tagle.

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