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Nome: Marcos Fernando Lemes Frederico RA: 18087162

Prof.: José Robson da Silva


Atividade Assíncrona: “Era uma vez”

A quem deve ser assegurado a posse do apartamento?


Resposta: Capitu, companheira do de cujus Izidro.
Fundamento:
Primeiramente, deve ser compreendida a situação jurídica que havia
entre Capitu e Izidro, e neste sentido, pode se afirmar que eram companheiros
por uma união estável. Com a vigência do Código Civil de 2002 não é necessário
o requisito de 5 anos de convivência entre os companheiros para que seja
caracterizada a união estável, pois o art. 1.723 do CC a reconhece quando é
“configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o
objetivo de constituição de família”. Deste modo, resta comprovado que Capitu
manteve união estável com Izidro no período que conviveram juntos, haja vista
que há uma grande probabilidade de Izidro ser pai de Machado, filho de Capitu
que buscara o reconhecimento da paternidade em ação investigatória em curso.
Por conseguinte, estabelece o art. 1.831 do CC que “ao cônjuge
sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado, sem
prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de habitação
relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o
único daquela natureza a inventariar.” Cabe ressaltar que o art. 7º da Lei
9.278/96, anterior ao CC de 2002, já previa que "dissolvida a união estável por
morte de um dos conviventes, o sobrevivente terá direito real de habitação,
enquanto viver ou não constituir nova união ou casamento, relativamente ao
imóvel destinado à residência da família". Assim sendo, Capitu tem direito real
de habitação sobre aquele apartamento enquanto viver ou até constituir uma
nova união estável ou casamento.
O direito real de habitação conforme a lição de Carlos Roberto
Gonçalves, é o instituto que “assegura ao seu titular o direito de morar e residir
na casa alheia”, sendo um direito ainda mais restrito que o uso, pois aquele tem
a sua titularidade deve “nele residir, ele próprio, com sua família” e “não pode
cedê-lo a terceiro, mediante empréstimo ou locação.” (2019, p. 469). Neste
sentido, há um conflito entre o direito de propriedade sobre fração de imóvel e o
direito real de habitação. Isso porque, de um lado, filhos querem ter garantido o
direito à herança após a morte do ascendente e, de outro, o cônjuge ou
companheiro sobrevivente, que residia na propriedade do casal, deseja
preservar o usufruto sobre o imóvel.
Ainda assim, o STJ vem assegurando em diversos julgados a moradia
vitalícia ao cônjuge ou companheiro sobrevivente através do Direito Real de
Habitação, mesmo em face de filhos exclusivos do de cujos:
DIREITO CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÃO. DIREITO REAL
DE HABITAÇÃO DO CÔNJUGE SOBREVIVENTE.
RECONHECIMENTO MESMO EM FACE DE FILHOS EXCLUSIVOS
DO DE CUJOS. 1.- O direito real de habitação sobre o imóvel que
servia de residência do casal deve ser conferido ao
cônjuge/companheiro sobrevivente não apenas quando houver
descendentes comuns, mas também quando concorrerem filhos
exclusivos do de cujos. 2.- Recurso Especial improvido. (REsp
1134387/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão
Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 16/04/2013,
DJe 29/05/2013) - Sem destaque no original.
Segundo o ministro Paulo de Tarso Sanseverino da 3ª turma do STJ, o
cônjuge sobrevivente tem direito real de habitação sobre o imóvel em que residia
o casal, pois a norma prevista no art. 1.831 do Código Civil visa assegurar ao
cônjuge sobrevivente o direito de moradia, ainda que outros herdeiros passem a
ter a propriedade sobre o imóvel de residência do casal, em razão da
transmissão hereditária (REsp 1273222/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/06/2013, DJe 21/06/2013).
Noutro aspecto, pode-se afirmar com toda certeza de que Capitu e Izidro
eram compossuidores do apartamento, haja vista que “Composse é, assim, a
situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes
possessórios sobre a mesma coisa” (GONÇALVES, 2019, p. 69).
Quando ocorre a morte de Izidro, sua posse é transmitida ao seu filho
Joaquim através da transmissão universal, sem prejuízo da posse que Capitu
continua a se servir, pois esta irá permanecer enquanto ela tiver direito real de
habitação. Neste sentido, Fabio Ulhoa Coelho vai além, assinando que:
O cônjuge e o companheiro têm direito real de habitação referente ao
imóvel que residia ao tempo da sucessão, podendo excluir do uso do
bem os descendentes e ascendentes do falecido que porventura se
tornarem seus condôminos, a menos que também já morassem no
local. (2016, p. 270)
Outrossim, não há que se falar em posse injusta por parte de Capitu,
porquanto ela compossuía o apartamento juntamente com Izidro, sendo este o
proprietário do imóvel e aquela usufrutuária do mesmo. Não havendo nem
mesmo o vício da precariedade com a morte do de cujos, pois a partir desse
momento, passa a ter titularidade do direito real de habitação. Servindo-se assim
este direito para “garantir uma qualidade de vida ao viúvo (ou viúva),
estabelecendo o mínimo de conforto para sua moradia, e ao mesmo tempo,
impedir que o óbito de um dos conviventes sirva para afastar outro da residência
estabelecida pelo casal” (FARIAS e ROSENVALD, 2018, pp 374-375).
No que tange ao parecer do Ministério Público Federal pelo não
conhecimento do recurso, é perfeitamente possível sua impetração, porquanto o
art. 105, III, a, da CF, estabelece que ao Superior Tribunal de Justiça compete
julgar o recurso especial quando a decisão recorrida “contrariar tratado ou lei
federal, ou negar-lhes vigência”.

Referências:
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil. V. 5. 4 ed. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2016.
FARIAS, Cristiano de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil. V. 5. 4 ed.
Salvador: JusPodivm, 2018.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das coisas. v. 5.
14 ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

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