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Conceito de Dolo:

O legislador da Lei de Improbidade se valeu do conceito de dolo utilizado


no âmbito penal, apesar de tratá-lo de forma mais rigorosa que o próprio
CP (piorou o conceito de dolo trazido pelo CP).
O direito seleciona alguns aspectos, inclusive da vida cotidiana, e disciplina
determinados temas, conceituando-o. No caso do dolo, é comum a ver
uma confusão, uma vez que o dolo cuida de elementos multidisciplinar.
Precisamos, portanto, separar o conceito de dolo, para considerá-lo no
sentido jurídico.
Começamos o estudo do DOLO com Feuerbach  Direito Penal como
instrumento de dissuasão. Dolo extremamente psicológico: vale a pena o
risco? O sujeito deve querer o resultado e conhecer a ilicitude do fato, ou
seja, sabe que sua conduta será criminosa. Dolo acentualmente volitivo,
psicológico e mallus (incorpora a consciência de ilicitude).
Dolo sedimentado em duas aspectos: conhecimento (resultado e ilicitude)
+ vontade (querer a realização desse resultado ilícito).
Lackman por sua vez, contrapondo a Fórmula de Frank (dolo eventual X
culpa consciente), passou a considerar a vontade de forma atributiva (e
não apenas psicológica). Assim, o dolo passou a experimentar uma
normatização, deixando de ser um conceito complemente psicológico,
mas sim, normativo.
O dolo é uma responsabilidade mais extensa (todos os crimes são dolosos)
e mais intensa (pena maior). O agente doloso questiona a validade da
norma frontalmente. Matar é proibida, mas eu mato mesmo assim. Para o
autor doloso, a norma não vale, de forma direta. O autor culposo, por sua
vez, viola a norma indiretamente (sem conhecimento que sua atuação
violará a norma).
O dolo deve ser visto, portanto, de uma forma atributiva,
comportamental, desvinculada da questão volitiva/psicológica. A vontade
atributiva deriva do conhecimento. Aquele agente que sabe o que faz,
sabe do risco, e sabe que se o resultado ocorrer, ele deve ser aceito.
Aprovar o resultado no sentido jurídico é o que basta para afirmar o dolo.
A vontade não é no sentido psicológico.
Atributiva: ética, moral e vida cotidiana.
Não considero o que o sujeito requeria no seu subjetivo, mas o que ele
externou conforme o seu comportamento. Com o seu comportamento ele
demonstra que estava disposto a aceitar um resultado.
Dolo de Base Cognitiva  Considera-se a qualidade do risco e o
conhecimento do risco (catálogo fechado).
Dolo de Base Volitiva  Qualidade do risco, conhecimento do risco, mas
considerando ainda questões subjetivas (catálogo aberto).
Contudo, o legislador da Lei de Improbidade quis retornar o conceito de
dolo oriundo dos primórdios de Feuerbach, voltando a definir o dolo como
vontade livre e consciente de atingir um resultado ilícito, não bastando a
voluntariedade.
§ 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado
ilícito tipificado nos arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bastando a
voluntariedade do agente. 

No dogmática penal, voluntariedade não tem relação com o dolo, mas sim
com a conduta. A conduta deve ser voluntária. A voluntariedade é
analisada apenas para verificar se há ou não conduta (ex.: coação física
irresistível).
E a voluntariedade do resultado?
O resultado pode ser um objetivo intermediário ou objetivo final (dolo
direto de primeiro grau). Ele também pode ser um efeito colateral,
necessário da ação (dolo de segundo grau). Isso tudo é abrangido pela
vontade.
Na LIA, ao mencionar o “querer o resultado”, isso não significa que ele
precisa ser o destino final da ação, ele pode ser o meio, pode ser o
objetivo final ou também um efeito colateral e necessário da ação para se
obter um outro resultado. Assim, o legislador não abrange apenas o dolo
de 1º grau, mas também de 2º.
O legislador quis ainda indicar que o dolo não é mais o dolo genérico. O
legislador não só exclui a modalidade culposa de improbidade, mas como
também determinou o dolo específico desses atos (Marteleto questiona
seriamente essa consideração, não concordando com esse entendimento).
A doutrina brasileira clássica e italiana e alguns autores espanhoes
utilizam o conceito de dolo específico. O dolo específico é um conceito
ruim.
No dolo direto de primeiro grau o agente quer especificamente o
resultado. O dolo direto de segundo grau é um efeito colateral necessário
da conduta. Dolo eventual é a assunção do risco.
E o que seria dolo específico? Não é uma espécie de dolo, nada mais que
um elemento subjetivo especial do injusto previsto em determinados
tipos penais. É um elemento a mais do tipo penal.
O problema é que não são todos os tipos de improbidade que preveem
esse elemento subjetivo especial (que vai além do dolo).
Ex.: Dispensa ilícita de licitação. O tipo penal pode prever “para fins de”.
Nesses casos, devemos provar esse elemento especial. Contudo, isso não
exige que todos os tipos de improbidade necessitem desse elemento
específico.
O ponto é que não vamos considerar o “dolo específico” em um conceito
geral, devendo analisar hipótese por hipótese, e provar a questão
específica somente nos casos expressamente previstas.
O que há na lei é o dolo genérico, que se compatibiliza com o dolo
eventual e alguns tipos específicos preevem elementos subjetivos do tipo
(para fins de), nesses casos, o dolo eventual sozinho não é suficiente,
sendo necessário a prova desse elemento subjetivo especial para
consumação do tipo.
Comparativo do estelionato – não basta o meio fraudulento, sendo
necessário a obtenção da vantagem indevida.
OBS: Olhar tipos que pedem e não pedem esse elemento subjetivo
especial.

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