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AIMEE Oe sone} ery UE eC TINY PUES 1) are aesa {lo capital em Sua formaneolberal efinancista. Adevastacao se expand, entao, pata totias as suas esferas da vida societal. Eéjustamenteesteo erimotiydestelivro/coletaneo, como titulo A nova morfologia do trabalho no Servco Social (RTeee Sess sa esi toca Oslo atraves dos estudos queinvestigam a classe trabalhadora em sua ‘nova morfologia,procurando apresentar suas particuaridades fesingularidades. Eaqulencontramos uma contibuicso efetiva PECL el esse NC cos Esta coletanea sobre nova morfologia do trabalhono Servico Social evidenciao trabalho serio, criterioso e critic de suas organizadoras e coautores/as. Que seja, entao) doe estudado no Servico Sociale também em outras reas, por todos Bn taa eden ale nceemscc cous) OEE Snel eM ei claciis Cerohctas ee cucclecu | ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL Reel elena ths FINE AV (en) (3 Valeria Albuquerque ONTO RAE OUT UNS UICUN TELE SBA 25 1 SERVICO SOCIAL: trabalho e profisséo na trama do capitalismo contemporéneo Raquel Raichelis Introdugio Neste texto, analisamos 0 Servigo Social como expresso do tra~ balho coletivo no Ambito das politicas sociais, mediagio privilegiada do trabalho profissional frente as configuragdes da “questo soci As profissdes, ao serem recrutadas pela estruturacdo de um mercado de trabalho que as requisita, passam a ocupar lugares especificos na 1A “questio social produzidas ¢ reproduzidas na dinfimica contraditéria das classes socials, e, na pa ridade ausal, a partir das configuragdes assurmdas pelo trabalho e pelo Estado burgués no tual estgio mundializado e financeirizado do cap enporineo. 6 RAICHELIS « VICENTE ALBUQUERQUE progressivo de regulacdo e formulacao de respostas institucionais as demandas postas pelas contradiges da “questio social” Realizamos um esforco analitico para aprender o significado daquelas profissdes que, como 0 Servigo Social, atuam no campo dos servigos, ¢ cuja atividade se configura como trabalho em processo (0s vivos do traba~ s/as a relagoes de alienacao préprias do trabalho assalariado. Problematizamos 0 crescimento significativo do “setor” de servicos dialogando com complexas questdes relacionadas natureza do trabalho nesse Ambito e as novas formas de extragio do valor nas, diferentes modalidades de trabalho em sua morfologia atual. Nesses termos, buscamos particularizar as relagdes € condigoes do trabalho da/o assistente social diante das novas estratégias de controle ¢ gerenciamento da forga de trabalho dos quadros profis~ evidenciando os constrangimentos do trabalho assalariado de assistentes sociais submetidas/os a processos de rotinizagéo, ntensificacao e precarizagao do trabalho, com incidéncias em sua relativa e na materializagdo do projeto ético-politico do Servigo Social. 1. Servico Social — trabalho ¢ profissio: uma relacdo necesséria a ser construida © reconhecimento do Servigo Social como profissio € a profis~ sionalizagao dos seus agentes na sociedade brasileira decorrem de complexas interacdes entre processos institucionais e Iutas sociais frente as expressdes da “questo social", nos quais 0 Estado capitalista da cra dos monopélios amplia suas fungbes econdmicas e polit intervém nos processos de regulacio social Bm tal contexto, as politicas piiblicas, notadamente as politicas sociais, assumem relevancia e buscam garantir condigdes adequadas ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL = a0 funcionamento da forga de trabalho para as demandas de re~ produgio ampliada do capital; e, por meio das mesmas atividades, responder contraditoriamente, ainda que de modo parcial ¢ insu ciente, as necessidades sociais coletivas ¢ individuais derivadas dos processos de produgio reprodugao social. O carter contraditério ticas sociais no pode ser subestimado porquanto viabiliza tos conquistados pelas lutas histéricas da trabalhadora, mesmo que na atual conjuntura sociopolitica brasi- leira, as politicas sociais estejam se distanciando crescentemente da perspectiva de universalizagao, transformadas em mercadorias 4 venda no mercado, como é 0 caso da satide € da educacao, ou inseridas na légica do consumo € do endividamento da classe tra~ balhadora, como é 0 caso dos Programas Minha Casa Minha Vida, , entre outros, As politicas sociais constituem mediacao nfo exclusiva, para 0 trabalho profissional base institucional que impulsiona a profissionalizagao de assistentes sociais, por meio da formagio de um mercado de trabalho que passa a requisitar agentes habilitados para a formulagao ¢ implementagao das politicas socials. Desde ento, o Servico Social brasileiro vem construindo 0 reconhe- cimento de sua atividade junto a instituigdes puiblicas e privadas que buscam responder as sequelas da “questo social", como expressao das lutas de classe pela apropriagao da riqueza socialmente produzi~ da. A partir da década de 1980, impulsionado por um movimento de ruptura com o conservadorismo profissional, o Servigo Social mobiliza esforgos tedricos e politicos para conferir legitimidade social & sua intervencao junto aos sujeitos do trabalho profissional, aliando-se 20 movimento de ampliacao dos direitos dos grupos e classe subalternas. legiada, embora A diregio social da profissio forjada nessa dinémica sociopolitica — que convencionamos denominar projeto ético-politico profissional — 6 nesses termos, a expressiio da construgao coletiva do Servico brasileiro nas iiltimas quatro décadas, tecida nas lutas sociais pela emancipacio politica, tendo como horizonte a construgao de outra sociabilidade para além do capital _ RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE “Animado por esse projeto profissional, o Servigo Social brasileiro claborou um modo de interpretacao da profissdo na sociedade de classes, tributario das contribuigdes de seus/suas mais importantes intelectuais, com destaque para lamamoto, que desde 1982, com a obra inaugural Relagdes Sociais e Servigo Social no Brasil: esbogo de uma interpretagao histérico-metodolégica, em coautoria com Raul de Carvalho, desenvolve anilise critica sobre os fundamentos da profiss’o no processo de produgao € reprodugao das relagdes sociais capitalis- tas, com base na teoria social de Marx, apreendendo o Servico Social na divisio social ¢ técnica do trabalho como expresstio do trabalho coletivo na sociedade capitalista. ‘Tal contributo intelectual é enriquecido pelos aportes de Netto (1992), notadamente com suas anélises do Estado no capitalismo monopolista, que reconhece a funcionalidade do Servico Social no espectro da divisao social e técnica do trabalho na sociedade burguesa madura, como uma das respostas para fazer frente as expressoes da “questio social” tipificadas nas politicas sociais. Como responsavel pela organizagio e soldagem dos interesses burgueses, aponta também os caminhos do Estado como indutor da constituigdo de um mercado de trabalho nacional, que define um lugar especifico para o Servigo Social no conjunto de outras ocupagées social E conhecido o impacto dessas contribuigdes para a ruptura do Servigo Social com o legado conservador de sua origem, de raiz, po~ sitivista e funcionalista, a partir da qual a andlise do signi da profisso ganha novos patamares, por meio da amp! coma teoria social marxiana ¢ marxista, bem como com o pensamento social critico classico e contemporaneo. O legado tedrico-metodo- logico dessa aproximagao abre novas e fecundas perspectivas que passama direcionara teleologia profissional, as diretrizes curriculares da formagao académico-profissional, além de fundamentar a pesqui a produgao intelectual do Ser \do-o como drea de area de conhecimento impulsionada pela expansao dos programas de Pés-graduagao no pats. [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL a “néicleo duro” dessa interpretagao do Servigo Social na socie~ dade capitalista remete & relago tensa e contraditéria entre projeto profissional e trabalho assalariado, entre lutas de resisténcia ¢ im- posigdes do poder institucional, que impéem limites cada vez mais estreitos & relativa autonomia profissional na implementagao desse fentes sociais aos constrangimentos da lagdes de trabalho. Destaca-se nessa rapida contextualizagao a marea do assalaria~ mento que acompanhou a institucionalizagao do Servigo Social, ainda que 0 estatuto de “profissio liberal” tenha sido reconhecido desde 08 anos de 1950 pelos esforgos das/os pioneiras/os em construir © arcabougo de sua profissionalidade por meio do reconhecimento legal dessa ocupagio pelo Estado ¢ classes dominantes. I de se notar que 0 Servigo Social foi uma das profissées que mais precocemente obtiveram sua regulamentagio oficial no Brasil, com pouquissimas profissdes regulamentadas até a década de 1960? Mesmo observando-se em seu desenvolvimento histérico a in~ tensa interpenetragao entre a profissionalizagao do Servico Social eo estatuto de assalariamento dos seus agentes, que tém no trabalho seu valor central, é importante observar os desafios postos 4 teoria social critica no ambito do Servigo Social para fazer avangar a construcao de mediagées tedrico-metodologicas € politicas entre os dois estatutos — trabalho e profisso — que superem abordagens dicot6micas na alienagio e a reificacdo nas é bastante recente, come observa 1962 apenas tério do praftsdes lberas. Em 27 de agosto de 1957 fe depois pelo Deereto n, 994 de 15 de maio de 1862. Nesse mesmo decreto sio eriados © FAS) e 08 Conselhos Regionais de Assistentes 10 Cédigo de fica Profisio 3 doa Assistente Soci igo Brasileira de Assistentes ‘Sociis, hoje ABEPSS, em 1948; ¢ sucessivamente o Cédigo de Etica aprovado em 1965 € em 1998, que se encontra em vigor 30 RAICHELIS « VICENTE» ALBUQUERQUE atual quadra do desenvolvimento capitalista. £ 0 que se observa de modo geral nas ciéncias sociais que constituiu dois objetos te € investigativos: 0 trabalho como objeto da sociologia do trabalho; a profissdo como objeto da sociologia das profiss6es, 0 que favore- ceu uma cisdo entre esses dois campos tematicos, que @ nosso ver se reproduz na literatura € no debate académico do Servico Social. Colocamo-nos a tarefa desafiadora de contribuir, ainda que de forma preliminar, para 0 enfrentamento tedrico dessa cisio, tendo ‘como marco o processo de laicizacao" e ruptura do Servigo Social com as formas filantrépicas € confessionais desenvolvidas desde as suas origens na sociedade burguesa, ainda que a presenga da Igreja Catélica represente um trago de continuidade do Servico Social profission: ‘com as protoformas que o antecederam, como observa Netto (1992). Contudo, mesmo reconhecendo a importncia do idedrio catélico na conformagao do Servigo Social como profissdo, o fundamento da sua profissionalizacao s6 pode ser explicado pela “criagao de um espaco sécio-ocupacional no qual o agente técnico se movimenta — mais exatamente, o estabelecimento das condigdes histérico-sociais que demandam este agente, configuradas na emersio do mercado de trabalho’, (idem, 1992, p. 70) Embora 0 Servico Social tenha sido regulamentado como “profis~ sio liberal” no Brasil, 0/a assistente social exerce seu tral tariamente como assalariado de instituigdes pablicas ou ‘operacionalizam politicas e servicos sociais', Desse mod © Servico 3. Laicizagdo que para Netto (1992, p. 74, nota 133) em como indicadores “por um. ‘a regulamentagio compulséria e piblica (estatal) da formacSo e do desempenho profissional, e, por outro, a ciferenciagia ideal (e6rico cultural e ideo-polica) interna da categoria profissional: 4. Sitveirs (2013) chama atengio para ofato de que no Brasil diferentemente de outros prises, desde « génese da profissio, hi uma relagio direta com a formacio veltada aos Servigos socials rio contexto das agbes publicas de protegio social, que deste a década de 1930 se ‘com as iniclativas privades hegemor cexemplo & a cr [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVIGO SOCIAL ot Social incorpora algumas caracteristicas das “profissdes libe fo que the confere relativa autonomia na condugao do seu trabalho, entre as quais: singularidade na relagio com seus usuarios; caréter nao rotineiro de seu trabalho; capacidade de apresentar propostas de intervengio a partir de seus conhecimentos técnicos; presenca de uma deontologia e de um Cédigo de regulamentagao legal que dispe sobre o exercicio profissional, competéncias, atribuigdes privativas e foruns para disciplinar e defender 0 exercicio da profissio. (Werdes,-Leroux, 1986; Yazbek, 2009). Mesmo com essas caracteristicas “definidoras” de sua profissio~ nalidade, 0 Servigo Social mantém tragos de uma profissdo em cuja origem, ¢ até os tempos atuais, estéo presentes elementos vocacionals como valorizagao de qualidades pessoais e morais; apelo ético, religioso ou politico como justificativa de seu engajamento; discurso altruista e desinteressado; presenga do primado “do ser sobre 0 saber" (ider)." Nesse aspecto, uma questo que nos instiga a aprofundamen- tos posteriores decorre de uma anotagao de pé de pagina de Netto (1992, p. 72, notas 128 e 129, grifos do autor), quando observa que, no desenvolvimento do Servico Social profissional, a presenga da histérica tensio entre “valores da profissao” ¢ os papéis “que objeti- vamente Ihe foram alocados resultou numa hipertrofia dos primeiros 3 Embora nio seja 0 caso de tematizar essa questio, vale destacar que pi mpreciio conceitual no us0 da nacio"profissiona iberal’ pois é comum a confusio. ‘atatuto de trabalhador auténomo, no sentido daquele que nao tem vinculo empregaticio © trabatha por conta propria, Convém esclarecer que profissionaisiberas podem ser auto tos, empregados ou mesmo emipregadores, desde que exercam ume aividade profisional fiscalizada por érgios reconhecidos pelo Estalo.Contudo, essa questo fica mals complex 4 partir das formas jurdicas criades pelo capitalismo neokberal, que encobrem relages ‘de assaleriamento por meio das figuras de trabalho “auténomo" ¢/ou trabalho “inform ‘6, Como observa Netto (1992, p. 74, nota 183: "A laicizagSo, tanto mais afrmada quanto mats nikido€ o estatuto profissio ‘sutorrepresentacio com tragos con~ fessionals nem, menos ainda, a pretensia de onganizagdes confessionais em direcionar 2% " ‘dessa reflexo, Net referéncias e as priticas dos profissionais’ ‘dem) pondera| ‘sua vonlade de intervengio repugna © reconhecimento 27D signo mais evkdente da profissionalizagdo no marco das relagbes socials burgucses 22 RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE na autorrepresentacao profissional — resultando num voluntarismo que, sob formas distintas, é sempre flagrante no discurso profissional’ Dito de outro modo, essa referéncia remete 4 histérica relacio, sempre tensa e contraditoria, entre direcdo ético-politica do projeto profissional e requisigdes institucionais dirigidas as/aos assistentes sociais nos espagos ocupacionais. E, nesses termos, tal hipertrofia dos ‘valores da profissio” pode ser uma pista heuristica para elucidar © silenciamento, na literatura critica do Servico Social, de referéncia dimensio abstrata do trabalho profissional, como participe do cireuito da produgio e/ou (re) distribuigdo do valor na sociedade merean ¢, por outro lado, a énfase na dimensio concreta desta atividade sua utilidade social na mediacZo de respostas a necessidades sociais, tal como adverte Jamamoto (2007) em suas reflexdes sobre a dupla dimensio do trabalho na sociedade produtora de mercadorias, Retomando o fio condutor de nossa anilise, nao é demais lembrar que nao ha no movimento da hist6ria lugar para linearidades. Sendo a profissio resultado de relagées sociais contraditorias engendradas pelo capitalismo dos monopélios, ela é ao mesmo tempo um produto vivo de seus agentes, do protagonismo individual e coletivo de pro- fissionais organizados a partir de um projeto ético-politico que solda suas projegdes e hegemoniza sua direcdo social, ndo sem tenses que, ‘em determinadas circunstncias, aparece na autorrepresentacao profissional como manifestagdes de crise profissional. Com base nessas reflexdes, reafirma-se a concepgio de Servigo Social como uma especializagio do trabalho coletivo, inscrito na divisdo social ¢ técnica do trabalho, no Ambito das relagdes entre Estado e sociedade civil, nos marcos da sociedade capitalista em seu estdgio monopolista. Trata-se assim de uma profissio que participa, juntamente com outros profissionais, da produgio ¢ viabilizagio de servicos sociais ¢ direitos em resposta a necessidades sociais de individuos, grupos e classes sociais em seu processo de reproducao social. (Jamamoto, 1982, 2007) Apartir dessa perspectiva, depreende-se que a legitimidade social do Servigo Social & extraida da relagio intrinseca com 0 campo da [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVIGO SOCIAL 2 prestagio de servigos sociais, piiblicos e privados, associando trabalho, profissio, “questo social" e politicas sociais como dimensbes que se determinam reciprocamente A luz da historicidade que caracteriza a totalidade social contraditéria que precisa ser desvendada. Contudo, 0 debate sobre as profissdes se tornou um campo bas~ tante complexo em seus nexos com 0 trabalho assalariado. O exame da produgao de alguns autores da area da “sociologia das profissées” revelou que 0 aciimulo construido se desenvolve no campo nao mar xista, mais especificamente na vertente funcionalista norte-americana, cuja énfase na descrigio dos atributos € no funcionamento das pro- figsdes constitui referéncia inaugural para todas as outras influéncias tedricas, como a durkheimiana, voltada para 0 papel integrador ¢ de caesio social exercido pelos grupos profissionais; bem como para as demais vertentes, como as denominadas interacionistas e neowe~ berianas, que enfatizam 0 monopélio do conhecimento, do poder € do status exercido pels corporacées profissionais num sistema de estratificacao, como base da profissionalidade e do reconhecimento social de cada profissio. Os autores funcionalistas em suas formula ges buscam estabelecer um conjunto de atributos gerais definidores de qualquer profissio, com destaque para a autonomia profissional questo que nos interessa de perto ¢ que retomaremos mais adiante. Para estes, “nao é o capitalismo ou a livre empresa que constituem as carateristicas mais salientes desta sociedade, mas a emergéncia (Diniz, 2001, p. 18-19). dos grupos profission: do PEPG em Servigo Social da “Ambito do Procad Casadinho/CAPES/CNPg, na didlogo com outras cor ‘vas da natureza das profissbes no campo da chamada “sociologia das profissdes” Confer, ntre outros: BARBOSA, Maria Ligia de O. A sociologta das profissbes: 2 legitimidade em torno de um objeto. BIB/ANPOCS, Rio de Janeiro, n. 36, 1993; DINIZ, Bi. Os donas do saber fasionas, Rio de Janeiro: Editora Revan, 2001; MACHADO, DO, M, H. (Org) Profssdes de 1a abordagem sacialégica, Rio de Janeiro: Feitora Fiocruz, 1995; SANTOS, Andre Filipe Pereira Reid, As prinepais sbordagens soctolégicas para analises das prfissdes. BIB/ANPOCS, Sho Paulo, n. 71, 1° semestre, 201, 34 RAICHELIS « VICENTE « ALBUQUERQUE Trata-se da vertente atributivista-funcionalista (Diniz, 2001) que labora uma “definigao por atributos" das profissdes € enumera uma lista de atributos relativamente permanentes ¢ (supostamente) univer~ sais, responsdveis pelo profissionalismo alcangado por cada profissio, entre eles a existéncia de um corpo de conhecimentos complexo ¢ abstrato adquirido em um prolongado processo de aprendizado; a presenga de uma cultura profissional sustentada por associagoes a orientago voltada para as necessidades da clientela; aexisténcia de um cédigo de ética. (idem, p. 20) Nessa matriz teérica, a contribuigo dos grupos profissionais para © funcionamento da sociedade é vista como fundamental, por serem eles “portadores de valores racionais do conhecimento cientifico € tecnol6gico, da moderna visio de autoridade fundada na competéncia técnica funcionalmente especifica € do universalismo que conforma ‘0s padrdes do desempenho (Parsons, 1964 apud Diniz, idem, p. 19) ‘As profissdes modernas estariam orientadas para 0 servigo pres taco a comunidade, com base na racionalidade cognitiva, na confianga, no desprendimento pela remuneragdo de mercado € na busca de re~ conhecimento simbdlico pela fungio que desempenham (Diniz, 2000). Essa formulagio expressa um modelo baseado nas “profissdes liberais" (notadamente direito e medicina em suas origens e represen- taco simbélica), que concede excessiva autonomia ¢ autorregulagio 208 grupos profissionais, cujos praticantes sao tidos como “altruistas que trabalham para o bem comum’, i, de certa forma, a referéncia que orientou a profissionalizagao do Servico Social em seu processo de institucionalizagao no Brasil, considerando a mesma matriz positivista das suas origens, apoiada es abstratas, essencialistas e descritivas. Trata-se de uma ipologia que busca elaborar uma definigao geralt, 4 qual pode até corresponder certos tracos caracteristicos de determinadas profissées, 8 Diniz (2001, p.18) observa pals estudiosos concordam icdo "minima dever fazer referéncia 4s profssées como: ecupagies no manwuais que ‘requerem funcionalmente para seu exercicio um alto nivel de educagio formal (de terceiro [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL as mas desistoricizada e descolada das bases sécio-historicas que the conferem inteligibilidade, portanto abstrata e sem poténcia explicativa capaz de desvelar, articular e hierarquizar tais atributos, configu- rando-se mais como uma “ideologia do profissionalismo’, conforme observa Diniz, (2001), Nao sendo nosso objetivo realizar uma exegese da literatura no campo dos analistas das profissdes, destacamos duas questdes que hos parecem importantes para a nossa discusséo sobre 0 estatuto do trabalho profissional: a centralidade atribuida por grande parte dos autores 4 questao da autonomia profissional e 0 monopélio do conhecimento, como tracos definidores de uma profissio. Em relagao 4 autonomia profissional, destaca-se a um alto grau de autocontrole do comportamento dos pro! através dos codigos de ét ao, no trabalho e através das associacdes profissionais. Considerada em termos coletivos, destaca-se a autonomia do grupo profissional como a prerrogativa de que gozam membros de uma profissao, de proceder, sem qualquer interferéncia externa, critérios de admissio & comunidade profissional, normas de conduta e procedimentos profissionalmente corretos, além de controle sobre 0 conteiido do treinamento profissional (Diniz, 2001, grifos nosso). Nesses termos, reforca-se uma visdo endégena, em que as pro- issGes so classificadas e descritas a partir de como elas mesmas se autorrepresentam, su econdmicas ¢ culturais que incidem nas pr dos sujeitos profissionais, (Silveira, 2013) apreensio distancia-se da nogao de autonomia relativa que permite aos sujeitos profission: romperem com visdes deterministas e/ou voluntaristas para se apro- priar da dindmica contraditéria dos espacos institucionais e poderem {rau osualmente testado em exames e confirmado por algun tp ‘ariando historicamente contedidos esignifieados destes termos. 36 RAICHELIS « VICENTE » ALBUQUERQUE formutar estratégias individuais e coletivas que escapem da reprodugao acritica das requisiges do poder institucional. Nessa altura jt esta assentada nossa critiea a nogio de autonomia no sentido conferido pelas teorias atributivistas-funcionalistas, ¢ as prerrogativas de que supostamente gozariam membros de uma profissao de estar imunes s determinagées econdmicas, politicas ¢ culturais que incidem no irecionamento ¢ nos contetidos do seu trabalho, considerando as sjungdes do trabalho assalariado. Por outro lado, a questio de repousar o reconhecimento profis~ sional no conhecimento especializado que as profissdes elaboram para afirmar seu estatuto profissional no mercado de trabalho e na diferen- ciago com outras profissées também nao passa sem questionamentos. Em nossa visdo, nao cabe atribuir 4 natureza abstrata e complexa do corpo de conhecimentos produzidos por uma profisséo o elemento determinante e garantidor de sua autonomia (para nés sempre rela~ tiva) € autocontrole institucional. Sem obviamente desconsiderar a mportancia do conhecimento, e1 Imente posicionado, a orientar o trabalho profissional, é preciso salientar, como faz Netto (1992, p. 87 e 88) que: O aspecto nuclear de uma intervengio profissional institucional néo é uma rel dependente de um sistema de saber em que se ancora ou de que deriva; 6-0 das respostas com que contempla demandas historico-sociais determinadas; o peso dos vetores dla saber $6 se precisa quando inserido no circuito que atende e responde a estas ditimas (mesmo que, em situagao de rpidas mudangas sociais, a emersio de novos pardmetros do saberevidencie implementagées suscetiveis de oferecer inéditas formas te intervengH0). Portanto, acompanhando nossos/as autores/as (Netto; lamamoto) reafirmamos 0 caminho da profissionalizacao do Servigo Social como © processo pelo qual seus agentes se inserem em atividades laborais, aco, recursos ¢ objetivos sio determinados para além do seu controle, isto ¢, pelos empregadores dessa forga de trabalho. [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVIGO SOCIAL, 2 Como profissionais assalariados/as, em grande parte pelas instituigdes do aparelho de Estado nas trés esferas de poder, nota damente em Ambito municipal, mas também por organizagées nio governamentais ¢ empresariais, a forga de trabalho de assistentes sociais transformada em mercadoria s6 pode entrar em aco através dos meios € instrumentos de trabalho que, nao sendo propriedade desses/as trabalhadores/as, devem ser colocados & disposicio pe- los empregadores institucionais piblicos ou privados: infraestrutura humana, materiale financeira para 0 desenvol projetos, servicos, beneficios e um conjunto de outros req cessarios a execucao direta de servigos sociais para amplos segmentos da classe trabalhadora ou para o desenvolvimento de fungdes em nivel de gestdo e gerenciamento institucional, Portanto, Na compra e venda da forca de trabalho, o trabalhador recebe o valor de troca dessa mercadoria — traduzido no equivalente monetario de seu tempo de trabalho socialmente necessario —, e entrega ao empregador 0 seu valor de uso! 0 direito de consumo dessa forga de trabalho durante um periodo de tempo, equivalente a uma dada jornada de trabalho segundo parmetros sados no contrato de trabalho. estabelecids pelo contratante € for (lamamoto, 2007, p. 421-422), Esse processo subordina 0 exercicio profissional 4s requis Ges institucionais para 0 desenvolvimento nos diferentes espacos sécio-ocupacionais que demandam essa capacidade de trabalho ada. Ao mesmo tempo, a/o assistente social, enquanto profissional qualificada/o, dispe de relativa autonomia em seu campo de trabalho, para realizar um trabalho social e complexo, saturado de conteudos politicos € intelectuais ¢ das competén- cias teéricas e técnicas requeridas para formular propostas € negociar com os contratantes institucionais, privados ou estatais, suas atribuigdes e prerrogativas profissionais, os objetos sobre os quais recai sua atividade profissional e seus préprios direitos como rabalhadora/or assalariada/o. ad RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE Em sintese, reconhecendo que muitas questées permanecem em aberto e exigem um maior aprofundamento tedrico, consideramos que nao hd como separar ou dicotomizar trabalho € profissdo, nem tampouco deixar de reconhecer a atividade de assistentes sociais como trabalho ¢ 0 sujeito vivo dessas relagdes como trabalhador as- salariado, no complexo processo de determinagdes € possibilidades contidas nas relagdes sociais das quais 6 participe. Contudo, nao desconhecemos que apesar de hegemdnica no Servigo Social, essa 10 que considera a atividade exercida por assistentes sociais como trabalho, em sua dupla dimensio de trabalho concreto € abstrato no ordenamento capitalista, esta longe de ser consensual e comparecem no debate académico e intelectual questionamentos e criticas quanto 4 inadequagao desta apropriagao a partir de distintas interpretagoes da obra de Marx, especialmente no O Capital Reiteramos assim nossa compreensio de que as profissdes, a0 serem recrutadas pela estruturagao de um mercado de trabalho que as requisita, passam a ocupar lugares especificos na divisdo social técnica do trabalho, respondendo a requisigdes ditadas pela dindmica da luta de classes ¢ dessas com 0 Estado, no movimento progressive de regulagio e produgio de respostas institucionais s demandas postas pelas contradigdes da “questo social". Portanto, 0 desafio & considerar a totalidade do processo de produgao e reprodugao social, para apreender a historicidade que 0 trabalho profissional assume na sociedade burguesa como “trabalho 0, reflexes de Ségo Lessa que no consiera at pr mrs oi cro aba por itn prod eorex Osh ciao material com natura ree ao su ro: Table rl, um lem decitro capitulo que tai questorma cbr sobre lass que-ive-dortaba ma iro de Vasconcelos A/0 etn social uti de cles projeto profsionl emetgbesterie-prtican,pobcado pla Cortes Eitra em 201, dal Tutor nana o Serio Social como pra na qe estas ein ao confta aSo- Giedate em seu momento conrad, perspectva que considera crerccio profiona como taba [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL » abstrato [e sua identidade] com 0 trabalho social médio: como parte aliquota do trabalho total socialmente produzido’. (lamamoto, 2007, p. 418). Se assim no for, estaremos suprimindo suas implicagdes no circuito da produgao ¢ distribuigao do valor ¢/ou da mais-valia, como se a “forma-valor fosse um mero cerimonial na sociedade do capital fetiche” (dem, p. 418) ‘Ao mesmo tempo, as profissdes sao constituldas por sujeitos sociais dotados de teleologia ¢ intencionalidade, capazes de imprimir direcio ético-politica coerente com 0 projeto profissional, ds ativida~ des que desempenham nas politicas sociais ¢ demais espagos ocupa- cionais em que se inserem como trabalhadores/as assalariados/as. E isso que permite que esses trabalhadores e trabalhadoras resistam 4 subsungao real do seu trabalho as imposigées do poder do capital ¢/ou dos seus representantes nas esferas estatais, 2. trabalho em servicos e as profissdes no capitalismo contempordneo A ampliagao e diversificagao do “setor” de servigos e do contin- gente de trabalhadores e trabalhadoras assalariados ¢ um trago ti do capitalismo monopolista, que se reconfigura ¢ complexifica com a introdugdo de novas formas de organizaao do trabalho, bem como a incorporagao da ciéncia e da inovagéo tecnolégica aos processos de produgao, gestao ¢ controle do processo de trabalho, no contexto em que a mundializago financeira expande as fronteiras do capital ce destrava todos os limites para a sua reprodugao ampliada, Esse € 0 espaco por exceléncia em que atuam as profissdes O crescimento significativo do trabalho em servigos, decorrente ista no contexto da hegemonia do movimento de reestruturagao capit: neoliberal, e a consequente redugao do ndimero de trabalhadores na jstas de o RAICHIEIS « VICENTE « ALBUQUERQUE e qual é nificativamente em todo o mundo, tanto nos paises cent na periferia capitalista. No campo das ciéncias sociais, ¢ no debate marxista em particular, as teses sobre o fim do trabalho e a suposta centralidade assurmida pelo trabalho imaterial® pretenderam colocar em xeque a poténcia exp! cativa da teoria do valor trabalho de Marx para iluminar as transfo: magdes dos processos produtivos no capitalismo monopolista, sob os determinantes da mundializagao financeira, Esse cendrio fez emergir 0 debate sobre os servigos ¢ a natureza deste trabalho, interpelando também esquemas analiticos sobre o assim denominado “terciério” € ica tripartigio dos departamentos econdmicos ea isdio do trabalho em atividades primérias, secundarias e tercirias.” Sem desconhecer a necessidade de aprofundar os diferentes Angulos dessa questéo, especialmente as polémicas em torno do trabalho produtivo improdutivo no campo dos servigos, 0 que nao & possivel realizar nos estreitos limites deste texto, interessa trazer as contribuigdes do pensamento critico de analistas que enfrentam essa discussio a partir dos fundamentos da teoria social de Marx ¢ do campo marxista, evidenciando a atualidade dessa contribuicéo, sem pretender que suas formulagdes possam abranger todas as novas questdes postas pelo capitalismo do século XX1, mundializado, }o-nos ao conjunto de complexas questdes relacionadas a natureza do trabalho em servicos € as novas formas de extragao do valor nas diferentes modalidades de trabalho em sua morfologia atual, considerando as fronteiras cada natureza desse tipo de atividade que cresce veloz € sig- quanto nan 10. Uma sintese da anise 1lo de mab imaterial pode ser encontrada em Amorim, Henrique (2014 p. ‘quem °o trabalho imaterial & apresentado como um trabalho sem substance fisica e que tem sua fonte predominante fem traballos intelectuais que padem estar relacionados 3 prestagio de servigns, & admi- nistragio, & geréncis e ao controle dos processos de trabalho, ou mesmo a atividades prodativas que tém como fundamento 0 conhecimento ¢ a informacéo utlizadas dentro {os processos de trabalho, A informacao e 0 conhecimento S30, assim, cansiderados 0 ncleo duro do trabalho 1, Uma ertica a esse ris autores sobr no pode ser encontrada em Oliveira (379). ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL, a vez mais embagadas entre producao de mercadorias ¢ produgio de servigos, para “satisfazer necessidades do estémago ou da fanta: parafraseando a conhecida expresso de Marx. Ainda nesse ambito, realizamos um esforco adicional para aanilise daquelas profissdes, que, como 0 Servico Social, atuam no campo dos servigos, notadamente daqueles que se operacionalizam no Ambito das politicas sociais estatais. © que coloca em discussio 0 carater dos servigos prestados pelo Estado, que em tese néo tém o objetiva de pro- uzir mercadorias ¢/ou extrair valor nem mais-Valia, a néio ser quando esses servicos sio organizados sob a légica da produgio capitalista, como no caso das empresas estatais. Nogueira (2005, p. 79) em sua analise sobre o sindicalismo no setor piiblico brasileiro, aponta que as especificidades das relagdes de trabalho no setor piblico devem ser consideradas, na medida em que “so relagdes entre nao proprietirios de meios de produgao entre si (funcionérios e governos ou governantes ce dirigentes), em vez de relagdes diretamente capitalistas’ O qué considerar, nos termos discutidos por Marx (1975) no Capitulo Inédito de 0 Capital, que nao ha nas atividades do Estado, de administragio, controle e prestaco de servicos piblicos, a produgao direta de val sendo 0 trabalho assalariado nesse ambito improdutivo. Contudo, se essa argumentacZo, aparentemente consensual, pa~ rece encerrar a anilise, novas questdes instigam o debate ¢ revelam ‘05 nexos do fundo piblico e das politicas sociais com os circuitos do valor ¢ da reproducao ampliada do capital em miltiplas dimensdes, como observa Behring (2010, p. 20), atuando tanto na reprodugao do ital como na reprodugao da forga de trabalho, a exemplo do que is. A autora observa que: c% ocorre na implementagao de politicas si para agestao dos programas de transferéncia de renda. (Behring, 2012, p.178) “2 RAICHELIS « VICENTE « ALBUQUERQUE Além disso, em outro texto (Raichelis, 2015), chamamos atengio para as elaboragdes de (apud Raichelis, 2015, p- 7-72), quando adverte que a ideia de fundo piblico nao pode ser entendida apenas como expressio de recursos estatais dirigidos para 0 financiamen- to da acumulagao, sendo concebido como um mix que se forma dialeticamente e representa na mesma unidade a razéo do Estado, que é sociopolitica (piiblica) e a raziio dos capitais, que é privada Tal proceso, conduzido pela dinamica da Iuta de classes, vai sendo incorporado as formas dle regula¢io do capitalismo, em relagao aos direitos sociais dos trabalhadores e em relagao aos ciclos da prépria acumulagao capitalista. Nesse sentido, aprofunda-se a disputa pelo fundo piiblico pelas diferentes fragées do capital ¢ pela classe traba~ Ihadora, cuja fragmentacéo de interesses em ambas as classes fragiliza as possil es de constituigo da esfera piblica democratica que, agravada pela agenda neoliberal, reforga os interesses do capital sobre o trabalho. Mas embora Nogueira (2005) destaque que nao ha produgio direta de valor e mais valor no trabalho do setor pablico estatal, a0 mesmo tempo chama atengo de que isso nao significa que nao haja exploragio direta do trabalho pelo Estado, tese também controversa neste debate, Nas palavras do autor: A exploracao ocorre na esfera da reproduce do capital, ou seja, nos pro~ ccessos de servicos ¢ administragao destinados & reprodugio social e politica do conjunto da sociedade de classes. A taxa de exploragio do trabalho no Estado envolve a quantidade de salério em relagio a jornada de trabalho ¢ 4s condigdes neces da para produazir, ¢ sim para reproduzir 0 capital. (Nogueira, 2008, p. 7) 1s de vida em sociedade, mas nfo é real 1s sociais € os servigos socials pliblicos destinados a reproducio social, matéria por exceléncia do trabalho profissional, novas controvérsias surgem no que respeita as relagdes ¢ organizaco do trabalho no Estado eas formas de subsuncao do trabalho assalariado ao empregador estatal (governos ou dirigentes). ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVIGO SOCIAL ‘a Em relagdo ao trabalho nas politicas sociais, assistentes sociais sio convocadas/os a participar de processos de trabalho coletivo, com- binado e cooperado em diferentes reas ¢ em diversos niveis, seja na formulagao e execugio trabalhadora, ou ainda em atividades de planejamento, informagio € gestao, trocando trabalho socialmente necessdrio™ (Marx, 1968) por salario, assumindo nesses termos essa relacao comum e caracteristica a0 assalariamento em todo mercado de trabalho capitalista, inclusi~ ve com a presenca de um exército de desempregados que exercem pressio para o rebaixamento dos niveis salariais, Esse conjunto de questdes torna a anélise do trabalho em ser- icos mais complexa nessa quadra do capitalismo monopolist, com prevaléncia da financeirizagao e da hegemonia neoliberal, impondo autelas para evitar transposigdes mecénicas, principalmente quando se trata do trabalho em servigos no espago estatal. Esse € 0 desafio maior, ainda mais considerando a exiguidade de pesquisas e estudos voltados para decifrar 0 processamento do trabalho em servigos como expressiio do trabalho coletivo e a atividade exercida por assistentes apreendida como uma especializago do trabalho social na sociedade do capital, nas especificas condigdes em que se insere na isio social, sexual e técnica do trabalho. Para nés, a reflexao sobre a especificidade do proceso de tra~ balho em servigos tem como referéncia a anilise do trabalho em Marx (1968; 1975), embora haja que se considerar que no contexto da sociedade capitalista do século XIX, objeto de sua extensa pesquisa, ‘0s servicos constituiam magnitudes insignificantes. Se comparado a0 volume da produgio capitalista na atualidade, veremos que 0 tha neces- fe trabalho deus C 13, Nesse sentido, 05 textos aadensamento dessa an 1c integram essa coletinea protendem ser ua contr “ RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE trabalho em servicos compreende a maior parte dos empregos tanto em paises capitalistas centrais como nos periféricos, ndo podendo ser considerados, como assinalou Marx, casos omissos ou categorias em transigo. (Dal Rosso, 2014) Ainda assim, a questo da produgio ndo material também recebeu de Marx um tratamento especifico, ¢ nada indica que ele no a consi- derasse um tipo de trabalho, se is (materiais e no materiais) envolvidas em sua produgio, seja nos produtos criados pelos processos de trabalho, que podem ou nao assumir uma materialidade, Ao contrario, suas afirmagées caminham na diregdo de considerar 0 trabalho nao material, prevalente no campo dos servigos pela m: presenca da dimensio intelectual, como c social de valor ¢/ou de mais valor a depender da sua participacao direta e/ou socialmente combinada nesse proceso. (Santos, 2013). Para Marx (1968; 1975), com 0 advento do capitalismo, mui atividades que antes eram exercidas gratuitamente ou remuneradas de forma indireta, como as realizadas por “profissionais liberais’, foram se transformando em trabalho assalariado, embora nao produzissem necessariamente mais-valia, a nio ser quando se realizassem dire~ tamente para 0 capitalista tornando seus participes trabalhadores produtivos Os servigos para Marx sdo em princfpio improdutivos, em fungao de serem trabalhos trocados por renda e nao por capital, permane- cendo, portanto, no nivel de valores de uso. Contudo, muitas dessas atividades de servigos como a medicina, a engenharia, o direito, [poderiamos acrescentar 0 Servigo Social], em muitos casos foram proletarizadas, passando a ser exercidas por empresas organizadas na forma capitalista que buscam ampliar a valorizagao do capital As contribuigdes de Harry Braverman, em sua conhecida e po- Jémica obra langada em 1974, um estudo classico sobre a degradagio importante contribuigdo no marco da anilise marxista das mudangas do trabalho no ambito dos servicos (trabalho em escritério de tipo nao industrial) ponente da produgio 6 ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVIGO SOCIAL “s Para Braverman (1981), 0 crescimento dos servigos ¢ do pessoal empregado nesse Ambito se deve a penetragio cada vez mais intensa do capital nos diversos setores da vida, transformando antigas formas de cooperagao métua, social, familiar € comunitaria em atividades comercializaveis no mercado, especialmente a partir do capitalismo monopolista. Em suas reflexdes, 0 autor vai revelando a tendéncia do capita~ ismo monopolista degradagao do trabalho, no sentido do declinio das qualificagées ¢ da simplificacao, ampliando 0 controle capitalista sobre o processo de trabalho por meio da separacao entre atividades de concepgio € de execugao do trabalho, Por outro lado, ao analisar a nova composi¢ao da classe que vive da venda de sua forga de trabalho, observa que diferentemente da pequena burguesia pré-monopolista e das massas de classe média ja desaparecidas, o capitalismo monopolista gerou outra massa de ‘emprego ndio desprezivel, que corresponde cada vez mais a definigao de classe trabalhadora, Isto é, como classe trabalhadora ela no possui qualquer independéncia ‘a ou ocupacional; ¢ empregada pelo capital ¢ ailiados, no possui acesso algum a0 processo de trabalho ou meios de produgio fora do em- prego, e deve renovar seus trabslhos para o capital incessantemente a fim. de subsistr, [.] do panto de vista puramente formal se assemelha aquela populacéo da classe trabalhadora claramente proletarizada. (Braverman, 1981, p. 340-341) Essas novas ocupagées devem ser entendidas como atividades da classe trabalhadora, mesmo naquelas atividades nao materiais, como no trabalho com a alta tecnologia nas centrais de teleatividade, nas, atividades de servigos e no trabalho nos escritérios. Oliveira (1979), em finais da década de 1970, jé se referia a “revo~ lugao dos servigos” com a instalacao dos escritérios de computagio € processamento de dados, laboratérios de pesquisa, escritérios de 6 US « VICENTE » ALBUQUERQUE publicidade em que o progresso da divisio social do trabalho borra as fronteiras entre as mercadorias ¢ os servigas, situagao que 0 leva a indagar, por exemplo, se 0 processamento de dados seria uma mercadoria ou um servigo. Para explicar a complexidade desses novos processos produtivos no campo dos servigos, © autor prope adotar a anélise sobre os ciclos, as formas do capital e as mudaneas ocorridas no interior do proprio sistema capitalista, especialmente na passagem do capitalismo concorrencial para o monopolista, ja que a do trabalho nao é imune as profundas transformagdes que ocorrem no interior desse modo de produgio. Na mesma diregao, Antunes (1999), com base em evidénci tebricas e empiricas na andlise da dindmica de reestruturagdes e inovagdes que tém atingido o capitalismo em seu metabolismo com 0 capital, impactando a organizagao ¢ o funcionamento das relagoes de produgao e processos de trabalho, claborou a nogao ampliada sobre as, novas formas de ser da classe-que-vive-do- trabalho. O autor esclare- ce, contudo, que nao se trata de um novo conceito de classe, mas de um esforgo analitico para atualizar a compreensao marxista de classe social e aprender a complexificagao e diversificacao do proletariado, notadamente com a expansio significativa do trabalho em servicos nas iltimas décadas. Em sua composicao heterogénea ¢ compésita, além dos trabalhadores assalariados produtivos dos distintos ramos, a classe-que-vive-do-trabalho & composta pelo imenso contingente de trabalhadores improdutivos localizados no setor de servigos (ban- cos, comércio, turismo, telemarketing, servigos piblicos etc.) até os trabalhadores que realizam atividades nas fabricas e escritérios mas no criam diretamente valor, além do exército de trabalhadores pre- carizados, terceirizados e desempregados urbanos ¢ rurais. ‘Antunes (1999), em suas pesquisas sobre a nova composigao da classe trabalhadora, desde os anos de 1990, observa que a expansio das empresas de call centers ¢ telemarketing © das empresas de tec~ nologias de informagao e comunicagao (TIC), cada ver. mais impres- cindiveis para a redugo do tempo de circulagao do capital, acabou por incentivar 2 expansio do trabalho no “setor” de servicos e de ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL a ‘uma massa de novos trabalhadores e trabalhadoras, 0 infoproteta- riado dos servicos, submetidos a degradagao real do trabatho virtual (Antunes e Braga, 2009). Nessa fase de mundializagao do capital e do atual padrao de acumulacao do capital, tal proceso cria para o autor © novo proletariado de servigos, que em algumas atividades dotadas de maior dimensao imaterial ou intelectual, especialmente as mais informatizadas, configura-se também como um elemento central para uma real compreensio dos novos mecanismos geradores do valor na atualidade. Para Antunes (1999, p. 120), a sociedade do capital, em sua busca incessante de realizagio do valor, precisa cada vez menos de trabalho estavel e cada vez mais de trabalhadores improdutivos que valori- zem 0 capital, bem como de combinadas formas de trabalho parcial terceirizado, part time para realizar seu ciclo reprodutivo, Para isso, busca a redugio do trabalho vivo e sua substituigéo por trabalho morto, bem como formas de extracao de sobretrabalho em tempo cada vez menor, com redugio de trabalho manual direto articulado com o trabalho qual multifuncional, dotado de maior dimen- sao intelectual, dindmica que para 0 autor expressa a plena vigencia da lei do valor. Nesse sentido, a prépria forma valor do trabalho se transforma, assumindo crescentemente também a forma valor do ‘abalho intelectual /abstrato absorvida como mercadoria, na medida em que o trabalho intelectual também é subordinado ao fetichismo da mercadoria como trabalho intelectual abstrato. (idem, p. 129). © autor conclui afirmando que vem gcorrendo no mundo con- ‘temporaneo Zo, inter-relagao ¢ interpenetra~ do entre atividades produtivas e improdutivas, entre as atividades fabris e as de servicos, entre as atividades laborativas e a atividades de concepcao, entre produgio ¢ conhecimento cientifico, que se ex- pandem fortemente no mundo do capital e de seu sistema produtivo” (Antunes, 1999, p. 134) Por sua vez, Dal Rosso (2014, p. 76), em sua reflexao sobre a teori do valor ¢ 0 trabalho produtivo no setor de servicos, observa também © seu significativo crescimento como empregador de mao de obra al RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE a grande abrangéncia que vem assumindo nas dltimas décadas em todo mundo, compreendendo um conjunto muito amplo de agdes que possibilitam a circulagao € 0 consumo de mercadorias, além de diversas atividades agregadas. Em fungao disso, 0 autor retoma as controversias na andlise dos servigos ¢ as diferentes interpretagdes sobre o seu significado, espe- cialmente no que se refere & materialidade/imatcrialidade, a0 carter produtivo ou improdutivo dos servicos, Nao sendo o caso de reproduzir esse debate, o que importa destacar para as nossas reflexdes sobre o trabalho profissional, é que para Dal Rosso (idem, p. 78) “nao cabem diividas de que servigo € trabalho” € deve ser analisado a partir dessa centralidade, Adverte ainda que uma questo de outra natureza é a discussio sobre o cariter produtivo ou improdutivo desse trabalho, 0 que o autor realiza em sua andlise da organizacao do trabalho ¢ das distintas formas de subsungio dessa atividade ao capital, considerando os aportes de Marx ¢ da teoria do valor trabalho. Sendo certo que para o autor, com base em Marx, as caracteristicas do trabalho assalariado e socialmente necessario 4 acumulagao capitalista independem de sua natureza produtiva ou improdutiva na geragao de valor para o capital, especialmente se considerarmos a ética do trabalho coletivo, combinado e cooperado.* Meirelles (2006) em sua anélise conceitual sobre servicos faz uma revisdo bibliogréfica de autores clissicos e contemporaneos apontando avangos limites em cada uma das andlises. Na abordagem contemporanea de servigos, aponta a existéncia de um leque de in~ terpretagées e classificagGes" bastante heterogéncas, permanecendo, contudo indefinigdes quanto as diferengas entre bens € servigos no debate atual ‘Apés apresentar varias propostas de classificacdes ¢ tipologias de servigos, a autora destaca a fragilidade tebrico-metodolégica des sas anélises, apontando a auséncia de unidade tedrica e analitica, a 14, Para aprofundamento ef. Marx (1975) ¢ Dal Rosso (204). [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL, ” missas do processo de geracao de valor € icagdes tebricas analiticas sobre o setor de servigos. Do conjunto de suas reflexdes, vale destacar a proposta que a autora elabora, com base na hipétese “de que a natureza especifica das atividades de servico reside no fato de ser essencialmente reati- zagéio de trabalho — independentemente das caracteristicas forma do proceso produtivo ou do produto resultante deste proceso” (Meirelles, 2006, p. 130, grifo da autora). A partir dessa hipotese, a autora formula trés postulados que nos subsidiam na reflexio do trabalho em servigos no ambito do Servico Social 0 primeiro postulado é que servico € trabalho na sua acepcio ampla ¢ fundamental, podendo ser realizado por meio do trabalho humano (forga viva de trabalho) ou do trabalho mecénico (méaquinas cquipamentos); ‘0 segundo postulado faz. uma distingdo fundamental entre pro cesso e produto. Enquanto servigo € trabalho em processo, produto, por outro lado, é o resultado deste processo, ou seja, é um trabalho acumulado, um trabalho objetivado, que pode ser tangivel ou intan- givel (ser um bem fisico ou uma informagio), o importante é que é a reatizagao de trabalho. © terceiro postulado afirma que todo servigo é realizagio de trabalho, mas nem todo trabalho € servigos. Para que o servigo se realize é necessirio que o processo de trabalho constitua uma ativi- dade econémica estruturada a partir de um arranjo contratual (Formal ou informal) em que figure seu objetivo de prestacdo de trabalho. ‘Assim, podemos concluir que o trabalho em servigos, como tra- balho em processo, nfo se autonomiza do trabalho desenvolvido pelo conjunto de trabalhadores assalariados, em sua relacdo de subuncao formal ou real do trabalho ao capital, ainda que com particularidades, ‘dependendo da forma que assume nas distintas éreas e nas diferentes relagoes concretas em que se insere. so RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE Na esteira das andlises «de Marx, 0 resultado de um servico pode ser uma mercadoria vendida ao consumidor ou a prestagao de um servigo, de saiide, por exemplo; pode se separar ou no de seu produtor; pode assumir forma material ou imaterial, tendo realidade corpérea ou nao; pode ser produtor direto de mais-valia ou nao; pode envolver diferentes conteiidos em sua realizacao. Esse conjunto d variveis que pode assumir o trabalho em servicos simplesmente ilustra © principio que, para o capitalismo, o que importa no € 0 contetido lidade do trabalho, mas sua forma social, historicamente situada, a capacidade de produzir, como trabalho assalariado, lucro para o capitalista e valorizacao do capital, ainda mais em seu esta- gio monopolista que tende a suprimir as diferencas entre formas de trabalho para submeté-las todas a0 dominio do trabalho abstrato. (Braverman, 1981, p. 308). A reestruturacdo produtiva do capital eas estratégias neoliberais para 0 enfrentamento das crises que se aprofundam ha pelo menos quatro décadas no mundo e no Brasil, vem provocando a corrosio persistente e ampliada do trabalho contratado e regulamentado com base na matriz tayloriano-fordista, dominante no século XX, sendo substituida pelas mais diversas formas de flexibilizacao do trabalho, inspiradas pelo toyotismo ou modelo japonés, com vistas a ampliar os mecanismos de extragao do sobretrabalho em tempo cada vez menor, (Antunes e Druck, 2014) Como consequéncia, aprofunda-se a tendéncia do capital de redugdo do numero de trabalhadores contratados, gerando economia do trabalho vivo, potencializada pela incorporagio em larga escala de tecnologias microcletrénicas poupadoras de forca de trabalho, [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVIGO SOCIAL st Amplia-se 0 desemprego estrutural além da precariza ragio da qualidade do trabalho, dos salérios ¢ das condiges em que ele é exercido, que se agravam ainda mais considerando recortes de género, geragio, raga ¢ etnia, com profundas mudangas nas formas de ser da classe trabalhadora, com impactos na materialidade na subjetividade individual ¢ coletiva, No mbito do mercado de trabalho do Servigo Social ampliam-se ‘09s processos de subcontratacao de servicos individuais de assistentes sociais (pejotizagao e uberizagao)", por parte de empresas de servicos ou de assessoria, de organizagoes no governamentais, de (falsas) cooperativas de trabalhadores na prestagio de servicos @ governos, especialmente em ambito local, configurando-se o exercicio profissio~ nal privado auténomo, temporario, por projeto, por tarefa, decorrentes das novas formas de organizagao e operagao das politicas soci Nas instituigdes do aparetho de Estado ampliam-se as parcerias .o-privadas em diferentes modalidades ¢ areas das politicas sociais, Ao mesmo tempo assiste-se a importantes deslocamentos nos modos de gesto ¢ contratagéo de trabalhadores as através da terceirizagio de servicos pliblicos por meio da subcontratacao de ‘empresas ou instituigoes intermediiacloras, que apés 2 aprovacao da Lei que regulamenta a terceirizagdo das atividades meio e das atividades fim no Brasil (Lei n. 13.429/2017) tende a se ampliar e se diversificar enormemente para todas as atividades laborais. cconsideranclo » atual centri de flexibi- re desponta como nova modalidade de 15. A pejotizagio (empresa do "eu $07 zacio des normas trabalhistas, ¢ um fenémeno ‘contratagao pela qual o empregador exige a constituigdo de pessoa juridica peloempregado nde descaraeterizar a relaglo de emprego e, por conseguinte, burlar a aplicagéo da rizagao das relagdes de trabalho,"0 modo UBER de organizar e remunerar a Forgad crescentemente da regularidade do ass 0 form sta, Como os direitos sociais © trabalhistas passa 82 RAICHEU /CENTE + ALBUQUERQUE Intimeras situagdes que expressam essa nova morfologia do trabalho de assistentes sociais podem ser observadas nas politicas de habitagio, saiide, assisténcia social, entre outras, atestando que assistentes sociais subcontratadas/os e terceirizadas/os experimen tam, assim como os demais trabalhadores assalariados, a precarizagao do trabalho nio protegido, a inseguranca laboral, a baixa e incerta remuneragio, a desprotegio social e trabalhista, 0 assédio mor sofrimento € 0 adoecimento decorrentes do trabalho, ou seja, carizagio do trabalho e da vida Mesmo assalariados com empregos “estaveis’, com contratos por tempo indeterminado, € nao sé trabalhadores das empresas privadas mas também os funcionarios pibicos, sao afetados pela “precariedade subjetiva” a que se refere Linhart (2014, p. 45), expressa pelo “sen- Uimento de precariedade quando sio confrontados com exigéncias cada vez maiores no trabalho e esto permanentemente preocupados com a ideia de nem sempre estar em condigdes de responder a clas” Essa forma de subjetivagio do trabalho desencadeia nos/as tra~ balhadores/as 0 sentimento de jamais estar protegido de uma perda repentina do emprego, ainda mais na conjuntura atual de aumento do desemprego ¢ cortes nos salirios ¢ direitos, vindo a se somar A preca- riedade objetiva enquanto estratégias de gesto e controle do trabalho. A dinamica das politicas piblicas se altera em extensio ¢ complexidade organizacional, a0 mesmo tempo em que se acirram os processos de disputa politica em torno das estratégias de captura do fundo pitblico que as sustenta enquanto forma social de distribuigao de parte da mais-valia. Seu dinamismo envolve as praticas politicas, profissionais ¢ intelectuais de todos aqueles segmentos sociais que conformam os processos de controle social sobre os modos de vida e de reprodugao da sociabilidade que marca a sociedade do trabalho abstrato, Constituem espagos e momentos de articulagao e conflitos de interesses corporativos, profissionais e econdmicos mediatizados pelas lutas de classes. Para os pesquisadores franceses Dardot e Laval (2016, p. 190), ‘em importante ensaio sobre o neolibe pre- [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL, 33 icam a mera restauracdo hegeménicas no aparelho estatal nao sigh de um liberalismo tradicional, ma alterar radicalmente o modo de exercicio do poder governamental, assim como as referéncias doutrinais no contexto de mudangas das regras de funcionamento do capitalismo’. Nesses termos, produzem nova ra lade politica e social articulada aos tempos de mundiali- zacao e financeirizaco do capital em que, a0 contrario de uma simples, retirada de cena do Estado, 0 que se observa € o “reengajamento po- litico do Estado sobre novas bases, novos métodos € novos objetivos" A tese defendida pelos autores & que antes de ser uma ideologia ‘ou uma politica econémica, 0 neoliberalismo é fundamentalmente uma racionalidade — ‘a nova razio do mundo’, a razdo do capita lismo contempordneo, envolto em uma nova racionalidade pol que produz um sistema de normas profundamente icas institucionais, ‘empresarial’, impde uma mercadorizagdo da instituigdo piiblica, que funciona de acordo com regras empresariais da governanga publi-~ co-privada, Exatamente do mesmo modo como a gestio privada visa fazer com que (05 assalariados trabalhem © méximo possivel por meio de um sistema de incentivos, a “governanca do Estado” visa oficialmente fazer com que as centidades privadas produzam bens e servigos de forma supostamente mais cficiente, (idem, p. 278) ica se aplica Esse tipo de concepgao do Estado € da acao pit ic também a “gesto do trabalho’. O que se observa na administragio piiblica brasileira é um quadro em que grande parte dos servigos {iblicos é realizada nao mais pelo servidor priblico, profissional con- cursado cujas relagées de trabalho sdo regidas por regime juridico préprio, mas pelos mais diferentes tipos de trabalhadores, em geral sa RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE empregados de forma precéria, com contratos temporarios, sem ‘0s mesmos direitos do funcionatismo estatutdrio, com salarios mais baixos e expostos a malores riscos ¢ insegurangas — constituindo novas hierarquias entre os proprios trabalhadores, “de primeira e segunda classe’. Contudo, na conjuntura atual de desregulamentacao do trabalho, essas diferencas entre servidores piiblicos e trabalhadores contratados vio se esvaindo, As mudangas que tém sido adotadas visam reduzir drasticamente os direitos dos/as servidores/as do Estado, no con- texto da contrarreforma neoliberal do Estado, com a justificativa de cortes de gastos ¢ pagamento dos juros da divida pitblica, dispositive do Estado que dilapida 0 fundo publico e transfere parte da riqueza socialmente produzida para o capital As diferentes modalidades de terceirizacao, agora regulamentadas no Brasil, tém sido a forma de contratagao e organizagao do trabalho ingindo todas as areas do trabalho na industria, no comércio € nos servigos, nas atividades urbanas ¢ rurais, no universo privado e estatal, desencadeando u verdadeira “epidemia’ (Antunes ¢ Druck, 2014). Associada a flexi lizagao da jornada de trabalho ¢ dos vinculos contratuais e & priva~ tizago dos servigos piiblicos, a terceirizagao ou subcontratagao é responsavel pela implosdo do estatuto do funcionalismo piiblico que estamos acompanhando, considerando principalmente os dispositivos garantidos pela Constituigao Federal de 1988, a exemplo da obrigato- riedade dos concursos piiblicos para acesso a cargos e emprego na administracao pill 16. investida 1 pblico federal & parte da agenda de ages do governo golpistae a redhuzir gastos com pessoal e encargos socials, ‘que deu origem, no fim de 2016 & Emenda Constitucional 95, conhecida coma PEC do Teto ‘dos Gastos Piblicos, que congelow investimentos da Unio em areas como Satie e Eu deste ano 0 governo anunciou um plano de demissio voluntiria por meio de uma MP que, catre outros dispositves,autoriza os gestores dos ‘rgios estaais a afastarem servidores estivels por até seis anos, sem remuncragio, cas declarem “interesse pblico™ para justificar 6 corte ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL 55 ‘Al6gica privatista do Estado neoliberal afetou também a imagem do servidor pablico junto & populacao ¢ a opiniao publica, ins do-se um clima desfavordvel & recomposi¢ao e expansio da forga de trabalho na administragao publica, Basta verificar como os jornais de grande circulagio e a midia em geral veiculam a realizagiio de con- cursos piiblicos e a contratagao de funciondrios esfera da administragao pablica; 0 uso de termos como inchago da maquina, cabide de emprego, ampliagao do défieit pablico, aumento da ineficiéncia etc., si0 corriqueiros e destaques nas manchet a0 mesmo tempo e contraditoriamente, cobram do Estado mais melhores servicos pit ‘Mas como amp de um quadro estavel de servidores piblicos, em quantidade adequa~ da c com alta qualificagio exigidos para a prestagao de servigos de qualidade enquanto direitos da classe trabalhadora? Constatamos assim que as novas formas de gesto do trabalho , 2 exemplo do que vem ocorrendo desde os anos is, representam o “espelho" da reestruturagdo produtiva do capital no setor produtivo empresarial, visando adequar a razdio piblica a logica privada, introduzindo o efeito disciplinador da concarréncia em todos os niveis para aliviar custos € maximizar resultados (Dardot e Laval, 2016). Mas para além desses objetivos sempre presentes, os autores observam que 0 que esta ve mente em jogo nessa vontade irrefredvel de impor valores e praticas das empresas privadas no es~ paco estatal, essa nova ago desencantada da ago piiblica “nao visa apenas a aumentar a eficdcia e a reduzir os custos da ado publica; ela subverte radicalmente os fundamentos modernos da democra- cia, isto é, 0 reconhecimento de direitos sociais ligados ao status de cidadao” (idem, p. 274), no caso da sociedade francesa e europeia ada pelos autores. Em se tratando do Brasil, como analisamos em outro texto (Rai- chelis, 2015), trata-se de impedir os avangos nos caminhos da truncada € inconclusa esfera piblica, instaurada pela Constituigao Federal de anal 56 RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE 1988 e sustentada em um pacto politico que acaba de ser rompido pelas forgas politicas retrégadas responséveis pelo golpe de Estado, que levou a destituigao do governo legitimo de Dilma Rousseff. a gestao gerencial e a con solidacao de um “Estado-empresa’, nos termos de Dardot ¢ Laval (2016), ¢ tributaria do projeto neoliberal que teve inicio no governo Collor e se consolidou na gestio de Fernando Henrique Cardoso (FHC), assentado no tripé privatizagio, flexibilizagao e terceirizacdo, e que Fesultou no projeto contrarreformista do Estado consubstanciado no Plano Diretor da Reforma do Aparetho do Estado (1998) proposto pelo entdo Ministério da Administragio e da Reforma do Estado (MARE), ‘Suas bases assentaram-se na concepcio de administragio gerencial do Estado, em conceitos modernos de eficiéncia ¢ eficicia no controle dos resultados e descentralizada para fazer chegar ao cidadao-cliente os servigos prestados pelo Estado, Apresentada como “modernidade” necesséria para superar a gestéo burocritica e patrimonialista do Estado brasileiro, supostamente neutra e benéfica ao interesse geral, suas diretrizes € concepgées acabaram sendo incorporadas por go- vernos de todos os matizes, a direita e a esquerda, impregnando as. concepgdes da “boa governa: 1.Com es afmago no € nosso roto homogenizar opostas como as dos governos FHC e Lula, nem desconsider: is i 0 so ioe clita que cal em 200, ro seguno govern FHC. fm seal Seto pubic ado nos governs de recmpongo de pessoal na aminrag3 remeron re a eri Je sub tercerzadon por eonciratos ihadores em situacac rn e ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL, % Nesses termos, estudos em diferentes Areas do setor piblico~ ~estatal, a exemplo do setor privado, tém demonstrado a incorpo- ragio insidiosa da ideologia do gerencialismo, que esvazia contetidos reflexivos e criativos do trabalho, enquadrando processos ¢ dinémi- cas as metas de “qualidade” e de produtividade a serem alcangadas. 2011; 2013) O gerenciatismo enquanto ideologia de gestio capitalista em tem- pos de crise do capital ganha espaco como estruturador das relagdes de trabalho entre empregadores e trabalhadores. Reproduzem-se no campo da agio estatal as tendéncias de empresariamento do trabalho, que visam A substituic3o do trabalho vivo pelo trabalho morto, fazen= do prevalecer a razio instrumental em detrimento da razo critica. Nesse contexto, a ideologia do gerencialismo é a contraface da modernizago conservadora no campo das politicas sociais, impulsio- nada pelo incremento de modelos especificos de gestio do trabalho € da informagao, em que a reificagao tecnicista passa a ser 0 critério de qualidade, situacao propicia para a emergéncia da alicnagao dos sujeitos que ndo conseguem discernir e reconhecer nas formas sociais em que se inserem os conteiidlos e os efeitos de seu proprio trabalho. Para Dardot e Laval (2016, p. 291), 0 gerencialismo tornou-se a face aceitivel do pensamento da nova direita sobre o Estado, apre~ sentado como remédio universal para todos os males que envolvem a “governanga’” do Estado. © postulado dessa nova "governanca” é que a gestdo privada 6 sempre mais eficaz. que a administragdo pablica; que o setor privado é mais reati- vo, mais flexivel, mais inovador, tecnicamente mais eficaz, porque € mais federais. Nao abstante isso, esse movimento de recomposicao de pessoal na setor pil ‘brasileiro repés praticamente o mesmo estoque percentual de servidoresativos existentes ‘em meados de 1990, e no conseguiu acabar coma precar de pessoal terceitizado, Alem disso, em termos de contin uten2o do cimbio valorizado e do control pelo regime de metas. Para aprofundamento desta andlise, conferir Cardoso J. 2013) A RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE especializado, menos sujelto que o setor pibli (idem, p. 290) a regras estatutarias, Para os autores citados, 0 efeito disciplinador da concorréncia € 0 estimulo mais importante a0 "bom" desempenho dos funcioné- rios piblicos e se encontra na base de todas as medidas que visam “terceirizar” ou subcontratar servicos publicos inteiros ou segmentos idades para o setor privado™. Como afirmam Dardot ¢ Laval (2016, p. 291): © aspecto “técnic “titico da nova gestio piiblica permitiu ocultar 0 fato de que 0 essencial era introduzir as disciplinas e as categorias do setor Privado, intensificar 0 controle politico em tado o setor piblico, red {tanto quanto possivel 0 orcamento, suy de agentes piiblicos, reduzir a autonomia profissional de algumas profissbes (imédicos, professores, psicdlogos,[assistentes sociais}etc.)e enfraquecer os sindicatos do setor piblico ~ em resumo, fazer na pritica a reestruturagio eoliberal do Estado. O trabalho do/a assistente social integra essa dindmica racionali- zadora, a partir do processo de generalizacao das relagdes de compra evenda da forca de trabalho para todas as esferas da producao e da Teprodugo social. Mas também participa politica ¢ ideologicamente ncias € disputas ao se organizar enquanto sujeito coletivo através de suas entidades representativas e da formulagao de um pro- Jeto profissional articulado ao projeto societario da classe trabalhadora. ‘Tensionando a relativa autonomia do trabalho profi na implementagao de poli nal a sociais, observa-se a imposigao de ‘mas também para contratagio. ima da degradacio o, com 0 objetivo de rebaixar 0 ‘custo da forga de trabalho por meio do acicramento da concor ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL - estratégias racionalizadoras do aparato técnico-burocritico do Estado a partir do ideario neoliberal, com a tendéncia crescente a rotinizagao de atividades que combinam o fortalecimento de m nismos de controle do trabalho com a adogao de uma base técnica e conceitual voltada para a padronizagio dos processos interventivos, apoiada na informatizagio cada vez mais presente nos processos de trabalho institucional Nessa ambiéncia institucional, as estratégias de intensificagao do trabalho vio sendo incorporadas de forma sutil e gradativa, Blas ganham concretude no ritmo ¢ na velocidade do trabalho, na poli- valéncia e na multiatividade, nas cobrangas de metas de produtivi- dade, no maior volume de tarefas, no peso da responsabilidade. Essa gestdo do desempenho dos trabalhadores adota ferramentas do setor privado mediante indicadores de resultados e sistemas de incentivos orientados por avaliagdes sistematicas e subordinados a demanda de “cidadios-clientes" (Dardot e Laval, 2016), Por sua vez, é no setor de servigos — piiblicos e privados — que, de modo geral, se observa a maior e mais ampla precarizagio e in: tensificagdo do trabalho, cujas atividades sio mais desvalorizadas, agregado menor . Nesse contexto, rescem 0 assédio moral, 0 desgaste mental das/os assistentes so- ciais, 0 sofrimento € 0 adoecimento provocados pelas novas formas de organizagio, controle ¢ gestdo do trabalho nas politicas sociais. Dindmica que revela de forma inequivoca que o trabalho da/o assis- tente social, a exemplo do que acontece com a classe trabalhadora ‘em seu conjunto, tem sido submetido aos dilemas da alienago e do estranhamento, cujas particularidades precisam ser pesquisadas ¢ analisadas nas situagdes e relagdes sociais concretas em que as/os assistentes sociais se inserem," Ao mesmo tempo, é nessa ambiéncia societéria de degradacao do trabalho assalariado, que cresce € se diversifica 0 mercado de 19, Acsse respeito confer o texto de Vicente nessa coleténea. a RAICHELIS « VICENTE « ALBUQUERQUE trabalho profissional para assistentes sociais no ambito estatal, es- pecialmente nas politicas de seguridade social, com maior énfase no nivel municipal, tendéncia que expde um paradoxo: o alargamento de demandas profissionais no ca de protegio social frente ao agravamento da “questao social’, e a0 mesmo tempo € no mesmo proceso, a expansio e o aprofundamento das diferentes formas de precarizacao aberta ou velada, das condigdes em que este trabalho se realiza, afetando, mesmo que com intensidades variadas, © conjunto dos trabalhadores”, Vale destacar também a expansio da participagio feminina no setor de servigos, o que agrega um elemento ise da precarizacéo do trabalho, pois embora esse processo atinja homens e mulheres, repercute mais intensamente no emprego feminino. Pesquisas de Hirata (2009) evidenciam que a precarizacao do trabalho ¢ do emprego nos servigos tem incidéncias diferenciadas em relagao ao género, atingindo mais profundamente o trabalho feminino pela sua maior participagdo nas atividades de comércio e de servigos em geral, implicando que a precarizacao do trabalho nesse mbito precisa ser correlacionada & sua composigao sexuada, agravando-se ainda mais no caso de mulheres nao brancas de estratos mais pau- perizados da classe trabalhadora. No que se refere a profissiio de Servico Social, composta majo~ ritariamente por mulheres, a discussao das relagdes entre género € trabalho remete também ao debate da feminizagdo do trabalho, nao propriamente em relacao a0 aumento do ingresso de mulheres em “profissées consideradas masculinas" (engenhi no apenas pelo sexo de quem as constitui, mas pela fungao que exercem estar vinculada a esferas da vida reprodutiva, como educar, 20. © quadtro atual do ‘enxugamento de quadros nas insti servidores piblicos & endéncia de [ANOVA MORFOLOGIA DO TRABALHO NO SERVICO SOCIAL oa cuidar, prestar servigos, acolher, atributos tidos socialmente como pertencentes vida privada sob responsabilidade das mulheres. Questo que adiciona um componente signifi desvalorizagao e precarizacao do trabalho profissional, que demandao aprofundamento de estudos e a continuidade de pesquisas no ambito da divisao social, sexual e técnica do trabalho. 4. Breve nota a guisa de conclusio As reflexes aqui expostas estiio Longe de exaurir as complexas questdes envolvidas na anilise do trabalho de assistentes s trama do capitalismo contemporineo sob 0 comando das finangas em tempos neoliberais, Pretendeu-se contudo contribuir para elu- cidar algumas das intrincadas questées presentes no debate sobre as relagdes entre trabalho € profissio, e suas expressdes na érea do Servico Social, com base em um programa de pesquisa que vimos desenvolvendo, € 20 mesmo tempo anunciar outras questées que exigem a continuidade das investigacées. (© que 6 importante demarcar nessa nota conclusiva é que mesmo diante dos iniimeros desafios que cercam o trabalho assalariado e suas lutas coletivas, a categoria dos /as assistentes sociais vem construindo um projeto profissional orientado por uma teleologia emancipatoria, enfrentando as contradicées de um trabalho tensionado pelas lutas de hegemonia presentes no sistema metabélico do capi ou ampliam margens de autonomia profissional e po: materializagao do projeto ético-politico profissional. © que est4 na base desse proceso so as metamorfoses da “questo social", reconfigurada e agravada por novas determinagdes sociais, € a presenga ativa € insubstituivel do Estado nacional que, tensionado pelos interesses do capital sem fronteiras ¢ sem amarras, coinstitucional que 4 suport 42 RAICHELIS « VICENTE + ALBUQUERQUE liberalizagao e & desregulamentagio dos mercados de trabalho e as novas formas de mercantilizagao da forca de trabalho de assistentes sociais nas politicas sociais, AS novas formas de acumulagio, a flexibilizagao dos mercados, das relagbes de trabalho e dos direitos so a expresso emblematica da ampla e profunda transformagao estrutural do trabalho assala- riado, com impactos na mati ide © na subjetividade da classe trabalhadora, que experimenta a perda de direitos e a inseguranca do presente e do futuro, agravadas pela fragmentagao e fragilizagao das estratégias de resisténcia e de organizacdo coletivas. Contuclo, 0 projeto ético-politico profissional do Servigo Social iro, apesar das polémicas quanto aos limites de sua materia- assume uma funcdo estratégica de articulagao ¢ busca de unidade politica na diversidade da categoria profissional, o que abre Possibilidades de fortalecimento de contratendéncias a ordem he- gem6nica do capital Referéncias AMORIM, Henrique. As teorias do trabatho imaterial: uma reflexio critica 4 partir de Marx. Caderno CRH, v, 27, n. 70. Salvador, UFBA, jan, /abril, 2014. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos da trabalho ~ ensaio sobre a afirmacao e hnegacao do trabalho. Sao Paulo: Boitempo, 1999, ANTUNES, Ricardo (Org). Riqueza e Miséria do Trabatho no Brasil Il, $0 Paulo: Boitempo, 2013, ; PRUCK, Graga. A epidemia da terceirizacao. In: ANTUNES, Ricardo (Org). Riqueza ¢ Miséria do Trabalho no Brasil II. So Paulo: Boitempo, 2014. ANTUNES, Ricardo, Adeus ao Trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses ¢ a centratidade do mundo do trabalho. Sao Paulo: Cortez, 2015, 16. ed. 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